Bibliotecrio de Dados
Bibliotecrio de Dados
Bibliotecrio de Dados
1 INTRODUÇÃO
1
Docente do departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Professora permanente externa do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade
Estadual de Londrina (UEL).
2
Discente do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
No senso comum, a sociedade tem uma visão do(a) bibliotecário(a) de que somente atua com
livros ou documentos físicos, isolado dentro de uma biblioteca organizando estantes de livros. Porém
a profissão passou por grandes evoluções durante as décadas, rompendo com barreiras conservadoras
e atualizando sua atuação em novos ambientes e com as novas tecnologias. A partir dessas
atualizações, o(a) bibliotecário(a) adquire novas habilidades e competências para atuar além da forma
tradicional e uma das novas formas de atuação é a biblioteconomia de dados.
De acordo com Semeler (2017), a Biblioteconomia de Dados é uma disciplina que aplica a
Ciência da Informação, e-Science3 e Data Science4 em Unidades de Informação. Seguindo essa linha
de raciocínio, o(a) bibliotecário(a) de dados, contribui diretamente na área de dados, tanto na Ciência
de Dados, quanto na Gestão de Dados. Conforme Corrêa (2016, pág. 391) “a coleta, organização e
preservação da informação tem sido confiada a bibliotecários(as) de diferentes setores que trabalham
com os fluxos de informação; a articulação dos planos de gestão de dados é simplesmente uma
manifestação moderna destas funções”. Diante disso, faz-se o seguinte questionamento: Como a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação estão discutindo aspectos relativos a (ao) bibliotecário(a)
de dados?
A partir do questionamento feito anteriormente esta pesquisa tem como objetivo analisar a
produção científica nacional sobre os aspectos concernentes à atuação do(a) bibliotecário(a) no
contexto dos dados.
A relevância desta pesquisa decorre, em linhas gerais, da necessidade de compreender como
os pesquisadores da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação têm discutido a temática,
considerando a sua relevância para a formação de futuros profissionais Bibliotecários(as). Além
disso, esta pesquisa também evidencia o status das pesquisas sobre o tema, elucidando os principais
enfoques dos estudos sobre Biblioteconomia de dados.
3
“Compreendida como “a base para o pensamento das ciências orientadas ao uso intensivo dos dados” (SEMELER,
2017, p. 7).
4
“Conjunto de habilidades, métodos, técnicas e tecnologias da Estatística e da Ciência da Computação utilizadas para
extrair conhecimento de dados e para a criação de produtos e serviços a partir de dados” (SEMELER, 2017, p. 7).
conhecimentos relacionados à origem, à coleção, à organização, ao armazenamento, à recuperação, à
interpretação, à transmissão, à transformação e à utilização da informação (BORKO, 1968, p. 3).
De acordo com Saracevic (1996, p.42) a Ciência da Informação consiste em uma área
interdisciplinar, estando inexoravelmente ligada à tecnologia da informação. Ainda de acordo com o
autor, a Ciência da Informação é um campo dedicado às questões científicas e à prática profissional
voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres
humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação.
A Ciência de Dados, por sua vez, consiste em um campo interdisciplinar que envolve três
domínios de conhecimento: Programação de Computadores; Estatística e Matemática; e Domínio do
Conhecimento (RAUTENBERG; CARMO, 2019). Com esses domínios, os cientistas de dados
devem saber extrair informação e conhecimento úteis a partir de grandes volumes de dados
estruturados ou não, resolvendo problemas de negócio e melhorando a tomada de decisão. Esse
profissional deve desenvolver diversas habilidades relacionadas aos domínios do conhecimento
supracitados como, por exemplo, análises estatísticas, mineração de dados, uso de aprendizado de
máquina, ferramentas de visualização de dados (criação de gráficos e painéis com Tableau, Power
BI), habilidades em programação (Python, R, SQL) e uso de frameworks de Big Data, como Hadoop
e Apache Spark. Suas principais responsabilidades são desenvolver, testar e manter algoritmos de
aprendizado de máquina; realizar análise exploratória de dados detectando e tratando anomalias nos
dados; fazer inferência e interpretação das análises e apresentar os resultados.
Objetivando dar prosseguimento a essas discussões, a seguir serão apresentados aspectos
concernentes à Biblioteconomia de Dados.
A biblioteconomia de dados é um termo que vem sendo discutido desde a década de 1960 na
América do Norte e Europa, ou seja, não é um termo novo (SEMELER; PINTO, 2020). Segundo os
autores, a biblioteconomia de dados tem ênfase na criação de serviços relacionados ao uso de dados
digitais, repositórios de dados, curadoria de dados e gestão de dados nas bibliotecas, além de
atividades ligadas ao gerenciamento e à curadoria de todos os tipos de dados, sendo seu foco o
tratamento, a gestão e a curadoria de dados de pesquisas em qualquer disciplina científica
(SEMELER, 2017, p.65).
Uma segunda definição encontra-se no site da Australian National Data Service (ANDS),
porém mais restritiva quanto à atuação do(a) bibliotecário(a) de dados, sendo “[...] profissionais
bibliotecários engajados na gestão de dados de pesquisa, usando dados de pesquisa como recurso e
dando suporte a pesquisadores nas suas atividades”. (ANDS, 2018, tradução nossa). Também se
ressalta que a biblioteconomia de dados é um campo interdisciplinar, sendo uma interseção entre
Ciência da Informação, e-Science e Ciência de dados (SEMELER; PINTO, 2020).
Cabe ressaltar que a biblioteconomia de dados não deve ser somente restrita aos dados de
pesquisas (provenientes de pesquisas científicas), diante do fato de que as organizações utilizam
dados em seus modelos de negócio e atuação para geração de informação e tomadas de decisão.
Portanto, o papel do(a) Bibliotecário(a) de Dados é essencial para que haja um uso efetivo da
informação (neste caso, codificada em conjuntos de dados) pelas organizações (como as
governamentais), no processo de busca por soluções de problemas (CALLONI, 2020).
Considerando a incipiência e atualidade do tema, bem como o fato de que a Biblioteconomia
de Dados não deve ser restrita apenas aos dados de pesquisa, faz-se necessário compreender de que
maneira os pesquisadores da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação têm discutido o tema
na literatura nacional. Para tanto, serão utilizados os procedimentos metodológicos descritos a seguir.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5
Disponível em: https://www.brapci.inf.br/. Acesso em: 29 maio 2021.
6
Disponível em: https://bdtd.ibict.br/. Acesso em: 29 maio 2021.
menos um dos termos pesquisados, não se articulavam com este estudo, tendo seus conteúdos
dedicados à avaliação de bases de dados; estudos bibliométricos realizados em bases de dados; bem
como mapeamento do uso de metadados. Desse total, apenas 25 (vinte e cinco) artigos de periódicos
possuíam articulação direta com a Biblioteconomia de Dados e o(a) Bibliotecário(a) de Dados, essas
produções foram consideradas nas análises desta pesquisa.
Em nítido contraste, na BDTD foram recuperadas apenas duas produções científicas, sendo
uma Dissertação e uma Tese sobre a temática citada anteriormente. Nessa perspectiva, o corpus final
para a realização da análise da produção científica nacional foi constituído de 27 (vinte e sete)
trabalhos, sendo 25 (vinte e cinco) artigos de periódicos, uma Dissertação e uma Tese.
Como procedimento para a realização da análise dessas pesquisas utilizou-se o método da
análise de conteúdo, possibilitando tornar compreensíveis os principais aspectos enfatizados nos
estudos sobre a temática. Essa análise foi realizada manualmente através de uma leitura técnica
baseada na norma ABNT NBR 12676, que trata especificamente sobre métodos para análise de
documentos e determinação dos seus assuntos. Para tanto, foram considerados, especialmente: título
e subtítulo, resumo, palavras-chave, introdução, ilustrações, diagramas, tabelas e explicações,
resultados, considerações finais e referências bibliográficas das produções científicas analisadas.
Com isso, foi possível identificar o status da pesquisa sobre o tema, bem como evidenciar os
principais enfoques, tendências e perspectivas de estudos sobre o assunto, aspectos que são elucidados
na seção seguinte.
Diante das análises realizadas, verificou-se que as produções científicas nacionais sobre
Bibliotecário de Dados estão distribuídas em um intervalo de tempo entre 2004 a 2020, havendo uma
incidência de publicações do ano de 2016 em diante. Os anos de 2019 e 2020 ganham destaque como
os períodos que apresentaram maior quantidade de publicações científicas, conforme é possível
observar no Quadro a seguir:
Quadro 1 -Quantidade de publicações por ano
Ano e publicação Quantidade
2004 1
2012 1
2014 1
2015 1
2016 3
2017 2
2018 3
2019 8
2020 7
Seguindo a linha de raciocínio discutida no referencial teórico desta pesquisa, acredita-se que
a incidência de publicações nos últimos anos acerca da temática pode ser decorrente da necessidade
emergente da atuação do(a) Bibliotecário(a) nesse cenário, haja vista que o seu perfil contempla
diversas competências e habilidades que podem contribuir para o ciclo de vida dos dados, mediante
aplicação de estratégias em diferentes contextos.
Os periódicos científicos eletrônicos e anais de eventos técnico-científicos se configuram
como fontes importantes para a comunicação científica, tornando disponível para a comunidade os
resultados das pesquisas em diferentes áreas do conhecimento. Com base nos resultados da pesquisa
realizada na BRAPCI, também foi possível perceber os periódicos da área de Ciência da Informação
cujos trabalhos analisados encontram-se publicados, são eles: Múltiplos olhares em Ciência da
Informação; Informação e Informação; Ciência da Informação; Em Questão; Biblos; Revista ACB:
Biblioteconomia em Santa Catarina; Reciis: Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e
Inovação em Saúde; Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação (RDBCI);
Perspectivas em Ciência da Informação; Encontros Bibli; Informação em Pauta; AtoZ: novas práticas
em Informação e Conhecimento; Anais do Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia,
Documentação, Gestão e Ciência da Informação (2018). O Quadro a seguir apresenta essas
informações de maneira sintetizada e organizada com base na incidência das produções:
Diante do exposto, observa-se que o periódico que possui maior número de publicações sobre
Bibliotecário de Dados é Informação e Informação, periódico científico eletrônico do Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (PPGCI/UEL) com
um total de seis publicações acerca da temática. Em seguida, a revista Ciência da Informação,
periódico científico do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) aparece
no quadro com um destaque de três publicações sobre a temática. O periódico “Em Questão”
(PPGCI/UFRGS), por sua vez, apresenta o total de três publicações sobre Bibliotecário de Dados e,
em seguida, aparecem as demais revistas citadas anteriormente.
Verificou-se ainda que a maioria das produções científicas recuperadas e analisadas
concentram-se, em linhas gerais, em investigar questões concernentes à gestão de dados de pesquisa.
Embora tenha sido mencionado anteriormente que a Biblioteconomia de dados não deve ser restrita
apenas aos dados de pesquisas (provenientes de pesquisas científicas), constatou-se que os
pesquisadores da área de Ciência da Informação têm dedicado os seus estudos a esse enfoque
temático.
Além das produções científicas disponíveis em periódicos científicos eletrônicos e anais de
eventos técnico-científicos, durante a busca e recuperação das produções científicas na BDTD foi
possível identificar dois trabalhos provenientes de Programas de Pós-Graduação em Ciência da
Informação de duas Universidades do Brasil, são elas: Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e Universidade Federal de Sergipe (UFS).
O Quadro a seguir apresenta os enfoques temáticos das publicações e os respectivos autores
cujos trabalhos foram analisados mediante a realização da análise de conteúdo.
Quadro 3- Enfoques temáticos das produções científicas analisadas
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BORKO, H. Information Science: What is it? American Documentation, v.19, n.1, p.3-5,
Jan. 1968.
CALLONI, R. Bibliotecário de Dados. In: Silva, F.C.C. O perfil das novas competências na atuação
bibliotecária. Florianópolis, SC: Rocha Gráfica e Editora, 2020. p. 339-362.
CORRÊA, F.C. O papel do bibliotecário na gestão de dados científicos. Revista Digital de
Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v.14, n.3, p. 387-406, 2016, DOI:
http://dx.doi.org/10.20396/rdbci.v14i3.8646333.