TCC - Rafaella Collazzi

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE

SANTA CATARINA - CÂMPUS FLORIANÓPOLIS

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE SUPERIOR DE ENGENHARIA CIVIL

RAFAELLA COLOMBO COLLAZZI

PATOLOGIAS CONSTRUTIVAS EM UMA ESTAÇÃO DE


TRATAMENTO DE ESGOTO

Causa, recuperação e prevenção em reatores UASB’s

FLORIANÓPOLIS, 2019
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE
SANTA CATARINA - CÂMPUS FLORIANÓPOLIS

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE SUPERIOR DE ENGENHARIA CIVIL

RAFAELLA COLOMBO COLLAZZI

PATOLOGIAS CONSTRUTIVAS EM UMA ESTAÇÃO DE


TRATAMENTO DE ESGOTO

Causa, recuperação e prevenção em reatores UASB’s

Trabalho de conclusão de Curso submetido


ao Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Santa Catarina como parte
dos requisitos para obtenção do título de
engenheira civil.
Orientadora: Prof.ª Ms. Marcia Maria
Machado Steil
Coorientador: Prof. Ms. Reginaldo
Campolino Jaques

FLORIANÓPOLIS, 2019
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor.

Collazzi, Rafaella
PATOLOGIAS CONSTRUTIVAS EM UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO
DE ESGOTO : causa, recuperação e prevenção em reatores UASB’s
/ Rafaella Collazzi ; orientação de Marcia Steil;
coorientação de Reginaldo Jaques. - Florianópolis,
SC, 2019.
114 p.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - Instituto Federal
de Santa Catarina, Câmpus Florianópolis. Bacharelado
em Engenharia Civil. Departamento Acadêmico
de Construção Civil.
Inclui Referências.

1. Patologia construtiva. 2. Reator UASB. 3. Corrosão


do concreto armado. 4. Estação de tratamento de esgoto.
I. Steil, Marcia. II. Jaques, Reginaldo. III. Instituto
Federal de Santa Catarina. Departamento Acadêmico
de Construção Civil. IV. Título.
AGRADECIMENTOS

À Deus, por ser incrível como só ele é. Obrigada pelo aprendizado, por
me permitir cursar esse curso que tanto estimei e por transformar todos os
momentos difíceis em momentos surpreendentemente agradáveis. A Ele, toda
honra e toda glória.

Aos meus pais, pelo amor, apoio e incentivo nos meus sonhos. O meu
pai pela amizade e seu exemplo de amor, cuidado e caráter. A minha mãe pela
sua generosidade e exemplo de determinação, e força que tem me ajudado a
enfrentar os desafios. A minha eterna gratidão a vocês.

À minha irmã pelos momentos de risadas quando eu não conseguia


mais estudar, mas principalmente pelo seu exemplo de coragem, bravura e
superação.

Ao meu noivo por todo apoio, incentivo, parceria e entusiasmo nos


assuntos da vida e da engenharia, mas principalmente pelo exemplo de caráter
e integridade.

À Professora Márcia e Professor Reginaldo pela orientação, sinceridade,


incentivo, exemplo de profissionalismo e, sobretudo, pela credibilidade dada ao
meu trabalho.

À todos os colaboradores que me auxiliaram em diferentes etapas da


pesquisa, contribuindo de forma decisiva no desenvolvimento deste trabalho:
Anderson Miranda, Amilton de Chagas, Julia Pascal, Vitor Zubatch e a equipe
técnica da Companhia Catarinense de Saneamento (CASAN).
RESUMO

A agressividade do meio onde as estruturas de concreto armado estão


inseridas pode reduzir a vida útil das mesmas significativamente. As estações
de tratamento de esgoto sanitário, que utilizam o reator anaeróbio de manta de
lodo ascendente (UASB) como tratamento primário, apresentam elevada classe
de agressividade. A digestão anaeróbia do efluente resulta em agentes
patológicos bioquímicos, como ácidos, sulfato de cálcio di-hidratado, etringita,
gás sulfídrico, gases como metano e gás carbônico, entre outros. Estes reagem
quimicamente com os compostos do cimento e formam produtos expansivos,
provocando a fissuração e desagregação do concreto, levando à uma precoce
deterioração dessas estruturas. Foram vistoriadas 4 estações de tratamento de
esgoto em Florianópolis, onde foi possível confirmar as patologias sugeridas. A
partir da escolha da estação que apresentou maior degradação em relação ao
ano de construção, foi definido o estudo de caso da ETE Canasvieiras. Foi
então analisado e comparado a situação atual da estrutura do reator UASB 3
com os projetos e as especificações técnicas do projeto de estruturas de
concreto armado, juntamente com o ensaio de esclerometria para medir a
resistência superficial do concreto. Os resultados obtidos mostram um mau
controle tecnológico e executivo dessa estrutura, como também a
consequência da falta de manutenção e falta de especificações de projeto. Por
fim, foram propostas ações preventivas e corretivas para tal problema, com a
intervenções nas estruturas dos reatores anaeróbios a partir da substituição de
materiais; intervenção preventiva no uso do concreto armado e sugestões para
alterações de futuros projetos.

Palavras-Chave: Patologia construtiva, Reator UASB, Corrosão do concreto


armado, Estação de tratamento de esgoto.
ABSTRACT

The aggressiveness of the environment where the reinforced concrete


structures are inserted can reduce their useful life significantly. Sanitary sewage
treatment plants using the ascending sludge blanket anaerobic reactor (UASB)
as a primary treatment present a high class of aggressiveness. Anaerobic
digestion of the effluent results in pathological biochemical agents such as
acids, calcium sulfate dihydrate, ethngite, sulphide gas, gas such as methane
and carbon dioxide, among others. They react chemically with cement
compounds and form expansive products, causing cracking and disintegration
of the concrete, leading to an early deterioration of these structures. Four
sewage treatment plants in Florianópolis were inspected, where the suggested
pathologies could be confirmed. The case study of ETE Canasvieiras was
based on the choice of the station with the highest degradation in relation to the
year of construction. It was then analyzed and compared the current situation of
the reactor structure UASB 3 with the projects and technical specifications of
the design of reinforced concrete structures, Joint with the sclerometry test to
measure the surface resistance of the concrete. The results obtained show a
poor technological and executive control of this structure, as well as the
consequence of lack of maintenance and lack of design specifications. Finally,
preventive and corrective actions were proposed for this problem, with
interventions in the structures of anaerobic reactors from the replacement of
materials; preventive intervention in the use of reinforced concrete and
suggestions for changes in future projects.

Key words: Constructive pathology, UASB Reactor, Armed concrete corrosion,


Sewer treatment station.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema do sistema de esgotamento sanitário .............................. 19

Figura 2 - Esquema de ETE com reator UASB seguido de lodos ativados ...... 22

Figura 3 - Diferentes tipos de tratamento secundário ....................................... 23

Figura 4 - Relação entre a eficiência da remoção de material orgânico e o


tempo de permanência para diferentes tipos de tratamento ............................ 29

Figura 5 - Diagrama esquemático de digestão anaeróbia ................................ 32

Figura 6 - Desenho esquemático de um reator UASB ..................................... 35

Figura 7 - Diagrama de sistema de gases em um reator UASB ....................... 36

Figura 8 - Corte transversal de um reator UASB .............................................. 38

Figura 9 - Fases de hidratação de grãos de cimentos expressas pela variação


de liberação de calor em função do tempo ...................................................... 46

Figura 10 - Exemplo da desagregação do concreto devido à movimentação das


formas .............................................................................................................. 50

Figura 11 - Etapas da construção relacionado à durabilidade de uma estrutura


em concreto armado ........................................................................................ 52

Figura 12 - Representação da zona de transição e da matriz de cimento no


concreto ........................................................................................................... 54

Figura 13 - Fenômeno de carbonatação exposto em viga ............................... 57

Figura 14 - Tipos de corrosão e fatores que as provocam ............................... 58

Figura 15 - Mecanismo de deterioração do concreto por ataque de ácido


sulfúrico biogênico............................................................................................ 61

Figura 16 - Área de ensaio e pontos de impacto .............................................. 64

Figura 17 - Bigorna de aço ............................................................................... 64

Figura 18 - ETE Saco Grande – Degradação do concreto das canaletas ........ 69


Figura 19 - ETE Lagoa da Conceição – Oxidação da canalização do queimador
de gás .............................................................................................................. 70

Figura 20 - ETE Saco Grande – Degradação do concreto das canaletas ........ 70

Figura 21 - Distribuição do esgoto bruto no interior do UASB - ETE Barra da


Lagoa ............................................................................................................... 72

Figura 22 - Distribuição do esgoto bruto no interior do UASB 1 e 2 - ETE


Canasvieiras..................................................................................................... 72

Figura 23 - ETE da Barra da Lagoa - Degradação do concreto das canaletas e


fissura ............................................................................................................... 73

Figura 24 - ETE Barra da Lagoa – Oxidação de armaduras ............................ 73

Figura 25 – Planta baixa do reator UASB ........................................................ 76

Figura 26 - Corte BB do reator UASB .............................................................. 76

Figura 27 - Exposição da armadura devido à falta de cobrimento ................... 77

Figura 28 - Falha de concretagem ................................................................... 78

Figura 29 - Fissura na junta de concretagem ................................................... 79

Figura 30 - Eflorescências na parede externa no reator UASB ........................ 80

Figura 31 - Eflorescências na parede externa da caixa de distribuição de vazão


1 ....................................................................................................................... 81

Figura 32 - Flange de aço ................................................................................ 82

Figura 33 - Desagregação do concreto na laje de cobertura ........................... 83

Figura 34 - Esclerômetro de reflexão ............................................................... 84

Figura 35 - Ilustração da sequência de execução do ensaio de esclerometria 84

Figura 36 - Marcação dos pontos na tampa superior do reator 3 ..................... 85

Figura 37 - Realização do ensaio esclerométrico na região 1 .......................... 85

Figura 38 - Leitura dos valores do esclerômetro, na região 2 do reator ........... 86

Figura 39 - Polimento e marcação dos pontos ................................................. 87


Figura 40 - Ábaco de correlação ...................................................................... 91

Figura 41 - Desagregação do concreto na parede interna no reator UASB e


oxidação da armadura ...................................................................................... 95

Figura 42 – Borda da tampa de inspeção vedada com material polimérico ..... 99

Figura 43 - Esquema de câmera de dessorção .............................................. 100


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores comuns para DBO do efluente e de remoção em sistemas 28


Tabela 2 - Classes de agressividade ambiental ............................................... 39
Tabela 3 - Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do
concreto ........................................................................................................... 41
Tabela 4 - Requisitos para o concreto, em condições especiais de exposição 42
Tabela 5 - Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção
de armaduras, em função da classe de agressividade ambiental .................... 47
Tabela 6 - Revestimento de concreto (características comparativas) .............. 51
Tabela 7 - Fatores determinantes da corrosão em concretos .......................... 59
Tabela 8 - Características químicas de esgoto doméstico ............................... 60
Tabela 9 - Aspectos observados na degradação do concreto e aço nas ETE’s 67
Tabela 10 - Leitura inicial do esclerômetro na região 2 .................................... 86
Tabela 11 - Leitura inicial do esclerômetro na região 3 .................................... 88
Tabela 12 - Leitura inicial do esclerômetro ....................................................... 89
Tabela 13 - Resistência dos pontos obtidos na região 2 .................................. 91
Tabela 14 - Resistência dos pontos obtidos na região 3 .................................. 92
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto

CASAN – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento

COPASA – Companhia de Saneamento de Minas Gerais

DBO – Demanda Biológica de Oxigênio

NBR – Norma Brasileira

PEAD – Polietileno de Alta Densidade

PP – Polipropileno

PPR – Polipropileno Copolímero Random

PRFV – Polímero Reforçado com Fibra de Vidro

PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico

PVC – Policloreto de Vinila

SANEPAR – Companhia de Saneamento do Paraná

UASB – Upflow Anaerobic Sludge Blanket (Reator Anaeróbio de Manta


de Lodo ascendente)

UFTPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná


LISTA DE SÍMBOLOS

C2 H6 S – Dimetil Sulfeto

CH4 – Metano

CO2 – Dióxido de carbono

H2 – Hidrogênio molecular

H2 O – Água

H2 S – Ácido sulfídrico

N2 – Nitrogênio

NH3 – Gás amoníaco

O2 – Oxigênio

S2 O3−2 ; S4 O−2 −2
6 ; SO4 – Compostos de Enxofre

SO4−2 – Sulfato

SH – Metanotiol

H2 SO4 – Ácido sulfúrico


SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 1
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13
1.1 Definição do problema ............................................................................... 15

1.2 Justificativa ................................................................................................. 15

1.3 Objetivos .................................................................................................... 16

1.3.1 Objetivo geral ................................................................................... 16


1.3.2 Objetivos específicos ....................................................................... 16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 18
2.1 PROCESSOS DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO
(ETE) 18

2.1.1 Níveis de tratamento ........................................................................ 19


2.1.1.1 Tratamento preliminar ................................................................ 20
2.1.1.2 Tratamento primário ................................................................... 21
2.1.1.3 Tratamento secundário .............................................................. 22
2.1.1.3.1 Lagoas de estabilização ...................................................... 23
2.1.1.3.2 Lodos ativados .................................................................... 23
2.1.1.3.3 Sistemas aeróbios com biofilmes ........................................ 24
2.1.1.3.4 Sistemas anaeróbios ........................................................... 24
2.1.1.3.5 Tratamento do lodo ............................................................. 24
2.1.1.4 Tratamento terciário ................................................................... 25
2.2 EVOLUÇÃO DOS TIPOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO NO BRASIL
26

2.3 REATOR DE MANTA DE LODO ANAERÓBIO DE FLUXO


ASCENDENTE (UASB) .................................................................................... 29

2.3.1 Processo de digestão anaeróbia .................................................. 30


2.3.1.1 Fases da digestão anaeróbia ....................................... 31
2.3.1.2 Resultados da digestão anaeróbia................................ 33
2.3.2 Princípio de funcionamento do reator UASB ................................ 34
2.3.2.1 Queimador de gás ...................................................... 35
2.4 USO DO CONCRETO ARMADO EM ETE .......................................... 36

2.4.1 Projeto .............................................................................................. 37


2.4.1.1 Grau de agressividade ............................................................... 38
2.4.2 Materiais........................................................................................... 40
2.4.3 Controle tecnológico......................................................................... 42
2.4.4 Problemas, causas e cuidados a serem considerados durante a
execução da obra ...................................................................................... 44
2.4.4.1 Reações expansivas - fissuração no concreto .......................... 44
2.4.4.1.1 Causas da fissuração do concreto ...................................... 45
2.4.4.1.2 Limite de fissuração do concreto ......................................... 47
2.4.4.1.3 Cuidados preventivos ............................................ 48
2.4.4.2 Juntas de concretagem ................................................ 49
2.4.4.2.1 Movimentação das formas .................................... 49
2.4.4.2.2 Impermeabilização ................................................ 50
2.5 PATOLOGIAS NO CONCRETO ARMADO EM OBRAS DE SANEAMENTO
51

2.5.1 Patologias do concreto armado ................................................... 52


2.5.1.1 Constituição do concreto ............................................. 53
2.5.1.1.1 Tipos de cimento a durabilidade ao meio agressivo
54
2.5.1.2 Tipos de patologias ...................................................... 55
2.5.1.2.1 Infiltração, manchas, bolor ou mofo e eflorescência
55
2.5.1.2.2 Segregação do concreto ....................................... 56
2.5.1.2.3 Fissuras e trincas .................................................. 56
2.5.1.2.4 Carbonatação ......................................................... 56
2.5.1.2.5 Corrosão da armadura .......................................... 57
2.5.1.2.6 Corrosão do concreto ............................................ 58
2.5.2 Características físico-químicas do esgoto .................................... 59
2.5.3 Ataque químico ao concreto ......................................................... 60
2.6 ENSAIOS DESTRUTIVOS E NÃO DESTRUTIVOS .................................. 62

2.6.1 Ensaio de Esclerometria ............................................................... 63


2.6.1.1 Resultados do ensaio .................................................. 65
3 METODOLOGIA ............................................................................................ 66
3.1 Coleta e interpretação dos dados ....................................................... 66

3.1.1 Coleta dos dados .......................................................................... 67


3.2 Escolha do estudo de caso ................................................................. 74

3.2.1 Especificações técnicas do projeto estrutural e executivo – ETE


CANASVIEIRAS ........................................................................................ 74
3.3 Vistoria externa da estrutura ............................................................... 76

3.3.1 Cobrimento .................................................................................. 77


3.3.2 Falhas de concretagem ............................................................... 78
3.3.3 Junta de concretagem ................................................................. 79
3.3.4 Eflorescências ............................................................................. 80
3.4 Vistoria interna da estrutura ................................................................ 81

3.5 Realização do ensaio .......................................................................... 83

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO ENSAIO ............... 89


5 PROPOSTAS CORRETIVAS E PREVENTIVAS ........................................... 94
5.1 Patologia diagnosticada em reatores UASB’s da SANEPAR e métodos
corretivos aplicados – análise comparatória..................................................... 94

5.2 Intervenções a partir da substituição de materiais ..................................... 95

5.3 Intervenções preventivas no uso do concreto armado ............................... 97

5.4 Alterações de projeto .................................................................................. 98

5.4.1 Dessorção dos gases ..................................................................... 100


5.4.2 Compartimentos de decantação e câmera de gás ......................... 101
CONCLUSÃO................................................................................................. 102
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 105
1 INTRODUÇÃO

A preocupação com a durabilidade do concreto armado tem crescido nos


últimos anos, seja pelo apelo econômico (redução de custos com a
manutenção), social (pela falta de eficiência em obras públicas como é o caso
de pontes, obras de saneamento, energia), ou ambiental (uma vez que
materiais mais duráveis implicam no menor consumo de recursos naturais). O
concreto armado, apesar da versatilidade para a execução de estruturas, pode
apresentar desempenho inadequado diante dos fatores ambientais a que está
exposto. Os problemas patológicos, salvo raras exceções, apresentam
manifestações externas características, a partir da qual se pode deduzir qual a
natureza, a origem e os mecanismos dos fenômenos envolvidos. Assim, pode-
se estimar suas prováveis consequências. As patologias construtivas indicam
que pode ter havido falhas no projeto ou falhas de execução das etapas de
construção.

De acordo com Filho et al (2014) a exposição do concreto à ação de


esgoto sanitário, em uma estação de tratamento de esgoto (ETE) de digestão
anaeróbica, configura um ambiente de alta agressividade, tendo em vista que o
microclima formado pela digestão dos microrganismos presentes no efluente
produzem compostos contendo considerável concentração de ácido sulfúrico
biogênico (H2 SO4 ), principal responsável pela degradação da estrutura e outras
substâncias bioquímicas. Ademais, os problemas decorrentes da má execução
em obras hidráulicas, a pouca manutenção e somado com a falta de uma
normatização específica faz com que as manifestações patológicas em
estruturas utilizadas para o tratamento de esgoto sanitários e tornem um
problema cada vez maior.

O tratamento de esgotos tem por finalidade garantir a requalificação das


águas para que retornem aos cursos d’água ou sejam reutilizadas, livres, ou
com percentual muito reduzido, de substâncias contaminantes que possam
comprometer o meio ambiente e a saúde pública. Segundo Cruz (2016), o tipo
de tratamento utilizado depende das características do efluente e dos requisitos
exigidos pela legislação, assim como fatores econômicos e disponibilidade de
13
área. De uma forma geral, os tipos de tratamento biológico podem ser divididos
em aeróbios e anaeróbios. O tratamento anaeróbio tem como característica a
degradação da matéria orgânica em meio anóxico, realizado por um grupo de
microrganismo.

Um sistema de tratamento anaeróbio muito utilizado no início dos anos


90, para a digestão primária do esgoto sanitário, é o reator UASB (Upflow
Anaerobic Sludge Blanket) ou em português: Reator Anaeróbio de Fluxo
Ascendente. Desenvolvido na Holanda pelo professor Gatz Lettinga e sua
equipe, o reator UASB possui segundo Jordão; Pessôa (2014), operação
simples e econômica, sendo estudado e aprimorado principalmente em países
em desenvolvimento, dentre eles, o Brasil.

Apesar do tema patologia em estações de tratamento de esgoto já ser


conhecido, é indispensável o conhecimento e identificação os detalhes do
processo de degradação para se sugerir meios de intervir e frear esse
processo, seja através da diferente concepção de novos projetos ou através de
um plano de manutenção.

14
1.1 Definição do problema
Os problemas operacionais decorrentes das patologias manifestas nos
reatores UASB’s podem ser de pequena significância, porém se não forem
monitoradas e tomadas medidas de controle e mitigação dos danos, esses, podem
causar uma interrupção da unidade, gerando transtornos não só para a
concessionária que opera as estações de tratamento, mas principalmente para a
população local e o maio ambiente. Os altos custos de remediação e o ambiente
desfavorável em que essas estruturas se encontram (maresia, esgoto, gases, etc.)
exigem uma maior atenção quando se fala dos processos construtivos e a
manutenção dessas unidades.

Tendo em vista a importância dos reatores anaeróbios de manta de lodo de


fluxo ascendente nas estações de tratamento de esgoto, para a garantia da saúde
pública através do tratamento de águas usadas domesticamente, a preservação do
meio ambiente, e, considerando os problemas patológicos nas estruturas de
concreto armado das Estações de Tratamento de Esgotos, surge a urgência de
voltar-se a essas estruturas a fim de se fazer uma análise da causa e dos motivos
que tem provocado a avançada degradação a fim de freá-la, reparar os danos já
ocasionados e fazer a mudança de futuros projetos, para que esses agentes
patológicos venham a ser contidos.

1.2 Justificativa
As estações de tratamento de esgoto são estruturas essenciais nos
aglomerados urbanos. Os elevados investimento principalmente de órgãos públicos,
para esse tipo de obra é muito significativo para não ser utilizado com racionalidade.
Se nenhuma necessidade de intervenção e manutenção nas estruturas já existentes,
como também, as mudanças na concepção de futuros projetos, não forem
apontadas, várias outras estações serão executadas com base no mesmo “projeto
padrão” e as mesmas manifestações patológicas surgirão.

Devido à alta agressividade do esgoto sanitário nas estruturas de concreto


armado, faz-se necessário a manutenção constante dessas. Assim, identificar as

15
causas das patologias é fundamental para fazer correções nas estruturas já
existentes, como também permitir revisões e considerações de futuros projetos.

Na busca do tema ser abordado foram feitas visitas técnicas as estações de


tratamento de esgotos da CASAN e verificou-se que há patologias consideráveis e
passíveis de serem estudadas, visando a melhoria nas futuras execuções, bem
como, maneiras de reparar as patologias já existentes.

São estes os fatores que caracterizam a importância desta pesquisa:


compreender de forma mais específica os mecanismos de degradação de estruturas
em concreto armado em ambientes de alta agressividade, como é o caso das
estações de tratamento de esgoto, dar subsídio para possíveis recuperações e
planos para a prática de novas estruturas a serem construídas.

1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Identificar as patologias no concreto armado encontradas em estruturas
utilizadas para o tratamento anaeróbio de esgoto doméstico, especificamente em
reatores UASB’s, nas Estações de Tratamento de Esgoto de Florianópolis,
destacando as principais causas, possíveis recuperações e prevenção.

1.3.2 Objetivos específicos


 Pontuar os problemas patológicos nas estações de tratamento de
esgoto da Barra da Lagoa, Lagoa da Conceição, Canasvieiras e João
Paulo, as quais possuem como tratamento primário o sistema de
reatores anaeróbios tipo UASB;
 Apresentar um estudo de caso da estação de tratamento de esgoto,
dentre as avaliadas, que se encontra mais degradada, identificando as
origens patológicas para os problemas encontrados na estrutura do
reator;

16
 Avaliar as condições e dureza superficial do concreto da estação de
tratamento em questão, através do ensaio não destrutivo de
esclerometria;
 Propor soluções de recuperação da ETE do estudo de caso;
 Propor soluções preventivas e sugerir possíveis mudanças para a
concepção de novos projetos de reatores anaeróbios tipo UASB.

17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste presente trabalho serão revisados aspectos importantes inerentes as


patologias construtivas manifestas em estruturas hidráulicas - reatores de manta de
lodo ascendente (UASB). Para isso, serão apresentados os processos gerais e os
tipos de tratamento de esgoto em uma ETE, desde a chegada do efluente (através
da rede coletora), até o seu devido tratamento dentro da estação de tratamento.

Em seguida será abordado um breve histórico dos tipos de tratamento de


esgoto no Brasil, junto com sua evolução durante os anos. O tópico seguinte será
voltado especificamente para o reator de manta de lodo, envolvendo o princípio de
funcionamento, os processos da digestão anaeróbia até o resultado final do
processo digestivo, com destaque para os componentes bioquímicos formados no
final da digestão. O item consecutivo envolve o uso do concreto armado para a obra
apresentada, especificando detalhes de projetos, o uso de materiais e a
consequência da má escolha dos mesmos, observações importantes de normas
técnicas e a consequência da falta de normatização específica para obras de
estruturas hidráulicas.

Serão apresentadas também as patologias no concreto armado com o uso


destinado a obras hidráulicas. As consequências da má execução do projeto, os
tipos de ataques mais comuns para obras de elevada agressividade e as
consequências da falta de manutenção.

Por fim, será abordado uma breve descrição dos tipos de ensaio destrutivos e
não destrutivos.

2.1 PROCESSOS DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO (ETE)

De acordo com a NBR 12209/1992 uma estação de tratamento de esgoto


sanitário é constituída de um conjunto de unidades de tratamento, equipamentos,
órgãos auxiliares, acessórios e sistemas de utilidades que tem como objetivo reduzir

18
as cargas poluidoras do efluente e dar uma condição suficiente para atender aos
padrões do corpo receptor.

O sistema de tratamento de esgoto tem início na coleta do esgoto, feito


através da rede coletora que possui seu funcionamento dirigido por gravidade, a
qual leva esgoto para a estação elevatória da bacia em que se encontra. As
estações elevatórias de cada bacia, quando atingem seu nível de funcionamento,
entram em trabalho e bombeiam o efluente para uma outra estação elevatória, com
maior capacidade de carga, e então, esta última, destina o efluente através de um
emissário de recalque até a estação de tratamento de esgoto (Figura 1).
Figura 1 - Esquema do sistema de esgotamento sanitário

Fonte: Autoria própria

2.1.1 Níveis de tratamento


O tratamento de esgoto em uma ETE é definido em níveis, quanto maior for o
nível, mais eficaz será o processo de remoção de contaminantes do efluente. De
acordo com Sperling (2005) o tratamento é dividido em: tratamento preliminar,
tratamento primário, tratamento secundário e tratamento terciário. No tratamento
preliminar são removidos sólidos grosseiros em suspensão e areia; no tratamento
primário é feita a remoção dos sólidos em suspensão sedimentáveis e da demanda
biológica de oxigênio (DBO) associada à matéria orgânica dos sólidos em
suspensão. Sperling (2005) ainda afirma que no tratamento secundário é removida a
DBO em suspensão de matéria orgânica presente no esgoto bruto, DBO particulada
finamente e DBO solúvel. Para o nível de tratamento terciário, que ainda é pouco
comum no Brasil, é feita a remoção de nutrientes, organismos patógenos,
compostos não biodegradáveis, metais pesados entre outros.
19
As operações e processos do tratamento são também divididos em processos
aeróbios e processos anaeróbios. De acordo com Jordão (2005), no tratamento
aeróbio dá-se destaque para os processos de lodos ativados, devido à sua ampla
variação, e a utilização de filtros biológicos, que são extremamente simples em sua
concepção e operação. Para o tratamento de processos anaeróbios, as lagoas de
estabilização eram muito utilizadas; nelas, as bactérias estabilizam a demanda
biológica de oxigênio (DBO) do líquido e as partículas sedimentáveis se depositam
no fundo da lagoa. Porém, devido ao crescimento das cidades e a necessidade de
grande área requerida há operação de lagoas, as mesmas foram substituídas por
reatores anaeróbios de fluxo ascendente (reatores UASB).

2.1.1.1 Tratamento preliminar


O tratamento preliminar está destinado a fazer a remoção de sólidos
grosseiros e da areia presente no esgoto sanitário que chega até a estação e
tratamento. Para isso são utilizados mecanismos de grandeza física como a grade
que tem a função de reter sólidos e o desarenador que retém a areia sedimentável
que se encontra no efluente. De acordo com Sperling (2005) na maioria dos casos é
também incluso no tratamento preliminar uma unidade para medição de vazão.

Segundo Jordão (2005) os principais objetivos na remoção dos sólidos


grosseiros são: a proteção das estruturas que recebem o efluente, a proteção dos
dispositivos de transporte de esgoto (bombas e as tubulações), evitar problemas nas
unidades que sequenciam o tratamento e a remoção parcial da carga poluidora.
Sendo assim a redução dos sólidos fica sintetizada e se torna uma fase fundamental
para o condicionamento do esgoto para posterior tratamento.

As finalidades básicas para a remoção de areia, de acordo com Sperling


(2005) são: evitar a abrasão nos equipamentos e tubulações, reduzir a possibilidade
de obstruções, facilitar o transporte do líquido principalmente a transferência de lodo
em suas diversas fases. As caixas de areia podem ser com aeração ou sem
aeração, essa última mais comum e são limpas com caminhão limpa-fossa ou
manualmente.

20
2.1.1.2 Tratamento primário
Conforme Sperling (2005) o tratamento primário possui a função de remover
uma pequena fração da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), como também
remover os sólidos flutuantes e os sólidos em suspensão sedimentáveis. Após o
efluente passar pelo tratamento preliminar, ainda se encontram sólidos em
suspensão não grosseiros, os quais podem ser removidos em unidades de
sedimentação.

Decantadores primários são unidades do tratamento primário, que recebem


os esgotos do tratamento preliminar, isentos dos sólidos removidos (Jordão, 2005, p.
247).

O efluente circula de forma lenta dentro do decantador, isso possibilita com


que as partículas sedimentáveis, de maior densidade que o líquido, se adiram umas
às outras e decantem, depositando-se no fundo. De acordo com Sperling (2005)
nessa etapa do processo pode também ser acrescidos agentes coagulantes, como
sulfato de alumínio e cloreto férrico, o que aumenta a eficiência do tratamento
primário. A massa que se deposita no fundo dos decantadores é denominada de
lodo primário bruto e é retirada por meio de tubulações ou através de raspadores
mecânicos. Os materiais flutuantes de menor densidade, como espuma e escuma
(proveniente de graxas e óleos) se depositam na superfície, onde são removidos do
tanque para posterior tratamento.

A utilização de reatores anaeróbios de fluxo ascendente (reatores UASB) vem


sendo cada vez mais empregada para tratamentos primários, sendo sequenciado de
outra (s) unidade (s) de tratamento, dependendo das exigências da legislação
ambiental do corpo receptor que receberá o efluente final. De acordo com Jordão
(2005) com a utilização dos decantadores primários a eficiência na redução da DBO
fica em torno de 25% a 35% e com a utilização dos reatores anaeróbios esse valor
sobe para 45% a 85% (essa variação depende do tempo que o efluente fica no
UASB). Isso tem possibilitado uma redução significativa no volume das unidades no
tratamento. Posteriormente será abordado com maior atenção esse sistema de
tratamento.

21
Na Figura 2 é representado uma ETE que utiliza o reator UASB como
tratamento primário, seguido de um pós tratamento com o tanque de aeração e
posteriormente decantador secundário, até a disposição final do efluente.

Figura 2 - Esquema de ETE com reator UASB seguido de lodos ativados

Fonte: PROSAB (1999)

2.1.1.3 Tratamento secundário


O principal objetivo do tratamento secundário é reduzir e remover a matéria
orgânica, através de agentes biológicos, presente no efluente que não podem ser
removidas por processos físicos como a sedimentação. Este nível de tratamento
pode ou não proceder o tratamento primário.

Vários processos de tratamento secundário são concebidos de forma a


acelerar os mecanismos de degradação que ocorrem naturalmente nos corpos
receptores (Sperling, 2005, p. 273). Esse processo se dá através de reações
bioquímicas feitas por microrganismos como bactérias, fungos, protozoários, etc. De
acordo com Jordão (2005), a matéria orgânica é convertida em gás carbônico, água
e material celular. Quando em condições anaeróbias (sem a presença de oxigênio)
há também a produção do gás metano.

22
Dentre a ampla variedade de tratamento secundário os mais comuns são
representados na Figura 3:

Figura 3 - Diferentes tipos de tratamento secundário

Fonte: Nunes (2015)

2.1.1.3.1 Lagoas de estabilização


Lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a
estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação
aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução fotossintética das algas (Jordão,
2005, p. 702)

O que difere as lagoas de estabilização e suas variantes uma das outras é a


forma de estabilização da matéria orgânica, elas podem ser classificadas como:
lagoa facultativa, lagoa anaeróbia / lagoas facultativas, lagoa aerada facultativa,
lagoa aerada de mistura completa / lagoa de decantação.

2.1.1.3.2 Lodos ativados


23
Sperling (2005) afirma que o sistema de lodos ativados possui uma elevada
qualidade de tratamento na resultante do efluente final, alto consumo energético e
complexidade de operação, por outro lado apresenta baixas exigências de área
física, o que torna esse sistema muito utilizado mundialmente.

As variantes do sistema de lodos ativados dependem da idade do lodo, do


tipo de fluxo e com o objetivo de tratamento e podem ser classificados como lodos
ativados convencional, aeração prolongada e fluxo intermitente.

2.1.1.3.3 Sistemas aeróbios com biofilmes


Segundo Jordão (2005), o sistema aeróbio com biofilmes é composto por
reatores nos quais a biomassa cresce aderida a um meio suporte, como pedras de
baixa granulometria ou polímeros a fim de aumentar a área de contato entre o
efluente e os biodigestores. As variantes dentro deste conceito são: filtro biológico de
baixa carga, filtro biológico de alta carga, filtro aerado submerso e biodisco. Todos
estes sistemas podem ser usados como pós-tratamento do efluente de reatores
anaeróbios.

2.1.1.3.4 Sistemas anaeróbios


O tratamento anaeróbio consiste em unidades dimensionadas para o
tratamento do efluente sem a presença de oxigênio, onde a biomassa (formada pela
digestão da matéria orgânica) fica depositada do fundo da estrutura por um longo
tempo.

De acordo com Jordão (2005), são considerados três fatores para a utilização
desse sistema de tratamento: acumulação de massa no interior do reator, melhor
contato entre a biomassa e o despejo da melhor atividade da mesma.

Reator de manta de lodo (UASB), filtro anaeróbio, e o reator anaeróbio de


leito fluidizado (RALF) são exemplos desse sistema de tratamento.

2.1.1.3.5 Tratamento do lodo

24
A produção do lodo a ser gerado é função precípua do sistema de tratamento
utilizado na fase líquida. Em princípio, todos os processos de tratamento geram lodo
(Sperling, 2005, p. 357).

Assim como os diferentes processos do tratamento geram um efluente líquido


distinto, o lodo produzido em cada etapa do tratamento é também diferente, sendo
distinguidos por lodo primário, secundário ou biológico e lodo excedente. De acordo
com Jordão (2005), o lodo digerido atinge teores de umidade de 96% e apenas 4%
de teor de sólidos.

As etapas do tratamento conferido a esse tipo de resíduo seguem a


sequência: adensamento, estabilização, condicionamento, desidratação e disposição
final.

2.1.1.4 Tratamento terciário


Embora ainda muito pouco presente no Brasil, Sperling (2005) diz que o
tratamento terciário possui como finalidade fazer a remoção de nutrientes,
patógenos, matais pesados e sólidos inorgânicos dissolvidos do efluente final, antes
do mesmo ser lançado no corpo hídrico receptor. Dependendo do processo adotado,
a remoção de nutrientes e organismos patogênicos pode ser integrado junto ao
tratamento secundário.

O objetivo da desinfecção não é exterminar completamente a presença de


microrganismos, como se pratica na esterilização na medicina, mas a inativação
seletiva de organismos patogênicos (Jordão, 2005, p. 855). Dessa forma, os
métodos de desinfecção mais utilizados em países desenvolvidos podem ser
naturais ou artificiais.

De acordo com Daniel (2001) conforme citado por Sperling (2005), os tipos de
desinfecção natural são divididos em dois processos.

1. Processo de lagoa de maturação e polimento: devido à baixa


profundidade da lagoa, a penetração da radiação solar ultravioleta e as
condições ambientais desfavoráveis causam a morte dos vírus e
bactérias.
25
2. Infiltração no solo: não necessita de produtos químicos, apenas as
condições do solo em que é lançado, por si só provocam a morte dos
microrganismos.

Daniel (2001) ainda ressalta que os métodos de desinfecção artificial podem


ser:

1. Cloração: a elevada dosagem de cloro aplicada ao efluente final


provoca a morte dos patógenos, e por outro lado encarece o processo.
2. Ozonização: Possui alta eficácia na desinfecção devido ao poder
oxidante presente na composição molecular no ozônio.
3. Radiação ultravioleta: gerada por lâmpadas especiais essa técnica
impede a reprodução de agentes patógenos.
4. Membranas: são membranas de mui pequena dimensão, dessa forma
constitui uma barreira física para os microrganismos, chamada de
filtração ou nano filtração.

O processo de remoção de nutrientes do efluente final como o nitrogênio e o


fósforo são feitos em lagoas. De acordo com Arceivala (1981, apud Sperling, 2005,
p.322), os principais mecanismos de remoção de nitrogênio são: volatilização da
amônia, assimilação da amônia e do nitrato pelas algas, nitrificação – desnitrificação
e sedimentação do nitrogênio orgânico particulado. O fósforo presente no esgoto é
composto de fósforo orgânico e fosfatos e sua remoção ocorre a partir da
precipitação de fosfatos em condições de elevado pH.

2.2 EVOLUÇÃO DOS TIPOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO NO BRASIL

O Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB) introduz que o


início do sistema de tratamento de esgoto em estações de tratamentos começou a
ser comercializado no Brasil, em 1930 a 1950, e o uso de processos anaeróbios
para o tratamento era restrito a lagoas anaeróbias, aos decanto digestores e os
digestores de lodo. Um dos principais métodos de tratamento de efluente, que deu
início a essa evolução na saúde e no zelo com o meio ambiente, foram as lagoas de

26
estabilização. Devido ao baixo índice populacional, e a eficiência no tratamento o
sistema foi amplamente difundido no território nacional.

A evolução da tecnologia de tratamento de esgotos em ambiente confinado


e controlado iniciou-se com a constatação de que lagoas poderiam ser
utilizadas para esse fim e também com as proposições, em 1893 e 1914, de
sistemas que hoje são conhecidos como tanques sépticos e lodos ativados
aeróbios, respectivamente (PROSAB, 1999, p. 2).
Segundo Jordão (2005) acreditava-se que o tratamento anaeróbio era
aplicável apenas no processo de digestão de lodos, com alta concentração de
sólidos, e o tratamento de águas residuais possuía melhor eficiência quando feito
pelo processo aeróbio.

De acordo com PROSAB (1999), os pesquisadores James C. Young e Perry


L. McCarty concluíram a eficiência dos reatores anaeróbios também para o
tratamento de despejos líquidos, foi então que, os primeiros reatores começaram a
ser concebidos, na Holanda. Devido ao pouco conhecimento desse tipo de
tratamento na época, os mesmos trabalhavam com sua menor eficiência.

Considerando o crescimento das cidades e a pouca disposição territorial para


o uso de lagoas, o controle ambiental voltado à contaminação do solo, do lençol
freático e ainda o desmatamento, o tratamento de esgotos em lagoas de
estabilização aos poucos foi cedendo lugar para outros métodos de tratamento.
Estudos e pesquisas desenvolvidos no exterior sugeriram estações mais compactas,
dimensionadas para atingirem maior eficiência no tratamento de efluentes.

Foi então que em 1980 os reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manta


de lodo (UASB) ganharam espaço no país.

Possuindo as limitações inerentes ao tratamento anaeróbio com baixa


eficiência e difícil controle operacional em certos casos, porém com uma
estrutura com áreas bastante reduzidas, o tornou mais atrativo quando
comparado com lagoas anaeróbias (Nuvolari, 2011, p. 401).
Conforme PROSAB (1999), a exploração inadequada dos reatores UASB e o
mau conhecimento do sistema fizeram com que a qualidade do efluente final desse
processo fosse muito baixa, causando um comprometimento com o uso dos reatores
em alguns órgãos estaduais e municipais de saneamento básico.

27
Todavia, com contínuas pesquisas feitas pela SANEPAR e a seleção de
melhores concepções desses reatores, os mesmos vêm retomando a credibilidade
para o tratamento de esgotos sanitários.

Em relação à demanda biológica de oxigênio (DBO) para processos


anaeróbios, a Tabela 1 demonstra a eficiência dos sistemas, quando bem operados.

Tabela 1 - Valores comuns para DBO do efluente e de remoção em sistemas

Sistema anaeróbio DBO de efluente (mg/l) Remoção da DBO (%)


Lagoa anaeróbia 70-160 40-70
Reator UASB 60-100 55-75
Fossa séptica 80-150 35-60
Tanque Imhoff 80-150 35-60
Fossa séptica 40-60 75-85
seguida de filtro anaeróbio
Reator 70-160 40-65
compartimentado
Reator de leito 60-100 60-75
expandido
Fonte: Adaptado de PROSAB (1999)

A eficiência do tratamento em reatores anaeróbios está relacionada ao tempo


de detenção hidráulica do efluente sanitário. Dessa forma, a Figura 4 relaciona em
um gráfico a eficiência da remoção da carga orgânica para três diferentes sistemas
de tratamento anaeróbio – o reator do tipo DALF, do tipo RALF e lagoa anaeróbia
com o tempo de permanência do efluente.

28
Figura 4 - Relação entre a eficiência da remoção de material orgânico e o tempo
de permanência para diferentes tipos de tratamento

Fonte: Memorial descritivo da ETE Barra da Lagoa – CASAN (2000).

2.3 REATOR DE MANTA DE LODO ANAERÓBIO DE FLUXO ASCENDENTE


(UASB)

O reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) é uma tecnologia de


tratamento biológico de esgoto, baseada na decomposição anaeróbia de matéria
orgânica. Foi desenvolvido na Holanda na década de 70 pela equipe do professor
Gatze Lettinga, por possuir operação simples e econômica, vem sendo estudado e
aprimorado em diversos países, incluindo o Brasil.

O princípio de funcionamento desses reatores consiste em um processo


anaeróbio, isso significa que durante a digestão do efluente, não há presença de
oxigênio (O2). Os reatores se enquadram no nível primário de tratamento e sua taxa
média de redução de DBO gira em torno de 55% a 75%, de acordo com a Tabela 1.
Devido às rigorosas legislações face à qualidade do tratamento, ficou evidente que o
reator UASB por si só não atenderia aos novos padrões das legislações ambientais
para o lançamento do efluente no corpo hídrico receptor, e, por esse motivo faz-se
necessário um pós tratamento do esgoto após a passagem pelo UASB.
29
2.3.1 Processo de digestão anaeróbia
A digestão anaeróbia é um processo fermentativo que tem como finalidade a
remoção de matéria orgânica e a formação de biogás, de acordo com Lima (2006),
esse método de digestão promove a transformação de compostos orgânicos
complexos, como carboidratos, proteínas e lipídios, em produtos mais simples como
metano e gás carbônico.

Nos reatores anaeróbios, a formação do metano é altamente desejável,


uma vez que a matéria orgânica, geralmente medida como demanda
bioquímica de oxigênio (DQO), é efetivamente removida da fase líquida,
pois o metano apresenta baixa solubilidade na água (PROSAB, 1999, p.
31).
O objetivo dos sistemas anaeróbios é acelerar a digestão da matéria orgânica
presente no efluente, para que isso aconteça as condições de pH, temperatura,
nutrientes e ausência de materiais tóxicos devem ser controlados.

PROSAB (1999) cita as vantagens e desvantagens do tratamento por


reatores UASB’s. Dentre as vantagens estão:

1. Baixo consumo de energia;


2. Possibilidade de recuperação e utilização do gás metano como
combustível;
3. Menor produção do lodo de excesso (o que gera uma economia na
destinação final do mesmo);
4. Baixo custo de implantação e pequena demanda de área.

Os principais aspectos negativos estão relacionados com:

1. Sensibilidade do processo e mudanças e condições ambientais;


2. Geração de odores desagradáveis e corrosão;
3. Necessidade de um pós tratamento devido à baixa remoção de
nitrogênio, fósforo e patógenos;
4. Insuficiente redução de DBO para ser lançada no corpo hídrico
receptor;
5. Maior tempo de detenção hidráulico.

30
2.3.1.1 Fases da digestão anaeróbia

O processo de digestão anaeróbia pode ser dividido em quatro fases


principais, sendo elas: hidrólise, acidogênese, acetogênese metanogênese, e ainda
quando na presença de sulfato, a sulfatogênese.

 A primeira fase no processo de degradação anaeróbia consiste na hidrólise


de materiais particulados complexos (polímeros), em materiais dissolvidos
mais simples (moléculas menores) (CHERNICHARO, 1997, p. 25). Esse
processo ocorre graças às bactérias fermentativas hidrolíticas. Versiani (2005)
exemplifica: os aminoácidos são formados pela hidrólise das proteínas, os
carboidratos são hidrolisados em açúcares simples e os lipídios solúveis em
ácidos graxos.
 Na acidogênese as bactérias fermentativas acidogênicas metabolizam as
substâncias procedentes da etapa anterior até produtos mais simples.
Segundo Versani (2005, apud KULISCH, 2011, p. 59) os principais produtos
formados são ácido propiônico, ácido butírico, ácido acético, ácido lático,
ácido valérico, dióxido de carbono (CO2 ), ácido sulfídrico (H2 S), hidrogênio
(H2 ) e novas células microbianas. Em virtude da grande quantidade de ácidos
gerados, essa etapa é denominada fase ácida.
 Durante a fase de acetogênese, as bactérias são responsáveis pela oxidação
dos produtos gerados na fase acidogênica e formam o substrato para as
bactérias matanogênicas. Chernicharo (1997) ressalta que os produtos
formados por essas bactérias são hidrogênio (H2 ), o dióxido de carbono (CO2 )
e o acetato. Durante a formação do hidrogênio o pH do meio aquoso
decresce.
 A metanogênese, etapa final do processo de degradação anaeróbia de
compostos orgânicos é feita por bactérias metanogênicas, onde a digestão
dos elementos gerados na fase anterior resulta no metano (CH4 ) e no dióxido
de carbono (CO2 ). Além do metano (70%) e do dióxido de carbono (30%) o
biogás contém outros gases como nitrogênio, hidrogênio e ácido sulfidrico
(𝐻2 𝑆) com concentrações inferiores a 1% (VERSANI, 2005, apud Kulisch,
2011, p. 59).

31
Chernicharo (1997) acrescenta a digestão sulfatogênica, onde a presença do
sulfato em águas destinadas ao tratamento provoca uma competição entre as
bactérias sulferedutoras e as bactérias fermentativas pelo substrato acetato,
disponível no efluente. Essa disputa resultara em uma maior concentração de sulfato
(SO−2
4 ) quando houver maior presença de gás sulfídrico (H2 S) ou DQO quando

houver maior presença de bactérias fermentativas.

A produção de sulfetos é o processo no qual o sulfato e outros compostos a


base de enxofre são utilizados como aceptores de elétrons durante a
oxidação de compostos orgânicos. Durante esse processo, sulfato, sulfito e
outros compostos sulfurados são reduzidos a sulfeto, através da ação de
um grupo de bactérias redutoras de sulfato. (VISSER, 1995 apud
Chernicharo, 1997, p. 28)
Na Figura 5 pode-se observar a sequência metabólica e grupos microbianos
envolvidos na digestão anaeróbia.

Figura 5 - Diagrama esquemático de digestão anaeróbia

Fonte: PROSAB (1999)

32
2.3.1.2 Resultados da digestão anaeróbia
No processo de digestão anaeróbia, conforme já mencionado, as
diferentes digestões metabólicas dos microrganismos, pode-se ter também a
geração de diferentes gases. Os principais gases (em termos de porcentagem na
composição do biogás) gerados nesses reatores são: metano (CH4 ), gás carbônico
(CO2 ), gás amoníaco(NH3 ), gás sulfídrico (H2 S), hidrogênio(H2 ) e nitrogênio(N2 )
(PROSAB, 1999, p. 250).

Deublein e Steinhauser (2008) apresentam como composição do biogás uma


mistura gasosa composta por:

● 55 a 70% de Metano (CH4);


● 30 a 45% de Dióxido de Carbono (CO2);
● Outros gases em menores quantidades
○ Ácido Sulfídrico (H2S);
○ Monóxido de Carbono (CO);
○ Amônia (NH3);
○ Hidrogênio (H2);
○ Nitrogênio (N2);
○ Oxigênio (O2);
Os compostos de enxofre presentes no esgoto, na presença das bactérias
redutoras de sulfato, passam pelo processo de dessulfatação e resultam no ácido
sulfídrico (H2 S) e anidrido carbônico (CO2 ). De acordo com HOPPE et al (2014), o
ácido sulfídrico, ao se desprender do efluente na forma de sulfeto de hidrogênio,
reage parcialmente com o oxigênio do ar atmosférico, formando água (H2 O) e
compostos de enxofre (S2 O−2 −2 −2
3 ; S4 O6 ; SO4 ), já a outra parcela do sulfeto de

hidrogênio (H2 S), assim como o anidrido carbônico (CO2 ), se dissolve na água
contida na estrutura porosa do concreto, reduzindo gradativamente o pH.

Mockaitis (2008) diz que a forma mais estável e difundida dos compostos de
enxofre é o íon sulfato e em águas residuais provenientes do processo anaeróbio,
sua concentração varia de 20 a 50 mg/L.

Segundo a WATER ENVIRONMENT FEDERATION - WEF (1995), a


concentração de sulfato em esgotos domésticos pode variar de 30 a 250
mg/L. A formação de sulfeto de hidrogênio a partir de sulfato segue uma
33
proporção estequiométrica de 1:3 em massa, ou seja, um mol de sulfeto de
32 gramas é produzido a partir de um mol de sulfato de 96 gramas.
(KULISCH, 2011, p. 54).
Segundo BAIRD (1998), moléculas orgânicas como aminoácidos (resultantes
da digestão acidogênica), possuem níveis intermediários de oxidação. Quando tais
substâncias se decompõem anaerobicamente, gases contendo enxofre em formas
reduzidas como metanotiol (SH) e dimetil sulfeto (C2 H6 S) são liberados.

2.3.2 Princípio de funcionamento do reator UASB


Os reatores anaeróbios de fluxo ascendente e de manta de lodo
proporcionam um ambiente favorável para o crescimento de biomassa presente no
efluente em tratamento, onde não se torna necessário o uso de um meio suporte
para a digestão orgânica (como agregado ou polímeros, por exemplo). A própria
biomassa, ao crescer, pode formar pequenos grânulos, correspondente à
aglutinação de diversas espécies microbianas, e tendem a servir de meio suporte
para outras bactérias (Sperling, 2005, p. 296). Para que haja um bom funcionamento
de digestão no reator, é necessário que a concentração de biomassa seja elevada, o
que justifica a denominação de manta de lodo.

De acordo com Sperling (2005), o líquido entra no reator pela parte inferior, ou
seja, o fluxo se dá de forma ascendente, e ao se encontrar com o leito de lodo, a
biomassa adsorve grande parte da matéria orgânica do efluente. Como visto no item
2.3.1.2, o resultado da atividade anaeróbica gera o gás metano e o gás carbônico os
quais apresentam também a tendência ascendente dentro do reator.

Segundo PROSAB (1999) devido à saída dos gases, ocorre junto o


carregamento de lodo. Por esse motivo se faz necessário a instalação de um
separador trifásico, que faz a separação dos gases, dos sólidos e dos líquidos na
parte superior do reator, de forma a permitir a retenção e o retorno do lodo.

Os sólidos sedimentam na parte superior externa da estrutura cônica (do


separador trifásico) no compartimento de sedimentação, deslizando pelas suas
paredes com grande inclinação até retornarem ao corpo do reator (Sperling, 2005, p.
297).

34
Dessa forma o efluente sai do compartimento de sedimentação aclarado e a
concentração de biomassa do reator se mantem elevada.

A Figura 6 representa o esquema de funcionamento do reator UASB.

Figura 6 - Desenho esquemático de um reator UASB

Fonte: Adaptado de Sperling (2005)

É importante destacar que, de acordo com PROSAB (1999), os reatores


UASB requerem uma maior idade do lodo em seu interior em relação ao tempo de
detenção hidráulico e a outros sistemas de tratamento, o que caracteriza o sistema
anaeróbio de alta taxa. Usualmente a idade do lodo é superior a 30 dias.

2.3.2.1 Queimador de gás


A liberação do biogás na atmosfera é altamente poluente, causando riscos
não apenas devido ao forte cheiro, mas principalmente pelos riscos inerentes ao gás
metano, que é altamente inflamável e explosivo (dependendo das concentrações de
oxigênio na atmosfera). Dessa forma, PROSAB (1999) explica a importância da
coleta, medição e queima ou reutilização como fonte de energia. A coleta do biogás
é feita a partir da interface líquido-gás no interior do reator composta de: tubulação
de coleta; medidor; reservatório e; compartimento hermético (Figura 7).

35
Figura 7 - Diagrama de sistema de gases em um reator UASB

Fonte: PROSAB (1999

2.4 USO DO CONCRETO ARMADO EM ETE

O concreto armado apresenta uma grande versatilidade para execução de


estruturas, porém pode alegar desempenho inadequado diante dos fatores
ambientais em que se expõem. A sua durabilidade depende grande parte dos
detalhes e cuidados submetidos ao projeto, mas, sobretudo, dos cuidados durante o
processo executivo.

Diante disso, pode-se observar a importância de estudos mais aprofundados


e recomendações específicas para a construção das estruturas hidráulicas a fim de
atender a durabilidade e estanqueidade, desde a dosagem e classe do concreto,
especificação de agregados e aditivos, relação água/cimento, transporte,
lançamento, adensamento, cura e também soluções executivas para os
escoramentos, fôrmas e juntas.

Libório (1990) citado por PROSAB (1999) julga que para se alcançar o
objetivo de uma estrutura com baixas taxas de absorção e permeabilidade, alguns
fatos devem ser considerados:

 Utilização de concreto com baixa relação água cimento;

36
 Compactação rigorosa do concreto;
 Adequado processo de cura;
 Escolha de um cimento apropriado (Portland pozolânico).

2.4.1 Projeto
As estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo que,
quando utilizadas conforme as condições ambientais previstas no projeto,
conserve sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço, durante o
período correspondente à sua vida útil (NBR 6118/03, 2014, p. 19).
A norma técnica NBR 6118 cuja versão em vigor é do ano de 2014, rege
prescrições para projetos estruturais de qualquer natureza, seja em concreto
simples, armado e protendido, não entrando no mérito do tipo de utilização final da
edificação. De acordo com Chaves et al (2007), existe uma importante lacuna, na
normalização brasileira, já que não se tem uma norma específica para os projetos de
estruturas de concreto para obras hidráulicas e de saneamento. O que pode levar a
alguns projetistas a adotarem critérios não apropriados a estes tipos de estruturas,
tais como:

 Limite máximo de abertura de fissuras de flexão;


 Cobrimentos da armadura;
 Resistência mínima do concreto;
 Armadura de retração;
 Espessura mínima de paredes de reservatórios;
 Taxa mínima/máxima de armadura.

Chaves et al (2007) ainda afirmam que estruturas de obras de saneamento


estão sujeitas aos carregamentos diferenciados, condições mais severas de
exposição e critérios mais restritivos para a situação de serviço. Esses
carregamentos incluem além de cargas permanentes e acidentais, cargas dinâmicas
devido a equipamentos eletromecânicos (como bombas, geradores, motores), bem
como ao próprio fluxo da água. Chaves et al (2007) salientam também a presença
de agentes químicos agressivos em contato direto com o concreto e os ciclos de
molhagem e secagem que exemplificam condições severas de exposição. Como

37
critério de serviço, é necessário que a estanqueidade seja uma premissa básica
destas construções.

O estabelecimento de normas técnicas regulamentadoras para esse tipo de


obra no Brasil se faz necessário visto que, com um procedimento específico, o
produto final seria mais durável e seguro. A COPASA – Companhia de Saneamento
de Minas Gerais elaborou uma norma interna que está em vigor desde 1994, cuja
nomenclatura é T 175.

[...] a American Concrete Institute (ACI) já possui uma especificação própria


para execução das obras de saneamento denominada “ACI 350 – Code
Requirements for Environmental Engineering Concrete Structures”. (Chaves
et al, 2007, p. 33).
A Figura 8 ilustra o corte transversal de um modelo de reator UASB.

Figura 8 - Corte transversal de um reator UASB

Fonte: Projeto ETE Barra da Lagoa - CASAN (2000)

2.4.1.1 Grau de agressividade


A classificação do grau de agressividade de um ambiente foi elaborada
de modo a auxiliar o projetista a bem dimensionar o concreto, com recomendações
sobre a espessura do cobrimento da armadura, traço do concreto, relação
água/cimento e outras características.

38
De acordo com a NBR 6118 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS - ABNT, 2014) ‘’ agressividade do meio ambiente está relacionada às
ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto,
independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem
térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das
estruturas de concreto”. Dessa forma, a norma estabelece quatro classes de
agressividade ambiental, conforme a Tabela 2:

Tabela 2 - Classes de agressividade ambiental

Fonte: NBR 6116 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 2003)

Visto que a durabilidade de uma estrutura depende das características do


concreto e da qualidade (e espessura) do cobrimento da armadura, a norma prevê
valores mínimos de relação água/cimento, classe do concreto e cobrimento nominal
[...] (KULISH, 2011, p. 30).

A norma interna da COPASA, que regulamenta o projeto e a execução de


estruturas voltadas ao tratamento de esgoto, diz que para todas as unidades onde a
estanqueidade seja primordial, é exigido um recobrimento de 4,0 cm - enquadrando
obras de saneamento na classe de agressividade 4, com o objetivo de proporcionar
maior proteção às barras da armadura. A norma, que se fundamenta na NBR 6118,
ainda define que o menor diâmetro de armadura a ser utilizado nas obras de
saneamento é de 5,0 mm.
39
2.4.2 Materiais
A degradação anaeróbia de compostos presentes no efluente em tratamento
podem levar à formação de subprodutos altamente agressivos ao concreto armado,
como visto no capítulo 2.3, item 2.3.1.2. Os materiais utilizados na construção dos
reatores anaeróbios devem atender requisitos básicos de resistência à compressão
e também a corrosão.

 Cimento:
Considerando as características das estruturas de concreto em obras de
saneamento, Filho e Capuruçu (2007) dizem que os cimentos mais utilizados são do
tipo: CP III, CP IV e CP V-RS ou cimentos especiais com propriedades específicas
de baixo calor de hidratação, resistências a sulfatos, inibidor da reação álcali-
agregado e resistência inicial e final compatíveis com o prazo de execução ou
cronograma da obra. Cabe destacar que um único tipo de cimento deve ser usado
em toda a estrutura.

 Agregados:
A preocupação com a proteção da estrutura deve-se começar na fase de
construção, com a produção de um concreto com propriedades físicas e químicas
adequadas. [...] para estruturas em contato com esgoto, como é o caso, recomenda-
se utilizar a brita calcária, por possuir características que as fazem mais resistentes
ao ataque dos sulfatos presentes neste tipo de estrutura. (SPERLING, 1986 apud
Reis, Galdina e d’Ávila, 2007, p. 42).

A utilização de agregados graúdos e miúdos (compondo dois ou mais grupos


de tamanho de agregados) na mistura do concreto resulta numa melhor variação de
graduação, concedendo menor teor de vazios e, consequentemente, o aumento da
massa específica reduzindo assim o volume de vazios da estrutura. Em todas as
obras, os agregados devem ter a dimensão máxima compatível com o espaçamento
das armaduras.

 Aço estrutural:
Um cuidado para esse tipo de obra é a utilização de aços especiais como
aços patináveis. De acordo com Dutra et al (2013), aços patináveis possuem baixo
teor de carbono o que os torna quatro vezes mais resistentes a corrosão quando
40
comparados com os aços estruturais convencionais. São comumente utilizados em
construções onde o grau de agressividade da estrutura é elevado e exige maior
resistência à corrosão.

 Concreto:
A classificação segundo a agressividade do ambiente para estruturas em
concreto armado da abertura à uma outra norma, a NBR 12655 que fixa as
condições exigíveis para o preparo, controle e recebimento de concreto. A Tabela 3
mostra a correspondência entre as classes de agressividade e a qualidade do
concreto.

Tabela 3 - Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto

Fonte: NBR 12655 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 2015)

Para condições especiais de exposição, devem ser atendidos os requisitos


mínimos de durabilidade expressos na Tabela 4 para a máxima relação
água/cimento e a mínima resistência característica (NBR 12655, 2015, p. 12).

41
Tabela 4 - Requisitos para o concreto, em condições especiais de exposição

Fonte: NBR 12655 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 2015)

Diante das exigências feitas pela norma, no que se refere à classe de


agressividade e qualidade do concreto, a relação de água/cimento em massa deve
ser ≥ 0,45 para classe de agressividade IV. Para dosagens de concreto destinado às
estruturas portante de líquido, como é o caso dos reatores anaeróbios, a norma
exige baixa permeabilidade de água e baixo teor de vazios, sendo assim, máxima
relação água/cimento para agregado normal é 0,5 e o mínimo valor de resistência é
de 35 MPa.

 Aditivos:
Os aditivos normalmente usados para estes concretos são: plastificantes,
plastificantes retardadores e super-plastificantes, estes últimos em geral a base de
policarbixilato (FILHO e CAPURUÇU, 2007, p. 50). A especificação básica para
obras de concreto da SANEPAR aconselha também o uso de aditivos que melhorem
as características do concreto, tais como: plasticidades, homogeneidade, peso
específico, impermeabilidade, resistência à compressão, etc.

2.4.3 Controle tecnológico


O controle tecnológico se torna de grande importância para obras onde as
possibilidades de fissuras, falta de resistência, patologias devido à má execução e
outros fatores prejudiquem o resultado final esperado para uma obra de estrutura
estanque. Alguns procedimentos básicos para se produzir o concreto, transportá-lo e
42
aplicado, buscam garantir as características especificadas nas normas técnicas e
projetos estruturais para esse tipo de obra.

 Transporte:
Os meios de transporte não devem provocar a segregação, não permitindo
perda de argamassa ou de pasta de cimento, nem promovendo a separação entre
os componentes do concreto (SOUZA E RIPPER, 1998, p. 28).

Devem ser considerados dois casos para a produção do concreto em obras


de médio e grande porte: 1) Central de Concreto instalada na obra ou próxima a
mesma; 2) Central de Concreto externa. Na primeira hipótese, pode-se ajustar o
concreto na própria central e liberar o caminhão Betoneira para frente de
concretagem. Na segunda hipótese, o concreto deverá ser transportado até a frente
de concretagem, sendo então adicionado o aditivo super-plastificante e liberado para
lançamento. Nos dois casos a norma interna da COPASA recomenda que se meça a
plasticidade do concreto e se acompanhe o tempo de descarga, considerando o
tempo de lançamento estabelecido na dosagem.

 Lançamento:
De uma maneira geral, as obras de porte médio e grande fazem o lançamento
do concreto através de bombas. De acordo com Filho e Capuruçu (2007) é
fundamental que se faça, com antecedência, o plano da concretagem de forma e
assim, definir a capacidade de aplicação do concreto, o posicionamento das
bombas, o sentido da concretagem, bem como as alternativas existentes em caso
de ocorrer alguma falha nos equipamentos.

 Adensamento:
Os concretos com plasticidade da ordem de 200 mm são praticamente auto
adensáveis. Assim sendo, a vibração tem a função de acomodar o concreto e deverá
ser feita com cuidado para se evitar a segregação (FILHO e CAPURUÇU, 2007, p.
51).

Segundo Souza e Ripper (1998), a vibração e o adensamento do concreto, se


não realizadas corretamente, podem levar à formação de vazios na massa (ninhos e
cavidades) e a irregularidades na superfície, que além de comprometer o aspecto

43
estético facilitam a penetração dos agentes agressores, devido à porosidade
superficial.

 Cura:
Nos concretos para obras hidráulicas a cura e fundamental para se evitar a
fissuração por retração. De acordo com Filho e Capuruçu (2007), para as lajes a
cura deve ser feita com lamina d’água. Em caso de peças de maior dimensão usa-
se, durante a fase de concretagem a manta de “bidin” saturada. Para as paredes os
autores recomendam usar a cura química que deverá ser aplicada simultaneamente
com a desforma.

A cura química é a aplicação de produto, por aspersão, na superfície do


concreto. A substância, que tem a função de impedir a evaporação da água, pode
ser fabricada a partir de WAX, ceras, parafinas, PVA, acrílicos, estirenos, entre
outros elementos. “A eficiência da técnica pode variar entre 40% e 100%
dependendo da qualidade do produto” (HELENE, 2018).

2.4.4 Problemas, causas e cuidados a serem considerados durante a execução


da obra
Os cuidados durante o processo de concretagem são fundamentais para
assegurar elementos executados com qualidade.

Ao método de concretagem estão relacionadas, entre outras, as falhas no


transporte, no lançamento e no adensamento do concreto, que podem
provocar, por exemplo, a segregação entre o agregado graúdo e a
argamassa, além da formação de ninhos de concretagem e de cavidades no
concreto (SOUZA E RIPPER, 1998, p. 28).

2.4.4.1 Reações expansivas - fissuração no concreto


A fissuração do concreto é um dos principais problemas patológicos de uma
estrutura de concreto destinada ao tratamento de águas residuais. De acordo com
Thomaz (2007), em estruturas destinadas ao fim hidráulico, como reservatórios,
reatores e outros tanques, as fissuras podem causar um comprometimento do
desempenho destas, devido à falta de estanqueidade do concreto, o que leva a
redução da sua durabilidade.

44
Essas fissuras se devem à diversos fatores, e ocorrem na maioria das vezes
logo após a concretagem. Apesar do avanço tecnológico relacionado à dosagem de
concreto, a fissuração ainda é inevitável.

Uma cura inadequada aumenta as deformações específicas devidas à


retração. Como está deformação é diferenciada entre as diversas camadas
constituintes da peça, principalmente se esta for de grandes dimensões,
poderão ser geradas tensões capazes de provocar acentuada fissuração do
concreto. Assim, pode-se dizer que, na prática, a cura é a última de todas as
operações importantes na execução de uma peça de concreto armado, com
reflexos diretos na resistência e durabilidade da estrutura (SOUZA E
RIPPER, 1998, p. 30).

2.4.4.1.1 Causas da fissuração do concreto


O diâmetro do grão de cimento tem diminuído conforme os avanços em
pesquisas da área, isso significa que com o cimento mais fino a hidratação do grão
ocorre de forma mais rápida, levando a uma maior geração e liberação do calor de
hidratação em um menor espaço de tempo.

De acordo com Neville (1997) a velocidade de hidratação inicial de cada


composto é proporcional à área especifica do cimento, ou seja, quanto maior a área
específica de um composto maior será a sua velocidade de hidratação. A Figura 9
mostra as cinco fases da hidratação dos grãos de cimento considerando a taxa de
liberação de calor (cal/grama.h) por tempo (horas).

45
Figura 9 - Fases de hidratação de grãos de cimentos expressas pela variação de liberação de
calor em função do tempo

Fonte: Thomaz (2007)


[...] ao alcançar o pico máximo de temperatura, o concreto tende a se
estabilizar com a temperatura ambiente, gerando tensões térmicas de
tração que resultam na fissuração e, eventualmente, na perda de
monoliticidade da estrutura (SOUZA; SILVA; CASTRO, 2014, p. 27).
Além do calor de hidratação e em consequência dele, outras podem ser as
causas da geração de tensões térmicas em concretos, resultantes de fissuras em
estruturas de reservatórios. Thomaz (2007) cita as seguintes:

1) O impedimento de deslocamento que a laje de fundo provoca nas paredes


do reservatório, devido à exaustão do calor proveniente das reações
químicas da pasta de cimento;
2) O impedimento de retração da argamassa devido à perda de água para a
atmosfera, por parte do agregado graúdo;
3) O impedimento da argamassa de se retrair ao secar por parte da
armadura;
4) O fluxo de calor entre as camadas do concreto e entre o interior e a
superfície externa da parede de concreto;
5) A retração plástica na fase fresca do concreto nas primeiras horas;
6) A retração hidráulica por causa da perda de água do concreto para o ar;

46
7) A retração térmica por resfriamento, ou seja, há a perda de calor do
concreto para a atmosfera.

2.4.4.1.2 Limite de fissuração do concreto


Relacionado à durabilidade, a NBR 6118:2014 trata sobre o controle da
fissuração dos elementos e proteção das armaduras. De acordo com a norma, o
controle da fissuração pode ser realizado por meio da limitação da abertura
estimada de fissura ou através do cálculo da tensão de serviço e verificação de
diâmetros e espaçamentos máximos. A Tabela 5 mostra as exigências relativas à
fissuração em função do tipo de elemento e da classe de agressividade.

Tabela 5 - Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção de armaduras,


em função da classe de agressividade ambiental

Fonte: NBR 6118 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 2014)

Apesar de indesejável, o fenômeno da fissuração é natural (dentro de certos


limites) no concreto armado. O controle da fissuração é importante para a segurança
47
estrutural em serviço, condições de funcionalidade e estética (aparência),
desempenho (durabilidade, impermeabilidade, etc.). Deve-se garantir, no projeto,
que as fissuras que venham a ocorrer apresentem aberturas menores do que os
limites estabelecidos pela norma, demonstrados na Tabela 6, considerados nocivos.

A norma interna da COPASA adota, em projetos de estruturas hidráulicas,


para efeito de verificação do estado de fissuração do concreto um limite de abertura
equivalente a 0,1 mm, embora a NBR 6118 estabeleça o limite mínimo de 0,2 mm.

2.4.4.1.3 Cuidados preventivos


De acordo com Souza; Silva e Castro (2014) o calor de hidratação é
evidenciado, conforme se aumenta a quantidade de cimento na mistura. Para
minimizar esse problema, lançar mão do uso de cimentos do tipo CP-IV com baixo
calor de hidratação, ou os que contenham adições pozolânica, pode ser uma boa
alternativa. Estes cimentos devem ser empregados ao invés de cimentos comuns ou
compostos (CPI ou CPII), pois diminuem o teor de clínquer e fazem com que as
reações de hidratação ocorram mais lentamente.

Thomaz (2007) recomenda que se faça o uso de cimento com baixo calor de
hidratação e que a variação térmica entre o início e o fim da concretagem não
ultrapasse 25°C. Para isso, é comum que se faça o resfriamento do concreto com o
uso de gelo, de forma que o concreto seja lançado com temperaturas mais baixas.

Para que sejam evitadas fissuras por retração em reatores com paredes de
concreto, aconselha-se na concretagem o uso de formas de madeiras com duas
folhas, de forma que se garanta uma camada interna de ar confinado que permita o
resfriamento gradativo do concreto, dando tempo para que o mesmo possa ganhar
resistência à tração. Ao contrário das formas metálicas, que são boas condutoras de
calor e tendem a fazer o equilíbrio térmico com a temperatura ambiente de forma
mais rápida, não dando tempo necessário ao concreto para que adquira resistências
elevadas.

48
2.4.4.2 Juntas de concretagem
As juntas de concretagem podem ser divididas em juntas frias ou juntas de
trabalho e junta de construção.

As juntas frias ou juntas de trabalho não programadas causam o


endurecimento da superfície do concreto antes da colocação da camada seguinte.
As especificações da SANEPAR instruem que se o atraso no lançamento provocar o
endurecimento do concreto antes do lançamento da próxima camada deve ser
vibrado o concreto já lançado na camada subjacente e o lançamento do concreto
dever continuar com cuidados. Caso o concreto não puder ser penetrado pelo
vibrador, a junta fria deve ser tratada como junta de construção.

As juntas de construção se devem a perda de aderência entre concretos em


idades distintas, isso ocorre quando a superfície enrijecida estiver suja e não
proporcione a devida aderência entre as mesmas. Recomenda-se que quando
houverem juntas de construção, a nata de cimento seja removida do concreto de
maior idade e fiquem salientes os agregados, de forma a garantir uma melhor
aderência à base e evitar problemas posteriores como fissuras.

Souza e Ripper (1998) relatam que as consequências do lançamento do


concreto sobre uma camada já em processo de endurecimento, podem gerar, entre
outras, a segregação dos componentes do concreto, fazendo com que surjam
pontos frágeis na estrutura, facilitando, a ocorrência de focos de corrosão.

2.4.4.2.1 Movimentação das formas


A movimentação das formas durante a concretagem pode provocar juntas de
concretagem não previstas, devido ao deslocamento lateral ou fuga de concreto
devido à má junção entre os painéis de formas. De acordo com Souza e Ripper
(1998), a fuga da nata de cimento pode causar a segregação do concreto e em
consequência a desagregação que na maioria dos casos acompanhada de
fissuração. Qualquer um destes casos levará à quadros patológicos, com o
surgimento de fissuras no elemento estrutural, por enfraquecimento deste elemento
em virtude da formação da junta de concretagem forçada, e normalmente com a

49
adesão prejudicada, ou com o enfraquecimento do próprio concreto, em virtude da
fuga da nata de cimento.

Na Figura 10 é mostrado os dois casos, onde há a junta de concretagem


ocasionada pela movimentação das formas (a), e fuga no concreto (b) também
devido a movimentação das formas.

Figura 10 - Exemplo da desagregação do concreto devido à movimentação das formas

Fonte: Souza e Ripper (1998)

2.4.4.2.2 Impermeabilização
A impermeabilização de estruturas que receberão líquido durante toda sua
vida útil é de suma importância. Nos últimos anos muito se investiu em pesquisas e
desenvolvimento de novos produtos a fim de proteger esse tipo de estrutura e hoje
no mercado existem diferentes opções que variam de acordo com a aplicação da
estrutura. Pinto e Takagi (2007) distinguem os tipos de revestimentos
impermeabilizantes entre minerais e resinas orgânicas. Os revestimentos orgânicos
são constituídos principalmente por resinas de epóxi, poliuretano, furânicas,
fenólicas ou de poliéster, já os inorgânicos são principalmente à base de cimento ou
outros sistemas minerais.

A proteção anti-corrosiva pode ser aplicada à estrutura por meio de aditivos


e/ou revestimentos especiais. Um estudo feito por Fortunato et al. (1998) recomenda

50
como possíveis soluções de revestimento a pintura do reator com borracha clorada
ou epóxi betuminoso, segundo o autor, esses materiais formam uma barreira
química para as superfícies expostas a ambientes de alta classe de agressividade.
A Tabela 6 mostra os resultados obtidos por Fortunato.

Tabela 6 - Revestimento de concreto (características comparativas)

Revestimento Vantagens Desvantagens

Borracha clorada  Menor custo  Baixa resistência a


ácidos graxos
Epóxi  Boa resistência a ácidos  Custo mais elevado
graxos
Betuminoso
 Pode ser aplicado com
espessuras maiores
 Menor permeabilidade

Fonte: Adaptado de PROSAB (1999)

2.5 PATOLOGIAS NO CONCRETO ARMADO EM OBRAS DE SANEAMENTO

A agressividade às estruturas de concreto armado em estações de tratamento


de esgoto é de maior evidencia, graças a presença de agentes químicos e
condições favoráveis para que a degradação do concreto armado aconteça,
principalmente quando não executado com zelo. Embora não haja uma norma
regulamentadora brasileira, as tolerâncias para com esse tipo de estrutura se tornam
menores, visto que essas estruturas trabalharam na sua máxima solicitação durante
toda vida útil.

Andrade (2007), afirma para que haja a garantia da sanidade da estrutura de


uma obra de engenharia, há de se eliminarem os riscos de ocorrência de patologia
no concreto nas fases de projeto, construção e vida útil (operação).

Já Reis, Galdina e d’Ávila (2007) mencionam que, uma vez em carga, este
tipo de estrutura é de difícil paralisação e recuperação, o que justifica o cuidado e
controle, tanto no que se refere ao projeto estrutural quanto à execução da obra.

51
Dentre as inúmeras manifestações patológicas, podem-se citar fissuras,
desplacamentos, corrosão de armaduras, desintegração do concreto por
ação de sulfatos, desgaste superficial, fadiga de juntas de dilatação,
lixiviação, eflorescências, expansão, entre outras. [...] Dependendo da
natureza dos problemas, do componente estrutural lesionado e do grau de
severidade do ambiente, podem até mesmo acarretar problemas de
instabilidade (CAMPANER et al., 2007, p. 68).

2.5.1 Patologias do concreto armado


A durabilidade de uma estrutura de concreto armado esta muito relacionada
com os processos executivos que levaram a sua conclusão, envolvendo etapas
como o cálculo e dimensionamento da estrutura, os mateirias empregados, a forma
de execução e a cura do concreto. A Figura 11 sintetiza as etapas da construção
relacionando à durabilidade da mesma.

Figura 11 - Etapas da construção relacionado à durabilidade de uma estrutura em


concreto armado

Fonte: Gomes (2018)

52
As principais manifestações patológicas no concreto armado na presença do
biogás, esse composto de metano, gás carbônico, e outros gases em menor
concentração é a ação na redução do pH no interior do concreto que ocorre devido à
permeação desse gás nos porros do mesmo. Alteração do pH provoca a expansão
interna do cimento, gerando um aspecto de ‘’inchamento’’ e consequentemente a
desagregação dessa fração do restante do concreto. Em decorrência desse
fenômeno a armadura se torna cada vez mais exposta às ações corrosivas do
metano, do ácido sulfúrico e do meio em que se encontra.

Na maioria das vezes, esse tipo e patologia ocorre devido ao recobrimento


das armaduras que se apresentam abaixo dos valores recomendados pelas normas
da ABNT; à execução do concreto elevado fator água/cimento, acarretando elevada
porosidade e fissuras de retração; a ausência ou deficiência de cura adequada do
concreto, propiciando a ocorrência de fissuras, porosidade excessiva, diminuição da
resistência; a segregação do concreto com formação de ninhos de concretagem; a
erros de traço e ao lançamento e vibração incorretos.

Para a verificação de causa das patologias, Arivabene (2015) menciona que


em alguns casos é possível fazer um diagnóstico apenas através da visualização.
Entretanto, em outros casos onde o problema é mais complexo, é necessário que se
verifique o projeto, investigue as cargas a que foi submetida à estrutura; analise
detalhadamente a forma como foi executada a obra e, como esta patologia reage
diante de determinados estímulos. Dessa forma, o autor conclui que é possível
identificar a causa dos problemas, corrigindo-os para evitar que se manifestem
novamente.

2.5.1.1 Constituição do concreto


O concreto pode ser definido segundo Araújo, Rodrigues e Freitas (2000)
como o material resultante da mistura de aglomerante, agregado miúdo, agregado
graúdo, água e, se necessário, aditivos, seguindo uma proporção pré-determinada.
As três propriedades mais consideradas no concreto são a resistência mecânica,
porosidade e durabilidade. Segundo Souza e Ripper (1998) a capacidade do
concreto em resistir a diversos agentes químicos está ligada às características
53
físicas e químicas do cimento, tais como finura, expansibilidade, composição,
presença de cal livre, etc e não apenas a sua resistência mecânica.

Relacionado as características físico-químicas durante a formação do


concreto, Mehta e Monteiro (2008, apud KULISCH, 2011) descrevem a formação de
cristais de grande dimensão na zona de transição, como pode-se ver na Figura 12.
Essa região é de maior porosidade e quando comparado ao agregado e a pasta de
cimento, apresenta baixa resistência.

Figura 12 - Representação da zona de transição e da matriz de cimento no concreto

Fonte: Kulisch (2011)

Mehta e Monteiro (2008) ainda definem os sólidos na pasta de cimento como


os produtos das reações de hidratação: silicatos de cálcio hidratado (C-S-H),
hidróxido de cálcio [Ca(OH)2], sulfoaluminatos de cálcio (etringita) e grãos de
clínquer não hidratados.

2.5.1.1.1 Tipos de cimento a durabilidade ao meio agressivo


De forma a que sejam diminuídos os riscos de que um concreto venha a se
deteriorar precocemente, o cimento a ser utilizado em determinada obra ou serviço,
ou em determinado elemento da estrutura, deve ser resistente ao agente agressor
(SOUZA e RIPPER,1998, p. 89).

54
Quando no meio ambiente o principal agressor for o sulfato, os autores
recomendam que se utilize cimentos com baixo teor de aluminato tricálcico (C4 AF),
pois o mesmo resistem pouco ao ataque químico. Esse componente possui pouca
contribuição para a resistência mecânica e boa estabilidade química. Sendo assim,
Souza e Ripper (1998) recomendam a utilização dos cimentos:

 Portland de alto-forno com teor de escória superior a 60%;


 Portland pozolânico com teor de pozolana entre 15% e 50%;
 Portland resistente a sulfatos;
 Portland com baixo teor de álcalis.

2.5.1.2 Tipos de patologias


Estudos mostram que um elevado percentual dos problemas patológicos em
estruturas, tanto em edificações como e obras de infraestrutura, são originados nas
fases de planejamento, projeto e devido à falta de manutenção. Essas falhas são
geralmente mais graves que as relacionadas à qualidade dos materiais e aos
métodos construtivos (ARIVABENE, 2015, p. 6). Nos itens a seguir serão listados
alguns dos tipos mais comuns de patologias encontrados nos tipos de obras citados
acima.

2.5.1.2.1 Infiltração, manchas, bolor ou mofo e eflorescência


De acordo com Miotto (2010), citado por Arivabene (2015), as formas
patológicas encontradas com maior frequência são: infiltrações, manchas, bolor ou
mofo e eflorescência.

A infiltração é o resultado de um processo onde o contato contínuo de água,


ou outro líquido, fica aderido ao substrato (estrutura) e ocasiona manchas.

O bolor ou mofo se entende como sendo a colonização de diversas


populações de fungos que se aderem a diferentes tipos de substratos, formando
manchas escuras (verde, preto e marrom).

Eflorescência o autor define como sendo formações salinas que ocorrem na


superfície das paredes, trazidas do interior pela umidade.
55
2.5.1.2.2 Segregação do concreto
Como definido anteriormente, o concreto é composto agregado graúdo (brita)
e agregado miúdo (areia), água e cimento que juntos formam uma pasta homogênea
onde as partes de maiores dimensões (brita) são envoltas pela argamassa. Se
ocorrer alguma falha no momento de execução, lançamento ou adensamento do
concreto é muito possível que ocorra a segregação do mesmo – os agregados de
maior dimensão tendem a se depositarem na parte inferior da mistura, e a parte
mais ‘’ fina’’ na parte superior. Esse processo resulta em um concreto cheio de
vazios, que permite a passagem de água com facilidade.

Piancastelli (1997) diz que esse processo de separação pode ser provocado,
entre outras causas, por: lançamento livre de grande altura; concentração de
armadura que impede a passagem da brita; vazamento da pasta de cimento através
das fôrmas; má dosagem do concreto; uso inadequado de vibradores.

2.5.1.2.3 Fissuras e trincas


Como já descrito no item 2.4.4.1 do capítulo 2.4 as fissuras se apresentam
como estreitas e alongadas aberturas na superfície de um material, sendo mais
superficiais e não de alta gravidade. A NBR 15.575:2013 define fissura de um
componente estrutural como sendo o seccionamento na superfície ou em toda seção
transversal do componente, com abertura capilar, provocado por tensões normais ou
tangenciais. A NBR 9575:2003 também define a fissura como sendo uma abertura
ocasionada por ruptura de material, com abertura inferior ou igual a 0,5 mm.

As trincas representam a ruptura de um elemento em duas partes, Arivabene


(2015) as define como sendo aberturas profundas e acentuadas. De acordo com a
NBR 9575:2003, as trincas são aberturas ocasionadas por ruptura de um material ou
componente com abertura superior a 0,5 mm e inferior a 1,0 mm e podem
comprometes a função estrutural de um elemento.

2.5.1.2.4 Carbonatação

56
De acordo com a empresa que comercializa produtos à base de sílica para a
construção civil - Tecnosil, a carbonatação pode ser definida como um processo
físico-químico entre o gás carbônico (CO2 ) e os compostos da pasta de cimento,
para que isso ocorra precisa-se encontrar dentro do concreto: umidade, gás
carbônico e oxigênio. A partir dessa reação é formado o carbonato de cálcio (CaCO3 )
na região entre a superfície externa da estrutura e a armadura (área de cobrimento).
Devido à redução da alcalinidade promove no concreto zonas distintas de pH, dessa
forma, quando a área de menor pH atinge a armadura, essa fica exposta à corrosão.

Figura 13 - Fenômeno de carbonatação exposto em viga

Fonte: Tecnosil (2017)

2.5.1.2.5 Corrosão da armadura


Helene (2002) define a corrosão das armaduras de concreto como um
fenômeno de natureza eletroquímica que pode ser acelerado pela presença de
agentes químicos externos ou internos ao concreto.

No concreto armado, o aço encontra-se no interior de um meio altamente


alcalino no qual estaria protegido do processo de corrosão devido à
presença de uma película protetora de caráter passivo, explica Cascudo
(1997). A alcalinidade no interior do concreto provém da fase líquida
existente nos seus poros que contém hidroxilas oriundas da ionização dos
hidróxidos de cálcio, sódio e potássio. Mesmo em idades avançadas o
concreto continua propiciando um meio básico que protege a armadura do
fenômeno da corrosão (ARIVABENE, 2015, p. 10).
De acordo com Tutti (1982), pode-se observar dois períodos de corrosão. O
primeiro período é o de iniciação, que é considerado desde a entrada do agente
agressivo até o processo de despassivação da armadura. O segundo período

57
identifica à propagação, onde o processo de corrosão uma vez consolidado aumenta
gradualmente, em escala exponencial, ocasionando graves danos à armadura.

Para Cascudo (1997), citado por Arivabene (2015) os principais agentes


agressivos que desencadeiam a corrosão das armaduras são, a ação dos íons
cloretos (corrosão localizada por pite), redução de PH do aço (corrosão generalizada
que leva à carbonatação) e corrosão localizada sob tensão fraturante. Na Figura 14
são mostrados os tipos de corrosão e os fatores que a provocam.

Figura 14 - Tipos de corrosão e fatores que as provocam

Fonte: Arivabene (2015)

2.5.1.2.6 Corrosão do concreto

O concreto armado, além de suas características mecânicas que o tornam


resistente a ações estruturais externas, seve ser dosado e moldado de
modo a poder resistir a ações de caráter físico e químico, internas e
externas. Miotto (2010) diz que a corrosão e a deterioração observadas em
concreto, podem estar associadas a fatores mecânicos, físicos, biológicos
ou químicos(ARIVABENE, 2015, p. 12).

58
A Tabela 7 descreve os fatores citados por Miotto (2010), que determinam a
corrosão do concreto.

Tabela 7 - Fatores determinantes da corrosão em concretos

Fonte: Miotto (apud Arivabene, 2010)

2.5.2 Características físico-químicas do esgoto


Os níveis de ataques em estações de tratamento de esgoto variam de acordo
com o ambiente de tratamento. A ação de bactérias digestoras de matéria orgânica
em sistemas de tratamento anaeróbio costuma gerar grandes problemas de
corrosão na parte superior das estruturas devido à formação de ácido sulfúrico
biogênico. As características químicas de esgotos domésticos encontram-se
apresentados na Tabela 8.

59
Tabela 8 - Características químicas de esgoto doméstico

Análise Concentração Análise Concentração


Sólidos Totais 1100 mg/L Fósforo 14 mgP/L
DBO 350 mg/L pH 6,7 - 7,5
Óleos e Graxas 110 mg/L Alcalinidade 140 mg/L
Nitrogênnio Total 50 mgN/L Cloretos 35 mg/L
Fonte: Adaptado de Pinto e Takagi (2007)

De acordo com Pinto e Takagi (2007), a digestão das bactérias desulfovíbrio


desulfuricans, sobre compostos orgânicos ou inorgânicos de enxofre presentes nos
esgotos, produzem o gás sulfídrico (H2 S), que são indesejáveis pois oxidam e
formam o ácido sulfúrico (H2 SO4 ), que ataca a superfície do concreto e a armadura,
ocasionando fragilização das barras de ferro.

2.5.3 Ataque químico ao concreto


O ataque ácido e a carbonatação são motivadores inicias da degradação do
concreto por ácido sulfúrico biogênico, já que reduzem o pH da solução aquosa dos
poros para que ocorra a colonização de bactérias oxidantes (Mori et al., 1992;
Estokova et al., 2012 apud Hoppe et al., 2014). Segundo Hoppe et al (2014) a
contínua dissolução de sulfeto de hidrogênio entre os poros do concreto – que se
encontram acima no nível do efluente, em pH ≤ 3,0 - incita a formação de enxofre
elementar, que como visto anteriormente, é rapidamente oxidado à sulfato graças a
atividade microbiana.

O microclima formado acima do nível do esgoto se caracteriza pela


presença de anidrido carbônico, sulfeto de hidrogênio e oxigênio,
componentes preponderantes para a atividade microbiana, além da água e
de nutrientes. A maior disponibilidade destes últimos ocorre na região logo
acima no nível do efluente, já que nesta há a influência da zona de
respingos, a flutuação da carga de esgoto (imersão periódica) e a ação
capilar da água. Assim sendo, os poros do concreto localizados
imediatamente acima do nível do efluente propiciam condições adequadas
para a ação das bactérias [...] (Hoppe et al, 2014, p. 86).
Pode-se concluir, portanto que a degradação do concreto na região logo
acima do nível do efluente é mais intensa, quando comparado a outras regiões, e a
degradação na região submersa torna-se desprezível.

60
Gutierrez-Padilla et al. (2010, apud Hope et al., 2014) ainda acrescentam que
o ácido sulfúrico biogênico (H2 SO4 ), ao se dissociar na água presente nos poros do
concreto, formam íons hidrogênio (H + ) e sulfato (SO−2
4 ) que interagem com os íons

cálcio (Ca+2 ) e hidroxila (OH − ) formando a gipsita (CaSO4 . 2H2 O) - sulfato de cálcio di-
hidratado. O autor ainda ressalta que a presença da gipsita entre os poros do
concreto forma a etringita, que se caracteriza como sendo um produto expansivo
que causa pressão interna nos poros do concreto e, consequentemente, fissuração,
acelerando o processo de degradação do concreto.

A Figura 15 exemplifica a reação química dos componentes orgânicos


presentes no efluente em tratamento, em conjunto com o os componentes do
concreto, resultantes da corrosão do concreto e da armadura da estrutura.

Figura 15 - Mecanismo de deterioração do concreto por ataque de ácido sulfúrico biogênico

Fonte: Pinto e Takagi (2007)

61
2.6 ENSAIOS DESTRUTIVOS E NÃO DESTRUTIVOS

Para garantir a segurança das estruturas de concreto é necessário averiguar


sua condição com um nível elevado de precisão e detalhe. Uma das formas mais
usual que há de se inspecionar e fazer diagnósticos do desempenho das estruturas
de concreto é através de ensaios de resistência à compressão em testemunhos
extraídos da própria estrutura. Porém, de acordo com a Téchne (2009), esse
procedimento nem sempre é recomendado devido à geometria dos elementos
estruturais, que muitas vezes não permite extrair testemunhos com as dimensões
padronizadas para os ensaios, considerando também os riscos e danos que o
seccionamento de estruturas pode causar.

Nesse caso, a utilização de ensaios não destrutivos passa a ser uma


alternativa mais atraente, embora sejam restritos à avaliação da uniformidade da
resistência mecânica do concreto, porém, quando combinados com métodos e
detalhamentos de outras características pode-se ter uma precisão ainda melhor do
diagnóstico levantado.

O desenvolvimento lento de técnicas não destrutivas para inspeção e avaliação


das propriedades do concreto se deve ao fato desse material ser heterogêneo,
causando interferências nas medidas realizadas, como atenuação, dispersão,
difração e reflexão dos sinais (Mehta & Monteiro, 2008).

De acordo com Malhotra e Carino (2004), existem duas classes de métodos de


ensaios não destrutivos para a aplicação em estruturas de concreto. A primeira
classe consiste em métodos usados para estimar a resistência do material, como o
ensaio de dureza superficial (esclerometria), resistência à penetração, ensaios de
arranchamento e método da maturidade. A segunda classe, inclui métodos que
medem outras características e defeitos internos do concreto por meio de
propagação de ondas e termografia infravermelha.

62
2.6.1 Ensaio de Esclerometria
O ensaio feito com o esclerômetro de reflexão é um método não destrutivo
que mede a dureza superficial do concreto, fornecendo elementos para a avaliação
da qualidade do concreto endurecido. A norma NBR 7584:2012 define alguns
parâmetros do ensaio:

 Índice esclerométrico: Valor obtido através de um impacto do


esclerômetro de reflexão sobre uma área de ensaio, fornecido
diretamente pelo aparelho correspondente ao número de recuo do
martelo.
 Área de ensaio: Região da superfície do concreto em estudo, onde se
efetua ensaio. De acordo com a norma, a superfície deve ser polida,
até que se faça a retirada de todo pó. A escolha da área, deve ser,
preferencialmente, sobre faces verticais como: pilares, paredes,
cortinas ou vigas. A norma recomenda também que o local seja
afastado de regiões afetadas com a segregação, exsudação,
concentração excessiva de armadura juntas de concretagem e cantos.
 Impacto: Ato de aplicação do esclerômetro de reflexão sobre um ponto
da área de ensaio. A NBR 7584 (2012) recomenda que devem ser
efetuados 16 impactos e não é permitido mais de um sobre o mesmo
ponto e devem ser uniformemente distribuídos sobre a área de ensaio.

63
Figura 16 - Área de ensaio e pontos de impacto

Fonte: NBR 7584(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 2012)

O aparelho consiste em uma massa-martelo que, ao ser impulsionado por


uma mola, se choca através de uma haste, com a área de ensaio (NBR 7584, 2012,
p 1). A energia do impacto é, em parte, utilizada na deformação permanente
provocada a área de ensaio e, em parte, conservada elasticamente, propiciando, ao
fim do impacto, o retorno do martelo. Vale ressaltar que, quanto maior a dureza da
superfície ensaiada, menor a parcela da energia que se converte em deformação
permanente e, consequentemente, maior deve ser o recuo ou a reflexão do martelo.

Figura 17 - Bigorna de aço

Fonte: NBR 7584 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT, 2012)

64
2.6.1.1 Resultados do ensaio
Depois de feito o ensaio deve-se calcular a média aritmética dos 16 valores
individuais (impactos) dos índices esclerométricos correspondentes a uma única
área de ensaio.

Desprezar todo índice esclerométrico individual que esteja afastado em


mais de 10 % do valor médio obtido e calcular a nova média aritmética.
Nenhum dos índices esclerométricos individuais restantes deve diferir em
mais de 10 % da média final. Se isso ocorrer, o ensaio esclerométrico dessa
área deve ser desconsiderado (NBR 75841, 2012, p. 9).

O resultado do ensaio, de acordo com a NBR 7584 (2012) é denominado de


índice esclerométrico médio da área de ensaio, e deve ser indicado por 𝐼𝐸 . Para
obter esse valor, deve-se seguir a seguinte equação:

𝐼𝐸𝛼 = 𝐾. 𝐼𝐸

Onde,

𝐼𝐸𝛼 - índice esclerométrico médio efetivo;

k - coeficiente de correção do índice esclerométrico;

𝐼𝐸 - índice esclerométrico médio.

A norma ainda destaca que em alguns casos pode ser necessária a aplicação
de outros coeficientes de correção devido à influências como umidade, cura, idade,
carbonatação e outras. De cada área de ensaio, obtém-se um único índice
esclerométrico médio efetivo.

65
3 METODOLOGIA

Neste estudo foram vistoriadas 4 estações de tratamento de esgoto na cidade


de Florianópolis, especificamente nas estruturas de tratamento de esgoto dos
reatores tipo UASB. Essas estruturas apresentaram manifestações patológicas
consideravelmente avançadas, implicando na urgente necessidade de manutenção
e intervenção nesses reatores, a fim de controlar e mitigar as patologias
encontradas.

A pesquisa se caracterizou como sendo teórica e experimental, já que foram


investigadas as situações envolventes às patologias de degradação estrutural e
ensaio em campo. Através da teoria retirada de bibliografias e comparada aos dados
coletados das após a análise dos reatores, pode-se convergir para um estudo mais
específico do reator anaeróbio de manta de lodo três, da estação de tratamento de
Canasvieiras. Esse, se mostrou mais deteriorado quando considerado seu ano de
execução e início de operação, por ter sido o reator mais recente em ano do início
de operação (2011) e apresentar um grau de deterioração semelhante ou até mais
avançado, quando comparado com os demais UASB’s, que tiveram início de
operação no ano de 2007.

Através de projetos, vistoria do local e valores de resistência superficial


(obtidos através do ensaio esclerométrico) foi-se concluído que a concepção do
projeto para essas estruturas precisa de aperfeiçoamento, assim como a
substituição de alguns dos materiais utilizados na estrutura e a urgente necessidade
de intervenção, a fim de se evitar ainda mais a degradação avançada dos
componentes do concreto armado e peças metálicas.

3.1 Coleta e interpretação dos dados


As informações presentes neste estudo foram obtidas através de três formas:
vistoria do local, levantamento histórico do problema e da estrutura em questão e o
resultado das análises.

66
A vistoria do local foi realizada com o objetivo de coletar dados através do
levantamento fotográfico e preenchimento de um relatório referente às patologias
manifestas em alguns reatores UASB em Florianópolis, (como na ETE da Barra da
Lagoa, ETE da Lagoa da Conceição, ETE de João Paulo e ETE de Canasvieiras), os
dados foram coletados também através de e-mails destinados a técnicos e
engenheiros responsáveis pelas estações de tratamento de esgoto e a realização do
ensaio esclerométrico.

3.1.1 Coleta dos dados


Os aspectos de deterioração do concreto armado e metais foram comumente
observados em cada estação de tratamento, e posteriormente organizados em
planilha. Dessa forma pode-se ter uma melhor visualização na leitura das
informações coletadas durante as visitas técnicas, como mostra a Tabela 9.

Tabela 9 - Aspectos observados na degradação do concreto e aço nas ETE’s

ETE
Observações BARRA DA LAGOA DA
CANASVIEIRAS SACO GRANDE
LAGOA CONCEIÇÃO
Início de operação 2007 2007 2011 2007
Vazão média de projeto 63,00 L/s 50 L/s 156 L/s 11,5 L/s
Vazão máxima 94 L/s 73 L/s Não fornecido Não fornecido
Vazão média até Nov/2018 23,5 L/s 38,5 L/s 135 L/s 11,5 L/s
Alta temporada 3.196,80 m³/dia Não fornecido Não fornecido
Volume 13.478 m³/dia *¹
tratado Baixa temporada 1.728 m³/dia Não fornecido Não fornecido
Quantidade de UASB(s) 1 1 3 *² 1
Já passou por manutenção Não Sim Não Não
Desplacamento de concreto
Sim*6 Não visualizado Sim*5 Sim. Avançado
na laje superior do reator
Empoçamento de água da
Não Não Não Não
chuva sobre a laje

67
Recalque na
Sim, na laje Sim, entrea
parte inferior da
Fissuras e tricas em paredes, superior - junta de Sim, nas juntas de
escada. Não
lajes e canaletas paralela às dilatação, dos concretagem
compromete a
canaletas reatores 1 e 2
estrutura
Execução de
Marcas de Apresenta fissura Apresenta fissura
Característica das juntas de uma entrada
concretagem, nas juntas de nas juntas de
dilatação para inspeção
sem fissuras dilatação dilatação
interna
Sim, apenas o
Existência e condições do Sim, em desuso queimador do
Sim, em desuso Sim, em utilização
queimador de gases *4 UASB 3 está em
uso
Oxidação das tubulações Sim Sim Sim Sim

Fibra de vidro. Fibra de vidro.


Fibra de vidro. Cumpre a função Cumpre a função
Material das tampas de Não cumpre a de vedação em Pultrudado, em de vedação em
vedação e condições função de partes (corrosão boas condições partes (corrosão
vedação *³ do concreto e do concreto e
mau encaixe) mau encaixe)

Utilização de
Sim, pelas frestas
Há vazamento Corrosão do tampas
deixadas pela
Vazamento de gás em de gás devido à concreto nas metálicas na laje
corrosão com
insertes metálicos corrosão do canaletas e mal superior,
concreto e má
chumbados no reator concreto das encaixe das corrosão da
encaixe das
canaletas tampas mesma e má
tampas
vedação
CONSIDERAÇÕES
*1 - Não especificado o período
Duas unidades de UABS são utilizadas como tratamento primário e uma como tratamento
*2 - secundário
*3 - Previsão de troca
*4 - Aparentemente foi trocado, porém não está em funcionamento.
Desplacamento homogêneo ao longo das canaletas do reator (devido à distribuição
*5 -
homogênea do esgoto por tubulações que fazem a ascensão do fluxo).
Desplacamento mais concentrado no centro do reator - extremidades não foram tão
*6 - atingidas pelo gás. (Devido à entrada do efluente que é feito por tubulação rígida, no centro
do reator, e não distribui homogeneamente o esgoto).
*7 - Mal posicionado, baixa altura e ao lado da escada.
Fonte: Autoria própria

68
De acordo com a Tabela 9, pode-se verificar que o ano de início de operação
dos reatores UASB’s se deu em 2007, com exceção do UASB de Canasvieiras, o
qual teve início no ano de 2011. Tendo em conta a vazão média de projeto, e o
volume tratado durante o ano, pode-se verificar que a maior demanda está na ETE
de Canasvieiras, principalmente durante os meses de alta temporada. Dessa forma,
para suprir a vazão de esgoto bruto recebida na estação de tratamento, foram
construídos 3 reatores UASB’s, sendo dois deles utilizados como tratamento
primário e o terceiro destinado à redução do lodo de toda a ETE.

Pela Tabela 9, pode-se também notar que apenas a ETE do Saco Grande
possui o queimador de gás em funcionamento. Os queimadores de gás das ETE’s
da Barra da Lagoa e de Canasvieiras (dos UASB’s 1 e 2) nunca entraram em
funcionamento, o que prejudica, não só o meio ambiente e a população local, mas
como também as estruturas de concreto armado como um todo.

A degradação do concreto na laje superior dos reatores vistoriados provocou


um mau encaixe e má vedação das tampas das canaletas, permitindo a fuga dos
gases por qualquer orifício ou inserts na superfície do reator, como mostram as
Figuras 18 e 19.

Figura 18 - ETE Saco Grande – Degradação do concreto das canaletas

Fonte: Autoria própria

69
Devido à fuga dos gases citados acima, pode-se notar que a oxidação das
tubulações metálicas, tampas de vedação e demais componentes metálicos são
bastante avançados em todas as estações de tratamento visitadas.

Figura 19 - ETE Lagoa da Conceição – Oxidação da canalização do


queimador de gás

Fonte: Autoria própria

Foi observado também que, a acentuada degradações nas laterais das faces
internas da laje de cobertura dos reatores (Figura 20).

Figura 20 - ETE Saco Grande – Degradação do concreto das canaletas

Fonte: Autoria própria

Essa degradação no reator UASB de Canasvieiras se deu de forma


homogênea, ou seja, a degradação do concreto aconteceu com intensidade muito

70
semelhante em toda a área de cobertura. Já no reator UASB da Barra da Lagoa, foi
visto que a degradação das laterais internas das tampas ocorreu de forma mais
acentuada nas canaletas do centro. Tal fato se deve à distribuição do esgoto bruto
no interior do reator. Uma vez que a entrada no UASB de Canasvieiras é feito por
tubulações que conduzem o afluente de forma que o esgoto fique igualmente
distribuídos no interior da estrutura e assumem um fluxo ascendente. Já a
distribuição do esgoto bruto na entrada do reator da Barra da Lagoa é feita por
tubulações rígidas, posicionadas no centro do reator, dessa forma, uma maior
concentração de matéria orgânica presente do afluente é decomposta na região
central e consequentemente a produção dos gases também é maior nessa região.

A distribuição do esgoto bruto no interior dos reatores UASB’s está ilustrado


nas Figuras 21 e Figura 22.

71
Figura 21 - Distribuição do esgoto bruto no interior do UASB 1 e 2 - ETE Canasvieiras

Fonte: Projeto ETE Canasvieiras - CASAN (2008)

Figura 22 - Distribuição do esgoto bruto no interior do UASB - ETE


Barra da Lagoa

Fonte: Projeto ETE Barra da Lagoa - CASAN (2000)

72
Foram observadas também, fissuras presentes nas juntas de concretagem e
juntas de movimentação, contudo conclui-se que essas não interferem na sanidade
da estrutura, uma vez que se tratam de fissuras por movimentação térmica (presente
em todas as ETE’s visitadas). Já no reator UASB da Barra da Lagoa foi registrada
uma fissura perpendicular à tampa canaleta central, na parte superior da estrutura, e
exposição da armadura oxidada, como mostram as Figuras 23 e 24.
Figura 23 - ETE da Barra da Lagoa -
Degradação do concreto das canaletas e
fissura

Fonte: Autoria própria

Figura 24 - ETE Barra da Lagoa – Oxidação de armaduras

Fonte: Autoria própria

73
Nesta avaliação visual percebe-se que os alambrados e materiais metálicos
foram mal escolhidos, visto que o metal utilizado apresenta-se pouco resistente às
ações dos gases gerados nas estações de tratamento vistoriadas.

3.2 Escolha do estudo de caso


Os reatores que passaram por vistoria neste trabalho se encontram
similarmente em estado de degradação avançado. A escolha do estudo de caso foi
baseada nos dados obtidos através das visitas técnicas e de análise de projetos,
tendo em conta que os reatores da ETE de Canasvieiras foram construídos em 2011
e os demais reatores em 2007, este, mostrando similares avanços de patologias
quando comparado com os reatores mais velhos.

Sendo assim, optou-se por fazer o estudo de caso no reator UASB três da
estação de tratamento de esgoto de Canasvieiras. O reator anaeróbio de manta
de lodo com fluxo ascendente é utilizado na estação como parte do tratamento
secundário, e cumpre a função de reduzir o lodo excedente do tratamento final em
até 4% de sólido de toda a estação de tratamento.

3.2.1 Especificações técnicas do projeto estrutural e executivo – ETE


CANASVIEIRAS
De acordo com as especificações técnicas do projeto estrutural em concreto
armado, a estrutura do reator UASB 3 foi projetada para ser executada em concreto
armado convencional, sendo especificada uma resistência característica do concreto
(fck) em 30 MPa, e cobrimento de 4,5 cm. Todos os carregamentos considerados
foram obtidos na análise do projeto arquitetônico e nas premissas descritas na NBR
6120 – Cargas para o Cálculo de Estruturas de Edificações.

A análise da estrutura foi realizada considerando o funcionamento pleno da


unidade. Os modelos gerados a partir das análises, consideraram diversas situações
de carregamento aplicáveis às unidades, relacionados a seguir:

1) À unidade enterrada ou semi enterrada; foi realizada a análise do tanque


vazio com a aplicação do empuxo do solo;

74
2) Foi realizada a análise do tanque cheio sem a aplicação do empuxo de solo;

3) Foi realizada a análise do tanque cheio com a aplicação do empuxo;

4) Para as unidades em houvesse vários furos de sondagem, foi realizada a


análise dos recalques diferenciais.

A recomendações de projeto ressaltam que: ‘’os materiais a serem


empregados, bem como a mão-de-obra deverão ser de primeira qualidade e
comprovada experiência e capacitação, visando a boa técnica e acabamento
esmerado, obedecendo às normas técnicas pertinentes (ABNT).’’, não especificando
quais materiais devem ser utilizados para a impermeabilização da estrutura. O traço
do concreto a ser utilizado é que responsabilidade do construtor, o qual deve seguir
as prescrições das normas técnicas ‘’A composição ou traço da mistura deverá ser
determinado de acordo com a ABNT, baseado na relação do fator água/cimento e na
pesquisa dos agregados mais adequados e com granulometria conveniente, com a
finalidade de se obter: mistura plástica com trabalhabilidade adequada; produto
acabado que tenha resistência, impermeabilidade, durabilidade e boa aparência.’’

A execução dos sistemas de escoramento também não possui


especificações técnicas do projetista apenas recomendações para que sejam
convenientemente dimensionados de modo a não sofrer, sob ação do peso próprio
da estrutura e das sobrecargas advindas dos trabalhos de concretagem,
deformações ou movimentos prejudiciais à estrutura. A recomendação do uso das
formas para a concretagem é que seu material deva ser de madeira compensada ou
madeira de pinus. ‘’ Os painéis de formas poderão ser várias vezes reaproveitados,
desde que não apresentem defeitos em suas superfícies, que não possam deixar
marcas no concreto, e que o revestimento impermeabilizante não esteja danificado.’’
(SES Canasvieiras - especificações técnicas do projeto de estruturas de concreto
armado, 2008)

Os procedimento de adensamento e vibração do concreto são


minuciosamente descritos no manual apresentado junto ao projeto estrutural e
considera as diversas situações de concretagem durante a execução da obra.

75
A Figura 25 foi retirada do projeto arquitetônico da ETE Canasvieiras e
representa a planta baixa do reator UASB 3. Já a Figura 26 é o corte BB do reator
mesmo rator.

Figura 25 – Planta baixa do reator UASB

Fonte: Projeto ETE Canasvieiras - CASAN (2008)

Figura 26 - Corte BB do reator UASB

Fonte: Projeto ETE Canasvieiras - CASAN (2008)

3.3 Vistoria externa da estrutura


Junto ao ensaio esclerométrico realizado na estrutura do reator UASB três, foi
feita uma vistoria na parte externa do mesmo reator e constatou-se deficiências
construtivas que visivelmente tem acelerado o processo de degradação da estrutura
de concreto armado.

76
3.3.1 Cobrimento
De acordo com o projeto de execução da ETE Canasvieiras, e as
especificações técnicas do projeto de estruturas de concreto armado dos reatores
UASB’s, o cobrimento estipulado é de 4,5 cm, e está de acordo com os padrões
mínimo exigidos pela norma NBR 6118, para a classe de agressividade imposta. Na
Figura 27 pode-se notar a exposição da armadura na parede frontal do reator devido
à falta de cobrimento.

Figura 27 - Exposição da armadura devido


à falta de cobrimento

Fonte: Autoria própria

Pode-se concluir que o cobrimento mínimo estipulado em projeto não foi


respeitado durante a execução da obra civil, quer seja pela falta dos espaçadores
entre as barras de aço e a forma ou pela alta pressão de lançamento do concreto
que acarretou na remoção dos mesmos, resultado da pouca espessura entre a
armadura e a face externa do reator (menos de 1 cm). Tal fato, ao longo do tempo
provocou a exposição das armaduras e, consequentemente o acelerando o
processo de oxidação das barras de aço.

77
3.3.2 Falhas de concretagem
As especificações técnicas do projeto de estruturas de concreto armado
enfatizam que a vibração do concreto, quando lançado no interior das formas, deve
ser feito de forma adequada para evitar segregações da pasta. ‘‘ O concreto deverá
ser depositado nos locais de aplicação, diretamente em sua posição final, através da
ação adequada de vibradores, evitando-se a sua segregação. ’’ (SES Canasvieiras –
especificações técnicas do projeto de estruturas de concreto armado, 2008). Porém,
pode-se constatar algumas falhas de concretagem em torno das faces externas do
reator, como mostra a Figura 28.

Figura 28 - Falha de concretagem

Fonte: Autoria própria

Tal fato, quando ocorrido na face interna do reator, a qual estará em contato
direto com o efluente em tratamento e os gases produzidos durante o processo,
pode causar danos ainda mais severos à integridade da estrutura, principalmente se
essa falha de concretagem tenha ocorrido na região onde há ciclos de molhagem e
secagem do concreto. As falhas de concretagem muitas vezes não podem ser
totalmente evitadas, uma vez que: ‘‘ Os vibradores de parede só deverão ser usados
se forem tomados cuidados especiais, no sentido de se evitar que as formas e as
armaduras possam ser deslocadas. ’’ (SES Canasvieiras – especificações técnicas
do projeto de estruturas de concreto armado, 2008).
78
Sendo assim, quando houver falhas de concretagens, o recomendado é que
as mesmas sejam tratadas e preenchidos os vazios deixados pela má vibração do
concreto, a fim de evitar futuras manifestações patológicas e acelerar o processo de
deterioração da estrutura.

3.3.3 Junta de concretagem


Foi observado também na junta de concretagem entre a ligação de apoio
entre o balanço, que suporta as canaletas de coleta do efluente final, e a estrutura
de tratamento, a presença de fissuras e o desplacamento do concreto, como mostra
a Figura 29.

Figura 29 - Fissura na junta de


concretagem

Fonte: Autoria própria

Tal fato pode ter ocorrido devido à entrada do gás carbônico e gás metano
nos poros do concreto, possivelmente decorrentes de fissuras ou porosidade do
mesmo, instigando assim a transformação dos compostos do cimento em carbonato,
devido à perda de alcalinidade do concreto.

As manchas de coloração escura na face leste da estrutura caracterizam a


presença de algas e fungos (Figura 29) desenvolvidos a partir de um ambiente

79
úmido. Tal fenômeno não prejudica a funcionalidade da estrutura, apenas aspectos
estéticos.

3.3.4 Eflorescências
Foram observadas eflorescências tanto na parede externa da canaleta coletora
do efluente tratado, do reator UASB 3 (Figura 30), como no caixa de distribuição de
vazão 01 da estação de tratamento (Figura 31). Esse fenômeno se caracteriza pelo
depósitos cristalinos de cor branca que surge na superfície do revestimento, e ocorre
devido à evaporação de soluções aquosas salinizadas do interior do concreto
endurecido. De acordo com Pinhal (2009), os depósitos acontecem quando
os sais solúveis nos componentes da alvenaria e argamassa de emboço, são
transportados pela água através dos poros da argamassa de revestimento. Esses
sais em contato com o ar se solidificam, causando depósitos, que apresentam-se
com uma “exsudação” na superfície, comprometendo apenas os aspectos
relacionados à estética da estrutura.

Figura 30 - Eflorescências na parede externa no reator


UASB

Fonte: Autoria própria

80
Figura 31 - Eflorescências na parede externa da caixa de distribuição de vazão 1

Fonte: Autoria própria

3.4 Vistoria interna da estrutura


A vistoria interna no reator pôde ser feita apenas na laje superior, visto que o
reator está em atividade e a entrada no mesmo é impossibilitada.

Nos projetos do reator, foi previsto um flange (Figura 32) de entrada que
permite o acesso no interior do UASB, para possibilitar inspeções e vistorias
internas, quando o mesmo estiver totalmente esvaziado e próprio para a entrada de
pessoas no seu interior.

81
Figura 32 - Flange de aço

Fonte: Autoria própria

De acordo com o polimento que se deu para a realização do ensaio


esclerométrico da laje superior do tanque, pode-se observar que a resistência
mecânica do concreto da laje de cobertura se encontra em valores muito inferiores
ao estipulado em projeto (30 MPa), visto que os resultados obtidos pelo ensaio
esclerométrico foram os mínimos possíveis registrados pelo aparelho. Devido à ação
das bactérias na formação do ácido sulfúrico, pode-se notar um estufamento e
esfarelamento em toda a superfície interna da laje, provocada pelo ataque químico
do ácido no concreto.

Durante a vistoria, o operador da estação de tratamento pode manualmente


desagregar uma parte da laje de cobertura, a fim de confirmar a baixa resistência
encontrada no elemento estrutural. A Figura 33 mostra as etapas da desagregação
do concreto.

82
Figura 33 - Desagregação do concreto na laje de cobertura

a) Força mecânica b) Desintegração c) Agregados desintegrados

Fonte: Autoria própria

3.5 Realização do ensaio


O objetivo inicial do trabalho não propunha a elaboração de ensaios de campo.
No entanto, tendo em vista que o equipamento (esclerômetro de reflexão) estava
disponível e sua utilização iria agregar dados ao trabalho, optou-se por sua
execução.

Para a realização do ensaio de dureza superficial do concreto, foi utilizado o


esclerômetro de reflexão. O aparelho não pode ser aferido conforme instruções da
NBR 7584, devido à falta da bigorna para a calibração do equipamento, assim como
não teve-se disponibilidade de adotar-se outro calibrador de referência. Dessa
forma, ficam possíveis quaisquer alterações nos valores obtidos nestes ensaios.

O aparelho utilizado para o ensaio é do fabricante Controls-Group, Milano. A


Figura 34 mostra o esclerômetro, junto da pedra polidora e a caixa de proteção.

83
Figura 34 - Esclerômetro de reflexão

Fonte: Autoria própria

A Figura 35 descreve as partes internas constituintes do esclerômetro, como


também o funcionamento do aparelho durante as medições.

Figura 35 - Ilustração da sequência de execução do ensaio de


esclerometria

Fonte: Téchne (2009)

Os valores obtidos através do ensaio esclerométrico foram coletados em três


regiões diferentes do reator UASB 3. A leitura do aparelho corresponde à medida da
altura do rebote (na bigorna) que equivale ± 2 unidades-padrão da escala de martelo
(Controls-Group, 2016).

84
Região 1: Centro da estrutura. Parede interior da canaleta central.

Não foi possível obter a área suficiente para a realização do ensaio conforme
as instruções da NBR 7584, devido à pouca espessura da tampa do reator.
Entretanto, foram amostrados três pontos aleatórios nessa região e o valor
apresentado para ambos os pontos no leitor do esclerômetro foram menores que 10.
A Figura 36 mostra a marcação dos pontos aleatórios em níveis intercalados, já a
Figura 37 mostra a realização do ensaio sobre um dos pontos marcados.

Figura 36 - Marcação dos pontos na


tampa superior do reator 3

Fonte: Autoria própria

Figura 37 - Realização do ensaio


esclerométrico na região 1

Fonte: Autoria própria

85
Região 2: Lateral interna da estrutura. Parede coletora do efluente final.

O ensaio para a região 2 foi realizado de acordo com as orientações da


norma. Utilizou-se uma pedra para polir a superfície em estudo e retirar os possíveis
detritos que se encontrassem na região, a fim de minimizar as alterações dos
resultados do ensaio. Em seguida, foram marcados com giz 16 pontos equidistantes
à aproximadamente 3 cm uns dos outros, e então obtidos os valores de resistência
superficial com o esclerômetro (Figura 38).

Figura 38 - Leitura dos valores do


esclerômetro, na região 2 do reator

Fonte: Autoria própria

Os valores de resistência superficial do concreto que foram extraídos da


região 2 do reator estão descritos respectivamente na Tabela 10.

Tabela 10 - Leitura inicial do esclerômetro na região 2

38 48 26 34
22 40 42 42
40 36 38 42
38 42 12 40
Fonte: Autoria própria

86
A região de onde foram extraídos os valores acima – galeria coletora do
efluente final - não possui contato direto com os gases resultantes da decomposição
anaeróbia no esgoto doméstico, apenas se esses forem lixiviados junto à saída do
esgoto tratado. Os gases gerados nesse processo tendem a ficar concentrados
apenas no centro do reator, quando considerando uma vedação ideal.

Na parte superior da canaleta (Figura 38), por onde o esgoto escoa, pode-se
observar a coloração típica de concreto exposto, e os agregados já aparentes. Na
parte central da figura (sobre o esgoto), observa-se a coloração típica de oxidação,
sendo que, sobre esta camada superficial, já existe a formação de enxofre
elementar, que dá sequência às reações de formação de ácido sulfúrico.
(FORTUNATO et al, 2019)

Região 3: Lateral externa da estrutura, parede do reator na face externa.

Região sujeita aos ataques externos do ambiente, não possui contato com o
esgoto. A Figura 39 mostra o polimento da superfície onde serão coletados os
pontos para o ensaio e a marcação dos mesmos.

Figura 39 - Polimento e marcação dos


pontos

Fonte: Autoria própria

Os valores de resistência superficial do concreto que foram extraídos da


região 3 do reator estão descritos respectivamente na Tabela 11.
87
Tabela 11 - Leitura inicial do esclerômetro na região 3

32 40 28 36
34 30 38 32
44 42 32 32
26 38 30 30
Fonte: Autoria própria

88
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO ENSAIO

Os resultados obtidos através do ensaio esclerométrico descrito no item 3.6


do capítulo 3, foram dispostos na Tabela 12. De acordo com o manual de uso do
fabricante Controls-Group (2016) o valor representado na tela do leitor do
esclerômetro é a medida da altura do rebote ± 2 unidades-padrão da escala de
martelo.

Tabela 12 - Leitura inicial do esclerômetro


Elemento Estrutural
Pontos
Região 1 Região 2 Região 3
1 ≥10 38 32
2 ≥10 48 40
3 ≥10 26 28
4 - 34 36
5 - 22 34
6 - 40 30
7 - 42 38
8 - 42 32
9 - 40 44
10 - 36 42
11 - 38 32
12 - 42 32
13 - 38 26
14 - 42 38
15 - 12 30
16 - 40 30
Média I 10 36,3 34,0
Média II 0 36,8 33,2
I.E.
1 1 1
Corrigido
Resistência 0 36,8 33,2
Fonte: Autoria própria

Média I – Cálculo da média aritmética dos valores obtidos.

Média II – desprezados os índices individuais que se afastaram 10% do valor


médio obtido.

Fator de correção (FC) = 1 (adotado)


89
I.E. Corrigido – FC x Média II

A norma NBR 7584 preconiza que o índice final deve ser obtido com no
mínimo cinco valores individuais, caso contrário, a área deve ser abandonada.
Também é salientado que nenhum dos índices individuais restantes deve diferir em
mais de 10% da média final.

Os valores representados na cor vermelha da Tabela 12 foram


desconsiderados no cálculo da Média II, devido a não conformidade dentro dos
limites inferiores e superiores de 10% com a Média I. Sendo assim, os valores de
Média II ficaram dentro dos parâmetros estabelecidos pela norma.

De acordo com a fórmula (1), o fator de correção é obtido pela multiplicação


entre o coeficiente de correção (IE) e a média dos valores obtidos na aferição do
esclerômetro (Média de aferição).

FC = IE fabricante x Média de aferição (1)

O valor do coeficiente de correção (IE fabricante) é de 80. Devido à falta da


bigorna para a calibração do esclerômetro, e consequentemente a falta dos valores
para o cálculo da média de aferição, não foi possível calcular o fator de correção
para o ensaio. Sendo assim, o valor adotado para o fator de correção (FC) foi igual a
1.

O esclerômetro utilizado durante as medições assumiu um ângulo de 0° junto


com as faces ensaiadas. O valor de resistência calculada na Tabela 12 é aplicada ao
Ábaco da Figura 40, sendo que o eixo das abcissas se refere ao valor da resistência,
calculado com base nas leituras do esclerômetro e, ao interseccionar com a
parábola de 0°, reflete no eixo das ordenadas o valor de resistência em MPa da
região ensaiada.

90
Figura 40 - Ábaco de correlação

Fonte: Controls Group, (2019)

A Tabela 13 e Tabela 14 descrevem os valores de leitura obtidos em cada


região do ensiao, quando aplicados a resistência de cada golpe de medição. É
importante destacar que o cálculo da resistência efetiva final não se a partir da
média entre as resistências, mas sim pela leitura do ábaco de correlação.

Tabela 13 - Resistência dos pontos obtidos na região 2


Região 2
Ponto
Leitura Resistência (Kg/cm²) Resistência (MPa)

1 38 380 38
2 48 500 50
3 26 180 18
4 34 310 31
5 22 121 12,1
6 40 420 42
7 42 460 46
8 42 460 46
9 40 420 42
10 36 350 35
11 38 380 38
12 42 460 46
13 38 380 38
91
14 42 460 46
15 12 0 0
16 40 420 42
Média I 36,3 356,3 35,6
Média II 36,8 360,0 36,0

Resistência 33 MPa
Fonte: Autoria própria
Tabela 14 - Resistência dos pontos obtidos na região 3

Região 3
Ponto
Leitura Resistência (Kg/cm²) Resistência (MPa)

1 32 280 28
2 40 420 42
3 28 210 21
4 36 350 35
5 34 310 31
6 30 250 25
7 38 380 38
8 32 280 28
9 44 500 50
10 42 460 46
11 32 280 28
12 32 280 28
13 26 180 18
14 38 380 38
15 30 250 25
16 30 250 25
Média I 34,0 316,3 31,6
Média II 33,0 296,7 29,7

Resistência 26,5 MPa


Fonte: Autoria própria

Os valores pertencentes às células preenchidas foram descartados dos


cálculos, devido à não conformidade com os limites calculados. A resistência efetiva
de cada região está descrita abaixo:

Região 1) Valor do índice esclerométrico médio efetivo (IEe) da região 1 do


ensaio foi de: 0. Aplicando esse valor da no ábaco, temos que a resistência efetiva
do elemento é de: 0 MPa

92
Região 2) Valor do índice esclerométrico médio efetivo (IEe) da região 2 do
ensaio foi de: 36,8. Aplicando esse valor da no ábaco, temos que a resistência
efetiva do elemento é de: 33,0 MPa

Região 3) Valor do índice esclerométrico médio efetivo (IEe) da região 3 do


ensaio foi de: 33,2. Aplicando esse valor da no ábaco, temos que a resistência
efetiva do elemento é de: 26,5 MPa

A resistência estipulada de acordo com as especificações técnicas do projeto


de estruturas de concreto armado da ETE Canasvieiras, para as estruturas de
concreto, é de 30 MPa.

O ensaio esclerométrico mede apenas a dureza superficial do concreto,


sendo possível que o valor de resistência nas regiões mais internas das peças
ensaiadas seja diferente dos valores medidos. O golpe feito pelo aparelho de
medição pode também ter sido refletido em lugares próximos ou muito próximos de
materiais de maiores resistências que constituem o concreto armado, como os
agregados do cimento e o aço da armadura, ainda mais quando o cobrimento
mínimo exigido para a estrutura não está de acordo com o projeto, como visto no
capítulo 3, no item 3.8.1.

Todos esses efeitos mencionados somados à falta de aferição do


equipamento prejudicam não só a precisão na obtenção dos valores em campo,
como também os cálculos conseguintes, tornado os valores da resistência obtidos
através deste ensaio menos fieis ao real.

93
5 PROPOSTAS CORRETIVAS E PREVENTIVAS

Apesar de suas inúmeras vantagens e ampla utilização no tratamento de


esgoto, os reatores UASB apresentam algumas limitações relacionadas à produção
e emissões gasosas, resultantes do processo de digestão das bactérias
fermentativas e sulfato digestoras, as quais são as principais responsáveis pela
oxidação e deterioração do material constituinte desse meio de tratamento.

O controle das emissões gasosas e dos processos corrosivos por meio de


medidas preventivas e/ou corretivas torna-se essencial para garantir a redução dos
gastos com a manutenção e reparo das estruturas danificadas pela corrosão e
conservar a vida útil de componentes responsáveis pelo tratamento de esgoto
sanitário, além de garantir o bem-estar dos trabalhadores e residentes no entorno
das ETE’s.

5.1 Patologia diagnosticada em reatores UASB’s da SANEPAR e métodos


corretivos aplicados – análise comparatória

Foi observado que na estação de tratamento de esgoto de Santa Quitéria


(Curitiba - PR), foi diagnosticado um problema similar nas ETE’s em estudo. A
estação possui vazão de tratamento de 500 litros de esgoto por segundo
(consideravelmente alto em relação às ETE de Canasvieiras, Barra da lagoa, Lagoa
da Conceição e Saco Grande que possuem vazão inferior à 156 L/s). O tratamento é
do tipo anaeróbico, seguido de tratamento por flotação.

O ataque químico foi observado nas paredes internas do reator UASB que
estão acima no nível do esgoto. A parede exposta ao ar atmosférico sofre corrosão
por parte do gás sulfídrico que reage com o oxigênio e forma o ácido sulfúrico
(H2SO4) esse, ataca o concreto e as armaduras, deixando-os expostos ainda mais à
ação desse gás (Figura 41).

94
Figura 41 - Desagregação do concreto na parede interna no reator UASB e
oxidação da armadura

Fonte: Autoria própria

Buscando-se identificar as soluções para os problemas similares aos das


estações de tratamento de esgoto de Florianópolis, constatou-se, que a partir de
estudos feitos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR) junto com
a SANEPAR, a fim de frear o avanço das manifestações patológicas presentes no
reator UASB na cidade de Curitiba, foram feitas intervenções na estrutura através da
colocação de placas de fibra de vidro e membrana PEAD com o objetivo de evitar o
contato da estrutura de concreto com o ácido sulfúrico. Através desse estudo, foi
observado também que na parte submersa do tanque não há ataque ao concreto
armado.

Apesar das intervenções feitas, constatou-se que as mesmas não trouxeram


resultados muito significativos para esta patologia, visto que o problema perdura até
hoje.

5.2 Intervenções a partir da substituição de materiais


O uso de materiais mais resistentes à ação dos gases resultantes da
decomposição anaeróbia do esgoto doméstico se torna imprescindível para a
obtenção de uma estrutura com maior durabilidade e eficiência. A substituição do
95
concreto armado para alguns elementos do reator UASB é de grande importância,
principalmente para coberturas e sistemas de exaustão dos gases produzidos pelo
mesmo, quando se visa uma maior durabilidade e conservação dessas estruturas.

Dessa forma, Chernicharo et al (2018) enfatizam alguns pontos referentes à


utilização de diferentes tipos de materiais, como concreto, aço inoxidável, alumínio e
materiais poliméricos e elastoméricos e suas aplicações, bem como suas vantagens
e desvantagens para a construção do reator UASB, ou seja:

Concreto:

- Baixo custo e elevada capacidade de suportar cargas;

- Módulos pesados e espessos, o que dificulta acesso de operadores;

- Susceptível à corrosão e a necessidade de aplicar proteção anticorrosiva;

- Indicação: cobertura de reatores UASB; construção das unidades de


tratamento dos gases residuais.

Alumínio:

- Elevado custo e boa capacidade de suportar esforços de tensão;

- São leves e facilitam o acesso de operadores;

- Possui boa resistência em atmosferas com H2 S, mas podem ser atacados


pelo H2 SO4 ;

- Indicação: confecção de elementos das coberturas (revestidos com epóxi)


como dutos de transporte de gases.

Aço inoxidável:

- Elevado custo e boa capacidade de suportar esforços de tensão;

- São relativamente leves e facilitam o acesso de operadores;

- Elevada resistência à corrosão, aços inoxidáveis do tipo AISI 316;

- Indicação: confecção de todas as estruturas, devido à durabilidade do


material.

Materiais poliméricos e elastoméricos:

96
- PVC, PEAD, PRFV, PP ou PPR, borracha.

- Elevado custo, baixo peso específico e elevada resistência à corrosão.

- Podem ser moldados em diversas formas.

- Indicação: tubos e conexões; cobertura de canais e tanques em geral.

Com o objetivo de minimizar os problemas de corrosão durante a coleta do


biogás, os tubos e as conexões devem ser fabricados em aço inoxidável ou em
plástico adequado. Devido à maior resistência à corrosão, é recomendada a
utilização do aço AISI 316Ti (EN 1.4571) (CHERNICHARO et al, 2018). Tubos e
conexões de polietileno de alta densidade (PEAD) são considerados adequados
para a condução do biogás.

5.3 Intervenções preventivas no uso do concreto armado


O material mais aplicado na construção de reatores UASB é o concreto,
dessa forma, é fundamental que o controle executivo do projeto seja seguido
rigorosamente, a partir da produção de concreto com resistência química adequada,
com baixa relação água/cimento, compactação rigorosa e cura apropriada, bem
como a escolha de um cimento adequado (Portland Pozolânico), visando obter desta
forma baixa taxa de absorção e permeabilidade.

A manutenção periódica dessas estruturas também é de suma importância


para garantir que a vida útil prevista em projeto seja alcançada.

Outra forma de melhorar ou inibir os efeitos de degradação é por meio de


isolamento da estrutura do meio corrosivo, através do uso de revestimentos
resistentes a ácidos e pinturas. Desta forma, Fortunato et al (2019) enfatizam que a
escolha de um revestimento adequado deve-se preocupar com as seguintes
questões: inércia química diante dos agentes agressivos, propriedades físicas
compatíveis com o substrato, permitindo acompanhar o encurtamento e a dilatação,
resistência à abrasão apropriada, baixa permeabilidade, durabilidade, custo
benefício e facilidade de aplicação.

Deve-se empregar o revestimento interno das estruturas para proteção


anticorrosiva, principalmente nas regiões que ficam acima do nível do líquido. O
97
separador trifásico, por estar localizado na parte superior do reator, está mais
exposto à corrosão, devendo, portanto, ser fabricado em material mais resistente, ou
revestido com maior rigor (CHERNICHARO, 2007).

Uma das soluções que pode ser apontadas para o caso, é a pintura dos
reatores com borracha clorada ou epóxi betuminoso, que constitui uma barreira
química para as superfícies de concreto expostas em ambientes de média à alta
agressividade, desta forma impede a ação do ácido sulfúrico sobre as paredes de
concreto.

A borracha clorada apresenta o inconveniente da baixa resistência a ácidos


graxos vegetais ou animais; já as epóxi betuminosas são mais resistentes,
podendo ser aplicadas com espessuras maiores e menor número de
demãos, bem como possui menor permeabilidade, comparada à borracha
clorada, porém o preço da epóxi betuminosa é mais elevado, o que em
certos casos pode inviabilizar sua aplicação (FORTUNATO et al, 2019, p. 7).

A utilização do concreto armado para a execução de estruturas destinadas ao


tratamento de esgoto se dá por vários motivos, entre eles: sua grande versatilidade
de assumir formas e geometrias distintas, suas características físicas e químicas, as
altas resistência à compressão e a tração, mas, principalmente ao fator cultural com
que esse tipo de material é empregado ao longo dos anos, pelo mundo. Embora as
qualidades do concreto armado sejam muitas, é imprescindível que os devidos
cuidados devam ser tomados durante sua execução, uma vez que, quando mau
executado pode trazer severos problemas para a estrutura como um todo.

5.4 Alterações de projeto


Mesmo após a aplicação de ações preventivas para evitar a ação dos gases
sobre o concreto armado em reatores anaeróbios e dependendo das condições de
formação dos gases, algumas modificações e alterações de projeto podem se tornar
indispensáveis.

Como visto durante o desenvolvimento deste trabalho, escuma acumulada em


reatores UASB é a principal responsável pela formação do gás metano, se tornando
de grande a importância as manutenções periódicas para a remoção da mesma.

98
Durante a etapa de projeto e operação do reator, é importante que sejam
considerados:

 Inclusão de dispositivo para evitar o acúmulo desta escuma dentro dos


separadores trifásicos dos reatores UASB (ex.: remoção hidrostática de
escuma, que, segundo Santos (2014) baseia-se na alteração do nível
d´água no interior do separador trifásico, de modo a possibilitar que a
escuma verta para uma canaleta interna ao separador trifásico);
 Evitar quedas hidráulicas na coleta e condução do efluente tratado;
 Contenção das fontes emissoras, por meio de coberturas/galpões,
dessa forma o problema seria parcialmente resolvido, uma vez que a
cobertura evitaria a proliferação dos gases liberados das reações
anaeróbias para os demais tipos de tratamento de toda a ETE, porém
estariam igualmente em contato com os elementos de concreto armado
do reator UASB;
 Captação/exaustão dos gases residuais gerados de forma eficiente;
 Projeto de reatores UASB com decantadores estanques a gases (ex.:
tampas hermeticamente fechadas, adoção de técnicas de
enclausuramento, previsão da impermeabilização de superfícies);
 Vetar a utilização de inserts metálicos na estrutura do reator, como
guarda corpo, corrimão, tampas de inspeções e tubulações;
 Isolamento das tampas de inspeção da laje superior do reator com
material poliméricos e/ou elastoméricos, a fim de se evitar ao máximo a
saída de gases por orifícios presentes nesses elementos devido à
corrosão do concreto (Figura 42).

Figura 42 – Borda da tampa de inspeção vedada com


material polimérico

Fonte: Autoria própria

99
Outras soluções para aumentar a vida útil dos reatores UASB’s que serão
executados futuramente, Chernicharo et al (2018) destacam ainda duas técnicas de
aperfeiçoamento de projeto descritas nos itens a seguir.

5.4.1 Dessorção dos gases


O processo que transfere a massa envolvendo a remoção de gases
dissolvidos no efluente para um fluxo gasoso é denominado de dessorção
(CHERNICHARO et al, 2018, p. 64). A presença de gases dissolvidos nos efluentes
dos reatores UASB pode agravar muito os processos corrosivos nas ETE’s. É
possível minimizar a liberação de gases por meio da utilização de coberturas e da
exaustão dos canais de efluentes.

A técnica da CD é baseada em mecanismos elementares de agitação da


fase líquida no interior de uma estrutura fechada com fluxos d’água em
queda livre e pressão interna igual à atmosférica. Um fluxo de gás (ar
atmosférico) é aplicado no sentido oposto ao fluxo de esgoto, de forma a
aumentar a taxa de transferência de massa entre as fases (CHERNICHARO
et al, 2018, p. 64).

Figura 43 - Esquema de câmera de dessorção

Fonte: Chernicharo et al (2018)

100
5.4.2 Compartimentos de decantação e câmera de gás
Uma modificação do projeto original do reator UABS, sugerida por
Chernicharo et at (2018) é o enclausuramento dos compartimentos de decantação e
a interligação com a câmara de gás. De acordo com Chernicharo et al (2018) essa
alternativa já foi experimentada em reatores UASB modificados e em RALFs no
Estado do Paraná, sendo adotada com o objetivo de aumentar o volume de
captação de biogás.

O autor ressalta que estudos se fazem necessários para confirmar a


eficiência, bem como as vantagens e desvantagens inerentes a esta solução, uma
vez que contrapõe ao conceito original dos reatores UASB clássicos, onde a
interligação do compartimento de decantação com a câmara de gás não é admitida.

101
CONCLUSÃO

As emissões gasosas e a possibilidade de corrosão são inerentes ao uso de


reatores UASB para o tratamento de esgoto sanitário, todavia, é possível a utilização
de técnicas que atuem efetivamente na mitigação desses aspectos.

Diante do problema diagnosticado durante o desenvolver deste trabalho, ficou


evidente que as estações de tratamento de esgoto apresentam uma elevada
vulnerabilidade à agressividade em suas estruturas de concreto armado. Essas
estruturas estão sujeitas não somente à ação de fenômenos naturais como a
maresia e intempéries climáticos, mas também à ação do biogás – que tem em sua
composição o Metano (CH4), Dióxido de Carbono (CO2) e outros gases em menores
quantidades, como Ácido Sulfídrico (H2S), Monóxido de Carbono (CO), Amônia
(NH3) e Hidrogênio (H2) - produzido no interior do reator UASB. Esses gases,
quando em contato com o concreto, permeiam seus vazios e reagem quimicamente
com os compostos da pasta de cimento. Essas reações provocam a redução do pH
em zonas distintas, e causam o estufamento da região atingida, logo, o cimento se
desagrega dos demais componentes do concreto e deixa a estrutura susceptível e
exposta à corrosão.

O baixo investimento nas especificações técnicas de projeto acompanhados


de uma criteriosa especificação de materiais e técnicas executivas somado à falta de
manutenção periódica, pode conduzir a uma significativa redução da vida útil da
estrutura de concreto, conforme exposto a seguir:

● Um elevado fator água/cimento promoveria a obtenção de uma estrutura com


maior porosidade/capilaridade devido à saída da água não associada
quimicamente (água adicionada somente para fornecer trabalhabilidade ao
material), facilitando a entrada de agentes agressivos no concreto;

● A vibração deficiente do concreto poderia resultar na obtenção de uma


estrutura não homogênea, o que poderia facilitar a penetração de água e
gases no interior deste material e, por conseguinte, o ataque e a oxidação da
armadura. Observa-se que os produtos da corrosão ocupam no interior do

102
concreto volumes de 3 a 10 vezes o volume original do aço, originando
tensões internas com valores superiores a 40 MPa (CÁNOVAS, 1988);

● Um inapropriado processo de cura produziria um concreto com a presença de


fissuras devido à retração hidráulica. Estas, por sua vez, possibilitariam a
penetração de água e gases e, novamente, o ataque e a oxidação da
armadura;

● O uso do tipo inadequado de cimento reduziria a resistência do concreto aos


ataques químicos provenientes dos agentes agressivos presentes neste meio;

● O controle de emissão gasosas também deve ser evitado, através da


vedação das tampas de inspeção na laje superior e a canalização dos gases
para o queimador de gás, uma vez que é o principal responsável pelas
manifestações patológicas encontradas ao longo deste trabalho;

● O uso de materiais metálicos em elementos como: guarda-corpo, tampas de


inspeção metálicas, corrimão e tubulações condutoras dos gases, deve ser
prescindivelmente evitado uma vez que esse material é duramente atacado
pelos gases gerados a partir da decomposição anaeróbia. O recomentado
seria a substituição por outros materiais como: aço corten, pultrudado, fibra
de vidro, e outros materiais poliméricos e elastoméricos, os quais apresentam
maior resistência aos agentes químicos encontrados no meio.

Embora ainda não haja normas técnicas específicas para a execução de


projetos e dimensionamento de estruturas hidráulicas em concreto armado, há
disponível no meio técnico e científico informações suficientes para a utilização de
diferentes métodos e especificações de projeto que visam a maior durabilidade e
longa vida útil dos reatores anaeróbios do tipo UASB. Segundo Chernicharo et al
(2018) esse fato, de certa forma é motivo de orgulho nacional e coloca o Brasil como
uns dos países mais maduros no uso da tecnologia anaeróbia de tratamento de
esgoto.

Os problemas operacionais decorrentes das patologias manifestas nos


reatores UASB’s podem ser, no início, de pequena significância porém se não forem
monitoradas e tomadas medidas de controle e mitigação dos danos, os mesmos

103
podem acarretar em danos ainda mais graves, que podem ir desde a perda de
eficiência no tratamento do esgoto até uma interrupção da unidade, gerando
transtornos não só para a concessionária que opera as estações de tratamento, mas
principalmente para a população local e o maio ambiente. Os altos custos de
remediação somado à agressividade do meio em que essas estruturas se
encontram, exigem uma maior atenção quando se fala dos processos construtivos e
a manutenção dessas unidades.

A utilização de materiais não apropriados para a execução dos reatores


UASB’s, muitas vezes segue sendo empregado pelo fator cultural que se tem
tradicionalmente de sempre executar obras da mesma forma.

Visto que há tantos tipos de materiais e técnicas construtivas que estão


disponíveis no meio técnico, muitas vezes por questões políticas de cada
concessionária, não são adotadas as soluções técnicas mais adequadas para
prevenir esse tipo de problema.

Tendo em vista os resultados deste trabalho, são feitas as seguintes


sugestões para um estudo mais aprofundado do tema: é recomendável dar maior
enfoque aos detalhes inerentes ao projeto de estrutura dos reatores UASB’s, às
técnicas construtivas empregadas durante a execução do mesmo e especificação
mais minuciosa dos materiais a serem empregados neste tipo de construção; a
realização de um ensaio com extração de corpo de prova também se faz importante,
a fim de se obter uma análise mais detalhada e fiel ao que se encontra na estrutura
de concreto armado do reator UASB.

104
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