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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO EM SISTEMAS CONSTRUTIVOS DA


VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA COMO SUBSÍDIO PARA A ESCOLHA DE
TECNOLOGIAS APROPRIADAS EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

ELIANE MÜLLER SERAPHIM DUMKE

Dissertação apresentada como requisito parcial


à obtenção do grau de Mestre em Tecnologia.
Linha de pesquisa: Tecnologia e
Desenvolvimento. Programa de Pós-Graduação
em Tecnologia, Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Leite Krüger

CURITIBA
2002
ELIANE MÜLLER SERAPHIM DUMKE

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO EM SISTEMAS CONSTRUTIVOS DA


VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA COMO SUBSÍDIO PARA A ESCOLHA DE
TECNOLOGIAS APROPRIADAS EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

Dissertação apresentada como requisito parcial


à obtenção do grau de Mestre em Tecnologia.
Linha de pesquisa: Tecnologia e
Desenvolvimento. Programa de Pós-Graduação
em Tecnologia, Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Leite Krüger

CURITIBA
2002
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Paulo e Ingrid Seraphim, pelo incentivo e pelo apoio incondicional.
Ao Paulo e aos nossos filhos Roberto e Heloisa, pelo carinho e pela compreensão, sem
os quais este trabalho não teria sido possível.
Ao Professor Dr. Eduardo Leite Krüger, pela orientação generosa e competente, bem
como pela paciência, durante a realização desta pesquisa.
Ao Professor Dr. Fernando Oscar Ruttkay Pereira, do Laboratório de Conforto
Ambiental (LABCON) e ao Professor Dr. Roberto Lamberts, do Núcleo de Pesquisa em
Construções, Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (NPC/LABEEE) da
Universidade Federal de Santa Catarina, pelo empréstimo dos aparelhos de medição. À Msc.
Ana Lígia Papst, pela atenção despendida.
Ao Professor Dr. Vicente Roberto Dumke pelo incentivo, pela disponibilidade e pelos
valorosos conselhos.
Ao Professor Dr. Jair Mendes Marques, da Universidade Tuiuti do Paraná pela
consultoria na área de estatística.
Ao Professor Ely C. Aguiar, à Companhia de Habitação Popular de Curitiba
(COHAB-CT), ao Instituto de Pesquisa e Assessoria Tecnológica do Paraná da Pontifícia
Universidade Católica (INTEC/PUCPR), às construtoras das moradias e aos senhores Gelson
Gubert e Friedrich Koelle, por terem cedido material para esta pesquisa.
Aos colegas Ariel Orlei Michaloski e Rodrigo Espíndola, pelo auxílio prestado na
instalação dos equipamentos e no levantamento de dados.
À Mestre Elisabeth Prosser, pela revisão dos originais.
À equipe de apoio de informática do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do
CEFET-PR, pelos inúmeros esclarecimentos.
À Universidade Tuiuti do Paraná, financiadora de parte desta pesquisa e pelo apoio da
Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, na pessoa do Sr. Romildo Roseno da
Silva.
Aos moradores da Vila Tecnológica, que nos permitiram a instalação dos data-loggers
para a realização deste trabalho.
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SÍMBOLOS
RESUMO
ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................14

2 TECNOLOGIAS APROPRIADAS E ARQUITETURA


BIOCLIMÁTICA.......................................................................................................22
2.1 TECNOLOGIAS APROPRIADAS........................................................................22
2.1.1 O Problema da Habitação Social e a
Política Habitacional Brasileira.................................................................22
2.1.2 Tecnologia.....................................................................................................24
2.1.3 Conceito de Tecnologias Apropriadas.......................................................28
2.1.4 Construção Sustentável: Aplicação de Tecnologias Apropriadas na
Habitação de Interesse Social.....................................................................31
2.2 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA.....................................................................36
2.2.1 A Evolução do Abrigo: Adequação da Arquitetura ao Clima.................37
2.2.2 Estudos Precedentes a cerca do Conforto Térmico..................................49
2.2.3 Princípios da Concepção Bioclimática.......................................................70

3 MATERIAIS E MÉTODO......................................................................................76
3.1 PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA A AVALIAÇÃO DE
DESEMPENHO TÉRMICO NA VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA.....76
3.1.1 Descrição do Equipamento Utilizado.........................................................77
3.1.2 Desenvolvimento da Avaliação de Desempenho.......................................78
3.2 PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA A
AVALIAÇÃO PARAMÉTRICA..........................................................................81
3.2.1 Desenvolvimento da Avaliação Paramétrica...............................................82

4 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO NA


VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA............................................................86
4.1 OBJETO DE ESTUDO: A VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA...............86
4.1.1 O PROTECH..............................................................................................86
4.1.2 As Vilas Tecnológicas.................................................................................89
4.1.3 A Vila Tecnológica de Curitiba.................................................................91
4.1.4 Descrição dos Sistemas Construtivos Avaliados......................................95
4.1.4.1 MLC-Engenharia e Construções Ltda.......................................96
4.1.4.2 Battistella Industria e Comércio Ltda.......................................98
4.1.4.3 Kürten Madeiras e Casas Pré-Fabricadas..............................100
4.1.4.4 3P-Construções e Incorporações Ltda.....................................102
4.1.4.5 Constroyer-Construções e Empreendimentos Ltda. e
Cabrini Construção Metálica Ltda. ........................................104
4.1.4.6 Construtora Andrade Gutierrez S.A. .....................................106
4.1.4.7 Todeschini Construções e Terraplanagem Ltda.....................108
4.1.4.8 Epotec-Paraná Indústria e Comércio de Casas
Pré-Fabricadas Ltda.................................................................110
4.1.4.9 ABC-Construtora S.A...............................................................112
4.1.4.10 Eternit S.A. e Wagner S.A........................................................114
4.1.4.11 Construtora Andrade Ribeiro Ltda.........................................116
4.1.4.12 Facicasas-Indústria, Comércio e Importação de
Madeiras Ltda..........................................................................118
4.1.4.13 Paineira Construção e Urbanismo Ltda.................................120
4.1.4.14 Construtora José Tureck Ltda.................................................122
4.1.4.15 COHAB-PA – Companhia de Habitação do
Estado do Pará...........................................................................124
4.1.4.16 Castellamare Construções Ltda...............................................126
4.1.4.17 Tetolar Indústria e Comércio de Artefatos de
Concreto Ltda...........................................................................128
4.1.4.18 CHJ Incorporadora e Construtora Ltda. ..............................130
4.1.5 Tabela-resumo dos Sistemas Construtivos.............................................132
4.2 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA LOCAL.....................................................133
4.2.1 O Clima de Curitiba.................................................................................135
4.2.2 A Diagrama Bioclimático de Givoni para Curitiba...............................137
4.2.3 Recomendações da Norma de Desempenho Térmico para a
Zona Bioclimática 1..................................................................................139
4.3 MONITORAMENTO TÉRMICO DAS MORADIAS......................................140
4.3.1 Cuidados na Instalação dos Aparelhos de Medição..............................140
4.3.2 Períodos de Monitoramento....................................................................142
4.4 RESULTADOS OBTIDOS...................................................................................142
4.4.1 Variação das Temperaturas Internas.....................................................142
4.4.2 Análise Bioclimática.................................................................................147
4.4.3 Temperaturas Mínimas, Médias e Máximas..........................................150
4.4.4 Somatório de Graus-hora........................................................................152
4.4.5 Análise dos Resultados.............................................................................155

5 AVALIAÇÃO PARAMÉTRICA........................................................................160
5.1 COMPARAÇÃO COM A NORMA DE DESEMPENHO TÉRMICO
DE EDIFICAÇÕES................................................................................................160
5.2 CÁLCULO DAS CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS DOS
SISTEMAS CONSTRUTIVOS.............................................................................161
5.2.1 Procedimentos de Cálculo..........................................................................162
5.2.2 Cálculo das Características Termofísicas das Paredes:
Valores “Originais e Equivalentes”...........................................................167
5.2.3 Cálculos das Características Termofísicas da Cobertura.......................169
5.2.4 Comparações entre as Características Termofísicas dos Materiais
e as Porcentagens de Conforto..................................................................170
5.2.5 Comparações entre as Características Termofísicas dos Materiais
e os Somatórios de Graus-hora.................................................................176
5.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO................................................................................182
5.4 ESTIMATIVA DAS HORAS DE SOL................................................................184
5.5 AVALIAÇÃO PARAMÉTRICA..........................................................................186
5.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS..........................................................................188

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................191

REFERÊNCIAS ..............................................................................................................200

APÊNDICES
A Aferição dos equipamentos de medição................................................................206
B Tabelas de ocupação, ventilação e equipamentos.................................................207
C Exemplo de gráfico e relatório elaborados com o software ANALYSIS............217
D Exemplo de cálculo das características termofísicas............................................219
E Exemplo de análise de sombreamento...................................................................226
F Teste de significância para a Correlação Linear..................................................227
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – CABANAS PRIMITIVAS E A ORIGEM DA ARQUITETURA SEGUNDO


CHAMBERS APUD GALFETTI (1995)......................................................................39
FIGURA 2 – DIAGRAMA DE ILUMINAÇÃO SOLAR COMPLETA E MÁXIMO
APROVEITAMENTO DE RAIOS SOLARES DE ALEXANDER KLEIN................44
FIGURA 3 – INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA AMBIENTAL SOBRE AS
PAUSAS NO TRABALHO E A FREQÜÊNCIA DE ACIDENTES,
EM UMA TAREFA DE CARREGAMENTO DE CARVÃO,
SEGUNDO BEDFORD E VERNON.......................................................................... 50
FIGURA 4 – LINHAS DE TEMPERATURA EFETIVA SOBRE
DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO, SEGUNDO HOUGHTON E YAGLOU................ 51
FIGURA 5 – EXEMPLO DE UTILIZAÇÃO DO NOMOGRAMA DA
TEMPERATURA EFETIVA CORRIGIDA............................................................... 52
FIGURA 6 – NOMOGRAMA DE ÍNDICE DE CONFORTO EQUATORIAL,
SEGUNDO WEBB........................................................................................................54
FIGURA 7 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO DE VICTOR OLGYAY (1963)................................55
FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE O VOTO MÉDIO ESTIMADO E A
PORCENTAGEM DE PESSOAS INSATISFEITAS...................................................57
FIGURA 9 – AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA PARA CURITIBA POR MEIO DA
PLOTAGEM DE DADOS HORÁRIOS DO ANO CLIMÁTICO DE
REFERÊNCIA (O TRY) NO DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO....................................60
FIGURA 10 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO ORIGINAL E SUAS
ESTRATÉGIAS DE CONDICIONAMENTO TÉRMICO PASSIVO.........................68
FIGURA 11 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO ADAPTADO E SUAS
ESTRATÉGIAS DE CONDICIONAMENTO TÉRMICO PASSIVO.........................69
FIGURA 12 – HOBO DATA LOGGER................................................................................................77
FIGURA 13 – VISTA PANORÂMICA DA VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA.......................91
FIGURA 14 – IMPLANTAÇÃO DA VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA.................................92
FIGURA 15 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 1, MLC............97
FIGURA 16 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 2,
BATTISTELLA.............................................................................................................99
FIGURA 17 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 3,
KÜRTEN.....................................................................................................................101
FIGURA 18 – PLANTA, CORTE E DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO 4, 3 P...............103
FIGURA 19 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 5,
CONSTROYER...........................................................................................................105
FIGURA 20 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 6,
ANDRADE GUTIERREZ..........................................................................................107
FIGURA 21 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 7,
TODESCHINI.............................................................................................................109
FIGURA 22 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 8,
EPOTEC......................................................................................................................111
FIGURA 23 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 9, ABC..........113
FIGURA 24 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 10,
ETERNIT.....................................................................................................................115
FIGURA 25 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 11,
ANDRADE RIBEIRO.................................................................................................117
FIGURA 26 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 12,
FACICASAS................................................................................................................119
FIGURA 27 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 13,
PAINEIRA...................................................................................................................121
FIGURA 28 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 14,
JOSÉ TURECK...........................................................................................................123
FIGURA 29 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 15,
COHAB-PARÁ............................................................................................................125
FIGURA 30 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 16,
CASTELLAMARE.....................................................................................................127
FIGURA 31 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 17,
TETOLAR....................................................................................................................129
FIGURA 32 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 18, CHJ.........131
FIGURA 33 – ZONEAMENTO BIOCLIMÁTICO BRASILEIRO...................................................133
FIGURA 34 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO DE GIVONI (1992):
AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA PARA CURITIBA MEDIANTE A
PLOTAGEM DE DADOS HORÁRIOS DO ANO CLIMÁTICO DE
REFERÊNCIA (O TRY), NO DIAGRAMA PSICROMÉTRICO.............................138
FIGURA 35 – DATA LOGGER HOBO INSTALADO NO INTERIOR DA CASA
DO SISTEMA CONSTRUTIVO 8, EPOTEC.............................................................140
FIGURA 36 – NORTE VERDADEIRO E MAGNÉTICO, PARA CURITIBA-2000.......................141
FIGURA 37 – CARTA SOLAR PARA LATITUDE 26ºSUL, FACHADA SUDESTE....................141
FIGURA 38 – DESENHO DA PROTEÇÃO DOS EQUIPAMENTOS.............................................142
FIGURA 39 – DADOS DE TEMPERATURA PARA O PERÍODO DE INVERNO........................143
FIGURA 40 – DADOS DE TEMPERATURA PARA O PERÍODO DE VERÃO............................143
FIGURA 41 – TEMPERATURA DAS TECNOLOGIAS DE MELHOR E PIOR
DESEMPENHO TÉRMICO PARA O PERÍODO DE INVERNO............................146
FIGURA 42 – TEMPERATURA DAS TECNOLOGIAS DE MELHOR E PIOR
DESEMPENHO TÉRMICO PARA O PERÍODO DE VERÃO................................146
FIGURA 43 – PORCENTAGENS DE CONFORTO E TEMPERATURAS
MÍNIMAS, MÉDIAS E MÁXIMAS – INVERNO....................................................150
FIGURA 44 – PORCENTAGENS DE CONFORTO E TEMPERATURAS
MÍNIMAS, MÉDIAS E MÁXIMAS – VERÃO........................................................150
FIGURA 45 – GRAUS-HORA E MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÍNIMAS – INVERNO.... 153
FIGURA 46 – GRAUS-HORA E MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS – VERÃO........153
FIGURA 47 – PORCENTAGENS DE CONFORTO,
TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E COBERTURAS E
RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO..............................171
FIGURA 48 – PORCENTAGENS DE CONFORTO,
ATRASO TÉRMICO (ϕ) DAS PAREDES E COBERTURAS E
RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO..............................171
FIGURA 49 – PORCENTAGENS DE CONFORTO,
FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E COBERTURAS E
RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – INVERNO...............................172
FIGURA 50 – PORCENTAGENS DE CONFORTO,
TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E COBERTURAS E
RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – VERÃO..................................173
FIGURA 51 – PORCENTAGENS DE CONFORTO,
ATRASO TÉRMICO (ϕ) DAS PAREDES E COBERTURAS E
RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – VERÃO..................................174
FIGURA 52 – PORCENTAGENS DE CONFORTO,
FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E COBERTURAS E
RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – VERÃO...................................174
FIGURA 53 – GRAUS-HORA, TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E COBERTURAS
E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO..........................177
FIGURA 54 – GRAUS-HORA, INÉRCIA TÉRMICA (ϕ) DAS PAREDES E COBERTURAS
E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO..........................177
FIGURA 55 – GRAUS-HORA,
FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E COBERTURAS
E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – INVERNO............................178
FIGURA 56 – GRAUS-HORA, TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E COBERTURAS
E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – PERÍODO DE VERÃO......179
FIGURA 57 – GRAUS-HORA, INÉRCIA TÉRMICA (ϕ) DAS PAREDES E COBERTURAS
E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – VERÃO..............................180
FIGURA 58 – GRAUS-HORA, FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS
PAREDES E COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA
NORMA (UFSC, 1998) – VERÃO..............................................................................180
FIGURA 59 – GRÁFICO COM AS CORRELAÇÕES ENCONTRADAS.......................................187
FIGURA 60 – GRÁFICO DA AFERIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO.....................206
FIGURA 61 – ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DE INVERNO:
SISTEMA CONSTRUTIVO MLC..............................................................................217
FIGURA 62 – ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DE VERÃO:
SISTEMA CONSTRUTIVO MLC..............................................................................218
FIGURA 63 – PAREDE DE PAINÉIS DE CONCRETO ARMADO
COM CAMADA ISOLANTE DE BLOCOS CERÂMICOS –
– DESENHO EQUIVALENTE PARA CÁLCULO...................................................219
FIGURA 64 – DETALHE DA LAJE MISTA PRÉ-MOLDADA......................................................221
FIGURA 65 – SOMBREAMENTO DA MORADIA DE SISTEMA CONSTRUTIVO 1, MLC,
PARA FACHADAS DE TODAS AS ORIENTAÇÕES:
NOROESTE, SUDESTE, NORDESTE E SUDOESTE..............................................226
FIGURA 66 – TESTE DE Ho: ρ = 0...................................................................................................229
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – OS SISTEMAS CONSTRUTIVOS............................................................................132


TABELA 2 – ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS PARA O CLIMA DE CURITIBA,
CONFORME O SOFTWARE ANALYSIS [%]..........................................................138
TABELA 3 – TABELA-RESUMO INVERNO................................................................................147
TABELA 4 – TABELA-RESUMO VERÃO....................................................................................148
TABELA 5 – TRANSMITÂNCIA TÉRMICA, ATRASO TÉRMICO (ABNT 2002)
E FATOR DE CALOR SOLAR (UFSC, 1998) ADMISSÍVEIS PARA
VEDAÇÕES EXTERNAS NA ZONA BIOCLIMÁTICA 1.....................................161
TABELA 6 – VALORES DAS CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS
“ORIGINAIS” E “EQUIVALENTES” PARA AS
PAREDES EXTERNAS DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS................................168
TABELA 7 – VALORES DAS CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS
PARA AS COBERTURAS DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS
NO INVERNO E NO VERÃO...................................................................................169
TABELA 8 – COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DA
PORCENTAGEM DE HORAS EM CONFORTO OU DESCONFORTO
E DOS PARÂMETROS ANALISADOS PARA INVERNO E VERÃO..................183
TABELA 9 – SOMATÓRIO DE HORAS DE SOL (nI) DE CADA MORADIA
E SOMATÓRIO DO PRODUTO DAS HORAS DE SOL PELA
PORCENTAGEM DE ÁREA ENVIDRAÇADA DAS FACHADAS
DE CADA MORADIA (nI%VIDRO) NOS DOIS SOLSTÍCIOS.............................185
TABELA 10 – COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DA PORCENTAGEM
DE HORAS EM CONFORTO E DOS PARÂMETROS ANALISADOS................186
TABELA 11 – COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DE GRAUS-HORA
E DOS PARÂMETROS ANALISADOS...................................................................186
TABELA 12 – COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DAS
MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÍNIMAS E MÁXIMAS
E DOS PARÂMETROS ANALISADOS...................................................................186
TABELA 13 – INVERNO – OCUPAÇÃO [%]: DIAS DE SEMANA...............................................207
TABELA 14 – INVERNO – OCUPAÇÃO [%]: SÁBADO................................................................208
TABELA 15 – INVERNO – OCUPAÇÃO [%]: DOMINGO.............................................................209
TABELA 16 – VERÃO – OCUPAÇÃO [%]: DIA DE SEMANA.....................................................210
TABELA 17 – VERÃO – OCUPAÇÃO [%]: SÁBADO....................................................................211
TABELA 18 – VERÃO – OCUPAÇÃO [%]: DOMINGO.................................................................212
TABELA 19 – INVERNO – TAXAS DE VENTILAÇÃO [%]: DIA TÍPICO...................................213
TABELA 20 – VERÃO – TAXAS DE VENTILAÇÃO [%]: DIA TÍPICO.......................................214
TABELA 21 – INVERNO – USO DE EQUIPAMENTOS [W]: DIA TÍPICO.................................215
TABELA 22 – VERÃO – USO DE EQUIPAMENTOS [W]: DIA TÍPICO......................................216
LISTA DE SÍMBOLOS

Símbolo Conceito Unidade


R – Resistência térmica (m2.K)/W
e – Espessura da camada de material m
λ – Condutividade térmica W/(m.K)
Rsi – Resistência superficial interna (m2.K)/W
Rse – Resistência superficial externa (m2.K)/W
RT – Resistência térmica total de ambiente a ambiente (m2.K)/W
Rt – Resistência térmica de superfície-a-superfície do
componente (m2.K)/W
U – Transmitância térmica ou
Coeficiente global de transferência de calor W/(m2.K)
c – Calor específico kJ/(kg.K)
CT – Capacidade térmica de componentes kJ/(m2.K)]
ρ – Densidade de massa aparente kg/m3
ϕ – Inércia térmica ou Atraso térmico h
FS – Fator de calor solar adimensional
T – Temperatura Celsius °C
TBS – Temperatura de bulbo seco °C
TBU – Temperatura de bulbo úmido °C
Tb – Temperatura-base °C
ΣºC*h – Somatório de graus-hora °C.h
Ig – Radiação Solar Global Incidente W/m2
nI – Somatório das horas de Sol das fachadas de cada moradia,
conforme sua orientação e a data h
nI%vidro – Porcentagem das horas de Sol em relação às superfícies
envidraçadas da fachada, conforme sua orientação e a data %
r – Coeficiente de correlação adimensional
UA – Umidade absoluta do ar g vapor/kg ar seco
UR – Umidade relativa do ar %
α – Absortância à radiação solar adimensional
RESUMO

A construção de moradias para a população de baixa renda nos países em desenvolvimento


envolve uma série de questões partindo da escolha do local do empreendimento até a fase de
construção e, finalmente, da avaliação da própria moradia. Em climas tropicais, a avaliação de
Habitações de Interesse Social deveria estar primeiramente relacionada ao desempenho
térmico e à otimização das condições internas de conforto. No Brasil, os programas
habitacionais vêm sendo implementados em todo o território nacional de forma padronizada.
Assim, o mesmo sistema construtivo é adotado em cidades com características muito
distintas, sem nenhuma relação com as condições climáticas locais. Para corrigir essas
distorções e com o objetivo de promover o desenvolvimento de padrões que proporcionem a
adequação das construções ao clima, projetos como o de normalização em conforto ambiental
vêm sendo desenvolvidos no país. A Vila Tecnológica de Curitiba, a primeira a ser
implantada no Brasil, é composta de cem moradias habitadas e vinte casas em exposição para
o público, na chamada Rua das Tecnologias, construídas com diferentes materiais e sistemas
construtivos. Esta pesquisa consiste numa avaliação do desempenho térmico de dezoito desses
sistemas construtivos, efetivamente oferecidos para a população. As moradias estiveram
ocupadas durante os períodos de monitoramento, nos quais foram realizadas medições da
temperatura do ar e da umidade relativa, para condições de inverno e de verão. Os dados
coletados foram então comparados com parâmetros específicos baseados nas recomendações
da Norma de Desempenho Térmico em Habitação de Interesse Social. Por fim, com o
objetivo de subsidiar a referida Norma e como etapa conclusiva da pesquisa, foi realizada uma
avaliação paramétrica, na qual as variáveis de transmitância, atraso térmico e fator de calor
solar dos fechamentos (paredes externas e coberturas) foram avaliadas estatisticamente quanto
ao seu grau de influência no desempenho térmico das habitações.
ABSTRACT

Low-cost housing projects in developing countries encompasses a broad range of issues


starting from the choice of the building site, to the construction phase and finally to the
evaluation of the building itself. For tropical climates, the thermal evaluation of low-cost
dwellings should be primarily related to the optimization of internal comfort conditions.
Usually low-cost housing projects are implemented in the same way throughout Brazil,
without concern to the climatic region. In this way, the same building system is applied in
cities with very distinct characteristics. To correct these distortions, research projects such as
the Normalização em Conforto Ambiental are being developed in Brazil, with the aim of
helping to establish standards which promote buildings that are adequate for the climate. The
Technological Village of Curitiba, the first to be implemented in Brazil, consists of one
hundred occupied houses, and twenty houses in the Street of Technologies which are
displayed for public visitation, built with different materials and building systems. The first
step of the present research consisted of a thorough evaluation of the thermal performance of
the Village’s eighteen different building systems. The houses were occupied during the
monitoring of air temperature and relative humidity, which were carried out in winter and in
summer. Measured data were then compared to specific parameters based on the
recommendations of the Brazilian Comfort Norm. The last step of the research was to perform
a parametric analysis of wall and roof transmittance, inertia and solar factor and, by doing so,
subsidize the development of the referred Norm. In this analysis, statistical evaluations were
performed in order to verify the influence of the mentioned parameters in the thermal
performance of low-cost houses.
14

1 INTRODUÇÃO

A avaliação de sistemas construtivos para a habitação social tem como objetivo buscar
soluções eficientes para o considerável déficit habitacional brasileiro de aproximadamente 5
milhões de unidades habitacionais, aumentado pelo crescimento acelerado da população de
baixa renda nos grandes centros urbanos. As dimensões desta questão atingem também vários
outros países: “no começo do século XXI, os habitantes de baixa renda das cidades do terceiro
mundo formarão a nova maioria da população do globo terrestre” (SACHS, 1996, p. 53). As
moradias existentes, insuficientes, geralmente de baixa qualidade e inadequadas às condições
locais, agravam ainda mais esta situação.
No Brasil, os programas para Habitação de Interesse Social vêm sendo implementados
em todo o território nacional segundo um modelo preestabelecido, sem haver uma
preocupação com especificidades regionais. Assim, uma mesma tipologia de projeto e sistema
construtivo é adotada em cidades com características muito distintas, sendo desconsiderada a
grande diversidade sócio-econômica, cultural, climática e tecnológica entre as diferentes
regiões do Brasil. Desta forma, resultam em construções de baixa qualidade construtiva que
não atendem às necessidades de seus usuários.
Dentre os muitos fatores que regem o processo construtivo, a sustentabilidade é um
aspecto novo, que requer maior relacionamento entre profissionais participantes do processo,
com maior conhecimento dos fundamentos de construção sustentável e dentro de um enfoque
de projeto mais integrado. A partir de objetivos ecológicos para o produto final, dever-se-ia
buscar alternativas, materiais e métodos que permitissem o controle de diversas variáveis
como custo, durabilidade, manutenção, fatores de saúde, conforto termo-higrométrico e
tecnologia (CIB-AGENDA 21, 2000). A busca de soluções para a construção de habitações de
interesse social, compatíveis com a chamada visão sistêmica, holística ou ecológica, aponta
para a utilização do conceito de Tecnologia Apropriada (TA).
O que se pretende no presente trabalho é avaliar alternativas de projeto para habitação
popular em Curitiba, sob o aspecto do desempenho térmico, um dos mais importantes critérios
para seleção e avaliação de TA específicas em habitação. Conforme Tudela (apud
ESPÍNDOLA et al., 1997, p.16), esses critérios são:
•= “adaptação geográfica;
•= conforto térmico;
15

•= emprego de materiais locais;


•= efeitos sobre o ecossistema local, a água e a atmosfera;
•= aproveitamento de capacidades locais;
•= efeito sobre as culturas locais;
•= participação da comunidade;
•= possibilidade de ampliação e melhoria;
•= custos; e
•= viabilidade financeira”.
O conforto térmico é um dos requisitos básicos para que os ambientes apresentem o
melhor nível possível de habitabilidade. Sua importância relaciona-se não só à sensação de
conforto dos seus usuários, como também ao seu desempenho no trabalho e à sua saúde. Os
limites da sobrevivência, dependendo do tempo de exposição das pessoas às condições termo-
ambientais, definem uma faixa bastante larga de temperatura. Já os limites da saúde são bem
mais estreitos, sendo os de conforto ainda mais. A condição de conforto é obtida mediante o
efeito conjugado e simultâneo de um complexo conjunto de fatores objetivos como os
elementos do clima (temperatura do ar, umidade relativa, movimento do ar e radiação), a
vestimenta, e outros, de caráter subjetivo (aclimatação, forma e volume do corpo, cor,
metabolismo etc). O efeito conjugado destes parâmetros, quando produz sensações térmicas
agradáveis, é denominado zona de conforto, e seu estudo é de suma importância para o
condicionamento térmico natural das edificações, ou Arquitetura Bioclimática (RORIZ,
1987).
A adaptação dos povos ao meio natural tem sido o fator determinante das formas de se
construir, bem como da tipologia e do uso de materiais construtivos. Desta forma, as
expressões construtivas de forte caráter regional são as que possuem estreita relação com o
seu entorno (OLGYAY, 1963).
Mas, nos últimos séculos, de modo cada vez mais intenso, a comunicação entre as
sociedades, o desenvolvimento tecnológico e as descobertas de novos materiais têm
contribuído para que o ato de construir se distancie dessa adaptação natural. Descarta-se o uso
dos materiais autóctones, dos elementos construtivos originais e das tradições locais próprias,
desprezando-se a experiência acumulada durante séculos.
Com a crise do petróleo de 1973, verificou-se a necessidade de se conservar recursos
energéticos, o que significava voltar os olhos para a arquitetura tradicional. A arquitetura
16

ecológica passou a ser almejada, como parte de um movimento maior que procura agredir
menos o meio ambiente, com vistas a garantir o bem-estar das gerações futuras.
O processo lógico é aproveitar as potencialidades da natureza e não trabalhar contra
ela, reduzindo as tensões desnecessárias do clima (OLGYAY, op. cit.). Construções que
aproveitam os recursos naturais (o Sol, o vento, a vegetação e a temperatura do ambiente),
favorecendo o conforto térmico de seus ocupantes com menor consumo de energia,
constituem a denominada Arquitetura Bioclimática, na qual, para a otimização das condições
ideais, são utilizados os próprios elementos arquitetônicos e tecnologias construtivas
(LAMBERTS et al., 1997). Desse modo, é possível tirar partido dos fenômenos naturais de
transmissão energética para obter ganhos ou perdas de calor mediante a envoltória do edifício.
“A concepção bioclimática é a arte que permite garantir que os ganhos e as perdas de calor
sejam proveitosos para os ocupantes do edifício, criando condições de conforto físico e
psicológico e limitando o uso de sistemas de calefação ou climatização” (CAMOUS &
WATSON, 1986, p.11).
A presente pesquisa situa-se no campo da Arquitetura Bioclimática e visa à aplicação
do conceito de TA em Habitação de Interesse Social.
O problema de pesquisa é, portanto, analisar tecnologias construtivas destinadas à
habitação popular no Brasil, que representem alternativas para os modelos de programas
habitacionais implementados pelo tradicionalismo e uniformismo vigentes no país,
inadequados às diferentes condições climáticas locais e, portanto, aos seus moradores. Assim,
tomando-se como referência a Vila Tecnológica de Curitiba, busca-se reconhecer quais os
sistemas construtivos nela empregados a apresentarem melhor adequação ao clima e quais os
fatores de maior influência no seu desempenho térmico.
O objetivo geral é a avaliação das condições ambientais de habitações de baixo custo
quanto à adequação das moradias à região climática onde estas são implantadas.
Os objetivos específicos são:
•= a análise de uma experiência habitacional brasileira que visava à aplicação do conceito de
Tecnologias Apropriadas: a proposta das Vilas Tecnológicas do PROTECH (Programa de
Difusão de Tecnologias para a Construção de Habitação de Baixo Custo), no que tange à
adequação climática das moradias à região onde estas se encontram;
17

•= a avaliação do desempenho térmico de dezoito moradias de diferentes sistemas


construtivos na Vila Tecnológica de Curitiba em relação às condições do clima local;
•= a investigação da influência das características termofísicas1 de seus materiais neste
desempenho, com vistas a subsidiar a Norma de Desempenho Térmico (UFSC, 1998),
ajustando ou corroborando seus limites.
Foram avaliadas moradias efetivamente habitadas na Vila Tecnológica de Curitiba,
tomando-se proveito da diversidade dos sistemas construtivos que a caracteriza. Por meio do
monitoramento in situ das condições higrotérmicas existentes nos períodos de maior
desconforto (inverno e verão), da Avaliação Bioclimática de cada uma das moradias e da
comparação dos resultados com os parâmetros recomendados pela Norma de Desempenho
Térmico (UFSC, 1998), pretendeu-se avaliar e buscar diretrizes de projeto para a habitação
popular em Curitiba, sob o aspecto do desempenho térmico.
Esta pesquisa se insere num conjunto de esforços realizados no Brasil, durante a
última década, para se redefinir uma política habitacional para a população de baixa renda.
Surgiram diversas pesquisas, publicações e congressos na área de habitação de baixo custo,
incluindo aspectos técnicos e construtivos, de melhoria dos padrões de qualidade, fatores
sociais e culturais de se construir, além dos relacionados à melhoria das condições de conforto
térmico no ambiente construído (alguns desses trabalhos são referenciados no Item 2.2.2).
Investigações visando conhecer o funcionamento do clima e sua relação com o
conforto humano no ambiente construído foram desenvolvidas por Olgyay (1963), Fanger
(1970), Koenigsberger et al. (1977), pela ASHRAE2 (1981), Rivero (1986) e Givoni (1992),
dentre outros.
Algumas influências que levaram a um maior interesse pelos fatores relativos ao clima
e à Arquitetura Bioclimática são os seguintes (MARKUS & MORRIS, 1980):
•= a necessidade de conservação de energia;
•= necessidades econômicas que apóiam a conservação das edificações e de estruturas
naturais existentes;
•= o desperdício e a poluição (que dependem do clima para sua dispersão no ar e na água);

1
Neste trabalho foram denominadas características termofísicas: a transmitância térmica (U), a inércia ou atraso
térmico (ϕ) e o fator de calor solar (FS) dos elementos construtivos.
2
ASHRAE – American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineering (Sociedade
americana de engenharia de aquecimento, refrigeração e ar-condicionado).
18

•= a conscientização nos países desenvolvidos de que a industrialização, a urbanização e a


padronização do modo de viver causam crescimento exponencial na demanda de energia;
•= a necessidade dos países em desenvolvimento de utilizar os aspectos climáticos como
vantagem na indústria, na tecnologia e na urbanização promovendo, ao mesmo tempo,
conforto e padrões de saúde;
•= a escassez de matéria-prima e o aumento do custo de transporte (energia), que demandam
uma compreensão do clima para a seleção e produção de materiais de construção
apropriados às condições locais, levando-se em conta materiais nativos como madeira,
bambu ou palha (renováveis);
•= a reação aos projetos padronizados de grande escala e a busca por diversidade,
complexidade e formas em pequena escala; e
•= a demanda por maior envolvimento da comunidade nas decisões sobre o meio ambiente
nas escalas nacional, regional e local.
Para Rivero (1986), a complexidade de se produzir uma arquitetura eficaz está na
necessidade de se considerar seus aspectos não isoladamente (físicos, funcionais, estéticos,
econômicos), mas de forma integrada e adequada a cada caso específico.
Na arquitetura contemporânea (importadora de modelos tecnológicos, funcionais ou
estéticos), observa-se em geral a ausência de vínculos com o ambiente físico e social. O
predomínio de soluções formalistas e a postura de ignorar os problemas climáticos locais têm
levado os arquitetos a soluções de evidente desajuste térmico (BONGESTABS, 1983).
Enquanto para a população de classe média e alta a falta de habitabilidade das
edificações significa aumento de consumo energético com climatização artificial, para a
população menos favorecida a inadequação térmica das habitações significa desconforto
térmico.
A proposta das Vilas Tecnológicas do PROTECH visava à construção de casas com
boa qualidade e baixo custo para a população de baixa renda, por meio do uso de TA e com o
conceito de habitat, criando espaços para valorização do homem. Resultado de um convênio
assinado em 1993 entre o PROTECH e a COHAB-Curitiba, a Vila Tecnológica de Curitiba
desviou-se do objetivo original, não oferecendo tecnologias apropriadas para habitação
popular e não obtendo resultados ideais em relação a custos, aspectos socioculturais,
arquitetônicos ou ambientais. Ainda assim, a iniciativa de procurar soluções alternativas para
a habitação social é relevante, possibilitando uma avaliação comparativa entre diferentes
19

sistemas construtivos e materiais não convencionais para a construção civil reunidas em um


mesmo local (MOREIRA et al., 1997). Observe-se, porém, que, no processo de construção de
moradias para a população de baixa renda, diversos aspectos devem ser considerados,
começando pela escolha do local para a construção, passando pela fase da construção até a
avaliação pós-ocupação. Neste quadro, a Avaliação do Desempenho Térmico assume grande
importância, dado que uma mesma tipologia de projeto é muitas vezes adotada em regiões de
diferentes características climáticas.
Os métodos de avaliação da atuação do edifício no meio ambiente contribuem
significativamente para se obter qualidade na construção. Procura-se estabelecer algum grau
de padronização de metodologia e, ao mesmo tempo, valorizar as especificidades regionais ou
os tipos de projeto (CIB-AGENDA 21, 2000, p. 70-71).
A regulamentação com respeito ao microclima é limitada. Não há sistema legal, por
exemplo, para aprovar um processo para modificar o vento do microclima ao redor de uma
construção existente, por mais que suas características arquitetônicas causem aumento da
velocidade do ar, perda de calor, ruído e pó. Não há direito legal para uma quantidade mínima
de radiação solar. Uma vez que esses efeitos são totalmente compreendidos, deve-se esperar
adequação das leis e controle do planejamento, cujos objetivos básicos têm a intenção de
justiça ambiental e liberdade (MARKUS & MORRIS, 1980, p. 1-16).
Há necessidade de adoção de normas de desempenho para edificações nos códigos de
obras e regulamentos de uso do solo. Essas medidas são eficazes, uma vez implantadas,
embora quase sempre signifiquem o consenso sobre um mínimo de melhoria necessária ao
desempenho. A regulamentação deve ser adaptada às tradições locais e às tecnologias de
construção nativas, deve respeitar fatores climáticos, culturais, tradições construtivas e estágio
de desenvolvimento industrial (CIB-AGENDA 21, op. cit., p. 62).
A relevância do tema pode ser avaliada pelo seu potencial de impacto tecnológico,
econômico, social e ambiental. Na medida em que os resultados indiquem o grau de
adequação dos sistemas construtivos ao clima local, contribuem para a melhoria da qualidade
ambiental da Habitação de Interesse Social. Considerando-se a gravidade do déficit
habitacional existente, o desenvolvimento de metodologias de avaliação de sistemas
construtivos relacionadas ao desempenho térmico de habitações é uma importante ferramenta
tanto na escolha da TA a ser aplicada, como na forma de aplicação dos escassos recursos
existentes na área.
20

Nesta pesquisa de avaliação, o foco principal é a comparação entre os diversos


sistemas construtivos da Vila Tecnológica, com o propósito de determinar o seu valor relativo
do ponto de vista do condicionamento térmico natural. O procedimento inclui o tratamento
dos dados obtidos por medições, sua análise e interpretação. As considerações finais versam
sobre aspectos de Arquitetura Bioclimática e da Tecnologia Apropriada em Habitação de
Interesse Social.
As técnicas de coleta de dados utilizadas abrangem uma combinação de documentação
de observação direta intensiva sistemática (em que as casas da Vila Tecnológica funcionaram
como um laboratório ao ar livre), com técnicas de observação direta extensiva (quando
utilizados medições in situ de forma quantitativa, cujos resultados foram complementados por
uso de softwares) (LAKATOS, 1992, p. 107). Para o tratamento de dados obtidos pelas
medições em planilhas, foi utilizado o software EXCEL; para a Análise Bioclimática dos
resultados, o software ANALYSIS (LMPT/EMC e NPC/ECV, 1994); e, para a Avaliação
Paramétrica o método estatístico de Análise de Regressão, por meio do software EXCEL.
O Capítulo seguinte deste trabalho divide-se em duas partes: a primeira consiste na
contextualização do problema da habitação social no Brasil e no momento histórico atual,
marcado por fortes avanços tecnológicos e suas implicações. Para elucidação desses aspectos,
são apresentados: um breve histórico da tecnologia, o conceito de Tecnologia Apropriada
(TA) e sua aplicação na Habitação de Interesse Social. Na segunda parte, tendo em vista a
aplicação de TA em Habitação de Interesse Social sob o enfoque de sua adequação ao clima,
são apresentados: o conceito de Arquitetura Bioclimática e um panorama histórico sobre o
desenvolvimento deste tipo de arquitetura e sobre a área de investigação do conforto térmico.
São discutidos tanto aspectos fisiológicos do ser humano, quanto aspectos do clima e da
edificação, explicitando a interdependência desses três fatores em uma área essencialmente
multidisciplinar. Por fim, são apresentados os princípios da Arquitetura Bioclimática e da
climatização natural.
No Capítulo 3, é descrita a metodologia que norteará as duas partes principais do
trabalho: a Avaliação de Desempenho Térmico das moradias por meio de medições in situ; e a
Avaliação Paramétrica, considerando-se a relação entre desempenho térmico e as
características das moradias avaliadas. São descritos: o equipamento utilizado nas medições e
os procedimentos detalhados de cada avaliação.
O Capítulo 4 versa sobre a Avaliação do Desempenho Térmico. Discorre-se sobre o
objeto de estudo: a Vila Tecnológica de Curitiba, desde os princípios norteadores da proposta
21

das Vilas Tecnológicas por parte do PROTECH, passando pela descrição do que realmente se
tornou a Vila Tecnológica de Curitiba, até a descrição dos dezoito sistemas construtivos
avaliados. É caracterizado o clima local, descrevendo-se as recomendações da Norma de
Desempenho Térmico para Curitiba. Em seguida, são descritos o monitoramento térmico das
moradias e os cuidados tomados na instalação dos equipamentos de medição. São
comparados, então, os dados obtidos para os períodos de monitoramento, procedendo-se à
Análise Bioclimática, com os graus de conforto térmico proporcionados pelas diferentes
tecnologias.
No Capítulo 5, é realizada a Avaliação Paramétrica. São calculadas as características
termofísicas dos fechamentos3 dos sistemas construtivos analisados. É, em seguida,
comparado o desempenho térmico das moradias avaliadas com os parâmetros recomendados
pela Norma de Desempenho Térmico em Habitação de Interesse Social. Com o objetivo de
subsidiar a referida Norma e como etapa conclusiva desta pesquisa de avaliação de
desempenho térmico, é realizada uma análise paramétrica, na qual as variáveis de
transmitância, atraso térmico e fator solar dos fechamentos, bem como as horas de Sol sobre
as moradias são avaliados estatisticamente quanto ao seu grau de influência no desempenho
térmico das habitações.
No último Capítulo, extraem-se algumas considerações finais dos resultados
levantados ao longo das análises realizadas: a avaliação bioclimática dos sistemas
construtivos a partir das medições e a avaliação do grau de influência das características
termofísicas dos materiais dos fechamentos na obtenção do conforto térmico. Finalmente, são
feitas sugestões para a aplicação destes resultados.
A seguir, busca-se evidenciar a interface entre os princípios da Arquitetura
Bioclimática e a geração de Tecnologias Apropriadas na Habitação de Interesse Social.

3
Os fechamentos são as vedações da edificação, paredes externas e cobertura, ou seja, os componentes da
envoltória (que envolvem a edificação e estão em contato com as condições climáticas exteriores).
22

2 TECNOLOGIAS APROPRIADAS E ARQUITETURA


BIOCLIMÁTICA

Como alternativa para o modelo de habitação popular vigente, a aplicação de


Tecnologias Apropriadas requer a integração do ser humano com a natureza. Esta é também a
premissa básica da Arquitetura Bioclimática: ambos os conceitos são indissociáveis na busca
de uma solução sustentável para o problema da Habitação de Interesse Social.

2.1 TECNOLOGIAS APROPRIADAS

Nos últimos séculos, as revoluções industriais modificaram a vida humana, as formas


de se construir e morar, hoje muito diferentes das anteriores. A tecnologia de grande escala
trouxe, junto com o progresso econômico, o fracasso ecológico e a desigualdade social. A
busca de alternativas tecnológicas não alienantes nem exploradoras pode alterar
significativamente a atual situação sócio-econômica e política dos países em
desenvolvimento.

2.1.1 O Problema da Habitação Social e a Política Habitacional Brasileira

A questão habitacional em países do Terceiro Mundo apresenta-se entre seus maiores


problemas sociais. O crescimento acelerado da população de baixa renda na periferia dos
grandes centros urbanos cria um déficit habitacional sem precedentes e com tendência de
agravamento (SACHS, 1996). Esse quadro é descrito pelo relatório CIB-AGENDA 21 para a
Construção Sustentável (2000):1

1
A Agenda 21 para a Construção Sustentável sistematiza todos os estudos do CIB-International Council for
Research and Innovation in Building and Construction (Conselho Internacional para a Pesquisa e Inovação em
Edifícios e Construção) relacionados ao tema, realizados nas duas últimas décadas e mais intensamente nos
últimos cinco anos. O Congresso Trienal do CIB, em 1998, na cidade de Gävle, Suécia, culminou com a
publicação deste documento, que contou também com o apoio de outros organismos internacionais da
Construção Civil, dentre outros: ISIAQ-International Society of Indoor Air Quality and Climate (Sociedade
Internacional para Clima e Qualidade do Ar Interior) e IEA-International Energy Agency-Energy Conservation
in Building and Community Systems Programme (Agência Internacional para Energia – Programa para
Conservação da Energia na Construção e nos Sistemas comunitários).
23

Todos os anos, 20 milhões de pessoas no mundo migram para as cidades. Já existem 20


“megacidades” com mais de 10 milhões de pessoas. Entre as 25 maiores cidades do mundo, 19
estão no mundo em desenvolvimento. Este tipo de crescimento urbano [...] impõe tremenda
carga nos recursos locais, cria riscos para a saúde devido aos altos índices de poluição e
propicia o surgimento de problemas sociais, particularmente nos países em desenvolvimento
onde muitos dos migrantes das cidades vivem em pobreza absoluta e em condições totalmente
doentias e de superpovoamento. O crescimento também pressiona a infra-estrutura existente,
causa transtorno ao transporte e aumenta a quantidade de lixo produzido [...] As várias
soluções existentes para reverter a expansão urbana e os efeitos negativos desse crescimento
[...] conduzem a outros problemas e devem ser aplicadas com critério (p. 85).

O Brasil conta com um déficit habitacional de aproximadamente 5 milhões de


unidades (PRADO & PELIN, 1993). Acentuam-se também os problemas de difícil
administração decorrentes do alto índice brasileiro de urbanização – que já em 1998
aproximava-se de 75%, – sem que hajam recursos para investimentos essenciais. As
profundas variações regionais em relação à urbanização devem-se à forma como se deu a
divisão inter-regional do trabalho: a região mais urbanizada em 1980 era a Sudeste com
82,79%, enquanto a Região Nordeste tinha o menor índice: 50,44% (SANTOS, 1998, p. 135 e
137). Variam também as condições sócio-econômicas das regiões metropolitanas: a proporção
de pobres em 1994, em São Paulo, era de 21,6%, em Curitiba, de 12,2% e em Recife, de
47,4% (IPEA/IBGE, apud MENDONÇA, 2001, p.119).
As grandes cidades são permeadas de “diversidades, desigualdades, heterogeneidades,
tensões, contradições”. Os processos inerentes ao desenvolvimento do capitalismo no mundo,
como a tecnologia de grande escala, fortalecem a divisão social do trabalho e as desigualdades
e provocam o crescimento da tensão entre “localidade e globalidade” (IANNI, 1997). Os
espaços requalificados passam a atender a interesses hegemônicos formando novas
desigualdades geográficas, sociais e produtivas, e provocando o empobrecimento material,
cultural e moral (SANTOS, 1998). As novas exigências de qualificação para o trabalhador
levam ao desemprego em massa, um problema social que se agrava com as crises econômicas
(CARVALHO, 1998).
As percepções sobre a riqueza cultural da sociedade urbana local de Ianni e de Santos
contrastam com a política habitacional brasileira onde os programas para Habitação de
Interesse Social são implantados de forma padronizada em todo o território nacional, sem
haver uma preocupação com especificidades regionais, acarretando problemas inerentes à
tecnologia de grande escala como: a desatenção a culturas locais, impactos ambientais,
dependência tecnológica e o aumento de desequilíbrios sócio-econômicos.
24

Em vista disso, torna-se necessário repensar a tecnologia em habitação social, de


forma que esta atenda às necessidades econômicas, sociais e culturais de cada grupo social,
valorizando o “conhecimento local, tradicional, popular, que, por causa de sua localidade,
assume numerosas formas” (LACEY, 1998, p. 154). Neste quadro, é fundamental a
participação da comunidade na identificação de seus próprios problemas e na escolha da
tecnologia que utilizará (PTTA-CNPq apud ESPÍNDOLA et al., 1997). Reconhecendo a
importância do arquiteto trabalhar ao mesmo tempo com e para a comunidade, como
habilitador, o arquiteto inglês John Turner, com larga experiência em Habitação de Interesse
Social em países latino-americanos, baseia sua atuação na decisão compartilhada (TURNER,
1989).
Uma vez que a sociedade globalizada é intrinsecamente multicultural (CARVALHO,
op. cit.), a coexistência de culturas e interesses sociais diversos nas cidades amplia as
possibilidades de inovações tecnológicas e democratiza o desenvolvimento tecnológico.

2.1.2 Tecnologia

Em nossa sociedade de classes, o conhecimento científico (de acesso restrito) é


legitimado pela classe dominante, provocando uma suposta hierarquização de conhecimentos,
os quais seriam superiores ou inferiores a outros. Mais antigo que o conhecimento científico, o
conhecimento tácito é adquirido através da experiência vivida no cotidiano de cada grupo e
sedimentado pela utilização de diferentes técnicas, permeado por diversas culturas
cumulativamente enriquecidas. Criando e compartilhando significados mediante a
convivência, forma a essência da cultura, do conhecimento e da realidade concreta dos
grupos:

quaisquer formas de saber são válidas, uma vez que oriundas da vida social, e como tal
possuem a sua legitimidade. [...] Tome-se por exemplo os pescadores, lavradores,
trabalhadores da construção civil, e muitos outros grupos que, pela ausência de conceitos
científicos, aprendem na sua prática social, técnicas eficazes para o seu trabalho e para a sua
vida cotidiana. [...Este conhecimento] é tão importante para a sociedade quanto o
conhecimento científico. [...] É ele que dá significado para a prática profissional dos atores
sociais, que vivem nas mais diferentes dimensões culturais de uma sociedade estratificada em
classes sociais (KRÜGER et al., 2000-a, p. 8).
25

Foi por meio do desenvolvimento tecnológico que os seres humanos dominaram a


natureza. A distribuição do trabalho define as migrações. Mas as técnicas também alteram o
espaço e explicam a História, invadindo todos os aspectos da vida humana, em todos os
lugares (SANTOS, 1998). O desenvolvimento das técnicas é evidente em vários momentos da
História e de forma não-linear, pois as culturas dos diferentes povos se comunicam num
processo cumulativo, inclusive pela dominação de uns povos sobre outros, pelas descobertas
marítimas e colonizações (GORDON, 1971).
A técnica, embora muitas vezes sofisticada, é definida como “um conjunto de
procedimentos para produzir bens, alterando a natureza” e tende sempre para a estabilidade
dos procedimentos (KATINSKY, 1989, p.65). Nisto, difere da tecnologia, cuja principal
característica é sua transformação permanente. Se a técnica é tão antiga quanto o Homem, a
tecnologia é bastante recente: surgiu com os gregos quando “tomaram consciência da própria
investigação”. A esta nova organização e trabalho do conhecimento, os romanos
denominaram ciência. A Tecnologia é o termo formulado pelos gregos, significando a união
do conhecimento científico à atividade prática da construção de objetos, ou seja, “o estudo
sistemático da técnica e a aplicação técnica das descobertas científicas” (KATINSKY, op. cit.,
p. 66).
A partir do século XVII, surge a ciência moderna e a tecnologia passa a ser baseada
em teoria e experimentação científica. Com Descartes (1596-1660), surge a “concepção do
cientificismo: a ciência é considerada o único conhecimento possível e o método da ciência o
único válido, devendo ser estendido a toda atividade humana” (KRÜGER et al., 2000-a., p.
4).
Nos séculos XVIII e XIX, ocorre a Revolução Industrial: as grandes transformações
econômicas, sociais e ideológicas, mediante a industrialização, as inovações tecnológicas e a
complexificação da sociedade, marcam a passagem da sociedade feudal para a capitalista. A
lógica de produção passa a ser a criação ilimitada de necessidades e a expansão de mercados
consumidores visando à ampliação do capital. Neste período, a grande aplicação do método
científico nos processos de trabalho marca a transição da técnica para a tecnologia. Entre os
conflitos da nova sociedade capitalista está o dos trabalhadores com os proprietários de
capital. Há também a dominação-subordinação entre povos, na qual a superioridade técnica é
fundamental (CARVALHO, op. cit.).
O fenômeno do desenvolvimento tecnológico marcou profundamente o século XX.
Desenvolvendo-se à parte das outras áreas de conhecimento surge o determinismo
26

tecnológico, em que a tecnologia é reificada. A tecnologia passa a ser considerada “como a


única solução para os problemas de desenvolvimento das sociedades, sem que fatores como a
dominação de grupos políticos ou a desigualdade entre os povos seja levada em
consideração”, refletindo assim uma interpretação reducionista (CARVALHO, op. cit., p. 90).
Na segunda Revolução Industrial, a automação elimina com êxito o trabalho humano
na produção. Aparecem as primeiras sociedades tecnológicas com suas transformações
aceleradas e radicais, nos aspectos sociais, econômicos e políticos, como a maior eficácia da
informação, a aceleração do tempo, o encurtamento das distâncias, a queda das fronteiras
econômicas entre as nações e o maior relacionamento entre as culturas. A globalização da
economia, a formação do meio técnico-científico-informacional e a crescente tendência à
reificação da tecnologia acarretam o domínio dos povos pela tecnologia e a intensificação das
desigualdades. A nova tecnologia caracteriza-se pela irreversibilidade, pela dependência que
gera e pela rapidez com que as inovações são introduzidas, impossibilitando uma avaliação de
suas conseqüências (KRÜGER, 2000-a).
As pressões sociais nos países do Hemisfério Norte e a falta de legislação adequada
nos países subdesenvolvidos têm provocado a transferência de tecnologias destruidoras do
meio ambiente para países do terceiro mundo (BOUGUERA apud CARVALHO, op. cit.).
Além disso, a tecnologia de grande-escala pode “proporcionar uma economia do tipo robber-
economy, que usa recursos naturais em abundância e com rapidez, provenientes muitas vezes
de países mais pobres, para transformá-los em bens de consumo de curta vida útil e repassá-
los a um alto custo aos mesmos países de onde saem esses recursos” (KRÜGER, op. cit., p.3).
A tecnologia de grande-escala atua contra a natureza e não a seu favor. O manejo de
vultuosos recursos materiais e de energia gera a poluição e a degradação da natureza. Os altos
custos energéticos e econômicos necessários em sua aplicação favorecem a exclusão
econômica, tornando o trabalho produtivo desumano e sem significado. Com as grandes
organizações industriais, cresce a especialização e a desvalorização do trabalho. A
concentração de pessoas leva ao crescimento do individualismo, da criminalidade e da
decadência dos valores tradicionais.
Assim, a tecnologia de grande-escala, o desenvolvimento e a ciência tornam-se fontes
de ambigüidade e de “racionalizações para manter e aprofundar condições de devastação
ecológica e social”, “por causa do poder associado à interpretação hegemônica” (LACEY,
1998, p. 142).
27

De outro lado, também no século XX, surgem as análises das crises da razão, o
combate aos conceitos “absolutos” e a crítica à fragmentação do pensamento. Historicamente,
a vida não se restringe à razão. As intuições, as emoções e as inspirações momentâneas foram
importantes até mesmo nas grandes descobertas científicas (KRÜGER et al., 2000-a.).
Segundo Lacey (op. cit., p. 144), a tradição da ciência moderna baseia-se em dois
ideais: o baconiano ou o “controle da natureza a serviço da humanidade”, e o cartesiano, que
pode significar o “entendimento extensivo” ou o “entendimento completo” da realidade.
O “conhecimento científico extensivo” (baseado em experimentos, tecnologias e na
natureza, mas desprovido de características humanas, sociais e ecológicas) é utilizado pelo
Desenvolvimento Modernizador. Envolve crescimento econômico, industrialização,
transferência de tecnologia e “globalização” da economia, contribuindo com a perpetuação da
dependência dos países pobres (LACEY, op. cit.; RATTNER, 1985).
Em contraposição, o “entendimento completo” (derivado da tradição aristotélica e que
procura entender os fenômenos em todos os aspectos, inclusive os humanos, sociais e
ecológicos) serve ao Desenvolvimento Autêntico. Este tem sua ênfase não no desenvolvimento
em si, mas na geração de possibilidades de reversão do processo de empobrecimento e na
integração do crescimento econômico das comunidades. O Desenvolvimento Autêntico é
compatível com a valorização das culturas locais e com valores como cooperação, direitos
sociais, econômicos, autoconfiança, além do respeito à natureza. A busca do “entendimento
completo”, integrando a crítica da produção à aplicação da ciência, deverá informar uma
tecnologia alternativa, fortalecendo o “conhecimento local, tradicional, popular, que, por
causa de sua localidade, assume numerosas formas” (LACEY, op. cit., p. 154).
O conceito de Desenvolvimento Autêntico assemelha-se ao de Desenvolvimento
Sustentável. A palavra sustentável sugere a idéia de apoio ou de continuidade. Sua tradução
em idiomas como holandês, finlandês, romeno ou francês é durável. O conceito de durável
enfatiza a resistência ao tempo. Os princípios do Desenvolvimento Sustentável estão
relacionados ao equilíbrio ecológico, ao crescimento econômico, ao progresso social e aos
princípios éticos (CIB-AGENDA 21, 2000).
Assim, como reação ao sistema econômico e social contemporâneo e visando ao
desenvolvimento autêntico ou sustentável, surge o movimento a favor das Tecnologias
Apropriadas (TA’s), que busca soluções que elevem o rendimento do trabalho e atendam
melhor às necessidades básicas das populações marginalizadas (RATTNER, 1981).
28

2.1.3 Conceito de Tecnologias Apropriadas

Neste contexto, Schumacher, por volta de 1960, cria o ITDG-Intermediate Technology


Development Group, com a idéia de que a geração de técnicas de produção de mão-de-obra
intensiva solucione os problemas de desemprego e pobreza nos países em desenvolvimento.
Sugere tecnologias mais baratas e acessíveis que a alta tecnologia, mas superiores às
primitivas, produzidas pelas massas, descentralizadoras e ecológicas, que priorizem o
emprego à produtividade, criando assim o termo “tecnologia intermediária”. Sua obra Small is
Beautiful, em 1973, causou um profundo impacto em diversos países, afirmando que a escala
física das soluções da alta tecnologia e a dos seres humanos que as empregam, muitas vezes,
não são compatíveis. Para ele, a satisfação insaciável do consumo e a lógica da acumulação,
que na realidade provocam o aumento das desigualdades e a degradação do trabalho, não
deveriam ser os objetivos principais da humanidade civilizada. Nasce, assim, o conceito de
Tecnologia Apropriada (TA), uma tecnologia “com uma face humana”. A implantação de
tecnologias apropriadas faz parte de um processo de transformação social e política, no qual a
racionalidade e a eficiência econômica não são os fins em si. O objetivo é, sobretudo,
encontrar alternativas menos alienadoras e mais humanas, para melhorar a qualidade de vida
das sociedades locais, de forma coerente com os processos ecológicos (RATTNER, 1981;
SCHUMACHER apud KRÜGER, 2000-a).
A TA freqüentemente envolve a interação entre conhecimento técnico e conhecimento
local. Ela difere da tecnologia dominante por associar o poder do homem sobre os objetos
materiais, suas técnicas e conhecimentos à satisfação das necessidades principalmente da
maioria pobre, com a participação da mesma e controle sobre produção e uso de recursos
materiais e humanos, respeitando as condições locais. Seus interesses estão subordinados aos
do desenvolvimento autêntico.
O que caracteriza a TA não é a simplicidade. A TA não visa à perpetuação da
ineficiência econômica. Ela pode ser altamente sofisticada. O que a caracteriza são as
relações sociais que promovem o bem estar da comunidade, em vez de gerar desigualdades de
classe e fortalecer grupos já privilegiados como a tecnologia dominante (LACEY, 1998). A
TA não pode ser considerada inferior à alta tecnologia; ao contrário é, sim, superior, à medida
que considera todos os aspectos, não só a eficiência e a produtividade imediatas.
Tecnologia Apropriada (TA), segundo Rattner (op. cit., p. 60), é o conceito genérico
de várias tecnologias com as seguintes características:
29

•= “baixo investimento por emprego criado;


•= baixo investimento de capital por unidade produzida;
•= organização simples e de pequena ou média escala;
•= adaptação e harmonia com o meio ambiente sociocultural;
•= economia no uso de recursos naturais;
•= baixo custo do produto final; e
•= alto potencial gerador de empregos”.
A mesma tecnologia pode ser apropriada ou não, dependendo do local, do contexto
histórico e por quem ela é aplicada. O conceito de TA deve ser associado à capacidade de
criar mais empregos locais, com baixo custo humano, condizentes com a natureza humana e
sem provocar deslocamento migratório; assegurar maior produtividade e rendimentos para
populações antes à margem do progresso técnico, por meio de melhores equipamentos,
ferramentas e formas de organização de produção coletiva; e produção baseada em matérias-
primas locais (RATTNER op. cit.). Esse conceito leva em conta “a sua contribuição com os
objetivos sociais, econômicos e ambientais dos países que levam em consideração a
disponibilidade de recursos humanos e materiais” (ESPÍNDOLA et al.,1997, p. 13).
Os efeitos multiplicadores das estratégias de TA, mais amplos, expandem o mercado
interno mediante a elevação de renda das parcelas mais pobres da população, provocando sua
integração a longo prazo à sociedade. Ela pode mobilizar massas de trabalhadores
desempregados, em função de uma ideologia de auto-ajuda (self-reliance) (RATTNER, op.
cit.).
Tudela (apud ESPÍNDOLA op. cit.) cita seis critérios gerais para avaliação de TA:
•= satisfação das necessidades básicas (como alimentação, vestuário, alojamento, saúde,
educação e emprego);
•= desenvolvimento de recursos de mão-de-obra, de capital, de bens de capital e de recursos
naturais “mediante processos contínuos e cumulativos que não impliquem na
superexploração e no esgotamento dos mesmos”;
•= desenvolvimento social, promovendo a autoconfiança e a solidariedade por meio da
participação coletiva;
•= desenvolvimento cultural, promovendo a integração dos diversos grupos e melhorando
suas tradições técnicas;
30

•= desenvolvimento humano: “refere-se ao impacto das tecnologias sobre as pessoas e ao


grau de participação do indivíduo nos processos produtivos”;
•= desenvolvimento ambiental: “refere-se ao impacto da tecnologia sobre os recursos
naturais e sua capacidade de preservar e desenvolver o meio ambiente [...] ao aumentar
sua complexidade e a diversidade do ecossistema e reduzir assim sua vulnerabilidade”
(p.14-15).
Para Rattner (op. cit., p. 61-63), a “reivindicação por TA constitui, portanto, um dos
desafios mais sérios ao sistema econômico-social capitalista. [...] Os objetivos das TA são
diferentes, por visarem proporcionar às populações mais pobres as condições para superar o
estágio de pobreza absoluta em que se encontram”. Observe-se que a tecnologia não pode ser
considerada por si só, isolada, mas sim dentro de um contexto histórico-cultural, levando-se
em conta os espaços criados para as atividades a ela relacionados, bem como o próprio
trabalhador, que a aplica e a reinterpreta: “a introdução de novas tecnologias equivale a
mudanças culturais cujas repercussões afetam hábitos e normas de comportamento, a divisão
social de trabalho, os critérios de avaliação e suas respectivas recompensas e, enfim, a própria
estrutura de poder e prestígio vigente” (RATTNER, op. cit., p. 63).
A difusão e a transferência das tecnologias são processos fundamentais para que uma
tecnologia seja realmente apropriada. Portanto, é necessário que a população realmente se
aproprie dela e a utilize. “É na apropriação do conhecimento que reside o saber, tácito ou
explícito, que é gerado e difundido de acordo com os valores socioculturais de cada
sociedade” (KRÜGER et al., 2000-a, p.1).
A introdução de inovações tecnológicas é um processo complexo, que requer uma
mudança cultural que se dará de forma única em cada realidade. Ela ocorre somente mediante
a comunicação, o diálogo sem diferenças hierárquicas entre pesquisador e beneficiário, que
juntos buscam interpretar e transformar sua realidade física, econômica, social, política,
cultural e tecnológica. Em contraposição à invasão cultural, a difusão passa a ser (nesse caso,
com fundamental participação inclusive do beneficiário) parte do processo de geração da TA
(ESPÍNDOLA, op. cit.).
31

2.1.4 Construção Sustentável: Aplicação de Tecnologias Apropriadas na Habitação de


Interesse Social

As principais implicações da sustentabilidade na construção dizem respeito à


qualidade do ambiente construído, aos impactos urbanos, ao consumo de recursos (terreno,
energia, materiais, água), à fabricação de produtos, às cargas ambientais e aos aspectos
econômicos, sociais e culturais das comunidades atendidas.
“A preocupação com a qualidade total do meio ambiente está se tornado cada vez mais
importante à medida que os recursos naturais, essenciais para a sobrevivência do gênero
humano e seu habitat, se utilizados na intensidade atual, caminham para o esgotamento”
(CIB-AGENDA 21, 2000, p. 69). A construção civil, por usar materiais em larga escala e pela
grande quantidade de mão-de-obra e de energia que ocupa, contribui significativamente para o
esgotamento desses recursos. A sociedade, cada vez mais esclarecida, exige desse complexo
macrossetor da economia mudanças culturais, tecnológicas e comportamentais em relação à
preservação do meio ambiente. “O que deve ser evitado, especialmente no mercado de casas
construídas em massa, é o uso continuado de sistemas de produção de alta tecnologia e de
materiais com muita necessidade de energia e baixa capacidade de economizá-la” (CIB-
AGENDA 21, op. cit., p. 75).
A grande indústria e a alta tecnologia tendem a gerar mais resíduos e a gastar mais
energia, embora seus produtos possam resultar em custos menores que os da produção em
pequena escala. O dispêndio de energia cresce com o grau de beneficiamento dos materiais de
construção e de industrialização da produção. Quanto maior o gasto energético de um
produto, maior a emissão de resíduos, uma vez que a matéria-prima sofrerá mais
transformações, gerando resíduos em cada nova fase de produção (KRUSCHE et al.,1982).
A construção de uma casa envolve a utilização de um grande número de materiais e
elementos tais como o ferro, o aço e o cimento para os elementos estruturais; vidro para as
janelas; areia, tijolos, madeira, esquadrias, materiais sintéticos para vedar e isolar; dentre
outros. Todos eles, para serem extraídos diretamente da natureza, beneficiados ou processados
industrialmente, consomem intensa energia. Este dispêndio de energia ocorre em vários
níveis, numa progressão que chegaria até a energia utilizada para a construção de estradas e
instalação de infra-estrutura para extrair e transportar a matéria-prima (KRUSCHE et al., op.
cit.). O somatório das parcelas de energia consumida ao longo do processo da produção dos
materiais, denomina-se conteúdo energético (KRÜGER et al., 2000-b).
32

Assim, um projeto será considerado eficiente sob o ponto de vista da conservação e da


utilização racional da energia quando levar em consideração os gastos energéticos envolvidos
em todas as fases da edificação: de projeto, de construção e de uso. Devem ser consideradas
também as possibilidades do desmonte e o grau de reciclagem ou reuso dos materiais, de
elementos ou das próprias construções.
A otimização do consumo de energia na fase de uso da edificação, ainda durante a fase
de projeto, pode significar uma economia considerável sem sacrifício da saúde e do conforto
de seus usuários. Segundo o CIB-AGENDA 21 (op. cit., p. 68), “os alvos de redução de
energia oferecem ampla oportunidade para produtos inovadores nos campos de aquecimento,
refrigeração, ventilação, iluminação ou isolamento térmico”.
A Construção Sustentável pode ter diferentes prioridades em diferentes países,
conforme as variações das necessidades regionais. Enquanto nos países desenvolvidos é mais
importante otimizar o desempenho ambiental dos edifícios existentes, em países em
desenvolvimento o melhoramento das novas construções é de maior relevância. Os elementos
principais comuns às várias abordagens são (CIB-AGENDA 21, op. cit., p. 42):
•= “redução do uso das fontes de energia e do esgotamento dos recursos minerais;
•= conservação das áreas naturais e da biodiversidade; e,
•= manutenção da qualidade do ambiente de construção e do gerenciamento de ambiente
interior saudáveis”.
A Declaração de Limuru2, (HABITAT INTERNATIONAL COHALITION apud
KRÜGER, 2000-a), refere-se também aos fatores sócio-econômicos do desenvolvimento de
sistemas construtivos que, além de visar a habitações adequadas aos moradores como abrigo
às intempéries, devem proporcionar-lhes infra-estrutura básica e possibilitar o crescimento
econômico e social. Na área habitacional, o desenvolvimento tecnológico abarca “desde o
desenvolvimento de materiais a partir de recursos disponíveis localmente; a busca de
alternativas industrializadas para a construção em larga escala; passando pela busca de novos
processos construtivos com a utilização de materiais alternativos, [...] até formas de gestão do
processo de produção, enfatizando a participação da população e a valorização do ‘saber
operário’ na concepção desta nova forma de gestão” (SOUZA apud ESPÍNDOLA et al.,
1997, p. 14).

2
A Declaração de Limuru foi redigida no Kenya em Abril de 1987, Ano Internacional de Abrigo aos Sem-Teto
(International Year of Shelter for the Homeless), por representantes de quarenta países e cinqüenta e sete ONGs,
com o objetivo de propor soluções para a questão da moradia nos países de Terceiro Mundo.
33

Na Reunião de Cúpula do Rio, em 1992, quando da redação da Agenda 21,


introduziu-se o conceito de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável. A partir de
então, este conceito tem sido parte relevante em todas as discussões sobre o progresso para
todos os setores da sociedade (CIB-AGENDA 21, op. cit.).
A contribuição da indústria para o desenvolvimento sustentável deve ocorrer mediante
a “eco-eficiência”, ou seja, por intermédio de melhor desempenho com a mínima utilização de
recursos. Para que essa estratégia tenha sucesso, são necessários três componentes:
•= eco-eficiência;
•= liderança; e
•= uso eficaz das inovações e tecnologias.
Este último Item inclui “a compreensão de como as tecnologias se relacionam com as
necessidades e exigências dos usuários, habilidade em aplicar e manter tais tecnologias e das
pressões que as novas tecnologias imporão sobre seus costumeiros modos de operar” (CIB-
AGENDA 21, op. cit., p. 105).
Uma das versões da Agenda 21 de maior significado para o setor da construção é a
Agenda Habitat II, resultante da Conferência das Nações Unidas de 1996, em Istambul. A
Agenda Habitat II enfatiza que a indústria da construção é a que mais contribui para o
desenvolvimento sócio-econômico de um país. De outro lado, sabe-se que a indústria da
construção e o ambiente construído são os maiores consumidores de recursos – energia e
materiais. A diferença está no uso criterioso de todos os recursos de forma sustentável e na
aplicação de TA:

O desenvolvimento de assentamentos humanos sustentáveis garante o desenvolvimento


econômico, oportunidades de emprego e progresso social, em harmonia com o meio ambiente.
Integra os princípios de enfoque preventivo, de prevenção à poluição, respeito pela capacidade
dos ecossistemas [...] acarreta uma distribuição geográfica equilibrada ou outra distribuição
apropriada em harmonia com as condições nacionais, a promoção do desenvolvimento
econômico e social, a saúde e a educação humanas, a conservação da biodiversidade e o uso
sustentado de seus componentes, e a manutenção da diversidade cultural bem como a
qualidade do ar, água, florestas, vegetação e solo em padrões suficientes para sustentar a vida
humana e o bem estar das futuras gerações [...] Os governos deveriam incentivar métodos e
tecnologias de construção que fossem disponíveis no local, apropriados, de custo acessível,
seguros, eficientes e profundamente comprometidos com o meio ambiente, em todos os países,
especialmente nos países em desenvolvimento, em nível local, nacional, regional e sub-
regional, de modo a enfatizar o uso ótimo dos recursos humanos locais e a incentivar métodos
poupadores de energia que sejam protetores da saúde humana (AGENDA HABITAT II apud
CIB-AGENDA 21, 2000, p. 90, 95).
34

As decisões e compromissos firmados nesses eventos - a Declaração de Limurú no


Kenya em 1987; a Agenda 21 no Rio em 1992; a HABITAT II em Istambul em 1996; o
Tratado de Kyoto em 1997 e a Agenda 21 para Construção Sustentável em Gävle em 1998 –
já estão influenciando as políticas nacionais em termos de eficiência energética, proteção ao
habitat, controle de poluição e antecipação das necessidades sociais.
Torna-se evidente, em todos esses documentos, que a busca de soluções para a
construção de habitações de interesse social, compatíveis com a chamada visão sistêmica,
holística ou ecológica, aponta para a utilização do conceito de TA.
Mas os conjuntos urbanos têm uma escala apropriada: numa escala maior podem
tornar-se inapropriados, levando à insustentabilidade. As TA sugerem o equilíbrio entre a
centralização de poder e a autonomia, o respeito ao espaço sociocultural e ambiental:
“subsistemas sociais, com graus de autonomia relativa e diferentes escalas quantitativas,
compatíveis entre si. Entre a família rural e a metrópole, a dinâmica da sociedade industrial
parece apontar para a necessidade de pequenas comunidades rurais, vilas e cidades pequenas e
médias com graus diversos de integração aos macrossistemas de produção de energia, de
alimentos, de transporte, e de eliminação ou transformação do lixo” (RATTNER, 1981).
Conforme a CIB-AGENDA 21 (op. cit.), surgirão comunidades compactas nas quais
todas as funções urbanas estarão dentro do alcance de uma caminhada, favorecendo, assim, a
não fragmentação da zona rural, a adoção de fontes de energia locais e renováveis, e a
redução do impacto ambiental, social e econômico. Poderão ser assentamentos auto-
suficientes com sistemas ecológicos de ciclo de vida curto. Para Walter, Arkin e Crenshaw
apud CIB-AGENDA 21, (op. cit., p. 89): “uma verdadeira ‘comunidade sustentável’ [...]
integra a produção local de alimentos e a reciclagem do lixo. Seu tamanho é limitado à sua
bacia hidrográfica e à sua capacidade de reciclar os dejetos sem danos ao meio ambiente”.
A escala urbana deve ser apropriada também em relação à altura dos edifícios, por
vários motivos: desde a questão cultural e o suprimento de recursos, até as condições de
conforto ambiental. Cita-se como exemplo as cidades brasileiras que geralmente surgem em
volta de igrejas. Para preservar esse monumento principal da cidade como referencial, deve-se
limitar com mais rigor a altura dos edifícios nas suas imediações (questão cultural). Como
essas igrejas são construídas em lugares altos e freqüentemente sem água, recomenda-se a
previsão de lagoas de oscilação e infiltração (abastecimento de água). As recomendações que
relacionam a largura das ruas e a altura dos edifícios coincidem com as necessidades de
35

insolação e ventilação (conforto ambiental) e com a altura máxima permitida para um


elevador (questões energéticas).
Para o desenvolvimento de uma política habitacional consistente para o Brasil, conforme
Krüger (2000-a), são necessários três elementos básicos:
•= a introdução de tecnologias intermediárias (ou apropriadas), do tipo pré-fabricação de
ciclo aberto, que se dá em função do próprio consumo, nas obras, enfatizando a
combinação de elementos construtivos e favorecendo a racionalização da construção;
•= iniciativas que promovam a participação dos futuros moradores no projeto e na execução
das moradias;
•= adequação da edificação às especificidades regionais de onde se pretende construir
(adequação climática, uso de materiais locais, aspectos socioculturais).
Este pensamento harmoniza-se com o relatório do CIB-AGENDA 21 (op. cit.):

Nos países em desenvolvimento é necessário estabelecer o equilíbrio entre tecnologias nativas


melhoradas (auto-construção) e unidades produzidas em massa (pré-fabricadas) para se poder
lidar com a demanda de moradia. Nestes países, existe também a necessidade de melhorar a
vida útil dos materiais e das tecnologias de construção nativas, em vez de substituí-las por
tecnologia de fora (p. 77-78).

A participação dos moradores na definição do projeto e na construção de suas próprias


habitações faz com que suas preferências sejam consideradas e, assim, se evitem futuras
reformas, que poderão comprometer a moradia não só do ponto de vista estético e funcional,
como de segurança estrutural. Esta participação da população conduz à capacitação técnica
dos próprios auto-construtores e, conseqüentemente, ao efeito multiplicador da tecnologia.
Assim, a aplicação das TA para construção de habitações de interesse social, no Brasil, é
também uma forma de empregar a abundante mão-de-obra desqualificada, possibilitando-lhe
adquirir tecnologia. Ao mesmo tempo, isso contribui para a solução do grande déficit
habitacional brasileiro (KRÜGER, op. cit.).
Conforme mencionado, um dos mais importantes critérios para a seleção e avaliação
de TA específicas em habitação é o grau de conforto ambiental oferecido aos moradores.
Este critério (o conforto ambiental), na Habitação de Interesse Social, se baseia nos
conceitos de sustentabilidade mediante a adequação da arquitetura à região onde esta se
insere, ou seja, da Arquitetura Bioclimática.
36

2.2 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA

Vinculada ao conceito de Tecnologia Apropriada (TA), a Arquitetura Bioclimática


seria uma forma de se obter habitabilidade com baixos custos, adotando soluções locais para
problemas locais. As técnicas passivas de condicionamento propiciam adequação ao clima e
eficiência energética para obtenção de um maior grau de conforto térmico na arquitetura:
“Edifícios sustentáveis são aqueles que protegem e promovem a saúde e o conforto de seus
ocupantes e ao mesmo tempo resguardam o meio ambiente, fazendo uso eficaz da energia”
(ISIAQ3 apud CIB-AGENDA 21, op. cit., p. 12).
Embora antiga, conforme podemos observar no decorrer da História (Item 2.2.1), a
atualidade da Arquitetura Bioclimática torna-se evidente nos conceitos de sustentabilidade:

Na Declaração do Rio em 1992, o primeiro princípio declara que ‘os seres humanos são o
objeto central das preocupações do desenvolvimento sustentável. As pessoas têm direito a uma
vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza’. Fundamentalmente, o objetivo de
um edifício é fornecer um meio ambiente mais favorável aos seres humanos do que o meio
ambiente natural [...] Entretanto, os aspectos da saúde no ambiente fechado não estão
relacionados apenas com as medidas para economizar energia, mas também são influenciados
pelos novos materiais e técnicas de construção. Mudanças na temperatura e na acústica dos
ambientes de interior, assim como a iluminação etc., são outros fatores a exercer influência
(CIB-AGENDA 21, 2000, p. 64).

Estudos históricos sobre a construção vernácula e as descobertas da arqueologia e da


antropologia corroboram o desenvolvimento de uma nova teoria do planejamento e da
arquitetura: a teoria cultural da forma – que diz respeito à expressão da relação estrutural entre
forças tecnológicas, sociais, simbólicas e naturais. Estudando o significado da origem dos
processos e formas das sociedades genuínas do passado, muitos arquitetos acreditam que a
variedade, a complexidade e o significado cultural das obras antigas que mais admiramos, são
parcialmente o resultado da relação racional e sensitiva dos indivíduos com o local e seu
clima, uma relação que deveríamos buscar reestabelecer (MARKUS & MORRIS, 1980):

Há abrigos de sociedades cujos modelos sociais requerem formas específicas de construção de


acordo com suas necessidades materiais, espirituais e estéticas, resolvidos por meio de
recursos disponíveis e condicionados por fatores econômicos, ambientais, climáticos e locais.
São abrigos construídos dentro da comunidade como essenciais para sua vida e como

3
ISIAQ–The International Society for Indoor Air Quality and Climate [Sociedade Internacional para Clima e
Qualidade do Ar Interior].
37

expressão dela, e não de projetos e especificações determinados por especialistas (OLIVER


apud MARKUS & MORRIS, op. cit., p. 3).

Defesa contra climas hostis, a moradia alcançou o meio favorável para o


desenvolvimento do homem. Na busca das condições ideais para sua energia física e mental,
destaca-se o conforto térmico obtido a partir de determinados limites de temperatura, vento,
umidade relativa, freqüência e intensidade de chuvas durante as estações do ano e variações
moderadas de temperatura (OLGYAY, 1963). A sensação de conforto térmico é definida
como o estado mental que expressa satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa
(ASHRAE, 1981) [grifo nosso]. Pois o homem, animal homeotérmico, tem necessidade de
manter constante a temperatura de seu organismo em torno de um valor de 37°C, com os
limites situando-se entre 35º e 40°C. Essa condição de conforto pode ser obtida com o uso de
vestimentas adequadas e por meio do ambiente térmico, denominados, respectivamente,
segunda e terceira pele.

2.2.1 A Evolução do Abrigo: Adequação da Arquitetura ao Clima

As construções e as cidades sempre assumiram naturalmente a forma de abrigo. O


instinto de conservação humano levou à produção de paredes e tetos visando à defesa do Sol,
dos ventos, das chuvas e do perigo. Assim, a moradia aparece como um fenômeno geográfico,
decorrente da relação do homem com seu meio natural e das exigências da época, do clima e
da técnica construtiva. A técnica, ligada à disponibilidade dos materiais e características
culturais do local, resultou em construções que, na Caldéia, eram de tijolos e barro, no Egito,
de pedra, na Grécia, de mármore e, nos países frios, de madeira (CARVALHO, 1985). O
abrigo, que era no início totalmente integrado ao ecossistema, ao longo do tempo foi se
distanciando dessa idéia inicial.
Nas construções vernáculas, empregavam-se materiais e recursos energéticos locais,
mas estas diferiam das construções primitivas, por constituírem técnicas pré-industriais em
que havia artesãos especialistas e em que o modelo era continuamente ajustado para cada
família. O resultado é uma grande variedade ao longo do tempo, cada vez mais adaptada à
região, embora preservando um estilo comum. Os dois tipos de construção (primitiva e
38

vernácula) são distintos da arquitetura monumental, geralmente estudada em História da


Arquitetura (MARKUS & MORRIS, op. cit.).
O projeto construtivo vernacular era, assim, inteiramente baseado na disponibilidade
dos modelos bem experimentados e na experiência pessoal do construtor, nos quais se
integravam clima, materiais, formas e conforto. No decorrer dos séculos, a arquitetura
adaptou-se às diversas regiões climáticas do globo, com a utilização de matéria-prima
abundante no local e tecnologia dominada pelas comunidades e integrada à sua cultura.
Como fator determinante das formas de construir, encontramos não apenas a origem
étnica ou a cultura dos povos, mas principalmente sua adaptação aos meios naturais. “Não é
casualidade que grupos de diferentes continentes, crenças e culturas cheguem a soluções
semelhantes em sua luta com entornos parecidos e que tenham estabelecido características
regionais básicas” (OLGYAY, op. cit., p. 8). Dessa forma, a tipologia construtiva e o uso de
materiais construtivos encontram-se definidos mais por zonas climáticas que por fronteiras
territoriais, o que evidencia a constante busca de melhores condições de conforto térmico.
Assim, as expressões construtivas de forte caráter regional são as que possuem estreita relação
com a natureza de seu entorno, resultado de uma urgente necessidade biológica.
De acordo com Markus & Morris, (op. cit.), para Vitrúvio, no século I d.C. o conceito
de abrigo era indissociável dos elementos do clima, face aos quais o homem primitivo
procurou proteção. Com o domínio do fogo (que ocorreu há cerca de 350.000 anos), os
homens teriam se aproximado uns dos outros junto às fogueiras em busca de conforto térmico.
Ao longo do tempo, teriam desenvolvido a linguagem e construído suas primeiras moradias
em cavernas, com galhos retorcidos imitando ninhos de pássaros.
Para o habitat troglodítico eram utilizadas as cavernas naturais ou escavadas. As
cavernas podiam ser escavadas em sentido horizontal ou em profundidade ao redor de um
poço central, como alguns exemplos encontrados na Tunísia e na China Meridional. A opção
por esse tipo de moradia pode ter tido razões culturais, estratégicas (segurança), técnicas (falta
de materiais) ou climáticas, principalmente nos climas extremos que caracterizam as regiões
quentes e secas. Sem exposição da fachada ao exterior e com a alta inércia térmica do solo, a
intensa variação diária da temperatura externa podia ser ignorada. Somente a variação anual
da temperatura externa podia alterar o comportamento térmico do ambiente interno, e
dependendo do tipo de solo ou dos materiais empregados, a defasagem da onda térmica anual
podia chegar a seis meses, produzindo calor relativo no inverno e um clima fresco no verão.
39

Além de amenizar as temperaturas extremas, estas habitações também protegiam seus


usuários dos ventos violentos e dos excessos de luz (IZARD & GUYOT, 1983).
Cerca de 8.000 anos a.C., desencadeou-se uma lenta e importante transformação
tecno-econômica – da recoleta de cereais selvagens e da caça, ao cultivo de cereais e à criação
de gado – a economia passa a ser a característica da fase neolítica, tornando a comunidade
auto-suficiente, embora os intercâmbios entre os grupos fossem contínuos. Já em 5.000 a.C.,
modificou-se a estrutura das sociedades da Mesopotâmia à Turquia, Grécia e Egito (LEROI-
GOURHAN, 1964).
De acordo com Vitrúvio, as estruturas de galhos retorcidos imitando ninhos de
pássaros evoluiu para paredes apoiadas em suportes bifurcados, com ramos entrelaçados e
cobertos de barro. Os telhados feitos com juncos e folhas tinham beiral e eram pichados para
impedir a entrada da água de chuva. Confirmando essa teoria, foram encontradas cabanas
semelhantes remanescentes em várias partes da Europa. Algumas delas, com fundações
próprias e paredes de tijolo ou pedra e cobertura de madeira com telha de barro. A arquitetura
nasceu, portanto, da elaboração do abrigo rudimentar (MARKUS & MORRIS, op. cit.). Na
Figura 1, podemos observar a ilustração de Chambers sobre essa evolução.

FIGURA 1 – CABANAS PRIMITIVAS E A ORIGEM DA ARQUITETURA SEGUNDO CHAMBERS APUD


GALFETTI (1995)

FONTE: GALFETTI, G. G. Casas refúgio. Barcelona: Gustavo Gili, 1995, p.9.

Com a sedentarização, a sobrevivência do grupo passou a depender totalmente do grão


cultivado e de seu estoque, surgindo assim as primeiras aldeias permanentes. Com casas
geralmente dispostas de forma regular, a pequena aldeia dependia totalmente do clima: uma
seca, uma nevasca ou uma tempestade significavam a fome. A agricultura exigia uma
observação mais detalhada das estações do ano, das modificações provocadas no clima pela
40

trajetória do Sol, cultuado como divindade. Grupos humanos de diferentes etnias adaptaram-
se de maneira diversa a condições heterogêneas de clima e solos. A mesma luta contra
elementos da natureza, que antes favorecia as aldeias neolíticas a permanecerem pequenas,
agora exigia a união da coletividade, a fixação e o crescimento das aldeias. Estabeleceram-se
os artesãos. Depois de 2000 anos do aparecimento das aldeias, surgiram as primeiras cidades.
Iniciou-se a evolução das técnicas construtivas (GORDON, 1971):

A vida sedentária deu oportunidades ao aperfeiçoamento das instalações residenciais e abriu o


caminho para a arquitetura. Os mais antigos agricultores egípcios se haviam contentado com
simples protetores contra o vento, feitos de juncos revestidos de barro. Os proto-sumerianos
moravam em casas semelhantes a túneis, de juncos em crescimento, ou sob esteiras
penduradas por juncos. Mas dentro em pouco casas construídas de barro, ou terre pisée, eram
erguidas tanto no Egito como na Ásia. E muito antes de 3000 a.C. o tijolo foi inventado na
Síria ou Mesopotâmia. Essencialmente, ele é apenas um pouco de barro misturado com palha,
modelado com uma fôrma de madeira secado ao Sol (p. 116).

Os nômades de diversas épocas também desenvolveram cabanas, de materiais que


variavam conforme sua disponibilidade, em resposta às condições climáticas regionais: a
estrutura de galhos ou de juncos colhidos à beira do rio e com paredes de argila e plantas
secas; os iglús de neve dos esquimós no Ártico; na Mongólia dos khans, os yurtes de feltro, de
lã de carneiro ou de pelo de camelo, fixados sobre uma treliça de madeira por crinas de cavalo
e transportados por carroças puxadas por bois; as tribos indígenas norte-americanas
construíam cabanas de palha presa a uma estrutura de vime, ou ainda, cabanas de pele de
bisão (BEHLING et al., 1996).
Os estudos sobre o clima e sobre a Arquitetura Bioclimática remontam à Grécia
antiga: a palavra clima que vem do grego (klima) e significa inclinação, refere-se à
distribuição periódica, mas irregular, da luz e do calor do Sol nos dias, noites e estações,
produzida pela inclinação do eixo da Terra em relação ao seu plano orbital (CARVALHO,
1985). Sobre a Arquitetura Bioclimática, Hipócrates (460-380 a.C.) descreveu o clima
fisiológico em relação aos elementos climáticos (WEBB apud ARAÚJO, 2001); Aristóteles
(382-322 a.C.) recomendou que a cidade fosse orientada para a face Leste, protegida do
Norte; e Xenofonte (430-350 a.C.) sugeriu pórticos como dispositivos de sombra contra o Sol
alto do verão, mas permitindo a penetração profunda do Sol de inverno através dos ângulos
baixos. A face Sul deveria ser mais alta e a Norte4, para evitar ventos frios, mais baixa

4
Devido à sua localização no Hemisfério Norte, a face mais ensolarada na Grécia é a face Sul, sendo que do
Norte vem os ventos frios, a serem evitados (esta situação se inverte no Hemisfério Sul).
41

(MARKUS & MORRIS, 1980). Além desses preceitos de condicionamento das construções e
das cidades utilizando a energia do Sol e a ventilação natural, os antigos gregos
desenvolveram novas fontes de energia, como a energia eólica, para a navegação, e a
hidráulica, utilizada nos moinhos d’água (KRÜGER, 1993).
Na Roma do século I a.C., Vitrúvio escreveu sua obra Os Dez Livros de Arquitetura,
traduzida por Claude Perrault em 1673. O livro VI trata especificamente da relação do clima
com a arquitetura. Esse tema influenciou profundamente todo o seu trabalho: o clima interfere
na escolha do lugar, evitando os efeitos desagradáveis dos excessos dos ventos, da
temperatura e da umidade excessiva no projeto da cidade. O clima também determina a
distribuição dos ambientes e o tipo de moradia. Esta deveria ter maiores superfícies expostas e
aberturas para o Sul, sendo mais protegida ao Norte (IZARD & GUYOT, 1983).
O Império Romano foi um dos primeiros exportadores de tecnologia, utilizando as
mesmas técnicas construtivas em locais de características diversas. Desse modo, o poder
político e militar pretendia subjugar parcial ou totalmente o local, suas necessidades
particulares e específicas e suas tradições. A arquitetura moderna, exportadora de modelos
tecnológicos e estilos internacionais é, assim, a versão recente de algo antigo (MARKUS &
MORRIS, op. cit.).
Mas, na Arquitetura Vernácula, descrita por Izard & Guyot (op. cit.), ENARCH’83
(1983) e Olgyay (1963), dentre outros, são numerosos os exemplos de design de moradias em
várias épocas e lugares que utilizam energias naturais e bom-senso climático: as migrações
indígenas vindas do Norte, com suas moradias adequadas aos diferentes tipos de climas no
Canadá e nos Estados Unidos (frio, temperado, quente-úmido e quente-seco); as casas dotadas
de pátios no deserto, com as ruas estreitas e com paredes e coberturas massivas; a leve
estrutura de tesouras de madeira na casa da Malásia, em seu estilo com paredes de biombo; as
casas de pedra e madeira na região do Mar Negro na Turquia, estabelecidas profundamente
nas encostas das montanhas entre pomares e aveleiras (OLGYAY, op. cit.; MARKUS &
MORRIS, op. cit.).
Um dos exemplos mais extraordinários de arquitetura adequada ao clima descrito por
estes autores é o assentamento dos índios de Pueblo Bonito, região árida de extremos
climáticos, em Chaco Canyon, Novo México, construído entre os anos 919 e 1180 d.C. Sua
estrutura semicircular, baseada na posição do Sol nos solstícios de verão e de inverno,
medindo cerca de 160 metros de diâmetro e constituída de 4 pisos, chegou a abrigar 1200
habitantes. De forma intuitiva ou não, as construções desses índios utilizaram eficientemente
42

os princípios de geometria solar, de ventilação, de transmitância e de inércia térmica dos


materiais, garantindo o conforto térmico tanto no inverno como no verão (WATSON, 1985).
“Se o critério conservado fosse o grau de capacidade de vencer os meios geográficos
mais hostis, não há dúvida de que, de um lado os esquimós e, de outro, os beduínos levariam a
palma” (LÉVI-STRAUSS et al., 1970, p. 249). As habitações dos climas extremamente frios
devem oferecer a menor resistência ao vento e produzir o maior volume com a menor área de
superfície. Nesse sentido, a forma semiesférica do iglú esquimó é perfeita e a mais
eficientemente aquecida por uma lâmpada de óleo de foca, de um ponto de calor radiante
central, ao redor do qual são distribuídos os ambientes (MARKUS & MORRIS, op. cit.).
Para Lévi-Strauss (et al., op. cit.), a originalidade de cada cultura reside na sua
maneira particular de resolver os problemas e de pôr em perspectiva os valores que são
semelhantes para todos os homens.
Não é somente na arquitetura vernácula que se encontram bons exemplos de
adequação climática mediante o condicionamento térmico natural. Os grandes nomes da
Arquitetura também reconheceram a importância da aplicação dos princípios climáticos na
construção. Este fato pode ser observado desde Alberti, no século XV, que devota parte
substancial de seu trabalho à seleção do lugar, do microclima, dos materiais apropriados para
manter o espaço aquecido ou frio e oferecer proteção ao Sol e aos ventos.
Porém, nos séculos XVII e XVIII, os arquitetos deixaram novamente de atender às
necessidades da diferenciação climática, disseminando palácios de características idênticas
em regiões tão diferentes como a Lombardia ou Londres. Utilizando construções massivas,
com pequenas janelas, eles alcançavam uma tecnologia com a qual conseguiam uma massa
térmica das paredes e telhados de desempenho razoável tanto nos climas frios como em
climas de altas amplitudes térmicas diárias. Essa uniformidade contrasta fortemente com a
variedade de edificações vernáculas encontradas em Provence, Toscana ou na Costa do Mar
Negro (MARKUS & MORRIS, op. cit.).
Com o advento da Revolução Industrial do século XIX e a introdução de novos
materiais na construção civil como o vidro, o aço e o concreto, as técnicas construtivas se
desenvolveram, permitindo novas formas de arquitetura. As fontes de energia renováveis até
então utilizadas como a energia solar, foram substituídas por recursos fósseis em grande
escala e pela descoberta e rápida difusão da energia elétrica.
Os avanços em algumas áreas, como os novos conceitos sobre organização do trabalho
em recintos fechados, passaram a exigir a aplicação dos conceitos de higiene e conforto
43

ambiental, com o objetivo de diminuição do risco de doenças e aumento do rendimento


intelectual e físico. Ressurgiram então os estudos de insolação das fachadas das habitações, a
busca do Sol, das radiações ultravioletas altamente bactericidas, do calor e da iluminação
natural dos edifícios. Os novos estudos sobre psicrometria e sobre a sensação de conforto
térmico, relacionados ao controle da ventilação, levaram aos sistemas de condicionamento
artificial, contornando as desvantagens térmicas dos edifícios com fachadas de vidro.
Desenvolveu-se, ainda, a climatologia e o conceito da habitação como um microclima
artificial e controlável, que pode ser predeterminado pelo arquiteto (CARVALHO, 1985).
No começo do século XX, aparecia o efeito da escala na arquitetura, criando-se alguns
transtornos. Possibilitadas pelos novos materiais e técnicas, torres eram construídas como um
simples aumento proporcional dos tradicionais edifícios elevados de altura limitada do final
do século XIX. Apesar dos ângulos de geometria solar permanecerem os mesmos, grandes
extensões de solo entre os blocos eram quase permanentemente sombreadas. Os edifícios altos
recebiam e refletiam substanciais ganhos de calor solar devido à sua maior superfície,
interferindo no regime de ventos e alteravam o clima ao redor de sua base (MARKUS &
MORRIS, 1980).
Os princípios climáticos influenciaram profundamente o pensamento e o trabalho de
arquitetos como Frank Lloyd Wright, Corbusier, Gropius e Neutra, dentre outros.
Alexander Klein projetou sua “casa unifamiliar orientada para o Sul” para um
concurso em Berlim, em 1932, considerando o fator orientação e a conseqüente exposição ao
Sol adequada durante as várias estações do ano, como o elemento prioritário na determinação
da tipologia e da disposição dos ambientes (Figura 2). Nesse projeto, o arquiteto buscou a
iluminação solar completa e o máximo aproveitamento dos raios solares. Refletindo a
preocupação de muitos arquitetos do século XX com a dignidade da moradia do trabalhador,
definiu como indispensável para conseguir certa habitabilidade – Existenz-minimum – os
princípios energéticos do racionalismo: os mínimos necessários sobre certos parâmetros
mensuráveis como radiação solar, iluminação natural, ventilação, número de serviços
higiênicos etc (ENARCH’83, 1983; GALFETTI, 1995).
44

FIGURA 2 – DIAGRAMA DE ILUMINAÇÃO SOLAR COMPLETA E MÁXIMO APROVEITAMENTO DE


RAIOS SOLARES DE ALEXANDER KLEIN

FONTE: GALFETTI, G. G. Casas refúgio. Barcelona: Gustavo Gili, 1995, p.8.

Wright baseou seus projetos na proximidade com a natureza e no que chamou de


arquitetura orgânica. Em sua obra, observa-se o uso constante de condicionamento natural. Os
espaços projetados por ele permitiam a entrada de luz natural (com a utilização da geometria
solar) e sua perfeita integração com o entorno. Uma de suas residências, construída para
Herbert Jacob, no Wisconsin, em 1943, situa-se num sítio de clima particularmente frio e
ventoso. É uma casa de planta curvilínea, chamada por Wright de “Hemiciclo Solar”, que
constitui a forma mais lógica para interceptar e manter o calor. A fachada Norte, convexa, é
aterrada, com a finalidade de aumentar a proteção ao frio (pela inércia térmica). A fachada
Sul, côncava, tem dois andares de portas e janelas envidraçadas para aproveitar o calor do Sol
de inverno (aquecimento solar direto), mas protegida do Sol no verão (sombreamento), pelo
avanço da fachada (PFEIFFER, 1994).
Le Corbusier interessou-se, cada vez mais, pela influência climática no projeto
arquitetônico. No início, sua visão de edifícios de escritórios com “fachadas cortina” –
enormes superfícies de vidro – influenciou centenas de arquitetos, que provocaram desacertos
climáticos e energéticos em cidades de todo o mundo. Já em 1936, ele sugeria o eficiente
brise-soleil para a equipe de Oscar Niemeyer para o Edifício de Saúde Pública e Educação
Nacional no Rio de Janeiro. Mas este trabalho também se torna moda, sendo imitado em
edifícios em uma variedade de climas, sem considerar-se a orientação, a latitude ou princípios
de proteção solar. Para Le Corbusier, “as matérias-primas do planejamento da cidade são: o
45

Sol, o espaço, a vegetação, o aço e o concreto, nesta precisa ordem e hierarquia” (MARKUS
& MORRIS, op. cit., p. 10).
A Torre de Sombras em Chandigar, projetada por Le Corbusier em 1957, utiliza o Sol
como o grande determinante do desenho da fachada, como instrumento de luz e sombra e,
portanto, de arquitetura. O lado Norte é completamente aberto, enquanto as outras três
fachadas são equipadas com brise-soleil cuidadosamente estudados. A elevação Sul está
sempre na sombra durante o período mais quente, embora o Sol a atinja e penetre nos seus
ambientes no inverno. O espaço foi desenhado para induzir uma sensação refrescante e de
serenidade em seu interior durante os dias quentes na Índia e para conseguir, graças à
experiência de conforto fisiológico que proporciona, um espaço de encontro e de reflexão
(ENARCH’83, op. cit.).
Para Gropius, o clima estava em primeiro lugar na concepção básica do projeto:

o verdadeiro caráter regional não pode ser encontrado através de sentimento ou aproximação
por imitação ou incorporação de um ou outro símbolo antigo ou do mais novo estilo local que
desaparece como apareceu. Mas [...] a diferença básica imposta ao projeto arquitetônico pelas
condições climáticas [...] pode resultar na diversidade da expressão [...] se o arquiteto tem a
intenção de usar o absoluto contraste das relações interior-exterior [...] como foco para a
concepção do projeto (GROPIUS apud MARKUS & MORRIS, op. cit., p. 8).

As novas idéias e conceitos do Modernismo revolucionaram a arquitetura, mas os


avanços nos estudos do conforto ambiental foram esquecidos. Assim, a tecnologia e a forma
dominaram o “estilo internacional”, “uma denominação que por si só denota a falta de atenção
que se dedica às variações do clima das diferentes partes do mundo” (STEADMAN, 1978, p.
17). A abundância de recursos energéticos e seu baixo custo em todo o século XX até a crise
do petróleo em 1973, colaboraram para o distanciamento dos arquitetos em relação à
arquitetura regional e em favor da arquitetura internacional. Assim, soluções arquitetônicas
encontradas no Hemisfério Norte foram indiscriminadamente implantadas no Hemisfério Sul,
sem que fossem estudadas as condições para suas necessárias adaptações a cada novo meio. A
envoltória do edifício passou a ter outros significados (estéticos e conceituais), deixando de
ser elaborada como proteção contra os elementos do clima como vento, chuva, Sol excessivo,
calor e frio e proporcionar o conforto térmico ao seu interior. Os grandes panos de vidro nas
fachadas aumentavam as perdas de calor nas épocas frias do ano e introduziam excessiva
radiação solar no verão, criando verdadeiras estufas. O edifício concebido em função de sua
“planta geradora”, se desenvolveu como uma escultura isolada do entorno, causando o
46

colapso urbano atual: “por causa da ênfase dada à organização interna do edifício e à sua
função específica, se desviou a atenção dos espaços exteriores que o circundam”
(STEADMAN, op. cit., p.17-18).
Assim, cada vez mais intensamente, as migrações, a comunicação entre as sociedades,
o desenvolvimento tecnológico e as descobertas de novos materiais têm contribuído para que
o ato de construir se distancie do ambiente natural. Descarta-se o uso dos materiais
autóctones, dos elementos construtivos originais e das tradições locais próprias, desprezando-
se a experiência acumulada durante séculos. O uso indiscriminado de tipologias e elementos
construtivos tem perdido seu caráter regional, não levando em conta seus efeitos sobre o
conforto humano ou sobre o comportamento dos materiais, além de requerer grande
quantidade de energia para condicionar artificialmente os ambientes. Contribuem para esse
desacerto os críticos, ao julgar somente os valores estéticos dos edifícios (RIVERO, 1986).
Porém, o conflito árabe-israelense de outubro de 1973, levou à reavaliação da questão
da disponibilidade e do uso das reservas globais de combustível fóssil. Alterando o
significado trazido pela Revolução Industrial e pela urbanização da população rural e como
parte de um movimento maior de preservação do meio ambiente, a arquitetura passa
gradualmente a valorizar o modelo tradicional e ecológico. O estudo do conforto térmico,
antes relacionado aos sistemas de climatização artificial, volta-se agora à Arquitetura
Bioclimática.
Na arquitetura contemporânea brasileira, seguem-se ainda os padrões da arquitetura
internacional, desconsiderando o clima e importando soluções inadequadas às condições
regionais.
Dentre algumas exceções, cita-se o arquiteto Severiano Porto, por seu trabalho com
fortes características regionais mediante a apropriação e a reelaboração de técnicas e materiais
tradicionais e da adaptação dos postulados modernos ao sítio, clima e cultura local. Sua
arquitetura leve e aberta favorece o condicionamento térmico natural no clima quente-úmido
da região, inserindo-se harmoniosamente em meio à mata amazônica (ZEIN et al., 1986). A
residência Tarumã, no Amazonas, realizada por Severiano Porto, foi inspirada nos abrigos
vernáculos dos indígenas locais, apropriados para regiões de clima tropical e que demonstram
um profundo respeito à natureza. Elevada do solo, a residência proporciona melhor
ventilação, evita a retirada da camada de folhas que mantém o solo fértil e ocupa pouco
espaço evitando desmatamento. Espaços vazados permitem boa ventilação no interior,
grandes beirais proporcionam sombra e a inclinação da cobertura permite o rápido
47

escoamento da chuva. O dimensionamento das peças de madeira é feito de forma a favorecer


seu manejo pelo homem da terra, responsável da extração da madeira ao acabamento final da
obra (ROMERO, 2000).
Os arquitetos Luís Nunes e Fernando Saturnino Brito, foram os primeiros a utilizar os
cobogós5 em Olinda, em Pernambuco, adaptando assim o princípio do brise-soleil utilizado na
arquitetura moderna às características do clima regional do Nordeste. Os cobogós funcionam
como pequenos quebra-sóis, filtrando a luz solar e permitindo a ventilação (TOLEDO, 1999).
José Filgueiras Lima é conhecido pela concepção bioclimática de suas obras. No
Hospital Sarah Kubitschek em Brasília, destaca-se a técnica de resfriamento pela inércia
térmica do solo para dissipar o calor absorvido sob a forma de um sistema natural de
condicionamento de ar, em que dutos subterrâneos permitem que o ar no seu interior seja
resfriado e guiado (por ventiladores ou por simples convecção) para o interior da edificação.
Dentre outros arquitetos brasileiros que mereceriam ser citados por sua arquitetura
caracterizada por uma forte relação com o clima, encontram-se Assis Reis e João de Castro
Filho. Mas a adequação ao clima pode ser observada também em exemplos da arquitetura
vernácula em várias regiões do Brasil.
A habitação do índio do Alto Xingu utiliza o isolamento térmico proporcionado pela
camada de palha dos fechamentos, que permite a boa exaustão do ar quente e ameniza as
freqüentes quedas de temperatura à noite, mantendo o calor produzido no seu interior pelo
agrupamento das pessoas e pelo fogo central. Durante o dia, a construção atenua o calor do
Sol. A moradia constitui praticamente a única proteção térmica dos índios, que contam com
poucas vestimentas (BITTENCOURT, 2000).
As aldeias de casas caiçaras (palhoças de pescadores junto à praia) no Nordeste, são
implantadas de forma a proteger as habitações da intensa radiação solar local, mas permitindo
a ventilação da orla e o sombreamento dos coqueiros (BITTENCOURT, op. cit.).
Em outro extremo do país, num clima totalmente diverso aos dos exemplos anteriores,
evidenciam-se as moradias rurais de paredes grossas e pátios abertos dos gaúchos do interior,
inspiradas na arquitetura dos jesuítas do século XVIII, adaptadas, ao mesmo tempo, a um
clima frio no inverno e quente no verão. Os fechamentos são espessos e de suficiente
capacidade térmica (conveniente também no inverno), refletindo a radiação solar e possuindo
aberturas pequenas. Varandas proporcionam sombra e proteção às paredes e ao espaço da

5
Cobogós: versão brasileira dos brise-soleil (elementos de proteção solar, criados por Le Corbusier). Os cobogós
foram criados no final da década de 1930 e utilizados em toda a Região Nordeste (Zonas Bioclimáticas 7 e 8).
48

entrada. As moradias são divididas em dois volumes separados por um pátio coberto e bem
ventilado, ideal para o verão (RIVERO, 1986).
No Paraná, as casas de taipa de pilão, ainda freqüentes nas cidades mais antigas, como
Paranaguá, Lapa etc., são elevadas do chão por baldrames superficiais de pedras permitindo a
ventilação do piso de madeira por pequenas aberturas (gateiras). As janelas são de folhas
duplas de vidro e escuras de madeira ou venezianas. Essas construções, de grande inércia
térmica, apresentam bom desempenho térmico, especialmente no verão.
Também bastante conhecidas, as casas de troncos dos imigrantes poloneses estão
extintas como prática construtiva, embora apresentem bom desempenho térmico para as
nossas condições devido ao forro, ao efeito isolante da parede (20cm de madeira) e às
vedações das juntas (BONGESTABS, 1983).
As casas de Araucária, representam a arquitetura de madeira na história de Curitiba.
Foram construídas entre finais do século XIX e meados do século XX, período que
corresponde ao ciclo da madeira, na economia paranaense, com a extração dos pinheiros de
Araucária. Esse sistema construtivo constituiu uma adaptação à disponibilidade de recursos
naturais, no caso, o pinho do Paraná, uma madeira então abundante, barata e fácil de ser
trabalhada. As paredes de tábuas de pinho de 20 ou 25cm têm suas frestas vedadas por mata-
juntas de madeira externos e internos. O forro é do tipo lambril de madeira. O telhado
cerâmico em duas ou quatro águas, às vezes subdivide-se para acompanhar varandas e
saliências e proteger aberturas. A estrutura de madeira apoia-se em pilares de tijolos ou em
alicerces contínuos, criando porões ventilados que protegem a casa da alta umidade local
(BONGESTABS, op. cit.).
O Brasil, devido à sua grande extensão territorial, apresenta grande diversidade
climática. Mesmo assim, as características da maior parte de seu território permitem
construções com condições de conforto térmico utilizando-se apenas técnicas de projeto
adequadas, sem a necessidade de condicionamento artificial ou de insumos energéticos.
A percepção humana do clima e a sensação de conforto térmico devem-se não só a
fatores fisiológicos, mas também psicológicos e culturais. As aberturas, por exemplo, são
revestidas de diversas funções e significados sobrepostos, além de sua performance física na
admissão da energia solar, luz do dia e ar. O uso dos elementos de forma significativa
depende da tradição vivida, que, por sua vez, é em alto grau dependente da experiência sobre
clima, suas variações diárias e sazonais, seus extremos e seus efeitos sobre os materiais
familiares e formas de modificá-los. Essa familiaridade tem desaparecido com a produção em
49

massa dos materiais, o não-envolvimento tanto dos usuários como dos projetistas no projeto e
na construção, a padronização das edificações e sua climatização artificial. A burocracia levou
à perda da autenticidade e à industrialização da construção civil. A análise científica do clima
e de sua influência na construção e nas pessoas não substitui a compreensão mediante a
experiência - impossível de se obter na velocidade das mudanças. Assim, a arquitetura atual
carece tanto de experiência como de ciência (MARKUS & MORRIS, 1980).

2.2.2 Estudos Precedentes a cerca do Conforto Térmico

Os primeiros parâmetros básicos para avaliação das condições climáticas a se tornar


mensuráveis foram a temperatura e a pressão. O desenvolvimento do termômetro, em 1593,
por Galileu e do barômetro de mercúrio, em 1643, por Torricelli, possibilitaram as medições
que tiveram início nos séculos XVII e XVIII. Redes nacionais de meteorologia foram
implantadas na França, na década de 1770, e na Prússia, em 1817. Em 1818, Howard publicou
os resultados de medições realizadas em Londres mostrando a existência de um microclima
urbano, fato até então unanimemente ignorado. O recurso utilizado pelos arquitetos, até então,
era o manejo da geometria solar por meio de gráficos, para o projeto de elementos de sombra
e a representação do percurso do Sol no projeto. Era o que de mais notável havia em todo o
desenvolvimento da climatologia científica e instrumentação meteorológica disponível a partir
do século XVIII mediante dados teóricos e empíricos (MARKUS & MORRIS, op. cit.).
O estudo dos fatores que interferem no conforto do ambiente construído exigia a
medição das variáveis ambientais com a exatidão necessária, num único índice que
abrangesse todas essas variáveis. Este índice seria, então, relacionando à resposta de seres
humanos que vivem em condições climáticas específicas. Assim, o termômetro quente,
desenvolvido por Heberden, em 1826, constituía um medidor de conforto primitivo,
relacionando pela primeira vez a sensação de conforto a outros fatores, além da temperatura
do ar. Seguiram-se o desenvolvimento de equipamentos como o catatermômetro (também
usado como anemômetro), por Hill, em 1914, e o termômetro de globo, por Vernon, em 1930,
dentre outros. Também em 1930, Bedford desenvolveu um conjunto de aparelhos apropriados
para as medições (ARAÚJO, 2001).
Como já citado, com a Revolução Industrial na Europa, no início do século XIX,
houve um aumento significativo do número de acidentes e doenças geradas nas indústrias,
50

causados pelo excesso de calor e de umidade nestes locais. A preocupação com a queda de
produtividade levou às primeiras investigações sobre os aspectos fisiológicos do trabalho e a
busca de critérios definidores da sensação de conforto térmico (IIDA, 1997).
Em 1916, nos Estados Unidos, Winslow e sua equipe realizaram estudos acerca da
influência das condições termo-higrométricas, visando ao rendimento do trabalho físico do
operário e, ao mesmo tempo, a objetivos militares, de adaptação das tropas aos diferentes
tipos de clima a que seriam submetidas (FROTA & SCHIFFER, 1995).
Bedford & Vernon em 1922, em pesquisa realizada em uma mina de carvão,
demonstraram a influência da temperatura do ambiente sobre as pausas no trabalho e a
freqüência de acidentes - que tendiam a crescer com temperaturas acima dos 19ºC e 20ºC. A
queda na eficiência do trabalho à temperatura de 28ºC era em média de 41% em relação à
temperatura de 19ºC, acentuando-se para trabalhadores de mais de 45 anos (Figura 3) (IIDA,
op. cit.).

FIGURA 3 – INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA AMBIENTAL SOBRE AS PAUSAS NO TRABALHO E


A FREQÜÊNCIA DE ACIDENTES, EM UMA TAREFA DE CARREGAMENTO DE
CARVÃO, SEGUNDO BEDFORD E VERNON

FONTE: IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgar Blücher, 1997. p. 232.

Ao longo do tempo, foram desenvolvidas mais de trinta “escalas de conforto” ou


“índices térmicos” (biofísicos, fisiológicos ou subjetivos). Para Frota & Schiffer (1995), os
mais apropriados aos climas brasileiros são: a Temperatura Efetiva, de Yaglou & Houghton; a
51

Temperatura Efetiva Corrigida, de Vernon & Warner; o Índice de Conforto Equatorial ou de


Singapura, de Webb; e a Carta Bioclimática, de Olgyay.
Uma das primeiras pesquisas acerca destes índices, a de Houghton & Yaglou para a
ASHVE (American Society for Heating and Ventilation Engineers), visava otimizar as
condições de operação de condicionadores de ar. Em 1923, os autores propuseram a Escala de
Temperatura Efetiva (TE), definindo “linhas de igual conforto” sobre a Carta Psicrométrica,
que permitem correlacionar as temperaturas de bulbo seco e de bulbo úmido com a umidade
relativa. Por definição, o índice de TE de um ambiente é a temperatura de um ambiente que,
contendo ar praticamente em repouso6 e completamente saturado de umidade, proporciona a
mesma sensação de frio ou de calor que o ambiente em questão (COSTA, 1974). Assim, a TE
considera os efeitos combinados da temperatura, da umidade relativa e da velocidade do ar
(Figura 4).

FIGURA 4 – LINHAS DE TEMPERATURA EFETIVA SOBRE DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO, SEGUNDO


HOUGHTON E YAGLOU

FONTE: GONZALEZ et al. Proyecto clima y arquitectura. v. 1. México: Gustavo Gili, 1986, p. 56.

6
Considera-se o ar praticamente em repouso quando em velocidades compreendidas entre 0,1 e 0,15m/s.
52

Vernon & Warner, em 1932, propuseram correções à TE, denominando-a Índice de


Temperatura Efetiva Corrigida (TEC) (Figura 5). A TEC substituiu, a temperatura de bulbo
seco pela temperatura do termômetro de globo incluindo os efeitos da radiação. Mais tarde,
Koenigsberger et al. (1977) fizeram as adaptações necessárias para a delimitação da zona de
conforto sobre o nomograma da Temperatura Efetiva para habitantes de regiões de climas
quentes, considerando vestimentas normais e trabalho leve (KOENIGSBERGER et al., op.
cit., GONZALEZ et al., 1986). O índice TEC foi adotado como padrão em todo o mundo por
quase cinco décadas, inclusive pela ASHRAE (American Society for Heating Refrigerating
and Air Conditioning Engineers). As críticas a este índice relacionavam-se ao efeito da
umidade relativa, superestimado para baixas temperaturas e subestimado para altas
temperaturas. A ASHRAE somente substituiu o TEC, em 1971, pela Nova Temperatura
Efetiva (TE*) e, logo, pela Temperatura Efetiva Padrão (TEP) (ARAÚJO, 2001).

FIGURA 5 – EXEMPLO DE UTILIZAÇÃO DO NOMOGRAMA DA TEMPERATURA EFETIVA


CORRIGIDA

FONTE: KOENIGSBERGER et al. Viviendas y edificios em zonas cálidas y tropicales. Madrid: Paraninfo,
1977, p. 76.
53

Poderiam ainda ser citados: a Temperatura Resultante (TR), de Missenard, França,


1931; o Calor Equivalente (CE), de Bedford, Inglaterra, 1936; a Temperatura Operativa (TO),
de Winslow, Herrington e Gagge, Estados Unidos, 1937; a Taxa de Sudação Prevista em 4
Horas (TSP4), de Mcardle e colaboradores, Inglaterra, 1947. No entanto, esses índices
menosprezam o efeito de resfriamento do movimento do ar nas condições de altas umidades.
(Em condições de altas taxas de temperatura e de umidade relativa do ar, o contato da pele
com o ar em movimento favorece a evaporação do suor, produzindo uma sensação de
refrescamento e conseqüentemente, de conforto termo-higrométrico. Mas, quando a
temperatura do ar é elevada e a umidade é baixa, o movimento do ar pouco favorece). O
Índice de Esforço Térmico (IET), de Belding & Hatch, Estados Unidos, desenvolvido por
volta de 1950, também não é apropriado aos tipos de clima encontrados no Brasil
(KOENIGSBERGER op. cit.).
O Índice de Conforto Equatorial (ICE) (Figura 6), desenvolvido por Webb, em
Singapura, no início da década 1960, é aplicável a regiões de clima quente e úmido. Foram
registradas respostas subjetivas de sensação de conforto em uma escala climática
desenvolvida especialmente para as condições tropicais, aplicada a pessoas completamente
aclimatadas.
Esses dados, comparados a medições da temperatura do ar, umidade relativa e
movimento do ar, foram agrupados em uma fórmula e representados em um gráfico muito
semelhante ao do nomograma de TE. O gráfico indica como ideal para o conforto a
temperatura de 25,5ºC, na escala ICE.
Webb concluiu que este índice confirma a relevância do efeito de resfriamento do
movimento do ar nesse tipo de clima para diminuir a sensação de desconforto devido ao calor
(FROTA & SCHIFFER, 1995; ARAÚJO, op. cit.).
54

FIGURA 6 – NOMOGRAMA DE ÍNDICE DE CONFORTO EQUATORIAL, SEGUNDO WEBB

FONTE: FROTA, A. & SCHIFFER, S. Manual de conforto térmico. São Paulo: Studio Nobel, 1995. p. 182.

Os irmãos Olgyay, nos Estados Unidos, na década de 1960, estabeleceram o primeiro


procedimento sistemático com o objetivo de adaptação de uma edificação às condições do
clima, criando a expressão “projeto bioclimático”. Victor Olgyay sugeriu o roteiro para a
construção bioclimática em quatro etapas:
•= análise dos dados climáticos anuais da região;
•= avaliação biológica baseada nas sensações humanas;
•= soluções tecnológicas para reduzir os impactos do clima e usar as vantagens existentes; e
•= aplicação arquitetônica das conclusões obtidas nas três primeiras fases e desenvolvimento
equilibrado dos elementos conforme a necessidade (OLGYAY, 1963).
55

A Carta Bioclimática (Figura 7), de Olgyay, baseia-se em informações fisiológicas e


mostra a zona de conforto humano estabelecida estatisticamente para pessoas em repouso e
com roupas leves. Se a temperatura e a umidade relativa do ar se localizarem fora da zona de
conforto, será necessário recorrer às medidas corretivas propostas no gráfico, em função do
vento, radiação solar, sombreamento e resfriamento por evaporação (GIVONI, 1976).

FIGURA 7 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO DE VICTOR OLGYAY (1963).

FONTE: RORIZ, M. Zona de conforto térmico: um estudo comparativo de diferentes abordagens. São Carlos,
1987. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) Departamento de Arquitetura e Planejamento, USP, p. 45.

A mais clara descrição do método de Olgyay é feita por Aroztegui (apud RORIZ,
1987):

Num sistema cartesiano no qual as abcissas são as umidades relativas de 0 a 100% e as


ordenadas são as temperaturas de –10º até 50ºC, encontra-se localizada uma zona de conforto
com os seus limites difusos [...] Nesse mapa estão definidas zonas onde se produzem diversas
sensações e os limites normais nos quais pode desenvolver-se a vida do homem. Estão ainda
graficadas7 as resistências térmicas das roupas (em unidades CLO), necessárias para ampliar a
zona de conforto até limites inferiores. O interessante neste gráfico é sua precisão relativa, que
não nos leva ao erro de considerar como exatas apreciações tão subjetivas [...] A velocidade do
7
Graficado: termo usado pelo autor significando “representado por meio de gráfico”
56

ar aumenta as perdas por convecção e evaporação elevando então os limites superiores de


conforto. Isto, até determinados limites de eficiência, pois acima dos 2,0m/s já se nota a ação
do vento sobre os objetos mais leves e o desconforto surge por motivações não térmicas. A
evaporação d’água na atmosfera absorve calor, reduzindo sensivelmente a temperatura. Nos
climas quentes e secos, onde a evaporação é rápida, é possível, por meio da introdução de
umidade no ambiente [...], melhorar apreciavelmente as condições de conforto. Este efeito é
também graficado com elevações do limite superior do conforto em mais de 1,0ºC para cada 5
gramas de vapor incorporadas por quilograma de ar. Os efeitos da radiação solar são também
graficados, considerando que cada 10 cal/h cm2 baixam o nível inferior do conforto em 1,7ºC.
Com estes índices adicionais, o conjunto torna-se um mapa de limites e de condicionantes do
conforto muito simples de ler e de se saber o procedimento correto para o restabelecimento de
uma situação de conforto (p. 42-43).

A partir de estudos sobre a validade e a confiabilidade dos índices térmicos propostos


por diversos autores, Givoni & Berner, em Israel, 1967, criaram o Índice de Fadiga Térmica
(IFT)8. Este índice baseia-se em um modelo biofísico, considerando todos os fatores térmicos
subjetivos e objetivos do sistema térmico homem-ambiente. Sua utilidade estende-se desde as
condições confortáveis até o extremo desconforto termo-higrométrico, em relação ao qual os
ajustes fisiológicos sejam capazes de manter o equilíbrio. O modelo trata, assim, dos
mecanismos de troca de calor entre o corpo e o meio, nos quais pode ser computada a tensão
térmica total, somando-se a metabólica e a ambiental (KOENIGSBERGER et al., 1977).
Baseando-se em seus estudos sobre o IFT e nos estudos de Olgyay, Givoni divulgou,
em 1969, um método que permite determinar as estratégias para adaptação das edificações ao
clima local, visando ao conforto térmico. Considerando usuários aclimatados e em atividade
sedentária, Givoni determinou as estratégias necessárias para cada condição de temperatura
do ar e umidade relativa sobre o Diagrama Bioclimático, facilitando a análise climática e de
alternativas de projeto. Seu "Diagrama Bioclimático da edificação" leva em conta os efeitos
da própria edificação sobre o ambiente interno, diferindo da Carta Bioclimática de Olgyay
que considerava apenas as condições climáticas externas (GONZALEZ et al., 1986). O
Diagrama de Givoni foi, mais tarde, revisto para as condições climáticas e habitantes de
países em desenvolvimento (descrito mais adiante).
Em 1970, Fanger realizou um importante trabalho na área de investigação relacionada
aos estudos da sensação de conforto térmico. Pesquisador do Laboratório de Calefação e
Condicionamento de Ar da Universidade Técnica da Dinamarca e do Instituto de Pesquisas
Ambientais da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, seu trabalho está voltado à
aplicação de parâmetros de conforto na indústria de ar-condicionado. Em sua obra Thermal

8
Índice de Fadiga Térmica (IFT): em inglês, Index of Thermal Stress (ITS).
57

Comfort (FANGER, 1970), evidencia uma visão do estudo do conforto térmico como
necessariamente inter e multidisciplinar, abrangendo disciplinas como transferência de calor e
massa, fisiologia e psicofísica, ergonomia, biometeorologia, arquitetura e engenharia têxtil.
A visão holística de Fanger se reflete na formulação de sua complexa equação geral,
em que são correlacionadas: a “sensação térmica” com a atividade metabólica do corpo
humano, a vestimenta (de resistência térmica avaliada de 0 a 4 clo) e o ambiente (a
temperatura, a umidade relativa e a velocidade do ar e a temperatura radiante média),
destacando-se a necessidade de se considerar o efeito combinado das diversas variáveis.
Segundo Araújo (2001, p. 40), Fanger determinou três requisitos de conforto:
•= o balanço térmico (equilíbrio da produção de calor pelo corpo com a perda de calor para o
ambiente);
•= a temperatura média da pele (relacionada às sensações de conforto); e
•= existe uma taxa preferencial de sudação para o conforto, em função da taxa metabólica.
Em um trabalho experimental, de avaliações de sensação térmica em indivíduos de
nacionalidades, sexos e idades diferentes e para condições ambientais específicas, Fanger
obteve o voto médio estimado (PMV – Predicted Mean Vote), que representa a sensação
térmica média humana em relação ao ambiente, numa escala de -3,0 (muito frio) a +3,0
(muito calor). O PMV foi, então, relacionado com a porcentagem de pessoas insatisfeitas
(PPD – Predicted Percentage of Dissatisfied) (Figura 8). A pesquisa de Fanger foi adotada
pela ISO 7730, que recomenda para espaços ocupados a faixa do PMV de 10%, ou seja entre -
0,5 e +0,5 (LAMBERTS et al., 1997).

FIGURA 8 – RELAÇÃO ENTRE O VOTO MÉDIO ESTIMADO E A PORCENTAGEM DE PESSOAS


INSATISFEITAS

FONTE: FANGER, P.O. Thermal Comfort. Copenhagen: Danish Technical Press, 1970.
58

Carl Mahoney lecionou, durante muitos anos, sobre adequação dos edifícios aos
climas quentes, no Departamento de Estudos Tropicais da Associação de Arquitetura de
Londres. Baseado em sua larga experiência, coordenou uma equipe de especialistas (da qual
participaram também John Evans e Otto Koenigsberger), que formulou, em 1971, um método
simplificado de análise climática a partir da qual se estabelecem diretrizes de projeto. O
“método de Mahoney” vem sendo utilizado há três décadas em diversos países, pela sua
facilidade de aplicação por parte dos arquitetos. Dispondo das normais climatológicas locais9
anotando-as em planilhas e comparando-as com limites de conforto indicados para cada tipo
de clima, é possível identificar grupos de problemas climáticos dominantes. Para cada grupo,
o método fornece recomendações técnicas a serem consideradas no processo de projeto, desde
a sua fase preliminar. Mahoney alerta que o método não elimina a necessidade de pensar, mas
constitui um instrumento para a tomada de decisões (ONU apud RORIZ et al., 1999).
É interessante mencionar que o conceito do “método de Mahoney” foi desenvolvido
durante um estudo realizado na Nigéria, região onde o clima se modifica gradualmente das
condições quente e úmida da costa Sul, com pouca variação durante o ano, às condições
típicas do deserto no Norte, caracterizadas pela maior amplitude térmica diurna e estações
mais definidas. A maior dificuldade reside em definir as estratégias bioclimáticas para climas
de transição, nos quais as estratégias também devem ser alteradas gradualmente, conforme a
variação das condições climáticas (EVANS, 2000).
As Tabelas de Mahoney propõem uma análise em quatro etapas:
1) análise de dados meteorológicos mensais;
2) comparação desses dados com zonas de conforto, que, neste método, variam segundo a
temperatura média anual, caracterizando um modelo de conforto adaptável e com zonas
distintas para dia e para noite;
3) identificação de grupos de indicadores mensais de condições climáticas com “conforto”
ou “desconforto”. Por exemplo, “calor com alta umidade” e “baixa amplitude térmica”; e
4) definição das recomendações de projeto, conforme incidência de meses com indicadores
diferentes (EVANS, op. cit.).
As recomendações dizem respeito aos seguintes itens de projeto (RORIZ, 1987):

9
A normais climatológicas são linhas traçadas sobre o Gráfico Psicrométrico a partir dos dados mensais de
média, média das máximas, média das mínimas, máxima e mínima absoluta da temperatura do ar, e umidade
relativa média. A partir das linhas traçadas para cada um dos doze meses do ano caracteriza-se o clima local.
59

•= implantação – em relação à orientação e à necessidade de pátios internos;


•= espaçamentos – entre as construções, em relação ao regime local de ventos;
•= ventilação – em relação à disposição dos edifícios;
•= tamanho das aberturas – porcentagem de superfície das aberturas em relação à cada
fachada, visando ao controle da penetração da radiação direta;
•= posição das aberturas – visando ao tipo de ventilação necessária ao ambiente;
•= proteção das aberturas – visando ao controle da radiação solar direta e à proteção das
chuvas de forma a permitir ventilação;
•= paredes e pisos – fornece limites desejáveis para as características termofísicas:
transmitância térmica (U), fator de calor solar (FS) e atraso térmico (ϕ);
•= coberturas – idem ao Item anterior; e
•= exteriores – necessidade de proteção da chuva e de espaço externo para dormir.
As Tabelas de Mahoney, diferentemente dos Diagramas de Olgyay e de Givoni,
permitem avaliar a duração das condições de desconforto e a necessidade de responder com
recursos bioclimáticos específicos e de forma equilibrada, conforme as distintas épocas do
ano.
Conforme Givoni (1992), as propostas de limites de conforto até então existentes,
estabeleciam uma zona de conforto universal, com os mesmos limites em todos os tipos de
clima, desconsiderando as possíveis variações de respostas dos habitantes ao clima em
diversas regiões. Assim, em regiões quentes e úmidas, os “padrões de conforto
convencionais” não se aplicam. As pessoas que vivem nestas regiões preferem temperaturas
mais altas. Devido à aclimatação, portanto, seu organismo tolera mais adequadamente
temperaturas mais altas.
Considerando essa questão, em seu trabalho realizado em 1992, Givoni expande os
limites máximos do conforto termo-higrométrico para países do Hemisfério Sul, onde a maior
parte dos edifícios não são climatizados nem ventilados artificialmente e, portanto, os seus
usuários aceitam como normais maiores variações de temperatura e de velocidade do ar.
Para Lamberts et al. (1997), o método de Givoni de 1992 é, de fato, entre os métodos
propostos, o mais adequado às condições brasileiras. Apesar de ter sofrido algumas alterações,
este método é hoje adotado em avaliações de desempenho térmico em edificações, sendo
utilizado inclusive na Norma de Desempenho Térmico para Habitações de Interesse Social no
Brasil (UFSC, 1998).
60

Conforme Krüger (2000-b), a flexibilidade na escolha do procedimento a ser adotado


para o projeto varia em função do grau de precisão almejado: de uma definição conceitual até
a simulação computacional. Neste caso, o autor sugere a utilização do método de Givoni, com
as seguintes etapas:
•= avaliação climática: por meio da plotagem de médias horárias, mensais ou sazonais da
temperatura e da umidade do ar na Diagrama Bioclimático de Givoni (Figura 9), em que
estão associadas temperatura e umidade relativa e se identifica a zona de conforto;
•= ‘leitura’ no Diagrama Bioclimático das principais estratégias para a obtenção de conforto
térmico;
•= modelagem do projeto original para testes mediante um programa de simulação térmica de
ambientes;
•= teste de alternativas de projeto;
•= plotagem dos resultados no Diagrama Bioclimático e verificação do grau de conforto
obtido pelas melhorias no projeto original.

FIGURA 9 – AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA PARA CURITIBA POR MEIO DA PLOTAGEM DE DADOS


HORÁRIOS DO ANO CLIMÁTICO DE REFERÊNCIA (O TRY) NO DIAGRAMA
BIOCLIMÁTICO
30
30
ZONAS:
1. Conforto
2. Ventilacao 25
3. Resfriamento Evaporativo 25
5. Ar Condicionado
6. Umidificação 5 20 Razão de umidade
7. Massa Térmica/ Aquecimento Solar 2
20
W [g/k g]

8. Aquecimento Solar Passivo


]

15
C

9. Aquecimento Artificial

U

11.Vent./ Massa/ Resf. Evap. 15


B
T

12.Massa/ Resf. Evap.


10 1 11
10

5 12
0 5
-5 9 8 7
-10 3
-20 -15
6
0
-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
U F SC - E CV - L abE E E - NP C
TBS[°C]

FONTE: LMPT/EMC; NPC/ECV, UFSC. ANALYSIS, versão 1.5: Programa ANALYSIS para Avaliação
Bioclimática e de conforto térmico. LMPT e NPC/UFSC, 1994.
61

Obtendo-se os valores da temperatura e da umidade relativa do ar para os principais


períodos do Ano Climático de Referência (TRY – Test Reference Year) do local e plotando-os
sobre a Diagrama Bioclimático de Givoni, encontram-se as estratégias bioclimáticas a serem
adotadas, correspondentes às zonas delimitadas (LAMBERTS et al., op. cit.):
•= zona de conforto: as condições climáticas de conforto termo-higrométrico devem ser
mantidas - umidade relativa abaixo de 80%, umidade absoluta entre os limites de uma
razão de umidade de 17g/kg e 4g/kg e temperatura entre 18ºC e 29ºC, para países em
desenvolvimento. Quando a temperatura interna se aproxima do limite inferior de conforto
(18ºC), deve-se evitar o vento. Se a temperatura interna se aproxima do limite superior de
conforto (29ºC), deve-se evitar a incidência de radiação solar sobre as pessoas, que devem
estar vestindo roupas leves e sob alguma ventilação;
•= zona de ventilação: se a temperatura exceder 29ºC e a umidade relativa for superior a
80%, recomenda-se o uso da ventilação. A partir de 32ºC de temperatura exterior, esta
estratégia deixa de ser conveniente, pois a ventilação tende a igualar as temperaturas
internas e externas, implementando o calor no interior. Em regiões de climas quentes e
secos, onde a temperatura diurna é superior a 29ºC, a umidade relativa é menor que 60% e
a temperatura noturna costuma ser bem mais baixa, a ventilação seletiva (noturna) é mais
apropriada. No caso de regiões onde a temperatura diurna excede 36ºC, será necessário
utilizar a ventilação seletiva em conjunto com outras estratégias de resfriamento;
•= zona de resfriamento evaporativo: recomendável para países em desenvolvimento quando
a temperatura de bulbo úmido (TBU) é inferior a 24ºC e a temperatura de bulbo seco
(TBS) não excede a 44ºC. A evaporação da água pode reduzir a temperatura e aumentar a
umidade relativa do ambiente, que passa a requerer boa taxa de ventilação;
•= zona de massa térmica para resfriamento: recomenda-se o uso da inércia térmica dos
fechamentos, da terra ou de materiais isolantes na edificação, com a finalidade de reduzir
a amplitude da temperatura interior em relação à exterior;
•= zona de ar condicionado: em regiões de clima quente, quando a temperatura de bulbo seco
exceder os 44ºC e a de bulbo úmido os 24ºC, recomenda-se acrescentar às estratégias de
condicionamento natural o uso de aparelhos de ar condicionado;
•= zona de umidificação: quando a umidade relativa do ar for muito baixa e as temperaturas
forem inferiores a 27ºC, o desconforto pode ser diminuído com o uso da umidificação;
62

•= zona de massa térmica para aquecimento: nas temperaturas entre 14º e 20ºC,
recomendam-se duas opções: (a) o uso da massa térmica e do aquecimento solar passivo
possibilitam o armazenamento de calor solar pelos materiais construtivos empregados na
edificação que pode ser liberado ao ambiente nos horários mais frios; ou (b) o
aquecimento solar passivo com isolamento térmico, principalmente das aberturas e da
cobertura, para evitar as perdas do calor interior;
•= zona de aquecimento solar passivo: indicado para temperaturas entre 10,5º e 14ºC, com o
uso de isolamento térmico das edificações para minimizar as perdas de calor. As aberturas
devem ser projetadas de forma a aumentar a incidência da radiação solar sobre as áreas
envidraçadas e reduzir a exposição às fachadas menos favoráveis. O espaçamento entre as
construções deve permitir o máximo de insolação no inverno;
•= zona de aquecimento artificial: em regiões de clima frio, onde a temperatura é
freqüentemente inferior a 10,5ºC, recomenda-se acrescentar ao uso do sistema solar
passivo o sistema de aquecimento artificial.
O uso da climatização artificial é somente indicado nas épocas ou dias do ano em que
as outras estratégias são insuficientes para se alcançar a sensação de conforto térmico. Nesse
caso, é aconselhável a integração dos sistemas naturais e artificiais.
No Diagrama Bioclimático de Givoni, ocorrem interseções entre as zonas delimitadas.
Nestas intersecções, as estratégias não se excluem, podendo ser aplicadas em separado ou
simultaneamente, de forma a se obter o maior benefício (LAMBERTS et al., 1997). No Item
2.2.3, são descritas algumas formas de implementar estratégias de condicionamento natural.

As investigações sobre clima e ambiente construído têm aumentado. Roriz (1987) cita
também os estudos sobre a Zona de Conforto de Vogt & Miller-Chagas, França, 1970;
Lotersztain & Murature, Argentina, 1974; Humphreys, Inglaterra, 1978; Evans, Inglaterra,
1980; e Rivero, Uruguay, 1995. Araújo (2001), cita ainda outros índices de conforto, como a
Nova Temperatura Efetiva (TE*) de Gagge, Estados Unidos, 1971; a Temperatura Efetiva
Padrão (TEP) também de Gagge, 1972; a Temperatura Subjetiva (TS) proposta por Mcintyre,
1976; e o Índice de Verão Tropical, desenvolvido por Sharma & Sharafat, Índia, 1986.
No Brasil, as pesquisas relativas ao assunto foram inicialmente desenvolvidas por
higienistas como Sá, em 1938, e Ribeiro, em 1945 (ARAÚJO, op. cit.). A partir do início da
década de 1970, com a crise energética mundial, os estudos sobre esse tema, tiveram maior
impulso, envolvendo profissionais de diversas áreas, refletindo-se nas obras de alguns
63

arquitetos brasileiros. Em 1988, foi criado o Grupo de Conforto Ambiental e Eficiência


Energética da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC).
Atualmente, realizam-se encontros que têm por finalidade a divulgação de pesquisas recentes,
como o ENTAC (Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído) e o ENCAC
(Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído).
Por ocasião destes encontros, foram publicados artigos sobre as Vilas Tecnológicas
construídas em Bauru (FONTANA, 1999); Curitiba (KRÜGER e DUMKE, 2001; DUMKE e
KRÜGER, 2002); Ribeirão Preto (BASSO, 1998; MARTUCCI, 1998); e Porto Alegre
(SATTLER, et al., 2002).
O trabalho de Fontana (1999): A influência da tecnologia construtiva no conforto
térmico: o caso da Vila Tecnológica de Bauru-SP, analisa o desempenho térmico de onze
tecnologias distintas, através de um método baseado nas Tabelas de Mahoney. Este método
consiste na análise da capacidade e da resistência térmica equivalentes, completados por
estudos de insolação e ventilação com modelos tridimensionais. Os resultados permitem
selecionar as tecnologias construtivas mais apropriadas ao clima da região, além de avaliar
parâmetros de adequação climática para as unidades habitacionais.
Os artigos referentes à Vila Tecnológica de Ribeirão Preto, tanto o de Basso (1998),
como o de Martucci (1998), analisam as habitações em relação a diversos parâmetros e
condições de conforto ambiental.
A pesquisa de Sattler et al., (2002): Avaliação de variáveis relacionadas ao conforto
térmico de tipologias habitacionais da Vila Tecnológica de Porto Alegre, avalia quatro
habitações térreas de sistemas construtivos diferentes quanto a variáveis relacionadas ao
conforto térmico. A avaliação baseia-se no Projeto de Norma para Desempenho Térmico das
Edificações, no Código de Edificações de Porto Alegre e na simulação através do Programa
THEDES (Thermal Design).
Nota-se nos trabalhos apresentados sobre as Vilas Tecnológicas, diferenças entre
métodos de avaliação de desempenho térmico, que caracterizam uma busca bem definida por
Pereira (1998): para se corrigir as distorções existentes e se obter uma maior qualificação nos
projetos de Habitação de Interesse Social, são imprescindíveis a crítica ao modelo vigente, a
revisão dos métodos existentes e a busca de novas metodologias de avaliação e formas de
abordagem.
Para ilustrar os esforços realizados nos últimos anos neste sentido, alguns exemplos de
estudos relacionados à avaliação de desempenho térmico de Habitação de Interesse Social são
64

mencionados a seguir: as metodologias propostas pelo IPT (Instituto de Pesquisas


Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A.); a metodologia formulada por; Lamberts e
Barbosa (1997); as pesquisas de Pereira et al. (1999-a; 1999-b; 2000); e a proposta de norma
técnica para o desempenho térmico de habitações populares (RORIZ et al., 1999).

O método de avaliação proposto pelo IPT: Critérios Mínimos de Desempenho para


Habitações Térreas de Interesse Social, tem evoluído desde 1992. Nesta publicação, Akutsu
et al. (1995) apresentam um método expedito desenvolvido para subsidiar as avaliações de
desempenho térmico em habitações populares apresentadas a órgãos de financiamento. Esse
método considera as condições dinâmicas de exposição ao clima e à ocupação e visa à
verificação rápida do desempenho térmico de habitações térreas de interesse social.
Apresentado como ferramenta auxiliar para a tomada de decisões na fase inicial de concepção
projetual, consiste em simples consultas a tabelas, que indicam os níveis de desempenho A, B
ou C. As tabelas comparam o desempenho de trinta opções de paredes e oito opções de
cobertura, para quatro orientações de janelas e em oito regiões climáticas que abrangem todo
o território nacional. São consideradas condições preestabelecidas como: absortância médias
das paredes externas, janelas com ou sem dispositivos de sombreamento, existência de
aquecimento artificial e condições de ventilação conforme as necessidades de cada zona
bioclimática analisada.
Consultando-se as tabelas, é possível identificar quais os sistemas construtivos mais
adequados para uma região climática e quais as características construtivas mais importantes
na adequação da edificação ao clima local, como a inércia térmica, o isolamento térmico etc.
Em trabalho posterior (AKUTSU et al., 1998), são apresentadas tabelas de referências
que envolvem somente seis opções de paredes (inicialmente eram trinta) e seis opções de
cobertura, limitando ainda mais a aplicação das mesmas no caso da Vila Tecnológica de
Curitiba. Nesse último trabalho (AKUTSU et al., op.cit.), são apresentados o processo de
avaliação e os critérios de desempenho para habitações para as tipologias que não se
enquadram nas tabelas, conforme as seguintes etapas que devem caracterizar:
•= as exigências humanas de conforto térmico: mínimo de 80% dos ocupantes satisfeitos;
•= condições de exposição ao clima conforme o dia típico com freqüência de ocorrência de 5
a 10 %, dependendo da cidade, além da zona climática em que a cidade se encontra;
•= a edificação (materiais, componentes e elementos) e da sua ocupação;
65

•= o comportamento térmico da edificação: por meio de simulações ou medições in loco, de


temperatura, umidade relativa e velocidade do ar no interior das habitações e das
temperaturas superficiais da face interna das vedações ou temperaturas radiantes média e
orientada;
•= o desempenho térmico da edificação.
As habitações são classificadas por níveis de desempenho térmico A, B e C, onde A é
a pontuação máxima e C é considerado como não aceitável.
Para o verão:
A – temperatura do ar interior ≤ 29ºC
B – temperatura do ar interior ≤ temperatura máxima exterior
C– temperatura do ar interior > temperatura máxima exterior
Para o inverno:
A – temperatura do ar interior ≥ 17ºC
B – 17ºC > temperatura do ar interior ≥ 12ºC
C – temperatura do ar interior < 12ºC
Os níveis acima são considerados para uma umidade relativa do ar de 40% a 60% no
período diurno.
Para condições bem definidas de ocupação e tipos de materiais e componentes da
edificação, este procedimento é viável. No entanto, nem sempre as casas a serem avaliadas se
encaixam no tipo de paredes e coberturas listados na tabela, como é o caso da Vila
Tecnológica de Curitiba.

A metodologia estabelecida por Lamberts e Barbosa (1997), denomina-se: Método das


Horas Anuais de Desconforto. Foram consideradas como horas de desconforto as horas em
que as temperaturas se apresentam fora dos limites de temperaturas da zona de conforto
térmico de Givoni (1992) para países em desenvolvimento, ou seja, com umidade variando
entre 4g/kg (umidade absoluta) e 80% (umidade relativa) e temperaturas de 18ºC a 29ºC.
Foram então realizadas simulações com várias alternativas construtivas,
estabelecendo-se as horas anuais de desconforto para cada simulação. O resultado das
simulações indicou como a melhor solução (em relação à eficiência e baixo custo): a pintura
branca na cobertura, seguida do uso de lã de vidro na laje, o aumento na área de aberturas e o
sombreamento das aberturas.
66

O método proposto apresenta duas formas de avaliar o desempenho térmico de


habitações unifamiliares:
•= a avaliação por prescrição, mais simples, é realizada verificando-se no projeto da
edificação o cumprimento dos limites estabelecidos para transmitância e massa de paredes
e coberturas, absortividade de radiação solar, ventilação e sombreamento de aberturas;
•= a avaliação por desempenho exige, para sua aplicação, a simulação da edificação, sendo
mais precisa e permitindo uma maior flexibilidade de opções para projeto. Para que esta
metodologia possa ser aplicada a outras regiões climáticas, é necessário o ajuste da
ferramenta de simulação horária anual, a verificação dos limites de temperatura da zona
de conforto e a montagem de um arquivo do ano climático de referência. A avaliação por
desempenho é realizada simulando-se qualquer sistema construtivo, comparando-se as
horas anuais de desconforto obtidas com o limite aceitável estabelecido.
Esta metodologia foi aplicada por Barbosa (1998) aos dados horários medidos de
temperatura e umidade in loco em cinco casas de diferentes sistemas construtivos,
monitoradas durante um ano. Estes dados foram comparados com o limite de horas de
desconforto estabelecido como referencial e com o total de horas de desconforto resultantes
das simulações das residências.

Segundo Pereira (1998), apenas nos últimos anos os pesquisadores começaram a


desenvolver os princípios metodológicos da APO (Avaliação Pós-Ocupação) em habitação,
visando otimizar os investimentos públicos no setor. Na pesquisa de Pereira, a questão da
habitação é tratada de forma interdiciplinar, abrangendo diferentes aspectos e envolvendo
diversos departamentos da Universidade Federal de Santa Catarina.
Em Caracterização da Adequação Climática de Habitações de Interesse Social,
(PEREIRA et al., 1999-a) é identificado o alto índice de desconforto por calor. O estudo
indica como estratégias principais para a região de Florianópolis o uso de ventilação e
sombreamento das edificações, visando promover a perda e reduzir o ganho de calor nos
períodos quentes. Foram definidas premissas projetuais direcionadas para o conforto térmico,
abrangendo desde o nível macro-espacial de um conjunto habitacional até chegar aos
elementos construtivos das unidades habitacionais (escolha do sítio, parcelamento do solo e
traçado urbano, escolha tipológica, elementos arquitetônicos, e materiais construtivos). A
aplicabilidade destas premissas é claramente demonstrada em um artigo (PEREIRA et al.,
1999-b), assumindo a forma de um projeto urbanístico e habitacional para um assentamento
67

de baixa renda em Florianópolis. O projeto das unidades habitacionais (três sobrados


geminados) inclui etapas de ampliação, garantindo a qualidade futura das moradias.
Na área específica de avaliação experimental de habitações de interesse social
desenvolvida por Pereira et al. (2000), situa-se o estudo de unidades unifamiliares e
multifamiliares de um grande conjunto habitacional em Florianópolis. A caracterização das
condições climáticas locais e a definição e quantificação das estratégias bioclimáticas
recomendáveis foram realizadas com o auxílio do software ANALYSIS (LMPT/EMC e
NPC/ECV, 1994). Foram selecionados quatro residências térreas e quatro apartamentos. As
unidades foram monitoradas simultaneamente com sensores eletrônicos de temperatura e
umidade relativa do ar interno e externo, nos dois períodos de maiores índices de desconforto
por calor e por frio. Os dados externos coletados, também plotados no software, confirmaram
as estratégias apontadas anteriormente: massa térmica e aquecimento solar passivo para
combater o frio, e ventilação e sombreamento para o período quente. As tipologias
investigadas demonstraram não satisfazerem estas estratégias. A comparação do
comportamento térmico verificado nas medições em duas tipologias diferentes (casas térreas e
apartamentos) permitiram a observação da influência do projeto arquitetônico neste
comportamento, uma vez que os sistemas construtivos e materiais eram similares nas duas
tipologias. Conclui-se que o desempenho térmico é influenciado por uma combinação de
variáveis e não pelo resultado de parâmetros isolados. O fator decisivo para um melhor
projeto seria proporcionar o melhor arranjo para este conjunto de condicionantes físicas e
espaciais. Assim, o artigo estabelece recomendações de projeto e sugere o emprego de
soluções diferentes para situações distintas, evitando-se a padronização excessiva das
moradias e custos desnecessários para adequar as unidades às condições de conforto
encontradas.

Procurando utilizar os princípios da Arquitetura Bioclimática, vem sendo desenvolvida


no Brasil a normalização em conforto ambiental (RORIZ et al., 1999, UFSC, 1998), em que
são utilizados, com adaptações, os métodos de Mahoney e Givoni.
Inicialmente vinculada à ANTAC, hoje a Comissão de Estudos sobre Desempenho
Térmico e Eficiência Energética de Edificações vincula-se ao Comitê Brasileiro de
Construção Civil (COBRACON) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A
Norma encontra-se atualmente em tramitação, havendo constantes reuniões no COBRACON.
68

A Parte 3 da Norma (Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para


Habitações Unifamiliares de Interesse Social) tem por objetivo proporcionar condições
aceitáveis de conforto térmico nestas edificações, aplicáveis também para habitações coletivas
de até três pavimentos.
Visando à adequação das edificações ao clima e, assim, à otimização de seu
desempenho térmico, a Norma divide o território brasileiro em oito zonas climáticas. O
Zoneamento bioclimático brasileiro foi definido por meio de uma base de dados climáticos,
obtida pela divisão do território brasileiro em 6500 células (quadrados de 36km de lado),
caracterizadas pela sua posição geográfica, bem como pelas médias mensais de temperaturas
máximas e mínimas e das umidades relativas do ar. Mediante a aplicação de uma adaptação
da Diagrama Bioclimático da Bioclimática de Givoni (1992), foi classificado o clima de cada
célula, agrupando-as conforme as Zonas Bioclimáticas (RORIZ et al., op. cit.).
Segundo Roriz et al. (op. cit.), as adaptações efetuadas sobre a Diagrama Bioclimático
de Givoni (Figuras 10 e 11) não refletem questionamentos sobre seus fundamentos teóricos;
apenas visam tornar o método mais sensível às condições climáticas e culturais brasileiras.

FIGURA 10 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO ORIGINAL E SUAS ESTRATÉGIAS DE


CONDICIONAMENTO TÉRMICO PASSIVO UR
A Sistema artificial de
aquecimento
B+C Aquecimento solar da
edificação
C Massa térmica para
aquecimento
razão de umidade

D Conforto térmico

E Ventilação

F Massa térmica de
refrigeração
G Sistema artificial de
refrigeração
H Resfriamento
evaporativo
I Umidificação do ar
FONTE: RORIZ, M.; GHISI, E.; LAMBERTS, R. Uma proposta de norma técnica sobre desempenho térmico
de habitações populares. (ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 5., 1999, Fortaleza). Anais... Fortaleza: ANTAC, 1999. 1 CD-rom.
69

FIGURA 11 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO ADAPTADO E SUAS ESTRATÉGIAS DE


CONDICIONAMENTO TÉRMICO PASSIVO UR
A Sistema artificial de
aquecimento
B Aquecimento solar da
edificação
C Massa térmica para
aquecimento
razão de umidade

D Conforto térmico
(baixa umidade)
E Conforto térmico
F Desumidificação
(renovação do ar)
G+H Resfriamento
evaporativo
H+I Massa térmica de
refrigeração
I+J Ventilação
K Sistema artificial de
refrigeração
L Umidificação do ar

FONTE: RORIZ, M.; GHISI, E.; LAMBERTS, R. Uma proposta de norma técnica sobre desempenho térmico
de habitações populares. (ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 5., 1999, Fortaleza). Anais... Fortaleza: ANTAC, 1999. 1 CD-rom.

Foram efetuadas as seguintes alterações no Diagrama original:


•= foram inclinados os limites de temperatura à esquerda e à direita da zona de conforto, pois
a sensibilidade ao calor aumenta com a elevação da taxa de umidade;
•= a zona de conforto foi dividida em duas sub-zonas, conforme as umidades relativas,
permitindo constatar diferenças climáticas locais;
•= No diagrama adaptado, a divisão da estratégia de ventilação possibilita distinguir entre
ventilação seletiva (noturna) e ventilação permanente;
•= o limite inferior de umidade da zona de conforto passou a ser delimitado pela curva de
umidade relativa e não pela linha horizontal da umidade absoluta indicada no diagrama
original;
•= criou-se a zona F, para a qual se recomenda a substituição do ar úmido interior pelo ar
exterior mais seco, que exige taxas de ventilação menores (RORIZ et al., 1999).
Para cada zona, a Norma fornece diretrizes construtivas e estratégias de
condicionamento térmico passivo que otimizem o desempenho térmico das edificações
mediante a adequação climática. “Estas recomendações conjugam as estratégias de
condicionamento térmico passivo indicadas por Givoni com limites aceitáveis de indicadores
70

do desempenho térmico adaptados do método de Mahoney” (RORIZ et al., op. cit.). Assim, as
recomendações estabelecem requisitos mínimos de projeto, considerando os seguintes
parâmetros:
•= tamanho das aberturas para ventilação;
•= proteção das aberturas;
•= vedações externas (tipo de parede externa e cobertura considerando-se transmitância
térmica, atraso térmico e absortância à radiação solar);
•= estratégias de condicionamento térmico passivo.
Ainda conforme Roriz et al. (op. cit.), com as propostas formuladas na Norma
“pretende-se contribuir significativamente para elevar os padrões de habitabilidade das
diferentes regiões climáticas do país [...] (mas) é apenas um primeiro passo, cujas eventuais
imperfeições certamente serão identificadas e corrigidas ao longo do tempo e através da
experiência a ser proporcionada pela aplicação futura da Norma” (p. 8).

2.2.3 Princípios da Concepção Bioclimática

As trocas de calor entre os espaços interiores do edifício e exteriores a ele ocorrem de


quatro formas distintas: por condução, por convecção, por radiação e por evaporação
(WATSON & LABS, 1983):
•= Condução térmica: é a transferência de calor através de um corpo, por contato direto. O
fluxo de calor flui naturalmente do mais quente ao mais frio;
•= Convecção térmica: é a transmissão de calor entre um corpo e um fluido (geralmente o
ar), pelo seu deslocamento. Os movimentos do ar podem ocorrer devido às variações de
densidade que acompanham as de temperatura, por causa do vento ou de um mecanismo
de ventilação;
•= Radiação: transmissão de calor entre dois corpos de temperaturas diferentes por radiação
térmica;
71

•= Evaporação: a transformação do estado líquido em gasoso por intercâmbio térmico com o


ar ambiente. O fenômeno oposto à evaporação é a condensação. O calor extraído ou
adicionado à matéria mediante a mudança de estado denomina-se calor latente.10
Desta maneira, é por intermédio desses mesmos processos (condução, convecção,
radiação e evaporação), que ocorrem trocas de calor entre o corpo humano e o meio,
provocando a sensação de conforto térmico. A temperatura, a umidade, o movimento de ar e a
radiação (solar ou proveniente de superfícies aquecidas), interferem tanto no desempenho
térmico dos materiais como no conforto térmico. Conforme mencionado, no conforto térmico
interferem também outros fatores, como vestimentas, processos fisiológicos, alimentação,
aclimatação e até mesmo aspectos subjetivos. A geração de calor pelo metabolismo também
depende de fatores individuais como idade, sexo e peso do indivíduo.
Se a sensação de conforto térmico é definida como "o estado mental que expressa
satisfação com o ambiente térmico" (ASHRAE, 1981), “essa própria definição indica que a
sensação de conforto depende tanto de aspectos físicos do ambiente (o ambiente térmico)
como também de aspectos subjetivos (o estado mental)” (KRÜGER, 2000-b). Uma vez que o
conforto térmico é uma sensação subjetiva, individual e variável, o objeto de seu estudo passa
a ser a determinação das condições ambientais que propiciam o conforto térmico para um
maior número de pessoas possível, sendo de natureza estatística.
O ambiente construído tem na envoltória o instrumento de controle ambiental dos
espaços exteriores e interiores e, portanto, de adequação ao sítio onde está inserida a
edificação e às características climáticas específicas. Os edifícios devem possibilitar regulação
e adaptação do ambiente interno às condições exteriores com suas constantes flutuações, bem
como às exigências humanas de conforto. Aplicável a qualquer tipo de edifício, a Arquitetura
Bioclimática tem maior importância no âmbito da moradia. As construções de pouca altura
têm maiores potencialidades de controle ambiental devido à maior proporção de superfícies
expostas às variáveis climáticas em relação a um menor volume de edificação (CAMOUS &
WATSON, 1986).
O conhecimento das características climáticas da região e das condições de conforto a
serem atingidas no interior da edificação é um subsídio indispensável para a definição do

10
Assim, na condensação de umidade do ar, extrai-se calor latente do mesmo e, na evaporação da umidade do ar,
agrega-se-lhe calor latente.
72

projeto que mais se adeqüe às particularidades do clima local, com a adoção de medidas
passivas, ou seja, da Arquitetura Bioclimática.
Watson & Labs (op. cit.), Camous & Watson (op. cit.) e Lamberts et al. (1997)
descrevem os princípios básicos da concepção bioclimática:
•= Diminuição da condução de calor através do envelope (no inverno e, em certos casos, no
verão): a condução de calor através da envoltória pode ser reduzida mediante o uso de
isolantes térmicos ou de materiais de construção de menor condutividade térmica. Esta
estratégia pode ser eficaz quando as temperaturas exteriores se encontram muito mais
baixas ou muito mais elevadas em relação às temperaturas médias aceitáveis no ambiente.
Conveniente no inverno, no verão, esse princípio só deve ser considerado em regiões onde
é impossível, durante longo período, obter condições de conforto apenas com a adoção de
técnicas de condicionamento natural. Nesse caso, será necessário recorrer a sistemas
mecânicos de climatização e ao emprego de materiais isolantes;
•= Favorecer os ganhos solares (no inverno): o Sol significa um notável ganho de energia, a
qual pode ser captada, armazenada e distribuída naturalmente por alguns elementos do
edifício para o aquecimento no inverno. A energia solar pode ser obtida pelo uso
adequado da orientação e da cor dos fechamentos, pelo uso de aberturas zenitais
controláveis, de painéis refletores externos, da parede Trombe, de coletores de calor no
telhado, de estufas, de coletores de calor de água ou óleo. Estas são técnicas passivas de
aquecimento solar, uma vez que não necessitam de meios mecânicos;
•= Limitar os movimentos de ar exterior (inverno): os ventos de inverno aumentam
significativamente as perdas de calor, ao atuar principalmente sobre a velocidade das
infiltrações de ar. O efeito do vento deve ser minimizado pela forma do edifício e pela sua
implantação em função da topografia e da vegetação do local;
•= Redução das infiltrações do ar (inverno): esta medida tem por objetivo minimizar perdas
do calor interno e a entrada de ar frio através de frestas em janelas e portas ou em junções
em paredes, pisos ou coberturas. As infiltrações de ar frio e “exfiltrações” de ar quente são
consideradas a principal fonte de perda de calor de um edifício corretamente isolado;
•= Utilização da inércia térmica dos materiais (verão e inverno): é recomendável
principalmente em climas quentes e secos, em razão das grandes variações térmicas entre
o dia e a noite. A capacidade de armazenar o calor e retê-lo durante certo tempo depende
da massa e do calor específico, propriedades físicas que variam em função do material
73

empregado. Onde há boa amplitude diária da temperatura do ar, é possível reter o calor no
interior dos elementos constituintes do envelope, possibilitando perdas de calor quando a
temperatura externa se resfria, e assim, diminuir o fluxo de calor para o interior, no verão.
Mediante paredes de boa inércia térmica, pode-se armazenar o calor interno por mais
tempo, no inverno. Esse princípio de defasagem térmica é também utilizado nas casas
semi-enterradas, que podem até mesmo aproveitar as ondas de temperatura anuais;
•= Limitar os ganhos solares (verão): para se alcançar conforto térmico no verão, deve-se
evitar a incidência da radiação solar direta. O edifício deve ser protegido e ter suas
superfícies expostas ao Sol de verão reduzidas, principalmente em se tratando de
superfícies envidraçadas. Os raios solares, após penetrarem no ambiente através do vidro,
aquecem as superfícies que irradiam calor, que pode ser dissipado por convecção. O calor
armazenado não é reirradiado para o exterior através do vidro, pois este retém radiação de
onda longa, ocorrendo o chamado efeito estufa. Esse efeito deve ser aproveitado no
inverno e evitado no verão. Influirão no processo: o tamanho, a orientação e o tipo das
aberturas, bem como a existência ou não de elementos de sombreamento (cortinas, beirais,
brises) e de vegetação junto às aberturas. Nos fechamentos opacos, pode-se fazer uso da
cor: paredes claras refletem e paredes escuras absorvem a radiação solar. O uso de
vegetação adequada pode oferecer vantagens de sombreamento no verão, permitindo a
passagem dos raios solares no inverno (árvores caducifólias). Outro recurso importante
para reduzir a carga térmica adquirida pelos ganhos solares é a renovação do ar;
•= Favorecimento da ventilação (verão): os procedimentos naturais para obter-se
resfriamento com a ventilação no interior do ambiente são dois: a ventilação cruzada e o
efeito chaminé (resultante da ascensão do ar quente). Desta forma, pode-se obter
ventilação com funções distintas: a ventilação higiênica, que promove a renovação do ar
interno; a ventilação de conforto, que promove a perda de calor na superfície da pele, pelo
suor e por convecção; e a de resfriamento das superfícies internas da edificação,
aumentando suas perdas por convecção e as trocas de calor por radiação mediante a
ventilação noturna. O dimensionamento e localização das aberturas deve ser em função da
orientação dos ventos locais e dos fluxos de ar no ambiente. Também interferem os tipos
de esquadrias, os elementos externos que podem direcionar os fluxos de ar para o interior,
a fluidez do ar no ambiente interno, a forma da edificação e os efeitos da orientação solar;
•= Favorecimento do resfriamento evaporativo (verão): medida indicada para regiões áridas,
pois o decorrente aumento da umidade seria indesejável no trópico-úmido. Neste recurso,
74

há uma perda de calor das superfícies quando em contato com o ar, pela evaporação.11 O
resfriamento evaporativo pode ocorrer pelo método indireto (como com o emprego de
tanques de água sombreados no telhado)12 e pelo método direto (resfriamento do ar
externo, com o uso de fontes d'água ou de lâminas d'água sobre a cobertura e mini-
cascatas junto às paredes externas). Pode-se obter o resfriamento evaporativo do ar
também pela evapotranspiração dos vegetais. Para regiões de umidade relativa inferior a
20%, a secura do ar pode causar desconforto devido ao ressecamento das mucosas e a
desidratação. A umidificação pode ser obtida nos ambientes internos pelo uso de
recipientes com água e pela estanqueidade das aberturas, que conservam o vapor
produzido no ambiente (cocção dos alimentos, uso do chuveiro etc);
•= Favorecimento do resfriamento por radiação (verão): também indicado para regiões
áridas onde há grandes amplitudes diárias da temperatura externa. O resfriamento por
radiação noturna ocorre quando o céu limpo à noite permite a irradiação do calor
absorvido durante o dia. A temperatura superficial da envoltória depende de seu
coeficiente de absorção de radiação solar e da capacidade térmica dos materiais que a
compõem. A superfície da envoltória deve ter, ainda, um coeficiente de emissividade de
radiação térmica mínimo, que a permita alcançar o efeito de resfriamento.
Para Camous & Watson (1986) a importância relativa destes nove itens varia de uma
região para outra, segundo o rigor e a duração dos períodos frios e quentes que as
caracterizam. Nas regiões frias e temperadas, (no período frio), sempre poderão ser aplicados
os princípios de inverno. Sua importância aumentará quanto mais frio ou mais longo o
período frio, não só em relação à obtenção do conforto térmico, mas também quanto ao ponto
de vista econômico e energético. As estratégias referentes ao período de verão não são
aplicáveis de modo sistemático às regiões frias, devido à brevidade dos períodos de calor
intenso. Já nas regiões de climas quentes e temperados (no período de calor), o uso dos
princípios de verão pode ser fundamental e sua escolha dependerá das condições locais: não
só da temperatura, mas também da umidade relativa e do regime de ventos.
Para cada uma dessas estratégias, existem várias técnicas de projeto que podem ser
utilizadas, sobre as quais há extensa bibliografia. Camous & Watson (op. cit.) organizaram

11
Evaporação: a perda de calor decorrente da evaporação de um grama de água é de cerca de 0.58kcal ou
0.67Wh.
12
Com a incidência do Sol, a evaporação da água retira o calor da cobertura, resfriando a superfície do teto e
diminuindo a temperatura radiante média do ambiente interior.
75

um catálogo de cinqüenta técnicas que atendem a estes princípios. Lamberts et al. (1997)
descrevem as estratégias bioclimáticas a serem utilizadas conforme a necessidade de cada
Zona Bioclimática apresentada pela Diagrama Bioclimático de Givoni (1992) adaptada para o
Brasil (ver Item 2.2.2), além de outras técnicas que podem ser utilizadas independentemente
das Zonas Bioclimáticas. São estas: o uso da cor, conforme seja desejável a absorção ou a
reflexão da radiação solar; o projeto criterioso dos sistemas das aberturas, que devem
controlar por meio de seus vários elementos, além de radiação infravermelha, fatores como
ventilação, ganho de calor solar, iluminação natural e contato com o exterior; o uso da
vegetação como sombreamento conforme as estações do ano; o uso racional da iluminação; o
aquecimento de água. Salienta-se que os sistemas de condicionamento natural e artificial
devem ser utilizados de forma integrada, para que se obtenha a otimização do conforto
ambiental com eficiência energética.
Visando à melhoria das condições ambientais nas Habitação de Interesse Social e
constatado o alto potencial de controle ambiental em edificações térreas, optou-se nesta
pesquisa por avaliar a adequação climática de moradias existentes e habitadas, bem como
investigar quais os fatores que interferem em seu desempenho térmico. No próximo Capítulo,
são descritos os procedimentos adotados no desenvolvimento do trabalho.
76

3 MATERIAIS E MÉTODO

A busca de Tecnologias Apropriadas para Habitação de Interesse Social levou-nos na


presente pesquisa, à escolha de uma Vila Tecnológica como objeto de estudo. A existência de
diversas unidades de diferentes materiais e sistemas construtivos reunidos num mesmo local e
respondendo ao mesmo clima, possibilitou uma avaliação simultânea de moradias, sob o
enfoque do desempenho térmico.
A Vila Tecnológica de Curitiba foi a primeira a ser implantada no Brasil. Inaugurada
em 1994 e executada pela COHAB de Curitiba (Companhia de Habitação Popular de
Curitiba) a partir do planejamento do PROTECH (Programa de Difusão de Tecnologia para
Construção de Habitação de Baixo Custo). Consta de cento e vinte casas: cem habitadas por
famílias de baixa renda e vinte casas na Rua das Tecnologias para visitação pública. No
Capítulo 4 deste trabalho, há uma explanação sobre o objeto de estudo, desde a proposta
inicial do PROTECH até a implantação da Vila Tecnológica de Curitiba em seu contexto. Há
também a descrição de cada um dos sistemas construtivos avaliados.
Assim, esta pesquisa consiste na Avaliação de Desempenho Térmico de dezoito
moradias efetivamente habitadas e de diferentes sistemas construtivos na Vila Tecnológica de
Curitiba, e na investigação da influência das características termofísicas dos materiais neste
desempenho.
O trabalho foi desenvolvido em duas partes principais:
I. Avaliação de Desempenho Térmico das moradias por meio de medições in situ; e
II. Avaliação Paramétrica, considerando-se a relação entre o desempenho térmico e as
características termofísicas dos materiais de fechamento das moradias avaliadas.

3.1 PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO


TÉRMICO NA VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA

O procedimento adotado para a Avaliação de Desempenho Térmico das moradias deu-


se segundo as seguintes etapas:
•= escolha dos sistemas construtivos para avaliação térmica;
•= definição dos períodos de análise;
77

•= monitoramento térmico das moradias, usando-se data-loggers de temperatura e umidade


do tipo HOBO;
•= tratamento dos dados obtidos em planilhas EXCEL, com conversão dos dados (de quinze
em quinze minutos) para dados horários;
•= estimativa do grau de umidade relativa nas moradias; e
•= análise bioclimática dos resultados com a utilização do software ANALYSIS
(LMPT/EMC e NPC/ECV, 1994).

3.1.1 Descrição do Equipamento Utilizado

Os equipamentos HOBO® Data Logger da Onset Computer Corporation, utilizados


nas medições, são armazenadores de temperatura (bulbo seco) e umidade relativa. Os sensores
de temperatura operam na faixa de temperatura de -40ºC a +120ºC e na faixa de umidade
relativa de 0 a 95%, sem que haja condensação. Sua acurácia, segundo o manual de uso do
aparelho (ONSET COMPUTER CORPORATION, 1999), é de aproximadamente 0,7ºC, para
a faixa de operação utilizada nas medições (temperaturas entre –5ºC e +35ºC).
Os HOBO® Data Loggers podem ser configurados para tomar leituras de tempos em
tempos para um período pré-fixado. No fim deste período, os dados são transmitidos para um
microcomputador por meio de um programa específico, o BOXCAR.

FIGURA 12 – HOBO DATA LOGGER


78

Para a aferição dos equipamentos de medição, os aparelhos foram colocados em uma


caixa de isopor durante um período de 12 horas. Após este período foram feitas as leituras. Os
resultados estão representados na Figura 60 (Apêndice A).

3.1.2 Desenvolvimento da Avaliação de Desempenho

Escolha dos sistemas construtivos para avaliação térmica


Os sistemas construtivos foram selecionados para a avaliação conforme os seguintes
critérios:
•= pertencerem às vinte empresas construtoras originais selecionadas pela COHAB-CT
(Companhia de Habitação Popular de Curitiba) por ocasião da implantação da Vila
Tecnológica de Curitiba – algumas construtoras foram acrescentadas mais tarde; e
•= terem sido, efetivamente, oferecidos para a população como moradias (dois dos vinte
sistemas construtivos originais, projetados para uso, não chegaram a ser oferecidos aos
moradores).
Foi escolhida para ser avaliada uma moradia de cada sistema construtivo,
necessariamente habitada e ocupada durante os períodos de monitoramento, e disponibilizada
por seus moradores para as medições no próprio ambiente. O propósito disso foi avaliar o
desempenho térmico das diversas tecnologias e materiais construtivos em habitações de
interesse social em condições reais de uso.

Definição dos períodos de análise


Foram definidos dois períodos de análise que correspondem aos períodos de maior
desconforto por frio (inverno: especialmente o mês de julho) e por calor (verão: de dezembro
a fevereiro), conforme o Ano Climático de Referência para Curitiba (GOULART et al.,
1998).
No inverno, após os cortes necessários, obteve-se dados úteis de 591 horas (cerca de
25 dias) para o mês mais frio de Curitiba (das 16 horas do dia 9 de julho de 2000 às 7 horas
do dia 3 de agosto de 2000). As informações obtidas nas medições de verão resultaram em
dados úteis de 690 horas (cerca de 29 dias) (das 21 horas do dia 12 de dezembro de 2000 às
13 horas do dia 10 de janeiro de 2001).
79

Monitoramento térmico das moradias, usando-se data-loggers de temperatura e


umidade do tipo HOBO
Os sensores de temperatura e umidade relativa do tipo HOBO-TEMP e HOBO-RH-
TEMP, previamente programados para medições com intervalos de 15 em 15 minutos, foram
instalados nas moradias dos dezoito diferentes sistemas construtivos na Vila Tecnológica de
Curitiba, para a coleta de dados. Foi feita uma aferição dos mesmos (ver Apêndice A). Os
cuidados na instalação dos data-loggers encontram-se no Item 4.3.1.
Para que se obtivessem informações precisas sobre o desempenho térmico das
habitações, foram observados os padrões de uso das moradias (ocupação, operação de portas,
janelas, equipamentos etc.) (ver Apêndice B: Tabelas de ocupação, ventilação e
equipamentos).

Tratamento dos dados: procedimento


Após a coleta dos dados obtidos com os sensores para cada período de monitoramento
e sua transferência para o microcomputador com o auxílio do programa BOXCAR, foram
gerados arquivos de texto (txt). Esses dados incluíram a temperatura interna nas moradias dos
diferentes sistemas construtivos, além da temperatura e da umidade relativa externas.
Os valores obtidos pelos cálculos das médias foram integrados para dados horários,
utilizando-se o programa Microsoft Excel for Windows.
Finalmente, foram elaboradas duas planilhas com as médias horárias de temperatura
de todas as tecnologias e a temperatura externa, para ambos os períodos de medição (inverno
e verão). Foram então gerados os Gráficos de temperatura apresentados e analisados no Item
4.4.1, referentes a:
•= comparação de dados de temperatura hora-a-hora do período completo de medição para
cada tecnologia versus temperaturas externas; e
•= comparação de dados de temperatura das tecnologias de pior e de melhor desempenho
versus temperatura externa.

Estimativa do grau de umidade relativa nas moradias


Para se determinar as condições de conforto térmico nas moradias por meio da
plotagem dos dados na Diagrama Bioclimático de Givoni (1992) e avaliar o seu desempenho
térmico, são necessários os valores de temperatura e de umidade relativa (UR). Em razão de
80

não se contar com aparelhos registradores de UR em número suficiente, fez-se necessário


calcular a UR estimada das moradias.
Este cálculo foi baseado no trabalho desenvolvido por Krüger (2001), que comparou
os valores estimados e os dados medidos de UR para quatro moradias de diferentes sistemas
construtivos da Vila Tecnológica de Curitiba, por meio de data-loggers do tipo HOBO de
temperatura e umidade. A comparação compreendeu uma análise estatística verificando os
coeficientes de correlação para as duas séries de dados (medidos e estimados) e a verificação
dos níveis de conforto resultantes da plotagem dos dados obtidos e estimados de temperatura
e UR no Diagrama de Conforto de Givoni (1992). Este autor baseia-se nas suposições de que
as taxas de ventilação entre o interior e o exterior das moradias são consideráveis, levando-se
em conta seu pequeno volume (m3) e o pouco controle de frestas e aberturas; além disso, é
baixa e de curta duração a geração de umidade nos ambientes. Ademais, em construções
tropicais, a ventilação é uma necessidade no período de verão.
Na comparação realizada por Krüger (2001), há uma boa correspondência entre os
valores medidos e estimados de UR, para os quatro sistemas construtivos analisados: os
coeficientes de correlação (R) obtidos foram próximos de 0,9 e os coeficientes de
determinação (R2) próximos de 0,8, para o período de 15 dias de monitoramento. As
diferenças mais significativas entre a UR medida e a estimada ocorrem no período mais frio,
provavelmente pela falta de ventilação. Em temperaturas abaixo de 18ºC – que em Curitiba
correspondem a 73,2% das horas do ano (GOULART et al., 1998) – a UR não é significativa
na definição de uma zona bioclimática na Diagrama Bioclimático de Givoni (1992). Neste
período a maior porcentagem dos pontos se situa nas zonas 8 e 9, respectivamente Massa
Térmica / Aquecimento Solar e Aquecimento Solar Passivo, onde os erros na estimativa de
UR não influem na definição de zonas e estratégias bioclimáticas.
Ainda conforme Krüger (2001), para um período de calor, bem como para um período
mais extenso de monitoramento com boa variação de temperatura e da UR, é possível se obter
uma boa correspondência entre valores reais e estimados de UR, pois as diferenças se
compensam, com a presença de ventilação.
Assim, adotou-se a umidade absoluta externa também para os ambientes internos e a
partir da umidade absoluta e da temperatura medida do ar interno, estimou-se a umidade
relativa de cada residência em cada hora.
81

Análise bioclimática dos resultados por meio do software ANALYSIS (LMPT/EMC e


NPC/ECV, 1994) no período de verão
A partir dos dados de temperatura obtidos pelas medições e os dados estimados de
umidade relativa para as dezoito moradias nos dois períodos avaliados, foi adotado o seguinte
procedimento:
•= os arquivos txt foram adaptados ao formato exigido pelo software ANALYSIS
(LMPT/EMC e NPC/ECV, 1994). Para obtenção dos resultados neste software, foram
gerados arquivos no formato TRY (Ano Climático de Referência), considerando-se, como
dados de entrada, a altitude de Curitiba (920m) e a umidade relativa;
•= os dados coletados foram plotados no Diagrama Bioclimático de Givoni com o software
ANALYSIS (LMPT/EMC e NPC/ECV, op. cit.) para Avaliação Bioclimática. Este
procedimento permitiu quantificar a porcentagem do tempo de medição em termos de
horas situadas na zona de conforto ou fora dela (horas de desconforto) considerando-se as
temperaturas na faixa de conforto (18 ≤ T ≤ 29°C), conforme os limites fixados por
Givoni (1992);
•= a Análise Bioclimática de cada sistema construtivo, nos períodos de monitoramento,
envolveram os resultados verificados no Diagrama Bioclimático e os relatórios do
programa ANALYSIS (ver Apêndice C: Exemplo de gráfico e relatório elaborados com o
software ANALYSIS);
•= foram criadas as planilhas: Tabela Resumo Inverno e Tabela Resumo Verão, nas quais,
para todos os sistemas construtivos, indicam-se as porcentagens de horas de frio (T <
18°C), de conforto (18 ≤ T ≤ 29°C) e de calor (T > 29 °C), bem como as temperaturas
mínima, média e máxima internas (ver Tabelas 3 e 4, no Item 4.4.2).

3.2 PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA A AVALIAÇÃO PARAMÉTRICA

Com o objetivo de subsidiar a Norma de Desempenho Térmico das Edificações


(UFSC, 1998) e como etapa conclusiva da Avaliação de Desempenho Térmico das habitações
implantadas na Vila Tecnológica de Curitiba, foi realizada uma análise paramétrica. Nela, as
variáveis de transmitância, atraso térmico e fator solar dos fechamentos foram avaliadas
estatisticamente quanto ao seu grau de influência no desempenho térmico das habitações.
82

Além destas variáveis, verificou-se, ainda, a influência da incidência da radiação solar nas
superfícies das moradias: nI (somatório das horas de Sol nas fachadas de cada moradia,
considerando-se a orientação e a data dos solstícios de verão e de inverno) e nI%vidro
(porcentagem das horas de Sol em relação às superfícies envidraçadas das fachadas de cada
moradia, considerando-se a orientação e as datas de ambos os solstícios).
Para o desenvolvimento da Avaliação Paramétrica, adotou-se o seguinte
procedimento:
•= cálculo dos valores das características termofísicas dos materiais de cada sistema
construtivo;
•= comparação dos valores encontrados com os resultados obtidos pelas medições para os
períodos de inverno e verão e com os parâmetros recomendados pela Norma de
Desempenho Térmico;
•= estimativa das horas de Sol; e
•= Avaliação Paramétrica, por meio do método de análise de regressão. Investigação dos
coeficientes de correlação entre as características termofísicas dos materiais de
fechamento e estimativa das horas de Sol e os resultados do desempenho apresentados
pelos sistemas construtivos durante a Avaliação de Desempenho Térmico.

3.2.1 Desenvolvimento da Avaliação Paramétrica

Cálculo dos valores das características termofísicas dos materiais de cada sistema
construtivo
Para avaliar cada uma das dezoito tecnologias, foram calculados os valores das
características termofísicas dos materiais que compõem a envoltória (paredes, piso e
cobertura) de cada sistema construtivo, segundo a Norma de Desempenho Térmico de
Edificações, parte 2 (UFSC, 1998) (ver Anexo D: Exemplo de cálculo das características
termofísicas).
Quanto aos materiais de construção, as características termofísicas relevantes são: a
transmitância (U) e o atraso ou inércia térmica (ϕ) das paredes externas e da cobertura de uma
habitação. A primeira está diretamente relacionada à condutividade térmica dos materiais que
compõem a parede ou a cobertura. A segunda considera sua capacidade térmica, ou seja, a
capacidade de o elemento construtivo reter calor. Além dessas características, o fator de calor
83

solar (FS) dos elementos que compõem a envoltória também influi nos ganhos por radiação,
que se dão a partir dos elementos opacos (absortividade de paredes, por exemplo) e dos
elementos transparentes (como o coeficiente de transmissão dos vidros).
No caso das paredes externas serem constituídas por diferentes materiais em paralelo,
foram calculadas as características termofísicas dos materiais predominantes dos sistemas
construtivos – chamadas U, ϕ e FS “originais”.
Em seguida, foram calculadas as características termofísicas dos materiais das
aberturas como vidro, metal ou madeira em função das respectivas áreas de superfície em
cada fachada, encontrado-se os valores de U, ϕ e FS “equivalentes” para cada moradia (ver
Tabela 6, Item 5.2).
Em relação às coberturas, a Norma de Desempenho Térmico recomenda apenas os
cálculos das características termofísicas da cobertura para o verão (considerando sempre a
pior situação como margem de segurança). Já no presente trabalho, para efeito de análise, os
cálculos foram feitos para os dois períodos (verão e inverno) (ver Tabela 7, Item 5.2).

Parâmetros da Norma de Desempenho Térmico das Edificações


O projeto de normalização para a ABNT, de número 02:135.07 é um conjunto de
Normas de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, 1998) constituído de cinco partes,
das quais foram consultadas as três primeiras:
Parte 1: Definições, símbolos e unidades;
Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso
térmico e do fator de calor solar de elementos e componentes de edificações; e
Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações
unifamiliares de interesse social.
O projeto atualizado da Norma, sob o número 02:136.01 – Desempenho de Edifícios
Habitacionais de até Quatro Pavimentos (ABNT, 2002) – que se encontra em processo de
votação, compõe-se de oito partes, das quais foram consultadas as seguintes:
Parte 6: Paredes e pisos em contato com o solo; e
Parte 7: Coberturas.
A Norma de Desempenho Térmico das Edificações (UFSC, 1998), Parte 3:
Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações Unifamiliares
de Interesse Social, divide o território brasileiro em oito zonas climáticas. Essa classificação
em zonas permite a identificação dos grupos de problemas climáticos dominantes e, para cada
84

grupo, oferecer recomendações técnicas que estabeleçam requisitos mínimos de projeto,


considerando os seguintes parâmetros:
•= tamanho das aberturas para ventilação;
•= proteção das aberturas;
•= vedações externas (tipo de parede externa e cobertura, considerando-se transmitância
térmica, atraso térmico e absortância à radiação solar); e
•= estratégias de condicionamento térmico passivo.
Procedimento: primeiramente, deve-se identificar o local onde se pretende construir no
Zoneamento Bioclimático Brasileiro, estabelecido pela Norma de Desempenho Térmico de
Edificações, Parte 3. Definida a zona em questão, a Norma fornece as diretrizes construtivas
para cada uma das oito Zonas Bioclimáticas. Para facilitar esse processo, no Anexo A da
referida Norma, encontra-se uma tabela com 330 cidades cujos climas foram classificados, a
quarta coluna indicando a Zona Bioclimática na qual a cidade está inserida. Na terceira
coluna, estão representadas por letras as estratégias recomendadas, detalhadas na tabela 25 da
referida Norma. Seguindo este procedimento, Curitiba se encontra na Zona Bioclimática 1.
Quanto aos materiais de construção que compõem a envoltória (paredes, piso e
cobertura), a Norma estabelece valores admissíveis para as características termofísicas –
transmitância (U), atraso térmico (ϕ) e fator de calor solar (FS) – das vedações externas
(paredes e coberturas), para cada Zona Bioclimática. As recomendações da Norma para a
Zona Bioclimática 1 (UFSC, 1998; ABNT, 2002) são descritas nos Itens 4.2.3 e 5.1.

Comparação entre os valores encontrados das características termofísicas dos materiais


com os resultados obtidos pelas medições referentes aos períodos de inverno e verão
Mediante a elaboração de Gráficos (ver Item 5.2), foi possível comparar o
desempenho dos materiais dos sistemas construtivos em relação à porcentagem de horas de
conforto ou desconforto por frio ou calor apresentados pelas moradias nos períodos de
medição. Estes foram comparados aos valores obtidos para as suas características termofísicas
e aos valores máximos estabelecidos pela Norma.

Estimativa das horas de Sol: nI (somatório das horas de Sol ) e nI%vidro (porcentagem das
horas de Sol em relação às superfícies envidraçadas)
Foi investigada a influência da orientação solar e da radiação solar direta sobre as
fachadas, pela verificação do sombreamento causado pelas obstruções. As máscaras de
85

sombra foram elaboradas, considerando-se o ponto central de cada plano de fachada, nos
solstícios de inverno e de verão1. Para fachadas de determinada orientação compostas de mais
de um plano, foi feito o cálculo de proporcionalidade. Determinando-se o número de horas de
Sol (nI) em cada fachada, obteve-se o somatório de horas de Sol de todas as fachadas de cada
moradia nos solstícios de inverno e de verão (ver Tabela 9, Item 5.4 e Apêndice E: Exemplo
de análise de sombreamento).
Resolveu-se investigar, também, a influência da radiação solar direta sobre as áreas
envidraçadas e, conseqüentemente, do efeito estufa. Assim, verificou-se para cada moradia
analisada a área de fachada e a respectiva porcentagem de vidro (área de vidro / área da
fachada), que foi multiplicada pelo número de horas de Sol nos solstícios de inverno e de
verão. Obteve-se, assim, o somatório do produto das horas de Sol pela porcentagem de área
envidraçada de cada fachada para cada moradia (nI%vidro) (ver Tabela 10, Item 5.4)
Com estes resultados, e tendo como objetivo principal identificar com maior precisão
os parâmetros de maior influência no desempenho térmico nas moradias, foi realizada uma
Avaliação Paramétrica.

Avaliação Paramétrica, pelo método de Análise de Regressão


A Avaliação Paramétrica foi realizada utilizando-se o método estatístico de análise de
regressão. Por esse método, pôde-se verificar o coeficiente de correlação, ou seja, a existência
de uma certa influência entre duas séries de dados.
Obteve-se, assim, o coeficiente de correlação (R) entre cada uma das variáveis (U, ϕ e
FS, nI e nI%vidro, para parede; e U, ϕ e FS, para cobertura) e a porcentagem das horas em
conforto térmico, os somatório de graus-hora e as médias das temperaturas mínimas e
máximas, apresentados pelos dezoito sistemas construtivos avaliados, relativos ao inverno e
ao verão.
O Capítulo a seguir descreve a Vila Tecnológica de Curitiba e trata da Avaliação do
Desempenho Térmico de dezoito moradias da mesma.

1
Os solstícios correspondem às datas de 22 de dezembro e 22 de junho, que são, respectivamente, os dias de
menor e maior distância entre o ponto considerado na superfície da Terra e o Sol, durante o ano. (O solstício de
verão no Hemisfério Norte coincide como o solstício de inverno no Hemisfério Sul e vice-versa). Nestas duas
datas, o eixo de rotação da Terra se acha no plano perpendicular ao plano da eclíptica, passando pelo centro do
Sol. O termo solstício tem origem latina e significa “Sol parado” (BITTENCOURT, 2000).
86

4 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO NA VILA


TECNOLÓGICA DE CURITIBA

O projeto das Vilas Tecnológicas visava “desenvolver diferentes sistemas construtivos


(tecnologias alternativas), classificando-os conforme sua adequação em termos de elevação
da qualidade e redução de custos, demonstrando existência de alternativas para construção de
casas para a população de baixa renda” (MOREIRA et al., 1997, grifo nosso). Faz-se a seguir,
uma análise dessas tecnologias quanto ao seu desempenho térmico, importante critério
relativo à qualidade ambiental de moradias.

4.1 OBJETO DE ESTUDO: A VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA

Resultado de um convênio assinado em 1993 entre o PROTECH (Programa de


Difusão de Tecnologia para Construção de Habitação de Baixo Custo) e a COHAB-CT
(Companhia de Habitação Popular de Curitiba), a Vila Tecnológica de Curitiba, inaugurada
em maio de 1994, foi a primeira a ser implantada no Brasil.

4.1.1 O PROTECH

Com o objetivo de encaminhar soluções para a questão da habitação social do país, o


PROTECH foi criado em 28 de julho de 1993, no âmbito da Secretaria-Geral da Presidência
da República, mediante decreto. Os recursos financeiros para sua implantação foram
regulamentados pelo Decreto n° 1036, de 4 de janeiro de 1994, que destinava os recursos
oriundos da alienação de imóveis residenciais de propriedade da União para o Programa.
Buscava-se uma reavaliação da política brasileira de habitação popular, que utilizava
vultuosos recursos financeiros para implantar conjuntos habitacionais padronizados em todo o
país. Estes, além de distanciados das necessidades do usuário e das especificidades regionais,
eram insuficientes para atender à enorme demanda. De acordo com Santos (1994, p.4), entre
os equívocos identificados pelo PROTECH nos programas habitacionais realizados no país
até então, encontram-se:
87

•= gestão centralizada e autoritária;


•= falta de controle da gestão dos recursos;
•= critérios de financiamentos bancários inadequados e distanciados das necessidades locais;
•= não participação dos municípios e/ou dos futuros moradores na concepção dos programas
e projetos;
•= opção por grandes conjuntos localizados na periferia das cidades;
•= dispersão de recursos financeiros, técnicos e humanos;
•= absoluto distanciamento entre a produção habitacional pública e as práticas informais, que
garantem a produção da cidade real, onde a maioria da população mora; e
•= desprezo visível pela qualidade dos projetos de arquitetura e de urbanismo, revelando
clara preferência por soluções uniformizadas e padronizadas, sem nenhuma preocupação
com a qualidade da moradia e/ou do espaço urbano.
O programa não pretendia resolver o problema do déficit habitacional brasileiro, mas
promover a difusão de tecnologia e conscientizar o povo brasileiro de que existem alternativas
para cada um construir sua própria habitação, baseando-se na realidade regional e na
cooperação.
O PROTECH tinha “seu referencial a partir da compreensão do conceito de habitat,
onde o abrigo e seu entorno, o espaço natural e o construído, com sua infra-estrutura e seus
equipamentos sociais, constituem – num sentido amplo – o lugar de morar”, considerando-se
aspectos econômicos, sociais, históricos, políticos e culturais da sociedade. Não pretendia “a
construção massiva de moradias no sentido de atender à população necessitada, com a
utilização de recursos governamentais”, mas sim uma “abordagem nova do processo de
produção da habitação de modo que as funções urbanas se harmonizem, conferindo ao
homem melhor qualidade de vida, dignificando seu habitat” (SANTOS, op. cit., p. 5). Para
isso, foram criadas parcerias entre o poder público (propondo a convergência de programas
afins e de recursos humanos, técnicos e financeiros), a iniciativa privada, (convocando e
abrindo espaços para participação de empresas construtora e de consultoria, universidades,
centros de pesquisas) e a própria comunidade beneficiária (com a participação democrática e
comprometida com a solução do problema). O Programa propôs alguns princípios
fundamentais (SANTOS, op. cit., p. 7):
88

•= desenvolvimento de ações a partir de uma política para o setor habitacional embasada no


conhecimento da realidade brasileira, em articulação com as demais políticas setoriais e
no contexto de um Plano Nacional de Desenvolvimento;
•= identificação regionalizada de tecnologias alternativas para a construção de habitação de
baixo custo, respeitando-se a cultura e os fatores ambientais locais;
•= descentralização da execução do programa para o nível municipal;
•= valorização da unidade municipal com a dinamização da economia local pela geração de
renda, da revitalização urbana, da utilização da mão-de-obra existente no município, da
participação de empresas, universidades e institutos de pesquisa locais ou regionais;
•= geração, organização, sistematização e disseminação de informações institucionais,
técnicas, científicas e políticas a toda a sociedade;
•= elaboração de projetos urbanísticos e arquitetônicos qualificados;
•= definição da participação de cada segmento envolvido no Programa; e
•= acompanhamento e avaliação contínuos do projeto e do comportamento das tecnologias
em uso, por intermédio do Sistema Nacional de Monitoramento.
O objetivo do PROTECH era demonstrar e identificar as possibilidades que
viabilizassem a construção de moradias de melhor qualidade e com menores custos, mediante
a difusão ampla de informações técnicas e institucionais. A partir deste objetivo e visando ao
fortalecimento das economias locais e à melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos,
foram traçados os seguintes objetivos específicos (SANTOS, op. cit., p. 8):
•= promoção de novas alternativas, princípios de desenho, de tipos de casa, de infra-
estrutura e de equipamentos urbanos;
•= treinamento da mão-de-obra local, ampliando a oferta de empregos;
•= aproveitamento do potencial industrial disponível na região; e
•= realização de eventos específicos para reflexão de políticas e programas e para a
avaliação periódica dos modelos no que se refere às tecnologias adotadas, visando ao
permanente aperfeiçoamento do sistema.
O Programa baseava-se em quatro idéias centrais:
•= projetos qualificados;
•= formas adequadas de financiamento;
•= estabelecimento de parcerias (entre o setor público, o privado e a comunidade
beneficiária); e
89

•= Tecnologias Apropriadas (DAHER & FRENDRICH, 1997).


A divulgação das reais vantagens de adoção e difusão regionalizada das propostas
arquitetônicas, urbanísticas e tecnológicas reduziriam o custo da produção e resultariam na
melhoria da qualidade das habitações populares e na adaptação das mesmas às condições
climáticas da região (MOREIRA et al., 1997).

4.1.2 As Vilas Tecnológicas

No Brasil, uma tentativa de aplicação de Tecnologia Apropriada em habitação, foi a


proposta das Vilas Tecnológicas do PROTECH, que visava à construção de casas com boa
qualidade e baixo custo para a população de baixa renda, com o conceito de habitat. O
programa previa a participação das instituições de ensino e pesquisa e da comunidade, a
experimentação, a demonstração, a divulgação tecnológica e a valorização dos aspectos
regionais (MOREIRA et al., 1997).
As principais linhas de ação do PROTECH eram:
•= núcleos de estudos e pesquisas sobre habitação e assentamentos populacionais;
•= acompanhamento de programas e projetos selecionados e de tecnologias habitacionais;
•= estruturação de base de dados;
•= acompanhamento do processo legislativo no campo de atuação; e
•= Vilas Tecnológicas (SANTOS, 1994, p. 8-9).
A Vila Tecnológica resultou na reunião em um mesmo local de diferentes sistemas
construtivos com a utilização de materiais não convencionais, possibilitando uma avaliação
comparativa entre as diferentes tecnologias e entre os diversos materiais de construção.
Complementam a Vila Tecnológica: um centro de experimentação e difusão de novas técnicas
de construção, um centro de exposições de inovações construtivas e o Teatro de Arena, além
de outros equipamentos específicos propostos para cada localidade. O objetivo desses
equipamentos era incentivar a produção industrial da região e treinar mão-de-obra local,
contribuindo, assim, para o aumento da oferta de empregos (SANTOS, op. cit.; MOREIRA et
al.,1997).
As Vilas Tecnológicas foram previstas, a princípio, em vinte cidades brasileiras:
Curitiba (PR), Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), Cuiabá (MT), Contagem (MG), Ribeirão
90

Preto (SP), Bauru (SP), Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), Arraial do Cabo (RJ), Fortaleza
(CE), Salvador (BA), Alcântara (MA), Campo Grande (MS), São Paulo (SP), Timon (MA),
Gurupi (TO), Campina Grande (PB), Rio Branco (AC) e Caruaru (PE).
As Vilas Tecnológicas tinham por objetivo “demonstrar, de forma prática e concreta, a
possibilidade real de construção do habitat – expressão que deve ser aqui entendida como o
conjunto integrado casa, equipamentos urbanos e infra-estrutura – a partir de novas propostas
urbanísticas e arquitetônicas capazes de efetivar a adoção e difusão de inovações tecnológicas,
visando, essencialmente, à melhoria da qualidade de habitações populares e à redução de seus
custos de produção” (SANTOS, op. cit., p. 12-13). Buscavam, também, uma revisão da
maneira de se pensar a habitação popular no país, a partir da Tecnologia Apropriada. O
modelo proposto representava originalmente:
•= unidade demonstrativa de tecnologias adaptadas ao meio real;
•= núcleo polarizador e difusor de informações técnicas e institucionais;
•= centro de referência para novos processos construtivos regionais e de intercâmbio de
conhecimentos com outras fontes geradoras de tecnologias;
•= centro de referência para subsidiar a concepção e a proposição de novos sistemas de
financiamento e crédito;
•= unidade de treinamento de recursos humanos voltados para a construção de moradia; e
•= centro de experimentação, demonstração e difusão de novas tecnologias, de incentivo à
produção industrial e à estandardização de elementos construtivos, com conseqüente
redução de custos.
O Projeto do PROTECH previa, a partir daí, a monitoração dos modelos habitacionais.
Seriam feitas avaliações para a aprovação ou a reorientação de rumos pelo Conselho Técnico
Local. Este Conselho seria formado por representantes de entidades de classes da Engenharia
e da Arquitetura, de Companhias de Habitação, Institutos de Pesquisas e Universidades,
Sindicatos da Construção Civil, CREAs e Organizações Não-Governamentais, além de
membros da sociedade. O monitoramento do Programa seria realizado durante cinco anos,
buscando a consolidação ou o redirecionamento de suas ações e atividades. O Governo
utilizaria o conhecimento produzido a partir de cada um dos Conselhos Técnicos Locais, no
que se refere à avaliação e à difusão de sistemas construtivos, orientando a construção eficaz
de moradias de baixo custo (SANTOS, op. cit.).
91

4.1.3 A Vila Tecnológica de Curitiba

Constando de cento e vinte casas, cem habitadas por famílias de baixa renda e mais
vinte casas na Rua das Tecnologias, destinadas à visitação pública, constituídas de diferentes
materiais e sistemas construtivos, a Vila pretendia demonstrar, na prática, a viabilidade dos
princípios do PROTECH (ver Figura 13 e 14, respectivamente: vista panorâmica e planta da
Vila Tecnológica de Curitiba).

FIGURA 13 – VISTA PANORÂMICA DA VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA

FONTE: VIANA, Lucina. Vila Tecnológica de Curitiba. 2000. 1 fot.; color.; 10 x 15 cm.

A proposta da Rua das Tecnologias, que vinha sendo desenvolvida havia um ano pela
COHAB-CT, foi acrescentada às Vilas Tecnológicas do PROTECH, com o objetivo de
promover a difusão dos novos sistemas construtivos. O objetivo inicial era o de possibilitar às
empresas a demonstração de seu sistema e a divulgação de seu produto, reunindo em um
mesmo local diversas tecnologias habitacionais – o que até então não existia em nenhum
outro local do país.
Levando em conta o conceito de habitat, o conjunto de casas foi somado a
equipamentos urbanos e à infra-estrutura, buscando o bem-estar da população. Assim, a Rua
92

das Tecnologias, no Centro da Vila Tecnológica, além da função inicial de exposição


permanente dos sistemas para visitação pública, passou a abrigar órgãos da administração
municipal, oferecendo serviços à população. Fazem parte do projeto, além da Rua das
Tecnologias, a Casa do Pequeno Inventor, a Praça da Tecnologia e o Núcleo de Difusão
Cultural. Na área de lazer, o projeto incluía um campo de futebol, um play-ground, uma
ciclovia e um bosque.

FIGURA 14 – IMPLANTAÇÃO DA VILA TECNOLÓGICA DE CURITIBA

FONTE: COHAB-PR, 1993.


93

A Vila Tecnológica de Curitiba foi construída em uma área de 50 mil metros


quadrados, aproveitando um vazio urbano no Bairro Novo, na Zona Sul da cidade, em meio a
um loteamento que abrigava cerca de oito mil famílias. Pretendia-se beneficiar esta
comunidade com as diversas melhorias, entre elas, o Núcleo de Difusão Cultural, que acabou
não sendo implantado.
Como principal responsável pela execução das obras da Vila Tecnológica de Curitiba,
a COHAB-CT selecionou então vinte entre as quarenta propostas encaminhadas por empresas
construtoras de todo o país, cada uma contribuindo com uma tecnologia diferente. As
empresas eram: sete paranaenses, cinco paulistas, duas mineiras, duas gaúchas, uma
catarinense, uma paraibana, uma mato-grossense e uma do Distrito Federal. Cada empresa
construiu uma unidade na Rua das Tecnologias, idealizada como uma exposição permanente
dos sistemas construtivos utilizados, além de outras cinco unidades na Vila. Foram utilizados
diversos materiais, desde os mais convencionais como concreto e madeira, até materiais
alternativos como solo-cimento, fibrocimento ou isopor revestido de argamassa, mas com
características em comum, como a facilidade de montagem e a racionalização dos materiais.
As moradias foram habitadas por cem famílias, mediante contrato de locação social
(concessão com opção de compra). As casas que estavam sendo testadas, caso tenham sido
aprovadas após a avaliação, tiveram seus contratos convertidos em financiamentos para
compra por quinze anos, abatendo-se os valores já pagos em forma de aluguel. O valor é
variável conforme o sistema construtivo. Um dos critérios de seleção foi o tempo de inscrição:
foram atendidas famílias inscritas a mais de três anos na COHAB-CT. Esta fila, em 1997,
contava com 60 mil inscritos, 70% deles com renda inferior a cinco salários mínimos
(MOREIRA et al., 1997).
As casas foram avaliadas pelo Instituto de Pesquisa e Assessoria Tecnológica do
Paraná da Pontifícia Universidade Católica – INTEC/PUCPR, pelos representantes do
PROTECH e pelo chamado Conselho Técnico. Este Conselho reúne quinze entidades na área
de arquitetura, da engenharia e da construção civil, sob a coordenação da COHAB-CT: a
Universidade Federal do Paraná – UFPR, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba – IPPUC, a Secretaria Municipal do Urbanismo – SMMU, o Instituto de Engenharia
do Paraná – IEP, o Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB-PR, o Sindicato da Construção
Civil do Paraná – SINDUSCON-PR, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia – CREA-PR, a Associação Brasileira de Construção Industrializada – ABCI, a
Associação Paranaense de Empreiteiros de Obras Públicas – APEOP, a Caixa Econômica
94

Federal – CEF-PR, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA e o Centro


Federal de Educação Tecnológica – CEFET-PR.
A avaliação realizada por essas entidades levou em conta as modalidades
sociocultural, engenharia técnica e arquitetônica. Procurou, com a participação de seus
moradores, identificar entre as tecnologias presentes na Vila de Curitiba, quais as que melhor
se adaptam às necessidades da habitação popular – oferecendo baixo custo e qualidade
(DAHER & FRENDRICH, 1997, SANTOS, 1994).
Para Moreira et al. (op. cit.), apesar de todos esses esforços e entidades envolvidas, as
tecnologias não foram avaliadas sob a perspectiva de Tecnologias Apropriadas, idéia central
da proposta do PROTECH: “por se tratar de um projeto de busca de TA (Tecnologia
Apropriada) para habitação popular, a avaliação que se enquadre nos critérios deste tipo de
tecnologia é fundamental. Esta avaliação passa a ter uma importância ainda maior no projeto
da Vila Tecnológica de Curitiba, uma vez que as atividades de geração e desenvolvimento
tecnológico não existem. Assim, selecionar e avaliar passam a ser as atividades centrais”.
No Item 2.1.3 são mencionados critérios gerais para avaliação de TA; e no início do
Capítulo 1 são citados os critérios para a seleção e avaliação de TA, específicos em habitação.
Ainda segundo Moreira et al. (op. cit.), a execução da Vila Tecnológica de Curitiba
desviou-se do objetivo original, não oferecendo TA, devido aos seguintes fatores:
•= os executores do projeto, ao se preocuparem com a questão da imagem política,
negligenciaram o processo de geração e desenvolvimento de TA – um dos princípios
norteadores do projeto da Vila Tecnológica pelo PROTECH para habitação popular.
Assim, não foram executados o Núcleo de Difusão de Tecnologias e a Casa do Pequeno
Inventor. Além disso, o processo de difusão foi restringido à Rua das Tecnologias;
•= a COHAB-CT, apesar da preocupação com a qualidade, o custo e a questão do habitat,
não levou em consideração o conceito de TA na seleção dos sistemas construtivos, o que
pode ser observado pela escolha de alguns sistemas que utilizam materiais em
discordância com o meio ambiente e não disponíveis como recurso local, como, por
exemplo, a utilização de madeira de lei. As tecnologias só serão apropriadas se buscarem
atender às necessidades da população local e aproveitar os recursos disponíveis
regionalmente;
•= quanto às duas premissas básicas (moradias de maior qualidade e de baixo custo), os
sistemas construtivos não apresentaram resultados concretos em relação a custos, se
95

comparados à alvenaria tradicional. Se o custo não for acessível, não há como viabilizar a
melhoria da qualidade;
•= o PROTECH somente elaborou e apresentou o programa e repassou os recursos, não
realizando um acompanhamento no desenvolvimento e na implantação da Vila
Tecnológica, ou um trabalho contínuo de difusão de tecnologias;
•= não houve participação acadêmica efetiva;
•= o projeto foi imposto de forma vertical, desconsiderando as reais necessidades dos
moradores, mas visando aos interesses das empresas em comercializar seus produtos; e
•= a comunidade não participou, em momento algum, da elaboração da Vila, quer na
valorização dos aspectos regionais para a concepção dos projetos, quer na escolha dos
materiais, dos sistemas construtivos, da tipologia das casas ou da construção. Uma
tecnologia somente será apropriada se a comunidade participar de todo o processo: desde
a identificação dos problemas, a geração e o desenvolvimento de tecnologia, a
implantação e a avaliação, tornando-se, então, apta à adoção das inovações tecnológicas
resultantes do projeto.
Ainda assim, a iniciativa de procurar soluções alternativas para a habitação social foi
relevante, pois possibilitou a avaliação comparativa entre os diferentes sistemas de construção
e materiais não convencionais para a construção civil reunidos em um mesmo local. Permitiu
a identificação das tecnologias climaticamente mais adequadas e, ainda, o rompimento de
barreiras culturais quanto à habitabilidade de casas construídas com materiais alternativos
(MOREIRA et al., 1997).
Quanto à participação dos moradores na avaliação das moradias, pode-se questionar o
fato de que, se os moradores deveriam ser os beneficiados em primeira mão, estes são, na
realidade, sujeitos a condições não predizíveis, e, portanto, “cobaias” de um experimento em
habitação popular.

4.1.4 Descrição dos Sistemas Construtivos Avaliados

Os sistemas construtivos de cada uma das moradias avaliadas são descritos


sucintamente a seguir, segundo dados de Aguiar & Bagatin (1995), IPT (1998), Daher &
Frendrich (1997), material fornecido pela COHAB-PARÁ e pelas construtoras e/ou
planejadores/projetistas dos sistemas. Além disso, foram realizadas observações in situ,
96

ressaltando-se as diferenças entre as tecnologias e os elementos do envelope construtivo (piso,


teto e paredes externas das moradias).
Os dados relativos à ocupação, à ventilação e ao uso de equipamentos foram
diferenciados nos períodos de medição (no inverno e no verão) e podem ser observados nas
Tabelas 1 a 10 do Apêndice B: Tabelas de ocupação, ventilação e equipamentos.

4.1.4.1 MLC-Engenharia e Construções Ltda., de Erechim, RS

Sistema construtivo composto de painéis de concreto armado pré-moldados, com


interior em bloco cerâmico (paredes externas) ou somente em concreto armado (divisórias
internas). Os painéis, com camada interna de material isolante térmico, são montados com
equipamento mecânico. A laje de forro é, também, pré-fabricada.
Paredes: as paredes externas são compostas por painéis pré-moldados duplos em
concreto armado com 2,5cm de espessura, com camada isolante interna de blocos cerâmicos
de seis furos no sentido longitudinal à parede, totalizando 14cm de espessura (blocos
cerâmicos de 9 x 13 x 26cm com furos de 2,5cm de diâmetro). Os painéis de 2,60m de altura
e 1m de largura são encaixados lateralmente e rejuntados. O travamento superior consiste em
uma cinta de 14 x 15cm moldada in loco. As paredes internas são constituídas somente de
painéis em concreto armado sem a camada interna de blocos cerâmicos, com espessura total
de 5cm. Os painéis não recebem revestimentos como chapisco, emboço e reboco. Cor externa:
branca e verde clara.
Esquadrias: as esquadrias externas são metálicas (ferro tipo cantoneira) em cor verde
médio, com vidro simples (3mm). As janelas são do tipo basculante, voltadas para as faces
Sudeste, Sudoeste e Noroeste. A porta externa, fechada com chapa até metade de sua altura e
na parte superior com vidro, é voltada para face Sudoeste (ver Apêndice E: Exemplo de
análise de sombreamento).
Piso: o contrapiso é de concreto com 5cm de espessura e recebe uma camada de
cimento desempenado revestido de piso vulcanizado (vulcapiso).
Cobertura: a laje de forro é pré-fabricada com viguetas de concreto armado e tavelas
cerâmicas, sem reboco. A estrutura da cobertura é de madeira. Há um ático entre o telhado e a
laje (câmara de ar não-ventilada). O oitão é fechado com alvenaria de tijolos cerâmicos. As
telhas são de fibrocimento com espessura de 5mm.
97

FIGURA 15 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 1, MLC

PLANTA s/ esc. área: 39,60m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc. DETALHE 2 s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


98

4.1.4.2 Battistella Indústria e Comércio Ltda., de Lages, SC

Sistema construtivo composto por módulos e componentes pré-fabricados de madeira


de reflorestamento próprio, da espécie Pinnus taeda, com tratamento em autoclave (AGUIAR
& BAGATIN, 1995). Os principais componentes são: a placa de madeira do tipo blockboard,
a viga de madeira laminada colada e a própria madeira seca.
Paredes: todas as paredes internas e externas são constituídas de placas de madeira
maciça reconstituída (blockboard), ou seja, formadas por miolo de sarrafos de madeira
colados entre si e por duas lâminas coladas aos sarrafos (IPT, 1998). Os painéis são
modulados em múltiplos de 0,305m de largura e geralmente 2,44m de altura, com 1,5cm de
espessura, fixados com pregos a montantes. As paredes externas e internas são compostas de
painéis duplos com câmara de ar e perfazem 15cm e 10cm de espessura, respectivamente. As
juntas de dilatação em poliuretano entre os painéis são cobertas com perfis de PVC. O
revestimento externo é de resina acrílica e agregados minerais. Observação: neste caso foram
identificadas diferenças significativas entre a moradia exposta na Rua das Tecnologias e a
efetivamente avaliada, que não possui painéis duplos, câmara de ar ou revestimento externo.
Esta é composta apenas pelo painel blockboard simples de 1,5cm, tendo as juntas entre os
painéis cobertas por ripas de madeira. Cor externa: camurça e bege.
Esquadrias: as janelas são de madeira e do tipo guilhotina, com vidro simples (3mm),
voltadas para as faces Sudeste e Nordeste. Somente a janela do banheiro é basculante e
voltada para Noroeste. As portas externas são em madeira maciça e voltadas para Noroeste e
Sudoeste. Esquadrias na cor bege.
Piso: o contrapiso é de concreto, com acabamento em cimento alisado.
Cobertura: o forro é executado em placas de madeira maciça reconstituída, tipo
“Blockboard”. Estrutura de telhado em treliças de madeira e vigas laminadas coladas. Possui
ático (câmara de ar ventilada) e telhas de fibrocimento 5mm, cor cinza. O sistema construtivo
Batistella emprega a subcobertura, aplicação de placas de madeira tipo blockboard logo
abaixo do ripamento das telhas, servindo de base para a aplicação de uma manta de espuma de
polietileno (IPT, 1998). Observação: neste caso, também foram identificadas diferenças entre
a moradia exposta na Rua das Tecnologias e a efetivamente avaliada, que não possui
subcobertura e com o forro executado não em blockboard, mas em lambril de pinho.
99

FIGURA 16 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 2, BATTISTELLA

PLANTA s/ esc. área: 36,40m2 DETALHE 1 s/ esc.


(moradia na Rua das Tecnologias)

CORTE s/ esc. DETALHE 2 s/ esc.


(moradia avaliada)

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: PAPST, Ana Lígia. Moradia Battistella. 2002. FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
1 fot.; color.; 10 x 15 cm.
100

4.1.4.3 Kürten Madeiras e Casas Pré Fabricadas, de Curitiba, PR

Sistema construtivo utilizando madeira reciclável, tratada com conservantes químicos


de madeira aplicados sob pressão em autoclave, com produtos fungicidas e resinas
hidrorrepelentes (AGUIAR & BAGATIN, 1995, DAHER & FRENDRICH, 1997). Consiste
de painéis pré-fabricados e pré-montados em madeira de Pinus, produzidos industrialmente.
Paredes: o principal elemento construtivo são os painéis pré-fabricados em madeira
(1,00 x 2,50m) formados por lambris de 2,2cm de espessura, com encaixes macho e fêmea,
montados no sentido horizontal e encaixados em montantes. Os painéis são compostos de
base, rodapé de apoio sobre a base e montantes, onde são estruturadas as peças tipo lambril.
As paredes externas são de cor de madeira natural, marrom escuro.
Esquadrias: as janelas de ferro do tipo cantoneira na cor grafite são basculantes, com
vidro simples (3mm) em todas as fachadas (Sudeste, Sudoeste, Noroeste e Nordeste). As
vistas das janelas são de cor branca. A porta externa, de madeira maciça na cor marrom,
voltada para Noroeste, é sombreada pela varanda.
Piso: é composto por lastro de concreto de 5cm de espessura e camada de cimento
alisado.
Cobertura: o forro é de madeira de lambril de Pinus, com encaixe macho e fêmea
(1cm). A estrutura da cobertura é de tesouras pré-fabricadas de madeira (Pinus). Os oitões têm
vedação de lambris de madeira semelhante aos painéis de vedação. O ático forma uma câmara
de ar não-ventilada, coberta por telhas cerâmicas tipo francesa, amarradas.
101

FIGURA 17 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 3, KÜRTEN

PLANTA s/ esc. área: 50,00m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
102

4.1.4.4 3 P - Construções e Incorporações Ltda., de Uruguaiana, RS

O sistema Climatex utilizado consiste no acoplamento de painéis portantes de chapas


de madeira mineralizada, ligados entre si por grampos que compõem o sistema estrutural. Os
painéis são encaixados na face superior das vigas-cintas e do contrapiso, fazendo amarração à
fundação (DAHER & FRENDRICH, 1997).
Paredes: as chapas de madeira são compostas de fibras longas, misturadas ao cimento
Portland (mineralizadas) e prensadas sob a forma de chapas, de 5cm de espessura. Este
processo pretende conferir maior resistência e durabilidade ao material, que, por sua
descontinuidade, e pela presença de células de ar, deve ser isolante térmico, possuir boa
absorção acústica e não reter umidade (AGUIAR & BAGATIN, 1995). A tubulação é
previamente colocada nas juntas dos painéis. Uma tela de aço galvanizado tem a função de
estruturar o emboço, evitando trincas ou fissuras. Os encontros dos painéis são, então,
concretados. As paredes são chapiscadas com 1cm de argamassa de 1:3 (cimento e areia) e
recebem 1,5cm de reboco, totalizando 10cm de espessura total da parede. Pintura da parede
externa na cor marrom.
Esquadrias: as janelas são do tipo guilhotina ou basculante. As portas externas são
fechadas com chapa até metade de sua altura e na parte superior com vidro. As janelas e as
portas externas metálicas e de cor branca, têm vidro transparente (3mm) e estão voltadas para
as faces Nordeste e Sudoeste.
Piso: após o apiloamento do terreno, é colocada uma camada impermeabilizadora de
cascalho com 7cm de espessura, socado. Sobre o cascalho e como contrapiso, é aplicado um
lençol de argamassa de cimento e areia traço 1:4, com 2,5cm de espessura. O acabamento é
feito com cimento alisado e piso cerâmico.
Cobertura: é constituída de forro de chapas de madeira mineralizada gessada e pintada
com 25mm de espessura, estrutura metálica, oitão fechado com chapas de madeira
mineralizada, câmara de ar ventilada e telhas de fibrocimento de 5mm, na cor cinza.
103

FIGURA 18 – PLANTA, CORTE E DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO 4, 3 P

PLANTA s/ esc. área: 33,20m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
104

4.1.4.5 Constroyer – Construções e Empreendimentos Ltda., de Colombo, PR e


Cabrini Construção Metálica Ltda., de São Paulo, SP

Os principais elementos construtivos do sistema Cabrini Monolite, executado pela


Constroyer, são: o Painel Monolite e a argamassa estrutural. O painel tem seu núcleo de EPS
(poliestireno expandido) envolto em telas de aço eletrossoldadas e argamassa projetada. O
EPS possui seção transversal ondulada, de forma que as reentrâncias coincidem com os fios
de aço longitudinais na montagem e constituem micropilares, tornando o painel autoportante e
possibilitando sua utilização como vedação de parede e como laje de forro (DAHER &
FRENDRICH, 1997).
Paredes: os Painéis Monolite têm dimensões máximas de modulação de 1,125 x 6m
com espessura variável. O painel utilizado na moradia avaliada é constituído de uma placa de
EPS (poliestireno expandido), com espessura de 9cm, entre telas de aço, com aplicação de
1,5cm de argamassa estrutural em ambos os lados. A montagem das paredes é feita por
engastamento dos painéis gerando uma estrutura contínua em tela. A argamassa aplicada é de
traço 1:3, de areia grossa e fina, cimento e fibras plásticas na proporção 0,5kg/m³ de
argamassa. Este sistema possui características anti-sísmicas e de isolamento termoacústico,
apresentando peso reduzido e baixa utilização de mão-de-obra (AGUIAR & BAGATIN,
1995). A espessura total da parede da moradia avaliada é de 12cm. Externamente pintada em
bege médio.
Esquadrias: as esquadrias das janelas são de ferro, de correr ou basculantes. De cor
bege, estão voltadas para as quatro orientações. As portas externas são de madeira, uma
voltada para Noroeste e outra, sombreada, voltada para Sudeste (ver Apêndice E: Exemplo de
análise de sombreamento).
Piso: o contrapiso é de concreto e recebe uma camada de cimento alisado.
Cobertura: os Painéis Monolite (3,5cm) são revestidos com argamassa na face inferior
(1,5cm) e têm aplicação de uma camada de concreto na face superior (3cm), perfazendo uma
laje de espessura igual a 8cm. Sobre este conjunto, estão assentadas as ripas e o telhamento
cerâmico cor natural, formando uma câmara de ar não-ventilada de aproximadamente 2,5cm
de altura (AGUIAR & BAGATIN, op. cit.).
105

FIGURA 19 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 5, CONSTROYER

PLANTA s/ esc. área: 37,30m2 DETALHE 2 s/ esc.

CORTE s/ esc. DETALHE 1 s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA CONSTRUÇÃO


FONTE: AGUIAR; BAGATIN, 1995.
106

4.1.4.6 Construtora Andrade Gutierrez S.A., de Belo Horizonte, MG

Sistema construtivo constituído de paredes em alvenaria de blocos de solo-cimento


encaixados e intertravados, denominados tijolitos e outros elementos industrializados como
esquadrias metálicas e estrutura do telhado de aço.
Paredes: alvenaria de blocos vazados de solo-cimento prensados, com encaixe tipo
macho e fêmea e intertrave, denominados tijolitos (22 x 11 x 11cm com quatro furos, dois
furos de diâmetro 45mm e dois de 31mm). Dispensa-se argamassa de assentamento. As
paredes são erguidas pela justaposição dos blocos, mantendo-se as dimensões rigorosamente
dentro do projeto. Em determinados locais (furos de 45mm) é prevista uma armadura vertical
com barras de aço de 5mm e argamassa. O enchimento dos furos menores e de alguns dos
furos de diâmetro maior com argamassa de cimento, cal e areia garante a estabilidade e a
estanqueidade das paredes. Para o acabamento das paredes nas empenas, são aplicados perfis
metálicos de aço em forma de U invertido. Dispensa-se o emboço e o reboco. Nas paredes
externas, são aplicados somente um fundo preparador de paredes e verniz 100% acrílico como
impermeabilizante. A cor das paredes é natural do tijolitos: terracota (AGUIAR &
BAGATIN, 1995, IPT, 1998).
Esquadrias: as esquadrias são industrializadas, metálicas e de cor azul escura. As
esquadrias das janelas são de abrir, vidro 3mm e venezianas de dia sempre abertas, voltadas
para as faces Sudeste, Sudoeste e Noroeste. Somente as janelas do banheiro e da cozinha são
basculantes, ambas voltadas para Sudeste. As portas externas metálicas de chapas dobradas e
de cor azul escura são voltadas para Noroeste e Sudeste.
Piso: o contrapiso é de concreto simples desempenado com espessura de 5cm. Como
acabamento, adotou-se cimento alisado e cimento queimado nas áreas molhadas.
Cobertura: o forro é de lambril de pinho sob a estrutura do telhado executada em aço.
Possui ático com câmara de ar não-ventilada. O oitão também é fechado com tijolitos de solo-
cimento. A telha é cerâmica do tipo francesa, de cor natural (AGUIAR & BAGATIN, op. cit.,
IPT, op. cit.).
107

FIGURA 20 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 6, ANDRADE GUTIERREZ

PLANTA s/ esc. área: 36,60m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: PAPST, A.L. Moradia Andrade Gutierrez. FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
2002. 1 fot.; color.; 10 x 15 cm.
108

4.1.4.7 Todeschini Construções e Terraplanagem Ltda., de Várzea Grande, MS

O sistema construtivo Todeschini consiste de um kit pré-fabricado de madeira de lei


maciça (Jatobá, Maçaranduba, Angelim, Itaúba), com perfis de madeira encaixados entre
montantes. A montagem é feita no próprio canteiro de obra.
Paredes: são do tipo lambril (3,5 x 15 x 100cm), com tábuas montadas no sentido
horizontal com encaixes macho e fêmea. Nos montantes de madeira maciça 10 x 10cm, são
fresados canais de 2,3cm para o encaixe das tábuas de fechamento da parede. Nas
extremidades dos montantes, chumbadores de 3/8” fazem o travamento da estrutura. Os oitões
são fechados com tábuas de madeira iguais as das paredes, recortadas na inclinação certa. Os
pilares das varandas são compostos de duas peças maciças aparafusadas, que recebem as
terças. A pintura é feita com a aplicação de verniz. A cor das paredes é de madeira natural,
escura (AGUIAR & BAGATIN, 1995).
Esquadrias: são de madeira cor natural, mas com vistas (caixilhos) na cor branca. As
esquadrias das janelas são de duas ou quatro folhas de vidro liso (3mm), de correr ou de abrir
e externamente com duas folhas de venezianas de abrir. As janelas situam-se nas faces
Nordeste e Sudeste. Somente a janela do banheiro é basculante e voltada para Sudoeste. A
porta externa de madeira de lei tipo almofadada é sombreada pela varanda.
Piso: o contrapiso é de concreto magro no traço 1:3:6 (cimento, areia e brita), com
espessura de 5cm, assentado sobre o aterro nivelado e compactado. O piso cerâmico foi
aplicado nas áreas molhadas e varandas. Nas salas e quartos, foram usadas tábuas corridas,
fixadas sobre o tarugamento de madeira (AGUIAR & BAGATIN, op. cit.).
Cobertura: a tesoura ou madeiramento é fabricado em madeira de lei. O forro é de
lambril de madeira (1cm) com encaixe macho e fêmea, fixado aos caibros acompanhando a
inclinação do telhado. Entre o forro e a telha cerâmica de cor natural, a câmara de ar não-
ventilada tem 10 a 15cm de altura (DAHER & FRENDRICH, 1997).
109

FIGURA 21 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 7, TODESCHINI

PLANTA s/ esc. área: 40,00m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc. DETALHE 2 s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
110

4.1.4.8 Epotec – Paraná Indústria e Comércio de Casas Pré Fabricadas Ltda., de


Piraquara, PR

O sistema Epotec-Fertighaus consiste de elementos pré-fabricados como: painéis leves


estruturais e modulares, painéis de laje/forro e laje/piso, estrutura de cobertura em treliças e
cavaletes, sistema de junção embutida e sistema de junção aparente. As instalações elétricas e
hidráulicas e as esquadrias metálicas são pré-embutidas nos painéis (IPT, 1998).
Paredes: o sistema construtivo é realizado com painéis com estrutura de madeira
tratada (secção 5 x 5cm) em forma de grelha, com chapas de aglomerado (3mm) colocadas
em ambas as faces, coladas com epóxi e revestidas de argamassa epóxica (1,2cm) em cada
face. O preenchimento dos vazios da grelha de madeira interna é feito com espuma de
poliuretano (5cm). A espessura total da parede perfaz 8cm. As juntas de 2,5cm a cada 1,20m
são dissimuladas, com peças de encaixe aparafusadas no topo dos painéis, fechadas com
resina epóxi e tela de nylon e com posterior revestimento de argamassa epóxi. A
impermeabilização é feita também com resina epóxi. A moradia avaliada é externamente
pintada em bege escuro (AGUIAR & BAGATIN, 1995).
Esquadrias: as esquadrias são de ferro com pintura cor bege. As janelas de correr, com
vidro 3mm, estão voltadas para as faces Noroeste, Nordeste (sombreada) e Sudeste. As portas
externas metálicas até meia altura e com vidro (3mm) na parte superior, são voltadas para
Noroeste e Nordeste (sombreada).
Piso: é constituído de laje/piso Epotec de 8cm, com forração nos quartos e nos outros
ambientes com revestimento de piso cerâmico.
Cobertura: os painéis laje/forro Epotec de aglomerado (6mm) com revestimento
acrílico (2mm), apoiam-se sobre a estrutura em madeira tratada. A estrutura da cobertura é
realizada também em madeira, com treliças planas e vigas coladas pré-fabricadas e terças. Os
oitões são colocados em forma de painéis prontos do mesmo material das paredes. O ático
forma uma câmara de ar não-ventilada com altura média de 65cm. O telhamento cerâmico é
de cor natural (DAHER & FRENDRICH, 1997).
111

FIGURA 22 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 8, EPOTEC

PLANTA s/ esc. área: 50,80m2

DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: SANTOS, 1994.
112

4.1.4.9 ABC Construtora S.A., de Uberlândia, MG

O sistema de edificações pré-fabricadas empregado pela ABC Construtora S.A. foi


desenvolvido pela PREFACC Edificações, utilizando concreto celular constituído de pó de
alumínio, areia fina, cimento e cal.
Paredes: as paredes são de painéis de blocos de concreto celular autoclavados nas
dimensões: 60 x 260 x 7,5cm, interligados por perfis metálicos galvanizados (chapa dobrada
zincada) em H ou em U e revestidos nas duas faces com argamassa de alta resistência à base
de cimento, areia e microssílica (0,2cm). Nas paredes internas e em algumas casas também
nas externas, são utilizados blocos menores: 60 x 40 x 7,5cm. A espessura final das paredes é
de 8cm. Nos painéis externos, é aplicada pintura a óleo, nos internos pintura latéx.
Externamente pintada em bege claro (AGUIAR & BAGATIN, 1995).
Esquadrias: as janelas são de correr, de duas folhas ou basculante (no banheiro),
voltadas para as faces Noroeste e Nordeste (esta sombreada). As portas externas fechadas com
chapa até metade de sua altura e na parte superior com vidro, são voltadas para Nordeste
(sombreada) e Sudoeste. Todas as esquadrias externas são do tipo chapa metálica dobrada, em
azul escuro e com vidros canelados.
Piso: o contrapiso em concreto recebe revestimento cerâmico.
Cobertura: o forro é do tipo paulista em pinheiro (1cm). Possui ático, que consiste em
câmara de ar com altura média de 1,02m com ventilação (vão sob as telhas com altura de
15cm em toda extensão). O fechamento do oitão é feito com telha de cimento amianto (3mm).
O telhado é coberto com telha cerâmica francesa em cor natural.
113

FIGURA 23 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 9, ABC

PLANTA s/ esc. área: 40,10m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
114

4.1.4.10 Eternit S.A. de São Paulo, SP e Wagner S.A., de Ponta Grossa, PR

O sistema construtivo Etercasa foi desenvolvido pela Eternit S.A., composto por
painéis estruturais Wall fabricados pela Wagner S.A., com sistema de junta seca com malhete
(perfil de aço) e vedação elástica, e com o emprego de peças especiais de canto e derivação de
paredes de mesmo material dos painéis (IPT, 1998).
Paredes: os painéis Wall são produzidos por meio de processo de prensagem a alta
temperatura, com resina fenólica. Constituem-se de madeira maciça sarrafeada (Pinus)
(26mm) no seu interior, sendo contraplacados em ambas as faces por compensado (3mm) e,
externamente, por chapa lisa prensada de fibrocimento Eternit (4mm) totalizando a espessura
de 4cm. Os painéis estruturais Wagner Wall (1,20 x 2,50 x 0,04m) têm sistema de junta seca
com perfil de aço. As juntas são seladas com resina epóxi e mastique acrílico e encobertas
com massa corrida acrílica. Guias de aço galvanizado solidarizam os painéis ao piso e fazem
o cintamento superior. A pintura externa é realizada com tinta acrílica texturizada, na cor
amarela clara (IPT, op. cit., AGUIAR & BAGATIN, 1995).
Esquadrias: as janelas são de correr, de duas folhas, com veneziana também de correr,
voltadas para as faces Sudoeste (sombreada) e Noroeste. Na face Nordeste há uma porta-
janela de vidro de abrir, duas folhas. A outra porta externa, fechada com metal e com vidro na
parte superior, é voltada para Sudoeste e sombreada pela varanda. As esquadrias externas são
de chapa de aço galvanizado com pintura eletrostática em poliester-pó na cor marrom. Os
vidros são lisos e de 3mm.
Piso: o piso é de concreto desempenado da laje de apoio (radier) ou contrapiso de
concreto impermeabilizado, sobre camada de brita e filme de polietileno. Foi aplicado
revestimento cerâmico nas áreas molhadas e carpete na sala, quartos e corredor.
Cobertura: o forro é do tipo paulista em pinho, com encaixe macho e fêmea (1cm). A
estrutura é composta de tesouras de madeira. O fechamento do oitão é executado em madeira.
O ático forma uma câmara de ar com ventilação sob as telhas. As telhas Olinda Eternit (5mm)
são constituídas de 90% de cimento e 10% de fibras de amianto, com pigmentação
incorporada à própria massa de fibrocimento, resultando na cor vermelha.
115

FIGURA 24 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 10, ETERNIT

PLANTA s/ esc. área: 51,50m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA PAINÉIS DE MADEIRA E CHAPAS DE


FIBROCIMENTO; JUNTAS EM PERFIS DE AÇO.
FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
116

4.1.4.11 Construtora Andrade Ribeiro Ltda., de Curitiba, PR

O sistema de construções pré-fabricadas da Construtora Andrade Ribeiro é composto


por elementos leves de concreto armado (vigas, cruzetas de fundação, montantes, painéis de
paredes, lajes de forro, terças e cavaletes de cobertura) e metálicos (esquadrias), produzidos
pela fábrica da empresa. Os outros elementos seguem o padrão convencional: piso, pintura,
portas internas e telhas (IPT, 1998).
Paredes: as paredes são estruturais, constituídas de elementos de concreto armado pré-
moldado: painéis e montantes. Os painéis de dimensões 0,80m x 2,40m (2,70m ou 3m) x
0,03m encaixam-se nos montantes, que por sua vez são encaixados nas vigas de baldrame e
cruzetas. Nas paredes externas, os painéis de concreto pré-moldado (3cm) são duplos, com
câmara de ar (4cm), totalizando uma espessura de parede de 10cm. As paredes internas são de
painéis de concreto simples sem câmara de ar (3cm). A cinta de amarração de concreto
armado é moldada in loco sobre as paredes. As ligações entre placas são rejuntadas com
argamassa de cimento e areia 1:3. Não há reboco, somente sendo feitos retoques com
argamassa de cimento e cal, traço 1:1. Nas paredes externas, é aplicada pintura texturizada na
cor areia, com detalhes em marrom e branco (AGUIAR & BAGATIN, 1995).
Esquadrias: assim como os batentes das portas, as molduras das janelas são
confeccionadas em concreto pré-moldado e encaixadas (já com as esquadrias de ferro) nas
paredes. As janelas, do tipo basculante, estão voltadas para as faces Nordeste, Sudeste e
principalmente Sudoeste. As portas externas em madeira estão voltadas para Nordeste e
Sudoeste.
Piso: sobre lastro de brita apiloado, é executado o contrapiso de concreto simples
(espessura mínima total de 5cm) e em seguida é aplicada uma camada de regularização com
argamassa de cimento e areia, traço 1:5. O banheiro tem revestimento de piso cerâmico e o
restante da casa é acarpetado (DAHER & FRENDRICH, 1997).
Cobertura: o forro é de chapas prensadas em concreto (3cm). A estrutura consiste de
cavaletes e terças em concreto armado pré-moldado. As terças apóiam-se nos cavaletes e nos
encaixes existentes nas peças dos oitões (que são semelhantes aos painéis de parede). O ático,
com câmara de ar com altura média de 54cm, é ventilado sob as telhas onduladas de
fibrocimento (5mm) na cor cinza.
117

FIGURA 25 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 11, ANDRADE RIBEIRO

PLANTA s/ esc. área: 36,10m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
118

4.1.4.12 Facicasas – Indústria, Comércio e Importação de Madeiras Ltda., de Guaíra,


PR

O sistema construtivo utilizado consiste de componentes pré-fabricados de concreto


armado (placas e colunas), de encaixe e superposição. As placas de concreto são erguidas a
partir de fundação convencional, definida de acordo com o tipo de solo. Todas as instalações
são convencionais.
Paredes: as paredes internas e externas são compostas por painéis de concreto com
dimensões: 0,9 x 0,52 x 0,038m. Os painéis são lisos, internamente, e imitando tijolo à vista,
externamente, encaixados em colunas pré-moldadas em H com 0,09 x 0,09 x 2,6m. Entre as
colunas, são encaixadas cinco placas no sentido da altura da parede, sobre a qual é moldada
uma viga em concreto para amarração, com seção de 0,09 x 0,1m. O rejunte das placas é feito
com argamassa de areia e cimento. As paredes não têm reboco, sendo aplicada cal fina. A
parede, internamente, tem pintura à base d’água e a parte externa pintura látex PVA na cor
carmim-forte.
Esquadrias: as esquadrias das janelas em perfis de ferro são do tipo basculante, com
vidro de 3mm, voltadas principalmente para as faces Nordeste e Sudoeste. A porta externa em
madeira de lei tipo almofadada está voltada para Nordeste, sombreada pela varanda. Todas as
esquadrias externas são pintadas com tinta acrílica de cor bege.
Piso: o contrapiso de concreto tem uma espessura mínima de 5cm e recebe uma
camada de cimento alisado.
Cobertura: o beiral e o forro foram executados em lambril de Pinus com encaixe do
tipo macho e fêmea (1cm). A estrutura de madeira é pré-fabricada. O fechamento do oitão é
de madeira do tipo lambril. Possui ático (câmara de ar não-ventilada, de altura média de
56cm) e telha cerâmica do tipo francesa na cor natural (DAHER & FRENDRICH, 1997).
119

FIGURA 26 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 12, FACICASAS

PLANTA s/ esc. área: 39,80m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: PAPST, A.L. Moradia Facicasas. 2002.
1 fot.; color.; 10 x 15 cm.
120

4.1.4.13 Paineira Construção e Urbanismo Ltda., de Taguatinga, DF

Sistema construtivo com paredes estruturais formadas por painéis pré-fabricados de


concreto, moldados em formas metálicas. Os painéis são nervurados para que tenham melhor
desempenho estrutural. O sistema utiliza nove tipos de peças, produzidas industrialmente. Os
elementos são de pequeno porte, dispensando o uso de maquinário na montagem da habitação.
Paredes: as paredes são constituídas de painéis pré-fabricados de concreto armado,
com dimensões básicas de 0,03 x 0,35 x 1,5m e suas variações, e de pilares de concreto
armado pré-moldado de 0,12 x 0,12 x 3m. Na parede externa, os painéis formam paredes
duplas com câmara de ar, resultando numa espessura de 12cm. As chapas pré-moldadas das
paredes de vedação são encaixadas nos sulcos existentes na superfície superior do baldrame.
Na parte superior da parede, formam uma canaleta que, concretada, constitui a cinta de
amarração (AGUIAR & BAGATIN, 1995). Observação: O acabamento final original de
concreto liso aparente exposto na Rua das Tecnologias foi modificado na moradia avaliada,
recebendo emboço (1cm) na face interna (onde as nervuras entre as placas ficam aparentes) e
reboco (1cm) na externa, totalizando 14cm de espessura. A parede externa recebeu pintura em
PVA látex na cor bege.
Esquadrias: as esquadrias são de ferro, com pintura a óleo em cinza claro e vidro de
3mm de espessura. Na fachada Sudeste, há duas janelas do tipo guilhotina com veneziana e
uma porta em ferro e vidro. Nas faces Noroeste (sombreada) e Nordeste, as janelas são
basculantes ou de correr.
Piso: foi utilizado contrapiso e piso cerâmico em toda a casa.
Cobertura: o forro foi executado em painéis de concreto (3cm), assim como o
fechamento lateral do oitão. O madeiramento é convencional. O ático forma uma câmara de ar
com ventilação sob as telhas de fibrocimento (5mm) na cor cinza (DAHER & FRENDRICH,
1997).
121

FIGURA 27 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 13, PAINEIRA

PLANTA s/ esc. área: 36,90m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
122

4.1.4.14 Construtora José Tureck Ltda., de São Paulo, SP

O Sistema Sisbeton de Construção Industrializada utilizado pela construtora José


Tureck consiste no painel em placas duplas de concreto leve, com interior de EPS
(poliestireno expandido). Os painéis são executados em mesas metálicas e fundidos numa
única operação para alcançarem as características de monolitismo. O sistema construtivo é
completado por vigas pré-moldadas de concreto armado com seção de U invertido, utilizadas
para alinhar os painéis e contribuir para a distribuição das cargas pontuais.
Paredes: o painel modulado conforme o projeto é constituído por duas placas de
concreto, de 3cm de espessura cada uma, separadas por uma camada de EPS (poliestireno
expandido), de 2cm, totalizando 8cm de espessura, com largura e altura variáveis. O concreto
utilizado na fabricação dos painéis é composto por argila expandida como agregado grosso.
Através de espaçamentos existentes no isopor, as camadas de concreto são interligadas,
tornando o conjunto monolítico. Os painéis de concreto são unidos por caixas metálicas
soldadas à armadura dos painéis nos seus cantos superiores com ligações em L, T ou X,
aparafusadas entre si. As juntas são preenchidas com argamassa de cimento e areia aditivada
com expansor. Sobre as paredes, é colocada a viga de ligação pré-moldada de concreto
armado em forma de U invertido. O acabamento superficial externo é equivalente ao da massa
fina. Sem reboco, foi aplicada pintura em amarelo claro (bege) (AGUIAR & BAGATIN,
1995; DAHER & FRENDRICH, 1997).
Esquadrias: as janelas são metálicas na cor branca e do tipo basculante, voltadas para
as faces Sudeste, Sudoeste e Noroeste. A porta externa é de madeira na cor de Imbuía.
Observação: esta porta, originalmente na fachada Noroeste, foi transferida para a fachada
Sudeste após a primeira etapa de monitoramento.
Piso: o contrapiso foi realizado em concreto e o revestimento em piso cerâmico.
Cobertura: o forro é de lambril de pinho (1cm), a estrutura em madeira. O fechamento
do oitão também foi feito com lambril de madeira. O ático forma uma câmara de ar não-
ventilada, com altura média de 55cm. A telha é cerâmica capa-canal na cor natural.
123

FIGURA 28 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 14, JOSÉ TURECK

PLANTA s/ esc. área: 47,50m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA VISTA DA MORADIA EM CONSTRUÇÃO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
124

4.1.4.15 COHAB-PA – Companhia de Habitação do Estado do Pará, de Belém, PA

Este sistema construtivo caracteriza-se pelos blocos cerâmicos de intertravamento, em


oito modelos para cantos, paredes, divisórias, arremates de vãos e composição de painéis
sobrepostos e encaixados sem argamassa de assentamento. Nos cantos das paredes, a
colocação de ferros de 4,2mm de diâmetro com enchimento de argamassa confere ao sistema
características de alvenaria armada (AGUIAR & BAGATIN, 1995).
Paredes: as paredes são compostas de tijolos cerâmicos vazados (20 x 20 x 10cm),
intertravados (sistema macho e fêmea), contrafiados e rejuntados com cola (nata de cimento
com areia e corante). Os tijolos, com espessura total de 10cm, possuem vazios de 3,5cm (x2)
e 1cm (x3) de junta cerâmica. São assentados de topo, isto é, os furos ficam na vertical,
facilitando instalações elétricas e hidráulicas e permitindo a colocação dos ferros e
enchimento das colunas com seixos miúdos 1:3:6. As paredes são apoiadas em pilares
localizados nos cantos da casa e recebem sobre a última fiada uma cinta de amarração de
concreto 10 x 15cm. A parede é de tijolo aparente e sem qualquer tipo de argamassa
(AGUIAR & BAGATIN, op. cit.). Posteriormente, foi aplicado pelos moradores reboco do
lado interno (5mm) e na parede Nordeste (8mm). A espessura da parede é de 10,5cm e,
apenas na fachada Nordeste, de 11,3cm. O revestimento é de verniz à base de epóxi. A cor
externa é cerâmica.
Esquadrias: há apenas uma janela de abrir de madeira, em duas folhas com pequena
área de vidro e mesmo assim, sombreada pela varanda. As demais janelas, originalmente
aberturas confeccionadas com elementos vazados com a utilização do próprio tijolo cerâmico
e sem a colocação de vidros, estão posicionadas nas fachadas Sudeste e Sudoeste. A porta
externa é de madeira e também sombreada pela varanda. Observação: das janelas originais,
foi mantida somente a única de madeira, que, devido à pouca área de vidro, permanece
totalmente aberta durante o dia todo. As aberturas com elementos vazados foram todas
substituídas por janelas basculantes com perfis de ferro. (Observa-se que a implantação da
moradia e o projeto original das aberturas foram feitos de forma a maximizar a ventilação
permanente e minimizar os ganhos solares, conforme os critérios apropriados para climas
mais quentes: a face Norte, mais ensolarada e apropriada para Curitiba, não possui aberturas).
Piso: foi adotado contrapiso e camada impermeabilizadora em concreto ciclópico no
traço 1:3:6. O revestimento foi feito com piso cerâmico (DAHER & FRENDRICH, 1997).
125

Cobertura: o forro é de lambril de pinho (1cm) e as tesouras de madeira. O


fechamento dos oitões foi feito com o próprio tijolo cerâmico. O ático constitui uma câmara
de ar com altura média de 83cm com ventilação de 10cm de altura em toda extensão, sob a
telha cerâmica em sua cor natural.

FIGURA 29 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 15, COHAB-PARÁ

PLANTA s/ esc. área: 31,00m2

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
126

4.1.4.16 Castellamare Construções Ltda., de Almirante Tamandaré, PR

O Sistema Construtivo Travabloco consiste de alvenaria estrutural de blocos de


concreto vazados, sem argamassa de assentamento, com travamento entre os blocos por meio
de uma peça de forma tronco-cônica em concreto, denominada tarugo.
Paredes: o elemento básico é o bloco de concreto de dimensões 43 x 12 x 19cm
(altura) e furos verticais: dois de seção retangular (10,5 x 6cm) e dois de seção circular onde
alternadamente se encaixam os tarugos de travamento (6cm de diâmetro). Tipologia dos
blocos: normais, de canto, de encontro, de oitões e canaletas. Os componentes são moldados
com vibração e pressão simultâneas, compostos de cimento, areia média, pedrisco e pó-de-
pedra. O reboco é opcional (IPT, 1998). Observação: a casa em exposição, na Rua das
Tecnologias, não possui reboco, só pintura látex, sendo a espessura da parede de 12cm. A
moradia avaliada, com reboco (interna e externamente) e pintura bege, tem espessura de
parede de 13,6cm.
Esquadrias: as esquadrias das janelas são de perfis de ferro e vidro de 3mm de
espessura. As janelas são de correr (fachadas Sudeste, Sudoeste e Noroeste). As janelas do
banheiro e da cozinha são basculantes (Noroeste). A porta externa é de madeira com pintura
na cor bege (Sudoeste).
Piso: como piso, foi usado lastro de brita e piso de concreto simples, posteriormente
revestido com material cerâmico.
Cobertura: o forro é do tipo paulista em Pinheiro (1cm), a estrutura em madeira. O
fechamento do oitão foi executado com elementos especiais do mesmo sistema (blocos de
concreto). O ático é constituído de uma câmara de ar não-ventilada de altura média de 85cm e
coberto por telhas de fibrocimento (5mm), na cor cinza (DAHER & FRENDRICH, 1997).
127

FIGURA 30 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 16, CASTELLAMARE

PLANTA s/ esc. área: 40,20m2 DETALHE s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: GUBER, G. Construção em blocos de
concreto. 2000. 1 fot.; color.; 10 x 15 cm.
128

4.1.4.17 Tetolar Indústria e Comércio de Artefatos de Concreto Ltda., de São José dos
Pinhais, PR

Sistema construtivo idêntico ao da Facicasas – Indústria, Comércio, Importação e


Madeiras Ltda., de Guaíra – PR. A moradia avaliada e executada pela Tetolar diferencia-se
somente pela implantação (rebatida em relação à orientação solar); pelo tamanho da sala que,
na moradia avaliada, inclui o espaço que na da Facicasas pertence à varanda; pela cor da
parede externa que, no caso do sistema Tetolar, é bege; e pelas esquadrias e piso descritos a
seguir.
Esquadrias: as esquadrias das janelas em perfis de ferro são de correr, com vidro de
3mm de espessura, voltadas para as faces Nordeste, Sudeste e Sudoeste. Somente a janela do
banheiro é basculante e voltada para Noroeste. As portas externas são fechadas com chapa
metálica na cor cinza até metade de sua altura e possuem janela basculante embutida na parte
superior (faces Nordeste e Sudeste).
Piso: o contrapiso foi realizado em concreto de espessura mínima de 5cm e com
revestimento cerâmico (DAHER & FRENDRICH, 1997).
129

FIGURA 31 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 17, TETOLAR

PLANTA s/ esc. área: 43,60m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
130

4.1.4.18 CHJ Incorporadora e Construtora Ltda., de São Paulo, SP

O Tecno-Sistem difere dos outros sistemas pelas dimensões dos painéis de concreto
armado, que exigem o uso de guindaste para a montagem das casas, resultando em maior
rapidez de construção. As habitações são desmontáveis e podem ser transportadas para outros
locais. As paredes suportam grandes sobrecargas e aceitam qualquer tipo de revestimento
(DAHER & FRENDRICH, 1997).
Paredes: constituídas de painéis monolíticos pré-moldados em concreto armado sem
reboco, tem espessura de 8cm. As paredes são estruturais: o sistema de travamento são os
apoios entre placas, que consistem em encaixes L e T, fixados através de dutos e pinos e de
cimento de alta resistência. Os painéis já vêm com dutos embutidos para instalações
hidráulicas e elétricas e com os vãos para receber as janelas e portas. Reentrâncias ajustadas
nos painéis recebem os caibros e as terças. Todas as paredes (internas e externas) foram feitas
com o painel com uso de guindaste e posicionadas por meio de guias (AGUIAR &
BAGATIN, 1995). Na moradia avaliada, foi aplicada externamente tinta látex na cor salmão.
Esquadrias: as janelas são basculantes (Sudeste) ou de correr (nas fachadas Noroeste e
Nordeste) e somente nos quartos há venezianas. As portas externas são metálicas do tipo
veneziana até meia altura, com vidro na parte superior (Sudoeste e Nordeste). As esquadrias
externas são metálicas na cor cinza e os vidros são transparentes com 3mm de espessura.
Piso: o contrapiso foi executado com base de brita e uma camada de cimento e
posteriormente queimado com cal.
Cobertura: o forro é de gesso acartonado (4mm) e a estrutura de aço anticorrosivo. As
tesouras de alumínio são amarradas aos painéis. O ático constitui uma câmara de ar de altura
média de 55cm, com ventilação. As telhas são cerâmicas tipo capa-e-canal na cor natural.
131

FIGURA 32 – PLANTA, CORTE E DETALHES DO SISTEMA CONSTRUTIVO 18, CHJ

PLANTA s/ esc. área: 40,60m2 DETALHE 1 s/ esc.

CORTE s/ esc.

VISTA DA MORADIA AVALIADA DETALHE DO SISTEMA CONSTRUTIVO


FONTE: AGUIAR & BAGATIN, 1995.
132

4.1.5 Tabela-Resumo dos Sistemas Construtivos

Na Tabela 1, estão listados os sistemas construtivos que fizeram parte da avaliação e


identificados seus componentes básicos, as áreas das moradias avaliadas, bem como a
proveniência das respectivas empresas responsáveis por sua implementação.

TABELA 1 – OS SISTEMAS CONSTRUTIVOS

Nº EMPRESA/ESTADO PAREDE COBERTURA ÁREA


[m2]
1 MLC-Engenharia/RS Painéis de concreto armado com camada Laje pré-fabricada e telha em fibrocimento 39,6
isolante interna de tijolos cerâmicos
2 Battistella/SC Painéis de madeira com revestimento Forro de madeira, câmara de ar com 36,4∗
acrílico ventilação e telhas de fibrocimento
3 Kürten/PR Painéis de madeira de Pinus Forro de madeira e telha cerâmica 50,0∗
4 3P-Construtora/RS Chapas de fibras longas de madeira, Forro de chapas de madeira mineralizada, 33,2
prensada e mineralizada câmara de ar com ventilação e telhas de
fibrocimento
5 Constroyer /SP Painéis monolite de poliestireno Painéis monolite revestidos c/argamassa na 37,3
expandido entre telas de aço, revestidos face inferior e concreto na face superior,
com argamassa com telhamento cerâmico
6 Andrade Gutierrez/MG Tijolos de solo-cimento Forro de madeira e telha cerâmica 36,6
7 Todeschini/MS Kit pré-fabricado de madeira de lei Forro de madeira e telha cerâmica 40,0∗
8 Epotec/PR Painéis de madeira com interior de Forro de aglomerado c/ revestimento 50,8∗
poliuretano rígido, revestidos com acrílico e telha cerâmica
argamassa epóxi
9 ABC Construtora/MG Painéis de concreto celular Forro de madeira, câmara de ar com 40,1
ventilação e telha cerâmica
10 Eternit/SP Painéis de madeira revestidos com Forro de madeira, câmara de ar com 51,5∗
chapas de fibrocimento ventilação e telhas de fibrocimento
11 Andrade Ribeiro/PR Painéis duplos de concreto com câmara Forro de chapas prensadas em concreto, 36,1
de ar câmara de ar com ventilação e telha de
fibrocimento
12 Facicasas/PR Placas de concreto armado Forro de madeira e telha cerâmica 39,8∗
13 Paineira/DF Painéis duplos de concreto com câmara Forro de painéis de concreto, câmara de ar 36,9∗
de ar, rebocados externamente com ventilação e telhas de fibrocimento
14 José Tureck/SP Painéis duplos de concreto leve com Forro de madeira e telha cerâmica 47,5∗
argila expandida e espaço interno de
poliestireno expandido
15 COHAB-PA/PA Tijolos cerâmicos vazados Forro de madeira, câmara de ar com 31,0∗
ventilação e telha cerâmica
16 Castellamare/PR Blocos de concreto vazados Forro de madeira e telha de fibrocimento 40,2

17 Tetolar/PR Placas de concreto armado Forro de madeira e telha cerâmica 43,6


18 CHJ/SP Painéis monolíticos de concreto armado Forro de gesso acartonado, câmara de ar 40,6
sem reboco com ventilação e telhas cerâmicas
∗ Foi considerada apenas a área original, pois as ampliações foram realizadas usando-se outro sistema construtivo e as
medições tomadas no sistema construtivo original.
FONTES: AGUIAR & BAGATIN, 1995, DAHER & FRENDRICH, 1997, IPT, 1998.
133

Observa-se, na Tabela 1, que as empresas construtoras responsáveis pela implantação


dos sistemas construtivos avaliados são provenientes das mais diversas regiões do país e,
provavelmente, utilizam materiais e tecnologias adaptadas aos locais de origem.
A seguir, visando à avaliação da adequação das moradias ao local onde foram
implantadas, procura-se destacar dentro da diversidade climática do território nacional, as
condições climáticas específicas de Curitiba.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO CLIMA LOCAL

Conforme o Zoneamento Bioclimático Brasileiro (Figura 33), definido pela Norma de


Desempenho Térmico, Curitiba se encontra na Zona Bioclimática 1, a mais fria entre as oito
Zonas Bioclimáticas Brasileiras, correspondente a 0,8% do território nacional (UFSC, 1998).

FIGURA 33 – ZONEAMENTO BIOCLIMÁTICO BRASILEIRO

FONTE: UFSC. Proposta de Norma para a ABNT: Desempenho térmico de edificações. Parte 3: Procedimento
para avaliação de habitações de interesse social. Florianópolis: UFSC / FINEP, 1998.
134

O Estado do Paraná, constituído de grandes extensões de superfícies de planalto,


situadas entre 300 e 900m de altitude, caracteriza-se por um clima de transição: o clima
tropical que domina o Planalto Paulista ao Norte e o clima mesotérmico sempre úmido ou
subtropical predominante na Região Sul do país.
No entanto, o clima de uma região só pode ser compreendido considerando-se os
sistemas regionais de circulação atmosférica que, nos processos climáticos, interagem
continuamente com os demais fatores, como as condições geográficas (relevo, latitude,
continentalidade, maritimidade), geológicas e hidrológicas locais (FILL et al., 1999). “A
circulação atmosférica decorre da distribuição não uniforme da radiação solar sobre a Terra,
do movimento de rotação da Terra, das diferenças entre propriedades térmicas da Terra e da
água, do relevo, da evaporação e da evapotranspiração” (RAUDKIVI apud FILL et al., op.
cit.).
Os mecanismos atmosféricos são os maiores responsáveis pelo clima da Região Sul do
país e, portanto, do Paraná, onde atuam as três principais massas de ar da vertente atlântica da
América do Sul (BERNARDES et al., 1975):
•= MTa – a Massa de ar Tropical Atlântica, originada pelo anticiclone do Atlântico, é quente,
úmida, com tendência à estabilidade e com grande poder de penetração para o interior de
continente. Domina a Região Sul com freqüência;
•= MPa – a Massa Polar Atlântica, originada sobre o Atlântico, na latitude da Patagônia, é
constituída, de início, de ar muito seco, frio e estável; porém, migrando pelo litoral ou pelo
corredor de planícies interiores sobre o Planalto Brasileiro, é atraída até o Equador,
absorvendo em seu trajeto o calor e a umidade do mar;
•= MEc – a Massa Equatorial Continental é quente e úmida e origina-se na Planície
Amazônica; é atraída, no verão austral, pelos sistemas depressionários do interior do
continente e tende a avançar em direção à Região Sul, provocando no Paraná, forte
aquecimento e chuvas copiosas.
Entre duas massas de ar, existe uma zona de transição, que constitui uma
descontinuidade, para a qual convergem os ventos, tornando o tempo instável e,
freqüentemente, chuvoso. Estes fenômenos móveis denominam-se correntes de circulação
perturbada. A Região Sul recebe influência das correntes perturbadas do Noroeste e, do Sul,
das frentes polares. Da oposição entre as correntes oriundas do Norte às vindas do Sul e da
predominância ora de um sistema, ora de outro, sob a forma de “ondas de calor”
(intertropicais) e “ondas de frio” (extratropicais) dependem as condições climáticas da região.
135

4.2.1 O Clima de Curitiba

Como conseqüência da atuação dessas três massas de ar (MTa, MPa e MEc)


desenvolvem-se no decorrer do ano, em ritmo variável, três situações climáticas distintas na
região de Curitiba:
•= de outubro a março, predomina a Massa Tropical Atlântica de baixa pressão. Devido ao
deslocamento da massa tropical em direção à massa polar, formam-se frentes quentes que
se deslocam em direção ao Sul, trazendo instabilidade e umidade;
•= de abril a setembro, o avanço da Massa Polar Atlântica em direção Norte ora ocasiona
tempo bom com pouca nebulosidade, madrugadas frias e secas, ora provoca frentes frias
com instabilidades e chuvas intensas e de longa duração, responsáveis pelas grandes cheias
nas bacias hidrográficas, devido ao avanço da massa de ar polar sobre a tropical;
•= durante o verão, em dias de intenso calor, ocorrem chuvas de origem convectiva, de forte
intensidade e pequena duração, provocando enchentes em pequenas bacias hidrográficas
(MONTEIRO apud FILL et al., 1999).
As massas de ar são condicionantes importantes do clima da cidade, pois a topografia
favorece a livre circulação dos ventos, principalmente os provenientes do quadrante Norte
(NW, N, NE), que são os mais freqüentes no inverno (45% de ocorrência), seguidos dos
procedentes dos quadrantes Este (34%), Oeste (28%) e Sul (14%) (DANNI-OLIVEIRA apud
MENDONÇA, 2001).
As condições climáticas do Leste do Estado destacam-se no quadro climático da
região por seus menores índices térmicos, sendo que Curitiba figura como uma das
localidades mais frias desta área, decorrência direta da influência de sua altitude associada à
dinâmica atmosférica. As temperaturas não são ainda mais baixas devido à elevada umidade
do ar propiciada pela influência da maritimidade. Curitiba apresenta-se individualizada, como
formadora de uma ilha de frio em relação às cidades vizinhas. Nos meses de verão (outubro a
março), apresenta temperaturas, em geral, entre 17ºC e 20ºC, ou seja, temperaturas de 4K a
5K mais baixas que as das outras cidades (MENDONÇA, op. cit.).
Curitiba tem altitude média de 910 metros, latitude 25°31’ Sul e longitude 49°11’
Oeste. Na classificação de Koeppen, o clima da cidade é mesotérmico, subtropical úmido com
verões frescos, sem estação seca e com ocorrência de geadas severas freqüentes. As
precipitações médias são da ordem de 1600mm anuais. Esse tipo de clima é característico dos
planaltos subtropicais com Araucária (AB’SABER apud MENDONÇA, op. cit.).
136

A seguir, são descritas sucintamente as características de alguns dos principais


elementos do clima, conforme o Ano Climático de Referência (TRY) para Curitiba,
determinado por Goulart et al. (1998). Esta autora utilizou a metodologia ASHRAE
(American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers) a partir de
dados coletados entre 1961 e 1970 e registrados no aeroporto Afonso Pena (código 83840)
pelo CTA/IAE (Centro Técnico Aeroespacial / Instituto de Aeronáutica e Espaço).
A umidade relativa média durante o ano no TRY em Curitiba é de 85%, variando de
83% em agosto a 86% nos meses de fevereiro, março, abril, junho, outubro e dezembro.
O vento tem velocidade média anual de 3,2m/s, conforme o TRY para Curitiba.
Observa-se uma freqüência maior nos ventos vindos do Leste em todos os meses do ano.
A temperatura, no TRY, apresenta seus valores mínimo e máximo absolutos anuais,
respectivamente, de -5,3ºC e de +33,3ºC. A temperatura média anual é de 16,6ºC. As
temperaturas médias nos meses mais frios, de maio a agosto, variam de 12,6ºC a 14,3ºC e, nos
meses mais quentes, de dezembro a março, de 19ºC a 20,2ºC. No TRY, a amplitude térmica
diária média anual é de 10,5K, com a amplitude máxima diária de 25,7K (em agosto) e
mínima de 0,5K (em setembro). O horário de ocorrência das temperaturas máximas diárias em
Curitiba é entre as 14 e as 15 horas e das mínimas diárias entre as 5 e as 8 horas.
A descrição dos principais elementos do clima é complementada pelos estudos de Fill
et al. (op. cit.), que, seguindo outra metodologia, analisa dados obtidos pela estação
meteorológica de Curitiba (código 02549006) operada pelo Instituto Nacional de
Meteorologia (INEMET), no período de 1951 a 1989 (39 anos). Neste período, a mínima e a
máxima observadas foram de -5,4ºC (2 de setembro de 1972) e de 37,8ºC (2 de novembro de
1977), respectivamente. O autor salienta que as geadas (temperaturas ≤ 0ºC) são freqüentes no
inverno, tendo ocorrido em 62% dos anos, no período entre abril e setembro.
Precipitação pluviométrica: para Fill et al. (op. cit.), em Curitiba, 51% de dias no ano
são chuvosos. Embora a incidência de dias chuvosos seja, em média, maior no verão, esta
sazonalidade pode inverter-se uma vez que no período analisado pelo autor citado, o maior
percentual de dias chuvosos foi registado em julho, com 97%.
Insolação: conforme Fill et al. (op. cit.), os dias de menor insolação ocorrem na
primavera (com 4,5 horas de insolação médias em setembro), e os de maior insolação no
verão (com 6,1 horas de insolação médias em janeiro). A predominância de dias de céu claro
no inverno ocasiona o pico de insolação no mês de julho (5,7 horas de insolação médias).
Assim, em Curitiba, os dias mais longos no verão compensam o efeito da latitude, enquanto,
137

no inverno, os dias mais curtos reduzem a carga térmica do Sol, acentuando os efeitos da
temperatura do ar (BONGESTABS, 1983).
De modo geral, Curitiba pode ser considerada uma cidade úmida e fria, com grande
amplitude térmica diária e anual e tempo freqüentemente instável (MENDONÇA, op. cit.).

4.2.2 O Diagrama Bioclimático de Givoni para Curitiba

Os dados de temperatura e umidade do Ano Climático de Referência (GOULART et


al., 1998) podem ser plotados por meio do programa ANALYSIS (LMPT/EMC e NPC/ECV,
1994) no Diagrama Bioclimático de Givoni (1992), adaptada aos países em desenvolvimento.
O Diagrama Bioclimático concebida por Givoni (1976), baseada nas temperaturas
internas dos edifícios foi, em 1992, adequada por Givoni a países em desenvolvimento (ver
Item 2.2.2). Esta adequação fez-se mediante a expansão dos seus limites máximos de conforto
do Diagrama anterior, em função do comportamento dos edifícios sem condicionamento em
relação à variação do clima externo e da maior aclimatação de seus usuários. O Diagrama
Bioclimático é construída sobre o diagrama psicrométrico, que relaciona os dados de
temperatura do ar e umidade relativa. Obtendo-se esses valores no exterior nos principais
períodos do Ano Climático de Referência (TRY – Test Reference Year) do local e plotando-os
diretamente sobre o Diagrama Bioclimático de Givoni, pode-se encontrar as estratégias
bioclimáticas a serem adotadas no projeto. Estas são necessárias para obter-se melhores
condições de conforto térmico em relação às condições climáticas locais, por meio de
medidas de condicionamento passivo ou não (ver Item 2.2.2).
O Diagrama Bioclimático gerada para Curitiba informa o comportamento climático
local e indica as estratégias para se adaptar a edificação ao clima, utilizando os conceitos de
Arquitetura Bioclimática (Figura 34 e Tabela 2).
138

FIGURA 34 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO DE GIVONI (1992): AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA PARA


CURITIBA MEDIANTE A PLOTAGEM DE DADOS HORÁRIOS DO ANO CLIMÁTICO DE
REFERÊNCIA (O TRY) NO DIAGRAMA PSICROMÉTRICO
30
30
ZONAS:
1. Conforto
2. Ventilacao 25
3. Resfriamento Evaporativo 25
5. Ar Condicionado

Razão de umidade
6. Umidificação 5 20
7. Massa Térmica/ Aquecimento Solar 2
20

W [g/k g]
8. Aquecimento Solar Passivo

]
C
15
9. Aquecimento Artificial [°
U

11.Vent./ Massa/ Resf. Evap. 15


B
T

12.Massa/ Resf. Evap.


10 1 11
10

5 12
0 5
-5 9 8 7
-10 3
-20 -15
6
0
-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
UF SC - E CV - L abE E E - NP C
TBS[°C]

FONTE: LMPT/EMC; NPC/ECV, UFSC. Analysis, versão 1.5: Programa Analysis para Avaliação Bioclimática
e de conforto térmico. LMPT e NPC/UFSC, 1994. Programa. 3 Disquetes 3 ½ pol.

O programa calcula, também, a porcentagem de horas do ano em que cada estratégia


bioclimática é apropriada para propiciar conforto ao usuário do ambiente construído,
conforme a Tabela 2, que apresenta os dados para Curitiba.

TABELA 2 – ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS PARA O CLIMA DE CURITIBA, CONFORME O


SOFTWARE ANALYSIS [%]
conforto 20%
ventilação 5,82%
massa para resfriamento 0%
resfriamento evaporativo 0%
calor ar condicionado 0% 6,84%
umidificação 0%
ventilação / massa térmica 0%
desconforto ventilação / massa / resfriamento evaporativo 1,02%
massa / resfriamento evaporativo 0% 80%
massa térmica / aquecimento solar 42,5%
frio aquecimento solar passivo 18,9% 73,2%
aquecimento artificial 11,8%
FONTE: LMPT/EMC; NPC/ECV, UFSC. Analysis, versão 1.5: Programa Analysis para Avaliação Bioclimática
e de conforto térmico. LMPT e NPC/UFSC, 1994. Programa. 3 Disquetes 3 ½ pol.
139

4.2.3 Recomendações da Norma de Desempenho Térmico para a Zona Bioclimática 1

Conforme a Norma de Desempenho Térmico (UFSC, 1998), as diretrizes construtivas


para a Zona Bioclimática 1, são: aberturas médias para ventilação (15% < A < 25% – as
aberturas são dadas em porcentagem da área de piso em ambientes de longa permanência) e
sombreamento das aberturas de tal modo a permitir a incidência de Sol durante o período frio.
As principais estratégias de condicionamento térmico passivo recomendadas pela
referida Norma para esta Zona Bioclimática, baseadas no Diagrama Bioclimático de Givoni,
são o aquecimento solar da edificação e o uso de vedações internas pesadas (inércia térmica).
O aquecimento solar passivo pode ser obtido por intermédio do acesso da radiação
solar direta ao interior da edificação pelas aberturas, incidindo sobre os materiais que se
aquecem e emitem radiação de onda longa (calor). Como os materiais transparentes não
permitem a passagem da radiação de onda longa, o calor fica retido, superaquecendo o
interior da edificação e formando o fenômeno conhecido como efeito estufa. Outra forma de
aquecimento solar passivo ocorre pelo ganho indireto, por exemplo, em jardins de inverno,
que captam e redistribuem o calor, ou por paredes de acumulação, de elevada massa térmica
nas orientações mais expostas ao Sol.
A estratégia do uso de vedações internas pesadas (inércia térmica), em climas frios,
com paredes e coberturas mais espessos e pequenas aberturas orientadas para o Sol, consiste
em que a massa térmica acumula o calor recebido de dia pelas vedações e a libera lentamente
ao interior da edificação durante a noite, quando a temperatura exterior é mais baixa.
Alerta-se que o condicionamento térmico passivo é insuficiente durante o período
mais frio (UFSC, op. cit.), tornando necessário, o uso de roupas pesadas, além do eventual
aquecimento artificial. Recomenda-se a utilização adequada da forma, orientação e
implantação da edificação, com o aproveitamento da radiação solar para aquecimento pela
orientação correta das superfícies envidraçadas e do emprego de cores externas apropriadas.
Em relação aos materiais de construção que compõem a envoltória (paredes, piso e
cobertura), a Norma recomenda para Curitiba que as paredes sejam leves e a cobertura leve e
isolada. Estabelece, ainda, os valores admissíveis para as características termofísicas das
paredes e coberturas, respectivamente: para a transmitância (U), para atraso ou inércia térmica
(ϕ) e para o fator de calor solar (FS), apresentados no Item 5.1.
Para as condições climáticas de Curitiba descritas acima, foi feita a Avaliação de
Desempenho Térmico das dezoito moradias da Vila Tecnológica.
140

4.3 MONITORAMENTO TÉRMICO DAS MORADIAS

As medições foram realizadas no próprio ambiente e somente em moradias habitadas e


ocupadas durante os períodos de monitoramento, com o objetivo de avaliar o desempenho
térmico das diversas tecnologias e materiais construtivos em habitações de interesse social em
suas condições reais de uso.
Foram observados os padrões de uso das moradias (ocupação, operação das aberturas,
equipamentos etc.) (ver Apêndice B: Tabelas de ocupação, ventilação e equipamentos).

4.3.1 Cuidados na Instalação dos Aparelhos de Medição

Os sensores de temperatura HOBO, após sua aferição (ver Apêndice A), foram
instalados no interior das dezoito moradias, a 2,20 metros do piso1 e num ponto central das
casas, procurando-se assim, minimizar a interferência da orientação solar em relação à
temperatura interna (Figura 35). Uma vez que as moradias tendem à forma quadrada, supõe-se
que os efeitos das diferentes orientações solares se compensam. Da mesma forma,
favoravelmente à avaliação simultânea, todas as moradias são paralelas entre si, isto é, as
fachadas de todas elas têm os mesmos azimutes, embora diferenciem-se internamente quanto
à distribuição dos ambientes.

FIGURA 35 – DATA LOGGER HOBO INSTALADO NO INTERIOR DA CASA DO SISTEMA


CONSTRUTIVO 8, EPOTEC

1
O posicionamento do aparelho foi determinado em função da segurança do mesmo. Além disso, as medições
foram feitas em moradias ocupadas de forma a não interferir no desempenho das atividades domésticas.
141

Externamente, foram instalados dois sensores tipo HOBO, um de temperatura e outro


de umidade relativa, sob o beiral de uma das casas, na fachada Sudeste. Os sensores
colocados no exterior da habitação foram recobertos de papel alumínio para protegê-los dos
efeitos da radiação de onda longa (calor), emitida pelas superfícies circundantes. Esta
proteção foi suficiente nas medições de inverno, período em que não incidiu radiação direta
sobre os equipamentos, devido ao beiral e à orientação da fachada. Para as medições de verão,
entretanto, foi necessário verificar a trajetória do Sol. Foi determinado o Norte Magnético
com auxílio de uma bússola e efetuados cálculos de correção para o Norte Verdadeiro. Em
seguida, com o auxílio da carta solar para a Latitude 26ºSul,2 verificou-se que os
equipamentos, mesmo sob o beiral e na fachada Sudeste, receberiam radiação solar direta
(Figura 36 e 37).

FIGURA 36 – NORTE VERDADEIRO FIGURA 37 – CARTA SOLAR PARA LATITUDE


E MAGNÉTICO, PARA 26ºSUL, FACHADA SUDESTE
CURITIBA-2000

Foi feita, então, uma proteção de papelão em forma de caixa, para sombrear os
equipamentos, tomando-se o cuidado de deixar abertas as partes inferior e superior, já
sombreadas pelo beiral, de modo a deixar o ar circular (Figura 38).

2
Para a latitude de Curitiba de 25º25’Sul, pode-se utilizar a carta solar para latitude 26ºSul, sendo o
erro < 2º e, portanto, admissível, conforme Frota & Schiffer (1995).
142

FIGURA 38 – DESENHO DA PROTEÇÃO DOS EQUIPAMENTOS

4.3.2 Períodos de Monitoramento

As medições abrangeram os períodos de maior desconforto por frio (inverno) e por


calor (verão): os sensores de temperatura e umidade relativa do tipo HOBO-TEMP e HOBO-
RH-TEMP foram instalados nas dezoito moradias selecionadas na Vila Tecnológica de
Curitiba, previamente programados para medições tomadas de 15 em 15 minutos. Como
relatado anteriormente, no inverno, após os cortes necessários, obteve-se dados úteis de 591
horas (pouco mais de 24 dias), para o mês mais frio de Curitiba: das 16 horas do dia 9 de
julho de 2000 às 7 horas do dia 3 de agosto de 2000. Os dados das medições de verão
resultaram em dados úteis de 690 horas (cerca de 29 dias), das 21 horas do dia 12 de
dezembro de 2000 às 13 horas do dia 10 de janeiro de 2001.

4.4 RESULTADOS OBTIDOS

4.4.1 Variação das Temperaturas Internas

Os Gráficos a seguir (Figuras 39 e 40) apresentam a comparação dos dados de


temperatura hora a hora do período completo de medição para cada tecnologia com as
temperaturas externas, para os dois períodos de monitoramento.
143

FIGURA 39 – DADOS DE TEMPERATURA PARA O PERÍODO DE INVERNO

25

20

15
T[ºC]

10

0
1

21

41

61

81

101

121

141

161

181

201

221

241

261

281

301

321

341

361

381

401

421

441

461

481

501

521

541

561

581
-5
t[h]

Cohab-Pará Todeschini Castellamare CHJ Tetolar


Facicasas Batistella Kurten ABC Eternit
Andrade Ribeiro MLC Paineira Constroyer Epotec
José Tureck 3P Andrade Gutierrez TEMP. EXTERNA

FIGURA 40 – DADOS DE TEMPERATURA PARA O PERÍODO DE VERÃO

32

27
T [ºC]

22

17

12
1
19
37
55
73
91
109
127
145
163
181
199
217
235
253
271
289
307
325
343
361
379
397
415
433
451
469
487
505
523
541
559
577
595
613
631
649
667
685

t [h]

Cohab-Pará Andrade Gutierrez Constroyer José Tureck Todeschini


Castellamare CHJ Tetolar Facicasas Batistella
Kurten ABC Paineira Eternit Andrade Ribeiro
MLC Epotec 3P TEMP. EXTERNA
144

Observando os Gráficos dos dois períodos medidos, percebe-se a grande variação


climática diária e anual característica de Curitiba, “principal causa de desconforto de seus
cidadãos, submetendo-os a diferentes tensões térmicas no decorrer das horas, dos dias e das
estações” (BONGESTABS, 1983).
Os dois períodos medidos podem ser considerados representativos do clima local, uma
vez que a sucessão habitual dos tipos de tempo pode ser percebida pela variação brusca das
temperaturas que evidenciam as freqüentes entradas de frentes frias.
A compreensão da dinâmica do clima, do ritmo e do padrão de comportamento de seus
elementos é essencial para o entendimento das relações entre as condições climáticas externas
e internas, na análise do comportamento térmico das moradias monitoradas (SILVA, 2001).
Comparando-se as medições nos dois períodos com o TRY (Ano Climático de
Referência) de Curitiba (GOULART et al., 1998), verifica-se que:
•= a maior parte das medições de inverno foi realizada no mês mais frio (julho);
•= as medições de verão puderam ser realizadas em dez dias do mês mais quente (janeiro) e
dezenove dias do mês anterior (dezembro), também caracterizado por temperaturas
elevadas.
Quanto às temperaturas externas medidas, as medições do período de inverno
apresentaram a temperatura mínima de -3,3°C, a média de 10,5°C e a máxima de 26,6°C (uma
amplitude térmica total de 29,9K nos 26 dias de medição) e temperatura média das mínimas
de 4,7°C.
Comparativamente, o ano estatístico TRY apresenta para o mês de julho a temperatura
mínima de -3,5°C, média de 12,6°C e máxima de 26,6°C e uma temperatura média das
mínimas de 7,4°C. Comparando-se os dados obtidos pelas medições do período de inverno
com os dados do TRY para o mês de julho, verifica-se que, enquanto as temperaturas mínimas
e máximas praticamente coincidem, a temperatura média medida é 2,1°C mais baixa que a do
Ano Climático de Referência e a temperatura média das mínimas, 2,7°C mais baixa. Assim,
as medições de inverno ocorreram em um período de comportamento térmico muito próximo
ao do mesmo período no Ano Climático de Referência, com temperaturas ligeiramente mais
baixas, podendo, portanto, ser consideradas representativas.
No verão, a temperatura mínima foi de 11,5°C, a média de 22,2°C e a máxima, de
32,9°C (amplitude térmica de 21,4K durante os trinta dias de medição) e a temperatura média
das máximas, de 28,5°C.
145

O TRY apresenta para o mês de dezembro e janeiro, respectivamente, a temperatura


mínima de 8,3°C e 8,4°C, média de 19°C e 20°C e máxima de 33°C e 33,3°C e uma
temperatura média das máximas de 24,5°C, em dezembro, e 26°C, em janeiro. Comparando-
se os dados obtidos pelas medições do período de verão com os dados do TRY relativos a
dezembro e janeiro, observa-se as temperaturas mínimas e médias entre 2,2°C e 3,2°C acima
do TRY, e a temperatura máxima absoluta quase coincidente. A temperatura média das
máximas obtida pelas medições apresentou 2,5°C acima da do TRY. Observa-se que as
medições de verão também ocorreram em uma época de comportamento térmico
relativamente próximo do mesmo período no Ano Climático de Referência, com as
temperaturas ligeiramente mais altas. As medições de verão, portanto, também podem ser
consideradas representativas.
Ressalve-se que o local e a época da realização das medições diferem. As medições
referentes ao presente trabalho ocorreram no Bairro Novo, ao Sul de Curitiba, em 2000 e
2001. As medições referentes à determinação do TRY para Curitiba foram tomadas no
Aeroporto Afonso Pena, a Leste da cidade, entre 1961 e 1970, e seus dados foram tratados
estatisticamente, eliminando-se de forma progressiva os anos que apresentaram médias
mensais extremas, de forma a restar somente o Ano Climático de Referência, que seria o ano
climático característico para o local.

Quanto às temperaturas nas moradias monitoradas, pode-se observar no Gráfico para o


Período de Inverno (Figura 41), que, em todas elas, há maior capacidade de amortecimento
térmico em relação às temperaturas externas frias do período, do que em relação às quentes.
No Gráfico para o Período de Verão (Figura 42), as temperaturas internas das
moradias também apresentam maior amortecimento térmico em relação às temperaturas frias
do exterior. Neste período, em nenhum momento, as temperaturas internas foram mais baixas
que as externas. Porém, em relação às temperaturas quentes, algumas das moradias
apresentaram temperaturas consideravelmente mais elevadas que a temperatura externa.
Esta elevação das temperaturas internas se deve a diversos fatores como a radiação
solar direta, a radiação infravermelha, os movimentos de ar externos e internos, a condução
através dos materiais de construção e do solo, o atraso térmico e a absortividade dos
elementos da envoltória, os ganhos internos devido à ocupação (número de pessoas, uso de
equipamentos e de iluminação artificial), dentre outros.
146

Os Gráficos seguintes (Figuras 41 e 42) apresentam a comparação dos dados de


temperatura das tecnologias de melhor e pior desempenho térmico com a temperatura externa
para os dois períodos de monitoramento.

FIGURA 41 – TEMPERATURA DAS TECNOLOGIAS DE MELHOR E PIOR DESEMPENHO TÉRMICO


PARA O PERÍODO DE INVERNO
30

25

20

15
T [ºC]

10

0
19
37
55
73
91
109
127
145
163
181
199
217
235
253
271
289
307
325
343
361
379
397
415
433
451
469
487
505
523
541
559
577
1

-5
t [h]

Cohab-Pará Andrade Gutierrez Temp. externa

FIGURA 42 – TEMPERATURA DAS TECNOLOGIAS DE MELHOR E PIOR DESEMPENHO TÉRMICO


PARA O PERÍODO DE VERÃO
40

35

30

25
T [ºC]

20

15

10

0
111
133
155
177
199
221
243
265
287
309
331
353
375
397
419
441
463
485
507
529
551
573
595
617
639
661
683
1
23
45
67
89

t [h]
Constroyer Andrade Ribeiro Temp. externa
147

4.4.2 Análise Bioclimática

Com os dados de temperatura obtidos pelas medições integrados em dados horários e


com a umidade relativa estimada das dezoito moradias nos dois períodos avaliados
(procedimentos descritos no Item 3.1.2), foram gerados os arquivos no formato TRY (Ano
Climático de Referência) para serem plotados no Diagrama Bioclimático de Givoni, com o
software ANALYSIS (LMPT/EMC e NPC/ECV, 1994). Assim, foi possível quantificar as
horas de conforto térmico para cada moradia em termos de porcentagem de horas em que as
medições de temperatura se situam nas zonas de conforto ou de desconforto. Para tanto, foi
considerada a faixa de conforto, fixada por Givoni (1992) como sendo de 18 a 29ºC.
Foi realizada a análise bioclimática de cada sistema construtivo durante os períodos de
monitoramento, incluindo o Diagrama Bioclimático e os relatórios do programa ANALYSIS.
Ver Apêndice C: Exemplo de gráfico e relatório elaborados com o software ANALYSIS.
Nas planilhas abaixo, [Tabela Resumo Inverno (Tabela 3) e Tabela Resumo Verão
(Tabela 4)], são indicadas, em relação à todos os sistemas construtivos, as porcentagens de
horas de frio (T < 18°C), de conforto (18 ≤ T ≤ 29°C) e de calor (T > 29°C), bem como as
temperaturas mínima, média e máxima. Nas Tabelas 3 e 4, os sistemas foram ordenados
respectivamente, segundo os valores crescentes de desconforto por frio e por calor.

TABELA 3 – TABELA-RESUMO INVERNO


SISTEMAS frio [%] conforto [%] calor [%] T. mín. [ºC] T. média [ºC] T. máx. [ºC]
CONSTRUTIVOS
Andrade Gutierrez 83,4 16,0 0,507 5,3 14,3 24,4
Kurten 83,8 15,4 0,845 3,7 13,9 24,3
Batistella 84,1 15,0 0,845 2,4 13,4 24,5
Todeschini 84,6 15,0 0,338 4,9 13,8 23,9
José Tureck 84,8 13,9 1,35 6,6 14,4 23,2
Paineira 85 14,4 0,676 6,2 13,8 23,7
Tetolar 86,1 13,5 0,338 3,7 13,7 24
Constroyer 86,3 13,3 0,338 10,4 14,8 22,9
Eternit 86,3 13,0 0,676 4,3 13,5 24,3
ABC 87 12,7 0,338 4,5 13,4 24,6
Andrade Ribeiro 88,3 11,1 0,507 3,7 12,9 24,1
CHJ 89,2 10,0 0,845 4,6 13 24,6
Facicasas 89,5 10,1 0,338 4,5 13,2 24
MLC 89,7 9,8 0,507 5,1 13,3 23,6
3P 89,9 9,6 0,507 4,1 12,9 23,8
Epotec 90,5 8,5 1,01 6,3 13,3 23,4
Castellamare 92,4 7,6 0 4,9 12,7 22,9
Cohab-Pará 93,8 6,3 0 4,1 12,2 24,1
Externo 88,3 10,6 1,01 -3,3 10,5 26,6
148

TABELA 4 – TABELA-RESUMO VERÃO


SISTEMAS frio [%] conforto [%] calor [%] T. mín. [ºC] T. média [ºC] T. máx. [ºC]
CONSTRUTIVOS
Constroyer 0 95,8 4,21 19,2 25,2 29,6
Andrade Gutierrez 0,726 87,4 11,9 17,4 25,7 31,65
Cohab-Pará 3,19 82 14,8 15,9 24,1 30,05
José Tureck 0,581 84,2 15,2 17,8 24,8 30,5
3P 1,74 81 17,3 16,3 25 32,7
Castellamare 1,16 81,1 17,7 17,4 25,1 31,85
CHJ 2,47 79,8 17,7 16,3 24,5 31,65
MLC 1,31 80,7 18 17,1 25,5 32,1
ABC 5,22 75,2 19,6 15,9 23,6 30,05
Tetolar 2,9 76,5 20,6 16,1 24,7 34,5
Paineira 1,02 78,1 20,9 17,25 26,2 32,5
Todeschini 3,92 74,6 21,5 15,9 24 29,8
Facicasas 3,63 73,3 23,1 16,3 24,2 31,9
Epotec 3,48 73 23,5 16,3 23,9 31,1
Kurten 2,61 72 25,4 16,7 24,8 33,1
Eternit 2,03 70,4 27,6 17,1 25,1 33,35
Batistella 2,47 63,6 34 16,7 25,5 35,05
Andrade Ribeiro 4,06 61,8 34,1 15,75 24,8 34,4
Externo 31,3 36,3 32,4 11,5 22,2 32,9

Comparando-se as medições nos dois períodos, confirma-se a tendência da cidade


mais para o frio:
•= no inverno, as temperaturas externas apresentaram 88,3% das horas em desconforto por
frio; no verão, as temperaturas externas apresentaram-se distribuídas, com 36,3% das
horas na faixa de conforto, 31,3% em desconforto de frio e 32,4% em desconforto de
calor;
•= no inverno, as temperaturas externas mínima e média encontram-se na faixa de
desconforto por frio: respectivamente, -3,3°C e 10,5°C. Note-se que a temperatura mínima
está a 21,3K abaixo da faixa de conforto, a média a 7,5K abaixo desta faixa e a máxima
dentro da faixa de conforto. No verão, as temperaturas externas apresentam a mínima, a
média e a máxima com, respectivamente, 11,5°C, 22,2°C e 32,9°C, portanto, distribuídas
entre as faixas de conforto e desconforto.

No período de inverno, quanto aos sistemas construtivos, este fenômeno se repete,


com as moradias apresentando no seu interior alta porcentagem de horas com temperaturas na
faixa de desconforto por frio, com índices variando entre 83,4% (Andrade Gutierrez) e 93,8%
(Cohab-Pará) das horas totais de medição.
149

É interessante observar que, em relação às temperaturas internas encontradas nas


moradias neste período, não é a Andrade Gutierrez (de tijolitos de solo-cimento), mas a
Constroyer (de poliestireno expandido) que obteve as temperaturas mínimas e médias mais
altas (respectivamente, 10,4°C e 14,8°C) e a menor amplitude térmica (12,5K). Embora muito
diferentes dos valores encontrados, referentes às outras tecnologias, estas temperaturas não
resultaram na maior porcentagem de horas em conforto.
A Battistella (de painéis de madeira) apresentou a mais baixa temperatura interna
(2,4ºC) e a maior amplitude térmica (22,1K) no período frio, embora tenha apresentado um
dos melhores desempenhos em relação à porcentagem de horas de conforto. Mas a Cohab-
Pará foi a tecnologia de maior porcentagem de horas em desconforto por frio (93,8%) e a
menor porcentagem de horas em conforto (6,3%), bem como a mais baixa temperatura média
de inverno (12,2ºC), embora o seu comportamento térmico em relação às temperaturas
mínimas e máximas tenha sido muito próximo da tecnologia de menor porcentagem de
desconforto por frio, a Andrade Gutierrez. Assim, as temperaturas mínimas não
demonstraram ter relação com o número de horas de desconforto por frio.

No período de verão, as temperaturas internas das moradias apresentaram alta


porcentagem de horas com temperaturas na faixa de conforto, com índices variando entre
61,8% e 95,8% das horas totais de medição. As horas em desconforto por calor foram de
4,21% (Constroyer) a 34,1% (Andrade Ribeiro). A Andrade Gutierrez (de tijolitos de solo-
cimento), sistema construtivo de maior número de horas de conforto no inverno, foi a que teve
o segundo melhor desempenho térmico no verão, com 87,4% das horas na faixa de conforto,
superada apenas pela Constroyer (poliestireno expandido), que, no verão, teve 95,8% das
horas na faixa de conforto. No período de verão, novamente a Constroyer apresentou a menor
amplitude térmica entre as dezoito tecnologias avaliadas (10,4K) e a mais baixa temperatura
máxima (29,6°C), bem como, neste período, o maior número de horas na faixa de conforto.
Poder-se-ia pensar que as características desta tecnologia são mais importantes para períodos
de calor.
Verifica-se que a porcentagem de horas em cada faixa de conforto e as temperaturas
mínimas, médias e máximas não são necessariamente correspondentes. Por exemplo, no
período de inverno, a tecnologia que teve menor porcentagem na faixa de desconforto por frio
não é a que apresentou temperaturas mínimas e médias mais elevadas.
150

4.4.3 Temperaturas Mínimas, Médias e Máximas

Os Gráficos a seguir mostram as temperaturas mínimas, médias e máximas nas


moradias comparadas com a porcentagem de horas ocorridas nas faixas de conforto e de
desconforto por frio e por calor, para os dois períodos de medição (Figuras 43 e 44):

FIGURA 43 – PORCENTAGENS DE CONFORTO E TEMPERATURAS MÍNIMAS, MÉDIAS E


MÁXIMAS – INVERNO
10 0 30

90
25

80

20
70

60
15
horas [%]

T [ºC]
50

10
40

30
5

20

0
10

0 -5
6 3 7 2 13 14 17 5 10 9 11 12 18 1 4 8 16 15 Ext
sistem as co n strutivo s

frio [% ] c onfo rto [% ] ca lor [% ] T m in [ºC ] T me dia [ºC ] T max [ºC ]

FIGURA 44 – PORCENTAGENS DE CONFORTO E TEMPERATURAS MÍNIMAS, MÉDIAS E


MÁXIMAS – VERÃO
120 40

35
100

30

80
25
horas [%]

T [ºC]

60 20

15
40

10

20
5

0 0
5 6 14 15 16 4 1 18 13 17 9 7 12 8 3 10 2 11 Ext
sistem as co nstrutivo s

frio [% ] conforto [% ] calor [% ] T min [ºC ] T media [ºC ] T max [ºC ]


151

Observando-se simultaneamente os dois Gráficos, pode-se verificar que a variação das


temperaturas mínimas e máximas ou seja, a amplitude térmica dos períodos de medição (tanto
no interior como no exterior das moradias), foi bem maior no inverno do que no verão. Em
relação às moradias, contribuindo para este resultado, a queda da temperatura noturna em
geral não foi aproveitada pelos moradores que, por motivos de segurança, fecham as janelas à
noite.
Durante o período de inverno, a variação entre as temperaturas mínimas e as máximas
no exterior das casas foi grande, variando em aproximadamente 30K. Já as temperaturas no
interior das moradias tiveram sua menor amplitude com 12,5K no sistema construtivo 5,
Controyer (de poliestireno expandido), e a maior, com cerca de 22,1K, no sistema construtivo
2, Batistella (de painéis de madeira). Ambas tiveram desempenho de médio a bom, quanto à
porcentagem de horas em desconforto por frio. Esta menor ou maior amplitude das
temperaturas mínimas e máximas também não evidencia uma relação com o número de horas
em conforto ou em desconforto por frio, uma vez que a tecnologia que apresenta o menor
número de horas em desconforto por frio, o sistema construtivo 6, Andrade Gutierrez (de
solo-cimento), mostra uma amplitude térmica intermediária. O sistema construtivo 5 é
também o de temperatura mínima mais elevada no período frio (10,4ºC). Entretanto, nem
mesmo as temperaturas mínimas parecem ter relação com o número de horas de desconforto
por frio. No Gráfico de inverno (Figura 43), a única relação que se pode observar, pelo menos
quanto à tendência, é a do número crescente das horas de desconforto por frio com o número
decrescente das temperaturas médias.
Para o período de verão, a amplitude térmica no exterior é menor (21,4K). As
temperaturas mínimas e máximas no interior das moradias têm sua menor amplitude
novamente no sistema construtivo 5, Controyer (de poliestireno expandido) (10,4K), e a
maior no sistema construtivo 11, Andrade Ribeiro (de painéis de concreto com câmara de ar),
(18,6K). Ambas são, respectivamente, a de melhor e pior desempenho quanto à porcentagem
de horas em conforto, embora não haja a mesma correspondência nas tecnologias de
desempenho intermediário. No Gráfico de verão (Figura 44), não se evidencia uma
correspondência entre as temperaturas máximas ou médias e a porcentagem de horas em
conforto.
Verificou-se, assim, a necessidade de avaliar-se as tecnologias ainda com outros
parâmetros.
152

4.4.4 Somatório de Graus-hora

Somatório de graus-hora é um parâmetro de análise climática que pode ser definido


como o somatório da diferença de temperatura quando esta excede ou está abaixo de uma
temperatura-base (Tb). Ou seja, quando a temperatura horária excede ou está abaixo da
temperatura-base, calcula-se a diferença (Th-Tb), somando-se então essas diferenças, hora-a-
hora (GOULART et al., 1998).
As temperaturas-base (Tb) aqui consideradas foram os limites da faixa de conforto,
determinados por Givoni (1992) para países em desenvolvimento: a Tb para o período frio foi
considerada de 18ºC e a Tb para o período quente, de 29ºC.
O conceito de ΣºC*h (somatório de graus-hora) traz consigo duas informações: a do h
(número de horas que excederam ou estiveram abaixo da temperatura-base) e o g.m. (grau
médio), que é a média dos graus-hora, ou seja: a razão do somatório de graus-hora pelo
número de horas acima ou abaixo da base estipulada (PAPST, 1999).
Comparando-se as medições nos dois períodos, verifica-se que:
•= o período de inverno apresentou um somatório de graus-hora de 4696,72 para as
temperaturas externas abaixo da Tb = 18ºC; o período de verão apresentou um somatório
de graus-hora de 106,625 para as temperaturas externas acima da Tb = 29ºC;
•= a média das temperaturas mínimas no período de inverno foi de 4,73ºC (13,27K abaixo da
faixa de conforto); a média das temperaturas máximas no período de verão foi de 28,49ºC
(dentro da faixa de temperaturas em conforto).

Para avaliar-se o desempenho térmico das moradias de modo mais significativo que os
valores absolutos das temperaturas extremas em cada moradia, foram consideradas ainda as
médias das temperaturas mínimas e das máximas.
Foram, então, plotados em Gráficos os somatórios de graus-hora acima ou abaixo das
bases analisadas, comparando-os com as médias das temperaturas máximas e mínimas
(Figuras 45 e 46).
153

FIGURA 45 – GRAUS-HORA E MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÍNIMAS – INVERNO

16 5000

4500
14
4000
12
3500

graus-hora [ºC.h]
10
3000
T [ºC]

8 2500

2000
6
1500
4
1000
2
500

0 0
5 14 6 13 7 3 17 10 9 8 1 2 12 18 4 11 16 15 Ext
sistemas construtivos

graus-hora (base<18C) média das mínimas

FIGURA 46 – GRAUS-HORA E MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS – VERÃO

31 300

30
250

29
200
graus-hora [ºC.h]

28
T [ºC]

150
27

100
26

50
25

24 0
5 15 9 7 14 8 18 12 6 16 4 1 17 13 3 10 11 2 Ext
sistemas construtivos

graus hora (base>29C média das máximas


154

Para o período de inverno, os sistemas construtivos de melhor desempenho térmico,


segundo os parâmetros somatório de graus-hora e temperaturas médias das mínimas, são os de
número 5, Constroyer (de poliestireno expandido), número 14, José Tureck (de concreto leve
com interior de poliestireno expandido) e número 6, Andrade Gutierrez (de solo-cimento).
Seguem-se os de número 13, Paineira (de painéis de concreto com câmara de ar) e 7,
Todeschini (de madeira maciça). Isto significa que estas moradias conseguem amortecer os
picos de frio da temperatura externa, ou seja, apresentam um bom amortecimento para
temperaturas frias. Nas tecnologias que seguem estas cinco, em relação ao melhor
desempenho, o somatório de graus-hora para a Tb=18ºC não mais corresponde às médias das
temperaturas mínimas apresentadas. Isto pode ser observado nas tecnologias de números 1,
MLC, e 2, Battistella, ambas com somatório de graus-hora semelhantes e temperatura média
das mínimas bem diferentes.
O somatório de graus-hora foi plotado nos dois Gráficos em ordem crescente. Desta
forma, observa-se que, para o período de inverno, o somatório de graus-hora para a
temperatura externa abaixo da Tb = 18ºC não é superado em nenhum dos sistemas
construtivos avaliados. Pode-se afirmar que no período de frio em nenhuma das moradias o
desconforto por frio foi maior ou mais intenso do que no exterior delas.
Nota-se, especialmente no Gráfico de inverno, o fato de as médias das mínimas não
serem necessariamente equivalentes a um maior ou menor somatório de graus-hora. Nesse
caso, as médias das mínimas teriam que estar nitidamente em ordem decrescente, o que não
ocorre.

No período avaliado no verão, os sistemas construtivos de melhor desempenho


térmico, segundo o parâmetro somatório de graus-hora, são os de número 5, Constroyer (de
poliestireno expandido), 15, Cohab-Pará (de blocos cerâmicos vazados) e 9, ABC (de
concreto celular). Seguem-se os sistemas 7, Todeschini (madeira maciça) e 14, José Tureck
(concreto leve com interior de poliestireno expandido). Mas, se considerarmos as médias das
temperaturas máximas, o sistema de número 8, Epotec (de painéis de madeira, com
poliuretano rígido), supera o desempenho térmico do sistema 14, José Tureck. Isto significa
que estas moradias conseguem amortecer os picos de calor da temperatura externa, ou seja,
têm um bom amortecimento para temperaturas quentes.
No verão, observa-se que cinco sistemas construtivos superam o ambiente externo em
somatório de graus-hora acima da Tb = 29ºC. Estes, em ordem crescente de somatório de
155

graus-hora, são os de número 13 (Paineira), 3 (Kürten), 10 (Eternit), 11 (Andrade Ribeiro) e


2 (Batistella). Isto significa que, no período de calor, estas moradias apresentaram maior grau
ou intensidade de desconforto do que o ambiente externo.
Com o parâmetro de somatório de graus-hora, pode-se avaliar, portanto, não o simples
número de horas em desconforto, mas este número associado à intensidade do desconforto.

Nos dois períodos analisados, algumas das tecnologias apresentaram, conforme estes
dois parâmetros, (somatório de graus-hora e médias das mínimas e das máximas), bom
desempenho, com bom amortecimento térmico nos dois extremos de temperatura. Neste caso,
evidencia-se, em primeiro plano, a de número 5, Constroyer (de poliestireno expandido), mas
também devem ser citadas as de número 14, José Tureck (concreto leve com interior de
poliestireno expandido) e 7, Todeschini (madeira maciça).
Com bom amortecimento das temperaturas frias, o sistema construtivo de número 6,
Andrade Gutierrez (de solo-cimento), é um pouco menos eficiente para temperaturas quentes.
O inverso ocorre com o de número 9, ABC (de concreto celular), com melhor amortecimento
em temperaturas quentes.
A diferença entre os desempenhos de inverno e verão acentuam-se no de número 13,
Paineira (de painéis de concreto com câmara de ar), bem melhor no inverno que no verão, e
principalmente no de número 15, Cohab-Pará (de blocos cerâmicos vazados) a pior no
inverno, mas a segunda melhor no verão.
Verifica-se que estes dois parâmetros (somatório de graus-hora e médias das
temperaturas mínimas e das máximas) não apresentam necessariamente equivalência entre os
seus resultados, embora o somatório de graus-hora apresente, principalmente em relação às
médias das máximas do período de verão, uma tendência neste sentido.

4.4.5 Análise dos Resultados

Algumas tecnologias apresentaram bom desempenho nos dois períodos analisados,


conforme os diferentes parâmetros de análise: somatório de graus-hora, porcentagem de
horas em desconforto e médias das temperaturas mínimas e máximas, com bom
amortecimento térmico nos dois extremos de temperatura. Neste caso, evidencia-se, em
primeiro plano, o sistema construtivo de número 5, Constroyer (de poliestireno expandido),
156

mas também devem ser citados os de número 14, José Tureck (de concreto leve com interior
de poliestireno expandido), 6, Andrade Gutierrez (de solo-cimento) e 7, Todeschini (de
madeira maciça).3
Com bom amortecimento das temperaturas frias, o sistema construtivo de número 6,
Andrade Gutierrez (de solo-cimento), é um pouco menos eficiente em temperaturas quentes,
embora tenha apresentado ótimo desempenho em relação à porcentagem de horas de conforto
nos dois períodos. O inverso ocorre com o de número 9, ABC (de concreto celular), com
melhor amortecimento em temperaturas quentes.
Surpreende o bom desempenho no inverno (pior período de desconforto em Curitiba)
dos sistemas construtivos de madeira: os de número 7, Todeschini, e 3, Kürten, tecnologias
tradicionais na região.
A diferença entre os desempenhos de inverno e verão mostrou-se acentuada no sistema
construtivo de número 13, Paineira (de painéis de concreto com câmara de ar), bem melhor
no inverno que no verão, e, mais ainda, no de número 15, Cohab-Pará (de blocos cerâmicos
vazados), a pior no inverno, mas a segunda melhor no verão.
Contudo, verificaram-se diferenças nos resultados quanto à aplicação dos parâmetros
de análise. Em relação à porcentagem de horas em desconforto, das dezoito tecnologias
estudadas, a mais adequada ao clima de Curitiba parece ser a de número 6, Andrade Gutierrez
de tijolos de solo-cimento, com melhor desempenho no inverno e segundo melhor no verão.
Mas, em relação ao somatório de graus-hora, apresentou o melhor desempenho tanto no
verão como no inverno o sistema construtivo de maior inércia térmica e menor transmitância:
o de número 5, Constroyer de poliestireno expandido revestido com argamassa, cuja empresa
fabricante é de São Paulo e de origem italiana.
Apesar do excelente desempenho térmico do sistema construtivo de número 5,
Constroyer, este pode não constituir uma TA (Tecnologia Apropriada), considerando-se os
critérios específicos para avaliação de TA em habitação mencionados no Item 1 (p. 1). Sob
esta perspectiva, outros sistemas construtivos de bom desempenho térmico podem ser mais
adequados. Seguem-se algumas reflexões quanto aos resultados da avaliação do desempenho
térmico dos sistemas construtivos e ao atendimento de outros critérios de TA em habitação: a
proveniência das empresas, o emprego de materiais locais e de técnicas conhecidas da
população e a adequação à cultura local.

3
Note-se que o parâmetro do somatório de graus-hora foi mais considerado do que o de porcentagem de horas
em conforto pois a variação deste último, no inverno, não foi significativa (ver Tabela 3 e Figura 40).
157

Para o período de inverno, conforme os parâmetros de análise de somatório de graus-


hora e porcentagem de horas em desconforto, observa-se, num primeiro plano, os sistemas
construtivos de número 5, Constroyer (de poliestireno expandido), 14, José Tureck (concreto
com poliestireno expandido), 6, Andrade Gutierrez (de solo-cimento) e 13, Paineira (de
painéis de concreto com câmara de ar), seguidos de dois sistemas de madeira: 7, Todeschini e
3, Kürten.
Para o período de verão, conforme os dois parâmetros de análise, somatório de graus-
hora e porcentagem de horas em desconforto, os sistemas construtivos de melhor
desempenho são o 5, Constroyer (poliestireno expandido), o 15, Cohab-Pará (tijolo cerâmico
vazado), o 14, José Tureck (concreto com poliestireno expandido) e o 6, Andrade Gutierrez
(solo-cimento). As tecnologias de pior desempenho no verão coincidem, para estes dois
parâmetros, nas de número 2, Batistella; 11, Andrade Ribeiro; 10, Eternit; e 3, Kürten.
Os sistemas construtivos 5, Constroyer (de poliestireno expandido) e 14, José Tureck
(de painéis duplos em concreto leve e espaço interno com poliestireno expandido), são
provenientes de outra região, no caso, as empresas fabricantes são de São Paulo, utilizando
técnicas e materiais não encontrados na região de Curitiba e pouco conhecidos pela
população.
O número de 6, Andrade Gutierrez (de solo-cimento), cuja empresa não é local mas
oriunda de Belo Horizonte (MG) – situada na Zona Bioclimática 3 – utiliza materiais e
técnicas acessíveis à comunidade. Embora o tijolito de solo-cimento não exista à venda no
local, sua fabricação torna-se viável devido à possibilidade de se obter matéria-prima na
região. Além disso, a técnica construtiva se assemelha à alvenaria tradicional, embora com
tijolos encaixados, sem a necessidade de argamassa de assentamento.
O mesmo ocorre também com o sistema construtivo 13, Paineira (de painéis duplos de
concreto com câmara de ar, rebocados externamente), que provém do Distrito Federal, porém
faz uso de materiais encontrados na região e de técnica conhecida, em concreto.
Por seu bom desempenho no inverno, os sistemas construtivos baseados no emprego
de madeira 7 e 3, técnica tradicional da Região Sul do país, não podem ser descartados como
alternativa para habitação, levando-se em conta também seu fator cultural. Destes,
apresentou-se como melhor o de número 7, Todeschini de madeira de lei maciça e maior
espessura. Quanto à sua origem, o sistema construtivo 3, Kürten, é de empresa local e utiliza
madeiras da região. O sistema construtivo 7, por sua vez, é proveniente do Mato Grosso do
Sul, não utilizando matéria-prima local, mas fazendo uso de técnica tradicional.
158

Quanto às tecnologias, nota-se que o sistema construtivo menos adequado ao clima foi
o de número 15, Cohab-Pará, de tijolos cerâmicos vazados e cobertura com câmara de ar
muito ventilada, com procedência de Belém do Pará (Zona Bioclimática 8), apresentou o pior
desempenho térmico no inverno, mas um dos melhores desempenhos no verão, o que
demonstra ser apropriado para regiões de clima mais quente. Não houve preocupação alguma
de adaptação ao clima de Curitiba por ocasião de sua execução na Vila Tecnológica, por isso,
não surpreende a sua inadequação.

Quanto ao desempenho térmico das coberturas, predominam nas tecnologias de


melhor desempenho, tanto no inverno como no verão, coberturas de forro de madeira, câmara
de ar e telha cerâmica. O que difere entre os dois períodos analisados é a ausência ou não de
ventilação no ático nas melhores tecnologias para cada período. No verão, ao contrário do
inverno, alguns dos sistemas de melhor desempenho têm câmaras de ar ventiladas.
O sistema construtivo 5, Constroyer, de ótimo desempenho, tem sua cobertura de
poliestireno expandido, concreto, pequena câmara de ar não ventilada e telhamento cerâmico.
Entre as tecnologias de pior desempenho nos dois períodos predominam as coberturas
de forro de madeira ou concreto, câmaras de ar ventiladas e, notadamente, telhas de
fibrocimento.
Em ambos os períodos, verificou-se a importância do tipo de telha na obtenção do
conforto térmico, notando-se um desempenho superior das moradias com telhas cerâmicas,
tornando secundárias tanto a influência da ventilação no ático, como o tipo de forro. Assim,
devido à maior exposição diária ao Sol, o tipo de telhamento assume grande importância no
desempenho térmico das habitações térreas.
Este resultado corrobora as recomendações da Norma de Desempenho Térmico
(UFSC, 1998), que alerta sobre a diferença do desempenho térmico das telhas de barro e de
fibrocimento, apesar das semelhanças entre sua transmitância térmica. Essa diferença deve-se
à porosidade e à absorção da água (de chuva ou de condensação) por parte das telhas de barro,
desde que não impermeabilizadas. A água, ao evaporar, faz com que parte do calor seja
dissipado, reduzindo-se o fluxo de calor para o interior da moradia. Esta explicação esclarece
o melhor desempenho da telha de barro no período de calor.
Do ponto de vista de TA em habitação, a telha cerâmica, além de apresentar melhor
desempenho térmico, tem sua matéria-prima abundante no local e a técnica de fabricação
conhecida na região. Já o amianto empregado na telha de fibrocimento é proveniente dos
159

estados de Goiás e Tocantins ou do exterior, sua técnica de fabricação é menos difundida e


envolve conseqüências ambientais.
Constatamos, através da análise realizada, que a adequação climática se relaciona de
forma inegável com a cultura construtiva tradicionalmente empregada na região. Os fatores
culturais, construtivos ou não, se inter-relacionam com os fatores do meio, climáticos ou não.
Ainda assim, os resultados obtidos pela avaliação do desempenho térmico dos 18 diferentes
sistemas construtivos realizada neste Capítulo conduzem ao questionamento sobre os
principais fatores, quanto aos materiais empregados, que interferem neste desempenho.
Portanto, no próximo Capítulo, procede-se a uma investigação sobre algumas das
características dos sistemas construtivos que poderão ter influenciado em seu desempenho
térmico.
160

5 AVALIAÇÃO PARAMÉTRICA

5.1 COMPARAÇÃO COM A NORMA DE DESEMPENHO TÉRMICO DE


EDIFICAÇÕES

A Parte 3 da Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, 1998) estabelece


o Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações
Unifamiliares de Interesse Social, que tem como objetivo proporcionar condições aceitáveis
de conforto térmico neste tipo de edificação. Essa classificação em regiões geográficas
homogêneas quanto aos fatores climáticos permite oferecer, para cada Zona Bioclimática,
recomendações técnicas que estabelecem requisitos mínimos de projeto, considerando
diversos parâmetros. Um desses parâmetros refere-se às vedações externas ou envoltória da
edificação, que constitui a interface entre o clima exterior e o interior, interferindo
diretamente no grau de conforto térmico do usuário no ambiente interno.
Quanto aos materiais de construção que compõem a envoltória, as características
termofísicas relevantes são: a transmitância (U) e o atraso ou inércia térmica (ϕ) das paredes
externas e da cobertura de uma habitação. A primeira está diretamente relacionada à
condutividade térmica dos materiais que compõem a parede ou cobertura. A segunda
considera sua capacidade térmica, ou seja, a capacidade do elemento construtivo reter calor.
Além dessas características, o fator de calor solar (FS) dos elementos que compõem a
envoltória influirá nos ganhos por radiação, que se dão a partir dos elementos opacos
(absortividade de paredes, por exemplo) e dos elementos transparentes (coeficiente de
transmissão dos vidros, por exemplo).
Com a finalidade de avaliar as dezoito tecnologias da Vila Tecnológica de Curitiba e
de corroborar ou propôr ajustes às recomendações da Norma de Desempenho Térmico de
Edificações (UFSC, op. cit.), foram calculadas as características termofísicas dos materiais
das vedações externas de cada sistema construtivo conforme o método indicado na Parte 2 da
referida Norma. Os valores obtidos pelos cálculos foram, então, comparados com os valores
recomendados.
Como mencionado e segundo o procedimento descrito no Item 3.2.1, Curitiba se
encontra na Zona Bioclimática 1, e, portanto, em relação às vedações externas, as paredes de
suas casas devem ser leves e a cobertura leve e isolada.
161

A Tabela 5 estabelece valores admissíveis para as características termofísicas das


paredes e das coberturas com diferentes níveis de desempenho: o mínimo, é obrigatório; o
superior, que excede o nível mínimo; e o elevado, que se situa acima do nível superior. Os
dois últimos não têm caráter obrigatório, mas podem ser exigidos conforme o nível de
desempenho estabelecido.

TABELA 5 - TRANSMITÂNCIA TÉRMICA, ATRASO TÉRMICO (ABNT, 2002) E FATOR DE CALOR


SOLAR (UFSC, 1998) ADMISSÍVEIS PARA VEDAÇÕES EXTERNAS PARA A ZONA
BIOCLIMÁTICA 1

VEDAÇÕES NÍVEL DE TRANSMITÂNCIA ATRASO FATOR DE


EXTERNAS DESEMPENHO TÉRMICA TÉRMICO CALOR SOLAR
U ϕ FS
W/m2.K Horas Adimensional
mínimo U ≤ 3,15 não se aplica
PAREDE: leve superior U ≤ 2,50 3,5 <ϕ ≤ 4,0 FS ≤ 5,0
elevado U ≤ 1,50 ϕ ≤ 3,5 ϕ > 4,0
COBERTURA: mínimo U ≤ 2,30 não se aplica
leve isolada superior U ≤ 1,50 3,0 < ϕ ≤ 3,5 FS ≤ 6,5
elevado U ≤ 1,00 ϕ ≤ 3,0
FONTES: UFSC (1998), ABNT (2000).

Para os critérios de transmitância térmica (U) e atraso térmico (ϕ) foram utilizados os
valores da versão atualizada da Norma de Desempenho de Edifícios Habitacionais de até
Quatro Pavimentos – Parte 4: Fachadas; e Parte 7: Coberturas (ABNT, 2002). Esta versão
está em votação. Em relação ao critério de absortância (α), preferiu-se utilizar, neste trabalho,
o critério de fator de calor solar (FS), da versão anterior da Norma de Desempenho Térmico
das Edificações – Parte 3 (UFSC, 1998), uma vez que a absortância é considerada no cálculo
do fator de calor solar.

5.2 CÁLCULO DAS CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS DOS SISTEMAS


CONSTRUTIVOS

Foram calculadas as características termofísicas: transmitância (U), inércia térmica (ϕ)


e fator de calor solar (FS) para as fachadas e coberturas das habitações apenas dos sistemas
construtivos originais implantados na Vila Tecnológica. Eventuais ampliações, feitas com
outros materiais ou não, foram desconsideradas. Para os cálculos, considerou-se como
cobertura, o conjunto que compreende forro ou laje, câmara de ar e telha, conforme
configurado em cada sistema construtivo.
162

5.2.1 Procedimentos de Cálculo

A Transmitância Térmica (U) ou coeficiente global de transferência de calor é o


inverso da resistência térmica total de determinado elemento construtivo, determinado pela
Equação 1, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, 1998):

U = 1/RT (Equação 1)

onde
U: é a transmitância térmica [W/(m2.K)];
RT: é a resistência térmica total [(m2.K)/W].

A resistência térmica total é a associação das diversas resistências térmicas do


componente em questão com as resistências superficiais interna e externa.
A resistência térmica de ambiente a ambiente (RT) é dada pela Equação 2, conforme a
Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op. cit.):

RT = Rse + Rt + Rsi (Equação 2)

onde
Rt: é a resistência térmica de superfície a superfície [(m2.K)/W], determinada pela Equação 3;
Rse e Rsi: são as resistências superficiais externa e interna [(m2.K)/W], respectivamente,
obtidas da Tabela A.1 do Anexo A da Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC,
opus cit.).
A resistência superficial interna (Rsi) e a resistência superficial externa (Rse) referem-
se à convecção e radiação nas superfícies interna e externa respectivamente.
A resistência térmica de superfície-a-superfície (Rt) de um componente plano
constituído de camadas homogêneas,1 perpendiculares ao fluxo de calor, é determinada pela
Equação 3, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op. cit.):
Rt = R t1 + R t2 + ..... + Rtn + Rar1 + Rar2 + ..... + Rarn (Equação 3)

1
A resistência térmica de superfície a superfície (Rt) de um componente plano constituído de camadas
homogêneas e não homogêneas, perpendiculares ao fluxo de calor, é determinada pelo cálculo de
proporcionalidade, conforme a Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, 1998).
163

onde
R t1, R t2, …, Rtn: são as resistências térmicas das n camadas homogêneas [(m2.K)/W],
determinadas pela Equação 4;
Rar1, Rar2, ..., Rarn: são as resistências térmicas das n câmaras de ar [(m2.K)/W], que,
quando não ventiladas, podem ser obtidas na Tabela B.1 do Anexo B da
Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.).

A resistência térmica (R) de uma camada homogênea de material sólido é determinada


pela Equação 4, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op. cit.):

R = e/λ (Equação 4)

onde
R: é a resistência térmica [(m2.K)/W];
e: é a espessura da camada de material (m) (dado de projeto);
λ: é a condutividade térmica do material [W/(m.K)], tabelada na Parte 2 da Norma de
Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.).
Para o cálculo da transmitância térmica de coberturas, nos casos de câmara de ar
ventilada em condições de verão, ou de câmara pouco ventilada em condições de inverno, a
resistência térmica da câmara será igual à da câmara não ventilada e obtida da Tabela B.1 do
Anexo B, da Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.).
Mas, em condições de inverno em câmara muito ventilada, a camada externa à
câmara não será considerada e a resistência térmica total (ambiente a ambiente) deve ser
calculada pela Equação 5, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações
(UFSC, op. cit.):

RT = 2.Rsi + Rt (Equação 5)

onde
Rt: no caso de coberturas, é a resistência térmica [(m2.K)/W] do componente localizado entre
a câmara de ar e o ambiente interno - forro; é calculada segundo a Equação 3;
Rsi: é a resistência superficial interna [(m2.K)/W], que pode ser obtida na Tabela A.1 do
Anexo A da Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.).
164

Inércia Térmica ou Atraso Térmico (ϕ) é o tempo que transcorre entre os momentos
de ocorrência da temperatura máxima do ar no exterior e no interior da edificação, quando se
verifica um fluxo de calor através de um componente construtivo submetido a uma variação
periódica da temperatura do ar no exterior. O atraso térmico depende da capacidade térmica
do componente construtivo e da ordem em que as camadas estão dispostas.
Segundo a referida Norma (UFSC, op. cit.), a capacidade térmica é a quantidade de
calor necessária para variar em uma unidade a temperatura de um componente, por unidade de
área. A capacidade térmica de componentes pode ser determinada pela Equação 6, conforme a
Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op. cit.): 2

n n
CT = λ i .R i .c i .ρi = e i .c i .ρi
i=1 i=1 (Equação 6)

onde
λi: é a condutividade térmica do material da i-ésima camada, que pode ser obtida na Tabela B.3
da Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.);
Ri: é a resistência térmica da i-ésima camada, calculada por meio Equação 4;
ei: é a espessura da i-ésima camada (dado de projeto);
ci: é o calor específico do material da i-ésima camada, tabelado na Parte 2 da Norma de
Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.);
ρi: é a densidade de massa aparente do material da i-ésima camada, tabelada na Parte 2 da
Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.).

Em uma placa homogênea (constituída por um único material) com espessura “e” e
submetida a um regime térmico com um período de 24 horas, o atraso térmico pode ser
estimado pelas Equações 7 ou 8, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações
(UFSC, op. cit.):

λ .c (Equação 7)
ϕ = 1,382.e.
3,6.λ

2
A capacidade térmica de um componente plano constituído de camadas homogêneas e não homogêneas é
obtida pelo cálculo de proporcionalidade, na Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico de Edificações
(UFSC, 1998).
165

ϕ = 0,7284. R t .C T (Equação 8)

onde
ϕ: é o atraso térmico (horas);
e: é a espessura da placa (m), (dado de projeto);
λ: é a condutividade térmica do material [W/(m.K)], tabelada na Parte 2 da Norma de
Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.);
ρ: é a densidade de massa aparente do material (quociente da massa pelo volume aparente de
um corpo) (kg/m3), tabelada na Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op.
cit.);
c: é o calor específico do material [kJ/(kg.K)], tabelado na Parte 2 da Norma de Desempenho
Térmico (UFSC, op. cit.);
Rt: é a resistência térmica de superfície a superfície do componente [(m2.K)/W], calculada
mediante a Equação 3;
CT: é a capacidade térmica do componente [kJ/(m2.K)], calculada por meio da Equação 6.
Para componentes formados por diferentes camadas paralelas perpendiculares ao fluxo
de calor, o atraso térmico é determinado através da Equação 9, 10 e 11, conforme a Norma de
Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op. cit.):

ϕ = 1,382.R t . B1 + B 2 (Equação 9)

onde
Rt: é a resistência térmica de superfície a superfície do componente [(m2.K)/W], calculada
mediante a Equação 3;
B1: é dado pela Equação 10;
B2: é dado pela Equação 11.

B0 (Equação 10)
B1 = 0,226.
Rt

onde
166

B0: é dado pela Equação 12.

(Equação 11)
æ (λ.ρ.c) ext öæ R − R ext ö
B 2 = 0,205.çç ÷÷.ç R ext − t
è Rt è 10

Se B2 < 0 considerar B2 = 0.

B0 = CT - CText (Equação 12)

onde
CT: é a capacidade térmica total do componente [kJ/(m2.K)], calculada pela Equação 6;
CText: é a capacidade térmica da camada externa do componente [kJ/(m2.K)].

O Fator de Calor Solar (FS) é o quociente da energia solar absorvida por um


componente pela energia solar total incidente sobre a superfície externa do mesmo.
O fator de calor solar (ou apenas fator solar) é dado pela Equação 13, conforme a
Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op. cit.):

FS = 100.U.α.Rse (Equação 13)

onde
FS: é o fator solar em percentagem;
U: é a transmitância térmica do componente [W/(m2.K)], calculada por meio da Equação 1;
α: é a absortância à radiação solar – função da cor (quociente da taxa de radiação solar
absorvida por uma superfície pela taxa de radiação solar incidente sobre esta mesma
superfície), tabelada na Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.);
Rse: é a resistência superficial externa, que pode ser obtida na Tabela A.1 do Anexo A da
Parte 2 da Norma de Desempenho Térmico (UFSC, op. cit.).
167

Como Rse é admitido constante e igual a 0,04, a Equação 13 pode ser reescrita na
forma da Equação 14, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC, op.
cit.):
(Equação 14)
FS = 4.U.α

Quando se deve respeitar um limite de fator solar para uma determinada região, pode-
se determinar o máximo valor de α em função do fator solar e da transmitância térmica,
conforme mostra a Equação 15, obtida da Norma de Desempenho Térmico de Edificações
(UFSC, op. cit.):

α ≤ FS/(4.U) (Equação 15)

No Apêndice D: Exemplo de cálculo das características termofísicas, encontra-se o


procedimento de cálculo descrito acima aplicado ao sistema construtivo de número 1: MLC.

5.2.2 Cálculo das Características Termofísicas das Paredes:


Valores “Originais e Equivalentes”

Em razão das fachadas serem compostas de paredes, vidros e outros elementos, foram
necessários, além dos cálculos originais das características termofísicas do material
predominante das paredes de vedação, também os cálculos dos outros elementos (como os
vidros, madeira ou metal das aberturas). Denominou-se de “U, ϕ e FS originais” os valores
encontrados inicialmente para as características termofísicas das paredes dos sistemas
construtivos. Os cálculos refeitos, nos quais também foram considerados os outros materiais
que compõem as fachadas, proporcionalmente à sua área em relação à superfície externa total,
foram denominados “U, ϕ e FS equivalentes” (Tabela 6). Com estes resultados, e tendo como
objetivo principal identificar com maior precisão as variáveis de maior influência no
desempenho térmico nas moradias, foi realizada uma Avaliação Paramétrica.
168

TABELA 6: VALORES DAS CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS “ORIGINAIS” E “EQUIVALENTES”


PARA AS PAREDES EXTERNAS DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS
CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS - PAREDES
ORIGINAIS EQUIVALENTES
sistemas construtivos U [W/m2K] ϕ [horas] FS [adim.] U [W/m2K] ϕ [horas] FS [adim.]
MLC 2,76 3,6 4,4 2,96 3,4 8,9
Batistella 3,7 0,9 5,9 3,82 0,9 13,2
Kürten 3,16 1,1 10,1 3,31 1,1 15,2
3P 1,59 4,4 4,8 2,07 3,9 11,3
Constroyer 0,39 5,8 0,6 0,99 5,1 8,8
A Gutierrez 2,88 2,8 5,8 3,18 2,5 10,5
Todeschini 3,44 1,8 12,0 3,6 1,7 17,7
Epotec 0,53 5,4 0,7 1,23 4,6 11,6
ABC 1,84 2,4 2,2 2,34 2,1 10,4
Eternit 2,53 1,7 3,0 2,99 1,5 13,8
A Ribeiro 2,74 2,5 5,5 2,94 2,3 11,2
Facicasas 5,22 1,0 16,7 5,12 1,0 20,5
Paineira 2,55 4,0 2,6 2,88 3,6 9,5
Jose Tureck 1,35 3,2 1,6 1,58 3,0 5,6
Cohab-Pará 2,48 2,4 6,9 2,55 2,3 8,6
Castellamare 3,3 3,4 4,0 3,53 3,0 12,2
Tetolar 5,22 1,0 6,3 5,29 0,9 12,9
CHJ 4,64 2,2 7,4 4,82 1,8 17,8

Os valores das três características termofísicas encontrados nos cálculos originais e


nos cálculos equivalentes apresentaram as maiores diferenças principalmente nos sistemas
construtivos Constroyer e Epotec, nos quais os materiais predominantes das paredes de
vedação possuem características isolantes (respectivamente, poliestireno expandido e
poliuretano rígido).
Também foram encontradas diferenças significativas para os sistemas construtivos 3P,
ABC, Eternit e Castellamare.
Os valores com maiores alterações foram os de fator de calor solar (FS), nos quais
interferem a transmitância térmica (U) do material e a cor da pintura externa. No cálculo
original, em que não são considerados os materiais das aberturas, nove sistemas construtivos
atendiam ao critério estabelecido pela Norma (UFSC, 1998), em que o valor de FS deveria ser
≤ 5,0. Quanto ao fator de calor solar recalculado ou “equivalente”, nenhum dos sistemas
construtivos atende a este critério, sendo o José Tureck o que mais se aproxima do valor
recomendado.
No entanto, quanto ao atendimento aos níveis de desempenho mínimo estabelecidos
pela Norma (ABNT, 2002) para a transmitância e para o atraso térmico, praticamente não
houve alterações dos sistemas construtivos entre os valores originais e equivalentes. Para os
dois outros níveis de desempenho, algumas tecnologias apresentavam valores de
169

transmitância compatíveis com os de desempenho elevado e passaram a alcançar valores


apenas para desempenho superior (3P), ou de desempenho superior para desempenho mínimo
(Eternit, Paineira).
Quanto às paredes e em relação às recomendações da Norma, parecem ter condições
mais próximas das ideais (nível de desempenho elevado) em todos os critérios, os sistemas
construtivos Constroyer, José Tureck e Epotec.

5.2.3 Cálculos das Características Termofísicas da Cobertura

Embora a Norma de Desempenho Térmico recomende os cálculos das características


termofísicas da cobertura para o verão, os cálculos foram feitos para ambos os períodos, para
efeito de análise. Na realidade, os limites indicados na Norma, consideram tanto o verão
quanto o inverno. Quando o texto menciona que se deve considerar a situação de verão, está
se referindo exclusivamente ao valor da resistência térmica de uma câmara de ar (em
coberturas) e, neste caso, há uma margem de segurança, pois esta resistência é menor em
fluxo térmico descendente. Assim, os limites aceitáveis para a transmitância representam
sempre “a pior situação”, pensando-se nos climas predominantes no Brasil. Os valores para os
períodos de inverno e verão da cobertura podem ser observados na Tabela 7.

TABELA 7: VALORES DAS CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS PARA AS COBERTURAS DOS


SISTEMAS CONSTRUTIVOS NO INVERNO E NO VERÃO
CARACTERÍSTICAS TERMOFÍSICAS – COBERTURAS
INVERNO VERÃO
ϕ [horas] ϕ [horas]
2 2
sistemas construtivos U [W/m K] FS [adim.] U [W/m K FS [adim.]
MLC 2,50 3,9 7,3 1,80 4,5 5,2
Batistella 3,75 0,5 11,0 2,02 0,9 5,9
Kürten 2,80 0,8 8,7 2,01 1,0 6,3
3P 2,45 1,4 7,2 1,57 2,0 4,6
Constroyer 0,80 7,0 2,5 0,74 7,1 2,3
A Gutierrez 2,80 0,8 8,7 2,01 1,0 6,3
Todeschini 2,80 0,8 8,7 2,01 1,0 6,3
Epotec 2,48 0,8 7,7 1,84 0,9 5,7
ABC 3,75 0,6 11,7 2,01 1,0 6,3
Eternit 3,75 0,5 12,0 2,02 0,9 6,5
A Ribeiro 4,61 0,8 13,5 2,25 2,7 6,6
Facicasas 2,80 0,8 8,7 2,01 1,0 6,3
Paineira 4,61 0,8 13,5 2,25 2,7 6,6
Jose Tureck 2,80 0,8 8,7 2,01 1,0 6,3
Cohab-Pará 3,75 0,6 11,7 2,01 1,0 6,3
Castellamare 2,82 0,8 8,2 2,02 0,9 5,9
Tetolar 2,80 0,8 8,7 2,01 1,0 6,3
CHJ 4,73 0,3 14,8 2,26 0,6 7,0
170

As diferenças dos valores encontrados referentes às três características termofísicas


nos períodos de inverno e verão são significativas para as coberturas de todos os sistemas
construtivos, com exceção do sistema construtivo Constroyer, que tem um comportamento
térmico atípico: é o único que apresenta valores de transmitância compatíveis com o nível de
desempenho elevado. É, também, o único com atraso térmico de 3 horas e meia acima do
limite recomendado e bem acima dos apresentados pelos outros sistemas construtivos.
Para as coberturas, os critérios são estabelecidos pela Norma tendo em vista as
condições de verão. Pelas diferenças entre os cálculos para inverno e verão, pode-se observar
que, se os mesmos critérios fossem utilizados para os dois períodos, as coberturas seriam mais
adequadas ao clima de Curitiba no período do verão, quando nenhuma das coberturas deixa de
atender aos critérios mínimos de desempenho para a transmitância (U ≤ 2,3W/m2K), só dois
apresentam atraso térmico acima dos valores recomendados (ϕ ≤ 3,5h) e a maioria atende
também ao critério de fator de calor solar (FS ≤ 6,5).
Se os mesmos critérios valessem para o inverno curitibano, somente a Constroyer
atenderia aos critérios para a transmitância e para o fator de calor solar para nível de
desempenho elevado (U ≤ 1,0W/m2K) e só a Constroyer e a MLC deixariam de atender ao
critério para desempenho elevado de atraso térmico (ϕ ≤ 3,0h). Além disso, no inverno local,
os diferentes níveis de desempenho não seriam utilizados: ou se alcançaria o nível de
desempenho elevado ou nenhum, pois tecnologia alguma atendeu aos níveis de desempenho
mínimo e superior. Observa-se, portanto, quanto às coberturas dos sistemas construtivos, não
só diferenças significativas entre os cálculos para os dois períodos (inverno e verão), como
também que os critérios estabelecidos para o verão não seriam aplicáveis no inverno, para a
Zona Bioclimática 1.

5.2.4 Comparações entre as Características Termofísicas dos Materiais


e as Porcentagens de Conforto

Nos Gráficos a seguir, pode-se observar o desempenho dos materiais dos sistemas
construtivos em relação à porcentagem de horas de conforto ou desconforto por frio ou calor
apresentada pelas moradias nos períodos de medição, comparado aos valores obtidos para as
suas características termofísicas e aos valores estabelecidos pela Norma, tendo como
referência os valores para o nível de desempenho mínimo.
171

As Figuras 47 a 49 apresentam os resultados para o período de inverno.

FIGURA 47 – PORCENTAGENS DE CONFORTO, TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E


COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO

100 6

90
5
80

70
4

[U]
60

transmitância
horas [%]

U [W/m2K]
50 3

40
2
30

20
1
10

0 0
6 3 2 7 13 14 17 5 10 9 11 12 18 1 4 8 16 15 Ext
sistemas construtivos

frio [%] conforto [%] calor [%] Upar Ucob Upar, Norma Ucob, Norma

FIGURA 48 – PORCENTAGENS DE CONFORTO, ATRASO TÉRMICO (ϕ) DAS PAREDES E


COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO

100 8

90
7

80
6
70
inércia térmica [Fi]

5
60
horas [%]

ϕ [h]

50 4

40
3

30
2
20
1
10

0 0
6 3 2 7 13 14 17 5 10 9 11 12 18 1 4 8 16 15 Ext
sistemas construtivos

frio [%] conforto [%] calor [%] Fi par Fi cob Fi par, Norma Fi cob, Norma
172

FIGURA 49 – PORCENTAGENS DE CONFORTO, FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E


COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – INVERNO

100 25

90

80 20

70

fator de calor solar [FS]


FS [ adimensional ]
60 15
horas [%]

50

40 10

30

20 5

10

0 0
6 3 2 7 13 14 17 5 10 9 11 12 18 1 4 8 16 15 Ext
sistemas construtivos

frio [%] conforto [%] calor [%] FS par FS cob FS par, Norma FS cob, Norma

Para o inverno (Figura 47 e 48), em relação à porcentagem de horas em conforto, a


melhor situação se verificou no sistema construtivo de número 6, Andrade Gutierrez (de
tijolos de solo-cimento), com transmitância (U) da parede no limite e transmitância (U) da
cobertura fora dos parâmetros recomendados pela Norma, e inércias térmicas (ϕ) da parede e
cobertura bastante dentro dos limites recomendados. A pior situação foi demonstrada pelo
sistema 15, Cohab-Pará (de tijolos cerâmicos vazados), com características de transmitância
(U) e inércia térmica (ϕ) bastante semelhantes ao sistema 6, Andrade Gutierrez, exceto por
apresentar a transmitância (U) da cobertura acima do valor recomendado. Em vista dessas
duas situações, ambas as moradias apresentam uma diferença apenas quanto à ventilação da
cobertura, pois, embora os materiais sejam diferentes, U e ϕ são semelhantes.
Considerando os limites recomendados para transmitância (U) das paredes e
coberturas, apenas o sistema 5, Constroyer (de poliestireno expandido entre telas de aço e
revestido com argamassa), atende aos parâmetros recomendados. Neste caso, os valores
encontrados para a inércia térmica (ϕ) da parede e da cobertura, encontram-se bem acima dos
valores das outras tecnologias e dos indicados pela Norma. Quanto aos valores de fator de
calor solar (FS) encontrados para o inverno (Figura 49), também o único dos sistemas
construtivos a atender as recomendações da Norma e, ainda assim, somente para a cobertura,
173

é o de número 5, Constroyer. Porém, este sistema não apresenta o melhor desempenho


térmico em relação à porcentagem de horas em conforto.
No inverno, em relação à transmitância (U), à inércia térmica (ϕ) e o fator de calor
solar (FS), não se identifica graficamente, de forma clara, uma tendência entre as
porcentagens de horas nas faixas de conforto térmico e as características termofísicas dos
materiais. Portanto, para o inverno, poder-se-ia supor que outros parâmetros seriam mais
definidores do conforto térmico, tais como área de ventilação, ganho solar através das
aberturas, material e orientação das esquadrias, bem como os padrões de uso das moradias:
ocupação, operação de portas e janelas e uso de equipamentos. Considerando-se que todas as
casas possuem tipologias muito semelhantes, paredes externas de dimensões quase iguais
(planta quadrada) e que os equipamentos de medição HOBO foram instalados no centro das
casas, considera-se que, neste caso específico, a orientação solar não seria determinante sobre
os níveis de conforto medidos.
As Figuras 50 a 52 apresentam os resultados para o período de verão.

FIGURA 50 – PORCENTAGENS DE CONFORTO, TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E


COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – VERÃO

120 6

100 5

80 4

transmitância [U]
hora [%]

60 3 U [ W/m2K]

40 2

20 1

0 0
5 6 14 15 16 4 1 18 13 17 9 7 12 8 3 10 2 11 Ext
sistemas construtivos

frio [%] conforto [%] calor [%] Upar Ucob Upar, Norma Ucob, Norma
174

FIGURA 51 – PORCENTAGENS DE CONFORTO, ATRASO TÉRMICO (ϕ) DAS PAREDES E


COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – VERÃO

120 8

7
100

80

inércia térmica (Fi)


5
horas [%]

ϕ[h]
60 4

3
40

20
1

0 0
5 6 14 15 16 4 1 18 13 17 9 7 12 8 3 10 2 11 Ext
sistemas construtivos

frio [%] conforto [%] calor [%] Fi par Fi cob Fi par, Norma Fi cob, Norma

FIGURA 52 – PORCENTAGENS DE CONFORTO, FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E


COBERTURAS E RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – VERÃO

120 25,0

100
20,0
fator de calor solar [FS]

80
FS [ adimensional ]

15,0
horas [%]

60

10,0
40

5,0
20

0 0,0
5 6 14 15 16 4 1 18 13 17 9 7 12 8 3 10 2 11 Ext
sistemas construtivos

frio [%] conforto [%] calor [%] FS par FS cob FS par, Norma FS cob, Norma
175

Para o verão (Figura 50 e 51), em melhor situação ficou o sistema construtivo de


maior inércia térmica (ϕ) e menor transmitância (U) dos fechamentos: o sistema construtivo
5, Constroyer (de poliestireno expandido revestido com argamassa). Tanto a parede como a
cobertura apresentam índices de transmitância (U) bastante dentro dos limites recomendados
pela Norma. A inércia térmica (ϕ) da parede é compatível ao nível de desempenho elevado e a
da cobertura situa-se bem acima dos valores recomendados.
A pior situação foi a do sistema construtivo 11, Andrade Ribeiro (de painéis duplos de
concreto com câmara de ar), apresentando índices de transmitância (U) da cobertura e da
parede próxima dos limites recomendados e inércia térmica (ϕ) tanto de parede quanto de
cobertura, atendendo às recomendações da Norma para desempenho de nível elevado. Em
vista dessas duas situações, pode-se supor que enquanto a transmitância (U) parece influir no
grau de conforto, a inércia térmica (ϕ) não o faz.
Em relação ao fator de calor solar (FS) no verão (Figura 52), todos os sistemas
construtivos apresentam, para as paredes, valores acima dos valores recomendados. Além
disso, observa-se a tendência de crescimento dos valores de FS das paredes em relação ao
crescimento da porcentagem de horas em desconforto por calor. Em relação às coberturas,
essa tendência é menos pronunciada e quase todos os sistemas apresentam valores
compatíveis com os recomendados pela Norma.
Analisando os três Gráficos referentes ao verão quanto à tendência, observa-se que,
enquanto o Gráfico de transmitâncias (U) (Figura 50) e o de fator de calor solar (FS) (Figura
52), sugerem que valores fora dos limites recomendados correspondem a situações de maior
desconforto, o Gráfico de atrasos térmicos (ϕ) (Figura 51) mostra que o desconforto tende a
aumentar quando os valores se encontram abaixo dos limites fixados, levando à conclusão de
que os limites para ϕ deveriam ser vistos como mínimos e não máximos.
Algumas exceções são verificadas nos dois Gráficos de verão, como os sistemas
construtivos de número 8, Epotec (de painéis de madeira com interior de poliuretano rígido e
revestidos com argamassa epóxi) e 9, ABC (de painéis de concreto celular), ambos com os
índices de transmitância (U) de parede e cobertura dentro dos limites recomendados e com
desempenho abaixo da média. Note-se, ainda, que a inércia térmica (ϕ) da parede do sistema
de número 8, Epotec, alcança o nível de desempenho elevado, contradizendo a tendência
demonstrada pelo Gráfico de diminuição das horas de conforto paralela à diminuição da
inércia térmica.
176

Nos Gráficos (Figuras 47 a 52), que relacionam as porcentagens de horas em conforto


com as características termofísicas dos materiais, de modo geral, comparando-se as duas
situações analisadas, notou-se que, enquanto no verão as características termofísicas da
envoltória parecem ser fator determinante do desempenho térmico das moradias, no inverno,
outros fatores interferem no desempenho, de forma integrada ou não. Observa-se, porém, que,
no período de inverno, as variações das faixas de conforto não foram significativas,
dificultando as análises.

5.2.5 Comparações entre as Características Termofísicas dos Materiais


e os Somatórios de Graus-hora

Os resultados do somatório de graus-hora (Figuras 53 a 58) apresentaram variações


mais significativas entre as moradias do que as porcentagens de horas nas faixas de conforto
(Figuras 47 a 52), principalmente no período de inverno. Esta maior variação nos resultados
facilita a comparação entre o desempenho térmico verificado por meio das medições e o
atendimento às recomendações da Norma de Desempenho Térmico de Edificações (UFSC,
1998, ABNT, 2002), em relação às características termofísicas para os materiais dos
fechamentos.
Observa-se que, no período de inverno, os Gráficos de somatório de graus-hora
(Figuras 53 a 55), apresentam outros sistemas construtivos como os de melhor desempenho,
diferentes dos considerados em relação à porcentagem de horas em conforto (Figuras 47 a
49). Quanto às tecnologias de pior desempenho, elas coincidem nos dois parâmetros.
177

As Figuras 53 a 54 apresentam os resultados para o período de inverno.

FIGURA 53 – GRAUS-HORA, TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E COBERTURAS E


RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO

5000 6

4500
5
4000

3500
4

transmitância2 [U]
graus-hora [ºC.h]

U [ W/m K]
3000

2500 3

2000
2
1500

1000
1
500

0 0
5 14 6 13 7 3 17 10 9 8 1 2 12 18 4 11 16 15 Ext
sistemas construtivos

graus-hora inv [%] Upar Ucob Upar, Norma Ucob, Norma

FIGURA 54 – GRAUS-HORA, INÉRCIA TÉRMICA (ϕ) DAS PAREDES E COBERTURAS E


RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – INVERNO

5000 8

4500
7

4000
6
3500
inércia térmica [Fi]
graus-hora [ºC.h]

5
3000
ϕ[h]

2500 4

2000
3

1500
2
1000

1
500

0 0
5 14 6 13 7 3 17 10 9 8 1 2 12 18 4 11 16 15 Ext
sistemas construtivos

graus-hora inv [%] Fi par Fi cob Fi par, Norma Fi cob, Norma


178

FIGURA 55 – GRAUS-HORA, FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E COBERTURAS E


RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – INVERNO

5000 25

4500

4000 20

3500

fator de calor solar [FS]


graus-hora [ºC.h]

3000 15

FS [ adimensional ]
2500

2000 10

1500

1000 5

500

0 0
5 14 6 13 7 3 17 10 9 8 1 2 12 18 4 11 16 15 Ext
sistemas construtivos

graus-hora inv [%] FS par FS cob FS par, Norma FS cob, Norma

Para o inverno (Figuras 53 a 55), em relação ao somatório de graus-hora, a melhor


situação se verificou no sistema construtivo de número 5, Constroyer (de poliestireno
expandido entre telas de aço e revestido com argamassa), que, considerando parede e
cobertura, é o único a atender aos parâmetros recomendados para transmitância (U). Além
disso, apresentou a inércia térmica (ϕ) bem acima dos valores encontrados para as outras
tecnologias ou indicados pela Norma e compatíveis com o nível de desempenho considerado
elevado. Este sistema construtivo só não atende ao fator de calor solar (FS) para parede, acima
do recomendado, mas tem, para a cobertura, o valor de FS mais baixo entre todas as
tecnologias. No Gráfico de transmitância (U) (Figura 53), pode-se observar uma tendência,
apesar das exceções (como o sistema construtivo 8, Epotec), que os valores crescentes de
transmitância correspondem ao aumento de somatório de graus-hora.
Pode-se dizer o mesmo em relação ao Gráfico de inércia térmica (ϕ) (Figura 54), com
os valores decrescentes de inércia térmica correspondendo ao somatório de graus-hora
crescente, principalmente observando-se as tecnologias de melhor e pior desempenho. As
exceções são os sistemas construtivos 8, 1 e 4.
Quanto aos valores de fator de calor solar (FS) encontrados para o inverno (Figura 55),
o sistema construtivo de número 5, Constroyer, é o único com valores dentro dos limites
179

considerados, e, ainda assim, somente para cobertura. Este sistema construtivo é o de melhor
desempenho em relação ao somatório de graus-hora. O segundo sistema construtivo de
melhor desempenho no inverno, o de número 14, José Tureck, apresenta o FS mais baixo para
parede, quase atendendo às recomendações da Norma (UFSC, 1998). Estes resultados
confirmam a importância do FS no desempenho térmico das edificações e corroboram a
referida Norma.
No período de inverno, observa-se uma tendência de aumento do somatório de graus-
hora correspondente aos valores crescentes de transmitância (U) e decrescentes de inércia
térmica (ϕ). Para os valores encontrados para o fator de calor solar (FS), embora as
tecnologias de melhor desempenho apresentem valores mais baixos, a linha de tendência é
menos visível.
As Figuras 56 a 58 apresentam os resultados para o período de verão.

FIGURA 56 – GRAUS-HORA, TRANSMITÂNCIA (U) DAS PAREDES E COBERTURAS E


RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – PERÍODO DE VERÃO

300 6

250 5

200 4
graus-hora [ºC.h]

transmitância (U)
2
U [ W/m K]
150 3

100 2

50 1

0 0
5 15 9 7 14 8 18 12 6 16 4 1 17 13 3 10 11 2 Ext
sistemas construtivos

graus-hora verão] Upar Ucob Upar, Norma Ucob, Norma


180

FIGURA 57 – GRAUS-HORA, INÉRCIA TÉRMICA (ϕ) DAS PAREDES E COBERTURAS E


RECOMENDAÇÕES DA NORMA (ABNT, 2002) – VERÃO

300 8

7
250
6

inércia térmica [Fi]


200
graus-hora [ºC.h]

ϕ[h]
150 4

3
100
2
50
1

0 0
5 15 9 7 14 8 18 12 6 16 4 1 17 13 3 10 11 2 Ext
sistemas construtivos

graus-hora verão] Fi par Fi cob Fi par, Norma Fi cob, Norma

FIGURA 58 – GRAUS-HORA, FATOR DE CALOR SOLAR (FS) DAS PAREDES E COBERTURAS E


RECOMENDAÇÕES DA NORMA (UFSC, 1998) – VERÃO

300 25,0

250
20,0
de calor solar] [FS]
200
graus-hora [ºC.h]

FS [ adimensional

15,0

150

10,0
100
fator

5,0
50

0 0,0
5 15 9 7 14 8 18 12 6 16 4 1 17 13 3 10 11 2 Ext
sistemas construtivos

graus-hora verão] FS par FS cob FS par, Norma FS cob, Norma


181

Para o verão (Figuras 56 a 58), as análises dos dois parâmetros (porcentagens de


horas nas faixas de conforto e somatório de graus-hora) apresentam diferenças em relação ao
desempenho térmico dos sistemas construtivos.
Melhores resultados foram, novamente, os do sistema construtivo de maior inércia
térmica (ϕ) e menor transmitância (U) dos fechamentos: o 5, Constroyer (de poliestireno
expandido revestido com argamassa), com índices de transmitância (U) bastante dentro dos
limites recomendados pela Norma e de inércia térmica (ϕ) da parede e da cobertura bem
acima dos valores estabelecidos.
Analisando os três Gráficos para verão, observa-se, quanto à tendência, que o Gráfico
de transmitâncias (U) (Figura 56) sugere que valores fora dos limites recomendados
correspondem a situações de maior desconforto. O Gráfico de atrasos (ϕ) (Figura 57) mostra
que o desconforto tende a aumentar quando os valores se encontram abaixo dos limites
fixados, levando novamente à conclusão de que os limites para ϕ deveriam ser vistos como
mínimos. Em relação ao fator de calor solar (Figura 58), observa-se a tendência de
crescimento dos valores de FS das paredes e cobertura em relação ao crescimento da
porcentagem de horas em desconforto por calor.
Nos Gráficos de somatório de graus-hora (Figuras 53 a 58), comparando-se as
situações de inverno e de verão, observa-se que, de modo geral, tanto no inverno como no
verão, as características termofísicas da envoltória parecem ser fator determinante do
desempenho térmico das moradias. Na análise anterior, dos Gráficos de porcentagem de horas
nas faixas de conforto (Figura 47 a 49), esta relação não tinha ficado clara para o período de
inverno.
Entretanto, ainda que a influência das características termofísicas dos materiais de
construção na obtenção do conforto térmico seja claramente perceptível, sabe-se que outras
variáveis interferem neste processo.
No próximo Item, procura-se investigar através da Análise de Regressão, qual o grau
de influência das características termofísicas dos materiais de construção na obtenção do
conforto térmico no interior da edificação, ou até que ponto outros fatores, associados ou não,
serão mais significativos.
182

5.3 ANÁLISE DE REGRESSÃO

Após a análise dos dados, procedeu-se à avaliação paramétrica mediante análise de


regressão, método estatístico utilizado para investigar o relacionamento existente entre
variáveis de um processo. Nesse tipo de análise, são estabelecidas fórmulas empíricas que
expressam as variações de um fenômeno, suas tendências no decorrer do tempo ou do
desenvolvimento de uma variável com sucessivas variações da outra. Para a execução de um
gráfico com duas variáveis (x e y), a reta ou curva obtida por meio dos pontos fixados mostra
graficamente a lei que relaciona causa e efeito. Cada tipo de curva resultante das ligações dos
pontos obtidos pode ter sua própria definição matemática ou fórmula (SERAPHIM, 1968).
Quando apenas duas variáveis estão envolvidas, trata-se de uma regressão linear simples (x é
variável independente ou regressora e y é denominada variável dependente ou variável
resposta) (WERKEMA, 1996).
O coeficiente de correlação (R) é uma quantidade adimensional que mede a força da
associação linear entre duas variáveis aleatórias (WERKEMA, op. cit.). Tal coeficiente
reflete a existência de uma certa influência entre dois fenômenos, no caso, as duas séries de
dados.
Quanto à presente pesquisa, procurou-se verificar o grau de correlação entre cada uma
das variáveis mencionadas (U, ϕ e FS – para parede e cobertura), com os respectivos graus de
conforto e desconforto térmico obtidos, os somatório de graus-hora e as médias das
temperaturas. Desta forma, procura-se verificar a associação linear (o coeficiente de
correlação R) entre o desempenho térmico e características termofísicas das envoltórias, para
o conjunto das 18 moradias avaliadas.
A priori, se reconhece que a relação não está exclusivamente associada às
características termofísicas analisadas de forma isolada – outros fatores como: taxa de
ventilação, ocupação e uso de equipamentos, dentre outros, interferem nesta relação. A
participação deste percentual de “erro”, ou seja, a presença de fatores diversos que torna a
associação de ambas as séries não exatamente linear, explica os baixos valores de R
encontrados.
Na Tabela 8, são apresentados nas duas últimas colunas (para inverno e verão), os
coeficientes de correlação (R) das características termofísicas dos diversos sistemas
construtivos em relação às porcentagens de horas em conforto ou desconforto, (por frio ou
calor), verificadas mediante a Avaliação de Desempenho Térmico.
183

TABELA 8: COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DA PORCENTAGEM DE HORAS EM


CONFORTO OU DESCONFORTO E DOS PARÂMETROS ANALISADOS PARA INVERNO
E VERÃO
INVERNO VERÃO
CARACTERÍSTICAS HORAS [%]
Coeficiente de Coeficiente de
TERMOFÍSICAS
correlação (R) correlação (R)
PAREDES
frio 0,05 0,28
U conforto 0,08 0,35
calor 0,23 0,34
frio 0,28 0,48
ϕ conforto 0,29 0,58
calor 0,06 0,55
frio 0,03 0,45
FS conforto 0,04 0,41
calor 0,12 0,38
COBERTURA
frio 0,03 0,42
U conforto 0,04 0,60
calor 0,12 0,59
frio 0,00 0,46
ϕ conforto 0,01 0,46
calor 0,17 0,43
frio 0,02 0,46
FS conforto 0,03 0,56
calor 0,13 0,54
*Pela estatística t de Student, para n=16, Rcrítico= 0,47

De um modo geral, comparando-se as duas colunas à direita, inverno e verão,


observou-se que, enquanto no verão as características termofísicas da envoltória parecem ter
influência significativa no desempenho térmico das moradias, no inverno, outros fatores
interferem no desempenho, de forma integrada ou não (ver Apêndice F: Teste de significância
para a Correlação Linear). Assim, para o inverno, poder-se-ia supor que outros parâmetros
seriam mais definidores do conforto térmico, tais como área de ventilação e sombreamento
das aberturas, bem como os padrões de uso das moradias: ocupação, operação de portas e
janelas e uso de equipamentos. Além disso, na verdade não há muita variação de um sistema
para outro no inverno.
Na comparação entre as características das paredes e da cobertura das diversas
moradias, observa-se que a maior influência em seu grau de conforto térmico é, nas paredes,
no verão, a inércia térmica; e na cobertura, e também apenas no verão, a transmitância
térmica e o fator de calor solar. Ou seja, o armazenamento do calor nas paredes influi nas
temperaturas internas mais do que a transmissão de calor através destes elementos ou a
absorção da radiação solar. Por outro lado, a grande carga térmica a que a cobertura está
184

submetida no verão faz com que a influência da transmissão de calor através dos materiais e
da absorção da radiação solar pelo telhado seja mais significativa.
Como nesta primeira etapa da Avaliação Paramétrica não foi possível verificar
resultados conclusivos quanto à correlação entre as horas de conforto e as propriedades
termofísicas das envoltórias das moradias, especialmente no inverno – em Curitiba, o período
de maior desconforto – resolveu-se investigar também a influência da orientação solar e da
radiação solar direta sobre as fachadas. A seguir, descreve-se o procedimento dessa
investigação.

5.4 ESTIMATIVA DAS HORAS DE SOL

Nesta etapa, foi realizado o levantamento dos elementos externos à moradia,


verificado o sombreamento causado pelas obstruções sobre o ponto central de cada pano de
fachada e, ainda, determinado o número de horas de Sol (nI) em cada fachada, nos solstícios
de inverno e de verão. Para fachadas de determinada orientação compostas de mais de um
plano, foi feito o cálculo de proporcionalidade. Obteve-se, então, o somatório de horas de Sol
de todas as fachadas de cada moradia nos dois solstícios (ver Apêndice E: Exemplo de análise
de sombreamento). A Tabela 9 apresenta o somatório de horas de Sol (nI) para cada moradia.
Além disso, resolveu-se investigar a influência da radiação solar direta sobre as áreas
envidraçadas e, conseqüentemente, do efeito estufa. Verificou-se para cada moradia analisada
a área de fachada e a respectiva porcentagem de vidro (área de vidro / área da fachada), que
foi multiplicada pelo número de horas de Sol nos solstícios de inverno e de verão. Obteve-se,
assim, o somatório do produto das horas de Sol pela porcentagem de área envidraçada de cada
fachada para cada moradia (nI%vidro) em ambos os solstícios, conforme a Tabela 9.
185

TABELA 9 – SOMATÓRIO DE HORAS DE SOL (nI) DE CADA MORADIA E SOMATÓRIO DO


PRODUTO DAS HORAS DE SOL PELA PORCENTAGEM DE ÁREA ENVIDRAÇADA
DAS FACHADAS DE CADA MORADIA (nI%VIDRO) NOS DOIS SOLSTÍCIOS
sistemas construtivos
6 3 7 2 13 14 17 5 10 9 11 12 18 1 4 8 16 15
% vidro
NO 5,1 9,7 0,0 2,2 10,4 5,2 2,6 5,9 11,5 19,4 0,0 5,7 12,0 7,5 0,0 10,9 13,2 0,0
NE 0,0 1,9 15,8 17,7 3,2 0,0 11,0 9,7 19,3 12,8 5,1 6,0 30,7 0,0 13,7 20,3 0,0 0,0
SE 9,2 9,7 14,2 8,0 19,4 6,3 8,4 6,7 0,0 0,0 7,7 2,6 6,7 5,2 0,0 15,7 15,6 5,4
SO 5,8 7,6 1,9 0,0 0,0 5,9 13,8 16,6 23,2 3,8 15,3 11,9 6,8 10,2 16,4 0,0 8,6 2,1
Total 20,1 29,0 31,9 27,9 33,0 17,5 35,8 38,9 53,9 36,1 28,0 26,1 56,3 22,8 30,2 47,0 37,3 7,5
nI inverno
NO 3,4 6,3 6,7 0,0 0,0 7,3 5,0 1,4 5,5 7,5 9,8 0,6 2,5 3,4 7,0 1,1 8,0 0,0
NE 5,5 1,8 3,2 0,0 3,5 0,0 5,9 1,0 0,7 4,0 4,0 5,6 5,8 5,0 6,0 0,3 5,8 0,7
SE 0,3 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,6 0,4 0,0 0,0 0,7 0,9 0,8 0,0 0,0 0,0 0,3 0,0
SO 2,3 3,0 1,5 1,5 1,6 1,4 1,9 2,0 0,3 1,3 2,6 1,5 0,6 2,8 0,0 2,0 0,7
Total 9,2 10,4 12,9 1,5 5,6 8,9 12,9 4,7 8,2 11,8 15,8 9,7 10,6 9,0 15,8 1,4 16,1 1,4
nI verão
NO 1,2 1,2 3,0 0,0 0,0 1,4 2,1 1,6 2,5 3,0 3,6 0,0 4,7 1,5 5,3 0,6 4,4 0,0
NE 5,0 2,3 4,4 3,0 5,5 0,0 5,3 1,4 1,3 0,0 4,4 4,4 4,5 4,9 5,5 0,5 4,9 2,2
SE 1,7 2,5 1,2 3,5 2,5 1,4 1,9 1,2 0,0 0,0 4,5 3,5 3,5 1,2 3,5 4,5 3,1 3,0
SO 4,8 2,0 4,2 4,5 3,4 4,4 5,1 3,4 2,6 1,5 2,1 5,2 3,5 5,0 5,5 0,0 4,6 2,3
Total 12,7 8,0 12,8 11,0 11,4 7,2 14,4 7,6 6,4 4,5 14,6 13,1 16,2 12,6 19,8 5,6 17,0 7,5
% vidro.nI
inverno
NO 17,2 61,2 0,0 0,0 0,0 38,3 13,2 8,3 63,0 145,7 0,0 3,4 30,1 25,5 0,0 12,0 105,3 0,0
NE 0,0 3,5 50,6 0,0 11,3 0,0 64,7 9,7 13,5 51,2 20,3 33,4 178,3 0,0 82,4 6,1 0,0 0,0
SE 2,8 0,0 0,0 0,0 11,6 0,0 5,0 2,7 0,0 0,0 5,4 2,3 5,4 0,0 0,0 0,0 4,7 0,0
SO 0,0 17,5 5,7 0,0 0,0 9,5 19,3 31,5 46,3 1,1 19,9 31,0 10,2 6,1 46,0 0,0 17,1 1,5
Total 19,9 82,1 56,3 0,0 23,0 47,7 102,1 52,1 122,8 198,1 45,6 70,1 224,0 31,6 128,4 18,1 127,1 1,5
% vidro.nI
verão
NO 6,1 11,7 0,0 0,0 0,0 7,3 5,5 9,4 28,6 58,3 0,0 0,0 56,6 11,3 0,0 6,6 57,9 0,0
NE 0,0 4,4 69,5 53,1 17,8 0,0 58,1 13,6 25,1 0,0 22,4 26,2 138,3 0,0 75,6 10,2 0,0 0,0
SE 15,7 24,3 17,1 28,0 48,4 8,9 15,9 8,1 0,0 0,0 34,4 9,0 23,5 6,2 0,0 70,7 48,4 16,3
SO 27,9 15,2 8,0 0,0 0,0 26,0 70,3 56,4 60,2 5,7 32,1 62,0 23,9 50,8 90,3 0,0 39,4 4,8
Total 49,7 55,6 94,6 81,1 66,2 42,3 149,9 87,4 113,9 64,0 88,9 97,2 242,3 68,3 165,9 87,5 145,7 21,1

Assim, obteve-se o somatório das horas de Sol (nI) de cada moradia, bem como o
produto das horas de Sol pela porcentagem de área envidraçada das fachadas de cada moradia
(nI%vidro).
A partir destes dados, foi realizada uma Avaliação Paramétrica entre os resultados
obtidos pelos cálculos das características termofísicas dos materiais da envoltória “U, ϕ e FS
equivalentes”, os valores de nI e os de nI%vidro, em relação ao desempenho térmico das
moradias no inverno e no verão. Considerou-se este desempenho a partir dos critérios de
porcentagens de horas nas faixas de conforto, os somatórios de graus-hora e as temperaturas
médias das mínimas e das máximas.
186

5.5 AVALIAÇÃO PARAMÉTRICA

Nas Tabelas 10, 11 e 12, são apresentados, nas duas últimas colunas, os coeficientes
de correlação para inverno e verão das características termofísicas dos diversos sistemas
construtivos (primeira coluna) em relação às porcentagens de horas em conforto (Tabela 10),
aos somatórios de graus-hora (Tabela 11) e às temperaturas médias das mínimas e das
máximas (Tabela 12), verificadas na Avaliação de Desempenho Térmico.

TABELA 10: COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DA PORCENTAGEM DE HORAS EM


CONFORTO E DOS PARÂMETROS ANALISADOS
CARACTERÍSTICAS INVERNO VERÃO
TERMOFÍSICAS horas em conforto [%] horas em conforto [%]
paredes
U 0,08 0,35
ϕ 0,29 0,58
FS 0,04 0,41
nI 0,04 0
nI%vidro 0,12 0,03
cobertura
U 0,04 0,60
ϕ 0,01 0,46
FS 0,03 0,56
*Pela estatística t de Student, para n=16, Rcrítico= 0,47

TABELA 11: COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DOS GRAUS-HORA E DOS


PARÂMETROS ANALISADOS
CARACTERÍSTICAS INVERNO VERÃO
TERMOFÍSICAS (base < 18ºC) (base > 29ºC)
paredes
U 0,31 0,27
ϕ 0,27 0,41
FS 0,25 0,11
nI 0,11 0,14
nI%vidro 0,17 0,02
cobertura
U 0,51 0,33
ϕ 0,50 0,10
FS 0,50 0,24
*Pela estatística t de Student, para n=16, Rcrítico= 0,47

TABELA 12: COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO EM FUNÇÃO DAS MÉDIAS DAS TEMPERATURAS


MÍNIMAS E MÁXIMAS E DOS PARÂMETROS ANALISADOS
CARACTERÍSTICAS INVERNO VERÃO
TERMOFÍSICAS (médias das mínimas) (média das máximas)
paredes
U 0,48 0,29
ϕ 0,66 0,35
FS 0,41 0,07
nI 0,14 0,26
nI%vidro 0,19 0,13
cobertura
U 0,61 0,32
ϕ 0,67 0,07
FS 0,60 0,22
*Pela estatística t de Student, para n=16, Rcrítico= 0,47
187

Obteve-se, assim, por meio de análise de regressão, o coeficiente de correlação (R)


entre cada uma das variáveis (U, ϕ e FS, nI e nI%vidro, para parede; e U, ϕ e FS, para
cobertura) e a porcentagem das horas em conforto térmico, os somatórios de graus-hora e as
médias das temperaturas das mínimas e das máximas, apresentados pelos dezoito sistemas
construtivos avaliados nos dois períodos: inverno e verão.
Os valores baixos dos coeficientes de correlação não indicam necessariamente a “falta
de importância” de determinada característica termofísica no desempenho térmico das
habitações analisadas (devido às ressalvas feitas no início do Item 5.3) entretanto, valores
mais altos indicam um maior grau de influência quanto a estas relações.
Conforme mencionado, na margem de “erro” admitida a priori, se reconhece que a
relação não está exclusivamente associada às variáveis analisadas, mas também interferem,
nesta relação, outras variáveis como: taxa de ventilação, ocupação e uso de equipamentos, o
que explica os baixos valores de R encontrados.
No entanto, conforme pode ser visualizado na Figura 59 (Gráfico com as correlações
encontradas), verifica-se um padrão que é repetido nas três análises, indicando os resultados
comentados a seguir.

FIGURA 59 – GRÁFICO COM AS CORRELAÇÕES ENCONTRADAS

0,8

0,7
R [ adimensional ] ]

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
o

o
r

r
O

nI

nI
r

r
ÃO
b

b
b

b
pa

pa
dr

dr
pa

pa

pa
pa

co

co

co

co

co

co
N

vi

vi
R

R
U

U
FS

FS
Fi

Fi
%

%
FS

FS
U

Fi

Fi
VE

VE
nI

nI
IN

Parâmetros analisados

análise graus-hora análise horas de conforto análise mínimas e máximas


188

5.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na comparação entre as características das paredes e da cobertura das diversas


moradias, observa-se que o mais alto índice de correlação (R) encontrado nas três análises é
de 0,67, que corresponde à inércia térmica da cobertura (ϕ) no inverno, obtida na Tabela das
temperaturas médias. No verão, o mais alto índice encontrado foi 0,60, correspondente à
transmitância (U) também da cobertura, na Tabela da porcentagem das horas em conforto.
Estes resultados levam ao questionamento sobre a influência da cobertura no
desempenho térmico da moradia, o que talvez possa ser explicado pelo fato de que, em todas
as casas avaliadas, a cobertura é a parte da envoltória que possui a maior superfície exposta
aos fatores climáticos.
No verão, a cobertura é submetida a uma grande carga térmica. A radiação solar global
incidente (Ig) pode chegar a 1137W/m² às 12 horas, em 22 de dezembro, na latitude de
25º25'Sul, bem mais alta do que a carga térmica máxima recebida pelas fachadas no mesmo
período: 707W/m² nas fachadas Leste e Oeste, às 8 e 16 horas respectivamente (FROTA &
SCHIFFER, 1995, p. 216). Essa enorme carga térmica na maior superfície exposta da
envoltória torna a influência da transmissão de calor através dos materiais e da absorção da
radiação solar pelo telhado significativa em relação ao número de horas de conforto ou
desconforto no interior da edificação.
No inverno, quando os raios solares incidem de forma oblíqua nesta latitude e a
radiação solar global incidente (Ig) no plano horizontal não é mais alta do que a incidente nas
orientações Noroeste, Norte e Nordeste (FROTA & SCHIFFER, op. cit.), a maior correlação
apresenta-se para a inércia térmica (ϕ) ou armazenamento do calor na cobertura,
principalmente em relação às médias das temperaturas mínimas internas (efeito de atraso
térmico e amortecimento). Isto também pode ser explicado pela maior dimensão da área
exposta em contato com a temperatura externa. Na cobertura, além da inércia térmica (ϕ), a
transmitância (U) e o fator de calor solar (FS) apresentaram, igualmente, graus de correlação
linear significativa (ver Apêndice F: Teste de significância para a Correlação Linear).
No inverno, quanto às paredes, a inércia térmica (ϕ) apresenta-se nas análises como
característica de importância, com um dos mais expressivos índices de correlação (R) em
relação às médias das temperaturas mínimas e máximas: 0,66 (Tabela 12). Na análise das
189

médias das temperaturas (Tabela 5), a transmitância (U) da parede também se verifica como
significativa, comparativamente aos outros índices encontrados: R = 0,48.
O fator de calor solar (FS) da parede também mostra ser de importância na terceira
análise, a das médias, com um índice de 0,41.
Para a cobertura, todos os parâmetros avaliados: transmitância (U), inércia térmica (ϕ)
e fator de calor solar (FS) demonstram ser essenciais no inverno, segundo as duas últimas
análises. Os índices de correlação (R) são comparativamente superiores aos encontrados em
todas as análises do verão, bem como aos encontrados em relação às paredes no inverno. É na
inércia térmica (ϕ) da cobertura no inverno, que se verifica o mais alto entre todos os índices
de correlação R = 0,67, na última análise, quanto às médias das temperaturas, no inverno.

No verão, os resultados verificados nas três análises (comp. Figura 59) indicam como
variáveis mais significativas a inércia térmica (ϕ) da parede e a transmitância (U) da
cobertura, que apresentam índices de correlação especialmente altos na Tabela 10 quanto aos
níveis de conforto: acima de 50%.
Verifica-se, aqui, novamente, a maior importância da transmitância (U) na cobertura
no verão devido à alta radiação solar direta, que incide quase perpendicularmente nesta época
do ano sobre a maior superfície da envoltória.
Já no caso das paredes, que recebem menos radiação solar direta que a cobertura, neste
período, a característica mais relevante permanece a da inércia térmica (ϕ), que atua com
efeito de amortecimento das altas temperaturas do ar em relação aos ambientes internos da
edificação.
Embora os índices (R) de correlação para o verão das análises das Tabelas 10, 11 e 12
apresentem diferenças, os três coincidem quanto às variáveis de maior importância: inércia
térmica (ϕ) da parede e transmitância (U) da cobertura.
As diferenças apresentadas entre os índices são explicadas pelo fato da análise quanto
à porcentagem de horas em conforto (Tabela 10) considerar apenas se a temperatura e a
umidade estão ou não na faixa considerada de conforto (conforme Givoni, 1992, para países
em desenvolvimento), e não o quanto a temperatura excede ou está abaixo desta faixa, ou
seja, não quantificando a intensidade do desconforto. Já nas análises dos somatórios de graus-
hora e das médias das temperaturas mínimas e máximas, a intensidade do desconforto é
levada em conta em relação à temperatura, enquanto a umidade nem é considerada.
190

Ainda assim, os índices significativamente mais altos na Tabela 10, especialmente


para o caso da inércia térmica das paredes, demonstram a importância deste tipo de análise
para o verão. A porcentagem das horas na faixa de conforto no período das medições no
interior das moradias foi alta no verão (77,25% em média) e baixa no inverno (12% em
média).
Entretanto, o mesmo não ocorre no inverno. Assim, se apenas tivesse sido analisada a
relação entre as variáveis em função dos níveis de conforto, comparando-se as duas colunas
da Tabela 10 (inverno e verão), poderia parecer que, enquanto no verão as características
termofísicas da envoltória influenciam fortemente o desempenho térmico das moradias, no
inverno outros parâmetros seriam mais definidores do alto grau de conforto térmico. Entre
eles, a área de ventilação e o padrão de uso das moradias: ocupação, operação de portas e
janelas e uso de equipamentos. Nas duas últimas análises, porém, verifica-se que as
características termofísicas analisadas têm influência significativa também no período de
inverno.
Considerando-se que, em Curitiba, o desconforto por frio é muito mais intenso que o
desconforto por calor, conclui-se que, para a adequação da moradia ao clima local, os
parâmetros de maior importância serão: a inércia térmica (ϕ), a transmitância (U) e o fator de
calor solar (FS) da cobertura e a inércia térmica (ϕ) das paredes.
Considerando-se os resultados obtidos para o verão, pode-se supor que, em climas
mais quentes, as características de maior influência serão: a inércia térmica (ϕ) da parede e a
transmitância (U) da cobertura.
Seguem, no próximo Capítulo, considerações finais sobre o trabalho, apresentando-se
algumas reflexões sobre cada etapa do trabalho.
191

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa avaliou o desempenho térmico de dezoito moradias selecionadas na Vila


Tecnológica de Curitiba, tirando proveito da existência de diferentes sistemas construtivos em
um mesmo local e da facilidade de proceder-se a uma análise simultânea dos mesmos. O
trabalho compreendeu três etapas básicas:
•= a medição de temperaturas in situ dos dezoito sistemas construtivos diferentes, nos
períodos de maior desconforto por frio (inverno) e por calor (verão), durante os quais as
moradias estiveram ocupadas. Mediante a instalação de data-loggers do tipo HOBO-
TEMP e HOBO-RH-TEMP (sensores de temperatura de bulbo seco e umidade relativa),
previamente programados, obteve-se para o período de inverno dados úteis de 591 horas e,
para o verão, dados úteis de 690 horas;
•= a Avaliação de Desempenho Térmico das moradias: os dados coletados em termos de
temperatura e umidade relativa, foram plotados no Diagrama Bioclimático de Givoni e
submetidos a uma Avaliação Bioclimática por meio do uso do software ANALYSIS, que
permitiu a quantificação das horas nas faixas de conforto e desconforto para cada moradia.
Com o tratamento dos dados, foram obtidas as temperaturas mínimas, médias e máximas,
o somatório de graus-hora de cada moradia e as médias das temperaturas mínimas e
máximas apresentadas em cada moradia nos períodos de monitoramento. Comparou-se,
em seguida, o desempenho térmico das moradias avaliadas com os parâmetros
recomendados pela Norma de Desempenho Térmico;
•= a Avaliação Paramétrica, realizada com o objetivo de subsidiar a referida Norma e etapa
conclusiva da pesquisa. Esta avaliação consistiu em uma comparação estatística,
utilizando-se o método da análise de regressão, investigando-se o coeficiente de
correlação entre os dados quantitativos de desempenho e os valores obtidos pelos cálculos
das características termofísicas dos materiais de cada moradia. Procurou-se, com este
procedimento, verificar o grau de influência de cada um dos parâmetros físicos
[transmitância (U), atraso térmico (ϕ) e fator de calor solar (FS), para parede externa e
cobertura] sobre o desempenho térmico das moradias nos períodos de maior
desconforto: inverno e verão.
Os resultados das medições confirmaram a condição de inverno como de maior
desconforto em Curitiba: a temperatura externa apresentou, no período monitorado no
192

inverno, a média das temperaturas mínimas de 4,73ºC (13,27ºC abaixo da faixa de conforto) e
a média das temperaturas máximas, no verão, de 28,49ºC (na faixa de conforto). No cálculo
do somatório de graus-hora (para o qual as temperaturas-base escolhidas foram os limites da
faixa de conforto, estabelecida por Givoni (1992), o período de inverno apresentou o índice de
4696,72 para temperaturas abaixo da Tb = 18ºC, enquanto o período de verão apresentou o
índice de 106,625 para temperaturas acima da Tb = 29ºC, ou seja, o desconforto maior é
devido ao frio em excesso.
Na Avaliação de Desempenho Térmico, para o período de inverno, todos os sistemas
construtivos apresentaram, no seu interior, alta porcentagem de horas com temperaturas na
faixa de desconforto por frio, com índices variando de 83,4% (Andrade Gutierrez) a 93,8%
(Cohab-Pará) das horas totais de medição no período.
Para este período, há uma correspondência entre os parâmetros de somatório de graus-
hora e as médias das temperaturas mínimas apresentadas pelos cinco sistemas construtivos de
melhor desempenho térmico: 5, Constroyer; 14, José Tureck; 6, Andrade Gutierrez; 13,
Paineira; e 7, Todeschini. Estas moradias alcançaram melhor amortecimento das temperaturas
frias do ar exterior. Excetuando-se estes cinco sistemas construtivos, não há mais
correspondência entre os dois parâmetros: as médias das mínimas não são, necessariamente,
proporcionais a um maior ou menor somatório de graus-hora.
Para o período de verão, as temperaturas internas das moradias apresentaram alta
porcentagem de horas com valores na faixa de conforto, com índices variando entre 61,8%
(Andrade Ribeiro) e 95,8% (Constroyer) das horas totais de medição. Neste período, cinco
sistemas construtivos superaram o ambiente externo em somatório de graus-hora
(apresentando um maior grau ou intensidade de desconforto por calor do que o ambiente
externo). Os sistemas construtivos que apresentaram melhor e pior desempenho quanto à
porcentagem de horas em conforto coincidiram com os de menor e maior amplitude térmica.
Mesmo assim, considerando-se todos os sistemas construtivos, não se verifica, para o período
de verão, uma correspondência entre as máximas ou médias apresentadas, a porcentagem de
horas nas faixas de conforto e o somatório de graus-hora. Em suma, no verão, considerando-
se os três os parâmetros, os sistemas construtivos de melhor desempenho (com um bom
amortecimento para temperaturas quentes) foram: 5, Constroyer (poliestireno expandido); 15,
Cohab-Pará (tijolo cerâmico vazado); 14, José Tureck, (concreto com poliestireno
expandido); 6, Andrade Gutierrez, (solo-cimento); 9, ABC (concreto celular); e 7 Todeschini
(madeira maciça).
193

Nos dois períodos, inverno e verão, quanto às temperaturas tomadas no interior das
moradias, observa-se em todas elas uma maior capacidade de amortecimento térmico em
relação às temperaturas frias externas. Apesar disto, as medições tanto no interior como no
exterior das moradias, apresentaram amplitude térmica bem maior no inverno do que no
verão. Contribuindo para este resultado, a queda da temperatura noturna, no verão, em geral,
não foi aproveitada pelos moradores que, por motivos de segurança, fecham as janelas à noite.
Verificou-se que a porcentagem de horas em cada faixa de conforto e as temperaturas
mínimas e máximas não são necessariamente correspondentes. Notou-se, também, que o
somatório de graus-hora e as médias das temperaturas mínimas e das máximas não denotam
necessariamente equivalência entre os seus resultados, embora o somatório de graus-hora
apresente, principalmente em relação às médias das máximas do período de verão, uma
considerável tendência nesse sentido. Em relação a isso, a análise com o parâmetro somatório
de graus-hora demonstrou ser mais significativa, quantificando não apenas o número de horas
em desconforto, mas associando a este a sua intensidade.
Algumas tecnologias apresentaram bom desempenho nos dois períodos analisados,
conforme os parâmetros de análise, somatório de graus-hora e porcentagem de horas em
desconforto, com bom amortecimento térmico nos dois extremos de temperatura. Nesse caso,
evidencia-se, em primeiro plano, o sistema construtivo de número 5, Constroyer (de
poliestireno expandido). Devem ser citados, ainda, os de número: 14, José Tureck (de
concreto leve com interior de poliestireno expandido), 6, Andrade Gutierrez (de solocimento)
e 7, Todeschini, (de madeira maciça).
Contudo, considerando-se as diferenças verificadas nos resultados quanto à aplicação
dos parâmetros de análise, em relação à porcentagem de horas em desconforto, a tecnologia
mais adequada ao clima de Curitiba foi a de número 6, Andrade Gutierrez (de tijolos de solo-
cimento); e, em relação ao somatório de graus-hora, a mais adequada foi a de número 5,
Constroyer (de poliestireno expandido revestido com argamassa).

Uma das principais idéias norteadoras da proposta original de Vila Tecnológica do


PROTECH, era a “identificação regionalizada de tecnologias alternativas para a construção de
habitação de baixo custo, respeitando-se a cultura e os fatores ambientais locais”, e das Vilas,
em particular, que “representassem unidades demonstrativas de tecnologias adaptadas ao meio
real” (SANTOS, 1994). Ora, as tecnologias somente são adaptadas ao meio real se
demonstrarem bom desempenho térmico, se utilizarem matéria-prima abundante no local e
194

técnicas conhecidas ou se forem facilmente assimiláveis pela comunidade, o que não ocorre
em grande parte dos sistemas construtivos analisados. Constatou-se que a adequação climática
relaciona-se de forma inegável com a cultura construtiva tradicionalmente empregada na
região. Na verdade, ambas se interrelacionam, havendo uma correspondência entre fatores
culturais, sejam eles construtivos ou não, e fatores do meio-ambiente, climáticos ou não.
Considerando-se as condições climáticas de Curitiba, pode-se comentar, em relação a
alguns critérios de Tecnologia Apropriada, como procedência, uso de matéria-prima local e
uso de técnica tradicional conhecida pela população:
•= os sistemas construtivos 5, Constroyer, e 14, José Tureck, que apresentaram ótimo
desempenho térmico nos dois períodos avaliados, são de empresas fabricantes de São
Paulo, cidade pertencente à Zona Bioclimática 3. Ambos utilizam técnicas e materiais não
encontráveis no primeiro planalto paranaense e pouco conhecidos pela população local;
•= os sistemas construtivos de números 6, Andrade Gutierrez, e 13, Paineira, cujas empresas
também são oriundas de outras regiões, respectivamente, de Belo Horizonte (MG) e
Brasília (DF) (Zonas Bioclimáticas 3 e 4), utilizam, no entanto, materiais encontráveis na
região de Curitiba como solo-cimento e concreto, e técnicas conhecidas, apresentando
desempenho melhor no inverno que no verão;
•= por seu bom desempenho no inverno, os sistemas construtivos baseados no emprego da
madeira, técnica tradicional da Região Sul do país, não podem ser descartados como
alternativa para habitação, levando-se em conta, também, o fator cultural. Destes,
apresentaram-se como melhores os de número 7, Todeschini, de madeira de lei maciça e
maior espessura, proveniente de Mato Grosso do Sul, que não utiliza matéria-prima local,
porém faz uso de técnica tradicional; e 3, Kürten, que é de empresa local e utiliza
madeiras e técnicas da região.
Assim, enquanto sistemas tradicionais apresentaram bons resultados, o sistema
construtivo de número 15, Cohab-Pará, por exemplo, proveniente de um outro extremo do
país (Zona Bioclimática 8), de condições climáticas, ambientais, sócio-econômicas e
tecnológicas bastante diferentes de Curitiba, mostrou-se pouco adaptado à realidade local.
Com o pior desempenho térmico no inverno, embora tenha apresentado um dos melhores
desempenhos no verão, demonstrou ser apropriado apenas para regiões de clima quente.
Igualmente contra-indicados são os sistemas que utilizam materiais não encontráveis na
região ou os que fazem uso de matéria-prima cuja extração e manuseio causam problemas
ambientais como a madeira de lei ou o fibrocimento.
195

Quanto ao desempenho térmico das coberturas, tanto no inverno como no verão, as


tecnologias de melhor desempenho foram as de coberturas de forro de madeira, câmara de ar
e telha cerâmica. Substituindo-se apenas as telhas cerâmicas pelas de fibrocimento, as
coberturas passam a caracterizar, também nos dois períodos, as tecnologias de pior
desempenho. No entanto, no verão, ao contrário do período de inverno, alguns dos sistemas
de melhor desempenho têm câmaras de ar ventiladas.
Em ambos os períodos, portanto, verificou-se a importância do tipo de telha na
obtenção do conforto térmico, notando-se um desempenho superior das moradias com telhas
cerâmicas, o que torna secundários tanto a influência da ventilação no ático, quanto o tipo de
forro empregado. Assim, devido à maior exposição diária ao Sol, o tipo de telhamento assume
grande importância no desempenho térmico das habitações térreas. Este resultado corrobora
as recomendações da Norma de Desempenho Térmico, que alerta sobre a diferença do
desempenho térmico das telhas de barro e de fibrocimento, apesar das semelhanças entre suas
transmitâncias térmicas. Estas diferenças devem-se à porosidade e à absorção da água que, ao
evaporar, dissipa parte do calor, reduzindo o seu fluxo para o interior da moradia.
Neste particular, enquanto a telha cerâmica é usualmente encontrável na região e sua
técnica de fabricação em olarias bastante difundida no país, o amianto empregado na
fabricação das telhas de fibrocimento provém, em grande parte, do exterior, sendo encontrado
no Brasil apenas nos estados de Goiás e Tocantins. Além disso, a fabricação e o uso do
amianto envolvem conseqüências ambientais, sendo esta técnica não tão difundida quanto a
da indústria cerâmica.

O cálculo das características termofísicas dos materiais visou à sua comparação com
o desempenho térmico obtido pelas moradias e com as recomendações da Norma de
Desempenho Térmico.
Quanto às paredes, em relação às recomendações da Norma, pôde-se observar que têm
as condições mais próximas das ideais (nível de desempenho elevado), nas três características
termofísicas consideradas [a transmitância (U), a inércia térmica (ϕ) e o fator de calor solar
(FS)], os sistemas construtivos 5, Constroyer, 14, José Tureck (com excelente desempenho
nos dois períodos avaliados) e 8, Epotec (que constituiu uma exceção, com um desempenho
térmico relativamente baixo nos dois períodos). O sistema construtivo 5, Constroyer, com a
maior inércia térmica (ϕ) e a menor transmitância (U) dos fechamentos, apresentou um
desempenho apenas médio no parâmetro de porcentagens de horas em conforto no inverno.
196

Mas, considerando-se o parâmetro de somatório de graus-hora no inverno e os dois


parâmetros no verão, este sistema construtivo apresentou o melhor desempenho entre as
dezoito tecnologias avaliadas. Suas características são bastante atípicas: o 5, Constroyer, é o
único sistema construtivo que atende aos parâmetros recomendados para transmitância (U)
das paredes e coberturas tanto no inverno como no verão, apresentando índices bastante
dentro dos limites recomendados pela Norma. Quanto à inércia térmica (ϕ) da parede, é
compatível ao nível de desempenho elevado e, quanto à da cobertura, situa-se bem acima (3,5
horas) do limite mínimo recomendado. Este sistema construtivo só não atende aos limites de
fator de calor solar (FS) da parede, acima do recomendado, mas, de outro lado, é o único que
apresenta o fator de calor solar (FS) dentro dos limites recomendados para cobertura, tanto no
inverno como no verão.
Procedendo-se à Avaliação Paramétrica, verificou-se que, na comparação entre as
características das paredes e da cobertura das diversas moradias, o mais alto índice de
correlação (R) encontrado nas três análises dos dois períodos corresponde à inércia térmica da
cobertura (ϕ) no inverno. No verão, o mais alto índice encontrado corresponde à transmitância
(U) da cobertura. A influência da cobertura no desempenho térmico das moradias avaliadas
pode ser explicada, como mencionado anteriormente, por ser esta a superfície mais exposta
aos fatores climáticos, submetida a uma grande carga térmica, principalmente no verão.
Assim, a transmissão de calor através dos materiais e a absorção da radiação solar pelo
telhado torna-se significativa em relação ao desempenho térmico da edificação. Na cobertura,
em ambos os períodos, além da inércia térmica (ϕ), a transmitância (U) e o fator de calor solar
(FS) apresentaram valores de correlação linear significativa.
Quanto às paredes, no inverno, a inércia térmica (ϕ) mostrou-se nas análises como
característica importante, com um dos mais expressivos índices de correlação (R) na análise
das médias. O fator de calor solar (FS) e a transmitância (U) da parede também mostram
valores significativos na análise das médias. No verão, embora os índices (R) de correlação
apresentem diferenças, os resultados verificados coincidem nas três análises, indicando como
variável de maior importância, também, a inércia térmica (ϕ).
Embora os resultados não signifiquem necessariamente uma relação de causa e efeito
(ver ressalvas feitas no início do Item 5.3), mostram correlações indiscutíveis entre algumas
das características termofísicas e o desempenho térmico das moradias analisadas. Devido à
margem de “erro” admitida a priori, não foram encontradas correlações fortes – e nem
197

poderiam, uma vez que se admite que a presença de fatores diversos interferem no
desempenho térmico das moradias, tais como:
•= variações de uso das unidades pelos moradores, como ocupação, o uso de equipamentos,
operação das aberturas etc;
•= influência das variáveis arquitetônicas: tipologias diferentes, variações de planta baixa, de
taxas de ventilação, distribuição das aberturas, sombreamento das aberturas, inclinação
dos planos da cobertura etc;
•= variações no posicionamento dos equipamentos de medição nas moradias monitoradas,
que, embora centralizados, foram colocados em ambientes de usos diferentes devido à
disposição dos ambientes em cada moradia.
No entanto, apesar de haver essa margem de erro, alguns valores se mostraram
estatisticamente significativos, conforme o teste de significância realizado. Os parâmetros
com valores mais altos podem ser tomados como relevantes na obtenção de maior
desempenho térmico.
Como dificuldades para realização desta pesquisa, pode-se citar:
•= o número pequeno das moradias analisadas;
•= a dificuldade de se acompanhar e obter dados precisos sobre as variações de uso por parte
dos moradores e sua influência no comportamento térmico de suas moradias durante as
avaliações (cerca de um mês em cada período); e
•= o grande número de variáveis que interferem no desempenho térmico das moradias.

Pode-se observar algumas limitações na Norma de Desempenho Térmico em


Edificações:
•= a falta de controle quanto à diversas variáveis que interferem no comportamento térmico
das moradias: área da residência, orientação solar, área e orientação das aberturas,
infiltração, ocupação (iluminação, equipamentos e número de pessoas);
•= não é sugerido um cálculo de equivalência das características termofísicas em relação aos
diferentes materiais que compõem as fachadas (paredes, portas, janelas, detalhes etc);
•= na versão da UFSC (1998) considera-se o fator de calor solar (FS) para fechamentos
opacos, mas não para fechamentos transparentes – no presente trabalho observa-se que o
cálculo de equivalência considerando-se proporcionalmente as áreas dos materiais que
compõem as fachadas, altera significativamente os valores de FS encontrados;
198

•= já na versão da ABNT (2002) considera-se o valor da absortância da radiação solar (α) e


não o de fator de calor solar (FS), muito mais representativo;
•= não se considera a influência da inclinação dos planos de cobertura no ganho de calor da
mesma e no auto-sombreamento;
•= os parâmetros considerados para o cálculo das características termofísicas da cobertura
são os de verão – não há parâmetros específicos para as coberturas na condição de
inverno, importantes para a Zona Bioclimática 1;
•= os resultados mostraram ser necessário um estudo mais aprofundado quanto aos limites
fixados para o atraso térmico das paredes e coberturas.

Os três tipos de análise realizados (porcentagens de horas nas faixas de conforto,


temperaturas médias das mínimas e das máximas e somatório de graus-hora) são relevantes. A
primeira análise mostrou resultados significativos apenas para o verão. Nas duas últimas,
porém, verifica-se que as características termofísicas da envoltória têm grande influência
também no inverno. Ainda, levando-se em conta os resultados obtidos para o verão, pode-se
concluir que, para climas mais quentes, as características de maior influência serão a inércia
térmica (ϕ) da parede e a transmitância (U) da cobertura. Quanto a este aspecto, observa-se
que a referida Norma de Desempenho Térmico foi elaborada tendo em vista situações de
clima quente, predominantes no território nacional.
Considerando-se o fato de que Curitiba é a capital mais fria do país e está inserida na
Zona Bioclimática 1, as estratégias de condicionamento térmico passivo indicadas pela
referida Norma refletem a preocupação com as condições de desconforto no período de frio.
Sendo assim, para o caso de Curitiba, sugere-se a introdução de parâmetros específicos para
as coberturas na condição de inverno e um estudo mais aprofundado quanto aos limites
fixados para o atraso térmico.

Sugestões para Pesquisas Futuras:


•= Medição in loco das características termofísicas utilizadas nas paredes e coberturas das
habitações analisadas, com instrumentação adequada;
•= Simulações de desempenho térmico com o intuito de investigar com maior profundidade
os índices recomendáveis de transmitância, atraso térmico e absortividade de paredes e
coberturas considerando-se o clima de Curitiba.
199

A análise desta experiência habitacional brasileira que visava à aplicação do conceito


de Tecnologias Apropriadas: a proposta das Vilas Tecnológicas do PROTECH (Programa de
Difusão de Tecnologias para a Construção de Habitação de Baixo Custo), em relação à
adequação climática das moradias à região onde estas se encontram, nos leva a algumas
considerações:
O reconhecimento dos sistemas construtivos empregados da Vila Tecnológica de
Curitiba que apresentaram melhor adequação ao clima e o estudo dos fatores de maior
influência em seu desempenho térmico, subsidiam a escolha de Tecnologias Apropriadas em
habitação de interesse social para locais de clima semelhante ao desta cidade.
Se, conforme o presente capítulo, pode-se dizer que, do ponto de vista climático,
algumas moradias são mais adequadas que outras, considerando-se outros critérios de TA’s,
como a disponibilidade de materiais na região e a compatibilidade cultural, as opções se
tornam ainda mais evidentes.
Os profissionais ligados ao projeto e à construção, através dos resultados desta
pesquisa e tendo conhecimento dos materiais encontrados na região, poderão optar por uma
tecnologia mais apropriada, que tenha um bom desempenho térmico e menor custo de
construção.
Mas não se deve esquecer que só haverá Tecnologias Apropriadas se houver
apropriação das tecnologias por parte da comunidade, ou seja, o fator mais importante é como
a comunidade vai fazer uso desta tecnologia. Neste sentido, a Vila Tecnológica de Curitiba,
carece da continuidade dos princípios que a fizeram surgir, como o acompanhamento e o
incentivo para que a população local seja envolvida por meio do aprendizado das tecnologias,
proporcionando a difusão das mesmas e o desenvolvimento sustentável da própria
comunidade. Este objetivo pode ser melhor alcançado por meio da conscientização da própria
comunidade de que a tecnologia construtiva que pretende utilizar proporciona, além de mais
uma alternativa concreta de renda familiar, o conforto térmico necessário para seu bem estar e
melhor desenvolvimento físico e mental, sem a utilização adicional de energia e decorrentes
custos materiais e ambientais.
Assim, a análise das tecnologias construtivas destinadas à habitação de baixo custo,
sob o prisma de sua adequação às condições climáticas locais, contribui com reais alternativas
para os modelos de programas habitacionais vigentes no país, e, ao contrário destes, de forma
a atender às diversidades regionais existentes e aos seus moradores.
200

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206

APÊNDICE A: Aferição dos equipamentos de medição

Os equipamentos de medição (data loggers HOBO), permaneceram em uma caixa de


isopor por um período de 12 horas. Após este período foram feitas as leituras, cujos resultados
estão representados na Figura 60.

FIGURA 60 – GRÁFICO DA AFERIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO

30,0

25,0

20,0
T [ºC]

15,0

10,0

5,0

0,0
1
28
55
82
109
136
163
190
217
244
271
298
325
352
379
406
433
460
487
514
541
568
595
622
649
676
703
730
757
784
811
838
865
892
t [h]

Hobo1 Hobo2 Hobo3 Hobo4 Hobo5 Hobo6 Hobo7 Hobo8 Hobo9


Hobo11 Hobo12 Hobo13 Hobo14 Hobo15 Hobo16 Hobo17 Hobo18 Hobo1

Na comparação entre os valores obtidos a média da temperatura ambiente dentro da


caixa de isopor foi de 21ºC sendo o desvio padrão de 1,6K e a variação máxima da
temperatura medida nos sensores com relação a esta média foi de 0,4K.
Esta diferença pode ser atribuída ao fato de, embora as tomadas de medições e a
programação dos aparelhos tenham sido feitas praticamente no mesmo horário, houve
diferenças de 40 segundos entre o primeiro equipamento a ser programado e o último. Além
disso, os aparelhos foram empilhados uns sobre os outros dentro da caixa, o que pode ter
gerado alguma diferença na temperatura.
207

APÊNDICE B: Tabelas de ocupação, ventilação e equipamentos

TABELA 13 – INVERNO – OCUPAÇÃO [%]: DIAS DE SEMANA

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro
Construtivos

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC

CHJ
Sistemas

3P

10

11

12

13

14

15

16

17

18
1

9
Mora- 5 6 6 3 4 4 4 5 3 2 1 3 3 5 3 2 4 5
dores

1h 100 100 67 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
2h 100 100 67 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
3h 100 100 67 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
4h 100 100 67 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
5h 100 100 67 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 75 100 80
6h 100 100 50 67 100 92 100 80 67 75 67 100 67 100 50 75 100 70
7h 100 100 50 67 25 62 87 36 33 50 67 100 100 100 0 75 75 60
8h 80 100 50 67 25 25 75 36 33 50 67 100 100 100 0 25 50 60
9h 60 100 50 33 25 25 75 36 33 50 67 83 100 100 0 25 50 60
10 h 60 100 50 24 25 25 75 36 33 50 27 83 100 100 0 25 50 60
11 h 60 100 41 7 25 25 75 36 50 50 27 83 100 100 0 25 50 70

12 h 60 100 33 7 50 12 75 36 67 50 27 100 100 100 0 50 50 60


13 h 60 97 50 7 50 0 75 36 67 50 27 100 100 100 0 50 75 60
14 h 60 93 50 40 50 0 75 36 67 50 27 83 100 100 0 50 50 60
15 h 60 93 50 40 50 0 75 36 67 50 27 83 100 100 0 50 50 60
16 h 60 93 50 40 50 12 75 36 67 50 27 83 100 100 0 50 50 80
17 h 60 93 50 40 50 25 75 36 67 50 67 83 100 92 0 50 50 80
18 h 60 100 41 33 50 25 75 80 67 75 67 100 87 84 50 50 100 80
19 h 60 100 33 33 100 25 75 80 67 100 67 100 73 84 100 50 100 90
20 h 100 100 33 67 100 25 87 92 100 100 100 100 73 84 100 100 100 100
21 h 100 100 50 67 100 25 100 92 100 100 100 100 73 84 100 100 100 100
22 h 100 100 63 67 100 25 100 92 100 100 100 100 67 84 100 100 100 100
23 h 100 100 65 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
24 h 100 100 67 67 100 100 100 92 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
* Os valores se referem à porcentagem de moradores presentes no intervalo de cada hora, tendo sido consideradas
proporcionalmente as frações de hora.
208

TABELA 14 – INVERNO – OCUPAÇÃO [%]: SÁBADO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
3P
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
mora 5 6 6 3 4 4 4 5 3 2 1 3 3 4 3 2 4 5
dores

1h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
2h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
3h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
4h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
5h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 50 100 100
6h 100 100 50 67 100 100 100 90 100 100 67 100 67 100 100 50 100 90
7h 100 100 50 67 100 100 87 30 100 100 67 100 100 100 100 50 100 80
8h 0 100 50 67 100 75 75 30 100 100 67 100 100 100 67 0 100 80
9h 0 100 50 67 100 75 75 30 100 75 67 0 100 100 67 0 80 80
10 h 0 100 50 67 100 75 75 30 100 50 67 0 100 100 67 0 80 80
11 h 0 100 42 67 100 75 75 30 100 50 67 0 100 100 67 0 80 90
12 h 0 100 33 67 100 62 75 30 100 100 67 0 100 100 100 50 100 100
13 h 0 100 33 67 100 50 75 30 100 100 67 0 100 100 100 50 100 100
14 h 0 100 33 67 100 50 75 30 100 100 67 0 100 100 67 50 20 100
15 h 0 100 33 67 0 50 75 30 100 50 67 0 100 100 67 50 20 100
16 h 0 100 33 0 0 62 75 30 100 50 67 0 100 100 67 50 20 100
17 h 0 100 33 0 0 75 75 30 100 50 67 0 100 100 67 50 20 100
18 h 60 100 33 67 100 75 75 90 100 100 67 0 67 100 100 50 20 100
19 h 100 100 33 67 100 75 75 90 100 100 67 0 33 100 100 50 20 100
20 h 100 100 33 67 100 75 87 90 100 100 100 0 33 100 100 100 100 100
21 h 100 0 42 67 100 75 100 90 100 100 100 100 33 100 100 100 100 100
22 h 100 0 50 67 100 75 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
23 h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
24 h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
* Os valores se referem à porcentagem de moradores presentes no intervalo de cada hora, tendo sido consideradas
proporcionalmente as frações de hora.
209

TABELA 15 – INVERNO – OCUPAÇÃO [%]: DOMINGO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
1 2 3 3P
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
mora 5 6 6 3 4 4 4 5 3 2 1 3 3 5 3 2 4 5
dores

1h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
2h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
3h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
4h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
5h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
6h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
7h 100 100 67 67 100 100 87 90 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
8h 100 100 67 67 0 75 75 70 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
9h 100 100 67 67 0 75 75 70 100 100 100 0 100 100 50 100 100 100
10 h 100 100 83 67 0 62 75 70 100 50 100 0 100 100 50 100 0 100
11 h 100 100 83 67 0 50 75 70 100 50 100 0 100 100 100 100 0 100
12 h 100 100 83 67 0 50 75 70 100 100 100 0 100 100 100 100 0 100
13 h 100 100 83 67 0 50 75 70 100 100 100 0 100 100 100 100 100 100
14 h 0 100 83 67 0 0 75 70 100 100 100 0 100 100 100 100 100 100
15 h 0 100 83 0 0 0 75 70 100 0 100 0 100 100 67 100 80 100
16 h 0 100 83 0 0 0 75 70 100 0 100 0 100 100 67 100 80 100
17 h 0 100 83 0 50 0 75 70 100 0 100 0 100 100 67 100 80 100
18 h 0 100 83 67 100 0 75 70 100 100 100 0 67 100 100 100 0 100
19 h 0 100 83 67 100 0 75 90 100 100 100 0 33 100 100 100 0 100
20 h 50 100 67 67 100 25 87 90 100 100 100 0 33 100 100 100 0 100
21 h 100 0 67 67 100 25 100 90 100 100 100 100 33 100 100 100 0 100
22 h 100 0 67 67 100 25 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
23 h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
24 h 100 100 67 67 100 100 100 90 100 100 100 100 67 100 100 100 100 100
* Os valores se referem à porcentagem de moradores presentes no intervalo de cada hora, tendo sido consideradas
proporcionalmente as frações de hora.
210

TABELA 16 – VERÃO – OCUPAÇÃO [%]: DIA DE SEMANA

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
3P
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
mora 5 6 6 2 4 4 5 5 3 3 1 4 3 7 3 2 4 5
dores

1h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
2h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
3h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
4h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
5h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 75 100 100
6h 100 100 67 100 100 92 100 80 67 83 0 100 67 100 67 75 100 80
7h 100 83 67 100 25 62 90 36 33 67 0 100 100 100 33 75 75 80
8h 80 67 67 100 25 50 80 36 33 67 0 100 100 100 33 25 75 80
9h 80 67 67 50 25 50 80 36 33 67 0 62 100 57 33 25 75 80
10 h 80 67 67 50 25 50 80 36 33 67 0 62 100 57 33 25 75 80
11 h 80 67 58 100 25 50 80 36 50 67 0 62 100 57 33 25 75 80
12 h 80 67 50 100 50 50 80 36 67 67 0 62 100 57 33 50 75 60
13 h 80 67 50 100 50 50 80 36 67 67 0 75 100 57 33 50 100 60
14 h 80 67 50 100 50 50 80 36 67 67 0 62 100 57 33 50 50 60
15 h 80 67 50 50 50 50 80 36 67 67 0 62 100 57 33 50 50 60
16 h 80 67 50 50 50 50 80 36 67 67 0 62 100 57 33 50 50 80
17 h 80 83 50 50 50 50 80 36 67 67 0 62 100 57 33 50 50 80
18 h 80 100 50 100 50 100 80 36 67 83 0 75 87 57 67 50 100 80
19 h 80 100 50 100 100 100 80 36 67 100 0 100 73 86 100 50 100 90
20 h 100 100 50 100 100 100 90 92 67 100 75 100 73 86 100 100 100 100
21 h 100 100 58 100 100 100 100 92 67 100 75 100 73 86 100 100 100 100
22 h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 86 100 100 100 100
23 h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
24 h 100 100 67 100 100 100 100 92 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
* Os valores se referem à porcentagem de moradores presentes no intervalo de cada hora, tendo sido consideradas
proporcionalmente as frações de hora.
211

TABELA 17 – VERÃO – OCUPAÇÃO [%]: SÁBADO

Castellamare
Cohab-Pará
José Tureck
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
3P
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
mora 5 6 6 2 4 4 5 5 3 2 1 4 3 7 3 2 4 5
dores

1h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
2h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
3h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
4h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
5h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 25 100 67 100 100 50 100 100
6h 100 100 67 100 100 92 100 90 67 100 25 100 67 100 100 50 100 90
7h 100 83 67 100 100 75 90 30 67 100 25 100 100 100 100 50 100 80
8h 0 67 67 100 100 75 80 30 67 100 25 100 100 100 67 0 100 80
9h 0 67 67 0 100 75 80 30 67 83 25 0 100 57 67 0 80 80
10 h 0 67 67 0 100 75 80 30 67 67 25 0 100 57 67 0 80 80
11 h 0 67 58 100 100 75 80 30 67 67 25 0 100 57 67 0 80 90
12 h 0 67 50 100 100 75 80 30 67 100 25 0 100 57 100 50 100 100
13 h 0 83 50 100 100 75 80 30 67 100 25 0 100 57 100 50 100 100
14 h 0 83 50 100 100 75 80 30 67 100 25 0 100 57 100 50 20 100
15 h 0 83 50 0 0 75 80 30 33 100 25 0 100 57 100 50 20 100
16 h 0 83 50 0 0 75 80 30 33 100 25 0 100 57 100 50 20 100
17 h 0 83 50 0 0 75 80 30 33 100 25 100 100 57 100 50 20 100
18 h 0 100 50 100 100 100 80 90 33 100 25 100 67 57 100 50 20 100
19 h 100 100 50 100 100 100 80 90 33 100 25 100 33 86 100 50 20 100
20 h 100 100 50 100 100 100 90 90 33 100 75 100 33 86 100 100 100 100
21 h 100 0 58 100 100 100 100 90 67 100 75 100 33 86 100 100 100 100
22 h 100 0 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 86 100 100 100 100
23 h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 100 100 100 100 100
24 h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 100 100 100 100 100
* Os valores se referem à porcentagem de moradores presentes no intervalo de cada hora, tendo sido consideradas
proporcionalmente as frações de hora.
212

TABELA 18 – VERÃO – OCUPAÇÃO [%]: DOMINGO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
1 2 3 3P
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
mora 5 6 6 2 4 4 5 5 3 2 1 4 3 7 3 2 4 5
dores

1h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 100 100 100 100 100
2h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 100 100 100 100 100
3h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 100 100 100 100 100
4h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 100 100 100 100 100 100
5h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 50 100 100 100 100 100 100 100
6h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 50 100 100 100 100 100 100 100
7h 100 100 67 100 100 100 90 90 67 100 50 100 100 100 100 100 100 100
8h 100 100 67 100 0 100 80 70 67 100 50 100 100 100 100 100 100 100
9h 100 83 67 100 0 100 80 70 67 100 50 0 100 57 50 100 100 100
10 h 100 83 83 100 0 75 80 70 67 75 50 0 100 57 50 100 0 100
11 h 100 83 83 100 0 75 80 70 67 75 50 0 100 57 100 100 0 100
12 h 100 83 83 100 0 75 80 70 67 100 50 0 100 57 100 100 0 100
13 h 100 83 83 100 0 75 80 70 33 100 50 0 100 57 100 100 100 100
14 h 0 83 83 100 0 75 80 70 33 100 50 0 100 57 100 100 100 100
15 h 0 83 83 0 0 75 80 00 33 67 50 0 100 57 67 100 80 100
16 h 0 83 83 0 0 75 80 00 33 67 50 0 100 57 67 100 80 100
17 h 0 100 83 0 50 75 80 00 33 67 50 0 100 57 67 100 80 100
18 h 0 100 83 0 100 100 80 90 67 100 50 0 67 57 100 100 0 100
19 h 0 100 83 100 100 100 80 90 67 100 50 0 33 86 100 100 0 100
20 h 100 100 67 100 100 100 90 90 67 100 75 0 33 86 100 100 0 100
21 h 100 0 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 33 86 100 100 0 100
22 h 100 0 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 86 100 100 100 100
23 h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
24 h 100 100 67 100 100 100 100 90 67 100 75 100 67 100 100 100 100 100
* Os valores se referem à porcentagem de moradores presentes no intervalo de cada hora, tendo sido consideradas
proporcionalmente as frações de hora.
213

TABELA 19 – INVERNO – TAXAS DE VENTILAÇÃO [%]: DIA TÍPICO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
[m2]** máx. [%]* Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC

CHJ
área de Taxa de Sistemas

3P
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
ventilação

6,5 16,2 12,1 16,1 17,5 14,6 20,6 12,5 13,8 17,0 14,6 17,5 14,1 10,5 15,0 12,0 11,2 15,7
ventilação

2,6 5,9 5,6 5,3 6,5 5,4 8,2 6,4 5,6 8,8 5,3 7,0 5,2 5,0 4,6 4,8 4,9 6,4

1h 2,0 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 0,2 0,4 0 0,6
2h 2,0 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 0,2 0,4 0 0,6
3h 2,0 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 0,2 0,4 0 0,6
4h 2,0 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 0,2 0,4 0 0,6
5h 2,0 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 0,2 0,4 0 0,6
6h 2,0 1,0 3,6 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 3,5 0,4 0 0,6
7h 2,0 1,0 3,6 0,9 0,7 0 0 0 8,0 0,5 4,8 0,7 0 0,4 3,5 2,5 3,8 0,6
8h 5,7 1,0 3,6 6,6 3,9 0 0 0 8,0 5,2 4,8 0,7 0 0,4 3,5 2,5 3,8 3,3
9h 5,7 9,9 3,6 6,6 3,9 9,6 0 4,9 9,6 5,2 4,8 10,8 10,7 3,5 3,5 2,5 3,8 3,3
10 h 5,7 9,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 9,6 5,2 9,4 10,8 10,7 3,5 3,5 2,5 3,8 7,4
11 h 5,7 9,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 9,6 5,2 9,4 10,8 10,7 3,5 3,5 2,5 3,8 7,4
12 h 5,7 9,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 9,6 5,2 9,4 10,8 10,7 3,5 3,5 2,5 3,8 7,4
13 h 5,7 9,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 9,6 4,6 9,4 10,8 10,7 3,5 3,5 2,5 4,0 7,4
14 h 5,7 9,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 9,6 4,6 9,4 10,8 10,7 3,5 3,5 2,5 4,0 7,4
15 h 5,7 8,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 9,6 4,6 9,4 10,8 10,7 3,5 3,5 0,8 4,0 7,4
16 h 5,7 8,9 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 4,9 8,0 4.6 4,8 10,8 10,7 3,5 3,5 0,8 3,8 7,4
17 h 5,7 7,2 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 0 8,0 4,6 4,8 10,8 10,7 3,5 3,5 0,8 3,8 6,8
18 h 5,7 5,6 3,6 6,6 3,9 9,6 12,9 0 8,0 4,6 4,8 10,8 10,7 3,5 3,5 0,8 3,8 6,8
19 h 5,7 1,0 0 6,6 0,7 9,6 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 10,7 2,8 3,5 0,8 0 0,6
20 h 5,7 1,0 0 6,6 0,7 5,9 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 10,7 2,8 3,5 0,8 0 0,6
21 h 0,8 1,0 0 0,9 0,7 1,8 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 4,6 2,8 3,5 0,4 0 0,6
22 h 0,8 1,0 0 0,9 0,7 1,8 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 4,6 2,8 3,5 0,4 0 0,6
23 h 0,8 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 4,6 2,8 3,5 0,4 0 0,6
24 h 0,8 1,0 0 0,9 0,7 0 0 0 0,5 0,5 3,3 0,7 0 0,4 0,2 0,4 0 0,6
* Taxa de ventilação máxima = das áreas de ventilação / área de piso X 100 = [% da área de piso de cada moradia]
** das áreas de ventilação de cada moradia [m2]
214

TABELA 20 – VERÃO – TAXAS DE VENTILAÇÃO [%]: DIA TÍPICO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
[m2]** máx. [%]* Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC

CHJ
área de Taxa de Sistemas

3P
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
ventilação

6,5 16,2 12,1 16,1 17,5 14,6 20,6 12,5 13,8 17,0 14,6 17,5 14,1 10,5 15,0 12,0 11,2 15,7
ventilação

2,6 5,9 5,6 5,3 6,5 5,4 8,2 6,4 5,6 8,8 5,3 7,0 5,2 5,0 4,6 4,8 4,9 6,4

1h 2,8 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 0,5 1,0 5,4 0,7 6,2 0,4 0,2 0,4 0,2 0,6
2h 2,8 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 0,5 1,0 5,4 0,7 6,2 0,4 0,2 0,4 0,2 0,6
3h 2,8 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 0,5 1,0 5,4 0,7 6,2 0,4 0,2 0,4 0,2 0,6
4h 2,8 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 0,5 1,0 5,4 0,7 6,2 0,4 0,2 0,4 0,2 0,6
5h 2,8 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 0,5 1,0 5,4 0,7 6,2 0,4 0,2 0,4 0,2 0,6
6h 2,8 1,0 5,0 0,9 0,7 0 1,7 1,8 0,5 5,2 5,4 0,7 6,2 0,4 3,5 0,4 0,2 0,6
7h 2,8 1,0 5,0 0,9 0,7 0 1,7 1,8 13,8 5,2 5,4 0,7 6,2 4,6 3,5 6,8 9,5 0,6
8h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 0 9,4 1,8 13,8 8,1 5,4 0,7 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
9h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 9,4 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
10 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 9,4 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
11 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 9,4 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
12 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
13 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
14 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
15 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 3,5 6,8 9,5 15,7
16 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 9,9 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 8,8 6,8 9,5 15,7
17 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 5,1 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 8,8 6,8 9,5 15,7
18 h 6,5 16,2 5,0 6,6 5,8 7,7 13,6 5,1 13,8 8,1 5,4 10,8 12,0 4,6 8,8 6,8 9,5 15,7
19 h 6,5 1,0 1,5 6,6 5,8 7,7 13,6 5,1 13,8 8,1 5,4 0,7 12,0 4,6 8,8 6,8 9,5 15,7
20 h 6,5 1,0 1,5 6,6 5,8 5,9 10,1 1,8 2,2 8,1 5,4 0,7 12,0 4,6 8,8 6,8 9,5 15,7
21 h 6,5 1,0 1,5 0,9 0,7 1,8 1,7 1,8 2,2 1,0 5,4 0,7 12,0 4,6 8,8 0,4 9,5 0,6
22 h 6,5 1,0 1,5 0,9 0,7 1,8 1,7 1,8 2,2 1,0 5,4 0,7 12,0 4,6 8,8 0,4 9,5 0,6
23 h 6,5 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 2,2 1,0 5,4 0,7 12,0 4,6 8,8 0,4 9,5 0,6
24 h 6,5 1,0 1,5 0,9 0,7 0 1,7 1,8 2,2 1,0 5,4 0,7 6,2 0,4 0,2 0,4 6,1 0,6
* Taxa de ventilação máxima = das áreas de ventilação / área de piso X 100 = [% da área de piso de cada moradia]
** das áreas de ventilação de cada moradia [m2]
215

TABELA 21 – INVERNO – USO DE EQUIPAMENTOS [W]: DIA TÍPICO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
1 2 3 3P
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

1h 150 150 150 150 150 200 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
2h 150 150 150 150 150 200 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
3h 150 150 150 150 150 200 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
4h 150 150 150 150 150 200 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 3650
5h 150 150 150 150 150 200 150 150 150 3650 150 150 150 150 150 150 150 150
6h 150 150 390 150 150 200 150 150 3650 3650 150 150 150 150 150 150 150 3650
7h 150 150 390 3980 3890 3650 150 150 150 150 150 150 3650 270 150 150 150 150
8h 420 390 150 300 330 150 150 420 270 150 150 150 3650 150 1900 150 270 3650
9h 300 3890 150 300 330 150 330 300 480 150 150 390 150 150 3650 150 150 150
10 h 330 150 3650 150 330 330 480 330 510 150 300 570 150 150 1900 390 330 150
11 h 330 390 390 150 330 330 900 330 330 390 150 570 390 390 150 390 330 150
12 h 570 390 390 150 570 4070 4070 570 570 390 150 570 390 390 150 150 4070 390
13 h 330 150 150 150 330 570 3650 330 450 330 150 330 150 150 150 150 330 150
14 h 330 150 540 150 330 330 150 330 450 480 150 330 150 150 150 150 330 3650
15 h 330 480 540 150 330 330 150 330 390 480 150 720 330 150 150 150 330 150
16 h 330 630 150 150 3880 330 150 330 330 330 150 510 390 150 150 150 3830 200
17 h 3830 630 150 390 4070 490 3830 3830 330 330 150 390 640 3710 150 150 330 200
18 h 690 3890 4130 390 390 4290 4190 690 390 1950 5310 390 400 3950 730 450 540 4420
19 h 4110 3890 730 3950 4130 730 790 4110 3950 2190 5370 730 3650 540 730 540 390 430
20 h 4050 390 490 630 390 490 730 4050 4190 690 390 4290 150 390 490 4200 4050 430
21 h 610 390 490 390 390 310 550 610 390 3950 390 4230 150 390 390 4050 550 330
22 h 610 390 550 450 330 310 370 610 390 3650 390 490 210 450 450 370 550 330
23 h 610 450 150 520 330 250 310 610 450 150 390 390 270 450 450 210 150 330
24 h 490 150 150 150 330 250 150 490 210 150 150 270 270 210 150 150 150 150
216

TABELA 22 – VERÃO – USO DE EQUIPAMENTOS [W]: DIA TÍPICO

Castellamare
José Tureck

Cohab-Pará
Constroyer

Todeschini
Battistella

Facicasas
Gutierrez
Construtivos

Andrade

Andrade

Paineira
Ribeiro

Tetolar
Epotec
Kürten

Eternit
MLC

ABC
Sistemas

CHJ
1 2 3 3P
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

1h 270 150 150 150 150 560 210 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
2h 270 150 150 150 150 560 210 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
3h 270 150 150 150 150 560 210 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
4h 270 150 150 150 150 560 210 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150 150
5h 270 150 150 150 150 560 210 150 150 150 250 150 150 150 150 150 150 150
6h 270 150 390 150 150 560 210 150 3650 150 3750 150 150 150 1900 150 150 150
7h 270 150 390 3920 3890 3950 150 150 150 150 150 150 150 150 3650 150 150 150
8h 390 150 150 300 330 450 330 420 270 3650 150 150 150 150 150 150 270 3650
9h 270 150 150 300 330 550 330 3800 480 3650 150 390 150 300 150 3650 150 165
10 h 450 150 3650 150 330 730 330 3830 510 150 300 570 150 300 150 3650 330 165
11 h 450 390 390 150 330 970 570 330 330 390 150 570 3890 390 150 390 330 165
12 h 690 390 390 150 570 970 570 570 570 390 150 570 390 390 150 390 570 405
13 h 450 150 150 150 330 870 300 330 450 330 150 330 150 150 150 150 330 150
14 h 450 150 540 150 330 630 480 330 450 480 150 330 150 150 150 150 330 150
15 h 450 330 540 150 330 630 505 330 390 480 150 720 330 150 150 150 330 165
16 h 450 480 150 150 3880 630 2240 330 330 330 150 510 390 150 150 150 330 215
17 h 3950 330 150 330 4070 630 4080 3830 330 330 150 390 640 150 150 150 330 200
18 h 750 330 4230 330 330 4310 975 690 390 330 150 390 650 3650 150 450 480 4435
19 h 4170 4070 730 3950 4070 4590 750 4110 450 690 390 730 3920 3930 330 540 4170 430
20 h 4170 3710 490 630 510 4350 690 4050 690 690 5370 4290 270 430 330 700 4050 430
21 h 730 210 490 390 450 930 450 610 390 3950 390 4230 270 430 330 550 550 330
22 h 730 210 550 450 450 850 450 610 390 3950 390 490 330 430 270 370 550 330
23 h 670 180 210 450 450 850 450 610 450 470 390 390 270 430 150 210 150 330
24 h 550 150 150 150 330 610 360 490 210 150 150 270 270 430 150 150 150 150
217

APÊNDICE C: Exemplo de gráfico e relatório elaborados com o software


ANALYSIS
FIGURA 61 – ANALISE BIOCLIMÁTICA DE INVERNO: SISTEMA CONSTRUTIVO 1, MLC

30
ZONAS:
30
1. Conforto
2. Ventilacao 25
3. Resfriamento Evaporativo
4. Massa Térmica p/ Resfr. 25
5. Ar Condicionado 5
20
6. Umidificação 2

W[g/kg]
7. Massa Térmica/ Aquecimento Solar 20

]
10 4

C
8. Aquecimento Solar Passivo 15

U
9. Aquecimento Artificial
B

15
T

10.Ventilação/ Massa
1 11 10
11.Vent./ Massa/ Resf. Evap. 10
12.Massa/ Resf. Evap. 5
12

0 9 8 7 5
-5
-1 0 3
-2 0 -1 5
6
0
-2 0 -1 5 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
U F SC - E CV - L abE E E - NP C
TBS[°C]

ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DE INVERNO: MLC


»Total de Horas: 592
»Pressão: 101.29 KPa
________________________________________
GERAL
»Conforto:9.8%
»Desconforto:90.2%
-Frio:89.7%
-Calor:0.507%
________________________________________
Calor
»Ventilação: 0.507%
»Massa p/ Resfr.: 0%
»Resfr. Evap.: 0%
»Ar Condicionado: 0%
________________________________________
Frio
»Massa Termica/Aquecimento Solar: 31.8%
»Aquecimento Solar Passivo: 34.5%
»Aquecimento Artificial: 23.5%
»Umidificação: 0%
________________________________________
POR ZONAS
»Ventilação: 0.507%
»Ventilação/Massa: 0%
»Ventilação/Massa/Resfriamento Evaporativo: 0%
»Massa Térmica p/ Resfriamento: 0%
»Massa/Resfriamento Evaporativo: 0%
»Aquecimento Artificial: 23.5%
»Conforto: 9.8%
»Massa Térmica/Aquecimento Solar: 31.8%
»Aquecimento Solar Passivo: 34.5%
»Ar Condicionado: 0%
»Resfriamento Evaporativo: 0%
»Umidificação: 0%
________________________________________
SOMBREAMENTO
»Porcentagem: 6.07 %
________________________________________
218

FIGURA 62 – ANALISE BIOCLIMÁTICA DE VERÃO: SISTEMA CONSTRUTIVO 1, MLC

30
ZONAS:
30
1. Conforto
2. Ventilacao 25
3. Resfriamento Evaporativo
4. Massa Térmica p/ Resfr. 25
5. Ar Condicionado 5
20
6. Umidificação 2

W[g/kg]
7. Massa Térmica/ Aquecimento Solar 20

]
10 4

C
8. Aquecimento Solar Passivo 15


U
9. Aquecimento Artificial

B
15

T
10.Ventilação/ Massa
1 11 10
11.Vent./ Massa/ Resf. Evap. 10
12.Massa/ Resf. Evap. 5
12

0 9 8 7 5
-5
-1 0 3
-2 0 -1 5
6
0
-2 0 -1 5 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
U F SC - E CV - L abE E E - NP C
TBS[°C]

ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DE VERÃO: MLC


»Total de Horas: 689
»Pressão: 101.27 KPa
________________________________________
GERAL
»Conforto:80.7%
»Desconforto:19.3%
-Frio:1.31%
-Calor:18%
________________________________________
Calor
»Ventilação: 17.9%
»Massa p/ Resfr.: 11.6%
»Resfr. Evap.: 11.6%
»Ar Condicionado: 0%
________________________________________
Frio
»Massa Termica/Aquecimento Solar: 1.31%
»Aquecimento Solar Passivo: 0%
»Aquecimento Artificial: 0%
»Umidificação: 0%
________________________________________
POR ZONAS
»Ventilação: 6.39%
»Ventilação/Massa: 0%
»Ventilação/Massa/Resfriamento Evaporativo: 11.5%
»Massa Térmica p/ Resfriamento: 0%
»Massa/Resfriamento Evaporativo: 0.145%
»Aquecimento Artificial: 0%
»Conforto: 80.7%
»Massa Térmica/Aquecimento Solar: 1.31%
»Aquecimento Solar Passivo: 0%
»Ar Condicionado: 0%
»Resfriamento Evaporativo: 0%
»Umidificação: 0%
________________________________________
SOMBREAMENTO
»Porcentagem: 97.1 %
________________________________________
219

APÊNDICE D: Exemplo de cálculo das características termofísicas


* conforme Proposta de Norma para ABNT: Desempenho térmico de edificações (UFSC,
1998).

Sistema Construtivo 1: MLC


1. Parede de painéis pré-moldados duplos de concreto armado com camada isolante interna de
blocos cerâmicos.

FIGURA 63 – PAREDE DE PAINÉIS DE CONCRETO ARMADO COM CAMADA ISOLANTE DE


BLOCOS CERÂMICOS – DESENHO EQUIVALENTE PARA CÁLCULO (EM
PERSPECTIVA)

ρ concreto = 2400 kg/m³ ρ cerâmica = 1600 kg/m³ Rsi = 0,13 (m².K)W


λ concreto = 1,75 W/m.K λ cerâmica = 0,90 W/m.K Rse = 0,04 (m².K)W
c concreto = 1,0 kJ/kg.K c cerâmica = 0,92 kJ/kg.K Rar = 0,16 (m².K)W
e concreto = 0,025 m e cerâmica = variável α = 0,4 (cor: verde clara)

1.1 Cálculo da resistência térmica da parede


Seção A: (concreto + cerâmica + concreto):
A a = 0,30(0,017 + 0,017 + 0,012 ) = 0,0138m 2

Ra =
e concreto e cerâmica e concreto 0,025 0,09 0,025
+ +
λ concreto λ cerâmica λ concreto
=
1,75
+
0,9
+
1,75
( )
= 0,1286 m 2 K / W

Seção B: (concreto + cerâmica + ar + cerâmica + ar + cerâmica + concreto): Rar = 0,16


220

A b = 0,30(0,022 + 0,022) = 0,0132m 2


e concreto e e e e
Rb = + cerâmica + R ar + cerâmica + R ar + cerâmica + concreto
λ concreto λ cerâmicao λ cerâmicao λ cerâmicao λ cconcreto

Rb =
0,025 0,017
1,75
+
0,90
+ 0,16 +
0,012
0,90
+ 0,16 +
0,017 0,025
0,90
+
1,75
= 0,3997 m 2 K / W ( )
A + Ab 0,0138 + 0,0132
Rt = a
Aa Ab
=
0,0138 0,0132
= 0,1924 m 2 K / W ( )
+ +
Ra Rb 0,1286 0,3997

1.2 Cálculo da resistência térmica total


R T = R si + R t + R se
(
R T = 0,13 + 0,1924 + 0,04 = 0,3624 m 2 K / W )

1.3 Cálculo da transmitância térmica

U=
1
=
1
R T 0,3624
= 2,76 W / m 2 K ( )

1.4 Cálculo da capacidade térmica da parede


Ct = (ecρ)
Seção A (concreto+cerâmica+concreto)
A a = 0,0138m 2
C ta = 2(ecρ )concreto + (ecρ )cerâmica
C ta = 2 x (0,025 x 1,0 x 2400) + (0,09 x 0,92 x 1600) = 252kJ / m 2 K ( )
Seção B (concreto+cerâmica+ar+cerâmica+ar+cerâmica+concreto)
A b = 0,0132m 2
C tb = 2(ecρ )concreto + 2(ecρ )ar + [(2e1 + e 2 )cρ]cerâmica

Desprezando a capacidade térmica da câmara de ar, teremos:


C tb = 2 x (0,25 x 1,0 x 2400) + 0 + (0,046 x 0,92 x 1600) = 188kJ / m 2 K ( )
A capacidade térmica da parede será:
Aa + Ab 0,0138 + 0,0132
CT = = ∴ C T = 216kJ / (m 2 K )
Aa Ab 0,0138 0,0132
+ +
C Ta C Tb 252 188
1.5 Cálculo do atraso térmico
221

( )
R t = 0,1924 m 2 K / W

R ext =
e concreto 0,025
λ concreto
=
1,75
( )
= 0,0143 m 2 K / W

B 0 = C T − C Text = 216 − (0,25 x 1 x 2400 ) = 156


B0 156
B1 = 0,226 = 0,226 = 183,2
Rt 0,1924
é (λ.ρ.c )ext ù é R t − R ext ù
B 2 = 0,205ê ú x ê R ext − ú
ë Rt ë 10
é1,75 x 2400 x 1ù é
B 2 = 0,205ê x ê0,0143 −
(0,1924 − 0,0143)ù = −15,71
ú
ë 0,1924 ë 10

B2 é desconsiderado pois resultou em valor negativo

ϕ = 1,382 x R t x B1 + B 2 = 1,382 x 0,1924 x 183,2 = 3,6horas

1.6 Cálculo do fator solar


FS = 4 x U x α
Para a cor externa verde clara (α = 0,4), teremos:
FS = 4 X 2,76 X 0,4 = 4,4%

2. Cobertura de laje pré-moldada sem reboco e telha de fibrocimento

FIGURA 64 – DETALHE DA LAJE MISTA PRÉ-MOLDADA

FONTE: BARBOSA, M. J. Aperfeiçoamento de Métodos de Avaliação de Desempenho Térmico em Habitação


Popular. Relatório Parcial. Londrina: FINEP, 1998.
222

ρ fibrocimento = 1700 kg/m³ ρ concreto = 2200 kg/m³ ρcerâmica = 1600 kg/m³


λ fibrocimento = 0,65 W/m.K λ concreto = 1,75 W/m.K λ = 0,90 W/m.K
c fibrocimento = 0,84 kJ/kg.K c concreto = 1,00 kJ/kg.K cerâmica = 0,92 kJ/kg.K
e fibrocimento = 0,005 m e concreto = 0,0786 m c cerâmica = 0,070 m
e cerâmica

Verão Inverno unidade


(↓) (↑)
Rsi = 0,17 0,10 (m².K)W α = 0,73 (cor externa cinza)
Rse = 0,04 0,04 (m².K)W S = 0 (câmara de ar não ventilada)
Rar = 0,21 0,14 (m².K)W ear > 0,05 m
Rar = 0,15 0,13 (m².K)W 0,01m < ear < 0,02 m

2.1 NO VERÃO:
2.1.1 Cálculo da resistência térmica da laje pré-moldada (Rlaje)
Seção A (concreto + concreto)
A a = 0,05425 x 0,18885 = 0,0102m 2
e concreto + e concreto
Ra = = 0,0621(m 2 K ) / W
λ concreto + λ concreto
Seção B (concreto + cerâmica)
A b = 0,0096 x 4 x 0,18885 = 0,0073m 2
e concreto + e cerâmica
Rb = = 0,0921(m 2 K ) / W
λ concreto + λ cerâmica
Seção C (concreto + cerâmica + ar + cerâmica) Rar = 0,21
A c = (0,03735 x 2 x 0,04488 x 3) x 0,18885 = 0,0395m 2
e concreto + e cerâmica + e cerâmica
Rc = + R ar = 0,2526(m 2 K ) / W
λ concreto + λ cerâmica + λ cerâmica
Seção D (concreto + cerâmica + ar + cerâmica) Rar = 0,15
A d = 0,00938 x 2 x 0,18885 = 0,0035 m 2
e concreto + e cerâmica + e cerâmica
Rd = + R ar = 0,1926(m 2 K ) / W
λ concreto + λ cerâmica + λ cerâmica
Seção E (concreto + cerâmica + concreto)
A e = 0,01495 x 2 x 0,18885 = 0,00565 m 2
e concreto + e cerâmica + e concreto
Re = = 0,0565(m 2 K ) / W
λ concreto + λ cerâmica + λ concreto
Aa + Ab + Ac + Ad + Ae
R laje = = 0,1276(m 2 K ) / W
Aa / R a + Ab / R b + Ac / R c + Ad / R d + Ae / R e
223

2.1.2 Cálculo da resistência térmica da cobertura (Rt)


Seção Única (fibrocimento + ar + laje) Rar = 0,21

+ 0,1276 + 0,21 = 0,3453(m 2 K ) / W


e fibrocimento 0,005
Rt = + R laje + R ar =
λ fibrocimento 0,65
R T = R si + R t + R se = 0,17 + 0,3453 + 0,04 = 0,5553(m 2 K ) / W

2.1.3 Cálculo da transmitância térmica para o verão

U=
1
=
1
R T 0,5553
= 1,8W / m 2 K ( )

2.1.4 Cálculo da capacidade térmica da laje


Seção A (concreto + concreto)
A a = 0,05425 x 0,18885 = 0,0102 m 2
(
C Ta = (e.c.ρ )concreto + (e.c.ρ )concreto = 239kJ / m 2 .K )
Seção B (concreto + cerâmica)
A b = 0,0096 x 4 x 0,18885 = 0,0073 m 2
(
C Tb = (e.c.ρ )concreto + (e.c.ρ )cerâmica = 178kJ / m 2 .K )
Seção C (concreto + cerâmica + ar + cerâmica)
A c = (0,03735 x 2 x 0,04488 x 3) x 0,18885 = 0,0395 m 2
(
C Tc = (e.c.ρ )concreto + (e.c.ρ )cerâmica + (e.c.ρ )cerâmica = 112kJ / m 2 .K )
Seção D (concreto + cerâmica + ar + cerâmica)
A d = 0,00938 x 2 x 0,18885 = 0,0035 m 2
(
C Td = (e.c.ρ )concreto + (e.c.ρ )cerâmica + (e.c.ρ )cerâmica = 156kJ / m 2 .K )
Seção E (concreto + cerâmica + concreto)
A e = 0,01495 x 2 x 0,18885 = 0,00565 m 2
(
C Te = (e.c.ρ )concreto + (e.c.ρ )cerâmica + (e.c.ρ )concreto = 194kJ / m 2 .K )
Aa + Ab + Ac + Ad + Ae
C Tlaje =
Aa / C Ta + Ab / C Tb + Ac / C Tc + Ad / C Td + Ae / C Te
= 136kJ / m 2 K ( )

2.1.5 Cálculo da capacidade térmica da cobertura


C T = C Tlaje + (e.c.ρ )fibrocimento = 136 + (0,005 x 0,84 x 1700 ) = 143 kJ / m 2 K ( )

2.1.6 Cálculo do atraso térmico para o verão


224

( )
R t _ verão = 0,3453 m 2 K / W
B 0 = C T − C Text = 135,86
B0 135,86
B1 = 0,226 = 0,226 = 88,9
Rt 0,3453
é (λ.ρ.c )ext ù é R t − R ext ù
B 2 = 0,205ê ú x êR ext − ú
ë Rt ë 10
é 0,65.1700.0,84 ù é
B 2 = 0,205ê x ê0,0077 −
(0,3453 − 0,0077 )ù = −14,36
ú
ë 0,3453 ë 10

B2 é desconsiderado pois resultou em valor negativo

ϕ = 1,382 x R t x B1 = 1,382 x 0,3453 x 88,9 = 4,5horas

2.1.7 Cálculo do fator solar para o verão


FS = 4 x U x α = 4 x 1,8 x 0,73=5,2%

2.2 NO INVERNO:
2.2.1 Cálculo da resistência térmica da laje pré-moldada (Rlaje)
Seção A (concreto + concreto)
A a = 0,05425 x 0,18885 = 0,0102 m 2
e concreto + e concreto
Ra =
λ concreto + λ concreto
( )
= 0,0621 m 2 K / W

Seção B (concreto + cerâmica)


A b = 0,0096 x 4 x 0,18885 = 0,0073 m 2
e concreto + e cerâmica
Rb =
λ concreto + λ cerâmica
( )
= 0,0921 m 2 K / W

Seção C (concreto + cerâmica + ar + cerâmica) Rar = 0,14


A c = (0,03735 x 2 x 0,04488 x 3) x 0,18885 = 0,0395 m 2
e concreto + e cerâmica + e cerâmica
Rc =
λ concreto + λ cerâmica + λ cerâmica
( )
+ R ar = 0,1826 m 2 K / W

Seção D (concreto + cerâmica + ar + cerâmica) Rar = 0,13


A d = 0,00938 x 2 x 0,18885 = 0,0035 m 2
e concreto + e cerâmica + e cerâmica
Rd =
λ concreto + λ cerâmica + λ cerâmica
( )
+ R ar = 0,1726 m 2 K / W

Seção E (concreto + cerâmica + concreto)


225

A e = 0,01495 x 2 x 0,18885 = 0,00565 m 2


e concreto + e cerâmica + e concreto
Re =
λ concreto + λ cerâmica + λ concreto
( )
= 0,0565 m 2 K / W

Aa + Ab + Ac + Ad + Ae
R laje =
Aa / R a + Ab / R b + Ac / R c + Ad / R d + Ae / R e
(
= 0,1140 m 2 K / W )

2.2.2 Cálculo da resistência térmica da cobertura (Rt)


Seção Única (fibrocimento + ar + laje)

Rt =
e fibrocimento
λ fibrocimento
+ R laje + R ar =
0,005
0,65
(
+ 0,1140 + 0,14 = 0,2617 m 2 K / W )
R T = R si + R t + R se = 0,10 + 0,2617 + 0,04 = 0,4017 m 2 K / W( )
2.2.3 Cálculo da transmitância térmica para o inverno

U=
1
=
1
R T 0,4017
= 2,5W / m 2 K ( )

2.2.4 Cálculo da capacidade térmica (2.1.4 e 2.1.5) são os mesmos para verão e inverno,
com CT = 143kJ/(m2K)

2.2.5 Cálculo do atraso térmico para o inverno


( )
R t _ inverno = 0,2617 m 2 K / W
B 0 = C T − C Text = 135,86
B0 135,86
B1 = 0,226 = 0,226 = 117,3
Rt 0,2617
é (λ.ρ.c )ext ù é R t − R ext ù
B 2 = 0,205ê ú x êR ext − ú
ë Rt ë 10
é 0,65 x 1700 x 0,84 ù é
B 2 = 0,205ê x ê0,0077 −
(0,2617 − 0,0077 )ù = −12,87
ú
ë 0,2617 ë 10

B2 é desconsiderado pois resultou em valor negativo

ϕ = 1,382 x R t x B1 = 1,382 x 0,2617 x 117,3 = 3,9horas

2.2.6 Cálculo do fator solar para o inverno


FS = 4 x U x α = 4 x 2,5 x 0,73 = 7,3%
226

APÊNDICE E: Exemplo de análise de sombreamento

FIGURA 65 – SOMBREAMENTO DA MORADIA DE SISTEMA CONSTRUTIVO 1, MLC, PARA


FACHADAS DE TODAS AS ORIENTAÇÕES: NOROESTE, SUDESTE, NORDESTE E
SUDOESTE.
227

APÊNDICE F: Teste de significância para a Correlação Linear

Conforme Triola (1999), o conceito de correlação é utilizado para determinar se há


alguma relação estatisticamente significativa entre duas variáveis. Esta relação pode ser
verificada por meio de:
•= gráficos (diagramas de dispersão), nos quais se pode verificar se há ou não correlação
entre duas variáveis x e y, se a correlação é linear ou não-linear, e, se linear, positiva ou
negativa, forte ou fraca. Porém, a conclusão baseada na percepção da existência de um
padrão em gráficos é de caráter subjetivo. Assim, necessita-se de métodos mais precisos e
objetivos;
•= coeficiente de correlação linear é uma medida da intensidade da associação linear entre
duas variáveis, ou seja, os valores emparelhados de x e y em uma amostra. Este
coeficiente, estabelecido por Karl Pearson (1957-1936), é também chamado de coeficiente
de correlação momento-produto de Pearson e pode ser calculado por meio da Equação 1:

n xy − ( x )( y)
r= (Equação 1)
n ( x −(
2
) x)
2
n ( y −(
2
) y)
2

onde
n é o número de pares de dados presentes;
é a adição dos itens indicados;
x é a soma de todos os valores de x;
x2 indica que se deve elevar ao quadrado cada valor de x e somar os resultados;
( x)2 indica que se deve somar os valores de x e elevar ao quadrado;
xy indica que se deve multiplicar cada valor de x pelo valor correspondente de y e então
somar todos esses produtos;
r é o coeficiente de correlação linear para uma amostra;
ρ é o coeficiente de correlação linear para uma população.

O valor de r deve estar sempre entre –1 e +1. Quando o valor de r se aproxima de 0,


não há correlação significativa, mas quando está próximo de –1 e +1, concluímos que há
correlação linear significativa entre x e y. Assim, só há evidencia suficiente para apoiar a
228

existência de uma correlação linear significativa se o valor calculado de r exceder o valor


crítico, conforme descrito a seguir.

1) Segundo Triola (1999), o teste formal de hipóteses pode ser aplicado para determinar se
existe correlação linear significativa entre duas variáveis. As hipóteses nula e alternativa
podem ser expressadas:
Ho: ρ = 0 (não há correlação linear significativa)
H1: ρ ≠ 0 (correlação linear significativa)
onde
ρ representa o coeficiente de correlação linear para uma população

2) Escolhe-se um nível de significância α.

3) Aplica-se a Estatística de Teste t para Correlação Linear. Este método utiliza a distribuição
t de Student, que considera o valor alegado da média e o desvio-padrão amostral de valores de
r, conforme a Equação 2:

r
t= (Equação 2)
1 − r2
n−2

Utiliza-se um grau de liberdade (GL) = n – 2


onde
r é a correlação estimada
n é o tamanho da amostra

4) Se o valor absoluto da estatística de teste excede os valores críticos, rejeita-se Ho: ρ = 0; em


caso contrário, não se rejeita Ho.

5) Se Ho é rejeitada, conclui-se que há correlação linear significativa. Se Ho não é rejeitada,


então não há evidência suficiente para concluir pela existência de uma correlação linear
significativa.
229

Análise para o nível de significância α = 0,05 1

Para: α = 0,05 bilateral 2


GL = n – 2 = 18 – 2 = 16
r = 0,67
0,67
Aplicando-se a Equação 2: t= = 3,6
1 − 10,67
18 − 2

Para o nível de significância adotado de 0,05, o valor estabelecido da distribuição t de


Student para um grau de liberdade GL = 16, é, segundo Triola, (1999): tc = 2,12 (ver Figura
66).

FIGURA 66 – TESTE DE Ho: ρ=0

t = − 2,12 t = 2,12 t = 3,6

FONTE: TRIOLA, M. Introdução à estatística. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora,
1999.

α = 0,05 significa que sem nenhuma correlação linear entre as duas series de variáveis, há uma chance de 5%
1

de que o valor absoluto do coeficiente de correlação linear calculado r exceda o valor crítico.
2
Usa-se o teste unilateral somente para verificar se a correlação linear está acima de determinado valor. Caso
contrário, utiliza-se o teste bilateral, uma vez que a correlação linear pode ser positiva ou negativa, conforme o
comportamento das variáveis. Se aos valores crescentes de x, correspondem aos valores crescentes de y, a
correlação é positiva; mas quando os valores de y decrescem em relação aos valores de x, a correlação é
negativa.
230

O critério de decisão consiste em rejeitar a hipótese nula ρ = 0 se o valor absoluto da


estatística de teste excede os valores críticos; neste caso há evidência suficiente para apoiar a
existência de uma correlação linear entre duas variáveis:
como t = 3,60 > tc = 2,12, rejeita-se Ho, aceita-se H1, ou seja, existe uma correlação
linear significativa no nível de significância de 5%.

Isolando-se r na fórmula, pode-se verificar qual é o Valor Crítico do Coeficiente de


Correlação r de Pearson, acima do qual a correlação linear é significativa (H1: ρ ≠ 0).

r n−2
t=
1 − r2
(t 1 − r2 ) = (r
2
n−2 )2

( )
t 2 1 − r 2 = r 2 (n − 2)
t 2 − t 2 r 2 = nr 2 − 2r 2
nr 2 − 2r 2 + t 2 r 2 = t 2
(
r2 n − 2 + t2 = t2 )
2
t
r2 =
(n − 2 + t2 )
t2
r=
( n − 2 + t2 )
t
r= = 0,468
(n − 2 + t ) 2

para t=2,12 e α=0,05 (bilateral)

Assim, para valores acima de r = 0,468, a correlação linear para a amostra de 18


moradias é considerada significativa.

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