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Introdução1
Noção e Natureza do Direito da União Europeia
- Sistema de fontes
- Autonomia
- Hierarquia
- Unidade
- Plenitude
1
Maria Luísa Duarte, União Europeia: Estática e Dinâmica da Ordem Jurídica Eurocomunitária, pp 17-23,
1ª Edição, Almedina, 2011
1
- Plenitude - exaustividade reguladora e capacidade de manter o funcionamento da
ordem jurídica
Conclusão
- Pode-se dizer que o começo da integração europeia deu-se em 1950, com a famosa
Declaração Schuman. Contudo, existem uma série de antecedentes que convém ver.
- É difícil definir Europa. Geograficamente não é nada mais do que uma península
asiática – mas desde a Idade Média que se foi perdendo a noção puramente geográfica
de Europa, e com o humanismo renascentista, já se caracteriza a Europa como
“entidade histórico-cultural e política”.
- Desde a Antiguidade Clássica que tem havido um desejo de uma Europa unida,
Europa unida essa que tem sido tentada pela força das armas e pela força das palavras.
Depois de uma Idade Média onde houve uma certa unidade sob a autoridade do Papa,
a chamada Res Publica Christiana, a Idade Moderna das soberanias nacionais absolutas
e das guerras religiosas fratricidas cria uma nostalgia de unidade europeia.
- Pela força das armas, já vários impérios tentaram unir a Europa – o Império Romano,
Império Carolíngio, Sacro-Império Romano-Germânico, França Napoleónica, III Reich,
etc.
2
Maria Luísa Duarte, Direito da União Europeia e das Comunidades Europeias, pp 25- 80, 1ª Edição, Lex
3
João Mota de Campos, Manual de Direito Europeu, pp 19-65 , 6ª Edição, Coimbra Editora
4
Maria Luísa Duarte, União Europeia…, pp 23-80
2
- Pela força das palavras, a ideia de unidade europeia já há algum tempo que vinha a
ser proposta, havendo muitos filósofos e pensadores a apresentarem projectos de
congregação europeia variados, numa era em que os Estados eram deixados aos seus
impulsos beligerantes.
- Ainda numa base muito precoce, pensadores como Antoine Marini, o Duque de
Sully, William Penn, o Abade Saint-Pierre, entre outros, foram os prmeiros a propor
proto-projectos de uma Europa Unida.
- No século XIX, essas ieias são divulgadas, através de autores como Saint-Simon,
Benjamim Constant, Ernest Renan, e até se realizaram “Congressos da Paz”, em 1849 e
1850. No primeiro, o escritor francês Victor Hugo propôs uma “união europeia” com
capital em Paris, o que mostra que, apesar das intenções, havia muita dificuldade em
conseguir erguer o europeísmo no meio de nacionalismos. No entanto, todos estes
pensadores pensaram a integração política europeia em torno dos seguintes valores –
consentimento dos cidadãos no seio dos seus Estados, consentimento dos Estados, de
todos os Estados, em relação ao acto fundador da Federação, etc.
- A Prof. Maria Luísa Duarte designa também esta era por “proto-história da integração
europeia”
- Depois de tal devastadora guerra, gera-se um certo pessimismo, com autores como
Oswald Spengler e Albert Demangeon a publicarem obras que falam sobre o declínio
do ocidente, mais precisamente, da Europa. Entretanto, a Europa ia ficando para trás
na corrida do desenvolvimento, com uns Estados Unidos cada vez mais fortes.
3
- A 2ª Guerra Mundial resultou em danos incalculáveis para a Europa – humanos e
materiais. A Europa estava em ruínas, endividada e dividida, tendo o seu aparelho
destruído.
- Perante essa situação era preciso reconstruir a economia europeia, era preciso
acabar com as clássicas inimizades e era preciso criar uma estrutura de contra-peso
contra a influência soviética.
Antecedentes
- Comunidade Europeia de Defesa – foi para ser criada entre a França e a Alemanha,
mas a rejeição da Assembleia Nacional francesa deitou por terra esforços de tão
grande integração política, dando mais ânimo ao método dos pequenos passos.
A Declaração Schuman
4
- A Declaração Schuman é proferida por Robert Schuman, Ministro dos Negócios
Estrangeiros francês, a 9 de Maio de 1950, sendo ela um convite aberto a todos os
países europeus, mas principalmente dirigida à Alemanha
- Lido por Schuman, ela é, no entanto, idealizada por Jean Monnet, com a ajuda
técnica do jusinternacionalista Paul Reuter.
- Qual a sua ideia? Nos últimos séculos a Europa conheceu guerras devastadoras.
Sendo assim, a alternativa só pode ser a solidariedade, quebrando antagonismos
tradicionais (como o antagonismo franco-alemão) – o Europeísmo está intimamente
ligado ao pacifismo, pois a ideia de Europa nasceu para garantir a paz duradoura e a
prosperidade.
- E os seus objectivos?
(os tratados estão enunciados com a data da sua assinatura e a data da sua entrada
em vigor)
5
Tratado de Roma – 1957-1958
- Assim, da zona de comércio livre passa-se para a união aduaneira, depois para o
mercado comum e, por fim, para a união económica e monetária e, quem sabe no
futuro, o governo económico.
- Esta etapa conheceu dois momentos críticos, com a França como protagonista: em
1963 com a recusa francesa ao pedido de adesão do Reino Unido e em 1965 com a
política da ‘cadeira vazia’ (o nacionalismo de De Gaulle e a sua ‘Europa das Pátrias’
levou a uma certa reserva da França em dar mais poderes à CEE)
5
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty: A Legal and Political Analysis, pp 9-25, 1ª Edição, Cambridge
6
- Todo o processo foi impulsionado por Jacques Delors, Presidente da Comissão
Europeia, e motivado pelas transformações políticas da Europa de Leste.
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Maastricht foi a mais importante e alargada
reforma dos tratados.
6
Maria Luísa Duarte, Estudos de Direito da União Europeia e das Comunidades Europeias Vol. II, pp 393
7
- Na altura perguntava-se: seria a Constituição um tratado ou uma verdadeira
constituição?
- Maria Luís Duarte – temos que ver qual a definição prévia de Constituição. Se
lidarmos como uma acepção material, de Constituição como estatuto jurídico do poder
político, podemos falar de ‘Constituição Europeia’, porque de facto, é o que ela era,
respondendo às exigências de uma Constituição material: tutela dos direitos
fundamentais, formas de limitação jurídica do poder político e previsão de um quadro
institucional de órgãos.
- Mas seria uma Constituição na acepção formal da palavra? Maria Luísa Duarte define
três critérios: critério genético, critério ontológico e critério supraordenacional. Na
origem do Tratado para a Constituição Europeia (genético) esteve a vontade soberana
dos Estados-Membros, reunidos numa conferência inter-governamental, não havendo
um poder constituinte europeu e autónomo, nem sendo possível haver, pois não
existe um ‘povo europeu’ autónomo; critério ontológico remete para uma Constituição
a existência como fundamento do poder político autónomo e auto-referencial – na
U.E. não foi assim que funcionou, sendo ela uma ‘criatura’ moldada e accionada pelos
Estados-Membros, seus criadores (por exemplo, a UE não tem base territorial própria,
o seu território é o território dos Estados-Membros), já para não falar do princípio das
competências por atribuição. Quanto ao último critério, ele implica que essa
Constituição gozaria de uma força jurídica especifica que envolve, por um lado, a
primazia da norma constitucional em situação de litígio e a garantia do processo de
revisão – só nesse é que a Constituição Europeia assumiria, em parte, as características
de uma Constituição. Sendo assim, ela era uma ficção, sendo, do ponto de vista
jurídico-formal, um tratado internacional negociado pelos Estados que integram a UE
na sua qualidade de sujeitos de DIP.
- Com o falhanço do projecto constitucional europeu, era precisa uma nova solução –
começa-se então a falar do “Tratado Reformador”, durante a presidência alemã.
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Lisboa herdou a forma jurídica dos tratados
clássicos – Roma, Nice, etc. e foi importar o conteúdo à Constituição Europeia, num
“esquema laborioso de engenharia juridica ou (...) um trabalho paciente de cerzidura
normativa” – basicamente, as diferenças em relação à Constituição não são assim tão
7
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty: A Legal and Political Analysis, pp 36-111, 1ª Edição, Cambridge
8
Maria Luísa Duarte, Estudos Sobre o Tratado de Lisboa, pp 9-45, 1ª Edição, Almedina
8
grandes, apenas havendo modificações em questões ideológicas, neutralizando esse
sentido do texto.
Sendo assim:
- Por outro lado, é a primeira vez que os ‘federalistas’ foram obrigados a recuar,
fazendo desaparecer referência a símbolos que aproximariam a União de um Estado –
a ideia de uma Federação Europeia sai derrotada.
9
- O Tratado de Lisboa, nas palavras de Piris, é um “tratado muito complexo, seguindo o
padrão dos tratados anteriores, não revogando nem substituindo nenhum, apenas
emendando-os. Sendo assim, abandona-se o propósito simplificador da Constituição
Europeia” dando muita complexidade, parece-me, à ‘constituição material da U.E.’,
i.e., o TUE e o TFUE. Contudo, simplifica uma série de assuntos:
- Antes havia duas pessoas jurídicas – a Comunidade Europeia e a União Europeia, que
só o era através de um ius tractum limitado.
Despilarização
- Maria Luísa Duarte – a dispilarização está incompleta: os pilares agora são invisíveis,
deixando marcas de uma forma subreptícia:
- Em relação à PESC, ao olharmos para os arts. 21ºss TUE, vemos que nestas matérias o
Conselho Europeu decide por unanimidade (art. 31º TUE) e actos legislativos ficam
excluídos, que o Parlamento Europeu não co-decide, que a Comissão não tem iniciativa
e que o Tribunal de Justiça não tem jurisdição (arts. 275º e 276º TFUE)
- Sendo assim, temos uma União, mas que pode andar a velocidades diferentes
consoante a matéria, e os princípios que regulam as relações entre instituições, entre
Estados-Membros e União aplicam-se agora a todas as matérias
10
Importância Dada aos Direitos Humanos
- Art. 6º TUE - atribui à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia “o mesmo
valor jurídicos dos tratados.” – agora, a União Europeia dispõe, finalmente, de um
catálogo próprio de tratados.
- O art. 6º/2 TUE prevê a adesão da União à Convenção Europeia dos Direitos do
Homem (não confundir com a Carta) – acordo internacional de adesão requer
deliberação unânime do Conselho, seguido de aprovação de todos os Estados-
Membros (art. 218º TFUE). Isso, curiosamente, colocaria o TJUE sujeito ao Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem.
- V. art. 4º/1 e 5º/2 TUE que repetem a ideia da competência por atribuição.
- Complementares – União Europeia não legisla, mas pode cooperar e ajudar Estados-
Membros. Exemplos: turismo, cultura, protecção civil, política industrial.
11
TFUE), problemas comuns de segurança em matéria de saúde pública (168º TFUE),
política espacial europeia (189º TFUE), ajuda humanitária (214º TFUE), etc.
Princípio do Primado
12
Instituições, Órgãos e Organismos9 10 11 12
Características Comuns da Arquitectura Institucional
- Segundo o art. 13º TUE, são sete as instituições da União Europeia: Conselho
Europeu, Conselho, Parlamento Europeu, Comissão Europeia, Tribunal de Justiça,
Tribunal de Contas e Banco Central Europeu.
- Há que lembrar que, desde a declaração de Laeken que um dos objectivos da reforma
da União era a maior democratização. No que toca à estrutura institucional, o Tratado
de Lisboa preocupou-se mais com questões de eficácia do que propriamente com o
reforço da componente democrática. Contudo, a componente democrática saiu
reforçada do Tratado no que toca aos procedimentos de decisão.
- O art. 13º deveria conter alguma referência ao sentido da nova distinção entre
instituições, órgãos e organismos, inovação do Tratado.
- O art. 13º adiciona à lista das instituições o Conselho Europeu e o Banco Central
Europeu, ficando mais coerente o quadro institucional da União, que agora integra os
órgãos verdadeiramente mais relevantes.
9
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 204-238
10
Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 50-69
11
João Mota de Campos, MDE, pp 65-202
12
Maria Luísa Duarte, União Europeia…, pp 156-292
13
cada vez em maior número e aparecem sob os mais diversos nomes: agência, instituto,
observatório, etc.
- Art. 263º TFUE – permite impugnação dos actos dos organismos por iniciativa dos
particulares.
- Legitimidade Democrática
- Legitimidade Inter-Governamental
- Regime Linguístico – art. 342º TFUE; o Jornal Oficial da União Europeia é publicado
nas 23 línguas oficiais
O Parlamento Europeu13
13
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 114-122
14
Composição
- Uma dúvida não foi resolvida pelo Tratado de Lisboa – que critério usar:
nacionalidade ou residência? (primeiro favorceria países de emigração, como Itália ou
Portugal; e segundo favoreceria países de imigração, como a França e a Alemanha)
- Isto ignifica que o Parlamento e o Conselho, para poderem ser eficientes têm de
cooperar mais, tentando entender-se à primeira leitura dos actos. Isso faz-se através
de encontros informais entre a Presdiência do Conselho, representantes da Comissão e
do Parlamento.
15
- É de frisar que, quanto à Comissão, os poderes do Parlamento aumentam: agora,
ele é competente para eleger o candidato proposto pelo Conselho Europeu – art.
17º/7 TUE
- Para Jean-Claude Piris, a principal razão para o aumento dos poderes do Parlamento
é o facto de na Convenção que preparou a Constituição Europeia (cujas propostas em
relação ao Parlamento não foram muito modificadas) estavam membros do
parlamento muito ‘espertos e activos’; e porque os líderes dos Estados-Membros
precisavam de convencer os cidadãos de que a União Europeia é uma instituição
verdadeiramente democrática.
O Conselho Europeu
Composição
16
- Maria Luísa Duarte acha que o Conselho é a instituição que mais beneficia com o
regime instituído no Tratado de Lisboa.
- Art. 15º TUE define principal função do Conselho Europeu: dar impulso político e
estabelecer as orientações gerais e prioridades da União
- Art. 15º/2 – não exerce funções legislativas – art . 15º/2 e só emite actos
vinculativos em certos casos
- No domínio da PESC (art. 21º ss TUE) ainda muitas competências, cabendo-lhe, nos
termos dos arts. 21º ss identificar os interesses estratégicos, estabelecer os objectivos
e definir as orientações gerais da política externa e de segurança comum, adoptando
por unanimidade as decisões necessária.
- No que toca à revisão dos tratados, o art. 48º/2 TUE prevê que os projectos de
revisão sejam enviados ao Conselho Europeu, nos termos aí estabelecidos. Mas, no
âmbito da revisão simplificada (48º/6), o Conselho Europeu pode, deliberando por
unanimidade, adoptar uma decisão que altere todas ou parte das disposições da Parte
III TFUE – Políticas da União.
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- No tocante à adesão de novos membros ou abandono, cabe ao Conselho, após
consulta à Comissão e aprovação do Parlamento Europeu, pronunciar-se por
unanimidade sobre os pedidos de adesão à União, mas tendo sempre em conta os
critérios de elegibilidade aprovados pelo Conselho Europeu – art. 49º TUE. Quanto ao
abandono, ver art. 50º TUE
- Nos casos tipificados nos Tratados de votação por maioria simples – art. 235º/3 TFUE
– por maior qualificada – 236º TFUE ou por unanimidade – 244º TFUE – não participam
na deliberação nem o Presidente, nem o Presidente da Comissão, apenas vontando os
Chefes de Estado e de Governo, em nome do princípio inter-governamental.
Composição
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- Agora, está nas mãos do Conselho Europeu a lista de formações do Conselho – art.
236º a) TFUE. Só há duas formações que têm existência garantida pelos tratados – o
Conselho dos Assuntos Gerais e o Conselho dos Negócios Estrangeiros (16º/6 TUE e
art. 236º a) TFUE)
- Reuniões em que Conselho vote e delibere sobre actos legislativos são públicas –
art. 16º/8 TUE
- Alto Representante preside o Conselho dos Negócios Estrangeiros – 18º/3 TUE; com
essa excepção, a Presidência das diferentes formações do Conselho é definida pelo
Conselho Europeu – art. 236º b) TFUE, adoptando um sistema de rotação igualitária –
16º/9 TUE.
- Tem poderes de coordenação nos domínios económico e social, como estatui o art.
1º/5 e 121º TFUE; tem poderes de decisão, mas que só raramente são autónomos, i.e.,
a maioria das veses só age por proposta da Comissão – 17º/2 TUE
- Para Mota de Campos, acaba por ganhar relevo como centro de concertação de
interesses nacionais
- No entanto, existem uma série de áreas onde ainda funciona a regra da unanimidade,
nomeadamente em questões de PESC – v. art. 31º paquê?
- Até Outubro de 2014, nos termos do disposto no art. 16º/5 TUE e do art. 3º/3 do
Protocolo Relativo às Disposições Transitórias, cada Estado-Membro disporá, no seio
do Conselho um certo número de votos num total de 345.
19
- Se o Conselho deliberar sobre uma proposta da Comissão, a formação da maioria
qualificada exige 255 votos favoráveis provenientes da maioria (14) dos Estados-
Membros
A Comissão Europeia
Composição
20
- Ela é vista como a ‘guardiã dos tratados’ (v. art. 17º/1 TUE), tendo poderes de
controlo como o poder de fiscalização (337º TFUE) e o direito de acção. O direito de
acção é composto por acções por incumprimento (258º TFUE), recursos de anulação
(263º e 264º TFUE), recursos de anulação, quando o Conselho, o Parlamento ou o BCE,
em violação dos tratados, se abstenham de agir (265º TFUE).
- De sublinhar também que o Tratado dispõe uma regra geral segundo a qual a
Comissão “com excepção da PESC e outros casos previstos nos tratados” assegura a
representação externa da União – art. 17º/1.
- Contudo, pode-se afirmar que a Comissão é a instituição que mais sai prejudicada
do Tratado de Lisboa em termos comparativos, pois não ganha tantos poderes quanto
as outras instituições.
- Quanto ao Alto Representante, Maria Luísa Duarte acha que tem poucas hipóteses de
se afirmar como verdadeiro representante externo da União Europeia, perdido no
labirinto de competências e apanhado na sobreposição de poderes entre o Conselho e
a Comissão.
- Com a nova redacção do art. 19º/1 TUE recupera-se um princípio basilar de unidade
institucional no sistema comunitário de aplicação judicial do Direito, que se reflecte,
com coerência, no regime definido para os tribunais integrantes do sistema,
especialmente sob a forma de garantia de recurso para tribunal superior – art. 256º/2
e 257º TFUE.
21
- Para a selecção dos membros do Tribunal de Justiça e do Tribunal Geral intervém um
comité nos termos do art. 255º TFUE, composto por 7 personalidades, tanto ex-
membros do Tribunal ou membros de Supremos Tribunais nacionai ou juristas de
reconhecida competência – sujeita-se os candidatos a um escrutínio prévio de
idoneidade funcional.
- Agora a sua jurisdição cobre toda a área da liberdade, segurança e justiça, sendo
que, antes, esta área encontrava-se excluída da sua competência, o que são boas
notícias para a aplicação uniforme do Direito da União e protecção dos direitos
individuais.
- Apesar da PESC estar fora da jurisdição do Tribunal, ele agora pode rever a legalidade
das decisões que restrinjam direitos pessoais – art. 275º TFUE
- Com o Tratado de Lisboa, vê-se elevado a instituição, o que faz com alguma
reluctância, com medo de perder a sua independência, estando agora sujeito a todas
as provisões dos tratados relativas às instituições.
- Jean-Claude Piris acha que elevação a instituição não muda muito da sua situação
jurídica e legal, e a friza que a sua independência está garantida – art. 130º e 282º/3
TFUE e art. 7º Protocolo nº4 – independência institucional, operacional, pessoal,
financeira e de gestão interna.
O Tribunal de Contas
- ‘Patinho feio’ da União Europeia. E sim, foi a Marilú que disse isto.
- Composto por 27 membros, um por cada Estado, escolhidos por quem já tenha
exercido funções semelhantes nos Tribunais Constitucionais nacionais – art. 286º/1 ss
TFUE
- Estatuto de independência
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- Funções de controlo financeiro – muito amplia, pois abrange a fiscalização da
totalidade das receitas e despesas da União – art. 287º TFUE. Controla tanto a
legalidade como a oportunidade das contas – art. 287º/2 TFUE
Órgãos Complementares
- Comité das Regiões, composto por representantes das autarquias regionais e locais
que sejam quer titulares de um mandato eleitoral a nível regional ou local, quer
politicamente responsáveis perante uma assembleia eleita.
Organismos
- Maria Luísa Duarte acha que o Conselho Europeu sai reforçado com o Tratado de
Lisboa, pois tem um Presidente permanente e nomeia o Alto Representante
- Tratado de Lisboa tirou alguns poderes de iniciativa à Comissão que já não tem o
exclusivo da iniciativa, fazendo depender muito do factor personalista a relevância de
cada instituição – debilitação da Comissão é debilitação dos pequenos Estados e
fortalecimento do Directório.
23
- Do Tratado de Lisboa sai também reforçada a legitimidade democrática e a
legitimidade inter-governamental, em deterimento da legitimidade integrativa.
- Não tem base jurídica expressa, apesar de haver uma referência tácita no art. 13º/2
TUE.
- Tem uma dimensão estática (o que os tratados definem) e uma dimensão dinâmica
(competências em acção)
- Tem de ser triangular? Sim, para evitar golpes e alianças (do género Parlamento e
Comissão)
24
- Estados aderentes têm de aceitar o que já está em vigor. No entanto, isso não
prejudica a existência de uma fase de transição – os chamados tratados de adesão são
essas excepções necessárias.
- Art. 47º TUE e 216º e 218º TFUE – celebrar tratados internacionais – quando há
conflito de competências, há um procedimento de acordo misto.
- O Ac. Zwartveld do TJUE definiu que “este princípio obriga não apenas os Estados-
membros a tomar todas as medidas capazes de garantir a eficácia do direito
comunitário, mas impõe igualmente às Instituições deveres recíprocos de cooperação
leal com os Estados membros)
O Princípio da Transparência
- V. 16º/8
25
Os Procedimentos de Tomada de Decisão14 15
Procedimentos de Decisão, Função Política e Separação de Poderes na União
Europeia – Considerações Gerais
- Para Maria Luísa Duarte, no que respeita aos procedimentos de decisão, o Tratado de
Lisboa adopta decisões que, de forma equilibrada, traduzem o objectivo de Laeken –
maior transparência, mais democracia e mais eficácia.
- Por força dos arts. 14º/1 e 16º/1 TUE, o Parlamento Europeu exerce a função
legislativa, juntamente com o Conselho.
- O art. 289º TFUE dispõe que o processo legislativo ordinário consiste na adopção de
um regulamento, de uma directiva ou de uma decisão conjuntamente pelo
Parlamento Europeu e pelo Conselho, sob proposta da Comissão.
- A par deste processo legislativo ordinário, vemos também, ao longo dos Tratados,
casos específicos em que os referidos actos legislativos – regulamento, directiva e
decisão – são adoptadas pelo Parlamento com a participação do Conselho segundo
um processo legislativo especial.
- Em qualquer um dos casos, os actos resultantes são actos legislativos – 289º/2 TFUE
- Há que sublinhar que, aqui, o Conselho delibera por maioria qualificada. Às 63 bases
jurídicas já subordinadas a esta regra deliberativa, juntam-se mais 39 domínios de
acção comunitária – agora, a unanimidade é a excepção, limitada às matérias
directamente associadas ao cerne da soberania.
- O processo, regido pelo art. 294º TFUE, começa com a apresentação de uma
proposta ao Parlamento por parte da Comissão.
14
Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 70-75
15
João Mota de Campos, MDE, pp 209-226
26
- Essa proposta irá dar lugar a um extenso e complexo diálogo, que iremos já analisar,
diálogo que implica uma primeira leitura, eventualmente uma segunda, e até uma
terceira.
Primeira Leitura
Segunda Leitura
- Tem por missão chegar a acordo sobre um projecto comum de acto com base nas
posições divergentes tomadas pelas duas instituições em segunda leitura. A Comissão
trabalha no Comité e toma todas as iniciativas tendentes à aproximação de posições.
27
- Se nesse prazo não acontecer, considera-se que o acto proposto pela Comissão
não foi adoptado e o processo chega ao seu termo.
- Se nesse prazo uma das instituições não o aprovar, o acto proposto não foi
adoptado – o processo chega ao seu termo.
- 289º/2 TFUE – nos casos específicos previstos pelos Tratados, a adopção de um acto
jurídico da União pelo Parlamento Europeu com a participação do Conselho, ou vice-
versa, exige o recurso a um processo legislativo especial.
Conclusão
28
- O Tratado também reconhece o direito a uma espécie de ‘petição popular’, assinada
por um milhão de cidadãos da União, à Comissão – art. 11º/4 TUE e 24º TFUE
O Procedimento Relativo aos Actos Delegados e Executivos – art. 290º e 291º TFUE
- Apesar da distinção operada pelo art. 290º e 291º TFUE entre actos delegados e actos
de execução, a sua distinção depende dos procedimentos de comitologia,
devidamente adaptados – o art. 290º tem a vantagem de enunciar o direito de
participação do Parlamento Europeu, enquando co-autor do acto legislativo, no
procedimento de delegação, embora uma tal participação nos suscite reservas do
ponto de vista funcional – como órgão parlamentar não deveria o Parlamento, na
opinião de Maria Luísa Duarte, intreferir no exercício da função executiva, ainda que
de forma difusa de ‘acto delegado’, o que levanta uma série de questões em relação
ao exercício de poderes pelo Parlamento Europeu, pela Comissão e pelos Estados-
Membros.
16
Maria Luísa Duarte, EsTL, p 77-78
29
reunindo-se quando convocados, sendo cada um presidido por um representante da
Comissão)
- Os pareceres dos comités são importantes, pois, por exemplo, se um comité der um
parecer negativo, num procedimento de exame, esse parecer obriga a Comissão a
refazer a proposta e a atender ao sentido do parecer.
- Jean-Claude Piris fala de duas funções essenciais dos comités técnicos: controlo dos
actos delegados e dos actos de execução.
- Já tínhamos visto que, com o Tratado de Lisboa, e segundo o disposto no art. 47º
TUE, a União Europeia tem personalidade jurídica e, em função da sua qualidade de
maior bloco comercial do mundo e do papel que desempenha na cena internacional,
precisa de se poder exprimir em acordos.
- Esses acordos podem ser acordos comerciais (207º TFUE), acordos de cooperação
com 3ºs Estados (208º TFUE), acordos de associação (198º TFUE), acordos monetários
(art. 38º TFUE) e tratados de adesão, claro (art. 49º TUE)
Fase da Negociação
30
revê-las e negociará em consulta permanente com comités especiais designados pelo
Conselho – art. 218º/4
Fase da Conclusão
- Para evitar a conclusão de acordos, o TFUE prevê no art. 218º/11 que qualquer
Estado-Membro, o Parlamento Europeu, o Conselho ou a Comissão podem obter o
parecer do Tribunal de Justiça sobre a compatibilidade de um projecto de acordo com
os Tratados. Em caso de parecer negativo do Tribunal, o acordo não entra em vigor.
Direito Primário
Noção
17
João Mota de Campos, MDE, pp. 296-351
18
Jean-Claude Piris, The Treaty of Lisbon..., pp 92-104
31
- Esses Tratados foram completados com diversas declarações, protocolos, anexos,
etc, já para não falar da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que tem o
mesmo valor jurídico dos tratados.
- Uma questão que se discute na doutrina é a questão da natureza dos tratados: saber
se eles são meros tratados ou são constituições?
- Por outro lado, Mota de Campos afirma a natureza constitucional dos Tratados,
visto que contêm o enunciado dos objectivos fundamentais da União, a definição da
sua estrutura institucional (constituindo um direito institucional ou mesmo
constitucional), disposições relativas às relações entre a União e os seus Estados-
Membros, bem como às relações internacionais da União, as bases essenciais do
direito económico, financeiro e social da União e as disposições relativas à
salvaguarda da ordem jurídica que os Tratados instituíram.
- Os tratados podem ser objecto de revisão: não só pelo estatuído no art. 48º mas
também pelas alterações informais criadas pela prática, daí que Maria Luísa Duarte
fale em mutação.
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Processo Ordinário de Revisão
- É um processo mais solene, com mais etapas e que permite a alteração de qualquer
disposição, podendo alargar as competências da União ou restringi-las.
Direito Derivado
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Lisboa fez “uma espécie de milagre”, alterando
e ao mesmo tempo conservando os actos típico, mantendo no art. 288º a
nomenclatura dos actos tradicionais comunitários.
- Aliás, ainda afirma, com base dos arts. 289º ss TFUE que a definição de um acto
como legislativo ou não não é feita em função da matéria, nem do órgão que o
aprova, mas sim do procedimento de aprovação. Na opinião de Maria Luísa Duarte,
este critério será claro e fácil de aplicar, mas é curto como critério de definição de acto
legislativo. Sublinhe-se que este formalismo restritivo da noção de acto legislativo tem
33
implicações práticas, por exemplo, no exercício de poderes de controlo do princípio da
subsidariedade pelos Parlamentos nacionais.
Regulamentos
- O regulamento, sem visar quem quer que seja, impõe-se a todos aqueles – UE e
instituições, Estados-Membros e órgãos, pessoas públicas e privadas.
- Note-se que um regulamento não perde o seu carácter regulamentar pelo facto de
num dado momento ser possível identificar as pessoas sujeitas à aplicação das normas
que nele se contêm.
- Além disso, como o regulamento vigora directamente na ordem interna, o TJE exigiu
que “a sua entrada em vigor e a sua aplicação a favor ou contra quaisquer sujeitos de
direito se realizem sem intervenção de qualquer medida de recepção no Direito
nacional” – Caso Variola, TJUE 10/10/1973, Proc. 34/74
Directiva
- A directiva não é um acto de alcance geral, pois obriga apenas os destinatários que
ela mesma enuncia, sendo esses destinatários exclusivamente os Estados.
34
medidas destinadas a alcançar tal resultado, que incumbem aos Estados
destinatários.
Decisões
- Os destinatários tanto podem ser Estados como pessoas colectivas de direito público
ou simples particulares.
- Mas ela também pode ser utilizada para prescrever a um Estado ou grupo de
Estados-Membros um objectivo cuja realização passa pela adopção de medidas
nacionais de alcance geral, apresentando-se como um instrumento de legislação
indirecta próximo da directiva, com a diferença que a decisão é obrigatória em todos
os seus elementos.
- Podem ser decisões do Conselho (podendo ser sob proposta da Comissão, como no
293º ou por iniciativa do Conselho TFUE); decisões tomadas em conjunto pelo
Parlamento e pelo Conselho (previstas no art. 289º e 294º TFUE); decisões da
Comissão (agrupando-se nas que dependem da competência exclusiva da Comissão e
nas competências delegadas ao abrigo do art. 290º e 291º TFUE); decisões do BCE
(132º TFUE)
- Nos termos dos arts. 296º e 297º as decisões devem ser precedidas de consultas,
devendo também ser fundamentadas e deverão ser publicadas no Jornal Oficial.
Recomendações e Pareceres
35
- A recomendação é adoptada por iniciativa do autor, e é um acto do Conselho
dirigido aos Estados-Membros ou acto da Comissão dirigido quer ao Conselho quer aos
Estados-Membros, apontando-lhes medidas reclamadas pelo interesse da União,
sugerindo ou prescrevendo comportamentos.
Actos Atípicos
- Há que fazer uma distinção: os actos fora do 288º como aqueles que estão no
295º; e outros que estão fora dos tratados (exemplo: orientações gerais).
- Actos que não estejam previstos: decisões de criação de comités consultivos, por
exemplo.
- Artigos: 288º, 290º e 291º - hierarquia que se baseia, actos legislativos VS actos não
legislativos (delegados e executivo)
36
legislativos, delegados e de execução. Veja-se o artigo 289º sobre actos legislativos,
290º sobre actos delegados e 291º. De modo simplificado pode-se distinguir entre
actos legislativos (aprovado de acordo com o processo legislativo – tem uma natureza
vinculativa); e não legislativos, que são passíveis de ser impugnados se atentarem
contra os actos legislativos.
- O acto delegado é adoptado pela Comissão, por delegação dos órgãos decisores
(Conselho e Parlamento Europeu) e pode regular matérias de dignidade legislativa
desde que não sejam elementos essenciais do regime jurídico. Os actos de execução
são aprovados pela Comissão, depois de ter submetido essa proposta aos comités
técnicos. O acto executivo deve sempre respeitar o acto delegado, sob pena de ser
impugnado junto dos tribunais competentes. Um dos objectivos subjacentes nesta
distinção nova (e pouco trabalhada na doutrina), é justamente a de estabelecer um
critério hierárquico entre os actos da União, para saber qual prevalece numa situação
de conflito entre normas.
- Os actos jurídicos se violarem as regras podem vir a ser declarados nulos – o art.
296º estatui que os actos devem ser adequados, tendo em conta os princípios da
proporcionalidade, princípio que recomenda que, se o objectivo puder ser alcançado
através de uma directiva, não deve ser adoptado um regulamento - no fundo, a ideia
é a “proibição do excesso”, sendo que aqui o excesso é a sobrecarga imposta aos
Estados ou aos particulares.
37
- O art. 47º (personalidade jurídica) e 216º (competência de vinculação internacional)
fundamentam essa possibilidade.
- Os acordos celebrados pela União aplicam-se a todo o espaço da União, isto pelo
princípio de cooperação leal (art. 4º).
- No que toca às convenções celebradas depois dos Tratados, devem respeitar o art.
4º/3, sendo resolvidas pelo TJUE com base nesse artigo, sujeitando-se, caso não
procedam, a que contra eles seja instaurada uma acção por incumprimento (258º
TFUE).
- A questão das convenções celebradas com Estados terceiros antes da conclusão dos
Tratados foi resolvida pelo art. 351º TFUE: “na medida em que tais convenções não
sejam compatíveis com o presente Tratado o Estado ou os Estados-Membros em causa
recorrerão a todos os meios adequados para eliminar as incompatibilidades
verificadas.
38
- Devido a estes acordos, colocou-se o problema da vinculação, e foi aí que se
descobriu a ‘fórmula mágica’ do acordo misto, sobre a competência da União é a
União que celebra nos termos do 218º, se o acordo versa sobre matérias que
pertencem às atribuições dos Estados estes tem de se vincular como sujeitos
autónomos de Direito Internacional.
- O acordo é misto por vincular a União e os Estados, sendo o seu processo moroso e
complicado. A violação dos acordos cria outro problema dada a natureza destes
acordos.
Outras Fontes
A Jurisprudência
- Fausto de Quadros diz que o papel que a jurisprudência teve na formação do Direito
da União Europeia afasta-se da função que assume nos países da família jurídica
romano-germânica para se aproximar mais da sua função nos países de família anglo-
saxónica. Assiste-se, assim, a uma criação de Direito por ‘via pretoriana’ – ‘se o direito
comunitário alcançou a densidade e o progresso que hoje apresenta, isso deve-se
muito à jurisprudência comunitária que soube suprir, tantas vezes, a paralisia dos
órgãos políticos de decisão.’19
- A União desde sempre se socorreu com muito proveito dos princípios gerais de
direito. Os tratados, desde a versão originária que fazem referência, que hoje se
encontra no artigo 340º TFUE, a propósito da responsabilidade extracontratual da
União.
- O TJUE tem feito apelo aos princípios gerais de direito em três hipóteses diferentes:
19
Fausto de Quadros, Direito da União Europeia, pp 388-390
39
- Sempre que seja necessário para interpretar os Tratados, utilizar os métodos de
interpretação consagrados no DIP.
- Em certos casos, o Direito da União prevê expressamente que uma questão relativa à
sua aplicação seja resolvida com base no direito interno dos Estados membros ou
que se aplique os princípios que o próprio TJUE deduz desse direito – corresponde ao
reenvio expresso pelo Direito da União ao direito nacional dos Estados-Membros – art.
340º TFUE (responsabilidade extra-contratual), em matéria de responsabilidade
contratual, o reenvio é feito pelo Direito da UE ao direito nacional de um Estado-
Membro cujo direito seja aplicável; o segundo caso corresponde à aplicação dos
princípios gerais que o TJUE deduz dos direitos nacionais dos Estados-Membros
- Mas desde a versão originária dos anos 50 que se tem feito alusão a princípios gerais
comuns. Isto serviu como directriz de interpretação, como elemento de criação de
uma ideia de sistema e integração de lacunas. Até à proclamação da Carta dos Direitos
Fundamentais, em 2000, esses direitos eram garantidos pelos princípios gerais de
direito. Foram estes que permitiram ao Tribunal de Justiça integrar muitas lacunas,
relativamente aos direitos fundamentais.
O Costume
- É uma fonte residual e não tem grande expressão. Isto porque, ao contrário do
Direito Internacional Público, que exprime a vontade de uma Comunidade
internacional pouca institucionalizada na qual faltam centros de criação normativa
- Na União Europeia, pelo contrário, há uma institucionalização clara dos actos desta
congregação de 27 estados – há um direito vertebrado mais perto do direito estadual
do que do Direito Internacional Público. O costume, para se afirmar como fonte
relevante e autónoma, precisa de espaços e no quadro da União tendem a diminuir-se
os espaços por via do controlo judicial da legalidade, como, por exemplo, o costume
contra legem.
40
residual. No Direito da União europeia predominam a fontes escritas e
jurisprudenciais.
O Primado
- A questão do primado parece uma matéria simples, mas é um erro aceitar o primado
como matéria simplória sem densidade dogmática. A fundamentação, aplicação,
limites e consequências do primado são questões muito complexas.
- As ordens jurídicas (dos Estados) são iguais e todas se aplicam ao mesmo tempo,
sobre matérias comuns e no mesmo espaço. Naturalmente resultaram conflitos entre
normas pois há normas diferentes para regular uma mesma matéria. Resta saber qual
é a ordem que se aplica? A resposta resulta de critérios de articulação.
- O primado não é absoluto nem condicional – existem limites, que estão ligados
com o facto do primado não estar fundado num superioridade hierárquica. O primado
existe para garantir que o direito da União seja aplicado para todas as situações em
que seja materialmente competente. Subjacente ao primado está a pacta sunt
servanda – os pactos são para cumprir. A delegação de competências é o ponto
fundamental. Os Estados desenvolveram a União para que esta em vez deles
exercessem as competências e estas competências tem dono, que são os Estados. A
União existe para exercer poderes jurídicos e prosseguir fins competentes aos estados
20
João Mota de Campos, MDE, 361-400, 411-427
41
bem como os poderes jurídicos que os Estados delegam (que são recuperados
aquando da saída de um Estado da União). As competências são limitadas por via da
delegação prevista nos tratados. O primado da norma eurocomunitária não é
absoluta e só se justifica no quadro de matérias que foram objecto de delegação e aí
é necessário para garantir a uniformidade – “garantir a plena eficácia das normas
eurocomunitárias”. O primado só versa sobre as que estão inscritas nos tratados e tem
limites. Esses limites advêm primeiramente dos contra-limites sob forma dos direitos
fundamentais estaduais.
Tem por base um caso bem conhecido em que se pretendia atacar a lei italiana de nacionalização da
energia eléctrica, denunciada como incompatível com algumas das disposições do Tratado de Roma.
Tendo o juiz milanês submetido ao Tribunal ao abrigo do então 177º CEE, agora art. 267º TFUE, a
42
questão da interpretação das disposições comunitárias em causa, o Governo italiano contestou a
admissibilidade do recurso ao Tribunal de Justiça sustentando que a função do juiz italiano era aplicar a
lei italiana.
O Acórdão afirma que, o primado da regra comunitária se manifesta em relação a todas as normas
nacionais, quaisquer que elas sejam, anteriores ou posteriores, tornado inaplicáveis de pleno direito
todas as disposições nacionais existentes.
A Aplicabilidade Directa
O Tribunal considerou que as razões válidas para recorrer no plano do DIP não o são necessariamente
no quadro dos Tratados Comunitários, acabando por considerar que: 1- os Tratados, cuja finalidade é
organizar um mercado comum, afectam não apenas os Estados signatários mas também,
necessariamente, os operadores desse mercado; 2- Ao associar os povos europeus ao funcionamento
dos órgãos comunitários e, designadamente, do Parlamento Europeu e do CES, o Tratado confirma que
eles são directamente interessados nas actividades da Comunidade; 3 – a Comunidade integra, tanto
os Estados como os respectivos povos, na medida em que o Direito Comunitário está vocacionado para
conferir direitos e obrigações tanto a Estados como particulares; o art. 234º (agora 267º) do Tratado,
que confia ao TJUE a interpretação em última instância das regras comunitárias invocadas pelos
litigantes perante as jurisdições nacionais, não teria sentido se de tais regras, não pudessem resultar
para esses litigantes direitos suceptíveis de ser invocados perante os tribunais nacionais.
43
O efeito directo está relacionado com a invocação contenciosa da norma junto dos
tribunais nacionais.
- A distinção feita pela doutrina, diz Maria Luísa Duarte, não é assim tão importante,
porque já não há muito a distinguir, pois a grande distinção entre regulamento e
directiva é curta, e é mais formal que substantiva. A única diferença está no chamado
efeito directo horizontal. O ponto fundamental é que a norma é fonte de direito e
pode ser invocável para a resolução de litígios e vai ser apreciado em primeiro lugar
pelos tribunais nacionais de justiça. A norma deve no entanto ser clara, precisa e
incondicional bem como juridicamente perfeita.
- O Tribunal começou por definir estes critérios a propósito das normas dos
tratados, e a partir de 1974 aplica estes critério e doutrina às directivas: este é de
facto um salto qualitativo porque entre os actos comunitários típicos - descobre-se que
o regulamento é directamente aplicável por contraponto à directiva que só vincula o
Estado ao fim a atingir. Isto significa que o destinatário das directivas era o Estado e
logo dizia-se, numa concepção conservadora que o particular não podia invocar a
directiva e desta forma tinha que esperar pela transposição e só depois podia invocar
para fazer prevalecer a disposição interna e o problema é que o estado muitas vezes
viola o prazo de transposição. A aplicabilidade directa quis combater estes vícios, e o
Tribunal quis alcançar o efeito útil e um meio de punir o infractor que é o Estado. Mas
nem todas as directivas têm efeito directo: é necessário cumprir os requisitos já
indicados e para ser fonte de direito tem justamente que ser clara, precisa no
enunciado e condicional (que se pretende com o esgotamento do prazo de
transposição, e só no fim deste prazo há aplicabilidade directa).
Apesar dos Estados-Membros não esatrem obrigados a adopter as medidas necessárias para atingir os
resultados prescritos pela directa antes do tempo de transposição, extrai-se do art. 249º e 10º TFUE, e
da própria directiva que, durante esse período, os Estados-Membros têm de se abster de tomar medias
que seriamente comprometam o resultado estatuído na directiva.
Uma holandesa de apelido Van Duyn, parte da seita da Cientologia, decidira emigrar para Inglaterra,
para um posto de trabalho ao serviço da seita, tendo tido rejeitada por razões de ‘ordem pública’. Ela foi
a tribunal, e foi recorrendo até chegar à Câmara dos Lordes, que submeteu a questão prejudicial de
interpretação do Direito da União ao TJUE, que, considerando uma directiva que estatuía que as
medidas de ordem pública devem ser fundadas em comportamentos pessoais do indivíduo em questão
– e que essa disposição enuncia uma obrigação que não está subordinada a qualquer reserva ou
condição e que, por sua natureza, não carece da intervenção dos Estados-Membros.
- O tribunal reconhece efeitos negativos para os particulares que têm direitos mas não
podem invocar por incumprimento por parte do Estado que se atrasa na transposição
e o tribunal vai mitigar, através da interpretação conforme e da responsabilidade
extracontratual.
O órgão jurisdicional de reenvio perguntou se, chamado a pronunciar-se num litígio entre particulares,
para não aplicar legislação nacional que considera ser contrária ao ao Direito da União deve,
previamente, para garantir a protecção legítima das pessoas, submeter um pedido ao TJUE nos termos
do art. 267º TFUE.
45
O Tribunal já havia declarado que o juiz nacional chamado a pronunciar-se num litígio entre particulares,
onde a legislação nacional parece ser contrária à da União, o TJUE já declarou que cabe aos órgãos
jurisdicionais nacionais assegurarem a protecção jurídica que decorre do direito da União.
Tratando-se de um litígio entre particulares, o TJUE declarou reiteradamente que uma directiva não
pode, por si mesma, criar obrigações na esfera jurídica de um particular nem pode ser invocada contra
ele.
Apesar da clareza da legislação nacional alegada pelo órgão de reenvio e da interpretação conforme
reconhecida no art. 267º TFUE não poder ser convertida numa obrigação, o princípio do primado, e
onde fazem parte os princípios gerais, deve-se afastar uma legislação nacional contrária que seja
abrangida pelo direito da União.
- O art. 19º do TUE não tem efeito directo, contrariamente ao artigo 21º da
Carta. Mesmo que não existisse a positivação do artigo 21º, sempre se podia defender
que o princípio era implícito. A tutela dos direitos fundamentais é um exemplo de
reconhecimento implícito de normas não positivadas. Não há efeito directo horizontal.
- Em jeito de conclusão:
- Ac. Ratti – uma disposição comunitária, ainda que inapta para conferir um direito
subjectivo, pode ser invocada perante os tribunais nacionais por um sujeito de
46
direito para fundamentar a sua oposição à aplicação que se pretenda fazer-lhe de
qualquer norma, existente no direito interno, contrária ao direito da União.
- Ac. Marleasing – tendo em conta que a exclusão e aplicação das normas nacionais só
deverá ter lugar quando estas forem incompatíveis com a ordem jurídica da UE,
podem os particulares invocar qualquer disposição pretinente do direito originário
ou derivado da UE, para obterem nos tribunais nacionais uma interpretação das
normas internas conforme ou compatível com as prescrições da União – a
aplicabilidade de normas nacionais deverá ser recusada quando não puderem ser
interpretadas na conformidade das disposições do direito comunitário.
Questões Prejudiciais
47
uniformidade porque o tribunal de recurso poderá colocar a questão e neste aspecto
não é obrigado a colocar a questão. Maria Luísa Duarte considera que há apenas uma
obrigação relativa: o juiz, porque é soberano, é que vai decidir se tem dúvidas. O juiz,
ainda que de ultima instancia, só deve colocar a questão, se efectivamente ela existir.
- O Tribunal, no caso Foto-Frost, fez uma leitura (contestada ainda hoje), da seguinte
forma: quando a validade do um acto comunitário está em causa e o juiz nacional
está inclinado para a sua invalidade, deve submeter a questão ao Tribunal de Justiça.
- Quanto à dimensão processual, é dito que a cada direito corresponde uma via
processual referente a esse direito. As normas comunitárias reconhecem direitos e
impõem deveres. As violações das normas comunitárias têm a possibilidade de ser
submetida à apreciação de um juiz – é a dimensão processual das normas
comunitárias. Quais são então os tribunais competentes? Quais os princípios que
comandam a tutela judicial?
Os Tribunais Competentes
- Fora dessas questões a apreciação cabe aos tribunais nacionais, tendo eles
competência de princípio, sendo eles dados como os órgãos comuns de aplicação das
normas da união, de acordo com o processo judicial vigente em cada Estado. Essas
situações, podem chegar ao Tribunal de Justiça, mas só o alcançam pelo juiz nacional,
48
pelo reenvio prejudicial, que só sucede em casos de dúvida sobre a interpretação de
normas comunitárias. Mota de Campos até afirma que as jurisdições nacionais são,
basicamente, os tribunais comuns da ordem jurídica da UE.
- Deste modo, tal como o contencioso está definido nos tratados, os Tribunais
comunitários resolvem litígios entre Estados, entre estes e instituições e entres as
instituições entre si e só excepcionalmente entre particulares e instituições (por
exemplo: acção de indemnização, artigo 268ºTFUE). Como é uma questão excepcional,
quando os litígios tomem lugar entre os particulares, o tribunal competente é o
nacional.
Métodos de Protecção
49
- Esta posição do Tribunal é uma posição de rigidez que recusa a aplicação de
normas constitucionais, negando a importância desta matéria.
- O maior passo foi dado com o Tratado de Lisboa, com a introdução do art. 6º TUE,
que estatui que a Carta tem o mesmo estatuto jurídico do que os Tratados.
- Piris sublinha que a Carta não aumenta as competências da União Europeia, apenas
frisando a importância que o respeito pelos direitos fundamentais tem para a União
Europeia e as suas instituições. O autor diz que todo o debate de volta da Carta
ignorou a questão central – ela vincula as Instituições da União e a sua legislação, ou
também os Estados-Membros? O seu objectivo legal é limitar e enquadrar os poderes
das instituições da União e não aumentar os seus poderes, como aliás, está explícito
no art. 6º TUE
21
Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 91-112
22
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 146-167
50
- Maria Luísa Duarte fala delas como um ‘apêndice exdrúxulo’, atípico e
‘inapropriado’, mesmo que o seu proémio diz que elas não têm força de lei, o que
exclui a sua eventual relevância a título de interpretação sistemática da Carta. Não
obstante, o Protocolo nº 30 afirma que a Carta deve ser aplicada e interpretada pelos
tribunais em ‘estrita conformidade com as anotações’. Mesmo assim, Maria Luísa
Duarte acha que as Anotações não podem, no futuro, limitar a liberdade aplicativa dos
tribunais, não podendo suster a dinâmica de interpretação evolutiva e contextual das
disposições da Carta.
- A relevância jurídica plena da carta tem vantagens, que adquiriu após o Tratado de
Lisboa: visibilidade e certeza (porque agora é como um catálogo único), centralidade
(plena autonomização da Carta em relação a vínculos económicos) e coerência
sistemática e axiomática (resulta de da positivação deste conjunto de normas que
antes eram dispersas por vários sistemas jurídicos, que agora estão contidas sobre a
alçada de princípios e valores comuns, que estão no art.º 2 e art.º 3º/3 da TUE – é
património comum dos Estados-Membros).
- O art. 6º TUE, continua a ser a pedra angular dos direitos fundamentais. Outra
novidade deste artigo é também a adesão da União à Convenção Europeia dos
Direitos do Homem- uma solução alcançada 30 anos após ser reclamada pela doutrina
e instituições da União. Assim, o Tratado de Lisboa proporciona um desenvolvimento
qualitativo do sistema de protecção de direitos através da consagração da Carta como
texto vinculativo e, ao mesmo tempo, mantém a adequada flexibilidade
internormativa do sistema pela via crativa e aberta dos princípios gerais de Direito.
- Este preceito não tem previsibilidade imediata, porque diz que “adere” mas
refere-se ao futuro e há incerteza neste objectivo, pois há obstáculos que esta previsão
enfrenta, desde logo porque para tal é necessário um convenção internacional de
Estados-Membros para a adoptar.
- Por outro lado, para que a União possa aderir à Convenção é necessário que o
texto seja alterado para que possa conter um sujeito internacional como a União que
não tem natureza federal nem estadual.
51
- Direitos fundamentais e liberdades, tais como direitos processuais básicos
garantidos pela CEDH e derivados das tradições constitucionais comuns aos Estados-
Membros, como princípios gerais da União.
- Doutrina Sta(????) – o juiz comunitário não pode invocar as normas internas dos
Estados-Membros mas pode-se nelas inspirar para encontrar normas e princípios
comuns.
- Caso Nold II – 1974 : o juiz pondera aplicar as tradições comuns aos vários
Estados-Membros, Constituições e instrumentos internacionais aos quais os estados
membros hajam aderido. O caso Nold II é o expoente de uma concepção que é,
particularmente, favorável a uma garantia efectiva dos Direitos Fundamentais. Como
princípios gerais de Direito, a sua vinculatividade na ordem jurídica comunitária não
depende de um qualquer “mínimo denominador comum”. O critério de identificação
do direito não é o da sua maior ou menor aceitação nos ordenamentos
constitucionais dos Estados-membros. O critério relevante é o da “adequação
funcional”. Sendo as Comunidades Europeias entidades de poderes limitados, segundo
o princípio da competência por atribuição, o âmbito de protecção dos Direitos
Fundamentais há-de corresponder a esse espaço de actuação normativa.
- Caso Rutili – 1975: o. TJUE fez a primeira menção expressa à CEDH, considerando
que as limitações aos poderes dos Estados-membros em matéria de polícia de
estrangeiros são a manifestação de um princípio mais geral consagrado nos artigos 8º,
9º, 10º e 11º da CEDH e no artigo 2º do Protocolo n.º 4.
52
- Há um flexibilização da rigidez inicial da jurisprudência: esta flexibilização vai ter
expoente maximo no Caso Warzur – 1988, em que se consagra o princípio do máximo
grau de protecção dos direitos fundamentais.
- Maria Luísa Duarte alerta, ainda, para a ‘via perigosa dos direitos a duas
velocidades’, proveniente dos privilégios de exclusão consentida. Como já vimos,
através de um protocolo, o Reino Unido e a Polónia obtiveram o acordo dos restantes
Estados-Membros sobre a não aplicação da Carta nos respectivos ordenamentos
jurídicos, com esse Protocolo a a garantir a esses dois Estados-Membros que as
disposições da Carta não podem ser invocadas com fundamento de desaplicação, por
desconformidade comunitária, das leis, práticas e acções administrativas interna,
referindo que o Título IV (direitos sociais) não cria direitos susceptíveis de invocação
perante os tribunais nacionais. Mais tarde, a República Checa juntou-se a esse ‘clube’.
- Em jeito de conclusão, podemos dizer que a Carta não proclama novos direitos,
limitando-se a reafirmá-los. A sua entrada em vigor não implicou alterações
substanciais no bloco de fundamentalidade da União, sendo que o aspecto mais
inovador do Tratado de Lisboa respeita à adesão da União à Convenção Europeia dos
Direitos do Homem. Sendo assim, como diz Maria Luísa Duarte, o sistema
53
eurocomunitário de protecção de direitos fundamentais, tal como o conhecemos –
plural e internormativo no que se refere às fontes, pretoriano nos critérios de decisão
– não sofrerá qualquer risco de transformação radical em virtude do Tratado de
Lisboa.
- Esse direito está previsto no artigo 21º TUE, e é um direito que, nos tempos
actuais, tem conhecido alguns desenvolvimentos negativos. Desdobra-se no direito de
residência e direitos colaterais (como por exemplo o direito de ter consigo o cônjuge e
os familiares) – v. caso McCarthy23
- Um Estado não existe sem a sua Constituição. Temos o ponto de partida no artigo
8º/4 da CRP, significando, basicamente que o primado é importante, mas há vida para
além do primado, este não é esmagador, não se podendo resumir tudo à ideia do
primado.
23
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:62009J0434:PT:HTML
54
ser ligado ao artigo 7º/6 CRP, com a reserva de que não podem prevalecer as normas
comunitárias quando estão em causa direitos fundamentais. Uma norma comunitária
contrária à Constituição, é inconstitucional, mas há que lembrar do 262º TFUE, que
diz que podem não resultar consequências práticas.
- Maria Luísa Duarte acha que uma norma comunitária contrária à norma
constitucional sofre uma ilegalidade sui generis, e o tribunal nacional deve colocar a
questão ao TJ, para este responder correctamente como deve ser a norma
interpretada.
- V. art. 4º/1 e 5º/2 TUE que repetem a ideia da competência por atribuição.
- No art. 1º TUE está bastante claro que são os Estados-Membros que atribuem
competências à União.
- Complementares – União Europeia não legisla, mas pode cooperar e ajudar Estados-
Membros. Exemplos: turismo, cultura, protecção civil, política industrial.
24
Jean Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 74-79
55
- Alargamento ou redução das competências?
56
Sobre a Vocação Expansiva dos Poderes Comunitários25
- Será legítimo transpor para o quadro da União Europeia a teoria de que uma
organização internacional deve dispor de todos os poderes necessários ao
cumprimento da missão que lhe é atribuída no respectivo pacto constitutivo, ainda
que este não haja expressamente previsto esse mecanismo? Ou seja, além das
competências explícitas, que tenha competências implícitas, que lhe sejam
indispensáveis para realizar os seus objectivos?
- O caso AETR (1971), consagra, sem dúvida, a validade desta teoria, dizendo o TJUE –
“para fixar, num caso determinado, a competência da Comunidade para concluir
acordos internacionais, convém tomar em consideração tanto o sistema do tratado,
como as suas disposições materiais. Uma tal competência resulta não somente de
uma atribuição explícita pelo Tratado, como pode decorrer igualmente de outras
disposições do Tratado e de actos no quadro destas disposições pelas Instituições da
Comunidade: em particular sempre que para a implementação de uma política
comum prevista pelo Tratado, a Comunidade tenha adoptado disposições que, de
algum modo instituam um regime comum, os Estados-Membros perdem o direito,
quer individualmente, quer colectivamente, de contratar com terceiros Estados
obrigações que afectem esse regime. Deste modo... só a Comunidade está em posição
de assumir e executar, com efeitos para todos... os compromissos assumidos em face
de terceiros Estados.”
25
Mota de Campos, MDE, pp 299-304
57
- Os Tratados admitem a possibilidade de criação, pelas próprias instituições da União,
de poderes ou instrumentos de acção apropriados à plena realização das missões
que lhes foram confiadas, como dispõe o art. 352º TFUE
- O Conselho, sob proposta da Comissão, poderá adoptar, para o efeito, qualquer dos
actos previstos no art. 288º TFUE ou outro acto normativo assimilável a qualquer dos
referidos, seja qual fora a designação que em boa técnica jurídica, seja considerada
mais apropriada – Instituições gozam, assim, de grande liberdade.
26
Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 122-124
58
- Estes poderes dados aos parlamentos nacionais, como bem aponta Piris, são
consequência directa do facto do Parlamento Europeu não se ter conseguido
estabelecer como a inequívoca solução para a legitimidade democrática que a União
Europeia precisa.
- Contudo, Piris afirma que com o curto prazo de intervenção que têm os parlamentos
nacionais (8 semanas – art. 4º do Protocolo nº1 e art. 6º do Protocolo nº2). No
entanto, há parlamentos mais interventivos que outros – o Folketing dinamarquês, o
Eduskunta finlandês e o Riksdag sueco intervêm regularmente.
- Seja como for, os parlamentos nacionais exercem agora um controlo mais profundo
e apertado do que antes e espera-se que as disposições do Tratado de Lisboa façam
mais parlamentos nacionais intervirem activamente.
- Os poderes atribuídos aos parlamentos nacionais encontram-se no art. 12º TUE, com
o Protocolo nº1 e nº2 a desenvolverem mais esta disciplina, no que toca à aplicação
dos princípios da subsidariedade e da proporcionalidade.
- O Tratado prevê ainda outro passo, chamado ‘o cartão amarelo’ – se uma opinião
fundamentada é feita representando um terço do total de número de votos
atribuídos aos parlamentos nacionais, o projecto legislativo terá que ser revisto. A
cada parlamento nacional são atribuídos dois votos. A Holanda ficou insatisfeita com
este mecanismo, sendo que, na CIG de 2007, negociou um mecanismo adicional – o
‘cartão laranja’ – art. 7º/2 do Protocolo nº2
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- O ‘cartão laranja’ é um mecanismo em que, quando uma opinião fundamentada que
põe em causa a conformidade de um projecto legislativo com o princípio da
subsidariedade é subscrita por metade dos votos, a Comissão poderá manter a
proposta, emendá-la ou retirá-la. Se ela mantiver, terá que justificar com opinião
fundamentada que será submetida a apreciação do Parlamento Europeu e do
Conselho. Se estes decidirem, de acordo com o art. 7º/3 do Protocolo nº2, o projecto
não será mais considerado.
Outras
- Art. 10º do Protocolo nº1, fala da possibilidade dos parlamentos nacionais poderem
organizar conferências interparlamentares sobre tópicos específicos, especialmente
PESC.
- Também, nos termos do disposto no art. 48º/7 TUE, os parlamentos nacionais podem
ter um papel no processo de revisão dos tratados.
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