K H Como Motor Do Crescimento Economico

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECONÔMICAS – ESAG


CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

FREDERICO ROBERT VOSS TIMM

CAPITAL HUMANO COMO MOTOR DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO:


TEORIA E EVIDÊNCIAS PARA UM CONJUNTO DE PAÍSES

FLORIANÓPOLIS
2022
FREDERICO ROBERT VOSS TIMM
CAPITAL HUMANO COMO MOTOR DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO:
TEORIA E EVIDÊNCIAS PARA UM CONJUNTO DE PAÍSES

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao departamento de ciências
econômicas, como requisito para
obtenção do título de Bacharel em
Ciências Econômicas.
Orientador: Prof. Dr. Adriano Amarante

FLORIANÓPOLIS
2022
AGREDECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a execução deste
trabalho.
A todos os demais professores, do ensino fundamental ao ensino médio que me
levaram ao curso de economia, até aqueles que me acompanharam no estudo na
área econômica.
À UDESC e seus servidores, onde tive o privilégio de estudar com qualidade e de
maneira gratuita.
A minha família que me proporcionou condições para fazer parte desse momento, e
as conversas sobre as incertezas que a economia nos propõe a nos questionar e
pensar.
RESUMO

O presente estudo tem como objetivo precípuo entender a concepção de


desenvolvimento e a interrelação entre educação e desenvolvimento econômico,
demonstrando de que forma essas relações podem influenciar na distribuição de
renda entre os indivíduos (capital humano) e o desenvolvimento social e local. Pode-
se dizer que o capital humano é formado à medida que os indivíduos adquirem
maior conhecimento. Com base na Teoria do Capital Humano, a produtividade e
renda dos trabalhadores na mesma proporção em que estes adquirem um maior
conhecimento o que consequentemente, resultaria em um maior desenvolvimento
econômico para um determinado local. Assim sendo, entender como ocorre a
associação entre estes fatores torna-se de fundamental importância. Para tanto,
realizou-se uma revisão bibliográfica, buscando definir os temas e relacioná-los com
base em diversas vertentes teóricas. É possível observar que para que haja o
desenvolvimento econômico efetivo de uma determinada localidade, é
imprescindível que haja um maior investimento no capital humano, visto que estes
são considerados como à base para o desenvolvimento de qualquer atividade
econômica. Desta forma, há uma crescente necessidade de incorporação de
valorização ainda nas salas de aula, seja de caráter tecnológico ou cientifico, visto
que é comprovado cientificamente que o sucesso econômico perpassa pelo capital
humano e valorização da educação, sendo, portanto, um processo imprescindível
para o desenvolvimento de uma Nação.

Palavras-chave: Capital Humano. Desenvolvimento econômico. Educação.


Métodos.
ABSTRACT

Human Capital is the type of "capital" that is formed as increases occur in the
knowledge of individuals. The theory of human capital mentions that these increases
entail greater productivity and an increase in the level of income of workers.
Consequently, a higher level of educated human capital would also lead to positive
impacts on economic growth. We start from the existence of a direct correlation
between Human Capital and Economic Development, centered on a growing
appreciation of human resources by the Society, which is a reflection of economic
growth and the increase in the Human Development Index. This valuation is only
possible, in our opinion, with investment in Education. There is, therefore, the need to
incorporate more and more processes within the classroom, whether technological or
others, scientifically proven, so that they can lead to success, with a clear focus on
human potential and the valorization of intercultural education. Thus, the present
study aimed to study whether the levels of human capital of a country, and its
evolution over time, somehow impact its GDP per capita over the decades. That is,
the focus is on whether countries with larger stocks of human capital will have a
higher output per capture than others with smaller stocks.

Keywords: Human Capital. Economic development. Education. Methods.


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................7
2 A TEORIA DO CAPITAL HUMANO.............................................................................................9
2.1 CAPITAL HUMANO....................................................................................................................13
2.2 A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL HUMANO NA TEORIA ECONÔMICA.............................15
3 A EDUCAÇÃO COMO FORMA DE VALORIZAÇÃO DO CAPITAL HUMANO..................19
3.1 A EDUCAÇÃO E A RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO HUMANO........................20
3.2 CAPITAL HUMANO E EDUCAÇÃO.........................................................................................23
4 RELAÇÃO ENTRE CAPITAL HUMANO E CRESCIMENTO ECONÔMICO........................26
4.1 MODELOS DE CRESCIMENTO..............................................................................................28
4.1.1 Modelo de Solow................................................................................................................29
4.1.2 Modelos de crescimento endógenos de Romer........................................................30
4.1.3 Modelos de crescimento endógenos de Lucas..........................................................32
4.2 MODELO MACRO FUNDAMENTADO....................................................................................33
4.3 MODELO ADPATADO...............................................................................................................36
5 AVALIANDO OS RESULTADOS: MODELO MACRO FUNDAMENTADO..........................39
5.2 RESULTADO MODELO ADPATADO......................................................................................41
CONCLUSÃO....................................................................................................................................45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................47
7

1 INTRODUÇÃO

É consenso na literatura e no cenário econômico que o investimento em


pessoas, na sua educação e na sua formação profissional, é considerado como um
aspecto imprescindível, independente dos ciclos econômicos nos quais encontram-
se inseridos. Neste sentido, as expressões déficit de qualificação e necessidade
expansão na Formação Profissional são consideradas como tópicos centras da
política econômica atual.
Pode-se dizer que a oferta de emprego encontra-se diretamente associada ao
nível de qualificação associadas a competências e conhecimento específicos que os
indivíduos possuem, bem como às oportunidades e capacidades disponíveis para
esta aquisição. Sendo, portanto, notório que indivíduos que possuem habilidades
reduzidas, encontram-se mais vulneráveis às fragilidades do mercado de trabalho
quando comparadas com indivíduos mais capacitados.
Desta forma, torna-se imprescindível que haja um maior investimento no
conhecimento para que seja possível promover a ampliação do portifólio de
competências humanas, de forma a permitir a sobrevivência mediante às crescentes
modificações ocorridas de forma constante no mercado de trabalho.
No século XXI, em que a competitividade está cada vez mais acirrada,
assiste-se a necessidade de uma mãos de obra cada vez mais qualificadas e
especializadas, que exigem políticas educacionais que aumente a flexibilidade ao
mesmo tempo que permite ampliação do caráter inclusivo do sistema educacional.
Assim, o sistema educacional deve, preferencialmente propor uma maior interação
com empresas, que através de órgãos consultivos nacionais, regionais e locais,
incrementem a sua participação no desenvolvimento do processo de ensino.
Diante deste contexto, torna-se possível que haja uma maior adaptação do
ensino às novas exigências econômicas, criando uma maior aproximação entre a
teoria e a pratica. Deve-se, portanto, Promover a inovação, o crescimento e o
desenvolvimento do capital humano. Esta por sua vez permite o aumento na
qualidade de vida da população como um todo, melhorando assim índices
considerados importantes como é o caso do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH).
8

Diante deste contexto, o presente estudo tem como principal objetivo analisar
qual a importância do capital humano no desenvolvimento de uma nação, e como
este pode ser desenvolvido.
Para o alcance de tal objetivo, o presente estudo foi construído por intermédio
de uma revisão bibliográfica, com base em artigos científicos e materiais
disponibilizados na internet (sites, monografias e teses), preferencialmente
publicados nos últimos dez anos, que tratem de forma relevante a temática proposta
para o presente estudo.
O uso de modelos de resposta quantitativa para a determinação do capital
humano mostrou-se comum na literatura, desse modo estimaremos modelos de
efeito fixo e efeito aleatório, para uma amostra de 146 países durante um período de
6 décadas.
Para melhor organização deste trabalho, neste capítulo foi tratada a
introdução do texto. Na sequência, no segundo capítulo será feita a revisão, tanto
das teorias, quanto da literatura que englobam o estudo. No terceiro capítulo serão
abordados os métodos e banco de dados utilizados. Já no quarto capítulo, serão
expostos os resultados e, por fim, no quinto capítulo, serão expostos os resultados
desta pesquisa.
9

2 A TEORIA DO CAPITAL HUMANO

De acordo com Theodore Willian Schultz, economista e ganhador do prêmio


Nobel de Economia em 1976, nos Estados Unidos, muitas pessoas passaram a
investir em aspectos relacionados a sua formação acadêmica e, que devido a estes
investimentos exerciam uma maior influência no crescimento econômico local.
De acordo com Schultz, um outro aspecto que influencia significativamente no
capital humano consiste no investimento em aspectos ligados a saúde e na
pesquisa. Além disso, o autor pretendia mostrar que os países em desenvolvimento,
como é o caso do Japão, conseguiu-se reconstruir a economia, com base em um
maior desenvolvimento humano, especialmente no cenário pós-guerra mundial,
associando assim a recuperação econômica com a Teoria do Capital Humano.
Com base na obra “O Capital Humano: Investimento em Educação e
Pesquisa”, o autor supracitado defendia que investir na capacidade humana,
resultaria indiretamente no desenvolvimento do capital humano e consequentemente
na competitividade entre os países capitalistas.
Com base na tese central de Schultz, acreditava-se que a concepção
econômica teria negligenciado as duas classes de investimentos, que eram
consideradas de suma importância naquela época. De acordo com o autor
supracitado “o investimento no homem, na pesquisa e na saúde, tanto na esfera
publica como privada, era imprescindível para o desenvolvimento econômico e ainda
para a recuperação da economia “. No entanto, a questão central deste estudo está
justamente em entender a natureza e os objetivos de ambas as atividades. Logo, o
investimento sugerido pelo autor, está intimamente ligado ao investimento na
educação, seja ela publica ou privada.
Da Fonseca e Ferreira (2020), discorrem que a Teoria do Capital Humano, foi
constituída ainda da “idade de ouro” do capitalismo moderno, ou seja, na fase pós
segunda guerra mundial, especialmente nos paises capitalistas centrais, através de
uma perspectiva que integrava homens e mulheres ao mercado de trabalho bem
como ao mercado de consumo, tendo assim capacidade de desenvolver um novo
espirito de comunidade sob o prisma da burocracia publica do Estado, buscando o
10

bem estar social, ou ainda um denominado estado de providencia, sob o prisma das
politicas Keynesianas de pleno emprego e bem estar social.
Entretanto, de acordo com Frigotto (2011), o conceito de capital humano pode
ser definido pela extensão, dos recursos humanos em uma ótica macroeconômica,
como o investimento no “aspecto humano” , sendo considerado um dos aspectos
basilares para o aumento da produtividade e mais ainda, um fator de superação para
o atraso econômico, e com base no ponto de vista microeconômico, o capital
humano consiste no fator explicativo das diferenças individuais de produtividade e
de renda, e por consequência disso, maior mobilização social.
No entanto, para Schultz (1973), o componente da produção, que decorrem
da instrução, é um investimento nas habilidades e conhecimento que aumentam
rendas futuras, e dessa forma, assemelha-se a um investimento em outros bens de
produção.
Diante deste contexto, Schultz (1973) e os adeptos de sua teoria, pretendiam,
na época da criação do conceito, que complementariam os elementos utilizados
para explicar o crescimento econômico, com base na concepção liberal, a alta nos
salários do fator trabalho nos paises desenvolvimentos e ainda, explicar no ambito
individual, as divergências nas rendas dos trabalhadores.
Passou-se assim a postular que deveria privilegiar e investir mais no “capital
humano” do que em recursos físicos, visto que com maior investimento em capital
humano a obtenção de rendimento era relativamente maior. Com base nesta ideia,
passou-se a acreditar fortemente que a Teoria do Capital Humano relacionava o
crescimento econômico e o aumento da renda dos indivíduos com maior grau de
escolarização, seja por instituição publica ou ainda por instituição privada.
Defendia-se ainda que o investimento em educação é imprescindível para
desenvolver o capital humano. É justamente através da educação que serão
produzidos novos conhecimentos e impostas atitudes para capacitar um indivíduo ao
desempenho de seu trabalho (LAVAL, 2019).
Por meio da ideia de modernização, criou-se um senso comum, que integrava
trabalho, educação, emprego e individualidade. Assim, a escola e as políticas
públicas educacionais podiam e deviam ser um mecanismo de integração dos
indivíduos a vida produtiva (ALVES, 2019, p. 52).
Deste modo, entende-se que ao investirem em si mesmas, as pessoas
conseguem ampliar o raio de escolha posto à sua disposição, sendo está
11

considerada como uma das formas que o homem livre tem para aumentar o seu
bem-estar. Este investimento, de acordo com Schultz (1973, p. 33), pode aumentar
significativamente os ganhos e a produtividade do trabalhador, tanto no campo
econômico como no campo social.
No entanto, de acordo com Carneiro (2017), essa teoria que foi produzida
pelos intelectuais da classe burguesa, buscava somente explicar as desigualdades
entre as nações e entre os indivíduos ou grupos socais. Derivando assim, os reais
aspectos que resultavam nas desigualdades econômicas e consequentemente na
pobreza, sendo os principais: a detenção massiva das propriedades privadas dos
meios produtivos pela classe capitalista ou burguesa, e uma relação rodeada de
desigualdade, e por outro lado, a compra da única mercadoria que a classe
trabalhadora dispunha para proverem sua subsistência e de seus familiares, a venda
da sua força de trabalho.
De acordo com Frigotto (1993) a educação não é constituída somente por
conhecimento para o mercado, mas articula e desarticula outros saberes para que
os interesses dominantes prevaleçam. O autor complementa ainda que “a escola é
uma instituição social, que mediante suas praticas na esfera do conhecimento, seus
valores, atitudes e mesmo desqualificação, é responsável por articular interesses e
desarticular outros” (FRIGOTTO, 1993, p. 44).
No entanto, essa teoria não se sustentou, visto que não considera uma
sociedade dividida estruturalmente em classes desiguais. Para Schultz (1973), a
Teoria do Capital Humano, é responsável por representar o modo pelo qual a visão
burguesa reduz a pratica educacional a um fator produtivo ou ainda a uma questão
técnica.
Desta forma, através da teoria em comento, acredita-se que o progresso
tecnico não resulta somente na geração de novos empregos, mas sim exige uma
qualificação cada vez maior e mais avançada. Por outro lado, a ênfase na crença de
que a aquisição do capital humano através da escolarização e níveis mais elevados
de ensino, constitui-se em uma garantia de consecução e ascensão a um trabalho
mais qualificado e consequentemente, rendimentos cada vez mais elevados
(FRIGOTTO, 1993).
Baseado nestes pressupostos, infere-se que a Teoria do Capital Humano,
contempla os investimentos na área educacional como meio de inserção ou ainda do
retorno ao trabalho e ao capital, e com isso, produzir uma maior transformação
12

social. Entretanto, as questões relacionadas com o antagonismo de classes são


ignoradas, pois quem não consegui melhores posições na sociedade e no
denominado mercado de trabalho, devendo ser auto responsabilizado pelo seu
fracasso, pois não este não teve mérito suficiente para tal realização.
Observa-se assim, uma certa subordinação da função social da educação de
forma controlada para responder as demandas imediatas do capital. Entende-se
diante deste contexto que a educação possui um papel estratégico no contexto
neoliberal, para formar o trabalhador para o processo de produção especialmente no
ambito da execução. Diante deste contexto, para Frigotto (1993) a educação nos
diversos grupos sociais de trabalhadores deve fornecê-los habilidades técnicas,
sociais e ideológicas para o desenvolvimento das suas atividades laborais.
Em contrapartida, para Kuenzer (1997) , a educação no sistema regular de
ensino é responsável por evidenciar um objetivo claro, que consiste na preparação
dos pobres para atuarem no sistema de produção, nos níveis de funções
consideradas economicamente inferiores, assim, para o autor o que ocorre no
ambiente escolar não é o processo de produção e reprodução do conhecimento,
mas sim uma transmissão do conhecimento de forma superficial e desprovidos de
criticidade que formam o estudante com atitudes e habilidades flexíveis que
facilmente é modificado ou substituído pela dinâmica mercadológica. Ainda de
acordo com os ensinamentos da autora:

A desigualdade entre os países não é uma questão estrutural, decorrente


das relações imperialistas, mas uma questão conjuntural que poderá ser
resolvida com o tempo, através de estratégias adequadas, como a formação
de recursos humanos e o intervencionismo do Estado no planejamento da
educação (KUENZER, 1997, p. 59).

Neste sentido, o objetivo principal da educação é desqualificar a classe


trabalhadora e consequentemente desapropriá-la dos seus “saberes” profissionais.
Tais vínculos possuem como objetivo, atender as demandas do capital,
transformando a escola em um ambiente funcional a serviço da classe burguesa.
Logo, com base neste entendimento, a escola torna-se uma instituição de formação
em que prevalece as relações de produção e imposição de valores aos discentes,
13

não tornando-se essencial e especifico à pratica educativa, mas sim a pratica


mediadora responsável por satisfazer os interesses do capital (LIMA, 2015)
Observa-se ainda que a teoria do capital humano ideologicamente, explícita
no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC),
carrega a intenção de fazer com que os indivíduos acreditem que estão sendo
criadas condições iguais para o acesso a empregos através do referido programa.
Por outro lado, conforme Silva (2015, p. 125), essa mesma crença é responsável por
propagar que se não houver inserção no mercado de trabalho, deve-se ao processo
de seleção, que absorve somente os melhores profissionais, ou seja, a
responsabilidade pela não empregabilidade recai individualmente sobre os próprios
sujeitos.
Assim sendo, cabe salientar que o estado capitalista neoliberal, legitima-se
como um suposto garantidor dos interesses coletivos, entretanto, isenta-se de suas
responsabilidades em promover condições reais e materiais, através de politicas
publicas sociais que tenham como objetivo fomentar e/ou criar postos de trabalho
destinados a absorver parte do contingente de desempregados no país. Neste
sentido, o discurso que associa a educação ao crescimento econômico encontra-se
associado ainda a Qualificação Profissional e a Empregabilidade.

2.1 CAPITAL HUMANO

Capital Humano é uma medida do estoque das capacidades das pessoas


integradas na força de trabalho, obtidas por meio da educação formal
(principalmente) e também através do treinamento no ambiente de trabalho (KON,
2019).
A importância do capital humano em um contexto econômico fundamenta-se
pelo fato de que pessoas com maior nível de educação formal quase sempre
tendem a ganhar mais do que seus pares menos educados em seus respectivos
campos. Mincer (1974) criou sua função dos rendimentos com base nessa
hipótese, tendo os rendimentos do trabalho como a variável dependente e anos de
escolaridade como variável independente, posteriormente servindo de base para a
produção de diversos outros estudos, como por exemplo Heckman et al (2005).
Socialmente, os benefícios do investimento em capital humano estendem-se à
14

redução na atividade criminal, aumento na empregabilidade, comportamentos mais


saudáveis e redução da necessidade de auxílio governamental (HECKMAN et al,
2015).
Uma função que ilustra bem a utilidade do capital humano para o crescimento
econômico, consiste na adaptação do modelo de Solow. A função originalmente,
descreve como diferentes combinações da taxa de crescimento populacional, taxa
de poupança e nível de avanço tecnológico se unem para determinar o crescimento
econômico de uma nação. A adição de capital humano na equação é feita por
Mankiw, Romer e Weil (1992) sendo a equação resultante:

𝑌(𝑡) = 𝑓[𝐾(𝑡), 𝐻(𝑡)(𝐴(𝑡)𝐿(𝑡))]

Onde: 𝑌(𝑡) = produto no período t;


𝐾(𝑡) = capital no período t;
𝐴(𝑡) = eficiência tecnológica do país no período t;
𝐿(𝑡) = trabalho no período t;
𝐻(𝑡) = capital humano no período t;

Petrakis e Stamatakis (2001) se destacam nesse sentido, visto que utilizaram


a função adaptada de Solow para comprovar que o capital humano, sob a forma de
educação, tem papel fundamental na contribuição para o crescimento econômico,
principalmente no que tange a educação primária e secundária em países de baixo
desenvolvimento. Mankiw, Romer e Weil (1992), também admitem em seu estudo
que a adição da variável capital humano na função de produção de Solow melhora
sua performance e elimina anomalias e variâncias residuais das variáveis poupança
e crescimento populacional.
No Brasil, entretanto, há um desafio quanto à incorporação de capital
humano, que consiste em sua baixa formação e acúmulo no território nacional como
um todo, devendo-se principalmente à má qualidade do ensino ainda instituída no
país, como identifica o Banco Mundial:

Apesar da grande ampliação do acesso à educação (e, portanto, do estoque


de capital humano) no Brasil, a qualidade do sistema de educação e
capacitação profissional ainda é relativamente baixa, o que reduz a
produtividade do Brasil. O Brasil fez grandes investimentos em educação,
15

mas, em nível agregado, os retornos são irrisórios. Isto ocorre, em parte,


porque o trabalho é mal alocado e - ainda mais importante - porque o capital
é mal alocado; isso impede que o capital humano seja utilizado da melhor
forma possível. Outro motivo é a baixa qualidade dos investimentos em
educação: apesar do aumento do montante investido por aluno, a qualidade
dos resultados da educação no Brasil continua muito baixa [...] (BANCO
MUNDIAL, 2018, p. 64)

Tal situação é problemática, dado que a grande maioria das pesquisas


apontam para o fato de que o retorno de investimento sobre o capital humano é
maior em países de baixa a média renda, como é o caso do Brasil (IOSCHPE,
2016).
Ademais, conforme apontado por Miller e Upadhyay (2000) a evolução geral
do nível de capital humano tem forte correlação com o aumento da PTF
(produtividade total dos fatores) em países de renda média, a qual é determinante
na geração de crescimento econômico sustentável, conforme constatado pelo Banco
Mundial (2018, p. 9) “[...] O crescimento da produtividade é fundamental para gerar
empregos melhores e aumentar o padrão de vida das pessoas ao reduzir preços e
elevar a qualidade dos produtos consumidos”

2.2 A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL HUMANO NA TEORIA ECONÔMICA

Nos últimos anos, o Capital Humano foi reconhecido pela Teoria Econômica,
sendo entendida como um fator decisivo para compreender e explicar as diferenças
a nível de desenvolvimento das econômicas entre os paises, e que de fato a
carência de habilidades e educação encontradas em trabalhadores com níveis de
escolaridade mais baixos, são consideradas como um obstáculo para o
desenvolvimento econômico.
Assim sendo, uma politica educacional mais eficiente, dependerá diretamente
das razoes que conduzem a educação e a formação dos profissionais, buscando
promover crescimento dos mesmos, bem como dos mecanismos e processos por
meio dos quais a educação traduz-se no desenvolvimento social e econômico e
consequentemente no aumento da produtividade (HECKMAN et al, 2015).
A noção de Capital humano, criada pelo Economista Theodoro Schultz,
derivou da sua percepção de que os conceitos por ele usados na avaliação de
capital e trabalho considerados inadequados para a explicação na produção. Por
16

ouro lado, o referido autor apontava, como dito anteriormente, que nos Estados
Unidos existia um forte investimento na esfera individual, feitos pelo próprio
individuo, que influencia diretamente no crescimento econômico, correspondendo
assim ao “capital humano” resultante do investimento na educação. Desta forma, o
autor define o capital humano como um montante de investimento de uma nação ou
individuo que é realizado na expectativa de conquistar retornos futuros.
Posteriormente, mais precisamente em 1964, Becker elaborou e publicou a
Teoria do Capital Humano, em que demonstrou que a formação de um individuo irá
implicar em custos, tanto diretos como indiretos, sendo estes investimentos
realizados somente se o lucro esperado for significativamente superior ao seu custo.
Esta teoria surgiu como uma teoria de formação, demonstrando uma relação positiva
entre o nível de educação e a produtividade de um indivíduo.
Desta forma, acredita-se que se um individuo possui uma determinada
característica, adquiridas ao longo de sua existência, através de sua educação e
formação, seja formal ou informal, as mesmas irão contribuir para o aumento da
produtividade, que consequentemente irá aumentar os rendimentos auferidos ao
longo do ciclo de vida ativo do indivíduo. Deste ponto, retira-se um benefício duplo
do investimento no capital humano, por um lado benefício individual associado aos
rendimentos auferidos e por outro o benefício social, associado ao aumento da
produtividade que resultará na melhora da economia de um país (HECKMAN et al,
2015).
O estudo da importância da educação como fonte de capital humano para
explicação do crescimento econômico, foi impulsionado por Mankiw, Romer e Weil
(1992), naquele que ficou conhecido como Modelo de Solow Aumentado. Neste
modelo, os autores incorporaram o capital humano como fator de produção
acumulável (também este sujeito a rendimentos marginais decrescentes), mostrando
ser possível explicar de forma mais rigorosa as diferenças de rendimentos entre
países. No entanto, colocava-se um problema comum, nenhum dos modelos
conseguia explicar o crescimento do produto per capita no longo prazo, em ambos
os modelos considerava-se o resultado do progresso técnico como exógeno ao
sistema econômico.
Ainda durante a década de 1980, os autores Paul Romer e Robert Lucas,
salientaram como sendo imprescindível a utilização de variáveis endógenas na
construção de um modelo capaz de explicar o crescimento do produto per capta a
17

longo prazo, baseados no comportamento do sistema econômico propriamente dito,


não recorrendo assim, a variáveis exógenas. Ainda de acordo com os autores, ao
discorrerem sobre o papel da acumulação do capital físico e capital humano da
geração do pregresso técnico, os mesmos foram inclusos no rol das variáveis
endógenas para o modelo de crescimento econômico. (DALPIAZ et al.2016)

Acredita-se assim que através da acumulação de capital, são geradas


externalidades positivas ao passo em que o aumento de capital humano favorece
não somente o indivíduo que realizou o investimento, mas o restante dos indivíduos
que com ele interagem, resultando num aumento de produtividade agregada e
consequentemente num verificado crescimento econômico (Lucas, 1988). Dos
modelos de segunda geração (veja-se Romer, 1990; Aghion e Howitt, 1992; Jones,
1995) depreende-se que o progresso técnico deriva de decisões intencionais dos
agentes econômicos e o capital humano constitui um fator imprescindível na criação
de ideias novas. Em suma, P. Aghion e P. Howitt (1998), consideram duas
abordagens fundamentais que permitem modelar e analisar a relação entre
educação e o crescimento econômico. A primeira, inspirada na Teoria do Capital
Humano de G. Becker, introduzida por Lucas (1988), alicerça-se na ideia de que o
crescimento econômico se encontra relacionado com a acumulação de capital
humano.
Desta forma, as diferenças entre as taxas de crescimento de um país são
atribuídas às divergências existentes entre as taxas as quais estes acumulam
capital. Em contrapartida, a abordagem usada pela literatura Schumpeteriana do
crescimento, com base no contributo de Nelson e Pheelps (1966), exibe que o
crescimento é oriundo do estoque do capital humano, que posteriormente irá afetar
de forma significativa na capacidade de inovação em países mais desenvolvidos. E,
portanto, as diferenças entre as taxas de crescimento dos países, devem-se a
diferenças nos estoques de capital humano associado a capacidade dos países em
gerar progresso tecnológico e ciêntifico.
É cediço que exista um consenso relativo ao fato de que a fonte do capital
humano utilizado genericamente em análises empíricas do crescimento econômico
tem sido atrelada a educação formal e, com base na teoria do crescimento
econômico diretamente proporcional ao grau de escolaridade da população de um
18

país, que influência na evolução do produto nacional tanto a médio como a longo
prazo, exaltando a sua importância econômica.
Entretanto, em um estudo realizado por Lourenço (2015), as competências
cognitivas são consideradas como alternativas para a medição do capital humano,
que devido ao fato de representarem conhecimentos e aptidões, constituem-se
como uma explicação relevante no que circula ao crescimento econômico.

3 A EDUCAÇÃO COMO FORMA DE VALORIZAÇÃO DO CAPITAL HUMANO

A ideia do Capital Humano é uma “quantidade” ou um grau de educação e de


qualificação, funcionando como fomento da capacidade de trabalho e produção.
Sendo assim, embora desde sempre importante, o conhecimento passou a ser vital
para o crescimento econômico e para o desenvolvimento das nações. Mesmo se
apresentando de forma ampla e diversa, a teoria do capital humano, abarca todos os
tipos de investimentos que uma pessoa pode fazer para melhorar sua qualidade de
vida, ou seja, os investimentos que a mesma pode fazer para seu bem-estar físico,
mental e intelectual, desta forma a educação pode ser considerada um dos alicerces
desta teoria.
Assim sendo, a educação de certa maneira prepara as pessoas para a vida
em sociedade, não só na esfera de conteúdos, mas de igual para viver socialmente.
Neste contexto a educação, pode ser considerada como um bem de consumo,
disponibilizando para as mesmas satisfação, conhecimento e ainda um meio de
investir, pois futuramente, frutos serão colhidos, o indivíduo que investiu na sua
educação, de certa forma tendem a esperar retorno.
Assim, Blaug descreve:

A educação é quase sempre ao mesmo tempo investimento e consumo, não


só no sentido de que um dado tipo de educação, em determinado país,
pode contribuir para aumentar a renda futura enquanto outro tipo de
educação, no mesmo país, não tem tal efeito, mas o mesmo quantum de
educação, digamos um ano de aprendizado escolar para determinado
individuo, invariavelmente possui aspecto tanto de consumo quanto de
investimento. (BLAUG, 1975, p. 20).
19

Ao analisarmos as palavras de Blaug, podemos dizer que as pessoas


adquirem conhecimento e valor por meio da educação, por outro lado, através das
instituições de ensino seu potencial produtivo pode ser aprimorado.
Desta forma, para intensificar o elemento trabalho, a educação é um requisito
basilar. Neste sentido, os indivíduos ao investir em educação possuem a finalidade
de ampliar seu conhecimento e assim seu potencial produtivo alterar.
Assim sendo, quando uma pessoa decide investir em educação, a mesma
passará por um período em que o estudo será sua principal ocupação, ou seja,
tempo este que não estará trabalhando, além de gastos com matérias de apoio e
com livros.
Como consequência deste investimento, seu nível de escolaridade aumenta
suas habilidades são aperfeiçoadas e com isso gera-se com o passar dos anos uma
remuneração mais elevada. Isto quer dizer que sempre que a educação for com o
objetivo de alcançar uma melhor remuneração, o indivíduo investiu em si mesmo.
O nível de escolaridade de um indivíduo interfere de maneira expressiva ao
que se obtém como ganho. Reforçando, dentro deste contexto Dias assevera:

Assim, a educação se torna uma variável de grande importância para o


crescimento econômico, trazendo aumento de produtividade e de salários
para os trabalhadores, diminuindo a desigualdade de renda existente. E,
também, é relevante para uma melhora do bem-estar social da população,
uma vez que uma sociedade mais escolarizada tem índices menores de
criminalidade e pobreza. (DIAS, 2021 p. 22)

Desta maneira, a educação não só favorece os indivíduos, mas de igual modo


toda uma sociedade, uma vez que, ao se ter uma renda maior, eleva-se
automaticamente a qualidade e o padrão de vida.
Se um pais deseja ser economicamente desenvolvido, se faz de suma
importância que se invista primeiramente em seu capital humano. As escolas
deveriam ser um local para se formar pesquisadores, onde as pessoas (professores)
deveriam descobrir as aptidões dos alunos e de igual modo cultivá-las, instruí-las
para as oportunidades no que diz respeito a empregabilidade e preparar de igual
modo as pessoas para a carreira docente (SCHULTZ, 1964)
O desenvolvimento socioeconômico de uma sociedade está diretamente
atrelado a aplicação da educação, visto que a mesma alcança na qualidade de vida,
20

renda, emprego, taxa de natalidade e mortalidade e especialmente na redução da


pobreza. Dentro da Teoria do Capital humano, a educação atua como aditamento de
treinamento que corresponde a um aumento de capacidade que se tem de produzir.
(FRIGGOTTO, 2000)
A concepção do Capital humano é de aperfeiçoamento ou de educação, que
funciona como desenvolvimento das habilidades de produção e trabalho. Desta
forma, o conhecimento sempre foi importante para o desenvolvimento econômico,
mas para que uma nação cresça e se desenvolva ele se torna essencial.

3.1 A EDUCAÇÃO E A RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO HUMANO

A intensa preocupação com o papel da educação na distribuição da renda


está intimamente associada ao acúmulo de capital humano, sobre o crescimento e o
nível de renda de um país ou de uma região. O fator crescimento econômico de um
país tem sido, portanto, correlacionado à educação, produtividade e aspectos
inerentes ao desempenho do trabalho. Com base na concepção de Lucas (1968), a
dinâmica do crescimento pode ser explicada pelo acúmulo do capital humano de
forma que as divergências entre as taxas de crescimento entre os países são
decorrentes principalmente da intensidade com que ampliam-se as dotações desse
fator, especialmente a longo prazo.
Além dos aspectos supracitados, acredita-se que os níveis de capital humano
podem ser afetados por outros aspectos, dentre os quais cita-se as inovações
tecnológicas e ciêntificas. Assim sendo, níveis mais elevados de capital humano
também incentivam a acumulação de capital físico, ou ainda, afetam de forma
considerável a capacidade de inovação de uma determinada localidade, sendo um
elemento determinante na taxa de difusão técnica e cientifica de um país (NELSON
e PHEELPS, 1966, apud MARINHO e SILVA, 2004, p. 5).
Diante do exposto, Romer (1990), um dos precursores na introdução da
relação direta entre a taxa de crescimento da tecnologia e o nível do capital humano,
notou que o conhecimento tecnológico não deveria ser considerado como um
elemento exógeno e disponível livremente, mas sim como um elemento endógeno
21

que depende diretamente de investimentos em educação, maior qualificação e


pesquisa. De acordo com o referido autor, quanto mais instruídas as pessoas são,
mais criativas e aptas a produzir novos conhecimentos elas estarão.
De um modo geral, o crescimento endógeno pode ser compreendido como a
inserção do progresso tecnico, aumento da eficiência na utilização dos aspectos
convencionais atrelados a produção, e que suas bases conceituais estão ligadas ao
aumento do estoque do conhecimento, que é considerado como a força motriz do
crescimento econômico. Além disso, os modelos de crescimento endógeno,
introduziram o capital humano nos processos produtivos, função esta que cresce na
mesma proporção que os níveis de escolaridade da população, causando um efeito
proporcional na taxa de progresso técnico e econômico (DIAS, 1996).
Assim, com os modelos de crescimento endógeno foi possível determinar o
crescimento econômico, a partir do próprio sistema econômico em que estava
inserido. Logo, as diferenças observadas no crescimento de um determinado
produto e a observação efetiva do fator de produção tem suas explicações atribuídas
às melhorias realizadas no aspecto inerente ao trabalho que elevam
consideravelmente a capacidade produtiva, das quais refletirão em um maior bem-
estar social populacional (MARINHO E SILVA, 2004).
Desta forma, entende-se que maior produtividade significa maior eficiência
econômica, e consequentemente maior geração de produtos por unidade de fatores
de produção. Logo, o aumento na produtividade do trabalho, contribui ao mesmo
tempo para acelerar o crescimento econômico e na redistribuição de forma
igualitária da renda, visto que eleva os salários. Tal processo é considerado de suma
importância, especialmente em paises que encontram-se em desenvolvimento.
Neste aspecto, Pereira (2008), discorre que o alcance de níveis produtivos
mais elevados, assim como de renda, consumo e desenvolvimento, dependem
diretamente do esforço despendido por cada país, para promover a capacitação de
suas forças de trabalho, melhorando assim significativamente as condições de
funcionamento econômico, promovendo ainda, o desenvolvimento tecnológico.
Desta forma, as novas tecnologias podem ser criadas ou importadas para gerar um
maior crescimento do produto.
Diante deste contexto, inúmeros estudos tentam demonstrar os impactos da
educação sobre o crescimento econômico, como é o caso do estudo realizado por
Hanushek e Kimko (2000) em que são utilizadas teorias baseadas em análises
22

empíricas dos modelos de crescimento endógeno, considerando como a força motriz


a acumulação do capital humano, introduzindo ainda vaiáveis capazes de auferir a
qualidade de ensino. Os resultados encontrados pelos autores indicam uma forte
ligação entre a qualidade da educação e o crescimento da renda per capita.
Desta forma, acredita-se que o investimento no capital humano não melhora
somente o desempenho individual de um determinado indivíduo e eleva seu salário,
mas também é considerado como uma fator decisivo para a geração de riqueza e
crescimento econômico.

3.2 CAPITAL HUMANO E EDUCAÇÃO

Educação importa para o crescimento de um país? Essa é uma pergunta que


deixa policy makers e acadêmicos inquietos. Nesse contexto, governantes sempre
prometem investir mais em educação para fazer o país se desenvolver e atingir
taxas de crescimento mais robustas.
Por exemplo, em meados de 2000, foi aprovada a Estratégia de Lisboa, um
plano de desenvolvimento estratégico da União Europeia que visava tornar a
economia das nações do bloco a mais competitiva e dinâmica do mundo, antes de
2010. Esse plano era, em linhas gerais, um esforço para reduzir a diferença de
crescimento entre os EUA e os países da União Europeia.
Se olharmos para os dados entre 1999-2000, podemos perceber a diferença
no quesito educação entre EUA e UE. Da população entre 25 e 64 anos, 37,3%
havia completado a educação superior nos EUA, contra apenas 23,8% no bloco
europeu. Ademais o investimento americano, em porcentagem do PIB, na educação
terciária era de 3%, enquanto o da UE totalizava 1,4% (AGHION; HOWITT, 2008).
Mas será que essa parcela menor de pessoas com diploma universitário, ou o menor
investimento nesse campo da educação são os responsáveis pelas menores taxas
de crescimento apresentadas pelo bloco europeu em relação aos Estados Unidos?
A teoria macroeconômica de longo prazo tenta explicar o crescimento dos
países e o porquê da diferença entre eles há algumas décadas. Em se tratando da
influência do capital humano na evolução do PIB per capta das nações, as maneiras
com que essa interação se dá variam de acordo com a teoria de crescimento
econômico que é usada na fundamentação do modelo.
23

Em um dos modelos neoclássicos mais citados, o de (SOLOW, 1956), o


capital humano nem sequer tem um papel na função de produção, Solow mostra que
se considerarmos a taxa de poupança e o crescimento da população como
exógenos, o nível de renda per capta será determinado por elas em steady-state, de
modo que quanto maior a taxa de poupança, mas rico será o país e quanto maior a
taxa de crescimento populacional, mais pobre será o país. Em modelos de
crescimento endógeno, no entanto, o capital humano possui um papel
extremamente relevante, (HOWITT; AGHION, 1998) pondera que o papel do capital
humano em modelos de crescimento endógeno pode ser dividido em duas
categorias. Na primeira delas, o crescimento sustentável de longo prazo é dado pela
acumulação de capital humano ao longo tempo.
A referência neoclássica é o modelo de (MANKIW; ROMER; WEIL, 1992),
uma versão aumentada do modelo de Solow, na qual a função de produção
depende não só do capital físico, mas também do capital humano. Eles concluem
que ao incluir acumulação de capital humano no modelo - a partir de uma proxy
baseada na proporção de indivíduos com idade para trabalhar que estão
matriculados no ensino secundário - os efeitos estimados da taxa de poupança e da
taxa de crescimento da população no PIB per capta são praticamente os previstos
por Solow.
Além disso, também encontram evidências de convergência condicional entre
países. Ainda na acumulação de capital humano, com bases no modelo AK, temos o
modelo de (JR, 1988), no qual o capital humano acumula a uma taxa proporcional
ao estoque de capital humano existente, levando a uma taxa de crescimento positiva
do PIB per capta no longo prazo, ao contrário do de Solow ou de sua versão
aumentada que não permitem crescimento no longo prazo.
Na segunda categoria de modelos, o crescimento de longo prazo é dado pelo
estoque de capital, o qual influencia ou na habilidade de inovação do país ou no
potencial de catch up deste para com nações mais desenvolvidas. Um dos principais
artigos nessa linha é o de (BENHABIB; SPIEGEL, 1994), no qual os autores usam
uma função Cobb Douglas padrão, em que o capital humano e o capital físico
entram como fatores de produção.
Os autores chegam à conclusão de que o capital humano tem efeito
insignificante no crescimento do PIB per capta. Desse modo, rebatem o modelo
MRW apresentado acima, que encontrou efeitos positivos no capital humano, mas
24

que, para derivar a equação de estimação, precisa assumir que as economias já se


encontram em steady-state - uma condição muito forte e irreal. Logo, o modelo de
Benhabib e Spiegel parece mais geral, apesar das críticas que recebeu, as quais
serão comentadas posteriormente.
Outro ponto importante a ser discutido é qual a melhor proxy para capital
humano, é melhor medirmos ele pela quantidade ou pela qualidade? (BARRO, 2001)
faz grandes avanços no sentido de responder este questionamento, estima dois
modelos para explicar crescimento.
No primeiro usa a média de anos de escolaridade e no segundo a pontuação
em provas padronizadas internacionalmente. Ele conclui que a qualidade da
educação é quantitativamente mais importante para o crescimento, no entanto os
dados referentes a qualidade da educação são ainda menos confiáveis e escassos -
dados disponíveis a partir de 1990 para apenas 43 países e com muitas lacunas -
que os de perfil quantitativo, podendo ser melhor trabalhar com o segundo, caso o
estudo seja feito para uma gama maior de países ao longo de um período de tempo
mais extensos.
Os dados foram obtidos através de três bases: os dados de educação foram
extraídos do dataset compilado por Barro-Lee, no qual haviam dados referente à
educação para 146 países de 1950 a 2010 em períodos de 5 em 5 anos. As outras
variáveis utilizadas pertencem a Penn World Table, versão 9.0 que pertence ao
Groningen Growth and Development Centre, com exceção da vaiável expectativa de
vida, que foi obtida na base da Divisão de população das Nações Unidas.
Da base de Penn World Table as variáveis escolhidas foram a população de
cada país, me milhões, de 1970 a 2010 de cinco em cinco anos, o PIB em valores
reais de PPP em milhares de dólares de 2011, para o mesmo período descrito
acima. Por último, foi obtido o estoque de capital físico. Essa variável em especial,
que é essencial para estimação de modelos macroeconômicos de crescimento não é
divulgada periodicamente por órgãos governamentais para a maioria dos países,
uma vez que não é uma variável de fluxo, sendo pouco importante para políticas
públicas e para o mercado como um todo, se comparada as variáveis como saldo
comercial ou variação do PIB. Felizmente, a Universidade de Gronigen também
possui uma estimativa do estoque de capital físico para cada nação em valores de
PPP em milhares de dólares de 2011.
25

Como proxy da disponibilidade de mão de obra, foi utilizada a própria


população do país. A razão para essa escolha é que a precisão dos dados de força
de trabalho varia muito de país para país, com destaque aos mais subdesenvolvidos
onde há uma grande quantidade de trabalhadores informais e rurais que podem não
aparecer nas estatísticas, ademais muitos autores fazem o uso dessa proxy como
justificativa semelhante sem perder generalidade em seus resultados.
No que tange ao capital humano, levando em consideração a discussão
apresentada sobre o artigo de Robert Barro, a proxy usada para capital humano é de
natureza quantitativa e não qualitativa, devido ao tamanho da amostra (146 países e
6 décadas), com também pela confiabilidade dos dados – a base montada por Barro
-Lee vem sendo aperfeiçoada e corrigida a mais de 20 anos pelos autores, tornando-
se referência para estimações macro que incluam educação. Portanto, a proxy
escolhida para capital humano é a porcentagem da população com ensino superior
completo. A escolha dessa variável se justifica da seguinte maneira: foi considerada
a escolha de uma variável que refletisse o ensino primário ou secundário, no
entanto, estas dificilmente irão refletir o real estoque de capital humano de uma
sociedade. Isso se dá porque a maioria dos trabalhos que exigem o mínimo de
capital humano, tendem a ser trabalhos que necessitam de alguma especialização e,
na maioria das vezes, essa especialização é adquirida justamente no ensino
superior. Logo, para medir se um país tem estoque de capital humano alto ou baixo,
faz mais sentido medir a porcentagem da população que possui diploma de grau
superior e, portanto, está, em teoria, habilitada a desenvolver atividades que exigem
justamente mais capital humano e menos capital físico.
Devido a limitação dos dados, principalmente referentes a estoque de capital,
não usamos em total extensão a base de Barro. A fim de remover anos com dados
faltantes, restringimos nossa amostra ao período de 1970 a 2010, de 5 em 5 anos,
ficando com um painel balanceado para 119 países. A tabela abaixo resume as
principais estatísticas utilizadas nesse trabalho.

Tabela 1 – Estatísticas dos dados


Variáveis Média Desvio padrão Min. Max. Observações
lnpop 2,12 1,73 -2,21 7,20 1071
lnpibpercap 8,70 1,26 5,04 12,55 1071
lnstock 11,51 2,29 4,98 17,70 1071
26

lneduc -3,79 1,37 -8,52 -1,20 1071


lnpibpercap1970 8,33 1,17 6,28 12,44 119
lnpibpercap19702 70,74 20,52 39,44 154,68 119
lneduc1970 4,10 2,58 0,29 10,93 119
lneduc19702 23,44 26,08 0,08 119,46 119
lnexpectativa 4,15 0,25 -0,48 4,42 1071
Fonte: Elaboração própria, 2022.

4 RELAÇÃO ENTRE CAPITAL HUMANO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

Assim como demostra a Teoria do Capital Humano relaciona-se ao


crescimento econômico do país à educação, em função da mesma impactar no que
se refere ao trabalho e na produtividade.
Neste contexto, discorrem Barros e Mendonça (1997, p.1):

que os efeitos de investimentos em educação não são apenas os mais


variados, mas, também, têm várias dimensões. Por um lado, esses
investimentos podem ser concretizados via melhoria ou na qualidade ou na
quantidade da educação. Por outro lado, pode-se diferenciar os
investimentos em educação de acordo com o nível em que ocorrem,
podendo estar relacionados a uma melhoria na educação fundamental,
secundária, superior ou técnica. Embora seja possível, em princípio, avaliar
o impacto destas diferentes formas de investimento, neste trabalho nos
limitaremos a avaliar o impacto de uma expansão quantitativa sem levar em
conta melhorias na qualidade da educação. A análise do impacto de uma
expansão quantitativa é realizada para o sistema educacional como um todo
e, portanto, sem a desagregação por nível educacional.

Conforme já citado por Becker (1993 apud MACHADO, 2017, p. 21) “a


educação tem grande relevância na condução da economia, mais do que somente
crescimento econômico, também afeta o fator produtividade que transforma de
forma surpreendente o cenário de uma sociedade”. Ainda segundo Becker (1993) os
países que obtiveram aumentos constantes de renda foram alavancados pelo
crescimento ao longo do tempo do conhecimento científico e tecnológico e a
disseminação destes conhecimentos permitiu crescimentos constantes da renda ao
longo do tempo (BECKER, 1993 apud MACHADO, 2017).
Acerca do capital humano, podemos citar os seguintes benefícios:
27

O investimento em capital humano transforma a economia, reduz as perdas,


a educação e o treinamento nas empresas modificam o cenário econômico,
a sociedade e a economia se beneficiam com os ganhos em inovações e
produtividade, a procura e oferta do produto impulsionam o crescimento e
desenvolvimento econômico (LANGONI, 1975, apud MACHADO, 2017, p.
26).

Em relação aos problemas para se obter crescimento econômico, se aduz


que o governo tem um papel fundamental:

O governo deve ser criador de condições para o crescimento, que deve


melhorar a educação e infraestrutura para impulsionar o país, e as
empresas e instituições educacionais têm que responder a estes
investimentos como principais impulsionadoras. Para Porter (1947) as
empresas precisam de estratégias para obter vantagens no mercado, e
investir em capital humano é uma vantagem durável. Porter (1947) é contra
a rotatividade de trabalhadores nas empresas, para ele os empregados
devem ser treinados e transferidos para novas funções, a fim de estimular
novas ideias e habilidades. Continuação do pensamento de Porter (1947) é
que para acelerar o processo de crescimento econômico é necessário obter
vantagens competitivas em recursos humanos como conhecimentos e
habilidades constantemente aprimoradas. Também é necessário que
estudantes recebam treinamento prático para terem participação
significativa na economia, Porter (1947) diz que a ciência e tecnologia são
importantes para o crescimento da economia. (PORTER 1947 apud
KELNIAR; LOPES; PONTILI, 2013, p. 7 e 8).

Neste contexto, cabe salientar que os primeiros estudos que abordam o


crescimento econômico e a melhor distribuição de renda atribuídos a educação
foram iniciados nos anos 50.
Neste sentido ao se pensar o crescimento econômico, considerando-se as
diversas formas de capital e o progresso técnico é imperioso o questionamento
acerca de investimentos:

Para se pensar crescimento econômico, levando em conta as diferentes


formas de capitais e o progresso técnico, é necessária uma abordagem de
investimento. Em tal abordagem o estoque de capital, qualquer que seja sua
forma (estruturas, equipamentos, tecnologias etc.), é aumentado pelo
investimento e os serviços produtivos prestados pelo capital adicional fazem
aumentar a renda, o que é considerado a essência do crescimento
econômico. (CAMILO, 2015 p. 24)

Ainda discorrendo sobre crescimento econômico, o supracitado autor


assevera que:
28

este é um passo em direção a uma teoria que englobe todos os recursos


destinados ao investimento, levando em conta as taxas relativas de
rendimento e os custos de oportunidade. Com essa perspectiva a teoria
econômica estaria fundamentada num conceito amplo de investimento; todo
investimento adicional realizado seria computado para explicar as
alterações marginais no estoque de capital e as alterações marginais nos
serviços produtivos explicariam as alterações marginais na renda. (CAMILO
2015, p. 24)

De acordo com os ensinamentos de Schultz (1971, apud Camilo, 2015),


existem dois exemplos que podem ser utilizados para demonstrar a importância do
capital humano, sendo eles: o estado dos países no pós-guerra, especialmente para
aqueles que a perda do capital físico foi maior, mas que em contrapartida, possuíam
um capital humano considerável, o que fez com que fosse possível promover uma
recuperação mais rápida. Já no segundo exemplo, encontram-se os países de
médio e baixa renda, que recebem capital estrangeiro, os quais são destinados à
aquisição do capital físico sem que haja uma melhora no capital humano, o que faz
com que infelizmente não seja possível que ocorra um aumento significativo na
produtividade e consequentemente do país, visto que, a população é pouco instruída
(escolarizada) no que tange a utilização dos meios de produção.
Em ambos os casos supracitados, pode-se observar que o capital humano é
de extrema importância para o progresso de um país, haja vista que, o investimento
neste é imprescindível para que os recursos investidos e disponibilizados sejam
empregados de forma mais eficaz.
Desta forma, observa-se a importância da educação para a formação de
mãos de obra mais qualificadas mediante ao crescimento econômico constante.
Neste passo, Lins (2011), salienta que o Governo não pode afirmar que não fará
mais investimentos em educação e na promoção de políticas públicas, que
indiretamente permitirão o seu crescimento, ou ainda que não haverá vagas para a
matrícula de cidadãos em escolas, visto que um Governo que busca progresso
econômico não deve deixar de considerar a educação como parte integrante do
processo.

4.1 MODELOS DE CRESCIMENTO


29

De um modo geral podemos dizer que o crescimento econômico possui como


um dos pressupostos o aumento da capacidade produtiva da economia local. Assim
sendo, buscando trazer à margem um maior entendimento acerca das principais
variáveis envolvidas no processo, que são responsáveis por afetar o crescimento
econômico de um país, encontra-se imediatamente o investimento em capital
humano e educação como um dos fatores determinantes, visto que, como dito
anteriormente, ambos afetam diretamente o crescimento econômico, tendo assim
uma relação de causa/efeito (OLIVEIRA, 2017).
O presente tópico busca apresentar um dos modelos de crescimento
econômico considerados mais relevantes, o modelo de Solow e os modelos
apresentados por Lucas e Romer, que abordam o capital humano como um fator
imprescindível para o crescimento econômico de um país.
O Modelo de crescimento econômico de Solow consiste em um modelo de
crescimento do tipo exógeno, em contrapartida, os modelos elencados por Lucas e
Romer são considerados modelos de crescimento econômico endógeno. Os
modelos de crescimento econômico tratam a renda per capita a longo prazo como
função do progresso tecnológico exógeno (SALGUEIRO, 2012, p. 6).
Em relação aos modelos endógenos, as teorias de crescimento endógenos
são centradas na análise de fontes de crescimento econômico, especificamente
relacionadas ao progresso técnico, bem como na sua determinação. Assim,
acredita-se que motivação essencial dessa nova abordagem encontra-se na
tentativa de demonstrar o crescimento a longo prazo, baseado no comportamento
dos agentes e sem ter que forçosamente recorrer a elementos exógenos ao sistema
econômico (SANTOS, 2008, p. 25).

4.1.1 Modelo de Solow

Como dito anteriormente, um dos modelos de crescimento econômico é o


modelo de Solow, um modelo exógeno que busca analisar quais são os aspectos
que afetariam a produtividade e o crescimento econômico de uma determinada
população (PAZ; RODRIGUES, 1972 apud MACEDO, 2013).
De acordo com Macedo (2013, p. 7) até meados da década de 1950 estudos
como os realizados por Solow em 1956, baseados na economia clássica, utilizavam
30

somente os fatores relacionados ao capital e ao trabalho como fonte de


diferenciação do crescimento entre os diversos paises.
Assim sendo, a criação do modelo de Solow foi considerada como uma
verdadeira resposta ao modelo criado anteriormente por Harrod (1939), visto que de
acordo com os achados por Solow (1956), haveria uma enorme falha no modelo que
seria estudar os problemas de longo prazo com ferramentas utilizadas para curto
prazo. Assim sendo, para a abordagem neoclássica da economia, o modelo de
Solow foi considerado imprescindível para analisar os aspectos do crescimento
econômico (COSTA, 2007).
Logo, observa-se que o modelo supracitado apresenta como fonte de
crescimento econômico a curto prazo a acumulação do capital físico, sendo,
portanto, o investimento imprescindível para o crescimento econômico. O fato deste
investimento ser financiado pela poupança pode ter como resultado, (para um
observador desatento) que um aumento desta resultaria em um crescimento infinito
da economia local. Porém, o impacto de uma unidade marginal de capital é
considerado decrescente e o aumento da poupança por si só não tem capacidade
suficiente para determinar taxas contínuas de crescimento, muito pelo contrário, o
crescimento econômico a longo prazo da economia é determinado somente pela
taxa de crescimento do progresso tecnológico (MACEDO, 2013, p. 19).
Assim sendo, fica evidente que o modelo proposto por Solow (1957) para o
crescimento econômico já indicava que, para um país crescer economicamente é
necessário que haja a presença do progresso tecnológico, associado a acumulação
do capital e do aumento da força de trabalho. O modelo considerava que o
crescimento se dava pela capacidade de aprendizado do trabalhador na utilização
de forma eficaz das tecnologias existentes (COSTA, 2016, p. 70).
Solow (1956) demonstra a importância da acumulação do capital físico,
colocando o progresso técnico como motor do crescimento. As economias
convergentes para a taxa de crescimento estacionariam e dependentes somente da
taxa de progresso tecnológico, crescimento da força de trabalho e da intensidade do
capital. Cabe ainda salientar que este modelo neoclássico proposto por Solow como
dito anteriormente é exógeno, visto que não relata quais são os principais aspectos
que acarretam o aumento do progresso tecnológico (SILVA, 2020).
Tal modelo tem como principal fundamento a economia produzindo apenas
um único bem, parte do qual é consumido e o resto deve ser poupado e investido,
31

sendo a fração do produto poupado constante; ausência de comercio internacional,


retornos decrescentes de escala para cada um dos insumos produtivos de forma
isolada, elasticidade de substituição capital-trabalho positiva, dentre outros aspectos
(COSTA, 2007, p. 15).
O modelo de Solow relaciona acumulação de capital, poupança e crescimento
demográfico. A função de produção Y = T f (K, L) se torna uma função de produção
per capita, y = T f (k). Sendo composta por y (produção per capita), T (tecnologia) e
K sendo o capital per capita (SACHS e LARRAIN, 1995 apud SOUZA, 2005).

4.1.2 Modelos de crescimento endógenos de Romer

A teoria do capital humano é considerada como a base teórica para o


desenvolvimento de modelos do tipo endógeno, sendo que nestes modelos, o capital
é formado pelo capital físico e o capital humano (PEREIRA; LOPES, 2014).
De um modo geral, pode-se dizer que o trabalho realizado por Romer (1986),
contribuiu significativamente com este modelo de crescimento, tendo como ponto de
partida as mesmas afirmações neoclássicas utilizadas pelo autor citado
anteriormente, tendo como diferença somente a consideração dos benefícios
resultantes do investimento em aspectos relacionados a educação e ao
conhecimento (COSTA, 2007).
Assim sendo, o modelo proposto por Romer (1990), poderia ser considerado
como um aperfeiçoamento do modelo de Solow, para explicar o progresso
econômico. De acordo com o autor, o progresso tecnológico deriva-se das ideias e
do conhecimento da população, assim, quando maior for o nível de conhecimento e
de educação de um determinado individuo ou grupo, maior seria os seus efeitos no
progresso tecnológico e no processo de crescimento econômico. Considerando que
os paises com níveis de desenvolvimento econômico mais elevado possuem um
maior quantitativo de indivíduos com conhecimento mais qualificados, este fator
seria considerado como um dos determinantes para a diferença de desenvolvimento
encontrada entre os países (LINS, 2011).
O modelo de Romer tem como pressuposto que o progresso tecnológico é a
força motriz do crescimento econômico, é endógeno ao modelo e tecnologia seria
um bem, não rival e parcialmente excludente. Este modelo é composto por variáveis
32

relacionadas ao capital humano, tecnologia e ao trabalho (ROMER,1990 apud


ANDRADE, 2010).
O Modelo de Romer possui três setores distintos, sendo eles: pesquisa, bens
intermediários e bens finais. O setor de pesquisa por meio do conhecimento dos
trabalhadores, tem como objetivo desenvolver tecnologias para a produção de novos
bens. Essas novas tecnologias são utilizadas no setor intermediário para a produção
de bens de capital (ANDRADE, 2010).
Destaca-se pelo fato de cada setor produzir de forma especifica e ofertar bens
diferentes, o que faz com que o sistema de mercado que cada um desses setores
faz parte também sejam diferentes. Assim sendo o “setor de pesquisa” opera sob o
sistema de concorrência perfeita, o setor produtor de bens intermediários sob a
concorrência monopolística e o setor de bens finais, sob concorrência perfeita
(ANDRADE, 2010, p. 33).
Observa-se assim a importância do investimento em conhecimentos devido a
sua relevância no processo de criação de tecnologias. Conforme descrito por Romer
(1986, p. 1003 apud SOUZA, 2005, p. 10):

A criação de novos conhecimentos por uma firma produz efeitos externos


positivos sobre as possibilidades de produção de outras firmas, porque o
conhecimento não pode ser perfeitamente patenteado ou mantido secreto. E
o que é mais importante: a produção de bens de consumo como uma
função do estoque de conhecimento e outros insumos exibe retornos
crescentes; mais precisamente, o conhecimento pode ter um produto
marginal crescente.

Assim sendo, tem-se que o equilíbrio do modelo de Romer (1990) está


fundamentado na suposição de que os envolvidos de pesquisa possuem livre
acesso a todo estoque de conhecimento, o que é possível, pois o conhecimento é
um bem e não um rival (ANDRADE, 2010, p. 34).

4.1.3 Modelos de crescimento endógenos de Lucas

O modelo proposto por Solow em 1956 foi intensamente criticado pelo modelo
proposto por Lucas (1988) visto que a única força motriz deste modelo é do tipo
exógeno, que no caso estava relacionado somente ao progresso tecnológico. O
modelo proposto por Lucas visa ressaltar ainda a importância de uma maior
33

especificação do motor tecnológico, demonstrando sua importância e como o


mesmo ocorre de fato (BRAZ, 2013).
Quando se fala em diferenças tecnológicas existentes entre os países, o
verdadeiro ponto a ser discutido não deve ser baseado somente no conhecimento
geral disponível para a sociedade, mais sim a respeito do conhecimento de algumas
pessoas em especifico, ou ainda em subconjuntos particulares de pessoas. Assim
sendo, não seria errado discorrer sobre as diferenças tecnológicas existentes
através do termo exógeno, porém é necessário um maior formalismo que expresse
as decisões tomadas individualmente para que tal conhecimento fosse adquirido,
especialmente quando trata-se dos níveis de produtividade (SILVA, 2020).
Diante deste contexto, no modelo proposto por Lucas, a variável capital
humano é associada aos aspectos inerentes as mudanças tecnológicas,
introduzindo desta forma, o conceito inerente a aspectos externos do capital humano
com spillover entre os agentes no modelo de crescimento econômico (ANDRADE,
2010).
Desta forma, o modelo teórico proposto por Lucas (1988) foi responsável por
consagrar a relevância do capital humano na geração do crescimento sustentado. O
autor demonstrou os efeitos da externalidades da acumulação de capital humano,
sendo realizada no setor educacional sobre a produtividade da economia (DIAS;
DIAS; LIMA, 2009, p. 233).
De acordo com Lucas (1988), o investimento no capital humano é capaz de
promover maior qualificação, gerando dois resultados distintos: o aumento da
produtividade dos indivíduos que investem no capital humano e na economia e um
modo geral, que são beneficiadas pelo fato de possuírem indivíduos mais
qualificados visto que estes estão mais preparados para gerar inovação e
consequentemente ganhos na produtividade para todo setor econômico, e portanto
são considerados como os “motores” do crescimento econômico (OLIVEIRA, 2017).
Ademais são consideradas neste modelo, os efeitos externos e internos,
gerados pela variável capital humano. Os efeitos internos estariam ligados a
produtividade dos trabalhadores e os efeitos externos podem ser observados por
intermédio do crescimento da produtividade e dos aspectos ligados a produção
(ANDRADE, 2010).
Dito isso, a variável capital humano de suma importância para se obter
crescimento econômico neste modelo:
34

É a possibilidade de incentivos para se investir no capital humano, tornando


o comportamento deste fator não decrescente. Nesse sentido a função de
produção apresenta rendimentos constantes de escala permitindo que o
produto marginal, ou incentivo para despender tempo estudado, seja
constante (RESENDE, 2016, p. 9).

Assim sendo, observa-se que o modelo trazido por Lucas conclui que uma
política de incremento progressivo na quantia de indivíduos que buscam por uma
maior qualificação e conhecimento, tenderia a gerar um crescimento sustentado da
taxa de crescimento e renda (AGUIAR, 2018).

4.2 MODELO MACRO FUNDAMENTADO

Tendo em mente a revisão bibliográfica, foi considerado desenvolver neste


trabalho o modelo MRW devido a seu maior sucesso na procura de efeitos de
educação no crescimento dos países, no entanto, como já foi dito, a estimação
desse modelo só é possível se assumirmos que todas as economias se encontram
em steady-state, o que não é muito razoável de se assumir, uma vez que isso
implica, por exemplo, que a variação do estoque de capital, tanto humano quanto
físico, é nula em todos os períodos.
Isto posto, e considerando que a metodologia padrão de modelagem de
crescimento com capital humano costuma especificar uma função de produção, na
qual o PIB per capta Yt, é dependendo de três fatores. Sendo eles, trabalho Lt,
capital físico, Kt, capital humano, Ht, foi assumida uma função Cobb-Douglas,

Y ¿ = Ai K α¿ L¿β H γ¿ (1)

sendo At a tecnologia do país i, a qual consideramos constante no tempo. Logo,


passando o logaritmo natural de ambos os lados para facilitar a estimação, a relação
para o crescimento de longo prazo é dada por:

ln (Y ¿ ) = ln (A ¿¿ i)¿ + αln (K ¿¿ ¿)¿ + βln ⁡(L¿ ) + γln ( H ¿) (2)


35

o termo ln(Ai) da cobb douglas foi considerado um efeito fixo no tempo, o qual será
eliminado nas transformações do estimador de efeito fixo. Portanto, o modelo
econométrico a ser estimado será:

ln (Y ¿ ) = β 0 + β 1 ln(K ¿¿ ¿)¿ + β 2 ln(L¿¿ ¿)¿ + β 3 ln(H ¿ ) + β 4 ln ( A¿)+ϵ ¿ (3)

A princípio, a hipótese mais natural a se fazer é que a amostra é i.i.d. no nível


de indivíduos, porém, para que essa hipótese fosse considerada plausível, seria
necessário considerar que as economias são fechadas, ou seja, não há trocas
comerciais, acordos bilaterais, ou qualquer interação entre elas, de modo que o
crescimento da economia j não influencia a economia i.
No entanto, essa é uma hipótese demasiadamente forte, uma vez que
estamos trabalhando com dados macro, logo será utilizada uma matriz de variância
covariância robusta, a fim de permitir correlação entre os indivíduos. Também
necessária para a estimação é a hipótese de que não há multicolinearidade:

(∑ )
T
det ⁡( E Ẍ ' ¿ Ẍ ¿ )≠ 0 (4)
t=1

Onde Ẍ é o vetor de variáveis independentes subtraído de sua média no


tempo. Juntamente com a hipótese de multicolinearidade, parece razoável assumir
que os 4 primeiros momentos de todas a variáveis são finitos. Quanto a hipótese de
exogeneidade estrita, para que ela possa ser assumida, precisamos acreditar que as
variáveis independentes não estão correlacionadas com os termos de erro para
todos os tempos, e que a tecnologia varia apenas nos indivíduos e não no tempo.
No que tange a primeira condição, parece razoável assumi-la, no entanto, as
duas últimas são um pouco mais problemáticas. A condição de não correlação entre
os termos de erro e as variáveis independentes para todos os tempos implica que
não haja viés de variável omitida.
Tal fato poderia ser questionado, uma vez que a educação é uma variável
que, segundo a literatura, é correlacionada principalmente com habilidade, contudo,
levando em consideração o trabalho de (ANGRIST; KEUEGER, 1991) podemos
considerar que a habilidade omitida não causa um viés positivo no impacto que
36

educação tem no crescimento, devido ao viés negativo - quase que da mesma


magnitude - ocasionado pelos erros de medida na educação.
Em se tratando da condição de não variação da tecnologia no tempo, de fato
esta é uma hipótese forte, ainda mais quando se trata de uma amostra que cobre
quatro décadas de crescimento.
No próximo modelo essa hipótese será relaxada, no entanto, é relevante
ressaltar que diversos autores, como Romer, Mankiw e Weil e Benhabib e Spiegel
assumem uma hipótese ainda mais forte de que a tecnologia é, não só constante no
tempo, como também igual para todos os países. Logo, temos para esse modelo
que:

E ( X ¿ { A ¿ ¿ i , ϵ is ) =0 , ∀ t , s (5)

Por fim, para que o estimador de efeito fixo seja eficiente, é necessário que
seja assumida a hipótese de homoscedasticidade, mas, a mesma não é requerida
para a consistência do estimador. Portanto, é possível fazer uma matriz de
variância-covariância robusta para a realização dos testes acerca dos parâmetros de
interesse. Além do estimador de Efeito Fixo, estimaremos também o modelo por
Efeito Aleatório. Logo, cabe ressaltar a diferença de hipóteses entre eles. Para Efeito
Aleatório, precisamos de:

E ( Ai { X ¿ ¿ ¿ )=0 (6)

Enquanto para Efeito Fixo é permitida a correlação entre o efeito fixo e as


outras variáveis explicativas. Cabe ressaltar que a hipótese de que a equação 6 é
válida é forte - mesmo dado que foi considerado que a tecnologia é constante no
tempo - uma vez que isso significa que a educação, por exemplo, não sofre
spillovers gerados pela tecnologia.
Devido a isso, será feito um teste de Hausman para verificar justamente se é
razoável assumir 6. Ou seja, se devemos escolher os resultados do estimador de
Efeito Fixo ou do de Efeito Aleatório, uma vez que o primeiro é menos eficiente que
o segundo se 6 for verdadeira, mas o segundo é inconsistente caso essa hipótese
seja falsa.
37

4.3 MODELO ADPATADO

Apesar de seguir a fundamentação macro, o modelo supracitado, pode ter


problemas em representar a realidade em decorrência de alguns fatores. O primeiro
concerne ao proxy para capital humano que foi utilizado. Baseado neste aspecto
Topel (1999) argumentou que faz muito mais sentido assumir que o capital humano
é classificado como uma função exponencial da educação e em uma função de
produção Cobb Douglas do que o entendimento que trata-se de uma relação linear.
Assim sendo, ao invés de se estimar o log da educação no modelo, deve-se
estimá-la de forma linear. Além disso, na literatura empírica de crescimento macro,
os níveis de capital humano, importam mais do que a mudança dos mesmos ao
decorrer do tempo conforme demonstrado por Krueger (2001).
Assim sendo, é interessante acrescer no modelo de estimação o nível inicial
de capital humano de um país, que é medido pela porcentagem da população que
possui ensino superior completo. Outro aspecto interessante a ser acrescentado no
modelo que deve ser mensurado corresponde ao nível inicial do PIB per capta do
país.
De acordo com Barro (2001), a simples relação entre níveis iniciais de PIB per
capta e a variação desse PIB per capta é basicamente nula, entretanto, quando
condicionadas a variação deste em outras variáveis como o capital humano, físico e
força de trabalho, há uma relação bastante interessante entre ambas as variáveis.
Desta forma, será adicionado um logaritmo natural do PIB per capta, elevado
tanto a primeira como a segunda potência. Assim a adição desses fatores torna-se
interessante para observa se de fato existe algum tipo de convergência condicional
entre os paises, ou seja, para países mais pobres espera-se que o efeito marginal
do log do PIB per capta seja positivo, enquanto para paises desenvolvidos os
valores seja negativo, implicando assim, como dito anteriormente, em uma relação
de convergência análoga ao capital humano.
Nesse contexto, considerando que educação é um bem de consumo, espera-
se que países com níveis mais altos de tecnologia, os quais possuem um PIB per
capta maior, consumiriam mais desse bem. Vendo por outra ótica, países com níveis
mais altos de tecnologia, demandam profissionais mais qualificados e, por
consequência, altos níveis de capital humano.
38

Assim como, (HECKMAN; KLENOW, 1997), será usada a expectativa de vida


como proxy para diferenças tecnológicas entre países, pois, países com tecnologias
mais avançadas, tendem a possuir tecnologia médica de alto nível - uma vez que o
setor de saúde é sempre um dos que mais inova em uma economia - o que irá
aumentar a expectativa de vida da população. Nesse contexto, uma expectativa de
vida maior implica em mais anos de trabalho, ao longo dos quais o indivíduo pode
amortizar seus gastos com educação. Portanto, o modelo base a ser estimado é:

ln (Y ¿ ) = β 0 + β 1 ln(L¿¿ ¿)¿ + β 2 ln ⁡(Y i 1970 ) + β 3 ln(Y i 19702 ) + β 4 ln ( X ¿ )+ (7)


β 5 ( H ¿ ) + β 6 ( H i 1970 )+ β7 ( H i 19702 ) + β 8 ln ( A ¿ )+ δ D¿ +U ¿

As hipóteses para identificação desse modelo serão praticamente as mesmas


do modelo anterior, pois não podemos assumir exogeneidade contemporânea aqui
uma vez que possivelmente os erros têm correlação ao longo do tempo e a amostra
não é i.i.d, logo, para a inferência será utilizada uma matriz de variância-covariância
robusta.
Nesse modelo, no entanto, não é mais necessário falar do efeito fixo, pois
este foi substituído por uma proxy que varia tanto no tempo quanto no nível do
indivíduo. Pensando na multicolinearidade entre as variáveis, pode-se afirmar com
segurança que podemos assumi-la como inexistente, pois a dummys foram
caracterizadas de maneira correta e, considerando o material teórico de
macroeconomia, não existe nenhuma combinação linear das variáveis estimadas
que possa explicar quase toda a variância de uma terceira variável do modelo.
Desse modo, cenários em que a variância dos estimadores tende ao infinito,
devido a multicolinearidade, impossibilitando inferências estatísticas, ou em que nem
mesmo é possível estimar os coeficientes devido a singularidade da matriz, não
parecem plausíveis. Logo, podemos assumir:

( (∑ ))
T
det E X '¿ X ¿ ≠ 0 (8)
t=1
39

5 AVALIANDO OS RESULTADOS: MODELO MACRO FUNDAMENTADO

Como dito anteriormente, foram estimados modelos de efeito fixo e efeito


aleatório. A princípio, é relevante notar que os coeficientes das três variáveis tiveram
os sinais esperados, no entanto, nossa variável de interesse é significante a níveis
aceitáveis apenas nas regressões com estimador de efeito fixo.
Mas antes de afirmarmos que o efeito da educação no crescimento depende
do estimador que utilizamos, cabe testar se o estimador de efeito aleatório é
realmente consistente. Sabemos que ele será consistente se:

E ( X ¿ A i )=0 , ∀ t , s (9)

Logo, podemos testar se essa hipótese é realmente válida por meio de um


teste de Hausmann. Para que o teste possa ser realizado, precisamos que as
hipóteses definidas na especificação do modelo sejam verdadeiras sob hipótese
nula e também precisamos assumir que:

E ¿) = 0, ∀t (10)

E ( A 2i ) =0 (11)
40

Assim, podemos realizar o teste de Hausmann, sob a hipótese nula de que


efeito fixo não se relaciona com as variáveis explicativas e que por isso, os
estimadores de efeito fixo e efeito aleatório são assintoticamente equivalentes.
Como observado na figura 1, rejeitamos nossa hipótese nula, o que faz
bastante sentido uma vez que o estimador de efeito fixo retira o efeito da tecnologia
do modelo, o qual possivelmente está correlacionado com o nível de capital humano
e físico de cada indivíduo.
E, portanto, faz mais sentido concentramos nossa discussão nos coeficientes
estimados pelo modelo de efeito fixo. Mais precisamente, na estimação de número
2, a qual foi corrigida por uma matriz de variância-covariância robusta a correlação
serial e heterocedasticidade.
Nela, percebe-se que o capital humano, apesar de ter um efeito dez vezes
menor que o do estoque de capital físico, é significante. Além disso, é extremamente
interessante que com um modelo tão simples como esse, com apenas três inputs
consiga-se explicar quase 70% da variância do PIB per capta.

Tabela 2 – Relação entre crescimento e educação macro fundamentada


Variável Dependente: PIB per capta
FE FE Robusto RE RE Robusto
ln Stock 0,588*** 0,588*** 0,610*** 0,610***
(dp) (0,015) (0,027) (0,025) (0,014)
ln Educação 0,051*** 0,051** 0,027 0,027*
(dp) (0,016) (0,022) (0,020) (0,014)
ln População -0,843*** -0,843*** -0,726*** -0,726***
(dp) (0,040) (0,059) (0,034) (0,021)
Constante 3,324*** 3,324***
(dp) (0,292) (0,180)
Observações 1070 1070 1070 1070
R² 0,715 0,715 0,768 0,768
R² ajustado 0,679 0,679 0,767 0,767
Estatística F 793,035*** 793,035*** 3.519,853*** 3.519,853***
Nota: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01
Fonte: Elaboração própria, 2022.
41

Tabela 3 - Teste de Hausman


Modelo Estatística χ 2 P-valor
−16
PIB per capta = ln Stock + ln Educação + ln 144,75 ≤ 2 ,2∗10
População
Fonte: Elaboração propria, 2022.

Figura 1 – Condicional em estoque de capital e população (FE)

Fonte: Elaboração própria, 2022.

Figura 2 – Condicional em estoque de capital e população (RE)


42

Fonte: Elaboração própria, 2022.

5.1 RESULTADO MODELO ADPATADO

Nessa estimação, feita por pooled OLS, novamente todos os coeficientes, na


regressão (1) vieram com os sinais esperados. Nesse contexto, o primeiro resultado
a se observar é justamente a diferença entre as regressões (1) e (2), nelas a relação
do capital humano, medido pela porcentagem de pessoas com ensino superior
completo no pais, com o PIB per capta, muda de exponencial em (1), para linear em
(2), contudo essa mudança não parece ter grande influência sob a estimação.
A proxy para tecnologia mostrou-se significante e com sinal correto em 3 das
quatro regressões, além disso, quando se fez uma regressão com e sem a
expectativa de vida - tabela com regressão está contida no apêndice – pode-se ver
que, de fato a tecnologia está sim correlacionada com educação, pois quando a
adicionamos no modelo, o coeficiente de capital humano diminui.
Ademais, a variável de PIB per capta no ano de 1970, início da amostra, em
nível e ao quadrado, mostraram não uma convergência em PIB per capta, mas sim
uma divergência. Esse era o resultado esperado, uma vez que corrobora não só
com dados dos últimos 50 anos que mostram que a disparidade renda entre os
países ao invés de diminuir ao longo do tempo, está aumentando, mas também com
grande parte dos modelos teóricos de macroeconomia de longo prazo, como o AK, o
de Variedade de produtos e o Schumpeteriano nos quais não há convergência de
PIB per capta, isso pode ser visto de maneira mais detalhada em (ROMER, 1986).
43

Em se tratando das dummies de região, na regressão (3), todas vieram com os


sinais corretos, mesmo que apenas uma delas, a dummy de África seja significante.
Quanto ao sinal, faz sentido que seja negativo, uma vez que essas regiões,
principalmente por problemas institucionais como alta corrupção, instabilidades
políticas e até guerras e de infraestrutura, como a falta de um modal rodoviário
eficiente e que interligue o país, acabam por ter uma produtividade menor. Além de
conseguir atrair menos investimento devidos aos riscos de se investir em países em
que há risco de expropriação da propriedade privada. No caso do Leste Europeu,
ainda é importante citar os anos sob regimes socialistas que fecharam a economia
desses países, deprimindo-a no longo prazo.
Nesse panorama, é razoável que a África seja a região com o maior
coeficiente e também a mais significante, uma vez que é lugar que mais sofre com
todos os fatores levantados acima - possuindo um grande número de governos
autoritárias, alta concentração de renda, e países em constante conflito interno, além
de ser a região que mais foi utilizada como colônia de extração pelos europeus, que
deixaram péssimas instituições nos países que ocuparam.
Quanto às dummies de países produtores de petróleo e a de população
menor que 3 milhões de habitantes, não se pode afirmar muito sobre seus
resultados, pois foram incluídas para controlar certos efeitos que enviesariam nossa
estimação, além de que elas incluem países muitas vezes em continentes e
realidade muito diferentes. Um dos resultados mais interessantes nesse modelo é o
contido na regressão (5), ao incluirmos o nível de capital humano

Tabela 4 – Relação entre crescimento e educação


Variável Dependente: PIB per capta
FE FE Robusto RE RE Robusto
ln Stock 0,476*** 0,477*** 0,479*** 0,460***
(dp) (0,015) (0,015) (0,015) (0,015)
Educação 1,811*** 1,757*** 1,696***
(dp) (0,292) (0,293) (0,319)
ln Educação 0,070***
(dp) (0,012)
ln População -0,498*** -0,500*** -0,503*** -0,457***
(dp) (0,017) (0,017) (0,017) (0,019)
44

PIB per capta 1970 0,282*** 0,218*** 0,304*** 0,003


(dp) (0,106) (0,107) (0,109) (0,117)
PIB per capta 1970² 0,003 0,007 0,002 0,019***
(dp) (0,006) (0,006) (0,006) (0,006)
Expectativa 0,166*** 0,123*** 0,142*** 0,075
(dp) (0,052) (0,054) (0,054) (0,053)
África -0,060** 0,013
(dp) (0,029) (0,031)
América Latina -0,046 -0,069*
(dp) (0,039) (0,040)
Leste Europeu -0,048 -0,071**
(dp) (0,034) (0,036)
Petróleo -0,033
(dp) (0,057)
Tresmi 0,079**
(dp) (0,038)
Educação 1970 0,126***
(dp) (0,021)
Educação 1970² -0,009***
(dp) (0,002)
Constante 0,917** 1,738*** 0,948* 2,331***
(dp) (0,457) (0,507) (0,487) (0,523)
Observações 1070 1070 1070 1070
R² 0,926 0,926 0,927 0,930
R² ajustado 0,926 0,925 0,926 0,930
Estatística F 2.219,333*** 2.204,251*** 1.484,674*** 1.086,032***
Nota: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01
Fonte: Elaboração própria, 2022.

Figura 3 – Condicional em estoque de capital e população (Pooled OLS)


45

Fonte: Elaboração Própria, 2022.

em 1970 em nível e ao quadrado, obtivemos um retorno marginal decrescente,


mesmo que pequeno, na educação.

CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo demonstrar a relação existente entre a


Teoria do Capital Humano, o crescimento econômico e o desenvolvimento da
educação, tendo como problema central a observância dos impactos da
escolaridade nacional no processo produtivo e desenvolvimento econômico.
Inúmeras tem sido as explicações utilizadas para a promoção do crescimento
econômico, e elas com toda a certeza, remetem ás discussões dos pais da
economia enquanto ciencia. Assim, ao definir o papel de fatores de produção,
ou seja, capital, tecnologia e mão-de-obra, bem como a sua contribuição para o
crescimento produtivo, estariam assentados nas bases para compreensão da
ligação entre ganhos produtivos e crescimento econômico. Baseado nos
46

pensamentos neoclássicos, a ênfase recaia diretamente na relevância do capital


físico e de ganhos tecnológicos para explicar o crescimento das nações
Tendo em vista os dois modelos estimados nesse artigo, um totalmente
fundamentado em um modelo simples de macroeconomia de longo prazo e o outro
um modelo adaptado desse primeiro que leva em consideração discussões
levantadas por diversos autores não só acerca da melhor maneira de estimar como
a educação influencia no PIB per capta do país, como também, maneiras mais
eficientes de controlar por algumas variáveis que não estão presentes nas equações
teóricas do assunto, com o intuito de melhorar a estimação.
Pode-se observar que em ambos os modelos foram obtidos resultados
interessantes na principal variável de interesse, a qual sempre teve seu sinal positivo
e mostrou-se na maioria das equações extremamente significativa. Portanto, se
considerarmos que as hipóteses dos modelos são válidas chegamos a algumas
conclusões.
A princípio cabe destacar que a educação é sim importante para o
desenvolvimento de um país. Além disso, foi visto que os países estão divergindo
em PIB per capta, o que pode indicar um aumento da desigualdade no mundo.
Ademais, o nível de tecnologia, e a região em que o país se encontra também são
fatores decisivos em sua evolução.

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6 Apêndice

Tabela 5 – Relação entre crescimento e educação


pibpercap
(1) `(2)
lnstock 0,488*** 0,477***
(0,042) (0,015)
educ 1,931*** 1,811***
(0,556) (0,292)
lnpop -0,509*** -0,498***
51

(0,047)
(0,017)
Expectativa - 0,166***
- (0,052)
Constante 1,325*** 0,917***
(0,632) (0,457)
Observações 1070 1070
R² 0,853 0,926
R² ajustado 0,853 0,926
Nota: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01
Fonte: Elaboração própria, 2022.

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