Livro Identidades e Territórios - Araujo e Haesbaert
Livro Identidades e Territórios - Araujo e Haesbaert
Livro Identidades e Territórios - Araujo e Haesbaert
Organizadores
Frederico Guilherme Bandeira de Araujo
Rogério Haesbaert
Autores:
Amélia Cristina Alves Bezerra
Eber Pires Marzulo
Frederico Guilherme Bandeira de Araujo
Rogério Haesbaert
Valter do Carmo Cruz
L22
Identidades e territórios : questões e olhares contemporâneos / organizadores
Frederico Guilherme Bandeira de Araujo,
Rogério Haesbaert ; autores, Amélia Cristina Alves Bezerra... [et al.]. - Rio de Ja-
neiro : Access, 2007.
136 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-86575-48-8
1. Geografia política. 2. Identidade social. 3. Territorialidade humana. 4. Civilização
moderna. 5. Pós-modernismo. I. Araujo, Frederico Guilherme Bandeira de, 1948-.
II. Costa, Rogério H. da (Rogério Haesbaert da), 1958-.
07-1078 CDD: 320.12
CDU: 911.3:32
001092
Apresentação, p. 7
Introdução, p. 9
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“IDENTIDADE” E “TERRITÓRIO”
ENQUANTO SIMULACROS DISCURSIVOS
Introdução
Uma questão de identidade entre os Homens, seja ela qual for, con-
cernente ao indivíduo em si mesmo ou a seus vínculos com outros indivíduos,
enquanto propriamente um problema a ser enfrentado, é algo que só adquire
significado no mundo moderno. Isto por que, na tradição antecedente a suposta
determinação da ordem transcendente sobre o mundo desfaz a base a qualquer
problematização do gênero, por esgotar imediatamente a mínima suspeição de
controvérsia sobre o estabelecido através de explicação fundada na idéia de
afirmação da vontade divina.
A modernidade nascente, laica em seu modo de pensar o mundo, dá
origem à constituição problemática de três identidades básicas que assumem o
papel de matrizes ao domínio geral dos processos identitários: as de indivíduo,
classe e nação. Não obstante esse desenho originário, na contemporaneidade
essas matrizes encontram-se em crise, por um lado, pela exacerbação do próprio
princípio filosófico regente do mundo moderno – o princípio da liberdade da
subjetividade, nos termos de Hegel; por outro, por esgotamento ou desvio em
relação a fundamentos que, apoiados naquele princípio regente, constituem
um leito regulador à modernidade – os fundamentos ético-políticos emanados
do Iluminismo.
O desenvolvimento deste trabalho contou com a colaboração essencial dos participantes do
Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura (GPMC), do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
e Regional (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no período 2004-2005. Em
particular, quero destacar e agradecer as contribuições das doutorandas Denise Teixeira Nogueira e
Maria Regina Petrus, do mestrando André Dumans Guedes, e dos estagiários de iniciação científica
Luciano da Silva Barboza e Ricardo Oliveira Barros Filho. Não obstante, como de praxe, a responsa-
bilidade pelas afirmativas aqui contidas é inteiramente minha.
. “Matriz” entendida como campo de significação.
. Cf. HABERMAS, 1992.
. HABERMAS, 1992, considera que esses fundamentos constituem o “projeto” da modernidade.
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. Já em Heráclito (séculos VI / V aC), lógos aparece como a “razón universal que domina el mundo
y que hace posible un orden, una justicia y un destino”, sendo que, correlativamente, o saber “con-
siste principalmente en conocer esta razón universal que todo lo penetra y en aceptar sus justas
decisiones” (MORA, 1994, p. 2203). Ao longo da cultura grega, pré e pós-socrática, todavia, a idéia
se traduziu não só como razão, mas também enquanto palavra, expressão, pensamento, discurso,
fala, verbo, inteligência, e, inclusive, diretamente como conceito. Na síntese de François Châtelet,
lógos tem três acepções polares: inicialmente é palavra com sentido, ou seja, aquela que, distinta-
mente de um som qualquer (phonê), quando enunciada, “suscita uma reação, uma representação,
uma adesão ou uma recusa”; posteriormente, o entendimento expande-se para conjunto, dotado
de sentido, formado por palavras em si portadoras de sentido; finalmente, adquire o significado
daquilo que “em nós, permite-nos ligar diversas frases com sentido para fazer uma demonstração
de conjunto com sentido” (CHÂTELET, 1994, p. 25).
. MORA, 1994, p. 2203.
. Conforme expresso na República (PLATÃO, 1997).
. “... se o universal existe apenas no espírito humano, sob a forma de conceito, ele não é criação
subjetiva: estaria fundamentado na estrutura mesma dos objetos que o sujeito conhece a partir da
sensação. Os conceitos reproduziriam não as formas ou idéias transcendentes ao mundo físico,
mas sim a estrutura inerente aos próprios objetos ...” (PESSANHA,
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1991, p. XVIII).
10. “Cuando en la época moderna se ha acentuado el sentido de ‘logos’ como <realidad inteligi-
ble>, se ha suscitado sobre todo el problema _a la vez metafísico y gnoseológico_ del modo de
relación entre esta <realidad> y <lo dado>.” (MORA, 1994, p. 2204).
11. Em Kant, através da operação dos a priori como fundamentos ao entendimento; em Hegel,
através da suposição do mundo enquanto objetivação do Espírito.
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12. A referência diz respeito à obra de Wittgenstein “Investigações Filosóficas”, publicada origina-
riamente em 1953, após sua morte.
13. Nos parece adequado afirmar aqui que uma série de outros pensadores operou, desde antes da
publicação do Investigações Filosóficas em 1953, propositadamente ou não, trazendo maiores ou
menores contribuições, no campo crítico à fundamentação platônica a partir de enfoques centrados
na linguagem. Destacaríamos nesse campo, durante o século XX, Ferdinand de Saussure, Ernst
Cassirer e o próprio Wittgenstein do Tratado Lógico Filosófico.
14. Ambas as expressões aspeadas referem-se a “signo”, entendido aqui de modo mais largo do
que em Saussure, enquanto um tropo que diz respeito, ao mesmo tempo, a objeto, a significante, a
significado e a sentido, como esclarecido a seguir.
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18. Rigorosamente não cabendo mais sua designação como “problemática dos conceitos”.
19. Lingüística porque, nessa ótica, se reconfigura a problemática da relação com o mundo, agora
especificada enquanto relação de denotação, intrínseca ao signo, do significante com o objeto sen-
sível. Este, em si, também não é entendido como algo extra-lingüístico, na medida em que, por um
lado não pode ser considerado fora da trama sígnica, por outro, porque a própria percepção não
escapa às marcas do pensamento / linguagem.
20. Observe-se o caráter mais fluido do sentido (dado pela hiper-conotação constituída no campo
da inter-discursividade externa ao enunciado), em relação ao caráter mais rígido do significante e
do significado.
21. O que segue sobre a “reversão do platonismo” tem por referência o texto deleuziano “Platão e o
simulacro” (Apêndice I-1, DELEUZE, 1974).
22. O termo différance, como explicitado por Derrida, implica na consideração conjunta, como pos-
sibilidade, dos sentidos implícitos do verbo diferir (presentes tanto no francês quanto no portu-
guês): diferenciar (espacializar) e retardar (temporalizar). Cf. DERRIDA, 1968, 1995, 2004.
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Sobre identidade
No pensamento moderno, em uma semântica desencarnada, conceitu-
al, taxonomia, enquanto estruturação de sistemas de signos, diz respeito ao
agrupamento daquilo que é igual – ou melhor, daquilo que é reconhecido como
comum na multiplicidade e em meio à mudança – e à correlata separação des-
tes frente a seus diferentes. A positividade da igualdade suposta é dada pelo
fundamento lógico da não contradição24.
Essa suposição implica de modo imediato em três tipos de problemas
epistemológicos que se articulam: o da individuação, o da similitude e o da
23. DELEUZE, 1974, p. 267. Grifado no original.
24. A é A e não pode ser não-A ao mesmo tempo, sob todos os mesmos aspectos. Cf. LEIBNIZ,
1996, Cap. I.
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25. Cf. “Quarta Carta de Leibniz ou reposta à terceira réplica de Clarke”, LEIBNIZ, 1974a; LEIBNIZ,
1974b; e Cap. XXVII, Livro Segundo, LEIBNIZ, 1996.
26. LEIBNIZ, 1974c, p. 83.
27. Não haveria razão suficiente para a existência na natureza de dois seres que sejam indiscerní-
veis, posto que isto implicaria em que Deus e a Natureza estariam trabalhando sem razão por trata-
rem o um de modo distinto que o outro. Cf. “Quarta carta de Leibniz ...”, in LEIBNIZ, 1974a.
28. “Aristóteles diz: ‘Em sentido essencial, as coisas são idênticas do mesmo modo que são uni-
dade, já que são idênticas quando é uma só a sua matéria (em espécie ou em número) ou quando
sua substância é uma. É, portanto, evidente que a identidade de qualquer modo é uma unidade,
seja porque a unidade de refira a uma única coisa, considerada como duas, como acontece quando
se diz que a coisa é idêntica a si mesma’ (Met. V; 9; 1018 a, 7). Em outros termos, como diz ainda
Aristóteles, as coisas só são idênticas ‘se é idêntica a definição de suas substâncias’ (Ibid. X; 3; 1054
a, 34). A unidade da substância, portanto, da definição que a expressa é, sob este ponto de vista,
o significado da identidade. Deste mesmo ponto de vista, pode ser, como o nota Aristóteles, uma
identidade acidental como quando dois atributos acidentais, ‘branco’ e ‘músico’, por exemplo, se re-
ferem à mesma coisa, suponhamos; porém, esta identidade acidental não significa de modo algum
que o homem, em geral, seja branco ou músico (Ibid. V; 9; 1017 b, 27). Este conceito de identidade
como unidade da substância ou, (o que é o mesmo) como definição da substância, conservou-se e
ainda aparece em muitas doutrinas. Hegel o fez seu, definindo a essência como ‘identidade consigo
mesma’, e, conseqüentemente, a identidade como coincidência ou unidade da essência consigo
mesma (Enc. §§ 115 - 116). Tal conceito de identidade é, pois, análogo e correspondente à interpre-
tação do ser predicativo como inerência e da essência como essência necessária” (ABBAGNANO,
1970, p. 503).
29. KANT, 1994.
30. Cf. KANT, 1994: B316 / A261 até B320 / A264.
31. Cf. idem A281 / B337.
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Sobre território
Na perspectiva teórico-conceitual aqui desenvolvida, “território” é
entendido como uma taxonomia efetuada por agentes sociais – processo aqui
designado como “territorialização” – e objetivada através do referimento ge-
odésico relacional de signos. Tendo isso em conta, pode-se considerar que a
problemática aí compreendida é, ao longo da história ocidental, marcada em
determinadas dimensões por questões similares às concernentes à constituição
das classificações, ou seja, questões, como tratadas anteriormente, relativas à
não contradição dos idênticos e, por conseguinte, relativas à individuação, à
similitude e à permanência.
43. “Convencional”, portanto, enquanto artifício que se contrapõe a “real”. Em termos dessa catego-
ria (convenção), a idéia de real ou de verdade já aparece questionada explicitamente no pensamento
sofista. Para essa visão, a própria linguagem usada para dizer do mundo é resultado de convenções.
Assim, o “carácter aceptable de un enunciado, de una teoría o de una doctrina es función de las
convenciones de principio adoptadas, es decir, de que se haya llegado ... a un ‘acuerdo’ respecto a
ciertas ‘verdades’ básicas.” (MORA, 1994, p. 689).
44. A referência a isso são as concepções bakhtinianas de polifonia e polilinguagem (heteroglosia).
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45. Essa indicação e a descrição da estampa do escudo estão em JAEGER, 1989, p. 53.
46. As informações sobre o período de vida de Hecateu não são precisas. Vide CHÂTELET, 1983,
quadro sinóptico.
47. JAEGER, 1989, p. 305.
48. ARAUJO, 2003; VERNANT, 1990.
49. Convenientia designa uma semelhança por proximidade espacial que permite a comunicação, a troca,
a influência de paixões, energias, propriedades. Convenientia concerne a uma semelhança devida mais ao
ambiente comum aos objetos do que a eles em si; diz respeito à ordem da conjunção e do ajustamento ao
meio. Aemulatio é também pensada como uma forma de convenientia, mas que estabelece similitudes liber-
tas de qualquer amarra vinculada à distância ou ao posicionamento relativo. Atua por reflexão em círculos de
recíproca mudança, ignorando a extensão, o espaço. Já analogia é imaginada como certa síntese de aspec-
tos das duas noções anteriores: as semelhanças que opera transcendem ao espaço, mas são expressões de
ajustamentos, solidariedades, à maneira de convenientia; seu foco, todavia, são as relações constitutivas das
coisas. Simpatia tem como contraface antipatia. É concebida configurando uma semelhança sem nenhum
suposto; sua força também determina assimilações, simbioses, alterações no sentido da identidade única.
Assim sendo, antipatia funciona como uma saudável salvaguarda da diferença. É da tensão entre os dois
termos que se objetiva a existência singular. O par simpatia / antipatia como que envolve e suporta os outros
três fundamentos da similitude. Do mesmo modo que aemulatio e analogia, estabelece semelhanças “des-
prezando” tempo e espaço. Cf. FOUCAULT, 1992.
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Instigações
Como tratar, nos termos anteriormente descritos de construção sígni-
ca, da configuração de identidades entre indivíduos humanos e da respectiva
relação desse tipo de curso com o de territorialização? Objetivamente o que
se trata agora é de procurar compreender, em termos construcionistas, como
operar discursivamente em relação a questões de ordem identitária e territorial
através das categorias objeto, significante, significado e sentido, na busca do
entendimento do signo como síntese dessa quadra.
Tomemos como referência reflexiva o processo que diz respeito ao auto-
reconhecimento identitário na dimensão relacional55. Em primeiro lugar, é
necessário ter em conta que esse auto-reconhecimento, enquanto proclama-
ção de partilhas56 (éticas, estéticas, gnosiológicas), diz respeito à concordância
54. Cf. LEFEBVRE, 1974.
55. Nesse caso, cabe frisar, o papel de sujeito identitário se sobrepõe ao de objeto.
56. Entende-se aqui “partilha” como processo consciente e voluntário de comunhão de idéias, va-
lores e gostos.
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62. Esse tipo de remetimento, ainda que sem o caráter de operação mítica aqui tomado em conta,
é considerado por Bourdieu quando afirma que “As lutas a respeito da identidade étnica ou regional,
quer dizer, a respeito de propriedades (estigmas ou emblemas) ligadas à origem através do lugar de
origem e dos sinais duradoiros que lhes são correlativos, como o sotaque, são um caso particular
das lutas das classificações, lutas pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a conhecer e de
fazer reconhecer, de impor a definição legítima das divisões do mundo social e, por este meio, de
fazer e de desfazer os grupos.” (BOURDIEU, 1989, p. 113. Itálicos no original).
63. No sentido adotado por BOURDIEU (1989).
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64. Sobre este debate em torno da mobilidade e seus efeitos sociais na contemporaneidade, ver
URRY, 2000.
65. CASTELLS, 1998.
66. BENOIST, 1977, p. 13.
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6. (Não) Concluindo
Sem dúvida nossos processos de identificação social estão de forma cres-
cente revelando, na prática, o caráter sempre relacional e, pelo menos par-
cialmente, “híbrido” das identidades. No caso das identidades cuja coesão é
construída a partir (ou através) de referentes espaciais/territoriais zonais bem
delimitados, como as identidades de bairro (ou, em certos casos, de “guetos”79),
de regiões ou de Estados-nações, os processos de globalização trouxeram sérios
complicadores.
Com a globalização, não só muitas identidades envolveram-se num mo-
vimento mais aberto em termos de novas hibridações, como o próprio espaço
e o território passaram a ser construídos de forma muito mais múltipla e com-
plexa. Neste sentido, reconhecemos, analiticamente, que a construção de iden-
tidades territoriais envolve um movimento que vai da identidade ao território
e do território à identidade. Embora na prática estejam sempre articuladas de
forma concomitante e indissociável, alguns casos sugerem reconhecer o predo-
mínio de uma direção em relação à outra, sobretudo para enfatizar o papel das
representações territoriais nesses contextos.
Assim, no movimento liderado pela Liga Norte italiana pela autonomia
da “Padânia” temos claramente uma espécie de “imposição” de um território e,
com ele, de uma identidade territorial que, de outra forma, fora do sentido po-
lítico-estratégico com que foi proposta no interior do movimento, certamente
não se articularia. O mesmo vale para movimentos de menor amplitude e pre-
tensão “territorial” (em termos de autonomia), como os de formação de muitos
novos estados no Brasil.
O exemplo por nós trabalhado para o estado do São Francisco, no oeste
baiano80, é bem evidente desta “construção territorial” para a configuração de
uma identidade. Nestes casos a natureza “híbrida” da identidade é um pressu-
posto óbvio, tendo em vista que o próprio território, em termos dos novos limi-
tes propostos, ausente no “espaço vivido” dos grupos locais, nasce de um jogo
que mescla elementos de distintas matrizes e amplitudes geo-históricas.
Ao mesmo tempo em que, teoricamente, são vistas sempre como ine-
79. Falamos “em certos casos” porque, mesmo nos verdadeiros guetos o aparente territorialismo
identitário se confunde muitas vezes com processos dramáticos de “desidentificação”, especial-
mente entre os jovens.
80. HAESBAERT, 1996.
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. Cf. BERMAN (1987) FOUCAULT (1985, 1977), ARIÈS (1978), SIMMEL (1998), THOMPSON (1995),
DUMONT (2000), MARX (1979, 1977, s/d) e WEBER (2000).
. Cf. BOURDIEU (1997).
. Em especial em SIMMEL (op.cit.), THOMPSON (op.cit.) e POLANYI (2000).
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13. Ver em especial PERLMAN (2002), ZALUAR (1999), LINS (2000) e BARCELLOS (2003).
14. Cf. BOTT (1976).
15. Em ELIAS (Op.cit)
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3. A favela e a cité.
Sendo a família entendida enquanto rede social, será essa extensão da
organização social que norteia as indagações iniciais sobre o espaço praticado,
e pela prática, como expressão indissolúvel da criação do sentimento de per-
tencimento, também, do enraizamento socioeconômico. Espaço que assim se
torna território. Durante as entrevistas-testemunhos, muitas vezes, são aciona-
das outras relações institucionais, além da rede social familiar, em geral relativo
à outra época, a do Pós-Guerra, época das sociedades afluentes, de constitui-
ção de Estados nacionais afirmados internamente pela formação de uma classe
trabalhadora urbana polarizada pelo operariado industrial e uma classe média
forjada no interior das grandes estruturas corporativas ligadas ao capitalismo
monopolista.
As informações sobre a rede de relações com nítida polarização das fa-
mílias, pela própria definição daquelas investigadas a partir da 3ª e 1ª gerações
das mais antigas do Pavão-Pavãozinho, articulam, simultaneamente, uma rede
de informantes, todos com pelo menos um elo entre si, sendo que muitas famí-
lias estão bastante imbricadas, enquanto redes sociais de vizinhaça, hoje efeti-
vada nos contatos entre os membros da 3ª e 2ª gerações.
Essa construção da rede de informantes permite uma compreensão mais
nítida das transformações no interior das redes familiares imediatamente de
duas gerações e indiretamente de pelo menos três, porém sendo comum os re-
latos da 1ª geração se transformarem em testemunhos, cuja história de vida se
desenrola imediatamente associada aos ciclos econômicos e sua expressão espa-
cial, assim social, num movimento para trás que reitera a abordagem escolhida.
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Idosos socialmente
Idosos espacialmente isolados, jovens com
isolados, jovens sem pouca perspectiva de
5) Gerações perspectiva de trabalho, inserção profissional
nem manutenção da e manutenção dos
rede de amizade vínculos pela rede de
amizade
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Calendário
Tema das Espaços
de festas e Festas e Feiras
estas e feiras privilegiados
feiras
São João/ São
Pedro e Sto. An- Estação das
tônio. Festa onde Artes/ Igreja de
Mossoró Cidade
Junho é encenada a vi- São Vicente-
Junina
tória da cidade Área central da
sobre o bando de cidade.
Lampião.
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55. O título do livro elaborado por ARANTES, Otília & VAINER, Carlos & MARICATO, Ermínia, denomi-
na-se A cidade do pensamento único – Desmanchado consensos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
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TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E
LUTAS SOCIAIS NA AMAZÔNIA.
Identidade (...) Sempre que se ouvir essa palavra, pode-se estar certo
de está havendo uma batalha. O campo de batalha é o lar natural da
identidade. Ela só vem à luz no tumulto da batalha, e dorme e silencia
no momento em que desaparecem os ruídos da refrega.
(Zigmunt Bauman)
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. Idem, 1996.
. ESCOBAR, 1998.
. GONÇALVES (2005) usa essa expressão para chamar a atenção para a obsessão do imaginário
da modernidade pelo novo, pela velocidade, pela mudança, pelo progresso, criando uma justifica-
tiva ideológica para todas as formas de violência cometidas em nome do desenvolvimento e da
modernização.
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. HALL, 2004.
10. CASTELLS, 1993, p. 22
11. HALL, 2004.
12. Idem, 2004.
13. Idem, 2004, p. 108.
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Capítulo I
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