Xadrez de Estrelas
Xadrez de Estrelas
Xadrez de Estrelas
[...]
No plano nacional, retomou o diálogo com 22, interrompido por
uma contra-reforma convencionalizante e flora. Surgiu com um projeto geral
de nova informação estética, inscrito em cheio no horizonte de nossa
civilização técnica, situado em nosso tempo, humana e vivencialmente
presente. Ofereceu, pela primeira vez, uma totalização da experiência poética
estante, armando-se de uma visada e de um propósito coletivos. Enfrentou a
questão participante, mostrando que alistamento não significa alienação dos
problemas da criação, que conteúdo ideológico revolucionário só redunda em
poesia válida quando é veiculado sob forma também revolucionária. Pensou
o nacional não em termos exóticos, mas em dimensão crítica.
[...]
(CAMPOS et. all., op. cit., p. 9)
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(CAMPOS, 2008, s/p)
Curioso também o que - lên - , de silêncio está entre parênteses, parênteses que
determinarão o terceiro poema assinalado. Ainda, o fundo preto põe em xeque a
afirmação dos neoconcretas, segundo a qual, no concretismo, “a página se reduz a um
espaço gráfico e a palavra a um elemento desse espaço”. No tocante a esta assertiva,
convém retomarmos a explicação de Haroldo de Campos sobre o espaço, substituto do
verso na poesia concreta: “[...] na poesia concreta, o espaço está irremissivelmente
ligado ao tempo, de modo a se poder falar com mais propriedade num verdadeiro
espaço-tempo.” (CAMPOS, op. cit. 143). Dentre os exemplos que cita, ao justificar sua
ideia, destaco Joyce, que na última fase, parece ironizar o esquema bergsoniano, na
defesa de um espaço-tempo: “place all space in a notshall” (nut-shell – casca de noz).
Por meio dessa “interpenetração orgânica”, cada unidade “verbovocovisual” é,
simultaneamente, continente-conteúdo da obra inteira.
É mister também retomarmos os poemas de “Servidão de Passagem”, subtítulo
“forma de fome”, especialmente por terem ultrapassado o espaço delimitado pela
página, ao serem reproduzidos em pequenos totens no espaço externo da Casa das
Rosas, em São Paulo, durante exposição Ocupação Haroldo de Campos H láxia, de
17 de fevereiro a 10 de abril de 2011.
Na realidade, servidão de passagem é um termo jurídico, que significa
“passagem para uso público ou privativo, por um terreno que é propriedade particular”
(PANITZ, 2003, p. 342). Durante a exposição, os poemas que compõem Servidão de
Passagem estavam dispostos justamente na parte externa da Casa das Rosas, passagem
da Av. Paulista para a Al. Santos. Limitar-nos-emos a analisar o proêmio de Servidão de
Passagem:
proêmio
mosca ouro?
mosca fosca.
mosca prata?
mosca preta.
mosca íris?
mosca reles.
mosca anil?
mosca vil.
mosca azul?
mosca mosca.
mosca branca?
poesia pouca.
o azul é puro?
o azul é pus.
de barriga vazia
o verde é vívo?
o verde é vírus
de barriga vazia
o amarelo é belo?
o amarelo é bile
de barriga vazia
o vermelho é fúcsia?
o vermelho é fúria
de barriga vazia
a poesia é pura?
a poesia é para
de barriga vazia
nomeio o nome
nomeio o homem
no meio a fome
nomeio a fome
(CAMPOS, 2008, s/p)