Dissertação - Jocelio Matos Amaral
Dissertação - Jocelio Matos Amaral
Dissertação - Jocelio Matos Amaral
FEIRA DE SANTANA
2023
JOCELIO MATOS AMARAL
FEIRA DE SANTANA
2023
AGRADECIMENTOS
A meus Pais, que mesmo sem saberem o que é um Mestrado ou uma Universidade, me deram
apoio.
À minha família de afeto, por me ajudarem a tornar estes dois anos mais leves. À Olga, Carol
e Carla por sempre estarem perto de mim, independente de questões geográficas.
Aos meus locais de trabalho – Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e Hospital
Geral do Oeste (HO) – por me possibilitarem conciliar este sonho com os afazeres profissionais.
À Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) por abrir as portas para que estudantes
de outras regiões do Estado da Bahia – de distância superior a 800km - pudessem concretizar
o sonho da pós-graduação em Enfermagem.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Deybson Borba de Almeida, por provocar ideias, compreender
minhas inquietações enquanto Enfermeiro do serviço, ouvir minhas angústias em relação ao
Processo de Enfermagem, guiar neste caminho da Pesquisa e por ajudar a lapidar as minhas
percepções sobre Pesquisa, Ciência e Enfermagem.
AMARAL, Jocelio Matos. Validação de uma matriz avaliativa do processo de enfermagem
no contexto hospitalar. 67 fls. Dissertação (Mestrado Profissional em Enfermagem).
Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, BA, 2023.
RESUMO
ABSTRACT
The Nursing Process (NP) is an important organizing method of care, through clinical, legal
ethical, and scientific reasoning, as well as documentation of professional practice. However,
the implementation and execution of the NS often occur in a fragmented way and are
dissociated from the local realities. Through state-of-the-art review and technical visits to
hospitals that are national references on the NP, the incipient initiatives of the NS evaluation in
the hospital context were identified. Therefore, the present thesis aimed to validate the content
of an evaluative matrix for the nursing process in the hospital context. To that end, a
methodological study with a cross-sectional design was developed, which was submitted to a
validation process, using the Content Validity (CV) technique. Thus, the construction and
validation of the evaluation matrix were based on four methodological steps, according to the
theoretical and methodological framework adopted, described as follows. First step:
bibliographical research and selection of key references. Second step: construction of the logic
model and the analysis and judgment matrix (AJM) from the Situational Strategic Planning
(SSP) moments and other select references. Third step: content validation by an expert
committee. To do so, the Delphi technique was used through Global and Item Evaluation. Two
rounds were carried out with 11 judges joining. Fourth step: analysis of the content validation
data by calculating the Concordance Rate (CR) and the Content Validity Index (CVI). At the
end of the two rounds, the matrix had an agreement rate of 90% for the form and 100% for the
other general aspects of the matrix. It also had an agreement rate of 100% for comprehension
and representativeness of the matrix domains. For the CVI, the items had a total of 0,97 for
clarity and 0,98 for representativeness. Therefore, the content of the matrix was considered
validated by the judges and able to evaluate the NP, which can thus contribute to support
institutional initiatives for consolidation of the NP in nursing services.
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ............................................... 17
2.1. O PROCESSO DE ENFERMAGEM E SEUS DESAFIOS NO CONTEXTO
HOSPITALAR ............................................................................................................... 17
2.2. PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA VALIDAÇÃO DE
CONTEÚDO .................................................................................................................. 21
2.3.PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL COMO BASE TEÓRICA
NA AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM ......................................... 23
3 METODOLOGIA...................................................................................................... 27
3.1 TIPO DE ESTUDO .................................................................................................. 27
3.2 PROCEDIMENTOS ................................................................................................. 27
3.2.1 –Primeira etapa: levantamento bibliográfico e seleção das referências
estruturantes...................................................................................................................27
3.2.2 – Segunda etapa: construção do modelo lógico e da matriz de análise e
julgamento......................................................................................................................28
3.2.3 - Terceira etapa: validação de conteúdo pelo comitê de especialistas..............30
3.2.4 - Quarta etapa: análise dos dados de validação do conteúdo............................33
3.3 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA PESQUISA .................................................. 34
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 36
4.1 RESULTADOS DA PRIMEIRA RODADA DE VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO.37
4.2 RESULTADOS DA SEGUNDA RODADA DE VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO.39
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 48
APÊNDICE A: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DE PESQUISA DO
ESTADO DA ARTE. ................................................................................................... 54
APÊNDICE B: CARTA-CONVITE PARA OS JUÍZES (E-MAIL) ............................ 56
APÊNDICE C: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 57
APÊNDICE D: MODELO LÓGICO: VERSÃO INICIAL ........................................... 59
APÊNDICE E: MATRIZ AVALIATIVA: VERSÃO INICIAL.................................... 60
APÊNDICE F: QUESTIONÁRIO DE VALIDAÇÃO PARA OS JUÍZES .................. 62
ANEXO A: PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP .......................................... 64
13
1 INTRODUÇÃO
leitura dos títulos e resumos, apenas 08 demonstraram associação com a temática, totalizando
assim 12 resultados selecionados (quadro 1).
Diante disso, foi possível identificar que a produção literária sobre estudos de validação
envolvendo o PE no contexto hospitalar tem foco em etapas específicas como: validação clínica
de diagnósticos, elaboração de históricos e validação de plano e intervenções de enfermagem
para cenários específicos do contexto hospitalar. Desse modo, foi identificada a incipiência de
estudos de validação com foco na avaliação da implantação e execução do PE.
Diante dessa discussão, após diversos avanços legais e formativos para implantação do
PE nos espaços de produção de cuidado, surgem inquietações que solidificam uma questão
norteadora ainda não completamente respondida pelas pesquisas no âmbito da enfermagem: é
possível validar o conteúdo de uma matriz avaliativa do processo de enfermagem no contexto
hospitalar?
Assim, a justificativa da realização deste estudo está assentada na necessidade da equipe
de enfermagem em assumir suas funções precípuas no cuidado ao indivíduo, de forma
sistematizada e baseada em evidências. Para isso, há uma demanda por instrumentos científicos
que possam direcionar os serviços de enfermagem na estruturação do PE, uma vez que a
implantação e a execução desse método frequentemente ainda são feitas de forma inadequada
ou fragmentada (ARAÚJO et al., 2015; GUEDES et al., 2010; PIMPÃO et al., 2010).
É importante que os serviços de saúde consigam seguir todas as fases preconizadas de
execução do PE, de forma que as ações sejam efetivas na produção do cuidado. Um instrumento
devidamente validado cientificamente poderá auxiliar na operacionalização adequada do PE,
de forma que os gestores e coordenadores dos serviços hospitalares possam verificar e seguir
todas as etapas/fases necessárias para a adequação do PE à realidade dos serviços e assim ter
resultados mais efetivos e impactantes na qualidade do cuidado profissional (DOMINGOS et
al., 2017; MARTINS; CHIANCA, 2016; NUNES, et al., 2019).
Além disso, mediante a revisão do estado da arte, foi possível identificar uma lacuna na
literatura quanto à elaboração e validação de instrumentos técnico-científicos que permitam
avaliar a implantação e execução do PE no contexto hospitalar, o que denota um caráter inédito
à presente proposta de pesquisa.
Além da pesquisa bibliográfica, cabe destacar outro fator motivador: a minha
proximidade com a temática. Durante a vivência profissional, período de especialização e
residência multiprofissional, sempre vivenciei a problemática da dificuldade de implantação e
execução do PE pela enfermagem. Nesse percurso de experiência profissional por cinco
hospitais do interior da Bahia, vi o PE comumente ser apontado mais como um fator de
16
interferência negativa do que positiva no ambiente de trabalho. Isso emergiu em mim uma
inquietação e necessidade em discutir e estudar essa temática com o objetivo de propor
estratégias de modificação dessa realidade.
Acrescenta-se também como fator motivacional uma visita técnica realizada em 2021
em dois hospitais públicos do estado de São Paulo: Hospital Universitário da Universidade de
São Paulo (USP) e Hospital Dante Pazzanese de Cardiologia, ambos considerados referências
nacionais no pioneirismo de implantação do processo de enfermagem. A experiência de
conhecer a trajetória histórico-política de implantação e execução do PE, nesses serviços,
também foi determinante para a definição da presente proposta de pesquisa.
Assim, o objetivo do presente trabalho consiste em validar o conteúdo de uma matriz
avaliativa do processo de enfermagem no contexto hospitalar.
17
2. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
dos pacientes não são desenvolvidas (CAVEIÃO; HEY, MONTEZELI, 2013; MASSAROLI
et al., 2015; NUNES et al., 2019)
Além disso, a forma como a implantação e a operacionalização do PE é realizada tem
resultado em mais acúmulo de funções burocráticas do que melhorias efetivas para o serviço.
O número acentuado de impressos e o tempo dispendioso com registros em instrumentos
dissonantes com as realidades locais têm dificultado a sua execução no cotidiano dos
profissionais de enfermagem (MARTINS; CHIANCA, 2016; MASSAROLI et al., 2015;
NUNES et al., 2019).
Assim, todas essas dificuldades têm refletido na forma como a enfermagem tem
planejado e executado o PE: frequentemente ocorre de forma repetitiva, mecânica e sem
considerar as especificidades e individualidades do paciente (NUNES, et al., 2019). Essa
resistência de incorporar o PE como instrumento de trabalho faz predominar o cuidado técnico,
mecanicista e administrativo, em que o foco do serviço se resume ao cumprimento das rotinas
e afazeres “engessados”, o que pode resultar em prejuízos na qualidade do cuidado direcionado
aos pacientes (MORAIS et al., 2015).
Ademais, apesar de muitos profissionais reconhecerem a importância do cuidado
sistematizado, tendem a reproduzir o modelo biomédico ainda predominante nas graduações e
reforçado pelos próprios profissionais que estão há mais tempo nos serviços. Isso resulta em
uso do PE de forma fragmentada e pouco reflexiva, sem associação dos motivos e razões que
incitam as respostas dos pacientes (CASTILHO; RIBEIRO; CHIRELLI, 2009).
Frente a isso, torna-se necessária a adoção de estratégias para que a incorporação do PE
aos serviços de saúde seja melhor operacionalizada (MARTINS; CHIANCA, 2016). Sabe-se
que isso não acontece de forma rápida, mas é preciso mais empenho para que o PE se transforme
em parte da cultura organizacional e seja visto como valor institucional. Só assim será
executado de forma efetiva, sem tanta fragmentação (CASTILHO; RIBEIRO; CHIRELLI,
2009; NUNES et al., 2019).
Apesar desses desafios, existem iniciativas e experiências de implantação do PE nos
serviços de saúde, especialmente no contexto hospitalar. Um estudo analisou a utilização do PE
em 47 hospitais de uma região de saúde do Brasil. Destes, constatou-se que 53% das instituições
tinham o Processo de Enfermagem implementado. As etapas do processo de enfermagem
realizadas foram: levantamento de dados (92%), diagnósticos de enfermagem (64%),
planejamento (12%), implantação do plano de cuidados (92%) e avaliação de enfermagem
(96%). Dentre as instituições que não possuíam o método, 68,2% já tinham tentado implantar
pelo menos uma vez, mas encontraram dificuldades acentuadas (MENDONÇA et al., 2018).
21
A realização de uma pesquisa envolve diversas etapas, entre elas, a coleta de dados. Para
a coleta, torna-se necessário planejar e pensar em procedimentos e métodos que assegurem
indicadores confiáveis e considere, entre outros fatores, a seleção de instrumentos precisos e
adequados para o que se propõe pesquisar (ALEXANDRE; COLUCI, 2011).
Na área da saúde, tem-se registrado um número crescente de instrumentos de avaliação
e medida, como questionários, matrizes e escalas que possibilitam a busca de diversas respostas
às indagações científicas. Entretanto, nem sempre esses novos instrumentos são validados de
forma adequada, nem com o devido rigor científico, o que é preocupante, porque o uso deles
pode direcionar a respostas questionáveis e a avaliações equivocadas (SOUZA; ALEXANDRE;
GUIRARDELLO, 2017).
Assim, antes de serem considerados aptos para uso, os instrumentos devem ser
assegurados quanto à capacidade de serem precisos, válidos, interpretáveis (ALEXANDRE et
al., 2013) e capazes de fornecer dados cientificamente robustos (CANO; HOBART,
2011). Para isso, essas ferramentas precisam ser consideradas, entre outros critérios, confiáveis
22
e válidas para uso (SALMOND, 2008). Portanto, é um consenso que a validade é um importante
critério a ser considerado na produção científica desses instrumentos de pesquisa em saúde
(COOK, BECHMAN, 2006; PITTMAN, BAKAS, 2010; SOUZA; ALEXANDRE;
GUIRARDELLO, 2017).
A validade faz referência à capacidade de um instrumento medir exatamente o que se
propõe (MOKKINK et al., 2010; ROBERTS, PRIET, 2006). Destaca-se que a validade não é
uma característica intrínseca do instrumento, mas sim uma avaliação do quanto um conjunto de
itens é representativo perante um determinado universo ou diante do domínio de um conteúdo
específico (SOUZA; ALEXANDRE; GUIRARDELLO, 2017). Dessa maneira, para ser
considerado válido, um instrumento deve conseguir atender ao seu objetivo definido. Por
exemplo, se está determinado que será para avaliação da ansiedade, não pode fugir para outro
constructo de interesse não previsto, como o de estresse (ALEXANDRE; COLUCI, 2011).
A validade pode ser operacionalizada por meio dos seguintes métodos: validade de
critério, de construto e de conteúdo (ALEXANDRE; COLUCI, 2011). A validade relacionada
a um critério consiste no estabelecimento da relação entre pontuações de um instrumento
específico e um critério externo (KIMBERLIN; WINTERSTEIN, 2008). Esse critério deve ser
uma medida aceita cientificamente e considerado “padrão-ouro” dentro da temática, com
características consonantes com o instrumento de avaliação (SOUZA; ALEXANDRE;
GUIRARDELLO, 2017).
A validade de construto é a relação de representação estabelecida entre um conjunto de
variáveis e um conceito a ser medido (HAIR JÚNIOR et al., 2009). Para se efetuar a validade
de construto, é necessário o estabelecimento de previsões a partir de hipóteses construídas.
Após isso, essas previsões são submetidas a testes para dar apoio à validade esperada ao
instrumento escolhido; entretanto, quanto mais abstrato for o conceito proposto, mas trabalhoso
é para a sua validade científica (POLIT; PECK, 2011; SOUZA; ALEXANDRE;
GUIRARDELLO, 2017).
Enquanto isso, a validade de Conteúdo é abordada de forma mais abrangente. Ela
representa o grau de relevância e representatividade de cada elemento existente em um
instrumento específico para avaliação. Ela é imprescindível dentro do processo de estruturação
e adaptação de instrumento de medidas (ALEXANDRE; COLUCI, 2011).
Logo, um estudo de validade de conteúdo pode subsidiar informações importantes sobre
a representatividade e clareza de cada item proposto em um instrumento, a partir da colaboração
de especialistas. Contudo existem particularidades nesses estudos que precisam ser observadas,
visto que a análise dos especialistas é subjetiva (MEDEIROS et al., 2015).
23
Reconhece que existem diferentes formas de explicar uma realidade, o que resulta em vários
sentidos e relevância aos problemas existentes. Assim, a resolução deles depende do acesso aos
recursos disponíveis e da viabilidade para a sua concretização (ARTMANN, 2000; SILVA et
al., 2017).
O PES valoriza a realidade social com suas particularidades complexas e imprevisíveis,
o que remete a intervenções de natureza intersetorial e interdisciplinar. Ao mesmo tempo,
considera as especificidades existentes a partir do espaço-temporal de cada problema
identificado, para a elaboração de formas específicas de abordagem (SANTANA et al., 2014;
SILVA, et al., 2017).
O PES está estruturado em um processo sistemático distribuído em quatro momentos
voltados para o planejamento das intervenções necessárias sobre uma realidade específica. O
primeiro momento denomina-se explicativo, em que estratégias são propostas para identificar
e descrever os problemas existentes a partir de informações objetivas e subjetivas (FORTIS,
2015; MATUS, 1996). Nesse contexto, são considerados três tipos de problemas: ameaças ou
riscos potenciais de perdas ou agravamento de uma determinada situação, oportunidades que
não devem ser desperdiçadas e deficiências que provocam inquietação e suscitam
enfrentamento (KLEBA; KRAUSE; VENDRUSCOLO, 2011; MATUS, 1996; SANTANA et
al., 2014).
O segundo momento, o normativo, aborda os objetivos a serem definidos, bem como
os resultados que se esperam alcançar e a previsão das ações e estratégias necessárias para a
concretização. Ainda, o planejamento deve considerar os obstáculos identificados, as
oportunidades existentes, bem como o tempo necessário para a resolução dos problemas
(FORTIS, 2015; MATUS, 1996; SILVA et al., 2017).
O terceiro momento, considerado estratégico, traz ênfase à importância de conhecer os
recursos necessários e existentes (econômicos, políticos, administrativos, entre outros). Em
consonância aos objetivos definidos, são propostas as intervenções necessárias, os efeitos
esperados e a revisão dos nós críticos existentes (FORTIS, 2015; MATUS, 1996).
No quarto momento, o tático-operacional, são previstos e revistos todos os aspectos
necessários para a implementação das intervenções. O que inclui parâmetros de
acompanhamento e avaliação, análise de informações, de forma a assegurar visibilidade aos
atores envolvidos e fortalecer a capacidade gerencial em adaptar-se diante dos imprevistos
existentes no ambiente de intervenção (FORTIS, 2015; MATUS, 1996).
O PES é amplamente adaptado e utilizado para planejamento em diversas áreas como
educação e saúde, pois a flexibilidade existente nessa proposta permite a aplicação em vários
25
níveis setoriais, sem também deixar de contextualizar os problemas em uma perspectiva ampla,
assegurando, assim, os critérios de viabilidade e de intervenção (KLEBA; KRAUSE;
VENDRUSCOLO, 2011; SILVA et al., 2017).
Nessa perspectiva, o PES pode ter seu uso aplicado também na enfermagem. Uma vez
que esse tipo de planejamento dá ênfase à ideia de “momento”, através de uma variedade de
métodos, habilidades e técnicas, o que pode conferir maior capacidade gerencial, de
administração e direção. Além de permitir maior percepção sobre as reais necessidades dos
usuários, na perspectiva do planejamento em enfermagem (SANTANA; TAHARA, 2008;
SILVA et al., 2017).
Portanto, são várias as possibilidades de aplicação na enfermagem, inclusive na
avaliação e no planejamento do cuidado, por ser visto como instrumento viável na
sistematização do trabalho, na previsão de mudanças e na adequação de propostas para
aquisição dos objetivos. A partir daí, e considerando as especificidades do PE, enquanto método
de planejamento das ações de enfermagem, é nítida uma integração e combinação entre os
momentos do PES com a estrutura básica do PE (quadro 2) (SANTANA; TAHARA, 2008).
Assim como no PES, o PE pode ser visto sob a perspectiva dos momentos cíclicos,
estando todos presentes na mesma situação. Esses momentos se encadeiam e compõem
circuitos com capacidade para apoio recíproco. A passagem das ações de enfermagem de um
momento para outro representa apenas um domínio transitório daquele momento diante dos
demais, pois estes complementam-se (FORTIS, 2015; MATUS, 1996; SANTANA; TAHARA,
2008).
Um exemplo dessa dinamicidade é a coleta de dados no momento da investigação do
PE, que é uma ação que não cessa, pois as informações podem se apresentar com diferentes
conteúdos, propósitos e até mesmo em datas distintas. Ocorre o mesmo com os momentos do
diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação, sob um fenômeno de construção e
reconstrução a partir das especificidades do indivíduo. Logo, é possível perceber as
similaridades entre as duas propostas enquanto estrutura e funcionamento, o que permite
possibilidades de amparo ou suporte teórico-metodológico entre ambas (KLEBA; KRAUSE;
VENDRUSCOLO, 2011; MATUS, 1996; SANTANA; TAHARA, 2008).
27
3 METODOLOGIA
3.2 PROCEDIMENTOS
Figura 2: Técnica Delphi com duas rodadas. Feira de Santana, Bahia. 2022.
convites para juízes com os critérios supracitados. O endereço de e-mail deles foi localizado
através das respectivas publicações indexadas em bases de domínio público. Além disso, foram
selecionadas 04 enfermeiras atuantes no serviço hospitalar. A busca delas se deu através dos
sites oficiais de instituições hospitalares públicas do estado da Bahia.
A partir da seleção, em 02 de julho de 2022, uma carta-convite (APÊNDICE A) foi
enviada por correio eletrônico aos experts, nela foram explicitados os critérios de escolha como
juiz, os objetivos e os conceitos necessários para compreensão da proposta de estudo. Além
disso, foi enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B) para
participação na pesquisa e solicitada a devolução em um prazo de até dez dias.
Foi considerado que o número de juízes pudesse sofrer redução durante a pesquisa.
Portanto, foram excluídos aqueles que não responderem ao contato inicial e os que não puderem
participar de todas as rodadas necessárias para validação do instrumento. Para aumentar as
chances de adesão, foi feita uma segunda tentativa de contato, após dez dias da primeira
abordagem. Depois disso, a ausência de resposta configurou a impossibilidade na participação
do processo de avaliação.
Assim, para essa validação, inicialmente, foram convidados 45 juízes, com uma adesão
de 11 participantes (09 juízes com Mestrado/Doutorado e 02 profissionais do serviço hospitalar)
até o final das duas rodadas necessárias para a pesquisa. Esse número está dentro de uma média
recomendada para uma avaliação adequada de instrumentos na área da saúde (ALEXANDRE;
COLUCI, 2011).
Após anuência dos juízes, em 25 de julho de 2022, foi iniciada a primeira rodada de
validação através do envio de dois documentos para preenchimento, também por meio
eletrônico: a primeira versão construída do modelo lógico (APÊNDICE C) e da matriz
avaliativa (APÊNDICE D) e o questionário de validação para os juízes (APÊNDICE E) com
instruções sobre como proceder à avaliação e a forma de preenchimento. Foi solicitado um
prazo de até quinze dias para preenchimento e devolução por parte dos participantes do estudo,
em cada rodada.
Ao final da primeira rodada, com a devolutiva dos instrumentos avaliados aos
pesquisadores, foram realizados os cálculos de concordância e executadas as alterações
consideradas pertinentes no instrumento, com base nos referenciais basilares, a fim de garantir
a adequada validação de conteúdo. É importante destacar que além dos dados quantitativos, os
apontamentos dos juízes também foram criteriosamente considerados e comparados à literatura
estruturante (ALEXANDRE; COLUCI, 2011; WRIGHT; GIOVANAZZO, 2000).
33
Diante desse cálculo, os itens que receberam pontuação “1” ou “2” foram revisados ou
eliminados. Além do cálculo dos itens, foi realizada ainda a avaliação global dos itens do
instrumento, através da média dos valores dos itens calculados separadamente, isto é, somam-
se todos os IVC calculados separadamente e dividem-se pelo número de itens considerados na
34
avaliação. Para ser considerado válido, esperou-se uma concordância mínima de 0,80 e
preferencialmente superior a 0,90 por se tratar da validação de conteúdo de um instrumento
novo no cenário de estudo (ALEXANDRE; COLUCI, 2011; POLIT; BECK, 2006).
O conteúdo das respostas foi analisado para obtenção dos resultados da pesquisa e os
dados estarão armazenados no Laboratório de Pesquisa em Gestão, Avaliação e História em
Enfermagem (GAHE), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), por 5 anos. Nesse
período, as informações poderão ser utilizadas em futuras pesquisas. Porém, para que isso
ocorra, um novo projeto de pesquisa com TCLE será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos (CEP). Após o prazo de 5 anos, todos os arquivos serão destruídos.
Os pesquisadores se comprometeram em utilizar o conhecimento obtido através deste
projeto para elaborar uma dissertação de mestrado, bem como para publicar artigos na área de
saúde e em enfermagem. Além disso, a translação do conhecimento se dará através da validação
do conteúdo da própria matriz avaliativa, que se traduzirá em um produto técnico e científico
que poderá ser utilizado pelos serviços de saúde no âmbito hospitalar para consolidação do
processo de enfermagem, enquanto método de trabalho viável e aplicável nos serviços de saúde.
Os pesquisadores também se comprometeram em elaborar uma nota técnica para
divulgação aos coordenadores dos serviços hospitalares do estado da Bahia. Além disso, será
construída uma proposta de apresentação do instrumento construído ao conselho regional de
enfermagem da Bahia. Por fim, o instrumento também será assentado enquanto obra intelectual
no acervo da Fundação Biblioteca Nacional.
O estudo conta com o financiamento do acordo da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) com o COFEN (Edital nº 28/2019),
36
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do estudo estão dispostos a seguir, conforme as duas rodadas que foram
realizadas para a validação de conteúdo do instrumento. Quanto aos juízes, estes, em sua
maioria, tinham o título de Doutorado e atuavam no estado da Bahia, conforme a tabela 1. A
quantidade de juízes foi a mesma em ambas as rodadas realizadas.
Quanto ao segundo estágio de avaliação, foram calculados os IVC de cada item e seus
respectivos parâmetros, a partir de dois critérios: clareza (IVC: 0,90) e representatividade (IVC:
0,93). O IVC global, calculado a partir da média de todos os itens, foi de 0,92. Desse modo, já
na primeira rodada, os itens foram considerados claros e representativos à luz da literatura, em
que se espera um IVC mínimo de 0,80 e preferencialmente superior a 0,90 (tabela 3).
Apesar disso, as sugestões de aperfeiçoamento sinalizadas pelos juízes foram avaliadas
pelos pesquisadores e, a partir disso, além de ajustes de palavras em todos os indicadores,
algumas adequações específicas foram realizadas na Matriz. São elas: A1: acréscimo de
metodologias participativas; B1: acréscimo de palavras na conceituação de situação-objetivo;
B3: acréscimo de palavras na descrição dos sistemas operacionais de suporte; C1: detalhamento
dos conceitos de forças, fraquezas, ameaças e oportunidades; C2: detalhamento dos conceitos
de viabilidade; C3: especificação das ações de Educação Permanente (EP) para o PE; D1 e D2:
ajuste de linguagem consonante com a resolução COFEN nº358/2009 e correção ortográfica;
D3 e D4: acréscimo de informações sobre a prescrição de enfermagem e checagem adequada e
segura; D6: inclusão de palavras complementares; D7: agrupamento do monitoramento e
avaliação do PE no mesmo item. D8: exclusão do item para evitar redundância de informações.
Após a segunda rodada de validação pelos juízes, os instrumentos foram devolvidos aos
pesquisadores e os resultados submetidos aos cálculos de concordância. Destaca-se que o
primeiro estágio – avaliação global do instrumento e das suas dimensões – obteve uma maior
taxa de concordância em relação à primeira rodada. As adequações realizadas no título da
Matriz, nas colunas e no seu formato foram bem aceitas pelos juízes. Ao mesmo tempo, foram
mantidos os níveis de concordância quanto à abrangência e representatividade do conteúdo das
dimensões do instrumento (tabela 4).
Dessa forma, tem-se a versão final do modelo lógico (figura 3) e da matriz avaliativa
(quadro 4) – com suas respectivas dimensões e itens – após as duas rodadas de validação por
parte do comitê de especialistas.
41
Figura 4: Versão final do Modelo Lógico de Avaliação do Processo de Enfermagem no contexto hospitalar. Feira de Santana, Bahia, 2022.
42
Quadro 4: Versão final da Matriz Avaliativa do Processo de Enfermagem no contexto hospitalar após rodadas de validação. Feira de Santana,
Bahia, 2022.
43
Quadro 4: Versão final da Matriz Avaliativa do Processo de Enfermagem no contexto hospitalar após rodadas de validação. Feira de Santana,
Bahia, 2022.
44
Também foi dada evidência à Educação Permanente como recurso importante para execução
do PE, a partir do envolvimento dos diferentes atores que participam do cenário de prática.
Associado a isso, foi incluída a ênfase na necessidade de monitoramento e avaliação contínua
da execução do PE implantado, para que sejam fomentadas iniciativas de aprimoramento do
PE, a partir das realidades locais (CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO
PAULO, 2021; SANTANA, TAHARA, 2008).
Diante da estruturação do instrumento, a validação em duas rodadas com uma alta taxa
de concordância e um IVC acima do recomendado trouxe expectativas do instrumento ser
aplicável aos serviços hospitalares, visto que uma potencialidade do instrumento proposto é a
sua possibilidade de adequação aos distintos contextos organizacionais (como subsetores
hospitalares), bem como a valorização dos atores, recursos e sistemas operacionais já existentes,
conforme prerrogativas do próprio PES.
Cabe reiterar que isso é possível devido à similaridade estrutural entre o PES e o PE,
pois ambos possuem dinamismo entre seus momentos, que fogem de um padrão rígido e
normativo. Bem como consideram a existência de problemas reais, o estabelecimento de
resultados desejados, o envolvimento dos atores e execuções concomitantes de ações
(CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009; SÁ, PEPE, 2000; SANTANA,
TAHARA, 2008).
Assim, o instrumento proposto pode fomentar discussões acerca da importância da
aproximação do conteúdo teórico e o arcabouço legal com a realidade a que o sujeito está
inserido. A partir daí, serem construídas perspectivas de implantações reais do PE nos cenários
de atuação profissional, distintas dos sistemas engessados e impressos de enfermagem utópicos
e dissonantes das realidades locais, ainda existentes atualmente.
Diante disso, a presente pesquisa apresenta elementos inovadores no cenário de estudos
de validação sobre o PE: validação de um instrumento que considere não apenas a execução
das etapas propriamente ditas – histórico, diagnóstico, planejamento, implementação e
avaliação – mas também os passos que antecedem a execução do PE, a partir do PES. Desse
modo, o instrumento traz foco à necessidade do planejamento para implantação do PE no
serviço, como identificação dos problemas existentes, participação dos profissionais, definição
de teorias de enfermagem, análise de viabilidade, entre outros.
As contribuições dos juízes conferiram maior clareza às sentenças descritas no
instrumento, especialmente através do detalhamento de alguns conceitos-chave que foram
incorporados a partir do PES. Os ajustes de linguagem foram necessários para que o
instrumento se tornasse mais compreensível para o leitor. Ao mesmo tempo, foram introduzidas
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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9 Profile of the nursing diagnoses in CARDOSO, 2019 Investigacíon O estudo identificou o perfil dos diagnósticos de
stable heart disease patients Patrícia et al. y Educacíon enfermagem mais frequentes nos prontuários de
en Enfermeria pacientes acompanhados em um ambulatório
especializado em cardiopatia isquêmica. A partir
dessa coleta, os mais frequentes foram validados para
protocolo de uso por um comitê de especialistas em
cardiologia.
10 Risco de reação adversa ao meio de JUCHEM, Beatriz 2017 Revista O estudo realizou a validação de conteúdo do
contraste iodado: um estudo de Cavalcanti; Gaúcha de diagnóstico de enfermagem “Risco de reação adversa
validação ALMEIDA, Miriam Enfermagem ao contraste iodado”, bem como de suas intervenções
de Abreu e resultados de enfermagem segundo terminologias
padronizadas
11 Validation of a manual of care GONZÁLEZ 2021 Nursing Open O estudo validou um manual de planos de cuidados
plans for people hospitalized with AGUÑA, para pessoas hospitalizadas por COVID-19. O manual
COVID-19 Alexandra et al. integrou 24 diagnósticos NANDA-I, 34 NOC e 47
critérios NIC diferentes.
12 Análise do padrão respiratório SEGANFREDO, 2017 Revista latino O estudo analisou como se manifestam as
ineficaz e ventilação espontânea Deborah Hein et al. Americana de características definidoras dos diagnósticos de
prejudicada de adultos com Enfermagem enfermagem “padrão respiratório ineficaz” e
oxigenoterapia “ventilação espontânea prejudicada”, da NANDA
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