Confiabilidade de Sistemas Parte 2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

INTRODUÇÃO À UNIDADE I

CONFIABILIDADE
Esta unidade fará a introdução ao conceito de confiabilidade, dando a base necessária
para que se possam aprofundar os conceitos dos capítulos seguintes.

Serão tratados assuntos como teoria da confiabilidade, probabilidades e distribuições


aplicadas à confiabilidade, além de conceitos de disponibilidade e manutenibilidade.

CAPÍTULO 1
Conceitos de confiabilidade

Para que se entenda o que é a confiabilidade, o estudo da teoria da confiabilidade é


necessário.

Teoria da confiabilidade
A teoria da confiabilidade foi criada devido às exigências do mercado para que
houvesse operações e sistemas confiáveis.

Sistemas produtivos de bens e serviços operando de forma eficaz e prolongada


tornaram-se uma exigência de mercado para distribuição de energia, áreas de
transportes, produção em fábricas, entre muitos outros.

Falhas nos serviços, que muitas vezes eram súbitas e causadas por fatores aleatórios,
hoje devem ser entendidas, analisadas a fim de que não se tenham danos econômicos
e sociais.

Em sistemas produtivos como na Indústria, que utiliza avançados projetos de


automação industrial e redes cada vez com maior capacidade, a necessidade de
sistemas que controlem falhas é crucial para o bom funcionamento de toda a produção.

Além de toda a automação envolvida na Indústria, o grande volume de produção não


pode ser interrompido por falhas no sistema, sejam elas parciais ou globais. Essas

11
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE

falhas trazem grandes prejuízos econômicos nos cenários nacional e da empresa,


dependendo do seu nível.

Portanto, a confiabilidade dos sistemas tem papel fundamental dentro do processo de


produção e na economia como um todo.

Existem várias etapas para que a confiabilidade de sistemas possa ser implementada e
garantida:

» Concepção.

» Projeto.

» Desenvolvimento.

» Operação.

» Manutenção.

» Distribuição.

Com essas etapas seguidas e executadas corretamente, garantem-se:

» Eficiência.

» Segurança.

» Economia.

» Duração.

Resumindo, a teoria da confiabilidade tem por objetivo o prolongamento da vida útil


das atividades, de modo que o sistema seja plenamente utilizado, de modo contínuo e
com carga máxima, sem que seja afetado por falhas nas partes que o compõem.

Para que isso seja possível, a teoria da confiabilidade estabelece leis estatísticas que
giram em torno da probabilidade de ocorrência de falhas no sistema. Nesse quesito,
são utilizadas estatísticas matemáticas e teoria da probabilidade.

Outro método é o conhecimento experimental do que gerou cada falha, ou seja, suas
causas. As causas são ligadas às características dos dispositivos e situações que a
geraram.

A teoria da confiabilidade também estabelece estratégias para que dispositivos


sejam melhorados em relação aos índices de falhas. Essas regras podem ter origem

12
INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE │ UNIDADE I

de diversas naturezas e utilizam técnicas que melhoram o desenvolvimento geral dos


sistemas em questão.

Alguns sistemas em que a teoria de confiabilidade é aplicada podem ser vistos na


Figura 1.

Figura 1. Aplicações da teoria da confiabilidade.

Sistemas elétricos
Redes de transmissão

Sistemas de proteção Sistemas eletrônicos

Rede de distribuição

Sistemas digitais
Redes de transporte Missões espaciais

Sistemas de produção Sistemas de controle

Manutenção preventiva
Estocagem de peças
Redes de transporte marítima
Redes de transporte aéreas

Manutenção corretiva Sistemas de potência

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em aplicações complexas, como, por exemplo, em computadores, usinas, aviões e


até mesmo naves espaciais, há uma crítica elaboração de regras que permite sua
concepção. E mesmo quando há ocorrência de falhas, o sistema já está preparado para
funcionar satisfatoriamente por meio da teoria da redundância.

A necessidade de se utilizar um sistema de confiabilidade surgiu primeiramente no


processo de produção e na distribuição de energia elétrica.

Mas quando surgiram computadores de complexidade elevada para as missões


espaciais e até mesmo em tarefas militares, uma forte pesquisa teve de ser feita, dando
origem ao nível de maturidade que a teoria da confiabilidade tem nos dias de hoje.

Conceitos iniciais de confiabilidade


Mas afinal, o que é a confiabilidade? Confiabilidade, de acordo com a norma NBR-
5462, é a capacidade de um item desempenhar uma função requerida sob condições
específicas durante um determinado intervalo de tempo.

13
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE

Em outras palavras, confiabilidade pode ser descrita como a probabilidade de um


sistema cumprir, sem que haja falhas, determinada missão em determinado tempo.

Veja que todas as sentenças especificam um determinado tempo. Ou seja, a


confiabilidade sempre deve ser atrelada a um período de tempo. Por exemplo,
quando se fala que um computador tem probabilidade de operar 99,8% num
período de 5000 horas.

A norma NBR-5462, além de definir a confiabilidade, também define conceitos cruciais


para o seu entendimento.

Para que o assunto possa avançar, é necessário que se entenda seus principais
conceitos:

» Disponibilidade: pode ser definida como a capacidade de um item


executar certa função estabelecida em um dado intervalo de tempo.
Para isto, são levados em conta aspectos como sua confiabilidade,
manutenção, manutenibilidade e recursos externos garantidos.

» Mantenabilidade: pode ser definida como a capacidade de um


item ser recolocado ou mantido em suas condições de execução de
funções requeridas sob condições específicas, quando há execução de
manutenção também em condições especificadas com procedimentos e
meios prescritos.

A disponibilidade mostra o que aconteceu no passado como um indicador


reativo.

A mantenabilidade é a facilidade com que o time se depara para executar a


manutenção.

Confiabilidade é a probabilidade que mostra as chances do sistema/


equipamento funcionar num espaço de tempo definido.

Os dois termos (disponibilidade e manutenibilidade) serão mais bem explicados no


capítulo 3.

Quando, neste material, for mencionada a palavra “item”, isso se refere a qualquer
parte, componente, subsistema, unidade funcional, dispositivo, sistema ou
equipamento que possa ser considerado individualmente.

14
INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE │ UNIDADE I

Quanto ao desempenho do item, há alguns conceitos que podem ser úteis no


entendimento geral:

» Eficácia: é a capacidade que um item tem de atender um serviço com


características quantitativas específicas.

» Durabilidade: é a capacidade que um item tem de executar uma função


sob condições de uso e manutenção até que o fim da vida útil ou
inadequação do item sejam alcançados. A inadequação tratada aqui se
refere a razões econômicas ou técnicas.

» Dependabilidade: termo utilizado para descrições genéricas que


não tenham expressão quantitativa. Descreve o desempenho da
disponibilidade. Também descreve seus fatores de influência como a
confiabilidade, suporte de manutenção e mantenabilidade.

» Capabilidade: é a capacidade que um item tem de atender um serviço


com características quantitativas específicas sob dadas circunstâncias
internas. Essas circunstâncias internas se referem à combinação de itens
em pane ou não.

Para maiores informações desses conceitos e conhecimento de novos,


sugerimos que se consulte a norma NBR-5462.

História da confiabilidade
A engenharia de confiabilidade na indústria vem crescendo exponencialmente e se
tornou tão importante quanto qualquer outro setor ou disciplina de gerenciamento.

A mecanização e a automação na indústria trouxeram grande dependência por


sistemas de confiabilidade. Muitas vezes essa dependência é descrita como algo
econômico; em outras, como sociais e ambientais. Por exemplo, um motor de um avião
não pode apresentar falhas em voo, pois a falha neste caso seria fatal.

O desenvolvimento tecnológico possibilitou que as empresas aumentassem sua


produção numa escala nunca vista antes. Com isso, a capacidade de receita gerou mais
lucros. É preciso manter esse cenário para a sobrevivência dessas empresas, pois foi
nesse cenário que a confiabilidade ganhou foco e investimento.

15
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE

“Lucro cessante” é o nome que se dá quando uma linha de produção precisa ser parada
e a empresa deixar de ter um lucro por conta de inexecução dos ativos. Esse é um
cenário que precisa ser evitado ao máximo.

O custo de manutenção nas empresas é um dos maiores dentro da indústria, por este
motivo o mercado viu um crescimento explosivo de novas técnicas e conceitos de
manutenção para a confiabilidade.

O conceito “manutenção corretiva” já foi muito utilizado, é a manutenção após a


avaria, o que não é seguro e recomendado nos dias de hoje. Nesse modelo, nunca é
possível saber quando a falha ocorrerá e isso pode causar (e já causou) muitos danos
econômicos, sociais e ambientais.

A primeira geração da indústria utilizava esse conceito de manutenção corretiva, ou


seja, não era possível saber quando a produção teria que ser parada para consertos.

Já na segunda geração, começou a ser trabalhado o conceito de planejamento, e isso


possibilitou a manutenção preventiva.

A manutenção preventiva é uma forma que utiliza planejamento, controle e


programação de manutenção periodicamente. Com essa evolução, já foram notadas
mudanças expressivas, se comparadas à primeira geração.

Mas esse sistema não é totalmente confiável, pois muitos itens não obedecem a uma
“regra” de tempo de vida para apresentarem defeitos, e como esses defeitos não eram
fáceis de prever, continuou sendo fonte de prejuízo para as empresas.

Veja mais algumas desvantagens da manutenção preventiva:

» Não impedia que o item falhasse posteriormente.

» Falhas eram inseridas no processo de execução quando feito


incorretamente.

» Alguns itens não apareciam no processo de manutenção.

» Paradas desnecessárias para manutenção preventiva quando eram mal


planejadas.

Na terceira geração, surgiram novos conceitos com o objetivo de fornecer


conhecimento maior sobre todos os itens que compõem o sistema.

16
INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE │ UNIDADE I

Foram implementadas ferramentas de suporte a decisões baseadas em estudo de riscos


e modos de falhas, análises de efeitos que as falhas causariam no sistema e sistemas
especializados para garantir a tomada de decisão correta.

As técnicas de manutenção também evoluíram, pois há um monitoramento das


condições e muitos tipos de inspeções, além da utilização da manutenção preditiva.

Outra evolução foi o fato de o início do projeto de equipamento dar ênfase à


confiabilidade e manutenibilidade, além de uma forte mudança no pensamento da
indústria em relação ao trabalho em equipe e sua flexibilidade.

Um ponto que merece destaque na terceira geração foi o surgimento dos processos
reability-centred maintenance – RCM ou, em português, manutenção centrada na
confiabilidade – MCC.

Esses processos são utilizados para o que precisa ser feito a fim de garantir que
qualquer item físico continue realizando o que seus usuários necessitem que seja feito
no contexto operacional.

A introdução da engenharia da informação foi uma forte aliada no mapeamento de


falhas dos sistemas e também no monitoramento online com a ajuda de técnicas
preditivas nos processos.

Para o tratamento da informação, são utilizadas ferramentas estatísticas buscando


entender os equipamentos e seus respectivos componentes, fornecendo assim um
maior embasamento para que a equipe de manutenção possa tomar suas decisões
baseadas em fontes seguras.

Com as falhas sendo apontadas de forma correta, a rastreabilidade e históricos de


equipamentos trabalhando em conjunto, a compreensão das causas se tornou um
cenário real e, consequentemente, a necessidade de evitar essa falha tornou-se a maior
preocupação da equipe de manutenção.

A equipe de manutenção conta com diversas ferramentas, como softwares e sistemas


supervisórios que apontam as falhas e ainda conseguem gerenciar as informações
vindas de campo. A partir disso, é possível fazer o monitoramento de acordo com as
estatísticas e identificar o melhor momento para que a intervenção no equipamento
possa ser realizada.

Com o mercado cada vez mais competitivo, a conservação e manutenção dos itens
precisam evoluir de acordo com esse mercado, e vantagens que são apoiadas em
estratégias sustentáveis têm grandes diferenciais.

17
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE

Outra vantagem competitiva é o custo operacional, que quanto menor, melhor. A


empresa, dessa forma, consegue se posicionar e ganhar espaço.

Veja na Figura 2 um esquema de como foram as gerações da confiabilidade na


Indústria.

Figura 2. Evolução da confiabilidade industrial.

Terceira geração

» Monitoração das condições

» Projeto visando à confiabilidade e facilidade da


Segunda geração
manutenção

» Estudos sobre risco

» Revisões gerais programadas

» Computadores pequenos e rápidos

» Sistemas de planejamento e controle


» Sistemas Especialistas
do trabalho

» Versatilidade e trabalho em equipe

Primeira geração » Computadores grandes e lentos

» Conserto após avaria » Modos de falha e análise de efeitos

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010


Fonte: https://www.citisystems.com.br/wp-content/uploads/2011/09/confiabilidade-preditiva-preventiva-industria.gif.
Acesso em: 8 de jun. 2019.

18
CAPÍTULO 2
Probabilidade e distribuições

Neste capítulo serão estudadas as falhas, a função da confiabilidade e também como se


deve escolher o modelo probabilístico ideal.

Estudo das falhas


Para que as funções de probabilidade de confiabilidade sejam entendidas, há a
necessidade do estudo das falhas.

As falhas podem ser descritas como a diminuição da eficácia, sendo ela parcial ou
total, ou da capacidade de desempenho de um item, sendo ele um componente ou até
mesmo um sistema inteiro.

Para exemplificar, um rolamento com defeito e ruidoso pode conseguir trabalhar


por certo tempo antes que venha a falhar totalmente, mas essa falha parcial já causa
sobreaquecimento e ruídos.

Já uma lâmpada queimada possui perda total, sem meio termo ou tempo de mau
funcionamento.

Uma falha parcial geralmente evolui com o tempo e é chamada de falha gradual, e há
também falhas catastróficas que podem ser exemplificadas por um curto-circuito em
uma rede de distribuição de energia.

A duração de uma falha pode ser temporária, como um curto-circuito decorrente


de uma causa passageira, intermitente, como um mau contato em um relé, ou
permanente, como o exemplo já citado de uma lâmpada queimada.

As falhas também são classificadas de acordo com sua dependência com outros
componentes também com falhas. Por exemplo, se um elemento falhar e, em
consequência dessa falha, outros componentes também começarem a falhar, é
chamado de falha dependente. Caso não haja dependência entre as causas das falhas,
ela é chamada de falha independente.

19
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONFIABILIDADE

Classificação das falhas de acordo com o nível da diminuição da capacidade:

» Falhas totais.

» Falhas parciais.

Classificação das falhas conforme a falha evolui no tempo:

» Falhas graduais.

» Falhas catastróficas.

Classificação das falhas quanto à duração:

» Falhas temporárias.

» Falhas intermitentes.

» Falhas permanentes.

Classificação das falhas quanto à ligação com outras falhas:

» Falhas dependentes.

» Falhas independentes.

Alguns conceitos sobre falhas também são importantes para o total entendimento de
confiabilidade, são eles:

» TEMPO MÉDIO PARA A FALHA (MTFF): é como pode ser chamado o


valor médio dos tempos de funcionamento, não contando o tempo de
manutenção.

» TEMPO MÉDIO ENTRE FALHAS (TMF ou MTBF): pode ser descrito


como o tempo médio de trabalho de um equipamento entre duas falhas
consecutivas. Esse equipamento é reparável.

MTBF = MTFF + Tempo de Reparo

» DURAÇÃO DE VIDA: pode ser descrito como o tempo durante o qual


um sistema ou componente consegue manter a capacidade de trabalho,
acima do limite que foi especificado e fora de intervalo de reparos.

» CONFIABILIDADE MEDIDA (OU ESTIMADA): pode ser descrita


como a confiabilidade de um equipamento que é medida pelos ensaios
empíricos. Esses ensaios empíricos geralmente são feitos no fabricante.
20

Você também pode gostar