QUINTILIANO Instituição Oratória Livro III
QUINTILIANO Instituição Oratória Livro III
QUINTILIANO Instituição Oratória Livro III
ISBN 978-85-268-1234-5
O COLEGÃO
FAUSTO CASTILHO TOMO 1 Fundo
MULTILÍNGUES DE
9 788 526 81 2345 FILOSOFIA UNICAMP
www.editora.unicamp.br
E t) I T O R A
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA
INSTITUTIO ORATORIA
LIVRO 111
LIBER 111
LIBER 111 LIVRO 111
I. QUONIAM in libro secundo quaesitum est, quid esset rhetorice et quis finis eius, artem quoque esse eam et utilem et virtutem, ut vires nostrae
tulerunt, ostendimus, materiamque ei res omnes, de quibus dicere oporteret, subiecimus : iam hinc, unde coepe-I. 1. Com as investigações do segundo
livro, mostramos o que é a retórica, rit, quibus constet, quo quaeque in ea modo inveni-qual é seu objetivo e também que se trata de uma arte que tem
utilidade e enda atque tractanda sint, exsequar; intra quemrequer uma virtude; submetemos-lhe todos os assuntos como matéria, sobre modum
plerique scriptores artium constiterunt, os quais for preciso se pronunciar: a partir daqui, exporei suas origens, seus
elementos constituintes e de que modo devem eles ser investigados e
desenadeo ut Apollodorus contentus solis iudicialibus volvidos; a maioria dos autores de tratados sobre as artes não se aprofundou 2 fuerit. Nec sum iffnarus, hoc a
me praecipue, quod nesse aspecto, a ponto de Apolodoro se declarar satisfeito apenas com os ashic liber inchoat, opus studiosos eius desiderasse, ut suntos judiciais.
inquisitione opinionum, quae diversissimae fuerunt, 2. Não ignoro que os estudiosos estavam esperando, especialmente de longe difficillimum, ita nescio an minimae
legentibus mim, este trabalho, ao qual este livro dá início, porque se apresenta extremafuturum voluptati, quippe quod prope nudam prae- mente difícil pela pesquisa das
opiniões, que foram muito divergentes; desse 3 ceptorum traditionem desideret. In ceteris enim modo, não sei se proporcionarei aos leitores um mínimo de prazer,
sobretudo admiscere tcmptavimus aliquid nitoris, non iactandi porque este trabalho exige uma exposição crua e nua das regras.
ingenii gratia (namque in id eligi materia poterat3. Em outros tópicos procuramos de fato acrescentar algum brilho, não uberior), sed ut hoc ipso
adliceremus magis iuventu-a fim de demonstrar capacidade (e em verdade para isso se poderia escolher tem ad cognitionem eorum, quae necessaria
studiismatéria mais fértil), mas para que com isso atraíssemos mais a juventude para o conhecimento daqueles assuntos que julgávamos necessários para os
estudos arbitrabamur, si ducti iucunditate aliqua lectionis
da retórica; assim, caso fossem levados por algum atrativo da lição,
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libentius discerent ea, quorum ne ieiuna atque arida aprenderiam com mais satisfação aquilo de que o ensino insípido e árido traditio averteret animos et aures
praesertim tam lhes afastaria os espíritos e, sobretudo, temíamos que ferisse os ouvidos ainda 4 delicatas raderet verebamur. Qua ratione se Lucre- tão delicados.
tius dicit praecepta philosophiae carmine esse com- 4. Por esse mesmo motivo, Lucrécio l declara que havia decidido apreplexum; namque hac, ut est notum,
similitudinesentar as regras da filosofia em versos; e de fato pois usa a seguinte compautitur :ração, bem conhecida: 'E como os médicos, quando tentam dar
às crianças o repugnante absinto, esfregam primeiramente as bordas ao redor do copo com
Ac veluti dare pueris conantur, absinthia prius taetra oras pocula medentescircumdoce e dourado líquido do mel' — e nos
seguintes. Cum
Aspirant 1 mellis dulci flavoque liquore,5. Todavia, receamos que este livro pareça conter pouco de mel e muito de absinto: que seja mais proveitoso para os
estudos que mais doce. Temo 5 et quae sequuntur. Sed nos veremur, habere ne parurn videatur,hicainda que não advenha menor atrativo do fato de que haverá de
trazer muitas liber mellis et absinthii multum regras não minhas, mas determinadas por outros, suscitará também alguns sitque salubrior studiis quam
dulcior. Quin ineat, etiamquodque pensam o contrário e se oponham, porque muitos autores, embora visem hoc timeo, ne ex eo minorem gratiam e cada um conduz
me sed ab aliis tradita ao mesmo objetivo, traçaram porém caminhos diferentes pleraque non inventa per
continebit, habeat etiam quosdam, qui contra sentiantseus seguidores pelo seu próprio.
et adversentur, propterea quod plurimi auctores,6. Mas eles não se comprazem com qualquer rumo que tiverem tomado, quamvis eodem tenderent,
diversas tamen viasnem conseguirás mudar facilmente as convicções inculcadas desde a infância, muniverunt atque in suam quisque induxit sequentes.
uma vez que ninguém prefere não ter aprendido que estar aprendendo.
6 Illi autem probant qualecunque ingressi sunt iter,7. Contudo, como ficará evidente no desenvolvimento deste livro, nec facile inculcatas pueris
persuasiones mutaveris,existe uma divergência imensa entre os autores, primeiramente em relação ao quia nemo non didicisse mavult quam discere.
Est fato de que os escritores acrescentam àquilo que até então era elementar e autem, ut procedente libro patebit, infinita dissensioimperfeito, o
que teriam descoberto; auctorum, primo ad ea, quae rudia atque imperfecta adhuc erant, adiicientibus quod invenissent scripto-
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ribus, mox, ut aliquid sui viderentur adferre, etiam
e logo, para parecer que propõem algo original seu, até adulteram pontos
recta mutantibus.
corretos.
8 Nam primus post eos, quos poetae tradiderunt, movisse
8. Afirma-se que Empédocles2 foi o primeiro, depois dos que nos
aliqua circa rhetoricen Empedocles dicitur, Artium autem
foram legados pelos poetas, a modificar alguns pontos em relação à
scriptores antiquissimi Corax et Tisias Siculi, quos insecutus
est vir eiusdem insulae Gorgias 9 Leontinus, Empedoclis, ut retórica. Todavia, há os sículos Córax e Tísias 3, antiquíssimos escritores
traditur, discipulus. beneficio longissimae aetatis (nam das artes, que tiveram como seguidor Górgias Leontino, homem da mesma
centum et novem vixit annos) cum multis simul floruit, ilha; esse foi, conforme se propala, discípulo de Empédocles.
ideoque et illorum, de quibus supra dixi, fuit aemulus et ultra 9. Esse, favorecido pela longevidade (de fato, viveu cento e nove
IO Socraten usque duravit. Thrasymachus Chalcedonius cum anos), conviveu com outros retores e por isso foi rival daqueles a quem me
hoc et Prodicus Cius et Abderites Protagoras, a quo decem referi acima; e viveu mais que Sócrates.
milibus denariorum didicisse artem, quam edidit, Euathlus 10. Na mesma época brilharam Trasímac04 de Calcedônia,
dicitur, et Hippias Eleus et, quem Palameden Plato appellat, Pródic0 5 de Cios e Protágoras6 de Abdera, de quem aprendeu a arte da
Alcidamas II Elaites. Antiphon quoque et orationem primus oratória; segundo a tradição, o retor Evat10 7 pagou dez mil denários e
omnium scripsit et nihilo minus et artem ipse com posuit et depois a publicou em livro; e Hípias8, o Elaíde, e Alcidamas9, a quem
pro se dixisse optime est creditus, etiam Polycrates, a quo Platão chamava Palamedes.
scriptam in Socraten diximus ora. tionem, et Theodorus 11. Da mesma época é Antifonte 10, o primeiro de todos a
Byzantius ex iis et ipse, quos 12 Plato appellat escrever discurso para outrem e compôs nada menos que um tratado de
ÀoyoÔatÔdÀovs. Horum primi communes locos tractasse retórica e magnificamente se defendeu a si mesmo em processo; e ainda
dicuntur Protagoras, Gorgias, adfectus Prodicus et Hippias et Polícrates ll , de quem
idem Protagoras et Thrasymachus. Cicero in Bruto negat ante dissemos ter escrito um discurso contra SÓcrates, e Teodor0 12 de
Periclea scriptum quidquam, quod ornatum oratorium habeat ; Bizâncio, que está incluído entre os que Platão denomina Royoô(ilôúiooç
eius aliqua ferri. Equidem non reperio quidquam ['logodaidálus'], isto é, 'hábeis artistas da palavra'.
12. Considera-se que Protágoras e Górgias foram os primeiros
dentre esses a tratar dos temas básicos e que Pródico, Hípias e também
Protágoras e Trasímaco os primeiros a tratar dos temas emocionais. Em
Brutus, Cícero nega haver antes de Péricles qualquer escrito que tenha
beleza oratória; e afirma ainda existirem alguns de seus discursos. Em
verdade, não encontro neles algo
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tanta eloquentiae fama dignum ; ideoque minus digno quem de pense tão não grande ter fama ele escrito de eloquência; nada e as assim, obras surpreende-me a
ele atribuídas menos terem haversido miror esse, qui nihil ab eo scriptum putent, haecexaradas por outros.
13 autem, quae feruntur, ab aliis esse composita. His13. Esses tiveram muitos sucessores; todavia, o mais famoso dos ouvinsuccessere multi, sed clarissimus
Gorgiae auditorumtes de Górgias foi Isócrates, embora não haja consenso entre os autores sobre Isocrates, quanquam de praeceptore eius inter auc-o mestre
dele; nós, porém, cremos ter sido Aristóteles. Daí para frente, os tores non convenit ; nos autem Aristoteli credimus.caminhos começaram a se dividir.
14 Hinc velut diversae secari coeperunt viae. Nam et14. Os discípulos de Isócrates foram sumamente destacados em todos Isocratis praestantissimi discipuli
fuerunt in omnios gêneros de estudos; e sendo ele já de idade avançada (pois chegou a com pletar o nonagésimo oitavo ano), Aristóteles começou a ensinar a
arte oratóstudiorum cenere, eoque iam seniore (octavum enimria em suas aulas da tarde; segundo se afirma, usou com frequência aquele et nonagesimum
implevit annum) postmeridianisconhecido verso de Philocteta 13: 'Vergonhoso é calar e deixar Isócrates falar'. scholis Aristoteles praecipere artem
oratoriam c.oepit,Ambos escreveram tratados de arte oratória, mas o de Aristóteles contém mais noto quidem illo (ut traditur) versu ex Philocteta fre-livros.
Dessa época é Teodectes 14, de cuja obra falamos acima.
quenter usus : Turpe esse tacere et [socraten pati dicere,15. Teofrasto, também discípulo de Aristóteles, escreveu cuidadoso traArs est utriusque, sed pluribus
eam libris Aristotelestado sobre a retórica; desde então, os filósofos trataram do assunto de modo complexus est. Eodem tempore Theodectes fuit, demais
aprofundado que os retores, especialmente os chefes dos estoicos e dos peripatéticos.
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15 cuius opere supra dictum est. Theophrastus quoque16. Em seguida, Hermágoras abriu um caminho como que próprio, que Aristotelis discipulus
de rhetorice diligenter scripsit,muitos seguiram; quem mais se aproximou dele, também como competidor, atque hinc vel studiosius
philosophi quam rhetores praecipueque Stoicorum ac Peripateticorum principes.
16 Fecit deinde velut propriam Hermagoras viam, quam plurimi sunt secuti ; cui maxime par atque aemulus
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parece ter sido Ateneu . Posteriormente, Apolônio Molon , Areu ,
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Cecíli0 videtur Athenaeus fuisse. Multa post Apollonius e Dionísio de Alicarnass0 muito escreveram sobre a retórica.
Molon, multa Areus, multa Caecilius et Halicarnas- 17. Todavia, tornaram-se centros de influência de estudos, sobretudo, 17 seus Dionysius. Praecipue
tamen in se converterunt studia Apollodorus Pergamenus, qui praeceptor Apol- Pérgam021 , que em Apolônia foi preceptor de César Augusto, Apolodoro de
Ioniae Caesaris Augusti fuit, et Theodorus Gadareus,e Teodoro Gadareu, que preferiu ser chamado Ródio, e a quem Tibério César, qui se dici maluit Rhodium,
quem studiose audisse,segundo se afirma, ouviu com atenção enquanto ficou naquela ilha.
cum in eam insulam secessisset, dicitur Tiberius18. Esses retores legaram doutrinas diversas, sendo por isso denominados 18 Caesar. Hi diversas opiniones
tradiderunt, appella-apolodoreus e teodoreus, segundo o costume de seguir determinadas correntique inde Apollodorei ac Theodorei ad morem certastes 22 na
filosofia. Contudo, conhecerás melhor a doutrina de Apolodoro in philosophia sectas sequendi. Sed Apollodoriatravés de seus discípulos, dos quais o
mais aplicado foi Gaio Válgi023 , que o praecepta magis ex discipulis cognoscas, quorumtraduziu para o latim, e Ático, que o comentou em grego. Quanto
ao próprio diligentissimus in tradendo fuit Latine Gaius Valgius,Apolodoro, parece ter escrito apenas aArs dedicada a Máci0 24, porque a carGraece Atticus. Nam
ipsius sola videtur Ars editata enviada a Domíci0 25 não menciona outras obras. Teodoro escreveu muitas ad Matium, quia ceteras missa ad Domitium epis-e
ainda vivem alguns que o viram como ouvinte de Hermágoras.
tula non agnoscit. Plura scripsit Theodorus, cuius19. Marcos Catã0 26, o célebre censor, foi o primeiro romano (pelo menos auditorem Hermacroran sunt qui
viderint.que seja de meu conhecimento) a estabelecer algo nesta matéria; depois, 19 Romanorum primus (quantum ego quidem sciam)Marco Antôni0 27 deu uns
passos iniciais; realmente, só restou essa obra e condidit aliqua in hanc materiam M. Cato ille cen- ainda assim incompleta. Seguiram-se outros menos
famosos, cuja memória sorius, post M. Antonius inchoavit ; nam hoc solumnão omitirei, caso o assunto o exija em alguma passagem.
opus eius atque id ipsum imperfectum manet.20. Todavia, o brilho mais intenso, tanto da eloquência como de suas Secuti minus celebres; quorum memoriam,
si quonos deu Marcos Túlio, único modelo de orador e do ensino das artes
regras,
20 loco res poscet, non omittam. Praecipuum verooratórias; depois dele, a atitude mais adequada seria o silêncio, lumen sicut eloquentiae ita praeceptis
quoque eius dedit, unicum apud nos specimen orandi docendique oratorias artes, M. Tullius ; post quem tacere mode-
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stissimum foret, nisi et rhetoricos suos ipse adole-nâo tivesse ele mesmo dito que sua Retdrica havia escapado de sua adolescênscenti sibi elapsos diceret, et in
oratoriis haeccia e que, no tratado sobre a orat6ria, havia omitido deliberadamente aqueles minora, quae plerumque desiderantur, sciens omi-temas 21.
menores, Sobre o que mesmo sâo geralmente assunto Corniffci0esperados.28 escreveu nâo poucas coisas;
21 sisset. Scripsit de eadem materia non pauca Cor- 29, umas tantas; o patrfcio Galiâ030, quase nada. Mas Cels031 e Lenas32,
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Estertini0
nificius, aliqua Stertinius, nonnihil pater Gallio ;33, Plini034 e Tutfli035, de nosso tempo,
Gallione Celsus et Laenas etpredecessores trataram do de Galiâo, cuidadosamente. e Vergini0 Existem hoje ilustres
accuratius vero priores ainda autores
assunto mais aetatis nostrae Verginius, Plinius, Tutilius. Sunt etdesse assunto; caso tivessem eles abordado todos os aspectos, eximir-me-iam
hodie clari eiusdem operis auctores, qui si omniadeste trabalho; poupo, porém, os nomes dos vivos; a seu tempo acontecer',î o complexi forent, consuluissent labori meo ;
sed parcoreconhecimento do trabalho deles. nominibus viventium; veniet eorum laudi suumde tantos c tâo grandes autores, nâo me acanharei 22. Entretanto, depois
tempus, ad posteros enim virtus durabit, non per-de ter colocado minha posiçâo em alguns t6picos. Pois nâo me pronunciei veniet invidia.levado por demasiado respeito a
alguma escola; e foi dada quantidade sufi22 Non tamen post tot ac tantos auctores pigebitciente de dados aos que quiserem escolher, do mesmo modo que eu mesmo
meam quibusdam locis posuisse sententiam. Nequeretino em um todo as contribuiçôes de muitos, e onde quer que nâo haja enim me cuiusquam sectae velut quadam
supersti-originalidade, eu me satisfaça por ter merecido o reconhecimento do esforço. tione imbutus addixi, et electuris quae volent facienda copia fuit, sicut ipse plurium
in unum conferoII. 1. E nâo nos prenda por muito tempo a questâo de qual teria sido a inventa, ubicunque ingenio non erit locus, curaeorigem da ret6rica. Pois alguém
duvida que os homens receberam, assim que testimonium meruisse contentus.nasceram, da pr6pria natureza das coisas, o dom da fala (porque af est{ sem
II. Nec diu nos moretur quaestio, quae rhetoricesdüvida alguma o principio da linguagem), ao qual a utilidade fomentou a origo sit. Nam cui dubium est, quin
sermonem abdedicaçâo e o fortalecimento e a razâo e o exercfcio o levaram ao apogeu? ipsa rerum natura geniti protinus homines acceperint2. Nem vislumbro o
motivo pelo qual alguns pensam que a preocupaçâo
(quod certe principium est eius rei), huic studium et de se expressar incrementum dederit utilitas,
summam ratio et exer2 citatio? Nec video, quare curam dicendi putent
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quidam inde coepisse, quod ii, qui in discrimen tenha começado com o fato de que os chamados a responder a uma acusação aliquod vocabantur, accuratius loqui
defendendi sui grave procurassem falar de modo mais acurado para se defenderem. Sem gratia instituerint. Haec enim ut honestior causa, dúvida, essa é uma causa
assim mais honesta, não totalmente a prioritária, ita non utique prior est, cum praesertim accusatio sobretudo porque a acusação antecede a defesa; a não ser que alguém
diga praecedat defensionem; nisi quis dicet, etiam gladium que também a espada tenha sido fabricada de preferência por aquele que fabricatum ab eo prius, qui ferrum
in tutelam sui adquiriu o ferro para sua própria proteção, do que por quem o fez para a 3 quam qui in perniciem alterius compararit. Initium desgraça de outrem.
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ergo dicendi dedit natura, initium artis observatio. 3. Portanto, a natureza forneceu o princípio da fala e o início da arte salubria, Homines alia enim, insalubria, sicuti
in ex medicina, observatione cum viderent eorum effe-alia proveio da observação. Pois os homens, como na medicina, ao observarem cerunt artem, ita, cum in dicendo
alia utilia, alia umas condições saudáveis e outras insalubres, dessas observações criaram arte inutilia deprehenderent, notarunt ea ad imitandum da medicina; do
mesmo modo, ao perceberem no falar umas coisas úteis e vitandumque, et quaedam secundum rationem eorum outras inúteis, anotaram o que se devia imitar e o que
evitar; e eles mesmos adiecerunt ipsi quoque; haec confirmata sunt usu, acrescentaram também alguns pontos conforme a razão. Isso foi confirmado 4 tum quae sciebat
quisque docuit. Cicero quidem pelo uso e então cada um passou a ensinar o que sabia.
initium orandi conditoribus urbium ac legum latori- 4. Cícero, é verdade, atribuiu o início da oratória aos fundadores das bus dedit, in quibus fuisse vim dicendi
necesse est ; cidades e aos promulgadores das leis, nos quais é necessário ter existido a cur tamen hanc primam originem putet, non video, força da oratória; contudo,
não vejo por que ele considera essa a origem pri cum sint adhuc quaedam vaoae et sine urbibus ac meira, uma vez que ainda existem alguns povos nômades, sem
cidades e sem sine legibus gentes, et tamen qui sunt in iis nati et leis. Entretanto, os que neles nasceram tanto participam de legações como legationibus fungantur et
accusent aliqua atque fazem acusações e defesas e, afinal, consideram que um fala melhor que o defendant et denique alium alio melius loqui outro. credant.
mique III. auctores Omnis autem tradiderunt, orandi quinque ratio, ut partibus plurimi constat,maxi- III. 1. No entanto, a arte oratória, segundo ensinaram a maioria
dos inventione, dispositione, elocutione, memoria, pro- autores e os expoentes máximos, consta de cinco partes: a invenção, a disponuntiatione sive actione, utroque
enim modo dicitur. sição, a elocução, a memória e a pronunciação ou ação, pois se diz dos dois Omnis vero sermo, quo quidem voluntas aliqua enun- modos. De fato,
todo discurso, pelo qual se enuncie algum propósito, é ne2 tiatur, habeat necesse est rem et verba. Ac si estcessário que tenha um objetivo e palavras.
2. E
se
for
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brevis et una conclusione finitus, nihil fortasse ultrabreve e encerrado com uma conclusão, talvez não precise de mais nada; ao desideret; at oratio longior plura
exigit. Non tan-contrário, um discurso mais longo requer mais coisas. Pois não importa apetum enim refert, quid et quo modo dicamus, sednas o que e de que
modo falamos, mas também em que lugar; portanto, etiam quo loco ; opus ergo est et dispositione. Sedtambém a disposição é necessária. Todavia, não
poderemos dizer tudo o que neque omnia, quae res postulat, dicere neque suoo assunto exige nem cada coisa na ocasião oportuna, a não ser com a ajuda da
quaeque loco poterimus nisi adiuvante memoria ;memória; por isso ela também se inclui na quarta parte.
3 quapropter ea quoque pars quarta erit. Verum haec3. Em verdade, a pronunciação defeituosa, seja pela voz seja pelos gestos, cuncta corrumpit ac
propemodum perdit indecoraestraga e de algum modo põe a perder tudo isso. Destarte, também é necesvel voce vel gestu pronuntiatio, Huic quoque igiturSário
atribuir à pronunciação o quinto item.
tribuendus est necessario quintus locus.4. Nem devem ser ouvidos alguns, entre os quais Albúci036, que aceitam 4 Nec audiendi quidam, quorum est Albutius,
quisó as três primeiras partes, porque a memória c a ação se relacionam com a tris modo primas esse partes volunt, quoniam me-natureza, não com a arte (daremos
as regras referentes às duas nas devidas moria atque actio natura non arte contingant (quarumocasiões), embora Trasímaco tenha pensado o mesmo a respeito da
açáo.
nos praecepta suo loco dabimus), licet Thrasymachus5. Houve quem acrescesse a essas cinco uma sexta parte, de modo a 5 quoque idem de actione
crediderit. His adieceruntsubtrair o julgamento da invenção, porque a invenção precede e o julgamenquidam sextam partem, ita ut inventioni iudiciumto vem depois.
Além disso, não creio sequer se ter encontrado alguém que subnecterent, quia primum esset invenire, deindeacabou não julgando; pois não se confirma ter alguém
encontrado algo con iudicare. Ego porro ne invenisse quidem credo eum, trário, comum e idiota e não o ter evitado.
qui non iudicavit ; neque enim contraria, comrnunia,6. O próprio Cícero, em Partitiones Oratoriae37, pospõe o julgamento à stulta invenisse dicitur quisquam, sed
non vitasse.invenção; parece-me, porém, que o julgamento está tão intimamente ligado 6 Et Cicero quidem in Rhetoricis iudicium subiecitàs três
primeiras partes (de fato, nem a disposição nem a elocução existiriam inventioni ; mihi autem adeo tribus primis partibussem ele), que considero a
pronunciação em muito devedora a ele.
videtur esse permixtum (nam neque dispositio sine7. Isso eu afirmaria com mais segurança, já que em Partitiones Oratoriae eo neque elocutio
fuerit), ut pronuntiationem quoque 7 vel plurimum ex eo mutuari putem. Quod hoc audacius dixerim, quod in Partitionibus oratoriis ad
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easdem, de quibus supra dictum est, quinque per-chega às mesmas cinco partes, das quais se falou acima. Pois, ao dividir a revenit partes. Nam cum dupliciter
primum divisissettórica primeiramente em invenção e elocução, ele atribuiu as ideias e a dispoin inventionem atque elocutionem, res ac disposi-sição à invenção, e
a pronunciação à elocução, estabeleceu a quinta parte, tionem inventioni, verba et pronuntiationem elocu-comum e como depositária de todas, a memória.
Também em De Oratore tioni dedit quintamque constituit, communem acafirma que a eloquência consta de cinco coisas; por seus escritos posteriores velut
custodem omnium, memoriam. Idem in 1vê-se que essa é sua doutrina mais bem definida.
Oratore quinque rebus constare eloquentiam dicit,8. Não me parecem menos desejosos de alguma novidade os que acresin quibus postea scriptis certior eius
sententia est.centaram a ordem, depois de terem colocado a disposição, como se a dispo8 Non minus mihi cupidi novitatis alicuius videntursição fosse algo diferente
que a colocação das coisas na melhor ordem possível. fuisse, qui adiecerunt ordinem, cum dispositionemDíon38 fixou apenas a invenção c a disposição, mas ambas
sob duas formas, a dixissent, quasi aliud sit dispositio quam rerumdos assuntos e a das palavras, assim que a elocução se relacione com a invenção ordine
quam optimo collocatio. Dion inventioneme a pronunciação com a disposição e a essas se acrescente a quinta parte da modo et dispositionem tradidit sed utramque
dupli-memória. Os teodoreus ensinavam aproximadamente uma invenção dupla, cem, rerum et verborum, ut sit elocutio inventionis,dos assuntos e da elocução
e, em seguida, as três outras partes.
pronuntiatio dispositionis, his quinta pars memoriae,9. Hermágoras estabeleceu julgamento, divisão e ordem, referentes à accedat. Theodorei fere
inventionem duplicem,elocução; e acrescentou a 'economia', palavra dada em grego ao cuidado dos
rerum atque elocutionis, deinde tris ceteras partes.
9 Hermagoras iudicium, partitionem, ordinem, quae-assuntos domésticos e aqui usada metaforicamente; a língua latina não dispõe que sunt elocutionis, subiicit
oeconomiae, quaede um termo correspondente.
Graece appellata ex cura rerum domesticarum et hicIO. A respeito disso há ainda a questão: alguns juntaram a memória à per abusionem posita nomine Latino
caret.invenção na ordem das partes e outros à disposição; nós consideramos o IO Est et circa hoc quaestio, quod memoriam inquarto lugar o mais adequado, De fato,
não devemos apenas reter na mente ordine partium quidam inventioni, quidam disposi-o que encontramos, para que disso tioni subiunxerunt; nobis quartus eius locus
maxime placet. Non enim tantum inventa tenere, ut dis-
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ponamus, nec disposita, ut eloquamur, sed etiampossamos dispor, nem apenas o que dispusemos para nos expressar, mas tamverbis formata memoriae
mandare debemus. Hacbém é preciso confiar à memória os dados com as respectivas palavras, uma enim omnia, quaecunque in orationem collat.a sunt,vez que
por ela é conservado tudo quanto foi reunido para o discurso.
continentur.11. Em relação a este assunto, houve ainda outros, e não poucos, que I I Fuerunt etiam in hac opinione non pauci, ut hasconsideraram não
existirem essas partes da oratória, mas apenas a ação do orador; fica a seu encargo a invenção, a disposição, a elocução etc. non rhetorices partes esse
existimarent sed operanão deixamos nada para a arte. Real12. Se aceitarmos essa colocação, oratoris ; eius enim esse invenire, disponere, eloquifalar bem é próprio
do orador, mas a retórica consiste na ciência de
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mente,
12 et cetera. Quod si accipimus, nihil arti relinquimus.falar bem; ou, como outros pensam, cabe ao artífice persuadir, mas a força da Nam bene dicere est oratoris,
rhetorice tamen eritpersuasão provém da arte. Assim, descobrir e ordenar são tarefas do orador, bene dicendi scientia ; vel, ut alii putant, artificis estmas a invenção
e a disposição podem ser vistas como próprias da retórica. persuadere, vis autem persuadendi artis. Ita inve-13. Muitos discordaram quanto à questão se essas
partes constituem a nire quidem et disponere oratoris, inventio autem etretórica, ou a prática própria dela ou, conforme pensa Ateneu, seus elementos 13
dispositio rhetorices propria videri potest. In eoaos quais chamam Ot01)CEüX39 ['stoicheía']. Entretanto, não se diria correplures dissenserunt, utrumne
hae partes essent rhe-tamente 'elementos', que de outro modo serão apenas princípios como o torices an eiusdem opera an, ut Athenaeus credit,elemento líquido
ou o fogo ou a matéria ou os corpos indivisíveis do mundo; elementa, quae vocant TTOLX€ü. Sed neque elementa nem lhes cabe corretamente o nome de
atividades, que não são realizadas por recte quis dixerit, alioqui tantum initia erunt, utoutros, mas que fazem algo: portanto, são partes.
mundi vel umor vel ignis vel materia vel corpora 14. Em verdade, como a retórica é constituída por elas, não pode ser que, sendo o todo constituído pelas partes,
não haja as partes das quais o todo é insecabilia ; nec operum recte nomen accipient, quaedenominaram atividades, porém, me dão a impressão
constituído. Os que as non ab aliis perficiuntur, sed aliud ipsa perficiunt :foram levados também pelo motivo de não quererem incidir no mes-
de
que
14 partes igitur. Nam cum sit ex his rhetorice, fierimo nome novamente em outra divisão, non potest ut, cum totum ex
partibus constet, non sint partes totius ex quibus constat. Videntur autem mihi, qui haec opera dixerunt, eo
quoque moti, quod in alia rursus divisione nollent in idem
422423
nomen incidere, partes enim rhetorices esse IV. Sed tria an plura sint, ambigitur. Nec dubie prope omnes
dicebant laudativam, deliberativam, iudicialem. Quae utique summae apud antiquos auctoritatis scriptores Aristotelem
si partes 15 sunt, materiae sunt potius quam artis. secuti, qui nomine tantum alio contionalem pro deliberativa appellat,
Namque in his singulis rhetorice tota est, quia et hac 2 partitione contenti fuerunt, Verum et tum leviter est
inventionem et dispositionem et elocutionem et temptatum, cum apud Graecos quosdam tum apud Ciceronem in
memoriam et pronuntiationem quaecunque earum libris de Oratore, et nunc maximo temporum nostrorum auctore
desiderat. Itaque quidam genera tria rhetorices dicere prope impulsum, ut non modo plura haec genera, sed paene
maluerunt, optime autem ii, quos secutus est Cicero, innumera3 bilia videantur. Nam si laudandi ac vituperandi oficium
genera causarum. in parte tertia ponimus, in quo genere versari videbimur, curn
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querimur, consolamur, mitigamus, concitamus, IV. 1. Todavia, discute-se se há três ou muitas espécies de retórica.
terremus, confirmamus, praecipimus, obscure dicta Não resta dúvida de que quase todos e, principalmente, os de suma
interpretamur, narramus, deprecamur, gratias aoimus, autoridade entre os antigos escritores seguiram a Aristóteles, que designa
gratulamur, obiu rgamus, maledicimus, describimus, com outro nome apenas a concionar0 pela deliberativa, e se mostraram
mandamus, renuntiamus, 4 optamus, opinamur, satisfeitos com essa divisão.
plurima alia? ut mihi in illa vetere persuasione 2. Realmente, nesse campo foram feitas fracas tentativas tanto por
permanenti, velut petenda sit venia, quaerendumque, alguns gregos como por Cícero nos livros De Oratore e, no presente,
quo moti priores rem tam bastante impulsionado pelo maior autor de nossa época, de modo que se
afigura haver não apenas muitas dessas espécies, mas até mesmo
inumeráveis.
3. Ora, se colocarmos o encargo de enaltecer e de censurar na terceira
parte, de que espécie daríamos a impressão de estar tratando, quando nos
queixamos, consolamos, apaziguamos, concitamos, aterrorizamos,
confirmamos, ordenamos, interpretamos expressões obscuras, narramos,
suplicamos, agradecemos, felicitamos, repreendemos, maldizemos,
descrevemos, mandamos, renunciamos, escolhemos, opinamos e muitos
outros ?
4. Como para quem permanece na velha convicção, devo pedir
desculpa e perguntar a razão pela qual os predecessores restringiram tão
424 drasticamente um assunto
pois diziam que as partes da retórica são a eloquência
panegírica, a deliberativa e a judicial. Se essas forem
partes, seriam espécies de matéria mais adequadamente
que de arte.
15. Realmente, a retórica inteira está contida em cada
uma delas, porque cada qual requer a invenção, a
disposição, a elocução, a memória e a discussão. Assim
sendo, alguns preferiram estabelecer três espécies de
retórica; muito melhor, porém, fazem aqueles, aos quais
Cícero aderiu, que falam em três espécies de causas.
425
-
tão vasto. Os que pensam que eles erraram partem do fato de que viam os late fusam tam breviter astrinxerint. Quos quioradores se restringirem então
a apenas essas três espécies.
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errasse putant, hoc secutos arbitrantur, quod in his5. De fato, escreviam-se panegíricos e denúncias e era costume proferir 5 fere versari tum oratores videbant; nam et
laudesàltlt@íotb ['epitafíus', 'discursos fúnebres']; a maior parte de seus esforços ac vituperationes scribebantur, et dicere era empregada nas assembleias e nos
tribunais, de modo que os autores de erat moris, et plurimum in consiliis ac iudiciis in-tratados de artes se limitaram apenas às espécies mais frequentes.
sumebatur operae, ut scriptores artium pro solis6. Em verdade, os que defendem a antiga colocação distinguem três es6 comprehenderint frequentissima. Qui vero
defen-pécies de ouvintes: primeira, a que comparece em busca de algum prazer; dunt, tria faciunt genera auditorum, unum, quod adsegunda, vem em busca de conselho;
terceira, vem para julgar a respeito delectationem conveniat, alterum, quod consiliumdos processos. Examinando tudo, veio-me à mente a ideia dc que qualquer encargo
do discurso situa-se nos tribunais ou fora deles.
accipiat, tertium, quod de causis iudicet. Mihi7. A espécie daqueles que são submetidos ao tribunal é evidente; tudo cuncta rimanti et talis quaedam ratio succurrit,
quodaquilo que não é levado ao juiz situa-se no tempo passado ou futuro; louvamos omne orationis offcium aut in iudiciis est aut extraou reprovamos os fatos passados
e deliberamos sobre os futuros.
7 iudicia. Eorum, de quibus iudicio quaeritur, mani-8. Do mesmo modo todas as coisas, sobre as quais urge se pronunciar, festum est genus ; ea, quae ad iudicem non
veniunt,são necessariamente certas ou necessariamente duvidosas, As coisas certas aut praeteritum habent tempus aut futurum ; prae-cada qual louva ou incrimina
conforme a própria disposição; parte das duvi terita laudamus aut vituperamus, de futuris delibe- dosas é liberada para nossa própria escolha e sobre elas se delibera;
outra 8 ramus. Item omnia, de quibus dicendum est, aut parte é entregue ao parecer de outros e sobre ela se trava o debate.
certa sint necesse est aut dubia. Certa, ut cuique9. Anaximenes 41 estabeleceu que a judicial e a concional são tipos gerais, mas com sete espécies: exortativa, est animus,
laudat aut culpat ; ex dubiis partim nobis ipsis ad electionem sunt libera, de his deliberatur ; partim aliorum sententiae commissa, de his lite contenditur.
9 Anaximenes iudicialem et contionalem generales partes esse voluit, septem autem species : hortandi,
426427
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dehortandi, laudandi,• vituperandi, accusandi, ibus, cuius vis eadem
defendendi, exquirendi, quod ese€raTTtKdv dicit; profecto est quae
quarum duae primae deliberativi, duae sequentes dialecticae.
demonstrativi, tres ultimae iudicialis generis sunt II Isocrates in omni genere inesse laudem ac vituperationem
partes. existimavit.
10 Protagoran Nobis et tutissimum est auctores plurimos sequi, 12 et ita
transeo, videtur ratio dictare. Est igitur, ut dixi, unum genus, quo laus ac
qui vituperatio continetur, sed est appellatum a parte meliore
interrogan laudativum ; idem alii demonstrativum vocant. Utrumque nomen ex
di, Graeco creditur fluxisse, nam aut
responden 13 Ô€CKTLKÓV dicunt. Sed mihi non tam demonstrationis vim habere
di, quam ostentationis videtur et multum ab illo differre ; nam ut
mandandi, continet laudativum in se genus, ita non intra hoc 14 solum consistit. An
precandi, quisquam negaverit Panegyricos ¿mÔ€LKTLK0Ós esse? Atqui formam
quod dixit, suadendi habent et plerumque de utilitatibus Graeciae loquun tur; u
partes causarum quidem genera tria sint, sed ea tum in negotiis tum in
solas putat. ostentatione posita. Nisi
Plato in
Sophiste
iudiciali et
contionali
tertiam
adiecit
arpocoptl\
71TLKÓv,
quam sane
permittam
us nobis
dicere
sermocinat 428
ricem ; dissuasiva, elogiativa, recriminativa, acusativa, defensiva e a denominada
quae a por ele ['exetastikón'], 'investigatória'. Dessas, as duas
forensi primeiras são do gênero deliberativo, as duas subsequentes do gênero
ratione demonstrativo e as três últimas, do judicial.
diiungitur IO. Omito Protágoras, que dá como espécies apenas a de interrogar, a
et est de responder e a de solicitar, que denomina ElbZ(Dñvfiv ['eucholén',
accommod 'pedido']. Platão, no Sofista, acrescentou ao judicial e ao concional um
ata privatis terceiro tipo, chamado por ele TtPOOOV11,ZnttKóV ['prosomiletikén'],
disputation termo que seguramente nos permitimos traduzir por sermocinatricem,
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Nem sempre, porém, esses itens são incluídos no assunto a ser tratado,
uma tiuntur. Non semper a utem omnia in eam quae
vez que haverá certos temas distantes das paixões, que tanto não têm lugar
tractabitur materiam cadente Erunt enim quaedam em todos os casos, como irrompem em qualquer situação e por isso são mais remotae ab adfectibus, qui ut non
ubique habent locum, ita quocunque irruperunt, plurimum valent. expressivos.
3 Praestantissimis auctoribus placet alia in rhetorice 3. Apraz a eminentes autores dizer que na retórica existem assuntos que esse, quae probationem desiderent, alia quae
non exigem comprovação e outros não, com os quais eu concordo. Contudo alguns, desiderent, cum quibus ipse consentio. Quidam como Celso, julgam que o orador
não deveria falar sobre coisa alguma, a não vero, ut Celsus, de nulla re dicturum oratorem, nisi ser sobre o que se relaciona com a questão; a maior parte dos autores
está de qua quaeratur, existimant, cui cum maxima pars contra ele, tanto quanto a própria divisão, a não ser que talvez não sejam scriptorum repugnat tum etiam ipsa
partitio; nisi encargo do orador o louvar o que seja realmente honesto e o reprovar o recoforte laudare, quae constet esse honesta, et vitupe- nhecidamente desonesto.
rare, quae ex confesso sint turpia, non est oratoris 4. Já todos concordam que todas as questões se relacionam com o que oficium. está escrito e com o que não o
está: o que está escrito se relaciona com o di4 Illud iam omnes fatentur, esse quaestiones aut in reito, e o não escrito, com o assunto. Hermágoras e seus seguidores
denomiscripto aut in non scripto ; in scripto de iure, in non nam aquele gênero 'racional' e este, 'legal', assim traduzindo vog1KÓv ['noscripto de re. Illud l:ationale hoc
legale genus mikon', 'legal'] e ROYIKÓV ['Ioguikón', 'racional'].
Hermaooras atque eum secuti vocant, id est VO/UKÓV 5. Pensam do mesmo modo os que colocam a questão toda nos assuntos 5 et À07LKÓv. Idem sentiunt, qui
omnem quaestionem e nas palavras. Concorda-se igualmente que as questões são indefinidas ou ponunt in rebus et in verbis. definidas. Indefinidas são as que são tratadas
nas defesas ou nas acusações sem Item convenit, quaestiones esse aut infinitas aut citar pessoas, tempos, lugares e dados semelhantes; essas são chamadas OéOEi finitas.
Infinitae sunt, quae remotis personis et ['théseis', 'teses'] pelos gregos, propositum, 'proposição', por Cícero, 'questões temporibus et locis ceterisque similibus in utramque
civis gerais' por outros e, por outros ainda, 'questões concernentes ao filósofo'; partem tractantur, quod Graeci dicunt, Cicero Ateneu a denomina 'parte de uma causa'.
propositum, alii quaestiones universales civiles, alii 6. Cícero considera esse gênero sob dois aspectos: pelo conhecimento e quaestiones philosopho convenientes,
Athenaeus pela ação; assim, o que viria pelo conhecimento, por exemplo, 'seria o mundo
6 partem causae appellat. Hoc genas Cicero scientia governado pela providência ?' et actione distinguit, ut sit
scientiae, An providentia
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mundus regatur; actionis, An accedendum ad rempub-e pela ação, 'conviria entrar na administração pública?'. O primeiro tem três licam adminislrandam. Prius
trium crenerum, an sit ?aspectos: De fato existe? O que é? Qual sua natureza? Contudo, tudo isso pode ser desconhecido; o seguinte abrange dois
aspectos: como o consegui-
quid sit quale sit? omnia enim haec ionorari remos e como o usaremos ?
possunt; sequens duorum, quo modo adipiscamur? 7. Por outro lado, as definidas estão no conjunto das coisas, das pessoas, 7 quo modo utamur? Finitae autem sunt
ex com- do tempo e dos demais elementos intervenientes; essas são denominadas plexu rerum, personarum, temporum, ceterorumque ; pelos gregos Ólt06é0E1 42
['hypothéseis', 'hipóteses'] e 'causas' por nós. Nelas hae óT00G€ts a Graecis dicuntur, causae a nostris. toda questão parece girar em torno das coisas e das pessoas.
8. A indefinida é sempre mais ampla, pois dela se deriva a definida. Para
In his omnis quaestio videtur circa res personasqueesclarecer isso com um exemplo, é indefinida 'E preciso casar-se? e definida 8 consistere. Amplior est semper
infinita, inde enim'Catão deve casar-se?'. Por isso pode ser considerada deliberativa. Contudo, finita descendit. Quod ut exemplo pateat, infinita omitidas as
próprias pessoas, costumam-se relacionar essas questões a algo. E est, An uxor ducenda ? finita, An Catoni ducenda ? pois geral em 'E conveniente entrar na
administração pública? ; mas se relacioideoque esse suasoria potest. Sed etiam remotae a na com algo concreto em 'Convém participar de uma tirania?'.
9. Entretanto, aqui também subjaz, ainda que latente, a pessoa. De fato, personis propriis ad aliquid
referri solent. Est enimcitar um tirano torna dupla a questão: fica implícita a noção de tempo e quasimplex, An respublica
administranda ? refertur adlificação da pessoa. Contudo, só por isso não considerarias o fato como uma 9 aliquid, An in
tyrannide administranda ? Sed hiccausa. Essas, porém, que chamo indefinidas são também denominadas gerais;
quoque subest velut latens persona ; tyrannus enim e se forem verdadeiras, serão definidas especiais. Por outro lado, em toda
esgeminat quaestionem, subestque et temporis et pecial está certamente a geral, já que esta precede logicamente aquela.
IO. Mas não sei se também nas causas uma seria considerada
geral, caso qualitatis tacita vis; nondum tamen hoc proprie nela sobrevenha algo relativo à qualidade. dixeris causam. Hae autem, quas
infinitas voco, et generales appellantur; quod si est verum, finitae speciales erunt. In omni autem speciali utique IO inest generalis, ut quae sit
prior. Ac nescio an in causis quoque, quidquid in quaestionem venit quali-
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Em 'Mili043 matou Clódio; perante a lei, matou um assaltante', em vertatis, generale sit. Milo Clodium occidit, iure occidiidade, não se busca saber
'Se existe o direito de matar um assaltante'? O que insidiatorem; nonne hoc quaeritur, An sit ius insidia-entraria nas conjeturas? Não seriam as de caráter geral, como
'seria o ódio a torem occidendi ? Quid in coniecturis? non illa causa do crime? A cobiça? Dever-se-ia crer em torturas?. Ou 'dar mais crédito generalia, An causa
sceleris odium ? cupiditas ? An às testemunhas ou às provas?'. Pois, pela definição de abrangência, nada deixará de ser certo em relação ao que é universal.
tormenli,s credencl¿on ? Testibus an aroumentis maior 11. Alguns pensam que também podem, às vezes, ser chamadas 'teses' Lides habenda ? Nam finitione quidem
comprehendiaquelas que contenham referências a pessoas e a causas, mas colocadas de II nihil non in universum certum erit. Quidam putantoutro modo: para
uma 'causa', como em 'Orestes é acusado', e para uma 'tese', etiam eas thesis posse aliquando nominari, quaecomo em 'Orestesfoi corretamente absolvido?' ; é do
44
mesmo gênero que 'porventura Catão entregou honestamente Márcia a Hortênsio ? . Esses distinguem personis causisque contineantur, aliter tantummodo a
tese da causa da seguinte maneira: aquela faz parte da especulação e esta, da positas : ut causa sit, cum Orestes accusatur : thesis, ação, pois lá se discute apenas em busca
da verdade e aqui se trata de um asAn Orestes recte sit absolutus; cuius generis est, An sunto específico.
Cato recte Marciam Hortensio tradiderit. Hi thesin a12. Embora alguns considerem inÚteis ao orador as questões universais, porque em nada ajudam, para
que conste ter contraído matrimónio ou parcausa sic distinguunt, ut illa sit spectativae partis,ticipar da administração pública, caso alguém para isso seja
impedido pela haec activae ; illic enim veritatis tantum gratia dis- idade ou pelo estado de saúde? Contudo, pode não ocorrer desse modo em putari, hic negotium
agi.todas as questões dessa natureza, como, por exemplo: A virtude é um fim em 12 Quanquam inutiles quidam oratori putant univel-si mesma? Porventura o
mundo é regido pela providência?
436437
sonam referuntur, ut non est satis generalem 438
tractasse quaestionem, ita perveniri ad speciem nisi 13. Porque também não naquilo que se refere a uma pessoa,
illa prius excussa non potest. Nam quomodo, an como não é suficiente ter tratado da questão geral, assim não é possível
sibi uxor ducenda sit, deliberabit Cato, nisi chegar à particular, a não ser depois de resolvida a geral. Realmente, como
constiterit, uxores esse ducendas? Et quomodo, an Catão deliberará se é desejável casar-se, se não tiver estabelecido que é
ducere debeat Marciam, quaeretur, nisi Catoni conveniente tomar uma esposa? E como busca saber se deve casar-se com
ducenda uxor est ? Márcia, a não ser que Catão tivesse possibilidade de casar-se ?
14 Sunt tamen inscripti nomine Hermagorae libri, qui 14. Ora, há livros com o nome de Hermágoras que confirmam
confirmant illam opinionem, sive falsus est titulus sive aquela opinião, quer seja falsa a atribuição, quer esse tenha sido um outro
alius hic Hermagoras fuit. Nam eiusdem esse quomodo Hermágoras. Realmente, como pode essa obra ser do mesmo autor que
possunt, qui de hac arte mirabiliter multa composuit, escreveu muitas coisas admiráveis sobre essa arte, porquanto teria dividido
cum, sicut ex Ciceronis quoque rhetorico primo a matéria da retórica em teses e causas, como fica patente também pelo
manifestum est, materiam rhetorices in thesis et causas livro primeiro da Retórica de Cícero? Essa posição é criticada por Cícero,
diviserit? Quod reprehendit Cicero ac thesin nihil ad que sustenta não ter o orador nada a ver com a tese e que todo esse tipo de
oratorem pertinere contendit totumque hoc genus questão pertence ao campo dos filósofos.
quaestionis ad philosophos refert. 15. Todavia, Cícero me poupou do pudor de ter de lhe fazer
15 Sed me liberavit respondendi verecundia, et quod ipse objeçóes, porque ele mesmo desaprova esses livros e orienta no Orator,
hos libros improbat, et quod in Oratore atque his, quos naqueles De Oratore que escreveu e em Topica, que evitemos
de Oratore scripsit, et Topicis praecipit, ut a propriis controvérsias em relação a
personis atque temporibus avocemus controversiam : pessoas e a circunstâncias: porque importa discursar mais amplamente
quia latius dicere liceat de genere quam de specie, et, sobre o gênero do que sobre a espécie; e ainda o que for comprovado no
quod in universo probatum sit, in parte 16 probatum universal é necessário que o seja também no particular'.
esse necesse site Status autem in hoc omne genus 16. Por outro lado, as condições para todo esse tipo de matéria
materiae iidem, qui in causas, cadunt. Adhuc adiicitur, coincidem com as que valem para as causas. Acrescenta-se ainda que
alias esse quaestiones in rebus ipsis, umas são as questões relativas às coisas em si mesmas
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alias quae ad aliquid referantur : illud, An uxore outras as que se referem a algo particular; exemplo do primeiro caso: 'Deveducenda ? hoc, An seni ducenda ? illud,
An Jbrtis ?-se casar? ; do segundo: 'Um ancião deve se casar?. Ou do primeiro caso: 'Ele hoc, Anfortior? et similia.é vigoroso?' ; ou do segundo: 'Ele é mais
vigoroso?', e outros semelhantes.
17 Causam finit Apol lodorus, ut interpretatione Val mi17. Apolodoro define causa, para eu usar a versão de Válgio, seu discídiscipuli eius utar, ita : Causa est neootium
omnibuspulo, como segue: 'Causa é um processo que se refere a uma questão litigiosa suis partibus spectans ad quaestione?n,• aut : Causa eslem todas as suas partes'.
Ou também: 'Causa é um processo cujo objeto é uma neootiupn, cuius Jinis est controversia. Ipsum deindecontrovérsia'. Em seguida, ele mesmo assim define o
processo: 'Processo é o negotium sic finit : Negotium est concre.oatio person-conjunto de pessoas, locais, tempos, meios, modos, circunstâncias, fatos, aru.m, locorum,
temporum, causarum, modorum, casuum,documentos, de palavras e de coisas escritas e não escritas'.
fhctorum, inslrzonentorum, sermonum, scriptorum et non 18. Entendamos então 'causa' como a ÓTtÓ9E01V dos gregos e 'processo
45
18 scriplorum. Causam nunc intelligamus ómd0€o¿v,como TtepíOT0101v ['perístasin']. Todavia, alguns definiram 'causa' do mesmo neootium Sed et ipsam
causam quidam modo que Apolodoro definiu 'processo' (negotium). E Isócrates diz que a similiter finierunt, ut Apollodorus negotium. Iso-causa é uma questão civil
definida ou uma controvérsia envolvendo pessoas crates autem causam esse ait quaestionem finitamdefinidas. Cícero a define com as seguintes palavras: 'A causa
envolve certas civilem aut rem controversam in personarum fini-pessoas, locais, tempos, açóes e processos seja em todos seja em sua maioria'. tarum con)plex r u ;
Cicero his verbis: Causa cerlis personis, locis, temporibu.s, actionibus, negotiis cernilur,VI. l. Portanto, uma vez que toda causa está relacionada com alguma aut in
omnibus aut in plerisque eorum.situação, antes que eu comece a expor de que modo qualquer tipo de causa
VI. Ergo cum omnis causa contineatur aliquodeve statu, priusquam dicere aggredior, quo
modo genus
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esse é o gênero da questão, tu fizeste, eu não fiz, por acaso ele teria feito?, Tu flictione nascitur, id est genus quaestionis, fecisti, nonfizeste isso, isso
eu não fiz, o que ele teria feito?. Desses exemplos fica patente feci, an fecerit ? Hoc fecisti, non hoc feci, quid fecerit ?que, no primeiro, se busca por
conjetura e no segundo, por definição; e a isso Quia ex his apparet, illud coniectura, hoc finitionese aplicam ambas as partes, havendo então a questão
conjetural ou a situação quaerendum, atque in eo pars utraque insistit, eritdefinida.
6. Como, pois, se alguém disser, 'o som é o choque de dois corpos entre 6 quaestio coniecturalis vel finitivi status. Quid sisi': erraria, conforme penso, porque
o som não está no choque, mas resulta enim dicat quis, sonus est duorum inter se corporumdo choque. Isso, porém, é de pouca monta, porque se compreende
de qualquer confictio : erret, ut opinor, non enim sonus est con-maneira que for expresso. Realmente, existe um grande erro característico dos flictio sed ex
conflictione. Sed hoc levius ; intelli-que interpretam mal, os quais acreditaram que a situação deve ser sempre deduzida da primeira questão, uma vez
que haviam lido primeiro o choque. gitur enim utcunque dictum. Inde vero ingensE isso é extremamente errôneo.
male interpretantibus innatus est error, qui, quia7. Em verdade, questão alguma deixa de ter certamente uma situação, primam conflictionem legerant,
crediderunt statumpois consta de uma acusação e de uma refutação; umas questões, porém, são semper ex prima quaestione ducendum; quod estcaracterísticas
das causas, sobre as quais é preciso formar uma opinião; há outras trazidas de fora, mas que aportam algo para o essencial da causa, como 7 vitiosissimum. Nam
quaestio nulla non habet utiquecertas ajudas pelas quais acontece que se declare haver várias questões em uma statum, constat enim ex intentione et
depulsione ;única controvérsia.
sed aliae sunt propriae causarum, de quibus ferenda8. Além disso, uma questão dessas de importância mínima exerce muisententia est, aliae adductae extrinsecus,
aliquidtas vezes uma função fundamental. O fato é que isso é frequente, assim que venhamos a omitir aqueles aspectos, em que menos confiamos, quando
forem tamen ad summam causae conferentes, velut auxiliadesenvolvidos, ora sendo como que dados livremente por nós, quaedam, quo fit ut in controversia una
plures quae8 stiones esse dicantur. Harum porro plerumque levissima quaeque primo loco fungitur. Namque et illud frequens est, ut ea, quibus minus
confidimus, cum tractata sunt, omittamus, interim sponte nostra
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pro causa plura dicturus est, quid maxime liquere vá se pronunciar numa causa múltipla: de modo especial, o que quer
iudici velit. Quod tamen ut primum cogitandum, deixar claro para o juiz. Entretanto, o que deve ser pensado primeiro
ita non utique primum dicendum erit. certamente não será o primeiro a ser dito.
13 Alii statum crediderunt primam eius, cum quo a oeretur, 13. Outros creram que a situação da causa está na defesa
deprecationem. Quam sententiam his verbis Cicero primeira com que se agirá. Cícero expressa essa ideia com estas palavras:
complectitur : in quo primum insistit quasi ad repugnandum 'Ponto em que primeiramente se apoia a defesa reunida como que para
concrressa defensio. Unde rursus alia quaestio, an eum refutar os argumentos contrários'. Daí surge novamente outra questão, se
semper is faciat qui respondet. Cui rei praecipue repugnat sempre o fará aquele que responde. Especialmente Cornélio Celso não
Cornelius Celsus dicens non a depulsione sumi, sed ab eo aceita essa proposição, dizendo que ela não deve ser assumida pela defesa,
qui propositionem suam confirmet ; ut, si hominem occisum mas por aquele que comprove sua tese. Assim, se o réu nega haver uma
reus negat, status ab accusatore nascatur, quia is velit pessoa assassinada, a situação da causa fica nas mãos do acusador, porque
probare ; si iure occisum reus dicit, translata probationis a ele cabe provar. Caso o réu declare ter matado conforme o direito, a
ne14 cessitate idem a reo fiat, et sit eius intentio. Cui non situação deve reverter igualmente para o réu pela necessidade de
accedo equidem; nam est vero propius quod contra dicitur, comprovação e dele parta a acusação.
nullam esse litem, si is, cum quo agatur, nihil respondeat, 14. Evidentemente não concordo com ele; pois, está mais
ideoque feri statum a re15 spondente. Mea tamen sententia perto da verdade o que se diz em contrário, que não existe processo
varium id est, et accidit pro condicione causarum, quia et algum, se aquele, com quem se está tratando, nada responder; com isso, a
videri potest propositio aliquando statum facere, ut in situação da causa fica com aquele que responde.
coniecturalibus causis ; utitur enim coniectura magis qui 15. Todavia, minha opinião é que a situação da causa é
agit, (quo moti quidam eundem a reo infitialem esse diversa e provém das condições dos processos, porque pode também
dixerunt) et in syllogismo tota ratiocinatio ab eo est parecer que às vezes uma tese da acusação estabeleça a situação, como
nas causas conjeturais; pois usa mais a conjetura quem defende (levados
por essa ideia, alguns afirmaram que ela é negativa) e, no silogism0 52,
todo desenvolvimento do raciocínio pertence a quem afirma.
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16 qui intendit. Sed quia videtur illic quoque 16. Contudo, àquele que nega parece obrigar o oponente a
necessitatem hos status exsequendi facere qui negat, assumir essas situações (pois, se ele disser 'não fiz', força o adversário a
(is enim si dicat, non fr•i, coget adversarium usar a conjetura; e se disser 'não tens a lei a teu favor', força-o a usar o
coniectura uti; et si dicat, non habes legem, silogismo) também necessariamente concedamos que a situação da causa
syllogismo) concedamus ex depulsione nasci statum. nasce da refutação. Pois de qualquer modo a questão voltará para aquele
Nihilominus enim res eo revertetur, ut modo is qui ponto, assim que ora aquele que promove, ora aquele que defende
agit, modo is 17 cum quo agitur, statum faciat. Sit estabeleça a situação da causa.
enim accusatoris intentio, Hominem occidisti. Si negat 17. Seja então a afirmação do acusador: 'Assassinaste um
reus, faciat statum qui negat. Quid si confitetur, sed homem'. Caso o réu negue, quem nega estabelece a situação da causa.
iure a se adulterum dicit occisum ? nempe legem esse Como fica se confessar, mas também declarar que ele matou um adúltero
certum est quae permittat. Nisi aliquid accusator segundo a lei? Realmente, é certo que existe uma lei que o permite. A não
respondet, nulla lis est. Non, fuit, inquit, adulter; ergo ser que o acusador interponha algo, não existe nenhum debate. Afirma-se:
depulsio incipit esse actoris, ille statum faciet. Ita erit 'Não cometi adultério'. Logo, a refutação começa a ser do acusador e ele
quidem status ex prima depulsione, sed ea fiet ab 18 determina a situação da causa. Desse modo, será de fato uma situação
accusatore non a reo. Quid ? quod eadem quaestio proveniente da primeira refutação, mas ela se faz pelo acusador, não pelo
potest eundem vel accusatorem facere vel reum : Qui réu.
artem ludicram exercuerit, in quattuordecim primis 18. Por quê? Porque a mesma questão pode ser apresentada
ordinibus ne sedeat ; qui se praetori in hortis tanto pelo acusador como pelo réu: Quem exercer a arte da comédia não
ostenderat neque erat productus, sedit in tome assento nas catorze primeirasfileiras 53. Alguém que se havia
quattuordecim 19 ordinibus. Nempe intentio est: apresentado a um pretor em seus jardins e não o fora em público sentou-se
Artem ludicram exercuisti; depulsio: Non exercui numa das catorze fileiras.
artem ludicram ; 19. Então, a acusação é: 'Exerceste a arte da comédia', e a
defesa: 'Não exerci a arte da comédia'.
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quaestio : Quid sit artem ludicram exercere? Si accusabitur Questão: 'O que seria exercer a arte da comédia?'. Caso seja acusado pela
theatrali lege, depulsio erit rei ; si excitatus fuerit de spectaculis et lei dos assentos no teatro, a defesa caberá ao réu; por outro lado, se tiver
aget iniuriarum, depulsio erit 20 accusatoris. Frequentius tamen sido expulso dos espetáculos e exigir indenização pelas injustiças sofridas,
illud accidet, quod est a pl urimis traditum. Eñgerunt has a defesa caberá ao acusador.
quaestiones qui dixerunt, statum esse id, quod appareat ex 20. Mais frequentemente, porém, é aceito aquilo que foi
intentione et depulsione, ut Fecisti, Non feci aut Recte 21 feci. legado pela maioria dos autores. Evitaram essas questões os que
Viderimus tamen, utrum id sit status an in eo status. Hermaooras afirmaram estar a situação da causa no que resulta da acusação e da
statum vocat, per quem subiecta res intelligatur et ad quem defesa, como 'fizeste', 'não fiz' ou 'fiz tudo corretamente'.
probationes etiam partium referantur. Nostra opinio semper haec 21. Mas vejamos se isso perfaz a situação da causa ou se nele
fuit: cum essent frequenter in causa diversi quaestionum status, in se pode encontrá-la. Hermágoras denomina situação da causa aquilo pelo
eo credere statum causae, quod esset in ea potentissimum et in qual se entenda o assunto proposto e com o qual se relacionem também as
quo maxime res verteretur. quis generalem quaestionem vel comprovaçóes das partes. Nossa opinião sempre foi esta: já que
caput generale dicere malet cum hoc mihi non erit pugna, non frequentemente há na causa condições diversas nas questões, é preciso
magis, quam si aliud adhuc, quo idem intelligatur, eius rei nomen considerar que a situação da causa está naquilo que nela é o mais
invenerit, quanquam tota volumina in hanc disputationem importante e para o qual a matéria convirja o máximo possível. Caso
impendisse multos sciam ; nobis statum dici 22 placet. Sed cum in alguém prefira chamar esse ponto de 'questão geral' ou 'pico (caput) geral,
aliis omnibus inter scriptores summa dissensio est, tum in hoc comigo isso não trará discussão, não mais do que se esse alguém até
praecipue videtur mihi studium quoque diversa tradcndi fuisse ; encontrar algo diferente e lhe der um nome, mas pelo qual se entenda a
adeo, nec qui sit numerus nec quae nomina nec qui generales mesma coisa, ainda que eu esteja ciente de que muitos dedicaram volumes
quive speciales sint status, convenit. inteiros a essa discussão. A nós é mais satisfatÓrio dizer status ('situação'
da causa).
22. Todavia, como existe entre os escritores suma divergência
em todos os outros pontos, especialmente neste parece-me ter sido preciso
um esforço para relacionar também essas posições diferentes; e isso a tal
ponto que não se chegou a um acordo sobre qual seja seu número, nem a
respeito de seus nomes, nem quais situações sejam gerais ou específicas.
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23 Ac primum Aristoteles elementa decem constituit, 23. Primeiramente, AristÓteles estabeleceu dez elementos, em
circa quae versari videatur omnis quaestio. OÔHav, torno dos quais toda questão parecer girar. A oi)Oíu ['usía'], que Plaut0 54
quam Plautus essentiam vocat, neque sane aliud est denomina essentia, 'essência', sem dúvida não tem um nome latino que lhe
eius nomen Latinum ; sed ea quaeritur, an sit. corresponda; por ela se pergunta pela existência. Depois enumera a
Qualitatem, cuius apertus intellectus est. Quantitatem, 'qualidade', cuja compreensão é evidente. Após, a 'quantidade', que foi
quae dupliciter a posterioribus divisa est, quam dividida em duas pelos pósteros: quão grande e quão numeroso o ser se
magnum et quam multum sit? Ad aliquid, 24 unde apresenta? Depois a relação a algo, de que foram deduzidas a
ducta est translatio et comparatio. Post haec Ubi et transferência e a comparação.
Quando ; deinde Facere, Pati, Habere, quod est quasi 24. Depois dessas, o 'onde' e o quando'; em seguida, o agir, o
armatum esse, vestitum esse. Novissime KâT0aL, suportar e o possuir, que especificam assim como estar armado ou estar
quod est compositum esse quodam modo, ut calere, vestido. Por último, Kfi090C155 ['kéisthai'], que significa estar disposto de
stare, irasci. Sed ex iis omnibus prima quattuor ad algum modo, como estar quente, estar em pé, estar com raiva. Todavia, os
status pertinere, cetera ad quosdam locos 25 quatro primeiros de todos esses elementos se relacionam com a situação
argumentorum videntur. Alii novem elementa da causa e alguns dos demais parecem entrar no âmbito dos argumentos.
posuerunt, Personam, in qua de animo, corpore, extra 25. Outros fixaram nove elementos: a Pessoa, na qual se
positis quaeratur, quod pertinere ad coniecturae et investiga a respeito do espírito, do corpo e de aspectos externos, que vejo
qualitatis instrumenta video. Tempus, quod xpdvov como pertencentes ao instrumental da conjetura e da qualidade. O Tempo,
vocant, ex quo quaestio, an is quem, dum addicta est, que eles dizem zpovç ['chrónos'], com que se questiona se alguém é
mater peperit, servus sit natus. Locum, unde escravo, quando nasceu por dívida por parte da mãe. O Lugar, a respeito
controversia videtur, an fas fuerit tyrannum in templo do qual surge controvérsia, por exemplo, se teria sido legal matar um
occidere. An exulaverit, qui domi latuit tirano dento de um templo, ou se
26 Tempus iterum, quod Katpóv appellant; hanc teria partido para o exílio aquele que se escondeu em casa.
autem videri volunt speciem illius temporis, ut 26. Novamente o Tempo, que expressam por 1<01tpÓv 56
aestatem ['kairón']; mas querem considerar esta espécie daquele tempo, como o do
verão
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vel hiemem ; huic subiicitur ille in pestilentia comis-ou do inverno; a essa espécie acrescenta-se o caso daquele que se banqueteava sator. Actum, id est arpa$tv,
quod eo referunt, sciensdesonestamente em período de peste. O ato, ou TtpÜ4g ['prácsis'], que relacommiserit an insciens ? necessit.ate an casu ? et
talia.cionam com o aspecto de 'teria cometido o ato com ou sem conhecimento? Numerum, qui cadit in speciem quantitatis, an Thra-Por necessidade
ou por acaso ?', e outros semelhantes. O Número, que se inclui sybulo triginta praemia debeantur, quia tot tyrannosna espécie quantidade', como, porventura seriam
devidos trinta prêmios a 27 sustulerit? Causam, cui plurimae subiacent lites,Trasíbu1057 por ter sido penalizado pelo mesmo número de tiranos ?'. quotiens
factum non negatur, sed quia iusta ratione27. A Causa, em que subjazem muitas disputas: sustenta-se todas as sit factum, defenditur. Tpdqrov, cum id, quod
aliovezes que o fato não é negado, mas foi feito por motivo justo. TpóTtov 58 ['trópon'], quando aquilo que convinha ter sido feito de uma maneira se modo fieri
licet, alio dicitur factum; hinc est adulter afirma ter sido feito de outra; nessa categoria estão os casos em que um adúlloris caesus vel fame necatus. Occasionem
factorum, tero é punido com açoites ou deve morrer de fome. A oportunidade dos quod est apertius, quam ut vel interpretandum velfeitos, que é por demais
evidente para precisar de interpretação ou comproexemplo sit demonstrandum, tamen d+opvàs Zp-yovvação por exemplos, mesmo denominada
épyov59 ['aformás érgon'] 28 vocant. Hi quoque nullam quaestionem extra haecem grego.
putant. Quidam detrahunt duas partes, numerum28. Esses autores não levam em conta nenhum outro item além dos et occasionem, et pro illo quod dixi
actum subiiciunt mencionados. Alguns eliminam duas partes, o número e a oportunidade; e res, id est qrpdnwara. Quae ne praeterisse viderer,no lugar daquilo que
denominei 'ato', dizem Ttpúygutoc ['prágmata'], ou seja, satis habui attingere. Ceterúm his nec status satis procedimentos'. Para não dar a impressão de que eu os
tivesse deixado de lado, ostendi nec omnes contineri locos credo, quod appa- achei suficiente mencioná-los. Ademais, não demonstrei suficientemente a rebit
diligentius legentibus, quae de utraque resituação da causa exposta por eles e não creio que contenham todos os itens, dicam. Erunt enim plura multo, quam quae
hiso que ficará claro para os que lerem com mais atenção o que direi desses dois elementis comprehenduntur.aspectos. Pois haverá detalhes muito mais
numerosos do que os abrangidos 29 Apud plures auctores legi, placuisse quibusdam,pelos elementos citados por eles.
unum omnino statum esse coniecturalem. Sed 29. Li em muitos autores que alguns retóricos preferiram afirmar a existência de apenas uma única situação e
essa conjetural. Todavia,
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quibus placuerit, neque illi tradiderunt neque ego 458
usquam reperire potui. Rationem tamen hanc secuti LlvR0
dicuntur, quod res omnis signis colligeretur. Quo
modo licet qualitatis quoque solum statum faciant, não consegui identificar os que adotaram essa preferência, nem o fizeram
quia ubique, qualis sit cuiusque rei natura, quaeri de algum modo os que os citaram. Dizem, porém, terem seguido o
potest. Sed utrocunque modo sequetur summa con30 raciocínio de que toda coisa é estabelecida por indícios. Sob esse prisma,
fusio. Neque interest, unum quis statum faciat an conviria que fizessem também da qualidade uma situação única, uma vez
nullum, si omnes causae sunt condicionis eiusdem. que sempre se pode inquirir qual seja a natureza de cada coisa. Mas, em
Coniectura dicta est a coniectu, id est directione qualquer dos dois casos, seguir-se-á enorme confusão.
quadam rationis ad veritatem, unde etiam somniorum 30. Também não vem ao caso alguém estabelecer apenas uma
atque ominum interpretes coniectores vocantur. situação ou mesmo nenhuma, se todas as causas forem da mesma natureza.
Appellatum tamen est hoc genus varie, sicut Conjetura é derivada de coniectus, 'lançamento conjunto', isto é, se faz por
sequentibus apparebit. determinada orientação da razão em direção à verdade; por isso são
31 Fuerunt, qui duos status facerent: Archedemus também chamados coniectores os intérpretes dos sonhos e de todos os
coniecturalem et finitivum, exclusa qualitate, quia sic de ea fatos. Contudo, esse gênero foi denominado de vários modos, como se
quaeri existimabat, quid esset iniquum, quid iniustum, quid verá com o que segue.
dicto audientem non esse ; 32 quod vocat de eodem et alio. 31. Os que estabeleceram duas situações da causa foram:
Huic diversa sententia eorum fuit, qui duos quidem status Arquedemos60 — a conjetural e a definitiva, com exclusão da qualidade,
esse voluerunt, sed unum infitialem, alterum iuridicialem. porque a respeito dela se deveria perguntar 'o que seria desonesto 'o que
Infitialis est, quem dicimus coniecturalem, cui ab infitiando seria injusto?', 'o que seria um desobediente da palavra?'. A isso chama
nomen alii in totum dederunt, alii in partem, quia identidade e diferença.
accusatorem coniectura, reum infitiatione uti puta33 verunt. 32. Uma doutrina diferente desse autor foi a daqueles que de
luridicialis est qui Graece dicitur ÔtKacoÀo7LKós. Sed fato admitiram haver duas situações das causas, mas uma negativa I e outra
quemadmodum ab Archedemo qualitas exclusa est, sic ab judicial. A causa negativa (fitialis) é a que consideramos conjetural, à qual
his repudiata finitio. Nam subii- uns deram esse nome, por inteiro, partindo de infiteor ('negar para
fraudar'), e outros apenas em parte, porque julgaram que o acusador usa de
conjetura e o réu, de negação (infitiatione).
33. Judicial é aquela que em grego se diz ÔtKUIOi071KÓÇ 62
['dikaiologhikós']. Entretanto, assim como a causa qualitativa foi excluída
por Arquedemos, do mesmo modo por estes foi rejeitada a definitiva.
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ciunt eam iuridiciali, quaerendumque arbitrantur Assim, eles a incluem na judicial e pensam que se deve investigar se é
iustumne sit, sacrilegium appellari quod obiiciatur 34 vel justo chamar sacrilégio, furto ou demência o fato apresentado contra o
furtum vel amentiam. Qua in opinione Pamphilus fuit, acusado.
sed qualitatem in plura partitus est ; plurimi deinceps, 34. Pânfi1063 foi adepto dessa opinião, mas dividiu a causa
mutatis tantum nominibus, in rem de qua constet, et in qualitativa em várias espécies; depois dele, grande número de autores, com
rem de qua non constet. Nam est verum nec aliter feri mudanças apenas dos nomes, distinguiram apenas os fatos em que a
potest, quarn ut aut certum sit factum esse quid aut non matéria se faz presente e aqueles em que há dúvida. Pois é verdadeiro, nem
sit ; si non est certum, coniectura sit, si certum est, reliqui pode ser de outro modo, que o fato seja algo certo ou não o seja; caso não
status. seja certo, que seja conjetura; se for certo, enquadra-se em alguma outra
35 Nam idem dicit Apollodorus, cum quaestionem aut in rebus situação de causa.
extra positis, quibus coniectura explicatur, aut in nostris 35. De fato, o mesmo diz Apolodoro, quando considera a
opinionibus existimat positaln, quorum illud hoc questão colocada ou nos fatos externos, que são explicados pela conjetura,
qr€pà ¿vvo[as vocat ; idem, qui d7rpÓÀ71TTov et rpoÀvrrtKÓv ou em nossos conceitos, denominando a primeira Itpuygutll<óv
dicunt, id est dubium et 36 praesumptum, quo significatur de ['pragmatikón', 'judicial'] e a segunda ItEPh àvvoíug ['perí enoias',
quo liquet. Idem Theodorus, qui de eo, An sit, et de 'referente ao pensamento']; do mesmo modo, os que dizem à1tpÓimttov
accidentibus ei quod esse constat, id est qr€pc oboóas Kai ['aprólepton'] e TtPOi11TtTIKÓV ['proleptikón'], isto é, 'duvidoso' e
ovpP€P71KÓTú.w, existimat quaeri. Nam in his omnibus prius 'presuntivo', devendo-se entender por esse último aquilo que é evidente.
cenus coniecturam habet, sequens reliqua. Sed haec reliqua 36. Também Teodoro pensa que se deve investigar sobre a
Apollodorus duo vult esse, qualitatem et de nomine, id est questão, se ela existe e o que consta em relação aos acidentes respectivos,
finitivam ; Theodorus, quid, quale, 37 quantum, ad aliquid. Sunt isto é, ItEP1 ODOíuç oogPePr1KÓT0)V64 ['perí usías kai symbebekóton'].
et qui de eodem et de alio modo qualitatem esse modo Ora, em todos esses, o primeiro gênero contém conjetura e os outros, os
finitionem velint. demais. Mas esses demais, Apolodoro ensina serem dois: a qualidade e o
referente ao nome, ou seja, uma situação definida; e Teodoro os divide em
quatro: existência, qualidade, quantidade e relação.
37. Há ainda autores que preferem relacionar as questões da
identidade e da diferença umas com a qualidade e outros com a definição.
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In duo et Posidonius dividit, vocem et resp In Posidônio 5 as divide em duas classes: a das palavras e a das coisas.
voce quaeri putat an significet, quid, quam multa, quo Quanto às palavras, pensa que se deve investigar se têm significado, o que
modo ? in rebus coniecturam, quod Kar s vocat, et de fato significam, quantos significados têm e como chegar ao sentido
qualitatem, et finitionem, cui nomen dat Kar' pretendido; quanto às coisas, requer a conjetura, que chama 1<011'
Zvvocav, et ad aliquid. Unde et illa divisio est, alia u'íoônotv ['kat'áisthesin'], isto é, 'inferência pela percepção', a qualidade, a
esse 38 scripta, alia inscripta. Celsus Cornelius duos definição, chamada por ele évvowv ['kat'énoian'], 'segundo o
et ipse fecit status generales, an sit? quale sit? Priori conhecimento' e a relação.
subiecit finitionem, quia aeque quaeratur an sit 38. Também Celso Cornélio estabelece duas situações gerais:
sacrilegus, qui nihil se sustulisse de templo dicit et A questão existe de fato? Qual sua natureza? Relacionou a definição com
qui privatam pecuniam confitetur sustulisse. a primeira, uma vez que, por exemplo, retamente se pergunta se é
Qualitatem in rem et scriptum dividit. Scripto sacrílego quem afirma não ter roubado nada do templo ou quem confessa
quattuor partes legales, exclusa translatione ; ter surripiado dinheiro de um particular. Divide a qualidade em 'fato' e 'lei
quantitatem et 39 mentis quaestionem coniecturae escrita'. Na lei escrita distingue quatro partes legais, com exclusão da
subiecit. Est etiam alia in duos dividendi status ratio, competência; relaciona a quantidade e a intenção com a conjetura.
quae docet, aut de substantia controversiam esse, aut 39. Há ainda outro método de dividir em duas as situações da
de qualitate ; ipsam porro qualitatem aut in summo causa, que ensina que a controvérsia se relaciona ou com a substância ou
genere con40 sistere aut in succedentibus. De com a qualidade; além disso, a qualidade se situa ou no gênero mais
substantia est coniectura. Quaestio enim tractatur rei, amplo ou em suas respectivas espécies.
an facta sit? an fiat? an futura sit? interdum etiam 40. A conjetura se refere à substância. Pois a questão versa
mentis ; idque melius, quam quod iis placuit, qui sobre o fato: Foi de fato concretizado? Talvez esteja sendo feito? Acaso
statum eundem facti nominaverunt, tanquam .de será feito). — verificando-se ainda a intenção. E esse método é melhor do
praeterito que o exposto pelos que denominaram a situação da causa a mesma do
fato, como se se perguntasse apenas a respeito do passado
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41 tantum et tantum de facto quaereretur. Pars 464
qualitatis, quae est de summo genere, raro in iudicium ou apenas do fato.
venit, quale est, idne sit honestum, quod vulgo 41. A parte da qualidade, que se situa no gênero mais geral,
laudatur; succedentium autem aliae de communi raramente chega ao tribunal: de que natureza é, se é honesto aquilo que é
appellatione, ut sitne sacrilegus, qui pecuniam louvado pelo povo. Outras questões dos aspectos especiais, porém, têm
privatam ex templo furatus est ; aut de re denominata, às vezes denominações comuns como: Seria um sacrílego quem roubou
ubi et factum esse certum est nec dubitatur, quid sit dinheiro de um particular num templo? Ou sobre um fato definido,
quod factum est. Cui subiacent omnes de honestis, 42 quando é certo e sem qualquer dúvida de ter sido praticado: qual sua
iustis, utilibus quaestiones. His etiam ceteri status natureza e o que realmente foi feito. Subjazem a isso todas as questões
contineri dicuntur, quia et quantitas modo ad sobre o que é honesto, justo e útil.
coniecturam referatur, ut maiorne sol quam terra ? 42. Afirma-se que essas situações da causa contêm ainda as
modo ad qualitatem, quanta poena quempiam demais, porque a quantidade é por vezes relacionada com a conjetura,
quantove praemio sit afici iustum ? et translatio como em 'O sol é maior que a terra?'. E outras vezes com a qualidade, por
versetur circa 43 qualitatem, et definitio pars sit exemplo, em 'Que grau de castigo ou de prêmio seria justo atribuir a
translationis ; quin et contrariae leges et ratiocinativus alguém?'. E a competência se relacione com a qualidade e a definição
status, id est syllogismos, et plerumque scripti et seja parte da competência.
voluntatis aequo nitantur (nisi quod hic tertius 43. Ainda mais, as leis contrárias, a situação raciocinativa"
aliquando coniec turam accipit, quid senserit legis da causa, isto é, o silogismo, ordinariamente se apoiam equilibradamente
constitutor) ; ambiguitatem vero semper coniectura na lei escrita e na intenção (a não ser que esta receba às vezes a conjetura
explicari necesse sit, quia, cum sit manifestum, como terceiro elemento, isto é, o que teria pretendido o legislador). A
verborum intellectum esse duplicem, de sola quaeritur ambiguidade, porém, deve necessariamente ser explicada pela conjetura,
voluntate. porque se pergunta somente pela intenção, uma vez que é evidente a
44 A pl urimis tres sunt facti generales status, quibus duplicidade de significado das palavras.
et Cicero in Oratore utitur, et omnia, quae aut in 44. Foram estabelecidas três situações gerais de causa por
controversiam aut in contentionem veniant, muitos autores, adotadas também por Cícero no Orator; e pensa que tudo
contineri quanto venha a causar controvérsia ou disputa nelas esteja incluído:
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INSTITUTIO ORATORIA — LIBER 111 'Existe de fato?', 'O que é?' e 'De que natureza é?'. Os nomes delas são tão
claros que não precisam ser mencionados.
45. Pátrocles67 pensa o mesmo. Também M. Antôni068 fixou
putat, Sitne? Quid sit? Quale sit? quorum nomina
as três situaçóes de causa com as seguintes palavras: 'Poucos são os
45 apertiora sunt, quam ut dicenda sint. Idem l
temas, dos quais todos os discursos se originam: feito ou não feito, com
Patrocles sentit. Tres fecit et M. Antonius his quidem
direito ou sem direito e bom ou mau'. Contudo, a ser pronunciado que
verbis : Paucae res sunt, quibus em rebus omnes
fizemos algo dentro do direito, isso não apresenta um significado apenas,
orationes nascuntur, factum non factum, ius iniuria,
assim segundo a lei, mas também aquele que nos faça parecer termos
bonum maluma Sed quoniam, quod iure dicimur
agido com justiça; os seguidores de António pretenderam distinguir de
fecisse, non hunc solum intellectum habet, ut lege,
modo mais acurado essas situações de causa. Por isso, falam de
sed illum quoque, ut iuste fecisse videamur, secuti
Antonium apertius voluerunt eosdem status conjectural, legal e judicial, os quais têm a adesão de Vergínio69
distinguere. Itaque dixerunt coniecturalem, legalem, 46. Depois estabeleceram espécies delas, assim que as legais
iuridicialem ; qui et 46 Verginio placent. Horum fossem alocadas sob a definição; e as espécies das outras leis contrárias,
deinde fecerunt species, ita ut legali subiicerent que seguem a lei escrita, as ditas dcvqvogíoü 0 ['antinomía'], que se
finitionem et alios, qui ex scripto ducuntur, legum norteiam pela letra da lei, pelo pensamento e pela intenção, que os gregos
contrariarum, quae dvrcvwt'a dicitur, et scripti et denominam respectivamente através das expressões KOCTà óntóv KUI
sententiae vel voluntatis, id est Kara Kai 8Ldvotav, et ô1úvowv71 ['katá rhetón kái diánoian']; e getÚRTlNJIV 72 ['metálepsin'],
perdÀ7NJLv, quam nos varie translativam, que nós denominamos 'transla-
transumptivam, transposi tivam vocamus, tiva', 'transumptiva' e 'transpositiva'; 00110710gÓv, o silogismo, para nós
cvÀX0YTPdv, quem accipimus ratiocinativum vel situação 'raciocinativa' ou 'concludente'; e a situação de ambiguidade —
collectivum, ambiguitatis, quae dB4LPoÀ{a para os gregos ['anfibologhía']. Enumerei-as, porque elas
nominatur; quos posui, quia et ipsi a plerisque status são chamadas 'situações' por muitos, ao passo que outros prefeririam
appellantur, cum quibusdam legales potius considerá-las questões legais'.
quaestiones eas dici placuerit. 47. Ateneu apresentou quatro: TtPOtPE71ttK11V otúotv 73
47 Quattuor fecit Athenaeus, rporp€TTLKàv vel ['protreptikén stásin'] ou Itupopgnttl<fiv ['parormetikén'], isto é,
arapoAL71TLKÓv, id est exhortativum, qui suasoriae exortativa, que é mais adequada a assuntos persuasórios; OI)VTEi1KfiV
est proprius; qua coniecturam significari ['syntelikén'], que mais parece significar 'conjetural', em vista do que se
maois ex his, quae sequuntur, quam ex ipso nomine segue, do que aquilo que o próprio
74.
nome sugere
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apparet ; ÓrraÀXaKTugv, ea finitio est, mutatione Ólt(Iii0CKTIKfiV ['hypalaktikén'], que é 'definitiva', porque consiste na
enim nominis constat; iuridicialem, eadem mudança do nome; a 'judicial', à qual dá a mesma denominação grega que
appellatione Graeca qua ceteri usus. Nam est, ut dixi, os outros autores. Realmente, existe muita diferença ente as
multa in 48 nominibus differentia. Sunt qui denominações, como afirmei.
ÓmaÀÀaKTLKÓv translationem esse existiment, 48. Há os que consideram a ÓltOCiÀüvKtlKTIV como sendo
secuti hanc mutationis significationem. Fecerunt alii situação 'translativa', segundo esse significado de 'mudança' do termo
totidem status, sed alios, An sit? Quid sit? Quale sit ? grego. Uns estabeleceram outras tantas situações, mas outros autores,
Quantum 49 sit? ut Caecilius et Theon. Aristoteles in como Cecílio e Téon76 determinaram outras: Existe de fato? O que é? De
rhetoricis, An sit, Quale, Quantum, et Quam multum que natureza é? Quão grande em importância?
sit ? quaerendum putat. Quodam tamen loco 49. Aristóteles, em Retórica, pensa que se deve investigar:
finitionis quoque vim intelligit, quo dicit quaedam Existe de fato ? Qual sua natureza? Qual sua importância? Qual sua
sic defendi, Susluli, sed non, furtum feci ; Percussi, extensão? Contudo, reconhece ainda a força da definição em certa
sed non iniuriam 50 feci. Posuerat et Cicero in libris passagem, em que afirma que determinados pontos são defendidos assim:
rhetoricis, facti, nominis, generis, actionis ; ut in 'Peguei o objeto, mas não cometi um furto', 'Bati, mas não pratiquei uma
facto coniectura, in nomine finitio, in genere qualitas, injustiça'.
in actione ius intelligeretur. luri subiecerat 50. Também Cícero havia assinalado em seus livros sobre
translationem. Verum hic legales quoque quaestiones retórica a situação (status) do fato, do nome, do gênero e da ação, de modo
alio loco tractat ut species actionis. que se compreendessem no fato a conjetura, no nome a definição, no
51 Fuerunt qui facerent quinque, coniecturam, gênero a natureza, e na ação o direito. Ao direito havia submetido a
finitionem, qualitatem, quantitatem, ad aliquid. competência. Em verdade, ele trata das questões legais também em outro
Theodorus quoque, ut dixi, iisdem generalibus tópico como espécies da ação.
capitibus utitur, An sit ? Quid sit? Quale sit? 51. Houve também os que estabeleceram cinco situações: a
Quantum sit ? Ad aliquid. Hoc ultimum maxime in conjetural, a definitiva, a qualitativa, a quantitativa e a relativa. Inclusive
comparativo genere versari putat, quoniam melius Teodoro, como já afirmei, emprega os mesmos pontos gerais de partida:
ac Existe de fato ? O que é? Qual sua natureza? Qual sua extensão? E a
relação. Considera que esse último ponto se relaciona especialmente com
o gênero comparativo, uma vez que não se compreendem o melhor
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peius, maius et minus nisi alio relata non intelligun52 52. Contudo, a relação inclui ainda aquelas questões
tur. Sed in illas quoque translativas, ut supra significavi, translativas, que indiquei acima: Teria este o direito de agir? Ou: Conviria
quaestiones incidit, An huic ius agendi sit ? vel, facere fazer algo? Porventura contra este? Mas contra este? Acaso nesse tempo?
aliquid conveniat? An contra hunc ? An hoc tempore? An Por que desse modo? — pois é necessário que tudo isso tenha um ponto de
sic? omnia enim ista referri 53 ad aliquid necesse est. Alii referência.
sex status putant, coniecturam, quam vocant, et qualitatem, 53. Outros enumeram seis situações: a conjetura, que chamam
et proprietatem, id est ZÔcdrva, quo verbo finitio YéVE01V77 ['génesin'], a qualidade, a particularidade, isto é,
ostenditur, et quantitatem, quam dsh'av dicunt, et ['idiÓteta'], palavra pela qual se dá a definição, a quantidade, dita (Zíüvv 79
comparationem, et translationem, cuius adhuc novam ['acsían'] por eles, a comparação e a competência (translatio), de que se
nomen inventum est ; novum, inquam, in statu, encontrou ainda uma nova designação gerúotuotg 80 ['metástasis']; digo
alioqui ab Hermagora inter species iuridiciales 54 usitatum. nova em relação à situação (status), porque o termo foi usado por
Aliis septem esse placuit; a quibus nec translatio ncc Hermágoras para indicar uma espécie entre as judiciais.
quantitas nec comparatio recepta est, sed in horum trium 54. Outros preferiram a existência de sete situações de causa,
locum subditae quattuor legales 55 adiectaeque tribus illis pelos quais não foram aceitas a competência (translatio), a quantidade e a
rationalibus. Alii pervenerunt usque ad octo, translatione ad comparação, mas no lugar dessas três acrescentaram quatro legais
septem superiores adiecta. A quibusdam dejnde divisa incorporadas àquelas três racionais.
ratio est, ut status rationales appellarent, quaestiones 55. Ainda outros chegaram até a oito, acrescentando a
(quemadmodum supra dixi) legales, ut in illis de re, in his competência às
de scripto quaereretur. Quidam in diversum hos status 56 sete mencionadas acima. Em seguida, a classificação foi dividida por
esse, illas quaestiones maluerunt. Sed alii rationales tres alguns, assim que chamaram as situações de racionais e de questões legais
putaverunt, An sit ? Quid sit? Quale sit ? Hermagoras solus (conforme expus acima), segundo se buscassem naquelas os fatos e nestas,
quattuor, coniecturam, proprietatem, translationem, a lei escrita.
qualitatem, quam per accidentia, 56. Outros, porém, julgaram racionais estas três: 'Existe de
fato ?', 'O que é?' e 'Qual sua natureza?'. Só Hermágoras enumera quatro:
conjetura, particularidade, competência e qualidade; esta última ele assim
a chama levando em conta os respectivos acidentes,
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e o pior, o mais e o menos, a não ser relacionados a alguma
coisa.
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471 Ttpuygut1KTIV81 ['pragmatikén'], em que se pergunta sobre as próprias
id est Karà cv/LP€PQKds, vocat, hac interpretatione, an illi accidat viro I)ono coisas sem relação com pessoas, como em 'Porventura é livre quem está
esse, vel malo. Hanc ita dividit, de appetendis et fugiendis, quae est pars 57 em processo de libertação ?'82. 'Riquezas originam a soberba?' 'Algo é
deliberativa; de persona, ea ostenditur laudativa ; negotialem, quam npa-ygaTLKÓv bom, é mau?' A espécie judicial, na qual se investigam mais ou menos as
vocat, in qua de rebus ipsis quaevitur, remoto personarum complexu, ut, Sitne liber mesmas coisas, mas relacionadas com pessoas certas: 'Teria ele feito isso
qui est in assertione, an divitiae superbiam pariant, an iustum quid, an bonum sit. bem ou de modo justo ?'.
luridicialem, in qua fere eadem sed certis destinatisque personis quaerantur : an ille 58. Não desconheço que, no livro primeiro de sua Retórica de
iuste hoc fecerit, 58 vel bene. Nec me fal)it, in pri1T10 Ciceronis rhetorico aliam Cícero, se encontra outra interpretação na negociativa, uma vez que assim
esse loci negotialis interpretationem, cum ita scriptum sit : Neootialis est, in qua, está escrito: 'Negociativa é aquela em que se considera o que seja de
quid iuris ex civili more et aequita.le sit, consideratur; cui diligentiae 59 praeesse direito conforme o direito civil e a equidade; julga-se que, entre nós, cabe
apud nos iurisconsulli existimantur. Sed quod ipsius de his libris iudicium fuerit, aos jurisconsultos presidir a esses exames'.
supra dixi. Sunt enim velut regestae in hos commentarios, quos adolescens 59. Entretanto, mencionei acima qual foi o julgamento feito
deduxerat, scholae, et si qua est in his culpa, tradentis est, sive eum movit id, quod por ele mesmo sobre esses livros. Pois são como lições transcritas para
Hermagoras prima in hoc loco posuit exempla ex quaestionibus iuris, sive quod essas notas, que resumira quando jovem; e se há nelas alguma falha, deve
Graeci qrpaypa-rucoàs vocant iuris in60 terpretes. Sed Cicero quidem his ser atribuída àquele que ensinava, quer tenha sido motivado pelo fato de
pulcherrimos illos que Hermágoras colocou, a respeito desse ponto, os primeiros exemplos
extraídos de questões de direito, quer porque os gregos denominam
Itpoqgut1KOÓç ['pragmatikús'] os intérpretes do direito.
60. Todavia, Cícero de fato substituiu essas lições pelos magníficos
livros
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de seus erros para que os pósteros não errassem. Também M. Túlio não teve errores suos, ne posteri errarent, confessus
est ; etdúvida em condenar, ele mesmo, em outros livros escritos posteriormente, M. Tullius non dubitavit aliquos iam editos libros
aliis postea scriptis il)se damnare, sicut Catulumalguns daqueles já publicados, como Catulo e Lúcu1084 e esses mesmos da arte atque
Lucullum et hos ipsos, de quibus modo sumretórica, de que falei há pouco.
65 locutus, artis rhetoricae. Etenim supervacuus foret,65. Seria, porém, totalmente inútil uma prolongada dedicação aos estuin studiis longior
labor, si nihil liceret melius inveniredos, se nada de melhor do que fizeram os antepassados fosse possível encontrar. praeteritis. Neque
tarnen quidquam ex iis, quaeMas nada do que então ensinei foi inútil, pois os pontos que agora vou fixar tum praecepi, supervacuum
fuit; ad easdem enimse referirão àquelas mesmas pequenas partes; desse modo, ninguém se arreparticulas haec quoque, quae nune
praecipiam, re-penderá de ter estudado e tento apenas reunir e reordenar essas mesmas pevertentur ; ita neminem didicisse poeniteat,
colligerequenas partes de uma maneira mais convincente. Quero, porém, dar satisfação tantum eadem ac disponere paulo
significantius conor,a todos e não mostrar aos outros essa parte com mais persuasão do que eu Omnibus autem satisfactum volo, non me
hoc seriusmesmo me tiver persuadido.
66 demonstrare aliis, quam mihi ipse persuaserim. Se-66. Seguindo a maioria dos autores, eu sustentava as três situações cundum plurimos
auctores servabam tris rationales status, _ coniecturam, qualitatem, finitionem, unumracionais: a conjetural, a qualitativa e a
definitiva, e uma legal. Para mim legalem. Hi mihi status generales erant. Legalemessas eram as situações gerais. A legal eu a dividia
em cinco espécies: da lei in quinque species partiebar, scripti et voluntatis,escrita e da intenção, das leis contrárias, do silogismo
concludente, da ambilegum contrariarum, collectivum, ambiguitatis, trans- guidade e da competência.
67 lationis. Nunc quartum ex generalibus intelligo67. Agora entendo que a quarta das situações gerais pode ser suprimida, posse removeri
; sufhcit enim prima divisio, quapois a primeira divisão é suficiente; dissemos então haver umas racionais e diximus alios rationales,
alios legales esse ; ita nonoutras legais; assim não será uma situação de causa, mas um gênero de questão; erit status, sed quaestionum
genus ; alioqui et ratio-caso assim não fosse, seria uma situação racional.
68 nalis status esset, Ex iis etiam, quos speciales68. Também dentre aquelas que eu denominava especiais, removi a com-
vocabam, removi translationem, frequenter quidempetência (translatio); frequentemente, de fato (como todos os que seguiram
(sicut omnes qui me secuti sunt meminisse possunt) meus cursos podem se lembrar), testemunhei, também naqueles mesmos
testatus et in ipsis etiam illis sermonibus me
nolente
discursos publicados
sem meu
consentimento,
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vulgatis hoc tamen complexus, vix in ulla 478
ter assumido essa posição de que dificilmente se possa encontrar a
controversia translationis statum posse reperiri, ut non
situação de competência em alguma controvérsia, tanto que parece não ser
et alius in eadem recte dici videretur, ideoque a qui69 correto nomear uma situação de causa, caso se possa relacioná-la com
busdam eum exclusum. Neque ignoro multa transferri, alguma outra. Por isso, foi excluída por alguns autores.
cum in omnibug fere causis, in quibus cecidisse quis 69. Também não desconheço que surgiram muitas questões
formula dicitur, hae sint quaestiones, an huic, an cum relativas à competência, uma vez que em quase todas as causas, em que
alguém afirma tê-las perdido devido a alguma formalidade, as questões
hoc, an hac lege, an apud hunc, an hoc tem70 pore
seriam: Acaso este alguém pode mover uma ação, por este argumento,
liceat agere ? et si qua sunt talia. Sed personae, através da presente lei, perante este tribunal e nesta data?, e outras tais
tempora, actiones ceteraque propter aliquam causam como essas.
transferuntur; ita non est in translatione quaestio sed in 70. Todavia, pessoas, épocas, processos e outros casos têm
eo, propter quod transferuntur: Non debes apud sua competência transferida por alguma razão; assim, o problema não está
na competência, mas no motivo pelo qual ela é feita: 'Não deves solicitar
praetorem petere 'dei commissum, sed apud consules,
o fideicomisso 5 ao pretor, mas aos cônsules, pois a soma é maior que a
maior enim praetoria cognitione summa est. atribuição dada ao pretor'. Ao se perguntar se a soma é maior, trata-se de
Quaeritur, an maior summa sit, facti controversia 71 controvérsia do fato.
est. Non licet tibi agere mecum, cognitor enim feri non 71. 'Não tens o direito de mover açáo contra mim, pois não
potuisti : iudicatio, an potuerit. Non debuisli pudeste tornar-te conhecedor da causa.' E uma deliberação, perguntando
se é possível. 'Não devias interpor uma interdição, e sim uma solicitação',
interdicere sed petere : an recte interdictum sit,
contesta-se se a
ambigitur, 72 Quae omnia succedunt legitimis interdição foi corretamente decretada.
quaestionibus. An non praescriptiones (etiam in quibus 72. Todos esses questionamentos ocorrem em questões legais.
maxime videtur manifesta translatio) easdem omnes Mesmo se os preceitos (também aqueles em que a competência parece
species habent, extremamente clara) não têm as mesmas espécies
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quas eae leges, quibus agitur, ut aut de nomine aut que as leis com as quais se trabalha, pergunta-se pelo nome ou pela lei
scripto et sententia vel ratiocinatione quaeratur ? Deinde escrita e pela sentença ou pelo raciocinativo ? Depois a situação da causa
status ex quaestione oritur; translatio non habet se origina da questão; a competência não apresenta uma questão com a
quaestionem, de qua contendit orator, sed 73 propter qual o orador trabalhe, mas por causa da qual ele está trabalhando.
quam contendi t. Hoc apertius, Occidisli hominem, Non 73. Esse ponto de modo mais claro: 'Mataste um homem' —
occidi; quaestio, an occiderit, status coniectura. Non est 'Não matei': a questão está em se matou ou não e a situação da causa entra
tale, Habeo ius actionis, Non habes, ut sit quaestio, an no âmbito da conjetura. Diferente é 'Tenho o direito da ação' — 'Não o
habeat, et inde status. Accipiat enim actionem necne, ad tens', assim que a questão consiste em se 'tem ou não' e daí a consequente
eventum pertinet, non ad causam, et ad id, quod situação de causa. Pois, aceite ou não a ação, isso diz respeito ao evento,
pronuntiat iudex, non 74 id, propter quod pronuntiat, não à causa, e ao que o juiz sentencia, não àquilo por causa do qual
Hoc illi simile est, Puniendus es, Non sum ; videbit sentencia.
iudex, an puniendus site Sed non hic erit quaestio nec hic 74. Isso é semelhante àquele 'Deves ser punido' — 'Não devo';
status. Ubi ergo ? Puniendus es, hominem occidisti; o juiz decidirá se deve ser punido. Contudo, no caso não haverá nem
Non occidi : An occiderit, Honorandus sum, Non es ; questão nem situação de causa. Onde então colocar o problema? 'Deves
num statum habet? non, ut puto. Honorandus sum, quia ser punido: mataste um homem' — 'Não matei', a questão é se de fato
tyrannum 75 occidi; Non occidisti ; quaestio et status. matou. 'Devo ser homenageado' — 'Não mereces'; haveria situação de
Similiter, Non recte agis, necte ago non habet statum. causa? Não, segundo penso. 'Mereço ser homenageado porque matei um
Ubi est ergo? Non recte agis ignominiosus. Quaeritur, an tirano' — 'Não mataste': há questão e situação de causa.
75. De modo semelhante, em 'Não ages corretamente' — 'Ajo
corretamente', a situação de causa não existe. Então onde ela existe?
Pergunta-se se
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trata de alguém privado dos direitos civis, ou se é permitido a um privado
de seus direitos civis promover uma causa: nesse caso há questões e
ignominiosus sit; aut, an agere ignominioso liceat ;
situação de causa. Portanto, existe um gênero de causa baseado na
quaestiones et status. Ergo translativum genus 76
competência, como o com base na comparação e na acusação recíproca.
causae ut comparativum et mutuae accusationis. At
enim simile est illi Habeo ius, Non habes," Occidisti, 76. Ao menos, porém, é semelhante àqueles 'Tenho o direito'
Recte occidi," Non nego, sed nec haec res statum facit. — 'Não o tens'; 'Mataste' — 'Matei dentro da lei'. Não nego, mas nem
Non enim sunt h ae propositiones (alioqui causa non esses casos fundamentam uma situação de causa. Pois essas isoladas não
explicabitur), sed, cum suis rationibus. Scelus perfazem proposições (de outro modo a causa não seria clara), é preciso
commisit Horatius, sororem enim occid.it. Non juntar seus motivos. 'Horácio cometeu um crime, pois matou a irmã' —
commisit, debuit en¿m occidere eam, quae hostis 'Não cometeu um crime, pois teve de matá-la porque deplorava a morte do
mortem maerebat. Quaestio, an haec iusta causa; ita inimigo.' Pergunta-se se essa causa é justa e a situação é a de qualidade.
qua77 litas. Et similiter in translatione, Non habes ius 77. E de modo semelhante em relação à competência: 'Não
abdicandi, quia ignominioso non est actio. Habeo ius, tens o direito de renunciar, porque não se trata de ação própria de quem foi
quia abdicatio actio non est. Quaeritur» quid sit actio : privado dos direitos civis' — 'Tenho o direito, porque a renúncia não é
finiemus Non licet abdicare filium syllogismo. Item uma ação legal'. Pergunta-se o que seja uma ação legal: definiremos por
cetera per omnes et rationales et legales status. silogismo 'Não é lícito não reconhecer o filho'. Da mesma forma, os
78 Nec ignoro fuisse quosdam, qui translationem in demais casos são vistos por meio das situações de causa tanto racionais
rationali quoque genere ponerent hoc modo, como legais.
Hominem occidi, iussus ab imperatorc. Dona templi 78. Não desconheço que houve alguns que incluíram a
cogenti tyranno dedi. Deserui competência no gênero racional, dizendo: 'Matei um homem por ordem do
tempeslatibus,/uminibus, valetudine impeditus. Id est, comandante — 'Entreguei os donativos do templo ao tirano que me
non per me stetit, sed per illud. obrigou a fazê-lo' — 'Desertei forçado pelas tempestades, pelos rios e pelo
79 A quibus etiam liberius dissentio. Non enim actio estado de saúde'. Isto é, não o fiz por mim mesmo, mas por outro motivo.
transfertur sed causa facti, quod accidit paene in omni 79. Discordo desses mais amplamente. De fato, não se
transfere a ação, mas a causa do fato, o que ocorre em quase toda
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defesa. Depois, quem usa esse tipo de defesa não deixa de lado a forma da
- qualidade, pois diz que não lhe cabe a culpa. Assim, é preciso distinguir
dois tipos de qualidade: um em que se defendem o réu e o fato e outro em
defensione. Deinde is, qui tali utitur patrocinio, non
que se defende apenas o réu.
recedit a forma qualitatis, dic.it enim, se culpa
76. Por isso deve-se dar crédito àqueles — cuja doutrina foi
vacare ; ut magis qualitatis duplex ratio facienda sit,
assumida por Cícero — que afirmam haver três itens, investigados em
altera qua et factum defenditur, altera qua tantum
reus. toda discussão: Existe de fato? O que é? Qual sua natureza? — itens esses
80 Credendum est igitur his, quorum auctoritatem que a própria natureza nos prescreve. Realmente, em primeiro lugar, é
secutus est Cicero, tria esse, quae in omni necessário haver algo sobre o qual se discute, porque 'o que' e 'de que
disputatione quaerantur, an sit, quid sit, quale sit? natureza seja' não podem ser avaliados a não ser depois de determinada
quod ipsa nobis etiam natura praescribit. Nam sua existência: daí a primeira questão.
primum oportet subesse aliquid, de quo ambigitur; 77. Todavia, o fato de ser evidente o existir de algo não faz
quod, quid sit et quale sit, certe non potest aestimari, surgir imediatamente também 'o que seja'. Estabelecido inclusive esse
nisi prius esse constiterit, ideoque ea prima quaestio. item, subsiste a qualidade última; elucidados esses itens, não restam outras
questões. Essas três situações de causa abrangem tanto as questões
81 Sed non statim, quod esse manifestum est, etiam quid indeterminadas como as determinadas; dessas, uma ou outra é tratada de
sit, apparet. Hoc quoque constituto novissima qualitas alguma maneira em matéria demonstrativa, deliberativa e judicial.
superest, neque his exploratis aliud est ultra. His 78. Essas, por sua vez, abrangem as causas judiciais, tanto na
infinitae quaestiones, his finitae continentur ; horum parte racional como na legal. De fato, nenhum julgamento do direito pode
aliqua in demonstrativa, deliberativa, iudiciali 82 ser explicado a não ser pela definição, pela qualidade e pela conjetura.
materia utique tractatur. Haec rursus iudiciales causas 79. Contudo, não será inútil para quem instrui os que não
et rationali parte et legali continent ; neque enim ulla conhecem retórica adotar primeiramente um método ligeiramente menos
iuris disceptatio nisi finitione, qualitate, 83 coniectura rígido: caso não se siga de imediato uma linha bem reta, o caminho será,
potest explicari. Sed instituentibus rudes non erit porém, mais
inutilis latius primo fusa ratio et, si non statim fácil e mais aberto. Portanto, que aprendam antes de tudo existirem quatro
rectissima linea tensa, facilior tamen et apertior via.
Discant igitur ante omnia quadripertitam
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meios, em todas as causas, os quais devem ser levados em conta, antes de tudo, in omnibus causis esse rationem, quam primam in-por aquele que vai agir em
um processo. Em verdade, para começar especialtueri debeat qui acturus est. Nam, ut a defensoremente pelo defensor, o meio de longe mais vigoroso de se
defender consiste potissimum incipiam, longe fortissima tuendi se ratioem poder negar aquilo de que se acusa; no seguinte, afirma-se não ter sido est, si quod
obiicitur negari potest ; proxima, si nonfeito aquilo de que se é acusado; o terceiro, absolutamente o mais honroso, é id, quod obiicitur, faclturn esse dicitur;
tertia hones-aquele pelo qual se defende que o fato foi feito de modo correto. Se nos faltissima, qua recte fáctum defenditur. Quibus sitarem os citados,
resta-nos a Única salvação, realmente a última, de escapar do deficiamur, ultima quidem sed iam sola superestcrime: alguma ajuda do direito, que não se possa
negar nem defender, de modo salus aliquo iuris adiutorio elabendi ex crimine, quodque a ação não pareça ter sido movida conforme o direito.
neque negari neque defendi potest, ut non videatur84. Daqui surgem as questões seja sobre açóes legais seja sobre compe84 iure actio intendi. Hinc illae
quaestiones sivetência. Pois há algumas não elogiáveis não concedidas pela natureza, mas pelo actiones sive translationes. Sunt enim quaedamdireito, como nas
86
Leis das Doze Tábuas , em que se permitiu dividir o corpo non laudabilia non natura sed iure concessa, ut indo devedor entre os credores; e algo justo, mas
proibido pelo direito, como a liberdade dos testamentos.
XII tabulis debitoris corpus inter creditores dividi85. O acusador não precisa ter em mente muitas coisas, mas apenas que licuit, quam legem mos publicus
repudiavit; etprove o fato ter sido praticado, que se trata deste fato em questão, que não foi aliquid aequum sed prohibitum iure, ut libertas tes-praticado
segundo a lei e que ele move o processo conforme o direito. Assim, 85 tamentorum. Accusatori nihilo plura intuenda sunt,cada uma se relacionará com as
espécies, apenas alterando por vezes a sequência ut probet factum esse, hoc esse factum, non rectedas partes, como nas causas, cujo objetivo é uma recompensa,
em que o imfactum, iure se intendere. Ita circa species easdempetrante prova o fato.
lis omnis versabitur translatis tantum aliquando par-86. Essas quatro como que proposições e formas de ação, que eu então tibus, ut in causis, quibus de
praemio agitur, rectedenominava situações gerais de causa, se dividem em dois (conforme factum petitor probat.
86 Haec quattuor velut proposita formaeque actionis, quae tum generales status vocabam, in duo (ut
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ostendi) genera discedunt rationale et legale. Ra-mostrei) gêneros: o racional e o legal. O racional é mais simples, porque tionale simplicius est, quia
ipsius tantunl naturaeconsiste apenas na verificação de sua própria natureza. Em vista disso, é suficontemplatione constat. I taque in eo satis est os-
ciente ter mostrado a conjetura, a definição e a qualidade.
87 tendisse coniecturam, finitionem, qualitatem. Lega-87. Em relação às legais, é necessário haver muitas espécies, uma vez que lium plures sint species
necesse est, propterea quodas leis são muitas e apresentam várias formas. Uma espécie é aquela em que multae sunt leges et varias habent formas. Alia estnos
apoiamos nos termos da lei; outra, em sua intenção; ainda de outras cuius verbis nitimur, alia cuius voluntate, alias nobis,lançamos mão, quando não temos
alguma adequada ao caso; outras as comcum ipsi nullam habeamus, adiungimus, alias inter separamos entre si e a outras damos uma nova interpretação.
88 comparamus, alias in diversum interpretamur. Sic88. Assim nascem estas como que representações daquelas três, ora nascuntur haec velut simulacra ex illis
tribus, interimsimples, ora mistas, mas demonstrando aparência própria, tais como da lei siluplicia, interim et mixta, propriam tamen faciemescrita e da
intenção, que certamente são abrangidas pela qualidade ou pela ostendent.ia, ut scripti et voluntatis, quae sine dubioconjetura; e também o
oolioytogoç, que se liga sobretudo com a qualidade; aut qualitate aut coniectura continetur, et syllogis-e as leis contrárias, que apresentam os mesmos
elementos que a lei escrita e a mos, qui est maxime qualitatis, et leges contrariae,intenção; e a àg01Poiíoc, que é sempre explicada pela conjetura.
quae iisdern, quibus scriptum et voluntas, constant,89. Também a definição é comum aos dois gêneros, um relacionado com
89 que et Finitio àP(hLPoÀóa, scripti quoque contemplatione utrique quae semper generi, constat, coniectura quodque communis rerum explicatur.quod-est.que
a análise revertam dos fatos para aquelas e outro três com situações a da lei escrita. de causa, Todos contudo, esses gêneros, porque (comoainda
Haec omnia, etiamsi in illos tres status veniunt,disse) têm algo de característico, parece que devem ser mostrados aos alunos tamen, quia (ut dixi)
habent aliquid velut proprium,e também consentir que sejam consideradas situações legais de causa ou quesvidentur demonstranda diseentibus, et
permittendumtóes ou determinados princípios menores, conquanto saibam que nada há ea dicere vel status legales vel quaestiones vel capitapara procurar, nisso
também, além dos três gêneros citados há pouco.
quaedam minora, dum sciant, nihil ne in his quidem90. Mas em referência à quantidade, ao número, à relação e, como
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eodem iure ut proximitatis vel diverso, ut cum hic no mesmo direito, como por parentesco ou em um direito diferente, como um por testamento e outro por
parentesco. Toda vez, porém, que se propuser testamento, ille proximitate nitetur. Quotiens aos solicitantes algo a um e algo diferente a outro, é necessário que as
situações autem aliud alii petitori opponitur, dissimiles esse de causa sejam diversas, como se observa naquela conhecida controvérsia:
96 status necesse est, ut in illa controversia: Testamenla 96. 'Os testamentos feitos segundo as leis devem ser ratificados. Sejam legibus facta rata sint. Inteslatorum
parenliu.m liberi herdeiros os filhos dos pais testamentários. O deserdado nada receba dos bens do pai. Seja considerado legítimo o ilegítimo nascido antes do
legítimo; o heredes sint. Abdicatus ne quid de bonis patris capim, nascido depois do legítimo deve ser considerado apenas um cidadão. Seja Nothus ante legitimum
natus legitônus filius sit, post legal doar um filho para adoçáo. É permitido ao doado para adoção voltar legitimum natus Ian civis. In adoplionem dare liceal. para a
família, se o pai natural vier a falecer sem outros filhos.
97. Alguém tinha doado para adoção um de seus dois filhos e deserdado
In adoptionem dato redire in familiam liceat, si paler o outro; depois adotou um ilegítimo e faleceu depois de ter instituído como 97 naturalis sine liberis decesserit.
Qa em duobus legiti- herdeiro o filho que havia deserdado. Todos os três lutam pelos bens'. Os mis alteram in adoptionem dederat, alteram abdica- gregos chamam
vó90v87 ['nóthon'] o que não é legítimo; não temos uma oerat, suslulit no/hum ; instituto herede abdicalo palavra latina para isso, como já Catão afirmou em
determinado discurso, e
por isso empregamos o termo estrangeiro.
decessit. Tres onzncs de bonis contendunt. No- 98. Mas voltemos ao assunto. A lei é contrária ao herdeiro pelo testa thum, qui non sit legitimus, Graeci vocant ;
Latinum mento: 'O deserdado nada receba dos bens do pai'. Coloca-se a situação de rei nornen, ut Cato quoque in oratione quadam tes-causa da lei escrita e
da intenção: se de forma alguma pode receber a herança, seja por vontade do pai, seja como herdeiro pelo testamento escrito. Em retatus est, non habemus
ideoque utimur peregrino.lação ao ilegítimo, a questão é dupla, porque nasceu depois dos legítimos
98 Sed ad propositum. Heredi scripto opponitur lex, Abdicatus ne quid de bonis patris capiat; fit status scripti et voluntatis, an ullo modo capere
possit, an ex vol untate patris, an heres scriptus. Notho duplex fit quaestio, quod post legitimos natus sit et
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99 quod non sit ante legitimum natus. Prior syllogismon e porque não nasceu antes do legítimo.
habet, an pro non natis sint habenài, qui a familia 99. A primeira questão contém um silogismo: se devem ser considerasunt alienati. Altera et scripti et voluntatis.
Non dos como não nascidos os que foram desligados da família. A segunda diz esse enim hunc natum ante legitimum convenit, sed respeito à lei escrita e à intenção.
Ora, convenciona-se que o ilegítimo não voluntate legis se tuebitur, quam dicet talem fuisse, nasceu antes de qualquer legítimo, mas ele protegerá com a intenção da
lei, ut legitimus esset nothus tunc natus, cum alius legi- afirmando que essa lei foi expressa de tal modo que o ilegítimo nasceu le-
gítimo, porque não havia outro legítimo na casa.
100 timus in domo non esset. Scriptum quoque legis 100. Excluirá também a letra da lei, dizendo, não de modo absoluto, que excludet dicens, non utique, si postea
legitimus se prejudica o ilegítimo caso posteriormente não nascer um legítimo. E se natus non sit, notho nocere ; uteturque hoc argu- usará este argumento: 'Imagina
que só nasceu um ilegítimo: em que condição mento : Finge solum natum nothum, cuius condicionis ficará? Apenas um cidadão ? Também não teria nascido depois
de um legítimo. erit? Tantum civis ? alqui non erit post legittmum Seria filho? E não teria nascido antes dos legítimos. Em vista disso, se ele não natus. An Jflius?
atqui non erit ante legitimos natus. puder ser mantido pela letra da lei, deve sê-lo pela intenção'.
Quare SÉ verbis legis stari non potest, voluntate standum 101. Que ninguém se perturbe pelo fato de que de uma só lei se origi101 est. Nec quemquam turbet, quod ex
una lege duo nem duas situações de causa; é dupla e por isso tem a força de duas. Ao que status fiant; duplex est, ita vim duarum habet, quiser voltar para a família diz
primeiramente o outro: 'Para que te seja Redire in familiam volenti dicitur ab altero primum, permitido voltar para a família, a condição é que eu seja o herdeiro'. Na
Ut tibi redire liceal, heres sum. Idem status, qui in mesma situação de causa estão os deserdados aos quais foi negado o pedido petitione abdicati ; quaeritur enim, an
possit esse de inclusão; pois se questiona se um deserdado pode ser herdeiro. a duobus, 102. Comumente se objeta a ambos: 'Não te é permitido voltar à famí102 heres
abdicatus. Obiicitur communiter lia, pois o pai não faleceu sem filhos. Contudo, nesse ponto cada um deles Redire tibi in familiam non licet, non enim pater sineapoiará
seu próprio questionamento. Assim, um dirá que o deserdado liberis decessit. Sed in hoc propria quisque eorum quaestione nitetur. Alter enim dicet abdicatum
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VII. l. De preferência, começarei pelo gênero de causas que versam VII. Ac potíssimum incipiam ab ea, quae constatsobre o louvor e a repreensão.
Parece que Aristóteles e também Teofrasto, laude ac vituperatione. Quod genus videtur Aris-seguindo a posição daquele, removeu este gênero da parte prática da
oratória, toteles atque eum secutus Theophrastus a parteisto é, a chamada TtP00/k101t11<fi ['pragmatiké'], e a deixasse totalmente negotiali, hoc est
removisse totamque para o prazer dos ouvintes, o que é próprio do nome, pois se relaciona com ad solos auditores relegasse, et id eius nominis, quod ostentação.
2 ab ostentatione ducitur, proprium est. Sed mos 2. Todavia, o costume romano transferiu essa função também para as Romanus etiam negotiis hoc munus inseruit. Nam
atividades comuns. Pois até os elogios fúnebres dependem com frequência de et funebres laudationes pendent frequenter ex aliquo algum cargo público e muitas vezes
são ordenados aos magistrados por um publico oficio atque ex senatus consulto magistra- senatus consulto; louvar a testemunha ou, ao contrário, censurá-la fazem
tibus saepe mandantur, et laudare testem vel contra parte importante dos julgamentos. E é permitido fornecer panegiristas até pertinet ad momentum iudiciorum, et
ipsis etiam aos próprios réus. Os livros publicados de Cícero Contra os Competidores, reis dare laudatores licet, et editi in Competitores, in
Contra L. Pisão e Contra Clodio e Curiá088 contêm repreensão e foram,
conL. Pisonem, in Clodium et Curionem libri vituperatudo, pronunciados no senado no lugar de um voto. tionem continent et tamen in Senatu loco sunt
3 habiti sententiae. Neque infitias eo, quasdam esse 3. Nem a negação neste gênero, em que foram compostas algumas maex hoc genere materias ad solam compositas
ostenta- térias com o objetivo único de ostentação, como os encómios dos deuses e tionem, ut laudes deorum virorumque, quos priora de homens famosos, que épocas
passadas nos legaram. Com isso fica soluciotempora tulerunt. Quo solvitur quaestio supra nada a questão tratada um pouco acima, de que evidentemente estão errados
tractata, manifestumque est errare eos, qui nunquam os que julgaram que o orador nunca se deveria pronunciar a não ser sobre 4 oratorem dicturum nisi de re dubia
putaverunt. Ali assuntos duvidosos.
laudes Capitolini Iovis, perpetua sacri certaminis 4. Porventura os louvores de Júpiter Capitolino, matéria imorredoura materia, vel dubiae sunt vel non oratorio genere
de um certame sagrad089, podem ser postos em dúvida ou não são tratados no tractantur ? gênero oratÓrio? Mas como o louvor aplicado às atividades comuns requer
uma prova, do mesmo modo o louvor composto para ostentação tem por vezes algum tipo de comprovação.
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Ut desiderat autem laus, quae negotiis adhibetur, Quae materia praecipue quidem in deos et homines cadit, est
probationem, sic etiam illa, quae ostentationi tamen et aliorum animalium, etiam caren7 tium anima. Verum in
componitur, habet interim aliquam speciem deis oeneraliter primum maiestatem ipsius eorum naturae
probationis ; 5 ut qui Romulum Mar tis filium venerabimur, deinde proprie vim cuiusque et inventa, quae utile 8
educatumque a lupa dicat, in argumentum caelestis aliquid hominibus attulerint. Vis ostenditur, ut in Iove regendorum
ortus utatur his, quod abiectus in profluentem non omnium, in Marte belli, in Neptuno maris ; inventa, ut artium in
potuerit exstingui, quod omnia sic egerit, ut genitum Minerva, Mercurio litterarum, medicinae Apolline, Cerere frugum,
praeside bellorum deo incredibile non esset, quod Li-
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verborum, ut Homerus in Aga- com a honra das palavras, como Homero em relação a Agamêmnon e Aquiles, prosequimur honore et interim
confert admira- e outras vezes a fragilidade também desperta muita admiração, como quando memnone atque Achille, diz inclusive que Tideu 96 era pequeno mas bom
guerreiro. tioni multum etiam infirmitas, ut cúm idem Tydea
13 parvum sed bellatorem dicit fuisse. Fortuna vero 13. A sorte ainda acrescenta dignidade assim aos reis e príncipes (de fato tum dignitatem adfert, ut in regibus
principibusque esta matéria é mais fértil em demonstrar virtude) e quanto menores tiverem (namque est haec materia ostendendae virtutis sido os recursos,
proporciona maior glória às açóes corretas. Todavia, tudo uberior), tum quo minores opes fuerunt, maiorem quanto é bom externamente, que porventura vier a caber
por sorte aos homens, bene factis gloriam parit. Sed omnia, quae extra não deve ser enaltecido pelo fato de alguém o ter possuído, mas sim por ter nos bona sunt
quaeque hominibus forte obtigerunt, sido usado com honestidade.
non ideo laudantur, quod habuerit quis ea, sed quod 14. Realmente, a riqueza, a autoridade e a popularidade, visto que 14 iis honeste sit usus. Nam divitiae et potentia
et proporcionam o máximo de influência, perfazem um experimento muito gratia, cum plurimum virium dent, in utramque eficaz dos costumes em relação a ambos os
aspectos, pois mostram se somos partem certissimum faciunt morum experimentum, melhores ou piores por causa delas.
aut enim meliores sumus propter haec aut peiores. 15. O louvor do espírito é sempre verdadeiro, mas esse trabalho não 15 Animi semper vera laus, sed non una per
hoc opus se faz de um único modo. De fato, foi mais específico em certas ocasiões via ducitur. Namque alias aetatis gradus gestarum- seguir a ordem das faixas etárias e
dos feitos memoráveis, assim que nos que rerum ordinem sequi speciosius fuit, ut in primis primeiros anos se dê destaque ao caráter, depois ao aproveitamento escolar,
annis laudaretur indoles, tum disciplinae, post hoc após isso às obras, isto é, às circunstâncias dos feitos e das palavras; ou ainda operum id est factorum dictorumque
contextus ; alias dividir o louvor nas outras espécies das virtudes: da firmeza, da justiça, da in species virtutum dividere laudem, fortitudinis,sobriedade e de outras,
indicando para cada uma o que tiver sido feito sob a iustitiae, continentiae ceterarumque, ac singulis ad-influência delas.
signare, quae secundum quamque earum gesta erunt.16. Além disso, porém, é preciso ver qual desses dois caminhos é
16 quae fecisse berabimus, Utra solus sit dicetur, autem quis dum si harum aut sciamus quid primus via praeterea gratiora utilior, aut certe cum esse supra materia
audientibus,cum spem paucisdeli-aut além realizou agradável mais proveitoso da esperançacom aos certeza ouvintes, ao decidir e entre aquilo sobre poucos; que a
matéria, será além dito assim disso, só por que verificar saibamos quem se por realizou o primeiro que é maisalgoo
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exspectationem, praecipue quod aliena potius causa 506
e da expectativa, sobretudo se tiver sido antes por causa de outrem do que
17 quam sua. Tempus, quod finem hominis insequitur,
de seu interesse próprio.
non semper tractare contingit; non solum quod
17. Nem sempre é possível versar sobre o tempo subsequente
viventes aliquando laudamus, sed quod rara haec à morte do elogiado. Não só porque por vezes enaltecemos os viventes,
occasio est, ut referri possint divini honores et 18 mas porque essa oportunidade é rara, dada a preferência para que possam
decreta et publice statuae constitutae. Inter quae ser promulgadas as honras divinas, os decretos póstumos de
agradecimento e as estátuas erigidas com recursos públicos.
numeraverim ingeniorum monumenta, quae saeculis
18. Entre essas eu enumeraria os monumentos dos sábios
probarentur. Nam quidam, sicut Menander, iustiora
geniais, que arrostam o decorrer dos séculos. Pois alguns, como
posterorum quam suae aetatis iudicia sunt consecuti. Menandr097, obtiveram avaliações mais justas dos pósteros do que dos de
Adferunt laudem liberi parentibus, urbes conditoribus, seu tempo. Os filhos não poupam elogios aos pais, as cidades a seu
leges latoribus, artes inventoribus nec non instituta fundadores, as leis a seus autores, as artes a seus inventores, como também
as instituições a seus idealizadores, como se diz que por Numa foi
quoque auctoribus, ut a Numa traditum deos colere, a
organizado o culto dos deuses e por Publícola 98, o costume de se abaixar o
Publicola fasces populo summittere. feixe dos litores perante o povo.
19 Qui omnis etiam in vituperatione ordo constabit, tantum in 19. Essa ordem toda constará também na censura, mas no
diversum. Nam et turpitudo generis opprobrio multis fuit, et sentido oposto; até a origem humilde de nascimento foi desonra para
quosdam claritas ipsa notiores circa vitia et invisos magis fecit, et muitos e a própria nobreza de nascimento deu a alguns maior destaque
in quibus. dam, ut in Paride traditum est, praedicta pernicieg, et quanto aos vícios e os tonou mais invejados; e alguns outros, conforme se
corporis ac fortunae quibusdam mala contemptum, sicut Thersitae diz a respeito de Páris, foram prejudicados pela ruína profetizada; para
atque Iro, quibusdam bona vitiis corrupta odium attulerunt, ut outros as deficiências do corpo ou da fortuna acarretaram o desprezo,
Nirea imbellem, Plis 20 thenen impudicum a poetis accepimus. Et como para Tersites e Iro"; para outros, os dons naturais maculados pelos
animo vícios acarretaram ódio, segundo ficamos sabendo pelos poetas a respeito
do pusilânime Nireu e de Plístenes devasso100
20. Em relação ao espírito,
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totidem vitia, quot virtutes sunt, nec rninus quam in as virtudes são tão numerosas quanto os vícios e estes são tratados tanto quanto os louvores das virtudes de dois
modos. A alguns se acrescentou a laudibus duplici ratione trac tantur. Et post mortem desonra depois da morte, como a Méli0 101 , cuja casa foi arrasada, e a Marcos
adiecta quibusdam ignominia est, ut Maelio, cuius 102, cujo prenome foi eliminado da família para toda a posteridade.
Mânli0
domus solo aequata, Marcoque Manlio, cuius prae-
21. E odiamos os pais dos malfeitores; e é infame para os fundadores de 21 nomen e familia in posterum exemptum est ; et cidades ter agregado às outras
alguma nação perniciosa, qual o primeiro parentes malorum odimus ; et est conditoribus fundador da superstição judaica; são também odiadas as leis dos gregos; e se
urbium infame contraxisse aliquam perniciosam foi legado à posteridade algum exemplo degradante, como da concupiscência, ceteris gentem, qualis est primus Indaicae
supersti- segundo se afirma, que um homem persa teria ousado por primeiro praticar tionis auctor ; et Gracchorum leges invisae ; et si em uma mulher da ilha de
103
Samos quod est exemplum deforme posteris traditum, quale22. Todavia, também em relação aos vivos os julgamentos dos homens libidinis vir Perses in
muliere Samia instituere ausussão como que comprovações dos costumes: a honra ou a ignomínia demons22 dicitur primus. Sed in viventibus quoque iudiciatram
se o louvor ou a desaprovação são verdadeiros.
hominum velut argumenta sunt morum, et honos 23. Aristóteles julga que é importante também o lugar em que se elogia aut ignominia verarn esse laudem vel
vituperationemou se censura algo. De fato, muito importante é saber quais sejam os costumes probat.dos ouvintes, a convicção publicamente assumida, de modo
que se creia o que 23 Interesse tamen Aristoteles putat, ubi quidquese aprova estar especialmente em quem se enaltece, ou aquilo que se reprova laudetur aut
vituperetur. Nam plurimum refert,naquele contra quem se há de pronunciar. Desse modo, o julgamento dos qui sint audientium mores, quae publice
receptaouvintes não será duvidoso, por ser conhecido antes do processo.
persuasio, ut illa maxime quae probant esse in eo,24. Também convém intercalar sempre um louvor aos ouvintes, pois os qui laudabitur, credant, aut in eo,
contra que:ntorna favoráveis; mas isso se fará sempre que possível, devendo juntar-se à dicemus, ea quae oderunt. Ita non dubium eritutilidade da
matéria. Em Esparta os estudos das letras
24 iudicium, quod orationem praecesserit. Ipsorum etiam permiscenda laus semper, nam id benevolos facit; quotiens autem feri poterit, cum materiae
utilitate iungenda. Minus Lacedaemone studia
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litterarum quam Athenis honores merebuntur, plus 510
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513 isso deve ser bem discernido e expresso segundo a possibilidade de
indoctis, discernenda sunt haec et secundum com3 compreensão mais comum.
munes magis intellectus loquendum. Sunt enim multi,
3. Pois há muitos que, embora acreditem algo ser honesto, não o
qui etiam, quae credunt honesta, non tamen satis eadem
consideram ser também suficientemente útil; e aprovam aquilo de que não
utilia quoque existiment, et quae turpia esse dubitare
podem duvidar ser desonesto, levados pela aparência de utilidade, como o
non possunt, utilitatis specie ducti probent; ut foedus
Tratado Numantin0 105 e o Jugo Caudin0 106.
Numantinum iugumque Cau4 dinum. Ne qualitatis
quidem statu, in quo et honestorum et utilium quaestio 4. Mesmo na situação qualitativa de causa, que versa sobre a questão
est, complecti eas satis est. Nam frequenter in his etiam do que é honesto e útil, não é suficiente apenas incluí-la. Pois com
coniecturae locus est, nonnunquam tractatur aliqua frequência existe aí lugar para a conjetura; às vezes se faz necessária uma
finitio, aliquando etiam legales possunt incidere
definição, outras vezes podem intervir também práticas legais,
tractatus, in privata maxime consilia, si quando
ambigetur an 5 liceat. De coniectura paulo post principalmente em assuntos particulares, caso se lhes conteste a validade.
pluribus. Interim est finitio apud Demosthenen, Det Sobre a conjetura voltarei a acrescentar mais adiante vários aspectos.
Halonnesum Philippus, an reddat ? apud Ciceronem in 5. Nesse meio-tempo, há uma definição em Demóstenes: Filipe teria
Philippicis, Quid sit tumultus? Quid ? non illa similis dado ou devolvido a ilha de Haloneso? 107
Em Cícero, nas Filípicas, se
iudicia lium quaestio de statua Servi Sulpici, an iis
pergunta: 'O que é tumulto? Por quê? '. Acaso essa questão não é
demum ponenda sit, qui in legatione ferro sunt
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interempt,i ? semelhante àquela relativa à estátua de Sérvio Sulpíci0 , se afinal não
6 Ergo pars deliberativa, quae eadem suasoria dicitur, deveria ela ser erigida em homenagem aos que pereceram pelo ferro em
missão oficial?
6. Portanto, a parte deliberativa da oratória, que é chamada também
suasória,
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videlicet C. Sallustius in bello lugurthino et Catili- é claro que G. Salústi0 109 começou com dados em nada relativos à história
da guerra jugurtina e da de Catilina.
nae nihil ad historiam pertinentibus principiis orsus 10. Todavia, tratemos agora da oratória deliberativa, em que, mesmo est. usando de um proêmio, devemos
contentarmo-nos no início com uma breve IO Sed nunc ad suasoriam, in qua, etiam cum pro- referência apenas. Realmente, a deliberação particular nunca exige a
exposição oemio utemur, breviore tamen et velut quodam dos fatos, não mais que seu assunto, a respeito do qual a sentença deve ser capite tantum et initio debebimus esse
contenti. emitida, porque ninguém desconhece aquilo que submete à deliberação.
I l. Muitos dados externos podem ser expostos para a deliberação. Nas
Narrationem vero nunquam exigit privata delibera- assembleias, muitas vezes são necessários também aqueles dados que detertio,
eius duntaxat rei, de qua dicenda sententia est ; minam a ordem dos assuntos a tratar.
II quia nemo ignorat id de quo consulit. Extrinsecus 12. Os apelos às
emoções são os elementos particularmente exigidos na possunt pertinentia ad deliberationem multa narrari. oratória deliberativa.
Em verdade, com frequência a ira deve ser provocada ou controlada e os espíritos devem ser levados para o medo, para a cobiça,
In contionibus saepe est etiam illa, quae ordinem para o ódio e para a conciliação. As vezes também a comiseração deve ser 12 rei
docet, necessaria. Adfectus ut quae maxime promovida, ou será conveniente convencer, como para que se leve ajuda a postulat.
Nam et concitanda et lenienda frequenter sitiados, ou ao lamentarmos a destruição de uma comunidade aliada. Contuest ira, et ad
metum, cupiditatem, odium, concilia-do, nas assembleias tem mais peso a autoridade do orador.
tionem impellendi animi. Nonnunquam etiam 13. Deve, porém, ser extremamente prudente, muito bom e ser considerado como tal, quem quiser que todos
creiam nos aspectos úteis e honestos movenda miseratio, sive, ut auxilium obsessis feratur,de sua posição. Pois nos discursos do fórum geralmente se considera
justo suadere oportebit sive sociae civitatis eversionemconceder-lhe algo de seu próprio temperamento; ninguém nega que conselhos deflebimus. Valet autem in
consiliis auctoritaspodem ser dados, desde que sejam segundo os bons costumes.
13 plurimum.Nam et prudentissimus esse haberique et optimus debet, qui sententiae suae de utilibus atque honestis credere omnes velit. In iudiciis
enim vulgo fas habetur indulgere aliquid studio suo ; consilia nemo est qui neget secundum mores daria
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14 Graecorum quidem plurimi omne hoc ofliciu:n 14. Muitos autores gregos consideraram toda essa ação como relativa às contionale esse iudicaverunt et in sola
reipublicae assembleias públicas e a ligaram apenas à administração da coisa pública. administratione posuerunt. Quin et Cicero in hac Ainda mais, Cícero tratou
longamente dessa parte. Nesse sentido, aos que maxime parte versatur. Ideoque suasuris de pace, vierem a aconselhar a paz, a guerra, exércitos, obras e impostos requer
que bello, copiis, operibus, vectigalibus haec duo esse sejam pré-conhecidos estes dois requisitos: a capacidade da comunidade e praecipue nota voluit, vires civitatis et
mores, ut ex seus costumes — a fim de que o modo de persuadir seja guiado tanto pela natura cum ipsarum rerum tum audientium ratio natureza das próprias coisas
como pela dos ouvintes.
15 suadendi duceretur. Nobis maior in re videtur 15. Parece-nos maior a variedade nesse assunto, pois muito numerosa é varietas, nam et consultantium et consiliorum plu-
a diversidade tanto dos que impetram como dos temas tratados. Por isso, ao rima sunt oenera. aconselhar ou desaconselhar primeiramente é preciso atentar para três
pontos:
Quare in suadendo et dissuadendo tria primum qual a natureza do assunto sobre o qual se vai deliberar, quem são os que spectanda erunt, quid sit de quo deliberctur,
qui deliberam e quem é o que aconselha.
16. O assunto, sobre o qual se delibera, pode vir a ser considerado certo
16 sint qui deliberent, qui sit qui suadeat. Rem, de ou incerto. Se incerto, essa será a questão única ou a mais importante; pois qua deliberatur, aut certum est posse feri aut
muitas vezes acontecerá que primeiramente digamos que sequer possa ser incertum. Si incertum, haec erit quaestio sola aut feito, depois, que deve ser feito e, por fim, que
não pode ser feito. Quando, potentissima ; saepe enim accidet, ut prius dicamus, porém, se investiga esse aspecto, trata-se de conjetura, como, por exemplo, se ne si
possit quidem feri, esse faciendum, deinde é possível cortar ao meio o Istmo, se se pode drenar o pântano Pontino110 fieri non posse. Cum autem de hoc quaeritur, se é
possível construir um porto em Ostia, ou, ainda, se Alexandre haveria coniectura est, an Isthmos intercidi, an siccaride encontrar terras além do oceano.
palus Pomptina, an portus feri Ostiae possit, an17. Contudo, também naqueles assuntos, que vierem a constar como Alexander terras -atra Oceanum sit
inventurus.sendo possíveis de realização, haverá por vezes a conjetura, caso se procure se
17 Sed in iis quoque quae constabit posse feri, con-de fato se concretizará, por exemplo, se os romanos superarão Cartago; se iectura
aliquando erit, si quaeretur, an utique futurum sit, ut Carthaginem superent Romani ; ut
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Africam Aníbal há de voltar; se Cipião teria transportado o exército para a Africa; redeat Hannibal, si Scipio
exercitum in fidem Samnites, si Romani como os samnitas manteriam a palavra dada, caso os romanos depusessem as
transtulerit ; ut servent futura armas. Em relação a alguns assuntos, acredita-se que podem tanto ser factíveis arma deposuerint* Quaedam et feri posse et esse
credibile est, sed aut alio tempore aut alio loco como realizáveis no futuro, mas em outra época ou outro lugar ou de algum aut alio modo. outro modo.
1 8 Ubi coniecturae non erit locus, alia sunt intuenda. 18. Sempre que não houver lugar para conjeturas, outros pontos devem Et primum aut propter ipsam rem, de qua
sentenu ser considerados. Primeiramente, se farão consultas quer relativas ao próprio tiae rogantur, consultabitur aut propter alias inter- assunto, sobre o qual são
rogadas as sentenças, quer aos motivos externos venientes extrinsecus causas. Propter ipsam de- intervenientes. Com vistas ao próprio assunto deliberam os senadores,
como liberant Patres conscripti, an stipendium militi quando votam na determinação do pagamento aos militares. Esta matéria será 19 constituant? Haec materia
simplex erit. Accedunt sempre simples.
causae aut façiendi, ut delil)erant patres conscripti, 19. Somam-se os motivos seja para fazer algo, como os senadores an Fabios dedant Gallis bellum minitantibus ;
aut quando decidiam se entregariam os Fábios lll aos gauleses perante suas ameanon faciendi, ut deliberat C. Caesar, an perseveret ças de guerra; seja para não fazer,
como Caio César que deliberava se conin Germaniam ire, cum milites passim testamenta tinuaria no propósito de invadir a Germânia, quando por toda parte os sol20
facerent. Hae suasoriae duplices sunt. Nam et dados faziam seus testamentos.
illic causa deliberandi est, quod bellum Galli mini. 20. Esses assuntos deliberativos são de dois tipos. Pois, no primeiro caso, tentur; esse tamen potest quaestió,
dedendine o motivo da deliberação é a ameaça de guerra dos gauleses; contudo, pode-se fuerint etiam citra hanc denuntiationem, qui contra colocar, além da
questão de entregar os solicitados, se não foram, mesmo sem fas, cum legati missi essent, proelium inierint, essa denúncia, os que, contra o direito das nações, uma
vez que foram enviaregemque, ad quem mandata acceperant, truci-
21 darint. Et hic nihil Caesar sine dubio deliberaret dos como embaixadores, travassem batalha e trucidassem o rei, junto ao qual nisi propter hanc militum
perturbationem; est haviam recebido as credenciais de sua missão.
tamen locus quaerendi, an citra hunc quoque casum 21. No segundo caso, sem dúvida César nada teria levado em conta, se não fosse aquela inquietação dos
soldados; há, contudo, espaço para perguntar se, mesmo sem esse fator,
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Omnis enim deliberatio de dubiis est. Melius igitur,Em verdade, qualquer deliberação trata de dúvidas. Em vista disso, pensaram melhor os que
denominaram ônovutóv ['dynatón'] o que os nossos chamam qui tertiam partem dixerunt Ôvva%v, quod nostri possível, denominação que, mesmo
parecendo sem arte, é a única.
possibile nominant, quae ut dura videatur appellatio, 26. Que essas três partes não entram todas em cada uma das discussões 26 tamen sola est. Quas partes non
omnes in omnem suasórias é tão evidente que dispensa esclarecimentos. Entretanto, da parte cadere suasoriam manifestius est, quam ut docendum de numerosos
autores o número delas é ampliado e por alguns são postas como sit. Tamen apud plerosque earum numerus augetur, partes diversas as que são espécies das citadas
acima. De fato, o direito, a
justiça, a equidade, a reverência e a brandura de caráter (pois assim traduziram a quibus ponuntur
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ut partes, quae superiorum species Tb figepov ['tó hémeron']); e se alguém quiser acrescentar ainda algo do sunt partium. Nam fas, iustum, pium, aequum,
gênero, pode-se adicionar a honestidade.
mansuetum quoque (sic enim sunt interpretati 27. Se, porém, isso é fácil, grandioso, agradável e sem perigo, a questão óB€pov) et si qua adhuc adiicere quis
eiusdem generis passa para o campo da utilidade. Essas colocações originam-se de uma con-
tradição: 'Trata-se de algo útil, mas difícil, insignificante,
desagradável e 27 velit, subiici possunt honestati. An sit autem facile, perigoso'.
magnum, iucundum, sine periculo, ad quaestionem 28. Todavia, parece a alguns que às vezes a deliberação trata apenas da pertinet utilitatis. Qui loci oriuntur ex
contradic- agradabilidade, como se se discutisse a construção de um teatro ou a organitione : Est quidem utile sed dilicile, parvum, iniucun- zaçáo de jogos.
Mas penso que ninguém está tão indiferente ao luxo, que no processo suasório a nada se atenha além do prazer.
28 dum, periculosum. Tamen q uibusdam videtur esse 29. Ora, sempre é necessário que algo venha antes, como o louvor dos nonnunquam de iucunditate sola
consultatio, ut si deuses nos jogos, como no teatro a não inútil cessação dos trabalhos e, caso de aedificando theatro, instituendis ludis deliberetur, o edifício do
teatro não exista, a disputa degradante e desagradável por um Sed neminem adeo solutum luxu puto, ut nihil in lugar da multidão;
29 causa suadendi sequatur praeter voluptatem. Prae- cedat enim semper aliquid necesse est, ut in ludis honor deorum, in theatro non inutilis laborum
remissio, deformis et incommoda turbae, si id non sit,
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conflictatio, et nihilominus eadem illa religio, cum inclusive a própria religião, já que consideraremos o teatro como um templo theatrum veluti quoddam illius sacri
templum voca- para a realização daquela celebração sacra.
30 bimus, Saepe vero et utilitatem despiciendam esse 30. Realmente, muitas vezes dizemos que a utilidade deve ser menosdicimus,. ut honesta faciamus, ut cum illis
Opiter- prezada, a fim de praticarmos o que é honesto, de modo que, juntamente com ginis damus consilium, ne se hostibus dedant, quan- os homens de Opitérgio,
demos o conselho de não se entregar ao inimigo, quam perituri sint, nisi fecerint; et utilia honestis ainda que, se não o fizerem, haveriam de morrer. E preferimos o que é
útil ao praeferimus, ut cum suademus, ut bello Punico servi que é honesto, como quando aconselhamos que os escravos fossem armados 31 armentur, Sed neque hic
plane concedendum est durante a guerra púnica. esse id inhonestum, liberos enim natura omnes et 31. Entretanto, nem nesse aspecto se deve sem mais conceder que isso
é
eisdem constare elementis et fortasse antiquis etiam desonesto, pois se pode dizer que todos são livres por natureza, que constam nobilibus ortos dici potest; et illic, ubi
manifestum periculum est, opponenda alia, ut crudelius etiam dos mesmos elementos constitutivos e talvez tenham nascido de antigos nobres. perituros adfirmemus, si se
dediderint, sive hostis non E lá, onde o perigo é evidente, é preciso apor outros argumentos, de modo servaverit fidem, sive Caesar vicerit, quod est vero que possamos
afirmar que haveriam de perecer de maneira ainda mais cruel, 32 similius. Haec autem, quae tantum inter se pug- caso se entregassem, seja porque os inimigos não
mantivessem a palavra dada, nant, plerumque nominibus deflecti solent. Nam seja pelo fato de César vencer, o que seria mais verossímil.
et utilitas ipsa expugnatur ab iis, qui dicunt, non 32. Esses princípios, porém, que tanto conflitam entre si, costumam solum potiora esse honesta quam utilia, sed ne
utilia ordinariamente mudar de nome. Pois a própria utilidade é combatida pelos quidem esse, quae non sint honesta ; et contra, quod que afirmam não só que as coisas
honestas são mais importantes que as úteis, nos honestum, illi vanum, ambitiosum, stolidum, mas nem sequer são úteis as que são desonestas. Em oposição, o que nós
reco33 verbis quam re probabilius vocant. Nec tantum nhecemos como honesto, outros consideram inócuo, ambicioso e insensato, inutilibus comparantur utilia, sed inter
se quoque mais provável nas palavras que nos fatos. ipsa, ut si ex duobus eligamus, in altero quid sit
33. Além disso, as coisas úteis não apenas são comparadas com as
inúteis magis, in altero quid sit minus. Crescit hoc adhucs
Nam interim triplices etiam suasoriae incidunt : ut como também entre si, assim que, caso escolhamos uma entre duas, compacum Pompeius deliberabat,
Parthos an Africam an remos o que existe a mais em uma e de menos na outra. O problema pode ser Aegyptum peteret, Ita non tantunm, utrum melius ainda mais
complexo. Ora, por vezes surgem discursos deliberativos com tríplice objeto; por exemplo, quando Pompeu decidia se haveria de dirigir-se aos partas, à África ou ao
Egito: assim se procura não só o que é melhor,
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sed quid sit optimumy quaeritur, itemque contra, mas o que é ótimo, e o contrário da mesma forma.
34. Por outro lado, não cabe na oratória deliberativa a dúvida do
objeto, 34 Nec unquam incidet in hoc genere materiae dubi- que nos seja favorável sob todos os pontos de vista; pois, onde não há lugar tatio rei, quae undique
secundum nos sit. Nam ubi para a contradição, qual pode ser a causa da dúvida? Desse modo, quase toda contradictioni locus non est, quae potest esse causa oratória
deliberativa não é outra coisa que uma comparação; e é preciso ver o que e por meio de que haveremos de conseguir, para que se possa avaliar se dubitandi? Ita fere
omnis suasoria nihil est aliud há mais vantagem naquilo que buscamos, ou mais desvantagem por meio
quam comparatio, videndumque, quid consecuturi daquilo a que visamos.
simus et per quid, ut aestimari possit, plus in eo 35. A questão é de utilidade e situada no tempo: 'É conveniente, mas quod petimus sit commodi, an vero in eo per
quod não agora'; e quanto ao lugar: 'Não aqui'; e à pessoa: 'Não para nós, não contra estes'; e no modo de agir: 'Não desse modo'; e no grau: 'Não tão grande'. 35 petimus
incommodi. Est utilitatis et in tempore Contudo, com mais frequência vemos a pessoa sob o aspecto do decoro, que quaestio, expedit sed non nunc; et in loco, non hic ;
deve ser visível tanto em nós como naqueles que deliberam.
et in persona, non nobzs, non contra hos; et in menere 36. Por isso, se bem que os exemplos tenham importância máxima nos agendi, non sic; et in modo, non m
tantum. discursos deliberativos, porque as pessoas são muito facilmente levadas ao
consentimento por meio de experiências, contudo convém verificar a
autoriSed personam saepius decoris gratia intuemur, dade delas e a quem são apresentadas, pois são diferentes os estados de espí quae et in nobis et in iis, qui deliberant,
spectanda rito dos que deliberam e sujeitos a duas condições.
36 est. Itaque quamvis exempla plurimum in consiliis 37. Ora, quem delibera pode ser um grupo ou apenas um indivíduo; mas possint, quia facillime ad consentiendum
homines nos dois casos há diferenças, porque em relação aos do grupo é de grande
importância saber se o discurso será perante o
senado ducuntur experimentis, refert tamen, quorum auctoritas et quibus adhibeatur. Diversi sunt enim 37 deliberantium
animi, duplex condicio. Nam con sultant aut plures aut singuli ; sed in utrisque differentia, quia et in pluribus multum interest,
senatus
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an populus, Rcnnani an Fidenates, Graeci an barbari, C. Mario, de ratione belli Scipio prior an 38 Fabius deliberet.
et in singulis, Catoni petendos honores suadeamus an Proinde intuenda sexus, dignitass aetas. Sed mores praecipue
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discrimen dabunt. Et honesta quidem honestis suadere 38. Em seguida, devem-se levar em conta o sexo, a posição
facillimum est; si vero apud turpes recta obtinere social e a idade. Entretanto, os bons costumes farão a maior diferença. De
conal)imur, ne videamur exprobrare fato, aconselhar o que é honesto aos honestos é muito fácil; caso, porém,
diverszun vitae sectam, cavendum. tentemos obter o correto entre os desonestos, urge precaver-se da
39 Et anirnus dcliberantis non ipsa honesti natura, qual)) impressão de que estejamos censurando um outro estilo de vida.
ille non respicit, pern)ovenclus, sed laude, vulgi opinione., 39. E não se deve pressionar demais o espírito de quem
et si parum proficiet haec vanitas, secutura ex his utilitate, delibera nem através da própria natureza do que é honesto, à qual ele não
aliquanto vero ma Tis obiieiendo 40 aliquos, si diversa dá valor, mas com o elogio, com a opinião do povo; e se pouco adiantar
fecerint, inetus. Nanique praeter id quod his levissilni essa vaidade, além da vantagem daí decorrente, que se acrescente
cuiusque animus facillilne terretur, nescio an etiam realmente certa dose de medo, caso faça o contrário do que lhe é
naturaliter apud plurimos plus valeat malorum timor quam apresentado.
spes bonorum, sicut facilior eisdem turpium quam 40. Realmente, além daquilo com que o espírito de qualquer
honestorum intellectus 41 est. Aliquando bonis quoque um se apavora com muita facilidade, não sei se também para muitos
suadentur parum decora, dantur parutn bonis consilia, in naturalmente tenha mais valor o temor dos males do que a expectativa dos
quibus ipsorum qui consul unt spectatur utilitas. Nec me fali bens, como para estes é mais fácil a compreensão das coisas torpes que das
it, quae statim cogitatio suoire possit legentem : Idoc eroo honestas.
42 praecipis ? et hoc fas putas ? Poterat me liberare 41. Não raro também se aconselham aos bons inexpressivos
Cieero, q ui ita scribit ad Brututn, praepositis plurimis, gestos honrosos e lhes são dados conselhos inócuos, nos quais os que
deliberam consigam enxergar a utilidade deles. Não me engano de que
logo surja este pensamento ao leitor: 'Portanto, colocas isso com regra? E
consideras isso justo
42. Cícero poderia libertar-me da dúvida; ao escrever a Bruto,
tendo
antes colocado muitas considerações,
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ou perante o povo, perante os romanos ou os fidenates 115,
perante os Gracos ou os bárbaros; e nos casos individuais, se
aconselhamos a Catão ou a C. Mário a assumir a
magistratura, ou a Cipião, o velho, ou a Fábio a decidir
sobre o plano de guerra. 533
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quae honeste suaderi Caesari possint : Simne bonus que poderiam honestamente ser aconselhadas a César, pergunta: 'Seria eu um vir, si haec suadeam ? Minime.
Suasoris enim finis est homem bom, caso lhe aconselhe essas coisas ? De forma alguma. Pois o objeutililas eius, cui quisque suadet. At recta sunt. Quis tivo do
aconselhante é o benefício daquele a quem se dá o conselho. Pelo necat ? sed non est semper rectis in suadendo locus. menos são conselhos honestos. Alguém o nega?
Contudo, ao se dar conselho, Sed quia est altior quaestio nec tantum ad suasorias nem sempre há lugar para o que é correto'. Mas, por ser uma questão mais pertinet,
destinatus est mihi hic locus duodecimo, ampla e não se referir apenas às discussões deliberativas, este assunto será por 43 qui summus futurus est, libro. Nec ego
quidquam mim tratado no Livro XII, que será o último desta obra.
feri turpiter velim. Verum interim haec vel ad 43. Não quereria eu que algo fosse feito de modo desonroso. Em verdade, scholarum exercitationes pertinere credantur,
nam por ora que se credite essa problemática como pertencente aos exercícios das et iniquorum ratio nosc.enda est, ut melius aequa escolas de retórica; de fato é preciso
conhecer também a mentalidade dos 44 tueatnur. Interim si quis bono inhonesta suadebit, maus, para que vejamos melhor a dos corretos.
meminerit non suadere tanquam inhonesta, ut qui- 44. Entretanto, se alguém aconselhar coisas desonestas a um homem dam declamatores Sextum Pompeium ad
piraticam honrado, tenha em mente não as aconselhar como desonestas, como alguns propter hoc ipsum quod turpis et crudelis sit, ilnpel- declamadores que impelem
Sexto Pompeull para a prática da pirataria, prelunt; sed dandus illis deformibus color idque etimn cisamente por ser ela infame e cruel; todavia, é preciso dar uma cor a
tais apud malos. Neque enim quisquam est tam malas, feitos errados e isso também em relação aos maus. Realmente ninguém é tão
15 ut videri velit. Sic Catilina apud Sallustium loqui tur, ut rem sceleratissimam non malitia, sed indig- mau que queira ser
considerado como tal.
natione videatur audere. Sic Atreus apud Varium : 45. Assim, em Salústio, Catilina se expressa de tal modo que dá a im—Iam Quanto fero maois (inquit) eis, quibus
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infandissima, cura famae Iam facere fuib, conser-cogor. pressão indignação. de intentar Do mesmo um ato modo, totalmente Atreu em criminoso Varius não : 'Ora' por
46 vandus est hic velut ambitus ? Quare et, cum males inenarráveis, ora sou forçado a praticá-los.' Quanto mais deve ser Ciceroni dabimus consilium, ut Antonium roget,
vel conservado esse tipo circunlóquio por aqueles que zelaram pelo próprio etiam ut Philippicas (ita vitam pollicente eo) exurat, bom nome.
non cupiditatem lucis allegabimus (haec enim si 46. Por essa razão, ao aconselharmos Cícero a pedir clemência a Antônio, ou até a queimar as Filípicas (sob a promessa
de poupar-lhe a vida), não alegaríamos o desejo de viver (pois se esse
desejo
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valet in animo eius, tacentibus quoque nobis valet), tivesse valor para o espírito dele, seria tão válido também nosso silêncio), mas o exortaríamos a se conservar para o
bem do Estado.
47 sed ut reipublicae se servet hortabimur. Hac illi
47. Naquela ocasião, foi-lhe necessária essa decisão, a fim de não se
enopus est occasione, ne eum talium precum pudeat. vergonhar de tais pedidos. E aconselhando C. César, desejoso de assumir Et C. Caesari suadentes regnum
adfirmabimus stare sozinho o poder, diríamos que o Estado já não poderia subsistir sob um iam rempublicam nisi uno recrente non posse. Nam único dirigente. Ora,
quem cogita sobre algo criminoso busca apenas a maqui de re nefaria deliberat, id solum quaerit, quo. neira de fazê-lo parecer que erra o menos possível.
modo quam minimum peccare videatur. 48. Também tem muita importância o tipo de pessoa que aconselha; 48 Multum refert etiam, quae sit persona suadentis ; porque
se a vida pretérita tiver sido nobre ou sua ascendência, idade ou quia an teacta vita si illustris fuit aut clarius genus fortuna oferecerem boa expectativa, é preciso verificar
se as coisas que são aut aetas aut fortuna adfert expectationem, provi- ditas por ele correspondem ou não à ideia que dele se tem. O contrário disso, dendum est, ne quae
dicuntur ab eo qui dicit dis- porém, exige um tratamento mais brando. Ora, o que é liberdade para uns é sentiant. At his contraria summissiorem quendam declarado
excesso para outros; e para alguns a própria autoridade é suficiente, moduxn postulant. Nam quae in ali.is libertas est, in enquanto para outros a mesma razão é vista com
desconfiança.
aliis licentia vocatur, et quibusdam sufficit auctoritas, 49. Em vista disso, de longe me parecem muito difíceis as prosopopeias, quosdam ratio ipsa aegre tuetur. em que
se soma ao trabalho normal da retórica deliberativa a dificuldade de 49 Ideoque longe mihi diffcillimae videntur prosopo- manter o caráter da personagem. De fato, sobre o
mesmo assunto deveriam poeiae, in quibus ad reliquum suasoriae laboremdeliberar de modo diferente tanto César como Cícero ou Catão. Realmente, accedit etiam
personae di{hcultas. Namque idemesse exercício é muito útil, seja porque requer esforço duplo, seja porque beillud aliter Caesar, aliter Cicero, aliter Cato
suadereneficia em muito também os poetas ou os futuros escritores de História; é debebit. Utilissima vero haec exercitatio, vel quod realmente necessário aos
oradores.
duplicis est operis, vel quod poetis quoque aut50. Ora, há muitos discursos compostos por gregos e latinos para uso de histol iarum futuris scriptoribus plurimum
confertoutros, para cuja condição e forma de vida
50 Verum et oratoribus necessaria. Nam sunt multae a Graecis Latinisque
compositae orationes, quibus alii uterentur, ad quorum condicionem
vitamque
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aptanda quae dicebantur fuerunt. An eodem modo foram adaptados naquilo que se dizia. Porventura Cícero pensou do mesmo cogitavit aut eandem personam induit
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Cicero, cummodo ou assumiu a mesma personagem, quando escrevia para Cn. Pompeu, scriberet Cn. Pompeio et cum T. Ampio ceterisve ;para T. Âmpi0 ou para
os demais? Acaso não levou em conta, de cada ac non uniuscuiusque eorum fortunam, dignitatem, um deles, a fortuna, a dignidade e os grandes feitos de todos,
aos quais emres gestas intuitus omnium, quibus vocem dabat,prestava a palavra, mas moldava-lhes também a imagem? E desse modo pareetiam imaginem
expressit? ut melius quidem sedcia que eles se expressavam melhor, mas davam a impressão de que o discurso 51 tamen ipsi dicere viderentur. Neque enim
minusera mesmo deles.
vitiosa est oratio, si ab homine quam si ab re, cui 51. Pois o discurso não é menos vicioso, caso não se harmonize quer com 19 accommodari debuit, dissidet; ideoque
Lysias optime a pessoa, quer com o assunto ao qual deveria adequar-se. Nesse aspecto, Lísias l parece ter mantido, de modo excelente, a fidelidade à verdade naquilo
que videtur in iis, quae scribebat indoctis, servasse veriescrevia para os incultos. Efetivamente, deve ser levado em conta particu-
tatis fidem. Enimvero praecipue declamatoribuslarmente pelos declamadores o que mais convém a cada personagem; como considerandum est, quid
cuique personae conveniat,advogados, envolvem-se em pouquíssimas controvérsias. Geralmente requi paucissimas controversias ita dicunt ut advocati,
presentam filhos, pais, ricos, idosos, intratáveis, inertes, avarentos e até supersplerumque filii, parentes, divites, senes, asperi, Ienes, ticiosos, tímidos e bajuladores, de
tal modo que dificilmente podem ser avari, denique superstitiosi, timidi, derisores fiunt ; tomados como atores de comédias representando vários papéis, ao pronunut
vix comoediarum actoribus plures habitus in pro- ciarem seu discurso.
nuntiando concipiendi sint quam his in dicendo.52. Tudo isso pode ser visto como prosopopeia, que eu incluí entre os 52 Quae omnia possunt videri prosopopoeiae,
quam egotemas deliberativos, porque não se distingue deles por nenhum outro aspecto suasoriis subieci, quia nullo alio ab iis quam per-a não ser pela personagem.
Aliás, ela por vezes também ocasiona controvérsias sona distat. Quanquam haec aliquando etiam intiradas das histórias, que se mantêm com os nomes precisos
dos litigantes.
controversias ducitur, quae ex historiis compositae53. Não ignoro também que, geralmente por razões de exercício, se
53 certis agentium nominibus continentur. Nequecolocam temas poéticos e históricos, como as palavras de Príamo a Aquiles ignoro
plerurnque exercitationis gratia poni et poeticas et historicas, ut Priami verba apud Achillem
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58. Todavia, não se tratou de um simples erro relativo às causas delibeNon simplex autem circa suasorias error in pleris-rativas na maioria dos
declamadores, que consideraram ser diferente o gênero que declamatoribus fuit, qui dicendi genus in iisde oratÓria nesses casos e totalmente contrário ao
judicial. Ora, pretenderam diversum atque in totum illi iudiciali contrarium essealcançar um estilo culto por exórdios inesperados, por um discurso sempre
existimaverunt. Nam et principia abrupta et con-arrebatado e mais derramado em palavras, conforme suas próprias denomicitatam semper orationem et
in verbis effusiorem, utnações, e se esforçaram por fazer de qualquer modo comentários mais breves ipsi vocant, cultum adfectaverunt, et earum brevioresdas
deliberativas do que da matéria legal.
utique commentarios quam legalis materiae facere59., Portanto, como não vejo em todo caso a necessidade de proêmio nas deliberativas, em vista das razões
que expus acima, assim também não 59 laborarunt. Ego porro ut prooemio video non utique entendo por que se deva bradar num início estridente. Quando se
solicita a opus esse suasoriis, propter quas dixi supra causas, opinião de alguém, depois de apresentada a consulta, não deverá gritar, caso ita cur initio furioso
sit exclamandum, non intelligo ;esteja com juízo perfeito, mas, com um ingresso sumamente civilizado e hucum proposita consultatione rogatus sententiam,
simano, buscará merecer o assentimento do deliberante.
modo est sanus, non quiritet, sed quam maxime60. Mas por que o discurso do orador seria torrencial e ainda mais arpotest civili et humano ingressu mereri
adsensumrebatado, quando as deliberações requerem, sobretudo, moderação? Não 60 deliberantis velit. Cur autem torrens et utique negaria eu que com mais
frequência subjaz nas controvérsias maior vigor na aequaliter concitata sit in ea dicentis oratio, cum velemissão da voz no proêmio, na exposição dos fatos e nos
argumentos; caso elimines essas partes, restará apenas aquilo que caracteriza as deliberativas, praecipue moderationem consilia desiderent? Neque mas isso será
também mais uniforme, não, porém, mais conturbado nem mais
erro neoaverim, saepius subsidere in con troversiisdesordenado.
impetum dicendi prooemio, narratione, aroumentis ;61. Por outro lado, a magnificência das palavras não deve se manifestar quae si detrahas, id fere supererit,
quo suasoriaede modo mais forte nas deliberativas dos declamadores, mas é o que mais constant, verum id quoque aequalius erit non tumul-acontece. Realmente,
gostam disso os que imaginam personagens geralmente
61 tuosius atque turbidius. Verborum autem magnifi- grandes de reis, de príncipes, centia non validius est
adfectanda suasorias declamantibus, sed contingit magis ; nam et personae fere magnae fingentibus
placent, regum, principum,
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senatus, populi et res ampliores ; ita cum verba rebus 62
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aptentur, ipso materiae nitore clarescunt. Alia veris consiliis
ratio est, ideoque Theophrastus quam maxime remotum ab
omni adfectione in deliberativo genere voluit esse sermonem, de senados, povos e temas mais amplos. Assim, quando são adequadas as
secutus in hoc auctoritatem praeceptoris sui, quanquam palavras aos assuntos, iluminam-nas com o mesmo esplendor da matéria.
dissentire ab eo 63 non timide solet. Namque Aristoteles 62. Outro é o modo de agir nas verdadeiras causas
idoneam maxime ad scribendum demonstrativam deliberativas; assim, Teofrasto ensinou que o discurso deve estar ao
proximamque ab ea iudicialem putavit, videlicet quoniam máximo distante de qualquer sentimento no gênero deliberativo, seguindo
prior illa tota esset ostentationis, haec secunda egeret artis, vel nesse ponto a autoridade de seu mestre, embora costume discordar dele
ad fallendum, si ita poposcisset utilitas, 64 consilia fide sem timidez.
prudentiaque constarent. Quibus in demonstrativa consentio, 63. De fato, Aristóteles julgou que a forma demonstrativa da
nam et omnes alii scriptores idem tradiderunt ; in iudiciis oratória é a mais adequada para ser escrita e a mais parecida com a
autem consiliisque secundum condicionem ipsius, quae
judicial; evidentemente porque a primeira está toda voltada para a
tractabitur, rei 65 accommodandam dicendi credo rationem.
ostentação, enquanto a segunda necessita da arte, talvez para enganar os
Nam et Philippicas Demosthenis iisdem quibus habitas in
ouvintes caso isso vier a ser exigido pela utilidade da causa, enquanto as
iudiciis orationes video eminere virtutibus, et Ciceronis
deliberações constam de boa-fé e de prudência.
sententiae et contiones non minus clarum, quam est in
64. Concordo com ele no que diz com respeito à oratória
accusationibus ac defensionibus, eloquentiae lumen
demonstrativa, pois todos os outros autores ensinaram a mesma coisa; mas
ostendunt. Dicit tamen idem de suasoria hoc modo : Tota
na judicial e na deliberativa, creio que o modo de expor deve ser adaptado
autem oratio simplex et gravis 66 et sententiis debet ornatior
ao assunto, segundo suas características.
esse quam verbis. Usum exemplorum nulli materiae maois
convenire merito fere omnes consentiunt, cum plerumque 65. Ora, vejo que tanto as Filípicas de Demóstenes se
videantur destacam pelas mesmas qualidades que as dos discursos pronunciados nos
processos judiciais, como também as exposições e os discursos políticos
de Cícero relevam o esplendor não menos espetacular da eloquência do
que o existente nas acusações e nas defesas. Realmente, ele assim se
expressa também sobre a oratória deliberativa: 'Todo discurso deve ser
simples e forte, mais atraente pelos pensamentos do que pelas palavras'.
66. Quase todos concordam que o uso de exemplos é mais
adequado e proveitoso aqui que para nenhuma outra matéria, porque
geralmente os fatos futuros parecem corresponder aos do passado e se
tenha a experiência como algum fundamento para a razão.
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respondere futura praeteritis, habeaturque experi-67. Também a brevidade ou a abundância é determinada não pela natureza da matéria, mas por medida
específica. Assim como a questão geral67 mentum velut quoddam rationis testimonium. Bremente é mais simples nas deliberações, do mesmo modo nas causas
judiciais vitas quoque aut copia non materiae genere sed modomuitas vezes é menor. Reconhecerá que tudo isso é verdadeiro, se alguém constat. Nam ut in consiliis
plerumque simpliciorpreferir, em vez de ficar definhando com os comentários dos retores, ler não quaestio est, ita saepe in causis minor.só os discursos, mas também
as Histórias (já que nelas as assembleias do povo e as decisões do senado exercem o papel de aconselhar ou de dissuadir).
Quae omnia vera esse sciet, si quis non orationes
68. Não encontrará de fato inícios abruptos nos deliberativos e muitas modo, sed historias etiam (namque in iis contionesvezes notará
que a emissão é mais rápida nos discursos judiciais, as palavras atque sententiae plerumque suadendi ac dissuadendisão mais adequadas aos temas em
ambos os gêneros e que, às vezes, os discurfunguntur oficio), legere maluerit quam in commen-sos judiciais são mais curtos que os de caráter deliberativo.
68 tariis rhetorum consenescere. Inveniet enim nec69. Sequer detectará neles aqueles vícios, nos quais incidem certos declamadores, uma vez que aos brados
censuram de modo desumano os que in consiliis abrupta initia et concitatius saepe inpensam de modo diferente; e geralmente falam de tal modo que claramente
iudiciis dictum et verba aptata rebus in utroque generediscordem dos que estão deliberando; por isso se assemelham mais a censores et breviores aliquando
causarum orationes quam sen- que a conselheiros.
69 tentiarum, Ne illa quidem in iis vitia deprehendet,70. Saibam os adolescentes que essas orientações foram escritas para eles e não queiram praticar
exercícios de forma diferente daquela que usarão e quibus quidam declamatores laborant, quod et contranão se prendam a hábitos que devem ser
eliminados. Ademais, quando comesentientibus inhumane conviciantur et ita plerumqueçarem a praticar a advocacia nas reuniões dos amigos, a expor sua
opinião no dicunt, tanquam ab iis qui deliberant utique dissen-senado, a dar conselhos caso uma figura destacada os consulte, apreenderão tiant, ideoque
obiurgantibus similiores sunt quam na prática o que talvez não tenham assimilado dos ensinamentos escolares.
70 suadentibus. Haec adolescentes sibi scripta sciant, ne aliter quam dicturi sunt exerceri velint et in desuescendis morentur. Ceterum, cum advocari
coeperint in consilia amicorum, dicere sententiam in
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senatu, suadere si quid consulet princeps, quodIX. 1. Tratemos agora do gênero da oratória judicial, que é sobretudo praeceptis fortasse non credunt, usu
docebuntur.multifacetado, mas cujos objetivos são apenas dois: acusar e defender. Cinco IX. Nunc de iudiciali genere, quod est prae.cipuesão suas partes,
segundo parecer da maioria dos autores: proêmio, narração multiplex, sed oficiis constat duobus intentionis acdos fatos, provas, refutação e peroração. A essas
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alguns autores acrescentaram depulsionis. Cuius partes, ut plurimis auctoribusa divisão, a proposição e a digressão; as duas primeiras delas se enquadram na placuit,
quinque sunt: prooemium, narratio, pro-parte das provas.
batio, refutatio, peroratio. His adiecerunt quidam2. Ora, é necessário propor o que irás provar, mas concluir também é partitionem, propositionem, excessum ;
quarum pri-indispensável; portanto, por que a primeira faz parte do processo e a segunda 2 ores duae probationi succedunt. Nam proponerenão? A divisão é de fato
um aspecto da disposição, a própria disposição é quidem, quae sis probaturus, necesse est, sed etparte da retórica e se dissemina igualmente por todas as matérias e
por todos concludere ; cur igitur si illa pars causae est, non etos seus campos, como a invenção e a elocução.
haec sit? Partitio vero dispositionis est species,3. Em vista disso, é preciso julgar que ela não é uma parte única do disipsa dispositio pars rhetorices et per omnes
materiascurso inteiro, mas também de cada questão individualmente. Pois é essa a totumque earum corpus aequaliter fusa, sicut in-questão em que o orador não
pode propor antecipadamente o que dirá em 3 ventio, elocutio. Ideoque eam non orationis totiusprimeiro, segundo ou terceiro lugar: esse aspecto é próprio da
divisão. Logo, partem unam esse credendum est sed quaestionumcomo é risível denominar a questão como um aspecto da prova e a divisão, etiam singularum.
Quae est enim quaestio, in quaseria um aspecto da questão, como parte de todo o discurso? que non promittere possit orator, quid primo, quidou excessus conforme
se começou a usar
4. A digressão (egressus), porém, secundo, quid tertio sit loco dicturus? quod estsitue fora do processo, não pode fazer parte dele,
mais
recentemente, quer se
proprium partitionis. Quam ergo ridiculum est,quer nele se insira, constitui apenas um apoio ou um ornamento daquelas quaestionem quidem speciem esse probationis,
par-partes com as quais se relaciona. Ora, caso seja considerada parte do discurso, titionem autem, quae sit species quaestionis, partem
4 totius orationis vocari? Egressio vero vel, quod usi-qualquer que seja a causa, por que não designá-la argumento, comparação, tatius esse coepit, excessus,
sive est extra causam, non potest esse pars causae, sive est in causa, adiu torium vel ornamentum partium est earum, ex quibus egreditur. Nam si, quidquid
in causa est, pars causae vocabitur, cur non argumentum, similitudo,
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locus communis, adfectus, exempla partes vocentur ? 5. Entretanto, não concordo, como Aristóteles, com os que separam a
5 Tamen nec iis adsentior, qui detrahunt refutationem refutação de sua relação com a prova; pois a prova estabelece e a refutação
tanquam probationi subiectam, ut Aristoteles ; haec destrói. Essa posição ainda inova de algum modo, uma vez que não faz
enim est, quae constituat, illa, quae destruat. Hoc seguir a exposição ao proêmio, mas à proposição. Na verdade, Aristóteles
quoque idem aliquatenus novat, quod prooemio non faz isso porque a proposição lhe parece um gênero, e a narração, uma
narrationem subiungit sed propositionem. Verum id espécie, e crê não ser esta sempre indispensável, enquanto aquela é sempre
facit, quia propositio ei genus, narratio species necessária em todas as partes do discurso.
videtur, et hac non semper, illa semper et ubique 6. Todavia, não se deve pensar em primeiro lugar aquilo que é
credit opus esse. constituído por essas partes como o que primeiramente se deve dizer; mas
6 Verum ex his quas constitui partibus non, ut quidque antes de tudo é preciso considerar qual é o gênero do processo, o que nele
primum dicendum, ita primum cogitandum est ; sed se investiga, o que lhe é favorável, o que lhe é prejudicial; em seguida, o
ante omnia intueri oportet, quod sit genus causae, que deve ser aceito ou repelido e, por fim, como deverá ser a exposição.
quid in ea quaeratur, quae prosint, quae noceant, 7. Aliás, a exposição é uma preparação para as provas; pode não vir a
deinde quid confirmandum sit ac refellen7 dum, tum ser útil, caso não se determine antes o que se pode adiantar a respeito das
quo modo narrandum. Expositio enim probationum provas. Como último passo, urge verificar como captar a benevolência do
est praeparatio, nec esse utilis potest, nisi prius juiz. Pois somente depois de diligentemente examinadas todas as partes,
constiterit, quid debeat de probatione promittere. podemos saber que tipo de disposição de espírito nos convém apresentar
Postremo intuendum, quemadmodum iudex sit ao conhecimento do juiz: severa ou afável, exaltada ou tranquila, simpática
conciliandus. Neque enim nisi totius causae partibus ou, ao contrário, determinada.
diligenter inspectis scire possumus, qualem nobis 8. Em vista disso, eu não aprovaria também os que pensam que se
facere animum cognoscentis expediat, severum an deve escrever
mitem, concitatum an remissum, adversum gratiae
an obnoxium.
8 Neque ideo tamen eos probaverim, qui scribendum
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lugar-comum, impressão, exemplos ou complementos ? 551
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quoque prooenliuxn novissilne pu tant. Nani ut con o proêmio por último. Ora, é conveniente colocar toda a matéria e fazer ferri materiayn omnem et, quid quoque loco
1
sit opus, constar aquilo que for necessário em cada tópico; estabelecemos então uma constare decet, antequam dicere aut scribere ordi- sequência antes de começar a
expor ou a escrever, iniciando por aquilo que amur, ita incipiendum ab iis, quae prima sunt. Nam vem em primeiro lugar.
nec pingere quisquam aut fingere coepit a pedibus, 9. Com efeito, ninguém começa a pintar ou a esculpir a partir dos pés; nec denique ars ulla consummatur ibi, unde
ordien- afinal, arte alguma se concretiza ali onde se devia começar. De outro modo, dum est. Quid fet alioqui, si spatium componendi o que aconteceria se não tivéssemos
espaço de tempo para redigir por escrito orationem stilo non fuerit? nonne nos haec inversa o discurso? Porventura, tal uso reverso não nos faria cair numa cilada?
Porconsuetudo deceperit? Inspicienda igitur materia tanto, a matéria deve ser começada pela ordem que ensinamos e escrita pela est, quo praecepimus ordine, scribenda,
quo dicemus. ordem que vamos apontar. X. Ceterum causa omnis, in qua pars altera aoentis est, altera recusantis, aut unius rei controversia con- X. l. Quanto ao mais,
toda causa, em que alguém de um lado ataca e, stat aut plurium. Haec simplex dicitur, illa con- do outro, alguém defende, consta de uma controvérsia sobre um assunto ou
iuncta. Una controversia est per se furti, per sesobre vários. Caso houver um só assunto, a causa é dita 'simples'; caso haja adul terii. Plures aut eiusdem oeneris, ut in
pecuniismais de um é chamada 'complexa'. Um debate, como o do furto e o do adulrepetundis, aut diversi, ut si quis sacrilegii et homi-tério, é por si mesmo judicial. Os
com mais de uma acusação ou são do mescidii simul accusetur. Quod nunc in publicis iudiciismo gênero, como nos casos de peculato, ou de vários, como se alguém
for non accidit, quoniam praetor certa leoe sortitur,acusado de sacrilégio e homicídio ao mesmo tempo. Em nossos dias, isso não principum autem et senatus
cognitionibus frequensacontece nos julgamentos públicos, porque o pretor os distribui aos respecest et populi f'uib; privata quoque iudicia saepe unum tivos tribunais
de acordo com a lei vigente, mas o caso é frequente quando iudiccm habere multis et diversis formulis solent. entregue ao conhecimento das autoridades e do senado,
como outrora era 2 Nec aliae .spe.cies erunt, etiamsi unus a duobus dumatribuição do povo. Também os julgamentos particulares costumam ter um
taxat eandem retu atque ex eadem causa petet aut só juiz em muitas e diferentes normas.
2. Não haverá
outras espécies, ainda
que um contra dois
impetre até a mesma
coisa e pelo mesmo
motivo ou
552 553
duo ab uno aut plures a pluribus, quod accidere in multis personis causa tamen una est, nisi si condicio personarum
hereditariis litibus interim scimus, quia quamvis in quaestiones variaverit.
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3 Diversum his tertium «renus, quod dicitur pessoas, a condição dos interessados 121 pode ocasionar alterações na
coinparativum ; cuius rei tractatus in parte causae questão.
frequens est, ut cum apud centumviros post alia 3. Diferente desses é o terceiro gênero, denominado 'comparado'. Seu
quaeritur et hoc, uter dignior hereditate sit. Rarum est tratado é frequente em parte da causa, como quando, entre os
autem, ut in foro iudicia propter id solum constituantur, centúnviros122 depois de investigar os outros aspectos, se chega à seguinte
sicut divinationes, quae fiunt de accusatore questão: qual dos dois é mais merecedor da herança? Mas é raro que no
constituendo, et nonnunquam inter delatores, 4 uter fórum se montem processos apenas por esse motivo, como as divinaçóes 123
praemium meruerit. Adiecerunt quidam numero que se fazem para determinar o acusador, e às vezes, entre os delatores,
mutuam accusationem, quae vocatur, aliis qual dos dois teria merecido a recompensa.
videlicet succedere hanc quoque comparativo generi 4. Alguns autores acrescentaram a esse número a acusação mÚtua,
existimantibus, cui similis erit petitionum invicem que é denominada àvtll<fftnyopíoc [ anticategoría']; é evidente que,
diversarum, quod accidit vel frequentissime. Id si et conforme outros, ela se liga também ao gênero comparativo, ao que se
ipsum vocari debet dl/TCKQermopÓa (nam proprio assemelharia nas petições reciprocamente contrárias, o que acontece até
caret nomine) duo genera erunt eius, alterum quo com muita frequência. Se esse caso deve mesmo ser chamado, por não ter
litigatores idem crimen invicem intentant, alterum quo
um nome adequado, de dcvtucutnyoptu, terá duas espécies: uma, em que os
aliud atque aliud. Cui et petitionum condicio par est.
litigantes se acusam mutuamente do mesmo crime; e a outra, em que cada
5 Cum apparuerit genus causae, tum intuebil)lur,
um acusa o outro de coisas diversas. O mesmo vale para a situação das
negeturne factum, quod intenditur, an defendatur, an
impetrações.
alio nomine appelletur, an a genere actionis
5. Assim que se tornar claro o gênero da causa, examinaremos então
repellatur; unde sunt status.
se o ato, que se pretende instaurar, deve ser negado ou defendido; ou se
deve ser designado com outro nome ou excluído do gênero da ação. Daí
surgem as situações de causa.
554
dois contra um ou vários contra muitos o façam, como
sabemos que por vezes acontece nos litígios por herança,
porque, embora a causa seja una em relação a muitas 555
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XI. His inventis, intuendum deinceps Herma- XI. 1. Fixados esses aspectos, deve-se atentar seguidamente, segundo gorae videtur, quid sit quaestio, ratio, iudicatio,
Hermágoras, em que consistem o assunto do debate (quaestio), a linha de continens, vel, ut alii vocant, firmamentum. Quae- defesa, o ponto a ser julgado e o ponto
central (continens) oufundamentum, stio latius intelligitur omnis, de qua in utramque segundo denominação de outros. Por quaestio (assunto do debate), em sentipartem
vel in plures partes dici credibiliter potest. do amplo, entende-se tudo o que se pode afirmar com credibilidade em rela2 In iudiciali autem materia dupliciter accipienda est
: ção a duas ou mais partes.
altero modo, quo dicimus multas quaestiones habere 2. Em matéria judicial, a quaestio deve se entendida de dois modos: por controversiam, quo etiam minores omnes
complecti- um lado, por ela dizemos que muitas questões comportam controvérsias e que mur, altero, quo significamus summam illam, in qua abraçamos a todas inclusive
as menos importantes; por outro lado, indicamos causa vertitur ; de hac nunc loquor, ex qua nascitur aquele ponto central, para o qual a causa converge. Trato no momento
dessa 3 status, an factum sit, quid factum sit, an recte última, da qual se origina a situação da causa (status), se realmente o fato foi factum sit, Has Hermagoras et
Apollodorus et realizado, o que foi feito e se foi feito corretamente.
alii plurimi scriptores proprie quaestiones vocant, 3. A esses pontos Hermágoras, Apolodoro e muitos outros autores chaTheodorus, ut dixi, capita generalia, sicut ilias
mam questões propriamente ditas; como expus acima, Teodoro as denomina minores aut ex illis pendentes specialia. Nam et partes principais' universais, como as
menores ou dependentes daquelas ele quaestionem ex quaestione nasci et speciem in as considera 'especiais'. Pois é natural que uma questão se origine de outra e 4
species dividi convenit. Hanc i Titur quaestionem que uma espécie seja subdivida em outras.
veluti principalem vocant (Ónwa. Ratio autem est, 4. Em vista disso, chamam ['dzétema'] a essa questão conqua id, quod factum esse constat, defenditur. Et
siderada principal. A linha de defesa (ratio) constitui a parte em que se decur non utamur eodem, quo sunt usi omnes fere, fende aquilo que consta ter sido praticado. E
por que não usarmos o mesmo exemplo? Orestes matrem occidit, hoc constat ;exemplo que foi usado por quase todos? Orestes matou a mãe: isso consta.
dicit se iuste fecisse : status erit qualitatis ; quaestio,Afirma tê-lo feito dentro da justiça: a situação de causa se refere à qualidade; an iuste fecerit, ratio, quod
Clytaemnestra maritum a questão: se agiu dentro da justiça; a linha de defesa: o fato de que Clitemsuum, patrem Orestis, occidit; hoc dicitur.
nestra assassinou o marido, o pai de Orestes: a isso se dá a denominação de
u'íttov 126 ['áition'].
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55
9
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IO firmissimum adfertur. Causa facti non in omnes IO. O motivo do fato não faz parte de todos os debates. Realmente, que controversias cadit. Nam quae fuerit causa
faciendi, interessaria esse motivo, toda vez que o fato é negado? Ao contrário, onde se ubi factum negatur ? At ubi causa tractetur, negant discute esse motivo, há os
que negam tratar-se do mesmo aspecto para o juleodem loco esse iudicationem quo quaestionem, gamento que para a discussão e isso igualmente diz Cícero, tanto na
Retorica idque et in Rhetoricis Cicero et in Partitionibus como em Partitiones.
II dicit. Nam in coniectura est quaestio ex illo 11. Ora, a questão se baseia na conjetura do 'feito, não feito, se foi feito'. Factum, non factum an factum sito li)i eroo
iudi-Portanto, ali se situa o julgamento onde se situa também a discussão, porque a primeira questão e a decisão final convergem para o mesmo assunto. Concatio, ubi
quaestio, quia in eadem re prima quaestio tudo, em relação à qualidade: 'Orestes matou a mãe: dentro da lei, fora da lei,
et extrema disceptatio. At in qualitate, Malremteria sido segundo a lei ?'. Aí existe a questão, não porém o julgamento. Então, Orestes occidit : recte, non recle,
an recte occi- quando ? 'Ela havia assassinado meu pai; mas nem por isso tu devias matar tua derit, quaestio nec statim iudicatio. Quando ergo ?mãe.' Ou deverias
tê-lo feito? — aqui se situaria o julgamento. 111a patrem meum occiderat; sed non ideo tu nzatrem
12 debuisti occidere; an debuerit, hic iudicatio. Firma-
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mentum autem verbis ipsius ponam : si velit 562
Orestes dicere eiusmodz anemum matris suae Jitisse 12. Entretanto, colocarei o argumento fundamental com as
in pairem suum, in se cpsum ac sorores, in reünum, palavras do próprio Cícero: 'Se Orestes quisesse dizer que a disposição
zn antam generis et familiae, ut ab ea poenas liberi de espírito da mãe em relação a seu pai fora o mesmo que a si mesmo e a
potissimum sui 13 petere debuerint. Utuntur alii et suas irmãs, ao reino, ao bom nome da nação e da família, de modo que
talibus exemplis : Qui bona paterna consumpserit, ne particularmente seus filhos deveriam solicitar o castigo dela'.
contionetur; in opera publica consumpsit; quaestio, 13. Outros usam ainda exemplos como: 'Quem dissipou os
an, quisquis consump14 serit, prohibendus sit : bens paternos não pode participar das assembleias públicas; mas gastou-
iudicatio, an, qui sic. Vel, ut in causa militis Arrunti, os em obras públicas'. A questão está em 'se alguém foi dissipador, deve
qui Lusium tribunum vim sibi inferentem interfec.it, ser proibido' e o julgamento em 'se o fez daquele modo'.
quaestio, an iure fecerit, ratio, quod is vim afferebat ; 14. Ou, como no caso do soldado Arrúnci0 128 que matou o
iudicatio, an indemnatum, an tribunum a milite occidi tribuno Lúsio por tentativa de violentá-lo; questão: se o fez dentro do
opor15 tuerit. Alterius etiam status quaestionem, direito; linha de defesa: o fato de que o outro agia com violência;
alterius iudicationem putant. Quaestio qualitatis, an julgamento: se não foi julgado, se foi apropriado o tribuno ser morto pelo
recte Clodium Milo occiderit. ludicatio soldado.
coniecturalis, an 16 Clodius insidias fecerit. Ponunt et 15. Há os que pensam também haver uma questão para a
illud, saepe causam in aliquam rem dimitti, quae non situação da causa e outra para o julgamento. Trata-se de uma questão de
sit propria quaestionis, et de ea iudicari. A quibus qualidade na pergunta se Milão matou Clódio dentro da lei; haveria um
multum dissentio. Nam et illa quaestio, an omnes, qui julgamento conjetural, se Clódio teria armado ciladas.
paterna bona consumpserint, contione sint 16. Coloca-se ainda a observação de que muitas vezes se
probibendi, habeat oportet suam iudicationem. Ergo remete a causa a algo que não é inerente à questão e com base nisso se
non alia quaestio alia iudicatio erit, sed plures julga. Disso eu discordo completamente. Ora, e aquela questão, se todos
quaesti- os que dilapidaram os bens paternos devem ser impedidos nas
assembleias públicas, convém que tenha um julgamento. Portanto, não
haverá uma questão e outro julgamento, mas muitas questões
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iuris erat consultus, adludens qua de re agitur appel- 19. Contudo, nas Partitiones Oratoriae, diz que são os pontos essenciais lat ; quibus id contineatur, continentia,
quasi firma- que se contrapõem à defesa, assim que o argumento central, que deveria vir menta definsionis, quibus sublatis defensio nulla sit ; antes, seria apresentado
pelo acusador, a linha de defesa pelo réu e decisão dos 19 at in Partitionibus oratoriis firmamentum, quod julgamentos tenha por base a questão do argumento central e da
linha de opponitur defensioni, quia continens, quod primum defesa. Em vista disso, os que pretenderam atribuir o mesmo valor à situação sit, ab accusatore dicatur, ratio
a reo, ex rationis et de causa, ao argumento central e ao julgamento são mais concisos e mais firmamenti quaestione disceptatio sit iudicationum. próximos da verdade;
entretanto, o argumento central perfaz aquilo sem o Verius igitur et brevius ii, qui statum et continens qual a disputa não poderia existir.
20. Com essa posição, parece-me que eles reuniram as duas causas, em
et iudicationem idem 2 esse voluerunt; continens vista de que
20 autem id esse, quo sublato lis esse non possit. Hoc mihi
videntur utramque causam complexi, et quod
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Orestes teria matado a mãe e Clitemnestra a Agamêmnon. Os mesmos autoOrestes matrem et quod Clytaemnestra Agamem-res sempre
consideraram que a situação de causa e o julgamento foram harnonem occiderit. lidem iudicationem et statummônicos.
consentire semper existimarunt, neque enim aliud21. Na verdade, essa rebuscada sutileza em nomear as coisas incorre em mera ostentação e foi tratada por
nós apenas para que não déssemos a impreseorum rationi conveniens fuisset.
são de termos empregado pouco empenho na investigação do assunto, que
21 Verum haec adfectata subtilitas circa nominahavíamos assumido. Mais simplesmente, porém, não é necessário ao instrutor rerum ambitiose
laborat, a nobis in hoc assumptamalbaratar o método de ensino com tão insignificantes detalhes dos assuntos solum, ne parum diligenter inquisisse de
opere, quodtratados.
aggressi sumus, videremur; simplicius autem insti-22. Muitos foram afetados por esse erro, principalmente Hermágoras, embora homem sutil em
outros aspectos e digno de admiração em outros tuenti non est necesse per tam minutas rerum par-muitos, apenas excessivo em uma preocupação
inquietante, posto que a pró22 ticulas rationem docendi. concidere. Quo vitio multipria crítica a ele não deixa de ser digna de certo
engrandecimento.
guidem laborarunt, praecipue tamen Hermagoras,23. Todavia, esse caminho, mais curto e por isso mesmo mais claro, não cansará o discente com
sinuosidades nem desgastará o conjunto do discurso vir alioqui subtilis et in plurimis admirandus, tantumpela introdução de detalhes menos
importantes. Pois, quem viu, o que é, o diligentiae nimium sollicitae, ut ipsa eius reprehensioque pode causar controvérsia, o que há no caso e por
meio de que a parte 23 laude aliqua non indigna sit, Haec autem breviorcontrária pretende fazer algo, o que nossa parte intenta, o que deve ser conet
vel ideo lucidior multo via neque discentem persiderado em primeiro lugar — não poderá desconhecer nada daquilo que dissemos acima.
ambages fatigabit nec corpus orationis in parva24. Não existe ainda ninguém assim tão idiota e tão completamente momenta
diducendo consumet. Nam qui viderit, quid sit, quod in controversiam veniat, quid in eo et per quae velit em cere pars diversa, quid
nostra, quod in primis est intuendum, nihil eorum ignorare, 24 de quibus supra diximus, poterit. Neque est fere quisquam modo non
stultus atque ab omni prorsus
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usu dicendi remotus, quin sciat, et quid litem faciat, dicendi voluptate evagamur, quando uberior semper extra causam
(quod ab illis causa vel continens dicitur) et quae sit materia est, quia in controversia pauca sunt, extra omnia, et hic
inter litigantes quaestio, et de quo iudicari oporteat ; dicitur de his, quae accepimus, illic, de quibus volumus.
quae omnia idem sunt. Naln et de eo quaestio est, 26 Nec tam hoc praecipiendum est, ut quaestionellt, continens,
quod in controversiam venit, et de eo iudicatur, de 25 iudicationem inveniamus (nam id quidem facile est), quam ut
quo quaestio est. Sed non perpetuo intendimus in haec intueamur semper, aut certe si digressi fuerimus saltem respiciamus,
animmn et cupiditate laudis utcunque acquirendae vel ne plausum adfectantibus arma excidant. Theodori schola, ut 27
INSTITUTIO ORATORIA — LIBER 111 INSTITUIÇÃO ORATÓRIA - LIVRO 111
dixi, omnia refert ad capita. His plura intelliguntur : juiz (pois isso é até fácil), quanto que cuidemos sempre de olhar
uno modo summa quaestio item ut status, altero seguramente para trás, caso fizermos digressões, a fim de que não
ceterae quae ad summam referuntur, tertio propositio percamos nossas armas pela ambição do aplauso. A escola de Teodoro,
cum adfirmatione; ut dicimus, Caput rei est, apud como afirmei, relaciona tudo com os argumentos centrais.
Menandrum K€4dÀQ16v ¿cnv. In universum autexn, 27. Entendem-se muitas coisas com esses argumentos
quidquid probandum est, erit caput; sed id maius aut centrais: de um ângulo, a questão maior como também a situação de
minus. causa; de outro, os demais aspectos relacionados a essa questão maior; e,
por último, a proposição com as provas. Como dissemos, 'é o ponto capital
do processo', como em Menandro, KEOÚi(Yv1Óv àOTlV ['kefalaión
estín']. No conjunto, porém, tudo o que deve ser provado é ponto capital,
mas de maior ou menor importância.
568
alienado do uso da arte da palavra, que não saiba tanto o
que seja uma disputa (o que é dito 'causa' ou 'argumento
central' pelos autores), como qual seja a questão entre os
contendores e a respeito do que é preciso julgar: esses três
aspectos na verdade são idênticos. De fato, a questão
consiste naquilo que entra na controvérsia e se julga a 569
respeito daquilo que a questão contém. 28 Et quoniam, quae de his erant a scriptoribus artium
25. Contudo, não mantemos constantemente tradita, verbosius etiam quam necesse erat exposuimus,
esses pontos no espírito e divagamos levados pela ambição praeterea, quae partes essent iudicialium causarum, supra
do elogio, buscado de qualquer maneira, e pelo prazer de dictum est, proximus liber a prima, id est exordio incipiet.
falar, enquanto a matéria mais abundante sempre está fora
do assunto da causa, porque os elementos de uma
controvérsia são poucos, ficando de fora todos os outros; e
nesse caso se fala sobre o que aprendemos e no outro sobre
o que queremos.
26. Não é necessário tanto recomendar que
descubramos a questão, a ideia central e o julgamento do
INSTITUTIO ORATORIA — LIBER 111 -
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA LIVRO 111
6 Protágoras — De Abdera, cidade da Trácia, Viveu no século V a.C. (c.485-425),
tendo sido um dos primeiros e mais bem-sucedidos dos sofistas, sobretudo em Atenas.
Sua doutrina pode ser resumida na sentença: "O homem é a medida de todas as
coisas". Foi um agnóstico em relação à existência dos deuses.
7 Evatlo — Famoso retor grego, que superou seu mestre Protágoras num proccsso
movido contra ele. O caso é contado por Aulo Gélio (Noctes Atticae, V, 10): do total
de dez mil denários, que Evatlo devia pagar pelo curso, ele pagou apenas a metade de
entrada e a outra metade devia ser paga quando Evatlo vencesse seu primeiro
processo, O mestre exigiu o pagamento antes que isso acontecesse e o processou;
Evatlo, porém, inverteu a argumentação do mestre de tal modo que os juízes ficaram
confusos e adiaram a decisão sine die.
8 Hípias Sofista, nascido em Elis, capital da Élida, uma província do Peloponeso;
quando jovem, foi contemporâneo de Protágoras e bem apresentado por Platão em
570 Hippias Maior e Hippias Minor. Adquiriu fama como professor e orador, viajando por
28. Uma vez que expusemos, até de modo mais toda a Grécia e relevando conhecimentos em matemática, astronomia, gramática,
prolixo do que seria necessário, o que foi ensinado pelos poética, música e história. Atribui-se-lhe a descoberta da quadratriz, a única linha
escritores das artes sobre esses assuntos, e além disso foi curva então sabida além do círculo.
Notas
Lucrécio — V. nota 18 do Livro I. O absinto, dc que fala Lucrécio, é
uma erva de cujas folhas se extraía um suco muito amargo, usado
pelos antigos romanos e gregos contra a verminose e outras doenças;
era misturado ao vinho em funções religiosas c dado aos vencedores
das disputas de certos jogos. Muito citado na literatura latina. Esta
citação consta da obra De Rerum Natura, IV, 11, semelhante a I, 936.
2 Empédocles — V. nota 16 do Livro I.
3 Córax e Tísias — V. nota 59 do Livro II.
4 Trasímaco — Natural de Cartago (Celcedônia é o nome grego dela);
filósofo sofista e professor de retórica (430-400 a.C.). É mais
conhecido por sua defesa, na Politeia, da tese de que a justiça é do
interesse do mais forte. Sua importância na oratória se deve à
inclusão do apelo às emoções; na prosa, insistiu na necessidade do
ritmo na elaboração do período.
5 Pródico — Nascido em Cios, pequena cidade da Bitínia. Pouco se
sabe da vida dele. Foi filósofo sofista e contemporâneo de Sócrates,
que se refere a ele com simpatia, mas, segundo Platão, com certa
ironia. Embaixador de sua cidade, aproveitou as oportunidades para
aprimorar seus conhecimentos. Há referências a suas discussões e
advertências sobre questões morais; é mais conhecido por sua obra
A Escolha de Hércules (Héracles).
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA — 111 NOTAS
LlvR0 grande parte com as de Quintiliano, sobretudo quanto ao esmero da linguagem
e à fidelidade à história. 21 Apolodoro — V. nota 25 do Livro II.
22
Sobre esses dois retores e suas divergências em matéria de retórica e de filosofia, veja-se
9 Alcidamas — Sofista e retor (século IV a.C.), natural de Eleia. Estudou com Górgias e
a nota 25 do Livro II. Os dados da passagem acima mostram coerência interna.
chefiou a ala conservadora da escola, que enfatizava o poder da improvisação,
baseada em vastos conhecimentos, enquanto Isócrates, a dos inovadores, que
23
Gaio Válgio (Gaius Valgius Rufus) — Foi cônsul em 12 a.C., e um dos
preferiam a força da argumentação dialética com uma linguagem correta e literária membros do círculo de poetas, cujo patrono era Mecenas; pela morte de seu
("Palamedes" InventivoD. escravo predileto,
10 Antifonte — Orador ático (c.480-411 a.C.). Aristocrata convicto, muito
raramente fazia discursos em público, mas ficou célebre redigindo-os para
572
outros. Fixou a estrutura da oratória em introdução (descrição do caso),
Mistes, foi consolado por Horácio e ele mesmo escreveu uma elegia sobre isso. Compôs
narrativa dos fatos, argumentos e provas com possíveis evidências e, por fim,
também epigramas, traduziu para o latim a Ars de Apolodoro, e escreveu sobre questões
a peroração ou conclusão.
gramaticais.
11 Policrates — Professor ateniense de retórica (século IV a.C.). Autor de um 24
Mácio — As fontes disponíveis não são claras quanto a dois autores diferentes, com os
discurso encomiástico a Busiris, criticado por Isócrates, e outras peças nomes de Caius Matius e Gnaeus Matius. Mas parece que se trata do mesmo autor. Na
epidêiticas. época de Sula, traduziu para o latim a Ilíada de Homero em hexâmetros dactílicos.
12 Teodoro — Natural de Bizâncio; sofista e retor grego do século IV a.C., Amigo de Cícero e de imperadores, foi escritor respeitado e comentado também em
mencionado também por Cícero em Brutus, 48. São reduzidos os informes assuntos não acadêmicos, como arboricultura e gastronomia.
sobre esse autor. 25
Domício (Domitius Marsus) — Poeta do tempo de Augusto. Considerado por Marcial
13 Philocteta — Qt/10KtÚrnç, nome de um companheiro de Hércules, que dele como uma de suas fontes inspiradoras, foi poeta lírico, mas escreveu também um poema
herdou o arco e as flechas. Na Ilíada (II, 718), Homero o apresenta épico, Amazonis. Admirado pela urbanitas de sua produção.
comandando sete navios de várias regiões, indo para a guerra de Troia; em 26
Catão (Marcus Portius Cato) — Figura de destaque (234-149 a.C.) na história de Roma,
Lemnos foi picado por uma cobra e ali ficou. Por uma profecia, seus conhecido como censorius. Foi questor, edil, pretor e cônsul (cm 95), agindo sempre
companheiros ficaram sabendo que não ganhariam a guerra sem Filoctetes e com extrema honestidade c corrcçáo, mantendo as tradições da pátria, acentuando
voltaram para buscá-lo. São muitas as variantes sobre ele; foi tema de sempre a justiça em tudo. Cícero conhecia dele 150 discursos (existem ainda fragmentos
de 80); escreveu uma enciclopédia, incluindo agricultura, retórica, medicina,
tragédias de Ésquilo e Eurípedes; desse último Aristóteles tirou o tópico
jurisprudência e ciências militares. Deixou ainda De Agri Cultura (160 a.C.) e Origines,
citado, mas modificou-o; o original é aioxpôv atomâv, ô' éâv PapPápovç
históricas em seis livros.
Iéyetv de que Aristóteles trocou PapPápovç ("que não falam grego") pelo 27
Marco Antônio (Marcus Antonius) — Foi pretor e talvez pró-cônsul em 102
nome do retor Isócrates.
14 Teodectes — V. nota 25 do Livro I. a.C., tendo guerreado os piratas na Sicília. Na política, participou de várias
15 Hermágoras — V. nota 44 do Livro II. correntes, mas acabou assassinado. Foi um dos grandes oradores de seu tempo,
16 Ateneu — Retor, contemporâneo de Varrão que diz dele: "Chama-se Ateneu, ao lado de L. Crasso, respeitado e citado por Cícero em Brutus e De Oratore.
ainda que não tenha nascido em Atenas" (De lingua latina, VIII, 41). Sua oratória era simples, baseada na actio; nunca publicou suas peças oratórias.
Quintiliano o cita várias vezes, mas de fato hoje sabemos muito pouco a Seu tratado sobre a ars ficou incompleto.
respeito de sua vida e de suas obras. 28
cornifício — Sem outra indicação do texto, fica difícil identificar de quem se trata dentre
17 Apolónio Molon — Retor do século I a.C., nascido em Alabanda, cidade da Cária. Foi os vários Cornifícios constantes na história de Roma. Supõe-se que seja o autor da obra
discípulo de Menecles e professor de retórica em Rodes. Esteve em Roma (87 e 81 Rhetorica ad Herennium, escrita entre 86-82 a.C.; seu espírito é bem latino.
a.C., como professor de Cícero e outros. Como advogado, venceu vários processos.
29
Estertínio — Escritor do período de Augusto; segundo Helenius Acron (século II d.C.),
18 Areu — Alexandrino, homem de grande cultura, foi educador de César teria escrito 220 obras, e algo sobre retórica.
30
Galiáo (Lucius Annaeus Gallio Novatus) — Irmão do filósofo Sêneca, adotado pelo
Augusto. Filósofo estoico, que se supõe ter escrito sobre retórica pelas
senador e orador L. lunius Gallio, que não aceitou a acusação dos judeus contra Paulo
menções de Quintiliano e Suetônio.
(Atos, XVIII, 2). Sêneca lhe dedicou algumas de suas obras. Chegou a cônsul. De suas
19 Cecílio — De Calacte, na Sicília, retor do século I a.C. Escreveu a história da guerra
obras pouco se sabe. Com a desgraça do irmão, foi forçado a suicidar-se.
dos escravos na Sicília e obras importantes sobre a retÓrica, v.g., Sobre a
personalidade de doze retores. Lutou pelo aticismo contra as influências asiáticas.
31
Celso (Aulus Cornelius Celsus) — Viveu no tempo do imperador Tibério (14-
20 Dionísio de Alicarnasso — Historiador e retor que viveu e ensinou em Roma 37 d.C.). Escreveu uma enciclopédia, tratando de agricultura, medicina, arte
durante vários anos desde 30 a.C. Suas posições em retórica coincidem em militar, retórica, filosofia e jurisprudência. Considerado o Cicero medicorum,
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA — LIVRO 111 NOTAS
seu bom latim foi o modelo dos renascentistas. De sua obra, sobreviveu melhor raciocínio", "tema", "assunto"; depois; "suposição", "hipótese" e mesmo "pretexto",
a parte que trata da medicina. "sugestão" e outros.
32
Lenas — Cognome do clã dos Popílios. Duas figuras desse clá se destacaram na política
43
V. nota 87 do Livro II.
do século II a.C., Gaius e Publius Poppilius Laenas, além dc outras citadas 44
Orestes e Hortênsio — O autor se refere a duas figuras muito comentadas da
ocasionalmente. Não se dispõem de dados que indiquem de qual deles se trata. literatura grega e romana. Orestes, filho de Agamêmnon e Clemnestra, matou a
33
Vergínio (Verginius Flavus) — Famoso professor do tempo do imperador Nero; tevc própria mãe que, com o amante Egisto, assassinara o pai Agamêmnon; acusado
entre seus discípulos o poeta satírico Pérsio Flaco. Seu renome atraiu invejas, e fôi de matricídio, foi absolvido pelo tribunal dos areopagitas. Há muitas versões
exilado. Quintiliano o tinha em alta conta e o cita diversas vezes. desses relatos. Hortênsio (Quintus Hortensius Ortalus) — O famoso orador
(114-50 a.C.); pretendia deserdar o filho desregrado, e, para não ficar sem
herdeiro, fez acordo com Marcos Pórcio Catão, que lhe cedeu a esposa Márcia,
573
filha de Lúcio Filipe. O fato tornou-se um caso muito discutido entre os retores.
- 45
Ilepí0T0tv — Etimologicamente significa "local ao redor", "multidão ao redor de algo",
ajuntamento"; daí, "cercado", "muro"; "temperatura ambiente", "estado, situação,
34
Plínio (Gaius Plinius Secundus) — Natural de Comum (23/24-79 d.C.), circunstâncias em que alguém se encontra"; "dificuldades , situação embaraçosa";
conhecido como o Velho, fez carreira militar; por discordar de Nero, deixou a "circunstâncias de pessoa, lugar, tempo" etc.
carreira e dedicou-se a escrever sobre história, como Bell" Germaniae, em vinte
46
Keéáñatov designa aquilo que constitui a cabeça, como a "cabeça de um peixe" e no
livros; e sobre assuntos de oratória e gramática: Studiosi, em três livros, espécie plural "cabeças de legumes"; metaforicamente, "o ponto mais alto", "o cimo", '"o ponto
capital", "a parte mais importante de qualquer coisa"; daí, "o coroamento" de uma obra
de manual de retórica; Dubius Sermo, em oito livros, em que tenta conciliar as
ou de uma discussão. FevtKú5rarov — Forma superlativa de 'YEVtKÓç, "referente ao
corrente da analogia e da anomalia.
gênero", "genérico", "geral". Daí a tradução literal, "o mais alto ponto capital"
35
Tutílio — Retor latino do tempo de Plínio, que também o cita, mas de quem não 47
Náucrates — Orador, nascido na Eritreia; consta que escreveu sobre os
se dispóem de maiores informações.
números. Participou de um certame de elogios fúnebres, instituído em 352 a.C.
36
Alblicio — V. nota 58 do Livro II.
por Artemísia, esposa do falecido rei da Cária, Mausolo; concorreu com
37
Partitiones Oratoriae é uma espécie de catecismo, em que Cícero responde a
Tcopompo, Teodectes e Isócratcs; mas quem venceu o certame foi Teopompo,
perguntas formuladas por seu filho sobre a força e a importância da oratória. De
segundo Aulo Gélio (Noctes
data incerta.
Atticae,
38
Díon — Natural de Siracusa (408-354 a.C.), cunhado do tirano Dionísio I. 48
Zópiro — Nascido na cidade de Clasomenas, fundação jónia na Ásia Menor, pátria
Impressionado com a visita de Platão em 389, quis fazer de Dionísio II um "rei- também de Anaxágoras, Hermotimo e de Artemones. Célebre por seus vinhos. Zópiro foi
filósofo". Estudou na Academia de Platão em Atenas; foi também guerreiro, um célebre fisionomista, que aparece durante o julgamento de SÓcrates.
chefiando um exército para libertar sua pátria da tirania, mas não soube 49
Esquines — V. nota 70 do Livro II.
aproveitar suas vitórias. Foi assassinado. 50
Ctesifonte — Filho de Leostene, foi acusado no caso da coroa de ouro conferida a
Demóstenes por Ésquines, num discurso ainda hoje existente (Karà
39
— Plural do neutro termo polissêmico: "que está numa ordem", "que faz parte
de uma linha"; "letra"; "elemento", "'princípio", "ponto de partida"; "os elementos do Mas o próprio Demóstenes se defendeu.
universo", "os elementos de uma ciência" (pontos, linhas para a geometria). Para os
51
Rabírio (Gaius Rabirius Postumus) — Filho póstumo de C. Curtius. Banqueiro
alexandrinos, designava os signos do zodíaco, como "princípios de vida para os como o pai, bancou empréstimos pelo Império todo; depois de receber enormes
homens". somas de Ptolomeu Auletes, rei do Egito, fixou-se em Alexandria.
40
Concional — Adjetivo registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Posteriormente, acusado de ser receptador, foi defendido e livrado por Cícero.
significa "relativo às assembleias do povo" (lat. contio,-onis, gr. àyopú, oposto a pot)ifi, Sob César, seu amigo, foi cônsul em 47 a.C.
assembleia dos chefes") e o tipo de oratória usada nessas ocasiões. 52
Silogismo — Na retórica, "silogismo" tem uma acepção peculiar: a fórmula da lei
41
Anaximenes — De Lampsaco (380-320 a.C.). Discípulo de Zoílo, foi constitui a premissa maior (universal) e o fato a que a lei se aplica perfaz a premissa
historiador e professor de retórica. Escreveu Hellenica, Philippica, uma obra menor (particular). No livro VII, 8, l, Quintiliano trata desse assunto com detalhes.
sobre Alexandre e outra sobre Homero. Sua Rhetorica ad Alexandrum, atribuída
53
Catorze primeirasfileiras — Os assentos dessas fileiras nos teatros eram reservados por
lei aos equites, "cavaleiros", classe social situada entre os senadores e a plebe. A ordem
a ele por Vitório e por esta passagem de Quintiliano, é o único manual de
dos equestres foi instituída ainda nos tempos dos reis de Roma, modificada e ampliada
retórica conhecido do período pré-aristotélico.
ao longo dos anos, com ordenados, privilégios e funções definidas. As 14 fileiras
t
42
YTt06éOEtç — PI. de Ólt00éOtç, termo polissêmico cujo significado etimológico é correspondem ao mesmo número de graus em que eram classificados os membros dessa
"ação de pôr embaixo"; daí "base", "fundamento", "princípio de algo"; "base de um classe social.
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA LIVRO 111 NOTAS
54
Plauto — Trata-se de um filósofo estoico do tempo de Augusto, provavelmente 64
OI')0íu — V. no 23 acima. Como termo filosófico significa "essência", "existência";
Rubellius Plauto. Não confundir com o comediógrafo Titus Marccius Plato, mais "ser", "realidade"; "vida". EogPEP11KÓg, -tog — "fortuito", "acidental"; como subst.,
conhecido. "acidente", "circunstância", "acessório"' (do verbo oogPuívo, "ir junto", "acompanhar").
55
Keía9at — Etimologicamente significa "estar estendido, imóvel ou em repouso' ; estar 65
Posidônio — Nascido em Apamea, cidade da Síria (135-51/50 a.C.). Estudou filosofia
deitado", "estar morto, enterrado ou abandonado"; "situar-se", 'encontrar-se", 'residir". em Atenas com Panécio, fixando-se em Rodes. Em Roma, Cícero foi seu ouvinte e a ele
Curioso é que o autor não tenha traduzido esse termo, como o fizera com os outros; de se refere várias vezes em suas obras. Os poucos fragmentos restantes não permitem
fato, parece não haver no latim um verbo semanticamente igual. reconstituir sua obra, mas sua vasta cultura na maioria dos ramos do conhecimento
56
Kazpov — Acusativo de KUIPÓg; seu significado primeiro é "justa medida". Com a impressionou seus contemporâneos. Sua avaliação do Império Romano inspirou o
ideia de tempo, "momento oportuno", "tempo favorável", "ocasião propícia"; por ex somnium Scipionis de Cícero, através de suas Historiae.
tensão, 'oportunidade", "conveniência", "circunstância'"; com a ideia dc lugar, "local 66
Raciocinativa — Situação de uma causa para a qual não existe uma lei específica, sendo
favorável e conveniente". Indica ainda as estações do ano, como KCCtpóg ZE1k1(Ôvog, necessário buscar em outras leis algo análogo, em que se possa enquadrar a questão;
a estação do inverno". Diferentemente, xpóvog designa o tempo como sucessão dos aplica-se o silogismo retórico (v. definição na nota 52 acima). Diz-se raciocinativa
porque depende de todo um raciocínio de comparação e dedução.
67
Pátrocles — V. nota 45 do Livro II.
575 68
Marco António — Foi pretor, cônsul em 99 a.C. e censor em 97. Venceu os piratas
dias, a duração do tempo, "duração da vida", "idade", entre outros significados cilicianos; na política foi amigo de Mário, mas depois se voltou contra ele; quando
correlatos.
57
Trasíbulo — Filho de Licos, falecido em 388 a.C. Grande general e estadista 576
ateniense, foi chefe do Estado democrático de Atenas em 411. Exilado, foi para
Tebas, onde começou a organizar um exército; quando atingiu mil homens,
atacou e derrotou os Trinta Tiranos no Pireu. Participou ativamente na guerra de
Corinto (389-8). Para conseguir a unidade da democracia ateniense, soube fazer Mário voltou a Roma, Marco Antonio foi executado. Juntamente com Lúcio
concessões na justa medida. Crasso, foi o grande orador de sua época, ouvido e admirado por Cícero, que o
58
Tpózov — Termo polissêmico: etimologicamente significa "direção"; daí, "modo", cita em suas obras. Sua oratória é simples, baseada sobretudo na actio.
maneira", "atitude"; em retórica, "modo de se expressar", "estilo'", especificamente, Escreveu um tratado de retórica, embora incompleto.
"tropo" como "figura de palavra". Na música, "melodia", "tom", "modo", "canto". 69
Vergínio (Verginius Flavus) — Famoso professor de retórica dos tempos de Nero (54* -
59
épyov — àOopgàg: Acusat. plural de &oopgó, que significa "ponto de partida", "base",
68 d.C.); teve entre seus discípulos o poeta Pérsio. Sua fama causou-lhe o exílio. O
"origem", "princípio"; depois, "ocasião", "pretexto'"; épycov, genit. plural de épyov,
mestre Quintiliano o cita várias vezes com grande consideração.
"ação", "obra", "trabalho", entre outras acepções. A expressão significa a ocasião dos
atos".
70
A'vttvogíff — "Contradição dentro das leis"; "recurso a leis contraditórias que
60
Arquedemos ou Arquidamus — Filósofo dialético de Tarso, de cuja escola foi chefe. se opõem às duas partes".
Cícero (Acad. 4, 47) diz que foi um opiniosissimus homo e cita suas longas discussões 71
ôl(ivotuv — Literalmente, "conforme o convencionado e
com Antípater, pertencente à mesma escola. Outro filósofo com o mesmo nome era conforme o raciocínio".
estoico. 72
— "Participação", "troca", "permuta".
61
Negativa — Lat. infitialis. Termo técnico e jurídico; infitiator é aquele que nega, 73
7tpotpETtTIKñv otúotv — Forma acusat.: "situação persuasiva" (que pode fazer
particularmente, ter dívidas ou a obrigação de fazer depósitos e questões semelhantes,
adiantar), "exortativa". ItocpopVITITtKfiv: "cstimulativa", "encorajadora", "exortativa".
com clara intenção de fraude, porque sabe que está negando fatos verdadeiros e tem 74
Ot)Vtei1KfiV: "Terminada", "concluída", "passada"; daí "conjetural".
consciência disso. Pode-se inferir não serem raros esses casos pela presença de toda uma
família semântica com essa base: infitiare, infitias eo, infitiatrix, infitiatio e os citados
75
Ó7t00vÀCiKTtKÓV — Adjetivo do verbo Ó7t01iiÚttetv, "trocar", "mudar",
acima. "substituir"; assim, o defensor admite o ato praticado, mas lhe dá outro nome,
62
AlK0110ÀOYtKÓg — Adj. "próprio de advogado", "relativo ao processo". como "roubo" por "sacrilégio".
AIRO'vtOiO'YíOl — 76
Téon (Aelius Theon) — Professor de retórica e filósofo estoico do tempo de Augusto,
"Processo", "julgamento"; como termo retórico significa "discurso do gênero judicial". natural de Alexandria. Escreveu Comentários a Xenofonte, IsÓcrates e Demóstenes,
63
Pinflo — Pelo contexto, não fica claro de quem se trata. Há um Pânfilo, além de uma Ars Rhetorica, que foi de grande aceitação popular.
retÓrico mencionado por Aristóteles; talvez seja o mesmo que foi discípulo de 77
yéveazv — Termo polissêmico: "força produtiva", "princípio", "causa"; daí "produção",
Platão e mestre de Epicuro. Cícero (De Orat., 3, 81) cita um Pânfilo, orador "criaçao ; origem", "nascimento"; "raça", "família".
grego.
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA — LIVRO 111 NOTAS
78
iôzórnca — "Propriedade ou natureza particular", "caráter próprio"; no plural,
"particularidades", "nome próprio".
79
d{íav — "Que tem peso", "valioso", "digno", "merecedor"; "de grande valor"; donde a
ideia de quantidade.
80
geráoruatç— "Deslocamento", "afastamento"; "mudança", "troca" (de governo, de
autoria, de residência); "emigração", morte".
81
Ttpuygocxucfiv (otúotv) — "Referente à ação"; "capaz de agir" "eficaz", "forte";
"prudente", Na retórica, "concernente às atividades judiciais, de jurisprudência e dos
tribunais"; daí o lat. pragmaticus, "jurisconsulto", "advogado"; "aquele que fornece
causas aos oradores e aos advogados".
82
0 termo latino assertio não tem propriamente um correspondente português no sentido
jurídico latino: "ação de reivindicar para alguém a condição de pessoa livre ou escrava".
Enquanto corre o processo, a pessoa é dita in assertione. Herdamos o termo asserção,
mas em sentido de "afirmação categórica" sem relação com a ideia de liberdade ou
libertação. Não existe mais a situação designada por essa palavra.
83
Forma acusativa: sentido etimológico "subtraçáo sutil , redução
gradual"; como termo de retórica, "exceção"; na matemática, "subtração".
84
Catulo e Lúculo — Na primeira edição de Academica, em dois livros, Cícero dedicou o
primeiro a Catulo (Quintus Lutatius Catulus), de família nobre, culto e amigo de Cícero;
e o outro a Lúculo (Lucius Licinius Lucullus), excelente militar e administrador; na
filosofia foi adepto do epicurismo; apreciava a literatura e as artes.
577
INSTITUIÇÃO LIVRO 111 NOTAS
ORATÓRIA -
85
Fideicomisso — Transliteração da expressão latinafidei commissum, em que commissum 95 Tétis — Divindade marinha. Zeus e Posseidon quiseram desposá-la, mas uma profecia significa "ato", "feito",
"bens", ou algo assim, que se entrega a alguém,fdei (dat. defides),de Têmis dissera que o filho dela seria mais forte que o pai; casaram-na então com um "à confiança", "à fé", constituindo um termo
jurídico, designando "entregar, legar bensmortal e nasceu Aquiles, maior que os homens mas menor que os deuses.
96 86
a herdeiro digno de fé para garantir a herança às gerações seguintes". Tideu — Figura mitológica, pai de Diomedes e filho de Eneu. Era pequeno de estatura, Leis das Doze Tábuas
— Trata-se do primeiro código de leis, escritas em placasmas de grande vigor e excelente guerreiro segundo Homero (Iliad, V, 801). Enviado de bronze ou de madeira a mando dos
decemviri legibus scribundis em 451-450 a.C.a Tebas numa embaixada, participou dos jogos aí realizados e venceu todas as competiOs originais foram destruídos pela invasão dos celtas.
Essas leis nunca foram abo-çóes. Humilhados, os tebanos lhe prepararam uma embosca, mas Tideu matou quatro lidas e Cícero afirma que as crianças as decoravam nas escolas. São
formulaçõesdos cinco atacantes. Poemas posteriores celebram suas façanhas no Ciclo dc Tebas. concisas de leis consuetudinárias vigentes, relativas aos fatos comuns da comuni-As
referências de Homero a Agamêmnon estão em Ilíada, II, 477; e a Aquiles, dade. Muitas de suas diretivas estavam em vigor até a época do imperador Justi-id. 11, 180.
97
niano (482-548 d.C.). Menandro (342/1-293/89 a.C.) — Grande comediógrafo grego, menos reconhecido 87 Nó00v — Significa mesmo "bastardo", "ilegítimo", "nascido de escrava ou concubina";por
seus contemporâneos apenas que Filemon, na chamada Nova Comédia. De boa depois "alterado", "corrompido". Em latim, usava-se também spurius com o sentido defamília ateniense, foi discípulo de
Teofrasto. Iniciou a carreira cm 321 c escrcvcu mais bastardo, nascido fora do casamento; como termo jurídico parece ser mais tardio, emde 100 peças conhecidas, enquanto autores antigos enumeram cerca de
900. Seus vista do que afirma Quintiliano, e de procedência etrusca, embora Plutarco a consi-temas abrangem todas as camadas da sociedade: ricos e pobres, livres c escravos, velhos dere sabina. Nosso
termo bastardo é de origem germânica.e moços.
88
Das peças oratórias de Cícero, 58 se conservaram, algumas de modo incompleto, e 48 98 Publicola (Poplicola) — Cognome de Publius Valerius, cônsul junto com o primeiro se
perderam. De In competitores só existem fragmentos; discurso conhecido como TogaBrutus, que sucedeu a Tarquinius Collatinus, considerado um dos fundadores da Candida foi
pronunciado contra os que competiam com Cícero na eleição para oRepública.
99 89
consulado. O In Pisonem se conservou, mas o In Clodium et Curionem se perdeu. Tersites — Nome de um soldado grego, que participou do cerco de Troia, célebre por Sacrum
certamen — Espécie de concurso, instituído por Domiciano, filho do impera-sua grande deformidade física e má língua, considerado demagogo e fútil. Iro — Tamdor Vespasiano, no
90
ano 86 d.C., a ser realizado a cada cinco anos.bém chamado Dulíquio, mendigo dos cruzamentos de ruas na ilha de Itaca, que foi Rainha da Lídia — Figura mitológica, irmã de
Jordano. Tendo matado Ifito, filho demorto por Ulisses. Seu nome tornou-se símbolo proverbial de miséria absoluta. Eurito de Ecália, cidade da Eubeia, Hércules não encontrava quem o
100
purificasse, até Nireu — Homem de grande beleza, um dos pretendentes da mão de Helena; foi para que Apolo decretou que ele deveria ser vendido como escravo. E a
compradora foi aa guerra de Troia com três navios, partindo de Cime; guerreiro medíocre, foi morto
rainha da Lídia, chamada Onfale, que o obrigou a assumir difíceis tarefas, mas longepor Eneias e cremado pelos companheiros. Plístenes — Filho de Atreu, personagem da Lídia.mitológica de várias
tragédias; não se conhece o nexo dessa referência do texto.
91
Liber — Geralmente nomeado Liber Pater, antigo deus italiano da fertilidade e es-Mélio — Spurius Maelius, plebeu rico, que juntou grande quantidade de alimentos e
pecialmente do vinho; identificado com Dionísio e bem mais tarde com Baco. É umos distribuía ao povo por conta própria (440-39 a.C.). Por pretender implantar uma deus
independente, e sua comemoração, no dia 17 de março, consta como Liberaliatirania, foi morto por C. Servilius Ahala e teve a casa arrasada. Mas pairam dúvidas no calendário das
festividades. Junto com Ceres, teve grande cultuação na antigasobre os fatos.
102
Marcos Mânlio — Segundo a tradição romana, venceu os équos e repeliu um ataque Roma.
92
Caos (lat. chaos < grego (b Zúog) — Significa "abismo", "cratera muito grande", "imen- noturno dos gauleses contra o capitólio, em 387 a.C., tendo sido despertado pelos sidáo de
espaço livre", "tempo sem medida"; "espaço imenso e tenebroso que existiagansos sagrados. Na sequência, teria tentado uma revolução, em que foi morto. antes da origem das coisas".
Nessa última acepção, foi personificado por Hesíodo eNão se dispõem de elementos para explicar essa alusão. Mas o fato devc ter aconPlatão; a referência do texto é certamente a essa
personificação. Para os estoicostecido no tempo do rei Xerxes (486-465), quando os persas dominaram a ilha. See agua".gundo o que disseram Plínio, Lucílio, Juvenal e Marcial sobre
INSTITUIÇÃO ORATÓRIA — LIVRO 111 NOTAS
usos e ocorrências cm 93 Latona — Filha do gigante Ceo, foi amada e estuprada por Júpiter, ficando grávida.Samos, aconteciam não raro amputações dos órgãos genitais e da língua por motivos
Quando Juno ficou sabendo do fato, jurou vingar-se e perseguiu Latona por todatorpes.
parte; só encontrou refúgio junto à irmã Astéria na ilha depois denominada Delos. 104 Sibaritas — Habitantes da Sibaris, cidade no golfo de Tarento, na Magna Grécia, Ali nasceram seus dois
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filhos, Apolo e Diana. Há várias versões desses fatos.fundada por volta de 720 a.C.; ricos, eram dados aos prazeres, ao luxo e à indolência. Referência à divinização dos imperadores; pela época,
trata-se da declaração de divin-Tiveram grande influência até serem suplantados pela cidade de Cróton em 510. dade do Imperador Vespasiano (9-79 d.C. e imperador de 69 a 79) e de seu irmão
Tito,105 Foedus Numantinum — Refere-se ao longo embate entre romanos e a cidade de Nuapoteose feita por seu filho Domiciano (51-96), também imperador. mância, situada às margens do rio
Douro na Hispânia Tarraconense. Essa guerra durou
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11 anos; antes de a guerra ser finalmente vencida por Cipião Africano Menor, Caiode Opitérgio e foi surpreendido; os homens preferiram matar-se uns aos outros a Hostílio Mancino, em 137
a.C., foi vencido pelos numantinos e, para salvar o querender-se.
restava do exército, foi obrigado a assinar um tratado humilhante, que o senado114 Tb iàgepov — Significado primeiro: "domesticado", "não selvagem"; em relação aos nunca reconheceu.homens, "de bons
costumes", "civilizado", "polido", "doce", "de bom caráter".
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Jugo Caudino — Caudium era uma cidade samnita nos desfiladeiros dos Apeninos. Fidenates — Habitantes da cidade de Fidena, situada na Via Salária, não longe de Um exército romano, em 321 a.C., sem
conhecer a região, foi surpreendido pelosRoma. Foi uma antiga colonia romana em território etrusco, pelo que os fidenates são samnitas, chefiados por C. Pôncio Telesino, no local conhecido como Furculae Clau-
chamados de etruscos. Vencidos em três levantes contra Roma, a cidade entrou em dinae. Os romanos foram submetidos ao jugo e obrigados a assinar um tratado humi-decadência e, a partir de 39() a.C., não passou
de uma parada na Via Salária.
lhante, que nunca foi reconhecido pelo senado. Posteriormente, os romanos conquis- 116 Sexto Pompeu (Sextus Pompeias Magnus Pius) — Filho mais novo de Pompeu e Múcia. taram e incorporaram a cidade.Esteve
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com o pai na batalha de Farsalo; depois militou na Hispânia. Em 43 a.C., o Haloneso — Ilha do mar Egeu, próxima da Macedônia e entre o Quersoneso e a Sa-senado o nomcoupraefectus classis et orae maritimae.
Sob Augusto perdeu o cargo, mas maotrácia. A ilha havia pertencido a Atenas, mas os piratas a ocuparam. Filipe, rei danão o abandonou e ocupou a Sicília, enquanto socorria exilados e perseguidos polítiMacedônia,
expulsou os piratas, e os atenienses pediram que lhes a restituísse; Filipecos; venceu vários ataques, mas foi vencido cm Naulochus; fugiu com alguns navios
respondeu que a entregaria não como restituição, mas como um presente, porque apara o Oriente, mas foi preso e condenado à morte por M. Titius.
ilha lhe pertencia.117 Varius (Rufus) — Poeta elegíaco, épico e trágico do tempo de Augusto e amigo de 108
Sérvio Sulpício (Servius Sulpicius Rufus) — Destacado orador romano do tempo deVirgílio, de Mecenas e
de Horácio. Seu poema épico De morte segue os princípios fiCícero, a quem escreveu duas conhecidas cartas, numa das quais procura confortarlosóficos de Epicuro, com referências à morte de Júlio César. Sua tragédia
7hyestes, Cícero pela morte da filha dele, Tulliola. Foi cônsul em 43 a.C. e governador da Acaia.donde Quintiliano retirou a citação, foi muito apreciada e elogiada. Por ordem de Morreu durante uma embaixada a
Marco António, pelo que não se enquadraria nosAugusto, publicou a Eneida depois da morte de Virgílio.
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dispositivos legais para merecer funerais oficiais e uma estátua em lugar público. 118 Àmpio (Titus Ampius Balbus) — Natural de Pompeia, muito amigo de Cícero. Em 63 109
Salústio (Gaius Sallustius — 86-35 a.C.) — De família não nobre, militou sem suces-a.C., foi tribunus plebis, ligado a Pompeu, com quem lutou em Farsalo. Depois da so na política
e depois dedicou-se a história: Bellum Catilinae narra a conjuração debatalha, refugiou-se em Éfeso; posteriormente lhe foi permitida a volta a Roma, pelo Catilina, adotando a visão
de Cícero; Bellum lugurtinum trata da guerra contra Ju-que foi felicitado por Cícero. Foi também escritor, mas nada dele chegou até nós, como gurta, da Numídia, em que
mostra também a incompetência dos nobiles em solucionartambém nada temos desses dois discursos citados por Quintiliano.
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os problemas. Lísias — Natural de Siracusa (459-380 a.C.), viveu em Atenas e fundou no Pireu uma Pântano Pontino (palus Pomptinus) — Região pantanosa, formada pela confluência deindústria
de escudos. Uma observação de Platão mostra que Lísias convivia com a vários rios, no sudeste de Roma, entre montanhas volscas e o mar Tirreno; havia al-melhor sociedade ateniense. Por ser
democrata, foi perseguido e exilado pelos Trinta. gumas cidades na região. A via Ápia atravessa a região, mas muitos preferiam umPor ser um emigrado (gétotKoç), não podia comparecer pessoalmente
nos tribunais, desvio. Desde 160 a.C., houve tentativas de drenar essa pântano (Cetego, César, mas redigia para os outros; consta que teria escrito cerca de duas centenas de excelenTrajano), mas essa obra
só veio a ser realizada no século XX. Quanto ao istmo, parecetes discursos, sobretudo de caráter deliberativo.
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ser o de Corinto. Teódoto — Retórico natural de Samos e preceptor do rei Ptolemeu; aconselhou o as111 Fábios (Quintus Fabius Ambustus) — Foi tribunus militum consular potestate em
390sassinato de Pompeu e que a cabeça dele fosse enviada a César, depois da batalha de a.C., na Gália. Enviado como embaixador a Clúsio, então cidade gaulesa da Etrúria,Farsalo, quando estava na
Africa. Foi condenado à morte por Brutus em 43 a.C. assassinou à traição um chefe gaulês, o que ocasionou a guerra contra Roma; mesmo121 Condição — A condição social dos intervenientes nos
processos devia ser levada cm depois da retirada dos gauleses, continuou a ser perseguido; livrou-se pela morte ouconta, atendendo às várias classes sociais, bem estratificadas no Império. Por exemplo,
suicídio. O outro, Marcus Fabius Ambustus, cônsul em 360, 356 e princeps senatusos senadores só podiam ser julgados pelo próprio senado.
em 354, procurou restabelecer a normalidade depois do desastre da invasão gaulesa. 122 Centinviros — Nome de uma corte especial de Roma, constituída por 1()5 membros 112 Saguntinos — Habitantes
de Sagunto, cidade da Hispânia, cerca de 20 km ao norte dena República, três representantes de cada tribo, e por 180 no Império, embora esses Valência; fundada pelos gregos no século III a.C., fez aliança
com os romanos, pelonúmeros variassem nas diversas épocas. Sua criação data dc por volta de 241 a.C., que foi tomada por Aníbal em 219 a.C., quando não havia mais homens aptos paraquando o
número de tribos passou para 35. Geralmente, entravam em açáo depois do continuar com os combates. Detalhes em Tito Lívio, XXI, 14.julgamento por apenas um juiz. A extensão de suas atribuições
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não é clara; em geral, Opitérgio — Cidade na Venécia, na Gália Transpadana. C. António, legado de César,ocupavam-se com os problemas de herança, testamentos e afins. Não se sabe ao certo ficou
sitiado numa ilha do litoral da Dalmácia em 49 a.C. Foram enviados reforçosquando ou quais questões lhes eram apresentadas; contudo, sempre trataram de granpor via marítima, mas a maioria foi
aprisionada. Um navio com mil homens partiudes causas.
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ORATÓRIA —
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Divinaçio (gr. gavttKÓ) — Predição através de sinais preter- ou sobrenaturais de
acontecimentos futuros ou interpretação de fatos passados. A melhor fonte de conhecimento da
divinação é a obra de Cícero De Divinatione. Segundo Cícero, a divinação pode ser natural ou
intuitiva e artificial ou dedutiva. Todas as práticas (astrologia, aruspício, profecia, vaticínio,
augúrio e outras) são comuns às culturas latina e grega. 124OlVttKOCt11YOPIU — "Acusação
contra" ou "acusação mútua".
— "Procura", "investigação" (sobretudo científica e filosófica); "questão" (correspondente ao lat.
quaestio); substantivo do verbo "procurar", "investigar", questionar"; outros significados não têm relação
com o texto.
126ctlttov — Na forma neutra do adjetivo substantivado (Tb (fittov): "que é o autor ou o responsável"; "culpado", "acusado". Em Platão (Crát., 413a), Xb uíctov significa causa",
sendo sinonimo imperfeito de (Yvixíoc, "causa", "motivo"; depois, "imputação" no bom e no mau sentido, "acusação", "reputação", "fama". A sutil distinção semântica entre
os dois termos da mesma raiz nem sempre foi feita ou aceita pelos autores em questão.
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Kptvógevov «b) — "O que deve ser julgado", do verbo ou do méd. Kpívogut•. "separar", "distinguir", "avaliar", "decidir", "julgar" e outros significados afins.
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Arrinczo — Soldado que matou o tribuno C. Lúsio na guerra contra os cimbros por violência. O caso se encontra ainda em duas "declamações"' atribuídas a Quintiliano.
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Trebácio (Gaius Trebatius Testa) — Jurista mais novo que Cícero e seu amigo. Homem de grandes conhecimentos, foi recomendado por Cícero a César e depois a
Augusto, aos quais prestou serviços. Seus escritos trataram sobre religião e direito civil, tendo sido citados pelos pósteros. Cícero dedicou-lhe os Topica; de suas
obras nada chegou até nós.
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Título Instituição oratória — Tbmo I
Autor
Marcos Fábio Quintiliano