Roteiro de Estudos
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Roteiro de
Estudos
Autora: Ma. Ohanna Larissa Fraga Pereira
Revisor: Marcos Buri
O colapso mundial do início do século XX foi fundamental para mostrar aos líderes das diversas
nações que alternativas bélicas, dizimação da população e da estrutura física e social dos países
não poderiam continuar sendo uma opção lícita para a resolução de conflitos internacionais.
Nesse momento, o campo de estudos das Relações Internacionais emerge formalmente, com o
objetivo primordial de mediar conflitos entre os Estados e adentrar em áreas como promoção
dos direitos humanos, terrorismo e demais problemas que enfrentamos no mundo de hoje
globalizado.
Caro(a) estudante, ao ler este roteiro, você irá:
aprender sobre a construção do campo de estudos das Relações Internacionais;
estudar as diversas teorias que foram formuladas dentro da disciplina das Relações
Internacionais;
compreender o papel do Direito Internacional e de Organizações Internacionais na
mediação de conflitos internacionais;
conhecer os diversos meios de resolução pacífica dos conflitos internacionais elaborados
pela Organização das Nações Unidas (ONU) e por outros organismos internacionais;
refletir sobre as atuais tendências do campo de estudos das Relações Internacionais.
Introdução
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A Construção do Campo de
Estudos das Relações
Internacionais
Apesar de recente, o campo de estudo das Relações Internacionais (RI) já pode ser considerado
uma disciplina fundamental dentro da grande área das Ciências Sociais. O surgimento efetivo
das RI como disciplina se deu apenas no século XX, após as duas grandes guerras mundiais.
Antes disso, pensar no internacional era uma atividade distribuída entre as demais disciplinas
do campo das Ciências Sociais, sobretudo da História, da Economia e da Ciência Política.
Por englobar uma diversidade de disciplinas, as RI adotaram, desde sua origem, um perfil
multidisciplinar e multifacetado, por ser capaz de abranger uma diversidade de temas que se
renovam no cenário mundial continuamente. Dentre as principais áreas de especialização das
Relações Internacionais, estão: estratégia e guerra, segurança internacional, história das
relações internacionais, economia e comércio internacional, integração regional, globalização,
análise de política externa e entre outros assuntos que surgem no contexto mundial
(PECEQUILO, 2012).
O objeto de estudo das RI é, portanto, o internacional, que pode ser descrito como: “todos os
fenômenos que transcendem as fronteiras de um Estado, fazendo que os sujeitos, privados ou
públicos, individuais ou coletivos, relacionem-se entre si” (SEITENFUS, 2013, p. 2). Desse modo,
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realismo : nascido no século XX, através dos trabalhos de Carr e Hans Morgenthau, o
realismo foi dominante nas RI durante muito tempo. Sua teoria é a mais conhecida e a
mais contestada, isso porque essa corrente acredita na existência de uma desigualdade
de distribuição de poder entre os principais atores do sistema internacional, os Estados,
causada pelo anarquismo da política internacional. Dada a ausência de um governo
internacional, a luta constante dos Estados é pelo poder, portanto, a segurança e a
independência territorial vivem sob ameaças constantes de guerras e invasões. Os
realistas acreditam muito pouco no cooperativismo, suas principais ideias de
funcionamento das RI são o grupismo, a anarquia, o egoísmo e a política de poder. Com o
fim da Guerra Fria, muitos aspectos do realismo estrutural não se confirmaram, e os
autores buscaram novas formas de interpretar as RI, mas que derivavam do realismo,
como: o realismo defensivo e o ofensivo, o neorrealismo e o realismo neoclássico (SILVA;
CULPI, 2017; MENDES, 2019);
liberalismo : o pensamento surgido entre os séculos XVI e XVII, apoiado nas ideias de
autores como John Locke, Montesquieu, Immanuel Kant e Adam Smith, tem, em sua
teoria, a principal crítica e alternativa ao realismo. O liberalismo se reestruturou e chegou
ao pós-Guerra Fria representado pelo pensamento de Moravcsik, de que os Estados
possuem suas características domésticas específicas, cultura política e institucional
significativas para a explicação de fenômenos internacionais. Opõe-se ao racionalismo na
medida em que não aceita que o objetivo único e principal de todos os atores do sistema
internacional seja a busca pela sobrevivência e pelo acúmulo de poder e riqueza. A crença
no Estado democrático e liberal projetou o desenvolvimento teórico do fenômeno da paz
democrática, ou seja, a ausência de guerra entre os estados democráticos (PEREIRA,
2016). Segundo Mendes (2019), Moravcsik passou a assumir que os três principais
pressupostos da teoria das RI liberal são: 1) a primazia dos atores societários: os
indivíduos e os grupos privados são os atores principais que tomam decisões de acordo
com as sociedades nacionais em que vivem; 2) as preferências e a representação dos
Estados: estes representam segmentos das sociedades internas que estabelecem seus
interesses, os quais serão levados em consideração na formulação de políticas públicas; 3)
o sistema internacional é caracterizado pela interdependência: existe interdependência
entre as preferências nacionais e o comportamento do Estado e os demais atores nas
relações internacionais;
institucionalismo : também conhecido como neoliberalismo, essa teoria foi
fundamentada em um período semelhante ao do realismo e compactua de algumas
opiniões racionais dessa outra teoria, mas com conclusões diferentes. A corrente
institucionalista acredita, como os realistas, que o Estado é o principal ator do sistema
internacional e que existe a anarquia e a competição egoísta entre os atores. Contudo,
aceita que a cooperação pode ser um comportamento racional e a melhor maneira de
defender e maximizar os interesses dos Estados (SALOMÓN, 2016). Os institucionalistas
defendem que as instituições, tidas como um conjunto de normas e práticas que
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Direito Internacional e os
Conflitos Internacionais
O Direito Internacional tem o seu surgimento datado a partir do Tratado pela Paz de Vestfália,
em 1648, época em que emergem o Estado-nação moderno e a noção de soberania estatal.
Contudo, é inegável sua utilização pelos povos desde a Antiguidade, que, nesse período, já
estabeleciam relações exteriores. Embora o Direito Internacional não tenha o mesmo poder de
coerção interno aos Estados, seus princípios e normas são aceitos quase que universalmente e
incidem sobre os Estados e os organismos internacionais.
Segundo Novo (2018), o Direito Internacional pode ser entendido como um conjunto de normas
que regula as relações externas entre os atores da sociedade internacional. Dessa maneira, o
Direito pode ser objetivo ou subjetivo, o primeiro compreende os princípios de justiça que
regulam as relações entre os povos, enquanto o segundo é aplicado através de acordos entre
os sujeitos. Pode ser, ainda, classificado como Direito Internacional Público ou Privado, o
Público trata dos direitos e deveres entre os Estados, enquanto o Privado estabelece a
aplicação de leis civis, penais ou comerciais de um Estado sobre atores particulares, cidadãos
ou empresas, de outro Estado.
Desse modo, o Direito Internacional é um importante ator no processo de conflitos
internacionais. Assim como a vida em sociedade é marcada por episódios frequentes de
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É no cenário pós-Segunda Guerra Mundial que emerge a figura da ONU, uma organização
internacional concebida com o objetivo principal de criar e colocar em prática mecanismos que
possibilitem, ao mesmo tempo, a segurança internacional, a definição de leis internacionais, o
desenvolvimento econômico dos países, o respeito aos direitos humanos e o progresso e a
soberania social. Assim, em 1945, a Carta das Nações Unidas foi assinada ao término da
Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, criando, formalmente, a
Organização das Nações Unidas (CAVALCANTI, 2005). O principal foco no momento era evitar a
ocorrência de uma nova guerra mundial, estabelecendo um clima de paz entre as nações e
promovendo, sobretudo, os direitos humanos, para prevenir que outro genocídio como o
holocausto ocorresse novamente (ONU, 1945).
No capítulo VI, artigo 33, da Carta assinada pelas Nações Unidas, estão dispostas as soluções
pacíficas de controvérsias:
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1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz
e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução
por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial,
recurso a organismos ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico
à sua escolha.
2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar necessário, as referidas
partes a resolver, por tais meios, suas controvérsias (ONU, 1945, p. 25).
De acordo com Rezek (2005), a divisão doutrinária classificou os meios pacíficos de resolução
das controvérsias entre: Meios Diplomáticos, Meios Políticos e Meios Jurisdicionais. A seguir,
são caracterizados esses meios de acordo com as resoluções pacíficas adotadas,
principalmente, pela ONU e por demais organismos internacionais:
Meios Diplomáticos: consistem na resolução de conflitos por meio da negociação direta
entre os agentes participantes da controvérsia, ou, ainda, com a participação de um
terceiro, mas sem caráter impositivo. As formas de resolução diplomática são:
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Meios Jurisdicionais: são meios que diferem dos anteriores, pois eles emitem decisões
obrigatórias, ou seja, qualquer forma de resistência das partes envolvidas no conflito que
indique que elas não irão seguir a sentença configura um ato ilícito internacional. A busca
de solução do conflito ocorre conforme o direito vigente. São exemplos de soluções por
vias jurisdicionais:
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uma série de problemas ainda que dizem respeito às RI. A globalização foi um fenômeno que
traduziu para o mundo a centralização do mercado, de suas leis e de seus princípios. Se, por
um lado, ela aproximou as pessoas e incentivou a produção e a tecnologia, por outro, ela
massificou a cultura, deu supremacia ao capital financeiro e fez desaparecer as singularidades
nacionais (SEITENFUS, 2013). Assim, os Estados reduzem sua soberania cada dia mais,
sucumbindo ao poder das transnacionais. Enquanto isso, a globalização se expandiu pelos
países desenvolvidos e deixou o grande questionamento nas nações pobres que sofrem, ainda,
com conflitos derivados da fome, da desigualdade e da pobreza: globalização para quem?
Desse modo, é certo que a globalização trouxe diversas consequências sociais que, ainda, são
pautas dos estudos das RI hoje em dia. Além disso, o Estado de bem-estar social que vigorou
em países do continente europeu e nos Estados Unidos, prestando assistencialismos que
garantiam padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos
os cidadãos, começou a ruir no fim dos anos 1960. Tudo isso, junto à mundialização do
pensamento neoliberal que causou ainda mais dependência aos países periféricos, foi
responsável pelo aumento da desigualdade, da fome, da pobreza e de um crescente número de
conflitos sociais em diversas nações.
Então, as Relações Internacionais voltaram seus estudos para as consequências desses
fenômenos no mundo, para a integração regional e a criação de blocos comerciais, para o
desafio do desenvolvimento, sobretudo, dos países periféricos, para os impactos do terrorismo
e para os conflitos internacionais que se sustentam ainda (PECEQUILO, 2012; SEITENFUS, 2013).
Alguns exemplos desses conflitos são: guerras civis na Síria, Líbia, Iêmen e Sudão do Sul;
disputas territoriais entre Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina; guerras entre Estados que não
cessaram de vez ainda, como nas Coreias e entre a Índia e o Paquistão na disputa pela
Caxemira etc. A maioria dos conflitos se estendem por países subdesenvolvidos das regiões da
África e do Oriente Médio.
No Sudão, há 50 anos, desenvolve-se uma guerra civil. Ela tem como traços as controvérsias
étnicas, religiosas e raciais. A covid-19, somando-se a outros problemas e sanções impostas
previamente a essa nação do Oriente Médio, pode incorrer em mais crises humanitárias
provenientes da fome, por isso, a ONU deve intervir.
Portanto, observa-se que as tendências das RI não param de ser atualizadas, o campo de
estudo dessa disciplina evolui constantemente e se modifica conforme o mundo também
muda. Dessa forma, as Relações Internacionais podem ser consideradas uma disciplina
necessária e extremamente importante para os debates do mundo atual.
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LIVRO
Relações internacionais
Autor : Ricardo Seitenfus
Editora : Manole
Ano : 2013
Comentário : a parte 3 do livro discute as principais tendências
de estudo das Relações Internacionais na atualidade.
Disponível na Minha Biblioteca.
Conclusão
As Relações Internacionais emergiram enquanto campo de estudo, após cenários de destruição
e conflitos armados em períodos anteriores ao início do século XX. As guerras mundiais, o
Holocausto e as diversas tragédias, que dizimaram parte da humanidade e a infraestrutura
social e física dos países, mostraram aos líderes das diversas nações que as guerras não
poderiam mais ser uma alternativa para a resolução das controvérsias mundiais. Pautado em
diversas outras disciplinas das Ciências Sociais, esse campo de estudo desenvolveu-se ao longo
dos anos e tornou-se essencial para o exame das relações entre os diversos Estados.
Para além dos conflitos entre os Estados, as RI lançam a atuação em outros fenômenos e
acontecimentos mundiais, estudando fatores como globalização, direitos humanos,
desenvolvimento dos países, soberania nacional, sustentabilidade etc. Tudo isso com base em
teorias que foram se desenvolvendo ao longo do tempo nessa área de atividade. Também, foi
importante a criação de Organismos Internacionais como a ONU, que tem papel fundamental
para as RI e, junto ao Direito Internacional, propôs diversos meios pacíficos de solução de
conflitos internacionais, reduzindo, ao longo do tempo, as reações bélicas e os conflitos
armados entre os países. Assim, com a contribuição dos diversos atores do sistema
internacional, as Relações Internacionais avançam enquanto campo de estudos e se tornam
mais presentes e importantes para o desenvolvimento mundial.
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