Roteiro de Estudos

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20/02/2024, 20:45 Roteiro de Estudos

Introdução às Relações Internacionais

Roteiro de
Estudos
Autora: Ma. Ohanna Larissa Fraga Pereira
Revisor: Marcos Buri

O colapso mundial do início do século XX foi fundamental para mostrar aos líderes das diversas
nações que alternativas bélicas, dizimação da população e da estrutura física e social dos países
não poderiam continuar sendo uma opção lícita para a resolução de conflitos internacionais.
Nesse momento, o campo de estudos das Relações Internacionais emerge formalmente, com o
objetivo primordial de mediar conflitos entre os Estados e adentrar em áreas como promoção
dos direitos humanos, terrorismo e demais problemas que enfrentamos no mundo de hoje
globalizado.
Caro(a) estudante, ao ler este roteiro, você irá:
aprender sobre a construção do campo de estudos das Relações Internacionais;
estudar as diversas teorias que foram formuladas dentro da disciplina das Relações
Internacionais;
compreender o papel do Direito Internacional e de Organizações Internacionais na
mediação de conflitos internacionais;
conhecer os diversos meios de resolução pacífica dos conflitos internacionais elaborados
pela Organização das Nações Unidas (ONU) e por outros organismos internacionais;
refletir sobre as atuais tendências do campo de estudos das Relações Internacionais.

Introdução

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As guerras e as alternativas violentas de resolução de conflitos internacionais foram aceitas


como possibilidades até o início do século XX, quando diversos países compreenderam que a
destruição da infraestrutura das nações e da dignidade humana não poderia continuar
ocorrendo. Nesse período, pós-Primeira Guerra Mundial, as Relações Internacionais começam a
vigorar, enquanto campo de estudos, pautadas em diversas outras ciências e disciplinas, como
Economia, Direito, Geografia, Sociologia, Antropologia, História, Ciência Política etc.
As Relações Internacionais (RI) nasceram com o objetivo não apenas de mediar os conflitos
entre Estados, ou entre Estados e organismos internacionais, mas também de adentrar nos
diversos aspectos da problemática mundial. Desse modo, hoje em dia, são campos de atuação
das RI os assuntos vinculados à globalização, à segurança humana, aos direitos humanos, à
soberania nacional, à sustentabilidade, à proliferação nuclear, ao desenvolvimento econômico,
ao terrorismo, ao crime organizado e a muitos outros problemas que circundam o mundo em
que vivemos.

A Construção do Campo de
Estudos das Relações
Internacionais
Apesar de recente, o campo de estudo das Relações Internacionais (RI) já pode ser considerado
uma disciplina fundamental dentro da grande área das Ciências Sociais. O surgimento efetivo
das RI como disciplina se deu apenas no século XX, após as duas grandes guerras mundiais.
Antes disso, pensar no internacional era uma atividade distribuída entre as demais disciplinas
do campo das Ciências Sociais, sobretudo da História, da Economia e da Ciência Política.
Por englobar uma diversidade de disciplinas, as RI adotaram, desde sua origem, um perfil
multidisciplinar e multifacetado, por ser capaz de abranger uma diversidade de temas que se
renovam no cenário mundial continuamente. Dentre as principais áreas de especialização das
Relações Internacionais, estão: estratégia e guerra, segurança internacional, história das
relações internacionais, economia e comércio internacional, integração regional, globalização,
análise de política externa e entre outros assuntos que surgem no contexto mundial
(PECEQUILO, 2012).
O objeto de estudo das RI é, portanto, o internacional, que pode ser descrito como: “todos os
fenômenos que transcendem as fronteiras de um Estado, fazendo que os sujeitos, privados ou
públicos, individuais ou coletivos, relacionem-se entre si” (SEITENFUS, 2013, p. 2). Desse modo,

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pode-se reconhecer que a natureza das RI é extremamente complexa, o que dificulta a


delimitação do seu próprio campo de atuação e a identificação dos atores que estão envolvidos
nessas relações.
Sobre os atores presentes nas RI, destacam-se dois grandes grupos: o primário e o secundário.
No primeiro, está o reconhecido principal ator das Relações Internacionais ao longo do tempo:
o Estado, representado, na maior parte das vezes, na figura do diplomata. Conforme Seitenfus
(2013), até antes do século XX, o Estado dominou o sistema que era reconhecido como
interestadual, em vez de internacional, como é hoje. Apenas após as grandes guerras mundiais,
a vontade dos Estados fez surgir um novo ator, as Organizações Internacionais (OIs),
instituições públicas que possuem suas atribuições específicas, mas que seguem comandadas,
em última instância, pela figura dos Estados, assim, em última instância, elas objetivam a
cooperação e a melhoria econômica, política e social dos países.
Para além das OIs, há, também, os demais atores secundários: as Organizações não
governamentais de alcance internacional (Ongats), instituições não estatais que possuem
autonomia em relação ao governo; as igrejas, que, através da religião, exercem o papel
paradoxal de ser o combustível de inúmeros conflitos internacionais e, ao mesmo tempo,
disseminar a solidariedade; o crime internacional organizado; a opinião pública; as empresas
transnacionais; ainda, o próprio indivíduo.
Nesse sentido, é possível compreender porque o campo de estudo das Relações Internacionais
pode ser tão complexo, multidisciplinar e multifacetado. Apoiadas em diversas disciplinas, de
natureza complexa, formadas por inúmeros atores e atuante em uma multiplicidade de
assuntos, as RI formam uma área de grande importância para todas as nações atualmente, no
mundo globalizado.

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LIVRO

Introdução às relações internacionais: temas, atores


e visões
Autora : Cristina Soreanu Pecequilo
Editora : Vozes
Ano : 2012
Comentário : os capítulos 1 e 2 do livro discursam, de forma
didática, sobre o campo de estudo das Relações Internacionais,
sua área de atuação, sobre o sistema internacional e seus
atores.
Disponível na Biblioteca Virtual.

As Teorias Aplicadas nas Relações


Internacionais
Os Estados que compõem o cenário mundial são formados por inúmeras particularidades. Os
países possuem objetivos diferentes, enquanto nação, e visões distintas acerca de política
externa, economia internacional e diversos outros assuntos. Isso está vinculado às diferenças
de realidade que os Estados enfrentam, tanto em termos culturais como históricos, territoriais,
naturais etc. Desse modo, as Relações Internacionais, como campo de estudo representante de
todos os Estados, pautam-se, basicamente, em dois fundamentos básicos: o da cooperação e
do conflito. A partir desses fundamentos, surgiram diversas correntes teóricas que explicam as
Relações Internacionais baseadas em suas concepções acerca de elementos políticos, sociais,
culturais, econômicos e diplomáticos de seus atores e acontecimentos (PECEQUILO, 2012).
Dentre as teorias existentes nas RI, as mais citadas pelos estudiosos do tema são: o realismo, o
liberalismo, o institucionalismo, a Escola Inglesa, as teorias críticas e o construtivismo. A seguir,
essas teorias são resumidas:

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realismo : nascido no século XX, através dos trabalhos de Carr e Hans Morgenthau, o
realismo foi dominante nas RI durante muito tempo. Sua teoria é a mais conhecida e a
mais contestada, isso porque essa corrente acredita na existência de uma desigualdade
de distribuição de poder entre os principais atores do sistema internacional, os Estados,
causada pelo anarquismo da política internacional. Dada a ausência de um governo
internacional, a luta constante dos Estados é pelo poder, portanto, a segurança e a
independência territorial vivem sob ameaças constantes de guerras e invasões. Os
realistas acreditam muito pouco no cooperativismo, suas principais ideias de
funcionamento das RI são o grupismo, a anarquia, o egoísmo e a política de poder. Com o
fim da Guerra Fria, muitos aspectos do realismo estrutural não se confirmaram, e os
autores buscaram novas formas de interpretar as RI, mas que derivavam do realismo,
como: o realismo defensivo e o ofensivo, o neorrealismo e o realismo neoclássico (SILVA;
CULPI, 2017; MENDES, 2019);
liberalismo : o pensamento surgido entre os séculos XVI e XVII, apoiado nas ideias de
autores como John Locke, Montesquieu, Immanuel Kant e Adam Smith, tem, em sua
teoria, a principal crítica e alternativa ao realismo. O liberalismo se reestruturou e chegou
ao pós-Guerra Fria representado pelo pensamento de Moravcsik, de que os Estados
possuem suas características domésticas específicas, cultura política e institucional
significativas para a explicação de fenômenos internacionais. Opõe-se ao racionalismo na
medida em que não aceita que o objetivo único e principal de todos os atores do sistema
internacional seja a busca pela sobrevivência e pelo acúmulo de poder e riqueza. A crença
no Estado democrático e liberal projetou o desenvolvimento teórico do fenômeno da paz
democrática, ou seja, a ausência de guerra entre os estados democráticos (PEREIRA,
2016). Segundo Mendes (2019), Moravcsik passou a assumir que os três principais
pressupostos da teoria das RI liberal são: 1) a primazia dos atores societários: os
indivíduos e os grupos privados são os atores principais que tomam decisões de acordo
com as sociedades nacionais em que vivem; 2) as preferências e a representação dos
Estados: estes representam segmentos das sociedades internas que estabelecem seus
interesses, os quais serão levados em consideração na formulação de políticas públicas; 3)
o sistema internacional é caracterizado pela interdependência: existe interdependência
entre as preferências nacionais e o comportamento do Estado e os demais atores nas
relações internacionais;
institucionalismo : também conhecido como neoliberalismo, essa teoria foi
fundamentada em um período semelhante ao do realismo e compactua de algumas
opiniões racionais dessa outra teoria, mas com conclusões diferentes. A corrente
institucionalista acredita, como os realistas, que o Estado é o principal ator do sistema
internacional e que existe a anarquia e a competição egoísta entre os atores. Contudo,
aceita que a cooperação pode ser um comportamento racional e a melhor maneira de
defender e maximizar os interesses dos Estados (SALOMÓN, 2016). Os institucionalistas
defendem que as instituições, tidas como um conjunto de normas e práticas que

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influenciam o comportamento dos atores, são capazes de ultrapassar a incerteza da


anarquia, a qual, geralmente, impede a cooperação. Desse modo, acreditam que as
instituições são atores decisivos e a institucionalização das relações internacionais é um
fenômeno importante para sua compreensão (MENDES, 2019);
Escola Inglesa : conhecida por seu caráter normativo, a Escola Inglesa teve origem nos
pensamentos de Hedley Bull e Martin Wight e, por alguns estudiosos, ela é interpretada
como uma teoria intermediária entre o realismo e o liberalismo (PEREIRA, 2016). Segundo
Silva e Culpi (2017), a Escola Inglesa esforça-se para ser uma abordagem pluralista,
tentando não se apoiar, apenas, em uma visão teórica para explicar a realidade. Assim,
essa escola se distingue das abordagens americanas, que são dominantes, e assume
papel de destaque entre as escolas europeias, tida como a mais evoluída no sentido de
pensar o Estado, o poder e as relações internacionais. Seus principais conceitos estão
focados na ordem, na sociedade internacional e na relação entre normas e anarquia.
Assim, a teoria enfatiza a interpretação histórica da evolução da sociedade internacional,
sua construção jurídico-normativa e a construção filosófica do equilíbrio entre o poder das
nações e a ética global nas RI. Existem três orientações básicas dessa teoria: a estrutural, a
funcional e a histórica. A primeira preocupa-se com o estudo da estrutura das RI, a
segunda analisa as principais funções das instituições das sociedades internacionais e a
terceira preocupa-se em entender a evolução histórica das estruturas e instituições das RI;
teorias críticas : são um conjunto de teorias que formam uma crítica ao pensamento
mainstream e aos modelos empiristas e positivistas das ciências naturais nas análises das
Relações Internacionais. Pautadas em pensamentos marxistas e neomarxistas, as teorias
críticas questionam o interesse simples e puramente técnico dos cientistas e estabelecem
escolhas normativas que buscam a construção de soluções alternativas e emancipadoras
para o constrangimento de liberdade e justiça da ordem dominante. A partir da década de
1980, as RI tiveram uma grande disseminação de teorias críticas pautadas, em grande
medida, no pensamento de Robert Cox (1981). O autor afirma que as teorias dominantes
tendem a naturalizar o mundo, olhando para a ordem internacional como fenômenos da
natureza, que são predeterminados e sem possibilidade de mudanças estruturais. A visão
predominante objetiva solucionar pequenos problemas apenas, sem modificar, de forma
drástica, a ordem internacional, suas instituições e as relações de poder que dela
emergem. As teorias críticas, ao contrário, encontram, na visão de Cox, o lema: não basta
explicar o mundo, é preciso mudá-lo. Sua abordagem é reflexiva, historicista e olha, de
forma holística, para os fundamentos da ordem internacional. Entendem que os
fenômenos do mundo não são naturais e imutáveis, mas um processo histórico dinâmico.
Portanto, o egoísmo, as desigualdades e as inseguranças não são naturais, mas produto
desse processo histórico (MENDES, 2019);
construtivismo : também chamado de construtivismo social, essa teoria emergiu na
década de 1980 no âmbito das RI, apoiada nas ideias de realidade social desenvolvidas
por disciplinas como a sociologia e a filosofia (SALOMÓN, 2016). É uma teoria que se aplica

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a todas as relações sociais, presente em todos os processos que originam as instituições e


as regras da vida social. Desse modo, considera não apenas os fatores materiais, mas
também as ideias e o conhecimento. Logo, no âmbito das RI, o construtivismo entende
que devem ser focos de análises: “a cultura política e social, a identidade e as normas que
condicionam o comportamento dos atores nas relações internacionais” (MENDES, 2019, p.
110). Essa teoria estuda a mudança e a historicidade das ordens internacionais, ou seja,
diferentemente do realismo, entende que a mudança nas RI não resulta de alterações dos
fatores materiais apenas, mas, sobretudo, dos fatores ideacionais, sociais e normativos.
Como visto, diversas são as teorias que formam, hoje em dia, o campo de estudos das Relações
Internacionais. Algumas divergem mais que outras entre si, mas todas contribuíram de alguma
forma para a consolidação desse campo de estudos nas Ciências Sociais.
A pesquisa de Mendes (2019) realizou uma avaliação do progresso das principais teorias das
Relações Internacionais. O estudo consiste em um debate atualizado sobre a importância das
teorias em Relações Internacionais.

Direito Internacional e os
Conflitos Internacionais
O Direito Internacional tem o seu surgimento datado a partir do Tratado pela Paz de Vestfália,
em 1648, época em que emergem o Estado-nação moderno e a noção de soberania estatal.
Contudo, é inegável sua utilização pelos povos desde a Antiguidade, que, nesse período, já
estabeleciam relações exteriores. Embora o Direito Internacional não tenha o mesmo poder de
coerção interno aos Estados, seus princípios e normas são aceitos quase que universalmente e
incidem sobre os Estados e os organismos internacionais.
Segundo Novo (2018), o Direito Internacional pode ser entendido como um conjunto de normas
que regula as relações externas entre os atores da sociedade internacional. Dessa maneira, o
Direito pode ser objetivo ou subjetivo, o primeiro compreende os princípios de justiça que
regulam as relações entre os povos, enquanto o segundo é aplicado através de acordos entre
os sujeitos. Pode ser, ainda, classificado como Direito Internacional Público ou Privado, o
Público trata dos direitos e deveres entre os Estados, enquanto o Privado estabelece a
aplicação de leis civis, penais ou comerciais de um Estado sobre atores particulares, cidadãos
ou empresas, de outro Estado.
Desse modo, o Direito Internacional é um importante ator no processo de conflitos
internacionais. Assim como a vida em sociedade é marcada por episódios frequentes de

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conflitos entre pessoas, o Direito Internacional é um importante fator de resolução de conflitos


entre atores internacionais. Essas divergências internacionais podem ser definidas como
desacordos, sobre certo ponto de direito ou de fato, ou oposições de interesses, entre dois ou
mais Estados ou entre Estados e Organizações Internacionais. É importante estabelecer que,
até o início do século XX, a guerra foi uma opção legítima de defesa ou de resolução de disputa
entre os Estados. Assim, a guerra foi tida como um ilícito internacional somente após as guerras
mundiais e os extremos estragos causados por conflitos que ocasionaram a dizimação da
humanidade e danos irreparáveis na infraestrutura dos países (CAVALCANTE, 2005).
No pós-Segunda Guerra Mundial, a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) foi
fundamental para a área dos conflitos internacionais (CAVALCANTI, 2005). A Organização
lançou a Carta das Nações Unidas, um documento que deixava claro o repúdio à guerra como
resolução de quaisquer controvérsias entre Estados ou entre Estados e Organismos
Internacionais. Segundo Cavalcante (2005), para além de apresentar o seu repúdio, a carta da
ONU estabeleceu a criação de diversos meios pacíficos de resolução de conflitos, que, apesar
de não terem sido suficientes para evitar o acontecimento de novos confrontos armados no
mundo, foram extremamente eficientes na redução e interdição de outras controvérsias.
Portanto, ressalta-se o papel da ONU na interdição de novas guerras e na criação de meios
pacíficos para a resolução desses conflitos que emergem na sociedade constantemente.

LIVRO

Direito internacional público


Autor : Marcelo Dias Varella
Editora : Saraiva Educação
Ano : 2018
Comentário : o primeiro capítulo do livro aborda as noções
gerais do Direito Internacional público, traçando suas principais
características, atores e sujeitos.
Disponível na Minha Biblioteca.

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As Soluções Pacíficas de Conflitos


Internacionais Aplicadas pela
ONU
A história mundial registra uma grande série de guerras e conflitos armados entre os Estados,
controvérsias que derivam de diversas questões, mas, sobretudo, em função da imposição de
poder dos países mais fortes aos mais fracos. Contudo, ao longo do tempo e depois de duas
grandes guerras mundiais que acabaram com parte da população e com parte da estrutura
social, física e cultural das sociedades, a maior parcela do mundo decidiu que seria mais
prudente para as nações a resolução de suas controvérsias por vias pacíficas. Desse modo,
desenvolveram-se, principalmente ao longo do século XX, tratados multilaterais de ordem
mundial e regional para encontrar os mecanismos de solução pacífica das controvérsias:

[...] pode-se citar a Convenção de Haia para a Solução Pacífica de Conflitos


Internacionais de 1899, a segunda Convenção de Haia para a Solução Pacífica
de Conflitos Internacionais de 1907 e o Ato Geral para a Solução Pacífica de
Controvérsias Internacionais em 1928, mais conhecido como Ato Geral de
Arbitragem de Genebra, sob a égide da Liga das Nações. Em nível regional é
válido mencionar, no continente americano, o Tratado Interamericano sobre
bons Ofícios e Mediação de 1936 e o Tratado Interamericano de Soluções
Pacíficas de Litígios de 1948, denominado Pacto de Bogotá (CAVALCANTE, 2005,
p. 2).

É no cenário pós-Segunda Guerra Mundial que emerge a figura da ONU, uma organização
internacional concebida com o objetivo principal de criar e colocar em prática mecanismos que
possibilitem, ao mesmo tempo, a segurança internacional, a definição de leis internacionais, o
desenvolvimento econômico dos países, o respeito aos direitos humanos e o progresso e a
soberania social. Assim, em 1945, a Carta das Nações Unidas foi assinada ao término da
Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, criando, formalmente, a
Organização das Nações Unidas (CAVALCANTI, 2005). O principal foco no momento era evitar a
ocorrência de uma nova guerra mundial, estabelecendo um clima de paz entre as nações e
promovendo, sobretudo, os direitos humanos, para prevenir que outro genocídio como o
holocausto ocorresse novamente (ONU, 1945).
No capítulo VI, artigo 33, da Carta assinada pelas Nações Unidas, estão dispostas as soluções
pacíficas de controvérsias:

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1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz
e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução
por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial,
recurso a organismos ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico
à sua escolha.
2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar necessário, as referidas
partes a resolver, por tais meios, suas controvérsias (ONU, 1945, p. 25).

De acordo com Rezek (2005), a divisão doutrinária classificou os meios pacíficos de resolução
das controvérsias entre: Meios Diplomáticos, Meios Políticos e Meios Jurisdicionais. A seguir,
são caracterizados esses meios de acordo com as resoluções pacíficas adotadas,
principalmente, pela ONU e por demais organismos internacionais:
Meios Diplomáticos: consistem na resolução de conflitos por meio da negociação direta
entre os agentes participantes da controvérsia, ou, ainda, com a participação de um
terceiro, mas sem caráter impositivo. As formas de resolução diplomática são:

● entendimento direto: também conhecida como negociação direta, esse é o


mecanismo mais simples de solução de controvérsias. Ele ocorre quando os
Estados buscam o entendimento de forma direta, sem a interferência de
terceiros;
● bons ofícios: nesse caso, existe um sujeito terceiro, que não conhece a causa
da desavença, mas que tende a fazer a aproximação entre as partes de forma
amigável, pois os envolvidos não estão em condições de negociar devido aos
desentendimentos e às desconfianças mútuas;
● sistema de consultas: nesse caso, ocorre um “entendimento direto
programado”, ou seja, não há intervenção de terceiros na mediação do conflito,
apenas consiste em encontros agendados previamente, geralmente, previstos
em tratados, em que as partes levantam os temas do confronto para tentar
encontrar soluções pacíficas para os conflitos;
● mediação: muito parecida com os bons ofícios, a mediação ocorre através de
um terceiro que se oferece para solucionar a controvérsia internacional de
outras partes. Nesse caso, o mediador tem conhecimento dos fatos que
originaram a controvérsia e participa das negociações ativamente;
● conciliação: meio pelo qual um terceiro, estranho ao conflito, propõe às
partes envolvidas uma solução que abranja os interesses de ambos os
envolvidos no conflito. A conciliação pode exibir elementos políticos ou
jurídicos, mas é comum existirem, além do conciliador, outros envolvidos
representantes das partes envolvidas e outros agentes neutros ao conflito;
● inquérito: embora o inquérito não tenha o intuito de propor soluções, ele é
uma preliminar de todos os procedimentos (diplomáticos, políticos e
jurisdicionais). Esse meio tem propósito investigativo apenas e, para isso,

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convoca uma comissão formada por representantes das partes conflitantes e


investigadores imparciais e apura os fatos controversos que serão importantes
para a resolução posterior do conflito.

Meios Políticos: esses meios de resolução de conflitos internacionais são caracterizados


pelo uso de instituições intergovernamentais dos Estados envolvidos para determinar
uma via conciliatória de resolução da controvérsia. Geralmente, os meios políticos são
acionados quando as partes envolvidas estão na iminência de uma guerra, e os órgãos
políticos ou as organizações intergovernamentais podem agir contra uma das partes ou
contra ambas as partes. São exemplos de soluções por meios políticos:

● Assembleia Geral da ONU e Conselho de Segurança: muito utilizados quando


há a iminência de uma guerra, principalmente, o Conselho de Segurança, que
está mais disponível e conta com meios mais eficazes de ação para os conflitos
imediatos. Nesse caso, os meios políticos devem investigar, discutir e expedir
recomendações para a solução do conflito, mas a solução, em geral, é
provisória, pois a não obediência de suas recomendações não configura ato
ilícito pelos Estados, que são soberanos para agir como quiserem;
● demais esquemas regionais especializados: essas organizações de alcance
regional são órgãos, além da ONU, que podem interferir através da expedição
de recomendações aos Estados envolvidos, que, do mesmo modo, não são
obrigados a acatar suas decisões. São exemplos dessas organizações: a
Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Liga dos Países Árabes.

Meios Jurisdicionais: são meios que diferem dos anteriores, pois eles emitem decisões
obrigatórias, ou seja, qualquer forma de resistência das partes envolvidas no conflito que
indique que elas não irão seguir a sentença configura um ato ilícito internacional. A busca
de solução do conflito ocorre conforme o direito vigente. São exemplos de soluções por
vias jurisdicionais:

● arbitragem: nesse meio, é escolhido um julgador que funcionará como


árbitro, selecionado pelas partes envolvidas no conflito. Esse árbitro é escolhido
entre as pessoas capacitadas e qualificadas para atuarem como tal. Cada
Estado envolvido na controvérsia descreve a matéria que ocasionou o litígio,
delimita o direito a ser aplicado e determina os prazos e as regras a serem
seguidos. A arbitragem conta, ainda, com um compromisso arbitral entre os
países envolvidos, que é configurado por um contrato bilateral em que as
partes se obrigam a cumprir todas as determinações necessárias;
● solução judiciária: esse meio tem alcance mundial, atinge Estados,
empresas, entidades do direito público e indivíduos particulares. Assim como a
arbitragem, precisa ser requisitada pelas partes e, por isso, possui caráter

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definitivo e obrigatório. Essa aceitação pelos Estados exercida previamente


pode se dar por meio de tratados bilaterais, quando as partes entram em
acordo para se submeter ao julgamento da corte, ou podem combinar para
que, quando houver ocorrência de litígio, qualquer uma das partes recorra. A
solução judiciária é exercida pelas cortes internacionais permanentes, como
por exemplo, a Corte Internacional de Haia, que é o maior tribunal
internacional atual, de alcance mundial.

Desse modo, encerram-se as diversas resoluções de soluções pacíficas apresentadas ao longo


do tempo pelos Organismos Internacionais, a fim de evitar guerras e outros conflitos armados
que eram comuns até o início do século XX.

LIVRO

Direito internacional público: curso elementar


Autor : Francisco Rezek
Editora : Saraiva
Ano : 2005
Comentário : a parte 4 do livro apresenta, de forma didática, o
assunto “conflitos internacionais”, trazendo as diversas formas
de resolução pacífica para eles.
Disponível na Minha Biblioteca.

As atuais tendências das


Relações Internacionais
As Relações Internacionais, com a criação da ONU, conquistaram, em certa medida, seu
objetivo principal que era reduzir o número de confrontos armados e de guerras no mundo
através do incentivo à resolução de conflitos internacionais por meios pacíficos. Contudo, existe

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uma série de problemas ainda que dizem respeito às RI. A globalização foi um fenômeno que
traduziu para o mundo a centralização do mercado, de suas leis e de seus princípios. Se, por
um lado, ela aproximou as pessoas e incentivou a produção e a tecnologia, por outro, ela
massificou a cultura, deu supremacia ao capital financeiro e fez desaparecer as singularidades
nacionais (SEITENFUS, 2013). Assim, os Estados reduzem sua soberania cada dia mais,
sucumbindo ao poder das transnacionais. Enquanto isso, a globalização se expandiu pelos
países desenvolvidos e deixou o grande questionamento nas nações pobres que sofrem, ainda,
com conflitos derivados da fome, da desigualdade e da pobreza: globalização para quem?
Desse modo, é certo que a globalização trouxe diversas consequências sociais que, ainda, são
pautas dos estudos das RI hoje em dia. Além disso, o Estado de bem-estar social que vigorou
em países do continente europeu e nos Estados Unidos, prestando assistencialismos que
garantiam padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos
os cidadãos, começou a ruir no fim dos anos 1960. Tudo isso, junto à mundialização do
pensamento neoliberal que causou ainda mais dependência aos países periféricos, foi
responsável pelo aumento da desigualdade, da fome, da pobreza e de um crescente número de
conflitos sociais em diversas nações.
Então, as Relações Internacionais voltaram seus estudos para as consequências desses
fenômenos no mundo, para a integração regional e a criação de blocos comerciais, para o
desafio do desenvolvimento, sobretudo, dos países periféricos, para os impactos do terrorismo
e para os conflitos internacionais que se sustentam ainda (PECEQUILO, 2012; SEITENFUS, 2013).
Alguns exemplos desses conflitos são: guerras civis na Síria, Líbia, Iêmen e Sudão do Sul;
disputas territoriais entre Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina; guerras entre Estados que não
cessaram de vez ainda, como nas Coreias e entre a Índia e o Paquistão na disputa pela
Caxemira etc. A maioria dos conflitos se estendem por países subdesenvolvidos das regiões da
África e do Oriente Médio.
No Sudão, há 50 anos, desenvolve-se uma guerra civil. Ela tem como traços as controvérsias
étnicas, religiosas e raciais. A covid-19, somando-se a outros problemas e sanções impostas
previamente a essa nação do Oriente Médio, pode incorrer em mais crises humanitárias
provenientes da fome, por isso, a ONU deve intervir.
Portanto, observa-se que as tendências das RI não param de ser atualizadas, o campo de
estudo dessa disciplina evolui constantemente e se modifica conforme o mundo também
muda. Dessa forma, as Relações Internacionais podem ser consideradas uma disciplina
necessária e extremamente importante para os debates do mundo atual.

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LIVRO

Relações internacionais
Autor : Ricardo Seitenfus
Editora : Manole
Ano : 2013
Comentário : a parte 3 do livro discute as principais tendências
de estudo das Relações Internacionais na atualidade.
Disponível na Minha Biblioteca.

Conclusão
As Relações Internacionais emergiram enquanto campo de estudo, após cenários de destruição
e conflitos armados em períodos anteriores ao início do século XX. As guerras mundiais, o
Holocausto e as diversas tragédias, que dizimaram parte da humanidade e a infraestrutura
social e física dos países, mostraram aos líderes das diversas nações que as guerras não
poderiam mais ser uma alternativa para a resolução das controvérsias mundiais. Pautado em
diversas outras disciplinas das Ciências Sociais, esse campo de estudo desenvolveu-se ao longo
dos anos e tornou-se essencial para o exame das relações entre os diversos Estados.
Para além dos conflitos entre os Estados, as RI lançam a atuação em outros fenômenos e
acontecimentos mundiais, estudando fatores como globalização, direitos humanos,
desenvolvimento dos países, soberania nacional, sustentabilidade etc. Tudo isso com base em
teorias que foram se desenvolvendo ao longo do tempo nessa área de atividade. Também, foi
importante a criação de Organismos Internacionais como a ONU, que tem papel fundamental
para as RI e, junto ao Direito Internacional, propôs diversos meios pacíficos de solução de
conflitos internacionais, reduzindo, ao longo do tempo, as reações bélicas e os conflitos
armados entre os países. Assim, com a contribuição dos diversos atores do sistema
internacional, as Relações Internacionais avançam enquanto campo de estudos e se tornam
mais presentes e importantes para o desenvolvimento mundial.

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https://jus.com.br/artigos/70769/o-direito-internacional . Acesso em: 28 mar. 2020.
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PECEQUILO, C. S. Introdução às Relações Internacionais : temas, atores e visões. Petrópolis:
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