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Revista Psicologia e Saúde. doi: http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v14i4.

1811 21

Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: Teoria Implícita


Sexual Violence against Children and Adolescents: Implicit Theory
Delito Sexual de Niños y Adolescentes: Teoría Implícita
Gabriel Guedes Barbosa (in memoriam)
Andrea Schettino Tavares
Raiane Nunes Nogueira
Liana Fortunato Costa1
Universidade de Brasília (UnB)

Resumo
O objetivo deste texto é identificar as teorias implícitas sobre a masculinidade e a vítima criança/
adolescente, nos conteúdos de falas de homens adultos autores de ofensa sexual. Na violência sexual,
o indivíduo que ofende supõe propriedades de suas vítimas a partir de suas próprias representações
mentais. Trata-se de pesquisa documental realizada em uma instituição de atenção ao adulto ofensor
sexual, com base no registro de duas intervenções grupais ocorridas em 2018 e 2019. Os resultados foram
organizados e discutidos em sentidos que deram ênfase: na expressão da masculinidade, na relação com
a mulher e com a criança/adolescente. Buscou-se dar visibilidade à construção das crenças e imposições
de pensamento que são produzidas na vida social e familiar e que dão maior poder e dominação ao
homem. Estes sentidos apontados indicam o gênero masculino como centro das relações e o gênero
feminino submetido e dominado.
Palavras-chave: abuso sexual, agressões sexuais, assédio, violência contra crianças e adolescentes,
teorias implícitas, ofensor sexual
Abstract
The aim of this text is to identify the implicit theories about masculinity and the child/adolescent victim,
in the contents of speeches from adult male sexual offenders. In sexual violence, the sexual offender
assumes properties of their victims based on their own mental representations. This is a documental
research carried out in an institution that treats adult sexual offenders, based on the records of two group
interventions that took place in 2018 and 2019. The results were organized and discussed in topics that

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emphasized: the expression of masculinity and the relationship with the woman and the child/adolescent.
It sought to give visibility to the construction of beliefs and impositions of thought that are produced in
social and family life, and that give greater power and domination to man. These meanings indicate the
male gender as the center of relationships, and the female gender submitted and dominated.
Keywords: sexual abuse, sex offenses, harassment, violence against children and adolescents, implicit
theories, sex offender
Resumen
El objetivo de este texto es identificar las teorías implícitas sobre la masculinidad y la víctima niño/
adolescente, en los contenidos de los discursos de los hombres adultos autores de delitos sexuales.
En la violencia sexual, el infractor asume las propiedades de sus víctimas basándose en sus propias
representaciones mentales. Se trata de una investigación documental realizada en una institución que
atiende a agresores sexuales adultos, con base en el registro de dos intervenciones grupales que ocurrieron
en 2018 y 2019. Los resultados fueron organizados y discutidos en temas que enfatizaron: la expresión
de la masculinidad, la relación con la mujer y con el niño/adolescente. Se ha buscado dar visibilidad a la
construcción de creencias e imposiciones de pensamiento que se producen en la vida social y familiar y
que le dan mayor poder y dominación al hombre. Estos significados señalados indican el género masculino
como el centro de las relaciones y el género femenino sometido y dominado.
Palabras clave: abuso sexual, delitos sexuales, acoso, violencia contra niños y adolescentes, teorías
implícitas, delincuente sexual

1
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Introdução

A ofensa sexual contra crianças é a prática de qualquer ato libidinoso coercivo e/ou frau-
dulento com crianças, a fim de satisfazer a lascívia individual ou de terceiros. Para ser ca-
racterizada como tal, aquele que ofende sexualmente tem de estar em posição desigual
de poder em relação à vítima, seja devido à sua idade, seja em razão do seu estágio de
desenvolvimento (World Health Organization, 2017). Na legislação brasileira, o estupro de
vulnerável ocorre quando praticado contra crianças ou adolescentes menores de 14 anos,
independentemente de qualquer consentimento prévio, com pena de reclusão de oito a 15
anos (Presidência da República, 2009). A ofensa sexual é considerada como um problema de
saúde pública (World Health Organization, 2017), que envolve várias dimensões de vitimiza-
ções, caracterizando uma situação na qual um adulto com maior poder que uma criança ou
adolescente vale-se dessa condição para impor sua vontade na busca de satisfação sexual
para si ou para terceiros. O atendimento e a atenção às vítimas, criança e adolescente está
preconizado não somente no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Presidência da
República, 1990), mas também no Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual con-
tra Crianças e Adolescentes (Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente,
2013). Esta ação se dirige à necessidade de interrupção do circuito da violência, de se obser-
var a avaliação para evitar a reincidência do ato violento e de proteção às vítimas, sendo im-
portante que se garantam as duas dimensões de responsabilização e de atendimento (Costa,
Penso et al., 2018). Portanto, o objetivo deste texto é identificar, nos conteúdos de falas de
homens adultos autores de ofensa sexual contra crianças e adolescentes, as teorias implíci-
tas (representações mentais) sobre a masculinidade, a mulher e a criança/adolescente.
No Brasil, o último levantamento da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), referente
ao período de 2011 a 2017, apontava 184.524 casos de violência sexual contra crianças e

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adolescentes (Ministério da Saúde, 2018). No último Informe Epidemiológico do Núcleo de
Atenção, Prevenção e Atenção às Violências (NEPAV) do Distrito Federal (DF) (Secretaria de
Estado de Saúde do DF, 2020), foram identificados 213 casos de violência sexual contra crian-
ças e adolescentes. Este cenário agrava-se ainda mais ao se considerar a subnotificação ex-
pressiva da violência sexual, principalmente no que se refere à vitimização de meninos (Hillis
et al., 2016; Said & Costa, 2019). A atenção em saúde ao autor da ofensa sexual pode ser
vista como uma estratégia na redução de sua prevalência, prevenindo reincidência (Debona
et al., 2018). No Brasil, as políticas públicas destinadas a este sujeito ainda se restringem ao
contexto penal (Meneses et al., 2016), negligenciando a ofensa sexual como uma questão
(também) de saúde, e não apenas de segurança pública. Consequentemente, os estudos
sobre o ofensor sexual brasileiro e suas particularidades, neste contexto sociocultural, ainda
são escassos (Costa, Cavalcante et al., 2018b; Nogueira et al., 2020).
Para a efetivação de intervenções junto ao autor de ofensa sexual, faz-se necessário co-
nhecer e compreender os fatores clínicos envolvidos no cometimento da ofensa sexual con-
tra crianças e/ou adolescentes (Christensen, 2017; Clayton et al., 2018; McKillop, 2019). As
distorções cognitivas têm sido investigadas como fatores-chave na etiologia da ofensa sexual
contra crianças (Lordan, 2020; Szumski et al., 2018). Ward et al. (2006) postulam que as
distorções cognitivas podem ser racionalizações forjadas pelo autor da ofensa sexual, com
fins de justificação, minimização ou negação do ato sexual, funcionando como mecanismo

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de ­defesa; ou derivarem de esquemas mentais centrais e subjacentes, denominados “teo-


rias implícitas”. As distorções cognitivas são crenças desadaptativas preexistentes à ofensa
sexual. Essas crenças derivam das “teorias implícitas” (Dangerfield et al., 2020), que são
esquemas de representação mental formados a partir da assimilação de experiências indi-
viduais em associações mentais específicas (Ward, 2000). Na violência sexual, o indivíduo
que ofende sexualmente supõe propriedades (desejos, intenções, atitudes) de suas vítimas
a partir de suas próprias representações mentais acerca delas (Ward, 2000).
Na pesquisa de Nogueira et al. (2020) com autores de ofensa sexual da região Centro-
Oeste do Brasil, foram identificados conteúdos de falas que se referiram às crianças como
seres sexuais e à incontrolabilidade do desejo sexual masculino. O termo “gênero” refere-se
aos papéis sociais que definem e privilegiam performances distintas entre homens e mulhe-
res com base na construção ideológica de diferenças sexuais entre ambos os sexos (Zanello,
2018). No Brasil, questões de gênero vêm sendo abordadas na intervenção junto ao ofensor
sexual de crianças/adolescentes (Nogueira et al., 2020; Meneses et al., 2016), demonstran-
do ser esse um elemento-chave na etiologia da ofensa sexual (Passarela et al., 2017). No
estudo, objeto deste texto, parte-se do pressuposto de que as teorias implícitas referentes
a crianças/adolescentes e à sexualidade masculina envolvem compreensões sobre o que é
ser homem ou mulher. Apesar das teorias implícitas em si não serem diretamente acessíveis
ao indivíduo ou a um interlocutor, elas podem ser inferidas a partir de conteúdos de falas
e comportamentos que revelem interpretações de situações sociais (Szumski et al., 2018).

Método

Contexto da pesquisa

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Este é um estudo de natureza qualitativa-descritiva acerca da compreensão de como as
teorias implícitas estão presentes em falas de homens adultos que ofenderam sexualmente
crianças e/ou adolescentes, durante a participação em uma intervenção psicossocial grupal
que é oferecida em uma unidade de saúde pública brasileira. A pesquisa qualitativa busca
análise documental para coleta de dados, por meio de diários de observação referentes ao
registro de dois grupos ocorridos em 2018 e 2019. Os diários de observação – ou diários de
campo – são materiais nos quais o pesquisador toma notas, registrando acontecimentos de
maneira literal, reflexões pessoais, insights, entre outros (Yin, 2014). Na análise documental,
são extraídos sentidos de documentos primários ainda não analisados, apresentando a van-
tagem de utilizar dados brutos íntegros (Cechinel et al., 2016). O uso da pesquisa documental
se deu principalmente devido à dificuldade de acesso aos ofensores sexuais por outras vias,
já que eles se recusam a participar de pesquisas sobre ofensa sexual, pois entendem que
assim estariam admitindo o seu cometimento (Nogueira et al., 2020). A negação da ofensa
sexual cometida ocorre tanto porque não há reconhecimento do que realmente aconteceu
quanto por receio de penalizações adicionais, caso admitam a autoria.

Contexto da intervenção psicossocial grupal

Os homens adultos autores de ofensa sexual são encaminhados à unidade de saúde, pela
justiça (vara criminal meio fechado ou aberto) ou por outros serviços de saúde (ambulatórios

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de psiquiatria, gerontologia, urologia), passando inicialmente por um período de avaliação


multidisciplinar pela Psicologia, pelo Serviço Social e pela Psiquiatria. São realizadas entre-
vistas individual e familiar, a fim de averiguar a configuração da ofensa cometida (se intra ou
extrafamiliar); o contexto psicossocial do autor, bem como de sua família; suspeita de pedo-
filia ou qualquer outro transtorno mental. Após esta avaliação, os autores são direcionados
para atendimento individual e/ou grupal. O atendimento grupal compõe oito sessões que
ocorrem a cada duas/três semanas, com os seguintes temas predeterminados: integração
grupal, estigmas, violências sofridas, gênero, sexualidade, pensamentos de risco e proteção,
desejo sexual por crianças, projeto de futuro. A equipe de profissionais é composta por um
psicólogo e uma psicóloga, uma assistente social e um psiquiatra.

Participantes

A caracterização geral da clientela atendida pela unidade de saúde desta pesquisa


já foi traçada. São, em sua maioria, homens negros e pardos (conforme autodeclaração)
(Ministério da Saúde, 2017), de até 60 anos de idade, com baixa escolaridade, trabalhando
em subempregos e vivendo em periferias de capital da região Centro-Oeste do país. Eles
são encaminhados pelas Varas de Execuções Penais (regime fechado e aberto) regionais e já
cumpriram – ou ainda estão cumprindo – medidas de transação penal ou reclusão. Trata-se,
portanto, de uma população sentenciada. Suas vítimas são predominantemente meninas na
faixa dos 11 anos de idade e com algum grau de aproximação com o autor (enteada, vizinha,
sobrinha, entre outros) (Penso et al., 2016).
Neste texto, as informações coletadas referem-se aos participantes de dois grupos ocor-
ridos no segundo semestre de 2018 e no segundo semestre de 2019, sendo que cada grupo
reuniu oito participantes, em um total de 16. Pode-se caracterizá-los como heterossexuais

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e pardos, em sua maioria; com idade entre 28 e 59 anos; renda pessoal de R$ 600,00 a R$
2.000,00; casados ou em união estável e solteiros; e a maioria relatou não fazer uso de álcool
em excesso, exceto um deles. Em relação à escolaridade, possuíam ensino fundamental in-
completo, ensino médio completo, médio incompleto e pós-graduação. A maioria estava em
cumprimento de pena alternativa e menos da metade cumpriu pena privativa de liberdade.
Em relação às vítimas, foram do gênero masculino e feminino, com idades entre cinco e 16
anos, relacionamento de vizinhança, parentalidade e família extensa.

Coleta das informações

Foram consultados dois diários de campo, referentes a dois grupos, selecionando-se infor-
mações relacionadas às representações dos participantes sobre a masculinidade, a mulher e
criança/adolescente. Nessa unidade de saúde, como rotina do atendimento, as observações
são realizadas desde o princípio da criação da unidade. Esta indicação se deu em função da
grande novidade que se constitui o atendimento aos adultos que cometeram ofensa sexual
e da perspectiva de que esse diário de campo constante forneceria subsídios para a melhoria
da atuação profissional. Os participantes são informados desde o primeiro encontro sobre a
observação que é realizada e têm liberdade para conferir as anotações feitas, mas raramente
o fazem. As observações são utilizadas com fins de aprimoramento da intervenção psicosso-
cial grupal e escrita de artigos científicos ou pesquisas de mestrado e doutorado. Nos diários,

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priorizou-se a coleta de conteúdos de falas dos ofensores que revelassem suas crenças acer-
ca das categorias “masculinidade” (o ser homem), “mulher” e “criança/adolescente”.

Análise das informações

Utilizou-se a análise temática, que é um método qualitativo em que os dados são organi-
zados em padrões, a partir de conceitos centrais. Neste estudo, foi realizada análise temática
dedutiva (Braun & Clarke, 2019), já que o processo de codificação e elaboração de temas
foi orientado pelos interesses teóricos dos pesquisadores em relação às teorias implícitas
referentes às três entidades (masculinidade, mulher e criança/adolescente). Inicialmente, foi
feita leitura exaustiva de todo o material compilado e, em seguida, os dados brutos foram co-
dificados e agrupados de acordo com semelhanças latentes (significados) e semânticas. Após
essa fase, os códigos foram agregados entre si, conforme núcleos de sentido relacionados ao
objeto de estudo: as teorias implícitas referentes à masculinidade, à mulher e à criança/ado-
lescente. Foram formados temas iniciais, que foram revisados e refinados até se tornarem
temas abrangentes o suficiente, ou seja, que englobassem todos os temas iniciais e seus res-
pectivos códigos. Assim disposto, os temas finais foram configurados a partir das categorias
já mencionadas: masculinidade, mulher e criança/adolescente. Estas categorias receberam
títulos: O Domínio do Homem/Pai sobre o Corpo das Mulheres e Crianças/Adolescentes; O
Homem Predador Sexual; As Meninas Desejam Sexualmente.

Cuidados éticos

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Instituto de Ciências Humanas


da Universidade de Brasília (UnB), via Plataforma Brasil, sendo aprovado com o parecer de
número 972.246.

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Resultados e Discussão

Nesta seção, buscou-se dar visibilidade à construção das crenças e imposições de pensa-
mento que são produzidas na vida social e familiar, as quais dão maior poder e dominação
ao homem: gênero feminino submetido e dominado. Concepções como ser predador, ser
dominador, são enfatizadas e mantidas à custa de inversão de responsabilidade social e sen-
do auxiliadas por aspectos da teoria implícita que sustentam o cometimento da violência
e sua continuidade (Ó Ciardha et al., 2016; Ward, 2000). Faz-se necessário, ainda, agregar
formas de pensamentos aprendidos e mantidos por preconceitos de gênero, que atuam
em ampliação das crenças características de sociedades machistas, como a do Brasil, por
exemplo (Marshall, 2018). Apresentam-se algumas falas dos ofensores no intuito de ilustrar
o conteúdo original que resultou nas interpretações e na construção dos temas.
Tema final 1 – O Domínio do Homem/Pai sobre o Corpo das Mulheres e Crianças:
“Sexualidade não é assunto para mãe. É para pai”. Este tema engloba sentidos referentes à
dominação dos homens sobre os corpos das mulheres e crianças/adolescentes. Os sentidos
elaborados a partir das falas expressam o “ser homem” relacionado à virilidade e ao poder. A
virilidade surge em aspectos como ser o provedor, ser forte e não ser “bixa” – termo utilizado
pelos participantes. O poder se mostra como a crença que apoia e sustenta a percepção de
que os encontros heterossexuais são inerentemente adversários, as mulheres procurando

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enganar os homens sobre o que realmente desejam. O poder surge como uma urgência
para que as necessidades dos homens sejam observadas (Ward & Beech, 2016). “. . . Foi
violentado por homem ou mulher?” , “. . . se for mulher não fala que foi violentado, mas que
perdeu a virgindade, né?”. As explicações (cognições) de nível superficial constituem-se em
um conjunto de esquemas utilizados para explicar, prever e interpretar os fenômenos in-
terpessoais, transformando-os em luta de poder. Esses esquemas podem ser considerados
como “teorias implícitas” que ajudam os ofensores sexuais a explicar e interpretar as ações
dos outros. Estas crenças provavelmente foram formadas durante a infância e permanecem
exercendo seus efeitos por meio da filtragem de informações perceptivas, um sistema recur-
sivo de percepção e memória (Lordan, 2020; Ward & Beech, 2016).
“. . . Símbolo de homem pra mim foi meu pai porque ele trabalhava . . . mas minha mãe
também trabalhava”. Esta fala é muito interessante porque a ideia inicial seria enaltecer o
pai como trabalhador, e não “vagabundo”. Em seguida, como se ampliasse a percepção e a
memória, há o acréscimo de que a mãe também trabalhava. Em um momento da construção
de um cartaz:
“. . . aqui o homem com futebol, carro. Eu vejo isso como uma ilusão, que homem não é
só isso. Os homens estão dentro do carro. O jarro de flores é dela”.
“. . . a mulher sonha mais com a casa própria, o homem sonha mais com o carro”.
Uma percepção de gênero que caracteriza as relações e que são suportadas por ações
e estímulos sociais (Javaid, 2018). “. . . Pega todas que dá”. O poder está relacionado ao
homem “garanhão”, que tem várias mulheres ao seu dispor. Em relação às mulheres, al-
guns participantes acreditam que elas devem se recatar, sendo representadas em papéis/
espaços privados, de cuidado doméstico e vaidade consigo mesmas. O recato sexual inclui
se “preservar” e se reclusar sexualmente, pois sexo não é assunto para mulheres. Todos os

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participantes concordam.
“Essa mulher ela também tá querendo e demonstrando que mulher não é só isso, cuidar
da casa. Ela é uma supermulher, porque ela tá vencendo sobre o machismo. Ela é mãe,
guerreira, trabalhadora”.
“Sexualidade não é assunto para mãe. É para pai”.
A ideia de dominação sexual do corpo feminino está conectada aos estereótipos de gê-
nero, tanto na masculinidade quanto na feminilidade. O roteiro cultural a ser seguido na
masculinidade é de que ser homem é exercer poder e controle sobre outras pessoas, como
outros homens, mulheres, crianças e adolescentes que estão em situação de menor poder
ou de vulnerabilidade (Cossins & Plummer, 2018; McPhail, 2015). A objetificação da mulher
ocorre de duas maneiras: sexual e doméstica, nas figuras da mulher vista como “puta” ou
da mulher que deve servir ao seu marido, inclusive sexualmente. Uma vez que “ser homem”
está relacionado à virilidade e ao poder, alguns homens podem expressar este estereótipo
cometendo atos de cunho sexual não consentidos (Oliveira et al., 2020). Em relação ao po-
der, os homens são mais homens quando expressam agressividade.
“. . . Que que o pai dele falou com ele sobre sexo?”
“Eu acho que pega todas que dá”.

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“E a mulher que não quer transar?”.


“A gente faz jogo também, dá o troco”.
“No meu segundo casamento, a mulher não queria. Aí acabei traindo ela e fiz outra filha
na rua”.
No que se refere às crianças, os sentidos aludem a representações de um ser sem direitos
e espaço de fala, sob posse do pai/figura de autoridade. “Diz que antigamente o trabalho
infantil não era considerado violência. Agora, até empurrão na criança já é”.
Tema final 2 – O Homem Predador Sexual: “Se o homem não arruma uma mulher, é
‘­viado’”. As questões abordadas neste item destacam a necessidade de o homem apre-
sentar, perante seus pares, uma virilidade sexual ativa e adequada ao esperado pela figura
masculina hegemônica. Para ser aceito em sua masculinidade (“homem de verdade”), os
homens têm de se relacionar sexualmente com as mulheres, de preferência com mais de
uma, mantendo um resultado satisfatório e ainda se vangloriando de suas conquistas, ao
contar para outros homens sobre seu desempenho sexual (McPhail, 2015). A representa-
ção desse papel de homem se mostra necessária na sociedade, pois, se o homem não se
apresenta como másculo, dominador, sexualmente ativo, forte e trabalhador, pode não ser
considerado homem. Então, os homens “não podem” negar uma relação sexual, e se, em
especial, a mulher estiver “provocando”, devem aceitar; caso contrário, são alvo de chacota,
considerados frouxos, menos homens. Essa situação pode ser exemplificada pelas frases:
“Se o homem não arruma uma mulher, é ‘viado’”; “Como que o cara vê um pecado daquele e
diz que não?”; “Já levaram nome de frouxo? [demais participantes do grupo respondem que
sim]”; “A menina tá te provocando”.
A negação em manter uma relação sexual com uma mulher implica consequências, como
“julgamento” e “rebaixamento” do próprio status social diante do próprio grupo de “ami-

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gos”, além de ficar “malvisto” pela mulher que foi “rejeitada”: “Aí fala que vai falar pras
amigas”. Entende-se que há uma escolha a ser feita pelos homens, no sentido de aceitar
ou não esse papel imposto pela cultura. Ao mesmo tempo, compreende-se como é difícil e
lento o tempo para que todos compreendam o significado que a cultura exerce na formação
dos comportamentos das pessoas (Javaid, 2018). Não se está generalizando esses compor-
tamentos e consequências para todos os homens, mas se está apresentando essa configura-
ção que aparece na maioria dos relatos dos homens participantes deste estudo.
Os papéis de homem e de mulher desenvolvidos na sociedade são uma questão cultural
de gênero que implicam a expressão da sexualidade das pessoas (Hyde & DeLamater, 2017).
Aprende-se socialmente que os homens devem ser dominadores e sexualmente ativos, de
forma heterossexual, e que o relacionamento com crianças não é adequado e, quando ocor-
re, é silenciado, perpetuando um segredo (McPhail, 2015; Sullivan & Sheehan, 2016). Ao
mesmo tempo que a ofensa ocorre de forma velada, são desenvolvidas justificativas para o
cometimento do ato. Homens que cometeram ofensa sexual contra crianças e adolescen-
tes buscam manter o ato sob segredo pela não permissão social para tal ação. Entretanto,
quando há a revelação, fornecem justificativas baseadas em suas crenças, que explicam o
ato cometido (Ó Ciardha et al., 2016). Independentemente de qualquer uma dessas justifi-
cativas, a lei brasileira não permite relações sexuais com menores de 14 anos, ainda que haja
“consentimento” (Presidência da República, 1940) (Código Penal Brasileiro). A vítima pode

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até ter “aceitado” a relação, ou não ter negado, porém compreende-se que ela ainda não
desenvolveu capacidade para discernir o que é ou não uma relação sexual adequada, ainda
mais com um adulto.
As reproduções das distorções cognitivas também ocorrem nas relações familiares, e os
casos de ofensa sexual intrafamiliar apresentam esta configuração de crédito na palavra do
perpetrador adulto e de descrédito na palavra da vítima criança/adolescente (Javaid, 2018).
A falta de controle do desejo sexual também foi um aspecto que se destacou sobre o come-
timento da ofensa: “Um desejo sexual incontrolável por crianças e adolescentes e pergunta
o que fazer”; “Conscientizar para não chegar ao ato. O desejo todos têm, cabe a cada um se
controlar”. Nestas falas, pode-se observar o desejo incontrolável como forma de justificar
o ato cometido. Este desejo pode ser sentido, porém, quando se concretiza, torna-se uma
violência e, como explicitado nas falas, é importante controlá-lo o quanto antes. A neces-
sidade de se sentir homem, dominador, com poder e com excelente desempenho sexual
é fator cultural que permite que a ofensa ocorra, além do desenvolvimento do desejo por
meninas mais novas, que aumenta as oportunidades de ofensa, considerando-se a vulne-
rabilidade presente em crianças e adolescentes (McPhail, 2015; Sullivan & Sheehan, 2016).
Esses aspectos são partes de um conjunto multifatorial de fenômenos que contribuem para
o cometimento da ofensa sexual, sendo imprescindível atentar para cada situação e com-
preender, de forma contextualizada, como ocorreu o ato (Sullivan & Sheehan, 2016). O pano
de fundo são fatores históricos, sociais e culturais que constroem as concepções pessoais,
como os papéis de gênero. Cabe lembrar as especificidades inerentes a cada caso, a fim de
proporcionar uma intervenção efetiva para interrupção da violência.
Outro aspecto que se destacou nos relatos desses homens foi sobre a iniciação sexual
precoce, que ocorreu com a maioria deles. A relação sexual apareceu como aspecto consti-

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tuinte da masculinidade, o marco diferencial entre o menino e o homem, sendo comum os
participantes relatarem relações sexuais com profissionais do sexo como ritual de iniciação
sexual masculino, como no relato: “Com uns 14 anos meu pai me levou em um puteiro. Ele
falou, vai lá”. A primeira relação sexual do homem é vista como um rito de passagem de
menino para homem (Edley, 2017). Em geral, os relatos mostram que essa iniciação sexual
é precoce, no início da adolescência, e ocorre com mulheres mais velhas, adultas, profissio-
nais do sexo (Nogueira et al., 2020). Além disso, quem coordena essa iniciação são parentes
próximos a esse homem adulto, em sua adolescência. Muitas vezes, esses adolescentes não
estão prontos para a relação sexual, mas sentem que são obrigados a “obedecer”, pois que-
rem se “tornar homens”. A iniciação sexual precoce se apresenta também como um ­aspecto
cultural, em que meninos precisam virar homens tendo relações sexuais com mulheres.
Observa-se que grande parte das primeiras relações sexuais dos homens/meninos pode ser
considerada como violência sexual, no sentido de que eles são ainda crianças, e a relação
sexual ocorreu com mulheres adultas. Esses homens, apesar de não terem significado esta
experiência como algo violento e enaltecerem a situação como algo positivo, durante a refle-
xão mantida em grupo, acabam por perceber que foi também uma circunstância que trouxe
sofrimento. E, mais importante, que foram condicionados a terem de se submeter à situação
por questões culturais do papel de homem, as quais são construídas e passadas a cada ge-
ração (Nogueira et al., 2020).

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Tema final 3 – As Meninas Desejam Sexualmente: “Há uma pré-adolescente bem ali. Como
ela é?”. Embora este texto não trate sobre pedofilia, faz-se necessário integrar princípios que
definem a pedofilia e que também permeiam os comportamentos dos ofensores sexuais,
mesmo que as ofensas sexuais oportunistas (caso dos participantes deste texto) não sejam
vistas como conduta pedofílica (Seto, 2012). A conduta pedofílica é um interesse prioritário
por manter relações sexuais com crianças, sendo que, atualmente, o termo preferencial é
“indivíduo com interesse pedofílico” (Seto, 2012). Seto (2012) questiona que não se sabe de
nenhum caso de uma criança que tenha feito um pedido, ou uma indicação comportamen-
tal, de interesse por manter relação sexual com um adulto, de forma espontânea e natural.
Sendo assim, o subtítulo dado a este tópico já pressupõe uma distorção cognitiva presente
nos discursos dos adultos ofensores, em uma tentativa de justificarem a ofensa sexual.
As falas dos ofensores escolhidas como exemplos referem-se às crianças do gênero femi-
nino como seres sexuais, capazes de provocar sexualmente um adulto, com discernimento
de sedução e possibilidade de dominação do ofensor. Além de contrariar a noção anterior-
mente questionada por Seto (2012), compreende-se que esta inversão de papel implica que
o ofensor se veja como vítima, justificando uma posição de falta de condições de reação.
Connolly (2004) aponta que existem vários caminhos para a construção das distorções cog-
nitivas, um deles é a criação de um roteiro plausível e convincente, para si mesmo e para o
outro, a sociedade e os pares. O desenvolvimento da distorção cognitiva, com base na sedu-
ção feminina, tem início muito precocemente na infância e encontra eco nos valores sociais
baseados em preconceitos de gênero, o homem viril, forte e a mulher possuindo somente a
arma da sedução para fazer frente a esta diferença de poder. Novamente, o homem é visto
como vítima, de forma ainda mais insidiosa e plena de subterfúgios (Depraetere et al., 2018).
“. . . às vezes ela sai de toalha e não significa nada para ela, não tem malícia . . . e às vezes

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você que tá vendo algo”.
Na verdade, esta inversão de papel de sedutor auxilia os ofensores com dificuldades de
estabelecer relações de intimidade com pessoas adultas, diminuindo a ansiedade e preocu-
pação com o estabelecimento de vínculos afetivos (Nogueira et al., 2020), quando se cons-
trói uma relação intensamente sexualizada em vez de afetiva. Outra perspectiva é a criação
de um roteiro de conduta sexual desviante já existente e que se normaliza nas relações am-
bientais favorecedoras desta falsa noção (Connolly, 2004). Trata-se de um indivíduo que teve
a experiência de ser iniciado na vida sexual de maneira muito precoce, sem que a percepção
da violência presente nesta situação tenha sido conscientizada (Connolly, 2004; Nogueira et
al., 2020). As condutas sexuais desviantes são vividas de forma muito precoce, sem orienta-
ção nem supervisão parental ou de adultos. Estas experiências podem ter continuidade e se
constituírem em uma tentativa de criar imagens mentais boas que permaneçam (Connolly,
2004). A dificuldade de manter intimidade emocional afetiva com um par adulto induz a uma
posição de dominação altamente hierarquizada, diminuindo assim a ansiedade de relação
com um igual. A configuração desta circunstância soma iniciação sexual precoce, presença
de preconceitos de gênero nas comunicações familiares e sociais, existência de crenças e
conceitos míticos dentro dos grupos de pertencimento (Beech & Ward, 2004; Ward & Beech,
2016).
A sexualização do corpo infantil surge de duas formas: na adultização e no desejo por me-
ninas “novinhas”. Há falas aludindo ao corpo das meninas adolescentes, que são ­semelhantes

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ao corpo de uma mulher adulta e, em contrapartida, há aqueles que erotizam a infantilida-


de do corpo feminino, que é mais “gostoso”. Participante: “. . . na novinha é mais gostoso”.
Profissional: “. . .você passou no concurso e você vai com seus amigos comemorar na toca das
gatas. Uma profissional desperta interesse sexual em você, mas fica na dúvida com relação à
idade dela. O que você vai fazer?” E apresenta placas de trânsito para escolha de caminho a
seguir – bifurcação; respeite a vida; na dúvida, não ultrapasse. Participante reage: “. . . pede
identidade?”. Outro participante: “. . . nessas horas todas têm 18 anos, identidade falsa, tem 13,
corpo de 17 e identidade de 18”. Outro participante: “Há uma pré-adolescente bem ali. Como
ela é?”. Outro participante: “Tem umas de 11 com cara de 20. Hormonalmente desenvolvida”.
Estas falas exemplificam o que Lordan (2020) aponta como desvio na percepção do sexo
consensual, que é uma mutualidade na aceitação de um contato sexual, supondo duas pes-
soas com amadurecimento e consciência de seu desejo e atitude sexual. Este desvio de per-
cepção permite “falsificar” a compreensão da situação, a fim de justificar suas dificuldades
de natureza emocional e afetiva. De forma semelhante ao já exposto, esta autora aponta a
“falsificação” como consequência de estresse no desenvolvimento das relações não saudá-
veis na infância, compreensão limitada do que significa sexo consensual, tanto na própria
experiência como criança e/ou adolescente como na atualidade do ofensor. Acrescem-se as
crenças de que os encontros sexuais acontecem entre “adversários”, uma mulher e poste-
riormente uma menina criança, e encerram um propósito competitivo de dominar/enfren-
tar/enganar o homem adulto (Lordan, 2020; Seto, 2012; Ward & Beech, 2016).
Um outro caminho é a existência de fantasias, que são consideradas como pensamentos
de risco, porque fazem parte do circuito de violência sexual (Setubal et al., 2020). Como
apontado por Ward e Beech (2016), a distorção cognitiva funciona como um esquema men-
tal, utilizado individualmente pelo adulto ofensor para a dominação de suas relações. Vários

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autores (Beech & Ward, 2004; Connolly, 2004; Ward & Beech, 2016) concordam que estes
esquemas têm origem na qualidade de relações precoces sexualizadas, deficiência no de-
senvolvimento de habilidades socioafetivas e impulsividade sem regulação. A existência de
fantasias sexuais envolvendo crianças/adolescentes ou mulheres tem fator propositivo na
manutenção do esquema mental. A fantasia tem papel de retroalimentação na situação de
ofensa sexual, quando o ofensor comete a violência e passa a povoar suas fantasias com as
imagens das vítimas, em um movimento recursivo (Setubal et al., 2020).

Considerações Finais

A dominação, a expressão da virilidade e a relação de mando são construtos mentais


privilegiados e que se expressam em diferentes formas específicas, relativas à qualidade da
relação estabelecida. Com a mulher adulta, é a submissão e a dominação de forma violenta,
grosseira ou explícita, para que o ambiente social perceba quem manda. Com a criança/
adolescente, é a tentativa de adultização e sexualização, transformando-a em uma mulher
sensual, atraente e que representa por si só um perigo. Esta dominação, com adultas ou
crianças/adolescentes, comunica sua preocupação com a demonstração de virilidade que
é dirigida muito mais aos outros homens do que às vítimas (Connolly, 2004; Lordan, 2020).
O estudo e o reconhecimento da construção mental que ampara a explicitação dessas es-
tratégias (a teoria implícita) têm papel primordial no planejamento e na execução de ações

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terapêuticas que visem oferecer intervenções aos adultos ofensores sexuais, a partir de
oportunidade para reflexão. A compreensão do poder das crenças sobre os atos violentos
deve fazer parte destas ações, visando a uma melhor percepção de como o gênero configura
as relações e as violências praticadas.
A limitação do texto diz respeito à discussão do próprio tema (violência sexual contra
crianças e adolescentes), que traz constrangimento e medo de que os participantes possam
ter maior envolvimento criminal ao relatarem fatos que se constituam em ações dolosas.
Mesmo que a intervenção psicossocial seja caracterizada por uma total independência com
relação ao sistema jurídico, os participantes ainda demonstram preocupação com aspectos
como sigilo – apresentando, em muitos momentos, uma fala reticente e vaga.

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Recebido em: 21/09/2021


Última revisão: 30/01/2023
Aceite final: 25/02/2023

Sobre os autores:
Gabriel Guedes Barbosa (in memoriam): Graduando em Psicologia na Universidade de Brasília (UnB),
Instituto de Psicologia. Orcid: http://orcid.org/0000-0002-3831-1491
Andrea Schettino Tavares: Mestra em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília
(UnB), Instituto de Psicologia. Psicóloga pela UnB. E-mail: [email protected], Orcid:
http://orcid.org/0000-0002-4582-0526
Raiane Nunes Nogueira: Mestra em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília
(UnB), Instituto de Psicologia. Psicóloga pela UnB. E-mail: [email protected], Orcid:
http://orcid.org/0000-0001-9127-3482
Liana Fortunato Costa: Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP).

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Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura (PPGPsiCC)
da Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Psicologia. E-mail: [email protected], Orcid:
http://orcid.org/0000-0002-7473-1362

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