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http://dx.doi.org/10.18224/educ.v22i1.

7250
TEMAS EM DEBATE
A RELEVÂNCIA DA PESQUISA
NA FORMAÇÃO INICIAL
DE PROFESSORES*

Maria Célia da Silva Gonçalves**


Luiz Síveres***

Resumo: o presente artigo tem por objetivo investigar as percepções de formandos no curso
de Pedagogia de uma Faculdade particular situada em João Pinheiro (MG), no que tange à
importância da prática da pesquisa em seu trabalho de final de curso (TCC), assim como,
avaliar a internalização da importância da mesma na atuação do professor. Para a coleta de
dados foi realizada uma pesquisa na modalidade qualitativa, utilizando como instrumento
um questionário aplicado aos trinta e cinco alunos da turma do oitavo período do referido
curso. Nesse interim, realiza-se breve cotejo com a teoria de Freire (2006), Demo (2001, 2007,
2014, 2018, 2019) e Síveres (2006, 2015, 2016). Os resultados sinalizam que esses alunos
entenderam a pesquisa como busca, criação e processo de emancipação, tanto do educando
quanto do professor, uma vez que possibilita a aquisição de novos conhecimentos. Todos
os participantes da pesquisa foram categóricos em defender essa prática na formação do
pedagogo e, para eles, ela é responsável pela formação continuada do professor. Os alunos
pesquisados demostraram, ainda, terem lido teóricos de referência na sua formação e terem
internalizado os conceitos concernentes ao exercício da pesquisa.

Palavras-chave: Pesquisa. Formação de professor. Pedagogia.

* Recebido em: 08.04.2019. Aprovado em: 13.12.2019.


** Pós-Doutora em História pela Università degli Studi Del Sannio. Pós-Doutora em
Educação pela Universidade Católica de Brasília. Pós-Doutoranda em História pela
Universidade de Évora. Doutora em Sociologia e Mestre em História pela Universida-
de de Brasília. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Mulheres, Trabalho e Negócios:
empreendedorismo feminino no Noroeste de Minas Gerais e Sul de Goiás. Pesquisa-
dora do Grupo de Pesquisa Comunidade Escolar: Encontros e Diálogos Educativos
– CEEDE e do CIDEHUS.UE - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Socie-
dades da Universidade de Évora. E-mail: [email protected].
*** Pós-Doutor em Educação e Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília. Docente/Pesquisador
Permanente do Programa Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da
Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected].

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O presente artigo tem por objetivo investigar as percepções de for-
mandos do curso de Pedagogia de uma Faculdade particular situa-
da em João Pinheiro (MG), no que tange à importância da prática da
pesquisa em seu curso, assim como avaliar a internalização da impor-
tância da mesma na atuação do professor.
Na formação do professor consideramos importante internalizar
esta concepção, pois “o que faz da aprendizagem algo criativo é a pesquisa,
porque a submete ao teste, a dúvida, ao desafio, desfazendo tendência me-
ramente reprodutiva”. Assim, “ensinar e aprender se dignificam na pesquisa,
que reduz e/ou elimina a marca imitativa” (DEMO, 2001, p. 43-4).
Pesquisar tem sido a forma de sobrevivência do ser humano, pois,
desde a antiguidade, ele teve que investigar e decidir o que era bom ou
não para a sua sobrevivência. No entanto, insistimos em criar escolas
que primam pela “decoreba” e não pela pesquisa. Pensar a pesquisa como
alternativa nos remente a Demo (2001, p.10), porque, de acordo com este
autor, ensinar “não se trata de copiar a realidade, mas de reconstruí-la con-
forme os nossos interesses e esperanças. É preciso construir a necessidade
de construir caminhos, não receitas que tendem a destruir o desafio de
construção”.
Ainda para Demo (2001, p. 82),

O conceito de pesquisa é fundamental, porque está na raiz da cons-


ciência crítica questionadora, desde a recusa de ser massa de ma-
nobra, objeto dos outros, matéria de espoliação, até a produção de
alternativas com vistas à consecução de sociedade pelo menos mais
tolerável. Entra aqui o despertar da curiosidade, da inquietude, do
desejo de descoberta e criação, sobretudo atitude política emanci-
patória de construção do sujeito social competente e organizado.

Ao se pensar a formação de professores no século XXI, faz-se


misteruma concepção de um profissional apto à pesquisa, pois, de acordo
com Freire (2006), ensinar exige pesquisa. Não é possível pensar o ensino
sem a pesquisa, assim como não existe pesquisa sem ensino. Para o autor,
esses fazeres se completam e estão intimamente relacionados, sendo a
indagação e a busca de respostas para as mesmas, a mola propulsora
para a construção de novos saberes, de forma a conhecer e intervir na
realidade. Paulo Freire, ao refletir sobre isto, mencionou sua experiência
e afirmou que, “ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e
me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo

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educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e
comunicar ou anunciar a novidade” (FREIRE, 2006, p.29).
Justifica-se o interesse por este tema por perceber a importância
da pesquisa nas percepções de acadêmicos que estão concluindo o curso
de Pedagogia, por compreender que o papel do professor e pedagogo é
sumamente importante na construção dos saberes escolares, de modo a
instigar os alunos a conhecer e interpretar a realidade. É igualmente im-
portante que esses profissionais do ensino sejam também pesquisadores
e façam da pesquisa uma prática cotidiana na sala de aula. Acredita-se,
pois, que o docente que teve contato com a pesquisa durante a sua for-
mação inicial irá utilizá-la com maior intensidade em sua sala de aula.
Pensando na importância da indagação para a produção de conhe-
cimentos, suscitou-se questionamentos acerca da pesquisa e sua prática
no universo acadêmico: como os concluintes do curso de Pedagogia da
instituição pesquisada definem Pesquisa? Que importância eles atribuem
à pesquisa na formação de um Pedagogo? Para os alunos sujeitos dessa
pesquisa é importante que um professor seja também um pesquisador?
Por quê? Eles acreditam que a realização de um Trabalho de Conclusão
de Curso, efetivado por meio de pesquisa de campo, é um diferencial
em um curso de formação de professores? Quais foram as dificuldades
encontradas por eles na realização de suas pesquisas?
Para registrar as percepções dos formandos em Pedagogia, foi
realizada uma pesquisa na modalidade qualitativa, utilizando como ins-
trumento um questionário com os alunos da turma do oitavo período do
curso de uma instituição particular situada em João Pinheiro, no noroeste
de Minas Gerais. Os alunos foram convidados a participar da pesquisa,
informados dos objetivos da mesma e da importância da sua participação.
Todos os 35 (trinta e cinco) presentes se prontificaram a participar, sendo
que os questionários foram realizados na própria instituição, categoriza-
dos de acordo com a análise de conteúdo preconizada por Bardin (2011) e
se encontram analisados ao longo do trabalho. Os alunos componentes da
amostra do trabalho foram nominados de 1 a 35. Por respeito à maneira
de expressar dos participantes da entrevista, não foi realizada correção
gramatical em suas respostas, mantendo-se assim a grafia tal qual dos
questionários. O fator de inclusão foi estar cursando o último período
do curso e estar em processo de realização do Trabalho de Conclusão de
Curso - TCC. A pesquisa utilizou como fundamentação teórica as obras
de Freire (2006), Demo (2001, 2007, 2014, 2018, 2019) e Síveres (2006;
2015, 2016).

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A faculdade, universo dessa pesquisa, está localizada no município
de João Pinheiro, quede acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2016) é o maior município em extensão
no Estado com aproximadamente uma população de 48.751 habitantes
e uma área territorial de 10.727,471 km.
Segundo Oliveira; Silva;Souza (2017), a instituição que se constitui
como plano de observação da pesquisa foi criada em 1999, iniciando suas
atividades apenas em 2002, com a aprovação, pelo DEPES/SESU/MEC,
dos cursos de bacharelado e licenciatura. Em 2002, a instituição teve a
publicação de portaria de autorização do curso Normal Superior. Poste-
riormente o curso foi transformado em Pedagogia, iniciando a primeira
turma de Pedagogia em 2007 e mantendo-se ainda na contemporaneidade
como um dos cursos mais importantes da referida instituição. Este curso
contribuiu para a formação de muitos professores que atuam na educação
básica no município e região, pois esta Instituição de Ensino Superior
atende a uma clientela que engloba também moradores dos municípios
circunvizinhos que se dirigem, diariamente, a João Pinheiro para cursar
o Ensino Superior.
Nesse item serão apresentados os resultados da pesquisa de campo.
Ela foi realizada por meio de um questionário aplicado aos 35 alunos
concluintes do curso de Pedagogia da Faculdade universo da pesquisa. Os
sujeitos participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) com a finalidade de preservar sua identidade.
O questionário contava de 05 perguntas abertas que versavam sobre o que
os alunos compreendiam por pesquisa. A importância que eles atribuíram
a pesquisa na formação do Pedagogo. Se na visão dos alunos concluinte
é importante que um professor seja também um pesquisador. Buscou
compreender de ele acreditam que a realização de um TCC realizado por
meio de pesquisa de campo é um diferencial em um curso de formação de
professores e finalmente levantar as principais dificuldades encontradas
no decorre da realização do Trabalho de Conclusão do Curso.

Compreensão dos Alunos Acerca da Pesquisa: sua Relevância


na Formação e Prática Pedagógica

Pesquisa é uma palavra que muitos concebem como parte da vi-


vência cotidiana; todavia, possuem dificuldade em conceituá-la. Pode ser
compreendida de forma díspar por diferentes sujeitos sociais, podendo ser
vista de forma mais conceitual, prática ou técnica. No entanto, é comum

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a relação da mesma com a busca de conhecimento sobre determinada
realidade e sua importância na construção de saberes.
Entendemos por pesquisa a definição de Minayo (2002, p. 17),
como a “atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da
realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza
frente à realidade do mundo”. Assim, ainda que seja uma prática teórica,
a pesquisa liga o pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectual-
mente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema
da vida prática.
A pesquisa é um requisito necessário ao desenvolvimento das ci-
ências e construção de conhecimento, assim como na práxis do professor
do século XXI. É difícil pensar na atuação desse profissional, sem lançar
mão do processo de pesquisa. Pesquisa, aqui, pensada na perspectiva
de Demo (2001), ou seja, processo que deve permear toda a atuação do
professor, atitudes de busca, construção, reconstrução do conhecimento
e que contribua para o fim da educação instrucionista, que visa apenas
a decoreba e a repetição. Porque “essa atitude de buscar, procurar e des-
cobrir potencializa o ato de ensinar, que, por sua vez impulsiona, ainda
mais, o desejo de pesquisar. Promover a pesquisa, provocar a investigação
ou despertar para novos conhecimentos são possibilidades concretas de
partida educacional” (SÍVERES, 2015, p.189).
Portanto, a pesquisa deve fazer parte da formação do professor,
para que ele possa indagar a realidade, fundamentar-se teoricamente
e metodologicamente para adquirir saberes no campo acadêmico, de
modo que seus saberes contribuam também para uma atuação no âmbito
educacional. Pois esse profissional necessita estar preparado uma vez que

As situações que obstaculizam a educação básica sugerem toda sor-


te de situações, ligadas diretamente à docência ou não, em circunstân-
cias delicadas, dada a rede de relações que se constituem no cotidiano
escolar, no chão da sala de aula, entre professores e alunos. O uni-
verso em questão, permeado pela ação humana, carece de um olhar
através de uma lente de aumento, oferecendo uma visão melhor
sobre o interior da escola e, mais adiante, dos processos de ação
reflexão, dentro e fora dela (SÍVERES; BALLUZ, 2016, p.43-4).

A formação de professores tem por objetivo discutir e suscitar o


gosto pela pesquisa em seus alunos (futuros professores), haja vista que
só ensina quem realmente internaliza a importância do pesquisar em

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suas vidas. Para tanto, é necessário entender a pesquisa, conforme Demo
(2004), como uma metodologia do aprender a aprender. Ou ainda em
suas palavras (DEMO, 2018),

Toda criança merece protagonizar sua aprendizagem; professores


podem empoderar a autoria estudantil para aprender a vida toda.
O lado mais pertinente desta proposta é apanhar o sentido autoral
da aprendizagem. Aprendizagem não é causada de fora; pode ser
mediada de fora, mas acontece na mente do estudante, autoral-
mente. Sem a dinâmica autoral não há aprendizagem, contraria-
mente à mania docente de achar que aula é o sentido da escola
(Grifos nosso).

O autor é categórico em afirmar que a pesquisa promove uma


aprendizagem efetiva que provoca autonomia no aluno, colaborando para
que esse aluno ocupe o papel de “senhor de sua própria história” e não de
agente passivo, como é o caso do processo que atribui ao professor toda
a responsabilidade da aprendizagem.
Partindo dessa premissa, foi pedido aos alunos entrevistados que
definissem o que eles compreendem como Pesquisa. Salientamos que as
grafias das respostas dos alunos pesquisados foram mantidas. Abaixo
foram elencadas algumas respostas, consideradas pelos autores, como
representativas do pensamento da turma:

É o ato que compreende aquilo que talvez esteja ao seu lado sempre
e você não se deu conta do que significa, pois não teve ainda quem o
instigasse para que você notasse tal objeto ou contexto. Até que um
dia você encontra sentido para aquele objeto e passa a compreender
e querer buscar cada vez mais, pois começa a ver com outros olhos,
e assim, dentro daquele tema você encontra outros motivos para
pesquisar e sua sede de pesquisa inicia e nunca limita quando parar
(Entrevistado 01).

Pesquisar é ir a campo para investigar um determinado objeto


ou tema, anotar os tópicos importantes, toda pesquisa deve ter
um objetivo a ser alcançado e requer dedicação (Entrevistado
02).

Pesquisa é algo que precisa ser presente em toda a área do acadê-

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mico ou profissional da Educação, pois quem pesquisa tem auto-
nomia para ensinar e que ensina precisa mergulhar na pesquisa
(Entrevistado 03).

Na fala do Entrevistado 03, percebe-se uma internalização dos


conceitos presentes nas obras dos teóricos escolhidos para a fundamen-
tação dessa pesquisa, no sentido de perceber a pesquisa como provo-
cadora de autonomia, de questionamentos. Fato que vai ao encontro
do pensamento de Demo (2019) que afirma “ocorre que na escola só
temos “instrução”; nenhuma atividade de aprendizagem, como ler,
estudar, pesquisar, elaborar, argumentar, fundamentar, em especial
em ambiente coletivo e autoral”. Os entrevistados seguem ponderando
sobre o que é a pesquisa:

A pesquisa é um processo valioso para a nossa formação, pois só


vamos conhecer algo se buscarmos e a busca é constante, não está
pronta e acabada e ainda está sempre em transformação (Entre-
vistado 06).

A pesquisa é como uma parte que te leva ao conhecimento, pois atra-


vés da mesma podemos descobrir e conhecer fatos históricos da mes-
ma, podemos descobrir fatos históricos e contemporâneos. O ato de
se pesquisar nos torna pessoas mais conhecedoras, desenvolvidas e
estimuladas para estar sempre buscando mais conhecimentos (En-
trevistado 07).

Pesquisa é uma forma em meu ver de novos saberes, de construção


de conhecimento, a pesquisa faz com que você a cada dia procure
novas perguntas, novos questionamentos na construção de seus co-
nhecimentos (Entrevistado 11).

Pesquisa é uma ferramenta que nos auxilia para uma reflexão


acerca do objeto, são indagações, as indagações que movem a pes-
quisa (Entrevistado 18).

Nas narrativas do aluno de número 20, aparece a oportunidade


de se desenhar novas possibilidades de futuro. O aluno de número 23
levantou a possibilidade de a pesquisa ser utilizada como instrumento
para refletir e questionar o cotidiano criticamente.

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O norteador de nossas vidas, pois o sujeito que é pesquisador é um
idealizador de novos horizontes e caminhos a serem traçados (En-
trevistado 20).

Busca por mais conhecimentos, está interligada ao aprendizado e


reflexões sobre a prática cotidiana. É usada também para estabele-
cer ou confirmar dados, e deve ser uma rotina na vida profissional
dos professores (Entrevistado 23).

Pesquisar é ir além, é desafiar, é buscar respostas para o que nos in-


quieta. Aquilo que nós investigamos deve ser o Norte que nos levará
à busca do novo, a ter a certeza de que somos inacabados e preci-
samos completar com a busca do conhecimento (Entrevistado 29).

Tozoni-Reis (2010) afirma que a educação é como ferramenta de


modificação da sociedade. Refere-se à educação crítica, àquela que tem
como objetivo principal a instrumentalização dos sujeitos para que esses
tenham uma prática social crítica e transformadora. Isso significa que,
em uma sociedade desigual, os sujeitos necessitam se munir de conhe-
cimentos, opiniões, maneiras, valores, comportamentos etc., de forma
crítica e reflexiva, para que tenham condições de atuar nessa sociedade
visando a sua transformação.
Na concepção dos entrevistados, a pesquisa é necessária para a
construção de novos conhecimentos do pedagogo, capital extremamente
importante para questionar e buscar respostas às indagações da sociedade
na atualidade, como confirmam Síveres e Balluz (2016, p. 44):

A formação de ontem não dá conta dos desafios de hoje. É neces-


sário repensar as ideias e ações, é preciso assumir uma formação
contínua, progressiva, que alcance o amadurecimento pessoal e pro-
fissional, que conduz ao exercício do diálogo, da interação, à busca
de sua própria autonomia, do compromisso e da responsabilidade
pela transformação, pelo crescimento constante, legítimo papel da
docência.

Pensando na direção dos autores citados, a pesquisa se torna o canal


da formação continuada na vida de um professor, uma vez que produz
conhecimentos novos e pertinentes ao ato de ensinar. Promovendo au-
tônima na prática cotidiana e permitido que esse profissional se perceber

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como ser produtor de conhecimentos e incentivador dessa produção.
Buscando entender que “o centro da pesquisa é a arte de questionar de modo
crítico e criativo, para assim, melhor intervir na realidade. Por isso é princípio
educativo também. Como tal constitui-se na mola mestra do aprender a
aprender, em vez de decorar saber pensar” (DEMO, 2004, p.99).
Observa-se, na concepção dos entrevistados, a internalização da
teoria de alguns pensadores que trabalham com a temática e que são de
ampla utilização no curso de Pedagogia. É o caso do entrevistado 11, que
afirma ser a pesquisa muito importante para a construção do conhecimento
e transformação da realidade, o que acena na direção daquilo que é proposto
por Demo (2001, p.16), que “compreende a pesquisa não só como busca do
conhecimento, mas igualmente com atitude política”. É notório os alunos
participantes mencionam a pesquisa como estratégia para a edificação da
autonomia do educando e consequentemente como um poder de criação
e produção de conhecimento.
Ainda para Demo,

os estudantes podem certamente aprender bem, desde que mude-


mos o ritual sepulcral da sala de aula, que abafa a iniciativa es-
tudantil. Aprender só acontece num contexto de autoria, porque
aprender é exercitar autoria, lidimamente. Enquanto não aparecer
autoria, não existe aprendizagem, que é, logo, substituída por me-
morização, decoreba, reprodução etc. Muitos professores cultivam
a ficção de que sua atuação é o centro da escola, condensada na
ideia da aula como mola mestra do sistema, enquanto a mola mes-
tra está na mente do estudante, em geral relegada. Quando não se
promovem atividades de aprendizagem, como ler, estudar, pesquisar,
elaborar etc. os procedimentos se reduzem a reproduções que, além
de chatas, insuportáveis, não redundam em aprendizagem. Perde-se
o tempo e o estudante tem da escola a lembrança do lugar do atraso
e da chatice (DEMO, 2018).

Demo (2018) é categórico ao afirmar que a aprendizagem só ocorre


verdadeiramente quando a pesquisa se torna uma prática cotidiana em
sala de aula, uma vez que, para ele, o conhecimento é promovido por meio
da elaboração própria dos alunos, exercitando a sua capacidade de inves-
tigar, portanto de aprender a aprender. Nessa direção, observou também
Ivani Fazenda, quando menciona a importância de o professor investigar
o cotidiano escolar. Para a autora, “o estudo do cotidiano escolar se coloca

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como fundamental para se compreender como a Escola desempenha seu
papel socializador, seja na transmissão dos conteúdos acadêmicos, seja
na veiculação das crenças e valores que aparecem nas ações, interações,
nas rotinas e nas relações sociais” (FAZENDA, 2004, p. 41).

APesquisa na Formação de Um Pedagogo: Percepções dos Acadêmicos

Esse é um tema que tem merecido muito debate e publicações nas


últimas décadas. Como assinala Tozoni-Reis (2010), a pesquisa é uma
extraordinária atividade de professores e alunos nas instituições de Ensi-
no Superior. Todavia, no Brasil, ela se consolida mais nas universidades
públicas do que nas privadas, mesmo sendo uma das principais funções
sociais do Ensino Superior. Isso porque entendemos que o Ensino Su-
perior e a universidade representam um espaço educativo privilegiado,
onde a produção crítica de conhecimentos contribui significativamente
para a sociedade. Dessa forma, a pesquisa nos cursos de graduação tem o
objetivo de suscitar conhecimentos atualizados e expressivos para funda-
mentar as atividades de formação humana e profissional, mas, por outro
lado, também tem o escopo de formar novos pesquisadores. No entanto o
universo de pesquisa se trata de uma Faculdade particular, portanto como
observado pela autora citada a pesquisa não foi tão presente no cotidiano
do curso. Na verdade, o que foi observado nas entrevistas que essa prática
só se efetivou na realização do Trabalho de Conclusão de Curso.
Partindo desses pressupostos de que a existência da pesquisa nos
cursos de graduação serve para suscitar conhecimentos atualizados e
expressivos, para formação humana e profissional, para formar novos
pesquisadores é que foi perguntado aos alunos qual a importância da pes-
quisa na formação de um pedagogo. Abaixo, listamos algumas respostas
dos entrevistados:

Importância inenarrável, pois a pesquisa traz o conhecimento am-


plo para a vida profissional em geral, mas na área de educação essa
pesquisa tem que acontecer com maior ênfase, pois são os profissio-
nais que irão nortear as dúvidas do educando, por isso sua prepa-
ração precisar ser maior (Entrevistado 01).

A formação do pedagogo é através da pesquisa que gera o conhe-


cimento e que estimula o mesmo à prática, sendo assim é uma fer-
ramenta de suma importância na sua carreira profissional, pois o

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pedagogo que não pesquisa certamente encontrará dificuldades no
dia-a-dia (Entrevistado 07).

A pesquisa é de suma importância assim o pedagogo vai estar sem-


pre se aprimorando e buscando novos meiose técnicas diferentes no
seu dia-a-dia por meio da pesquisa (Entrevistado 11).

A pesquisa é fundamental, uma vez que estamos em evolução, a ver-


dade de hoje, amanhã talvez não seja dada como verdade, e como
pedagogos não podemos ficar parados no tempo. A educação tem
necessidade de fluir, por isso pesquisa é o foco de quem certamente
saberá ensinar (Entrevistado 12).

Analisando as respostas dos entrevistados, foi possível observar


a importância atribuída à pesquisa pelos alunos como um potencial
criador e, portanto, como um fator que provoca autonomia e trans-
forma a sociedade, apontando na direção daquilo que Demo (2019)
preconiza:

Pedagogia e a licenciatura precisam ser completamente reinventadas,


para formarem um “profissional da aprendizagem”, não do ensino.
Ensino instrucionista é feito por robô, com infinitas vantagens online.
Papel do professor é cuidar da autoria do estudante. [...] E isto depen-
de, antes de mais nada, de um professor adequadamente preparado
e valorizado.

O professor só vai exercer de fato esse papel se o tiver exercitado


quando de sua formação. Pois ninguém ensina aquilo que ainda não
aprendeu, conforme depoimento dos entrevistados:

É através da pesquisa que o pedagogo irá desenvolver um trabalho


de excelência e unir a teoria à prática. Hoje vejo que é impossível
não utilizar teoria à prática educativa (Entrevistado 14).

Todo pedagogo precisa ser um pesquisador, ele deve estar sempre


atualizado sobre os temas atuais, porque algo que pode parecer uma
verdade ou certeza hoje, daqui uns dias podem não ser mais, e o
professor precisa estar por dentro destas questões e ele vai se atualizar
por meio da pesquisa (Entrevistado 17).

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Não existe um pedagogo sem pesquisa, para ser professor inovador
é necessário a pesquisa para levar aos alunos novos conhecimentos
(Entrevistado 19).

Essencial, através da pesquisa que se busca o conhecimento. É pre-


ciso conhecer para ensinar, e como conhecer sem pesquisar? (En-
trevistado 22).

É importantíssimo, pois como Ivani Fazenda afirma, é importante


o profissional pesquisa o ambiente que ele trabalha, gerando
conhecimentos e quebrando barreiras (Entrevistado 26).

É muito importante, pois a pesquisa forma melhor o cidadão e com


isso o pedagogo transforma seus alunos em leitores preparados para
o mercado de trabalho. O pedagogo para ficar no ambiente escolar
tem que ser um bom pesquisador (Entrevistado 30).

A pesquisa na formação de um pedagogo é muito importante pois


através da pesquisa que o professor se preparará descobrindo o novo,
se mantendo atualizado de acordo com cada tempo (Entrevistado 34).

Neste bloco de respostas, é notória a preocupação dos alunos com


a formação do professor que busca ser um criador ou inovador, que pro-
cura perceber que “a alma da vida acadêmica é constituída pela pesquisa,
como princípio científico e educativo, ou seja, como estratégia de geração
de conhecimento e de promoção da cidadania” (DEMO, 2004, p.127).
Todos os entrevistados demonstraram reconhecer a pesquisa como
um instrumental de produção de conhecimentos e o conhecimento como
insumo de produção de cidadania, uma vez que afirmam que o pedagogo
precisa ser um pesquisador para produzir conhecimento e enfrentar a
realidade. Alguns chegam a mencionar esse conhecimento como um ca-
pital cultural importante para o mercado de trabalho. Nessa perspectiva,

O conhecimento é uma capacidade disponível em nós, seres huma-


nos, para que processemos de forma mais adequada a nossa vida,
com menos riscos e menos perigos. O conhecimento tem o poder de
transformar a opacidade da realidade em caminhos “iluminados”,
de tal forma que nos permite agir com certeza, segurança e previsão
(LUCKESI, 1985, p. 51).

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Os pensamentos do autor acima citado vão ao encontro àquilo
que foi dito pelos alunos, demostrando uma grande internalização
por parte dos alunos concluintes do curso de Pedagogia, das teorias
que fundamentam a importância da pesquisa como geradora de novos
conhecimentos. Importante lembrar que esta obra é de leitura obriga-
tória durante o curso.

Pedagogo: Professor ou Pesquisador?

Para Libâneo (2008), o professor pesquisador é o sujeito que


pensa sua relação entre teoria e prática, opera na sua realidade social,
possui atitudes críticas sobre o contexto político e social vigente, e
procura emancipar-se e contribuir para a emancipação de seu aluno.
Foi perguntado aos alunos: na sua visão, é importante que um pro-
fessor seja também um pesquisador? Por quê? Abaixo categorizamos
as respostas em dois blocos. O primeiro está composto pelas respostas
daqueles que consideram a pesquisa um caminho para o professor se
manter atualizado.

Sim, porque ele sempre poderá trazer para sala de aula novas ver-
sões, contextos diferentes, inovações que servirão de subsídio a ou-
tros professores, para manter-se atualizado tem que ter pesquisa
constante (Entrevistado 01).

Sim, os professores têm necessidade de se atualizarem, buscarem


sugestões para melhorar, reinventar e é através desses fatores que
a pesquisa pode responder a todas as inquietações e dificuldades
(Entrevistado 12).

Sim, o professor tem que estar sempre na busca de novos conhe-


cimento e métodos para que se atualize e entenda o mundo novo
que está inserido, pois tudo muda a todo os momentos. Pesquisa
também é uma forma de buscar novas metodologias de ensino
para ajudar e facilitar o conhecimento de seus alunos (Entrevis-
tado 13).

Sim, ele é o mediador de informação, cabe a ele levar as melhores


pesquisas para que o aluno seja sempre atualizado de determinado
assunto (Entrevistado 15).

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Com certeza, tudo que foi descoberto no mundo até os dias atuais
foi através de pesquisa. O professor precisa conhecer o mundo da
educação, precisa estar antenado com as novidades O professor ne-
cessariamente deve ser um pesquisador, até mesmo dentro da sala
de aula com seus alunos. Um professor pesquisador consegue trans-
formar a educação (Entrevistado 17).

Muito, através da pesquisa aprofundamos e nós descobrimos, nos


transformamos, aprendemos a ler, interpretar e pesquisar. O tempo
não para, e o professor deve ser um pesquisador assíduo de uma
forma ou outra de fazer pesquisa (Entrevistado 32).

O segundo grupo está composto pelos alunos que consideraram


a pesquisa como uma ferramenta de educação continuada. Pois como
bem escreveu Patrício (2005), pesquisar tem sido o caminho humano
para se responder questões e para se construir novas ideias e ideais, seja
no mundo acadêmico, seja no mundo da vida cotidiana.

Sim, o professor deve ser um constante pesquisador, para que suas


aulas sejam bem elaboradas, a pesquisa possibilita vivenciar ex-
periências e compreensão do objeto pesquisado (Entrevistado 02.)

Sim, o pedagogo que não pesquisa não terá o conhecimento neces-


sário e encontrará dificuldades no dia a dia. Os alunos de hoje, pelo
que presenciei no estágio, exigem e perguntam muito para o profes-
sor. E é por isso que eu vejo a importância do professor ser um pes-
quisador (Entrevistado 07).

Muito importante, o professor tem que ser pesquisador, tem que


estar ligado ao mundo que o cerca (Entrevistado 09).

Sim, Demo fala que o professor precisa ser pesquisador, e dentro da


pesquisa percebe o quanto ela é importante para que possamos trans-
mitir o conhecimento de uma maneira significativa. Professor que
não pesquisa não é professor, é dador de aula (Entrevistado 18).

Pesquisar para os alunos que participaram dessa pesquisa é a for-


ma mais legitima de construção de conhecimentos, assim como afirmou
Patrício (2005, p.03).

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 14


Pesquisar é descobrir, é desnudar o que existe, algo que ainda não
foi trazido ao conhecimento. A pesquisa é um micromundo huma-
no e, portanto, tem um papel importante na reconstrução das Ciên-
cias Sociais e da vida (sic.)como um todo. Não só as Instituições de
ensino, mas toda e qualquer organização, evoluem pela busca con-
tínua de conhecimentos, através de pesquisas referentes ao próprio
contexto, integradas a conhecimentos já produzidos e que possam
ser aproveitados para solucionar suas dificuldades ou aprimorar
sua realidade.

Todos os entrevistados foram unânimes em afirmar que é im-


portante para o professor ser um pesquisador. As falas acima elencadas
expressam o princípio de Demo (2001, p.14), “quem ensina carece de
pesquisar; quem pesquisa carece ensinar. Professor que apenas ensina
jamais o foi. Pesquisador que só pesquisa é elitista, explorador, privile-
giado e acomodado”. Os resultados apontam uma internalização desse
postulado, uma vez que praticamente todos os alunos participantes da
pesquisam citaram o referido autor e evidenciaram em suas respostas a
importância de o professor ser um pesquisador; eles têm claro ser esse um
dos papeis vitais para o profissional do século XXI, e, para justificarem a
importância da pesquisa, citam as rápidas transformações advindas do
mundo globalizado. Portanto, a pesquisa seria um passo da formação
continuada do professor.

Trabalho de Conclusão de Curso: realizado por meio de pesquisa


de campo

Pensamos que a Faculdade deve promover um ensino por meio


da pesquisa, porque assim estará possibilitando uma formação eficaz
aos novos professores. Entendemos assim, com Síveres (2006, p.18),
que

cabe à universidade a missão de restabelecer um clima de encanta-


mento social, restaurar o vínculo educacional e reafirmar a aliança
com a cultura. Na medida em que a universidade for capaz de inau-
gurar um modelo encantador, vinculante de cooperação, ela poderá
ser uma instituição consciente e relevante para o aperfeiçoamento
pessoal e social, e será a energia potencializadora dos movimentos
históricos e culturais.

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 15


Partindo da citação acima, sobre o papel da universidade e da premissa
de que a pesquisa é um excelente instrumento de encantamento e transforma-
ção da sociedade, foi perguntado aos alunos se eles acreditavam que a efetivação
de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) por meio de pesquisa de campo,
seria um diferencial em um curso de formação de professores. Na sequência,
elencamos e analisamos algumas manifestações dos acadêmicos:

Porque quando você vai a campo você acaba aprendendo mais, pois
você está lidando com a realidade e acaba descobrindo coisas inte-
ressantes (Entrevistado 04).

Sim. Porque através da pesquisa de campo tivemos a oportunidade


de conhecer de perto a realidade do assunto pesquisado e também
compartilhar a opinião das pessoas (Entrevistado 07).

Ele faz muita diferença, uma vez que traz vários desafios, obstá-
culos e ir além da pesquisa e buscar. Falar de pesquisa é ir além, é
vencer obstáculos, para o curso de Pedagogia de início para mim foi
assustador, mas quem pesquisa está ligado direto ao seu mundo, a
sua vida. E depois de um certo tempo, me apaixonei, foi algo que
ainda mexe comigo, que mesmo com todas as diversidades estar
pesquisando. Gostaria muito que essa aula tivesse sido desde o iní-
cio do curso para aproveitar um pouco mais. [...]. Para o pedagogo
é muito importante, isso faz mostrar a ele o quanto é capaz, claro
que mesmo com tantas dificuldades em relação a algumas dúvidas,
foi maravilhoso, como é encantador conhecer a educação mais a
fundo. E como me fortaleceu como pessoa, me fez acreditar que
sou capaz de ir além, e hoje posso falar do meu tema com clareza
e confiança, pois afinal foi algo que senti, que vivi, amei pesquisar.
Eu sou uma pesquisadora com muito orgulho (Entrevistado 09).

Sim, com a realização de um TCC podemos construir e tirar qual-


quer dúvida que tenha ficado no decorrer do curso, o TCC instiga
você a pesquisar e a ultrapassar suas barreiras (Entrevistado 11).

É perceptível na fala dos acadêmicos a satisfação da realização do


trabalho de conclusão de curso por meio de uma pesquisa. O aluno de
número 9 chegou a lamentar o fato de a pesquisa não ter sido efetivada
durante toda a graduação. Esta manifestação coincide com o preconizado

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 16


por Demo (2007, p. 8): “aí surge o sujeito, que o será tanto mais se, pela
vida afora, andar sempre de olhos abertos, reconstruindo-se permanen-
temente pelo questionamento. Nesse horizonte, pesquisa e educação
coincidem, ainda que, no todo, uma não possa reduzir-se à outra”.
E os estudantes continuaram a enumerar os benefícios da realização
da pesquisa de campo:

Sim, a pesquisa de campo para mim foi uma forma de descobrir mais
sobre o universo de trabalho que escolhi e quais seriam as minhas
dificuldades enfrentadas neste setor e quais as melhores maneiras e
métodos que amenizassem os meus anseios e me ajudassem a lidar
com a realidade existente (Entrevistado 13).

Hoje posso compreender a necessidade da prática que até então eu


não valorizava. Foi através da pesquisa que aprendi palavras no-
vas, novas ações e pensamentos, o TCC enriqueceu a minha apren-
dizagem (Entrevistado 14).

Sim é muito importante, o fato de o pesquisador ir a campo para ele


saber o que realmente acontece no dia a dia do professor, para que
saiba lidar com determinadas situações (Entrevistado 15).

Sim, principalmente quando o campo é uma escola. Quando va-


mos a campo passamos a conhecer as dificuldades enfrentadas pe-
los professores e pelas escolas e também conhecemos os avanços que
já foram feitos através das teorias estudadas em sala de aula. E com
isso buscamos levar nossa contribuição para ajudar nos avanços da
educação (Entrevistado17).

Sim, pois no TCC é que somos convidados a degustar e saborear


o gosto pela pesquisa. Ao realizar a minha pesquisa, despertou-me a
vontade de sempre estar pesquisando e escrevendo (Entrevistado 18).

Sim, somente através da pesquisa de campo é que se pode observar


a realidade e retratá-la de maneira crítica. Pesquisa de campo é
contato, é vivenciar o seu objeto de pesquisa (Entrevistado 29).

O fio condutor das diversas manifestações expõe, justamente, aqui-


lo que é característico de um processo de pesquisa, que é o contato com a

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 17


realidade, a percepção por meio de um olhar crítico e a possibilidade desta
atividade constituir-se num elemento inerente ao exercício da docência.

Dificuldades Encontradas na Realização da Pesquisa

Sabemos que a pesquisa não é tarefa fácil, nem para os cientistas.


Quando se trata de estudantes de graduação, pode-se tornar um verdadeiro
martírio, porque as Instituições de Ensino Superior, em sua maioria, têm
os seuscursos focados nas aulas e não nas práxis da pesquisa. Conforme
Demo (2019), a emancipação para a pesquisa precisa de capacidade analítica
desconstrutiva e perscrutadora para ler a realidade, e tal habilidade está,
em grande parte, ausente na escola. A emancipação depende, em grande
medida, da capacidade crítica e autocrítica, capaz de debelar a pobreza
política das pessoas, conclamando-as a assumirem seu destino com mínima
autoria. A autoria, porém, é quase inexistente na escola, até mesmo para
o professor, porque não lhe foi oferecida esta possibilidade na Instituição.
Por isso foi perguntado aos alunos se encontraram dificuldades na
realização de suas pesquisas, e quais foram elas. Essa questão objetivou
analisar a representação dos alunos/pesquisadores na realização de suas
primeiras pesquisas. Abaixo, categorizamos as respostas em dois blocos:
agrupamos os alunos que indicaram não terem encontrado dificuldades
no processo de suas pesquisas e, posteriormente, as respostas daqueles
que expressaram algumas dificuldades.

Ao fazer minha pesquisa com os professores, tive um êxito muito


grande, pois os profissionais que procurei me atenderam muito bem
(Entrevistado 07).

Falar de pesquisa e ir além, e vencer obstáculos para o curso de Pe-


dagogia de início para mim foi assustador, mas quem pesquisa está
ligado direto ao mundo, à sua vida. E depois de certo tempo, me
apaixonei por algo que ainda mexe comigo; quero, mesmo com todas
as dificuldades, estar sempre pesquisando. Gostaria muito que essa
aula tive sido no início para aproveitar um pouco mais, pois no dia
a dia ficamos muito apreensivos e deixamos de fazer algo que muito
pesquisei. E, para o pedagogo, é muito importante, isso faz mostrar
a ele mesmo o quanto é capaz; claro que mesmo com tantas dificul-
dades em relação a algumas dúvidas, foi maravilhoso. Como é en-
cantador conhecer um projeto de pesquisa mais a fundo. E como me

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 18


fortaleceu como pessoa, me fez acreditar que sou capaz de ir além, de
hoje poder falar do meu tema com clareza e confiança. Pois afinal foi
algo que senti, que vi, que amei pesquisar. Eu sou uma pesquisadora
com orgulho (Entrevistado 09).

Na verdade, não tive muitas dificuldades, por ter escolhido um tema


atual e com bastante relevância; apenas para falar da história de
meu objeto tive um pouco de dificuldades, pois não consigo escrever
sobre coisas e assuntos que não vivenciei (Entrevistado 27).

Na contramão dos demais alunos, o entrevistado de número 07


afirma ter sido bem atendido pelos profissionais que foram convidados a
participar da pesquisa. Na fala da entrevistada 09, percebe-se a afloração
da autonomia do aluno/pesquisador, que termina afirmando: “eu sou uma
pesquisadora com muito orgulho!” Esta representação demonstra a im-
portância da realização da pesquisa para a sua formação. Expressando-se
assim, percebe-se a superação de uma série de dificuldades enfrentados
pelos alunos no curso superior.
Uma vez que a escola de hoje lembra os Tempos Modernos de
Chaplin, porque encalhou, enquanto a sociedade mudou, sobretudo a
economia e, mais ainda, a tecnologia. Espera-se, hoje, que todo estudante
tenha oportunidade de se tornar autor e pesquisador, mas, para tanto,
precisamos de professores autores e pesquisadores porque para aprender
é necessário, não de aula, mas de atividades de aprendizagem que, em
geral, estão ausentes na sala de aula (DEMO, 2019).
A seguir categorizamos respostas que apontam dificuldades com
os informantes e as instituições pesquisadas no processo de coleta de
dados. Embora as respostas tenham sido informadas de forma positi-
va, a compreensão das mesmas é pela negatividade das mesmas. Daí
a ausência da

Boa vontade e a disponibilidade dos sujeitos para contribuir para a


dinâmica (Entrevistada 06).

Disponibilidade das escolas em receber um pesquisador e também-


conciliar estudo e trabalho (Entrevistado 24.)
Da sinceridade nas respostas e a boa vontade para responder o que
foi proposto (Entrevistado 33).

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 19


Esse grupo de pesquisadores elencou a dificuldade para encontrar
professores e até escolas dispostos a colaborarem com as suas pesquisas.
É sabido que o brasileiro não tem o hábito de participar de pesquisas se
comparado por exemplo com o cidadão americano que tem o prazer em
participar. Faz-se necessário que as escolas e os professores ponderem
a importância de suas participações na formação de novos professores,
uma vez que a Educação não é uma ciência que se utiliza de laboratórios,
fazendo das escolas seus lócus de observação e investigação.
Porque conforme Demo (2019),

Quando uma escola alardeia uma pedagogia “transformadora”, pa-


pagueando Paulo Freire, mas mantém o estudante sem aprender,
como é o caso generalizado no Brasil, temos exemplo gritante de uma
proposta completamente incoerente: na teoria, promete emancipação
maiúscula; na prática, ajuda a excluir ainda mais os excluídos. Ao
invés de combater a pobreza política dos estudantes e da sociedade
em geral, a escola engalfinha-se em atividades instrucionistas que
preenchem o tempo escolar com mero repasse de conteúdo, sem qual-
quer autoria, no professor e no aluno (Demo, 2015). (Sic.). Esta mi-
séria alastra-se pelo sistema inteiro, escolar e universitário, no qual a
oferta pedagógica produz o avesso do que intencionaria fazer, mesmo
declamando Paulo Freire aos quatro ventos.

O aluno/pesquisador de número 22 apresenta uma dificuldade que


deve levar a faculdade a repensar todo o processo de produção de trabalhos
no decorrer do curso, pois é assustador que um aluno de oitavo período
afirme que: “minha maior dificuldade foi colocar nas normas da ABNT,
principalmente as citações” (Entrevistado 22).
Apareceram também outras dificuldades pontuais, tais como o en-
trevistado 01, que menciona o fato de não ter tido experiências anteriores
com o processo de pesquisa.

No começo foi muito grande a dificuldade era tudo, até porque não
tinha noção do que era uma pesquisa, hoje eu vi o que é uma pes-
quisa e graças a Deus vou fazer novas pesquisa a respeito do tema
que eu abordei, porque gostei muito e eu notei que existe uma ca-
rência grande de pesquisador na escola. Eu pretendo levar a minha
pesquisa, em frente. Quero fazer a diferença na vida de algumas
pessoas (Entrevistado 01).

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 20


Na verdade, tive problemas em estruturar a peça, por motivos pes-
soais mesmo. Eu não estava acreditando em meu potencial. Mas
refazendo o que foi pedido, descobri que basta estar em plenitude
para um bom resultado. Descobri mais itens pelos quais me apaixo-
nei. Espero poder pesquisar mais e mais (Entrevistado 14).

Os alunos mencionaram as mais diversas dificuldades, mas


sempre voltaram a enfatizar a falta de experiência, o que sinaliza para
uma prática de pouca pesquisa no decorrer do curso de Pedagogia da
Faculdade. Esse é um resultado que aponta a necessidade de a Institui-
ção pensar e assumir o seu papel social de produção do conhecimento,
desde o início da formação do novo professor. Pois, como bem escreveu
Síveres (2006, p.133) “embora considerada uma das mais antigas insti-
tuições sociais, a universidade tem um papel importante a desempenhar
na sociedade atual, que é de produção e socialização do conhecimento
criativo para a formação do educando e para o desenvolvimento da
sociedade”.
Os alunos apontaram, ainda, algumas dificuldades na realização
de seus TCC, mas principalmente a falta de experiência com a pesquisa.
Além disso, foi elencada a dificuldade de lidar com a Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT) fato que não deixa de ser surpreendente
e carregado de significado, uma vez que se trata de alunos em final de
curso. Tal informação revela a fragilidade do ato de pesquisar durante as
suas trajetórias acadêmicas.

Considerações Finais

A pesquisa de campo foi realizada por meio de um questionário


aplicado a 35 (trinta e cinco) acadêmicos do oitavo período do curso de
Pedagogia, de uma faculdade particular situada no município de João
Pinheiro (MG). Os resultados sinalizam que esses alunos/pesquisadores
entenderam a pesquisa como busca, criação e processo de emancipação
do aluno e também do professor, uma vez que possibilita a aquisição de
novos conhecimentos.
Todos os participantes da pesquisa foram categóricos em defender
essa prática na formação do pedagogo. Para eles, essa prática é responsável
na formação continuada do professor. Eles também informaram que le-
ram teóricos de referência, na formação de professores e, principalmente,
internalizaram seus conceitos no que tange ao exercício da pesquisa.

, Goiânia, v. 22, p. 1-23, 2019. 21


Todos os alunos/pesquisadores avaliaram como muito positiva
a execução de um Trabalho de Conclusão de Curso efetivado por meio
da pesquisa de campo. Para eles, a pesquisa foi um diferencial em suas
formações. Eles se sentiram orgulhosos e realizados pelos seus trabalhos,
uma vez que nem sempre a experiência de fazer pesquisa pode ser consi-
derada uma tarefa fácil, portanto a sua execução proporcionou superação
e, consequentemente, realização pessoal e qualificação profissional.

THE RELEVANCE OF RESEARCH IN INITIAL TEACHER TRAINING

Abstract:this article aims to investigate the perceptions of graduates in


the Pedagogy course of a private Faculty located in João Pinheiro (MG),
with regard to the importance of research practice in their end-of-course
work (TCC) ), as well as to evaluate the internalization of its importance
in the teacher’s performance. For data collection, a qualitative research was
carried out, using as a tool a questionnaire applied to thirty-five students
in the class of the eighth period of that course. In the meantime, a brief
comparison is made with the theory of Freire (2006), Demo (2001. 2007,
2014, 2018, 2019) and Síveres (2006, 2015, 2016). The results indicate that
these students understood research as a search, creation and emancipation
process, both for the student and the teacher, since it enables the acquisition
of new knowledge. All research participants were categorical in defending
this practice in the education of the pedagogue and, for them, it is responsible
for the continuing education of the teacher. The researched students also
demonstrated that they had read reference theorists in their training and that
they had internalized the concepts concerning the exercise of the research.

Keywords:Research. Teacher training. Pedagogy.

Notas
1 Portaria MEC nº 3.247/2002, publicada em 28/ 11/ 2002. O curso desenvolveu-se
conforme diretrizes curriculares e Projeto Político Pedagógico. Em 2005 o curso foi
avaliado pelo MEC, obtendo uma nota 3,0 numa escala de 1 a 5.
2 Criado por meio da Portaria nº 942 de 22 de novembro de 2006, publicada no Diário
Oficial da União seção 1, página 9 em 23 de novembro de 2006. Foi avaliado pelo
MEC em 2013, obtendo uma nota quatro, numa escala de 1 a 5.

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