Clostrídios

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Microbiologia

Yasmin Cardoso

Clostrídios
Introdução
Essas são as espécies patogênicas e suas
O clostrídio é uma bactéria gram-positiva respectivas doenças associadas.
anaeróbica. Este gênero é extremamente
heterogêneo, composto por cerca de 150 Espécie Doença associada
espécies e seu hábitat natural é o solo e o
C. barati Botulismo;
intestino. Poucas espécies, no entanto, são
responsáveis por importantes infecções no C. botulinum Botulismo;
homem e nos animais.
C. butyricum Botulismo;
• Classe: Clostridia;
C. difficle Colite pseudomembranosa;
• Ordem: Clostridiales;
• Família: Clostridiaceae; C. Gangrena gasosa;
• Gênero: Clostridium. histolyticum

C. novyi Gangrena gasosa;

• Bacilos gram-positivos; C. septicum Gangrena gasosa e septicemia;


• Anaeróbicos obrigatórios; C. sordelli Gangrena gasosa;
• Formadores de esporos;
• Móveis; C. tertium Infecções oportunistas;
• Saprófitas (depositora de matéria orgânica; C. tetani Tétano;
está em qualquer lugar);
• Rápida multiplicação; C. perfringens Gangrena gasosa, celulite,
• Produtores de toxinas (neurotoxinas, fascite, intoxicação alimentar,
enterite necrótica e septicemia.
enterotoxinas e toxinas histolíticas).
Obs.: o esporo não causa doença, é um Obs.: quem causa a doença tétano e o
elemento de resistência/sobrevivência. botulismo em si não é a bactéria e sim a
Inclusive, geralmente sobrevivem até mesmo toxina.
ao ácido do estômago. As espécies estudadas serão as principais
patológicas clínicas, como as que causam
• Neurotoxina: toxina que atinge,
tétano e o botulismo.
principalmente, o sistema neuronal, são
termolábeis (sensíveis a temperaturas
acima de 60°C – o fogo é o aliado). Clostridium botulinum
• Enterotoxinas: toxina que atinge, O botulismo é desenvolvido a partir das
principalmente, o sistema gastrointestinal, toxinas das bactérias do gênero e espécie
são toxinas termoestáveis (são toxinas Clostridium botulinum e podem desenvolver
estáveis em relação a temperatura, até 3 tipos de botulismo:
principalmente à fervura rápida).
• Toxinas histolíticas: são toxinas • Botulismo clássico;
especializadas em causar lise de • Botulismo do lactente;
células/lesar o tecido, causando • Botulismo da ferida.
deterioração com a presença de
escurecimento quando se há fluxo O C. botulinum é um bacilo que apresenta
sanguíneo esporos ovais subterminais, cujo hábitat
natural é o solo, poeira e sedimentos
Obs.: a diferença entre termolábeis e marinhos, podendo ser encontrado em uma
termoestáveis é que as termolábeis são grande variedade de agroprodutos, frescos
destruídas acima de 60°C e as termoestáveis ou industrializados.
são resistentes à fervura rápida.

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Epidemiologicamente, é uma doença de baixa


incidência, mas com alto índice de
mortalidade. • Administração da antitoxina trivalente;
• Suporte ventilatório;
• Lavagem gástrica;
• Administração de penicilina.

Botulismo clássico
O botulismo clássico é uma intoxicação
grave, de origem alimentar, caracterizada
pelo comprometimento agudo e bilateral de
pares cranianos, fraqueza e paralisia flácida
das vias descendentes.
Essa paralisia flácida pode até ser reversível,
a depender do estágio (tanto botulismo,
• Destruição de esporos; quanto tétano).
• Prevenção da germinação de esporos;
• Origem: ingestão de alimento com toxina;
• Destruição das toxinas pré-formadas;
• Toxinas que causam o botulismo
• Evitar consumo de alimento suspeito;
clássico: toxina A, B, E e F (ABEF);
• Evitar a ingestão de mel em menores de ou
• Período de incubação: 12 a 36 horas.
igual a 1 ano de idade;
• Cuidado com lesões expostas; Geralmente ocorre em sequência, infectando
• Informar a população sobre o risco do diversas pessoas ao mesmo tempo em
consumo de alimentos enlatados e ambientes em que os alimentos não são bem
embutidos; conservados/avaliados.
• Cuidados durante a manipulação e
processos dos alimentos; Obs.: existem outras variedades antigênicas
• Eliminação sanitária das fezes. de toxinas de A-H, entretanto, as principais são
ABEF.

O diagnóstico laboratorial é feito mediante a


amostras de fezes, soros e alimentos. As toxinas botulínicas referentes ao botulismo
clássico (ABEF) são proteínas neurotóxicas
• Isolamento do microrganismo em meios de para o organismo, podendo causar uma
cultura de tioglilcolato e ágar gema de parada cardiorrespiratória em decorrência de
ovo; uma paralisia, por exemplo.
• Produção de lipase (película);
• A toxina é produzida e liberada sem
• Demonstração da atividade da toxina.
precisar que a lise celular ocorra;
Ou também com ensaio biológico de reações • A bactéria produz uma pré-toxina no meio
de neutralização com antitoxina específica. ambiente que só passa a ser de fato a
toxina quando é clivada pela enzima, a
Tipo de Microrganismo Atividade da ativando. Ou seja, o homem ingere uma
botulismo toxina toxina pré-formada;
Clássico Alimentos e fezes Alimentos, fezes • Em apenas 1-2 microgramas, tem-se uma
e soro dose letal para a vida humana;
• Pode ser desativada pelo calor (100°C/20
Lactente Fezes Fezes e soro
minutos);
Ferida Lesão Exsudato e soro
É importante lembrar que a bactéria em si
não causa o botulismo! O que causa o
botulismo é a sua forma vegetativa (capaz de
produzir as toxinas) que libera as toxinas que,

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enfim, causa a doença devido sua gastrintestinais contornáveis até episódios


neurotoxicidade. de síndrome da morte súbita.
É importante diferenciar o botulismo
clássico do botulismo do lactente, pois o
O mecanismo de ação das toxinas botulínicas
clássico/alimentar ocorre quando alimentos
é o bloqueio da neurotransmissão durante
que contém a toxina são ingeridos e
as sinapses colinérgicas periféricas, causando
transportados via hematógena até neurônios
a paralisia flácida.
sensíveis. Enquanto isso, o botulismo do
• Cadeia pesada: placas terminais dos lactente resulta da ingestão de esporos de
nervos motores; Clostridium botulinum presente nos
• Cadeia leve: impede a liberação de alimentos, ocorrendo a produção de toxinas no
acetilcolina. sistema gastrointestinal do lactente.
• Origem: ingestão de alimentos
contaminados com esporos;
• Toxinas: A e B (in vivo);
• Período de incubação: desconhecido.
• Uma das possíveis causas do botulismo do
lactente é a ingestão de mel.
Obs.: a termo de conhecimento, devemos
saber que o mel é um produto que não pode
ser oferecido a crianças menores que 2
anos porque o mel, apesar de ser estéril, é
produzido pela abelha que coleta a matéria
prima dele em diversos locais que podem estar
contaminados por esporos da bactéria do
botulismo e deve-se recordar que os esporos
O botulismo clássico desenvolve o processo são estruturas de resistência e que ao ingerir,
patológico a partir da ingestão de alimentos podem voltar a forma vegetativa no organismo
contaminados pela toxina pelo homem. humano.
Esses alimentos podem conter esporos da
bactéria que, em um ambiente suscetível, volta O ideal é oferecer o mel apenas após os 2
a sua forma vegetativa e produz e libera as anos, pois a criança já possui uma maior
toxinas. quantidade de anticorpos.
Com a ação das toxinas no organismo
humano, os pacientes desenvolvem
O mecanismo de ação e a patogenia do
manifestações clínicas como:
botulismo do lactente é semelhante com a do
• Distúrbios visuais; botulismo clássico. Nesses casos, o lactente
• Incapacidade de deglutir e falar; desenvolve manifestações clínicas como:
• Sinais de paralisia bulbar progressivos; • Tremores e hipotonia;
• Sintomas gastrointestinais leves; • Inapetência e disfagia;
• Ausência de febre; • Insuficiência e parada respiratória;
• Lucidez. • Causa da morte súbita na infância.

Botulismo do lactente Botulismo de feridas


O botulismo do lactente se manifesta nos O botulismo de feridas ocorre quando a
primeiros meses de vida, em decorrência da bactéria Clostridium botulinum contamina
ingestão de esporos do Clostridium, que uma ferida ou é introduzida em outros
proliferam no solo ou nos alimentos e liberam tecidos. Dentro da ferida, as bactérias
toxinas no intestino da criança. Nesse caso, produzem toxinas que são absorvidas pela
a gravidade vai desde problemas corrente sanguínea.

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• Origem: contaminação de lesões com transporte até as terminações periféricas,


esporos; alcançando o SNC.
• Toxinas: A e B (in vivo);
• Período de incubação: 4 dias.
O mecanismo de ação da toxina do tétano é o
bloqueio da liberação de
Em relação as manifestações clínicas, são neurotransmissores inibitórios que
comuns sintomas e sinais idênticos àquelas impedem a despolarização da membrana pós-
da doença alimentar e sintomas sináptica e condução do sinal elétrico (paralisia
gastrointestinais discretos. espástica).

Clostridium tetani O C. tetani é comumente


O tétano é uma infecção aguda e encontrado na natureza sob a
grave, causada pela toxina do bacilo forma de esporo, em locais
tetânico Clostridium tetani, que entra no
organismo através de ferimentos ou lesões de como: terra ou areia,
pele e não é transmitido de um indivíduo para principalmente quando
o outro.
contaminadas com fezes de


Microrganismo: morfologia atípica;
Habitat: fezes de animais, solos e plantas;
animais; espinhos de arbustos e
• Toxina: tetanospasmina. pequenos galhos de árvores;
águas putrefatas; pregos
enferrujados; instrumentos de
lavoura; latas velhas
contaminadas com poeira de rua
ou terra; fezes de animais e
humanos; e fios de categute e
agulhas de infeção não
esterilizadas de forma adequada.
O tétano, assim como o botulismo, não é
causado pela bactéria em si, e sim pelas suas O bacilo se multiplica com mais
toxinas que no caso do tétano é a
tetanospasmina. facilidade na presença de certas
A tetanospasmina é um peptídeo único de um substâncias (ácido lático, sais de
produto da expressão de um gene carreado cálcio, quinina) que baixam o
em plasmídeo. A toxina é sintetizada como um
polipeptídeo, de cadeia simples, com 150 kDa, potencial de oxirredução dos
que é naturalmente clivado por proteases tecidos.
bacterianas e do hospedeiro, em duas
cadeias, uma pesada de 100 kDa e uma leve
de 50 kDa, mantidas por pontes dissulfeto. A ocorrência do tétano está
A toxina é internalizada por um
relacionada a existência de
compartimento semelhante ao endossomo, solução de continuidade na pele
promovendo alterações conformacionais na ou mucosas, que seja
cadeia pesada pela exposição de
grupamentos hidrofóbicos, permitindo, assim, contaminada pelo esporo
a sua inserção na membrana do endossomo e tetânico e apresente condições

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de anaerobiose que permitam a


germinação do bacilo e a
produção de sua toxina, nos
pacientes que não apresentam
imunidade antitetânica adquirida
naturalmente ou por meio da
imunização.

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