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RESUMO
O termo Curadoria Digital ainda gera dúvidas sobre seu significado devido a sua natureza polissêmica e
ao fato da curadoria ser uma prática naturalmente interdisciplinar. Nesse contexto, este artigo tem como
objetivo contribuir para a reflexão sobre o termo Curadoria Digital na Ciência da Informação e sua
interdisciplinaridade. Para tal, coletaram-se definições, contextos e abordagens para sua análise e
interpretação na Ciência da Informação. A tendência interdisciplinar do conceito é interpretada e refletida por
meio do método quadripolar, que analisa a questão em quatro vieses: teórico, epistemológico, técnico e
morfológico, de modo que o estudo possa se enquadrar nos horizontes de uma Ciência da Informação
contemporânea. A pesquisa reflete que os desafios associados à curadoria digital não são puramente técnicos,
mas principalmente de ordem humana, em que seu processo curatorial vislumbra a sustentabilidade de
objetos digitais a longo prazo. Diante do supracitado são necessários o conhecimento atualizado e adequado
dos profissionais da informação, a busca por recursos financeiros e políticas institucionais que regulamentem
a realização do trabalho necessário.
Palavras-chave: Curadoria Digital. Preservação Digital. Curadoria de Conteúdo. E-science.
1 INTRODUÇÃO
Uma revolução na informação digital está ocorrendo em todos os domínios da atividade
humana, caracterizada pela diversidade de formatos e de tecnologias para manipular a informação
digital; além da variedade de propósitos de uso desse tipo de informação e de perfis de seus
usuários (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCIES, 2015). Além disso, essa revolução é
caracterizada, principalmente, pela intensificação da produção de informação, gerando um grande
aumento na quantidade de informação digital, a uma velocidade exponencial (BOHN; SHORT,
2009; LYMAN; VARIAN, 2000; TURNER et al., 2014).
Esse aumento vem ocorrendo em todas as áreas: investigação científica, administração
pública, saúde, educação, negócios, cultura, além de na área pessoal. E essa quantidade de
informação, por sua vez, cria desafios para compartilhar, armazenar, gerenciar, analisar e recuperar
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Curadoria Digital: um termo interdisciplinar
essas informações.
Em estudo realizado por Hilbert e López (2011), a quantidade total de informações em meio
digital cresceu de 2,6 exabytes compactados em 1986 para 15,8 em 1993, mais de 54,5 em 2000 e
para 295 exabytes compactados em 2007. E, de acordo com previsão feita por Gantz e Reinsel
(2012), de 2005 a 2020, o universo digital vai crescer por um fator de 300, de 130 exabytes para
40.000 exabytes, o que equivale a 40 trilhões de gigabytes (mais de 5.200 gigabytes para cada
homem, mulher e criança em 2020). Ou seja, até 2020, o universo digital duplicará a cada dois
anos.
Os avanços tecnológicos, em especial nos computadores (e seus dispositivos de
armazenamento) e nas tecnologias de rede colaboraram para tornar possível essa revolução, por
oferecerem subsídios e ferramentas para a criação, captura, cópia, disponibilização,
compartilhamento e armazenamento de quantidades massivas de informação, de maneira facilitada
e a um custo cada vez mais baixo (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCIES, 2015).
Neste sentido, grande parte da base de conhecimentos, dados e ativos intelectuais de
instituições, organizações e indivíduos estão, hoje, cada vez mais em formato digital. Incluindo
documentos administrativos, prontuários médicos, objetos de aprendizagem, objetos culturais,
transações comerciais, bancárias e de cartões de crédito, e-mails, músicas, fotos, vídeos, filmes,
notícias, postagens em redes sociais, jogos online, sites, entre outros. Além disso, muitas empresas
usam análise de grandes quantidades de dados (big data1), análise da web (Web Analytics2), e outras
técnicas de inteligência de negócios para analisar o comportamento do consumidor, direcionar
publicidade para indivíduos ou grupos de consumidores específicos, gerenciar inventário e
escalonar a produção e elaborar estratégias de negócios (MANYIKA et al., 2011).
Porém, vale ressaltar que, apesar de grande parte do aumento do fluxo de informação ser de
informação nascida digital, uma parte substancial da vastidão de informação digital resulta,
também, de iniciativas de conversão de dados analógicos tais como mapas históricos, gravações de
áudio, livros, documentos, fotografias, entre outros para o meio digital. O que tem feito, inclusive,
1
Expressa o sistema formado por quantidades enormes de informação e pelas possibilidades de
recombinação entre as mesmas (CASTILHO, 2015).
2
“É o processo de medição, coleta, análise e a produção de relatórios de dados de navegação e interação
com o objetivo de entender e otimizar o uso dos sites e páginas na Internet”. Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Web_analytics
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que bibliotecas, arquivos e museus estejam em transição do físico para coleções digitais e do
manual para processos automatizados de gestão de coleções.
As implicações desta revolução incluem um imperativo para a aplicação de ações e
estratégias efetivas que possibilitem a preservação e acesso a longo prazo às informações digitais,
além da preparação de uma força de trabalho capacitada e em quantidade suficiente para enfrentar
os desafios de gerenciar esse volume de informação digital, em formatos diversos.
Nesse sentido, a curadoria digital, pode ser definida como a “gestão ativa e preservação de
recursos digitais ao longo do seu ciclo de vida completo” (TIBBO; HANK; LEE, 2008, p. 235),
para acesso e uso atual e futuro. E ela vem sendo empregada na área de Ciência da Informação, em
especial, para a curadoria de acervos diversos e de dados de pesquisa. Apesar disso, ainda causa
confusão o uso do termo devido a sua natureza polissêmica e a área onde começou a ser utilizada e,
também, pelo fato da curadoria ser uma prática naturalmente interdisciplinar, combinando questões
tecnológicas, comunicacionais, gerenciais, cognitivas, de geração de conhecimento e
informacionais. Nesse contexto, esse artigo objetiva contribuir com a reflexão sobre o termo
curadoria Digital na Ciência da Informação e sua interdisciplinaridade.
Segundo Castilho (2015), os termos curadoria e curador estão no núcleo de uma polêmica
ontológica, pois eles têm significados diferentes dependendo do autor que os pesquisam e conforme
o contexto de uso. O termo curadoria remete ao termo latino curare, que significa “cuidado para”
que expressa a custódia e preservação, está atrelado a uma ampla gama de atividades, tais como:
cuidar, preservar e salvaguardar (LONGAIR, 2015).
Ramos (2012, p. 16) afirma que o termo curator bonorum foi mencionado em documentos
do ano 435 a.C., se referindo a pessoa que cuidava para que um devedor inadimplente não tivesse
seu patrimônio arruinado pelos credores, enquanto seu caso era analisado por um tribunal. No
século XVII, os termos curadoria e curador se referiam a organização de mostras, espetáculos
artísticos e museus, significado que perdura até os dias atuais, sendo ampliado o curador para
“encarregado de um museu, galeria de arte, biblioteca ou similar” (LEE; TIBBO, 2011, p. 125) .
Nesse sentido, curadoria denota a seleção, cuidado e preservação de acervos de objetos. O
conteúdo das coleções curadas é, em geral, relativamente pequena, composta por obras raras ou
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únicas de arte, livros e manuscritos raros, amostras naturais e físicas importantes, ou artefatos
culturais. E a curadoria ocorre em contextos organizacionais relativamente limitados: bibliotecas,
arquivos, museus, galerias de arte, herbários, e instituições similares (NATIONAL ACADEMY OF
SCIENCIES, 2015).
Nos séculos XVIII e XIX, os termos ganharam relevância na área jurídica atrelados à
proteção e guarda de pessoas menores de idade ou deficientes físicos e/ou mentais consideradas
incapazes de tomar decisões que afetassem interesses familiares ou sociais. Também foram termos
usados no comércio, para indicar ao responsável por cuidar dos direitos dos credores em caso de
falência. E, a partir do século XX, o termo curadoria passou a ser mais relacionado às artes, para
expressar o ato de selecionar obras de arte para exposição ao público. (CASTILHO, 2015). Nas
décadas de 1960 e 1970, o termo curadoria foi usado, também, para designar o cuidado sistemático
com coleções de espécimes científicos (LEE; TIBBO, 2011).
Nos anos 1980 e 1990, surgiu o termo "curadoria de dados" relacionado a gestão de dados
científicos. Porém apenas a partir de 2003, passou-se a se dar mais atenção à ideia de curadoria de
dados dentro do contexto da e-science e da infraestrutura cibernética (LEE; TIBBO, 2011). Na
realidade, a partir do ano 2003, o termo curadoria passou a ser trabalhado nas áreas de Ciência da
Informação e Ciência da Computação, motivados pelo crescimento exponencial da informação
digital, dando origem a noção de Curadoria Digital.
De fato, Saad Correa e Bertocchi (2012, p. 29) afirmam que observaram “[...] a explosão de
uso do termo a partir do ano de 2010. Quantitativamente, em fevereiro de 2012 o Google registrou
aproximadamente 1.230.000 resultados para o termo ‘curadoria’ em Português e 7.450.000 em
Inglês”. Realizando uma atualização da mesma pesquisa no Google, no dia 09 de agosto de 2016,
foram conseguidos 2.470.000 resultados para o termo curadoria e 11.300 resultados para ‘curadoria
digital’, em português. Em língua inglesa, foram 15.300.000 resultados para a palavra curation e
222.000 resultados para ‘digital curation’.
O que é endossado por Liu (2010) quando afirma que a definição da função da curadoria
tornou-se complexa porque começou a ser usado em contextos ainda mais diversos, em sua maioria
para descrever atividades realizadas em ambiente digital, ganhando a nova conotação de curadoria
digital.
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Sobre o conceito de curadoria digital, Lee e Tibbo (2011, p. 126) também o definem como
um conceito amplo (conceito guarda-chuva) que abrange atividades de diversas profissões,
instituições, atores e setores. De fato, de acordo com Dallas (2007), a curadoria digital representa
um importante conceito na teoria e gestão da informação, devido a sua aplicabilidade frente a uma
gama de problemas e domínios advindos de acervos do patrimônio cultural, e-science, mídias
sociais e a gestão dos registros organizacionais.
criação e gestão de dados, e a capacidade de agregar valor aos dados para gerar novas fontes de
informação e do conhecimento" (BEAGRIE, 2006, p.4). Santos (2014) resumiu outras diversas
definições similares a de Beagrie presentes na literatura (Figura 1).
Também, a partir do século XXI, outra abordagem para o termo curadoria digital começou a
ser utilizada, a curadoria de informações ou de conteúdo, também em consequência do aumento
constante e exponencial no volume de dados e informações publicados na Web (CASTILHO,
2015). Essa abordagem guarda a ideia do consumo mais preciso e específico de informação, face ao
excesso de fontes.
4 METODOLOGIA
Imbuído por uma metodologia holística, inerente às práticas do grupo de pesquisa ao qual
o estudo deriva, desenvolvem-se reflexões acerca da curadoria ao lado de disciplinas correlatas a
Ciência da Informação (CI) como a Ciência da Computação e a Museologia. Para tanto, a
estrutura holística contempla a proposta adotada na CI por Silva e Ribeiro (2002), nomeado de
Método quadripolar comumente aceito nas ciências sociais por meio dos estudos de Bruyne,
Herman e Schoutheete (1977).
A prática contempla os quatro pólos do método quadripolar em que a pesquisa
epistemológica envolve a natureza da questão de pesquisa e sua construção ao lado dos principais
momentos de mudanças que marcaram um modelo científico; o pólo teórico com a
contextualização na CI e eleição dos fundamentos teórico-conceituais que sustentam a reflexão
acerca do tema; o técnico indica os procedimentos adequados a coleta de dados e sua posterior
análise, e finalmente o morfológico com os resultados do estudo, reflexões, contribuições e
considerações.
Os pólos epistemológico e teórico dão a pesquisa um caráter qualitativo em que há “uma
interpretação dos fenômenos à luz do contexto, do tempo, dos fatos”. Os pólos técnico e
morfológico adequam-se os estudos de ordem exploratória com um levantamento bibliográfico e
sua posterior reflexão sobre o tema Curadoria. (MICHEL, 2009). Nesta pesquisa foram consultadas
fontes de informação tais como: bases de dados da área de CI, revistas eletrônicas, artigos de
periódicos, artigos de anais de eventos da área de Ciência da Informação e outros materiais
relevantes disponíveis na internet.
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Verifica-se, então, que a curadoria digital para a área de Ciência da Informação vem sendo
usada em especial com foco em três abordagens: na filtragem e seleção de dados na Web
(Curadoria de Conteúdo ou de Informações), na agregação de valor, gestão ativa e preservação de
dados digitais (Curadoria Digital) e na curadoria de dados de pesquisa (e-science).
Conforme Santos (2014, p. 25) "uma das considerações contemporâneas desse espaço de
intervenção social coletivo [a internet] concerne à organização desse caos invisível cujo
crescimento é exponencial." O que é corroborado por Lyman e Varian, quando afirmam que
Não há dúvidas de que estamos todos nos afogando em um mar de informação.
O desafio é aprender a nadar neste mar, em vez de se afogar nele. Mais
conhecimentos e melhores ferramentas são desesperadamente necessários para
que possamos usufruir de todas as vantagens da crescente produção de
informações (LYMAN; VARIAN, 2000).
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O termo curadoria digital pode ser considerado a evolução dos termos preservação digital3 e
arquivamento digital, de forma que, o que muitos autores tem tentado comunicar com o
aparecimento desse termo é que há a necessidade de uma nova abordagem para a criação e
gerenciamento de ativos digitais (BEAGRIE, p. 4, 2006). Na realidade, a curadoria digital é a
ampliação do foco que estava apenas na preservação digital. Pois, antes havia a necessidade de
tomar medidas imediatas para salvaguardar materiais digitais ameaçados, porém, agora, existe a
percepção de que a perpetuação de materiais digitais a longo prazo envolve, também, a observância
de práticas de gestão de ativos digitais cuidadosas, difundidas ao longo do ciclo de vida da
informação (LAVOIE; DEMPSEY, 2004).
Dessa forma, a curadoria digital torna-se mais ampla que a preservação digital e envolve as
atividades relacionadas à gestão dos dados, desde o planejamento da sua criação, passando por boas
práticas na digitalização, seleção de formatos, descrição/documentação dos dados curados, de
forma a garantir que os dados estejam sempre disponíveis e adequados para serem descobertos e
reusados agora e no futuro (ABBOTT, 2008).
A curadoria digital, segundo o Digital Curation Center (DCC, 2012), visa a gestão ativa,
agregação de valor à informação digital e a preservação de recursos digitais, tanto para uso atual
quanto futuro, durante todo o ciclo de vida do dado digital. Ressalta-se que gestão ativa abrange
uma ampla gama de atividades gerenciais e técnicas e denota que as ações devem ser sistemáticas,
planejadas, intencionais, de forma a fazer a informação digital atender a um propósito. Assim, ela
engloba atividades coordenadas que permitam aos usuários compreender e explorar ativos de
informação digital e garantir a sua integridade ao longo do tempo; atividades que assegurem que a
informação digital permanecerá detectável, acessível e utilizável durante o tempo que os usuários
em potencial tenham necessidade ou direito de usá-la e a proteção das informações digitais contra
acesso não autorizado (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCIES, 2015).
Já agregar valor à informação digital, normalmente requer uma intervenção ativa por
pessoas qualificadas e o uso de aplicações de software. Além disso, porque a informação digital é
3
A preservação digital pode ser definida como a combinação de políticas, estratégias e ações para garantir o
acesso e reprodução precisa de conteúdos autenticados, reformatados e nascidos digitais ao longo do tempo,
independentemente dos desafios da falha das mídias e das mudanças tecnológicas (ASSOCIATION FOR
LIBRARY COLLECTIONS & TECHNICAL SERVICES, 2007).
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Nem sempre é trivial definir até que nível de profundidade curar a informação digital. Por exemplo, um
texto digital com hiperlinks ou um sítio web que possui em seu conteúdo textos, sons e imagens, além de
hiperlinks (que podem levar a outros hiperlinks) são considerados objetos digitais complexos. Para preservar
as funcionalidades e a navegação nesses objetos é preciso definir até que nível de profundidade o conteúdo
deles será curado.
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confiabilidade, integridade e usabilidade do objeto digital5, que é colocado como centro do modelo.
Para isso, esse modelo possui ações para todo o ciclo de vida (descrição e representação da
informação; planejamento da preservação, acompanhamento e participação da comunidade;
curadoria e preservação), ações sequenciais (conceitualização; criação e/ou recebimento; avaliação
e seleção; arquivamento; ações de preservação; armazenamento; acesso, uso e reuso e
transformação) e ações ocasionais (eliminação/descarte; reavaliação e migração) (HIGGINS,
2008). Outro modelo é o Dataone Data Lifecycle6 que possui 8 etapas: planejar, coletar, garantir a
qualidade dos dados, descrever os dados, preservar, descobrir dados úteis, integrar e analisar. Além
destes, encontram-se na literatura também o Ddi Combined Lifecycle Model7, o Uk Data Archive
Data Lifecycle8 e o Digital curation process model (DCU) (CONSTANTOPOULOS et al., 2009).
Vale ressaltar que relacionados à curadoria digital vem sendo usadas diversas novas
nomenclaturas na literatura, porém, elas se resumem a aplicação da curadoria digital a determinado
tipo de acervo. Por exemplo, curadoria de objetos de aprendizagem (foco nos conteúdos produzidos
para o contexto educacional), curadoria de objetos culturais (foco nos produtos de iniciativas
culturais), e assim por diante.
5
Qualquer informação digital em código binário.
6
http://escholarship.org/uc/item/7tf5q7n3#page-1
7
http://www.ddialliance.org/Specification/DDI-Lifecycle/
8
http://www.data-archive.ac.uk/create-manage/life-cycle
9
Entende-se que é dever da Arquivística tratar das fontes primárias (BRASIL, 1991; BRASIL, 2011),
todavia, não é objetivo da pesquisa entrar no mérito da questão, mas permanecer na discussão acerca do
termo Curadoria Digital, per si.
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(resultado do processamento de dados brutos ou outros tipos de dados) ou dados referenciais (dados
consolidados e armazenados em grandes centros de dados) (SAYÃO; SALES, 2015). Além disso,
“alguns tipos de dados têm valor imediato e duradouro, enquanto outros adquirem valor ao longo
do tempo; alguns dados são capturados num momento específico e irrecuperável, enquanto outros
são passíveis de se reproduzir” (SAYÃO; SALES, 2015, p. 7).
Nesse contexto, a e-science pode ser compreendida como a infraestrutura que visa permitir
que cientistas e pesquisadores possam ter acesso a dados científicos primários distribuídos,
utilizando acesso remoto a esses conteúdos, mas promover algo que vai além da estrutura
informática. Em outras palavras, é a possibilidade e “a capacidade de acessar, mover, manipular e
extrair dados [é] a exigência central dessas novas aplicações das ciências da colaboração” (HEY;
HEY, 2006, p. 517). É a ciência e tecnologia necessária para a colaboração em rede e, segundo
Medeiros e Caregnato (2012), a e-science pode receber, também, as seguintes nomenclaturas:
cyberinfrastructure, cyberscience, eInfrastructure e eResearch.
Para poder se criar a infraestrutura necessária para a e-science e para que os dados de
pesquisa possam ser preservados e mantidos para uso futuro, torna-se necessário o
desenvolvimento de metodologias (tecnológicas e gerenciais) que orientem a produção de dados, o
desenvolvimento de coleções de dados, o armazenamento, análise e interpretação desses dados em
uma grande diversidade de contextos disciplinares (SAYÃO; SALES, 2012). Isso tem sido
proporcionado pela curadoria de dados, porque, como afirma Gray (2009, p. 17), após os “dados
serem capturados, necessita-se que sejam curados antes que se inicie qualquer tipo de análise de
dados”. Assim, a curadoria de dados engloba atividades de gestão requeridas para manter e gerir
dados de pesquisa a longo prazo, de modo que eles estejam disponíveis para o reuso, favorecendo a
colaboração entre pesquisadores, o avanço da ciência e a preservação do conhecimento científico
(SANTOS, 2014).
Para isso, é preciso que os profissionais da informação trabalhem na criação de estratégias
para curadoria, ou seja, no tratamento dos dados de pesquisa, desde a sua conceitualização ou
recebimento até o uso e preservação. Pois, dados e informações digitais gerados pelas atividades de
pesquisa necessitam de cuidados específicos, da criação de novos modelos de custódia e de gestão
de conteúdos científicos digitais, que englobem ações de arquivamento seguro, preservação, formas
de acrescentar valor a esses conteúdos e de otimização da sua capacidade de reuso. Para agregar
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valor aos dados de pesquisa e permitir seu compartilhamento e reuso, é preciso realizar a
incorporação de metadados e documentação que os descrevam (MEDEIROS; CAREGNATO,
2012). Além disso, para que seja possível criar a memória digital das instituições de pesquisa e
promover o compartilhamento, acesso e reuso dos dados de pesquisa gerados e coletados, é
necessário que eles sejam depositados em ambientes que garantam sua preservação ativa por longo
prazo, mantendo as suas características de autenticidade, integridade e proveniência (SAYÃO;
SALES, 2015). Nesse sentido, considerando em sua definição que os dados de pesquisa são fontes
primárias, ressalta-se que a curadoria de dados digitais de pesquisa deve ser realizada em
repositório arquivístico digital confiável, atendendo aos procedimentos arquivísticos em suas
diferentes fases e aos requisitos de um repositório digital confiável, conforme a Resolução n° 43, de
04 de setembro de 2015 do CONARQ (BRASIL, 2015).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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