Dissertacao Myriam Final 24mar
Dissertacao Myriam Final 24mar
Dissertacao Myriam Final 24mar
Orientador: Prof. Dr. Leonardo de Souza Vasconcellos
Coorientadora: Profa. Dra. Silvana Maria Elói Santos
Belo Horizonte – MG
2016
FACULDADE DE MEDICINA
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Lourença (in memoriam) e Cyro, por valorizarem a educação como
instrumento transformador.
Ao Fernando, meu marido, companheiro por tantos anos, por mais uma vez ter me ajudado a
completar uma fase importante na minha vida.
Ao Prof. Dr. Leonardo de Souza Vasconcellos, meu orientador, por ter me feito acreditar que
seria possível e ter ficado ao meu lado durante o processo.
À Prof. Dra. Silvana Maria Elói Santos, minha coorientadora, por ter contribuído tão
valorosamente e sempre com tanta disposição e presteza.
RESUMO
A verificação automática dos resultados consiste na liberação dos resultados dos exames
diretamente do equipamento, sem intervenção humana. São inseridas regras para avaliar os
resultados no middleware e/ou no Sistema de Informação Laboratorial (SIL), baseadas em
critérios estabelecidos pelo laboratório. A autoverificação pode diminuir o tempo de
atendimento total (TAT) dos exames, uniformizar os critérios de liberação e melhorar a
eficiência no processo, garantindo segurança ao paciente. Os objetivos do presente trabalho
foram descrever a implantação da autoverificação no Serviço de Medicina Laboratorial do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e seu impacto no TAT dos
resultados autoverificados. Configurou-se 26 testes bioquímicos disponíveis 24 horas por dia,
plenamente interfaceados, inclusive o controle interno da qualidade. Definiu-se parâmetros e
algoritmos usados para configuração do SIL e no middleware. No algoritmo elaborado para
autoverificação, foram incluídos flags de equipamento, presença de interferentes na amostra,
linearidade, delta check e valores críticos. Foram avaliados o percentual dos exames liberados
automaticamente e o impacto sobre o TAT. Houve redução significativa do TAT em todos os
exames configurados, de até 97% em alguns exames. A taxa de exames urgentes liberados até
120 minutos passou de 25,5% pré-implantação para 70% pós-implantação. Concluindo, a
implantação da autoverificação nos testes bioquímicos no presente serviço possibilitou
padronização, segurança e agilidade na liberação dos resultados.
ABSTRACT
Autoverification is the release of laboratory tests results from clinical instruments to hospital
interface, or to the patient record, with no human intervention. Verification rules are inserted
in the middleware and/or Laboratory Information System (LIS), based on criteria established
by the laboratory. As a result, it reduces test turn around time (TAT), ensures that every result
is consistently reviewed in the same way, improving the entire verification process and patient
safety. The objective of this study was to describe the implementation of autoverification in
Laboratory Medicine Service at the Hospital das Clínicas, Federal University of Minas Gerais
as well as its impact on the TAT. Twenty-six automated chemistry assays were chosen. They
were fully automated including internal quality control, interfaced with LIS, available 24
hours, seven days a week. Rules were set up in the middleware and in the LIS. Instrument
flags, evaluation of sample integrity, test linearity, delta check and critical values were used to
construct the verification algorithms. The impact of autoverification on the process TAT and
the rate of tests results automatically released were analyzed. Tests TAT were significantly
reduced up to 97% in some tests. The rate of tests released within 120 minutes after specimen
receipt was improved from 25.5% to 70% after autoverification implementation leading to a
more consistent reviewing process of test results, efficiency and improved patient safety.
Keywords: autoverification; automated test result confirmation; delta check, TAT, laboratory
information system; middleware.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Valores do delta check adotados para autoverificação no Serviço de Medicina
Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais
.................................
39
Tabela 2 – Parâmetros usados para configuração dos exames no SIL para autoverificação, no
Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais
...................................................................................................................................................
40
Tabela 4 – Tempo de atendimento total - TAT (em minutos), dos exames bioquímicos do menu de
urgência do Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, por origem, de abril a agosto de 2015.
......................................................................
46
Tabela 5 – Exames liberados em até 120 minutos, em números absolutos e percentual, em relação
ao total de exames bioquímicos do menu de urgência, no Serviço de Medicina Laboratorial do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
........................................................
53
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Fluxo de realização de exames no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, vigente em 2015. ................................................. 31
Figura 4– Percentual de resultados liberados automaticamente por origem, nos meses de julho e
agosto de 2015, no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da UFMG. ................ 42
Figura 8 - Tempo de atendimento total - TAT (em minutos), dos exames bioquímicos do menu de
urgência do Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, por origem, de abril a agosto de 2015........................................................................ 46
Figura 11 – Tempo de atendimento total – TAT (em minutos) de creatinina, fosfatase alcalina,
fósforo, gama glutamiltransferase, glicose e lactato séricos, pré (abril e maio/2015) e pós-
autoverificação (julho e agosto/2015), por origem (ambulatório e hospital), no Serviço de
Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais ................ 50
Figura 12 – Tempo de atendimento total – TAT (em minutos) de desidrogenase lática, magnésio,
proteína C reativa, potássio, proteínas totais e frações e sódio séricos, pré (abril e maio/2015) e
pós-autoverificação (julho e agosto/2015), por origem (ambulatório e hospital), no Serviço de
Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais ................ 51
Figura 13 – Tempo de atendimento total – TAT (em minutos) de triglicérides e ureia séricos, pré
(abril e maio/2015) e pós-autoverificação (julho e agosto/2015), por origem (ambulatório e
hospital), no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais ..................................................................................................................................... 52
Figura 14 – Percentual de redução do TAT total de cada teste laboratorial, após implantação da
verificação automática no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Minas Gerais .................................................................................................. 52
p nível de significância
PA pronto atendimento
PCR proteína C reativa
PTF proteínas totais e frações
RCV Reference Change Value
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
SIL Sistema de Informação Laboratorial
SML Serviço de Medicina Laboratorial
SUS Sistema Único de Saúde
TAT Turn around time ou Tempo de Atendimento Total
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
VALAB Validation Assitée pour Laboratoire
VLDL Very Low Density Lipoprotein
® marca registrada
% porcentagem
> maior
≥ maior ou igual
< menor
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 19
2.1
OBJETIVO
GERAL
........................................................................................................................................
19
2.2
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
.............................................................................................................................
19
3 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................................ 20
3.1
TEMPO
DE
ATENDIMENTO
TOTAL
(TAT)
....................................................................................................
20
3.2
AUTOMAÇÃO
NO
LABORATÓRIO
CLÍNICO
.................................................................................................
23
3.3
AUTOVERIFICAÇÃO
....................................................................................................................................
25
3.4
SERVIÇO
DE
MEDICINA
LABORATORIAL
DO
HOSPITAL
DAS
CLINICAS
DA
UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
MINAS
GERAIS
..................................................................................................................................................
29
4 MÉTODOS .......................................................................................................................... 32
4.1
DEFINIÇÃO
DOS
EXAMES
A
SEREM
AUTOVERIFICADOS
.............................................................................
32
4.2
ELABORAÇÃO
DOS
ALGORITMOS
DE
LIBERAÇÃO
AUTOMÁTICA
................................................................
32
4.3
DEFINIÇÃO
DOS
VALORES
DE
DELTA
CHECK
...............................................................................................
33
4.4
CÁLCULO
DO
INTERVALO
DE
LIBERAÇÃO
AUTOMÁTICA
............................................................................
34
4.5
PARAMETRIZAÇÃO
DO
SIL
..........................................................................................................................
34
4.6
ELABORAÇÃO
DA
INSTRUÇÃO
DE
TRABALHO
OPERACIONAL
(ITO)
SOBRE
AUTOVERIFICAÇÃO
DE
RESULTADOS
....................................................................................................................................................
35
4.7
ELABORAÇÃO
DO
FLUXOGRAMA
DE
LIBERAÇÃO
MANUAL
........................................................................
35
4.8
MEDIDA
DO
TAT
.........................................................................................................................................
35
4.9
IMPACTO
DA
AUTOVERIFICAÇÃO
NA
LIBERAÇÃO
DE
RESULTADOS
...........................................................
36
4.10
ANÁLISE
ESTATÍSTICA
...............................................................................................................................
36
5 RESULTADOS .................................................................................................................... 38
5.1
ALGORITMO
DE
LIBERAÇÃO
AUTOMÁTICA
................................................................................................
38
5.2
RESULTADOS
DO
DELTA
CHECK
......................................................................................................................
39
5.3
INTERVALO
DE
LIBERAÇÃO
AUTOMÁTICA
..................................................................................................
40
5.4
INSTRUÇÃO
DE
TRABALHO
OPERACIONAL
(ITO)
........................................................................................
41
5.5
FLUXOGRAMA
DE
LIBERAÇÃO
MANUAL
....................................................................................................
41
5.6
EXAMES
LABORATORIAIS
LIBERADOS
AUTOMATICAMENTE
.....................................................................
42
5.7
IMPACTO
DA
LIBERAÇÃO
AUTOMÁTICA
NO
TAT
DOS
EXAMES
..................................................................
46
6 DISCUSSÃO........................................................................................................................ 54
7 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 62
8 PERSPECTIVAS FUTURAS .............................................................................................. 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 64
APÊNDICE A – PLANILHAS DE DADOS ........................................................................... 69
ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ..................................... 75
ANEXO B - INSTRUÇÃO DE TRABALHO OPERACIONAL............................................ 76
16
1 INTRODUÇÃO
17
Outra importante vantagem é a agilidade na liberação dos resultados. O TAT para realização
do exame também pode ser diminuído significativamente com a implantação da
autoverificação (TORKE et al., 2005) e é uma das medidas recomendadas para isso
(HOWANITZ; HOWANITZ, 2001). O TAT é um indicador estratégico da qualidade do
laboratório e um dos aspectos mais importantes do serviço avaliado pelos clínicos (NOVIS et
al.; DALE, 2000; HAWKINS, 2007).
18
19
2 OBJETIVOS
• Avaliar as taxas de liberação automática obtidas para cada exame laboratorial do menu de
urgência do SML do HC/UFMG, nos meses de julho e agosto de 2015;
20
3 REVISÃO DA LITERATURA
As etapas de realização do teste laboratorial foram enumeradas por Lundberg (1981), que
descreveu o TAT do ciclo total de realização do exame, criando a expressão brain-to-brain
loop. Essas etapas são: solicitação, coleta, identificação, transporte, preparação, análise,
liberação, interpretação e ação. Elas podem ser agrupadas nas fases pré-analítica, analítica e
pós-analítica. A medida do TAT pode ser do ciclo total ou de apenas uma ou duas fases.
O TAT pode ser medido de várias formas: por teste, prioridade (urgência ou rotina), origem
do paciente (ambulatorial, internado ou do pronto-atendimento) ou por diferentes etapas de
processamento dos exames (HAWKINS, 2007).
21
Na literatura, há autores que avaliaram o impacto do TAT total não apenas em questões
específicas do laboratório, mas também a sua influência na evolução clínica do paciente e no
tempo de permanência hospitalar (HOLLAND et al., 2005). Entretanto, as diferenças entre os
laboratórios, a população estudada, os métodos empregados e até mesmo de definições do
TAT, dificultam as comparações dos seus reais benefícios. (VALENSTEIN;
EMANCIPATOR, 1989; HOWANITZ, 2005; HAWKINS, 2007)
O processo total de realização dos exames é composto de várias etapas sequenciais, cada uma
com um tempo mínimo de realização. Isso significa que a distribuição Gaussiana ou normal
para cada etapa individual não é esperada, tornando o uso da média e do desvio padrão
inapropriados para relatar o TAT (HAWKINS, 2007). O esperado é uma distribuição não
Gaussiana dos dados, com uma cauda a direita (VALENSTEIN; EMANCIPATOR, 1989). O
tamanho dessa cauda pode ser quantificado como percentagem excedendo um tempo definido
(taxa de outliers) ou o tempo correspondente a um percentil de distribuição pré-definido. Em
um estudo comparativo das performances da média, mediana, percentil 90 e taxa de outlier,
verificou-se que podem ser usados diversos parâmetros, dependendo da variável a ser medida
e do tempo esperado, além da quantidade de amostras disponíveis. (VALENSTEIN;
EMANCIPATOR, 1989).
Todas as etapas de realização do teste laboratorial devem ser consideradas como alvo de
ações para melhorar o TAT total, compreendendo o período desde a requisição do exame até a
liberação do laudo. Cada etapa deve se beneficiar dos avanços tecnológicos disponíveis e o
TAT deve ser monitorado de forma rotineira. As recomendações podem ser divididas por
fases de realização do exame: pré-analítica, analítica e pós-analítica (HOWANITZ;
HOWANITZ, 2001).
O uso de códigos de barras para identificação das amostras e pacientes também possibilita
melhora considerável no TAT total, além de garantir maior segurança, evitando os erros de
identificação das amostras (BOLOGNA et al., 2002).
O tempo de transporte das amostras até o laboratório é crítico ao TAT, além de influenciar
também na adequabilidade das amostras para a realização dos testes laboratoriais. Portanto, a
redução do tempo do transporte permite redução tanto do TAT, quanto das variáveis pré-
analíticas. (HOWANITZ; HOWANITZ, 2001). Como consequência, muitos serviços optaram
pela utilização de tubos pneumáticos para o transporte das amostras biológicas. Entretanto,
vários aspectos devem ser considerados nesses casos, como o desenho do trajeto e os
recipientes de coleta apropriados, para minimizar as possíveis interferências nas amostras,
especialmente hemólise, além da viabilidade financeira (FERNANDES et al., 2006; SODI et
al., 2004).
Outra importante alternativa para diminuição do TAT é a automação total do laboratório, que
deve ser cuidadosamente planejada (HOLLAND et al., 2006). Os equipamentos devem ter
backup para minimizar o efeito de paradas sobre o TAT e, sempre que possível, permitir o
processamento das amostras em tubos primários, preferencialmente sangue total ou plasma,
ao invés de soro. O controle interno da qualidade também deve ser revisto, eliminando as
falsas rejeições. Os serviços que investem em automação total devem considerar o uso de
23
O TAT também pode ser reduzido com a elaboração e implantação de regras para
autoverificação dos resultados. Tais regras permitem automação na diluição de amostras e
repetição de resultados críticos. Podem ainda ser inseridas regras para testes reflexos,
dependendo dos resultados de alguns exames (CLSI, 2006). Nesses casos, recomenda-se o
uso frequente e sistematizado de listas de pendências em todas as fases do exame, garantindo
a execução de todos os exames cadastrados e, consequentemente, a redução do TAT (NOVIS;
DALE,2000).
25
3.3 AUTOVERIFICAÇÃO
Em 2006, foram elaboradas diretrizes pelo Clinical and Laboratory Standards Institute
orientando os laboratórios como implementar, validar e elaborar regras de acordo com suas
características e população atendida. Elas descreveram as características necessárias do
software a ser usado, o desenho dos algoritmos de autoverificação, validação e manutenção
dos sistemas e dispuseram adequações dos algoritmos aos órgãos acreditadores e
fiscalizadores (CLSI, 2006).
Harris e Brown, em 1979, criaram uma fórmula, que combinou a variação biológica intra-
individual e a variação analítica para calcular a mudança esperada no valor de constituintes
em homens saudáveis. Trata-se do cálculo do Reference Change Value (RCV), ou seja, do
valor de referência de mudança.
Fraser et al., em 2002, propuseram o uso de RCV para calcular o delta check de vários
constituintes no setor de química clínica. Em contrapartida, na ausência de resultados
anteriores, os limites de decisão clínica foram considerados. Somente resultados fora dos
limites de decisão clínica e aqueles com mudança significativa em relação ao resultado
anterior foram retidos para verificação manual. Com esses critérios, cerca de 60% dos
resultados foram liberados automaticamente.
26
Ricos et al., em 2004, criaram uma tabela de RCV usando o coeficiente de variação intra-
individual (CVi) do banco de dados de variação biológica (MINCHINELA et al., 2014). A
partir do coeficiente de variação intra-individual, calculou-se a imprecisão analítica desejável
(50% do CVi), e foi este o dado usado para calcular o RCV de cada analito na tabela. A
proposta foi que o RCV seja usado pelos clínicos para interpretação de resultados seriados e a
tabela fosse um instrumento para isso (RICOS et al., 2004).
Na literatura, muitos são os autores que utilizam o RCV na prática clínica. Entretanto, as
limitações dessa fórmula devem ser conhecidas, principalmente para o uso em pacientes
internados, já que originalmente, o RCV foi calculado em pacientes sadios. Outra variável
importante é que a periodicidade entre os exames de pacientes internados é muito curta e a
frequência das medidas seriadas pode prejudicar sua aplicação. Portanto, as condições clínicas
dos pacientes, como mudanças terapêuticas e histórico dos resultados, também devem ser
consideradas ao aplicar a fórmula (OMAR et al., 2009; SMELLIE, 2008).
Já em outro editorial de 2012, Fraser recomendou o uso e liberação nos laudos das diferenças
encontradas em exames seriados. Sugeriu ainda que venha acompanhado de uma nota
interpretativa elaborada pelo médico do laboratório e com o RCV esperado.
27
28
TAT médio foi de 19%. Observou-se diminuição de pedidos de urgência e redução de pessoal
necessário para a liberação (TORKE et al., 2005).
Em outro relato, usando o VALAB como software de liberação, foi implantado um sistema
para liberação de resultados retidos por acesso remoto. A média diária de retenção de exames
para liberação manual foi de 8,1% dos pedidos, sendo 7,5% liberados pelos médicos após
revisão (GUIDI et al., 2009).
Um levantamento sobre os laboratórios clínicos da Espanha concluiu que 64% dos serviços
implantaram a autoverificação dos resultados, mas apenas 24% utilizaram o delta check como
um dos critérios. As regras adotadas em 95% dos laboratórios foram referentes à amostra
biológica, aos erros dos equipamentos e ao controle da qualidade (GÓMEZ-RIOJA et al.,
2013).
Desde 2005, o middleware e SIL fornecidos pela Matrix Sistemas e Serviços® (São Paulo,
SP, Brasil), Matrix Middleware 2.3.12 Release Build 7 (middleware) e Matrix Diagnosis
2015.1.3.17 (SIL) foram implantados no serviço. Desde então, foi feito interfaceamento dos
equipamentos com o sistema e implantadas outras funcionalidades disponibilizadas. A
verificação dos resultados para liberação dos laudos ocorria de forma manual, consumindo
tempo e pessoal numa tarefa repetitiva, por vezes fastidiosa, subjetiva e com risco de erros,
comprometendo a segurança do paciente.
No SML do HC/UFMG, somente 40,8% dos exames urgentes eram liberados em até uma
hora, considerando o TAT a partir da entrada da amostra no setor técnico. Entre as
alternativas para reduzir o TAT, já foram discutidos o pedido eletrônico de exames, transporte
do material biológico por tubos pneumáticos, automação total do laboratório, testes
laboratoriais remotos e a liberação automatizada de resultados ou autoverificação.
30
31
Pacientes ambulatoriais
Cadastro
de
exames s
ido
Ped
o s Equipamento 1
ltad
Resu
Pedidos
/
Testes
Pedidos
/
Testes
Pacientes internados
SIL
Middleware
Solicitação eletrônica de Liberação Clínica Resultados Controle
exames Qualidade
Liberação técnica
Pe
di d
os
Resultado
via
internet Re
su l
tad
os
Equipamento 2
32
4 MÉTODOS
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da UFMG (Anexo A)
em 12/03/2015 (CAAE: 41461215.0.0000.5149).
Como os equipamentos fazem a leitura dos índices de lipemia, turbidez e hemólise de cada
amostra, foi possível configurar no middleware o flag (sinal de alerta) correspondente a cada
interferente, caso ele estivesse presente em quantidade suficiente para interferir no resultado
33
do exame. O limite de interferência de cada um deles para cada exame foi configurado no
equipamento pelo fabricante, e pode ser enviado ao middleware. Quando presentes, uma nova
amostra foi solicitada.
Testes com valores fora da linearidade analítica também foram retidos, para posterior diluição
ou investigação, quando aplicável. Já a proteína C reativa foi configurada de modo a permitir
que resultados abaixo da linearidade fossem liberados.
CVA foi calculado a partir do valor médio de todos os coeficientes de variação (CV), em
todos os níveis de controles, durante o ano de 2014. Para calcular estes valores, foi usado o
módulo de controle de qualidade do middleware, que permitiu calcular e rever o desempenho
de cada nível de controle em cada analito, por lote e por período de tempo. Antes de calcular a
média, foram retirados todos os outliers, definidos por valores fora de mais ou menos dois
desvios padrões (DP), já que nestes casos a corrida foi rejeitada, seguida por uma ação
corretiva por parte do operador e novo ensaio do controle. Assim, evitou-se um CV médio
final alargado, que poderia levar a delta check maior, e portanto, a resultados liberados
indevidamente.
34
CVI foi obtido com base em dados da Literatura (MINCHINELA et al., 2014).
4.4 CÁLCULO DO INTERVALO DE LIBERAÇÃO AUTOMÁTICA
O intervalo de liberação automática foi definido como a distância média entre o ponto médio
do intervalo de referência e os limites inferior e superior da linearidade de cada exame
(TORKE et al., 2005). Todo resultado dentro deste intervalo e sem exame anterior para ser
comparado foi programado para ser liberado automaticamente, conforme exemplificado
abaixo.
Exame: albumina
Intervalo de referência: 3,5 a 5,0g/dL
Linearidade: 1 a 6g/dL
- Ponto médio do intervalo de referência: (3,5+5,0) / 2 = 4,25 g/dL
- Limite inferior da liberação automática: [(4,25 - 1,0) / 2] + 1,0 = 2,62 g/dL
- Limite superior da liberação automática: [(6,0 - 4,25) / 2] + 4,25 = 5,1 g/dL
Quando os valores de referência foram distribuídos por faixa etária e sexo, o intervalo de
liberação automática foi alterado com base no intervalo de referência. Quando o resultado
excedeu o intervalo de valores críticos definidos pelo laboratório, foram adotados os valores
críticos como limite, já que estes devem ser comunicados imediatamente ao médico. Em
outros exames, quando o limite do intervalo de liberação esteve dentro do intervalo de
referência adotado, decidiu-se manter o limite do intervalo de referência.
Para triglicérides, definiu-se manter a liberação automática até 399 mg/dL. Se o resultado
fosse ≥400mg/dL, a amostra seria retida, para que fosse dosado o LDL. Nas amostras com
triglicérides <400mg/dL, foram dosados colesterol total e HDL, sendo LDL e VLDL
calculados a partir destes três parâmetros, usando a equação de Friedwald.
35
O middleware e SIL foram fornecidos pela Matrix Sistemas e Serviços® (São Paulo, SP,
Brasil), Matrix Middleware® 2.3.12 Release Build 7 (middleware) e Matrix Diagnosis®
2015.1.3.17 (LIS - Laboratory Information System).
Foi elaborada uma ITO, intitulada “Parametrização do Matrix® para liberação automática de
resultados”, descrevendo o passo a passo de parametrização do middleware (Connect®) e do
SIL (Diagnosis®) para liberação automática de resultados. A elaboração da ITO seguiu o
modelo estabelecido pela instituição e ficará disponível para consulta.
36
de cada exame bioquímico do menu de urgência foram emitidos no SIL, nos meses de abril,
maio, julho e agosto de 2015.
Quanto ao TAT de cada exame, foram calculados média, desvio padrão da média, valores
mínimo e máximo, e intervalos interquartis: percentil 5, 25, 50 (mediana), 75 e 95. Os TATs
foram comparados com base nos meses pré e pós-autoverificação e por origem dos pacientes.
37
Para avaliação da distribuição dos resultados do TAT dos exames, foi adotado o teste de
Kolmogorov-Smirnov. Diferenças nas proporções de variáveis categóricas foram analisadas
utilizando-se o teste Qui-quadrado.
A análise estatística dos dados foi realizada no programa IBM® SPSS® Statistics (Armonk,
NY, EUA) versão 19. Foram adotados nível de significância de p<0,05 e intervalo de
confiança (IC) de 95%.
38
5 RESULTADOS
Foi elaborado um algoritmo para implantação da autoverificação, que pode ser usado nos
testes de bioquímica realizados nos equipamentos Vitros ® 5.1 e 5600. Algumas regras foram
obrigatoriamente configuradas no middleware e outras, no SIL (Figura 2).
Amostra
Middleware
Testar analito
Sim
Flag de Sim
amostra? Recoleta
Não
Não
Não
Autoverificação
para SIL
SIL
Resultado do
Connect
Δ Check Não
dentro do Liberação manual
intervalo?
Sim
Valor dentro
do intervalo Não
definido de
liberação?
Sim
Liberação
automática do
laudo
39
Foram calculados dois valores de delta check para cada analito: RCV(95%) e RCV(99%). Os
resultados acima de 99% de significância foram retidos. Valores entre 95% e 99% de
significância foram liberados com um alerta para o supervisor (Tabela 1).
40
Os valores calculados para configuração no SIL podem ser vistos na Tabela 2. Quando os limites
ultrapassaram os valores críticos, estes foram adotados.
Tabela 2 – Parâmetros usados para configuração dos exames no SIL para autoverificação, no
Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas
Gerais
INTERVALO DE DELTA
VALOR DE
TESTE LINEARIDADE LIBERAÇÃO CHECK
REFERÊNCIA
AUTOMÁTICA (%)
Albumina 3,5 a 5,5 1a6 2,6 a 5,1 15,3
ALT* 13 a 69 6 a 100 13 a 521 79
Amilase* 30 a 110 30 a 1200 30 a 635 35
AST* 15 a 46 3 a 750 15 a 390 46
M.: 2,5 a 6,2 M.: 2,42 a 10,68
Ácido Úrico 0,5 a 17 32
H.: 3,5 a 8,5 H.: 3,25 a 11,5
Bilirrubina direta* 0,0 a 0,3 0,0 a 27 0 a 13,6 139
Bilirrubina indireta* 0,0 a 1,1 0,0 a 27 0 a 13,8 83
Bilirrubina total* 0,2 a 1,3 0,1 a 27 0,2 a 13,9 82
Cálcio** 8,4 a 10,2 1 a 14 7 a 11,7 9,9
CK total 55 a 170 20 a 1600 66 a 886 86
Cloro** 98 a 107 50 a 175 76 a 125 7,9
Colesterol total 200 a 240 50 a 325 135 a 273 23,4
M.: 0,52 a 1,04 M.: 0,42 a 7,39
Creatinina 0,05 a 14 18,3
H.: 0,66 a 1,25 H.: 0,502 a 7,48
Fosfatase alcalina* 38 a 126 20 a 1500 38 a 791 26,9
Fósforo 2,5 a 4,5 0,5 a 13 2 a 8,3 31
GGT* 12 a 58 10 a 1400 12 a 717 49,9
Glicose** 70 a 99 20 a 625 45 a 355 21,7
HDL colesterol 40 a 60 5 a 110 27,5 a 80 30
Lactato** 0,7 a 2,1 0,5 a 12 0,7 a 3,4 99,4
LDH 313 a 618 100 a 2150 283 a 1308 33,5
LDL colesterol 100 a 130 30 a 350 73 a 233 31,2
Magnésio** 1,6 a 2,3 0,2 a 10 1,1 a 5,0 15,8
Potássio** 3,5 a 5,1 1 a 14 2,6 a 6,5 18,2
Proteína C reativa <10 5 a 90 3 a 90 155
Proteínas totais 6,3 a 8,2 2,0 a 11 4,6 a 9,1 11,7
Sódio** 137 a 145 75 a 250 120 a 160 6,4
Triglicérides 150 a 200 10 a 525 93 a 350 73
Ureia 20 a 40 4 a 257 19 a 143 45
* Valor inferior definido pelo valor de referencia inferior.
** Um ou os dois valores definidos pelo valor crítico do teste.
SIL- Sistema de Informação Labortaorial; M– mulher, H– homem; ALT– alanina
aminotransferase; AST– aspartato aminotransferase; CK-creatinofosfoquinase; GGT–
gama glutamiltransferase; HDL– high density lipoprotein; LDH– desidrogenase lática;
LDL– low density lipoprotein.
41
Foi criada, implantada e aprovada a ITO no037, intitulada “Parametrização do Matrix® para
liberação automática de resultados”, no SML do HC/UFMG (Anexo B).
O fluxograma para liberação manual dos exames retidos no SIL foi elaborado e implantado no
SML do HC/UFMG. A versão final, apresentada na Figura 3, foi definida com os responsáveis
pela liberação dos exames e coordenação médica do setor técnico do laboratório.
Resultado de
exame
Não
Não
Resultado
Sim compatível com
dados clínicos
disponíveis? Não Entrar em contato
com o médico
Não Sim
Revisar aspecto/
Revisar dados Revisar
volume da
brutos controles
amostra Resultados
esperados pelo
médico?
Sim Não
Recoleta
42
Nos meses de julho e agosto de 2015, o SML do HC/UFMG realizou 285.118 exames,
conforme demonstrado na Tabela 3.
Resultados
Resultados
autoveriCicados
de
Ambulatorio
autoverificados do Hospital
11,7%
24,6%
88,3% 75,4%
Não
Sim
Figura 4– Percentual de resultados liberados automaticamente por origem, nos meses de julho e
agosto de 2015, no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da UFMG.
43
100%
90%
NÃO
SIM
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
44
100%
NÃO
90%
SIM
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
45
100%
90%
NÃO
SIM
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
46
Tabela 4 – Tempo de atendimento total - TAT (em minutos), dos exames bioquímicos do menu
de urgência do Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Minas Gerais, por origem, de abril a agosto de 2015.
TAT
DATA E
ORIGEM Percenil Percentil Percentil Percentil
Total % Min Máx Média DP 5 25 Mediana 75 95
04/15 AMB 48089 56,7 0 10076 2795 13 166 590 1566 4381 8961
HOSP 36771 43,3 0 10035 299 4 33 84 136 262 840
Total 84860 100,0 0 10076 1713 9 53 142 542 1845 8361
05/15 AMB 48964 55,4 0 10078 3234 13 118 1020 2580 4693 9765
HOSP 39393 44,6 0 10069 258 3 27 72 119 204 753
Total 88357 100,0 0 10078 1907 9 44 119 562 2848 8660
07/15 AMB 53497 56,8 0 10072 225 2 29 58 98 219 766
HOSP 40690 43,2 0 10007 111 2 15 36 60 99 246
Total 94187 100,0 0 10072 176 1 20 46 78 143 605
08/15 AMB 50116 55,1 0 10070 276 3 26 55 97 236 840
HOSP 40800 44,9 0 9998 109 2 13 33 58 96 235
Total 90916 100,0 0 10070 201 2 17 43 75 146 741
AMB- Ambulatorial; HOSP- Hospitalar; Min- Mínimo; Máx- Máximo, DP- Desvio Padrão;
Figura 8 - Tempo de atendimento total - TAT (em minutos), dos exames bioquímicos do menu de
urgência do Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, por origem, de abril a agosto de 2015.
47
Observa-se que os TATs dos exames provenientes dos pacientes ambulatoriais se encontram
bem acima dos pacientes hospitalares.
As figuras 9, 10, 11, 12 e 13 apresentam a mediana do TAT (em minutos) dos 26 exames
bioquímicos do menu de urgência do SML do HC/UFMG, nos meses de abril e maio de 2015
(pré-autoverificação) e de julho e agosto de 2015 (pós-autoverificação), dos pacientes
assistidos tanto no ambiente ambulatorial, quanto hospitalar.
Após a implantada a autoverificação, não foi mais observada diferença estatística entre os
TATs dos exames dos pacientes ambulatoriais e hospitalares.
48
49
HDL-Colesterol LDL-Colesterol
50
Glicose Lactato
Figura 11 – Tempo de atendimento total – TAT (em minutos) de creatinina, fosfatase alcalina,
fósforo, gama glutamiltransferase, glicose e lactato séricos, pré (abril e maio/2015) e pós-
autoverificação (julho e agosto/2015), por origem (ambulatório e hospital), no Serviço de
Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais
51
Figura 12 – Tempo de atendimento total – TAT (em minutos) de desidrogenase lática, magnésio,
proteína C reativa, potássio, proteínas totais e frações e sódio séricos, pré (abril e maio/2015) e
pós-autoverificação (julho e agosto/2015), por origem (ambulatório e hospital), no Serviço de
Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais
52
Triglicérides Ureia
Figura 13 – Tempo de atendimento total – TAT (em minutos) de triglicérides e ureia séricos, pré
(abril e maio/2015) e pós-autoverificação (julho e agosto/2015), por origem (ambulatório e
hospital), no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Minas Gerais
Figura 14 – Percentual de redução do TAT total de cada teste laboratorial, após implantação da
verificação automática no Serviço de Medicina Laboratorial do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Minas Gerais.
53
O percentual de exames liberados em até 120 minutos pode ser visto na Tabela 5. Esta tabela
mostra os dados dos exames configurados para autoverificação, isto é, os exames bioquímicos
do menu de urgência.
54
6 DISCUSSÃO
55
middleware, Matrix Connect®, devem ser aprovados. Caso contrário, o middleware bloqueia
o equipamento e evita a realização de exames cujos controles não foram aprovados. No
presente trabalho, as regras criadas para autoverificação também seguiram esse princípio.
Flag ou alerta de amostra ocorre quando a leitura dos índices de icterícia, hemólise ou
turbidez mostram interferência para o exame que está sendo realizado. No SML do
HC/UFMG, os equipamentos Vitros® fazem estas leituras rotineiramente. A presença destes
interferentes em concentração que interfira com a dosagem do analito, leva à solicitação de
nova coleta de amostra. No presente trabalho, a presença de flag também foi considerada nas
regras para autoverificação.
Flag ou alerta de equipamento foram configurados de acordo com material fornecido pelo
fabricante dos equipamentos. Alguns testes têm alertas específicos de leitura, mas na maior
parte das vezes o equipamento não libera os resultados, principalmente quando há algum
problema mecânico e erro na realização do exame ou leitura final da reação.
No presente trabalho, os valores de delta check e os limites do intervalo de liberação final dos
exames foram configurados no SIL. Os valores de delta check usados no algoritmo foram
56
calculados usando a fórmula para RCV, que considera a variação de concentração do analito
no indivíduo, CVI, e a variação analítica no serviço, CVA. Foi utilizado o intervalo de
confiança de 99% (p<0,01) para calcular o RCV a ser inserido em cada exame. Fraser et al.
(2002) utilizando delta check e limite de decisão clínica como critérios de liberação
automática, obtiveram cerca de 60% de exames autoverificados. Contudo, a desvantagem
teórica de usar apenas essa fórmula como critério é a ocorrência de falso positivo em
indivíduos doentes, já que o CVI foi estabelecido em pessoas sadias (FRASER et al., 2002).
No presente trabalho, a origem dos pacientes (ambulatório ou hospitalar) não foi considerada
nos algoritmos para autoverificação de resultados, pois o SIL usado não apresentava essa
funcionalidade e não possibilitava mudança por parte do laboratório. Optou-se então por
estender o intervalo de referência para liberação automática, já que foram usados valores de
delta check em todos exames, assim como outras barreiras, que garantiram a segurança dos
resultados liberados.
restrito ao intervalo de referência. Nos exames nos quais o intervalo ultrapassou os valores
críticos, optou-se por estabelecer o intervalo nos valores críticos, para assegurar a
comunicação imediata dos resultados aos médicos (TORKE et al., 2005; SHIH et al., 2011).
Foi elaborada uma ITO de parametrização do Matrix (anexo B) para o SML do HC/UFMG,
possibilitando aos colaboradores habilitados configurar o sistema para outros testes e também
fazer ajustes nos parâmetros adotados nos exames já configurados. Esta instrução também
explicou como suspender e reativar a autoverificação, caso algum problema fosse detectado e,
posteriormente, resolvido. Isso é essencial para que o corpo do laboratório possa interromper
o processo imediatamente na presença de qualquer problema, já que a liberação dos resultados
é rápida e em grande volume, nem sempre podendo esperar um especialista para interromper
o processo.
Embora não tenha sido objeto deste estudo, antes da implantação da autoverificação, o serviço
teve redução de mão de obra disponível, principalmente dos profissionais envolvidos e
habilitados para liberação de resultados. Estes profissionais faziam aprovação dos controles,
comunicação de resultados críticos, gestão de estoque de insumos e de equipamentos,
atendimento aos clientes internos (médicos e enfermagem), além da liberação dos resultados.
Ao implantar a autoverificação, possibilitou-se que estas tarefas fossem absorvidas por estes
profissionais e que a liberação manual pudesse ter a atenção necessária. Até fevereiro de 2015
o serviço tinha 190 horas semanais (de 7h as 19h, de segunda a sexta-feira) destes
profissionais. A partir de março, passou para 136 horas semanais, uma redução de 54 horas ou
28%. Outros trabalhos também relatam redução da mão de obra necessária para liberação de
resultados após implantação da autoverificação (PEARLMAN et al., 2002; TORKE et al.,
2005).
58
O exame com maior taxa de retenção para liberação manual foi a proteína C reativa. A causa
principal de retenção foi por resultados fora da faixa de linearidade do teste. Os testes eram
retidos para diluição no equipamento, e só então liberados. Em contrapartida, sódio, potássio
e cloro obtiveram as maiores taxas de liberação automática.
Shih et al. (2011) relatam 95,2% dos exames liberados automaticamente. Foram configurados
76 exames do menu de bioquímica, incluídos imunoensaios. Os exames bioquímicos tiveram
taxa de liberação maior, 96,1%. Os testes com menor taxa de liberação automática foram
HCG e dosagem de etanol. Torke et al. (2005) obtiveram taxa de 73% de exames liberados
automaticamente.
Krasowski et al. (2014) relataram taxa de autoverificação atual de 99,5% após treze anos de
implantação da autoverificação. Foram liberados automaticamente inclusive resultados
críticos. No início do processo, apenas 40% dos exames eram liberados automaticamente. A
taxa de liberação variou provavelmente pela diferença dos limites usados pelos autores para
liberação automática, baseado em características próprias dos serviços e na população
atendida. Krasowski et al. (2014) usaram a faixa de linearidade dos exames como limite para
autoverificação, aumentando o intervalo de maneira significativa para liberação automática.
Os exames com maior taxa de liberação foram os testes mais solicitados de bioquímica. Ao
59
contrário do nosso serviço, a taxa de liberação de albumina foi de 99,8%. Eles não usaram
delta check para este exame e o intervalo de liberação adotado (0,2 a 6,0 g/dL) foi maior que
o observado no presente trabalho (2,6 a 5,1 g/dL). Os limites de delta check também variaram
muito entre os serviços: 5% a 200% (SHIH et al., 2011) e 20% a 30% (TORKE et al., 2005).
A literatura é carente de trabalhos que analisem a taxa de liberação automática de acordo com
a origem do pedido, se ambulatorial ou enfermaria.
No presente trabalho, as medianas foram utilizadas nas comparações entre TAT pré e pós-
autoverificação, por se tratar de dados não paramétricos (HAWKINS, 2007; VALENSTEIN;
EMANCIPATOR, 1989). O TAT medido foi a partir do registro no SIL da entrada da amostra
no setor técnico até a liberação final. No presente trabalho, não foi possível medir o tempo das
atividades da fase pré-analítica, dificuldade essa também relatada por outros autores
(SAXENA; WONG, 1993; STOTLER; KRATZ, 2012; HOLLAND et al, 2005)
Houve diminuição do TAT em todos testes configurados. A maior redução foi observada nos
testes mais pedidos em pacientes de origem ambulatorial. No setor técnico da Plataforma
Hospitalar, os testes de enfermaria urgentes tem prioridade de execução e liberação, seguidos
pelos testes de enfermaria de rotina e, por fim, os testes de ambulatório. Consequentemente,
os testes muito solicitados em ambulatório tiveram valores de TAT global superiores aos mais
solicitados em pacientes internados.
60
De um modo geral o corpo técnico dos laboratórios trabalha com meta de uma hora para
liberar exames urgentes (HOWANITZ; HOWANITZ, 2001). Krasowski et al. (2014)
relataram que, após treze anos de implantação de autoverificação, os médicos deixaram de
solicitar exames na urgência, pois todas as coletas passaram a ser prontamente atendidas e os
resultados liberados rapidamente. Torke et al. (2005) relatam redução de 22% no TAT global,
mas já apresentavam TAT médio de 142 minutos antes da implantação da autoverificação.
Para os exames de urgência a redução foi de 10 minutos, de 48 para 38 minutos.
Os testes com percentual de redução do TAT menor que 60% foram PCR, albumina, lactato e
magnésio, exames prioritariamente de enfermaria. O PCR geralmente foi retido para diluição
na fase de liberação pelo Connect® (middleware). Ajustando a liberação final pelo
Diagnosis® (SIL), para que os resultados dentro da faixa de diluição pudessem ser liberados
automaticamente, aumentou-se a taxa de liberação automática da PCR para 81,7% em janeiro
de 2016. A taxa de liberação automática de exames de PCR da enfermaria passou de 40,7%
para 78,4%. As medianas do TAT desses quatro testes também já eram as mais baixas, antes
mesmo da implantação da autoverificação, principalmente por serem solicitados com maior
frequência em pacientes internados. 95% dos exames de albumina são de enfermaria, 80% de
lactato, 70% de magnésio e 80% de PCR. Estes exames já tinham prioridade na liberação
manual, cujos TATs já eram reduzidos anteriormente.
Os testes com valores de mediana de TAT superiores a 1.200 minutos, antes da implantação
da autoverificação, foram os que tiveram maior redução, acima de 90%. No presente trabalho,
nenhum teste teve mediana inferior a 60 minutos. Entretanto, sódio, potássio, cloro, magnésio
e lactato tiveram TAT mediano entre 60 e 70 minutos. Com a melhoria no processo de
liberação, o SML do HC/UFMG ficou mais próximo de alcançar o tempo de até 60 minutos
para liberação de resultados urgentes dos pacientes internados.
61
62
7 CONCLUSÕES
• O processo de liberação manual dos exames retidos pelo SIL foi padronizado através da
criação do fluxograma e treinamento do pessoal envolvido;
63
8 PERSPECTIVAS FUTURAS
Avaliar as causas de retenção de exames para verificação manual, fazendo ajustes aplicáveis para
aumentar a liberação automática, sem comprometer a segurança do paciente.
Reduzir a meta do indicador da qualidade de TAT para liberação dos exames de urgência, acordada
com a Diretoria do HC/UFMG, hoje de 120 minutos para até 60 minutos.
64
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Planilhas de dados extraídas no programa IBM® SPSS® Statistics (Armonk, NY, EUA) v.19.0
Albumina
Alanina aminotransferase
Amilase
Aspartato aminotransferase
70
Ácido urico
Bilirrubinas
Cálcio total
Creatinofosfoquinase total
Cloro
71
Colesterol total
HDL-Colesterol
LDL-Colesterol
Creatinina
Fosfatase alcalina
72
Fósforo
Gama glutamiltransferase
Glicose
Lactato
Desidrogenase lática
73
Magnésio
Proteína C reativa
Potássio
Sódio
74
Triglicérides
Ureia
75
76
Instrução de Trabalho Operacional
Título: Parametrização do Matrix® para liberação automática de Código: UFPML
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INÍCIO
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotográfico e gravação,
ou qualquer outro, sem a permissão expressa da Alta Administração do Hospital das Clínicas/UFMG (LEI Nº
9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998).
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- Selecionar o instrumento e o controle. Clicar no quadradinho do teste que se quer
bloquear. Clicar no quadradinho correspondente na coluna de Bloqueio e selecionar
<Exame>. Fazer o mesmo na coluna de <Flags> e selecionar <NoQC>. Clicar em
<Salva> ao final.
- Fazer o mesmo procedimento em todos os níveis de controle.
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- No exemplo acima, foram usados flags liberados pelo sistema Vitros. Para outros
equipamentos e sistemas, podem ser configurados novos flags pelo próprio usuário. Em
alguns casos, pode ser necessário solicitar a Matrix configuração de um novo flag ou
disponibilização de um flag no Connect.
- Para configurar um flag novo, digitar o nome no campo de flag. A seguir, digitar a descrição
no campo correspondente, marcando também a relevância e severidade. Salvar ao final. Se
for necessário configurar valores para o flag, clicar em <Valor crítico>. Uma tela vai se abrir,
como abaixo. Ver exemplo de linearidade para colesterol, mas que pode ser usado para
qualquer teste realizado no Vitros®.
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No exemplo acima, foi configurado o flag para resultados fora da linearidade, que não podem
ser liberados. O flag foi criado na tela anterior e depois foi selecionado <flag crítico> e foi
aberta esta tela. Após selecionar equipamento e exame, selecionou-se o flag. No caso foi
“nLINEAR”. Depois se selecionou no campo <Operador> a opção “Maior-igual que” e ENTER.
A seguir, selecionou-se “Menor-igual que” e ENTER. Sempre salvar ao final. Verificar a
consistência da fórmula, clicando no botão <Consiste>.
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3. Matrix Diagnosis®.
- Clicar duas vezes no ícone do Matrix Diagnosis.
- Digitar sigla e senha.
- Ir com o cursor até <Procedimentos> e depois <Procedimento> novamente e clicar uma vez. -
- Clicar na aba <versões de laudo> da tela principal
- Digitar o mnemônico do exame desejado.
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LAUDO
VIGENTE
EM
NEGRITO
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CAMPO
DE
RESULTADOS
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Botão
pontilhado
em
“Faixas
referenciais”
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- Na tela de <Laudo>, continuar na coluna do meio até “delta check”. O sistema só aceita os
valores em percentual.
- Preencher os valores de <normal> com RCV calculado de 95% e patológico com RCV de
99% e as mensagens correspondentes como se vê abaixo.
- Colocar intervalo máximo sempre em dias.
- Clicar em <Salvar> ao final.
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FIM
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Referências:
CLSI – ( AUTO 10-A) Autoverification of Clinical Laboratory test results; Approved guideline.
2006.
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