Sebenta Teóricas
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Programa DUE I
1. Introdução ao Direito da União Europeia;
1.1. Da pré-história Comunitária à História da UE;
1.2. A natureza jurídica do Direito da UE;
1.3. A integração europeia
2. A estrutura institucional da UE;
3. A ordem jurídica da UE;
4. Relacionamento com os direitos internos dos Estados-membros.
1. Introdução ao Direito da UE
Por esta altura foram criadas outras organizações intergovernamentais, como a OECE
em 1948(Organização Europeia para a Cooperação Económica), que visava a expansão
económica sã, o crescimento do emprego e a estabilidade financeira; e o Conselho da Europa
em 1949, que visa a promoção e cooperação política dentro da Europa e o respeito pelos
direitos fundamentais. Criaram-se também organizações internacionais de integração, como
a BENELUX (1947 - Bélgica, Paísos Baixos e Luxemburgo) e a Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço, em 1951. Esta CECA respresenta o nascimento formal da atual UE. As
duas primeiras comunidades, onde se baseou o nascimento da UE, surgiram nesta época. São
a CECA e, mais tarde, a EURATOM. A CECA teve, com certeza, um caráter mais
integrador que a EURATOM e a CEE.
No final dos anos 80 do século XX, assisiu-se a uma série de alterações políticas que
redefiniram a geopolítica europeia. Os Estados membros e as suas elites dirigentes sentiram
vontade de elevar a Europa. Determinaram a convocação de duas conferências
O Tratado de Maastricht não pretendeu ser ou dar uma resposta definitiva aos deafios
internos e externos à União e Comunidades, antes assinalando a si próprio uma natureza e
função transitória, pela previsão expressa da sua própria revisão. Conduziu à assinatura, em
1997, do Tratado de Amesterdão. Os seus resultados foram extremamentes importantes.
O Parlamento europeu passa a ter um papel relevante na designação do presidente
da Comissão, que passa a ter o papel de condução política desta;
Criação do Alto Representante da PESC;
Aprofundamento de políticas comunitárias relacionadas com a coesão económica e
social;
2. A estrutura institucional da UE
O PE realiza uma sessão legislativa anual. Em cada ano, tem lugar uma sessão
contínua, que se subdivide em reuniões diárias.
A sede do Pe foi objeto de acesa controvérsia. O problema só ficou resolvido no
Tratado de Maastricht: o PE tem sede oficial em Estrasburgo. Realizam-se em Estrasburgo as
12 sessões plenárias anuais; as sessões plenárias extraordinárias realizam-se em Bruxelas; as
comissões parlamentares reúnem em Bruxelas; os serviços do PE e o Secretariado-Geral
estão no Luxemburgo.
Além da sede, o PE tem representações permanentes em todos os Estados-membros,
responsáveis pela ligação do Parlamento quer aos cidadãos desse Estado, quer aos governos.
Além dos deputados europeus, há outros orgãos dentro do Parlamento: o Presidente,
as Comissões Parlamentares e a Mesa.
A mesa do Parlamento Europeu (21º RPE) é composta pelo Presidente do PE (eleito
pelos eurodeputados), 14 vice-presidentes (eleiros pelos deputados europeus) e 5 questores
(consultores da mesa). Os mandatos destes membros são de dois anos e meio. Assim, em
cada legislatura do PE, temos duas mesas diferentes. Quais as competências da Mesa?
Regular as questões relativas ao pessoal;
Nomear o Secretário-Geral e estabelecer o organigrama do Secretário-Geral, que gere
os 4000 funcionários do PE;
Tomar as decisões económicas, de organização e administrativas.
O artigo 227º TFUE confere a todos os cidadãos europeus o direito de petição ao PE.
Qualquer cidadão pode dirigir ao Pe petições sobre quaisquer questões que lhe digam
respeito nos domínios de atuação da União. Porquê ao PE, que tem poucas competências
decisórias?? Porque é esta instituição que representava o povo europeu, os cidadãos. É, assim,
a voz dos cidadãos no funcionamento da União Europeia.
O Conselho Europeu (art. 15º TUE) é composto pelos chefes de Estado e de Governo
dos Estados-membros (assistidos pelos MNE), pelo Presidente do Conselho Europeu, pelo
Presidente da Comissão e pelo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e
a Política de Segurança (ARUNEPS). Esta é uma composição fixa.
Os Estados-membros têm aqui poder de impulsão política. O Conselho Europeu foi
instituído através da Cimeira de Paris em 1974. É o orgão de decisão e de impulso da
construção europeia, reunindo as personalidades máximas dos Estados-membros.
Até ao Tratado de Lisboa discutia-se se era um orgão da União ou se era apenas uma
conferência inter-governamental, sem ligação à União Europeia. O Tratado de Lisboa veio
resolver esta controvérsia: o Conselho Europeu é hoje uma instituição da UE (art 13º e 15º
TUE). É a instituição de Cúpula, que reúne as personalidades máximas da Europa. Tem
como missão:
Dar os impulsos necessários à União;
Resolver os bloqueios de decisão;
Assegurar a representação externa da UE, tendo um importante papel no âmbito do 2º
De acordo com o art 240º/3 TFUE, o Conselho aprova o seu Regulamento Interno.
Reune em diferentes formações, em função das matérias tratadas - art. 2º
Regulamento e 16º/6 TUE.
É o Conselho Europeu que define as suas várias formações com exceção de duas
(236º TFUE):
Formação de Assuntos Gerais que reúne os MNEs de todos os Estados;
Conselho de Negócios Estrangeiros: MNEs - presidido pelo ARUNEPS.
O COREPER pode adotar decisões de matéria processual - art. 240º/1, 2ª parte TFUE:
decidir a realização do Conselho noutra cidade que não Bruxelas ou Luxemburgo e definir a
ordem dos pontos a ser discutida.
Poderes da presidência:
1. Assegura o cumprimento do Regimento Interno;
2. Preside às reuniões do Conselho;
3. Convoca o Conselho;
4. Toma as medidas necessárias para que as reuniões do Conselho sejam as mais
produtivas;
5. Exerce a mediação entre os conflitos entre os Estados-membros;
6. Representa o Conselho perante o PE ou perante as Comissões parlamentares.
As decisões são tomadas com 55% dos Estados-membros (ou seja, a maioria), desde
que estes representem 65% da população europeia. Para bloquear a decisão, são necessáros 4
Estados com, pelo menos, 35% de representatividade da população.
Quanto à PESC, vigora a regra da unanimidade - art. 31º TUE. Não são tomadas
deliberações sem o acordo unânime de todos os 27 Estdos-membros.
Há aqui uma especificidade importante - 31º/2 TUE: o instituto da "abstenção
construtiva" - um Estado pode abster-se (não obstando à tomada da deliberação), declarando
que a decisão não se lhe aplica. Neste caso, a decisão é tomada e vincula apenas dos demais
Estados-membros. É abstenção "construtiva" porque, caso não existisse essa figura, um
Estado que não quisesse aplicar a deliberação votaria contra, não permitindo que a União a
adotasse.
De acordo com o art. 17º/3 TUE, é necessário que o comissário seja independente
(não solicite ou aceite instruções de nenhum Governo ou qualquer outra entidade - 245º
TFUE) e que seja exclusivo (não realize qualquer outra atividade e não aceite funções ou
benefícios para depois do cargo - 245º TFUE).
O Conselho Europeu delibera por maioria qualificada e não por consenso - exceção
ao artigo 15º/4 TUE.
Artigo 17º/7 TUE. O Conselho propõe a lista dos demais Comissários de comum
acordo com o Presidente eleito, por sugestão de cada Estado-membro que, naquela
legislatura, tiver direito a Comissário.
O Parlamento europeu aprova colegialmente a Comissão. Isto é, não só o Parlamento
tem de aprovar o Presidente, como a globalidade da Comissão.
O Conselho Europeu nomeia a Comissão. Tem o caráter simbólico de serem os
detentores máximos da soberania e delegar os poderes na Comissão enquanto orgão
executivo europeu por excelência. Também aqui o Conselho Europeu delibera por maioria
qualificada e não com a sua regra típica (o consenso).
Missão:
Interpretar o direito da União Europeia, em colaboração com os tribunais nacionais;
Controlar a atuação ilegal das instituições e orgãos da UE;
Controlar o cumprimento do direito da UE pelas autoridades nacionais.
Funções:
* Jurisdição internacional - responsabilidade dos Estados-membros;
* Jurisdição "constitucional" - interpretação e validade em função do Tratado - o
TJUE tem competência para averiguar a compatibilidade entre os atos da UE e os próprios
Tratados;
* Jurisdição administrativa - validade dos atos;
* Jurisdição cível - responsabilidade da UE (dever de indemnizar em termos
contratuais e extracontratuais);
* Jurisdição laboral - funcionários e agentes.
Caso prático
O PE, no momento inicial da aprovação do colégio de comissários, demonstrou
reservas sobre a composição da Comissão, considerando tal não ser um bom augúrio para o
seu trabalho em conjunto.
No 1º ano de mandato, o PE recebeu (...).
Quid iuris?
O PE pode receber (e avaliar) petições.
Quanto à primeira medida: o PE não tem poder de iniciativa, não podendo iniciar o
processo legislativo (quem tem maioritariamente este poder é a Comissão Europeia). Quem
propõe é a Comissão. Discutem e aprovem o Conselho Europeu e o Conselho da União.
Quanto à segunda medida de iniciar uma moção de censura à Comissão, o PE pode
iniciá-la. Mas a deliberação de uma moção de censura tem de ter um período de reflexão
(não pode ser imediatamente) e não pode ser aprovada com maioria.
Quanto à terceira questão, o argumento do Presidente do PE é válido? Não. Até
porque a UE não é uma entidade de base democrática. A base é intragovernamental - quem
fundou a UE foram os Estados. O relevo fundador da UE é o seu caráter de entidade
intragovernamental criada pelos Estados.
Caso prático
O membro cipriota no Conselho da União, de modo a abarcar todas as
sensibilidades políticas no Chipre, propôs a designação de um comissário cipriota de
origem grega e de um comissário cipriota de origem turca.
1) Considera possível a indigitação dos dois Comissários indicados pelo Chipre? E
considera possível que o comissário cipriota possa ser, afinal, um nacional grego?
A indigitação de dois comissários não é assim tão estranha quanto parece. Já houve
alturas em que certos Estados-membros tinham designado dois comissários. Atualmente, é
No Direito da União, parece lógico que se distinga entre o Direito que criou e moldou
a atual União Europeia e aquele Direito no dia-a-dia da vida da Comunidade e da União pelos
orgãos previstos nos Tratados e com o propósito de realizar os objetivos assinalados.
O Direito originário ou primário é o Direito criado pelos Estados através de Tratados
internacionais, constituído pelas normas que criaram a União Europeia, conferindo-lhes as
suas atribuições e regulando a sua organização e funcionamento internos, bem como por
aquelas normas que vêm modificando e complentando o sentido dos tratados originários.
Qual é a importância desta função?
Em primeiro lugar, devido ao princípio da atribuição, a União só pode intervir para
realizar os objetivos e atribuições que estejam definidos nos Tratados (no Direito
originiário);
Em segundo lugar, nenhum ato dos orgãos da UE pode deixar de encontrar a sua base
jurídica numa norma de direito originário, sob pena de invalidade;
Em terceiro lugar, por consequência, o direito originário afirma-se explicitamente
como parâmetro de validade normativa de todo o direito derivado: o direito criado
pelos orgãos da UE.
Atos Atípicos
Em normas dispersas de direito originário ou derivado, ou resultando
espontaneamente da iniciativa do próprio orgão, é possível encontrar outros atos com
características bem diferenciadas, mesmo no plano da sua força jurídica. Alguns atos são
apenas atos atípicos no sentido de que não estão previstos no art 288º TFUE, sem que isso
signifique ausência de juridicidade.
Entre os atos atípicos com relevo jurídico, pense-se apenas nos regulamentos internos
(do Conselho Europeu, do Conselho, e da Comissão Europeia - art 235º, 240º e 249º TFUE,
respetivamente).
Há atos com reduzido ou inexistente valor jurídico, como as resoluções, conclusões,
comunicações, cartas administrativas de arquivamento de processos, códigos de conduta,
relatórios, etc. Embora desprovidos de efeitos jurídicos obrigatórios, alguns destes atos,
nomeadamente relatórios ou comunicações em que a Comissão (ou outro orgão, como os
relatórios do Tribunal de Contas) exprime a sua política em relação a determinado assunto,
foram já considerados pelo TJ como autovinculando a posição da Comissão, pelo menos até
mudar formalmente a sua política, ou como elementos a tomar em consideração pelos
intérpretes de Direito da União Europeia.
Outros atos há que têm valor jurídico interno, embora não vinculem terceiros. É o
caso de atos de administração interna dos orgãos da União - regulamentos internos.
Finalmente, embora constituindo uma categoria heterogénea, um lugar especial é
ocupado pelos acordos interinstitucionais. Embora possam assumir caráter vinculativo, são
tradicionalmente considerados como exemplos de soft law.
Importa realçar que o valor jurídico de um ato - qualquer que seja - não depende da
sua designação, mas do seu conteúdo, pelo que o facto de um ato ter uma denominação que
inculque estar desprovido de vinculatividade jurídica não exclui que a sua análise revele a
produção de efeitos jurídicos, com as consequências inerentes.
Atos típicos
São os elencados no art 288º - regulamentos, diretivas, decisões, recomendações e
pareceres. Os três primeiros são vinculativos; já não o são os dois últimos.
* Não vinculativos
*Vinculativos
Se o EM estava obrigado a transpor a diretiva e não o faz (no prazo por esta fixado),
coloca-se numa situação de incumprimento, sancionável contenciosamente (258º) e não pode
prevalecer-se (beneficiando) perante os particulares do seu próprio incumprimento. Pelo que,
se a Diretiva não transposta (ou incorretamente transposta) reunir as condições de que
depende o efeito direto de qualquer norma da União (clareza, precisão e incondicionalidade),
o particular poderá invocá-la jurisdicionalmente contra o Estado-membro incumpridor,
obtendo o benefício da sua aplicação e a desaplicação das normas nacionais que a esta se
oponham.
Paradigmático da afirmação do efeito direto vertical é o Acordão Fratelli Costanzo:
«Há que salientar que (...) os particulares têm o direito de invocar as disposições de uma
diretiva nos tribunais nacionais é porque os deveres que dela decorrem se impõem a todas as
autoridades dos EM. Seria, por outro lado, contraditório entender que os particulares têm o
direito de invocar perante os tribunais nacionais, as disposições de uma diretiva (...) com o
objetivo de fazer condenar a administração e, no entanto, entender que esta não tem o dever
de aplicar aquelas disposições afastando as de direito nacional que as contrariem. Daqui
resulta que (...), todos os orgãos da Administração, incluindo as entidades descentralizadas,
tais como as comunas, têm o dever de aplicar aquelas disposições».
O princípio do efeito direto tem uma importância crucial. É ele que traça a diferença
e particularidade únicas do Direito comunitário. As normas de direito comunitário, se
tiverem determinadas condições, podem ser invocadas pelos particualres perante orgãos
nacionais contra o Estado e contra os particulares. Que condições são essas? Ser uma
norma clara (não ssucitar dúvidas quanto ao sentido precrito pela UE), ser uma norma
precisa (não carecer de qualquer concretização por parte do Estado - cria, de forma
autossuficiente, um concreto direito subjetivo para os particulares) e ser uma norma
incondicional.
Só produzem efeitos direitos se preenchidos três requisitos: passou o prazo de
transposição; cumprimento dos requisitos gerais do efeito direto (norma clara, precisa e
incondicional); e só pode ser utilizada em relações verticais.
Caso "Van Gend & Loss" - relacionado com a construção da União Aduaneira. O art
12º no Tratado de Roma visava preservar as condições aduaneiras que existiam no momento
da assinatura do Tratado. Era, então, uma norma de 'stand still'. A empresa, VGL, importava
resina, ainda antes da CEE, e o valor que pagava de imposto aduaneiro era de 3%. Alguns
anos depois, a administração fiscal holandesa veio questionar a enquadração pautal das
resinas, reclassificando esta matéria. A consequência prática foi que começou a ser aplicada
uma taxa de 8%. Não houve, porém, um aumento do valor do imposto; foi o resultado de uma
reclassificação pautal. O TJ veio dizer que o que interessa é, de facto, o aumento, seja qual
for a sua origem causal. O que interessa é a prática anterior e não de que maneira é que o
aumento de direitos aduaneiros surgiu.
Desenvolveu esta argumentação a título de 'reenvio prejudicial' do caso do Tribunal
nacional para o TJUE: a circunstância de no Tratado haver a possibilidade de uma ação de
incumprimento não significa que os cidadãos não possam, internamente, invocar as normas
convencionadas - art. 267º TFUE. O recurso aos artigos 169º e 170º correria o risco de ser
ferido de ineficácia se obrigasse a intervir depois da execução da decisão nacional tomada em
menosprezo das prescrições do Tratado. A finalidade do art 177º é assegurar a unidade de
interpretação do Direito da União.
Quais os argumentos usados para justificar o efeito direto?
* a Natureza do DUE: A Comunidade constitui uma ordem jurídica de Direito
Internacional, em benefício da qual os EM limitaram, em domínios restritos, os seus direitos
soberanos, e cujos sujeitos não são só os EM, mas igualmente os seus nacionais.
* Sujeitos do DUE: É objetivo da UE instituir o mercado comum cujo funcionamento
respeita diretamente aos cidadãos da Comunidade; Para além disso, no preâmbulo do Tratado
O Tribunal veio, mais tarde, dar um passo, ao reconhecer o efeito direto não só às
normas dos Tratados, mas também aos Regulamentos.
Caso Simmenthal - O juiz italiano tinha dúvidas acerca da sua legitimidade para
desaplicar uma norma interna desrespeitadora de um Regulamento Europeu.
O principal propósito é determinar que consequências resultam da aplicabilidade
direta de uma disposição de direito comunitário, no caso de incompatibilidade com uma
disposição legal posterior de um Estado.
Em tais circunstâncias, a aplicabilidade direta significa que as normas de direito
comunitário devem ser aplicadas plenamente e uniformemente em todos os EM desde a
entrada em vigor e enquanto se mantiverem em vigor. Estas disposições são,
consequentemente, fonte direta de direitos e deveres para todos os afetados por elas - sejam
EM, sejam indivíduos - que sejam partes em relações jurídicas sujeitas ao direito
comunitário.
Qualquer reconhecimento de efeitos jurídicos a medidas legislativas que são
incompatíveis com as disposições de direito comunitário redundaria numa recusa
correspondente da efetividade das obrigações incondicional e irrevogavelmente aceites pelos
EM em conformidade com o Tratado e poriam em perigo, deste modo, os próprios
fundamentos da Comunidade. A mesmo conclusão resulta da estrutura do art 177º do
Tratado.
A eficácia dessa norma seria comprometida se o Tribunal nacional não pudesse
aplicar o direito comunitário imediatamente de acordo com as deciões ou a jurisprudência do
Tribunal.
Resulta daqui que, num caso sob julgamento, cada tribunal nacional deve aplicar
plenamente o direito comunitário e os direitos que ele confre aos indivíduos e,
consequentemente, pôr de lado qualquer disposição de direito nacional que possa conflituar
com ele, seja ela anterior, seja posterior.
Assim, qualquer disposição de um sistema jurídico nacional e qualquer prática
legislativa, administrativa ou judicial que pudesse pôr em perigo a efetividade do direito
comunitário (negando o poder de o tribunal nacional com jurisdição para aplicar tal lei, fazer
tudo o que é necessário, no momento da sua aplicação, para pôr de lado as disposições legais
nacionais que possam impedir as normas comunitárias de ter plena força e efeito) são
Chegamos agora ao passo mais arriscado do TJ, relativo ao efeito direto das diretivas
"Da distinção traçada no art 189º entre regulamentos, decisões e diretivas, não se
pode concluir que apenas os regulamentos tenham efeito direto." O efeito direto "é uma
garantia mínima, que decorre do caráter constrangedor da obrigação imposta aos
Estados-membros, por efeito das diretivas, em virtude do art 189º/3".
Caso Van Duyn - uma senhora respondeu a uma oferta de emprego para ser
seccretária de uma seita para-religiosa, considerada contrária à ordem pública, conceito que
cabe aos Estados analisar. O art 39º TCE define qual é o conteúdo da liberdade de circulação
das pessoas, permitindo que pode haver restrições, tendo em conta a ordem pública. A
Diretiva, concretizando o Tratado e até indo mais longe, dizia que as medidas tomadas por
razões de ordem pública, segurança pública ou saúde pública têm de atender exclusivamente
à conduta pessoal do indivíduo (e não ao facto de este pertencer a um determinado grupo
social, por exemplo). No caso concreto, temos uma senhora que não era praticante desta
religião; só ia para o Reuno Unido praticar uma atividade profissional numa entidade (que
ainda não tinha sido dissolvida).
O TJ veio dizer que «as disposições da Diretiva impõem aos EM uma obrigação
precisa que não exige a adoção de mais medidas e que não deixa poderes discricionários
quanto à sua implementação». A diretiva sujeita estes direitos a limitações justificadas por
razões de ordem pública, saúde e segurança públicas, as quais estão sujeitas a controlo
judicial, pelo que o direito de um EM invocar estas limitações não inibe a aplicação do
princípio de liberdade de circulação de trabalhadores. Diz ainda que a aplicabilidade direta
Acordão Delena Wells - Esta senhora mora há anos próxima de uma pedreira, que vai
retomar a atividade, autorizada pelas Autoridades Públicas existentes. Inconformada, a
senhora recorreu ao Tribunal contra as Entidades que tinham autorizado a atividade da
pedreira. A senhora achava que a pedreira necessitava, para retomar a atividade, de uma
segunda autorização (já que a primeira tinha sido concedida há 30 anos), de modo a respeitar
o seu direito ao repouso.
O tribunal inglês colocou a questão ao Tribunal de Justiça - saber se aquela "old
mining permissions" ainda é válida ou se, por outro lado, qual é o significado de "aprovação".
Saber se as decisões tomadas pelas autoridades competentes (...).
A Diretiva em causa prevê que «os EM tomarão as disposições necessárias para que,
antes da concessão da aprovação, os projetos que possam ter um impacto significativo no
ambiente sejam submetidos à avaliação dos seus efeitos». Esta diretiva deve ser interpretada
no sentido de que, no âmbito de aplicação de disposições nacionais e do regime britânico
para as autorizações de exploração mineira ('old minning permissions'), as decisões tomadas
pelas autoridades competentes que tenham por efeito permitir a retoma de uma exploração
mineira constitutem, no seu conjunto, uma "aprovação" na aceção da Diretiva, pelo que as
autoridades competentes, se for esse o caso, têm a obrigação de efetuar uma avaliação dos
efeitos dessa exploração no ambiente.
Quando existe a obrigação por parte de um EM em causa de garantir que seja
realizada pelas autoridades competentes uma avaliação dos efeitos no ambiente da
exploração de uma pedreira, que não está diretamente ligada ao cumprimento de qualquer
obrigação que, por força da Diretiva, incumbisse aos proprietáarios da referida pedreira, o
facto de estes últimos deverem suportar, devido ao cumprimento tardio desta obrigação pelo
Estado, a paragem das operações de exploração mineira para aguardar o resultado da
avaliação não impede um particular de invocar as normas da Diretiva.
Aplicando o princípio da interpretação conforme, o TJ reconheceu o direito à senhora
Delena Wells de recorrer a tribunal invocando as disposições da diretiva contra o Estado,
considerando que "simples repercussões negativas sobre os direitos de terceiros, mesmo que
sejam certas, não justificam que se negue a um particular a possibilidade de invocar as
disposições de uma diretiva contra o EM em causa".
O TJ, nestes casos, foi apontando para uma solução mais drástica: responsabilizar
Em Portugal, temos uma lei que resultou de uma ação de incumprimento contra o
Estado Português - a Lei nº 67/2007 de 31 de dezembro - que aprova o Regime da
Responsabilidade Civil do Estado. Está consagrada a Responsabilidade civil por danos
decorrentes do exercício da função político-legislativa no artigo 15º. Mas isto é em Portugal e
atualmente. Como nasceu este instituto?
O que é que o TJ veio dizer sobre esta Diretiva? «Estas disposições são
suficientemente precisas para permitir aos tribunais nacionais determinar sobre quem e em
beneficío de quem as obrigações são impostas. Não é necessária qualquer disposição de
execução específica. O tribunal nacional pode limitar-se a verificar
se o contrato foi concluído nas circunstâncias descritas pela directiva e se foi concluído
entre um comerciante e um consumidor. Os artigos em causa são incondicionados e precisos
quanto às pessoas em cujo benefício foram adotadas e o período mínimo de cancelamento
que deve ser dado.»
4. Procedimentos de decisão
Bases jurídicas que prescrevem a adoção do ato por uma única instituição:
Art 96º - concorrência ao nível dos transportes » após consulta de todos os
EM interessados, a Comsissão tomará as decisões necessárias sobre condições relativas ao
preço, etc.
Art 106º - Empresas encarregadas da gestão de serviços de interesse (...)
Os atos adotados por este procedimento são mais valiosos por duas razões: resultam
de um alargado consenso entre os interesses da União (proposta da Comissão), os Estados
(co-decisão do Conselho) e dos cidadãos (co-decisão do PE); e porque, havendo poder de
decisão do PE, gozam de superior legitimidade democrática.
5. Princípios fundamentais
Quanto aos implícitos, estes não estão elencados nos Tratados, mas já foram
chamados na jurisprudência comunitária em resposta a casos concretos:
- o princípio da segurança jurídica, principalmente na área do Direito do consumidor;
- o princípio da confiança legítima, nomeadamente na área da atribuição de subsídios
agrícolas;
- o princípio da não retroatividade, aceite nos ordenamentos jurídicos com alguns
limites (a nossa CRP aceita a retroatividade nalguns contextos do direito penal e do direito
fiscal);
- o princípio do enriquecimento sem causa, que visa proibir que alguém venha a ter
grandes benefícios monetários em detrimento de outrem;
- o princípio da hierarquia das normas jurídicas, pois temos normas de caráter
superior e outras de valor inferior.
Exemplo cuja decisão final do TJ se baseou no princípio do enriquecimento sem
causa - Acordão de 3 de setembro de 2009 - empresa que celebrava contratos à distância; as
pessoas adquiriam os produtos, utilizavam os produtos e depois devolviam-nos. O TJ conclui
que devia haver direito à indemnização pelo uso a pagar pelo cliente ao vendedor.
A propósito deste Acordão, é importante perceber que estes princípios não são
- princípio da efetividade
- princípio do efeito direto
- princípio da interpretação conforme
- princípio da uniformidade de aplicação
- princípio do primado
O princípio do primado não está escrito, mas tem um impacto significativo na União.
Surgiu historicamente num Acordão do TJ, nos primórdios da CEE - caso Flaminio Costa vs.
ENEL. A expressão utilizada neste Acordão tem sido utilizada até hoje em qualquer acordão
em que a questão seja a de saber se o juiz nacional pode desaplicar uma norma interna em
virtude do respeito pelo direito europeu.
«Resulta do conjunto destes elementos que ao direito emergente do Tratado,
emanando de uma fonte autónoma, em virtude da sua natureza originária específica, não
pode ser oposto em juízo um texto interno, qualquer que ele seja, sem que perca a sua
natureza comunitária e sem que sejam postos em causa os fundamentos jurídicos da própria
comunidade.» Se isto acontecesse seriam postos em causa os fundamentos da própria UE.
Se houver um conflito entre uma norma de um Tratado da União e uma lei interna, o
juiz deve desaplicar a norma nacional e aplicar a norma europeia.
Se a norma nacional tiver um valor constitucional, as dúvidas foram sanadas com este
Caso Flaminio Costa. «qualquer texto interno que seja».
Protocolo Anexo nº 17 - Declaração sobre o primado do direito comunitário. Além
disso, o Conselho elaborou um parecer que foi junto com o Tratado » Parecer do Serviço
Jurídico do Conselho de 22 de junho de 2017.
F. O princípio da sede disciplinadora vem referido numa obra do Dr. Moura Ramos
de 1993. É o facto de todos os princípios que regulam a UE terem sido definidos ao nível da
União. A União ganhou vida e afirmou, por sua própria iniciativa, que o seu Direito devia
prevalecer sobre os Direitos internos dos EM, que devia haver uma interpretação conforme
do Direito nacional ao seu ordenamento jurídico. O prof mostra-nos o crater original e
corajoso da UE quando reforçou a sua própria força normativa quando afirmou o efeito direto,
o primado, a uniformidade de aplicação e a interpretação conforme. Foi uma iniciativa da UE
e não dos seus EM.
Esta necessidade de incorporar novos princípios no Tratado não foi apenas uma
consequencia do fracassso da tentativa de construir uma Constituição da Europa. Já antes a
Comissão se tinha apercebido deste “paradoxo da governança europeia”: apercebeu-se que
os cidadãos estavam cada vez mais distantes da União, culpando-a de vários problemas. E, ao
mesmo tempo, tinham grandes expectativas nesta organização. Os cidadãos não confiam nos
Governos nacionais mas, ao mesmo tempo, estão de costas voltadas para a UE.
A Comissão Europeia propôs uma série de princípios que deveriam reger a atuação da
UE, apresentados como fundamentais no ‘Livro Branco’. Vão-nos permitir evitar o divórcio
dos cidadãos em relação à UE.
B. Princípio da Participação
C. Pricípio da Eficácia
Sabemos quais são os grandes fins da UE – art 3º TUE. Ao assumir estes fins, assume
a obrigação de os prosseguir, através de politicas adotadas.
Sendo dificil de gerir tudo ao mesmo tempo, tem havido uma assunção das
prioridades no momento da tomada de posse da Comissão.
Apesar do princípio da atribuição de competências, temos o art 352º que permite
estender um pouco as competencias da UE.
C. Princípio da Coerência
É particularmente importante na UE, que tem vários EM, várias políticas
potencialmente conflituantes (política ambiental vs política industrial). O potencial de uma
atuação incoerente da União é grande.
Art TFUE 7º. 13º. 16º.
Art TUE 21º. 29º.
D. Princípio da Responsabilização
A UE tem tido algumas atuações vergonhosas nesta matéria, nomeadamente por via
judicial. Há muito tempo que a UE vem sendo acusada de ter condições demasiado estritas
para o acesso à justiça dos cidadãos.
Art 266º TFUE. 197º
4º/3 TUE.