CP Iuris - Ebook de Direito Constitucional
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Tatiana Batista
CAPÍTULO 2 — CONSTITUCIONALISMO
1. CONCEITO
2. CONSTITUCIONALISMO ANTIGO
O constitucionalismo antigo é o período destacado entre a antiguidade clássica até fim
do século XVIII.
No constitucionalismo antigo, há quatro experiências importantes:
1. Estado Hebreu: como se tratava de um estado teocrático, o governo era limitado
por dogmas religiosos.
2. Grécia: havia instrumentos de democracia direta entre governantes e governados.
3. República Romana: havia uma separação de poderes dentre os cônsules, senado e
povo, ainda que embrionária.
4. Inglaterra: diferente da França, o modelo de poder inglês não ostentou um
absolutismo porque o poder real sempre encontrou algum tipo de limitação, como
exemplo a Carta Magna de 1215. De toda forma, a Revolução Gloriosa de 1688
consolidou a supremacia do Parlamento Inglês (princípio constitucional de
soberania do Parlamento), que reafirmou o respeito aos direitos individuais aliado
ao respeito às tradições constitucionais. Importante destacar que não há uma
Constituição escrita na Grã-Bretanha, mas sim documentos constitucionais como:
Petition of Rights (1628); Habeas Corpus Act (1679); Bill of Rights (1689); Human
Rigts Act (1998) e Constitutional Reform Act (2005) 3.
1 NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. rev.amp.atual. Salvador: Editora JusPodivm, 2015. P.
48.
2
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. rev.amp.atual. São Paulo: Saraiva, 2011, p.71.
3
SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de
trabalho. 2.ed.Belo Horizonte: Fórum, 2019, p. 75.
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3. CONSTITUCIONALISMO MODERNO
Foi um movimento que ocorreu no final do século XVIII nos Estados Unidos e na França
e que teve como objetivo limitar o poder (com uma nova organização do Estado) e estabelecer
direitos e garantias fundamentais. Veio para superar o poder absoluto dos monarcas, para
apresentar um estado de direito constitucionalizado com limitação deste mesmo poder e
direitos individuais. Assim, pode-se afirmar que a ideia do constitucionalismo é a ideia de
libertar o poder e estabelecer direitos fundamentais.
A doutrina estabelece que as constituições da França e dos EUA, ambas provenientes
dos ideais iluministas e liberalistas, caracterizadas pela ausência de interferência do Estado nas
relações privadas, foram a origem do constitucionalismo moderno.
Essas constituições escritas elencavam a organização do estado; a transmissão de
poder; a limitação do poder estatal pela divisão de poderes e direitos e garantias
fundamentais.
É possível dividir o constitucionalismo moderno em suas fases clássica e social,
vejamos.
O constitucionalismo clássico ou liberal começa no fim do século XVIII e vai até o fim
da Primeira Guerra Mundial (1917). O principal diferencial do constitucionalismo clássico, em
relação à fase anterior, é o aparecimento das primeiras constituições escritas. A partir delas,
surgem as noções de rigidez constitucional e supremacia da constituição. O que define a
rigidez das constituições é o processo diferenciado de modificação e não a presença de
cláusulas pétreas.
No constitucionalismo clássico, duas experiências constitucionais merecem destaque,
com características peculiares: a norte-americana e a francesa.
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Por seu turno, o constitucionalismo social vai do fim da Primeira Guerra Mundial
(1917) até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945). O Estado Liberal funciona quando há
equilíbrio de condições entre as pessoas. A crise econômica do pós-guerra aprofunda as
desigualdades econômicas existentes, ocasionando, como consequência, a crise do Estado
Liberal, que deixou de ser abstencionista para assumir um modelo intervencionista.
Os dois principais modelos de Constituição do constitucionalismo social foram a
Constituição Mexicana (1917) - a primeira a incluir os direitos trabalhistas entre os direitos
fundamentais, e a Constituição de Weimar (1919) que também elencou os direitos sociais em
seu rol de limites ao poder estatal.
No período do constitucionalismo moderno, verifica-se em alguns Estados a
transformação do Estado de Direito (ou Liberal) em Estado Social, cujas principais
características são as seguintes:
intervenção no âmbito social, econômico e laboral: o Estado Social abandona a
postura abstencionista e passa a intervir nas relações econômicas, sociais e
trabalhistas.
papel decisivo na produção e distribuição de bens
garantia de um mínimo de bem estar social “Welfare State” (“O Estado do Bem
Estar Social”)
4. NEOCONSTITUCIONALISMO
4.1. CONCEITO
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que advém da natureza humana. O pós-positivismo defende que o jusnaturalismo é ilusão, por
não ter o direito nada de natural – o direito é luta.
O pós-positivismo vai além da legalidade estrita, mas não desconsidera o direito posto.
Ao contrário, busca resolver o problema do direito positivo dentro dele mesmo e, para tanto, o
pós-positivismo defende uma reaproximação entre o direito e a moral, o direito e a ética e o
direito e a justiça. É possível um direito que seja justo, moral e ético, ainda que estes conceitos
sejam subjetivos e abstratos, pois possuem um conceito mínimo que todos conhecem dentro
de sua comunidade.
O marco teórico é um conjunto de teorias que dizem respeito à força normativa da
constituição, à expansão da jurisdição constitucional e de novos métodos de interpretação,
chamada de nova hermenêutica constitucional.
4.2. CARACTERÍSTICAS
1. A Constituição como centro do ordenamento jurídico – a Constituição passa a
ser o centro do ordenamento, deixa de ser algo paralelo. Com isso temos o movimento de
constitucionalização do direito. É o momento de constitucionalização de todo o direito, a
invasão das normas constitucionais. Essa ideia de invasão das normas constitucionais é o que
pode ser chamado de ubiquidade constitucional, já que o Direito Constitucional está em todos
os lugares e o ordenamento se constitucionalizou. Além disso, temos a filtragem
constitucional, por justamente todo ordenamento ter que passar pela constituição. Essa
filtragem é o que se entende por interpretação conforme a constituição, pois qualquer norma
jurídica só tem sentido e só é válida, hoje, se for interpretada conforme a constituição.
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Alexy. Essa ideia é criticada por Lênio Streck, que propõe a ideia do panprincipionalismo, a qual
dispõe sobre afastar a regra existente ao caso concreto para que se aplique o princípio,
gerando uma forte discricionariedade.
5. TRANSCONSTITUCIONALISMO
É o entrelaçamento de ordem jurídicas diversas (estatal, internacional, transnacional e
supranacional) em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional, ou seja, o
transconstitucionalismo ocorre quando ordens jurídicas diferenciadas passam a enfrentar
concomitantemente as mesmas questões de natureza constitucional, como por exemplo
separação de poderes e direitos humanos.
Portanto, nada mais é que a ideia de globalização aplicada na perspectiva do direito.
Exemplo 1: ADPF 101, quando o STF enfrentou o tema da produção e importação de
pneus usados. Ao mesmo tempo que o STF decidiu sobre a produção e importação de pneus
usados, o mesmo tema estava sendo discutido no Mercosul, na União Europeia, na
Organização Mundial do Comércio, na Organização Mundial do Meio Ambiente e na
Organização Mundial da Saúde. Isto é, vamos ter uma série de ordens jurídicas discutindo
concomitantemente um problema de natureza constitucional.
Exemplo 2: ADPF 153, do tema justiça de transição, o qual envolve a passagem do
regime ditatorial para o regime democrático. O STF enfrentou esse tema em 2010, julgando-o
improcedente, e, ao mesmo tempo em que o STF estava decidindo sobre esse tema, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos foi chamada ao caso Gomes Lund, e disse que a lei de
anistia do Brasil não pode ser empecilho para investigação e punição dos agentes da repressão
na época do regime militar no Brasil.
Qual ordem deve preponderar? A transnacional, a internacional, a supranacional?
Marcelo Neves afirma que não se pode defender a prevalência absoluta, a priori, de uma
ordem constitucional sempre sobre as outras. Para o autor, o que se deve trabalhar são os
diálogos entre as várias ordens, isto é, pontes de transição entre elas. Quanto mais
conversação entre as ordens e quanto mais elas entrarem em conexão, mais decisões legítimas
e justas poderão ser tomadas.
6. CONSTITUCIONALISMO ABUSIVO
O conceito de constitucionalismo abusivo foi pensado por David Landau 4 como abuso
de instrumentos de origem democrática para minar o espaço político e plural em determinada
4
LANDAU, David. Abusive constitutionalism. V.47, n. 1. UC Davis Law Review. Estados Unidos da América, 2013, p.
189-260.
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país. Assim, o autor identificou que chefes do poder executivo podem utilizar elementos como
o seu poder de regulamentar ou de participar do processo legislativo para enfraquecer outros
poderes, rejeitar proteção à direitos fundamentais de grupos miniritários ou vulneráveis, num
verdadeiro abuso dos instrumentos democráticos que são dispostos na Constituição local.
7. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIAS
7.1. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Questões
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constitucional; o segundo tipo são as decisões dos governantes, que ocorrem pelas leis,
decretos e demais atos regulares do governo.
c) Embora se costume afirmar que a norma é o produto da interpretação do texto, não existe
correspondência necessária entre norma e um dispositivo, pois há normas que não encontram
suporte físico em um dispositivo específico, e há dispositivos a partir dos quais não se constrói
norma alguma.
d) O liberalismo igualitário supera a noção de individualismo, pois seu foco se centra em
entidades supraindividuais como o Estado, a Nação, a Sociedade, os grupos étnicos e outros
conjuntos de pessoas.
e) Atribui-se viés antidemocrático à panconstitucionalização – excesso de
constitucionalização do Direito -, porque, se o papel do legislador se resumir ao de mero
executor de medidas já impostas pelo constituinte, nega-se autonomia política ao povo para,
em cada momento de sua história, realizar suas escolhas.
Comentários
1. Gabarito: D
Errado, pois Dworkin entende a igualdade liberal ou liberalismo igualitário rejeita a igualdade
de bem-estar material que neutralizaria as consequências das decisões éticas tomadas pelo
indivíduo. O liberalismo igualitário trabalha com um valor de neutralidade:
"Essa forma de liberalismo (baseado na igualdade), insiste que o governo deve tratar as
pessoas como iguais no seguinte sentido. Não deve impor sacrifícios nem restrições a nenhum
cidadão com base em um argumento que o cidadão não poderia aceitar sem abandonar seu
senso de igual valor" . (DWORKIN, Ronald. Foudations of Liberal Equality in DARWALL, Stephen
(Ed.) Equal Freedon: Selected Tanner Lectures on Human Values. Ann Arbor: University of
Michigan Press, 1995, p. 194). (Tradução livre)
Portanto, Dworkin não abandona o individualismo, mas vincula-o ao respeito ao livre arbítrio
do indivíduo de tomar suas decisões, a cavaleiro de interferências externas. Entretanto, ele
reconhece que limitações econômicas podem interferir nos parâmetros de "boa vida" de um
indivíduo (por óbvio), e assevera que
"Certamente, os recursos devem figurar como parâmetros de alguma forma, porque não
podemos descrever o desafio de viver bem sem fazer algumas suposições sobre os recursos
que uma boa vida deve ter disponíveis. Os recursos não podem contar apenas como
limitações, porque não podemos fazer qualquer sentido da melhor vida possível, abstraindo-se
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