Acórdão Do Supremo Tribunal de Justiça - 21-06-2022

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14/01/24, 21:36 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 43/21.0YHLSB.L1-A.S1
Nº Convencional: 7.ª SECÇÃO
Relator: NUNO ATAÍDE DAS NEVES
Descritores: AUTORIDADE DO CASO JULGADO
QUESTÃO PREJUDICIAL
CASO JULGADO MATERIAL
PRESSUPOSTOS
IDENTIDADE SUBJETIVA
PEDIDO
CAUSA DE PEDIR
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
DECISÃO IMPLÍCITA
NULIDADE
ATO DE REGISTO
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
PROPRIEDADE INTELECTUAL
PRINCÍPIO DA NOVIDADE
DIREITOS DE AUTOR
Data do Acordão: 21-06-2022
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA (PROPRIEDADE INTELECTUAL)
Decisão: NEGADA
Indicações Eventuais: TRANSITADO EM JULGADO
Sumário :
I. O caso julgado material, como autoridade de caso julgado, pressupõe
sempre uma relação de prejudicialidade, no sentido de que o
fundamento da decisão transitada condiciona a apreciação do objeto da
ação posterior, sendo pressuposto necessário da decisão de mérito que
nesta venha a ser proferida.
II. A autoridade do caso julgado dispensa a verificação da tríplice
identidade requerida para a procedência da exceção dilatória, não
dispensando a identidade subjectiva (sendo as mesmas as partes em
ambas as acções, desde logo por exigência do princípio do contraditório
– art. 3º do CPC), o que significa que tal dispensa se reporta apenas à
identidade objectiva, a qual é substituída pela exigência de que exista
uma relação de prejudicialidade entre o objecto da segunda acção e o
objecto da primeira, ainda que parcial.
III. Não se verifica caso julgado “implícito” entre a decisão que
decretou a nulidade do registo de desenho/modelo nacional de que era
titular a Autora, resultante do vício concreto de falta de novidade e
singularidade, e a decisão da acção em que aquela mesma Autora visa o
reconhecimento da titularidade de direitos de autor e a criação
intelectual da obra, independentemente da existência de registo,
depósito ou qualquer outra formalidade, conforme o disposto nos
artigos 11º e 12º do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos
(CDADC).
IV. Estamos, assim, nesta e naquela acção, ambas protagonizadas pelas
mesmas partes, perante uma situação em que, na senda da defesa de
interesses patrimoniais de uma e de outra, são formulados pedidos
estruturalmente distintos, com base em pressupostos de facto e de

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direito perfeitamente diversos, não sendo configurável qualquer tipo de


prejudicialidade entre um e outro pleito.
V. Ao referir-se o tribunal, na acção de anulação do registo, à questão da
titularidade dos direitos de autor, fê-lo “a latere”, como mero obiter
dictum, sem qualquer interferência na resolução do litígio centrado na
nulidade do registo, nada permitindo que tal referência possa assumir
natureza prejudicial ou sequer que se encontre numa qualquer
dependência lógica com a decisão final a proferir na acção posterior em
que se visa a defesa dos direitos de autor e a criação intelectual da obra,
independentemente da existência de registo.

VI. O art. 91º nº 2 do CPC reporta-se a questões e incidentes julgados


numa acção anterior, que aí assumam natureza instrumental, e que
possam voltar a ser discutidos em ulterior pleito, já numa óptica de
questão essencial ou principal, mediante requerimento de julgamento
com tal amplitude, mediante o exercício amplo do contraditório, sem o
que a autoridade de caso julgado não pode operar.
Decisão Texto Integral:

1. J.C. Nascimento, L.da, com sede em Lagos instaurou, no Tribunal


da Propriedade Intelectual, contra Francisco Ribeiro & Filhos Lda.,
com sede no Funchal, a presente acção declarativa, com processo
comum, pedindo:
i. A condenação da Ré ao pagamento de uma indemnização por perdas e
danos resultantes da violação dos direitos de autor exclusivos do
desenho/modelo criado pela autora, sendo o valor de 151.851,60 euros
a título de prejuízo patrimonial por lucro cessante e 2.000,00 euros a
título de despesas com a identificação e averiguação do fenómeno da
violação dos direitos exclusivos;
ii. A apreensão de todas as bonecas copiadas, cujo desenho foi criação
exclusiva da Autora, à venda e nas instalações da Ré e dos seus clientes;
iii. A condenação da Ré numa sanção pecuniária compulsória, por força
do artigo 829º- A do Código Civil (doravante também CC), no valor de
100,00 euros por cada boneca existente no mercado, à venda ao
público, que seja uma cópia, imitação ou usurpação autoral da criação
da autora, levada a cabo pela Ré ou a pedido desta por intermédio de
terceiros fabricantes nacionais ou estrangeiros;
iv. A intervenção provocada subsidiária daqueles fabricantes, nos
termos e para os efeitos dos artigos 39.º e 316.º do Código de Processo
Civil (doravante também CPC), após implementação do dever
processual de colaboração e cooperação da ré na identificação dos
mesmos, sem prejuízo da condenação solidária.
Invocou, em síntese, como fundamentos da sua pretensão, que: os
desenhos/modelos das bonecas em litígio são criação artística da autora,
à qual cabe em exclusivo o direito de os fruir e utilizar; a autora é titular
do direito de autor sobre essa criação intelectual independentemente de
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registo, nos termos, nomeadamente, dos artigos 9.º, 11º e 12º do Código
de Direitos de Autor e Direitos Conexos (doravante também CDADC);
não obstante, a ré utiliza o desenho/modelo das bonecas, imitando-as,
reproduzindo-as e comercializando-as, sem autorização da autora e
causando a esta prejuízos no seu giro comercial.
2. A Ré contestou:
i. Impugnando a protecção jusautoral invocada pela autora;
ii. Deduzindo a excepção de caso julgado com base em decisão anterior
já transitada, nomeadamente, a proferida no processo n.º
167/17.9YHLSB do 1.º Juízo do Tribunal da Propriedade Intelectual;
iii. Deduzindo reconvenção na qual pede a condenação da autora a
pagar à R. quantia de 37.857,58 Euros acrescida de juros legais,
contados desde a data em que a ré foi impedida de comercializar os
produtos em causa, com base nos danos causados pelos processos
judiciais que tiveram origem na conduta da autora e levaram à
apreensão da mercadoria da ré;
3. Pedindo a condenação da autora como litigante de má-fé, em multa e
indemnização condigna a favor da ré.
4. A autora replicou, pugnando pela improcedência, tanto da excepção
de caso julgado, como da reconvenção.
5. O Tribunal da Propriedade Intelectual, por despacho saneador de
22.9.2021, decidiu:
i. Não admitir a reconvenção por considerar que a mesma não se
enquadra em nenhuma das possibilidades previstas no artigo 266.º do
CPC;
ii. Verificar que as partes tiveram oportunidade de se pronunciar e
tomaram posição sobre as exceções e questões suscitadas;
iii. Julgar que, em face do teor dos articulados e documentos juntos, não
há necessidade de dar cumprimento ao disposto no n.º 2, do artigo 590.º
do CPC;
iv. Dispensar, com esses fundamentos, a realização de audiência prévia,
por força do artigo 593.º, n.º 1, do CPC, e proferir de imediato o
despacho a que alude o artigo 595º do CPC;
v. Decidir que o Tribunal é competente, o processo é o próprio, não
existem nulidades que o invalidem, as partes têm personalidade e
capacidade judiciárias e são legítimas;
vi. Julgar verificada a exceção de caso julgado e, em consequência,
absolver a ré da instância.
vii. Condenar a autora em custas
viii. Fixar o valor da ação em 153.861,60 euros.
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6. Desta decisão foi interposto recurso de apelação independente pela


Autora e recurso subordinado pela Ré, vindo a ser proferido Acórdão
pelo Tribunal da Relação de Lisboa que decidiu nos termos seguintes:
I. Revogar o despacho recorrido substituindo-o por outro que admite a
reconvenção e julga improcedente por não provada a excepção dilatória
de caso julgado.
II. Ordenar a baixa do processo para que os autos prossigam para os
fins previstos no artigo 593.º n.º 2 do CPC e subsequente conhecimento
do mérito da causa.
7. É deste Acórdão que a Ré reconvinte interpõe recurso de revista,
oferecendo as suas alegações e assim concluindo:
1. A excepção de caso julgado suscitada nos autos, devidamente
comprovada, foi considerada, e bem, procedente pela 1ª Instância,
estando evidenciado que a prova já produzida e a avaliação judicial do
modelo em causa afasta, de todo, qualquer propriedade intelectual,
designadamente em sede de direitos de autor, por ser manifesta a falta
de “criação artística” passível de tal tutela.
2. Admitindo, sem conceder, que o decidido pelo Acórdão da Relação
de Lisboa, de 02-05-2019 – Proc. nº 167/17.9YHLSB, não possa ser
tomado como caso julgado expresso, relativamente ao decidido quanto
aos direitos de autor, sempre o decidido e confirmado pelo Acórdão do
STJ, de 30-04-2020, no mesmo processo, tudo confirmativo da sentença
da 1ª Instância, envolve, atentas as questões analisadas e decididas,
caso julgado implícito relativamente a pretensos direitos de autor a que
a recorrida se arroga.
3. O Acórdão recorrido decidiu mal a presente questão, ao revogar a
sentença da 1ª Instância e ao determinar a baixa dos autos para efeito de
fixação de temas da prova e realização de julgamento, que se afigura,
de todo, desnecessário, face aos anteriores julgados, e se apresenta
como risco a evitar, de duplicação e contradição de julgados,
desprestigiante dos Tribunais e causador de insegurança jurídica.
4. O Acórdão recorrido está em oposição com o Acórdão do STJ, de 14-
05-2014, Revista 120/13.1TTGRD-AC1S1, 4ª Secção, acessível em
www.dgsi.pt/jstjnsf, sobre a mesma questão fundamental de direito, ou
seja, sobre a admissibilidade do caso julgado implícito, relevante como
excepção que obste ao conhecimento da causa.
8. A Autora recorrida contra-alegou, culminando nos termos seguintes:
I - Ao contrário do que defende a RECORRENTE, o Douto Acórdão do
Tribunal da Relação de Lisboa decidiu, e bem, ao revogar o Despacho
Saneador-Sentença proferido pela 1ª Instância e determinar a descida
dos autos para prolação de Despacho Saneador. - Inexiste excepção de
caso julgado sempre que a versão e qualificação jurídica dos factos,
entre dois e mesmos sujeitos processuais, não é a mesma.

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II - A criação artística é uma componente do direito de propriedade


civilístico e não deve ser confundido com a propriedade industrial, cujo
escopo visa uma rentalização e utilização totalmente diferenciadas.
III - A utilização da motivação constante do acórdão proferido pelo
Tribunal da Relação de Lisboa no dia 2 de Maio de 2019 no âmbito do
processo n.° 167/17.9YHLSB, sobre a impossibilidade de a AUTORA
ora recorrida gozar de protecção jusautoral constituiu, por parte da 1ª
Instância, um alargamento dos efeitos do caso julgado aos motivos
daquele Acórdão.
III - A decisão incidental proferida pelo Tribunal da Relação de Lisboa
no dia 2 de Maio de 2019 e os seus efeitos extra-processuaís deveriam
ser analisados à luz do disposto no artigo 91° n° 2 do Código de
Processo Civil. O reconhecimento de que o decidido no Acórdão do
TRL de 02-05-2019 não é caso julgado expresso, relativamente à
matéria dos direitos de autor, acaba por configurar, por parte da
recorrente, uma «contraditio in adjecto”.
IV - Um dos objetivos do artigo 91.° n.° 2 do Código de Processo Civil
é garantir o princípio do contraditório [cfr. artigo 3.° n.° 3 do Código de
Processo Civil], relativamente ao uso, fora do processo, de decisões
sobre questões suscitadas pelo réu como meio de defesa ou apreciadas
incidentalmente no decurso da acção. De modo que só
excecionalmente, quando alguma das partes o requeira, é que a sentença
fará caso julgado quanto às questões mencionadas no artigo 91° n° 1 do
Código de Processo Civil.
V - O Acórdão recorrido demonstrou um profundo conhecimento das
matérias e, sobretudo, uma isenção e independência política, que levou
a questão para o foro judiciário concreto. O Acórdão recorrido conclui
que «Por último, resulta do artigo 621º do CPC, tal como é interpretado
pela doutrina acima citada, que a eficácia do caso julgado se limita aos
efeitos concretos que as partes tiveram realmente em vista quando
litigaram, respectivamente, em cada uma das ações anteriores, acima
referidas.
VI - Estender a força do caso julgado a factos apurados, situações, ou
relações jurídicas, pressupostas nas decisões proferidas nos processos
anteriores, como fez o despacho recorrido, terá por efeito alargar a
autoridade daquelas decisões a consequências que as partes não
previram».
VII - Bem andou o Tribunal da Relação de Lisboa ao revogar o
Despacho Saneador-Sentença, não permitindo o alargamento dos efeitos
do caso julgado a uma questão que não constituía causa de pedir, mas
foi, apenas e tão só, invocada como meio de defesa e apreciada
incidentalmente pelo Tribunal da Relação de Lisboa no Acórdão
proferido no dia 2 de Maio de 2019.
VIII - Quanto à verificação da tripla identidade [partes, causa de pedir e
pedido] exigida pelo artigo 581° do Código de Processo Civil para que
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se estar perante a exceção de caso julgado, o Tribunal da Relação de


Lisboa conclui que apenas se verifica a identidade das partes.
IX - Quanto à causa de pedir e ao pedido, no Processo n.°
167/17.9YHLSB estávamos perante uma ação anulatória, na qual a
causa de pedir consiste na nulidade específica invocada, não na
categoria ou tipo abstrato em que se integra tal nulidade.
X - Já nos presentes autos a causa de pedir consiste no facto jurídico de
que derivam os direitos de autor, nomeadamente a criação intelectual da
obra.
XI - Os efeitos concretos que a recorrida tem em vista na presente ação
são diversos daqueles que as partes tinham em vista nas demais ações,
nomeadamente com a questão de saber se desenhos/modelos não
registados também podem gozar de protecção jusautoral.
XII - Embora a causa de pedir consista nos factos alegados pelas partes,
independentemente da qualificação jurídica que estas lhes dão, os factos
que integram a causa de pedir são factos jurídicos ou o vício específico
invocado, conforme resulta do disposto no artigo 581.°. n.° 4. do
Código de Processo Civil.
XIII - Conclui o Tribunal da Relação de Lisboa que não se verifica a
identidade de causa de pedir e do pedido, motivo pelo qual a 1ª
Instância errou ao julgar verificada a exceção de caso julgado.
Termina no sentido da improcedência da revista e manutenção da
decisão recorrida, no segmento em que determinou a revogação do
despacho saneador-sentença proferido pela 1ª instância.
Cumpre decidir, tendo presente que são as conclusões das alegações
recursivas que delimitam o objeto do recurso, estando vedado ao
tribunal de recurso conhecer de matérias ou questões nelas não
incluídas, com excepção daquelas que são de conhecimento oficioso
(cfr. art. 635º nº 4, 639º nº 1, 608º nº 2, ex vi art. 679º, todos do CPC).
9. Objeto de recurso
O Tribunal de 1ª instância, da Propriedade Intelectual, pelo despacho
saneador de 22-9-2021, pôs termo ao processo, decidindo, no essencial,
o seguinte:
- “Não admitir a reconvenção por considerar que a mesma não se
enquadra em nenhuma das possibilidades previstas no artigo 266.º do
CPC;
- Verificar que as partes tiveram oportunidade de se pronunciar e
tomaram posição sobre as exceções e questões suscitadas;
- Julgar que, em face do teor dos articulados e documentos juntos, não
há necessidade de dar cumprimento ao disposto no n.º 2, do artigo 590.º
do CPC;

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- Dispensar, com esses fundamentos, a realização de audiência prévia,


por força do artigo 593.º, n.º 1, do CPC, e proferir de imediato o
despacho a que alude o artigo 595º, do CPC;
- Decidir que o Tribunal é competente, o processo é o próprio, não
existem nulidades que o invalidem, as partes têm personalidade e
capacidade judiciárias e são legítimas;
- Julgar verificada a exceção de caso julgado e, em consequência,
absolver a ré da instância.”
O Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 27-01-2022, que
julgou procedentes os recursos de apelação independente e subordinado
antes instaurados e, em conformidade, decidiu:
“I. Revogar o despacho recorrido substituindo-o por outro que admite a
reconvenção e julga improcedente por não provada a excepção dilatória
de caso julgado.
II. Ordenar a baixa do processo para que os autos prossigam para os
fins previstos no artigo 593.º n.º 2 do CPC e subsequente conhecimento
do mérito da causa.”.
10. Admissibilidade da revista
A recorrente Ré Francisco Ribeiro & Filhos, Lda. interpõe o presente
recurso de revista desta última decisão, invocando os fundamentos
previstos no art. 671º nº 2 al. a) e art. 629º nº 2 al. a) do CPC (ofensa do
caso julgado) e no art. 671º nº 2 al. b) do mesmo diploma legal
(oposição de julgados).
No que respeita à ofensa do caso julgado, como fundamento de recurso,
como se afirma nos acórdãos de 19-05-2020 (Revista n.º
6673/10.9TBCSC-D.L1.S1) e de 13-09-2018 (Revista n.º
679/14.6TBALQ.L1.S1), basta a possibilidade de a ofensa ocorrer para
que o recurso seja admissível.
No entanto, a admissão do recurso ao abrigo da al. a) do n.º 2 do art.
629.º do CPC, com fundamento na ofensa de caso julgado, tem como
consequência que o seu objecto fique circunscrito à apreciação da
questão que está na base da sua admissão, não podendo alargar-se a
outras questões (neste sentido, pronunciaram-se os Acórdãos do STJ de
04-07-2019, Revista n.º 1332/07.2TBMTJ.L2.S1, de 04-12-2018,
Revista n.º 190/16.0T8BCL.G1.S1 de 22-11-2018, Revista n.º
408/16.0T8CTB.C1.S1, de 18-10-2018 , Revista n.º
3468/16.0T9CBR.C1.S1, de 28-06-2018, Revista n.º
4175/12.8TBVFR.P1.S1, todos publicados em www.dgsi.pt).
No presente caso, revela-se indiscutível que a alegada ofensa do caso
julgado é decisiva para o pleito, porquanto determinante ou não da
apreciação do respetivo mérito.
Assim, afigura-se-nos que a revista é admissível pelo fundamento da
ofensa do caso julgado, não estando em causa o recurso de revista por
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oposição de julgados, impondo-se a sua admissão, nos termos do


disposto nos artigos 629.º, n.º 2, al. a) 631.º/1, 671.º/2, al. a), todos do
Código de Processo Civil, ficando prejudicado o conhecimento da
invocada oposição de julgados (art. 671º nº 2 al. b) do CPC),
consignada no ponto IV das conclusões de recurso, sendo certo que o
acórdão do STJ identificado se circunscreve à mesma problemática do
caso julgado e foi invocado de forma a suportar o entendimento
defendido pela Ré quanto à verificação de caso julgado implícito.
11. Thema decidendum
Tendo por base as conclusões do recurso de revista, importa desde já
apreciar a verificação da excepção de caso julgado, discutindo-se,
sobretudo, se o decidido no Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
de 02-05-2019 no âmbito do Processo n.º 167/17.9YHLSB se constitui
como caso julgado “implícito” relativamente à matéria de direitos de
autor que opõem as duas partes em litígio, ou de outra forma, saber se a
fundamentação relativa à matéria de direitos de autor ínsita no Acórdão
do Tribunal da Relação de Lisboa de 02-05-2019 no âmbito do
Processo n.º 167/17.9YHLSB releva para efeitos de caso julgado,
circunstância impeditiva do conhecimento de mérito da presente ação.
Vejamos:
12. Da exceção de caso julgado
Para aferir da verificação da excepção de caso julgado, importa aferir se
existe identidade de sujeitos, do pedido e da causa de pedir entre estes
autos e o processo n.º 167/17.9YHLSB, cuja certidão de decisão se
mostra junta aos autos (cf. art. 581.º do CPC).
Como é sabido, do caso julgado decorrem, essencialmente, dois efeitos,
a impossibilidade de qualquer tribunal voltar a pronunciar-se sobre a
questão decidida (efeito negativo ou exceção de caso julgado) e
vinculação do mesmo tribunal ou de outros tribunais à decisão proferida
(efeito positivo ou autoridade de caso julgado).
Com o caso julgado visa-se, essencialmente, assegurar a certeza e
segurança jurídicas que se afiguram indispensáveis à vida em
comunidade, impedindo a verificação de decisões judiciais
incompatíveis entre si, podendo ser material ou formal, conforme a
decisão verse sobre a relação material controvertida ou recaia sobre a
relação processual.
Revertendo ao caso dos autos, diremos que é manifesta a identidade de
sujeitos entre as duas acções, já que as partes são as mesmas sob o
ponto de vista da sua qualidade jurídica e ocupam a mesma posição na
relação jurídica em causa, sendo certo que não obsta à identidade das
partes a circunstância de aparecerem em posição processual inversa no
processo n.º 167/17.9YHLSB.
Já não assim quanto ao pedido e causa de pedir, que são, como
veremos, manifestamente distintos numa e noutra ação.
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Com efeito, quanto ao pedido, no Processo n.º 167/17.9YHLSB, foi


pela aí Autora (ora Ré) peticionada a declaração de nulidade do registo
do modelo ou desenho n.º 3223, respeitante a figuras representativas do
“vilão” e “viloa” da Madeira, o qual foi concedido à Ré por despacho
de 23.8.2013 do diretor do Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI).
Para tanto, alegou, em síntese, que os trajes típicos do “vilão” e da
“viloa”, que representam, respectivamente, o camponês e a camponesa
da Madeira estão, há largos anos, imortalizados, na literatura, pintura,
gravura, dança folclórica e emissões de selos, sendo que as vendedoras
de flores que existem em diversas praças do Funchal envergam o traje
regional da “viloa”; que também se fabricam as figuras do “vilão” e
“viloa” da Madeira, em louça, barro, vidro, bonecos, em diversas
formas e variados materiais e que a ré, porém, em 2013, procedeu ao
registo dos modelos e desenhos ao arrepio das normas reguladoras da
propriedade industrial, registo que, por isso, enferma de nulidade.
No âmbito de tal processo, o Tribunal da Relação de Lisboa, em
sintonia com a 1.ª instância, julgou a ação procedente e declarou a
nulidade do registo, tendo vindo a ser proferido o Ac. do STJ de 30-04-
2020, que decidiu negar a revista.

Diferentemente, nos presentes autos e com fundamento na violação de


direitos de autor, a ora Autora vem peticionar:
i. A condenação da ré ao pagamento de uma indemnização por perdas e
danos resultantes da violação dos direitos de autor exclusivos do
desenho/modelo criado pela autora, sendo o valor de 151.851,60 euros
a título de prejuízo patrimonial por lucro cessante e 2.000,00 euros a
título de despesas com a identificação e averiguação do fenómeno da
violação dos direitos exclusivos.
ii. A apreensão de todas as bonecas copiadas, cujo desenho foi criação
exclusiva da autora, à venda e nas instalações da ré e dos seus clientes;
iii. A condenação da ré numa sanção pecuniária compulsória, por força
do artigo 829-A do Código Civil (doravante também CC), no valor de
100,00 euros por cada boneca existente no mercado, à venda ao
público, que seja uma cópia, imitação ou usurpação autoral da criação
da autora, levada a cabo pela ré ou a pedido desta por intermédio de
terceiros fabricantes nacionais ou estrangeiros;
iv. A intervenção provocada subsidiária daqueles fabricantes, nos
termos e para os efeitos dos artigos 39.º e 316.º do Código de Processo
Civil (doravante também CPC), após implementação do dever
processual de colaboração e cooperação da ré na identificação dos
mesmos, sem prejuízo da condenação solidária.
Invocou, em síntese, como fundamentos da sua pretensão, que: os
desenhos/modelos das bonecas em litígio são criação artística da autora,
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à qual cabe em exclusivo o direito de os fruir e utilizar; a autora é titular


do direito de autor sobre essa criação intelectual independentemente de
registo, nos termos, nomeadamente, dos artigos 9.º, 11.º e 12.º do
Código de Direitos de Autor e Direitos Conexos (doravante também
CDADC); não obstante, a ré utiliza o desenho/modelo das bonecas,
imitando-as, reproduzindo-as e comercializando-as, sem autorização da
autora e causando a esta prejuízos no seu giro comercial.
Do exposto, resulta manifesto que a causa de pedir do processo n.º
167/17.9YHLSB. consiste na nulidade invocada do registo do
desenho/modelo nacional nº 3223 de que era titular a ora ré.
Já na presente ação, a causa de pedir consiste no facto jurídico –
criação intelectual da obra - de onde derivam os direitos de autor
invocados pela ora Autora, a que acresce o facto ofensivo do direito de
autor alegadamente praticado pela ré.
Por aqui, facilmente se conclui que não se mostra verificada, no caso,
a tríplice identidade de sujeitos, pedido e causa de pedir que permitiria
concluir pela procedência da invocada exceção de caso julgado.
13. Da autoridade do caso julgado / caso julgado “implícito”: do
alargamento do caso julgado à motivação da decisão final
Inexistindo identidade de pedidos e causa de pedir, importa analisar a
eventual verificação de exceção de autoridade de caso julgado.
Na definição dada por MANUEL DE ANDRADE, o caso julgado
material “consiste em a definição dada à relação jurídica controvertida
se impor a todos os tribunais (e até a quaisquer outras autoridades) –
quando lhes seja submetida a mesma relação, quer a título principal
(repetição da causa em que foi proferida a decisão), quer a título
prejudicial (acção destinada a fazer valer outro efeito dessa relação).
Todos têm que acatá-la, julgando em conformidade, sem nova
discussão”. ( Noções Elementares de Processo Civil ”, Coimbra
Editora; Coimbra, 1976, págs. 304 e segs).
TEIXEIRA E SOUSA admite a autoridade de caso julgado sobre os
fundamentos da decisão nos casos em que exista um relação de
prejudicialidade ou quando ocorram relações sinalagmáticas,
precisando que, nestes casos, não é a decisão, enquanto conclusão do
silogismo judiciário, que adquire o valor de caso julgado, mas o próprio
silogismo considerado no seu todo: o caso julgado incide sobre a
decisão como conclusão de certos fundamentos e atinge estes
fundamentos enquanto pressupostos daquela decisão. (“Estudos sobre o
novo Processo Civil”, Lex, págs. 578 e 580).
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA sustenta que “quando vigora como
autoridade de caso julgado, o caso julgado material manifesta-se no seu
aspecto positivo de proibição de contradição da decisão transitada: a
autoridade do caso julgado é o comando de acção ou a proibição de
omissão respeitante à vinculação subjectiva à repetição no processo

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subsequente do conteúdo da decisão antecedente” (“ Estudos sobre o


novo Processo Civil ”, Lex, Lisboa, 1997, págs. 572 e segs).
Já REMÉDIO MARQUES admite que os fundamentos de facto
adquirem o valor de caso julgado quando dizem respeito a relações
sinalagmáticas e quando criam uma relação de prejudicialidade entre a
decisão transitada em julgado e o objeto da ação posterior, ou seja,
quando o fundamento da decisão transitada condiciona a apreciação do
objeto de uma ação posterior, por ser tida como situação localizada
dentro do objeto da primeira ação, sendo seu pressuposto lógico. (In
“Ação Declarativa à Luz do Código Revisto”, 2ª ed., pág. 663).
Nesta mesma linha de entendimento, defendem ANTÓNIO
ABRANTES GERALDES, PAULO PIMENTA e FILIPE PIRES DE
SOUSA (Código de Processo Civil, Anotado”, 2ª ed. Almedina 2020,
págs. 122 e 123) que haverá prejudicialidade, por exemplo “nas
hipóteses em que da mesma relação jurídica brotam uma série de
direitos (v.g., contrato de arrendamento e de fornecimento), de modo
que, se na primeira sentença se declarou a (in)existência do contrato,
haveria que atender à sua (in)existência na ação subsequente. As
relações sinalagmáticas também poderiam fundamentar a extensão de
caso julgado a certos fundamentos de facto da decisão. Assim, se numa
primeira ação foi pedido o cumprimento de um contrato e a mesma foi
julgada improcedente, por nulidade do contrato, e numa ação
subsequente é pedida a condenação na contraprestação do contrato”.
Neste sentido, diremos, justifica-se atribuir efeitos definitivos entre as
partes relativamente a fundamentos da decisão nos casos em que
ocorrem relações de prejudicialidade e de sinalagmaticidade.
Admitindo que a autoridade de caso julgado abrange não apenas a
decisão sobre o pedido, mas também as decisões sobre os fundamentos,
defende, porém, MARIANA FRANÇA GOUVEIA (Parecer elaborado
no processo nº 2104/12.8TBALM), que importa determinar, com
precisão, quais são as decisões sobre os fundamentos que adquirem
força de caso julgado, sustentando que, no seu entendimento, só podem
ter autoridade de caso julgado em processos subsequentes as decisões
sobre as questões essenciais relativas à causa de pedir da ação anterior,
ou seja, as decisões sobre os factos constitutivos delimitados pela
previsão da norma jurídica aplicável, essenciais à procedência da ação
(A Causa de Pedir na Ação Declarativa”, 2019, pág. 501). Por exemplo,
numa ação em que se peça o reconhecimento da propriedade com
fundamento na usucapião, são decisões sobre a causa de pedir aquelas
em que o tribunal afirma que o autor é possuidor; que o autor é
possuidor em termos do direito de propriedade; que o autor possui há x
tempo. E é decisão sobre o pedido aquela em que o tribunal afirma que
o autor é proprietário de y, pois, atento o disposto no art. 91º nº 2 do
CPC, só assim se previne a eficácia surpresa de decisões menores, ao
mesmo tempo que se assegura o respeito pelas decisões judiciais.
Mas ainda assim estas decisões relativas à causa de pedir só têm
potencialidade de adquirir autoridade de caso julgado quando entre as
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duas ações haja uma relação de prejudicialidade ou dependência, ou


seja, nos casos de “ prejudicialidade lógica”, em que se debate a
validade da relação jurídica para um efeito e posteriormente para outro”
(A Causa de Pedir na Ação Declarativa, 2019, pág. 503).
Também LEBRE DE FREITAS e outros (in Código de Processo Civil
Anotado, Vol. 2.º, p. 354) consideram que “a autoridade do caso julgado
tem o efeito positivo de impor a primeira decisão, como pressuposto
indiscutível da segunda decisão de mérito (…). Este efeito positivo
assenta numa relação de prejudicialidade: o objecto da primeira decisão
constitui questão prejudicial na segunda acção, como pressuposto
necessário da decisão de mérito que nesta há-de ser proferida.”
Prejudicialidade que CASTRO MENDES também sublinha, quando,
referindo-se à identidade objetiva entre as duas acções, adianta que “se
não é preciso entre os dois processos identidade de objecto (pois
justamente se pressupõe que a questão que foi num thema decidendum
seja no outro questão de outra índole, maxime fundamental), é preciso
que a questão decidida se renove no segundo processo em termos
idênticos… a relevância do caso julgado em processo civil posterior,
quando nesse processo a questão sobre a qual o caso julgado se formou
desempenha a função de questão fundamental ou mesmo de questão
secundária ou instrumental, não de thema decidenum. (Limites
Objectivos do Caso Julgado em Processo Civil, Edições Ática, pp. 43-
44 e 50)
Conclui o Acórdão deste Supremo Tribunal de 11.11.2020 (processo nº
214/17.4T8MNC.G1.S1) que “quanto à alegada ofensa da autoridade
do caso julgado formado na segunda acção anterior invocada importa
ter presente que a jurisprudência do STJ vem admitindo – em linha com
a doutrina tradicional – que a autoridade do caso julgado dispensa a
verificação da tríplice identidade requerida para a procedência da
exceção dilatória, sem dispensar, porém, a identidade subjectiva.
Significando que tal dispensa se reporta apenas à identidade objectiva,
a qual é substituída pela exigência de que exista uma relação de
prejudicialidade entre o objecto da segunda acção e o objecto da
primeira.”[1] (sublinhados nossos).
Exige-se, assim, que o caso decidido/julgado seja prejudicial em
relação ao caso a decidir/julgar e que se inscreva, ainda que
parcialmente, no objeto do processo a decidir, e que sejam as mesmas
as partes em ambas as acções, a identidade subjetiva, exigida, desde
logo, pelo princípio do contraditório – art. 3º do CPC.
Tem sido entendimento dominante da jurisprudência do STJ que o
âmbito objetivo do caso julgado se estende à apreciação das questões
preliminares que constituam antecedente lógico necessário da parte
dispositiva da decisão, entre outros o acórdão do STJ de 07-02-2019
(Revista n.º 3263/14.0TBSTB.E1.S1), onde se afirma que a autoridade
do caso julgado tem, antes, o efeito positivo de impor a primeira
decisão à segunda decisão de mérito e, sem prescindir da identidade das

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partes, dispensa a identidade do pedido e da causa de pedir nos casos


em que existe uma relação de prejudicialidade entre o objeto da ação já
definitivamente decidida e a ação posterior, ou seja, quando o
fundamento da decisão transitada condiciona a apreciação do objeto de
uma ação posterior, por ser tida como situação localizada dentro do
objeto da primeira ação, sendo seu pressuposto lógico necessário.”
No mesmo sentido, todos sublinhando a relação de prejudicialidade
entre as decisões, se pronunciaram os acórdãos do STJ de 12-01-2021
(Revista n.º 2030/11.8TBFLG-C.P1.S1), de 02-12-2020 (Revista n.º
3077/15.0T8PBL.C1-A.S1, de 26-11-2020 (Revista n.º
7597/15.9T8LRS.L1.S1), de 28-03-2019 (Revista n.º
6659/08.3TBCSC.L1.S1, de 04-12-2018 (Revista n.º
190/16.0T8BCL.G1.S1) e de 08-11-2018 (Revista n.º
478/08.4TBASL.E1.S1).
Nas palavras do acórdão do STJ, de 22.02.2018 (revista nº
3747/13.8T2SNT.L1.S1) “a autoridade do caso julgado implica o
acatamento de uma decisão proferida em ação anterior cujo objeto se
inscreve, como pressuposto indiscutível, no objeto de uma ação
posterior, obstando assim a que a relação jurídica ali definida venha a
ser contemplada, de novo, de forma diversa” e abrange, “para além
das questões diretamente decididas na parte dispositiva da sentença, as
que sejam antecedente lógico necessário à emissão da parte dispositiva
do julgado”.
Com efeito, a doutrina tem entendido que o conhecimento de matéria
de exceção (perentória), não faz, em princípio, caso julgado fora do
processo respetivo, nos termos do disposto no atual art. 91.º, n.º 2, do
CPC. Neste sentido, pronunciaram-se Manuel de Andrade[2], Antunes
Varela, J. M. Bezerra e Sampaio e Nora[3], Teixeira de Sousa[4].
Já a jurisprudência deste STJ tem vindo a admitir que a matéria de
exceção seja integrada no caso julgado sempre que tal matéria se
afigure como sendo o antecedente lógico indispensável da parte
dispositiva do julgado.
A título de exemplo, pronunciou-se o STJ, no acórdão de 02-12-2017,
nos seguintes termos “atualmente, a posição jurisprudencial
predominante reconhece, na esteira da doutrina defendida por VAZ
SERRA (cfr. R.L.J. ano 110º, p. 232) - embora sem tornar extensiva a
eficácia do caso julgado a todos os motivos objetivos da sentença / a
toda a matéria apreciada, incluindo os fundamentos da decisão ("tese
ampla") -, que, apesar da eficácia do caso julgado material incidir
nuclearmente sobre a parte dispositiva da sentença, a mesma alcança
também a decisão daquelas questões preliminares que constituam
antecedente lógico indispensável da parte dispositiva do julgado (isto
é, os fundamentos e as questões incidentais ou de defesa que
entronquem na decisão do pleito enquanto limites objetivos dessa
decisão), em homenagem à economia processual e à estabilidade e
certeza das relações jurídicas ("tese eclética")” – sublinhado nosso –

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(Ac. do STJ, de 02-12-2017, proc. n.º 1565/15.8T8VFR-A.P1.S1, e no


acórdão de 26-03-2015, nos seguintes termos “As exceções perentórias,
como fundamentos de defesa, traduzem-se em questões fundamentais,
preliminares em relação ao thema decidendum, delimitando, negativa e
internamente, a pretensão deduzida pelo autor.” – (Ac. do STJ, de 26-
03-2015, proc. n.º 1847/08.5TVLSB.L1.S1).
A referida tese eclética foi, efetivamente, defendida por Vaz Serra[5]
que, em anotação ao acórdão do STJ de 29-06-1976, defendeu a
extensão do caso julgado às questões preliminares que constituam o
antecedente lógico da parte dispositiva da sentença.
Também Lebre de Freitas (Um Polvo…, pag. 697) admite que a
matéria atinente a exceções perentórias deve considerar-se abrangida
pelo caso julgado, defendendo que “entende-se por questão prejudicial
toda aquela cuja solução constitua pressuposto necessário da decisão
de mérito, quer se trate de questão fundamental, relativa à causa de
pedir ou a uma exceção perentória, quer respeite ao objeto de
incidentes que estejam em correlação lógica com o objeto do
processo.”
Parece também ser esse o entendimento de Mariana França Gouveia,
quando afirma que, em casos de improcedência, “as decisões sobre
factos principais que enquadram excepções peremptórias alegadas pelo
réu têm também autoridade de caso julgado” (“A Causa de Pedir na
Ação Declarativa”, 2019, pág. 505).
Já a tese restritiva defende que a decisão transitada em julgado não
produz efeitos externos na parte em que incide sobre questões
prejudiciais resolvidas apenas com o escopo de apreciar o pedido
deduzido pelo autor, salvo se, nos termos do art. 91º nº 2, for
peticionada a realização do julgamento com essa amplitude.
Entendem ANTÓNIO ABRANTES GERALDES, PAULO PIMENTA
e FILIPE PIRES DE SOUSA (Código de Processo Civil, Anotado”, 2ª
ed. Almedina 2020, págs. 122), que “tal regime seria, assim, o preço a
pagar pela rapidez da resposta encontrada para as questões prejudiciais
suscitadas no processo, evitando que se extraíssem da decisão efeitos
mais amplos para cada uma das partes.
Nesta conformidade, assistiria, por exemplo, ao réu a faculdade de
fazer valer pedidos fundados em excepções anteriormente julgadas
improcedentes com o limite da possibilidade da afectação do caso
julgado favorável ao autor.”
E referem Lebre de Freitas e Isabel Alexandre (CPC anotado, vol. I, 3ª
ed., p. 182, que reputam de errada a orientação jurisprudencial que
persiste em reconhecer força de caso julgado material à decisão da
questão que seja mero antecedente lógico da parte dispositiva da
sentença”.

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Reaproximando-nos do caso concreto, temos que a recorrente sustenta


que no processo n.º 167/17.9YHLSB foi apreciada e decidida pelo
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa a questão dos direitos de
autor suscitada pela autora, ora recorrida.
Analisando tal Acórdão de 2 de Maio de 2019, verificamos que a
consideração da impossibilidade de a Autora ora recorrida gozar de
protecção jusautoral constituiu, por parte da 1ª Instância, um
alargamento dos efeitos do caso julgado aos motivos daquele Acórdão,
considerando também que tal questão incidental e os seus efeitos extra-
processuaís deveriam ser analisados à luz do disposto no artigo 91° n° 2
do Código de Processo Civil, sendo que o reconhecimento por parte da
recorrente de que o decidido naquele Acórdão não constitui caso
julgado expresso relativamente à matéria dos direitos de autor, acaba
por configurar uma «contraditio in adjecto”.
Como bem aduz a recorrida, um dos objetivos do artigo 91° n.° 2 do
Código de Processo Civil é garantir o princípio do contraditório [cfr.
artigo 3.° n.° 3 do Código de Processo Civil], relativamente ao uso, fora
do processo, de decisões sobre questões suscitadas pelo réu como meio
de defesa ou apreciadas incidentalmente no decurso da acção. De modo
que só excecionalmente, quando alguma das partes o requeira, é que a
sentença fará caso julgado quanto às questões mencionadas no artigo
91° n° 1 do Código de Processo Civil.
Defende a recorrente a este propósito que se formou “caso julgado
implícito” relativamente à matéria de direitos de autor, porquanto foi ali
expressamente decidido que o modelo do “vilão” e da “viloa” da
Madeira não se distinguiam dos modelos comercializados há mais de 60
anos, não revestindo os requisitos de “novidade” e de “singularidade”
indispensáveis à tutela registral. Concluindo que, não sendo aqueles
modelos considerados uma original criação artística, não podem ser
passíveis de proteção em sede de direitos de autor.
Tendo presente o objeto de cada um dos processos em confronto, tal
como acima delineado, vejamos, em primeiro lugar, o que consta da
fundamentação do Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferido
no aludido Processo n.º 167/17.9YHLSB.
Ao apreciar a questão da inconstitucionalidade, por violação dos
direitos à iniciativa privada, liberdade criativa e artística, ali suscitada
pela ré (autora na presente acção), escreve-se no aludido acórdão o
seguinte:
“(…) a ré não beneficia de registo válido porque nulo. E porque assim
é, não goza da suposta protecção autoral. (…) Ora, flui dos factos
provados que a Ré não criou – em termos inovatórios – os modelos
desenhos em causa, limitando-se a reproduzir (…) desenhos/modelos
pré-existentes. Não se pode, pois, defender sequer que os
desenhos/modelos registados pela Ré sejam fruto do espírito e engenho
intelectual da sua funcionária/designer” (sublinhado nosso).

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É com base neste fundamento, de resto, que o saneador proferido na


1.ª instância concluiu existir caso julgado. Aí se escreve: “(…) é
inquestionável afirmar-se que, para efeitos de análise de formação de
caso julgado nos presentes autos, as ações n.os 167/17.9YHLSB e
341/17.8YHLSB são indissociáveis uma da outra e devem ser aqui
consideradas. E, na ação n.º 167/17.9YHLSB, pelos mesmos factos que
agora estão em causa, foi apreciada a questão da titularidade dos
direitos de autor, concluindo-se pela sua inexistência. Nesta medida,
não considerar que, neste caso, o tribunal já se pronunciou sobre a
questão que é objeto desta ação é criar a absurda possibilidade de
decisões contraditórias, pondo em causa os referidos princípios de
segurança jurídica e prestígio dos tribunais.”
Entendeu a 1.ª instância que, por via da fundamentação que deixámos
transcrita, o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferido no
Processo n.º 167/17.9YHLSB, com base nos “mesmos factos” que estão
em causa nestes autos, apreciou a titularidade dos direitos de autor e
concluiu pela sua inexistência.
Não podemos deixar de discordar com tal entendimento, desde logo
porque entre uma e outra acção inexiste qualquer relação de
prejudicialidade.
São acções que, pese embora a identidade subjectiva, nada as liga na
vertente objectiva, tocante à causa de pedir e ao pedido, bem como ao
contexto jurídico de uma e outra.
Com efeito, não restam dúvidas que os factos em causa num e noutro
processo são diferentes, assim como é diverso o enquadramento
jurídico aplicável, sendo certo que os pressupostos tendentes à anulação
do registo (arts. 202.º e 203.º do CPI) não se confundem com os
requisitos exigidos para o reconhecimento dos direitos de autor (art. 2.º
do CDADC).
Sobre esta questão, importante é atentar no teor do Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça de 30-04-2020, proferido no âmbito do
mesmo Processo n.º, 167/17.9YHLSB.L2.S2 onde se escreve o
seguinte:
“Na presente ação, atendendo ao objeto do processo, delimitado pela
causa de pedir e pelo pedido, está exclusivamente em causa a proteção
específica dos desenhos e modelos decorrente do registo no INPI pelo
Direito Industrial (cf. art. 203º, do CPI), pelo que será apenas neste
âmbito que se conhecerá das questões suscitadas no recurso, surgindo
como injustificada a invocação do regime jurídico da proteção jus
autoral.”. É nesse contexto que, adiante, aí se conclui que “(…) está
absolutamente vedado à ré/recorrente formular, nesta instância de
recurso, o pedido de que se “reconheça o direito de propriedade
industrial da ré sobre o desenho registado sob o nº 3223 (…)”.
Foi nestes termos que o STJ, confrontado com esta mesma questão,
recusou a tese defendida pela ora recorrente, afastando a possibilidade
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de estender o caso julgado aos motivos da decisão proferida na ação de


nulidade do registo que se pronunciam sobre a titularidade dos direitos
de autor.
Por outro lado, perspetivando que a questão relativa aos direitos de
autor foi suscitada no Processo n.º 167/17.9YHLSB pela aí Ré (aqui
Autora) em sede de recurso de apelação e que a matéria de facto
anteriormente alegada a esse propósito consubstancia matéria de
exceção e se reconduz exclusivamente ao facto não provado na alínea a)
da decisão da 1.ª instância (Tendo resultado como não provado “que o
modelo dos bonecos que a R. registou sob o n.º 3223 fossem diferentes
dos desenhados pela sua funcionária em 2007 ou sequer fossem
diferentes dos bonecos típicos representativos do rancho folclórico da
Madeira e existentes há, pelo menos, uma centena de anos), sempre
tenderemos a concluir pela insusceptibilidade de o conhecimento de tal
questão fazer caso julgado fora desse processo, nos termos do disposto
no atual art. 91º, n.º 2 do CPC.
Ora, no caso do Processo n.º 167/17.9YHLSB, a questão dos direitos
de autor foi apreciada pelo Tribunal da Relação no contexto da violação
das normas constitucionais em matéria de reconhecimento dos direitos
fundamentais à iniciativa privada, liberdade criativa e artística,
suscitada pela ré.
Porém, para além de não resultar dos autos que, no processo n.º
167/17.9YHLSB, a Ré, em sede de recurso, tenha requerido o
julgamento com tal amplitude, como tanto exige o n.º 2 do artigo 91º do
CPC, tal questão foi apreciada “a latere” e não se identifica ou se
confunde com a pretensão principal deduzida nesse processo – atinente
à nulidade do registo. Não vemos, por isso que essa questão possa ser
considerada prejudicial ou sequer que se encontre numa qualquer
dependência lógica com a decisão final aí proferida.
Diremos mesmo que tais considerações relativas aos direitos de autor
da ali Ré não assumiram naquele pleito, centrado na questão da
nulidade do registo, a relevância de questão instrumental, ou mesmo
incidental, como sendo perfeitamente descabidas e deslocadas no
quadro fáctico-jurídico em que a acção n.º 167/17.9YHLSB se movia.

Daí que o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 30-04-2020


proferido na revista n.º 167/17.9YHLSB tenha considerado
absolutamente “injustificada a invocação do regime jurídico da
proteção jus autoral” no âmbito específico daquela ação.

Assim, a decisão proferida sobre a nulidade do registo naquela acção


está longe de se constituir como precedente lógico ou pressuposto
necessário à decisão a proferir na presente ação, já que o direito de
autor pertence ao criador intelectual da obra e é reconhecido

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independentemente de registo, depósito ou qualquer outra formalidade,


conforme o disposto nos artigos 11º e 12º do Código do Direito de
Autor e dos Direitos Conexos (CDADC).
Digamos mais: Inscrevendo-se a acção do processo n.º
167/17.9YHLSB como uma acção anulatória, consistindo a sua causa
de pedir na nulidade específica invocada, não na categoria ou tipo
abstracto em que se integra tal nulidade, mas sim no vício concreto, que
incidiu sobre o facto jurídico (o registo do desenho/modelo nacional n.º
3223 de que era titular a ora autora, e resultando o vício concreto
invocado da falta de novidade e singularidade, em virtude da
divulgação ao público do modelo registado, mediante comercialização,
muito antes da data do depósito do pedido do registo, ultrapassando o
período de graça, cfr. documentos n.º 3, 4 e 5, juntos à contestação,
mencionados no parágrafo 18), já a presente acção visa o
reconhecimento da titularidade de direitos de autor, consistindo a causa
de pedir no facto jurídico de que derivam os direitos de autor, a criação
intelectual da obra, independentemente da existência de registo, a que
pode acrescer, por se tratar de uma acção de condenação, o facto ilícito
alegadamente praticado pela Ré, ofensivo dos invocados direitos.
Sendo, assim, manifestamente diversas as causas de pedir de uma e
outra acção, naquela o concreto vício invocado e ferido de nulidade,
nesta a tutela dos direitos de autor e a protecção deles resultante.
Diremos mesmo que o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
proferido no Processo n.º 167/17.9YHLSB, ao referir-se à questão da
titularidade dos direitos de autor, fê-lo como mero obiter dictum, sem
qualquer interferência na resolução do litígio que, centrado na nulidade
do registo, se procurava dirimir. A alusão a tal matéria, surgindo como
resposta a uma alegação de recurso apresentada por uma das partes, não
teve natureza minimamente decisiva para a resolução do litígio, nem o
aí decidido se constituiu como pressuposto lógico e necessário para a
solução a dar, quer nesse processo, quer na presente ação, ou sequer
como mero incidente cujo julgamento possa de alguma forma conceder
à recorrente a possibilidade de requerer o julgamento de tal questão
com tal amplitude nestes autos, à luz do art. 91º nº 2 do CPC,
porquanto, já se deixou dito, o que naquele processo se considerou a
respeito dos direitos de autos da ali ré e aqui autora, nada valem no
contexto daquele pleito e nada podem valer no contexto deste.
Em conclusão, mesmo propugnando a tese restritiva acima
sucintamente explanada, que sufragamos, porquanto é a que concebe
melhor articulação com o preceituado no art. 580º nº 2 do CPC (evitar
que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou de
reproduzir uma decisão anterior), nunca se vislumbraria compaginável
para a recorrente o uso da prerrogativa inserta no art. 91º nº 2 do CPC,
porquanto o que se disse no Acórdão da Relação de Lisboa daquela
acção n.º 167/17.9YHLSB, a respeito dos direitos de autor da aqui
Autora e recorrida, não assume de minimis a natureza de decisão

https://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/d14e1dce2b0f8be280258868005ba5b9?OpenDocument 18/19
14/01/24, 21:36 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

incidental, que alguma prejudicialidade possa merecer em relação ao


thema decidendum da presente acção.

Estamos, assim, nesta e naquela acção, ambas protagonizadas pelas


mesmas partes, perante uma situação em que, na senda da defesa de
interesses patrimoniais de uma e de outra, são formulados pedidos
estruturalmente distintos, com base em pressupostos de facto e de
direito perfeitamente diversos, não sendo configurável qualquer tipo de
prejudicialidade entre um e outro pleito.
Impondo-se concluir que deverá soçobrar a pretensão da recorrente,
confirmando-se o acórdão recorrido na totalidade.

DECISÃO
Por todo o exposto, Acordam os Juízes que integram a 7ª Secção do
Supremo Tribunal de Justiça em negar provimento à revista e
confirmar inteiramente o Acórdão recorrido.
Custas pela recorrente.
Registe e notifique.
Lisboa, 21 de junho de 2022

Relator: Nuno Ataíde das Neves


1ª Juíza Adjunta: Senhora Conselheira Maria dos Prazeres Beleza
2ª Juíza Adjunta: Senhora Conselheira Fátima Gomes
______
[1] Neste sentido, vejam-se, entre muitos outros, os acórdãos de 11.11.2020 (proc. n.º
214/17.4T8MNC.G1.S1), 26.11.2020 (proc. n.º 7597/15.9T8LRS.L1.S1), 24.10.2019 (proc. n.º
6906/11.4YYLSB-A.L1.S2), 13.09.2018 (proc. 687/17.5T8PNF.S1), 19/06/2018 (proc. n.º
3527/12.8TBSTS.P1.S2), de 06/11/2018 (proc. n.º 1/16.7T8ESP.P1.S1), de 28/03/2019 (proc. n.º
6659/08.3TBCSC.L1.S1) e de 30/04/2020 (proc. n.º 257/17.8T8MNC.G1.S1), consultáveis em
www.dgsi.pt. No plano doutrinário, tal jurisprudência alinha com as posições assumidas por Rui
Pinto, In Exceção e autoridade de caso julgado – algumas notas provisórias, Revista Julgar Online,
Novembro 2018, pp. 28 e ss.; Lebre de Freitas In Um Polvo Chamado Autoridade de Caso Julgado,
pp. 700 e ss. e In A Extensão Subjetiva da Eficácia do Caso Julgado, pp. 613; Manuel de Andrade,
Noções Elementares de Processo Civil, Coimbra Editora, Coimbra, 1976, págs. 309 e ss. e ss.;
Teixeira de Sousa, Estudos sobre o novo Processo Civil, Lex, Lisboa, 1997, págs. 581 e ss.; Castro
Mendes, Direito Processual Civil, II Volume, p. 781, Edição da Associação Académica, 1987,
Ferreira de Almeida, Direito Processual Civil, Vol. II, 2.ª edição, 2020, Almedina, pp. 719 e ss.;
[2] Noções Elementares…pp. 327 e ss.;
[3] Manual de Processo Civil, Coimbra Editora, 2.ª edição, 1985, p. 717;
[4] Preclusão e Caso Julgado, p. 160
[5] In RLJ, Ano 110, n.º 3599, pp. 228 e ss.;

https://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/d14e1dce2b0f8be280258868005ba5b9?OpenDocument 19/19

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