INTRODUÇÃO - Motivação

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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CRESCENTE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


COORDENAÇÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA CRIMINAL

MOTIVAÇÃO PARA OS CRIMES E AS SUAS TEORIAS

LUANDA

2023
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CRESCENTE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
COORDENAÇÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA

INTEGRANTES DO GRUPO DO 1º ANO ACADEMICO

1. ARMANDO MOTA
2. AVELINA TCHILOMBO JÚLIO INÁCIO
3. DULCILIA PAULA RODRIGUES DE SOUSA
4. GELSON GARCIA NETO
5. JOSÉ ARMANDO AMBRIZ
6. PAULINA JOÃO TOMÁS

Docente
__________________________________
Dr.: Manuel José

LUANDA

2023
Índice
INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
1. MOTIVAÇÃO PARA OS CRIMES E AS SUAS TEORIAS...................................2
1.1. MOTIVAÇÃO PARA OS CRIMES...............................................................2
1.2. TEORIA DO CRIME......................................................................................3
2. PRINCIPAIS ELEMENTOS DA TEORIA DO CRIME..........................................3
2.1. Tipicidade........................................................................................................3
2.2. Ilicitude............................................................................................................4
2.3. Culpabilidade...................................................................................................4
3. FATORES ECONÔMICOS E SOCIAIS INFLUENCIADORES DA
CRIMINALIDADE........................................................................................................5
4. TEORIAS DE CAUSALIDADE DA CRIMINALIDADE.......................................7
4.1. Grupo das teorias de caráter biológico.............................................................8
4.2. Grupo de teorias de caráter de herança familiar...............................................9
4.3. Grupo de teorias de interação social...............................................................10
4.4. Teorias de caráter econômico.........................................................................12
CONCLUSÃO.............................................................................................................14
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA.............................................................................15
INTRODUÇÃO

Dados do Ministério da Justiça e da Secretaria Nacional de Segurança Pública


mostram que a criminalidade em Angola, aumentou em 21,65% no que tange aos
crimes de homicídio doloso, tentativa de homicídio, lesão corporal, estupro, atentado
violento ao pudor, roubos e furtos.

Entende-se por motivação a condição do indivíduo que impulsiona a direção


do comportamento. Neste trabalho essa condição é retratada em três campos:
econômico, social e familiar. A partir dessas condições o indivíduo tem motivações,
ou seja, busca uma direção para o seu comportamento, trilhando ou não pelos
caminhos da criminalidade. Nesse sentido, Magalhães (2006) retrata que a conduta
desviante do indivíduo é uma conseqüência da motivação constituída pela
internalização diferenciada de normas e valores. Indivíduos expostos ao mesmo
ambiente social apresentam condutas diferentes, consequentemente motivações
diferentes

A Teoria do Crime é composta por um conjunto de regras e pré-requisitos que


um ato deve ter para ser tido como crime e, desse modo, ser algo punível de acordo
com o Código Penal Angolano.

A teoria é, em resumo, o conjunto de regras e requisitos usados para


determinar se o fato é um crime. Envolve aspectos relacionados ao conceito de crime
e à atribuição de uma pena para a atitude.

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1. MOTIVAÇÃO PARA OS CRIMES E AS SUAS TEORIAS

1.1. MOTIVAÇÃO PARA OS CRIMES

O conceito de crime pode ser abordado de diversas formas, incluindo as


perspectivas formal, material e analítica. Essas três abordagens são frequentemente
utilizadas no estudo do Direito Penal e fornecem diferentes enfoques para
compreender o que é considerado um crime.

O conceito formal de crime está relacionado à ideia de que um ato só pode ser
considerado criminoso se estiver descrito de forma clara e precisa em uma lei penal.
Ou seja, para que uma conduta seja considerada crime, é necessário que exista uma lei
que a defina como tal. Dessa forma, o conceito formal de crime está focado na análise
da norma penal e na sua aplicação prática.

Por sua vez, o conceito material de crime está relacionado à ideia de que um
ato só pode ser considerado criminoso se tiver causado um dano ou prejuízo a algum
bem jurídico protegido pelo ordenamento jurídico. Nesse sentido, o conceito material
de crime está focado na análise dos efeitos que a conduta produziu no mundo real.

Finalmente, o conceito analítico de crime se concentra em três elementos


fundamentais: a conduta, a tipicidade e a ilicitude. De acordo com essa abordagem,
para que uma conduta seja considerada crime, é necessário que ela preencha todos
esses três elementos. A conduta deve ser uma ação ou omissão voluntária do agente,
ela deve ser descrita como crime na lei (tipicidade) e ela não pode ser justificada ou
permitida pelo ordenamento jurídico (ilicitude). Esses três conceitos, formal, material
e analítico, são importantes para o estudo do Direito Penal, pois fornecem diferentes
enfoques para a compreensão do que é considerado um crime e como ele é avaliado
pelo sistema jurídico.

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1.2. TEORIA DO CRIME

A teoria do crime é um conjunto de conceitos e princípios utilizados para


determinar a existência de um crime e responsabilizar seus autores. É uma área
fundamental do direito penal, que busca definir as bases para o julgamento de
indivíduos acusados de delitos. Existem diversas teorias que buscam explicar o
conceito de crime, e cada uma delas possui suas particularidades. No entanto, algumas
ideias básicas são comuns a todas elas. Uma dessas ideias é a de que o crime é um
fato socialmente danoso, ou seja, que causa prejuízo à sociedade como um todo. Outra
ideia central da teoria do crime é a de que a responsabilidade pelo delito deve ser
atribuída somente ao autor do fato, e não a outras pessoas ou circunstâncias. Isso
significa que, para que um indivíduo seja condenado por um crime, é necessário que
ele tenha agido voluntariamente e conscientemente, com a intenção de cometer o
delito.

2. PRINCIPAIS ELEMENTOS DA TEORIA DO CRIME

2.1. Tipicidade

Fato típico é um termo utilizado no direito para descrever uma conduta


humana que é considerada crime ou contravenção penal. Ele é definido como a
descrição de uma ação ou omissão que, de acordo com a lei, é proibida e sancionada
com pena privativa de liberdade, multa ou outra sanção prevista na legislação.

Os fatos típicos são descritos na legislação penal e são usados pelos tribunais
para determinar se uma pessoa cometeu um crime ou não. Porque como Eles são
divididos em elementos objetivos e subjetivos.

Os elementos objetivos são aqueles que descrevem a ação ou omissão em si,


como, por exemplo, "matar alguém". Existe uma subdivisão em descritivos e
normativos. O tipo objetivo descritivo é a descrição abstrata e genérica da conduta
criminosa prevista em lei, ou seja, é a definição legal do comportamento que é
considerado criminoso. Ele é formado por um conjunto de elementos que descrevem a

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conduta proibida pela lei, como ação ou omissão, resultado, objeto material,
elementos subjetivos, entre outros.

2.2. Ilicitude

Antijuridicidade (ilicitude) é um elemento constitutivo do crime que se refere


à contrariedade da conduta do agente com o ordenamento jurídico. Em outras
palavras, uma conduta é considerada antijurídica quando viola uma norma jurídica,
seja ela uma lei, uma norma constitucional ou uma norma infraconstitucional.

Para que haja crime, é necessário que a conduta do agente seja antijurídica, ou
seja, que seja contrária ao ordenamento jurídico. A antijuridicidade pode ser afastada
em algumas situações, como quando a conduta é praticada em legítima defesa, em
estado de necessidade, em cumprimento de um dever legal ou em exercício regular de
um direito.

2.3. Culpabilidade

Culpabilidade se refere à capacidade de imputação de uma conduta criminosa


a um agente. Ou seja, é a análise da possibilidade de responsabilizar alguém por uma
ação criminosa.

A culpabilidade está presente em todas as infrações penais e é analisada em


conjunto com os outros elementos do crime, como a conduta e a tipicidade. Ela está
relacionada à capacidade de entender a ilicitude do ato e de agir de acordo com esse
entendimento. Assim, só pode ser culpado aquele que tiver a capacidade de entender a
ilicitude do seu comportamento e de agir de forma contrária a ela.

A culpabilidade, portanto, não é uma característica da conduta em si, mas sim


do agente que a prática. É uma análise subjetiva que considera as condições
psicológicas, intelectuais e morais do agente. Dessa forma, a culpabilidade é um
elemento importante para a aplicação da pena, pois é a partir dela que se estabelece a
medida da sanção a ser aplicada.

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3. FATORES ECONÔMICOS E SOCIAIS INFLUENCIADORES DA
CRIMINALIDADE.

A busca da explicação da realidade a partir de uma visão totalizante do mundo


está na essência da filosofia desde a Grécia antiga. Segundo Engel (2003) encontram-
se vestígios de preocupação e reflexão a cerca do fenômeno criminalidade em
pensadores como Platão (“As Leis”), segundo o qual as causas dos crimes derivam da
paixão, da loucura, da procura do “prazer” e da ignorância. Já para Aristóteles
(“Tratado da Política”) a causa do crime tinha origem na miséria e o criminoso como
inimigo da sociedade deveria ser castigado (“Ética e Nicómaco”).

Na Idade Média nasce uma nova visão de mundo, ou seja, o paradigma


Teocêntrico (Ptolomeu 78-161 d.C. – Geocentrismo), do saber medir se caminha para
conciliar razão e fé, a qual somente com as idéia iluministas no século XVIII foi
contestada e substituída pelo sistema heliocêntrico.

São Tómas de Aquino, revisando os textos de Aristóteles, concorda com o


pensamento aristotélico no que trata da questão das causas da criminalidade, como
pobreza e miséria. Já Para Thomas Morus (“Utopia”) as causas da criminalidade
deparam-se na questões sociais.

O período renascentista, a partir do século XIII, traz consigo uma nova forma
de interpretar o mundo cujo caráter é determinista, pois busca ordem, medida e
instrumentos para demarcar o que é cientifico, propondo a neutralidade científica, a
fragmentação do saber especializado. Destacam-se os trabalhos de Galileu (1564-
1642), com o conhecimento da lei geral, no qual sentido e razão são indispensáveis
para a ciência (método hipotético-indutivodedutivo), Bacon (1561-1626), com o
método indutivo experimental, Descartes (1596-1650), método racional dedutivo e
Kant (1724-1804), com a análise do empirismo e racionalismo, segundo a qual o
conhecimento se dá pela experiência e síntese.

Outro pensador a ser destacado e Max Weber (1864-1920), o qual defende o


método compreensivo, que consiste em entender o sentido que as ações de um
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indivíduo contêm e não o aspecto exterior dessas mesmas ações. Segundo Weber, a
captação desses sentidos não pode ser realizada unicamente por meio das ações
metodológicas das ciências naturais, devendo ser considerado também os
procedimentos das ciências humanas.

A ciência também trabalha com o aleatório, o incerto, o indeterminado e o


complexo. Karl Popper (1902-1994), com o método denominado de racionalismo
crítico, argumenta que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. De
acordo com Carvalho (1991), para Popper a verdade é inalcançável, mas deve nos
aproximar dela por tentativas. Assim, o paradigma que se propõe hoje é o da
complexidade, pois diferente do holísmo a complexidade passa a considerar que o
todo está na parte e a parte está no todo. Nesse sentido, o conhecimento
interdisciplinar pode ser a base para a solução dos problemas complexos. Essa visão
interdisciplinar, holística, aliada a Teoria dos Sistemas Complexos tem muito a
contribuir na busca das soluções de diversos problemas, entre eles a criminalidade.
Porém, apesar da existência de teorias dessa natureza tratando da criminalidade, não
haverá uma maior aplicação das mesmas no modelo escolhido a ser trabalhado.

Para Cressey (1968) o comportamento criminoso deveria levar em conta a


compreensão das motivações e do comportamento individual e a epidemiologia
associada a tais comportamentos. Ehrlich (1996), onde cita a obra de Adam Smith,
afirma que na visão deste o crime e a demanda por proteção também são decorrentes
da acumulação de propriedade. Dessa forma, o acúmulo, a má distribuição, a
concentração de propriedade estimulam a criminalidade.

Beato Filho et al. (1998) entende que as causas da criminalidade são


provenientes de fatores de natureza econômica (privação de oportunidades,
desigualdade social, etc.) ou são simplesmente atos criminosos consistentes em uma
agressão ao consenso moral e normativo da sociedade, sem qualquer finalidade
econômica.

Cano e Soares (2002) dividem as abordagens da criminalidade em cinco


grupos: teorias centradas no homo economicus; crime como subproduto de um
sistema social deficiente; crime explicado por patologias individuais; crime como uma
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conseqüência da perda do autocontrole e da desorganização da sociedade moderna; e
teorias que explicam o crime em função de fatores situacionais. Esses cinco grupos
ampliam o entendimento das causas da criminalidade e orientam o estudo
desenvolvido na tese.

o estudo sobre as causas da criminalidade tem se desenvolvido em duas


direções. A primeira aborda o aspecto das motivações individuais e os procedimentos
que levariam as pessoas a se tornarem criminosas. A segunda estuda as relações entre
as taxa de crime em função das variações nas culturas e nas organizações sociais. Os
autores apresentam nove teorias sobre as causas da violência e da criminalidade, que
abrangem a teoria lombrosiana e as teorias que entendem a criminalidade como uma
conseqüência da condição social e/ou econômica do indivíduo.

Neste trabalho as teorias sobre as causas da criminalidade são classificadas em


quatro grupos: teorias de caráter biológico; teorias de caráter familiar; teorias de
interação social e; teorias de caráter socioeconômico. As principais teorias de
fundamentação para análise dos dados empíricos e que compõem esses quatro grupos,
são: teorias de autocontrole, teoria interacional, teoria do controle social, teoria do
aprendizado social, teoria da desorganização social, teoria da anomia, teoria do estilo
de vida e a teoria econômica da escolha racional.

A seguir esses quatro grupos são analisados, assim como as principais teorias
que neles se enquadram, buscando-se encontrar fundamentação teórica da motivação
da criminalidade para cada categoria de crime estudada.

4. TEORIAS DE CAUSALIDADE DA CRIMINALIDADE

Entende-se por motivação (do Latim moveres) a condição do indivíduo que


impulsiona a direção do comportamento. Neste trabalho procura-se verificar essa
motivação ligada as condições econômicas, de interação social e de herança familiar
do delituoso. Assim, como forma de enquadrar diversos estudos realizados sobre a
temática da criminalidade, divide-se as teorias de causalidade do crime em quatro
grandes grupos de teorias: a) grupo de teorias de caráter biológico, que tentam
explicar o crime com base nas características físicas e biológicas do indivíduo; b)
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grupo de teorias de caráter familiar que levam em consideração os aspectos de
herança familiar como contribuição para a formação do indivíduo; c) grupo de teorias
de interação social que tentam explicar a criminalidade como conseqüência do meio
social que o indivíduo convive e; d) grupo de teorias de caráter socioeconômico que
consideram, principalmente, a questão financeira do indivíduo como parâmetro para a
criminalidade. Esses quatro grupos e as teorias componentes são abordados a seguir.

4.1. Grupo das teorias de caráter biológico.

Nesse grupo são destacadas as teorias focadas nas patologias individuais.


Nesta abordagem, as causas do crime estariam relacionadas a questões biológicas, ou
seja, determinadas características físicas, condenando os indivíduos a serem
portadores da doença criminalidade. Os autores têm como base os estudos de
Lombroso (1893 - 1910), nos quais patologias individuais como formação óssea do
crânio, formato das orelhas, entre outras características físicas, são considerados
identificadores da patologia criminosa. Tal visão, pelo evidente cunho racista, foi
abandonada após a Segunda Guerra Mundial, porém inspirou trabalhos no campo da
psiquiatria, nos quais Healy (1915), Glueck (1918), Hakeem (1958), Cressey (1968) e
Daly e Margo (1983, 1988 e 1999), acrescentaram hipóteses à idéia lombrosiana
relacionando essa teoria a características psicológicas do indivíduo, a sua vida
pregressa e a relações pessoais. No Brasil, o professor e antropólogo evolucionista
social Nina Rodrigues estudou as cabeças dos cangaceiros procurando identificar-lhes
características físicas que explicassem o comportamento criminoso. Além do mais,
relatou que negros, devido ao seu atraso cultural, tinham a tendência biológica para o
crime (RODRIGUES, 1939). Os mulatos também apresentariam características físicas
que os predispunham ao crime. Freire (2001), ao enaltecer as miscigenações, atacou
estes preconceitos racistas. Essas teorias caíram em desuso pela falta de consistência e
não são consideradas na tese.

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4.2. Grupo de teorias de caráter de herança familiar.

Nesse grupo destacam-se as teorias do autocontrole e interacional.

Teoria do autocontrole. Desenvolvida por Gottfredson e Hirschi (1990),


enfatiza que a diferença existente entre indivíduos que possuem comportamentos
desviantes ou desenvolvem vícios (jogos de azar, promiscuidade sexual, fumo,
drogas, alcoolismo etc.) e os outros indivíduos decorre de deformações no processo de
socialização da criança, causadas pela ineficácia da conduta educacional ministrada
pelos pais na fase entre dois e três anos até a fase pré-adolescente. Assim, a má
formação de mecanismos de autocontrole tende a criar no indivíduo um
comportamento egoísta, levando-o a agir exclusivamente em função dos seus próprios
interesses no curto prazo, sem considerar o impacto de suas ações no longo prazo. Os
trabalhos de Arnekley et al. ( 1993), Polakowski (1994) e Gibbs et al. (1998) são os
que se destacaram nesse campo. Donohue e Levitt (2001) estudaram as causas da
criminalidade nos Estados Unidos, fazendo comparações entre cidades onde o aborto
foi legalizado, no início da década de 70, e cidades em que a legalização se deu
posteriormente. Os autores observaram que nos anos 90 houve uma significante
redução da taxa de criminalidade concernente aos crimes de propriedade e crimes
violentos nas cidades onde o aborto foi permitido antes de 1973. Segundo os autores,
esse impacto da legalização do aborto sobre o crime estaria relacionado
principalmente à ocorrência da gravidez não intencional de adolescentes, mulheres
solteiras e mulheres pobres. Filhos indesejados tendem a ter uma criação diferenciada,
principalmente com relação à afetividade e à educação no lar. A deficiente situação
econômica familiar e/ou a herança familiar passam a ter influência direta no
comportamento “desviante” desses indivíduos. Uma variável que se destacou, nesta
teoria, é a estabilidade da união dos pais.

Teoria interacional. Inspirada nas Teorias de Associação Diferencial e do


Controle Social. A delinqüência é entendida como causa e conseqüência de uma
variedade de relações recíprocas desenvolvidas ao longo do tempo. Segundo Entorf e
Spengler (2002), dois elementos consubstanciam essa teoria: a) a perspectiva
evolucionária, segundo a qual a atividade criminosa não seria uma constante na vida
do indivíduo, todavia seria um processo que se inicia por volta dos 12 ou 13 anos,
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aumenta o seu envolvimento em tais atividades aos 16 ou 17 anos, terminando esse
processo até os 30 anos; b) os efeitos recíprocos, que esclareceriam as virtuais
relações de endogeneidade das variáveis explicativa e dependente, ou seja, a variável
explicativa sendo elucidada ao mesmo tempo pela variável dependente.

4.3. Grupo de teorias de interação social.

Fazem parte desse grupo as teorias do controle social, aprendizado social e


desorganização social.

Teoria do controle social. Procura estudar o porquê de as pessoas absterem-se


de cometer crime. A idéia principal reside no sentido de ligação do indivíduo com a
sociedade. Assim, quanto maior for o envolvimento do cidadão com a sociedade e
quanto mais ele concordar com os valores e normas vigentes, menor será a chance de
tornar-se um criminoso. Os principais trabalhos empíricos nessa área foram feitos
partindo-se de pesquisas domiciliares, com o objetivo de explicar a delinqüência
juvenil. Destacam-se os trabalhos de Agnew (1991), Agnew e White (1992), Junger-
Tas (1992), Agnew (1993), Paternoster e Mazerolle (1994) e Horney et al. (1995). As
principais conclusões desses estudos atestam para o fato de que quanto maior as
ligações e afeições familiares e compromissos escolares do indivíduo, menor a chance
de tornar-se criminoso.

Teoria do aprendizado social ou teoria de associação diferencial.


Desenvolvida por Sutherland (1942), busca explicar o processo pelo qual jovens
moldam seus comportamentos a partir de interações e experiências pessoais com
relação às situações de conflito, tendo como base o processo de comunicação. Nesse
sentido, família, grupos de amizade e comunidade seriam elementos essenciais. Entre
os trabalhos empíricos desenvolvidos nessa área destaca-se Matsueda (1982), que
trabalhou com 1.140 entrevistas individuais com jovens para testar essa teoria,
Bruinsma (1992) e McCarthy (1996) que encontraram evidências favoráveis de que o
contato com criminosos e o aprendizado de métodos e técnicas criminosos motivam e
legitimam tal comportamento e Currie e Tekin (2006), e que trabalham com a relação
entre mau-trato e crime. Em resuma, nesta teoria observa-se as ações do indivíduo
como decorrentes de experiências negativas.
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Teoria da desorganização social. Abordagem sistêmica, cujo enfoque gira
em torno de comunidades locais, isto é, de relações sociais que contribuem para o
processo de socialização e aculturação do indivíduo, como relações de amizade e
parentesco, condicionadas por fatores estruturais, a exemplo do status econômico.
Nesse sentido, Sampson e Groves (1989), utilizando modelo de mínimos quadrados,
desenvolveram o primeiro estudo empírico nessa área pesquisando a relação entre
crimes (assalto e roubos de rua, violência perpetrada por estranhos, arrombamentos e
roubo autoimputado e vandalismo) e variáveis de interação social e herança familiar.
Observaram heterogeneidade social, estabilidade social, desagregação familiar,
urbanização, redes de amizade local, grupos de adolescentes sem supervisão e
participação organizacional, como variáveis explicativas da criminalidade. A base de
dados foi gerada a partir de pesquisa em 10.905 residências na Grã-Bretanha. As
variáveis “desagregação familiar” e “grupos de adolescentes” sem supervisão
apresentaram sinais positivos e estatisticamente significantes. Já a variável
participação organizacional apresentou sinal negativo. Conforme Sampson (1997), a
organização e a desorganização sociais constituem laços inextricáveis de redes
sistêmicas para facilitar ou inibir o controle das relações sociais. Nesse sentido a
criminalidade emergiria como conseqüência de falhas na organização dessas relações
sociais em nível comunitário e das vizinhanças, a exemplo de redes de amizades
esparsas ou baixa participação social (ENTORF; SPENGLER, 2002). Miethe et al.
(1991), utilizando registros policiais de 584 cidades americanas relativos aos anos de
1960, 1970 e 1980, trabalharam com dados de painel a fim de testar variáveis
explicativas para homicídios, roubos e arrombamentos. Como variáveis significantes
destacaram a taxa de desemprego, a heterogeneidade étnica e a mobilidade
residencial, o controle institucional e a existência de mais de um morador por
cômodo. A heterogeneidade étnica e o tamanho doméstico, com sinais positivo,
foram as variáveis que mais explicaram as mudanças das taxas de homicídios e
roubos.

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4.4. Teorias de caráter econômico.

Esse grupo enfoca três teorias: anomia, estilo de vida e teoria econômica da
escolha racional.

Anomia. Desenvolvida por Merton (1938), propõe que a motivação para a


delinqüência decorre da impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por
ele. Na operacionalização dessa teoria surgiram três perspectivas distintas: a)
expectativa de realização: o processo de anomia decorreria da diferença entre as
aspirações individuais e as reais expectativas dos indivíduos; b) oportunidades
bloqueadas: desenvolvida por Agnew (1985) e Burton e Cullen (1992): o foco de
divergências das normas instituídas passa a existir a partir do momento em que o
indivíduo percebe que o insucesso decorre de condições externas a sua vontade; e c)
privação coletiva (BURTON et al., 1994): enfatiza a distância entre o ideal de sucesso
da sociedade e a situação específica em que o indivíduo se encontra. Como trabalhos
nesse campo cita-se os de Reiss e Rhodes (1963), Elliot e Voss (1974), Greenberg
(1977), Blau e Blau (1982), Agnew (1984), Burton et al. (1994) e Agnew (1992) que
buscaram mostrar evidências empíricas favoráveis a relação entre a anomia e
criminalidade.

Teoria do estilo de vida. Nessa teoria trabalha-se com a existência de três


elementos: vítima em potencial, agressor em potencial e tecnologia de proteção, esta
ditada pelo estilo de vida da vítima em potencial. Leva-se em consideração o nível de
proteção da possível vítima e os custos do delinqüente para o crime ser cometido. A
possível vítima, ao recorrer a mais alta tecnologia de segurança, inibe o agressor
devido ao alto custo necessário para perpetrar o crime. Assim, o indivíduo criminoso
tem um comportamento maximizador e racional ao escolher suas vítimas segundo a
oportunidade e os baixos custos de operacionalizar o crime. Trabalhos como de
Messner e Blau (1987), Miethe et al. (1987), Miethe et al. (1991), Roncek e Maier
(1991) e Tremblay e Tremblay (1998), mostraram a relação empírica entre estilo de
vida da vítima e criminalidade.

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Teoria econômica da escolha racional. Tem como referência o trabalho
desenvolvido por Becker (1968), aplicado à questão da criminalidade. Estabelece um
modelo formal no qual o ato criminoso resulta de uma avaliação racional em torno
dos benefícios e dos custos esperados pelos envolvidos. A decisão de cometer crime
ou não decorreria de um processo de maximização de utilidade esperada. O indivíduo
compara os potenciais ganhos resultantes da ação criminosa, o valor da punição e as
probabilidades de detenção e aprisionamento com o custo de oportunidade de cometer
o crime, representado pelo salário alternativo no mercado de trabalho legal que esse
indivíduo poderia obter.

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CONCLUSÃO

Tendo em conta com as investigações feitas, conclui-se que os motivos do


crime são razões subjetivas que estimularam ou impulsionaram o agente à prática da
infração penal. Os motivos podem ser conforme ou em contraste com as exigências de
uma sociedade. Não há dúvidas de que, de acordo com a motivação que levou o
agente a delinquir, sua conduta poderá ser bem mais ou bem menos reprovável. O
motivo constitui a origem propulsora da vontade criminosa.

A teoria do crime é uma das principais áreas do Direito Penal, responsável por
estudar os elementos que compõem a figura típica do crime. Essa teoria é fundamental
para a aplicação da lei penal, pois permite identificar quando uma conduta é
considerada criminosa e, consequentemente, aplicar a sanção prevista na lei.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
14
 COSTA, Álvaro Mayrink da. Exame criminológico. 2. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Forense, 1989.

 CROCE, Delton e CROCE JÚNIOR, Delton. Manual de medicina legal. 2. ed.


atual. São Paulo: Saraiva, 1995.

 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34. ed. atual. v.1. São Paulo: Saraiva,
1999

 AGNEW, R. Goal achievement and delinquency. Sociology and Social


Research, [S. l.],
v.68, 1984.

______. Testing structural strain theories. Journal Research Crime and
Delinquency, [S.l.],
v.23, 1985

15

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