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Ligados Pela Honra
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E-book337 páginas6 horas

Ligados Pela Honra

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Sobre este e-book

Nascida em uma das principais famílias da máfia de Chicago, Aria Scuderi luta para encontrar seu próprio caminho em um mundo onde não há escolhas. Aos quinze anos, ela foi escolhida para ser a aliança que uniria duas das maiores máfias americanas, casando-se com ninguém menos que 'o vice', Luca Vitiello, o próximo capo da máfia de Nova Iorque. Agora, aos dezoito, o dia que ela mais temia se aproxima: o do seu casamento. Apesar da fama que seu futuro marido carrega, e do medo que ele causa nela, Aria sabia que não tinha escapatória, e teria não só que se casar com um homem implacável, como que conviver com pessoas que até bem pouco tempo eram inimigas declaradas de sua família. Mas o jeito de predador alfa de Luca provoca nela um conflito interno; sentimentos novos; desejos sensuais e uma grande dúvida: seria aquele homem conhecido por não ter um coração capaz de amar?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jun. de 2020
ISBN9786586066111
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    Ligados Pela Honra - Cora Reilly

    LIGADOS PELA HONRA

    Born in Blood Mafia Chronicles

    Livro 1

    Cora Reilly

    Copyright © 2014 Cora Reilly

    Copyright © 2019 Editora Bezz

    Título original: Bound by Honor

    Tradução: Stéphanie Rumbelsperger

    Preparação de Texto: Vânia Nunes

    Capa: Denis Lenzi

    Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

    Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

    Todos os direitos reservados.

    São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

    A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

    Reilly, Cora

    Ligados pela Honra (Born in Blood Mafia Chronicals, livro 1)/ Cora Reilly; Tradução: Stéphanie Rumbelsperger. 1ª edição – São Paulo – Bezz Editora; 2019.

    CONTEÚDO ADULTO

    *Leitura indicada para Maiores de 18 anos*

    Índice

    Capa

    Folha Rosto

    Ficha

    Prólogo

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Sobre a Autora

    PRÓLOGO

    Meus dedos tremiam como se fossem folhas na brisa quando os ergui, meu coração batia tão depressa quanto as asas de um beija-flor. A mão forte de Luca estava firme e estável quando ele segurou a minha e deslizou a aliança em meu dedo.

    Ouro branco com vinte pequenos diamantes.

    Aquilo que simbolizava o amor e a devoção para outros casais era apenas uma prova de que ele era o meu dono. Um lembrete diário da jaula dourada em que me aprisionava pelo resto da vida. Até que a morte nos separe não era uma promessa vã como para tantos outros casais que se entregavam ao sagrado laço do matrimônio. Para mim, não havia saída desta união. Eu seria de Luca até o último momento. As últimas palavras do juramento daquele homem quando foi iniciado na máfia poderia muito bem ter sido o desfecho dos meus votos de casamento:

    Entro com vida e só sairei na morte.

    Eu deveria ter me livrado disso quando ainda era possível. Agora, no momento em que centenas de rostos das Famiglias de Chicago e Nova Iorque nos encaravam, fugir não era mais uma opção. Nem o divórcio. A morte era o único fim aceitável para um casamento em nosso mundo. Mesmo que eu conseguisse escapar dos olhares vigilantes de Luca e de seus capangas, meu desrespeito ao nosso acordo significaria guerra. Nada que meu pai dissesse impediria que a Famiglia de Luca se vingasse pela humilhação.

    Meus sentimentos não importavam, nunca importaram. Cresci num mundo onde não eram dadas escolhas, principalmente às mulheres.

    Este casamento não tinha nada a ver com amor nem confiança ou escolha. Trata-se de dever e honra, de se fazer o que é esperado.

    Um vínculo para garantir a paz.

    Eu não sou idiota. Sabia do que mais se tratava: dinheiro e poder. Ambos estavam se esgotando desde que a Bratva – a máfia russa –, a Tríade Taiwanesa e outras organizações criminosas tentavam aumentar seus controles em nossos territórios. As Famiglias Italianas por todo os Estados Unidos precisaram deixar as desavenças de lado para trabalharem em conjunto e combater seus inimigos. Eu deveria me sentir honrada em casar com o filho mais velho da Famiglia de Nova Iorque. Era do que meu pai e todos os outros parentes homens tentavam me convencer desde que fiquei noiva de Luca. Eu sabia disso, e não era como se não tivesse tempo para me preparar para o momento crucial, mas, mesmo assim, o medo invadia meu corpo incontrolavelmente.

    — Pode beijar a noiva — disse o padre.

    Levantei a cabeça. Cada par de olhos no salão me analisava, esperando por um indício de fraqueza. Papai ficaria furioso se eu deixasse meu terror transparecer, e a Famiglia de Luca usaria isso contra nós. Mas cresci em um mundo onde uma máscara de perfeição era a única proteção permitida à mulher e não havia dificuldade nenhuma em impor uma expressão tranquila. Ninguém desconfiaria do quanto eu queria fugir. Ninguém exceto Luca. Não conseguia esconder dele, por mais que tentasse. Meu corpo não parava de tremer. Percebi que ele sabia assim que meu olhar encontrou seus olhos cinza. Quantas vezes ele provocara medo nas pessoas? Considerando que provocar medo provavelmente era algo natural para ele.

    Ele se curvou para diminuir os 25 centímetros que tinha a mais que eu. Não havia sinal de dúvida, medo ou hesitação em seu rosto. Meus lábios tremiam contra sua boca enquanto seus olhos me penetravam. A mensagem era clara: Você é minha.

    CAPÍTULO UM

    Três anos antes

    Eu estava em nossa biblioteca, encolhida na chaise lounge lendo, quando ouvi uma batida. Liliana descansava em meu colo e nem se mexeu quando a porta de madeira escura abriu e nossa mãe entrou com seus cabelos loiros escuros presos num coque. Mamãe estava pálida, seu semblante era de preocupação.

    — Aconteceu alguma coisa? — Perguntei.

    Ela sorriu, mas era um sorriso hesitante. — Seu pai quer conversar com você no escritório dele.

    Tirei a cabeça de Lily cuidadosamente de cima de mim e a deitei no sofá. Ela encolheu as pernas contra seu corpo. Era bem pequena para uma menina de onze anos, mas eu também não era exatamente alta com os meus 1,65cm. Nenhuma mulher de nossa família era. Mamãe evitou meus olhos quando andei em sua direção.

    — Estou encrencada? — Não tinha ideia do que poderia ter feito de errado. Normalmente, Lily e eu éramos obedientes; Gianna era a única que sempre quebrava as regras e era castigada.

    — Depressa. Não faça seu pai esperar — disse Mamãe simplesmente.

    Meu estômago deu um nó quando cheguei em frente ao escritório de Papai. Esperei um momento até acalmar meus nervos e bati.

    — Entre.

    Entrei, forçando uma expressão cuidadosamente séria. Papai estava sentado à sua mesa de mogno numa poltrona larga de couro negro; atrás dele, prateleiras de mogno erguiam-se repletas de livros que ele nunca lera, mas que escondiam uma entrada secreta para o subterrâneo e um corredor que dava para o lado de fora da casa.

    Ele olhava através de uma pilha de papéis com seus cabelos grisalhos penteados para trás. — Sente-se.

    Afundei em uma das cadeiras à sua mesa e juntei as mãos em meu colo, na tentativa de não morder meu lábio inferior. Papai odiava isso. Esperei que ele começasse a falar. Tinha uma expressão estranha enquanto me analisava.

    — A Bratva e a Tríade estão tentando reivindicar nossos territórios. Estão ficando mais audaciosas a cada dia. Temos mais sorte que a Famiglia de Las Vegas, que também tem que lidar com os mexicanos, mas não podemos mais ignorar a ameaça que os russos e os taiwaneses representam.

    Fiquei confusa. Papai nunca falava sobre negócios conosco. Garotas não precisavam saber nenhum detalhe dos negócios da máfia. Mas eu sabia muito bem que não deveria interrompê-lo.

    — Temos que deixar nossa rixa com a Famiglia de Nova Iorque de lado e unir forças se quisermos combater a Bratva e a Tríade. — Paz com a Famiglia? Papai e todos os outros membros da Organização de Chicago odiavam a Famiglia. Eles se matam há décadas e apenas recentemente decidiram ignorar uns aos outros em favor de eliminar os membros de outras organizações criminosas, como a Bratva e a Tríade. — Não há laço mais forte que o sangue. Pelo menos a Famiglia acredita que não.

    Eu franzi a testa.

    Nascido no sangue. Jurado com sangue. Este é o lema deles.

    Concordei, só que minha confusão só aumentava.

    — Encontrei-me com Salvatore Vitiello no sábado. — Papai se encontrou com o Capo dei Capi, o chefão da máfia de Nova Iorque? Uma reunião entre Nova Iorque e Chicago não acontecia há uma década e da última vez não terminou bem. Ainda se referiam a isso como ‘Quinta-feira Sangrenta’. E Papai nem era o chefe ainda, era apenas o Consigliere, o assessor de Fiore Cavallaro, que comandava a Organização e, com isso, o crime no Centro-Oeste.

    — Chegamos à conclusão de que, para que a paz seja uma opção, precisamos nos tornar uma só família. — O olhar penetrante de Papai me atingiu e repentinamente eu não quis ouvir mais nada do que ele tinha a dizer. — Cavallaro e eu concordamos que você deve se casar com seu filho mais velho, Luca, o futuro Capo dei Capi da Famiglia.

    Senti como se fosse desmaiar. — Por que eu?

    — Vitiello e Fiore conversaram ao telefone várias vezes nas últimas semanas, e Vitiello queria a garota mais bonita para o filho. E claro que não poderíamos dar a ele a filha de um de nossos soldados. Fiore não tem filhas, então, ele disse que você era a garota mais bonita disponível. — Gianna é tão bonita quanto eu, mas é mais nova. Isso provavelmente a salvou.

    — Tem tantas garotas bonitas... — engasguei. Não conseguia respirar. Papai me olhava como se eu fosse seu bem mais precioso.

    — Não há muitas meninas italianas com um cabelo como o seu. Fiore o descreveu como dourado. — Papai gargalhou. — Você é a nossa porta de entrada para a Famiglia de Nova Iorque.

    — Mas, Papai, eu tenho quinze anos. Não posso casar.

    Papai me olhou com desprezo. — Se eu permitisse, você poderia. Desde quando você se importa com as leis?

    Agarrei bem forte os braços da cadeira, as articulações dos meus dedos estavam perdendo a cor, mas não sentia dor. Meu corpo todo estava ficando entorpecido.

    — Contudo, eu disse a Salvatore que o casamento terá que esperar até você completar dezoito anos. Sua mãe foi irredutível quanto a você se tornar maior de idade e terminar os estudos. Fiore levou sua súplica a ele.

    Então, o Chefe disse a meu pai que o casamento terá que esperar... Meu próprio pai me atirou direto nos braços do meu futuro marido. Meu marido. Comecei a me sentir enjoada. Sabia apenas dois fatos sobre Luca Vitiello: ele se tornaria o chefe da máfia nova-iorquina assim que seu pai se aposentasse ou morresse; e que ganhou o apelido de O Vice por estrangular um homem com as próprias mãos. Não sei quantos anos ele tinha. Minha prima Bibiana foi obrigada a se casar com um homem trinta anos mais velho. Como o pai ainda não havia se aposentado, Luca não devia ser tão velho assim. Pelo menos era o que eu esperava. Será que ele era cruel?

    Ele estrangulou um homem. Ele será o chefe da máfia nova-iorquina.

    — Pai — sussurrei —, não me obrigue a casar com aquele homem, por favor.

    A expressão de Papai se agravou. — Você vai se casar com Luca Vitiello. Fiz um acordo com o pai dele, o Salvatore. Você será uma boa esposa para Luca e, quando o encontrar na festa de noivado, se comportará como uma moça obediente.

    — Festa de noivado? — Repeti. Minha voz soava distante, como se uma névoa cobrisse meus ouvidos.

    — Claro. É uma ótima maneira de criar laços entre nossas famílias, e dará a Luca a chance de ver o que vai lucrar com o acordo. Não queremos desapontá-lo.

    — Quando? — Limpei a garganta, mas o nó permanecia. — Quando será a festa de noivado?

    — Em agosto. Ainda não marcamos a data.

    Daqui a dois meses... Concordei apaticamente. Eu amava ler romances e sempre que os personagens se casavam, eu ficava imaginando como seria o meu casamento. Sempre o idealizei cheio de amor e emoção. Sonhos vãos de uma garota burra.

    — Então, tenho permissão para ir à escola? — O que importa se vou me formar ou não? Nunca poderei frequentar a faculdade, nem trabalhar. A única coisa a que terei permissão será aquecer a cama do meu marido. O nó na garganta apertou e lágrimas brotaram em meus olhos, mas desejei que não caíssem. Papai odiava quando nos descontrolávamos.

    — Sim. Eu disse a Vitiello que você frequenta uma escola católica para meninas, e isso pareceu agradá-lo. — Claro que agradou. Não poderia arriscar que eu ficasse em qualquer ambiente perto de garotos.

    — Algo mais?

    — Por enquanto, não.

    Saí do escritório como se estivesse em transe. Fiz quinze anos há quatro meses. Achei que meu aniversário tivesse sido um grande passo em direção ao meu futuro e fiquei empolgada. Ingenuidade minha. Minha vida terminou antes mesmo de começar. Já decidiram tudo por mim.

    ***

    Não consegui parar de chorar. Gianna fazia cafuné em mim enquanto eu estava deitada com a cabeça em seu colo. Ela tinha treze anos, apenas um ano e meio mais nova que eu, mas, hoje, dezoito meses significavam a diferença entre a liberdade e estar condenada a uma vida sem amor. Eu tentava arduamente não culpá-la. Não era culpa dela.

    — Você podia tentar falar com Papai mais uma vez. Talvez ele mude de ideia — disse Gianna docemente.

    — Não vai.

    — Talvez Mamãe consiga convencê-lo.

    Como se Papai fosse deixar uma mulher tomar uma decisão por ele...

    — Nada do que alguém diga ou faça fará diferença — lastimei. Não tinha visto Mamãe desde que me mandou ao escritório de Papai. Era provável que ela não conseguisse me encarar porque sabia que havia me condenado.

    — Mas, Aria...

    Levantei a cabeça e sequei as lágrimas do rosto. Gianna me fitava com os olhos azuis de pena, o mesmo azul celeste que os meus. Mas diferentemente dos meus cabelos loiros escuros, os dela eram ruivos. Papai a chamava de bruxa às vezes; não era um elogio. — Ele fez um acordo com o pai de Luca.

    — Eles se encontraram?

    Foi o que imaginei também. Por que ele encontrou tempo para uma reunião com o chefe da Famiglia de Nova Iorque, mas não para me contar sobre seus planos de me vender como uma prostituta de luxo? Sacudi meu corpo tentando me livrar da frustração e do desespero.

    — Foi o que ele me disse.

    — Tem que ter algo que possamos fazer — manifestou Gianna.

    — Não tem.

    — Mas a gente nem conhece o cara... Nem sabemos como ele é! Ele pode ser feio, gordo e velho.

    Feio, gordo e velho... Espero que essas sejam as únicas características de Luca com as quais eu tenha que me preocupar. — Vamos pesquisar sobre ele no Google. Deve ter fotos na internet.

    Gianna deu um pulo e pegou meu laptop da escrivaninha, depois, se sentou ao meu lado, imprensando nossos corpos um no outro.

    Encontramos várias fotos e artigos sobre Luca. Ele tinha os olhos cinza mais frios que eu já vira. Podia imaginar muito bem como aqueles olhos contemplavam suas vítimas antes de colocar uma bala em suas cabeças.

    — Ele é mais alto do que qualquer outra pessoa — disse Gianna espantada.

    Ele era. Em todas as fotos, ele era bem mais alto do que quem quer que estivesse ao seu lado, e era musculoso também. Deve ser por isso que algumas pessoas o chamam de Touro sem ele saber. Era o apelido que as reportagens usavam, e referiam-se a ele como herdeiro de Salvatore Vitiello, um empresário e dono de boate. Empresário. Talvez para quem está de fora. Todos sabem o que Salvatore Vitiello realmente faz, mas é claro que ninguém seria idiota o bastante para escrever sobre isso.

    — Em cada foto ele está com uma garota diferente.

    Observei o rosto inexpressivo do meu futuro marido. O jornal o chamava de o solteiro mais cobiçado de Nova Iorque, herdeiro de milhões de dólares. Herdeiro de um império de morte e sangue, era o que deveria dizer.

    Gianna bufou:

    — Cruzes, as garotas se atiram nele. Eu o achei bonito.

    — Elas podem tê-lo — manifestei com amargura. No nosso mundo, a beleza exterior geralmente esconde o monstro interior. As garotas da sociedade veem sua boa aparência e fortuna. Elas pensam que a fama de bad boy não é algo muito sério. Elas bajulam seu jeito de predador porque isso irradia poder. Mas o que elas não sabiam era que o sangue e a morte escondiam-se por trás do sorriso arrogante.

    Paralisei de repente. — Preciso falar com Umberto.

    Umberto tinha quase cinquenta anos e era o soldado mais fiel de meu pai. Também era o nosso guarda-costas, meu e de Gianna. Ele sabia de tudo sobre todos. Mamãe o chamava de alcoviteiro. Mas se alguém poderia saber mais sobre Luca, esse alguém era Umberto.

    ***

    — Ele se tornou um Homem de Honra aos onze anos — contou Umberto, afiando sua faca num amolador como fazia todos os dias. O cheiro de tomate e orégano impregnava a cozinha, mas não me senti reconfortada como costumava acontecer.

    — Aos onze anos? — Perguntei, tentando manter a voz normal. A maioria deles só se tornava um membro totalmente iniciado da máfia depois dos dezesseis. — Por causa do pai?

    Umberto sorriu, revelando um dente de ouro, e parou o que estava fazendo. — Você acha que foi fácil para ele porque é o filho do Chefe? Ele cometeu seu primeiro assassinato aos onze, foi por isso que decidiram iniciá-lo mais cedo.

    Gianna engasgou. — Ele é um monstro!

    Umberto deu de ombros. — Ele é o que precisa ser. Para comandar Nova Iorque não pode ser um veadinho. — Sorriu se desculpando. — Um covarde.

    — O que aconteceu? — Não tinha certeza se queria mesmo saber. Se Luca cometeu seu primeiro assassinato aos onze anos, quantos mais ele deve ter matado nos nove anos que se seguiram até agora?

    Umberto balançou a cabeça raspada e coçou a longa cicatriz que ia de sua têmpora até o queixo. Ele era magro e não parecia grande coisa, mas Mamãe dizia que poucos eram mais rápidos com uma faca do que ele. Nunca o vi lutar. — Não sei dizer. Não sei muita coisa sobre Nova Iorque.

    Observava nossa cozinheira enquanto ela preparava o jantar, tentando focar em algo que não fosse meu estômago revirado e meu medo esmagador. Umberto analisou meu rosto. — Ele é um bom partido. Será o homem mais poderoso da Costa Oeste em breve. Irá te proteger.

    — E quem irá me proteger dele? — Sibilei.

    Umberto não disse nada porque a resposta era óbvia: ninguém poderia me proteger de Luca depois que nos casássemos. Nem Umberto, e nem meu pai, mesmo que quisesse. As mulheres do nosso mundo pertenciam aos maridos. Eram propriedades deles para que fizessem o que bem entendessem.

    CAPÍTULO DOIS

    Os dois últimos meses passaram muito rápido, ainda que eu desejasse que fossem bem devagar para que eu tivesse mais tempo para me preparar. Faltavam apenas dois dias para a minha festa de noivado. Mamãe esteve ocupada administrando os empregados, certificando-se de que a casa ficasse impecável e que nada desse errado. E nem era um evento tão grande. Apenas nossa família, a de Luca e as famílias dos chefes de Nova Iorque e de Chicago foram convidadas. Umberto disse que foi por motivos de segurança. A trégua ainda era muito recente para arriscar um encontro de centenas de convidados.

    Eu queria era que cancelassem logo tudo. Por mim, só conheceria Luca no dia do casamento. Fabiano pulava sem parar na minha cama fazendo beicinho. Ele tinha só cinco anos e energia de sobra. — Quero brincar!

    — Mamãe não quer que você fique correndo pela casa. Tudo deve estar perfeito para os convidados.

    — Mas eles nem chegaram ainda!

    Graças a Deus. Luca e o restante dos convidados de Nova Iorque só chegariam amanhã. Apenas mais uma noite e eu conheceria meu futuro marido, um homem que já matou com as próprias mãos. Fechei os olhos.

    — Está chorando de novo? — Fabiano pulou da cama e caminhou até mim, enfiando sua mão entre as minhas. Seus cabelos loiros escuros estavam uma bagunça. Quis ajeitá-los, mas Fabiano desviou a cabeça.

    — Como assim? — Tentei esconder as lágrimas. Na maioria das vezes, eu chorava à noite quando estava protegida pela escuridão.

    — Lily disse que você chora o tempo todo porque Luca te comprou.

    Congelei. Já tinha dito a Liliana que parasse de falar essas coisas. Só iria me trazer problemas. — Ele não me comprou. — Mentirosa. Mentirosa.

    — Dá no mesmo — falou Gianna à porta, assustando-me.

    — Shhh. E se Papai nos ouvir?

    Gianna deu de ombros. — Ele sabe o quanto eu odeio por ele ter te vendido como uma vaca.

    — Gianna — adverti, acenando em direção a Fabiano.

    Ele olhou para mim. — Não quero que vá embora — sussurrou.

    — Ainda vai demorar para eu ir embora, Fabi. — Ele pareceu satisfeito com a minha resposta e a preocupação desapareceu de seu rosto, sendo substituída pela cara de quem estava aprontando. — Vem me pegar! — gritou e saiu correndo, empurrando Gianna quando passou a seu lado.

    Gianna disparou atrás dele. — Vou acabar com você, seu monstrinho!

    Acelerei pelo corredor. Liliana enfiou a cabeça para fora da porta de seu quarto e logo começou a correr atrás de meus irmãos. Mamãe me mataria se eles destruíssem outra relíquia de família. Voei escada abaixo. Fabiano ainda corria na frente. Ele era rápido, mas Liliana quase o pegou enquanto Gianna e eu estávamos muito devagar por causa dos saltos altos que minha mãe nos obrigava a usar para praticar. Fabiano acelerou pelo corredor em direção à ala oeste da casa e nós o seguimos. Quis gritar para que ele parasse. O escritório de Papai ficava nessa parte da casa. Estaríamos tão encrencados se ele nos pegasse brincando por aqui... Fabiano deveria agir feito um homem. Que criança de cinco anos age como homem?

    Passamos pela porta de Papai e fiquei aliviada, mas, então, três homens apareceram no fim do corredor. Abri meus lábios para avisar, mas era tarde demais. Fabiano derrapou, porém, Liliana correu direto para cima do homem que estava no meio com força total. A maioria das pessoas teria se desequilibrado. A maioria das pessoas não media 1,90cm de altura e tinha um corpo de touro.

    Parei subitamente enquanto o tempo parecia congelar à minha volta. Gianna engasgou ao meu lado, mas meu olhar deteve-se no meu futuro marido. Ele olhava para baixo, em direção à cabeça loira da minha irmã mais nova, estabilizando-a com suas mãos fortes. Mãos que usara para estrangular um homem.

    — Liliana — falei com a voz trêmula de medo. Nunca chamo minha irmã pelo nome a não ser que ela esteja em perigo ou que algo esteja muito errado. Desejei estar conseguindo esconder melhor o pavor que sentia. Neste momento, todos me encaravam, inclusive Luca. Seus olhos cinza frios me analisavam dos pés à cabeça, parando em meus cabelos.

    Deus, ele é alto. Ambos os homens ao lado dele tinham mais de 1,80cm, mas ele os ofuscava. Suas mãos permaneciam sobre os ombros de Lily. — Liliana, venha aqui — chamei firmemente, estendendo a mão. Eu a queria longe de Luca. Ela cambaleou para trás, jogando-se em meus braços e enterrou o rosto em meu ombro. Luca levantou uma sobrancelha negra.

    — Este é Luca Vitiello! — Anunciou utilmente Gianna, sem nem se incomodar em esconder sua insatisfação.

    Fabiano emitiu um grunhido como se fosse um felino raivoso e avançou em Luca, batendo em suas pernas e abdômen com seus pequenos punhos. — Deixe Aria em paz! Você não vai levá-la!

    Meu coração parou bem ali. O homem ao lado de Luca deu um passo à frente. O contorno de uma arma ficou visível por baixo de seu uniforme. Ele devia ser o guarda-costas de Luca, embora eu não conseguisse imaginar para que ele precisaria de um.

    — Não, Cesare — disse Luca simplesmente e o homem se deteve. Com uma das mãos, Luca pegou as duas de meu irmão, interrompendo o ataque. Duvido que ele tenha ao menos sentido os golpes. Empurrei Lily para Gianna que a envolveu de forma protetora e me aproximei de Luca. Eu estava extremamente assustada, mas precisava tirar Fabiano de perto dele. Talvez Nova Iorque e Chicago estivessem tentando deixar a rixa de lado, mas alianças poderiam ser quebradas num piscar de olhos. Não seria a primeira vez. Luca e seus homens ainda eram os inimigos.

    — Que boas-vindas mais calorosa... Esta é a famosa hospitalidade da Organização — declarou o outro homem que estava com Luca; ele tinha os mesmos cabelos pretos, mas os

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