Legado Da Idade Média para A Contemporaneidade
Legado Da Idade Média para A Contemporaneidade
Legado Da Idade Média para A Contemporaneidade
“(...) o período entre os séculos IV e XVI é tradicionalmente conhecido por Idade das Trevas, Idade da
Fé ou, com mais freqüência, Idade Média. Todos eles rótulos pejorativos, que escondem a importância
daquela época na qual surgiram os traços essenciais da civilização ocidental. Nesta, mesmo países
surgidos depois daquela fase histórica –caso do Brasil- têm muito mais de medieval do que à primeira
vista possa parecer. Olhar para a Idade Média é estabelecer contato com coisas que nos são ao mesmo
tempo familiares e estranhas, é resgatar uma infância longínqua que tendemos a negar mas da qual
somos produto. De fato, para o homem do Ocidente atual compreender em profundidade a Idade Média
é um exercício imprescindível de autoconhecimento (...)”.(FRANCO JUNIOR,2004, capa).
As criações do medievo (de aproximadamente dez séculos) atingiram um alto número, dentre elas estão:
os moinhos, a charrua, a pólvora, a plaina, o pisão, o arco triangular, os algarismos arábicos, a anestesia,
o anno domini, a árvore genealógica, os bancos, os botões, a bússola, o carnaval, o carrinho de mão,
as cartas de jogo, o cavalo como força motriz, o garfo, gatos como animais domésticos, a hora de
sessenta minutos, a lareira, os livros, o macarrão, a marca d´água, o óculos, os nomes das notas
musicais, o papai Noel, o papel, a prensa de tipos móveis, o purgatório, as roupas de baixo, o tarô, as
universidades, os vidros coloridos, o xadrez, o zero, o relógio, as cidades, as moedas, as feiras, a
cavalaria, os castelos, as cruzadas, o leme, o astrolábio, as ferraduras, a roda d’ água, o poço artesiano,
o estilo gótico(...), entre várias outras coisas, sendo que alguns dos itens inovadores já existiam na
antiguidade, só que não eram utilizados por falta de conhecimentos e técnicas.
O que definia a riqueza, o poder político e o poder social era a terra e a economia agrária, que são
fundamentados pelo modo de produção feudal2 (teve suas origens no século IV, com o
comitatus3 germânico e o colonato4 romano), no qual dividia a sociedade em classes, aonde era
efetivado o contrato de vassalagem entre um senhor (que entrava com o meio de produção, a terra) e
um camponês (que entrava com o serviço braçal). A agricultura do século X era pouco desenvolvida
devido aos instrumentos rudimentares e pela falta de técnicas, mudando esse contexto no século XI
com os progressos agrícolas e demográficos, aonde se denominou “revolução agrícola” por causa das
transformações positivas, sendo a agricultura influenciada pelos moinhos, pela charrua, pela enxada,
pela foice e pelo cavalo. No século XII foi empregada a utilização do adubo, em geral o esterco de vaca,
que era de alta poder aquisitivo na época.
A cidade medieval se afirma entre os séculos X e XIII, sendo inicialmente pequenos centros de trocas,
aonde firmaram os burgos (lugares fortificados), essas cidades tinham populações basicamente
bárbaras, que devido o processo evolutivo foram sendo separadas, tais como, os artesãos, os senhores
de terras, os reis, os bispos, os condes, os cônsules, a burguesia, os pequenos comerciantes, os
pedreiros, os rebocadores, os carpinteiros, os mineiros, os metalúrgicos, as domésticas e os intocáveis
ou minorias excluídas.
As moedas surgem especialmente depois do avanço agrícola no século XI, pois são muitas mercadorias
no comércio, gerando uma alta circulação monetária, que também influenciou nas cruzadas, pois se
tornava mais viável levar uma quantia de moedas do que um navio de cevada. Assim o grande comércio
e o demasiado aumento demográfico foram o motor da expansão econômica monetária, a moeda
tornava-se cada vez mais necessária para efetuar pagamentos e trocas, sendo que esse crescimento
da economia monetária começou a substituir a economia natural, que resultou no enfraquecimento dos
senhores feudais que caracterizou a primeira crise do feudalismo no século XIV. Dentre as moedas
medievais encontravam-se de vários matérias, como ouro, prata, estanho e cobre (nem sempre puros),
aonde variavam de acordo com o local e soberano, sendo utilizadas com várias formas e estampas,
representando fatos, datas, pessoas, tais como, coroação, morte, ascensão, guerras, nascimento,
poder, local, imperador, príncipe e acontecimentos em geral.
A Europa Ocidental medieval era rica em madeira, que permitiu um grande número de exportações de
carvalho (madeira de luxo na época) para o mundo muçulmano. Surge aí o descobrimento e a utilização
do ferro, que foi usado na maioria das vezes para a produção de ferramentas e para o armamento militar.
No século XIII foram criadas ferramentas de ferro para trabalhar toda essa abundância de madeira,
como por exemplo machados, trados e serras. O ferro foi utilizado também anteriormente para inovar
na agricultura, com a criação da enxó (enxada). O grande avanço sobre a madeira ocorreu quando f oi
substituída por pedras nas construções, em especial no desenvolvimento dos castelos.
As novas fontes de energia do século XIII trouxeram um certo nível de desenvolvimento para a Europa
medieval. Os moinhos inovaram muito, dentre eles estão: os moinhos de cânhamo (papel), moinhos
curtidores, moinhos de pisão (tecidos), moinhos de cerveja e moinhos de amolação. Outra grande fonte
de energia foi à criação anteriormente da atrelagem (XI) que pôs os animais como boi e cavalo a
trabalharem nas lavouras. Neste momento o boi foi considerado inferior ao cavalo, chegando a valer
dois bois por um cavalo, porém em Órleans o asno valia mais. Apesar das novas fontes energéticas
substituírem a energia humana, os trabalhadores prevaleceram em vários setores, como no transporte
de trigo e na navegação, que era utilizado remos manuais.
Os navios eram construções simplificadas e limitadas, existiam poucos nas frotas ocidentais.
Transportavam vários artigos, grãos, madeiras e especiarias em geral, as principais rotas foram: em
direção a Chipre e Armênia, a Flandres e a România. Em meados do século XIII foi introduzido o leme,
que tornou os navios mais fáceis de serem conduzidos. As navegações intensificaram-se no inverno
devido à criação da bússola (XIII-1280).
Os avanços tecnológicos de maior significância no campo “industrial’ foram: a criação da pólvora e das
armas de fogo (XIII), que revolucionaram as guerras; o vidro (XIII) aparece como industria, pois já era
conhecido na antiguidade, mas não era trabalhado, trouxe o desenvolvimento para cristandade, onde
era utilizado para formar os vitrais; a industria têxtil surge para fabricar os vestuários, geralmente os
técnicos e os inventores da idade média foram os artesãos. Um grande progresso comercial acontece
com o surgimento do câmbio, a troca de moedas. O centeio foi a mais inovadora semente desenvolvida
no período medieval, complementando a cadeia alimentar.
Tratando do desenvolvimento do período medieval é impossível deixar de fora a esplêndida instituição
que surgiu em fins do século XII e destacou-se principalmente no século XIII, sendo ela a universidade,
que marcou o renascimento urbano e o nascimento dos chamados intelectuais, sendo caracterizada por
defender os interesses das comunidades em geral, aonde constituiu vários aspectos políticos e sociais
sendo praticamente autônoma, porém prestava satisfação ao Estado e ao papa. A universidade era
composta por mestres, doutores e alunos, formando um local de produção de saberes, de pesquisas,
de questionamentos, de debates e de estudos específicos. Esta instituição utilizou o trivium (gramática,
retórica e dialética) e o quadrivium (música, geometria, matemática e astronomia) como estudo básico
para as faculdades oferecidas, tais como direito, artes, teologia e medicina, nos níveis de bacharelado,
licenciatura, mestrado e doutorado. A universidade foi formada em três tipologias: as universidades
espontâneas, que eram criadas por mestres e alunos, como por exemplo à universidade de Paris,
Bolonha e Oxford; seguindo tinham as universidades nascidas por migrações, tais como a de
Cambridge, em 1318, que nasceu por secessão da de Óxford, a de Orleans nasceu em 1306 pela de
Paris; e outro tipo de universidade era a criada por soberanos, como a de Nápoles, criada por Frederico
II, em 1224.
Essa instituição promoveu uma verdadeira revolução intelectual, que fez a sociedade desenvolver
através do conhecimento, do raciocínio e de influências greco-árabes, que não chegou ao povo
anteriormente graças a Igreja que triunfou apoiando-se na estagnação da “sociedade burra” educada
pelo monopólio da Igreja. Esse nascimento dos intelectuais firmou o florescimento de belas obras
culturais, tais como literatura, arte e música. Na literatura destacou-se as poesias em latim dos goliardos,
que demonstravam características revolucionárias em relação à sociedade medieval, aonde essa
“vagabundagem estudantil” demonstrava suas mentalidades sobre a sociedade, hora com aspectos
positivos, hora com ideologias negativas, conforme este poema:
Também de grande influência foi à contribuição dos gregos e dos árabes que entrou no ocidente através
dos interesses dos intelectuais tendo como via de passagem o comércio, nas feiras, através de
manuscritos, que foram traduzidos por vários poliglotas. Os complementos culturais principais foram: a
filosofia, a matemática, a astronomia, a medicina, a física, a lógica, a ética, a agronomia, a alquimia e
os seus respectivos métodos de utilização.
Seria o mundo medieval um inferno de misérias e obscuridade? Descobre-se o contrário onde o
desenvolvimento expandiu em enormes ramificações através de permanências e rupturas que
permeiam um campo muito além da ideologia de obscuridade imposta pelos humanistas modernos do
século XVII. Para uma suposta sociedade subdesenvolvida não cabem invenções geniais e de grande
repercussão, portanto a Europa ocidental medieval não foi uma idade de trevas nem imune ao
desenvolvimento, teve obviamente alguns aspectos negativos, que de um modo geral faz parte de
qualquer civilização em construção ou propriamente dita “pronta”, afinal no mundo contemporâneo é
notável civilizações com demasiados atritos e aspectos negativos, se não maiores do que nos dez
séculos do período medieval. O progresso medieval constituiu vários alicerces que resultaram nas
nações monárquicas da idade moderna, como a bela França, a Inglaterra, a Itália, a Alemanha, Portugal
e a esplêndida Espanha, que sem sombra de dúvida não existiriam sem a superestrutura formulada
pelos homens medievais, que por causa de suas necessidades muito inventaram e desenvolveram,
atingindo um alto nível de progresso, portanto o período entre os séculos IV e XV é sinônimo de uma
bela época.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. Europa Ocidental. In: Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. São Paulo:
Brasiliense, 2001, pg. 139-204.
BURNS, Edward McNall.Alta Idade Média (1050-1300): Aspectos Religiosos e Intelectuais.In: História
da civilização ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. São Paulo: Globo, 2000, pg. 271-
306.
BURNS, Edward McNall. Alta Idade Média (1050-1300): Instituições Econômicas, Sociais e Políticas. In:
História da civilização ocidental: do homem das cavernas às naves espaciais. São Paulo: Globo, 2000,
pg. 237-270.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. As estruturas sociais. In: A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São
Paulo: Brasiliense, 2001, pg. 83-101.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. As Motivações Psicológicas. In: As Cruzadas: Guerra Santa entre Ocidente
e Oriente. São Paulo: Moderna, 1999.
FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média: óculos, livros, bancos, botões e outras inovações geniais.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.