Extremo Noroeste Do Paraná: Dos Conflitos Pela Posse Da Terra Aos Conflitos Pela Reforma Agrária
Extremo Noroeste Do Paraná: Dos Conflitos Pela Posse Da Terra Aos Conflitos Pela Reforma Agrária
Extremo Noroeste Do Paraná: Dos Conflitos Pela Posse Da Terra Aos Conflitos Pela Reforma Agrária
Elpídio Serra 1
Introdução
1
Universidade Estadual de Maringá
[email protected]
14018
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
resiste sem sobressaltos a força gerada e que gerou o latifúndio. No período que vai do
esgotamento da ocupação pioneira até os anos 1980, a “paz agrária” sustentada pelo
latifúndio consegue “harmonizar” no mesmo espaço situações envolvendo áreas obtidas
através de projetos de colonização e áreas conquistadas através de fraudes; áreas de
exploração intensiva e áreas com baixo ou nenhum índice de exploração econômica,
situações que têm, como único ponto em comum, o elevado grau de concentração fundiária.
A convivência dos contrários vai evidenciar esgotamento no início dos anos 1980,
quando eclodem os movimentos sociais na região, tendo o MST – Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra como “força conturbadora da ordem” pré-estabelecida. A
partir das bases o MST, como novo ator social que se insere na região, passa a questionar
os mecanismos de acesso à terra ocorridos durante o processo da ocupação regional, as
condições favoráveis para a consolidação do latifúndio e a exigir, muitas vezes pelo
mecanismo da força, a implementação de políticas mais justas de acesso e exploração da
terra agrícola, o que vai se viabilizar através da implementação de projetos de reforma
agrária. Ao fazer isso, o MST desarticula o emaranhado de interesses, principalmente
políticos, que se estabeleceram na região e, como conseqüência, passa a constituir e
alimentar uma nova fase de conflitos rurais. A diferença fundamental entre os conflitos
ocorridos no decorrer do processo pioneiro de ocupação regional e os novos conflitos, é que
nos anteriores a meta perseguida pelas categorias envolvidas apontava apenas para a
conquista da terra; nos atuais a luta é mais ampla e incorpora, além da terra, as condições
para sua exploração econômica, passando pelo bem-estar social dos agricultores
assentados.
Uma obra contratada para ser paga com terras no Paraná foi a Estrada de Ferro São
Paulo-Rio Grande, acrescida de um ramal que, partindo do eixo principal da ferrovia, fazia a
ligação desta com o município de Guarapuava. A obra era considerada de importância
estratégica para os governos do Paraná e Federal, este interessado na ligação ferroviária
14019
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
entre os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, cobrindo a rota dos caminhos de
tropas. Como a obra envolvia interesses federais e estaduais, seu custo deveria ser coberto
com a destinação, para a empresa contratada, de extensas áreas de domínio do Estado e
da União, localizadas em território paranaense, na proporção de 9 quilômetros de cada lado
da ferrovia, em toda a sua extensão. A empresa responsável pela construção, além das
terras, teria estabelecido em contrato de concessão o direito de explorar comercialmente a
ferrovia durante 100 anos.
A empresa escolhida foi a Brazil Raillway Co., de capital inglês, que em 1920, logo
após ser indicada, constituiu para executar a obra uma subsidiária no Brasil, com a
denominação CEFSPRG – Companhia de Estradas de Ferro São Paulo-Rio Grande. Em
pagamento, a Brazil Raillway Co., através de sua subsidiária brasileira, garantiu o direito de
receber dois milhões e cem mil hectares de terras devolutas (somatória dos 9 quilômetros
de cada margem da ferrovia, multiplicada pela sua extensão total). Da extensão total dessa
área, 500 mil hectares foram posteriormente repassados a uma nova concessionária da
empresa inglesa, a Companhia Brasileira de Viação e Comércio – BRAVIACO, constituída
por grupos de capitalistas de São Paulo, que ficou responsável pela construção do ramal de
Guarapuava.
Parte da área utilizada como moeda corrente pelos governos estadual e federal
localizava-se na região Noroeste e parte no Oeste paranaense, sendo que as terras do
Noroeste foram tituladas para a BRAVIACO. É nesta área que se localiza a porção Extremo
Noroeste, ocupando uma extensão geográfica de aproximadamente 25 mil quilômetros
quadrados, onde se localizam atualmente 20 municípios de pequeno e médio portes, tendo
o município de Paranavaí como principal unidade administrativa e o município de Querência
do Norte como maior palco de conflitos rurais.
14020
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
concessionária não aplicou seus 10 mil contos de réis e quando os recursos públicos se
esgotaram a construção da ferrovia simplesmente foi suspensa. As terras, no entanto, já
estavam tituladas” (SERRA, 1991:74).
Titulada a posse da terra a seu favor, a subsidiária BRAVIACO, como primeiro ato
assumido para garantir o pleno domínio territorial, desencadeia um processo intensivo de
expulsão de posseiros e grileiros que a esta altura já marcavam presença na área. Ato
contínuo, “sob a denominação de Colônia Paranavaí, nos idos de 1928, a empresa fundou a
Fazenda Brasileira, dando início às ações de plantio de dois mil e quatrocentos hectares de
café, além de quinhentos hectares de pastagens para a criação de gado bovino”
(GONÇALVES, 2004:89).
14021
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
14022
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
materializado através de dois instrumentos jurídicos publicados pelo Estado: o Decreto 800,
editado em 1931 e a Lei número 46 em 1935.
O Decreto 800, assinado pelo interventor Mario Tourinho, estabelecia em seu Artigo
1.o que as áreas consideradas devolutas só poderiam ser adquiridas a título de compra
“pelos que nelas se comprometessem a morar e estabelecer cultura efetiva”, o que
significava a disposição do Estado de manter sob controle a apropriação dessas áreas e de
fixar o homem na terra apropriada para fins agrícolas. O Artigo 5.o do Decreto estipulava em
200 hectares a área máxima que poderia ser adquirida por uma só pessoa, e estabelecia os
preços de comercialização em 18$000 (dezoito mil contos de réis) por hectare em termos de
valor máximo, que poderiam variar para menos de acordo com a qualidade e a localização
das terras.
14023
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
14024
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
O período de calmaria no campo, conseqüência das medidas tomadas pelo sr. Bento
Munhoz da Rocha, desaparece entretanto em 1956 quando novamente o sr. Moisés Lupion
retorna ao poder para novo mandato administrativo. Para ser reeleito, Lupion “compra” apoio
político e “paga” com terras do Estado, beneficiando principalmente correligionários que o
apoiavam financiando sua campanha política. Como não tinha controle das terras que
distribuía, nem tinha conhecimento da situação dessas terras quanto à sua titulação ou
condição de uso, Lupion chegou a destinar a mesma área para mais de um beneficiário e a
doar áreas produtivas e já legalmente tituladas. “É inaugurada assim a fase da dupla e até
mais titulações envolvendo a mesma área e que passa a se constituir na causa de uma
nova onda de violência no campo” (SERRA, 1991:87).
Boa parte dos desvios ocorre no Extremo Noroeste do Paraná, em terras da colônia
Paranavaí, envolvendo principalmente as glebas 27-A, 28 e 29, onde se localiza atualmente
o município de Querência do Norte, em toda a sua extensão. Nestas áreas, segundo
levantamento cartorial realizado por GONÇALVES (2004:113), tomando por base registros
de terras efetivados até o ano de 1948, foram escriturados 214 lotes rurais, todos obtidos
através do artifício do apadrinhamento político. No que se refere à sua dimensão, 118 lotes
ocupavam áreas entre 5 e 50 hectares, somando 3.435,8 hectares; 3 lotes ocupavam áreas
14025
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
entre 50 e 100 hectares, somando 273 hectares e 93 lotes ocupavam áreas entre 100 e 454,
somando juntos 29.968,13 hectares. Vale observar que também na distribuição de terras em
pagamento de favores políticos, o Governador do Estado passou por cima do disposto no
Decreto 800, que limitava em 200 hectares a extensão máxima de cada propriedade a ser
repassada para pessoas físicas.
14026
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Hoffmann 01 250,0
Hordochinski 01 319,28
Lopes 01 337,25
Lopes da Silva 02 805,4
Macul 02 740,8
Matioski 01 350,25
Miranda 02 504,0
Postar 01 237,25
Rosa 01 317,25
Sahão 12 1.525,4
Sahyum 01 357,25
Salum 01 437,0
Sayão 04 4.950,6
Total 53 19.331,43
Fonte: DGTC – Planta das glebas 27-A, 28 e 29 – 1948.
14027
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
baixa altitude acarretava no aumento dos riscos de geadas constantes. Geada, a propósito,
representava o maior inimigo natural da cafeicultura. As empresas colonizadoras e o Estado
sabiam disso; o comprador de terras não. É importante frisar que a clientela da colonizadora
era constituída de gaúchos e catarinenses, que tinham pouco conhecimento das exigências
naturais de uma lavoura de café, o que não acontecia com os paulistas e mineiros, por
exemplo, que tinham tradição na atividade cafeeira.
14028
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Para “abrir” sua fazenda, inicialmente Felício Jorge utilizou a mão-de-obra de alguns
parceiros agenciados para os trabalhos de desmatamento, construção de casas e formação
de pastagens, reservando a estes o direito de cultivo das terras com lavouras comerciais e
de subsistência por três anos, período após o qual ficavam obrigados a devolver a terra
cultivada com capim. Com estas ações Felício Jorge entrou em confronto direto com
dezenas de posseiros que há anos ocupavam a área” (GONÇALVES, 2004:121).
Diversas tentativas foram desencadeadas pelo sr. Felício Jorge para a “limpeza da
área”. Entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, não conseguindo seu intento de
expulsar os posseiros, decidiu desmembrar a fazenda em duas: a Florão, na qual se
manteve proprietário e a 29 Pontal do Tigre, com área de 10.896 hectares, que vendeu aos
irmãos Jorge Wolney Atalla e Jorge Rudney Atalla, também descendentes de sírios e
grandes proprietários de terra em diversos Estados do País, contabilizando mais de 150
propriedades agrícolas em seu poder. Para a concretização do negócio, a condição
apresentada pelos irmãos Atalla foi receber a terra “limpa”, o que significava estar livre de
grileiros, posseiros, índios ou qualquer outro “invasor”. Atendendo à exigência dos
compradores, Felício Jorge move ação de despejo junto ao Poder Judiciário.
14029
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
do sr. Felício Jorge, mas permaneceram na região, parte disputando o minguado mercado
de trabalho agrícola e parte se fixando nas ilhas do rio Paraná.
O projeto ganhou força em 1980 quando o Banco do Brasil criou e liberou uma linha
de créditos especiais ao FUNDEC – Fundo de Desenvolvimento Comunitário para
Programas Cooperativos ou Comunitários de Infra-Estruturas Rurais. O objetivo do
programa era financiar iniciativas que visassem conter o êxodo rural, priorizando municípios
com núcleos urbanos que tivessem entre 500 e 5.000 habitantes. Querência do Norte se
encaixava nas duas situações: sua população não superava 5 mil habitantes e o êxodo
rural, conseqüência da expulsão de posseiros, exigia solução urgente.
14030
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
14031
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
A esta altura, no entanto, o regime militar passava pela fase da abertura política,
quando já era possível algum tipo ou forma de reação. Surge, então, em defesa dos
interesses dos agricultores, a CPT – Comissão Pastoral da Terra, movimento recém-
fundado pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com a participação das
Igrejas Católica e Luterana. A CPT, constituída no ano de 1975 em Goiânia-GO, passou a
representar o braço forte da chamada Igreja progressista, comprometida com os
movimentos sociais. No episódio de Itaipu, a entidade teve papel fundamental na
organização dos camponeses, pequenos proprietários e empregados rurais, ao esclarecer
sobre seus direitos e o caminho que deveriam percorrer para conseguí-los.
Vencida pela pressão, a Itaipu acaba cedendo, depois de pelo menos dois anos de
relutância. Os “expropriados de Itaipu”, como passaram a ser chamados os integrantes do
movimento Justiça e Terra, foram vitoriosos em tudo, até na conquista de terras no Paraná
para serem reassentados, exatamente como queriam. Seiscentas famílias, retiradas do local
14032
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
onde mais tarde surgiria o canteiro de obras, foram beneficiadas com terras em dois
assentamentos rurais, um no município de Arapoti (400 famílias) e outro no município de
Toledo (200 famílias). Segundo SERRA (1992:126), “o fato da Itaipu ter demorado para abrir
negociações com os expropriados foi útil no sentido de que deu tempo para aprimorar a
organização camponesa. Durante os quase quatro anos da mobilização, a CPT e as
lideranças dos sindicatos rurais, como forças diretamente envolvidas na questão, tiveram
condições para criar e testar um conjunto muito grande de estratégias, voltadas
basicamente ao que fazer e ao que não fazer nos acampamentos”, acrescentando que “em
vista disso pode-se dizer que Itaipu foi o laboratório para as primeiras aulas práticas que
levaram ao aprendizado da mobilização camponesa no Paraná, nos períodos mais
recentes”.
Tanto isso é verdade que nem bem havia terminado o episódio de Itaipu e a luta
camponesa, ali iniciada, começa a se manifestar em outros espaços, no Paraná. Inspiradas
em movimentos que eclodiam no Rio Grande do Sul, as lideranças dos expropriados,
sempre apoiadas pela CPT, começam a discutir a situação de miséria dos posseiros,
pequenos arrendatários, bóias-frias e outros trabalhadores rurais do Oeste do Paraná. As
discussões, acompanhadas pelo cadastramento dos trabalhadores, levam, em 1981, a duas
decisões importantes, sob a ótica do entendimento de uma nova luta, bem mais ampla e
mais complexa do que simplesmente conquistar terra; a luta agora teria que ser pela
reforma agrária: a) a definição de um nome para o novo movimento que estava nascendo,
batizado como Movimento dos Agricultores Sem-Terra do Oeste do Paraná – MASTRO; b) a
centralização da luta para o assentamento dos trabalhadores cadastrados (mais de 6 mil, a
esta altura) em terras localizadas no próprio Estado.
14033
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
• os trabalhadores rurais não devem lutar por terra para si mesmos. Cada combate é
parte da luta para todos os sem-terra e pela reforma agrária;
• a terra conquistada na luta não deve ser vendida, pois “terra para nós é terra de
trabalho, não terra de negócio”;
14034
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
domínio quase absoluto do latifúndio, assentado em grandes áreas de pastagens, com baixo
ou nenhum índice de aproveitamento econômico e a titulação duvidosa da terra, com
destaque para as áreas em poder de grileiros e as áreas “presenteadas” aos correligionários
políticos pelo ex-governador Moisés Lupion.
O primeiro passo que, pode-se dizer, vai desencadear a “cobiça” pelas terras do
Extremo Noroeste, foi dado em 1985 pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Querência
do Norte, ao enviar ofício à Secretaria de Agricultura do Estado denunciando problemas
fundiários, o elevado número de trabalhadores rurais desempregados e pleiteando a
realização de assentamentos rurais no município. Sensível aos problemas levantados, a
Secretaria de Estado encaminhou o pedido ao INCRA e este enviou a Querência uma
equipe técnica que, três anos depois, em 1988, após vistorias realizadas nas fazendas
Porangaba II, Florão, Todos os Santos e 29 Pontal do Tigre, apontou esta última como
prioritária para o desenvolvimento de projeto de reforma agrária, passível, portanto, de
desapropriação. O indicativo de área prioritária para fins de reforma agrária vai ser
confirmado através do Decreto Presidencial número 95.784, publicado no Diário Oficial da
União dia 4 de março de 1988.
14035
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
• não havia unidade, não era o mesmo o espírito de luta dos acampados, o que gerou
uma série de dificuldades iniciais. Os grupos vindos de Reserva e Castro tinham
experiência em mobilizações porque já haviam participado como militantes do antigo
14036
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
• a opinião pública não viu com simpatia a ocupação da Pontal do Tigre e passou a
marginalizar os acampados, ocorrendo casos de estabelecimentos comerciais se
recusarem a vender gêneros de primeira necessidade a eles. A população, no fundo,
não aceitava o fato dos acampados, vindos de outras regiões, terem expulsado os
pequenos arrendatários da Pontal, considerando que esses pequenos agricultores
eram moradores do próprio município, alguns há mais de dez anos. O prefeito de
Querência do Norte na época, sr. José Edegar, que antes de ser eleito era o
presidente da ADECON, se recusava a prestar qualquer forma de ajuda, o mesmo
ocorrendo com os vereadores, os fazendeiros, enfim, a maior parte da comunidade
local.
14037
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
14038
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
terras e pelo seu baixo índice de aproveitamento econômico. O Extremo Noroeste, diante do
quadro apontado, se constituiria, para o MST, em novo foco da luta camponesa, somando
forças com o foco já estruturado, ou já territorializado no Oeste paranaense.
Como resultado direto de todo esse processo de motivação, uma nova ocupação de
terras é gestada e vai acontecer no dia 13 de agosto de 1995. Duzentas famílias, em sua
maior parte provenientes de municípios localizados nas regiões Oeste e Sudoeste, ocupam
a Fazenda Porangaba II, com área de 2.700 hectares, localizada em Querência do Norte.
No dia 6 de novembro do mesmo ano, é ocupada a Fazenda Saudade, no município de
Santa Izabel do Ivaí. Nesta ocupação, a proprietária conseguiu reintegração de posse, o que
ocorreu dois dias depois com muita violência. A ação de despejo, envolvendo 90 homens da
Polícia Militar do Paraná acabou em pancadaria e num saldo de 17 trabalhadores e 6
policiais feridos. A maior vítima foi o sem-terra Pedro Lopes dos Santos, que levou vários
tiros e acabou tendo uma perna amputada.
14039
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
mesma forma uma proporção quase que geométrica: 1 em 1995, 7 em 1996, 19 em 1997,
21 em 1998, 31 em 1999, caindo para 10 em 2000, de acordo com levantamento realizado
pela CPT – Comissão Pastoral da Terra. A desaceleração das ocupações e dos conflitos em
2000 e nos anos seguintes deveu-se, em parte, à Medida Provisória assinada pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso e que vai sustentar as Portarias 62 e 101,
publicadas pelo INCRA, que suspendem pelo prazo de dois anos a desapropriação, para
efeito da reforma agrária, de áreas objeto de ocupação ou invasão por parte de movimentos
sociais.
Nº de Nº de Área ocupada
Município
assentamentos famílias (ha)
Amaporã 02 65 1.749
Jardim Olinda 01 53 1.258
Marilena 03 106 2.530
Mirador 01 29 617
Nova Londrina 01 27 685
Paranacity 01 20 256
Querência do Norte 08 671 19.210
Santa Mônica 01 37 1.256
São João do Caiuá 01 34 726
14040
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Considerações finais
14041
Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
confronto armado, a batalha judicial...Só depois de tudo acontecer é que o Estado aparece
para legalizar, para demarcar, para selecionar, para assentar...
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: Hucitec/Editora da
Unicamp, 1992.
ALCÂNTARA, José Carlos. Política local – um estudo de caso: Paranavaí 1952-1982. Maringá: Clichetec, 1987.
COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e Desenvolvimento do Norte do
Paraná (publicação comemorativa dos 50 anos da CMNP). São Paulo: Edanee, 1975.
FERNANDES, Bernardo Mançano. MST: formação e territorialização. São Paulo: Hucitec, 1996.
FERNANDES, Bernardo Mançano. A formação do MST no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000.
FOWERAKER, Joe. A luta pela terra: a economia política da fronteira pioneira do Brasil de 1930 aos dias
atuais. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.
FRANÇA, Ary. A marcha do café e as frentes pioneiras. XVIII Congresso Internacional de Geografia (Guia de
Excursões). Rio de Janeiro: UGI-CNG, 1960.
GONÇALVES, Sérgio. O MST em Querência do Norte – PR: da luta pela terra à luta na terra. Maringá, 2004.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de
Maringá.
HARACENKO, Adélia Aparecida de Souza. Querência do Norte: uma experiência de colonização e reforma
agrária no Noroeste do Paraná. Maringá: Massoni, 2002.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Agropecuários: 1970, 1975, 1980, 1985, 1996.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Demográficos: 1970, 1980, 1990, 2000.
PADIS, Pedro Calil. Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. São Paulo, Hucitec, 1981.
SERRA, Elpídio. Processos de ocupação e a luta pela terra agrícola no Paraná. Rio Claro, 1991. Tese de
doutoramento apresentada à UNESP, campus de Rio Claro.
SERRA, Elpídio. A Reforma Agrária e o Movimento Camponês no Paraná. XI Encontro Nacional de Geografia
Agrária, Anais. Maringá, 1992.
14042