2 Protozoarios
2 Protozoarios
2 Protozoarios
Os protozoários constituem um sub-reino animal muito primitivo, com muitas espécies de interesse
na Parasitologia Humana.
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PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS E GENITO-URINÁRIOS
(Medical Microbiology,9th edition, “P. Murray” capítulo 72)
Entamoeba histolytica
▪ Epidemiologia:
O Homem ingere os quistos que em contacto com o suco gástrico se transformam em trofozoítos.
Esta é a forma ativa do parasita que é responsável pela lesão intestinal. Multiplica-se na mucosa do
cólon com capacidade e atingir a corrente sanguínea.
▪ Manifestações clínicas:
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● Amebíase intestinal. A lesão característica da amebíase intestinal é a necrose extensa do intestino
grosso causada pela ação de uma citotoxina, constituindo assim o principal fator de virulência. Pode
provocar um quadro diarreico: disenteria amebiana com cólicas abdominais e diarreia
sanguinolenta nos casos mais graves.
▪ Diagnóstico:
O diagnóstico é feito pela observação microscópica dos quistos ou trofozoítos nas fezes ou nos
tecidos. Podemos encontrar indivíduos colonizados com amebas comensais, os quistos e trofozoítos
destas amebas são morfologicamente diferentes, pelo que é necessário realizar diagnóstico
diferencial.
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Giardia duodenalis (G.lamblia/G.intestinalis)
Protozoário flagelado, apresenta formas de quisto e trofozoíto no seu ciclo de vida, sendo a ação
mecânica por irritação e o processo inflamatório associado aos seus mecanismos de patogenicidade.
▪ Epidemiologia:
▪ Manifestações clínicas:
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▪ Diagnóstico:
● Evitar água e alimentos contaminados (filtração das águas, tratamento térmico da água e dos
alimentos)
Cryptosporidium spp
Cryptosporidium pertence ao grupo Sporozoa, Apicomplexa ou Coccidia, este grupo de parasitas são
preferencialmente intracelulares e podem reproduzir-se sexuada ou assexuadamente.
▪ Epidemiologia:
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● A via de transmissão mais comuns é pelas águas contaminadas, sendo os reservatórios animais e
humanos a fonte de contaminação, a transmissão fecal-oral ou oral-anal são também possíveis vias
de transmissão.
▪ Manifestações clínicas:
● Portadores assintomáticos
● Enterocolite moderada ou grave, com diarreia aquosa, cólicas abdominais, náuseas, anorexia; cura
espontaneamente nos indivíduos imunocompetentes.
● Adquiriu importância crescente nos últimos anos pela gravidade da infecção que provoca em
doentes imunodeprimidos. Porque não existe tratamento eficaz, a doença pode ocorrer de forma
recorrente ou crónica e também pode disseminar.
▪ Diagnóstico:
● O diagnóstico é feito pela pesquisa dos oocistos, nas fezes recorrendo a uma coloração de Ziehl-
Neelsen modificada (não se observam a fresco)
● PCR multiplex
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▪ Tratamento, prevenção e controlo:
● Região com baixas condições de higiene – ferver a água, tratamento térmico dos alimentos
Trichomonas vaginalis
▪ Epidemiologia:
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● A via de transmissão mais frequente é a sexual; os recém-nascidos podem infetar-se na altura do
parto.
▪ Manifestações clínicas:
● A infecção ocorre habitualmente de forma assintomática, principalmente nos homens, mas pode
provocar vaginite na mulher e uretrite ou prostatite no homem.
▪ Diagnóstico:
● São métodos de diagnóstico alternativos à cultura com alta sensibilidade, métodos por
imunofluorescência e pesquisa de ADN.
● Metronidazol, Tinidazol
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PROTOZOÁRIOS DO SANGUE E DOS TECIDOS
(Medical Microbiology,9th edition, “P. Murray” capítulo 73)
Plasmodium ssp
Enumerar os diferentes agentes responsáveis pela malária, descrever o seu ciclo biológico e a
sua distribuição mundial
Explicar as diferenças morfológicas das várias espécies de Plasmodium e a repercussão clínica da
sua identificação.
Descrever os métodos usados para o diagnóstico desta parasitose.
Podemos encontrar doentes com malária nos países não endémicos? Como chega o parasita a
estes locais?
Estima-se 216 milhões de casos de malária por ano. Responsável por cerca de 500 000 mortes
anualmente, das quais 90% no continente africano. É considerada a mais importante doença
parasitária humana.
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▪ Ciclo biológico: (Ver detalhes no texto, capítulo 73)
• Plasm
odium é um protozoário coccídeo ou esporozoário, parasita dos glóbulos vermelhos.
• O ciclo de vida dos plasmódios é semelhante nas cinco espécies e apresenta duas grandes
etapas, sendo precisos dois hospedeiros para completar o ciclo de vida:
▪ Fase tecidual ou exoeritrocítica: ocorre nas células hepáticas. Este período costuma ser
assintomático. O P. vivax e o P. ovale podem permanecer latentes no fígado: hipnozoítos
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2. Fase sexuada: (esporogónica): ocorre no aparelho digestivo da fêmea do mosquito
Anopheles
Reprodução sexuada:
Gametocitos femininos e masculinos.
Oocisto na parede gástrica.
Esporozoítos na glândula salivar do
mosquito Anopheles
Forma infetante
Reprodução assexuada:
A infeção no Homem ocorre principalmente pela picada do mosquito fêmea do género Anopheles,
que transmite os esporozoítos infetantes, sendo outras possíveis vias de transmissão a transfusão
sanguínea, a via parentérica (como partilha de seringas) e também por via congénita.
▪ Características epidemiológicas:
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● P ovale: distribuição semelhante a P vivax mas menos frequente, encontra-se com maior
frequência na África tropical
● P malariae: encontra-se nas regiões tropical/subtropical, é a espécie menos prevalente
▪ Clínica:
1. Fase fria ou arrepio violento: crise com arrepios, cefaleia, taquicardia, mialgia, palidez,
vómitos. Dura aproximadamente 1-2 horas.
3. Fase de transpiração: a temperatura corporal desce para valores normais e dura 2-4 horas
Geralmente estes paroxismos repetem-se em intervalos regulares de tempo, que são diferentes
para cada espécie. Na malária grave este padrão perde-se sendo a febre contínua.
▪ Complicações
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Todas as espécies de Plasmódios podem apresentar complicações, que são mais frequentes no caso
de infeção por P. falciparum:
✔ Malária cerebral: obstrução capilar por pigmento malárico e massas de células, que pode
levar ao coma e morte.
✔ Lesão renal: devida à hemólise intravascular intensa, pode causar hemoglobinúria com
possível insuficiência renal aguda, necrose tubular, síndroma nefrótico e morte.
✔ Alterações hepáticas: que se manifestam com dor abdominal, vómitos biliares e diarreia
grave.
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▪
▪ Diagnóstico:
▪
Podemos excluir a infeção por Plasmódio apenas com uma amostra de sangue negativa?
▪ Métodos diretos: pesquisa microscópica da presença dos parasitas no sangue periférico.
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▪ Método da gota espessa: permite examinar uma maior quantidade de sangue, conseguindo
uma maior concentração de parasitas. E o método de eleição na deteção do Plasmódio, por ser mais
sensível.
▪ Esfregaço corado pelo Giemsa: os glóbulos vermelhos não são lisados, o que permite fazer
o diagnóstico de espécie por observação da morfologia do parasita.
GOTA ESPESSA
ESFREGAÇO
▪ No tratamento da malária é preciso ter em conta alguns aspetos antes de iniciar a terapia:
▪ Prevenção da malária:
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o A nível individual, a prevenção passa por evitar a picada do mosquito (redes mosquiteiras,
roupa apropriada e/ou repelentes); as pessoas que viajarem para zonas endémicas devem realizar
profilaxia medicamentosa.
Toxoplasma gondii.
Toxoplasma é um parasita coccídeo intracelular, T. gondii é a única espécie, sendo o gato e outros
felinos o reservatório e hospedeiro definitivo deste parasita, sendo capaz de parasitar o Homem e
outros animais.
▪ Ciclo da vida:
Esporozoitos
taquizuitos (multiplicação
rapida)
bradizuidos (multiplicação
lenta)
hospedeiro definitivo
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▪ Epidemiologia:
▪ Formas clínicas:
▪ Toxoplasmose crónica: os sintomas estão associados aos órgãos alvos (pulmão, coração,
órgão linfóides, sistema nervoso central, olhos, etc.)
GRAVIDEZ
Transmissão
Gravidade 18
A transmissão no primeiro trimestre costuma ser fatal, infeções posteriores incluem sintomas
neurológicos e oculares (epilepsia, atraso psicomotor, encefalite, microcefalia, calcificações
intracranianas, coreorretinite, etc.) O bebé pode nascer assintomático e desenvolver os sintomas
meses ou anos depois.
▪ Diagnóstico
Os métodos serológicos são os mais utilizados para o diagnóstico de Toxoplasmose. O método
mais usado é o de imunoensaio enzimático (teste de ELISA).
Uma determinação de IgM positiva não confirma o diagnóstico (a IgM pode manter-se positiva mais
de 18 meses após a primo-infeção). Pelo contrário, um resultado de IgM negativo com positividade
para IgG exclui a infecção recente.
O método de diagnóstico definitivo é a observação dos trofozoítos ou dos cistos nos líquidos
biológicos ou nas biópsias de tecidos.
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IgM
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Trypanosoma ssp.
Tripanosomiase Africana ou
doença do sono Tripanosomiase Americana ou
doença de Chagas
▪ Epidemiologia:
Reservatório animal: T.b. gambiense – animais domésticos e homem, T.b. rhodesiense – gado,
ovelhas, animais selvagens.
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A mosca tsé-tsé injeta tripomastigotas metaciclicas na pele, eles disseminam-se via
hematogénea pelo corpo todo (LCR, sistema linfático) onde se multiplicam
A mosca tsé-tsé fica infectada por ingestão de tripomastigotas do fluxo sanguíneo que se
multiplicam no seu intestino e transformam-se em epimastigotas que migram para as glândulas
salivares da mosca onde continua a replicação
▪ Manifestações clínicas:
Fase II – invasão do SNC. Observa-se alternadamente sonolência diurna e insónia noturna. Ocorre
coma e morte.
Distribuição
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- T.b. gambiense - África Central e Ocidental (Congo, Angola, Sudão, Chad, Uganda, República
Africana Central)
Quadro clínico
- T.b. gambiense – cursa de forma mais indolente, progressão para a cronicidade no sistema nervoso
central – letargia, tremores, meningoencefalite, atraso mental e eventualmente morte.
- T. b rhodesiense – progressão aguda da doença com morte durante o primeiro ano em doentes
não tratados.
▪ Epidemiologia:
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Distribuição - México, América Central e Latina
A transmissão ocorre durante a picada dos percevejos que depois de sugar o sangue os
tripomastigotas das fezes contaminam a ferida, invadem as células da derme onde se transformam
em amastigotas, multiplicam-se e depois de sair das células invadidas transformam-se novamente
em tripomastigotas que infectam outras células ou circulam no sangue donde podem ser ingeridas
pela picada do percevejo.
▪ Manifestações clínicas:
Doença assintomática
Fase aguda pode observar-se o Chagoma (lesão no ponto de inoculação na pele ou na conjuntiva).
Também pode ocorrer um quadro de febre, adenopatias, edemas e por vezes miocardiopatia grave:
doença aguda.
Fase crónica provoca doença cardíaca com miocardiopatia ou alterações do ritmo cardíaco.
Também pode afetar o aparelho digestivo provocando megacolón ou megaesófago. Nesta fase
surge hepatoesplenomegalia; meningoencefalite no envolvimento do sistema nervoso central.
▪ Diagnóstico:
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Os métodos serológicos, moleculares e o xenodiagnóstico são opções alternativas.
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Leishmania ssp.
Leishmania é um parasita intracelular obrigatório, existe uma variedade cada vez maior de espécies
e grande diversidade geográfica e nas manifestações clínicas.
Espécies:
▪ Ciclo da vida:
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▪ Epidemiologia:
Sul da Europa, regiões tropicais e subtropicais da África, Ásia, Médio Oriente e América Latina
Reservatório – cão, ratos; Transmissão do hospedeiro animal para o homem e de homem para
homem é feita pela picada de sandfly (mais pequeno do que o mosquito)
Os insectos são infectados pela ingestão de amastigotas ao picar os animais infetados. Dentro do
intestino do inseto os amastigotas transformam-se em promastigotas infeciosos e migram para as
glândulas salivares deles.
▪ Manifestações clínicas:
Leishmaniose visceral: o parasita penetra através da pele e dissemina-se pelo sistema retículo
endotelial. As manifestações mais graves são a hepato-esplenomegalia, lesão renal e pancitopenia.
Leishmaniose cutânea: origina uma lesão e posteriormente uma úlcera na zona da picada. Pode
ocorrer disseminação nodular.
▪ Diagnóstico:
Observação do parasita (forma amastigota) na medula óssea ou biopsia dos tecidos no caso do
Kala-azar ou do rebordo da úlcera no caso da Leishmaniose cutânea.
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Outros métodos:
Culturas da medula óssea
Testes serológicos
Detecção de ADN
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