Tese Gabriela Mourà o de Almeida - Final

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP

CAMPUS DE JABOTICABAL

FUSÃO DE DADOS E APRENDIZAGEM DE MÁQUINA APLICADOS A


PEDOMETRIA

Gabriela Mourão de Almeida


Mestre em Agronomia

2023
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
CAMPUS DE JABOTICABAL

FUSÃO DE DADOS E APRENDIZAGEM DE MÁQUINA APLICADOS A


PEDOMETRIA

MSc. Gabriela Mourão de Almeida

Orientador: Prof. Dr. José Marques Júnior


Coorientador: Dra. Kathleen Fernandes Braz

Tese apresentada à Faculdade de Ciências


Agrárias e Veterinárias – FCAV/Unesp,
Campus de Jaboticabal, como parte das
exigências para a obtenção do título de
Doutora em Agronomia (Produção Vegetal).

2023
DADOS CURRICULARES DA AUTORA

Gabriela Mourão de Almeida – Filha de Luiz Carlos Carneiro de Almeida e


Katia do Socorro da Cunha Mourão de Almeida, nascida na cidade de Belém no
estado do Pará, no dia 15 de novembro de 1994. Em abril de 2013 iniciou a graduação
em Engenharia Agronômica na Universidade Federal Rural da Amazônia - campus de
Capitão Poço concluiu o curso em fevereiro de 2018, ao logo de sua graduação
desenvolveu o projeto “Avaliação da omissão de nutrientes no desenvolvimento e
composição mineral de plantas jovens de cupuaçuzeiro (theobroma grandiflorum)
progênie 61” em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental e supervisão do
professor Dr. Ismael de Jesus Matos Viégas. Em março de 2018 iniciou o mestrado
em Agronomia – Programa de Ciência do Solo na Universidade Estadual Paulista -
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (UNESP-FCAV), com bolsa de estudos
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, concluiu
o curso em julho de 2019. Durante seu mestrado desenvolveu a pesquisa
“Aprendizagem de Máquina na Determinação de Ambientes de Produção de Cana-
de-Açúcar” sob orientação do professor Dr. Gener Tadeu Pereira e coorientação da
professora Dra. Angélica Santos Rabelo de Souza Bahía. Em agosto de 2019 iniciou
o doutorado Agronomia – Programa de Produção Vegetal na Universidade Estadual
Paulista - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (UNESP-FCAV), com bolsa
de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
Capes e desenvolveu a pesquisa “Fusão de dados e aprendizagem de máquina
aplicados a pedometria” sob orientação do professor Dr. José Marques Júnior e
coorientação da professora Dra. Kathleen Fernandes Braz. Desde março de 2018 faz
parte do grupo de pesquisa Caracterização do solo para fins de manejo específico –
CSME localizado na UNESP- campus de Jaboticabal.
⁠“Os de ideias curtas acham que os inconformistas
são pragas da sociedade.”
Clarissa Pinkola Estés

“A ciência humana de maneira nenhuma nega a


existência de Deus. Quando considero quantas e
quão maravilhosas coisas o homem compreende,
pesquisa e consegue realizar, então reconheço
claramente que o espírito humano é obra de
Deus, e a mais notável.”
Galileu Galilei
DEDICATÓRIA
Dedico esta tese Deus, o maior orientador
da minha vida. Ele nunca me abandonou
nos momentos de necessidade. Aos meus
pais Luiz e Kátia, a meu marido Vinicius e à
minha irmã Sabrina por todo o apoio e
paciência ao longo destes dez anos de
carreira académica. Vocês são os maiores
incentivadores dos meus sonhos e meu
combustível nos momentos difíceis.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus e Nossa Senhora de Nazaré, por ter me


agraciado com o dom da vida e por ao longo desses dez anos de carreira académica
ter me dado saúde, persistência, sabedoria e resiliência para perseguir os meus
sonhos e por terem me guiado por caminhos que jamais imaginei alcançar.
Aos meus pais, Katia do Socorro da Cunha Mourão de Almeida e Luiz Carlos
Carneiro de Almeida, que se sacrificaram, se dedicaram, abdicaram de tempo e de
muitos projetos pessoais para que eu tivesse a oportunidade de estudar e de ter uma
boa formação profissional, mas também pessoal. Eu devo tudo que sou a vocês, e se
sinto orgulho de mim e do lugar onde cheguei, é porque sei que vocês vieram
segurando a minha mão.
Ao meu marido, Dr. Vinicius Marchioro por todas as noites em claro que
passamos juntos desenvolvendo a nossa pesquisa, por todos aqueles finais de
semana que tivemos que abdicar em função das nossas teses, por cada conversa e
palavra de incentivo, obrigada por segurar a minha mão a cada nova etapa e suportar
as crises de estresse e minha a ausência em diversos momentos. Sem você e sua
presença este trabalho não seria possível.
Agradeço a minha irmã, Sabrina, por cada palavra de incentivo, por todo o apoio
incondicional neste e em todos os anos intensos dentro na universidade, por fim
agradeço por sempre ser presente com os nosso pais enquanto eu estava ausente.
Ao orientador professor Dr. José Marques Júnior, agradeço por todos os
ensinamentos, conselhos, amizade, pela disponibilidade que sempre manifestou e a
empatia com que recebeu as minhas ideias, foram o estímulo que me permitiu vencer
as inseguranças deste processo. Obrigada por tudo.
Agradeço à minha coorientadora, professora Dra. Kathleen Fernandes Braz,
pelo apoio sempre que precisei, por todos os ensinamentos dados ao longo deste
processo e pelos bons momentos que compartilhamos. Obrigada por tudo.
In memoriam ao meu avô Nelson de Azevedo Mourão, a minha avó e madrinha
Maria da Cunha Mourão e minha tia Sandra Cristina Mourão que acompanharam o
início da minha vida acadêmica em matéria e está acompanhando a conclusão em
espírito, pois, a existência material é apenas uma etapa de testes da vida eterna e
quando esta se concluiu não quer dizer o fim de tudo e sim o início da verdadeira vida,
vocês me fizeram muito feliz na infância. As minhas tias Sandra Maria Mourão e Ana
Madalena Mourão por todo o apoio e auxílio dados ao longo da vida desde a ajuda
nas compras do material escolar da educação infantil a companhia para a viagem
rumo ao mestrado.
Aos meus avós paternos Maria José Carneiro e Moacyr Almeida por terem dado
a vida ao meu pai, Luiz Carlos que é uma pessoa maravilhosa e sou o que sou hoje
graças a ele, bem como a todos da família Almeida.
Aos companheiros do grupo de pesquisa CSME por todo o carinho e
companheirismo ao longo da caminhada.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de
Financiamento 001
Ao grupo de pesquisa CSME pela disponibilidade do banco de dados e as
agências de pesquisa CAPES (Proc. n°149940); PROPE / UNESP (Pró-reitora de
Pesquisa da Universidade Estadual Paulista, Edital Nº 15/2014); CNPq
(ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Edital Universal
01/2016 – Faixa C, Proc.n° 402796/2016-0) e Processo FAPESP nº 2013/17552-6.
Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a realização
desse sonho.
Sumário

Capítulo 1 – Considerações gerais .......................................................................... 1


1.1 Introdução ...................................................................................................... 1
1.2 Referencial Teórico ........................................................................................ 3
1.2.1 Pedometria .............................................................................................. 3
1.2.2 Uso de sensores na ciência do solo ............................................................ 4
1.2.3 Fusão de dados ........................................................................................... 6
1.2.4 Aprendizagem de Máquina .......................................................................... 8
1.2.5 Extrapolação de dados .............................................................................. 11
1.2.6 Análises de mineralogia do solo.................................................................... 12
1.3 Referências ...................................................................................................... 13
Capítulo 2 - Fusão de dados multissensor e aprendizagem de máquina na
estimativa de atributos mineralógicos em solos do Planalto Ocidental Paulista.
.................................................................................................................................. 26
Resumo.................................................................................................................. 26
Palavras-chave ...................................................................................................... 26
Abstract .................................................................................................................. 27
Keywords ............................................................................................................... 27
2.1 Introdução ........................................................................................................ 28
2.2 Material e métodos........................................................................................... 30
2.2.1 Caracterização da área de estudo ............................................................. 30
2.2.2 Plano amostral de coleta de pontos .............................................................. 31
2.2.3 Análises de laboratório .................................................................................. 32
2.2.4 Sensores ....................................................................................................... 32
2.2.5 Fusão de Dados ............................................................................................ 33
2.2.6 Análises Estatísticas ..................................................................................... 34
2.3 Resultados e discussão ................................................................................... 37
2.3.1 Estatística exploratória .................................................................................. 37
2.3.2 Fusão de dados ............................................................................................ 40
2.3.3 Análise de predição ....................................................................................... 44
2.3.4 Análise Geoestatística .................................................................................. 51
2.4 Conclusões ...................................................................................................... 57
2.5 Referências ...................................................................................................... 58
Capítulo 3 – Uso de aprendizagem de máquina para extrapolação de atributos
mineralógicos do solo ............................................................................................ 75
Resumo.................................................................................................................. 75
Palavras-chave ...................................................................................................... 75
Abstract .................................................................................................................. 76
Keywords ............................................................................................................... 76
3.1 Introdução ........................................................................................................ 77
3.2 Material e métodos........................................................................................... 79
3.2.1 Caracterização da área de estudo ................................................................ 79
3.2.2 Plano amostral de coleta de pontos .............................................................. 81
3.2.3 Análises de laboratório – Atributos mineralógicos......................................... 82
3.2.4 Espectroscopia de Reflectância Difusa (ERD) .............................................. 82
3.2.5 Aprendizagem de máquina ........................................................................... 82
3.2.6 Geoestatística ............................................................................................... 84
3.3 Resultados e discussão ................................................................................... 86
3.4 Conclusões .................................................................................................... 112
3.5 Referências .................................................................................................... 112
Resumo
Como nos mais diversos setores, a agricultura vem passando por uma revolução nos
últimos anos e para os países que são grandes produtores de alimento como o Brasil
a adoção de tecnologias inovadoras vem se tornando cada dia mais essencial para
alcançar os resultados de produção esperados. Como resultado desta revolução
ocorreu um grande aumento na disponibilidade de dados, ampliação da capacidade
de processamento computacional e assim os antigos modelos de regressão simples
passaram a dar espaço a técnicas mais robustas de análise de dados e assim a
aprendizagem de máquina (AM) começou a sair da área de sistema da informação e
adentrar nos sistemas agrícolas. A AM é atualmente uma das linhas de pesquisa mais
vigoras na agricultura, pois diferente dos modelos clássicos esta tem a capacidade de
trabalhar com toda a complexidade que envolve o sistema agrícola, Dentre as
variáveis ambientais, o solo é a que mais implica em complexidade, diante disso foi
criado uma linha de pesquisa dedicada ao estudo da sua variabilidade que é a
pedometria que consiste na aplicação de métodos matemáticos e estatísticos no
estudo da distribuição, caracterização e gênese dos solos. Pesquisadores atrelados a
essa linha de pesquisa vem afirmando a nova linha de estudo crescente é a utilização
de sensores e a aplicação de técnicas de AM, principalmente em países de clima
tropical e grande extensão territorial como o Brasil, que tem como característica solos
altamente intemperizados e devido a isso demandam uma maior quantidade de
amostras para caracterização. Este tipo de solo frequentemente apresenta o ferro na
composição de seus minerais e este é um importante indicador analítico do solo, pois
ele nos permite a compreender a gênese, classificação e variabilidade do solo.
Palavras-chave: Ciência de Dados; Mineralogia do solo; Banco de dados amplos;
Inteligência artificial; Agricultura digital.
Abstract
As in the most diverse sectors, agriculture has been undergoing a revolution in recent
years and for countries that are large food producers like Brazil, the adoption of
innovative technologies is becoming more and more essential to achieve the expected
production results. As a result of this revolution, there was a large increase in data
availability, expansion of computational processing capacity and so the old simple
regression models began to give way to more robust data analysis techniques and
thus machine learning (ML) began to leaving the information system area and entering
agricultural systems. AM is currently one of the most vigorous lines of research in
agriculture, as unlike classic models it has the ability to work with all the complexity
that involves the agricultural system. Among the environmental variables, the soil is
the one that most implies complexity, in view of this, a line of research was created
dedicated to the study of its variability, which is pedometrics, which consists of the
application of mathematical and statistical methods in the study of the distribution,
characterization and genesis of soils. Researchers linked to this line of research have
been affirming that the new growing line of study is the use of sensors and the
application of AM techniques, mainly in countries with a tropical climate and large
territorial extension such as Brazil, which is characterized by highly weathered soils
and due to this, they demand a larger number of samples for characterization. This
type of soil often presents iron in the composition of its minerals and this is an important
analytical indicator of the soil, as it allows us to understand the genesis, classification
and variability of the soil.
Keywords: Data Science; Soil mineralogy; Large database; Artificial intelligence;
Digital agriculture.
1

Capítulo 1 – Considerações gerais

1.1 Introdução

O Brasil é o maior país de clima tropical e um dos maiores produtores de

alimento do mundo, com área agrícola de aproximadamente 60 milhões de hectares

e com potencial de expansão (Demattê et al., 2019). Porém, a cada dia este setor vem

enfrentando desafios qualitativos e quantitativos, gerados devido a crescimento da

população global e a intensificação das mudanças climáticas (Liu et al., 2023)

O desenvolvimento e a adaptação de tecnologias inovadoras podem ser vistos

como uma abordagem dinâmica que pode ajudar a aumentar os resultados agrícolas

e mitigar a ameaça de escassez de alimentos em todo o mundo (Sarfraz et al., 2023).

Nos últimos anos, com o rápido aumento na disponibilidade de dados abertos, com a

expansão do poder computacional e com o aperfeiçoamento de algoritmos de

aprendizagem de máquina (AM), a inteligência artificial (IA) vem ganhando espaço de

destaque nas mais diversas áreas (Jararweh et al., 2023)

A aplicação IA envolve o processo de aprendizagem das máquinas, que tem

como objetivo fornecer à máquina dados de experiências passadas e dados

estatísticos para que ela possa executar a atividade que lhe foi atribuída para resolver

a uma demanda especifica. Ou seja, é abordagem matemática para construir

máquinas inteligentes e é devido a AM que o domínio de big data e da ciência de

dados evoluiu tanto nos últimos anos (Jha et al., 2019).

Segundo (Bowden et al., 2023) diferente dos modelos de regressão paramétricos

que assumem relacionamentos pré-especificados como lineares ou quadráticos

simples, os métodos de aprendizado de máquina (AM), como modelos XGBoost e

Florestas Aleatórias vem ganhando bastante espaço na agricultura devido à

capacidade de explorar relações sem a necessidade de pré-definir a forma funcional

dessas relações, desembaraçando assim a complexidade das interações não lineares


2

de sistemas agrícolas (Shahhosseini et al., 2021)

Dentre as variações ambientais dos sistemas agrícolas, o solo é um dos que

implica em uma maior complexidade, pois é influenciado por atributos físicos, químicos

e biológicos, cuja interação condiciona sua variabilidade espacial (Moral et al., 2019a).

Devido toda esta complexidade foi desenvolvida uma linha de pesquisa dentro da

ciência do solo que utiliza a matemática para explicar a variabilidade do solo, que é a

pedometria.

A pedometria reúne um conjunto de técnicas que auxilia a tomada de decisão

nos planos de manejo do solo, e é comumente definida como “a aplicação de métodos

matemáticos e estatísticos no estudo da distribuição, caracterização e gênese dos

solos” (Thompson et al., 2012). Segundo (Rossiter, 2018) a aplicação de técnicas

pedométricas demanda avanços tecnológicos de coleta e processamento de grandes

conjuntos de dados. Dentro desta evolução, segundo a linha do tempo desenvolvida

por McBratney et al. (2019) os sensores e a aprendizagem de máquina (AM) são agora

as áreas vigorosas de pesquisa na pedometria e na ciência do solo, devido à enorme

demanda de análise de dados, e tendem a ganhar ainda mais importância,

principalmente em países de clima tropical como o Brasil (Minasny and McBratney, 2016)

Países de clima tropical tem como característica predominante a presença de

Latossolos altamente intemperizados, pois em regiões tropicais há a ocorrência de

variações de alta magnitude dos fatores e processos de formação dos solos (Minasny

e Hartemink, 2011a). Segundo (Camargo et al., 2009) quanto maior a diversidade destes

fatores numa área, principalmente do material de origem e relevo, mais variável são

os atributos destes solos.

Devido a este elevado grau de intemperismo, os minerais residuais

predominantes na fração argila destes solos são a caulinita e oxi-hidróxidos de ferro

e alumínio (goethita, hematita, gibbsita) (Eberhardt et al., 2008a). Estes minerais são
3

considerados pedoindicadores de processos do solo, e suas características

controlam as reações de superfície básicas. Assim, torna-se imprescindível

identifica-los para entender as relações de causa e efeito entre os atributos do solo

(Bahia et al., 2017a), para entender a variabilidade dos atributos e realizar

planejamentos táticos e operacionais de manejo desses solos (Pedron et al., 2018).

1.2 Referencial Teórico

1.2.1 Pedometria

O Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo, com área agrícola

de aproximadamente 60 milhões de hectares e com potencial de expansão. Porém,

em apenas 10% destas áreas são utilizadas técnicas de agricultura de precisão (AP),

o que, ainda assim, compreende cerca de 200.000 análises de fertilidade do solo por

ano (Demattê et al., 2019)

A baixa adoção de AP é associada, dentre outros fatores, ao longo tempo de

execução e alto custo das análises convencionais na avaliação da mineralogia e

fertilidade do solo (Ramaroson et al., 2018), o que torna a análise pouco atraente para

o grande número de amostras necessárias para caracterizar com precisão grandes

áreas. Outro fator relevante, quando se considera a avaliação convencional da

mineralogia e fertilidade do solo, é a grande quantidade de produtos químicos

utilizados durante os procedimentos laboratoriais, que podem vir a ser nocivos ao meio

ambiente, além do alto nível de periculosidade para quem realiza a análise (Ng et al.,

2020a)

Em consequência às limitações das técnicas convencionais de mapeamento do

solo, o nível de detalhamento espacial e a precisão dos mapas convencionais do solo

não são adequados para aplicação de manejo que requer o conhecimento da

variabilidade dos atributos (Liu et al., 2020). Isto, afeta principalmente os países que
4

possuem grandes extensões territoriais ocupadas com agricultura (Demattê et al.,

2019), como o Brasil. Sendo assim, há necessidade de técnicas alternativas para

caracterizar os atributos do solo e suas variações espaciais, por meio de um

monitoramento regular, possibilitando tomadas de decisões em tempo real no campo

(Ng et al., 2019).

Dentre estas técnicas, pode-se citar a pedometria, que é o ramo da ciência do

solo que busca aplicar métodos matemáticos e estatísticos ao estudo de atributos do

solo (McBratney et al., 2019). Inicialmente, os estudos da área dedicaram-se à

modelagem geoestatística da variação espacial do solo (Rossiter, 2018). Com o passar

dos anos a pedometria foi se moldando às novas necessidades do estudo de ciência

do solo. Um exemplo é trabalho de (McBratney et al., 2003) Estes autores traçam os

caminhos do mapeamento digital do solo atual, passando a ser um espaço grande

marco na pedometria. Neste contexto a pedometria passa a ser uma abordagem

convencional e praticada por todas as principais instituições mundiais que trabalham

com solos (Heuvelink et al., 2019).

Atualmente a pedometria está evoluindo na direção da tecnologia da

informação com base no desenvolvimento de computadores mais potentes,

associados à grande quantidade de dados (Big Data), justificando a necessidade de

métodos mais sofisticados (McBratney et al., 2003). Dentro desta evolução, segundo a

linha do tempo desenvolvida por (McBratney et al., 2019), os sensores e a aprendizagem

de máquina são agora as áreas vigorosas de pesquisa na ciência do solo e, devido à

enorme demanda de análise de dados, tendem a ganhar ainda mais importância

(Minasny e McBratney, 2016)

1.2.2 Uso de sensores na ciência do solo

Como consequência das limitações das técnicas convencionais de

mapeamento do solo, têm-se o nível de detalhamento espacial e a precisão dos


5

mapas convencionais do solo não adequados para aplicação de manejo que requer o

conhecimento da variabilidade dos atributos (Liu et al., 2020). Isto afeta principalmente

os países que possuem grandes extensões territoriais ocupadas com agricultura

(Demattê et al., 2019), como o Brasil. Sendo assim, há necessidade de técnicas

alternativas para caracterizar os atributos do solo e suas variações espaciais, por meio

de um monitoramento regular, possibilitando tomadas de decisões em tempo real no

campo (Ng et al., 2020a).

Como a mineralogia do solo é extremamente importante, mas demorada para

ser avaliada por análises tradicionais, novas possibilidades surgiram, como métodos

baseados em sensores. As medições via sensores proximais não utilizam reagentes

químicos e são não destrutivas, proporcionando resultados rápidos e confiáveis (Silva

et al., 2022a; Teixeira et al., 2020)

Diversos trabalhos tem sido desenvolvidos utilizando sensores, proximais ou

satelitais, individualmente ou em associações, para prever diversos atributos de solo,

como grau de intemperismo do solo (Kragt et al., 2012; Teixeira et al., 2022; L. Zhao

et al., 2022a), pH do solo (Merl et al., 2022; Silva et al., 2021), Material de origem e

mineralogia do solo (Mancini et al., 2022; Mendes et al., 2021; Silva et al., 2022b,

2021; L. Zhao et al., 2022a), atributos e fertilidade do solo (Andrade et al., 2022;

Mendes et al., 2021; Silva et al., 2021; Xu et al., 2019; L. Zhao et al., 2022a), carbono

orgânico do solo (Faria et al., 2022; L. Zhao et al., 2022a) e metais pesados (Silva et

al., 2022; Xu et al., 2020 ).

Sensores e técnicas utilizando os princípios da espectroscopia de reflectância

difusa (ERD) permitem observar as estruturas de óxidos de ferro (hematita e goethita)

detectadas no visível (VIS) (400-700 nm), a matéria orgânica, os carbonatos, a água

e os minerais argilosos (caulinita, esmectita e ilita), pelo infravermelho próximo (NIR)

(700–2.500 nm), as assinaturas de minerais de argila, quartzo, óxidos de ferro e


6

matéria orgânica pelo infravermelho médio (MIR) (2.500–25.000 nm), o que

demonstram a potencialidade do uso desta tecnologia na agricultura (Coblinski et al.,

2020; Goldshleger et al., 2004; Nocita et al., 2015; Reda et al., 2019). A análise destes

dados, de forma conjunta (VIS-NIR-MIR), tem-se mostrado superior àquela quando

feita individualmente (Soriano-Disla et al., 2014).

A espectrometria de fluorescência de raios-X (EXRF) funciona por meio da

emissão de raios X de alta energia que atingem os átomos do material contido no solo

(Weindorf et al., 2013), tornando possível identificar a química elementar dos solos.

Como cada elemento possui intensidade de fluorescência característica, a EXRF

identifica e quantifica os elementos presentes na amostra (Weindorf et al., 2014a).

Segundo (Silva et al., 2020a), esta técnica, assim como a ERD, apresenta baixo custo

de execução, fornece informações rápidas e gera um banco de dados robusto, além

de ser um método não destrutivo, e necessita de preparação mínima da amostra. As

três faixas do ERD e EXRF apresentam pontos fortes e fracos, e as informações

contidas em uma faixa espectral específica ou nas intensidades emitidas pela EXRF

não contêm informações suficientes para prever todas as propriedades do solo (Ng et

al., 2020b).

Entretanto, uma problemática encontrada na utilização de sensores é a

inespecificidade e o grande volume de dados gerados, fazendo com que a

interpretação e associação dos resultados com atributos desejados não seja feita de

forma simples e intuitiva (Almeida et al., 2020).

1.2.3 Fusão de dados

Atualmente, a pedometria está evoluindo na direção da tecnologia da

informação, com base no desenvolvimento de computadores mais potentes,

associados à grande quantidade de dados (Big Data), justificando a necessidade de


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métodos mais sofisticados (McBratney et al., 2003). Dentro desta evolução, segundo a

linha do tempo, desenvolvida por (McBratney et al., 2019), a ERD e a aprendizagem de

máquina são agora as áreas vigorosas de pesquisa na ciência do solo e, devido à

enorme demanda de análise de dados, tendem a ganhar ainda mais importância

(Minasny and McBratney, 2016).

Uma das maneiras plausíveis de melhorar a previsão de várias propriedades

do solo é fundir os dados das diferentes faixas de ERD com as intensidades da EXRF.

A “fusão de dados” consiste na união de dados de diversas fontes e pode ser dividida

em três níveis: baixo, médio e alto nível (Hall eLlinas, 2016).

Devido à complexidade e heterogeneidade dos solos, os modelos baseados

em sensores únicos são menos precisos do que os modelos que utilizam

multissensores (Grunwald et al., 2015). A integração de dados de múltiplos sensores,

conhecida como “fusão de sensores” ou “fusão de dados”, está se tornando cada

vez mais popular para fins de estimativa de propriedades do solo (Tabatabai et al.,

2019; Vasques et al., 2020). A fusão de sensores supera as limitações impostas

pelas incertezas contidas em um único conjunto de dados, fornecendo um método

mais abrangente, resultando em modelos de previsão mais robustos e precisos de

caracterização de solos (Andrade et al., 2022; Grunwald et al., 2015; Mancini et al.,

2022; Teixeira et al., 2022; L. Zhao et al., 2022a).

De acordo com (Borràs et al., 2015), o nível mais simples de fusão é o baixo,

que consiste simplesmente na concatenação dos dados originários dos diferentes

instrumentos. O nível intermediário consiste na extração dos dados de maior

relevância, gerados em cada fonte e, em seguida, são convertidos em uma única

escala, utilizando análises como a de componentes principais e, por fim, estes dados

são concatenados em uma única tabela. O terceiro e último nível é o alto, no qual os

dados gerados em cada fonte são submetidos às análises de classificação e de


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regressão para o desenvolvimento de um modelo para os dados de cada fonte e, por

fim, os modelos são combinados para, assim, obter-se o melhor modelo final.

Como já dito anteriormente, tanto o ERD como o EXRF geram um banco de

dados bastante robusto, e a fusão destes dados só aumenta este volume, gerando

assim uma “big data” (BD). O BD é um conceito advindo do ramo da tecnologia da

informação, que vem sendo amplamente aplicado na agricultura e consiste no

processamento de grandes volumes de dados, provenientes de diversas variáveis de

entrada, que são processados em alta velocidade (Baseca et al., 2019).

1.2.4 Aprendizagem de Máquina

Diante da grande quantidade de dados e problemas cada vez mais robustos

para serem interpretados, há necessidade da utilização de análises de dados mais

robustas do que aquelas elaboradas pelos métodos estatísticos tradicionais lineares,

que possuem limitações para entender as interações do sistema trifásico do solo

(Nawar et al., 2019). Em contraste, as técnicas relacionadas ao aprendizado de

máquina (AM) vêm ganhando destaque devido à possibilidade de modelar relações

não lineares em dados, prescindindo das premissas restritivas associadas às

abordagens tradicionais (Bekker et al., 2019a).

A técnica de AM, originada da interface entre a ciência da computação e a

estatística, consiste, basicamente, em utilizar algoritmos matemáticos capazes de

processar (aprender) em sistemas, através de análises de regressão e de

classificação, à medida que são submetidos a treinamentos (Canizo et al., 2019).

Algoritmos de AM são mais precisos na estimativa de atributos de interesse

do que técnicas paramétricas tradicionais, como regressões, por exemplo (Sothe et

al., 2019), especialmente quando o objeto de estudo é complexo, e os dados a serem

trabalhados são não lineares, com diferentes escalas e de diferentes tipos de fonte.

A seleção do algoritmo apropriado para a construção do modelo é fundamental para


9

otimizar os resultados no contexto dos dados disponíveis (Bui et al., 2020).

Um dos algoritmos de AM mais utilizados atualmente é do Florestas Aleatórias

(Random Forest). O modelo de Regressão Florestas Aleatórias (FA) (L. Breiman,

2001) é uma técnica não paramétrica que foi desenvolvida com o intuito de melhorar

a previsão dos modelos de Árvores de Classificação e Regressão, pois utiliza árvores

de decisão totalmente crescidas e reduz o erro e a variação (Yan et al., 2020a).

Tal algoritmo consiste na combinação de diversas árvores, que são geradas

a partir de uma variável de entrada amostrada aleatoriamente, todas as árvores

apresentam o mesmo tamanho. Já as subdivisões das árvores são realizadas com

base em um subconjunto amostrado aleatoriamente do banco de dados total, o

resultado do modelo de FA é composto pela média dos resultados de todas as

árvores (Chagas et al., 2016a).

Algoritmos de Random Forest usam estratégias bagging e subespaço

aleatório para induzirem diversidade entre os aprendizes base para melhor

generalização (L. Breiman, 2001). Bagging, também conhecido como agregação

bootstrap, gera vários pacotes de um determinado conjunto de treinamento, de modo

que cada árvore seja treinada em um determinado pacote de dados. Cada árvore

usa um pacote de dados de treinamento cuja distribuição é semelhante a toda a

população e, portanto, cada classificador apresenta bom desempenho de

generalização. Dentro de cada árvore de decisão, a abordagem de subespaço

aleatório é usada em cada nó não terminal para aumentar ainda mais a diversidade

entre os modelos de base (Ganaie et al., 2022).

Para obter o melhor desempenho de generalização, vários hiperparâmetros

da floresta aleatória precisam ser escolhidos de maneira ideal. Esses

hiperparâmetros incluem número de aprendizes básicos como números de árvores

em uma floresta (ntree), número de recursos candidatos para avaliação em um


10

determinado nó não-folha (mtry) e número de amostras em um nó impuro (nodesize

ou minleaf) (L. Breiman, 2001).

Dentre os algoritmos de AM, o XGBoost (Extreme Gradient Boosting), em

específico, vem sendo bastante empregado e se destacando pela maior robustes e

precisão dos resultados. O XGBoost combina técnicas de otimização de software e

hardware para produzir resultados superiores, usa menos recursos de computação

em menor período de tempo, tem a vantagem de reduzir superestimação e

subestimação de valores, tem a capacidade de minimizar overfitting, trabalha bem

com problemas de normalização de dados, é menos influenciado por mínimos locais

e permite maior possibilidade de ajuste de hiperparâmetros (Maurya et al., 2022a; D.

Zhao et al., 2022a).

Este algoritmo é um modelo de otimização com características tanto de um

modelo linear quanto de um modelo de árvore e pode concluir simultaneamente

tarefas de regressão e classificação ao mesmo tempo. O algoritmo é composto por

várias árvores de decisão e o aprendizado dele é realizado por meio da integração

de árvores de decisão, onde os valores previstos de todas as árvores de decisão

somam-se aos valores previstos do modelo e o modelo é treinado pelo algoritmo de

árvore de decisão de levantamento de gradiente (Wang et al., 2022).

Este algoritmo foi apresentado pela primeira vez por (Chen and Guestrin,

2016b) e tem sido amplamente utilizado devido à sua eficiência robusta. O Xgboost

usa um algoritmo de gradiente descendente para atualizar os parâmetros do modelo

e tem a capacidade de reconhecer os recursos mais importantes. Devido à natureza

estocástica do algoritmo, a sequência de prioridade do recurso pode variar, portanto,

o algoritmo é executado várias vezes e a probabilidade de cada recurso para cada

posição é calculada e, com base na probabilidade mais alta, as sequências de

importância do recurso são decididas (Chen and Guestrin, 2016b), sendo


11

especialmente usado para lidar com dados espaciais (Xu et al., 2022).

O algoritimo de XGBoost tem sido empregado com sucesso para estimativa

de diversos parâmetros ambientais como, cobertura vegetal (Maurya et al., 2022a),

qualidade da água (Xu et al., 2022), modelos hidrológicos de bacias (Wang et al.,

2022), meteorologia florestal (Ghafarian et al., 2022), água no solo (Karthikeyan and

Mishra, 2021), modelos de física do solo (Zhang et al., 2021), salinização do solo

(Ma et al., 2021), erosão do solo e da água (Golkarian et al., 2023), carbono do solo

(He et al., 2022; Nguyen et al., 2022b; Zhang et al., 2022), parâmetros produtivos de

culturas agrícolas (Han et al., 2022), metais pesados no solo (Ye et al., 2023; D. Zhao

et al., 2022a), entre outras aplicações, o que tem feito esse algoritmo despontar nos

últimos anos.

1.2.5 Extrapolação de dados

Em áreas com bases limitadas de dados de solo, métodos de interpolação

espacial podem ser usados para prever solos em locais não visitados, porém,

surgem problemas de acurácia quando se pretende prever atributos de solo em

áreas com poucas observações de solo (Ruhollah et al., 2022a). Em tais situações,

uma abordagem de extrapolação pode ser aplicada para prever os solos na área

alvo (locais sem observações) usando os solos da área de referência (área com

observações adensadas) se os solos de duas áreas forem controlados

principalmente por fatores de formação de solo semelhantes, como bem como

processos pedogênicos semelhantes (ten Caten et al., 2011a). Portanto, um modelo

AM desenvolvido para uma área de referência, usando abordagens de mapeamento

digital do solo, pode ser extrapolado para prever as características do solo da área

alvo (Afshar et al., 2018a; Cambule et al., 2013a).

Vários estudos usaram modelos de extrapolação para prever espacialmente


12

classes de solo ou propriedades em áreas alvo. Em tais estudos, os modelos AM

foram treinados usando um conjunto de dados incluindo covariáveis e dados de solo

observados de uma área de referência para prever solos em uma área alvo (Angelini

et al., 2020a; Silva et al., 2016).

Deve-se notar que existem vários desafios que podem afetar as estimativas

para as áreas-alvo. A dissimilaridade nos fatores formadores do solo e nos fatores

ambientais (Malone et al., 2016), diferentes usos da terra e histórico de cobertura do

solo (Temme and Veldkamp, 2009), entre outros fatores, estão entre os problemas

mais importantes que devem ser considerados na modelagem.

1.2.6 Análises de mineralogia do solo

Os fatores e processos de formação do solo influenciam diretamente a

variabilidade espacial dos atributos do solo, devendo ser considerado no seu manejo

(Gray et al., 2016). Apesar das análises mineralógicas serem essenciais para o

entendimento da dinâmica dos solos tropicais (Costa et al., 2020) estas não são

realizadas de forma rotineira como as de fertilidade, o que pode ser associado à alta

complexidade das análises mineralógicas do solo, o que acaba exigindo maior tempo

para análises, profissionais especificamente qualificados e muitos reagentes

químicos (Rosin et al., 2022), fazendo com que a tomada de decisão em campo ainda

seja complexa, baseada na expertise dos profissionais e pouco assertiva (Moral et al.,

2019b; Sumathi, 2018).

Diante desta dificuldade Rennert (2019) tentou emplacar uma abordagem

alternativa que apresenta baixo custo e não requer instalações laboratoriais

sofisticadas. Este método consiste na separação da substância alvo das amostras

de solo e em seguida na execução da análise química do sobrenadante, diminuindo

o tempo de análises, a quantidade de reagentes, equipamentos e o número de


13

profissionais envolvidos.

Para extração de óxidos Fe foram desenvolvidos dois métodos que

quantificam Fe totais ('livres') no solo. O primeiro consiste na extração por ditionito–

citrato-bicarbonato (FED). Para determinação é realizada a dissolução redutiva

através da ditionita, neste processo os íons de Fe2+ e Al3+ são reduzidos e liberados

concomitantemente e permanecem em solução na presença de um agente

complexante como o citrato (Holmgren, 1967a). Enquanto a solução de bicarbonato

mantém o pH neutro.

O segundo método consiste na extração com oxalato de amônio-ácido oxálico

(FEO) que induz a formação complexos solúveis entre o oxalato e os íons Al e Fe.

Ao atingir o pH < 3.5, as superfícies de óxidos são protonadas, sendo este o primeiro

estágio de dissolução em seguida ocorre a adsorção de oxalato e liberação de íons

Al3+ e Fe3+ (McKeague e Day, 1966). Enquanto o FED mostra os conteúdos de ferros

cristalinos que constituem os óxidos, o FEO mostra aqueles de menor cristalinidade.

Ambos permitem uma indicação aos conteúdos totais de óxidos de ferro por métodos

eficientes e menos morosos (Ker et al., 2012).

Porém, ao longo dos anos mesmo essa abordagem alternativa a quantificação

de Fe não ganhou espaço como análise de rotina em laboratórios. O que pode ser

atribuído ao fato de as análises laboratoriais serem de alta periculosidade pois

utilizam ácidos, sais e soluções de alta periculosidade. Além disso, ainda são

necessários técnicos que dominem os métodos para realização das análises, longo

tempo para execução e por fim, apresentando alto custo (Mendes et al., 2022a).

Fatos que também tornam estas análises pouco escaláveis.

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Capítulo 2 - Fusão de dados multissensor e aprendizagem de máquina na


estimativa de atributos mineralógicos em solos do Planalto Ocidental Paulista.

Resumo: A análise dos atributos do solo é de extrema importância para a agricultura.


Porém, os métodos de quantificação tradicionais são de altos custos, morosos e
geram resíduos, muitas vezes poluentes. A espectroscopia de refletância difusa
(ERD), a espectrometria de fluorescência de raios-x (EFRX) e análise de
susceptibilidade magnética do solo (SMBx) associados a técnicas de aprendizagem
de máquina têm sido utilizadas como alternativas viáveis na determinação de atributos
do solo. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi estimar atributos mineralógicos do
solo, utilizando-se de técnicas de fusão dos dados obtidos pelos sensores ERD, EFRX
e SMBx e algoritmos de aprendizagem de máquina, em solos de diferentes geologias
no Planalto Ocidental Paulista. Esta área ocupa cerca de 13 milhões de hectares, onde
foram coletadas amostras de solo em 359 pontos em grid irregular. Foram executadas
as análises de ERD, EFRX e SMBx, e determinação dos atributos mineralógicos do
solo, por metodologias convencionais. Após, os dados foram submetidos a dois níveis
de fusão e, em seguida, submetidos às análises de Stepwise e XGBoost para treino,
teste e validação dos modelos. Por fim, com o auxílio da geoestatística foram
confeccionados mapas da área com os dados obtidos pelo método convencional e
preditos pelos modelos. A técnica de “limpeza” das variáveis de entrada por meio da
stepwise, permitiu que o resultado do modelo de aprendizagem fosse aprimorado.
Foram apresentados os melhores resultados das métricas de avaliação, utilizando
apenas cerca de 2% do volume original de dados. A variabilidade geológica impacta
diretamente nos dados obtidos pelos sensores e nas predições. A fusão de dados foi
eficiente na estimativa dos atributos mineralógicos. Individualmente os dados obtidos
por EFRX foram mais eficientes nas predições.

Palavras-chave: Pedometria; Mineralogia do solo; Banco de dados amplos;


Inteligência artificial; Agricultura digital.
27

Abstract: The analysis of soil attributes is extremely important for agriculture.


However, traditional quantification methods are costly, time-consuming and generate
waste, which is often polluting. Diffuse reflectance spectroscopy (ERD), x-ray
fluorescence spectrometry (EFRX) and soil magnetic susceptibility analysis (SMBx)
have been used as viable alternatives in the determination of soil attributes. In this
sense, the objective of this work was to estimate soil mineralogical attributes, using
data fusion techniques obtained by ERD, EFRX and SMBx sensors and machine
learning algorithms, in soils of different geologies in the Western Plateau of São Paulo.
This area occupies approximately 13 million hectares, where soil samples were
collected at 359 points in an irregular grid. ERD, EFRX and SMBx analyzes were
carried out, as well as determination of soil mineralogical attributes, by conventional
methodologies. Afterwards, the data were submitted to two levels of fusion and then
submitted to Stepwise and XGBoost analyzes for training, testing and validation of the
models. Finally, with the help of geostatistics, maps of the area were made with data
obtained by the conventional method and predicted by the models. The technique of
“cleaning” the input variables through stepwise allowed the result of the learning model
to be improved. The best results of the evaluation metrics were presented, using only
about 2% of the original volume of data. Geological variability directly impacts the data
obtained by sensors and predictions. Data fusion was efficient in estimating
mineralogical attributes. Individually, the data obtained by EFRX were more efficient in
the predictions.

Keywords: Pedometry; Soil mineralogy; Large database; Artificial intelligence; Digital


agriculture.
28

2.1 Introdução

A distinta frequência e a intensidade de fatores e processos de formação do

solo em zonas tropicais comumente é expressando nas propriedades morfológicas,

químicas, físicas e mineralógicas do solo (Fonseca et al., 2021). Resultando na

frequente presença de solos intensamente intemperizados nessas regiões (Minasny

e Hartemink, 2011b).

Como resultado, os principais minerais de ocorrência na fração argila desses

solos são óxi-hidróxidos de alumínio e ferro, como a gibbsita (Gb), hematita (Hm),

goethita (Gt) e o aluminossilicato caulinita (Ct) (Eberhardt et al., 2008b). Segundo

(Baldo et al., 2021a) esses óxidos apresentam diversas constituições e formas, além

de proporcionar uma ampla variação na cor do solo, agregação das partículas,

retenção de cátions e ânions e o buffer de elétrons e prótons. Sendo assim

influenciam diretamente na resposta do solo às práticas de manejo, mesmo quando

presentes em concentrações muito pequenas (Schwertmann and Taylor, 2018).

Os métodos tradicionais de caracterização da mineralogia como: a difração

de raios X (DRX) que avalia a estrutura dos cristais no solo (Whittig, 1965), extração

por ditionito–citrato-bicarbonato (FED) que consiste na dissolução redutiva por

ditionita, onde íons de Fe2+ e Al3+ são reduzidos e liberados em solução (Holmgren,

1967b) e na extração por amônio-ácido oxálico (FEO) que induz a formação

complexos solúveis entre o oxalato e os íons Al e Fe e ao atingir o pH < 3.5 ocorre a

adsorção de oxalato e liberação de íons Al3+ e Fe3+ (McKeague e Day, 1966)

apresentam limitações em sua aplicação.

Dentre essas limitações, destaca-se: a necessidade de técnicos que dominem

os métodos para realização das análises, longo tempo para execução, alta

periculosidade e por fim, apresentando alto custo (Mendes et al., 2022a). Por

consequências tais analises se limitam ao meio acadêmico


29

A fim de obter um método efetivo para caracterização da mineralogia, a

pedometria vem baseando seus avanços no uso de metodologias práticas, de baixo

custo e de fácil acesso, como o uso de sensores. A associação de dados obtidos por

sensores de espectroscopia de reflectância difusa (ERD), espectrometria de

fluorescência de raios-x (EFRX) e susceptibilidade magnética (SMBx) já vem sendo

aplicadas com sucesso em várias subáreas da ciência do solo (Bahia et al., 2017b,

2015; Marques et al., 2014; Silva et al., 2020b; Silvero et al., 2019; Weindorf et al.,

2014b). Na literatura, já podem ser observadas predições de atributos mineralógicos

e físicos como a textura, e químicos (pH, CTC, entre outros), pela fusão dos sensores

(Padarian et al., 2019; Tsakiridis et al., 2020) ou pelo uso destes de forma individual

(Almeida et al., 2021; Bahia et al., 2017b, 2015; Baldo et al., 2021a; Silva et al.,

2020b).

O que há em comum nos dados obtidos a partir desses três sensores (SMBx,

EFRX e ERD) é a especificidade e o grande volume de informações geradas.

Portanto, são necessárias técnicas de modelagem matemáticas mais robustas,

como as técnicas relacionadas ao aprendizado de máquina (AM), que vem ganhando

destaque neste âmbito (Almeida et al., 2021). Estas técnicas permitem modelar as

relações não lineares dos dados, algo que os métodos estatísticos tradicionais

lineares não permitiam (Bekker et al., 2019b).

A AM consiste em utilizar algoritmos matemáticos capazes de processar

(aprender) em sistemas, por meio de análises de regressão e de classificação, à

medida que são submetidos a treinamentos (Canizo et al., 2019). Dentre os

algoritmos de AM o eXtreme Gradient Boosting (XGBoost), algoritmo de última

geração, fornece melhores resultados em uma ampla gama de problemas (Chen e

Guestrin, 2016). Seu design reduz com sucesso a complexidade da estrutura de uma

rede neural e evita o overfitting (Zhan et al., 2022).


30

Neste contexto, levanta-se a hipótese de que o uso de dados obtidos por

sensores (com baixo custo e rapidez) associados a diferentes níveis de fusão de

dados e algoritmos de AM podem aprimorar a estimativa de atributos do solo,

permitindo a confecção de mapas de manejo específico de alta precisão. Portanto,

o objetivo deste trabalho foi estimar atributos mineralógicos (FED e FEO), utilizando

diferentes níveis de fusão de dados e o algoritmo XGBoost, a partir de dados obtidos

dos sensores ERD, EFRX e SMBx, em solos de diferentes formações geológicas no

Planalto Ocidental Paulista.

2.2 Material e métodos

2.2.1 Caracterização da área de estudo

Neste trabalho utilizou-se um banco de dados legados, cedido pelo grupo de

pesquisa Caracterização do Solo para Fins de Manejo Específico (CSME) da Unesp-

Jaboticabal. O banco de dados refere-se à uma área do Planalto Ocidental Paulista

(POP) que corresponde a aproximadamente 48% de todo o Estado de São Paulo,

totalizando 13 milhões de hectares (Figura 1a). A área produz cerca de 80% da

produção nacional de etanol, açúcar e citros e já vem sendo estudada por vários

autores do grupo CSME (Silvero et al., 2019).

A geologia do POP é constituída por dois tipos de rochas: magmática e

sedimentares. A rocha magmática extrusiva corresponde a formação Serra Geral.

Enquanto as sedimentares constituem-se de várias formações geológicas: Grupo

Caiuá composto pelas Formações Santo Anastácio e Rio Paraná no estado de São

Paulo, correspondente a depósitos de lençóis de areia, de clima seco, acumulados

em extensas e monótonas planícies desérticas, marginais dos grandes complexos

de dunas do sand sea (Deserto Caiuá) que se estende para região norte do estado

do Paraná; e o Grupo Bauru é composto pelas formações Uberaba, Vale do Rio do

Peixe, Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Marília (Fernandes
31

et al., 2007, 2004).

Figura 1. Mapa de localização da área, com destaque para a malha irregular


estabelecida no estudo (a), Mapa de distribuição da formação geológica (b) e Mapa
da distribuição das classes de solo (c).

Segundo o mapa de solos do Instituto Agronômico de Campinas, seis classes

de solo foram registradas na área de estudo: Argissolo Vermelho-Amarelo, Latossolo

Vermelho, Latossolo férrico, Neossolo Litólico, Nitossolo Vermelho e Gleissolo

Háplico (Figura 1c). Segundo o padrão geológico os solos de geologia basáltica

apresentam maiores conteúdos de Gb e Hm, enquanto os solos originados de arenito

apresentam os maiores conteúdos de Ct, conforme pesquisas já publicadas para a

área de estudo (Silva et al., 2020b).

Seguindo a classificação de Thornthwaite, o POP apresenta o clima tropical

com inverno seco predominante no norte e noroeste, o clima temperado úmido, com

verão quente, prevalecendo no sul e o clima temperado úmido com inverno seco e

verão quente no leste e sudeste (Thornthwaite, 1948).

2.2.2 Plano amostral de coleta de pontos

Para a amostragem levou-se em consideração a base do arquivo de rodovias

do Estado de São Paulo, fornecido pelo Departamento de Estradas de Rodagem

(DER). Com isso, criou-se um plano, por meio da ferramenta ET GeoWizards, no


32

ArcView 9.3. Essa amostragem promoveu representação espacial na área de

estudo, especialmente nos compartimentos geológicos e pedológicos do POP

(Figura 1a). O total de 359 amostras de solo foram coletadas em áreas preservadas

adjacentes às áreas agrícolas com mínima interferência antrópica, tendo como

alinhamento as rodovias (Estado SP), em um espaçamento mínimo de 10

quilômetros (km), até o espaçamento máximo de 60 km.

2.2.3 Análises de laboratório

Os atributos mineralógicos, foco deste estudo, são os teores de ferro

cristalinos extraídos por ditionito-citrato (FED), que foi determinado seguindo a

metodologia de (Mehra and Jackson, 1958). E os teores de ferro extraídos por

amônio-ácido oxálico (FEO), relativos aos óxidos de ferro pedogenéticos de baixa

cristalinidade, cuja determinação seguiu a metodologia citada por (Camargo et al.,

1986).

Para fins de caracterização da área foram citados os teores de Gt e Hm,

obtidos utilizando a difratometria de raios-X (DRX), após a separação da argila pelo

método de centrifugação (Mehra e Jackson, 1958) e tratamento com NaOH 5 mol L-


1 (1g argila/100 ml solução) para a concentração dos mesmos, segundo método de

Norrish e Taylor (1961) modificado por Kampf e Schwertmann (1982).

E para determinação da granulometria realizou-se o método da pipeta, com

uma solução de NaOH 0,1 mol L-1 como dispersante químico e agitação mecânica

em aparato de baixa rotação, por 16 horas, seguindo metodologia preconizada

(EMBRAPA, 2017).

2.2.4 Sensores

A análise de ERD foi feita utilizando um sensor Lambda 950 UV/VIS/NIR. As

amostras de 0,5 g de terra fina seca ao ar (TFSA) foram acomodadas em porta

amostra individual (3,0 × 0,5 cm). Efetuou-se em cada amostra uma varredura de
33

reflectância na faixa do Visível (VIS), entre 250 e 900 nanômetros (nm) e do

infravermelho próximo (NIR) entre 900 e 2500 nanômetros (nm), em um intervalo de

1 nm gerando um banco de dados de 2250 variáveis por amostra de solo.

Para a análise de EFRX foram utilizadas 2 gramas de TFSA, peneirados e

homogeneizados. As amostras foram escaneadas no equipamento modelo NexQc e

irradiadas na atmosfera do ar, utilizando um tubo de raios X Rh operado na corrente

1 (C1) 15 kV, que efetua a leitura das vibrações que indicam a presença de sódio a

escândio (considerando a tabela periódica) e na corrente 2 (C2) 50 kV, que efetua a

leitura das vibrações que indicam a presença de titânio a urânio, por 200s e 250s,

respectivamente.

A análise de SMBx foi determinada utilizando-se de 10 g de TFSA, utilizando

o equipamento Bartington MS2, acoplado ao sensor Bartington MS2B em baixa

frequência (0,47 kHz) e foi gerado o total de uma variável por amostra de solo.

2.2.5 Fusão de Dados

Os dados gerados pelos três sensores: ERD (VIS e NIR), EXRF (C1 e C2) e

SMBx, foram combinados de diversas formas, com o objetivo de aprimorar as

predições e encontrar, assim, a combinação que gera resultados mais precisos nas

estimativas de FED e FEO, obtendo o total de 17 combinações (Tabela 1). No

presente trabalho foram testados dois níveis de fusão: a de nível baixo (LLF), que

consiste na concatenação dos dados gerados pelas três fontes em um único banco

de dados, apresentando na linha as amostras de solo analisadas e nas colunas as

diferentes variáveis geradas por cada um dos três sensores. Neste nível foi gerado

um único banco de dados de 6348 variáveis passando a ser um banco de dados

amplo que se caracteriza por um alto número de variáveis e um baixo número de

amostras (Borràs et al., 2015b).


34

Tabela 1. Níveis de fusão de dados e as distintas combinações de sensores testados


na pesquisa.
Nível de Fusão Banco de Dados Gerado
Nível Médio VIS
Nível Médio NIR
Nível Médio C1
Nível Médio C2
Nível Médio SBMx
Nível Médio VIS+NIR
Nível Médio VIS + C1
Nível Médio VIS + C2
Nível Médio VIS + SBMx
Nível Médio NIR + C1
Nível Médio NIR + C2
Nível Médio NIR + SBMx
Nível Médio C1 + C2
Nível Médio C1 + SBMx
Nível Médio C2 + SBMx
Nível Médio Variáveis relevantes selecionadas pela Stepwise
Nível Baixo Todas as Variáveis
C1- Corrente 1 de 15 kV; C2 - Corrente 2 de 50 Kv; VIS – reflectância na faixa do visível; NIR - reflectância
infravermelho próximo; SBMx –suscetibilidade magnética.

O segundo nível testado foi o nível médio (MLF) que consiste inicialmente na

extração de algumas variáveis relevantes do banco de dados de cada sensor

separadamente. Em seguida as variáveis selecionadas são concatenadas em uma

única matriz, apresentando na linha as amostras de solo analisadas e nas colunas

as variáveis selecionadas de cada sensor.

Para este nível foram gerados 17 bancos de dados, sendo 5 com os sensores

individuais para avaliação de forma isolada, 10 contendo distintas combinações de

sensores e 2 contendo todos os sensores em um banco de dados.

2.2.6 Análises Estatísticas

Em posse do banco de dados, a primeira análise realizada foi a estatística

descritiva dos atributos do solo (textura, FED e FEO) e para viabilizar o entendimento

dos dados foram desenvolvidos gráficos de violinos, agrupados em função dos

compartimentos geológicos existentes na área de estudo. Em seguida os


35

compartimentos geológicos foram convertidos em variável dummy (Suits, 1957),

onde solos de compartimento arenítico foram classificados como 0 e solos de

compartimento basáltico como 1. Na sequência foi desenvolvida uma matriz de

correlação de spearman com as variáveis dummy e os atributos de solo.

Na etapa seguinte iniciou-se o processo de fusão de dados. A primeira

realizada foi a de nível baixo onde as variáveis foram concatenas em um único banco

de dados sem nenhuma etapa de pré-processamento. Já a fusão de nível médio

exige uma pré-seleção das variáveis mais relevantes para os atributos de forma

individual. E por fim a concatenação das variáveis mais relevantes de todos os

sensores.

Para a seleção dos atributos mais relevantes de cada sensor, os dados foram

submetidos à análise de regressão linear múltipla com seleção de variáveis pelo

método Stepwise forward - backward. As variáveis target foram os valores de FED e

FEO. Para facilitar o entendimento do processamento dos dados foi confeccionada

Figura 2, com um fluxograma de todas as etapas.


36

C1- Corrente 1 de 15 kV; C2 - Corrente 2 de 50 Kv; VIS – reflectância na faixa do visível; NIR -
reflectância infravermelho próximo; SBMx –suceptibilidade magnética, FRX – fluorescência de raio x.

Figura 2. Fluxograma do passo a passo do processamento de dados até a obtenção


dos mapas de FED e FEO para o Planalto Ocidental Paulista.

Ao fim da etapa de fusão foram obtidos o total de 17 bancos de dados para

cada atributo mineralógico. Para entender como essas variáveis geradas pelos

sensores se relacionam com FED e FEO, foram desenvolvidos 4 heatmaps para

cada atributo, contendo os comprimentos de onda selecionados na fusão de dados

nível médio de cada sensor.

Na etapa seguinte deu-se início a predição dos atributos FED e FEO utilizando

os 17 banco de dados desenvolvidos nas etapas anteriores. O algoritmo utilizado foi

o XGBoost. O XGBoost é uma técnica de aprendizagem de máquina que tem como

principal característica a escalabilidade, alta precisão e ampla aplicação (Nguyen et

al., 2022). Ela consiste em uma variação dos algoritmos de árvore de decisão, com

a técnica de aumento de gradiente que atua ajustando as funções de perda que são
37

minimizadas pela estrutura de interações sequenciais do algoritmo (Hikouei et al.,

2021). Ou seja, o XGBoost usa árvores sequencialmente otimizadas.

Este algoritmo tem capacidade de trabalhar com problemas de classificação

e regressão. Neste trabalho, devido à natureza dos dados optamos pelo de

regressão. O algoritmo foi aplicado nos dezessete bancos de dados gerados a partir

da fusão. Todos os bancos de dados foram divididos em 60% para treino e 40% para

teste, pensando que o algoritmo é impulsionado pelo adequado ajuste de

parâmetros. Juntamente, foi utilizado um algoritmo de otimização, chamado

RandomizedSearchCV, no qual foi estabelecido o total de 6 parâmetros

(n_estimators, max_depth, reg_lambda, subsample, colsample_bytree, booster) com

10 possibilidades cada, para todos os modelos e foi selecionado o total de 50 árvores

com 0,5 de taxa de aprendizagem.

Para avaliar o desempenho do modelo, foram estabelecidas 3 métricas: o

coeficiente de determinação (R2), erro médio absoluto (MAE) e a raiz quadrada do

erro médio (RMSE). Por fim para avaliarmos o desempenho do modelo no espaço,

os dados observados em campo e o resultado do modelo de melhor performasse

selecionado com base nas métricas a citadas acima, foram interpolados através do

método geoestatístico de krigagem (Oliver e Webster, 2014a). Para todas as

análises, foram utilizadas as linguagens de programação R e Python, de forma

concomitante, no ambiente Jupyter notebook.

2.3 Resultados e discussão

2.3.1 Estatística exploratória

Com o objetivo de caracterização da área, o primeiro atributo avaliado foi a

argila. Nota-se que esta apresentou maiores valores no compartimento basáltico,

diferente do atributo areia, que se mostrou predominante no compartimento

arenítico, associações minerais comuns em solos derivados de basalto e arenito


38

(Hong et al., 2023). Em ambos os atributos se nota uma grande amplitude de

variabilidade dos dados entre os pontos máximos e mínimos e tal fato pode ser

atribuído as zonas de transição geológica existentes devido ao tamanho da área de

estudo.

Tabela 2. Análise exploratória da granulometria e conteúdo de ferro ditionito e


oxalato, para solos de diferente geologia do Planalto Ocidental Paulista
Compartimento Arenítico
Argila Areia FED FEO Teor de Hm Teor de Gt
Máximo 589,50 926,98 76,38 5,59 105,00 116,00
Q3 176,13 824,25 25,51 1,10 39,00 32,00
Média 156,92 724,33 21,35 1,03 28,34 25,96
Q1 87,37 700,14 12,40 0,45 9,00 14,00
Mínimo 24,00 86,47 4,93 0,16 2,00 3,88
Compartimento Basáltico
Máximo 644,00 843,25 51,77 5,89 43,92 81,00
Q3 535,50 515,25 49,80 3,54 31,00 18,00
Média 431,38 379,74 43,14 2,53 22,00 18,84
Q1 351,00 184,50 44,72 1,24 14,00 9,00
Mínimo 67,00 102,36 15,60 0,21 3,00 3,00

Figura 3. Gráficos do tipo violino para caracterização dos teores dos atributos dos

solos do Planalto Ocidental Paulista.

O FED foi a terceira variável analisada, esta apresentou um comportamento

semelhante ao da argila, apresentando maiores valores nos compartimentos de


39

basalto, devido principalmente à maior presença de minerais de Fe mais bem

cristalizados nesses ambientes (Teixeira et al., 2016).

Já quando se observa o comportamento de FEO nota-se uma grande

variabilidade na distribuição dos valores presentes no compartimento basáltico, o

que pode ter sido influenciado devido serem rochas enriquecidas em Fe (até 15%

em peso de FEO), porém podem conter grandes quantidades de minerais amorfos

ricos em Fe (Lee et al., 2018; Stranghoener et al., 2020).

Após o entendimento da distribuição dos dados, foi realizada a análise de

correlação de spearman que permitiu constatar que, de fato, a distribuição

semelhante representa um alto coeficiente de correlação de FED com o teor de Hm

e com o teor de Gt (Teixeira et al., 2016). O atributo FEO também apresentou

correlação com os mesmos minerais, porém, inferior à citada anteriormente. Os

Minerais Hm e Gt apresentaram correlação direta, porém moderada, tal fato pode

ser atribuído as distintas características de formação destes minerais.

Figura 4. Matriz de correlação de spearman entre os compartimentos geológicos do


solo, conteúdos de Hematita (Hm) Goethita (Gt) e de ferro cristalino (FED) e ferro
não cristalino (FEO), para solos do Planalto Ocidental Paulista.

Geralmente temperaturas médias, menor evapotranspiração, condições

úmidas, altas precipitações e solos com baixo teor de ferro, como os arenitos,
40

favorecem a formação da goethita (Balsam et al., 1995; Cornell e Schwertmann,

2006), enquanto a formação de hematita é favorecida em condições quentes e

secas, baixa precipitação, solos ricos em ferro, como o basalto, além de pH neutro e

elevado teor de Al (Cornell e Schwertmann, 2006; Fink et al., 2016; Kampf e

Schwertmann, 1982).

2.3.2 Fusão de dados

Tendo entendimento de como FED e FEO se relacionam com os

compartimentos geológicos e com os teores de Hm e Gt, iniciou-se o processo de

fusão dos dados obtidos por meio dos sensores ERD, EFRX e SMBx.

No presente trabalho foram testados dois níveis de fusão, o nível médio exige

uma pré-seleção das variáveis mais relevantes, utilizando o algoritmo Stepwise para

os sensores de forma individual e, por fim, a união de todas as variáveis mais

relevantes de cada um. Obteve-se para FED a seleção de 10 comprimentos de onda

do espectro VIS, 18 do NIR, 19 pontos de energia para C1 da EFRX e 15 na C2,

aproximadamente 1,35% do total do banco de dados inicial. Para a predição do FEO

o algoritmo selecionou 25 faixas do VIS, 24 do NIR, 13 pontos de energia de C1 e

27 em C2 da EFRX, aproximadamente 2,15% do total do banco de dados inicial.

Nota-se que para FEO o algoritmo indicou a necessidade de um maior número

de variáveis para a sua estimativa, tal fato pode ser atribuído às características de

sua formação que são muito especificas. Logo, são necessárias mais variáveis

dependentes para capturar as nuances do atributo, uma vez que pode haver grande

variabilidade na quantidade desses tipos de Fe na rocha de origem, podendo chegar

a 15% (Stranghoener et al., 2020).

Nota-se que o cluster hierárquico foi capaz de realizar o agrupamento com

base nos compartimentos geológicos existentes. Ao avaliar os mapas de calor são

nítidas as relações de FED com as refletâncias e energias selecionadas pela


41

Stepwise. Na Figura 5a (FED-VIS) e 5b (FED-NIR) é possível notar que onde existe

a ocorrência de maiores teores de FED a refletância dos comprimentos de onda é

menor, já no compartimento arenítico, encontram-se os menores teores de FED, que

ocasiona em maiores refletâncias.

Liu et al. (2021) observaram menor reflectância em solos de basalto na faixa

do NIR, em comparação a solos com maiores quantidades de areia quartzosa.

Bachmann et al. (2014) relatam evidências entre o tamanho da partícula e a

refletância, à medida que o tamanho da partícula diminui a refletância reduz junto,

especialmente para partículas menores que 200 μm. A diminuição é mínima no

Visível, mas torna-se mais forte em comprimentos de onda mais longos no

infravermelho.

Pontos coletados

Comprimentos de onda selecionados pela stepwise


42

Figura 5. Análise de Cluster com mapa de calor para as faixas de comprimento de


onda da ERD (VIS e NIR) e EFRX (correntes 1 e 2), respectivamente, selecionadas
pela Stepwise como significativas para a predição de FED, para solos do Planalto
Ocidental Paulista

Tal comportamento foi observado tanto no mapa de calor desenvolvido para

VIS como para NIR. Porém, na figura 5a (FED-VIS) podemos destacar a ocorrência

de dois agrupamentos de comprimentos de onda, realizados pelo cluster hierárquico,

onde ocorreu a separação dos comprimentos de onda nos intervalos 366 – 462 nm,

que são mais associados às cores roxo e azul, e no intervalo 611 – 837 nm, que

compete mais às cores laranja e vermelho.

Pode-se inferir que os solos do agrupamento basalto refletem mais nos

comprimentos de onda do laranja e vermelho e refletem menos nos comprimentos

de onda do azul e roxo, indicando, assim, solos que variam do vermelho ao

alaranjado, cores tipicamente encontradas em solos de origem basáltica (Swetha et

al., 2022).

Diante de tudo que foi observado nos mapas de calor de VIS e NIR, nota-se

um comportamento semelhante nos picos de energia gerados pela FRX. Na imagem

“c” (FED-C1) e “d” (FED-C2) é possível observar que o cluster também dividiu os

picos de energia em dois grandes grupos, onde um deles apresenta correlação direta

com os teores de FED e o outro correlação inversa, ou seja, à medida que o teor de

FED aumenta a energia desses pontos diminuem. Os picos de energia que estão

localizados entre 6 e 7 foram os que apresentaram correlação mais alta com os

teores de FED. Segundo a literatura, dois picos de ferro são detectados pela

florescência, este são localizados entre os pontos 6 e 7 do espectrograma da FRX

(Santos et al., 2021; Nawar et al., 2022).

Na figura 5c (FED-C1) foi observado que os picos de 3.0 a 3.5 Kev também

manifestaram relação direta com o FED, mesmo que menos intensa que a citada
43

anteriormente. Nesses pontos, segundo a literatura, é comum detectar o elemento

cálcio, possivelmente relacionado ao fato de que em solos oriundos de basalto os

plagioclásios com alto teor de cálcio serem minerais muito comuns (Lu et al., 2020;

Sun et al., 2020). Os pontos que apresentaram relação mais inversa com FED estão

localizados entre 1.7 e 2.0 Kev, nesses pontos é comumente detectado silício (dos

Santos et al., 2021; Nawar et al., 2022).

Assim como FED, observando a figura 6a (FEO-VIS) e figura 6b (FEO-NIR)

nota-se que os solos de compartimento basáltico apresentam a maior ocorrência de

FEO e menores valores de refletância. Nota-se que o cluster hierárquico separou as

refletâncias em dois grandes grupos. No grupo que compete de 338 a 494 nm

observamos relação inversa entre a refletância e o teor de FEO.

Assim como observado em FED, a refletância dos comprimentos de onda

associados ao roxo e o azul reflete menos e nos solos com maior teor de FEO,

quando comparados com os comprimentos de onda ligados aos espectros vermelho

e laranja, devido à maior quantidade de óxidos de ferro que conferem essa cor aos

solos oriundos de basalto, como ferridrita, hematita e goethita (Santos et al., 2021;

Liu et al., 2021; Swetha et al., 2022).


44

Pontos Coletados
Comprimentos de onda selecionados pela stepwise

Figura 6. Figuras a, b, c e d representam as faixas de comprimento de onda da ERD


(VIS e NIR) e EFRX (correntes 1 e 2), respectivamente, selecionadas pela Stepwise
como significativas para a predição de FEO.

Nas figuras 6c e 6d (FEO-C1 e C2), ocorreu a divisão em dois grandes

clusters, um deles apresenta correlação direta com os teores de FEO, destes

podemos destacar os picos de 6 a 7 que foram os que apresentaram correlação

inversa mais intensa o que pode ser associado a conhecida ocorrência de dois picos

de ferro neste ponto da curva (Santos et al., 2021; Nawar et al., 2022).

2.3.3 Análise de predição

Na Tabela 3 pode-se observar as métricas utilizadas para avaliar a


45

performance dos modelos gerados utilizando o algoritmo XGBoost. De modo geral

podemos dizer que os modelos desenvolvidos para FED e FEO apresentaram um

desempenho semelhante. Os modelos que apresentaram os piores valores das

métricas foram os que utilizaram somente a SMBx como variável preditora, tanto

para FED quanto para FEO.

Os melhores modelos preditivos, quando se analisa as métricas de treino e

teste, foram com a utilização da combinação dos dados dos 3 sensores,

selecionados pela Stepwise, ficando com R² 0,01 e 0,14 pontos acima dos modelos

que utilizaram todos os dados, sem nenhuma limpeza.

Vale ressaltar que mesmo apresentando R² com valores próximos, a

amplitude de MAE e RMSE dos modelos que utilizaram os dados sem nenhuma

limpeza prévia, foram sempre superiores aos modelos que utilizaram os dados

filtrados. A avaliação das métricas MAE e RMSE se faz necessária na seleção do

melhor modelo de predição, uma vez que são indicadores complementares e não

excludentes, quando se trata do entendimento dos resultados obtidos

(Karunasingha, 2022).
46

1 Tabela 3. Métricas de avaliação dos modelos preditivos de FED e FEO em função da fonte de dados de Espectroscopia de Reflectância
2 Difusa (ERD), Espectroscopia de Fluorescência de raios X (EFRX) e Suscetibilidade magnética em baixa frequência (SMBx)
3
Treino Teste Treino Teste
Sensores R² MAE RMSE R² MAE RMSE R² MAE RMSE R² MAE RMSE
FED FEO
VIS 0,86 3,21 4,76 0,69 5,8 8,32 0,87 0,12 0,35 0,7 0,49 0,74
NIR 0,76 4,54 6,28 0,7 8,19 5,57 0,76 0,32 0,47 0,68 0,47 0,77
C1 0,91 2,73 3,85 0,8 3,96 6,74 0,87 0,24 0,35 0,8 0,36 0,8
C2 0,88 2,88 3,68 0,78 3,98 6,71 0,86 0,25 0,36 0,76 0,29 0,46
SBMx 0,28 8,71 11,94 0,16 8,71 12,37 0,25 0,58 0,84 0,2 0,79 1,15
VIS+NIR 0,80 4,11 5,78 0,73 5,35 7,74 0,79 0,29 0,45 0,71 0,45 0,72
VIS + C1 0,90 2,89 3,91 0,82 3,89 6,33 0,81 0,27 0,43 0,75 0,35 0,81
VIS + C2 0,90 2,98 4,1 0,78 4,1 6,95 0,91 0,16 0,28 0,84 0,2 0,38
VIS + SBMx 0,78 4,28 6,03 0,66 6,35 8,47 0,76 0,31 0,48 0,68 0,47 0,77
NIR + C1 0,91 2,79 3,73 0,86 3,4 5,52 0,84 0,26 0,39 0,8 0,33 0,53
NIR + C2 0,90 3,01 3,95 0,86 3,69 5,64 0,81 0,27 0,42 0,78 0,37 0,62
NIR + SBMx 0,91 2,66 3,88 0,82 4,69 6,39 0,8 0,3 0,44 0,75 0,43 0,68
C1 + C2 0,94 2,21 3,09 0,79 4,02 4,89 0,89 0,18 0,31 0,82 0,31 0,57
C1 + SBMx 0,91 2,64 3,42 0,83 3,84 6,16 0,87 0,25 0,35 0,81 0,37 0,59
C2 + SBMx 0,89 2,72 3,75 0,8 3,57 5,82 0,85 0,27 0,37 0,79 0,31 0,52
Variáveis
relevantes
0,95 2,18 3,05 0,92 2,55 3,49 0,92 0,14 0,26 0,89 0,19 0,38
selecionadas
pela Stepwise
Todas as
0,94 2,35 3,10 0,89 2,8 4,52 0,83 0,22 0,39 0,75 0,38 0,67
Variáveis
4 *VIS – Faixa do Visível; NIR – faixa do infravermelho próximo; C1 – corrente 1 da EFRX; C2 – corrente 2 da EFRX; SBMx – Susceptibilidade
5 magnética
47

Segundo Kuncheva et al. (2020) o desempenho superior dos modelos com

dados filtrados pode ser associado alto número de recursos e um baixo número

de repetições quando os dados não são filtrados, o que pode prejudicar

gravemente o bom desempenho dos algoritmos de aprendizagem, podendo

ocasionar problemas de overfitting dos dados, além da baixa representatividade

das amostras, o que pode retornar um conjunto de recursos de baixa

confiabilidade.

Nesse sentido, o ideal é possibilitar a seleção das variáveis da forma mais

simples possível. Essa redução do banco de dados ressalta a importância do uso

de técnicas que permitam remover as variáveis não ou pouco relevantes para a

predição do atributo de interesse e garantir a construção de modelos consistentes

de predição, diminuindo o risco de inferências não confiáveis e reduzindo o custo

computacional (Anzanello et al., 2013).

O uso da faixa VIS, mesmo não apresentando as melhores métricas, pode

ser uma alternativa interessante pensando em praticidade. A faixa do VIS pode

ser facilmente obtida por satélites, que garantem a obtenção dos dados de forma

ainda mais fácil e rápida. Como apontam as métricas, os resultados não teriam

muita exatidão, mas poderiam facilmente auxiliar em tomadas rápidas de

decisões.

Outro ponto que podemos destacar na Tabela 3 é que a nível de sensores,

os dados gerados pela EFRX se mostraram variáveis preditoras mais eficientes

na predição de FED e FEO, quando comparado com os dados gerados por ERD.

Nota-se ainda que a fusão dos sensores ERD e EFRX, independentemente da

corrente e faixa, geraram modelos de alta performance, se tornando apenas um

pouco menos assertivo que o melhor modelo observado.


48

Resultados obtidos por Shrestha et al. (2022) e Zhao et al. (2022)

corroboram com o que foi demonstrado neste trabalho, no qual a fusão e limpeza

dos bancos de dados se mostraram eficientes na melhora da qualidade dos

modelos preditivos.

De todos os modelos desenvolvidos destacamos três para FED e três para

FEO o primeiro foi o de melhor desempenho (Todas as variáveis selecionadas), o

melhor modelo gerado com duas fontes para FED (C1 + C2) e para FEO (VIS +

C2). Por fim, selecionamos o modelo gerado pelo VIS por ser um dado de fácil

obtenção e baixo custo, podendo ser aplicado até via satélite.

Para agregar no entendimento do desempenho dos modelos foram

desenvolvidos modelos de regressão, onde no eixo X são apresentados os dados

observados e no Y os dados preditos. Na figura 7 fica nítida a distribuição do

banco de dados, principalmente para FED. Nota-se que tem uma grande

concentração de dados na parte inferior do eixo, representando os menores

valores de FED e FEO, podendo ser associado ao compartimento geológico

arenítico e uma concentração na parte superior da reta, representando os maiores

valores de FED e FEO, que estão associados ao compartimento basáltico.

É possível observar que o modelo se mostra mais errático quando estão na

zona de transição entre os compartimentos geológicos, ou seja, no meio da reta.

Tal fato pode ser associado à representatividade da amostra, por se tratar de uma

zona de transição, o que gera mudanças abruptas nos valores, além da

quantidade de repetições no local não ter sido suficiente para o entendimento

adequado do padrão.

Além disso, espera-se que a classe com maior ocorrência seja predita com

mais precisão, em comparação com aquela com menor ocorrência, logo, um


49

tamanho de amostra menor contribui para a incerteza do modelo (Zeraatpisheh et

al., 2017).

Figura 7. Distribuição de dados preditos e observados para solos do Planalto


Ocidental Paulista. a): Variáveis relevantes selecionadas pela Stepwise; b) C1 +
C2; c) VIS + C2.

Os modelos desenvolvidos para FEO se mostram mais erráticos em

relação aos de FED, tais fatos podem ser associados as características únicas da

formação de FEO o que não gera essa clara definição dos compartimentos

geológicos, devido principalmente à grande variabilidade na presença de minerais

amorfos ricos em Fe (Lee et al., 2018; Stranghoener et al., 2020).


50

Além disso as regressões de FEO se mostraram mais erráticas nos valores

extremos, o que pode ser associado a uma baixa densidade amostral desses

valores extremos de FEO no banco de dados. Fato semelhante foi observado por

(Baldo et al., 2021b). Os autores observaram que quanto mais extremos os

valores de FEO, mais errático o modelo se torna. Ressaltasse que no trabalho dos

autores acima citados os dados foram mais erráticos, para FED o modelo

utilizando ERD e Randon Forest obteve o R2 de 0,62 e FEO de 0,56 mostrando a

diferença e maior eficiência do algoritmo utilizado no presente estudo.

Dentre os modelos, de fato o gerado com base no VIS apresenta maior

dispersão nos dados em relação à reta, quando comparado com os demais

modelos, justificando o desempenho inferior de suas métricas. Como resultado do

trabalho, observa-se que o pré-processamento adequado e a junção de sensores,

agregado das técnicas de aprendizagem de máquina, potencializam o

desempenho dos modelos.

Porém, a decisão do uso de vários sensores ou da robustez do

processamento irá depender do objetivo do estudo, da necessidade de eficiência,

da área estudada, entre outros inúmeros fatores. Os resultados mostram qual foi

o melhor processamento de dados a ser adotado e quais sensores foram mais

eficientes, bem como quais fusões melhoram a performance do modelo em

relação ao uso de uma única faixa, com métricas razoáveis.

O objetivo é entender se de fato as fusões e técnicas processamento

robusta afetam o desempenho do modelo e como cada sensor agrega esse

desempenho e de fato garantir que o gestor tome a decisão de forma mais

assertiva possível com base no banco de dados disponíveis, no tamanho da área,

na necessidade de trabalho, entre outros fatores.


51

2.3.4 Análise Geoestatística

Por fim, foram realizadas as krigagens dos dados preditos e observados de

FED e FEO, para os modelos destacados anteriormente na Figura 7. Nos

semivariogramas (Figura 8), nota-se comportamento muito semelhante entre os

dados preditos e observados, o que é associado à elevada acurácia dos modelos

preditivos desenvolvidos. Os dados se ajustaram ao modelo esférico, o que se

justifica pela característica pedoindicadora dos óxidos de ferro, como já apontado

em outras literaturas (Silva et al., 2020, Bahia et al. 2017) e pela sua transição

ocorrer de forma mais lenta, associada à transição geológica.

O semivariograma desenvolvido para o FEO obteve um valor de feito pepita

menor quando comparado a FED indicando que devido ao tamanho da área de

estudo que é mais difícil captar a variabilidade em pequena escala de FED. Para

os semivariogramas desenvolvidos, nota-se que para o que foi desenvolvido

utilizando o modelo de variáveis relevantes selecionadas pela stepwise foi o que

apresentou patamar mais próximo ao dos dados observados, outro ponto que

destacar além disso obteve patamar mais bem estabelecido, quando comparado

aos semivariogramas de FED, o que pode ser atribuído aos compartimentos

geológicos que conforme observado na figura 7, afetam mais a distribuição de

FED, gerando concentração de dados nos extremos.

Outra medida avaliada foi o alcance se mostrou semelhando em todos os

semivariogramas, tanto para FED como para FEO e por fim foi calculado ainda o

avaliador de dependência espacial e em todos os semivariogramas detectamos

elevada dependência espacial entre os dados.


52

Foram desenvolvidos o total de quatorze mapas, sendo sete para FED e

sete para FEO, além de gráficos violino comparando a distribuição dos dados

observados e preditos pelo modelo (Figura 9). Na Figura 9, observamos o mapa

intitulado como FED-observado. Nota-se a predominância dos maiores teores de

FED nos extremos do mapa, o que se relaciona diretamente com o mapa de

formação do solo (Figura 1b). Nestes locais o material de origem para a formação

do solo é a rocha basáltica, rica em minerai férricos.

No mapa é possível observar uma mudança gradual dos valores de FED

até a região central e oeste do POP, onde há predomínio do tom azulado,

representando menores valores de FED. É nesta região que temos como rocha

de origem o arenito (Fernandes et al., 2007; Mello et al., 2021).


53

*C0: Efeito pepita. SQR: Soma do quadrado dos resíduos. ADE: Avaliador da dependência espacial

Figura 8. Semivariogramas da krigagem ordinária a) dados observados, c)


variáveis relevantes selecionadas pela Stepwise , modelo de C1+C2 (c), modelos
VIS (d), para FED e FEO respectivamente.

Analisando o mapa da Figura 9a é possível notar a semelhança com o

mapa observado, o que se justifica pela elevada acurácia do modelo

desenvolvido, devido à semelhança entre os mapas é necessário recorrer ao

mapa de erro (Figura 9d) para detectar as diferenças entre os mapas. No mapa

de erro (Figura 9d) vê-se que o modelo subestima os dados no ambiente de

arenito, porém, o erro se aproxima a zero.

Nas regiões de maior concentração de basalto nota-se os erros mais


54

localizados e de maior amplitude, o que pode ser associado à elevada

variabilidade dos valores de FED nesses locais, o que pode ter influenciado

negativamente na predição.

Figura 9. Mapas de FED-Observado, a) modelo de variáveis relevantes


selecionadas pela Stepwise, b) modelo de C1+C2, c) modelos VIS, d) mapa erro-
modelo de variáveis relevantes selecionadas pela Stepwise, e) mapa erro-modelo
de C1+C2, f) mapa erro-modelo de VIS g) gráficos de distribuição-variáveis
relevantes selecionadas pela Stepwise, h) gráficos de distribuição-modelo de
C1+C2, i) gráficos de distribuição-modelo VIS

para os solos do Planalto Ocidental Paulista.

O mapa obtido com base no modelo, C1+C2, (Figura 9b) também se

mostrou muito semelhante ao observado. Vale ressaltar que este modelo utiliza

apenas o sensor FRX o que viabiliza a aplicação mais rápida deste modelo em

pesquisas. Este modelo assim como o anterior também se mostrou mais errático

nos valores extremos, tanto em pontos mínimos como em máximos, o que é

natural devida à alta variabilidade local como citado anteriormente.

Por fim, o mapa confeccionado utilizando o modelo obtido com VIS (Figura

9c) foi o que apresentou erros mais evidentes (Figura 9f), superestimando em três

as informações na maior parte do mapa. Vale ressaltar que mesmo se mostrando

mais errático é possível utilizar este sensor via satélite tal característica viabiliza
55

a sua adoção em grandes áreas com baixo custo (Mello et al., 2021).

Nos gráficos violinos, é nítida a semelhança na distribuição dos dados

observados e preditos, em todos é possível notar a maior concentração dos dados

na extremidade inferior e que ocorre uma redução da quantidade de amostras no

meio por isso ocorre um afinamento na sobra de distribuição e no extremo superior

ela volta a ter um alargamento, e o mesmo comportamento foi observado nos três

bancos de dados estimados. Nota-se que nas figuras h e g as linhas das medianas

ficaram muito próximas a observada, nota-se que apenas na 9i a linha ficou abaixo

do que na observada indicando que o modelo subestimou os dados usando

apenas o VIS.

Na Figura 10 é possível observar os mapas referentes ao atributo FEO.

Podemos observar os maiores valores de FEO nas extremidades do mapa.

Porém, não tão concentrado como os mapas de FED. Nota-se que mais ao centro

ocorre uma drástica redução nos valores de FEO, justificado pela predominância

de solos proveniente de arenito nesses locais (Fernandes et al., 2007).

Figura 10. Mapas de FEO-Observado, a) modelo de variáveis relevantes


selecionadas pela Stepwise, b) modelo de VIS+C2, c) modelos VIS, d) mapa erro-
modelo de variáveis relevantes selecionadas pela Stepwise, e) mapa erro-modelo
de VIS+C2, f) mapa erro-modelo de VIS g) gráficos de distribuição-variáveis
relevantes selecionadas pela Stepwise, h) gráficos de distribuição-modelo de
VIS+C2, i) gráficos de distribuição-modelo VIS
56

Assim como nos mapas da Figura 9, observamos grande semelhança entre

os mapas de FEO predito por todos os sensores com limpeza (Figura 10a) em

relação ao observado. Com base no mapa de erro (Figura 10d) é possível notar

que o modelo superestimou FEO para a maior parte do mapa, porém, com valores

em torno de 0,1 de teor de FEO. Nas regiões de maior ocorrência de basalto foram

onde ocorreram os maiores erros, corroborando com o que foi observados nas

regressões anteriormente.

Os desempenhos dos modelos, validados pelos valores das métricas

apontados na Tabela 2 se mostram semelhantes aos observados nos mapas. O

algoritmo utilizado tem eficiência para predição dos teores de FED e FEO,

utilizando a fusão dos dados de sensores. Utilizando apenas a faixa do VIS e

VIS+NIR, (Bahia et al., 2017b) em uma modelagem matemática diferente,

observaram que os valores de FED e FEO são subestimados quando nas

amostras de solo há conteúdos maiores que 100 g kg -1 e 4 g kg-1 destes

elementos, respectivamente.

Já Bahia et al. (2017) utilizando apenas SBMx observaram que os mapas

preditos são mais próximos aqueles observados para FED e FEO. Como discutido

anteriormente, os modelos utilizando SMBx neste estudo podem ter apresentados

resultados menos satisfatórios por se tratar de apenas uma leitura, enquanto as

curvas de ERD e FRX apresentam vários pontos com influências Fe e outros

atributos ligados a presença de óxidos de ferro.

Observando os gráficos violinos da figura 10 é possível notar a semelhança

na distribuição dos dados observados e preditos. Nota-se que na figura 10i

ocorreu um achatamento do violino dos dados preditos, em relação aos demais,

o que corrobora com o mapa subestimado com o modelo gerado usando apenas
57

o VIS. Nota-se ainda no violino da figura 10g que o modelo com todos os sensores

estimou com muita proximidade os outliers observados no banco de dados.

A partir de dados de cor obtidos por ERD e utilizando árvore de regressão,

Baldo et al. (2021) obtiveram mapas de FED e FEO próximos aos observados

pela metodologia convencional, para a área do POP. Todavia, os autores

observaram que na região de transição entre arenito e basalto e nos extremos no

basalto os conteúdos tendem a ser subestimados.

Neste ponto, o design diferente do algoritmo XGBoost, estruturado para

evitar o overfiting (Zhan et al., 2022), pode ter contribuído para os melhores

resultados dos mapas. Estes resultados apontam que a evolução dos modelos

matemáticos, associados aos novos sensores, vem contribuindo para o avanço

da predição de atributos do solo, com maior precisão e facilidade.

A escolha do modelo matemático, do nível de fusão de dados ou do uso

dos sensores isoladamente irá depender do objetivo do resultado. Em estudos

mais rigorosos para definição de áreas mínimas de manejo e mapeamentos

detalhados para compreensão da variabilidade espacial dos atributos do solo, é

preferível modelos mais arrojados e com maior rigor matemático, como o modelo

utilizando a fusão de todos os dados e aplicando o algoritmo XGBoost.

Em estudos mais simplificados e generalistas, ou com poucos recursos

financeiros para investimentos, podem ser utilizados modelos mais flexíveis, como

o uso de apenas um sensor. Como o modelo utilizando apenas a faixa do VIS, e

o algoritmo XGBoost, ou até algoritmos mais simples, porém que garantam uma

predição eficiente de atributos.

2.4 Conclusões
58

Os atributos FED e FEO podem ser utilizados como pedoindicadores de

Hm e Gt.

A fusão de dados nível intermediário, associada ao algoritmo de predição

XGBoost se mostrou eficiente na predição de teores de ferro cristalino e não

cristalino do solo, obtendo valores de R² de 0,95 e 0,92 para dados de treino e

0,92 e 0,89 para dados de teste, respectivamente.

A fusão nível baixo também se mostrou eficiente na estimativa dos teores

de ferro cristalino e não cristalino do solo, porém, apresentou menores valores de

R² e aumento nos valores de MAE e RMSE.

Dados de sensores utilizados de forma isolada na predição apresentam

desempenho satisfatório nas predições, porém, os modelos são

significativamente melhorados quando há a fusão dos bancos de dados de

diversos sensores.

De modo geral a aplicação exclusiva do VIS tende a subestimar os

conteúdos de ferro cristalino e não cristalino do solo.

A variação da geologia influencia diretamente nas características do solo,

o que impacta nos dados obtidos pelos sensores e na predição deles.

Os modelos de ferro cristalino são mais acurados quando comparados com

os de ferro não cristalino.

Destaca-se a maior eficiência da espectroscopia de fluorescência de raios

X em relação à espectroscopia de reflectância difusa e suscetibilidade magnética

para a predição dos atributos individualmente.

2.5 Referências

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Reflectance spectroscopy for assessing heavy metal pollution indices in
74

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75

Capítulo 3 – Uso de aprendizagem de máquina para extrapolação de atributos


mineralógicos do solo

Resumo: Os principais solos agricultáveis do Brasil são caracterizados como


altamente intemperizados, tendo os minerais de ferro desempenhando papel
fundamental na dinâmica dos solos, porém suas quantificações tradicionais
implicam em altos custos e maior tempo para analise. Diante disso sensores como
Espectroscopia de Reflectância Difusa (ERD) vem ganhando espaço no mercado
porem em países de grandes extensões territoriais como o Brasil tamanho da área
ainda é uma variável limitante, devido a isso técnicas de extrapolação de dados é
uma promissora área de estudo pois ela nos permite estimar dados de áreas não
visitadas. Diante desse contexto, objetivou-se (i) estimar atributos mineralógicos do
solo utilizando algoritmos de aprendizagem de máquina (AM), com base nas curvas
espectrais geradas pela Espectroscopia de Reflectância Difusa (ERD) em uma
Área de Referência (AR) menor e com pontos de coleta mais adensados e, (ii)
extrapolar os parâmetros da predição para uma Área Alvo (AA) maior, e com menos
pontos de coleta. A AR está localizada no município de Guatapará, no nordeste do
estado de São Paulo, Brasil, com aproximadamente 870 hectares e 360 pontos de
coleta. A AA é o Planalto Ocidental Paulista (POP), que corresponde a
aproximadamente 48% de todo o Estado de São Paulo, totalizando 13 milhões de
hectares e com 231 pontos de coleta. Utilizamos os algoritmos de AM de Florestas
Aleatórias (FA) e de XGBoost (XGB) para predizer os atributos Ferro Ditionito (FED)
e Ferro Oxalato (FEO) no solo e treinar os algoritmos com os parâmetros da AR e
extrapolar para a AA. O algoritmo XGB foi mais eficiente na extrapolação dos
parâmetros da AR para a predição dos valores de FED na AA com R2 de 85,30%
contra 76,33% do FA. Para FEO, o algoritmo de FA apresentou maior valor de R2=
57,88% contra 54,67% do algoritmo de XGB, entretanto, os valores de erro foram
menores para o algoritmo de XGB. Algoritmos de AM são eficientes na predição e
extrapolação de valores de atributos mineralógicos do solo, desde que sejam
utilizados algoritmos robustos e que a base de dados tenha observações suficientes
para treinamento adequado dos modelos. O uso do sensor ERD, associado à
modelos de aprendizagem de máquina é eficiente na predição de atributos
mineralógicos do solo, sendo essa associação de técnicas de grande potencial para
a ciência do solo.

Palavras-chave: Mapeamento digital do solo, Florestas Aleatórias, XGBoost,


Ciência de dados, Ferro Ditionito, Ferro Oxalato.
76

Abstract: The main arable soils in Brazil are characterized as highly weathered,
with iron minerals playing a fundamental role in soil dynamics, acting as a
pedoindicator for various purposes. The indirect estimation of these minerals is
extremely important since traditional quantification methods imply high analysis
costs and longer time to obtain data. Given this context, the objective was (i) to
estimate soil mineralogical attributes using machine learning (ML) algorithms, based
on the spectral curves generated by Diffuse Reflectance Spectroscopy (DRS) in a
smaller Reference Area (RA) and with denser collection points, and (ii) extrapolate
the prediction parameters to a larger Target Area (TA), with fewer collection points.
RA is located in the municipality of Guatapará, in the northeast of the state of São
Paulo, Brazil, with approximately 870 hectares and 360 collection points. The TA is
the Western Paulista Plateau (WPP), which corresponds to approximately 48% of
the entire State of São Paulo, totaling 13 million hectares and with 231 collection
points. We used the Random Forests (RF) and XGBoost (XGB) ML algorithms to
predict the Iron Dithionite (FED) and Iron Oxalate (FEO) attributes in the soil and
train the algorithms with the RA parameters and extrapolate to the TA. The XGB
algorithm was more efficient in extrapolating the RA parameters to predict the FED
values in the TA with an R2= 85.30% against 76.33% for the RF. For FEO, the RF
algorithm presented a higher value of R2= 57.88% against 54.67% for the XGB
algorithm, however, the error values were lower for the XGB algorithm. ML
algorithms are efficient in predicting and extrapolating soil mineralogical attribute
values, provided that robust algorithms are used and that the database has enough
observations for adequate training of the models. The use of the DRS sensor,
associated with machine learning models, is efficient in predicting soil mineralogical
attributes, and this combination of techniques has great potential for soil science.

Keywords: Digital Soil Mapping, Random Forests, XGBoost, Data Science,


Dithionite iron, Oxalate iron.
77

3.1 Introdução

O ferro é o elemento mais frequentemente encontrado nos minerais de solos

tropicais e sua ocorrência e concentração são influenciados diretamente pelos

fatores e processos de formação do solo (Mendes et al., 2022b). O ferro livre é um

importante indicador analítico do solo, pois ele nos permite a compreender a

gênese, classificação e variabilidade do solo (Fan et al., 2016).

A principal forma de obtenção dos óxidos de ferro consiste na ligação do

ácido oxálico aos óxidos de ferro amorfos pela complexação entre oxalato e ferro

férrico, extraindo o atributo denominado como “Ferro Oxalato”. Para aumentar a

extração óxidos de ferro cristalinos, foi proposta a aplicação simultânea de ácido

oxálico e da Ditionita que é forte agente redutor, extraindo então o atributo

denominado como “Ferro Ditionito” (Zevenbergen et al., 1997; Lee et al., 2018).

Ambos os procedimentos de dissolução de Oxalato e Ditionito para a extração de

Fe têm ampla aplicação na classificação do solo e no estudo de sua gênese

(Zevenbergen et al., 1997; Lorz et al., 2013).

Logo compreender as inter-relações e dinâmicas espaciais dos óxidos de

ferro com o ambiente é necessário quando se pensa em correlacionar esses

indicadores com o manejo do solo. A forma convencional de determinação dos

teores de óxidos de ferro envolve extensas observações no campo associadas à

complexas análises laboratoriais, onde são realizadas múltiplas extrações

individuais utilizando ácidos fortes. Tais análises são destrutivas, além de

implicarem em um alto investimento, morosidade na confeção dos resultados e

necessidade de uma equipe altamente especializada para execução (Xu et al.,

2018).

Visando tonar a obtenção dessas informações mais eficiente, o sensor de


78

espectroscopia de reflectância difusa (ERD) vem se mostrando uma excelente

alternativa para prever com precisão e agilidade diversos atributos do solo,

reduzindo assim o custo com amostragem e análise de solo (Gholizadeh et al.,

2023, 2013; Naimi et al., 2022). Segundo Silva et al. (2020), a ERD, apresenta baixo

custo de execução, fornece informações rápidas e gera um banco de dados

robusto, além de ser um método não destrutivo e de necessitar de preparação

mínima da amostra.

Entretanto, análises utilizando sensores geram grande volume de

informações com dados de natureza específica de cada sensor (Almeida et al.,

2021). Devido a isso e a complexidade do sistema agrícola, algoritmos de

aprendizagem de máquina (AM) vem a cada dia sendo mais aplicado a ciência do

solo, pois são mais precisos na estimativa de atributos de interesse do que técnicas

paramétricas tradicionais, como regressões simples (Sothe et al., 2020).

Dentre os algoritmos de AM, destacam-se : a Regressão Florestas Aleatórias

(FA) que é uma técnica não paramétrica que foi desenvolvida com o intuito de

melhorar a previsão dos modelos de arvores de regressão, pois utiliza árvores

totalmente crescidas e reduz o erro e a variação (Yan et al., 2020a) e o Extreme

Gradient Boosting (XGBoost) que é algoritmo otimizado sua aprendizagem é

realizada por meio da integração de árvores de decisão e do otimizado gradiente

descendente (Shahhosseini et al., 2021), estes algoritmos estão entre os mais

utilizados da atualidade devido a sua capacidade de trabalhar com dados

complexos.

Porém em países de grande extensão territorial como o Brasil, ocorre uma

limitação nas bases de dados de solo. Sendo assim métodos de interpolação

espacial podem ser usados para prever solos em locais não visitados, porém,
79

surgem problemas de acurácia quando se pretende prever atributos de solo em

áreas com poucas observações amostrais (Ruhollah et al., 2022b).

Em tais situações, quando uma coleta maior e mais robusta de amostras de

solo se torna inviável financeira e operacionalmente, uma abordagem de

extrapolação pode ser aplicada para prever os solos na área alvo (locais sem

observações) usando os solos da área de referência (área com observações

adensadas) se os solos de duas áreas forem controlados principalmente por fatores

semelhantes de formação de solo, bem como processos pedogênicos semelhantes

(ten Caten et al., 2011b). Portanto, um modelo AM desenvolvido para uma área de

referência, usando abordagens de mapeamento digital do solo (MDS), pode ser

extrapolado para prever as características do solo da área alvo (Cambule et al.,

2013; Afshar et al., 2018).

Nesse contexto, partindo da hipótese de que os algoritmos RF e XGBoost

são capazes de estimar e extrapolar atributos de solo, a partir de dados

provenientes do sensor ERD. Objetivou-se (i) estimar atributos mineralógicos do

solo utilizando algoritmos de aprendizagem de máquina (AM), com base nas curvas

espectrais geradas pela Espectroscopia de Reflectância Difusa (ERD) em uma

Área de Referência (AR) menor e com pontos de coleta mais adensados, (ii)

extrapolar os parâmetros da predição para uma Área Alvo (AA) maior, e com menos

pontos de coleta no Planalto Ocidental Paulista e (iii) Entender qual dentre os

algoritmos utilizados (RF e XGBoost) é mais eficiente na predição dos atributos de

solo.

3.2 Material e métodos

3.2.1 Caracterização da área de estudo

Neste trabalho utilizamos dois bancos de dados, cedidos pelo grupo de


80

pesquisa em Caracterização do Solo para Fins de Manejo Específico (CSME) da

FCAV-UNESP, Campus de Jaboticabal, São Paulo. Este estudo envolveu duas

áreas (Área de Referência e Área Alvo) (Figura 1). A Área de Referência está

localizada no município de Guatapará, no nordeste do estado de São Paulo, Brasil

(-21.475394, -48.017398), com aproximadamente 870 hectares, na área é cultivada

com cana-de-açúcar utilizando o sistema de colheita mecanizada há mais de 10

anos.

Na Área de Referência foram registrados a ocorrência de duas classes de

solos e cinco sub-classes: Latossolo Vermelho eutroférrico textura argilosa,

Latossolo Vermelho distrófico textura média, Latossolo Vermelho distroférrico

textura argilosa, Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico textura média, Neossolo

Quartzarênico órtico distrófica textura arenosa. Para esta área foi definida uma

grade amostral com aproximadamente 1 ponto a cada 2,5 hectares, totalizando 360

pontos, nos quais foram coletadas amostras de solo.

Figura 1. Ilustração da localização das áreas experimentais e dos pontos de coleta.


No quadro “São Paulo/Área Alvo” as linhas vermelhas indicam a malha rodoviária
utilizada como base para alocação dos pontos amostrais.

A Área Alvo está inserida no Planalto Ocidental Paulista (POP), que


81

corresponde a aproximadamente 48% de todo o Estado de São Paulo, totalizando

13 milhões de hectares. Esta área é responsável por cerca de 80% da produção

nacional de etanol, açúcar e citros e vem sendo estudada por vários outros

pesquisadores do grupo CSME (Bahia et al., 2015; Silvero et al., 2019; Silva et al.,

2020; Baldo et al., 2021).

Na Área Alvo foram classificadas duas classes de solos, sendo elas

Latossolo e Neossolo. Na área do POP, segundo o mapa de solos da Embrapa,

seis classes de solo foram registradas, sendo elas: Argissolo Vermelho-Amarelo,

Latossolo Vermelho, Latossolo férrico, Neossolo Litólico, Nitossolo Vermelho e

Gleissolo Háplico (Figura 2) (Santos et al., 2018).

(b)

(a)

Figura 2. Mapa pedológico da Área de Referência (a), adaptado de Almeida et al.


(2021). Mapa pedológico do Planalto Ocidental Paulista (b), Instituto Agronômico
de Campinas (2017).

3.2.2 Plano amostral de coleta de pontos

Para a amostragem de solo da Área Alvo, levamos em consideração a base

do arquivo de rodovias do Estado de São Paulo, fornecido pelo Departamento de

Estradas de Rodagem (DER). A partir desse arquivo criamos um mapa por meio da

ferramenta ET GeoWizards, no ArcView 9.3. Nessa área foram coletadas no total

231 amostras de solo na profundidade de 0-20 cm, realizando as coletas

preferencialmente, em áreas com mínima interferência antrópica, em áreas

preservadas adjacentes às áreas agrícolas, em espaçamento mínimo de 10


82

quilômetros (km), até o espaçamento máximo de 60 km.

3.2.3 Análises de laboratório – Atributos mineralógicos

Os atributos mineralógicos avaliados foram os teores de ferro cristalinos

extraídos por ditionito-citrato (FED) (Mehra and Jackson, 1958) e os teores de

ferro extraídos por amônio-ácido oxálico (FEO), relativos aos óxidos de ferro

pedogenéticos de baixa cristalinidade, determinados conforme metodologia

proposta por Camargo et al. (1986).

3.2.4 Espectroscopia de Reflectância Difusa (ERD)

A análise de Espectroscopia de Reflectância Difusa (ERD) foi realizada

utilizando-se de um sensor Lambda 950 UV/VIS/NIR. As amostras de 0,5 g de

terra fina seca ao ar (TFSA) foram acomodadas em porta amostra individual (3,0

× 0,5 cm). Efetuou-se em cada amostra uma varredura de reflectância na faixa do

VISível (VIS), entre 250 e 900 nanômetros (nm) e do infravermelho próximo (NIR)

entre 900 e 2500 nanômetros (nm), em um intervalo de 1 nm, gerando um banco

de dados de 2.250 variáveis por amostra de solo, que corresponde a refletância

em cada comprimento de onda do espectro.

3.2.5 Aprendizagem de máquina

Em posse do banco de dados, a primeira análise realizada foi a estatística

descritiva dos atributos do solo FED e FEO. Na sequência, para viabilizar o

entendimento do comportamento dos dados foi desenvolvido um gráfico de

distribuição. Na etapa seguinte iniciou-se o processo de predição dos atributos

FED e FEO utilizando os algoritmos XGBoost e Florestas Aleatórias

O XGBoost é um algoritmo de aprendizagem de máquina que tem como

principal característica a escalabilidade, alta precisão e ampla aplicação (Nguyen

et al., 2022a). Ele consiste em uma variação dos algoritmos de árvore de decisão
83

com a técnica de aumento de gradiente, que atua ajustando as funções de perda,

que são minimizadas pela estrutura de interações sequenciais do algoritmo

(Hikouei et al., 2021), ou seja, o XGBoost usa ensembles de árvores

sequencialmente otimizadas.

Este algoritmo tem capacidade de trabalhar com problemas de

classificação e regressão, neste trabalho devido à natureza dos dados optamos

pela regressão. O algoritmo, aplicado nos bancos de dados, foram divididos em

70% para treino e 30% para teste. Pensando que o algoritmo é impulsionado pelo

adequado ajuste de hiperparâmetros, juntamente na análise foi utilizado um

algoritmo de otimização, chamado RandomizedSearchCV. Foi estabelecido o total

de 6 hiperparâmetros (n_estimators, max_depth, reg_lambda, subsample,

colsample_bytree, booster) com 10 possibilidades cada, para todos os modelos

foi selecionado o total de 50 árvores com 0.5 de taxa de aprendizagem.

O modelo de Regressão Florestas Aleatórias (FA) (Breiman, 2001) é uma

técnica não paramétrica que foi desenvolvida com o intuito de melhorar a previsão

dos modelos de Árvores de Classificação e Regressão, pois utiliza árvores de

decisão totalmente crescidas e reduz o erro e a variação (Yan et al., 2020b). Tal

algoritmo consiste na combinação de diversas árvores, que são geradas a partir de

uma variável de entrada amostrada aleatoriamente, todas as árvores apresentam

o mesmo tamanho. Já as subdivisões das árvores são realizadas com base em um

subconjunto amostrado aleatoriamente do banco de dados total, o resultado do

modelo de FA é composto pela média dos resultados de todas as árvores (Chagas

et al., 2016b).

Após a otimização dos modelos de FA foram definidos os seguintes

parâmetros: número de árvores (n-estimados) = 100; aleatoriedade bootstrapping


84

das amostras (random-state) = 50; profundidade máxima da árvore (max_depth) =

20; número mínimo de amostras necessárias para nó por folha (min_samples_leaf)

= 5. Todas as análises de FA foram implementadas utilizando o algoritmo

RandomForestRegressor do pacote Scikit-Learn (Pedregosa et al., 2011).

Para avaliar o desempenho dos modelos, foram estabelecidas 3 métricas:

o coeficiente de determinação (R2), erro médio absoluto (MAE) e a raiz quadrada

do erro médio (RMSE).

3.2.6 Geoestatística

Para a determinação da existência da dependência espacial foram

modelados semivariogramas simples, com base na teoria das variáveis

regionalizadas e nos princípios da hipótese intrínseca (Isaaks; Srivastava, 1989).

O variograma descreve a continuidade espacial das variáveis como função das

distâncias entre duas localizações, sendo estimado por:

N (h)
1
ˆ (h) =
2 N ( h)
 [ z( x ) − z( x
i =1
i i + h)] 2 (1)

em que, ˆ (h) é a semivariância experimental para uma distância de separação h,

z(xi) é o valor da propriedade no ponto i, e N(h) é o número de pares de pontos

separados pela distância h. Observada a existência da dependência espacial entre

as amostras definida pelo semivariograma, foram estimados valores onde a variável

não foi medida, fazendo uso da krigagem (Oliver; Webster, 2014). Para todas as

análises foram utilizadas as linguagens de programação R e Python, de forma

concomitante, no ambiente Jupyter notebook, seguindo o resumo gráfico

apresentado na Figura 3.
85

Figura 3. Fluxograma do passo a passo do processamento de dados até a obtenção dos mapas dos atributos analisados para a
área de referência e área alvo.
1
86

3.3 Resultados e discussão

Para o melhor entendimento do comportamento da amplitude de variação

dos dados foi realizada a estatística descritiva para o FED e FEO (Tabela 1).

Podemos observar que de modo geral os dados de ambas as áreas apresentaram

comportamento muito heterogêneo. Esta variabilidade pode ser associada às

transições geológicas existentes em ambas as áreas, que apresentam classes de

solos com características totalmente distintas como os Latossolos e Neossolos.

Tabela 1. Análise descritiva dos dados de FED e FEO das áreas de referência e
alvo.
Área de Referência FED FEO
CV 71,24% 68,42%
Desvio Padrão 37,75 1,40
Máximo 177,71 7,44
Mediana 40,64 1,93
Média 53,00 2,05
Mínimo 1,99 0,04
Área Alvo FED FEO
CV 62,29% 100,25%
Desvio Padrão 14,32 1,17
Máximo 76,38 5,89
Mediana 17,69 0,70
Média 22,99 1,17
Mínimo 4,93 0,19
FED: Ferro Ditionito; FEO: Ferro Oxalato; CV: coeficiente de variação. N (número
de observações) na área de referência: 360; na área alvo: 231.

Latossolos são caracterizados pela intemperização e lixiviação intensas e

pela baixa atividade das argilas e capacidade de troca de cátions. Além disso, são

caracterizados como solos profundos, de coloração relativamente homogênea e

com distribuição uniforme de argila ao longo do perfil, elevada estabilidade de

agregados e baixo conteúdo de silte em relação à argila (Ker, 1997), sendo os

principais solos utlizados para produção agrícola no Brasil (Novais et al., 2007).

Neossolos quartzarênicos são solos originados principalmente a partir de

rochas de arenitos ou sedimentos arenosos não consolidados. São caracterizados


87

pela baixa fertilidade e capacidade de retenção de água. São muito permeáveis,

mal estruturados, com limitações ao uso agrícola e alta suscetibilidade à erosão

(Ruiz et al., 2003; Souza et al., 2005).

Oliveira et al. (1998) relatam que a baixa relação de FEO/FED (ferro

oxalato/ferro ditionito) no solo revelou predomínio de óxidos mais cristalinos como

goethita e hematita, formados principalmente em solos situados em posições mais

elevadas na paisagem, formando solos mais avermelhados e amarelo-

avermelhados, indicando solos com melhor drenagem.

A primeira métrica apresentada na Tabela 1 é o coeficiente de variação

(CV), observa-se que em ambas as áreas os dados apresentam comportamento

heterogêneo. Para FED, a área de referência apresentou maior CV e desvio

padrão indicando que os dados dessa área são mais dispersos do que o da área

alvo. Corroborando com tal afirmação, ao observar os valores mínimos e máximos

nota-se que na área de referência a amplitude do atributo é maior quando

comparado com os valores da área alvo. Estes resultados podem ser associados

à transição dos tipos de solo e geologias de origem desses solos, uma vez que

pode haver grande variabilidade na quantidade de Fe na rocha de origem

(Stranghoener et al., 2020).

Diferente do observado para FED, para FEO observa-se que na área alvo o

valor de CV é consideravelmente maior do que o observado na área de referência,

embora a área de referência apresente maior valor de desvio padrão e amplitude

de variação entre os valores máximo e mínimo. De modo geral, a área de referência

apresenta maior variabilidade dos atributos quando comparada a área alvo, tal fato

pode ser atribuído ao grid de coleta de solo mais denso estabelecido para a área

de referência, fazendo com que maior variabilidade espacial dos atributos seja
88

mapeada (Lark, 2000).

Para a primeira parte da análise de dados foram apresentadas as medidas

de centro e de dispersão e na sequência para o entendimento mais aprofundado

foram observadas as medidas de forma (curtose e assimetria) (Tabela 2). Para FED

a curtose se mostrou negativa na área alvo, indicando um alto nível de achatamento

da curva, ou seja, distribuição platicúrtica. Na área de referência nota que a curtose

de FED ficou muito próxima de zero, indicando assim uma curva de padrão normal,

ou seja, mesocúrtica.

Tabela 2. Valores de curtose a assimetria dos dados de FED e FEO das áreas de
referência e alvo.
Área de Referência FED FEO
Curtose -0,84 0,03
Assimetria 0,49 0,45
Área Alvo FED FEO
Curtose 0,03 3,76
Assimetria 1,04 2,05
FED: Ferro Ditionito; FEO: Ferro Oxalato.

Uma questão metodológica importante é a distribuição não normal dos

dados, pois problemas com dados não normais acrescentam dificuldades

adicionais quando comparados à predição de resultados com base em conjuntos

de dados com distribuições normais (Esfandiarpour-Boroujeni et al., 2020; Gómez-

Escalonilla et al., 2022).

Já para FEO observa-se o padrão contrário ao observado para FED. Na área

alvo a distribuição apresentou o padrão mesocúrtico e na área alvo apresentou

achatamento baixo, ou seja, curva leptocúrtica, o que pode estar associado à

distribuição bimodal dos dados de FED da área de referência, o que não ocorre

para os dados de FED da área alvo nem para os dados de FEO de nenhuma das

áreas. Em relação a assimetria, de modo geral em todos os atributos avaliados foi


89

observada presença de simetria positiva, sendo essa mais intensa na área alvo

quando comparada a área de referência, o que pode ser associado a densidade

amostral de ambas as áreas, como na área alvo foram coletadas menos amostras,

o que ocasionou na formação de caldas devido a baixa representatividade.

Para apoiar o entendimento das medidas de centro, dispersão e forma, foi

desenvolvido um gráfico de distribuição para cada atributo comparando os dados

da área de referência e área alvo (Figura 4). Ambos os atributos apresentam na

área de referência maior amplitude de dados do que na área alvo, tal diferença fica

muito nítida nos box-plot apresentados.

Nota-se quem em ambos o gráfico a área de referência apresenta

distribuição mais homogênea quando comparada a alvo, o que pode ser atribuído

a maior densidade amostral desta área quando comparada com a área alvo, logo

o menor espaçamento entre pontos da área de referência capta muito melhor a

dependência espacial entre os atributos gerando uma distribuição mais

homogénea.

(a)
90

(b)

Figura 4. Distribuição dos dados de FED (a) e FEO (b) das áreas de referência e
alvo. FED: Ferro Ditionito; FEO: Ferro Oxalato.

Tal fato fica ainda mais nítido no gráfico referente a FED (Figura 4a), no qual

notam-se picos de frequência dos menores valores de FED na área alvo e na

sequência reduções drásticas. Similar do padrão observado para FED, no gráfico

de distribuição para FEO também se observa maior concentração do elemento em

valores baixos na área alvo, porém com distribuição mais homogênea e parelha,

nota-se que ela não reduz de forma abrupta como para FED. Além disso ambas as

áreas apresentam um padrão semelhante de comportamento, sendo que a área de

referência apresenta alguns valores máximos mais extremos do que a área alvo.

As áreas com maiores teores de FED são as argilosas, quem ficam mais nas

bordas dos mapas da área alvo, com menor representatividade, já na área de

referência, áreas com solos mais argilosos estão presentes em maior parte da área,

o que pode ocasionar a distribuição mais bem distribuída desses elementos, uma

vez que já se espera maior teor desses óxidos quanto maior o teor de argila dos

solos (Camêlo et al., 2017; Silva et al., 2020b). A presença mais homogênea de

FEO nas áreas pode ser associada as características únicas da formação de FEO,

que não apresentando tão grande diferenciação em sua formação em função dos

compartimentos geológicos, devido principalmente à grande variabilidade na

presença de minerais amorfos ricos em Fe nesses solos (Lee et al., 2018;


91

Stranghoener et al., 2020).

De modo geral o comportamento de FEO apresentou maior semelhança de

distribuição entre as áreas quando comparado com FED, tal afirmação corrobora

diretamente com os box-plot apresentados nas Figuras 4a e 4b. Entendendo o

comportamento dos atributos em ambas as áreas, foi possível observar que o

intervalo de variação da área alvo está contido dentro do intervalo da área de

referência, logo entendem-se que o padrão da área alvo existe dentro da base de

dados da área de referência. Entendendo que as áreas apresentam padrões em

comum, partiu-se para o desenvolvimento dos modelos de aprendizagem de

máquina.

Na Tabela 3 estão as métricas utilizadas para avaliar a performance dos

algoritmos. O modelo desenvolvido utilizando o algoritmo XGBoost apresentou

desempenho superior ao algoritmo de Florestas Aleatórias, o que pode ser atribuído

a robustez do algoritmo, pois usa em sua arquitetura sistema de gradiente

descendente para atualizar os parâmetros do modelo ter a capacidade de

reconhecer os recursos mais importantes (Chen; Guestrin, 2016).

A primeira métrica desenvolvida foi o coeficiente de determinação (R 2) que

representa o percentual de variância dos dados que é explicado pelo modelo.

Observando os resultados de FEO nota-se que de modo geral este apresentou R2

inferiores aos dos modelos desenvolvidos para FED.

Para FED e FEO os valores de R2 do algoritmo XGBoost mostrou-se mais

eficiente em estimar os valores observados. O modelo que melhor performou nessa

métrica para ambos os atributos foi o da área de referência, tanto na etapa de treino

como na de teste, além de ter apresentado os maiores valores de R 2. Para FED,

podemos observar menor amplitude de variação entre as etapas de treino e teste,


92

indicando menor probabilidade de ocorrência de overfitting.

Tabela 3. Métricas de avaliação dos modelos de aprendizagem de máquina.


Florestas
XGBoost
Modelo Métrica Aleatórias
FED FEO FED FEO
R2 82,53% 80,84% 94,56% 81,41%
Treino MAE 10,39 0,41 5,8 0,44
RMSE 15,64 0,61 8,83 0,62
Área de Referência
R2 76,33% 57,88% 85,30% 54,67%
Teste MAE 12,98 0,63 9,82 0,42
RMSE 18,47 0,89 14,24 0,83
R2 71,44% 61,16% 90,01% 72,68%
Treino MAE 4,71 0,4 2,85 0,34
RMSE 7,61 0,68 4,62 0,59
Área Alvo
R2 56,71% 44,05% 79,44% 67,63%
Teste MAE 6,49 0,53 4,62 0,43
RMSE 9,42 0,92 6,16 0,68
R2 86,18% 77,72% 93,50% 94,79%
Treino MAE 8,82 0,44 6,21 0,47
Modelo de RMSE 14,01 0,65 9,6 0,62
Extrapolação R2 72,05% 62,14% 88,36% 81,18%
Teste MAE 4,47 0,4 3,29 0,55
RMSE 7,55 0,71 4,87 0,63
FED: Ferro Ditionito; FEO: Ferro Oxalato; R²: coeficiente de determinação; MAE:
erro absoluto médio; RMSE: raiz quadrática média.

O overfitting é definido como o problema que ocorre quando um modelo foi

treinado com muita dificuldade para ajustar os dados de treinamento, resultando

em um modelo que aprendeu a reproduzir ruídos e peculiaridades nos dados de

treinamento, em vez de encontrar uma regra preditiva geral (Dietterich, 1995). Caso

ocorra o overfitting a precisão dos modelos desenvolvidos pode decair

significativamente em um banco de dados de teste (Zanotti et al., 2019).

O modelo de pior performance tanto para FED como para FEO foi o de

Florestas Aleatórias da área alvo. Além de apresentar elevada variação de valores

entre as etapas de treino e teste, os resultados foram significativamente inferiores

quando comparados com os demais modelos. Este resultado pode ser atribuído à
93

baixa densidade amostral existente na base de dados da área alvo. Além disso, o

algoritmo de Florestas Aleatórias desenvolve diversas árvores de regressão e por

fim realiza uma média dos resultados de todas.

Como a média é muito afetada pela presença de outliers na base de dados,

a performance do algoritmo pode ter sido afetada pela presença dos outliers, uma

vez que o desempenho de algoritmos preditivos pode ser severamente afetado pela

presença de outliers nos dados experimentais, o que torna o algoritmo não robusto

(Wang et al., 1996).

Para FED os menores valores de MAE foram observados no modelo

desenvolvido usando o algoritmo XGBoost para a área de referência. Este resultado

pode ser atribuído à robustez da base de dados da área de referência, que por

consequência submete o algoritmo a maior quantidade de observações dos

padrões da área e aperfeiçoamento da aprendizagem do modelo. Isso ocorre

porque por diminuir a densidade amostral dos dados a serem preVIStos reduz

naturalmente o número de exemplos em cada ambiente para os algoritmos

aprenderem e, quanto mais limitado for o número de pontos em cada ambiente,

mais difícil será ajustar a capacidade preditiva dos algoritmos (Esfandiarpour-

Boroujeni et al., 2020; Gómez-Escalonilla et al., 2022).

Já para a métrica RMSE, o modelo que apresentou os menores valores foi

o da área alvo. Este resultado indica que esse modelo foi o menos impactado pela

presença de outliers nas bases de dados, uma vez que por haver maior densidade

amostral e maior quantidade de observações dentro de cada ambiente os

algoritmos foram melhor treinados, o que faz com que a menor ocorrência de

outliers seja menos prejudicial para os valores de RMSE (Chai; Draxler, 2014).

Seguindo com a análise de FED, o modelo que apresentou menor


94

performance nas métricas de MAE e RMSE foi o modelo de extrapolação utilizando

o algoritmo de Florestas Aleatórias. Este resultado era esperado, partindo da

premissa que o modelo foi treinado e testado em áreas diferentes, logo a margem

de erro da predição seria maior, similar aos resultados apresentados por Angelini

et al. (2020) e Ruhollah et al. (2022) que, trabalhando com modelos de predição e

extrapolação de dados de solo obtiveram métricas inferiores para os modelos de

extrapolação, em comparação com os modelos das áreas de referência,

independentemente do algoritmo utilizado.

Para FEO, nota-se que as métricas MAE e RMSE apresentaram resultados

melhores do que para FED, o que pode ser associado à distribuição mais

homogênea dos dados como observado nas Figuras 4a e 4b. Os modelos

desenvolvidos apresentaram métricas de erro bem similares entre si. O modelo de

Florestas Aleatórias da área de referência apresentou uma pequena diferença em

relação aos demais na métrica MAE.

Porém, nota-se que este modelo foi muito penalizado pelos outliers,

apresentando um RMSE ligeiramente mais alto do que nos modelos das áreas de

referência e alvo, desenvolvidos com o algoritmo XGBoost. Entretanto, os modelos

que tiveram RMSE mais penalizados pelos outliers foram os de extrapolação,

independentemente do algoritmo utilizado.

De modo geral, a métrica RMSE apresentou resultados superiores ao MAE

nos modelos. Porém, nota-se maiores diferenças nos modelos de FED, o que pode

ser atribuído à distribuição dos dados desse atributo, que é mais heterogênea do

que a de FEO, logo, sendo os modelos desenvolvidos para FEO mais penalizados

pela presença de outliers (Chai; Draxler, 2014).

Observando especificamente os modelos de extrapolação quando


95

comparados aos demais desenvolvidos, nota-se maiores valores das métricas de

erro, mesmo apresentando valores satisfatórios de R2. Estes maiores valores de

erro podem ser atribuídos às diferentes bases apresentadas nas etapas de treino

e teste. Por mais que com base na distribuição dos dados das bases utilizadas os

padrões existentes na área alvo também estão contidos na área de referência,

estas são áreas distintas. Entretanto, mesmo com valores de erro mais elevados, é

possível inferir que os resultados foram satisfatórios, principalmente no modelo que

foi utilizado o algoritmo XGBoost.

O algoritimo de XGBoost tem sido empregado com sucesso para estimativa

de diversos parâmetros ambientais como, cobertura vegetal (Maurya et al.,

2022a), qualidade da água (Xu et al., 2022), modelos hidrológicos de bacias

(Wang et al., 2022), meteorologia florestal (Ghafarian et al., 2022), água no solo

(Karthikeyan; and Mishra, 2021), modelos de física do solo (Zhang et al., 2021),

salinização do solo (Ma et al., 2021), erosão do solo e da água (Golkarian et al.,

2023), carbono do solo (He et al., 2022; Nguyen et al., 2022b; Zhang et al., 2022),

parâmetros produtivos de culturas agrícolas (Han et al., 2022), metais pesados no

solo (Ye et al., 2023; D. Zhao et al., 2022a), entre outras aplicações, o que tem

feito esse algoritmo despontar nos últimos anos, sendo na grande maioria das

vezes superior quando comparado com quaisquer que sejam os algoritmos.

Para viabilizar o entendimento do comportamento dos dados para cada

modelo preditivo foram desenvolvidas regressões comparando os dois algoritmos

(Figura 5). Observando inicialmente os modelos desenvolvidos para FED (Figuras

5a, 5b e 5c) é possível notar maior espalhamento dos dados preditos pelo modelo

de Florestas Aleatórias ao redor da reta. Estes resultados corroboram com o que

foi citado anteriormente, que os modelos desenvolvidos utilizando o XGBoost


96

performaram melhor, quando comparados com modelos desenvolvidos com o

algoritmo Florestas Aleatórias, independentemente do campo de trabalho, seja na

medicina (Basu et al., 2022), na indústria (Kiangala; Wang, 2021)ou em atributos

ligados à mineralogia do solo, a exemplo do presente estudo.

Outro ponto que é possível observar é a continuidade da distribuição dos

dados de FED da área de referência. Na área alvo nota-se uma concentração de

pontos na parte inferior da reta e algumas poucas amostras na parte superior da

reta, ficando um gap entre as extremidades das retas.

Esta condição pode ser atribuída à baixa densidade amostral nas áreas de

transição e é possível notar ainda que nesta região ocorre maior concentração de

pontos dispersos, tanto na Figura 5b bem como na Figura 5c, indicando que o

algoritmo não foi capaz de estimar corretamente estes pontos, logo, tornando-se

mais errático nessas regiões.

Geralmente, a tendência é que os modelos de aprendizagem favoreçam as

áreas com mais observações, pois há maior quantidade de exemplos de ocorrência,

resultando em baixas taxas de assertividade para locais pouco amostrados, uma

vez que o algoritmo supõe que as distribuições são relativamente equilibradas

(Castro; Braga, 2011).


97

(a) (b) (c)

g/kg

g/kg
g/kg

g/kg g/kg g/kg

(d) (e) (f)

g/kg
g/kg

g/kg
g/kg g/kg g/kg

Figura 5. Análise de regressão dos dados preditos e observados de FED e FEO. (a) FED Área de referência; (b) FED Área Alvo; (c)
FED extrapolado da Área de Referência para a Área Alvo; (d) FEO Área de referência; (e) FEO Área Alvo; (f) FEO extrapolado da
Área de Referência para a Área Alvo; FED: Ferro Ditionito; FEO: Ferro Oxalato; FA: Florestas Aleatórias; XGB: XGBoost.
98

Observando as regressões desenvolvidas para FEO é possível observar que

os dados estimados ficaram ainda mais espalhados, principalmente nas Figuras 5e

e 5f, sendo, os modelos desenvolvidos com o algoritmo XGBoost foram mais

eficientes nas estimativas.

Na regressão desenvolvida para área de referência é possível notar que os

dados preditos pelo modelo de Florestas Aleatórias se distanciaram mais da reta,

além de terem subestimado os dados, ocasionando o empilhamento e

sobreposição de dados no ponto zero do eixo Y. Dentre todas as regressões é

possível notar que a referente à extrapolação de FEO foi a que houve maior

descolamento das duas retas, indicando a maior divergência entre as predições de

FA e XGBoost para o FEO, possivelmente devido à menor amplitude de valores

desse atributo.

Para avaliarmos espacialmente a performance dos modelos foram

realizadas as krigagem dos dados observados e dos dados preditos por cada

modelo, sendo as Figuras 6a, 6b e 6c – FED área de referência; Figuras 7a, 7b e

7c – FED área alvo; Figuras 8a, 8b e 8c – FED extrapolado; Figuras 9a, 9b e 9c –

FEO área de referência; Figuras 10a, 10b e 10c – FEO área alvo; Figuras 11a, 11b

e 11c – FEO extrapolado.

De modo geral tanto para FED como para FEO os semivariogramas dos

dados observados e preditos apresentaram o mesmo comportamento esférico.

Este modelo de ajuste é comumente associado a dados ligados à atributos do solo,

pois a sua transição ocorre de forma mais rápida (Motomiya et al., 2006). O modelo

esférico é comumente obtido quando se modela atributos do solo com variações

mais abruptas (Isaaks and Srivastava, 1989; Vieira, 2000).

Dentre os semivariogramas desenvolvidos, os referentes à área alvo


99

apresentaram patamares e alcance mais bem definidos, quando comparados aos

desenvolvidos para a área de referência. Isso pode ser associado ao tamanho da

base de dados e à maior densidade amostral, pois a área de referência apresenta

uma base de dados mais robusta o que ocasiona no aumento da amplitude de

máximos e mínimos e por consequência no aumento da variabilidade. Oliver e

Webster (2014) relatam que existem vários fatores que prejudicam a confiabilidade

dos ajustes dos semivariogramas experimentais, sendo eles o tamanho da amostra,

pois quanto mais dados você tiver, maior será a precisão, porém, mais difícil tende

a ser o ajuste, uma vez que a amostragem capta melhor a variabilidade a curtas

distâncias.

Nota-se que tanto os semivariogramas de FED como de FEO da área alvo e

da extrapolação apresentaram parâmetros como efeito pepita (C0), patamar e

alcance muito semelhantes entre si, podendo inferir que os modelos apresentaram

comportamento semelhantes entre si. Por fim, foram confeccionados o total de

dezoito mapas e seis gráficos violinos comparando a distribuição dos dados

observados e preditos por ambos os modelos.

O primeiro mapa refere-se ao atributo FED na área de referência (Figura 6).

Assim como constatado nos semivariogramas é possível observar a ocorrência de

mudanças abruptas nos valores de FED ao longo da área, o que pode ser atribuído

à elevada densidade amostral da base de dados, o que traz mais detalhes às

mudanças nos valores de FED a curtas distâncias.

De modo geral os mapas apresentaram semelhança entre si. Porém, isso

fica ainda mais claro quando comparamos o mapa desenvolvido utilizando o

algoritmo XGBoost (Figura 6c). Neste mapa é possível visualizar com precisão o

padrão das transições geológicas, diferente do mapa confecionado utilizando o


100

algoritmo de Florestas Aleatórias (Figura 6b).

Ao centro do mapa da Figura 6b é possível notar que o algoritmo de Floresta

Aleatória superestima os valores de FED, assim como nas bordas da parte superior

do mapa. Este resultado não é observado no mapa gerado com base no modelo do

algoritmo XGBoost. O XGBoost, por ser um algoritmo que combina técnicas de

otimização tem a vantagem de reduzir superestimação e subestimação de valores

e a capacidade de minimizar overfitting, trabalhando bem com problemas de

normalização de dados e sendo menos influenciado pela presença de conjuntos de

dados desbalanceados (Maurya et al., 2022b; D. Zhao et al., 2022b).

No gráfico violino (Figura 6d) é possível notar no box-plot que as três bases

de dados apresentaram comportamentos muito semelhantes. Porém, a que mais

se distinguiu foi a desenvolvida com o modelo de Florestas Aleatórias. Nota-se um

ligeiro achatamento nos extremos do contorno, quando comparado com a base de

dados observada.
101

(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h) FED - Área de referência


Área Observado FA XGB
Modelo Esférico Esférico Esférico
C0 109,42 49,24 23,87
Patamar 36625,42 1163,12 99254,04
Alcance 63060,52 2527,49 223895,00
SQR 1,10E-04 0,90 0,24
Figura 6. Mapas, semivariogramas e gráficos violinos referentes ao atributo FED no solo da Área de Referência: (a) dados
observados; (b) dados previstos usando Florestas Aleatórias; (c) dados preVIStos usando XGBoost; (d) gráficos de violino; (e)
semivariograma dados observados; (f) semivariograma Florestas Aleatórias; (g) semivariograma XGBoost; (h) métricas de ajuste
dos semivariogramas. FED: Ferro Ditionito.
102

Além disso, o conjunto de dados preditos pelo algoritmo de Florestas

Aleatórias apresentou a média mais alta em relação aos conjuntos de dados

observado e estimados pelo algoritmo XGBoost, nos outros dois gráficos violinos.

O violino que representa o modelo gerado pelo algoritmo XGBoost apresentou

distribuição muito semelhante aos constatado no observado.

Na sequência foram desenvolvidos os mapas dos teores de FED para a área

alvo (Figura 7). Nota-se uma grande semelhança entre eles, porém, assim como

nos mapas anteriores, a semelhança maior entre os mapas dos dados observados

e o mapa dos dados gerados utilizando o algoritmo XGBoost, corroborando com o

que foi observado na tabela de métricas (Tabela 3) e nas regressões (Figura 5).

É possível observar que na Figura 7b desenvolvida utilizando Floretas

Aleatórias o mapa perdeu uma de suas áreas de transição, o que ocasionou a perda

de qualidade da informação em uma parte do mapa. Este efeito fica ainda mais

claro ao analisar o gráfico violino, no qual pode-se observar um afunilamento dos

dados. Este resultado pode ser explicado pelas regressões da Figura 5, onde é

possível observar o espalhamento dos dados na zona de transição da base de

dados. Logo, o modelo não foi capaz de estimar com precisão os dados dessas

áreas de transição, ocasionando perda de informação da camada e o afunilamento

do violino.

O oposto foi observado no mapa dos dados preditos pelo algoritmo XGBoost,

que não foi tão assertivo em valores extremos como podemos notar no violino, mas

que conseguiu lidar com a zona de transição de forma mais apropriada. Abdikan et

al. (2022) comparando diversos algoritmos de aprendizagem de máquina

(Regressão Linear Simples, Regressão Linear Múltipla, Rede Neural Artificial,

XGBoost e Rede Neural Convolucional) obteve o resultado que o XGBoost foi mais
103

eficiente para a estimativa da altura da cultura do girassol em diferentes cenários.

Nos mapas criados com os modelos extrapolados (Figuras 8b e 8c) é

possível observar que o algoritmo de Florestas Aleatórias lidou melhor com a

transição dos dados, o que pode ser atribuído ao incremento da base de dados e

por consequência ao aumento de padrões observados. Entretanto, mesmo sendo

mais assertivo o mapa segue sendo errático em algumas regiões de transição.

O mapa dos dados preditos pelo XGBoost (Figura 8c) mostrou-se muito

semelhante ao mapa dos dados observados, errando apenas em alguns valores

extremos, considerados como outliers. Nowak-Brzezinska e Horyn (2020) relatam

a importância da detecção de outliers, para que os padrões nos dados possam ser

melhor estudados e melhores modelos sejam desenvolvidos.


104

(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h) FED - Área Alvo


Área Observado FA XGB
Modelo Esférico Esférico Esférico
C0 80,66 49,53 34,72
Patamar 106,66 76,54 82,24
Alcance 1,64 1,51 1,61
SQR 1,84 2,44 1,06
Figura 7. Mapas, semivariogramas e gráficos violinos referentes ao atributo FED no solo da Área Alvo: (a) dados observados; (b)
dados preVIStos usando Florestas Aleatórias; (c) dados preVIStos usando XGBoost; (d) gráficos de violino; (e) semivariograma
dados observados; (f) semivariograma Florestas Aleatórias; (g) semivariograma XGBoost; (h) métricas de ajuste dos
semivariogramas. FED: Ferro Ditionito.
105

(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h) FED - Extrapolado


Área Observado FA XGB
Modelo Esférico Esférico Esférico
C0 80,66 43,88 37,01
Patamar 106,66 92,07 85,2
Alcance 1,64 1,62 1,66
SQR 1,84 1,27 1,27
3 Figura 8. Mapas, semivariogramas e gráficos violinos referentes ao atributo FED no solo extrapolado da Área de Referência para a
4 Área Alvo: (a) dados observados; (b) dados preVIStos usando Florestas Aleatórias; (c) dados preVIStos usando XGBoost; (d) gráficos
5 de violino; (e) semivariograma dados observados; (f) semivariograma Florestas Aleatórias; (g) semivariograma XGBoost; (h) métricas
6 de ajuste dos semivariogramas. FED: Ferro Ditionito.
106

Os mapas de FEO da área de referência, desenvolvidos a partir dos modelos

de Florestas Aleatórias (Figura 9b) e XGBoost (Figuras 9c), apresentaram algumas

nítidas diferenças em relação ao mapa elaborado com os dados observados (Figura

9a). Em ambos os mapas desenvolvidos com base nos modelos os valores foram

superestimados em algumas regiões. Nota-se que isso foi mais evidente nos dados

gerados utilizando o algoritmo de Florestas Aleatórias.

Corroborando com estes resultados é possível observar os gráficos violinos

(Figura 9d), onde nota-se que o correspondente ao modelo de Floresta Aleatória

apresentou maior média, quando comparado com a distribuição dos dados

observados. Resultados similares foram apresentados por Takoutsing e Heuvelink

(2022) que demonstraram a limitação do algoritmo de Florestas Aleatórias em

predizer dados extremos em bancos de dados desbalanceados.

A diferença do comportamento das bases de dados fica muito nítida ao

observar o gráfico violino (Figura 9d), o contorno que corresponde a frequência dos

três apresenta uma considerável diferença, além disso os modelos não

conseguiram lidar com os outliers existentes nas bases de dados observados.

No mapa de FEO da área de referência (Figura 9a) é possível notar a

presença de transições abruptas, o que justifica a indefinição do patamar e do

alcance. Essas áreas de transição abruptas não foram satisfatoriamente preditas

pelos modelos, resultando em mapas mais erráticos nas áreas de transição.

Resultados similares foram observados por Liu et al. (2022) que utilizando de

diferentes algoritmos para mapeamento digital de carbono do solo obtiveram

modelos mais erráticos sempre nos valores mais extremos do banco de dados.
107

(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h) FEO - Área de referência


Área Observado FA XGB
Modelo Exponencial Exponencial Exponencial
C0 0,26 0,11 0,065
Patamar 222,64 2,47 91,54
Alcance 200657,30 2619,07 130474,90
SQR 1,50E-03 1,30E-04 9,40E-04
Figura 9. Mapas, semivariogramas e gráficos violinos referentes ao atributo FEO no solo da Área de Referência: (a) dados
observados; (b) dados preVIStos usando Florestas Aleatórias; (c) dados preVIStos usando XGBoost; (d) gráficos de violino; (e)
semivariograma dados observados; (f) semivariograma Florestas Aleatórias; (g) semivariograma XGBoost; (h) métricas de ajuste
dos semivariogramas. FEO: Ferro Oxalato.
108

Na sequência foram desenvolvidos os mapas referentes ao FEO da área

alvo (Figura 10). Nota-se que no mapa desenvolvido com os dados preditos pelo

modelo de Florestas Aleatórias (Figura 10b) o algoritmo superestimou os valores

em determinados pontos, como é possível observar na região mais central e nas

bordas à direta do mapa.

O mapa gerado utilizando os dados preditos pelo XGBoost (Figura 10c)

também superestimou os valores de FEO na região mais central do mapa, porém,

nas demais partes apresentou valores muito similares com os observados no mapa

dos dados reais (Figura 10a).

Ao observar os gráficos violino do FEO da área alvo (Figura 10d) nota-se

distribuição semelhante dos dados, sendo que apenas o violino referente aos dados

gerados pelo modelo de Florestas Aleatórias foi penalizado em ambos os extremos

e os dados gerados pelo modelo de XGBoost foi penalizado apenas no extremo

superior.

Kaya et al. (2022) utilizando diferentes algoritmos para performar técnicas

de mapeamento digital do solo observou que o algoritmo de Florestas Aleatórias foi

ineficiente para predizer atributos de solo com bases de dados desbalanceados,

não sendo eficiente na estimativa de valores extremos.


109

(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h)

Figura 10. Mapas, semivariogramas e gráficos violinos referentes ao atributo FEO no solo da Área Alvo: (a) dados observados; (b)
dados preVIStos usando Florestas Aleatórias; (c) dados preVIStos usando XGBoost; (d) gráficos de violino; (e) semivariograma
dados observados; (f) semivariograma Florestas Aleatórias; (g) semivariograma XGBoost; (h) métricas de ajuste dos
semivariogramas. FEO: Ferro Oxalato.
110

Por fim, foram confeccionados os mapas referentes ao modelo de

extrapolação de FEO (Figura 11). No mapa referente aos dados estimados pelo

modelo de Florestas Aleatórias (Figura 11b), observa-se a diferença ao centro e

nas bordas do mapa, locais onde os dados foram superestimados.

O mapa referente aos dados estimados pelo modelo XGBoost (Figura 11c)

apresentou maior semelhança com o mapa dos dados observados (Figura 11a),

apenas subestimando os valores de FEO na região central do mapa. Observa-se

também maior assertividade do modelo de XGBoost para predizer corretamente

todas as transições no mapa.

Semelhante ao que foi citado anteriormente, os gráficos violino (Figura 11d)

apresentaram a semelhança entre as bases de dados observada e preditas, sendo

os modelos de predição penalizados pelos valores extremos (máximos e mínimos),

uma vez que modelos de aprendizagem de máquina são negativamente

influenciados por bancos de dados desbalanceados e pela presença de outliers no

conjunto de dados (Wang et al., 1996; Nowak-Brzezinska; Horyn, 2020; Ebtehaj;

Bonakdari, 2022).
111

(a) (b) (c) (d)

(e) (f) (g)

(h) FEO - Extrapolado


Área Observado FA XGB
Modelo Esférico Esférico Esférico
C0 0,76 0,28 0,28
Patamar 0,83 0,32 0,41
Alcance 3,25 1,49 2,55
SQR 8,80E-04 6,60E-03 6,60E-03
Figura 11. Mapas, semivariogramas e gráficos violinos referentes ao atributo FEO no solo extrapolado da Área de Referência para
a Área Alvo: (a) dados observados; (b) dados preVIStos usando Florestas Aleatórias; (c) dados preVIStos usando XGBoost; (d)
gráficos de violino; (e) semivariograma dados observados; (f) semivariograma Florestas Aleatórias; (g) semivariograma XGBoost; (h)
métricas de ajuste dos semivariogramas. FEO: Ferro Oxalato.
112

3.4 Conclusões

O algoritmo de XGBoost mostrou-se mais eficiente que o algoritmo de Florestas

Aleatórias para predizer e extrapolar os parâmetros de predição de FED e FEO do

solo da área de referência para a área alvo.

O processo de extrapolação de parâmetros para predição de valores de FED e

FEO é possível e assertivo, desde que haja uma base de dados robusta e que as

áreas de referência e alvo tenham amplitudes de valores semelhantes.

O uso do sensor ERD, associados à modelos de aprendizagem de máquina é

eficiente na predição de atributos mineralógicos do solo, sendo essa associação de

técnicas de grande potencial para a ciência do solo.

A presença de outliers e banco de dados desbalanceados comprometem a

qualidade dos modelos de aprendizagem de máquina.

3.5 Referências

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