2011 Tese Rsfreire
2011 Tese Rsfreire
2011 Tese Rsfreire
FORTALEZA - CE
2011
RAQUEL SANTIAGO FREIRE
FORTALEZA - CE
2011
“Lecturis salutem”
Ficha Catalográfica elaborada por
Telma Regina Abreu Vieira – Bibliotecária – CRB-3/593
[email protected]
Biblioteca de Ciências Humanas – UFC
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof. Dr. José Aires de Castro Filho (Orientador)
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________________
Profa. Dra. Marcília Chagas Barreto (membro)
Universidade Estadual do Ceará
________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Lincoln Carneiro Leão Mattos (membro)
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Gilvanise de Oliveira Pontes (membro)
Universidade Estadual do Ceará
________________________________________________________
Prof. Dr. Ana Karina Morais de Lira (membro)
Universidade Federal do Ceará
Para todos os professores e professoras de Matemática.
AGRADECIMENTOS
Neste momento poderia agradecer a muitas pessoas que fizeram parte da minha vida
pessoal e profissional, mas que, por enquanto, ficarão no anonimato. Há, porém, algumas que
gostaria de agradecer neste momento de conclusão.
Ao meu orientador, professor Aires por ter me acompanhado e incentivado por
exatamente uma década. Obrigada pelos ensinamentos sobre o que é ser professor e
pesquisador. Obrigada pela amizade e confiança.
À professora Ana Karina por ter participado de momentos tão importantes da minha
vida como estudante e como profissional. Obrigada pelas contribuições durante a graduação e
defesa de mestrado.
À professora Gilvanise Pontes por ter aceitado mais uma vez contribuir com seus
conhecimentos sobre matemática.
À professora Marcília Chagas por contribuir de forma competente, carinhosa e
paciente na segunda qualificação de tese. Essas atitudes nos fazem ter força para continuar
firme no trabalho.
Ao professor Fernando Lincoln amigo e colega de trabalho por ter contribuído com
colocações pertinentes para a pesquisa e sugestões que foram apreciadas. Obrigada pelo
companheirismo diário em nosso trabalho com formação de professores.
A todos vocês meus agradecimentos e admiração.
Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a
responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do
dever nosso de lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada.
(FREIRE, 1997, p. 59).
RESUMO
Diversas pesquisas têm mostrado que atividades ligadas ao pensamento algébrico nos anos
iniciais tem sido uma forma de trazer significado e desenvolver conceitos como os de
equação, incógnita e equivalência. No entanto, ainda falta investigar como professores desses
anos são capazes de pensar sobre esses conceitos e incorporá-los em sua prática pedagógica.
Pesquisas sobre o desenvolvimento de conceitos por professores dos anos iniciais do Ensino
Fundamental têm sido pouco exploradas na literatura, em especial no Brasil. O objetivo da
presente pesquisa foi investigar o desenvolvimento de conceitos algébricos por professores
dos anos iniciais do Ensino Fundamental utilizando atividades manipulativas e recursos
digitais. O estudo foi realizado com professoras de uma escola pública da cidade de Fortaleza,
em duas etapas. Inicialmente, 11 professoras participaram de uma oficina explorando
conceitos de equações, inequações, relações entre quantidades desconhecidas, equivalência,
pensamento relacional e o uso de incógnita em atividades voltadas para os anos iniciais do
Ensino Fundamental. Após a oficina, uma professora foi selecionada para planejar e utilizar as
atividades em sua prática. Os dados do estudo constaram de observações e registros das
atividades durante a oficina, entrevistas e observações das aulas com a professora participante
da segunda etapa Os dados foram analisados tomando por base, categorias do conhecimento
algébrico apontadas na literatura. Os resultados durante a oficina apontaram uma dificuldade
inicial das professoras em entender noções básicas do pensamento algébrico como resolver
equações do 1º grau e explicar diferenças entre atividades aritméticas e algébricas. Essas
dificuldades foram sendo parcialmente superadas ao longo do trabalho. Na segunda etapa, o
planejamento e a utilização das atividades em sala de aula apontam para uma maior
compreensão por parte da professora sobre o sentido de equações, o desenvolvimento do
conceito de igualdade, trabalho com incógnita e relações entre expressões numéricas e
simbólicas. Os dados permitem concluir que as atividades utilizadas favoreceram o
desenvolvimento de conceitos ligados ao pensamento algébrico nas professoras, tanto na
oficina quanto na utilização das atividades em sala de aula. O trabalho também aponta a
importância de investir em formações continuadas para que professores possam refletir sobre
práticas educativas desenvolver conceitos aritméticos juntamente com conceitos algébricos.
It has been shown in many researches that activities connected to the algebraic thought in the
initial years has been the only way to obtain meaning and develop concepts such as the
equation, the unknown quantity and the equivalence. However, there’s still a lack of
investigation regarding how teachers from these respective grades are capable of thinking
about these concepts and add them up to their pedagogical practice. Researches about the
concepts’ development by teachers from the initial grades in Elementary School have been
very few explored in books, especially in Brazil. This research’s objective was to investigate
the development of algebraic concepts by Elementary School initial grades’ teachers by using
manipulative activities and digital resources. The study was performed with teachers from a
State School in Fortaleza through two stages. Initially, 11 teachers took part in a workshop
exploring the concepts equations, inequations, relations among unknown quantities,
equivalence, relational thought and the use of unknown quantities in activities directed at
Elementary School’s initial grades. After the workshop, one of the teachers was chosen to
plan and use the activities in her practice. The study data was made of the activities’
observations and records during the workshop, classes’ interviews and observations and
activities’ records with the participant teacher of this second stage. The data was analyzed
based on the categories of algebraic knowledge pointed out in literature. The results during
the workshop pointed out the teachers’ initial difficulty in understanding the basic notions of
the algebraic thought as how to solve 1st degree equations and explain the differences
between arithmetic and algebraic activities. These difficulties were partially overcome
throughout the project. On the second stage, the planning and use of the activities in the
classroom point out to a greater comprehension by the teacher about the meaning of
equations, the development on the concept of equality, working with unknown quantities and
the relations between numeric and symbolic expressions. The data allows us to conclude that
the used activities aided in the development of concepts connected to the teachers’ algebraic
thought, both in the workshop and in the use of the mentioned activities inside the classroom.
This project also points out the importance of investing in continuing education so that
teachers can reflect upon the educational practice, developing arithmetic concepts together
with algebraic concepts.
Keywords: Mathematics Education. Algebraic concept. Algebra in the early years. Teacher´s
professional development.
RESUMEN
Varios estudios han presentado que las actividades relacionadas con el pensamiento
algebraico en los primeros años han sido una manera de traer significado y desarrollar
conceptos como la ecuación, incógnita y de equivalencia. Sin embargo, todavía falta
investigar cómo los profesores de estas etapas son capaces de pensar sobre estos conceptos e
incorporarlos en su práctica de enseñanza. Los estudios sobre el desarrollo de conceptos para
los profesores de los primeros años de la escuela primaria han sido poco explorados en la
literatura, especialmente en Brasil. El objetivo de este estudio fue investigar el desarrollo de
los conceptos algebraicos por los profesores de los primeros años de la escuela primaria con
actividades de manipulación y recursos digitales. El estudio se realizó con los maestros en una
escuela pública de Fortaleza, en dos momentos. Inicialmente, 11 profesores participaron de un
taller que exploraba los conceptos de las ecuaciones, inecuación, las relaciones entre
cantidades desconocidas, pensamiento relacional y el uso del incógnito en las actividades
destinadas a los primeros años de escuela primaria. Después del taller, un profesor fue
seleccionado para organizar las actividades y utilizar en su práctica. Los datos fueron
analizados con base en las categorías del conocimiento algebraico a la literatura. Los
resultados durante el taller demostraron una dificultad inicial de los profesores para
comprender fundamentos básicos del pensamiento algebraico, como resolver ecuaciones de
primer grado y explicar las diferencias entre las actividades aritméticas y algebraicas. Estas
dificultades se han superado parcialmente en el progreso del trabajo. En la segunda etapa, la
organización y la utilización de las actividades en el aula van direccionadas para una mayor
comprensión de los profesores sobre el significado de las ecuaciones, el desarrollo del
concepto de igualdad, el trabajo con incógnita y las relaciones entre expresiones numéricas y
simbólicas. Los datos permiten concluir que las actividades utilizadas favorecieron el
desarrollo de los conceptos relacionados al pensamiento algebraico en las profesoras, tanto en
el taller cuanto en el uso de las actividades en el aula. El trabajo también muestra la relevancia
de los investimentos en la educación continua, para que los profesores puedan reflexionar
acerca de las prácticas educativas y desarrollar conceptos aritméticos en harmonía con los
conceptos algébricos.
Palabras clave: Educación Matemática. Concepto algebraico. Álgebra en los primeros años.
El desarrollo profesional.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO ______________________________________________________ 14
1 ARITMÉTICA E ÁLGEBRA: PESQUISAS, CONCEITOS E CONCEPÇÕES ___________ 22
1.1 DEFINIÇÕES PARA A ARITMÉTICA E ÁLGEBRA __________________________ 23
1.2 ESTUDOS RELACIONADOS ÀS ATIVIDADES ALGÉBRICAS __________________ 32
1.3 A ÁLGEBRA NOS ANOS INICIAIS _____________________________________ 36
4 RESULTADOS _____________________________________________________ 72
4.1 OFICINA DE FORMAÇÃO DE CONCEITOS ALGÉBRICOS ___________________ 72
4.1.1 Conhecimento matemático _______________________________________ 74
4.1.2 Uso de representações __________________________________________ 81
4.1.3 Álgebra como relação e equivalência _______________________________ 93
4.1.4 Trabalho com relações entre quantidades desconhecidas e o uso de
incógnita __________________________________________________________ 113
4.2 PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES ___________________________________ 120
4.2.1 Sequência e dinâmica das atividades de sala de aula ___________________ 121
4.2.2 Características aritméticas nas atividades planejadas __________________ 127
4.2.3 Manifestação da compreensão de conceitos algébricos pela professora ___ 131
4.3 PRÁTICA EM SALA DE AULA ________________________________________ 136
4.3.1 Exploração do sentido de equações ________________________________ 136
4.3.2 Entendimento do pensamento relacional ___________________________ 139
4.3.3 Inequações e o trabalho com quantidades desconhecidas ______________ 141
4.3.4 Trabalho com letras _____________________________________________ 145
4.3.5 Generalização _________________________________________________ 148
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ____________________________________________ 150
INTRODUÇÃO
Utilizamos a matemática em muitas situações: ela nos ajuda dividir nosso tempo para
realizar tarefas no dia a dia, ao olhar as horas, ao calcular o troco de uma mercadoria e
também em situações específicas do trabalho, como divisões de atividades, construção de
obras, interpretações de dados estatísticos. Em todas essas atividades, abstraímos conceitos e
conhecimentos matemáticos que foram desenvolvidos ao longo dos anos.
A Matemática surgiu na Antiguidade para resolver problemas do cotidiano.
Atualmente, esta ciência é cada vez mais utilizada para descrever, modelar e resolver
problemas corriqueiros como porcentagem, gráficos e tabelas, situações que precisam de um
domínio mínimo da linguagem simbólica.
A utilização da Matemática desenvolve a capacidade de resolver problemas, estimula
a compreensão e transformação da realidade a partir dos conceitos aritmético, métrico,
algébrico, estatístico, probabilístico, dentre outros. Esses conhecimentos permitem o
estabelecimento de noções e produção de informações importantes na sociedade.
Aprender Matemática não se justifica somente na sua utilidade prática, mas na
compreensão do seu uso e da simbologia envolvida, sabendo interpretá-los. A tentativa de
justificar a importância da Matemática ou seus conteúdos escolares com uma aplicação da
vida diária,
1
As obras em inglês foram traduzidas pela autora do trabalho.
16
avaliações como SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e a prova Brasil
mostram resultados semelhantes.
Na análise dos dados do SAEB (1995 – 2005), a média nacional está abaixo da
escala mínima exigida de 200 pontos a partir dos dados da matriz de referência. Nos
resultados de 1995, os alunos do quinto ano atingiram 191 pontos e, nos anos seguintes,
sempre apresentaram baixos resultados, chegando a 182 pontos em 2005. (INEP, 2007). Esses
dados indicam que os alunos têm apresentado na disciplina de Matemática resultados
elementares para quem está concluindo a primeira etapa do Ensino Fundamental. Os
estudantes não conseguem ler e interpretar gráficos de colunas e nem estabelecer relações
entre medidas de tempo (horas, dias, semanas), bem como não efetuam cálculos de resultados
simples utilizando as quatro operações. (INEP, 2003).
Essas dificuldades não aparecem somente nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Se analisarmos dados do SAEB em anos posteriores, poderemos notar que a dificuldade com
a Matemática persiste. Os alunos do 9º ano apresentaram no SAEB de 2003 um resultado de
278,7 pontos, enquanto que a média satisfatória é de 375 pontos. Isso significa que os alunos
ao final do Ensino Fundamental resolvem expressões algébricas envolvendo apenas uma
incógnita e não interpretam os dados de um problema fazendo uso de símbolos matemáticos.
(INEP, 2007). Dados como estes mostram que os alunos não estão desenvolvendo os
requisitos mínimos para uma trajetória bem-sucedida e não ampliam conceitos algébricos.
O baixo desempenho dos alunos em Matemática advém não apenas da dificuldade
própria da área, mas também do ensino centrado em procedimentos mecânicos, regras e
memorização. (VASCONCELOS, 1998; LINS, GIMENEZ, 1997). Os baixos índices ao
longo dos anos nos revelam que a escola continua ensinando proposições formais sobre
estruturas matemáticas, baseadas na concepção de que o aluno é o receptor das informações,
limitando-o a aprender regras matemáticas ao invés de compreender - de forma ativa - como
operar sobre fatos e dados matemáticos.
O ensino tradicional, baseado em regras e manipulação simbólica advém das décadas
de 60 e 70 através do movimento educacional chamado “Matemática Moderna”. Nesta época,
o objetivo da disciplina era aproximar a Matemática escolar da Matemática pura, passando a
ter preocupações “excessivas com abstrações internas à própria Matemática, mais voltadas à
teoria do que à prática” (BRASIL, 2000, p. 21), pois “a Matemática nas escolas baseia-se em
informações isoladas, técnicas de cálculos e em uma sequência lógica de conteúdos que nem
17
nos anos finais do Ensino Fundamental é a dificuldade dos alunos em relacionar um tipo de
raciocínio diferente daqueles que estavam acostumados a aprender.
O ensino da álgebra também dá maior ênfase aos procedimentos de cálculo, regras e
passos para a resolução de problemas, utiliza símbolos e letras como símbolo abstrato sem
relacionar com seus aspectos significativos. A consequência é que os estudantes não
entendem sua utilização e a relacionam apenas como substituição de letras por números ou
resolução de equações através de fórmulas prontas.
Segundo os PCN (1998) do terceiro e quarto ciclo, a álgebra deve ser utilizada para
generalizar padrões aritméticos, estabelecer relação entre duas grandezas, modelizar, resolver
problemas aritmeticamente difíceis. Para os Parâmetros, o pensamento algébrico explora
situações de aprendizagem que levam o aluno a reconhecer representações algébricas,
traduzindo informações contidas em tabelas e gráficos em linguagem algébrica e vice-versa,
generalizando regularidades e identificando os significados das expressões. Dessa maneira, o
pensamento algébrico envolve o desenvolvimento de habilidades como a observação e
interpretação de regularidades, assim como a abstração e generalização de fenômenos
matemáticos.
Precisamos pensar em um currículo no qual os estudantes construam o conhecimento
matemático e algébrico a partir de uma variedade de representações e situações, considerando
a observação de regularidades em tabelas e gráficos. Para que essas mudanças ocorram no
âmbito da escola é preciso investir na formação de professores para a compreensão de
conceitos algébricos de forma aprofundada, e entender quais atividades facilita a apreensão
pelos alunos.
Essa discussão revela a importância de estimular o estudante a compreender noções
algébricas, tendo como base as atividades significativas, mas não apenas a memorização de
regras de manipulação. Além disso, essas atividades devem envolver tanto a utilização do
pensamento aritmético como também o pensamento algébrico. Nessa perspectiva, o currículo
da disciplina de Matemática pode integrar esses dois conteúdos já nos anos iniciais ao invés
de separá-los. Ao pensar nessa proposta, é necessário discutir como os professores poderiam
envolver seus alunos em contextos de aprendizagem que abrangessem atividades relacionadas
tanto ao pensamento aritmético como o algébrico.
É preciso que as formações dos professores de Matemática propiciem o
desenvolvimento baseado na exploração e investigação de conceitos matemáticos. O professor
19
Mas, afinal, o que é álgebra? E o que é aritmética? Por um lado, fazer essas perguntas parece um tanto estranho.
Coisas da álgebra são equações, inequações, funções etc., e as da aritmética são números, as quatro operações,
tabuada etc. Todo mundo sabe. Mas há um problema naqueles et cetera: o que é mesmo que vem depois deles?
(LINS, GIMENEZ, 1997, p. 12).
Para realizarmos a definição desses dois conteúdos é necessária uma reflexão inicial
sobre ambos os conceitos. Assim, nos remetemos a uma pergunta primordial e de fundamental
importância para este estudo: Quais são as diferenças entre a álgebra e aritmética? Quais os
objetivos fundamentais da aritmética e da álgebra? Prontamente, poderíamos responder a essa
pergunta com: aritmética trabalha com números e álgebra com símbolos. No entanto, essa
definição se torna limitada uma vez que ambos os conteúdos se relacionam. Neste tópico,
explicaremos como.
Na tentativa de definir os dois conteúdos, podemos restringi-los em uma perspectiva
limitada sobre a aprendizagem da Matemática. A álgebra definida a partir da terminologia dos
programas e livros didáticos dos anos 90 se baseia em um conjunto de regras de
transformação de expressões (monômios, polinômios, expressões algébricas, expressões com
radicais), processos de resolução de equações e sistemas de equações. Essa definição seria
desvalorizar os aspectos da álgebra desenvolvidos na Antiguidade (resolução de problemas),
no período clássico da álgebra (estudo de funções) e na atualidade (relações e estruturas
algébricas). (PONTE, BRANCO, MATOS, 2009).
Alguns trabalhos (LESSA, 1996; LINS, GIMENEZ, 1997; DA ROCHA FALCÃO,
1993; TELES, 2004) têm buscado definir as diferenças desses dois conteúdos. Segundo Lessa
(1996), a aritmética trabalha as operações com números e enfatiza a obtenção de resposta
mediante cálculos e a álgebra prioriza a representação de problemas através de equações, que
se processa em um nível mais abstrato, utilizando e operando com os símbolos e só
posteriormente a realização dos cálculos sobre as equações. Para a autora, aritmética trabalha
com a concepção de números e suas operações e a álgebra com as relações entre as
quantidades, utilizando símbolos (como a, b, x e y) para representar números.
Apesar de a álgebra utilizar outros símbolos, é na aritmética que começamos a
trabalhar com eles. Por exemplo, o entendimento de número e numeral exige do aluno a
relação entre símbolo (numeral) e quantidade (número). O estudo do que significa o numeral
cinco, por exemplo, surge a partir de relacionamento entre a quantidade de cinco elementos
com o símbolo 5. Portanto, a álgebra precisa ser uma continuação desse entendimento sobre
símbolos. Afinal, é no estudo sobre números que entramos em contato com os primeiros
24
símbolos, como =, +, -, x, :, <, >, 2³, dentre outros. Na Álgebra, conhecemos novos símbolos e
alguns deles mudam de significado.
Ainda há diferenças conceituais que causam dificuldades nos alunos quando estão
aprendendo Álgebra. Na Álgebra, uma equação significa a relação entre os valores
conhecidos e desconhecidos do problema. Já na aritmética uma equação consiste em encontrar
uma resposta dos processos de cálculos de um problema. Assim, o sinal de igual “=” na
aritmética estabelece o resultado de uma operação e na álgebra esse sinal representa relação
de equivalência ou igualdade entre os dois membros de uma equação. (LESSA, 1996).
Não devemos condenar o simbolismo e sim entender como operá-los. Os símbolos
utilizados na álgebra ou linguagem algébrica cria a possibilidade de distanciamento em
relação aos elementos semânticos que os símbolos representam. Ganhando vida própria,
tornam-se poderosas ferramentas para a resolução de problemas. No entanto, muitas vezes, o
uso de símbolos na educação algébrica é utilizado de maneira arbitrária, de modo abstrato,
sem referentes significativos, transformando a Matemática em um jogo de manipulação,
pautado pela prática repetitiva de exercícios, tornando a linguagem algébrica distante dos
referentes concretos iniciais e incompreensível para o aluno. (PONTE, BRANCO, MATOS,
2009).
Kaput (1998) defende que a linguagem algébrica utilizada na escola deve ser de uma
maneira precoce e integrada. Precoce porque os alunos devem fazer o uso mais cedo e em um
longo período de tempo para se tornar fluente na sua utilização; integrada, porque para
aprender uma linguagem, os alunos precisam usá-la para expressar algo significativo para
eles, tais como as relações quantitativas que surgem dentro da Matemática (por exemplo, as
que ocorrem em aritmética e geometria) e na Matemática fora da escola (quando usamos para
o nosso cotidiano).
As atividades e o ensino da Matemática precisam ultrapassar a manipulação
simbólica e ser compreendida como uma ferramenta de resolução de problema. Pensar a
álgebra simplesmente baseado em uma visão letrista é uma das causas das dificuldades do
ensino da álgebra. Vergnaud (1997) afirma que conceitos relacionados à álgebra não estão
isolados, e sim vinculados às estruturas aditivas e multiplicativas, estruturas estas que são
desenvolvidas durante a aprendizagem de trabalho com os números.
Para Lins e Gimenez (1997) a aritmética corresponde a relações quantitativas sobre
coleções de objetos. Assim, na educação Matemática a aritmética é núcleo fundamental dos
25
anos iniciais do Ensino Fundamental, trabalhando com a compreensão dos números e suas
operações com objetivo de desenvolver o sentido do número na criança. Por sua vez, a álgebra
trabalha com generalizações de modelos, consistindo em “um conjunto de afirmações para as
quais é possível produzir significado em termos de números e operações aritméticas,
possivelmente, envolvendo igualdade ou desigualdade” (idem, p. 137). Para os autores, a
atividade algébrica consiste no processo de produção de significados para a álgebra.
De acordo com os PCN (BRASIL, 1998), a aritmética compreende o estudo dos
números, operações, sistemas numéricos, modo de utilizar os conceitos numéricos e
desenvolver a capacidade de cálculo, usando linguagem oral, algoritmos e registros informais.
O conhecimento algébrico desenvolve a capacidade de abstração e generalização e é uma
ferramenta importante na resolução de problemas, em que o uso somente de estratégias
pertencentes ao campo da aritmética se mostra insuficiente. (DA ROCHA FALCÃO, 1993).
A aritmética e a álgebra se diferenciam por possibilitar a representação prévia de
situações, permitindo a exploração de relações matemáticas entre quantidades. Por exemplo:
se vendo 5 ingressos meu lucro é de 25 reais e se vender x ingressos, quanto será o meu
lucro?
Para Teles (2004) a diferença entre álgebra e aritmética na escola está nos objetivos
de ensino. Enquanto que o objetivo da aritmética está no ensino dos números, operações e
resolução de problemas, exigindo necessariamente uma resposta numérica, a álgebra é
ensinada na escola com objetivo de generalizar os procedimentos aritméticos e trabalhar com
manipulações de equações. Para a autora,
em concepções que correspondem aos diversos usos das variáveis, em: aritmética
generalizada, estudo de procedimentos para resolver problemas, estudo de relações entre
grandezas e estudo de estruturas matemáticas. Por fim, Fiorentini, Miorin e Miguel (1993)
caracterizam a álgebra em concepções históricas da educação algébrica, ajudando a entender a
influência tradicional utilizada atualmente na escola. São elas: linguístico-pragmática,
fundamentalista-estrutural, fundamentalista-analógica.
A seguir, delinearemos cada corrente e concepção, relacionando-as com objetivo de
entender como esses teóricos pautam o ensino da álgebra e suas abordagens didáticas. O
entendimento dessas correntes e concepções poderá explicar as características do ensino da
álgebra descrita no começo deste trabalho.
Começaremos pela corrente letrista caracterizada por Lins e Gimenez (1997), na qual
se baseia na concepção da álgebra exclusivamente para o ensino de manipulação de símbolos.
Esta visão tem uma concepção limitada do que seja aprender e ensinar álgebra, utilizando-a
apenas como matéria para treino e prática.
Partindo dessa reflexão do ensino da álgebra, Fiorentini, Miorim e Miguel (1993),
caracterizam a educação algébrica na concepção linguístico-pragmática, utilizada durante o
século XIX e até a metade do século XX. Nesta corrente o papel do ensino da álgebra era
fornecer um instrumental técnico (superior ao da aritmética) para resolver equações. A
aprendizagem da álgebra, dentro dessa concepção, tinha o objetivo de treinar o aluno a
adquirir a capacidade de dominar de forma mecânica, as técnicas requeridas pelo
transformismo algébrico (sintaxe).
que uma “álgebra geométrica”, por tornar visível certas identidades algébricas, seria
didaticamente superior a qualquer forma de abordagem estritamente lógico-
simbólica. (FIORENTINI, MIORIM, MIGUEL, 1993, p.84).
sabem criar expressões formando respostas com símbolos matemáticos e não encontram um
significado em respostas com letras. Por exemplo, em um problema como “some 2 a m” os
alunos não consideram 2 + m uma resposta válida, mostrando dificuldades em aceitar uma
expressão como resposta. Os alunos apresentam dificuldade de expressar e trabalhar com uma
linguagem simbólica e continuam achando que apenas uma resposta numérica em atividades
algébricas é correta.
Fiorentini, Fernandes e Cristóvão (2005) pesquisaram como atividades em um
ambiente de investigação matemática (IM) podem auxiliar no entendimento da álgebra,
identificando indícios de formação e desenvolvimento da linguagem e do pensamento
algébricos de alunos ao iniciarem o estudo deste tópico escolar. Essas atividades supõem o
envolvimento dos alunos em situações que permitam a motivação em utilizar a linguagem
simbólica. O trabalho foi realizado em duas classes do 6º ano do Ensino Fundamental em
uma escola pública e contou com a colaboração da professora durante a observação de uma
tarefa investigativa, buscando romper com atividades tradicionais.
Uma das atividades foi encontrar significado para as mudanças de números, quando
os alunos passavam por uma máquina mágica que faz transformações de números por outros
números. Durante a atividade era explicado que a máquina não possuía um segredo único, isto
é, existiam vários truques de transformação. Os alunos eram desafiados a encontrar essas
transformações. Quando alguém escolhia o número 2, por exemplo, a máquina o transformou
em 5. Durante o estudo eles encontraram diversas transformações como: [+ 3], [+ 4 – 1], [x 4
– 3], [: 2 + 4], [x 5 – 5], [x 7 – 9], [+ 23 : 5]. Após vários trabalhos de transformação de
números, os estudantes foram desafiados a pensar o que aconteceria se pegassem a
transformação [+ 3] com a entrada do número “x”. A maioria dos estudantes disse que, ao
entrar o x, e somando 3, o resultado não pode ser determinado numericamente, pois não se
sabe qual o valor de x. O estudo desenvolvido mostra que este é um contexto rico de
mobilização e desenvolvimento do pensamento algébrico, apresentando indícios de que as
investigações matemáticas representam um momento desafiador de aprendizagem.
Outros estudos têm analisado a utilização de materiais concretos como uma balança
de dois pratos para facilitar o trabalho com álgebra tanto em situações cotidianas.
(CARRAHER, CARRAHER, SCHILIEMANN, 2002) como em situações escolares
(CASTRO-FILHO, LEITE, FREIRE, PASCHOAL, 2003).
34
Propor atividades algébricas nos anos iniciais do Ensino Fundamental é algo novo
visto que, por muito tempo, conforme o currículo escolar, a aritmética é ensinada nos anos
iniciais para que posteriormente os estudantes possam aprender conceitos algébricos. Essa
divisão está diretamente ligada ao estudo de Piaget e Inhelder (1982), no qual as crianças que
estão no estágio das operações concretas são capazes somente de operar concretamente sobre
as situações aritméticas, geralmente vistas como as mais fáceis, porque enfatiza o trabalho
com números, as quatro operações e tabuada. Após desenvolverem o pensamento operatório
formal elas estão aptas a aprender um conteúdo abstrato, no caso, a álgebra. Segundo Lins e
Gimenez (1997) essa ideia de divisão curricular causa dificuldades, tanto por parte de quem
ensina como por parte de quem aprende.
Autores como Carraher, Carraher e Schliemann (2002), Schiliemann, Carraher,
Pendexter e Brizuela (1998), Lins e Gimenez (1997) e Da Rocha Falcão (1993), Spinillo
(1993), Kaput (1994), já pesquisaram atividades ligadas ao campo conceitual algébrico, e
concluíram que estas poderiam ser introduzidas já nos anos iniciais para que os alunos não
sintam tantas dificuldades ao estudar álgebra pela primeira vez.
Esses estudos discutem que a quebra curricular entre esses dois conteúdos causam
dificuldades de compreensão nos alunos quando são iniciados aos conceitos algébricos e
apontam a necessidade da aritmética e álgebra darem significado uma à outra. Dessa forma, as
atividades dos anos iniciais precisam ser elaboradas para ajudar no desenvolvimento do
pensamento algébrico.
Na próxima seção, definiremos o que é o pensamento algébrico e discutiremos os
estudos realizados nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Esses estudos mostram como é
possível realizar um trabalho que desenvolva conceitos algébricos em crianças mesmo antes
de começar a aprender formalmente álgebra na escola, como também, reflexões de como
podemos fazer atividades que integrem tanto o pensamento aritmético como o algébrico.
A discussão sobre álgebra nos anos iniciais, ou álgebra inicial, é fruto de diversas
pesquisas que mostram como a aritmética e a álgebra poderiam ser trabalhadas de forma a
37
Para Kaput e Blanton (2001), o trabalho com álgebra nas escolas deve “discutir com
mais profundidade dois conteúdos da matemática, aritmética e álgebra, já que esses conteúdos
têm sido trabalhados inadequadamente por séculos”. (KAPUT, BLANTON, 2001, p. 02).
A discussão tratada por Kaput e Blanton (2001) e Fiorentini, Miorim e Miguel
(1993) define como a álgebra pode ser trabalhada nos anos iniciais. As atividades precisam
envolver situações que levem os alunos a desenvolver o entendimento de igualdade,
estabelecendo relações e comparações entre quantidades conhecidas e desconhecidas, como
também, tentar expressar alguns significados para uma expressão numérica e perceber
regularidades.
38
Os estudos nesta área mostram como crianças mais novas podem utilizar ideias
algébricas como notação simbólica, reta numérica, tabelas e gráficos para representar o que
normalmente é omitido nos currículos do Ensino Fundamental. As pesquisas em álgebra
inicial sinalizam a preocupação em desenvolver nas crianças um pensamento que dará suporte
ao entendimento das relações algébricas mais complexas nos anos finais do Ensino
Fundamental.
Carraher e Earnest (2003) perceberam em seus estudos que crianças mais novas se
beneficiam e desenvolvem o raciocínio matemático por meio de ricos contextos e
pensamentos sobre as relações entre quantidades na tentativa de resolver problemas verbais.
A proposta não é adiantar o ensino da álgebra, mas propor situações ligadas ao
cotidiano das crianças e baseadas no pensamento aditivo e multiplicativo, pensamento este,
ligado a aritmética:
A ideia não é simplesmente fazer que o aluno trabalhe com atividades mais cedo,
isto é, ao considerá-las já algébricas. Os conteúdos precisam ser sutilmente
transformados para um caráter algébrico. Em certa medida, essa transformação exige
o simbolismo algébrico. Mesmo nos primeiros anos, a notação algébrica pode
desempenhar um papel de suporte na aprendizagem da matemática. Notação
simbólica, funções, tabelas e gráficos são ferramentas poderosas para crianças
compreender e expressar relações funcionais entre uma ampla variedade de
situações problema. (CARRAHER, SCHLIEMANN, BRIZUELA, EARNEST,
2006, p. 4).
As atividades algébricas nos anos iniciais precisam ser compreendidas como uma
ferramenta para resolução de problemas e construída na escola através de uma cultura do
pensamento algébrico como forma de representar e relacionar quantidades. As atividades
escolares precisam fazer que as crianças entendam o significado dos símbolos matemáticos,
como também utilizem uma linguagem matemática, ou seja, saibam operar com os símbolos
matemáticos para expressar algum problema do cotidiano.
A Educação Algébrica deve estimular o trabalho com situações-problema e fazer um
trabalho
de oito anos. Os autores mostram como os alunos utilizam gráficos para resolver situações
propostas, estabelecendo-lhes significados.
Uma dessas atividades consistiu em explorar problemas que envolvem estruturas
aditivas e multiplicativas. Depois de um engajamento dos alunos com as situações-problema,
os investigadores levaram os alunos a um ginásio e pediu que as crianças desenhassem duas
linhas paralelas no chão com números, variando de 0 a 12 com a mesma distância entre as
escalas. Depois dessa construção, discutiu com os alunos o seguinte problema: "Karen tem
duas vezes o tanto de dólares que Franklin". Durante a atividade os alunos decidiram a linha
representando o dinheiro de Karen e a outra linha o dinheiro de Franklin. As crianças foram
chamadas para representar nas retas a quantidade de Karen e de Franklin. Assim, a criança na
linha de Karen estaria sempre em um número que fosse duas vezes o valor da posição
ocupada pela outra criança na linha de Franklin. Mais tarde, as duas linhas foram
posicionadas perpendicularmente, encontrando-se como na origem de x e y em um gráfico.
Novamente as crianças representaram a relação entre o dinheiro de Karen e de Franklin nas
linhas perpendiculares. As posições no gráfico foram nomeadas pelas crianças da seguinte
maneira: (0.0), (1.2), (2.4), (3.6). As crianças permaneciam no gráfico mesmo com outras
situações sendo propostas. Ao final das situações, elas tiveram acesso a uma corda para ligar
todas as crianças do gráfico, formando uma reta. No início da atividade, algumas erravam as
posições, mas eram ajudadas por outras crianças da classe.
Os autores apontam que depois dessa atividade, as crianças facilmente resolviam
problemas e representavam gráficos na sala de aula. Perceberam em uma entrevista como as
crianças se tornaram mais familiares com as convenções dos gráficos e como pontos
posicionados em uma mesma reta de um gráfico representam relações iguais.
Os pesquisadores concluíram que situações propostas e construídas pelos próprios
alunos, possibilitam o estabelecimento de um sentido diferente daquele construído em uma
aula tradicional de Matemática, cujo objetivo é somente transmitir os conteúdos e aplicar as
regras dos livros didáticos.
É fundamental que as atividades propostas tenham o objetivo de motivar os
estudantes a incorporar na escola, e fora dela, o uso de tabelas, retas numéricas e gráficos em
diversas situações. Carraher e Earnest (2003) preocuparam-se em trabalhar também a notação
simbólica em situações de jogos e brincadeiras com crianças de nove anos de uma escola
pública nos Estados Unidos.
42
Nós achamos que nossos alunos geralmente utilizam notação algébrica para
descrever funções que foram identificadas através da reflexão de ricos contextos. No
entanto, vimos poucas provas de que essa notação exerce uma influência sobre o
curso de seu pensamento. Eles pareciam estar simplesmente usando a notação para
registrar o que tinha realizado. (CARRAHER, EARNEST, 2003, p. 02).
Brian e Tim adoram comer chocolate. Um dia, Brian levou 10 chocolates para a
escola e depois comprou mais 2 na loja da escola. Tim levou 5 chocolates, comprou
então mais 5 na loja da escola e ganhou mais 2 de um outro amigo. No recreio, Tim
comeu 2 de seus chocolates e Brian comeu também 2 de seus chocolates. Você
pensa de que após o recreio Tim tem a mesma quantidade de chocolates que Brian?
Ou, você acha que um tem mais chocolates do que o outro? (SCHLIEMANN,
CARRAHER, BRIZUELA, JONES, 1998, p. 18).
Bob e Andrew foram pegar conchas do mar na praia cedo da manhã. Bob pôs as
conchas que encontrou em uma caixa grande. Andrew encontrou o mesmo número
de conchas que Bob, mas ele dividiu igualmente em duas caixas pequenas. De tarde,
foram novamente à praia e Bob encontrou outra vez a mesma quantidade de conchas
como as de Andrew. Desta vez cada menino pôs as conchas que eles tinham
encontrado em um saco. No dia seguinte foram contar quantas conchas cada um
tinha nas caixas, mas não encontraram os sacos. Você acha que Bob tem o mesmo
número de conchas que Andrew? Ou você acha que um deles tem mais concha que
o outro? (SCHLIEMANN, CARRAHER, BRIZUELA, JONES, 1998, p. 19).
problema. Já para resolver os problemas com quantidades implícitas, alguns alunos tiveram
dificuldades, argumentando que não podiam resolver problemas sem números. No entanto,
quando eram instigadas pelo entrevistador, elaboravam estratégias de representação como o
uso de letras ou ícones para resolver o problema. Essa tendência de procurarem o número para
resolver um problema pode ser uma consequência do treinamento aritmético que focaliza
principalmente procedimentos escritos.
Essas pesquisas nos mostram que os alunos mais novos criam suas representações e
notações diferentes daquelas impostas pela escola. Quando os alunos tentavam resolver os
problemas em que não aparecia a quantidade, faziam o cálculo mental e explicavam suas
dificuldades em resolver no papel, pois não tinha número. Assim, é necessário pesquisadores
e professores explorarem cada vez mais atividades relacionadas com a organização social e
material de práticas culturais e prestarem mais atenção às representações criadas pelas
crianças.
Isso implica que a análise da aprendizagem da matemática deve levar em conta não
apenas as estratégias que os indivíduos elaboram durante a resolução de problemas,
mas a própria atividade em que se engajam e colaborativamente constroem.
(MEIRA, 1996, p. 171).
Pinto (2001) investigou como crianças de oito anos resolvem estruturas algébricas.
Essas atividades foram baseadas na sequência didática elaborada por Araújo, Brito Lima, Da
Rocha Falcão, Lessa, Oliveira e Leitão, (2000) com o propósito de construir significados em
álgebra nos anos iniciais (transformações, representação icônica e simbólica, equivalência,
incógnita e relação entre quantidades). Durante a aplicação da sequência didática, a autora
observou dificuldades das crianças em entender conceitos de transformação e relação entre
duas quantidades iguais, mas a intervenção da pesquisadora feita em forma de perguntas
durante a interação das duplas os ajudou a superar as dificuldades encontradas durante a
resolução da sequência.
A pesquisa de Freire (2007) utilizou cinco atividades relacionadas ao pensamento
algébrico com objetivo de analisar o desenvolvimento do pensamento de conceitos
relacionados à álgebra em alunos de anos iniciais. A pesquisa envolveu oito alunos da escola
pública com idades entre 08 (oito) e 10 (dez) anos e refletiu sobre o ensino da álgebra nos
anos iniciais. Os estudantes entraram em contado com as primeiras noções algébricas através
45
Para Schulman (1986) cada disciplina tem uma especificidade própria que justifica a
necessidade de se estudar a natureza do conhecimento do professor, considerando que o
conhecimento pode ser dividido em três categorias: o conhecimento do conteúdo, o
conhecimento pedagógico do conteúdo e o conhecimento do currículo.
O conhecimento do conteúdo refere-se à compreensão e organização do conteúdo pelo
professor, como também o entendimento dos processos de sua produção, compreensão dos
fatos, conceitos e procedimentos de uma área específica do conhecimento. Esse tipo de
conhecimento exige que o professor tenha uma compreensão sobre a forma de ensinar aos
alunos várias representações e contextos do conteúdo que leciona. Essa categoria define que o
conhecimento do conteúdo deve se referir às diferentes áreas desse conteúdo e nas formas de
discutir sua estruturação. Para pensar corretamente sobre o conhecimento do conteúdo requer
ir além do conhecimento dos fatos ou conceitos de um domínio:
O professor não deve apenas ser capaz de definir para os estudantes as verdades
aceitas em um conteúdo. Eles também precisam ser capaz de explicar porque uma
dada proposição pode ser justificada, porque vale a pena ser conhecida, como se
relaciona com outras proposições, dentro e fora da disciplina, tanto na teoria quanto
na prática. (SHULMAN, 1986, p.9).
que não existem uma única forma de representação, o professor deve ter em mãos
um verdadeiro arsenal de formas alternativas de representação, alguns dos quais
derivam da investigação, enquanto outros se originam na sabedoria da prática.
(SHULMAN, 1986, p.9).
Para Schulman (1986) o professor deve ser capaz de transformar seu conhecimento
em algo interessante e útil para seus alunos. O conhecimento sobre o conteúdo (em nosso
caso, a Matemática) precisa ser compreendido para que possa ser transformado a fim de ser
ensinado. Essa transformação faz parte do conhecimento didático e requer que o professor
conheça a melhor maneira de apresentar o conteúdo, escolhendo metáforas, materiais,
exemplos e analogias para que o aluno consiga estabelecer relações com este conteúdo.
Schulman (1986) ainda explica que o professor deve saber trabalhar com esses
conhecimentos, desenvolvendo habilidades que incluam diversos modos de ensinar, organizar
e gerir sua sala de aula, como também conhecer diversos materiais didáticos disponíveis para
o ensino do conteúdo programático. As categorias de Shulman têm recebido muita atenção da
51
que significa saber e fazer Matemática. Para a autora, entender as regras da matemática, bem
como o que é arbitrário ou convencional versus o que é necessário ou lógico, é importante
para o ensino dessa matéria e para propor discussões em sala de aula.
A terceira dimensão do conhecimento matemático envolve a forma como o professor
comunica as ideias matemáticas nas tarefas que apresenta aos seus alunos, os tipos de
incertezas que surgem em suas aulas e a maneira pelas quais eles respondem a essas
incertezas, bem como os motivos que os professores despertam nos alunos sobre a
aprendizagem de tal conhecimento.
Ball (1991) ainda investigou como três professores apresentavam seus
conhecimentos sobre multiplicação, analisando como cada um compreende esse conteúdo e
justifica seu ensino. Os professores investigados neste estudo eram enfáticos quanto à
importância de ensinar os alunos a seguirem os passos corretamente. Tentavam pensar em
formas de "encaixar" os passos na cabeça dos alunos, em vez de tentar descobrir as ideias
subjacentes. Em seus resultados, encontrou que os professores possuem um conhecimento
tácito sobre multiplicação, ou seja, somente conseguem falar sobre os processos da
multiplicação de forma mecânica. Para a autora, o conhecimento tácito, seja qual for o seu
papel na atividade matemática, é insuficiente para ensinar. Esse conhecimento isolado não
ajuda o entendimento e está baseado no “faça isso” para resolver algum procedimento
matemático.
Para Ball (1991) o conhecimento explícito do professor deve articular-se com a visão
que este tem sobre o conteúdo matemático e a natureza da disciplina, formando aquilo que
influenciará a forma pela qual decide apresentar certo conteúdo para seus alunos.
Além de discutir sobre a clareza de conhecimento dos professores sobre conceitos e
procedimentos da multiplicação, Ball (1991) levantou alguns aspectos de como as ideias dos
professores influenciam suas representações, entendimento e ensino de Matemática. Para os
professores, a aprendizagem desse conteúdo significa: (1) Fazer Matemática é seguir os
procedimentos, ou seja, passo a passo para se chegar às respostas; (2) saber matemática
significa saber "como fazer"; (3) a matemática é em grande parte uma coleção arbitrária de
fatos e regras; (4) o principal motivo para aprender Matemática é para avançar para o próximo
nível na escola; (5) o objetivo principal para a aprendizagem matemática é ser capaz de
calcular os preços na loja e (6) a maioria das ideias matemáticas têm pouca ou nenhuma
relação com os objetos reais e, portanto, pode ser representado apenas simbolicamente.
A autora conclui sua discussão, afirmando que pesquisas ainda devem estudar o
conhecimento do professor sobre um determinado conceito em diversos contextos e a partir de
vários pontos de vista. As dimensões do conhecimento propostas por Ball nos faz afirmar que
o professor de Matemática precisa articular seu saber e desenvolver uma linguagem
apropriada para que seus alunos possam desenvolver e aprender a linguagem matemática, pois
“aquilo que é tacitamente aceito não pode ser explicitamente ensinado”. (SZTAJN, 2002, p.
21).
Em um levantamento sobre a revisão de literatura de trabalhos de educação
matemática, Sztajn (2002) afirma que as pesquisas de uma maneira geral, indicam que os
professores precisam conhecer como os alunos aprendem, suas concepções sobre os conceitos
que estão sendo ensinados e as possíveis reações durante essa aprendizagem. Dessa maneira,
o professor precisa, além de conhecer o conteúdo e suas particularidades, pensar a partir da
perspectiva do aluno, fazendo que este reflita sobre o conteúdo proposto.
Para tanto, entendendo o saber como parte de uma equação que liga a atuação do
professor ao desempenho dos alunos, Ball, Thames e Phelps (2008), Ball, Lewis e Thames
(2008), Ball, Hill e Bass (2005), mostram a dificuldade dos professores em ensinar
54
Matemática, mesmo no nível da escola primária, o que revela ser essa uma tarefa exigente.
Esses estudos também apontam que o conhecimento dos professores de Matemática é um
fator imprescindível para que os alunos aprendam sobre um determinado conteúdo. Em seus
registros de sala de aula no ensino elementar, perceberam que professores constantemente
fazem reflexões sobre a aprendizagem dos alunos.
No entanto, outros fatores são importantes para que a aprendizagem ocorra: é preciso
que o professor esteja apto a conduzir os procedimentos para ensinar determinado conteúdo.
Os professores devem também desenvolver recursos que explorem conhecimentos
matemáticos e competências para um trabalho efetivo em sala de aula.
Os autores investigaram como os professores influenciavam no raciocínio dos alunos
do ensino elementar para resolver problemas de adição e subtração como, por exemplo, 307 –
168. Durante a resolução do algoritmo, os alunos sentiam dificuldades em diminuir a casa da
unidade, mas a intervenção do professor com questionamentos, por exemplo, “Podemos
diminuir um número maior de um número menor?” estaria contribuindo para ajudar os alunos
a descobrir suas próprias estratégias para resolver o algoritmo sem ter que aprender o passo-a-
passo de resolução.
Os trabalhos de Ball, Thames e Phelps (2008) mostram razões para justificar a
importância de descrever o conhecimento dos professores. Eles explicam que as categorias do
conhecimento propostas por Shulman (1986) são úteis para entender as relações entre
professores e o desempenho de seus alunos e verificar se existem aspectos do conhecimento
do conteúdo que influenciam o desempenho do aluno mais do que outros. No entanto, ainda
precisamos investigar se e como diferentes abordagens para a formação de professores
possuem efeitos sobre o conhecimento pedagógico do conteúdo e como eles estão
relacionados com aspectos específicos da prática pedagógica. Ball, Thames e Phelps (2008)
também destacam que as pesquisas precisam discutir como o conhecimento pedagógico do
conteúdo pode subsidiar a formulação de materiais de apoio para professores, bem como na
formação docente.
Investigações realizadas por Fennema e Franke (1992) discutem como os
conhecimentos dos professores são desenvolvidos a partir de um programa de formação para
ensinar um determinado conteúdo de Matemática. Os autores observaram como os
professores realizam uma atividade que leva o aluno a refletir e aprender sobre os conceitos
matemáticos. Em seus estudos, os pesquisadores encontraram ligações entre o conhecimento
55
reformada desde gráficos qualitativos até funções lineares e equações. O autor discute que a
tecnologia utilizada permitiu aos professores questionarem e refinarem seu próprio
conhecimento sobre função. Essa mudança aconteceu não apenas nos momentos de formação,
mas também durante a implementação da tecnologia com os alunos. Por último, aponta a
importância dos professores discutirem entre si, questões pedagógicas e conceituais.
A partir do exposto, compreendemos que as discussões sobre o desenvolvimento
profissional dos professores de Matemática na perspectiva de alargamento de seus
conhecimentos (do conteúdo, pedagógico ou curricular), podem beneficiar os professores na
sua prática em sala de aula, na ampliação de conceitos fundamentais para o ensino e
aprendizagem, fazendo que eles possam envolver seus alunos em atividades significativas e
elaboração de conceitos.
Os conhecimentos encontrados neste trabalho estão associados à necessidade de
reflexão sobre os conhecimentos matemáticos dos professores em função do contexto
educativo, percebendo que o conhecimento dos professores é muito importante para a
aprendizagem dos alunos. No entanto, ainda precisamos investigar como professores
trabalham com diversos materiais para a aprendizagem de conteúdos específicos e como se
apropriam de atividades e conteúdos que não são explorados rotineiramente em currículos
escolares, como a álgebra nos anos iniciais com suporte de materiais, atividades e recursos
digitais.
No capítulo anterior, explanamos as características do pensamento algébrico e as
pesquisas realizadas com os alunos, mostrando que é possível trabalhar nos anos iniciais
atividades de despertem e trabalhem de maneira significativa aspectos deste pensamento.
Neste capítulo discutimos pesquisa na perspectiva do desenvolvimento profissional dos
professores, discutindo a importância de ampliar diversos conhecimentos profissionais tanto
em aspectos específicos de um conteúdo, didáticos e pedagógicos e a necessidade de realizar
pesquisas que divulguem o desenvolvimento desses diversos conhecimentos por professores.
Este trabalho propõe-se, então, trazer à tona discussões de como professores dos anos iniciais
desenvolvem o conhecimento de um conteúdo específico que é o conhecimento algébrico.
59
Pesquisas científicas não podem ser vistas somente como um conjunto de técnicas e
atividades a serem seguidas de uma forma predeterminada. É preciso compreender a pesquisa
como fundamental na construção de um conhecimento que apoiará discussões futuras para a
sociedade como um todo.
O papel da pesquisa em educação não é diferente, pois nela que se legitima o
conhecimento científico com objetivo de esclarecer dúvidas, propor novas ideias e elaborar
novas teorias. Nesse entendimento o pesquisador precisa ter consciência da pesquisa e
conhecer substancialmente o objeto de estudo.
Neste sentido, propomos investigar o desenvolvimento de conceitos algébricos por
professoras nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para isso, foi necessário fazer encontros
para que as professoras polivalentes discutissem juntamente à pesquisadora como era possível
trabalhar com esses conceitos na sala de aula, utilizando recursos digitais e materiais
manipulativos.
Neste capítulo abordaremos os procedimentos metodológicos, descrevendo o
paradigma da pesquisa científica. Em seguida, explicaremos o local e sujeitos da pesquisa,
bem como as atividades que foram utilizadas durante os encontros com as professoras. Logo
após, descreveremos o desenvolvimento da pesquisa que se deu em três etapas: 1) o momento
de encontro com as professoras, o qual chamaremos de oficina de formação; 2) o
planejamento das atividades em sala de aula e 3) a prática de uma professora. Por fim,
apontaremos os instrumentos para coleta e a definição para análise dos dados.
O trabalho foi realizado com professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental de
uma escola pública de Fortaleza. A escola foi escolhida pela disponibilidade e interesse em
trabalhar com o tema proposto e por possuir um laboratório de informática, pois durante o
estudo utilizam-se atividades com computadores.
61
conteúdos apóiam um ao outro; (4) refletissem a forma mecânica do ensino e como isso pode
prejudicar o pensamento aritmético e consequentemente o algébrico; (4) refletissem sobre o
ensino para o desenvolvimento do pensamento algébrico.
Após este momento, discutimos as atividades, realizamos um acompanhamento e
planejamento com uma professora sobre as atividades que ela queria realizar em sala de aula.
Para compreender como elas foram desenvolvidas, observamos a atitude e o conhecimento da
professora na realização das atividades. No tópico seguinte, apresentaremos as atividades
desempenhadas nos encontros com a professora e como elas se relacionam com o pensamento
algébrico.
3.3 ATIVIDADES
2
http://www.vdl.ufc.br/ativa/programas/balanca.html
3
http://www.proativa.vdl.ufc.br/oa/feiradosPesos/feiradosPesos.html
4
http://www.proativa.vdl.ufc.br/
64
Assim como na Balança Interativa, o OA Feira dos Pesos (figura 02) simula uma
balança de dois pratos. O OA possui cinco níveis e tem como objetivo fazer comparações
entre os pesos nos quais os alunos não conhecem seus valores, colocando na ordem do menor
para o maior de acordo com suas manipulações. Por exemplo, se o peso A é maior do que B e
maior do que C, e C é menor do que B e menor do que A, a ordem dos pesos será: C, B e A.
No primeiro nível o OA oferece três pesos desconhecidos, todos do mesmo tamanho,
mas com peso diferente para que o usuário possa classificar do maior para o menor ou do
menor para o maior. No segundo, terceiro e quarto nível temos que ordenar do maior para o
menor ou vice-versa quatro, cinco, seis pesos todos com o mesmo tamanho. No último nível o
OA continua a oferecer seis pesos, no entanto, eles possuem formatos e pesos diferentes.
65
Os pesos dos potes que os professores tentaram descobrir foram de: 150g, 300g,
350g, 400g, 450g e 900g (figura 04). Esses valores foram distribuídos dessa forma para que,
durante as atividades, o usuário possa colocar mais de um peso em um lado da balança e, em
algumas vezes, como no caso de 400g, 450g e 900g coloquem pesos nos dois pratos da
balança. Por exemplo, para descobrir o peso de 400g, os professores tiveram que colocar no
prato do peso desconhecido, o peso de 100g e no outro prato o peso 500g.
Figura 4 – Potes confeccionados pesando 150, 300, 350, 400, 450 e 900 gramas respectivamente
Observação
Etapa 2 Planejamento de atividades
Entrevista
Observação
Etapa 3 Prática
Entrevista
Figura 5 – Esquema das etapas que foram realizadas na pesquisa
68
3.5 INSTRUMENTOS
conteúdos abordados, a partir das realizações de atividades que envolviam esses conceitos. Na
etapa de planejamento, este conhecimento apareceu quando a professora justificou a escolha
de determinadas atividades e explicitou os conceitos matemáticos subjacentes a ela. Durante a
prática em sala de aula, as categorias manifestaram-se quando a professora apresentou e
falou sobre conteúdos, ou sobre como o pensamento algébrico emergiu durante a aula a partir
das interações com os alunos. Nesta fase da pesquisa, as análises desta categoria centraram-se
em explicar se a professora fez referência a conceitos algébricos ou se essa compreensão não
foi clara.
Durante a oficina de formação, mostramos as participações das professoras e como
elas participam das atividades, opinam sobre propostas de atividades e lidam com problemas
que envolvem conceitos algébricos. Considerando que as professoras nunca tiveram contato
em cursos de formação inicial ou continuada com tal conteúdo, as categorias discutidas
trazem um panorama geral de como esse conhecimento se manifestou durante as atividades e
diálogos com a pesquisadora. A partir disso, quatro categorias foram levantadas sobre o
conhecimento algébrico:
- Conhecimento matemático;
- Uso de representações;
- Álgebra como relação e equivalência;
- Trabalho com relações entre quantidades desconhecidas e o uso de incógnita.
Depois apresentaremos os resultados de como a professora escolhida para observação da sua
prática, organizou e planejou as atividades. Nesta etapa da pesquisa, entrevistamos a
professora participante com o objetivo de perceber como ela pensa e age sobre o
planejamento e como relaciona as atividades com o conhecimento algébrico. Na proposta de
análise, descrevemos a organização das atividades pela professora e três categorias de como
os conhecimentos algébricos se manifestaram:
- Sequência e dinâmica das atividades de sala de aula;
- Características aritméticas nas atividades planejadas;
- Manifestação da compreensão de conceitos algébricos pela professora.
Durante a prática em sala de aula, observamos como o conhecimento algébrico estava sendo
explorado nas atividades, e como ela expressou esse conhecimento e refletiu sobre sua prática
e aprendizagem dos alunos.
Destacamos cinco categorias de análise sobre o conhecimento algébrico:
71
Durante a análise da última fase da pesquisa dois momentos fizeram parte das
descrições dos dados: (1) interações e falas dos alunos com a professora e como eles realizam
as atividades como fruto de uma ação docente, e (2) entrevista com a professora após cada
atividade. A seguir, apresentaremos a discussão dos resultados.
72
4 RESULTADOS
tornaram-se mais abertas para refletir a respeito das questões da pesquisadora. Depois de uma
explicação da proposta dos encontros e apresentação de todas as professoras começamos as
discussões sobre o conhecimento matemático, tanto referente ao pensamento algébrico quanto
ao aritmético, com o objetivo de entender como se caracterizava esse conhecimento.
As categorias nessa etapa da pesquisa mostraram como o conhecimento matemático,
principalmente o algébrico, se manifestou e como as professoras puderam formular e refletir
sobre esse novo conhecimento. Durante a oficina, o papel da pesquisadora foi o de lançar
questões e ajudar a encontrar respostas, partindo daquilo que já era de conhecimento e prática
das professoras.
Os diálogos foram realizados com objetivo de fazer que as professoras
contextualizassem de forma discursivo-argumentativa (DA ROCHA FALCÃO, 2003b) o
desenvolvimento conceitual em Matemática, particularmente, da álgebra. Durante as
discussões, a pesquisadora criava condições necessárias através de perguntas ou exemplos que
estimulavam o processo de construção de significado para o surgimento de argumentações,
fazendo que as professoras formulassem pontos de vista, justificassem posições e contra-
argumentação da pesquisadora. Dessa forma, os resultados dos diálogos nos ofereceram
informações epistêmicas de como as professoras tinham e desenvolveram, a partir do diálogo,
elaborações do campo conceitual algébrico. (VERGNAUD, 1990).
No presente estudo, o conhecimento das professoras foi analisado com base nesses
pressupostos de Vergnaud (1990). Para o autor, um conceito abrange um campo, denominado
campo conceitual, no qual envolve um conjunto de situações, de procedimentos e de
representações simbólicas em estreita conexão. Para a aprendizagem de um determinado
conceito, é importante que professores conheçam o conjunto de situações que dão sentido a
esse conceito, tornando significativo, o conjunto de invariantes operatórios (objetos,
propriedades e relações) utilizados para analisar as situações sobre os quais repousa a
operacionalidade dos conceitos e o conjunto de representações simbólicas (linguagem natural,
gráficos e ícones) que serão utilizadas para representar os invariantes e as situações.
74
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) - Concepção algébrica inicial das professoras da formação.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Explicação da professora como pode trabalhar álgebra nas séries
iniciais.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Tentativa de definição das professoras sobre o conceito algébrico
De fato, sabemos das dificuldades dos alunos em aprender tal conteúdo e reforçamos
que o aconteceu com as professoras, quando estiveram em situação escolar. A dificuldade das
docentes com o conteúdo algébrico continua devido à formação inicial dos professores dos
anos iniciais, que não possuem contato com este conceito. A aprendizagem de conceitos
algébricos é visto somente em cursos de licenciatura em Matemática, já que é somente a partir
dos anos finais do Ensino Fundamental que tal conteúdo é ensinado. Como as professoras não
fizeram cursos de licenciatura em Matemática não vão conhecer detalhes que envolvem o
conceito algébrico. Por isso os dados da análise da oficina serão apreciados, considerando que
estas professoras estão trabalhando com esse conceito pela primeira vez. No entanto, isso não
significa que as professoras desconheçam as características da organização curricular, a
divisão de conteúdos, seus objetivos e caracterização ao longo do Ensino Fundamental. E isto
inclui conhecer as características do currículo escolar tanto nos anos iniciais como nos anos
finais do Ensino Fundamental.
Esperava-se que o grupo de professoras conhecesse os blocos de conteúdos que
envolvem o ensino dos números e operações, espaço e forma, grandezas e medidas e
tratamento da informação e álgebra. Como tiveram dificuldades de formular conceitos sobre o
que seria álgebra ou a atividade algébrica, questionamos o que entendiam sobre a aritmética,
por ser também um conteúdo que já ensinam, e por serem professoras dos anos iniciais. As
professoras concordaram que este conteúdo é o campo em que se estudam as quatro operações
e depois tentamos relacionar este conteúdo com a álgebra.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Professoras definido o campo conceitual algébrico e aritmético nas
séries iniciais
Professora A: Eu acho que a álgebra tá dentro da aritmética porque você pode esconder um fator ou somar o
fator. Por exemplo: dois mais quadrado é igual a tanto. Esse quadrado ai é o X, entendeu?
Sobre o último protocolo, a professora A demonstra que utiliza a letra para indicar
um valor único. A situação mostrada pela professora realmente usa um símbolo (quadrado ou
o X), mas, neste exemplo, ainda representa uma quantidade que terá um valor a ser descoberto
e não o sentido de incógnita como algo desconhecido e que pode vir ou não a ser descoberto.
Ao longo da discussão, pedimos que as professoras explicassem melhor como
trabalhavam a “álgebra dentro da aritmética” ou como poderíamos trabalhar os conhecimentos
algébricos, e uma delas explicou:
78
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Professora explicando como trabalha com conceito algébrico nas
séries iniciais
Professora B: Eu faço assim: dois mais quadrado pode ser qualquer coisa. Por exemplo: tenho dois lápis e depois
ganhei mais alguns e fiquei com 5, posso descobrir quantos lápis eu ganhei. A aritmética vem com resolução de
problemas e também tem valores desconhecidos que podemos descobrir que é característica da álgebra também.
nossos primeiros diálogos que as professoras precisam aprimorar como criar significados para
as atividades algébricas e entender como a resolução de problemas pode conter aspectos do
pensamento algébrico. Sobre isso os autores explicam:
Tomemos agora essa ideia de coexistência e façamos uma transposição para o caso
da aritmética e da álgebra; a coexistência das duas permitiria que: i) a álgebra fosse
vista como falando de afirmações que envolvem – assim como a aritmética –
números, operações aritméticas e igualdades (desigualdades); e ii) que a aritmética
fosse vista – assim com a álgebra – como uma ferramenta que toma parte do
processo de organização das atividades humana. (id. ibid. p. 28- 29).
aula foi: “Eita, é Matemática!”. Em outros momentos, a maioria delas confirmava que não
gostavam de Matemática, pois aprenderam de forma tradicional e seus professores não a
ensinavam a pensar e refletir, podendo ser uma das causas de suas dificuldades no
entendimento. No recorte abaixo, as professoras D e F demonstram como as discussões
durante a oficina podem ajudá-las a refletir sobre a forma como ensinam.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Professora relacionando o ensino de sua época com a metodologia
da pesquisadora
Professora D: Mas antigamente não era assim, não. Meu professor não fazia essa pressão que você faz. Só falava
‘abra a matéria’. Ele não tinha essa dedicação, de ir atrás, de questionar, de motivar, de ajudar a gente a pensar,
jogar essas coisas, trabalhar o raciocínio. Na minha época não era assim, não. E eu não sou tão velha assim, não!
[risos]
(...)
Professora F: Eu tinha medo. Agora eu até estranho. Você vai ajudando a gente a pensar, a questionar. Vejo que
é importante fazer isso.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Professora analisando como a forma que foi ensinada a prejudica
hoje
Professora E: É, essa a questão hoje. E tem a história: eu não gosto de matemática. Porque a matemática não é
trabalhada do jeito que é pra ser trabalhada. A questão hoje é: antigamente, a matemática não foi trabalhada do
81
jeito que é para ser. Então eu não gosto de matemática. Eu acho que é por causa disso. Alguma coisa barrou na
vida, por conta disso.
(...)
Professora C: E isso [maneira como as professora percebem a matemática] pode atrapalhar na maneira que a
gente ensina.
Essas reflexões das professoras sobre como podem envolver seus alunos em contexto
de significado através de diálogos, inclui o conceito de Shulman (1986) sobre "conhecimento
pedagógico do conteúdo", ou seja, formas de representação matemática para que outros (no
nosso caso os alunos) possam compreender. E mais, as reflexões das professoras sobre como
elas conhecem a matemática e como possuem o conhecimento didático do conteúdo, podem
colaborar para que elas pensem sobre como fazer Matemática e quais os meios para se fazer
matemática. (Ball, 2008). Isso faz que as professoras possam compreendê-la no sentido
definido por Ball (1991), o qual engloba conhecimento substantivo ou conhecimento da
substância do domínio, que implica, além do conhecimento específico, o conhecimento de
ideias e disposições para ensinar o conteúdo.
Nesta categoria, descrevemos como as professoras conceituavam a Matemática,
como entendiam o ensino da aritmética e da álgebra e a maneira como elas refletem sobre
fazer Matemática. Na próxima categoria, descrevemos mais especificamente como o
conhecimento algébrico surgiu ao resolverem uma situação-problema, como elas usam
representações para expressar conhecimentos matemáticos, sendo eles algébricos ou
aritméticos, e quando citavam exemplos de como podem trabalhar com esses conceitos.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Tentativa da professora em explicar como a álgebra pode se
caracterizada dentro das atividades escolares
Professora B: Eu acho que a álgebra tá dentro da aritmética porque você pode esconder um fator ou somar o
fator. Por exemplo: dois mais quadrado é igual a tanto. Esse quadrado ai é o X, entendeu?
83
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Explicação da professora F sobre seu entendimento de incógnita
Pesquisadora: Que outras atividades vocês fazem em sala de aula que podem conter o pensamento algébrico?
Professora F: Olhando para o x e o y, como podemos fazer uma forma geométrica?
Pesquisadora: Ah, então você usa o plano cartesiano para fazer a figura geométrica?
Professora F: Isso. Ou no plano você pergunta qual a figura que está no 2y e 4x.
Pesquisadora: Ah, então no plano teriam várias figuras geométricas.
Professora F: É. Justamente na escala. Localizando através de várias gravuras em que ponto eles se encontram.
Às vezes ele vai localizar até o aluno ver a figura geométrica e onde ele está na escala. Ou localizar através do
ponto a figura geométrica. Sempre partindo, disciplinando, do zero, né? Na vertical o valor do x, na horizontal o
valor do x e na vertical o valor do y.
84
A partir desse relato, percebemos que a professora utiliza o plano cartesiano somente
para reconhecer uma figura geométrica e não para interpretar informações ou produzir
significado. Esses relatos ainda demonstram que as professoras não entendem como podem
trabalhar e explorar as atividades em um gráfico. Leitura, representação e interpretação de
gráficos são ferramentas úteis para o desenvolvimento do pensamento algébrico uma vez que
os alunos podem manipular variáveis.
As atividades e discussões durante a oficina tiveram o objetivo de fazer que as
professoras refletissem sobre a importância de entender a linguagem algébrica como meio de
representar ideias e não apenas como um conjunto de regras de transformação de expressões
simbólicas. As atividades matemáticas precisam explorar tanto conceitos aritméticos como
algébricos e ser uma orientação transversal do currículo. (PONTE, BRANCO e MATOS,
2009). Dar sentido ao pensamento algébrico nas atividades do Ensino Fundamental significa
promover sempre que possível diversas formas de representação em que se proponha
generalização de modelos, tratar os números e as operações algebricamente, isso significa
prestar atenção às relações e não somente aos valores numéricos e promover atividades que
reconheçam padrões e regularidades. (BLANTON, KAPUT, 2005).
A partir desse objetivo, pedimos que as professoras resolvessem uma situação
problema na qual eram levadas a pensar sobre valores desconhecidos dentro de uma equação,
podendo a resolução do problema ser feita através de sistemas de equação ou não.
Trabalhamos com a seguinte situação: “Em um sítio existem vacas e galinhas, num total de 10
cabeças e 26 patas. Quantos animais de cada tipo existem nesse sítio?”
O objetivo da questão foi perceber como elas resolvem a situação: se usam formas de
resolução mais próximas do raciocínio aritmético ou se estabelecem relações entre as
expressões se aproximando do pensamento algébrico. Das onze professoras participantes foi
possível registrar 10 resoluções porque uma delas não resolveu a situação, preferindo observar
como as outras professoras resolviam. Durante a resolução conversavam entre si, usava outros
papéis como borrão para tentar resolver. Das dez resoluções, cinco professoras acertaram e
cinco erraram. Faremos ao longo do trabalho, uma classificação de acordo com o aspecto do
pensamento utilizado pelas professoras. As análises dessas situações problemas mostraram se
as professoras resolviam as atividades por um método aritmético ou usavam alguma forma de
85
resolução ligada ao pensamento algébrico. A figura abaixo mostra como a professora I tentou
resolver a situação, montando uma equação e juntando os dados do problema (figura 6).
5
Essa situação-problema será explicada mais adiante na categoria de álgebra como relação e equivalência.
Colocamos nesta categoria para ilustrar a construção do sentido de incógnita.
87
Apesar de não ter escrito a quantidade de patas e galinhas, a professora explicou verbalmente
como resolveu:
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Explicação da professora D sobre como resolveu o problema
de adição (+) significa efetivamente realizar a operação e o sinal de igual (=) significa
escrever uma resposta. (BOOTH, 1995).
O trecho a seguir ilustra como as professoras falaram sobre as atividades simbólicas
durante a oficina:
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Como as professora falaram sobre as atividades simbólicas
Professora A: Ele [o aluno] sabe que isso [o cálculo de dar um troco] é uma ferramenta do dia a dia. Então ele
vai saber mentalmente. De memória, que é o trabalho dele, a vivência dele.
Pesquisadora: A professora A falou que ele sabe de memória, mas ai ele [o aluno] vai à escola e faz isso aqui
olha... [coloca no quadro o cálculo 17 – 3 = 4]. Essa conta tá certa?
Professoras: Não.
Professora D: Mas mentalmente ele acerta.
Pesquisadora: Então, se ele vende bombons, ele vendeu 3 (três) reais de bombons quiser dá um troco para 17
reais. Ele vai saber?
Professoras: Vai.
Pesquisadora: Ou ele vai dar o troco de 4 (quatro) reais à pessoa?
Professora B: É o seguinte. Ele na prática sabe, mas na hora de transformar em símbolo ele não faz.
Professora E: O problema é o simbólico que ele não conhece. No dia a dia ele vai, na escola não.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Explicação da professora A sobre o procedimento da troca de sinal
Esse recorte nos mostra que a Matemática, segundo a visão das professoras, não é
um conhecimento apropriado, adquirido, mas é um conhecimento que deve ser absorvido,
aceitado. Veja como a professora explica a regra para a não mudança do sinal.
Professora B: É assim: olha, o sete não é maior do que três? Por isso recebe sinal positivo. [Enquanto isso
barulho na sala com discussões entre as professoras]. Eu aprendi assim.
Professora C: De qualquer maneira ia ser positivo.
Professora B: É não, é porque o três é menor.
Transcrição do 1º encontro (02 de outubro) – Explicação de outras professoras sobre a troca de sinais
Pesquisadora: Porque vocês colocaram o x para o lado esquerdo e os números para o lado direito?
Professora A: Por que a gente sempre escreve da esquerda para direita.
Pesquisadora: Por que você riscou uma vaca e colocou uma galinha aqui? (Aponta para o círculo que a
professora acabara de colocar).
Professora C: Porque o sítio tem 10 cabeças.
Pesquisadora: Hum. Você podia ter tirado somente uma galinha? Assim, olha: você desenhou seis galinhas.
Poderia ter tirado somente uma galinha, ai ficava com cinco galinhas. Dava 10 patas com quatro vacas dava 16.
Ai a gente tinha 26 patas.
Professora: É, mas ficam só nove cabeças... Por isso que eu tirei uma vaca e coloquei mais uma galinha.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Explicação da professora A sobre qual peso colocar na balança.
[A professora B quer colocar 200 gramas no mesmo lado do pote de farinha enquanto tinha 500 gramas do outro
lado da balança.]
Professora A: Mas 300 não é.
Pesquisadora: A professora A tá dizendo que 300 não é, por quê?
Professora A: Não porque ali... [pára para pensar]. Aqui o peso não é 500, a gente já viu que não é 300, então ele
vai ser o que? 400 ou 450g.
100
Quando a professora fala que “mas 300 não é”, quis dizer que, se a professora B
colocasse os 200 gramas na balança era como se ela considerasse que o pote de farinha fosse
300 gramas, já que tinha 500 gramas do outro lado. Dessa forma, podemos inferir que a
professora B estabeleceu uma estratégia de operação inversa, inferindo que, ao se colocar um
peso de um lado, seria o equivalente a diminuir o peso a ser comparado. Portanto, ao colocar
200 do mesmo lado do pote de farinha, estaria agora se comparando o pote com 300 gramas e
não mais com 500 gramas. Como já havia sido observado que o peso é menor que 500
gramas, não seria necessário fazer essa comparação.
O relato abaixo mostra como as professoras encontraram a equivalência após
adicionar um peso conhecido do mesmo lado do pote de farinha (peso desconhecido). Esta
ação determinou encontrar o valor do peso do pote.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Explicação das professoras sobre como acharam o peso do pote de
farinha
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Entendimento das professoras sobre o sentido de equivalência
Professora B: Vou colocar o... 100. Não deu! [o pote de farinha com o peso de 100 gramas ficou mais pesado do
que 500].
Professora E: Então quer dizer que o total de peso aqui é mais para cá... [explica que é preciso mais peso do lado
do pote de farinha].
Professora B: [Troca o peso de 100 gramas e coloca de 50 gramas.] Equilibrou!
Pesquisadoras: Então?
Professora A: É 450.
Professora F: É 450!
Pesquisadora: Porque é 450?
Professora B: Vê se eu entendi direito. Aquele pequeno vale 50. E 450 mais 50 gramas vai dar 500 gramas.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Percepção das professoras de como seus alunos trabalham com
números
Professora F: É legal trabalhar com essa balança, mas não podemos colocar esses pesos de 50, 300, 500, pois
eles [alunos] não sabem diminuir com dezenas e centenas.
102
Percebemos mais uma vez as professoras considerando uma dificuldade dos alunos
como barreira para realizar uma atividade. Entendemos que os alunos, dentro dessa atividade,
podem trabalhar com centenas e dezenas, pois já trabalham com esses valores no cotidiano.
Além disso, o pensamento dessa professora não se confirma com resultados de pesquisas
anteriores, na qual os alunos manipularam os pesos, fizeram cálculos mentais sobre situações
com pesos que envolvem as dezenas e as centenas. (FREIRE, 2007).
Com o intuito de saber como a atividade realizada pode favorecer a aprendizagem da
álgebra, a pesquisadora pergunta para as professoras:
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Percepção das professoras de como a balança de dois pratos
contribui para a aprendizagem de conceitos algébricos
Pesquisadora: Por que é que eu trouxe a balança? O que eu queria mostrar para vocês? O que é que a balança
trabalha? Trabalha o que? E ai gente... [As perguntas aqui descritas foram feitas pausadamente na espera de
alguma resposta das professoras]
Professora F: Medida de massa...
Professora C: Ela trabalha adição, subtração...
Pesquisadora: Certo. Mas com essa atividade, vocês acham que os alunos de vocês podem aprender alguma coisa
sobre equação?
[Silêncio].
Pesquisadora: Hein? Será que já daria para eles aprenderem?
Professora A: Dava.
Professora F: E para eles já tem que levar de forma concreta, para os alunos.
O que nos chama atenção nesse recorte é o fato de as professoras ligarem sempre o
trabalho de Matemática com o concreto quando a professora fala “para eles já tem que levar
de forma concreta”. Esta crença de que o aluno só aprende com o concreto também foi
manifestada no primeiro dia da oficina de formação. Fomentamos aqui a discussão que,
enquanto as professoras tiverem a concepção que seus alunos só aprendem com o concreto,
dificilmente criarão situações que trabalham com a abstração do conhecimento, raciocínio
importante para o campo conceitual algébrico.
Para descobrir o peso de 400 gramas (um pote de granola), as professoras mais uma
vez conseguem fazer a estratégia de colocar um peso conhecido (100 gramas) ao lado do pote
de granola. Primeiro colocam o pote de granola em um dos lados da balança e o peso de 500
103
gramas no outro lado. Durante a atividade, as professoras não podiam pegar nos potes para
sentir seu peso, apenas os viam e a pesquisadora colocava e os retirava da balança de acordo
com o pedido delas. Decidimos fazer assim para que as professoras não usassem a estimativa
para tentar descobrir os valores dos potes. Apesar disso, percebemos que, durante as
testagens, as professoras analisavam o formato e tamanho do pote para tentar descobrir o
peso.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Interação entre as professoras utilizando a estratégia de operação
inversa
Nesta situação, elas tinham descoberto que o pote de granola pesava menos do que
500 e mais do que 350 gramas. Portanto, ele só poderia pesar 400 ou 450. Quando pedem que
coloquem 100 gramas do mesmo lado da balança, em que está o pote de granola, podemos
inferir a intenção das professoras em testar se o pote pesa 400 gramas.
104
No peso seguinte (garrafa de soro), percebemos mais uma vez que usaram a
estratégia de operação inversa, pois colocaram um peso conhecido ao lado da garrafa de soro
para encontrar a igualdade.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Interações entre as professoras para descobrir o peso da garrafa de
soro
Ao continuar com as testagens, perceberam que o peso de 500 gramas era mais
pesado do que a garrafa de soro e pedem para trocar o peso de 500 gramas por 300 (100 + 200
gramas). Concluíram então que a garrafa de soro é maior do que 300 e menor do que 500
gramas.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Continuação do diálogo das professoras para descobrir o peso da
garrafa de soro
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Interações entre as professoras para descobrir o pote branco
106
Pesquisadora: Se eu botar 200 aqui e equilibrar [aponta para o prato no qual as professoras sugerem colocar o
peso de 200 gramas], esse aqui [pote branco] tem quanto?
Professoras: 800.
Pesquisadora: Porque que é 800?
Professora D: Por que é...
Professora F: Mil menos duzentos...
Pesquisadora: Mil menos 200, que vai dar o que tem aqui?
Professora C: O peso é 800 com 200... [Neste momento ainda não colocamos o peso de 200 gramas na balança].
Pesquisadora: Então seria assim, esse é 800 com mais 200 é igual ao que tem aqui, né?
[Professoras confirmam e pesquisadora coloca o peso de 200 gramas no prato da balança].
Professora A: É não...
Pesquisadora: E então vocês achavam que era quanto?
Professora A: 800.
Professora C: Olha ela ai... [surpresa pela resposta da professora A].
Pesquisadora: E agora, é maior ou menor que 800?
Professora F: Eu achei que era 700, 750 ou 800, mas agora... Eu volto atrás.
Pesquisadora: É maior ou menor que 800?
Professora B: Maior.
Professora C: Menor.
Pesquisadora: Menor ou maior?
Professora D: Menor.
Professora A: Troca pelo de 100!
Professora B: Maior que 800.
Pesquisadora: Porque que é maior que 800?
Professora A: Porque é 900.
Professora C: Porque... Ele tem mais de um quilo.
Pesquisadora: A gente botou aqui 200 e aqui ficou mais pesado.
Professoras: Foi.
Pesquisadora: Então ele é ainda maior que 800, por quê?
Professora A: Porque ... Coloca o 100.
[Risos]
Pesquisadora: Por que colocar o 100?
Professoras: Para comparar.
Pesquisadora: E o que mais? E aí?
Professoras: Coloca 100.
Pesquisadora: Vocês acham que esse pote é maior ou menor que 800?
Professoras: Menor!
Pesquisadora: Por que que é menor que 800?
[Silêncio]
107
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Interações entre as professoras para descobrir o peso de três
saquinhos
lado. Assim, sabe-se de antemão que, se o peso desconhecido é maior, menor ou igual a 5
(cinco). Se o peso desconhecido for maior que 5, ele só poderá assumir os valores 6, 7, 8 ou 9;
e se o peso desconhecido for menor que 5, ele só poderá assumir os valores de 1 a 4, dentro de
uma escala de 1 a 10. Se encontrar que o peso é menor que 5, por exemplo, o próximo valor a
ser testado poderia ser o 2 ou o 3. Essa estratégia reduz pela metade o número de testes para
encontrar o valor do peso desconhecido. Embora essa estratégia ainda possa ser considerada
um raciocínio aritmético, ela representa uma base para compreender algoritmos de busca em
linguagens de programação.
A estratégia teste do valor intermediário foi utilizada, quando apenas três valores são
possíveis para o peso desconhecido. Por exemplo, se a balança demonstrar que D é menor do
que 6 (seis) e analisando que os valores 1 e 2 já foram atribuídos para os outros valores
desconhecidos, percebe-se que D só poderá ter o valor de 3, 4 ou 5. Dessa maneira, as
professoras utilizaram o valor intermediário entre os três valores possíveis. Neste caso, seria o
peso 4 (quatro), pois com este valor, podemos descobrir mais rapidamente o peso
desconhecido. Se, por exemplo, o peso D fosse maior que 4 (quatro), seu valor só poderia ser
5 (cinco) e, se menor que 4 (quatro) seu valor só poderá ser 3 (três). Dessa forma, com apenas
um teste é possível descobrir o valor do peso desconhecido. O uso dessa estratégia requer
planejamento e demonstra que o sujeito não está utilizando o OA de forma aleatória.
A estratégia subtrativa consiste em verificar que acrescentar um peso em um prato da
balança é equivalente a subtrair um peso do mesmo valor no outro prato da balança. Por
exemplo, uma dupla de professoras encontrou o equilíbrio, possuindo os pesos G e 4 em um
dos pratos e o peso 9 no outro prato e utilizar essa informação para concluir que G é igual a 5.
Essa estratégia também foi encontrada nas atividades com a balança de dois pratos, quando
entendiam que tinham que colocar pesos conhecidos mais leves ou pesados para estabelecer a
igualdade na balança. A diferença é que no OA Balança Interativa essa estratégia é utilizada
não somente para encontrar uma igualdade, mas também a para encontrar um valor de uma
quantidade desconhecida quando a relação não é de igualdade. Veja a interação entre uma
dupla de professoras (C e A) ao descobrir o valor do peso I.
Essa generalização de uma igualdade para uma desigualdade demonstra que o sujeito
está pensando em termos de relações entre os valores no prato e não apenas buscando o
equilíbrio ou igualdade.
A partir das considerações entre as duas atividades podemos descrever algumas
diferenças entre a atividade com o OA Balança Interativa e balança de dois pratos.
Comparando as duas atividades, destacamos algumas diferenças em usar o computador
simulando uma balança de dois pratos. Uma delas é que nas atividades na balança de dois
pratos os professores sempre buscaram encontrar o valor dos potes através de uma igualdade
que era representada pelo equilíbrio na balança. Já no OA, o objetivo não é somente
equilibrar, mas descobrir os pesos desconhecidos, o que algumas vezes pode ser atingido
através do desequilíbrio. No objeto de aprendizagem, os professores encontram os valores
das incógnitas a partir de análises das outras incógnitas da atividade, ou seja, a mesma se
torna uma ferramenta para encontrar os pesos desconhecidos ao invés de resolver apenas uma
determinada situação.
Outra diferença que as atividades no OA Balança Interativa apresentam em relação à
balança de dois pratos é no trabalho de desenvolvimento de noções algébricas. Na balança de
dois pratos, o desequilíbrio destes dá alguma indicação da estimativa entre as diferenças de
pesos, pois se colocarmos ou compararmos dois pesos, um pote de 200 gramas e outro de 300
gramas nos dois pratos, terão uma relação perceptível diferente do que se colocássemos um de
200 gramas e outro de 900 gramas nos dois pratos.
No OA Balança Interativa, os valores dos pesos desconhecidos não podem ser
determinados por aproximação, pois as relações de desigualdade são somente maior que e
menor que, não havendo nenhuma indicação perceptível do tamanho dessa relação. Portanto,
ao colocarmos A e 5 e a balança informar que A>5, não pode ser determinado diretamente o
valor de A ou concluir se esse valor é um pouco maior (6) ou muito maior (9). É preciso usar
outras informações já encontradas ou encontrar novas informações, manipulando a balança.
111
professoras sintam o objeto, como fizemos na oficina. Mas há uma tendência a reconhecer o
peso dos objetos e a utilizar estimativas para encontrar o valor dos pesos.
Essa diferença entre a estimativa e o raciocínio algébrico pode ser também analisada
sob o ponto de vista da diferença entre conceitos espontâneos e científicos. (VYGOTSKY,
1986). O que se deseja não é eliminar a estimativa, mas possibilitar que os alunos atribuam
significados aos conceitos científicos ou à manipulação simbólica da mesma forma que o
fazem com os conceitos espontâneos ou com a manipulação de quantidades.
Durante as discussões, perguntamos quais as diferenças que as professoras
analisaram que o objeto de aprendizagem facilita na compreensão de conceitos algébricos.
Uma das professoras comentou: “Aqui o estudante pode ver a expressão e começar a entender
alguns símbolos”. Neste momento, percebemos um indício de que elas compreendem a
importância de entender o sentido de equação, uso de incógnitas e a importância de fazer a
leitura de uma linguagem simbólica dentro de uma situação. Outra professora acrescenta:
“Parece que aqui a gente pensa mais”. A professora explicou: “Com aquela balancinha a gente
pode pegar e já sabe mais ou menos quanto é aqui a gente não consegue”.
Em estudos anteriores (FREIRE, FERNANDES, CASTRO-FILHO, 2008;
CASTRO-FILHO, FREIRE, FERNANDES, LEITE, 2008) também foi possível fazer
comparações de como estudantes resolviam situações-problema, usando os dois materiais
(balança de dois pratos e OA Balança Interativa). Pode-se dizer que o contexto e as
características do OA favoreceram o surgimento de raciocínio próximas do pensamento
algébrico, pois trabalhavam com incógnitas, equações e inequações e comparação entre pesos
desconhecidos, utilizando representações. Durante as atividades do OA percebe-se a
construção de um pensamento abstrato e o entendimento das noções algébricas. As atividades
no OA não podem ser resolvidas através de estimativas, conduzindo o aluno a criar novas
estratégias de resolução.
As discussões posteriores a essa atividade giraram em torno da importância de fazer
que as professoras compreendessem o sentido e montagem de uma equação e incógnitas, a
partir de atividades como essas, dando oportunidades para que elas falassem e registrassem
sobre o que descobriram durante a oficina. Dessa forma, estávamos procurando favorecer
oportunidades para o desenvolvimento de uma linguagem matemática.
As estratégias das professoras perante as atividades como o OA foram importantes
para que elas conhecessem e refletissem sobre as regras de resolução de uma equação a partir
113
mais pegar nos pesos, apenas falar qual pote queriam que testassem na balança. Apesar de ter
feito rapidamente da primeira vez pegando nos pesos, elas discutiram qual seria o primeiro
passo a ser feito.
Transcrição do 2º encontro (15 de outubro) – Diálogo com as professoras e pesquisadora durante a atividade de
comparação entre pesos
As professoras solicitaram para tirar o verde e pesar o pote preto com o vermelho.
Percebendo que o preto era mais leve, pediram que tirasse o preto e testasse o vermelho com o
amarelo. Dessa maneira, percebemos que não estavam usando nenhuma lógica ou raciocínio
de resolução para descobrir a relação de ordem entre eles, já que pesavam os potes
aleatoriamente. Percebendo isto, perguntamos por que as professoras ao comparar o preto
com o verde tiraram o verde. Esta pergunta foi feita com objetivo de fazer que as professoras
criassem estratégias de comparação e de ordem entre os pesos. Elas respondem que o verde
era mais pesado. Perguntamos depois porque tiraram o preto. As professoras respondem que o
tiraram porque era o mais leve. Por fim, perguntamos o que é necessário fazer para descobrir
o mais pesado, tirar o mais leve ou o mais pesado. Todas fazem um “Ahhh!”, demonstrando
que descobriram como podem encontrar a relação entre eles e fazer a relação de ordem.
115
Alguma professora fala: “Temos que encontrar o maior, então tira o menor”. Depois disso as
professoras comparam os pesos, deixando sempre o maior na balança e tirando o menor.
Dessa maneira, encontraram uma estratégia para fazer a ordem entre os pesos.
Diferente de ordenar com as mãos, elas sentiram necessidade de anotar a relação
entre os pesos encontrados. Essa diferenciação na atividade possibilitou a representação dos
pesos, alargando seu conhecimento em relação às noções de inequações. A cada peso testado
elas anotavam no quadro a relação entre eles para que, em uma testagem posterior,
relembrassem essa relação. O registro de situações matemáticas é fundamental nos processos
de aprendizagem de conceitos matemáticos, que necessita da elaboração de uma lógica que
traduza a representação desses conceitos.
A partir do momento que elas não sentiam o peso do pote, e registraram a relação
entre eles, puderam descobrir a relação de transitividade, mostrada no recorte a seguir:
Professora C: Se ele, o amarelo é mais pesado que o verde, e o verde é mais pesado que o preto, então o amarelo
é mais pesado que o preto também.
Transcrição do 3º encontro (17 de novembro) – Explicação da professora C sobre a diferença das duas atividades
Professora C: Na balança utilizamos nosso raciocínio e quando a gente usa as mãos a gente consegue ver logo o
peso, pois a gente consegue pegar nos pesos. A partir do momento que não podemos pegar, temos que montar
outras relações.
Pesquisadora: Como assim outras relações?
Professora C: Assim... pensar diferente, pensar mais sobre a relação entre os potes.
116
sentido aos conceitos e procedimentos no qual queremos que os alunos aprendam. Por
exemplo, a situação da atividade de comparar pesos sem pegar no pote ajudou as professoras
a entender um componente importante das relações entre quantidades desconhecidas, que é a
relação de transitividade. Essa compreensão foi expressa na forma que as professoras
adotaram para resolver os problemas e justificar sua solução.
Essas situações propiciarão a construção de esquemas que são os comportamentos
elaborados pelo sujeito através de uma situação ou por um significante (representação
simbólica) que constituem o sentido dessa situação.
Observamos também que, mesmo as professoras utilizando a relação transitiva,
preferiam fazer o teste na balança de dois pratos do OA para descobrir a última relação. As
docentes, mesmo falando explicitamente sobre as relações encontradas, pareciam não
acreditar na relação que encontraram e testavam a veracidade dessa relação no balança do
OA. Por exemplo, uma dupla de professoras descobriu que A é maior do que B e B menor do
que C, então podemos inferir que o A será maior do que C sem precisar testar na balança.
Porém, depois de fazer algumas comparações, as professoras, com algumas intervenções da
pesquisadora, não testavam os pesos, quando descobriam as relações de transitividade. As
intervenções da pesquisadora giravam em torno de encorajar as professoras a confiarem nas
relações encontradas nas conversas das duplas, exemplo: “se vocês concordam que A é maior
do que C, já que viram que A é maior do que B e B é menor do que C, não precisa testar na
balança.”
Assim como na balança de dois pratos, ao utilizarem o OA Feira dos Pesos, as
professoras sentiram a necessidade de fazer anotações para relembrar as relações dos pesos.
Como o OA registrava as relações no botão histórico, era comum escutar entre as duplas o
pedido de rever o histórico.
Durante a atividade, as professoras podiam escolher o primeiro nível novamente,
(comparando somente três pesos) ou ir para os outros níveis. Quando escolhiam o segundo
nível (comparação de quatro pesos), acharam que as relações entre eles continuavam iguais ao
do nível anterior. No entanto, se repetissem o nível ou fossem para um novo nível, as relações
entre os pesos mudavam, fazendo que o usuário descobrisse novamente a relação entre eles.
Essa característica do OA é uma vantagem em relação à atividade de comparar os pesos na
balança, uma vez que não precisamos reajustar os pesos do pote para se ter nova relação. Esta
característica favorece aos professores, que optem a trabalhar com este OA, mais
118
oportunidade de diálogo entre os usuários durante cada nível. O diálogo a seguir demonstra
parte de uma interação entre uma professora e a pesquisadora:
Transcrição do 3º encontro (17 de novembro) – Explicação de uma professora como encontrou a relação de
transitividade
A docente também explicou que seria melhor começar com a balança de dois pratos
para trabalhar com o concreto, porque assim os alunos se interessariam e gostariam mais da
atividade. Depois de trabalhar o concreto usaria as atividades abstratas, utilizando o
computador.
utilizam objetos concretos ou aportes físicos. Contudo, mais importante do que o material
utilizado é que os professores precisam entender como se trabalha com o material e a criação
de situações e representações que dão significado para o material a ser utilizado.
No contexto escolar, tem-se a concepção de que o processo de construção do
conhecimento desenvolve-se a partir de uma situação concreta para uma abstrata. O processo
de construção do conhecimento não é um movimento unidirecional e de único sentido, do
concreto ao abstrato ou do abstrato ao concreto. (MACHADO, 1989). Não podemos reduzir a
abstração a um modo de aprender, e nem relacioná-la apenas ao domínio de fórmulas
matemáticas, como também não podemos entender o concreto apenas como algo empírico.
Além disso, uma atividade pode utilizar materiais concretos, mas favorecer ao
pensamento abstrato por construir uma rede de significados. O fato de os objetos de
aprendizagem ser realizados no computador, não garante que despertem o pensamento
abstrato ou que sejam classificados como abstratos. O pensamento abstrato é construído,
quando não nos limitamos mais na representação imediata de uma situação, nem somente às
relações prévias existentes, mas na capacidade de pensar em todas as relações possíveis,
buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade. O
pensamento abstrato pode ser desenvolvido em qualquer atividade, quando estimulamos os
alunos a construir habilidades de selecionar novas estratégias para alcançar um determinado
objetivo.
As atividades propostas neste trabalho, mesmo a partir da manipulação dos pesos na
balança, podem despertar o raciocínio abstrato, a partir do momento em que o professor
sugere que o aluno busque novas suposições, classificações, comparações, interpretações,
criação de hipóteses, imaginação e entendimento das situações-problema organizando os
dados e favorecendo a tomada de decisões. No entanto, a professora C relaciona a Balança
interativa com algo abstrato por ser realizado no computador e a balança de dois pratos como
concreta por ser um aporte físico. Assim, ela relaciona as características do material às formas
de construção de pensamento.
Quanto ao tempo da atividade, a professora acha melhor fazê-las no primeiro tempo
de aula, pois dessa forma os alunos estão mais calmos.
O ideal é no primeiro tempo, pois eles chegam mais relaxados. No segundo tempo já tem passado o recreio, aí
fica mais complicado pro raciocínio. Agitados, com muita energia, o calor! Mas no primeiro tempo, assim que
chegar, entregar... Assim que chegar! Depois da oração já foi feita!
(...)
Geralmente a gente coloca assim. A gente bota todas as atividades de matemática no primeiro tempo, porque no
primeiro tempo eles estão mais calmos.
representações das crianças podem expressar mais do que suas habilidades lógicas-
matemáticas, elas expressam a forma de como entendem o enunciado do problema e os
procedimentos adotados para resolver a situação. Essas representações são importantes para
que o professor entenda como as crianças entendem a situação. Este estudo também afirmou a
importância das representações gráficas ao resolver problemas de divisão e complementou
que situações que utilizam materiais concretos fazem representações elementares, quando
comparadas às situações gráficas nas quais produziam representações bem mais elaboradas.
Segundo Vergnaud (2005) o desenvolvimento do pensamento algébrico se
caracteriza, quando o aluno tem a possibilidade através de diversas situações de se expressar
matematicamente e estabelecer relações entre números ou expressões numéricas, utilizando
representações. No entanto, a professora não relaciona como o pensamento algébrico pode ser
trabalhado dentro de uma situação e não reconhece a importância de registros e
representações dentro das atividades das situações-problema.
Ao longo do planejamento, a professora também sugeriu que fossem inseridas
figuras nos probleminhas verbais para que a atividade ficasse mais interessante e, assim,
fazendo que os alunos se sintam motivados a resolver. A professora acrescenta que, caso não
mude o enunciado dos problemas, poderíamos ler para os alunos, pois considera que a
dificuldade com a leitura e interpretação pode atrapalhar na resolução de problemas
matemáticos.
Mas é por que eles não conseguem raciocinar! Não sei se é porque a maioria tem problema de leitura ai tem
dificuldade em raciocinar... Aí tem dificuldade em interpretação. Alguns não! Eu tenho uns aqui que sabem
sozinho, rapidinho, pegam o problema e vão fazer! Mas os outros raciocinam bem devagarzinho, mesmo!
Não na matemática... Tem dificuldade nas operações, assim no caso de fazer as contas e tudo. Em coisas simples
de raciocínio, não! Como eu te disse: Quando é ligado pro dia-a-dia eles não tem dificuldade. Mas quando vai
127
passar pro papel... Ai pronto! Enquanto você ta aqui oral, explica a situação que uma coisa é assim... Ai eles vão
respondendo, mas na hora que vai botar no papel eles não sabem.
Pesquisadora: Você disse que eles têm dificuldade de colocar as contas no papel, então por que colocar essa
tabela nesse exercício?
Professora: Ah! Mas eu já coloco isso pra ajudar. Se eu não colocar, aí é que eles não vão resolver.
A professora comenta que nem sempre leva seus alunos ao laboratório, pois além de
não tem computador suficiente para todos os alunos, sendo necessário dividir a turma, precisa
organizar com a bibliotecária uma dinâmica de divisão dos alunos.
Ao final do planejamento, a professora não sugeriu outras atividades. Na próxima
sessão, veremos como ela relacionou as atividades com o desenvolvimento do pensamento
algébrico.
Bárbara e Joana fazem aniversário no mesmo dia. Bárbara ganhou 7 presentes das suas amigas, e Joana também
ganhou 7 presentes das suas amigas. Quando a festa acabou, as duas garotas tiveram uma festa surpresa feita por
suas famílias e receberam mais presentes. Bárbara recebeu mais 6 presentes da sua família. Joana recebeu mais 3
presentes da sua. Você acha que no final do dia Joana tem a mesma quantidade de presentes como Bárbara?
A professora argumenta:
Professora C: Eu vou dar recuperação de adição e subtração com reserva, com agrupamento eles... Eles
desaprenderam tudo. Porque quando teve o recesso do Natal, eles voltaram e já não sabiam nada não. Aí eu fiz
uma revisão com eles pra partir da recuperação, só essa semana. É tanto que segunda-feira eu já estou querendo
entrar na divisão.
129
Rodrigo e André foram pegar conchas do mar na praia cedo da manhã. Rodrigo pôs as conchas que encontrou
em uma caixa grande. André encontrou o mesmo número de conchas que Rodrigo, mas ele dividiu igualmente
em duas caixas pequenas. De tarde, foram novamente à praia e Rodrigo encontrou outra vez a mesma quantidade
de conchas como as de André. Desta vez cada menino pôs as conchas que eles tinham encontrado em um saco.
No dia seguinte foram contar quantas conchas cada um tinha nas caixas, mas não encontraram os sacos. Você
acha que Rodrigo tem o mesmo número de conchas que André? Ou você acha que um deles tem mais concha
que o outro?
A pesquisadora confirma:
problema, não é necessário saber realizar o algoritmo da divisão até mesmo porque não
existem números para serem divididos. Os alunos precisam relacionar a divisão de
quantidades e comparar com outra quantidade desconhecida. O segundo aspecto é o
conhecimento da professora sobre conhecimentos prévios dos alunos. Mesmo que os alunos
não saibam somar ou utilizar o algoritmo da divisão, chegam à escola com conhecimentos
espontâneos sobre vários conceitos matemáticos (SPINILLO, 1994) e isso não foi explorado
pela professora, como também não foi explorado o sentido algébrico da atividade.
A não valorização dos conceitos espontâneos também foi registrada durante o
planejamento das atividades com a balança de dois pratos, a professora também considera
importante dos alunos entendam medidas de massa e volume para realizar as atividades.
Durante o planejamento, foi discutida a importância de sempre perguntar aos alunos
sobre como eles pensaram ao resolver alguma situação durante as atividades propostas para
que pudéssemos entender o pensamento deles ou fazer perguntas a respeito das atividades.
Com isso, poderíamos entender como eles estavam pensando sobre a situação e a partir daí
fazer novas perguntas que explorassem o conhecimento algébrico. Outra boa estratégia para
entendermos o pensamento algébrico seria se déssemos oportunidades para que os alunos
pudessem registrar algo durante a atividade. A professora responde:
Para Ball e Bass (2003), os professores precisam perceber que estão envolvidos no
desenvolvimento de capacidades dos alunos e precisam realizar atividades que permitam a
construção de demonstrações matemáticas e compreensão da necessidade de justificações e
para serem capazes de distinguir justificações válidas e justificações inválidas.
Podemos perceber que a professora ainda tem uma visão estreita sobre como as
atividades podem colaborar com a construção do pensamento algébrico. No que diz respeito à
compreensão do pensamento algébrico, estudos (DA ROCHA FALCÃO, 1995;
VERGNAUD, 1990; BRITO MENEZES, 2006; LESSA, 1996) mostram que o raciocínio
neste domínio se desenvolve gradualmente e depende das situações em que os estudantes
estão engajados.
Pesquisadora: E como as atividades desse dia podem ajudar na compreensão de conceitos algébricos?
Professora: Eu não sei bem, acho que vão descobrir os valores dos pesos que são desconhecidos. Mas elas vão
poder ajudar também aos alunos na noção de massa. Eles vão poder trabalhar com medida de massa que eu ainda
vou dar. Ai vai ser bom pra eles, ver as gramas, quanto pesa um pote.
Pesquisadora: E descobrir valores desconhecidos pode ajudar a entender alguma coisa de álgebra?
Professora: É, na álgebra temos que descobrir um valor, né? Esse valor pode ser esses potes aqui.
Pesquisadora: E você acha que eles vão poder aprender algo de equação?
Professora: Vão.
[Pausa]
Pesquisadora: Como?
Professora: Quando a balança fica em equilíbrio ele entende, né?
Pesquisadora: Como assim?
Professora: Assim, quando ela tá em equilíbrio as duas coisas que tem no prato são iguais e pode ter um pote no
prato que eles vão ter que raciocinar para descobrir o valor deles.
Situação-problema
Sobre as atividades com os problemas verbais, a professora falou que os alunos terão
dificuldade de entender a situação-problema devido a dificuldades com leitura. Além disso,
precisam ter noção mais aprofundada de divisão. Mesmo a pesquisadora explicando que os
problemas não usavam noção de divisão, a professora explica: “Eles não estão acostumados
com esse tipo de problema.”. E quando perguntada se tais problemas usam algum conceito
algébrico, a professora responde: “Não sei, talvez por ter o termo desconhecido também. Eu
tenho que ver direito”.
Uma aula antes de a professora aplicar as atividades com as situações-problemas, a
pesquisadora traz os problemas modificados de acordo com as indicações de mudanças
proposta pela professora durante a sessão de planejamento (Anexo E). A pesquisadora
pergunta mais detalhes da aula e a professora comenta que os alunos terão dificuldade de
resolver as situações-problema por ser diferente dos problemas que costumam resolver. E que
a melhor maneira de fazer essa atividade é ler oralmente para os alunos, para que eles
respondam durante a leitura. Quando perguntada sobre como poderá despertar algum conceito
algébrico, a professora responde: “eles vão comparar a quantidade das pessoas”.
A pesquisadora também perguntou à professora se não seria interessante que os alunos
tentassem registrar algo durante a atividade, para analisarmos como eles faziam registro
daquelas situações. A professora responde: “É, pode ser. Mas eu acho que eles não vão
conseguir registrar, não.” A pesquisadora sugere que os alunos façam livremente seus
registros para perceber como os símbolos são utilizados pelos alunos, e como podem
favorecer na construção de uma linguagem simbólica. Mais uma vez percebe-se a negação da
representação, uma ferramenta tão importante para o desenvolvimento do conhecimento
matemático.
OA Balança Interativa
Durante o planejamento das atividades com o OA Balança Interativa, a professora explica:
Pesquisadora: E como esse último OA pode nos ajudar a entender o pensamento algébrico nos alunos?
Professora: Ah! Esse objeto de aprendizagem ajuda a compreender as expressões algébricas, como também a
manipulação simbólica. Além de descobrir o valor das caixinhas, ele vai manipulando até encontrar o valor. Ele
entende porque tem que encontrar um valor desconhecido.
Pesquisadora: E isso não era feito na balança?
Professora: Era também. Mas esse mostra as expressões que ajuda a entender o movimento da balança, eles não
podem pegar nos pesos e fica mais difícil de encontrar. Aí eles têm que usar o raciocínio, não tem jeito.
Pesquisadora: Como assim usar o raciocínio?
Professora: Eles vão ter que descobrir estratégias para saber quanto mais ou menos vai pesar uma caixinha dessa.
Ele não tem noção nenhuma porque é aqui no computador. Lá na balança ele pega, ver o tamanho do pote, aqui é
tudo mais abstrato.
Pesquisadora: E porque essa balança trabalha com a álgebra?
136
Professora: Você tem várias coisas, essas letras podem ser as incógnitas, eles podem ver essas expressões aqui
[aponta para o lugar onde mostra as expressões de equações e inequação], eles usam estratégias que vão ter que
achar o valor da caixinha dentro de algumas possibilidades de números.
Pesquisadora: Como assim?
Professora: Como você falou naquele dia, o valor do B pode ser um valor. Por exemplo, se for menor do que
sete? E maior do que dois? Ele pode ser um conjunto de número, o três, quatro, cinco e seis. Ai ele vai usar
outras estratégias para descobrir.
pratos. Algumas vezes, o peso do pote não era encontrado facilmente na balança, pois o seu
valor não podia ser descoberto pela soma dos pesos conhecidos. Dessa maneira, os alunos
desenvolviam estratégias de operação inversa para atingir o objetivo de encontrar o valor do
pote. Essa estratégia foi utilizada quando os alunos não encontravam o valor do peso do pote
somando os valores de pesos conhecidos. Por exemplo, o pote de granola pesava 400 gramas,
para isso os alunos tinham os pesos conhecidos de 50, 100, 200 e 500 gramas, para encontrar
o valor do pote, os alunos teriam que ter dois pesos de 200, ou 4 pesos de 100 gramas. Como
não dispunham desses pesos, tiveram que colocar o pote de granola de um lado com o peso de
100 gramas e o peso de 500 gramas do outro lado. Dessa forma, a professora favoreceu esse
entendimento com os três pesos desconhecidos que propiciavam esse raciocínio.
Essa estratégia também apareceu quando os alunos encontraram o valor de três
saquinhos com 50 gramas cada um. Eles colocaram os três saquinhos em um dos pratos da
balança e no outro prato o peso de 100 (cem) gramas junto com o peso de 50 (cinquenta)
gramas. Ao encontrarem o valor o peso a professora pergunta:
100 gramas e um pote da cor preta. Mesmo ao encontrar o equilíbrio na balança de dois
pratos, os estudantes relatavam que não dava para encontrar o valor. Mas a professora
perguntava:
Aluno: Não dá pra saber não... É um pouco mais que 300 gramas.
Professora: Mas o que tem ai na balança?
Aluno: Um de 200 [gramas], um de 100 [gramas], e esse potinho aqui.
Os alunos entenderam que o objetivo da atividade não era encontrar uma resposta
numérica, mas compreender o sentido da relação encontrada na balança. Agora vejamos como
ela reconhece o sentido de equação no OA Balança Interativa:
Franke, Carpenter e Battey (2008) discutem que os professores devem engajar seus
estudantes a desenvolver o pensamento relacional desde cedo, como suporte ao
desenvolvimento do pensamento algébrico. Os autores caracterizam esse pensamento pela
capacidade de analisar expressões e equações como um todo ao invés de entendê-las como um
processo a ser realizado passo a passo. Para eles, o pensamento relacional deve usar
propriedades fundamentais dos números e das operações. Por exemplo, ao resolver a
expressão 78 + 34 – 34 = ___ começando pela operação 78 + 34 e depois subtraindo 34 ao
resultado, não envolve o pensamento relacional. No entanto, esse conhecimento é usado se
tivermos atenção que 34 – 34 é zero. Quando se entende esta relação estaremos usando o
pensamento relacional.
De modo geral, o pensamento relacional está ligado à capacidade de compreender e
deduzir procedimentos matemáticos de forma significativa e não procedimental. O
pensamento relacional é empregado quando o aluno tem a capacidade de examinar situações
matemáticas ligadas ao pensamento algébrico, na sua totalidade e não como um processo
mecânico.
O pensamento relacional se configura quando o aluno usa o raciocínio, compreende
ideias importantes sobre as relações entre as operações e propriedades fundamentais da
matemática. Este pensamento tem relação com a álgebra nos anos iniciais, a partir do
momento em que os alunos comparam expressões aritméticas sem efetuar cálculos explicando
o porquê de serem verdadeiras ou falsas, como por exemplo, 2 + 5 = 5 + 2, ou quando
efetuam cálculos para obter igualdades verdadeiras, justificando seu sentido.
Muitos estudantes não têm a oportunidade de desenvolver desse tipo de pensamento
no Ensino Fundamental porque professores não trabalham com as propriedades numéricas de
uma maneira que os alunos compreendam essas propriedades de acordo com o pensamento
relacional. No entanto, no momento em que a professora estava fazendo atividades de
comparação entre os pesos conhecidos e desconhecidos, ela encorajou seus alunos nesse tipo
de pensamento. Primeiro mostrou todos os pesos conhecidos e desconhecidos, colocou 500
gramas em um dos lados da balança e os pesos 200, 300 e 100 gramas do outro lado; assim,
pediu que os alunos tentassem equilibrar a balança, ou seja, achar algum peso que pudesse
141
equilbrar aquela desigualdade. Os alunos pegavam qualquer objeto da sala de aula até achar a
igualdade. Depois de equilibrar a balança, a professora perguntava quanto vale aquele peso
desconhecido. Os alunos discutem entre si e logo descobrem: “Se aqui é meio quilo tem que
ter 100 gramas para ficar igual a esse [prato da balança]”.
Em outro momento a professora colocou um pote de farinha, todos sabiam que ele
pesava 450 gramas, com 50 gramas em um lado da balança, mais 100 gramas do outro lado.
Dessa maneira foram motivados a encontrar a igualdade da relação: 450 + 50 = 100 + ___ .
Os alunos vão colocando e tirando materiais que encontram pela sala, ao final, quando
encontraram a relação de igualdade na balança, a professora pergunta quanto valia todos
aqueles objetos juntos. Os alunos pensam sobre a situação e respondem corretamente: “A
farinha é 450 com 50 gramas aqui, dá 500, meio quilo! Esse aqui é 100, então isso tudinho é
400 gramas”.
Conforme discussões anteriores, o trabalho com álgebra nos anos iniciais deve
envolver um conjunto de situações nas quais os alunos possam compreender relações e
funções, representar e analisar situações usando símbolos matemáticos, usar modelos
matemáticos para representar e compreender relações quantitativas, analisar a variação de
diversos contextos. (NCTM, 1989). Dentro dessas situações professores devem proporcionar
aos alunos a capacidade de lidar com equações, inequações e funções.
Para Ponte (2005), o estudo desses tópicos proporciona aos alunos um amplo
conjunto de ferramentas para a modelação de situações da realidade, contribuindo para o
desenvolvimento de uma linguagem algébrica e o raciocínio matemático e a capacidade de
resolver problemas. Para o autor o trabalho com inequações deve ser visto com uma relação
de desigualdade para expressar relações numéricas e proporcionar uma maior riqueza de
significados aos objetos e procedimentos algébricos.
Para introduzir a atividade de comparação de potes com pesos desconhecidos na
balança de dois pratos, a professora desenvolveu uma sequência de momentos na sala de aula
com objetivo de trabalhar e explorar conceitos de comparação entre quantidade
142
desconhecidas, trabalhando com o sentido de inequações. Foram elas: (1) comparações entre
objetos da sala com nítida percepção de sobre qual era o mais pesado; (2) comparações entre
objetos da sala com pouca percepção qual era o mais pesado; (3) comparação entre potes de
diferentes formatos; (4) comparações entre potes de mesmo formato. A seguir, descreveremos
como elas foram desenvolvidas durante a aula da professora.
A primeira exploração do conceito de comparação, propiciada pela professora
aconteceu em uma conversa com seus alunos quando ela explicava que os objetos possuem
peso e que podemos saber qual o mais pesado ou o mais leve entre eles. Assim, comparava os
pesos dos objetos da sala de aula e fazia perguntas sobre ele, por exemplo: “Qual o mais
pesado? A mochila da Gabriela ou o caderno dela?”, “O Jonas ou o cadernos dele?”, “O
estojo do Mateus ou essa régua?”. Dessa maneira a professora questionava a respeito de
vários objetos fazendo comparações entre seus pesos que era fácil perceber sua relação.
Depois pergunta a comparação de objetos que não podemos perceber nitidamente
qual é mais pesado. A professora pergunta qual de dois cadernos, aparentemente iguais, é
mais pesado. Alguns dizem que um caderno é mais pesado e outros falam que o outro é mais
pesado por ter mais página. Eles são motivados a pegar e atestar qual o mais pesado.
Posteriormente, a professora mostra os objetos utilizados na oficina (um pote de
granola, garrafa pet de refrigerante, garrafa de soro, pote branco, pote de farinha) e pergunta a
relação entre eles. Os alunos decidem o mais pesado pelo tamanho e outros pela largura.
Aluno 1: Esse pote branco é mais pesado que esse pote de farinha.
Professora: Por que?
Aluno 1: Porque ele é comprido assim [mostra que ele é grande de comprimento].
Alunos 2: É não tia, é não! A farinha é mais assim [mostra com as mãos que o pote de farinha é mais grosso].
(Discussão entre os alunos)
Alunos 2: E tem mais! Ele [o pote de farinha] está todo completo e o pote branco eu não sei.
Depois a professora mostra os potes do mesmo formato e pede para que eles
descubram a relação entre eles. Pergunta se lembram como ordenar valores na ordem
crescente e decrescente. A turma se confunde algumas vezes e ela ajuda:
Professora: Se eu peço para vocês colocarem esses potes do maior peso, para o menor, vocês estão usando a
ordem decrescen..
Alunos: ... te!
Professora: E seu eu ordeno do menor para o maior? É cres...
Alunos: ... cente!
A docente pergunta qual pote eles querem sentir o peso para começar a ordená-los na
ordem crescente. Eles estão em círculo e a professora, a pedido dos alunos, passa o pote
branco para que todos possam sentir o peso dos potes. O pote branco é o mais leve de todos e
eles falam que aquele pote possui “zero quilos” e outros falam “não tem nada”. Depois, os
alunos pedem o pote azul e todos concordam que ele é mais pesado do que o branco. Os pesos
ficam em cima da mesa da professora e os alunos a orientam que o pote azul deve vir depois
do pote branco. Dessa maneira, a professora vai passando todos os pesos para que os alunos
possam sentir seu peso e depois eles orientam onde os potes devem ficar.
A cada pote que pegavam, tentavam relembrar qual a relação com o anterior ou
dentro do conjunto de pesos já testados. Eles sentiram o peso do pote branco, o azul, o verde,
o preto, e, quando escolheram o pote vermelho, tinham que decidir qual a relação dele com
todos os outros e colocá-lo no lugar onde achavam que era.
Quando eles tinham alguma dúvida sobre a ordem de um pote, a turma escolhia um
representante para examinar o peso posterior e anterior ao peso elegido e verificar se o pote
estava no lugar correto. Após a atividade de comparar os potes de mesmo tamanho com as
mãos, todas as crianças comparavam os mesmos potes na balança de dois pratos. Dessa
maneira, as crianças não podendo sentir os pesos dos potes, descobriam estratégias para
encontrar a ordem dos potes. Veja a explicação de dois alunos:
Eu botei o mais pesado aqui e vai descendo... Menos pesado, menos pesado, menos pesado... [o aluno está
traduzindo o que encontrou na balança ao comparar o amarelo com azul, vermelho e verde]. De um por um e
descobri qual é o mais pesado, depois o outro mais pesado e assim vai.
Ele escolheu o pote amarelo e foi colocando outros potes para verificar se ele era o
mais pesado de todos. Depois que verificou que este era o mais pesado, escolheu outro pote e
comparava com todos outros. Outros também explicam como encontraram a sequência:
Eu vou vendo um com o outro. Se eu quero o mais pesado tenho que encontrar sempre qual é e depois ver qual o
outro mais pesado, até chegar o mais leve.
Apenas uma aluna sentiu dificuldade e errou ao ordenar os potes na ordem pedida
pela professora (ordem crescente), pois ao invés de comparar um com todos, comparava dois
a dois e não fazia mais comparações com o restante do conjunto de potes. Ao comparar o
preto com o verde, percebendo que o verde era mais pesado, não o comparou com outros
pesos do conjunto de potes, considerando que este o era mais pesado de todos.
Após essas atividades, perguntamos o que a professora achou de interessante no
trabalho e se alguma coisa chamou sua atenção. Ela reconheceu que muitas vezes conduziu a
atividade em situações diversas para que os alunos pudessem comparar os pesos dos objetos
sem necessariamente saber o valor deles. Quando perguntada se a atividade trabalhou algum
conceito algébrico, ela responde: “Quando eles comparavam aquelas caixinhas e não sabiam o
valor. Eu acho sim, trabalhamos! Porque eles não precisam saber a quantidade das coisas”.
Apesar de a professora ter trabalhado com a atividade de maneira bem diversificada,
explorado o sentido das relações entre quantidades desconhecidas e estimulando os alunos a
raciocinar sobre a situação, não criou outras possibilidades para ampliar o pensamento
algébrico como traduzir informação representada simbolicamente para outras formas de
representação.
O trabalho com inequações foi claramente percebido pela professora após o trabalho
das atividades com o OA feira dos pesos. Veja no diálogo abaixo a reflexão da professora
sobre o trabalho com o objeto.
Fala da professora explicando como poderia trabalhar representação da incógnita em sala de aula.
Pesquisadora: Você disse que aqui [no laboratório de informática] eles falavam mais sobre letras para representar
quantidades. Mas isso não poderia ser feito em sala?
Professora: Podia...
Pesquisadora: Como?
Professora: Era só colocar as letras naqueles potinhos.
número cinco para achar o valor de uma caixinha, “Esse peso não pode ser 15” - uma aluna
explicando para sua colega que o valor de uma caixinha não poderia ser quinze, pois os
valores variavam de um a dez.
Todas essas interações eram acompanhadas pela professora que ficava visitando cada
dupla de alunos para ver como eles estavam resolvendo as situações. Os alunos desenvolviam
o entendimento de incógnita e valor desconhecido quando relacionavam e comparavam as
quantidades desconhecidas. Veja como a professora considera a interação das crianças:
4.3.5 Generalização
Agora a professora pergunta individualmente para alguns alunos. Até que um dos
alunos responde: “Vai ser sempre o peso do último pote mais 50!”. A professora fica satisfeita
com a resposta do aluno e vai para outra atividade.
Mesmo que não seja uma observação e identificação de um padrão numérico ou
geométrico, os alunos desenvolveram um aspecto importante para o entendimento da
generalização. Neste momento, percebemos o começo do desenvolvimento de um processo de
generalização, pois o aluno observou e analisou uma determinada situação entendendo uma
regra geral fazendo conjecturas sobre essa situação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essas pesquisas comprovam que estudantes de anos elementares podem realizar conjecturas e
argumentos, estabelecer generalizações sobre dados e relações matemáticas expressas através
de linguagens cada vez mais formais. (KAPUT, 1994). Esses trabalhos nos impulsionaram a
investigar como os alunos brasileiros demonstram esse pensamento, utilizando recursos
digitais e atividades manipulativas com a balança de dois pratos. (FREIRE, 2007). Outros
trabalhos também investigaram como estudantes de séries finais do Ensino Fundamental
resolviam e desenvolviam esse pensamento com diversas situações dentre elas a balança de
dois pratos. (LESSA, 1996; BRITO MENEZES, 2006).
Partindo do pressuposto que era possível desenvolver o pensamento algébrico nos
alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, este trabalho foi pensado com intuito de
trazer uma parte desses estudos para a sala de aula por considerar um passo essencial que os
resultados de pesquisas cheguem à escola.
Portanto, para a realização do estudo foi necessário, mais do que ir à escola, mas
chegar à sala de aula. Para atingir tal objetivo, o professor foi uma peça chave para a
realização do presente estudo. Por esse motivo, foi importante trazer estudos que nos
ajudassem a compreender seu conhecimento dentro de uma perspectiva de desenvolvimento
profissional (SHULMAN, 1986), que nos mostrou como o conhecimento docente pode
influenciar o ensino. O estudo do conhecimento proposto por Shulman (1986) tem sido base
para a realização de muitos trabalhos, proporcionando um maior aprofundamento do
conhecimento do professor. Relacionamos os estudos de Shulman (1986) sobre o
conhecimento do conteúdo e o conhecimento pedagógico com estudos de Ball (1990, 2003,
2005, 2008), os quais mostraram como o professor de Matemática desenvolve seu
conhecimento. Esses trabalhos argumentam que os conhecimentos dos professores são mais
complexos do que os conhecimentos propostos por Shulman (1986), pois o conhecimento
nunca é totalmente completo e se desenvolve durante a prática. Os conhecimentos são
adaptativos e evoluem à medida que enfrentam novas questões em sua prática. (CASTRO-
FILHO, 1999).
Esses estudos embasaram reflexões sobre como o conhecimento do professor de
Matemática dos anos iniciais se manifestava durante a pesquisa. Tais trabalhos foram
essenciais para compreender o conhecimento dos professores manifestados na oficina, no
planejamento e na prática.
152
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARCAVI, A. Symbol sense: Informal sense-making in formal mathematics. In: For the
Learning of Mathematics, 14(3), 1994, p. 24-35.
______.; HILL, H.C; BASS, H. Knowing mathematics for teaching: Who knows
mathematics well enough to teach third grade, and how can we decide? American Educator,
2005.
______.; LEWIS, J; THAMES, M.H. Making mathematics work in school. Journal for
Research in Mathematics Education - Monograph 14, A Study of Teaching: Multiple Lenses,
Multiple Views, 2008.
______.; THAMES, M.H; PHELPS, G. Content knowledge for teaching: What makes it
special? In: Journal of Teacher Education, 59 (5). 2008, p.389-407.
156
______. Desafios para pesquisa em educação matematica na sala de aula. In: 2º Simposio
Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 2008, Recife. Matematica formal e
matematica não-formal 20 anos depois: sala de aula e outros contextos, 2008a.
BOGDAN, R; BIKLEN, S, K. Qualitative research for education. Boston, Allyn and Bacon,
Inc., 1982.
BOOTH, L. R. Dificuldades das crianças que se iniciam em álgebra. In: COXFORD, A. F.;
SHULTE, A. P. As ideias da Álgebra. São Paulo: Atual, 1995.
______.; LARA-ROTH, S. Additive relations and function tables. In: Journal of.
Mathematical Behavior, 20(3), 2002, p. 309-319.
______.; EARNEST, D. Guess My Rule Revisited. In: Proceedings of the 27th International
Conference for the Psychology of Mathematics Education. Honolulu, HI, July, 2003.
______.; SCHLIEMANN, A., BRIZUELA, B. M., & EARNEST, D. Arithmetic and algebra
in early mathematics education. In: Journal for Research in Mathematics Education, 37(2),
2006, p. 87-115.
CARRAHER, T.; CARRAHER, D.W.; SCHLIEMANN, A.D. Na vida Dez na Escola Zero.
São Paulo: Cortez, 2002.
158
______.; LEITE, M. A.; FREIRE, R. S.; PASCHOAL, I.V.A. Balança Interativa: um software
para o ensino da Álgebra. In: XVI Encontro de Pesquisa Educacional das Regiões Norte e
Nordeste (EPENN), Aracaju, 2003.
______.; FREIRE, R. S.; FERNANDES, A. C.; LEITE, M. A. Quando objetos digitais são
efetivamente para aprendizagem: o caso da matemática. In: XIX Simpósio Brasileiro de
Informática na Educação (SBIE), 2008, Fortaleza. Anais do XIX SBIE. v. 1. Porto Alegre:
Sociedade brasileira de Computação, 2008, p. 583-592.
CHIZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
CONFREY, J. Using computers to promote students' inventions on the function concept. In:
Malcom, S.; Roberts, L.; Sheingold, K. (ed.). The year in school science 1991. Washington,
DC: American Association for the Advancement of Science, 1992, p. 141-174.
CYSNEIROS, P. G. Competências para ensinar com novas tecnologias. In: Revista Diálogo
Educacional. Curitiba, Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), n.12, v.5, 2004.
159
D’AMBROSIO, B. Como ensinar matemática hoje? Temas e Debates. SBEM. Ano II. No. 2,
Brasília, 1989, p. 15-19.
______. A case study of algebraic scaffolding: From balance scale to algebraic notation. In:
Proceedings Of The XXI International Conference for the Psychology of Mathematics
Education, v. 2, Recife-PE: 1995, p. 66-73.
FENNEMA, E.; FRANKE, M. L. Teachers' knowledge and its impact. In: GROUWS, D. A
(ed.). Handbook of research on mathematics teaching and learning. New York: Macmillan
Publishing, 1992, p. 147-164.
160
______. Matrizes Curriculares de Referência: SAEB (2. ed.). Brasília: MEC/INEP, 1997.
______.; BLANTON, M. Algebrafying the elementary mathematics experience. (Part I). In:
CHIC, H. K; STACEY, K.; VINCENt, J. (Eds.). Proceedings of the 12th ICMI Study
Conference. v. 1. Australia: The University of Melbourne, 2001, p. 344-350.
KIERAN, C. Concepts associated with the equality symbol. In: Educational Studies in
Mathematics, 12, 1981, p. 317-326.
______. The learning and teaching of school algebra. In: GROWS, D. A. (Ed.). Handbook of
research on mathematics teaching and learning. New York: MacMillan, 1992, p. 390-419.
______. Research on the learning and teaching of algebra. In: Gutierrez, A.; Boero, P. (Eds.).
Handbook of reaserch on the psychology of mathematics education: Past, present and future.
Roterdham: Sense, 2006, p. 11-50.
LESSA, M.M.L. Balança de dois pratos e problemas verbais como ambientes didáticos para
iniciação à álgebra: um estudo comparativo. Dissertação de Mestrado. UFPE. Recife, 1996.
LTSC. Learning Technology Standards Committee website [on-line], 2000. Disponível em:
<http//ltsc.ieee.org/>. Acesso em: 03 abr.2010.
NUNES, T.; BRYANT, P. Crianças Fazendo Matemática. São Paulo: Artes Médicas, 1997.
PELED, I.; CARRAHER, D.W. Signed numbers and algebraic thinking. In: KAPUT, J.;
CARRAHER, D.; BLANTON, M. (Eds.). Algebra in the Early Grades. Mahwah-N: Erlbaum,
2007, p. 303-327 (now Taylor & Francis).
______.; BRANCO, N.; MATOS, A. Álgebra no Ensino Básico. [on line] Ministério da
Educação, Portugal, Direção Geral de Integração e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC),
Portugual, 2009. Disponível em: <area.dgidc.min-edu.pt/.../003_Brochura_Algebra_NPMEB
_(Set2009).pdf>. Acesso em: 05 out.2010.
______.; CARRAHER, D.; BRIZUELA, B.; JONES, W. Solving algebra problems before
Algebra Instruction. Arlington, VA: National Science Foundation, 1998.
165
SPINILLO, A. G. Proporções nas Séries Iniciais do Primeiro Grau. In: SCHILLIEMAN, A.D;
CARRAHER, D.W.; SPINILLO, A.G.; MEIRA, L.L.; DA ROCHA FALCÃO, J.T. (orgs)
Estudos em Psicologia da Educação Matemática. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1993.
USISKIN, Z. Concepções sobre a álgebra da escola média e utilizações das variáveis. In:
COXFORD, A. F.; SHULTE, A. P.(Org). As ideias da álgebra. São Paulo: Atual, 1995
VERGNAUD, G.; CORTEZ, A. Introducing algebra to “low-level” 8th and 9th graders.
Proceedings of the tenth Annual Meeting of the International Group for the Psychology of
Mathematics Education. London: 1986, p. 319-324.
166
______. Multiplicative conceptual field: what and why? In: GUERSHON, H.; CONFREY, J.
(1994). (Eds.) The development of multiplicative reasoning in the learning of mathematics.
Albany - N.Y: State University of New York Press, 1994, p. 41-59.
______. The Nature of Mathematical Concepts. In: NUNES, T.; BRYANT, P. (eds).
Learning and Teaching Mathematics: an International Perspective. Psychology Press, East
Sussex, 1997, p. 5-28.
ANEXOS
168
ANEXO - A
Observação
Observação geral
2. O que o(a) professor(a) faz par se manter engajado nas atividades? Faz perguntas? Se sim,
quais questões? Como elas se relacionam com os conceitos ou conteúdos?
Entrevista
Perguntas gerais
169
Perguntas específicas
2. Houve alguma coisa que chamou sua atenção? OBS: Se o professor responder de forma
positiva, perguntar o oposto – alguma coisa te decepcionou?
ANEXO - B
Etapa 2 – Planejamento
Observação
5. A (o) professora (o) elaborou o planejamento fazendo ligações entre as atividades? Fez
ligações da atividade com outras atividades? Se fez, descreva como essa ligação é feita.
Entrevista
Ex: Descreva atividades que normalmente são feitas em sala para ensinar os conteúdos que
serão abordados com o uso da tecnologia.
4. Descreva algumas experiências anteriores com tecnologia como aluno ou como professor?
171
ANEXO - C
Observação
3. A (o) professor (a) usou alguma analogia ou metáfora em suas explicações? Se sim, que
analogias? Como essas analogias ou metáforas podem se relacionar com os conceitos ou
conteúdos sendo abordados? OBS: faça anotações dessas analogias, metáforas e
representações usadas para serem discutidas em uma entrevista posterior.
5. A (o) professor(a) fez algum resumo de aulas passadas? Fez ligações da atividade com
outras atividades? Se faz, descreva como essa ligação é feita.
Interações
2. O que o (a) professor (a) faz para manter os alunos engajados nas atividades? Faz
perguntas? Se sim, quais questões? Como elas se relacionam com os conceitos ou conteúdos?
Tecnologia
1. O que você pode dizer sobre a aula, em relação ao que foi planejado?
2. Houve alguma coisa que chamou sua atenção? OBS: Se o professor responder de forma
positiva, perguntar o oposto – alguma coisa te decepcionou?
6. Se você for refazer a aula, o que mudaria para melhorar a aula? Ex: Se o professor
mencionar apenas ter mais computadores, pergunte: Isso mudaria a aula de alguma forma?
173
ANEXO - D
Situações-problema
1. Bruno e Tiago adoram comer chocolate. Um dia, Brunon levou 10 chocolates para a escola
e depois comprou mais 2 na loja da escola. Tiago levou 5 chocolates, comprou então mais 5
na loja da escola e ganhou mais 2 de um outro amigo. No recreio, Tiago comeu 2 de seus
chocolates e Bruno comeu também 2 de seus chocolates. Você pensa de que após o recreio
Tiago tem a mesma quantidade de chocolates que Bruno? Ou, você acha que um tem mais
chocolates do que o outro?
2. Bárbara e Joana fazem aniversário no mesmo dia. Bárbara ganhou 7 presentes das suas
amigas, e Joana também ganhou 7 presentes das suas amigas. Quando a festa acabou, as duas
garotas tiveram uma festa surpresa feita por suas famílias e receberam mais presentes.
Bárbara recebeu mais 6 presentes da sua família. Joana recebeu mais 3 presentes da sua. Você
acha que no final do dia Joana tem a mesma quantidade de presentes como Bárbara?
3. Patrícia e Daniel são brincando fora da vizinhança. Como os dois gostam de laranja, foram
nas suas casas pegar laranja. Patrícia pegou 6 laranjas e Daniel pegou 3. Depois eles voltaram
para suas casas pegar mais laranja. Patrícia pegou mais 4 laranjas e Daniel pegou mais 3.
Daniel voltou pela terceira vez na sua casa e retornou com mais 4 laranjas. Nessa hora chegou
um amigo deles e Patrícia deu para esse amigo 6 laranjas e Daniel deu 3 laranjas. Você acha
que, agora, depois de eles terem dado algumas laranjas Patrícia e Daniel tem a mesma
quantidade de laranjas? Ou você acha que um tem mais laranja que outro?
4. João e Sara estão brincando de bolas de gudes. João pegou 4 bolas de gudes do seu bolso
esquerdo para brincar. João pegou então mais 4 bolas de gudes do seu bolso direito para
brincar. Sara levou 8 bolas de gudes da sua coleção para brincar. Durante o jogo, Sara ganhou
mais 2 bolas de gudes. João também ganhou 2 bolas de gude durante o jogo. Você acha que
João tem a mesma quantidade de bolas de gude da Sara? Ou você acha que um tem mais bolas
de gudes que outro?
5. Rodrigo e André foram pegar conchas do mar na praia cedo da manhã. Rodrigo pôs as
conchas que encontrou em uma caixa grande. André encontrou o mesmo número de conchas
que Rodrigo, mas ele dividiu igualmente em duas caixas pequenas. De tarde, foram
novamente à praia e Rodrigo encontrou outra vez a mesma quantidade de conchas como as de
André. Desta vez cada menino pôs as conchas que eles tinham encontrado em um saco. No
dia seguinte foram contar quantas conchas cada um tinha nas caixas, mas não encontraram os
sacos. Você acha que Rodrigo tem o mesmo número de conchas que André? Ou você acha
que um deles tem mais concha que o outro?
6. Carlos e Marcelo adoram biscoitos. Cada um deles possui um pacote de biscoito com a
mesma quantidade. Carlos colocou todos seus biscoitos em uma cesta. Marcelo dividiu seus
biscoitos em duas cestas. Então, eles pegaram um outro pacote. Carlos e Marcelo pegaram a
mesma quantidade de biscoito, mas desta vez os dois colocaram os biscoitos em um depósito
para comer depois. O irmão mais nova de Carlos foi na cozinha foi na cozinha e disse que
queria biscoito também. Carlos deu pra ela sua cesta de biscoito e Marcelo deu pra ela uma de
suas cestas de biscoito. Agora, depois de ter dividido seus biscoitos, você acha que Carlos tem
174
o mesmo número de biscoitos que Marcelo? Ou você acha que um tem mais biscoito que os
outro?
7. Rosa e Claudia colecionam selos. Antes do Natal Rosa e Claudia tinham a mesma
quantidade de selos. Rosa colocou todos seus selos em um álbum. Claudia colocou seus selos
em dois álbuns. Depois do Natal elas pegaram todos os selos que ganharam de seus familiares
e viram que tinham recebido a mesma quantidade de selos e então foram colocar nos seus
álbuns. Você acha que Rosa tem a mesma quantidade de selos de Claudia? Ou você acha que
uma tem mais selos que a outra?
8. Em um fim de semana Lucas e Francisco foram pescar. No sábado eles pescaram a mesma
quantidade de peixes. Lucas e Francisco pescaram no domingo também. No final do dia eles
contaram a quantidade de peixes que cada um tinha pescado. Eles descobriram Lucas pescou
mais do que Francisco. No final do fim de semana, você acha que Lucas pescou a mesma
quantidade de peixes de Francisco? Ou você acha que um pescou mais do que outro?
175
ANEXO - E
4. João e Elton estão brincando de bola de gude. João tem 4 bolas de gudes
no seu saquinho e 4 bolas no seu bolso. Elton tem 8 bolas de gudes no saquinho.
Durante o jogo, João ganhou 2 bolas de gude e Elton ganhou mais 2 também.
Você acha que João e Elton possuem a
mesma quantidade de bolas de gudes ou
quantidades diferentes?
177
Nome: __________________________________________________
APÊNDICE
Apêndice A
O OA Balança Interativa possui dez níveis. Do primeiro ao quinto nível ele apresenta
a balança de dois pratos e a equação que representa os movimentos realizados. Do sexto ao
décimo nível, o jogo apresenta apenas a equação. Esta diferenciação foi feita com o objetivo
de levar o usuário a manipular equações de modo cada vez mais simbólico. Durante a
pesquisa os professores optaram por utilizar somente o primeiro nível com seus alunos, pois
os outros níveis exigem um nível maior de representação simbólica. Além disso, as atividades
do primeiro nível já oferecem uma boa quantidade de estratégias de pensamento que os
usuários podem trabalhar.
6 (A < 6), o valor de A pode ser cinco, quatro, três, dois ou um. Depois dessa descoberta ele
pode fazer novas manipulações. O OA registra o número de manipulações que o aluno faz
durante a descoberta dos pesos. Ao final do nível o software oferece a quantidade de
manipulações que o aluno fez para descobrir todos os pesos desconhecidos. Essa
funcionalidade serve para identificar a quantidade de vezes que ele moveu os pesos. Supõe-se
que, se o usuário diminui a quantidade de movimentos quando repete um nível, é porque está
criando estratégias de manipulação.