Dissertação Amanda Borba - Arquivo Final - Pra Grifar
Dissertação Amanda Borba - Arquivo Final - Pra Grifar
Dissertação Amanda Borba - Arquivo Final - Pra Grifar
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
UBERLÂNDIA, 2021
2
UBERLÂNDIA, 2021
3
Aprovado em:
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
RESUMO
A presente pesquisa busca apresentar a temática da meritocracia, considerando seus aspectos
teórico-conceituais no que se refere a reverberações sociais, econômicas, históricas e
culturais, os quais são abordados pelas referências bibliográficas que discorrem sobre o
fenômeno. Com o objetivo de compreender o discurso e as práticas meritocráticas, escolheu-
se a FEBRACIS, para se observar de que modo uma instituição de coaching, que se
autodeclara meritocrática promove esta socialmente e possui materiais acessíveis
publicamente. Para isto, enquanto metodologia optou-se pela análise documental e a análise
temática como ferramenta metodológica associada à análise documental, para o
aprofundamento nos materiais, sendo estes dois livros, “O poder da ação” (Vieira, 2015) e “O
poder da autorresponsabilidade” (Vieira, 2017a), assim como o site instituição, fontes que
possibilitaram um aprofundamento do objetivo. Os materiais escolhidos abordam de forma
acessível e ampla as técnicas, ferramentas e conceitos do método CIS, proposta de
modelagem institucional e o conceito de autorresponsabilidade, o qual aproxima-se de modo
mais veemente da meritocracia. Destes materiais, aplicados os métodos, foram extraídos
resultados que indicaram haver, nos discursos e práticas institucionais, um conjunto de
técnicas, ferramentas e conceitos que visam à construção de um indivíduo específico, o super-
humano, possível a partir da jornada do progresso humano, a qual engloba o método CIS. Não
obstante, nos resultados observou-se a relevância exercida pelo criador do método e
presidente da instituição. Com isso, na discussão, foi analisado a função do presente na
instituição, a relevância da religião e da ciência nos discursos e práticas institucionais e no
método CIS, assim como a jornada do progresso humano e suas quatro etapas (consciência,
autorresponsabilidade, visão positiva de futuro e as ferramentas poderosas de progresso). Para
a discussão, foram utilizados conceitos de Michel Foucault no intuito de problematizar os
pontos ressaltando, considerando sua função disciplinadora. Por fim, conclui-se que houve
uma contribuição aos estudos sobre a meritocracia e que fora possível observar de que modo
as práticas e discursos do método CIS, da instituição cooperam para a constituição de um
indivíduo de sucesso por meio do adestramento, da docilização de corpos úteis, voltando-se
para produtividade e competitividade.
Palavras-chave: meritocracia; coaching; mecanismo disciplinar; controle; docilização.
6
ABSTRACT
This research seeks to present the theme of meritocracy, considering its theoretical-conceptual
aspects with regard to social, economic, historical and cultural reverberations, which are
addressed by bibliographical references that discuss the phenomenon. In order to understand
meritocratic discourse and practices, FEBRACIS was chosen to observe how a coaching
institution, which declares itself meritocratic, promotes it socially and has publicly accessible
materials. For this, as a methodology, we opted for document analysis and thematic analysis
as a methodological tool associated with document analysis, to deepen the materials, these
two books, "The power of action" (Vieira, 2015) and "The power of self-responsibility”
(Vieira, 2017a), as well as the institution website, sources that made it possible to deepen the
objective. The chosen materials address, in an accessible and broad way, the techniques, tools
and concepts of the CIS method, institutional modeling proposal and the concept of self-
responsibility, which is closer to meritocracy. From these materials, after applying the
methods, results were extracted that indicated that there was, in institutional discourses and
practices, a set of techniques, tools and concepts aimed at building a specific individual, the
super-human, possible from the journey of human progress, which encompasses the CIS
method. However, the results showed the relevance exerted by the creator of the method and
company’s president. Thus, the discussion analyzed company’s president role in the
institution, the relevance of religion and science in institutional discourses and practices and
in the CIS method, as well as the journey of human progress and its four stages (awareness,
self-responsibility, positive vision of the future and the powerful tools of progress). For the
discussion, Michel Foucault's concepts were used in order to problematize the highlighted
points, considering their disciplining function. Finally, it is concluded that there was a
contribution to studies on meritocracy and that it was possible to observe how the practices
and discourses of the CIS method, the institution cooperate for the constitution of a successful
individual through training, from the docilization of useful bodies, turning to productivity and
competitiveness.
Key-words: meritocracy; coaching; disciplinary mechanis; control; docilization
7
Sumário
1. Introdução...............................................................................................................................8
1.1 A noção de meritocracia: o termo e sua emergência......................................................12
1.2 Afinal, o que é meritocracia?..........................................................................................18
1.2.1 Ideologia do mérito...................................................................................................21
1.2.2 Meritocracia como ordenação social........................................................................27
1.2.3 O indivíduo do mérito...............................................................................................46
1.3 Breve desenvolvimento sociohistórico das características meritocráticas......................51
1.4 O coaching......................................................................................................................70
1.5 A FEBRACIS..................................................................................................................84
1.6 Objetivos.........................................................................................................................96
1.6.1 Objetivo Geral..........................................................................................................96
1.6.2 Objetivos Específicos...............................................................................................96
2. Metodologia..........................................................................................................................97
2.1 Tipo de estudo.................................................................................................................97
2.2 Procedimentos de análise................................................................................................99
2.3 Aspectos conceituais a partir de Michel Foucault.........................................................105
3. Resultados...........................................................................................................................117
3.1 Resumo dos materiais analisados..................................................................................117
4. Análise................................................................................................................................159
4.1 Sobre o indivíduo..........................................................................................................159
4.2 Dos discursos.................................................................................................................169
4.2.1 A religião e o presidente da instituição...................................................................169
4.2.2 Sobre a ciência........................................................................................................180
4.2.3 O método CIS.........................................................................................................189
4.3 Das práticas: Ferramentas poderosas de progresso.......................................................218
5. Considerações Finais...........................................................................................................233
6. Referências..........................................................................................................................236
7. Apêndices............................................................................................................................248
7.1 Apêndice 1....................................................................................................................248
7.2 Apêndice 2.....................................................................................................................260
8
1. Introdução
2015, ano no qual se desenvolveu uma pesquisa de iniciação científica que utilizou de
sobre renda e escolaridade às afirmativas meritocráticas, sendo que houve aderência a tais
crenças. Devido a tal aderência, compreendeu-se que novas pesquisas sobre a temática
Miller Jr., 2014; Littler, 2018). O ponto de início se dá a partir do próprio vocábulo, posto que
desde o final da década de 50 a palavra começava a ser veiculada na Inglaterra (Young, 2001;
Celarant, 2009), adentrando no vocabulário brasileiro a partir dos anos 2000 (Barbosa, 2003).
tangenciam ainda as limitações de sua concepção enquanto uma ideologia, dada a amplitude
crenças meritocráticas são situáveis, como afirma Littler (2018) ao considerar a meritocracia
O conjunto de crenças propagado pela meritocracia traz em seu bojo uma proposição
produtividade e a eficiência (McNamee & Miller Jr., 2014). Tal lógica parte primordialmente
pelos seus ônus e bônus, direcionador de seu destino e parte do progresso social (McNamee &
Miller Jr., 2014). Com isso, o progresso social vincula-se a perspectivas de avaliação do
1.1). A partir de tal revisão, na seção 1.2 busca-se apresentar de que modo a meritocracia é
descrita enquanto uma ideologia (1), um modo de organização social (2) e as características
atribuídas ao indivíduo do mérito (3). Cada um dos três aspectos mencionados é abordado em
subseções.
Foucault (1979/2019a; 2014) sobre a verdade, o poder e o discurso. Na seção 1.2.2, para se
abordada a relação entre indivíduo e sociedade (Weber, 2004; Elias, 1994; Giddens; 2003;
Leme, 2006).
Nesta seção, busca-se ainda explicitar suas implicações na exclusão (Sawaia, 2001;
suas características (Barbosa, 2003; McNamee & Miller Jr., 2014) e a compreensão de virtude
sócio-históricos (Seção 1.3). Neste intuito, discorre-se brevemente sobre o indivíduo moderno
que o constituem (Smith, 1999; Weber, 2004; Scalon, 1999; Foucault, 1979/2008a; Dardot &
Laval, 2016).
esforçado e preza pelo aprimoramento de suas habilidades (McNamee & Miller Jr., 2014),
este deve ser produtivo, autônomo, competitivo, empreendedor e tendo o trabalho como ponto
central de sua vida (Barbosa, 2003). Nota-se que o discurso do coaching possui aproximações
contemporâneas (Grant, 2005). Com isso, fez-se necessário compreender o que é, quais as
Para este trabalho, o objeto empírico delimitado foi a instituição Federação Brasileira
de Coaching Integral Sistêmico (FEBRACIS), posto que esta possui documentos públicos
observáveis no método CIS (Seção 1.5). Considerando tais aspectos, foram selecionados para
Desta forma, o estudo tem como objetivo geral identificar as aproximações entre o
partir do trabalho duro enquanto ética que leva ao progresso humano (McNamee & Miller Jr.,
11
dispositivo de formação de um homem que é “empresa de si mesmo” (Dardot & Laval, 2016).
(2012) e Spink, Ribeiro, Conejo e Souza (2014), utilizando-se da análise temática enquanto
ferramenta para o tratamento dos dados (Souza, 2019) (Seção 2). A partir das ferramentas
utilizadas pode-se extrair enquanto resultados uma interpretação dos materiais analisados
(Seção 3). Dos procedimentos da análise temática ainda fora possível delimitar os temas
utilizados na análise, a saber: o tipo de indivíduo almejado, o método CIS e suas etapas do
Tais temas forneceram uma base para organização e descrição dos materiais na análise
de sucesso delineado e moldado pela FEBRACIS, focalizando suas práticas e discursos. Para
formação. A partir disto, nas considerações finais (Seção 5), são expostos as contribuições do
trabalho e seus limites, ressaltando-se as possibilidades do que ainda pode ser desenvolvido a
termo a Michael Young, sociólogo inglês, que em 1958 publica a distopia “The Rise of
Meritocracy”. O livro possui similitudes com a sociedade atual, mas, apesar de ter como
mérito, a história se afasta das realidades sociohistóricas que precederam seu lançamento.
Como respalda Celarant (2009), “publicado há 90 anos, este livro levantou todas as questões
sobre estratificação por meio de sua fantasia inesquecível. Mas a história real da
“meritocracia” traiu a visão de Young” (Celarant, 2009, p. 2)12. Em 2009, ano da citação de
ano de 1870 até o imaginário ano de 2033. O autor produz um recorte histórico ressaltando
reproduzem o passado enquanto o transformam” (Young, 1958, p. 13). Nessa sociedade, que
mistura ficção com o real, a forma primordial de organização e hierarquização dos indivíduos
é a soberania do mérito, principalmente por meio do sistema educacional, sendo esse termo
1 Published 90 years ago, this book raised all the issues of stratification by means of its unforgettable fantasy.
But the actual history of ‘meritocracy’ betrayed Young’s vision (Celarant, 2009, p.2).
2 Para a presente pesquisa, as citações em inglês e espanhol foram traduzidas pela autora e acompanham seus
respectivos originais em nota de rodapé.
13
intuito de delimitar o lugar social ocupado pelos indivíduos, com o advento da modernidade
valores como liberdade individual e igualdade civil passam a ser os novos imperativos
defendidos.
de um homem livre, autônomo e igual perante seus semelhantes, em que a posição social seria
uma recompensa a partir do mérito individual, pela sua inteligência e esforço, passíveis de
serem avaliados a partir da eficiência acadêmica, posto que os melhores indivíduos para a
Ainda que o crédito pela criação do termo meritocracia seja atribuída a Young,
Kynaston (2013, apud Littler, 2018) observa que o termo em si foi cunhado por Alan Fox, em
1957. Ao escrever sobre classes sociais e igualdade em um pequeno jornal inglês da época, a
autora traz que “no entanto, o termo foi de fato usado dois anos antes por Alan Fox em ‘classe
a partir do best-seller de Young, principalmente nos EUA e no Reino Unido. Allen (2011)
assume a forma de um ideal abstrato contra o qual se pode julgar a imperfeição atual de uma
sociedade específica”4 (p. 2), assim como o próprio Young, ao declarar que cunhou “uma
palavra que entrou em circulação geral, especialmente nos Estados Unidos”5 (Young, 2001).
3 However, the term was in fact used two years earlier by Alan Fox in ‘Class and Equality’ for the jornal
Socialist Commentary, as the British historian David Kynaston recently noted in Modernity Britain: Opening the
Box, 1957–59 (Littler, 2018, apud Kynaston, 2013).
4 In the research literature, and in everyday discourse, meritocracy takes the form of an abstract ideal against
which one can judge the present imperfection of a particular society (Allen, 2011, p.2)
5 Coined a word which has gone into general circulation, especially in the United States (Young para o The
Guardian, 2001).
14
Littler (2018), Hayes (2012), Bovens & Wille (2017), Frank (2016), Barbosa (2003), Guinier
(2015), Kreimer (2000), Liu (2016), Rivera (2015) e Bloodworth (2017), que, em sua maioria,
O termo e seu ideal foram abraçados pela população, ainda que abstratamente, e
servem de justificativa para que seja possível fazer uma leitura “apaziguante” e logicamente
existência na sociedade. Em um artigo que escreveu para o jornal inglês “The Guardian”, em
2001, Young discorreu que seu livro tinha como intuito ser uma sátira negativa, um aviso,
para a população sobre os caminhos que a meritocracia estava galgando, entretanto, ele
percebe que criou uma palavra que se popularizou de modo positivo e passou a ser utilizada
principalmente por políticos contemporâneos, como Tony Blair, o qual critica nesse artigo.
político filiado ao Labour Party até 1950, onde idealizou o manifesto do partido de 1945 “Let
us face the future”, publicado ao final da Segunda Grande Guerra, no qual preza pela paz e
pela melhora da qualidade de vida da população britânica, que tanto sofreu com as
consequências nocivas do confronto. Por meio de um discurso forte e afetuoso voltado para o
cuidado do povo e para liberdade, denuncia o poder das elites econômicas prevalecentes da
históricas, visando fazer uma crítica cientificamente embasada sobre a estruturação que a
O que sustentava meu argumento era uma análise histórica não controversa do que
valorizado socialmente em sua cultura, seus pensamentos são desconsiderados pelo estrato
acadêmico de sua época. Como traz Celarent (2009, p. 2), “os estudiosos ignoraram o livro,
mas a nova palavra entrou no idioma da noite para o dia”7. Então, o autor transforma sua obra
em uma distopia, em uma ficção, mas o termo meritocracia é absorvido pelos indivíduos no
cotidiano, sendo necessário questionar essa alteração no âmbito social e sua rápida absorção.
Ressaltar a trajetória do termo e do seu autor torna-se relevante por dois aspectos:
primeiro, pela sua irônica contradição já na sua difusão, posto que seu autor possui méritos
individuais consideráveis, dada sua trajetória política, social e acadêmica, mas, ainda assim
não teve sua obra sequer valorizada academicamente, o que contradiz o próprio conceito de
meritocracia, o qual estabelece exatamente a valorização dos seus indivíduos por seu
das pessoas de modo praticamente natural e contrário ao intuito do autor, afinal, estabelece-se
que foi da “noite para o dia”. Entende-se que, em 1958, ainda não havia as praticidades de
6 Underpinning my argument was a non-controversial historical analysis of what had been happening to society
for more than a century before 1958, and most emphatically since the 1870s, when schooling was made
compulsory and competitive entry to the civil service became the rule (Young for The Guardian, 2011).
7 Scholars ignored the book, but the new word entered the language overnight (Celarant, 2009, p.2)
16
questionar quais os meios e condições sociohistóricas fizeram-se presentes para que fosse
Com isso, a aceitação natural do termo, dos valores e ideais meritocráticos conflui, por
exemplo, com o discurso proferido por políticos americanos e ingleses em diferentes épocas
Além disso, confluía com valores éticos e morais que já estavam conscientemente
presentes nos indivíduos e nas relações sociais, propiciando um cenário adequado para a
estrutura econômica da sociedade a partir de 1958 possuía em seu bojo relações que
É valido ressaltar que, apesar do termo meritocracia ter sido incorporado por
americanos e ingleses, no que tange à sociedade brasileira Barbosa (2003) traz que a
meritocracia é:
Uma palavra quase “escondida” na língua portuguesa [...] pouco utilizada no falar
cotidiano e não aparece no maior e mais popular dicionário da nossa língua, o famoso
Aurélio. [Em sua dimensão conceitual] a meritocracia aparece diluída nas discussões
8 “There is no such thing as society: there are individual men and women, and there are families”. (Thatcher
Interview for Woman's Own) .“ I do not know anyone who has got to the top without hard work. That is the
recipe. It will not always get you to the top, but it should get you pretty near, but everyone needs just a little bit
of luck” (Thatcher, TV Interview for Italian Television - RAI). "I hope we once again have reminded people that
man is not free unless government is limited. There's a clear cause and effect here that is as neat and predictable
as a law of physics: As government expands, liberty contracts." (Reagan). Fontes:
https://www.reaganfoundation.org/ ; https://www.margaretthatcher.org/
17
sociedade civil com essa questão, tampouco trabalhos e pesquisas sobre o tema
Ao considerar que o livro “Igualdade e Meritocracia” (Barbosa, 2003) citado acima foi
publicado pela primeira vez em 1999, desde então, ainda que o caráter implícito da
que houve um aumento das pesquisas e trabalhos que utilizam especificamente o termo. Isto é
Borba (2017), Soares e Baczinski (2018), Guilherme (2018), Béhar (2019) entre outros, que
uma ideologia (McNamee & Miller Jr., 2014; Littler, 2018), que propõe um sistema de
visando supostamente, maior igualdade, mas que, para isso, paradoxalmente desconsidera
meritocracia sustenta.
18
Você deve lutar pela xepa da feira e dizer que está recompensado
Você deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está desempregado
luta, um esforço, dos indivíduos pela produção da existência nas mais diversas camadas
sociais, que nas mais baixas se dá até pela xepa da feira, ou seja, por aquilo que é descartado,
que não possui mais valor comercial, mas que se apresenta enquanto forma de “recompensa”
poder, força e governo. Assim, o termo relaciona um governo pautado no mérito individual,
em sua soberania enquanto critério de diferenciação social e o poder que esta possa mobilizar
entre os sujeitos. A diferenciação, ao passo que exclui uma grande parcela dos indivíduos,
poder.
Nesse sentido, McNamee e Miller Jr. (2014) retiram o termo da ficção de Young e dão
meritocráticos. Para propor tal discussão explicitam a diferença entre mérito enquanto
uma característica dos indivíduos, meritocracia é uma característica das sociedades como um
todo. Para os autores meritocracia refere-se a um sistema social como um todo no qual os
habilidades individuais (McNamee & Miller Jr, 2014). Com isso, o mérito individual é
utilizado como critério da distribuição social em um sistema, interferindo assim nas relações
A palavra mérito significa ser digno de algo, conseguir recompensas por meio de
direta entre mérito e poder, ou seja, em um modelo meritocrático ideal cada um seria
etnia ou qualquer outro fator que não seu próprio mérito. No entanto, a meritocracia
pregada pelo sistema capitalista em que vivemos está longe de ser ideal, pois trata-se
Como apontam Soares e Baczinski (2018), o ideal meritocrático de que poderia haver
uma maior distribuição de poderes se esvai uma vez que, ao ser se integrar aos mecanismos
Logo, os critérios de avaliação do que é digno de mérito são estabelecidos pelos valores de
uma classe dominante. Para Barbosa (2003), a meritocracia pode ser compreendida em seu
social, ou seja, “nessa sua dimensão negativa, a meritocracia não atribui importância a
variáveis sociais como origem, posição social, econômica e poder político” (Barbosa, 2003, p.
22)
Deste modo, existem três aspectos que tangem a meritocracia os quais merecem ser
dignificarem o homem, passam a estabelecer uma relação entre mérito e poder. O poder
meritocrático parece ser algo que é diretamente vinculado ao indivíduo, exercido por este,
mas, sua atribuição, aquilo que valida seu reconhecimento, é social. Assim, não é possível se
pensar a meritocracia sem a associar ao social, pois, sem esta perspectiva não há mérito, não
há o que recompensar, o que diferenciar, logo, o poder agencia ainda valores da ideologia do
mérito.
social. Em outras palavras, tais valores têm uma função enquanto mecanismo de regulação
social a partir do momento que se associam e são utilizados no cotidiano. Neste sentido a
ideologia do mérito é utilizada como arcabouço de ideais para ordenação do social, o qual,
invariavelmente, mobiliza relações de poder. Logo, como no American Dream e no self made
man resgatados por McNamee e Miller Jr. (2014), existe um ensejo social que possibilita
considerar certas habilidades e qualidades como meritórias e que, por meio da manifestação
alinhamento social de percepção de mundo, que dá bases éticas e morais para uma mesma
Barbosa (2003), observa-se que a distribuição de poderes por meio do mérito não é justa
como pretende se expor. Ao argumentar sobre o aspecto negativo, ou seja, aquilo que a
fatores históricos sociais, entre outros, para se pautar no esforço e a habilidade individual. Tal
lógica do discurso meritocrático se detém na eficiência e na justiça (Sandel, 2020), posto que
ou afins, como o autor expõe “seria errado discriminar o candidato mais qualificado com base
em preconceito de raça, religião ou sexo e contratar uma pessoa menos qualificada no lugar
dele” (p. 51), nesta perspectiva, a única discriminação que a meritocracia promove é a
que apenas o esforço e as habilidades não são critérios os quais definem a igualdade de
atualmente, que influenciam tanto na mobilidade quanto nas oportunidades, como por
classes.
por muitos estudiosos (Walker, 1995). A não unificação entre o significado e o uso do termo
ideologia é possível de ser observado a partir de Eagleton (1997), o qual traz catorze
h) pensamento de identidade,
significados e valores da vida social, assim como, ao observar sua função, características e
estrutura dentro do sistema social interfere na identidade do sujeito dado sua característica
mais sucinto, Thompson (2010) compreende a ideologia a partir de sentidos que estabelecem
valores de uma classe dominante enquanto base a ser seguida por outras classes que compõem
a estrutura da sociedade atual, sendo determinante nas ações e identidade dos indivíduos. Em
conjunto de crenças que se constitui a partir das possibilidades de vida de tal classe e, assim,
faz com que a massa de indivíduos compreenda isto enquanto um processo pelo qual a vida
práticas, sendo também determinada por como as práticas se dão e influenciam seus possíveis
rearranjos. Não obstante, é atravessada por fatores socioeconômicos e culturais que não fazem
parte do seu discurso basilar, como alterações de mercado, movimentos sociais e etc. Para
além, na perspectiva de dominação entre classes o poder é percebido apenas em sua faceta
negativa, de opressão, sem ser considerada sob a perspectiva de sua positividade, do espaço
utilizável”, posto que “está sempre em oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade”,
“efeitos de verdade no interior de discursos que não são em si nem verdadeiros nem falsos”,
mas que, ao serem visualizados nesta perspectiva binária, institui uma aproximação que torna
necessário um verdadeiro que seja posto em oposição ao falso. Em outras palavras, existem
verdades que atuam como determinantes do que será parte do arcabouço de ideias dominantes
Para além, “a ideologia está em posição secundária com relação a alguma coisa que
deve funcionar para ela como infraestrutura ou determinação econômica, material etc”
(Foucault, 1979/2019a, p. 44), ou seja, se limita ao campo das ideias e demanda que haja
momento histórico. Com isso, Foucault afasta sua concepção de poder do conceito de
O importante, creio, é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder [...] A
verdade é deste mundo, ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz
efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua
“política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar
que tem o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro” (Foucault, 1979/2019a,
p. 52)
representada por meio de mecanismo e instâncias que tornam discursos falsos ou verdadeiros,
incluindo os métodos para fazer aparecer a verdade e, por sua vez, o poder. Nesse sentido,
para além da bibliografia que explicita a meritocracia enquanto uma ideologia, pode-se
compreender o discurso meritocrático como uma forma de verdade, que, em sua lógica, valida
produzem efeitos de poder, cooperando na regulação social. Inclusive, nesse aspecto Foucault
(2014) ressalta que algo ao ser considerado verdadeiro, seu discurso reverbera efeitos
papel econômico-político não pode ser desconsiderada. Para além, a formação de regimes de
verdade não é algo alheio, aleatório historicamente, mas “foi uma condição de formação e
EUA como seu principal representante (já há cerca de 30 anos) e que remete ao sistema de
serviços são produzidos e trocados (‘capitalismo’), como são distribuídos entre os indivíduos
Com isso, a meritocracia diz sobre como será distribuição das mercadorias e serviços que são
propriedade privada, em que o capital contrata mão de obra livre e cuja coordenação é
descentralizada” (Milanovic, 2020, p. 21), o qual comporta certa mobilidade social por meio
de sua característica de possuir carreiras abertas para talentos, não oferecendo barreiras de
State) para o meritocrático liberal, ocorrendo por um período o acasalamento não preferencial
fica precária (Milanovic, 2020). Assim, indo ao encontro do aspecto negativo da meritocracia
que levam a um aumento da desigualdade social” (Milanovic, 2020, p. 31) e que, alguns de
seus aspectos de desigualdades “podem ser moralmente aceitáveis, e até mesmo, em alguns
casos, desejáveis” (p. 32), como, por exemplo, a transmissão de capital humano entre
gerações.
A ideia que sustenta a meritocracia apresenta brechas contundentes, já que sua ética e
que leva a esta. Entretanto, a ideologia se pauta em justiça e igualdade de oportunidades que
capital humano. Exemplo disto é que tal transmissão tende a cristalizar a distribuição de
desigualdade (Milanovic, 2020). Littler (2018) pontua que apesar de ser necessário diferenciar
posto que é precisamente a ideologia que constrói um sistema de crenças que influencia na
sistema de crenças que constitui uma visão geral de mundo e sustenta uma dinâmica
particular de poder [...] Analisar a ideologia pode, portanto, ser utilizado tanto para
como a disputa pelo significado geram lutas para assegurar a hegemonia ou para
27
Nesse sentido, a meritocracia, por meio de sua ideologia, propõe valores e crenças que
estruturalmente não se originam nesta, posto que, como fora apresentado por Milanovic
(2020), o capitalismo meritocrático liberal se faz mais perceptível há cerca de apenas 30 anos,
mas sua constituição, seus valores, sua proposta de subjetividade a partir de uma aristocracia
pontuar que existem fatores macrossociais, estruturais e ideológicos, os quais influenciam nos
brevemente recorre-se a teóricos clássicos como Marx e Weber e seus contemporâneos, como
Elias e Giddens para buscar explanações sobre o modo que se dá a relação entre sociedade e
indivíduo, em seus aspectos micro e macrossociais. De um modo sucinto, como aponta Leme
(2006), ao dar enfoque aos fatores estruturantes da sociedade, Marx considera a sociedade
capitalista como uma sociedade de classes que precisam ser superadas, sendo dividida entre a
dominação de uma classe sobre a outra a partir da alienação e exploração do trabalho não
pago, na qual o dinheiro se torna forma de existência social que atribui valor a mercadoria e
ao trabalho.
Já Weber, ainda de acordo com Leme (2006), analisou e interpretou as ações dos
indivíduos, visando compreender suas motivações. O teórico considera que estas são
orientadas e organizadas pelo cálculo racional (visando um fim ou por valores) centrado no
poder legal. Para além, outros fatores que influenciam a organização social são a tradição e o
para formação de um espírito do capitalismo, logo, de sua evolução. Tal ethos protestante
possui como parte de sua moral a predestinação (convicção religiosa) e a noção de trabalho
como vocação, havendo uma racionalização que se desdobra também nas atividades
econômicas, com isso, fatores como eficiência, riqueza e produtividade passam a ser
indivíduos por meio de uma estrutura e uma ideologia as quais são determinantes para suas
condutas. Teóricos contemporâneos como Elias e Giddens dão continuidade à discussão. Elias
(1994), ao discorrer sobre a sociedade dos indivíduos busca superar a dicotomia que é posta
quando consideramos o ser humano singular enquanto indivíduo e, como oposto, a sociedade
enquanto a somatória, coletânea, de indivíduos. Elias (1994) explora como os seres humanos
ligam-se de modo dinâmico por meio de suas relações, afinal, não haveria um como uma
pessoa se reconhecer enquanto unidade autônoma caso não houvesse outras pessoas a partir
das quais ela passa a ter a possibilidade de se diferenciar. Elias (1994) vai além, pontuando
que
29
O indivíduo só pode ser entendido em termos de sua vida em comum com os outros. A
estrutura das relações entre os indivíduos […] embora a sociedade, as relações entre as
pessoas, tenha uma estrutura e regularidade de tipo especial, que não podem ser
regularidade sociohistórica, ainda que não completamente subjetiva, posto que há mobilização
e novas relações de poder as quais criam produções inéditas. Como expõe Koury (2013), a
conhecimento nos processos sociais e históricos, neste sentido, Elias buscou discutir os
dinâmica relacional que se estabelece para que a estrutura psíquica individual molde-se a
partir das atitudes sociais. Como coloca o comentarista, o habitus resulta “de uma dinâmica
mesmo tempo que possuem a capacidade de intervir nesta estrutura e criar novos modos de
reação a esta, havendo, concomitantemente, uma dinâmica em que o indivíduo tem sua ação
moldada pela estrutura ao mesmo tempo que ações podem alterar e intervir nas estruturas,
normas e regras sociais. Em outras palavras, o indivíduo existe nas relações com os outros,
relação que possui uma estrutura particular em uma dada sociedade (Leme, 2006).
30
Outro teórico que buscou superar a dicotomia estrutura-ação fora Giddens (2003),
ter acesso ao agente (indivíduo que age), sendo assim uma ferramenta para se pensar os
não exime os indivíduos da consciência das consequências de suas ações, em outras palavras,
as consequências das ações não derivam inteiramente das ações individuais, já que a
autonomia individual não é plena, tanto quanto não é possível dizer que a estrutura defina o
todo social. Assim, o agente tem um papel e formas de interpretar o ambiente social, que não
compreende que não deve haver um dualismo entre sujeito e objeto social, mas sim uma
dualidade, sendo que seu método propõe analisar tais relações que constroem tanto objetos
sociais, quanto a subjetividade. O autor considera o sujeito como descentrado, o que não
implica uma desconsideração dos aspectos subjetivos, significando que quando as práticas
subjetividade e, é por meio da intersecção entre o significar e o fazer, que os agentes criam
Ao considerar os atores humanos como agentes Giddens (2003) adota uma perspectiva
O autor argumenta que tudo que é feito habitualmente (rotina) faz parte de um cotidiano que é
31
elemento básico da atividade social, ou seja, atividades repetitivas que fornecem material de
caráter recursivo da vida social, caráter recursivo o qual remete a recriação constante das
Os atores sociais não vivem tais aspectos de modo inconsciente ou mesmo apenas
através de uma consciência discursiva do que é dito e feito, não obstante Giddens (2003)
propõe que há uma reflexividade por parte dos atores que engloba tudo que é vivido, sendo
esta consciente discursivamente de modo parcial, pois, para além da capacidade individual do
que é possível de ser organizado discursivamente existem aspectos que são de ordem do que
fora denominado como consciência prática, ou seja, as ações cotidianas que não são pensadas,
mas que fornecem uma resposta coerente para manutenção do agente no social.
estruturais, em uma relação que pode ser pensada a partir de seus aspectos passivos e ativos.
valorizar o trabalho como faz o ethos protestante, possibilitam tais crenças, discursos e
capitalismo, ainda que isto não se dê de forma igualitária para todos os indivíduos. Visando
apropriar-se das ideias supracitadas, considera-se que rotinização se apresenta como uma
técnica de poder preconizada pela meritocracia, à qual propõe um conjunto de ações que
para aqueles que dedicarem seus esforços e habilidades no progresso humano. A meritocracia
traçar os aspectos que compõem a dita ideologia do mérito é possível observar o foco no
que visa a seleção dos melhores, ou mesmo do único indivíduo que seja considerado como o
melhor. Com isso, torna-se necessário explorar o que se caracteriza por exclusão social.
pobreza, mobilidade social, subjetividade e nos processos que levam indivíduos a serem
que do ponto de vista epistemológico, o fenômeno da exclusão é tão vasto que é quase
impossível delimitá-lo” (Wanderley, 2001, p. 17). Wanderley (2001) acrescenta ainda que
existem valores e representações do mundo que acabam por excluir as pessoas, sendo estes
33
não rejeitados não apenas física, geográfica, materialmente, do mercado e de suas trocas, mas
mais próximo, como oposição, ao de coesão social, ou, como sinal de ruptura, do de vínculo
embora menos, do de desvio. “Neste caso […] a diferença reside no fato de que o excluído
não necessita cometer nenhum ato de transgressão, como o desviante. A condição de excluído
é-lhe imputada do exterior, sem que para tal tenha contribuído direta ou mesmo
mobilidade e a desigualdade social. Não obstante, não se limita ao social, interferindo também
Dito de outra forma, trata-se de uma representação que tem dificuldades de reconhecer
moderna entre os séculos XVII e XVIII, objeto permanente de estudo e debate entre cientistas
sociais e filósofos desde aquela época, o qual vez ou outra reflui, para em seguida ressurgir
Wanderley (2001) aponta que indivíduos à margem social, os que desviavam a norma,
atravessam os séculos, assim, a exclusão não é um fenômeno que atinge apenas os países
considerados como pobres, mas que possui uma complexidade sociohistórica a qual deve ser
pelo mundo do trabalho ou por situações decorrentes de modelos e estruturas econômicas que
De um modo geral, de acordo com Zioni (2006) até o início da década de 70 as visões
indivíduo. A partir deste viés a exclusão social não era uma discussão preponderante para a
suma, aqueles que não eram sujeitos economicamente ativos. Sua inadaptação era considerada
como um problema social que diz sobre a organização social e suas disfunções, não
remetendo a aspectos individuais, mas qualificando tais indivíduos como inadaptados aos
Sob esse rótulo estão contidos inúmeros processos e categorias, uma série de
mesmas chances na luta pelo espaço, os mais aptos ganhariam melhores posições
nesse ambiente construído e disso resultariam zonas segregadas […] os mais pobres
Zioni (2006) ao citar Silver (1995) pontua que dentro do paradigma da especialização, de
individual, para se pensar os indivíduos que ficam a margem social a partir de critérios de
culpabiliza o indivíduo.
prioridade em relação aos fatores sociais, já que recai sobre o indivíduo o viés da liberdade
36
Entretanto, Veras (2001) explicita que o debate liberal não era o único presente na
força de trabalho, como indivíduos que buscam melhores condições de vida, mas integram as
forças produtivas de modo desigual, sujeitos despojados dos direitos mínimos de vida digna,
Wanderley (2001) explicita que a partir dos anos 80 novas relações políticas,
prevalece o ideário liberal de que o indivíduo é o responsável por sua condição de vida. A
providência, fora ampliada pela transformação das relações entre economia e sociedade (crise
sujeito). Nesse sentido os problemas sociais se acumulam, justapondo aqueles que possuem
uma renda elevada (ou relativamente) àqueles que são excluídos do mercado e por vezes da
exclusão social estabelece uma íntima relação com a inclusão por meio de processos sutis e
dialéticos, pois a exclusão só existe em relação a inclusão e como parte constitutiva desta,
37
processo o qual envolve o homem por inteiro e sua relação com os outros (Sawaia, 2001).
Neste sentido, em uma sociedade que tem enquanto condição mecanismos de desigualdades
há a necessidade de exclusão para que haja a inclusão, logo, todos os indivíduos estão
inseridos de algum modo, nem sempre decente ou digno, no circuito reprodutivo das
insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do econômico (Sawaia, 2001).
autores contemporâneos, como Castel (1995, apud Wanderley, 2001), crítico da visão de
social, Castel compreende que o fenômeno da exclusão é atravessado pela falta de acesso a
indivíduo. Nesta visão não há excluídos, todos estão incluídos, posto que é pouco provável
específicas que vão desde o sentir-se incluído até o sentir-se discriminado ou revoltado. Não
sendo atravessadas apenas por aspectos econômicos, tais subjetividades determinam e são
2001). Assim, a exclusão social pode ser entendida como uma construção social, ou seja, um
coletivos cuja visibilidade estava bastante associada, no Brasil, a uma distribuição perversa de
relação com a exclusão social. Ressalta que os aspectos materiais não são os únicos que
significa colocar no centro das reflexões sobre exclusão, a ideia de humanidade e como
temática o sujeito e a maneira como se relaciona com o social (família, trabalho, lazer e
afetividade, ao mesmo tempo que de poder, de economia e de direitos sociais (Sawaia, 2001,
p. 98).
Desse ponto de vista, Sawaia (2001) pensa no indivíduo em seus aspectos relacionais,
sem perder de vista a interlocução com o social e econômico. É no sujeito, por meio dos
afetos reverberados, que são vividas as diversas formas de exclusão, mas este indivíduo não
pode ser pensado enquanto ponto de origem desse sofrimento, sua gênese se encontra nas
intersubjetividades delineadas socialmente. Nesse sentido, estudar a exclusão pela ótica das
emoções dos que a vivem é pensar sobre o cuidado que o Estado tem com seus cidadãos,
sendo indicadores de descompromisso do homem pelo estado, pela sociedade e por ele
mesmo, em outras palavras, o sofrimento humano tem que ser questionado para além de um
No que se refere à meritocracia, como já fora explanado, assim como a exclusão, esta
em seus mecanismos, processos e estruturas sociais. Deste modo, a meritocracia opera por
que interferem para além do campo material e econômico, assim como atua sobre a identidade
indivíduo consigo, com o mundo e com o outro ao promover uma diferenciação comparativa,
competitiva e, ao ser meritória (inclusão), também define o que não é meritório (exclusão).
Castel (2003, apud Zioni, 2006), considera que a desfiliação faz parte de
transformações nos sistemas de regulação social, “uma transformação gerada por uma nova
fase do capitalismo. Considerada, ainda, que parte importante dessa população ‘excluída’
seria composta por trabalhadores que foram inutilizados pela atual conjuntura tecnológica e
econômica” (p. 24). Martins (1997, apud Zioni, 2006) pontua que
a sociedade moderna está criando uma grande massa de população sobrante que tem
inclusão está se transformando num modo de vida, está se tornando mais do que um
Neste trecho Martins aponta para um importante espaço ocupado pela meritocracia: o
mecanismo que dá uma explicação para a desigualdade com a promessa ideológica do “vir a
desenvolvimento de humano, o que, como apontou Martins, acaba ocasionando uma não
inclusão permanente, ou seja, uma manutenção de repetidas tentativas de inclusão. Com isso,
consigo reformulações profundas não apenas nas relações de trabalho, mas na natureza
mesmo do mundo do trabalho. De acordo com o autor, há uma menor demanda por pessoas
materiais tornam um contingente humano cada vez mais dispensável ao processo produtivo,
(Wanderley, 2001), posto que a precariedade de trabalho e renda passa a ser observada
enquanto um fato que pode conduzir à perda de vínculos sociais e a crises de identidade
(Zioni, 2006). Socialmente, observa-se que há uma maior demanda por habilidades
específicas, prevalecendo níveis acirrados de competitividade e uma exclusão social cada vez
mais multifacetada, a qual engloba indivíduos que fogem aos padrões da norma, assim como
aqueles que, de diferentes formas e níveis, são incluídos ou excluídos nas diversas camadas
social, em que os indivíduos se constituem como personagens centrais. Sua ideia fundante é a
acesso aos bens materiais e simbólicos. Ainda que esta esfera seja pré-existente à sociedade
tem várias conotações. Uma de suas conotações é positiva, na medida em que nela reside o
desigualdade entre os indivíduos que garante a existência mobilidade social dinâmica, posto
que atribui-se ao indivíduo a responsabilidade pelo lugar que ocupa na escala social,
41
dinâmica e constante, o que gera a existência de grupos sociais que são colocados no espaço
traz que a primeira refere-se à distribuição diferenciada (numa escala de mais a menos) das
participantes. Já a pobreza, por sua vez, remete a situação em que membros de uma
dignamente ou que não têm as condições mínimas para suprir as suas necessidades básicas,
acrescentando ainda que vida digna e necessidades básicas constituem, sempre, definições
aborda a pobreza enquanto uma destituição material, mas também simbólica. Neste sentido, as
Neste cenário a meritocracia opera como uma forma de regulação dos critérios de
Como coloca Nascimento (1994), tais formas de inclusão/exclusão dão contornos de uma
classificação dos sujeitos, distribuindo-os nas mais diversas camadas sociais a partir de
sociohistórico.
42
repete-se mesmo para aqueles os quais foram bem avaliados, tendo de manter-se atentos para
excluídos modernos, que são “um grupo social que se torna economicamente desnecessário,
eliminado” (Nascimento, 1994, p. 47), ou seja, aqueles indivíduos que não conseguem
dito excluído não corresponde apenas às pessoas em condição de pobreza material, mas
também aqueles que são deixados à margem social por possuírem características que não
fazem parte da norma e que possuem seus vínculos sociais abalados. Em outras palavras,
aqueles sujeitos que são discriminados devido a sua etnia, raça, religião, nacionalidade,
complexidade para se pensar nas suas correlações com a meritocracia. Assim não se pode
crenças se fazem presentes na estrutura social, nas empresas, no governo etc., como fora
pontuado por Barbosa (2003), de modo que se configura, enquanto sistema de ordenação
alteridade.
43
Interessante ressaltar que tais aspectos que levam a exclusão social são aqueles os
quais são considerados como irrelevantes para ideologia do mérito, havendo um contra-
argumento por meio de seu discurso individualista, ou seja, entende-se que tais características
não se interpõe aos talentos, habilidades e esforços individuais. Entretanto, como se observa,
tais fatores interferem diretamente na desigualdade e, por sua vez, na mobilidade social. A
redes sociais fundamentais gera a exclusão social, que pode ser associada à pobreza, mas não
se reduz a ela, sendo que na sociedade atual existem mais desigualdades do que aquelas
critério de seleção no social, esta demanda que haja desigualdade. Kreimer (2000) coloca que
o princípio seletivo a partir do mérito funciona enquanto uma forma de seleção e exclusão
complementa que enquanto um sistema de ordenação social como uma relação política, de
daquilo que é fruto da vida em sociedade, sendo válido ressaltar que com isto a meritocracia
Os sistemas de seleção não apenas produzem “eleitos”, isto é, pessoas que - pelo
menos reconhecidamente - ocuparão posições de acordo com seu “mérito”. Sua função
nos chamados testes de “capacidade”, ou que nem sequer concordaram com eles
concorrência de livre mercado capitalista, nota-se que caberá a este angariar as qualidades
ou seja, possuir um foco no investimento de si, para que atinja os critérios competitivos que a
própria ideologia do mérito impõe a partir do seu princípio de seleção dos melhores. Tal
pontua que este indivíduo serve como um álibi para a plutocracia e como uma chave
ideológica para a reprodução da cultura neoliberal, a qual proclama que há uma igualdade de
conseguir: que raça, classe ou gênero não são, em um nível fundamental, barreiras
significativas para o sucesso. Para liberar nosso talento interno, precisamos trabalhar
2)
se torna produto, objeto de consumo, incitado e respaldado pela meritocracia, pois, como
colocam Dardot e Laval (2016) parte do que constitui a dinâmica necessária ao neoliberalismo
10 We have been encouraged to believe that if we try hard enough we can make it: that race or class or gender
are not, on a fundamental level, significant barriers to success. To release our inner talent, we need to work hard
and market ourselves in the right way to achieve success (Littler, 2018, p. 2)
45
importante não apenas pelo seu papel no funcionamento do livre-mercado, mas também pelo
seu efeito disciplinador como estímulo ao bom desempenho, e, ao contrário do que é posto
pelo pensamento liberal, não se dá de modo natural. Parte do que já foi apresentado sobre a
meritocracia a explicita enquanto um mecanismo que atua sobre a concorrência em sua dita
ideologia.
mecanismo que regula a concorrência entre os indivíduos, ao dizer, caso a caso, quais serão os
critérios utilizados para determinar sua seleção ou exclusão. Com isso, a partir do que Dardot
e Laval (2016) colocam, percebe-se que o sistema de avaliação concorrencial proposto pela
meritocracia pode ser considerado um dos fatores que permeia o social e influencia nos
(2003) sobre como o sujeito meritocrático deve ser, quais habilidades e características deve
possuir. O esforço daqueles que instituem o trabalho como valor é determinado pela
necessária para existência dos sujeitos, é apenas um dos pilares do modelo de troca e
produção da vida na atualidade e, com isso, parece que fora necessária a estruturação de
sujeitos.
46
constrói para que seja possível sustentar as engrenagens de tal dinâmica de poder que toma
características hegemônicas. Ainda que a aceitação social do discurso meritocrático não possa
ser generalizada, percebe-se que este é disseminado por estar presente no corpo de crenças e
práticas dos sujeitos em seu cotidiano. Logo, a consequente disseminação de seu conjunto de
crenças é um fator que interfere na constituição subjetiva dos indivíduos, delimitando valores
denominadas por McNamee e Miller Jr (2014) como “Being Made of the right stuff”, ou na
tradução livre, “Ser feito da coisa certa”, que se refere a características como talento inato,
trabalho duro e atitude certa. Assim, na meritocracia o indivíduo para ser considerado digno
fazer uma interlocução entre McNamme e Miller Jr. (2014) e o poder que os valores
Em linhas gerais, para Sadek (1999), Maquiavel no clássico “O Príncipe” propõe uma
reinterpretação do mito da deusa Fortuna que não abarca a moralidade cristã de sua época. Em
sua interpretação, a deusa, que simbolicamente representa a riqueza, o poder, bens e glória,
seria passível de ser conquistada pelo homem que fosse virtuoso, ao contrário da perspectiva
cristã de que os homens eram dominados por Fortuna. Virtude, neste caso, refere-se ao
homem que utiliza sua força para lutar pelo que almeja, sendo o poder fundado nesta força
A força explica o fundamento do poder, porém, sem virtude não há sucesso, sendo este
que possibilita a manutenção do poder, possuindo nas virtudes suas ferramentas (Sadek,
1999). Para Maquiavel (1532/1996) o príncipe não é apenas aquele que determina a ordem,
mas deve possuir virtudes exemplares e honrar “os homens virtuosos e os que se excedem em
alguma arte. Deve encorajar os seus cidadãos a acreditar que podem exercitar suas atividades
em calma, seja no comércio, na agricultura ou em qualquer outra” (p. 112). Ao pontuar sobre
a calma, Maquiavel (1532/1996) faz referência a apropriação de posses dos camponeses pelo
cidadão. Para além, sua colocação também busca valorizar aqueles homens que apresentarem
talentos, estes devem ser bem quistos, devidamente bonificados e, com isso, o governante
poderá mais facilmente manter seu poder através da boa relação com seu povo (Maquiavel,
1532/1996).
Maquiavel (1532/1996) parte de uma lógica racionalista que busca a verdade concreta
para argumentar que à fortuna não deve caber manutenção do governo e que à sorte cabe uma
responsabilidade parcial (acontecimentos que podem não ser benéficos), enquanto que o livre
arbítrio cabe ao homem, o qual deve utilizá-lo de modo sábio. Maquiavel (1532/1996) expõe
que uma das virtudes do governante deve ser saber adaptar-se ao seu tempo, construindo as
mais variadas estratégias para manutenção e estabilidade de seu poder a partir das
necessidades postas, mesmo que isso signifique não ter posturas consideradas como boas
(como ser impetuoso), mas que se deve “aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos
homem deve possuir virtudes, um olhar sábio e estratégico para os contextos de seu tempo
que valorize seus talentos, que lhe trarão fortuna, logo, poder, bens, riquezas, sendo que não
se deve contar apenas com a sorte e com a estabilidade das estruturas e relações. Tais aspectos
confluem, em partes, com o que McNamee e Miller Jr. (2014) expõe como características
Desta forma, o indivíduo virtuoso, ou seja, aquele dotado de talento, de uma atitude
certa pautada em um saber e que tem ações em prol da sua sociedade deve ser valorizado,
recompensado por suas virtudes com poder, bens e glória. É válido ressaltar que tais
caracterizações são postas a partir do olhar que caberia ao governante sobre os governados,
neste sentido, o jogo das aparências se sobressai ao das essências, priorizando uma arte de
governante deve, pelo menos, aparentar possuir as virtudes que reconhecerá e recompensará
nos governados. Logo, o modo de governar, no caso, absolutista, demonstra haver relações de
poder que agenciam os valores (virtudes) de uma dada época e que são determinantes para as
explicitam que “identificamos quatro ingredientes principais na fórmula americana para “ser
feito das coisas certas”: talento, atitude certa, trabalho duro e caráter moral”11 (p. 23).
Acrescentam ainda, que deve haver oportunidades para que o sujeito possa explorar o que a
combinação dos pressupostos meritocráticos pode trazer, posto que estes não bastam caso o
sozinha, ou o trabalho duro sozinho, ou o estado de espírito adequado que faz a diferença.
11 We have identified four key ingredients in the American formula for being made of the right stuff: talent, the
right attitude, hard work, and moral character (McNamee & Miller Jr., 2014, p. 23)
49
Pelo contrário, é a combinação de oportunidades e esses outros fatores que faz a diferença”12
(p. 45).
deve possuir para estar de acordo com os princípios da meritocracia, sendo estas:
valor central de sua existência, o self-made man por excelência do credo norte-
americano. Mais ainda, tal discurso põe sobre os ombros dos indivíduos a
variáveis. Por essa lógica, o progresso e o fracasso das pessoas são vistos como
Com isso, a meritocracia não apenas se institui enquanto uma ideologia presente em
uma dinâmica de poder de dominação no qual o mérito individual serve de crivo para
sujeito específico, com condutas específicas, que deve ser correspondido. Não obstante, esse
que a ideologia e o sistema social meritocráticos não podem ser separados de uma
Ainda assim, meritocracia parece fazer parte do consenso aceito pelos indivíduos, ao
ponto de se manter quase implícita. Os indivíduos veem nela um sistema sedutor, uma
partir da recompensa individual e sua compreensão enquanto um critério justo para seleção
social, posto que tal discurso visa, supostamente, uma sociedade mais igualitária e com
nos dias de hoje envolve a ideia de que independentemente da sua posição social ao nascer, a
que se esforçam.
ideológico. A meritocracia, enquanto sistema social, se baseia na ideia de que “indivíduos são
responsáveis por trabalhar duro para ativar seu talento e, portanto, poucos dentre a maioria
(Littler, 2018, pp. 24-25)13. O sistema tem como princípios básicos a mobilidade social e a
passam mais privilégios para seus filhos, contribuindo assim para blocos sociais desiguais”
(Littler, 2018, p. 25)14, construindo um ciclo que pouco diz sobre a igualdade de
(2020) argumenta como neste sistema de organização social uma das características que
pessoas ricas em uma renda que advém do capital de investimentos e ricas em renda do
13 Individuals are responsible for working hard to activate their talent and thus one in which the majority will
arrive at social positions for which they are suitable and appropriately rewarded (Littler, 2018, p. 24-25)
14 Those who ‘achieve’ pass on more privilege to their children, thus contributing to unequal social starting
blocks (Littler, 2018, p. 25)
51
trabalho, sendo esta última correlata, para o autor, ao capital humano. Em outras palavras,
pessoas que além de terem bons rendimentos de investimentos financeiros, também possuem
salários altos devido ao seu capital humano e passam intergeracionalmente seus privilégios
Com isso, percebe-se que a meritocracia tem uma dimensão individualista, o qual
culpabiliza os indivíduos por seus ônus e bônus e preconiza por um indivíduo específico, o da
ao poder e a ideologia, a meritocracia passa a ser um fator de ordenação social, logo, interfere
mérito é “uma construção social incorporada em crenças culturais de nível social sobre o que
vale a pena em um determinado tempo e lugar”15(p. 21). Nesse âmbito, as crenças culturais
trazidas com a meritocracia situam-se em um dado momento histórico que será determinante
Como foi explicitado, a alteração dos valores que caracterizava a distribuição dos
indivíduos dentro dos estratos sociais é possível ser historicamente situada. Seu início deu-se
XVIII. Para além das alterações socioeconômicas, começa a emergir um novo sujeito e
15 A social construction embedded in societal-level cultural beliefs about what constitutes worth in a given time
and place (Rivera, 2015, p. 21)
52
identidade, o qual, de acordo com Hall (2006, p. 25) compreende o nascimento de um sujeito
estáveis nas tradições e nas estruturas. Antes acreditava-se que essas eram divinamente
divina das coisas – predominavam sobre qualquer sentimento de que a pessoa fosse
De acordo com Kreimer (2000) o mérito na aristocracia antiga era “uma qualidade
(p. 142). Como o mérito aristocrático remetia ao brilho do nascimento, a riqueza econômica e
entre riqueza material enquanto fonte de acesso ao poder, pois, na ordem da lógica
“sou rico pois mereço isto dado o valor divino hereditário que possuo”, ao contrário de “sou
rico pois sou consequência de um monopólio hereditário dos bens econômicos e materiais”.
Com isto, dentro da hierarquia “socialmente justa” da aristocracia divina, o lugar do indivíduo
bom, virtuoso, era saber e respeitar o lugar de cada um, pois sua condição natural era
compreendida a partir de sua condição de nascença. Assim, “nas sociedades feudais, por
exemplo, o princípio do “direito por nascimento” e a ideia do “direito divino dos reis” foram
16 una cualidad vinculada al lustre de nacimiento que se pone de manifiesto en el valor en el combate y en la
riqueza económica (Kreimer, 2000, p. 142)
53
forma exuberante. O Estado mais bem sucedido da Europa no século XVIII, a Grã-
década de 1780 todos os governos continentais com qualquer pretensão a uma política
A filosofia iluminista do século XVIII traz que, com a razão, o homem sai de sua
“menoridade”. Para Kant (1784/1990), essa menoridade está associada a uma instituição da
racionalidade humana, ou seja, busca afirmar o indivíduo enquanto um ser, uma unidade, que,
por meio dos preceitos iluministas, tem a possibilidade de sair de sua dependência do
pensamento das instituições de poder do século XVIII e atingir a razão, a qual, supostamente,
lhe traria autonomia. Ao que parece, um ser racionalmente autônomo, uma máxima
Tal discussão sobre o iluminismo se faz pertinente dada à gênese que representa sobre
tal imperativo da razão, da liberdade individual, sobre a culpa do sujeito perante uma
17 In feudal societies, for instance, the principle of ‘birthright’ and the idea of ‘the divine right of kings’ were
used to justify the power and privilege of the nobility over commoners and peasants (McNamee & Miller Jr.,
2014, p.3)
54
drástico sobre aqueles que não se moldam a partir da razão, intitulando tais indivíduos como
Com isso, percebe-se que no século XVIII o mundo ocidental passava por uma série
“esclarecido”. Libertar o indivíduo das algemas que o agrilhoavam era o seu principal
mais baixas e mais altas de acordo com o nascimento ou algum outro critério
Por meio do que foi exposto pode-se situar neste momento histórico um palco social
no qual os valores que nos dias atuais sustentam a ideologia do mérito já se apresentavam. A
55
econômico, ao iluminismo que se estrutura como filosofia racionalista de todo uma época e às
alterações sociais situáveis a partir da revolução francesa. Pode-se perceber que os primórdios
– que assumiram como verdadeira a proposição de que a sociedade livre seria uma
sociedade capitalista. Em teoria seu objetivo era libertar todos os seres humanos.
fato, surgiram dele [...] embora os novos homens racionais o fossem por habilidade e
mérito e não por nascimento, e embora a ordem social que surgiria de suas atividades
no livre mercado, McNamee e Miller Jr. (2014) pontuam que “com o declínio do feudalismo e
possuir suas próprias terras, ser seus próprios chefes e subir com base em seus próprios
esforços”18 (p. 9). Assim, o capitalismo preconiza pela liberdade econômica, sendo que um
livre mercado necessita de pessoas igualmente livres para poder sustentar sua proposta
18 With the decline of feudalism and the rise of market economies, free markets emerged. Individuals could
own their own land, be their own bosses, and move up on the basis of their own efforts (McNamee & Miller Jr.,
2014, p. 9)
56
que com a ascensão da sociedade burguesa capitalista não houve uma desconsideração
perante a valorização de marcas e títulos, mas que na “nova” sociedade tais aspectos apenas
abençoados a partir do nascimento (sendo este seu mérito individual), de sua capacidade em
combate e em suas riquezas econômicas, “se o católico venceu o céu com boas ações, o
posto que a salvação, o balanço das boas ações humanas em vida, passa a ser atribuído ao
século XVIII, debruçou-se sobre os aspectos sociais de sua época no intuito de esclarecer a
natureza humana. Discorre que é merecedora de recompensa a ação, a conduta, que “se
ofereça como sentimento próprio e aprovado desse sentimento [a gratidão] que mais imediata
e diretamente nos incita à recompensa, ou a fazer o bem ao outro” (p. 82). Com isso, a
recompensa. Smith (1999) ainda coloca que “recompensar é remunerar, devolver o bem pelo
o que se recebeu” (p. 82), sendo associado ao interesse do agente em gerar felicidade ao outro.
Para Smith (1999), o mérito é compreendido enquanto uma simpatia direta perante
conduta do agente, mas também pela simpatia indireta que gera, entendida enquanto a
identificação do indivíduo que recebe a ação para com a conduta do agente. Acrescenta ainda
19 si el católico ganaba el cielo con buenas acciones, el ciudadano moderno aspirará a ‘salvarse’ en la tierra,
ocupando en la sociedad un lugar que em principio parece determinado por la conjunción de un saber y de una
eficiencia referida estrictamente al universo del trabajo (Kreimer, 2000, p. 5)
57
que a perspectiva oposta (o ressentimento pelo outro) emergirá como merecedor de castigo,
palavras, caso a conduta de um agente se assemelhasse aos valores daquele que recebe a ação
pode-se considerar que haveria uma maior probabilidade da ação ser percebida como digna de
recompensas.
ascensão. Neste sentido, McNamee e Miller Jr. (2014) complementam ao pontuar que “Uma
investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, foi adotada nos Estados
Entende-se que a importância das obras de Adam Smith se encontra no fato de que o
economista percebe o futuro e o progresso da nação a partir do foco dado às ações individuais,
ganho de riquezas (materiais e imateriais) que, por meio de seu trabalho, tornam também o
livre mercado fonte de riquezas que podem ser compartilhadas e divididas a partir do mérito
de cada um. Com isto, cada indivíduo é remunerado com recompensas na medida em que se
esforça pelo desenvolvimento da sociedade como um todo, o qual tem seu espaço de
20 An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, became adopted in the United States as the
informal bible of American free-market capitalism. It emphasized rational self-interest, individual competition,
private ownership, and laissez-faire principles (McNamee & Miller Jr., 2014, p.8)
58
Weber (2004) traz que há uma conexão entre a conduta humana, no caso a ética
meio. Weber (2004) aponta como o ethos protestante foi racionalizador e contribuiu para a
ócio e do luxo, desenvolvendo um ethos capitalista o qual determinava que ao ser eficiente em
diferenciação dos indivíduos, o vínculo com o divino se mantém, mas agora é associado à
habilidade, talento e produtividade. Desta forma, como resume Bourdieu (2007) o ethos
burguês capitalista possui afinidade estrutural com sistemas éticos ou religiosos que conjuga a
trabalho, tanto quanto do acúmulo de capital e no qual a salvação divina advém dos esforços e
Tal inatismo possui suas bases no “divinismo” que é atribuído ao individuo por parte
da moral religiosa, de uma ética que embasa a conduta, e implica apenas o indivíduo no
mérito, como o sociólogo coloca “se ele [o burguês] tornou-se pobre, foi por sua culpa; se
enriqueceu, atribui o mérito a si próprio. E face da divindade, ele estabelece suas próprias
responsabilidades” (Bourdieu, 2007, p. 10). Com isso, não apenas a pessoa divinamente nasce
melhor que as outras, de modo que suas habilidades são consideradas únicas, apresentando
econômicas e afins.
trazer que
fundamentação cujas origens são a moral religiosa, que por sua vez, influencia nos
De acordo com Weber (2004), ainda que a burguesia, enquanto classe, tenha emergido
Ou seja, o uso dos conhecimentos passa a ter incentivos econômicos. Não obstante, sua
ao mesmo tempo determinado pela habilidade e disposição do homem em adotar certos tipos
feudal para a ascese protestante no ocidente se dá devido à alteração de poder entre classes
sociais, ocorrida a partir das mudanças econômicas, políticas, filosóficas e sociais do século
XVIII, as quais imbuem o sujeito movido pela razão de uma maior autonomia perante sua
meio social, imbricada pelo conjunto de valores do ethos burguês. Este início do sistema
possibilidades de mobilidade social por meio de ganhos econômicos, implica que a partir de
suas próprias ações (que englobam esforço e habilidade) o indivíduo pode angariar
sociohistórico, esta pode ser percebida como a conjunção dos valores supracitados em um
arranjo de crenças, que influenciará na percepção de quais qualidades e ações individuais são
boas e dignas de recompensas. Esta é, nos dias atuais, utilizada de modo análogo ao “sangue
A desigualdade é vista como justa, porque todos presumivelmente têm uma chance
igual (ou pelo menos adequada) de ter sucesso, e o sucesso é determinado pelo mérito
individual para alcançar o que é bom para a sociedade como um todo; isto é, aqueles
que são mais talentosos, os que trabalham mais e os mais virtuosos recebem e devem
O discurso apresentado pela meritocracia traz que há justiça perante a seleção a partir
que são benéficas para a sociedade como um todo. Entretanto, como observado, o que de fato
se percebe é que a meritocracia se apresenta como uma das ferramentas que coopera para que
21 Inequality is seen to be fair because everyone presumably has an equal (or at least an adequate) chance to
succeed, and success is determined by individual merit. The system supposedly works because it is seen as
providing an individual incentive to achieve what is good for society as a whole; that is, those who are most
talented, the hardest working, and the most virtuous get and should get the most rewards (McNamee & Miller
Jr., 2014, p.4)
61
seja possível a uma classe que não possui os mesmos recursos da classe dominante imbua
No que tange à mobilidade social, Scalon (1999) traz que “uma sociedade pode ser
definida como [...] justa ou injusta, igual ou desigual, de acordo com o grau de fluidez de sua
alcançar posições sociais” (p. 18). Para a autora, é a partir das fraturas na estrutura social,
observáveis por meio do estudo da mobilidade social, que se percebe as desigualdades nas
posições sociais” (p. 18). Ademais, entende-se que a aquisição de riquezas e poder dependem
das condições sociais, “que não se restringem às qualidades pessoais” (p. 18), com isso, os
sucessos e fracassos podem ser observados a partir de seus padrões e sistematizações, sendo
estes últimos resultantes das realizações individuais (talento) e dos processos sociais.
Para além, os estudos de Pastore e Silva (2001) demonstram que não são apenas os
aspectos individuais e sociais que interferem na mobilidade social, além destes, percebe-se a
fugazes como “é possível chegar lá” (ou seja, ter mobilidade socioeconômica) como é
discutir os estudos de Pastore e Silva (2001) e Scalon (1999) em seu artigo, pontua que,
apesar de haver mobilidade social no Brasil, esta é rígida, “ou seja, as chances relativas de
62
mobilidade para as classes mais privilegiadas, não são, nem de longe, distribuídas igualmente
para indivíduos com origem nas diversas classes sociais” (p. 183) e que, em relação à
afirmativa coloca que, ao menos no Brasil, é possível avançar brevemente dentro da escala de
classes socioeconômica, mas, ser proveniente de uma classe baixa e ascender para uma classe
diferenciação social, que podem estar baseadas em status, prestígio e outros fatores adscritos,
tais como etnia, sexo, etc” (p. 33), sendo que Weber enfatiza a ascese protestante e sua
ideologia como determinantes para um estilo de vida que influenciou a ordem capitalista, pelo
menos nos EUA, o qual, como já fora mencionado, é um dos “berços” também da
meritocracia.
Já para Marx, Scalon (1999) esclarece que mesmo reconhecendo a existência de várias
classes, estas ainda aparecem como fragmentos entre a burguesia e o proletariado, não
divisão social do trabalho provocou uma fragmentação da classe trabalhadora, “uma vez que
estabilidade e condições de trabalho” (p. 35). Para além, a autora resume que enquanto as
relações de classes para Marx se distinguem no processo de produção, para Weber, estas
indivíduos e bens é livre, natural, denominado por autores como Littler (2018) e McNamee e
Miller Jr. (2014) como “playing field”, onde ocorre um nivelamento natural, espontâneo, de
equivale ao ‘chão’[para todos] como igual, mas também é significativa na medida em que não
leva em consideração outras formas-chave de diferenciação”22 (p. 31). Assim, fica a cargo do
de formação da verdade” (p. 42) o qual emerge a partir do século XVIII e “deve-se deixá-lo
agir com o mínimo possível de intervenções [governamentais], justamente para que possa
formular a sua verdade” (p. 42). Com isso, o mercado é possuidor de mecanismos naturais
que regulam espontaneamente os valores dos produtos a serem consumidos em uma sociedade
esclarece ainda que o liberalismo interfere nos indivíduos “na medida em que eles próprios
estão ligados a essa naturalidade econômica, em que sua quantidade, sua longevidade, sua
permite crer que o mercado regulará as recompensas, sendo que para meritocracia o produto é
capitalista liberal.
distribuição dos recursos materiais e imateriais entre diferentes estratos sociais. Deste modo
conflui mais para uma eventual cristalização da mobilidade social do que para uma maior
primeiro em seu sentido mais comum sobre os meios escolhidas para se atingir um objetivo,
(1979/2008a), o qual coloca que “a lógica da estratégia tem por função estabelecer quais são
as conexões possíveis entre termos díspares e que permanecem díspares [...] A lógica da
época em que governavam Reagan e Thatcher, ocorria uma série de mudanças, entendidas
enquanto uma “resposta política à crise econômica e social” (p. 189), as quais possuíam como
financeirização do capitalismo” (p. 190). Os autores discorrem ainda que a ocorrência de tais
65
alterações foi necessária para a implantação geral de uma nova lógica normativa capaz de
pertinente, posto que neste novo cenário socioeconômico e político as estratégias passam a ter
e dos indivíduos, para que seja possível sustentar a concorrência necessária ao mercado, esta
para Dardot e Laval (2016), se caracteriza como “um conjunto de discursos, práticas e
regras de funcionamento econômico e a alteração das relações sociais de modo a impor esses
objetivos [neoliberais]” (p. 191). Objetivos estes que necessitam “criar situações de mercado e
formar indivíduos adaptados às lógicas de mercado” (p. 191). Em outras palavras, a partir de
1980, “a concorrência se constituiu como nova norma mundial a partir de certas relações entre
Ainda de acordo com Dardot e Laval (2016), estes explicitam que foi necessário
como sociais, cuja função era obrigar os indivíduos a governar a si mesmos sob a
uma espécie de novo regime de evidências que se impôs aos governantes de todas as
66
trabalhador é uma máquina, sim, mas uma máquina que não se pode separar do
próprio trabalhador [...] uma máquina entendida no sentido positivo, pois é uma
máquina que vai produzir fluxos de renda” (Foucault, 1979/2008a, pp. 308-309).
obsolescência e duração de vida, afinal, o corpo humano tem uma existência finita. Para além,
próprio trabalhador que parece como uma espécie de empresa para si mesmo” (Foucault,
1979/2008a, p. 310).
Com isso, “a razão econômica aplicada a todas as esferas da ação privada e pública
“responsabilização”, portanto, para o bom desempenho dos assalariados nas empresas”. Nessa
sociedade do consumo de si, dos outros e das coisas, resta ao indivíduo ser “o único
responsável por seu destino, a sociedade não lhe deve nada; em compensação, ele deve
mostrar constantemente seu valor para merecer as condições de sua existência” (Dardot e
Sobre a meritocracia, Bell (1972) traz que o “guardião dos portões” da mobilidade
social e, por sua vez, da entrada no “playing field”, é a educação, que por meio do
aquisição do que Gary Becker (1993) denominou de “capital humano”, o qual se refere ao
treinamento são os investimentos mais importantes em capital humano”23 (p. 17). No que se
refere ao valor demonstrado pelo indivíduo, Foucault (1979/2008a) traz que a teoria do capital
humano possibilitou reinterpretar em termos econômicos todo um campo que “até então,
podia ser considerado, e era de fato considerado, não-econômico” (p. 302), como o
comportamento humano.
uma relação com o mercado caracterizada por uma parceria no processo de troca, sob esta
ótica, o indivíduo era considerado enquanto homo oeconomicus. Por sua vez, na perspectiva
estudos de Becker (1993) coloca que o homem deixa de ser apenas um dos termos da troca em
uma relação monetária, mas passa a ser um produtor de sua própria satisfação a partir do
consumo.
constitui uma referência absoluta nesta sociedade do consumo, que se revela enquanto
autor explicita que o mito da igualdade é uma transformação, herança da Revolução Francesa
e Industrial do século XVIII, e que sua força ideológica não deriva da capacidade natural de
cada indivíduo de realizar algo por si mesmo, mas sim de fatores sociohistóricos que
23 Education and training are the most important investments in human capital (Becker, G., 1993, p.17)
68
sentido pleno da palavra) para a igualdade diante do objeto e outros signos evidentes do êxito
nascimento, com o advento da sociedade burguesa a salvação passa a ser por meio de obras. A
inclusive, faz parte do que Baudrillard (1995) denominou como “estatuto”, o qual se refere ao
“para além” das funções do objeto, ou seja, a sua capacidade única de simular a essência
social. Baudrillard (1995) traz que a lógica da sociedade de classes impõe a salvação por meio
dos objetos, ou seja, a salvação pelo consumo, que atinge um estatuto de graça pessoal, de
dom e predestinação, entretanto, “este ainda continua a ser privilégio das classes superiores
que, por outro lado, comprovam a sua excelência no exercício da cultura e do poder” (p. 59),
felicidade, os objetos que lhe proporcionarão o máximo de satisfação, sendo homem dotado
de necessidades que o impelem para o consumo de objetos, fonte de sua satisfação, só que “as
necessidades visam mais os valores que os objetos e a sua satisfação possui em primeiro lugar
o sentido de uma adesão a tais valores” (p. 69), logo, a escolha do consumidor por um estilo
empresário de si mesmo, é o capital humano detentor das características que lhe fornecerão
69
a felicidade deste homem reside também no consumo de si, já que adere a signos e objetos
que buscam impulsionar seu próprio desenvolvimento, como se dá, por exemplo, em
humano de Becker, entende-se que a formação de capital adquirido que produzirá renda
formal ou formação profissional, mas também, por exemplo, pelo tempo de investimento dos
pais gasto para com os filhos. É válido notar que a forma de descrição da relação com filhos,
familiares, amigos, enfim, relações sociais de um modo geral, passam a ter descrições que
fornecem uma conotação econômica às relações que antes eram parte de relações não-
valores da antiga aristocracia para a nova sociedade burguesa e que, com o desenrolar
identidade emergiram. Com isto, aspectos como a liberdade, a igualdade, a razão e o ethos
o capital humano apresentado pelo indivíduo. Logo, torna-se pertinente questionar de que
70
como delimita os talentos que devem ser valorizados dentro da sociedade e expõe que o
alcançar o sucesso e ser bem-sucedido, ou seja, ser digno de mérito para não sofrer sanções
como exclusão social. A partir desta perspectiva, observa-se que a concorrência existente no
mercado de trabalho e a avaliação de desempenho, sendo assim, faz-se necessário uma maior
corresponder às novas demandas mercadológicas e criar este novo modelo de indivíduo que
proposta pelo coaching emerge enquanto uma das formas de resposta ao cenário
concorrencial por meio de um aparato de técnicas que visa a construção deste indivíduo
produtivo e digno de mérito. Com isso, para ser possível compreender o fenômeno do
coaching, é preciso recorrer a pesquisas e estudos teóricos desenvolvidos por seus próprios
econômicas atuais.
1.4 O coaching
de 30, o termo coaching era utilizado para se referir ao treinador ou instrutor que propunha a
71
entre as décadas de 60 e 70, a prática amplia-se para campos organizacionais, sendo utilizada
Cerca de vinte anos depois, ao longo da década de 80, McLean (2012) acrescenta que
potencialmente para outras partes interessadas”24, sendo necessário acrescentar que o coachee
que o coaching é,
em seguida, agir, monitorar e avaliar seu desempenho, a fim de alcançar melhor seus
24A human development process that involves structured, focused interaction and the use of appropriate
strategies, tools and techniques to promote desirable and sustainable change for the benefit of the coachee and
potentially for other stakeholders” (Bachkirova, Cox e Clutterbuck, 2010, p. 1)
72
A partir disto, o coaching pode ser considerado uma prática moderna, que emerge
perspectiva empresarial.
Para isso, o coach interage com o coachee estabelecendo um plano de ação objetivo e
indivíduos a partir dos seus desejos ou do desejo das instituições que tenham interesse. Em
e linear (como no desenvolvimento das habilidades de atletas) do que surge como demanda
conhecimentos pautados em outras disciplinas, sendo uma prática e teoria denominada por
seus estudiosos como interdisciplinar e multiteórica, com profissionais que advém de “uma
práticas” de outras áreas, como é exposto por Bachkirova, Cox e Clutterbuck (2010, pp. 1-2).
prática (Bachkirova, Cox & Clutterbuck, 2010). Nos dias atuais, há universidades que
25A generic methodology used to improve the skills and performance of, and enhance the development of,
individuals. It is a systemised process by which individuals are helped to explore issues, set goals, develop action
plans and then act, monitor and evaluate their performance in order to better reach their goals, and the coach’s
role is to facilitate and guide the coachee through this process (Grant, 2005, p. 4)
73
Educação etc., os quais articulam conhecimentos importados destas áreas para compor sua
prática e desenvolvimento de um corpo teórico. Brock (2012, apud Reis, 2014) identifica
para outras “áreas de trabalho”, como o “coaching de vida”, “coaching executivo”, “coaching
Com isto, o foco da prática amplia-se sobre questões subjetivas e comportamentais dos
mais amplas” (p. 9)27, acrescenta ainda que este também se torna um entrave para que o
coaching corresponda aos critérios necessários para vir a ser considerado uma profissão.
No que tange à interdisciplinaridade, Fazenda (2008) explicita que esta é expressa pelo
seu movimento, pela relação de metamorfose que pode haver entre duas disciplinas ou mais.
cotidiano e de seus atores, posto que pretende compreender objetos sociais complexos em
exploração das fronteiras entre as disciplinas e a interação entre elas (Satolo, Bernardo,
Lorenzani & Morales, 2019), o que mostra contundência na crítica feita por Grant (2005) ao
possíveis consequências, ainda desconhecidas, para aqueles que procuram tais serviços e se
Percebe-se que o desenvolvimento do coaching não surge enquanto pesquisa ou busca por
27 At present the majority of these are based on individual idiosyncratic proprietary systems, and have little
linkage to the broader established knowledge bases. This kind of training will be a major barrier to the
professionalism of coaching (Grant, 2005, p.9)
75
com as ideias impostas pelas organizações e sistematiza uma adaptação conceitual e prática
campo de atuação dos trabalhadores. Isso é perceptível a partir da afirmação de Reis (2014),
que explicita que a razão da ampliação do coaching para os meios organizacionais se deu
começaram a lidar com temas voltados ao coaching, pois “o novo líder precisava unir o
afirmar que as bases do que é denominado coaching têm como propósito gerar mudanças, de
um modo geral, subjetivas e comportamentais, o que é difundido por meio de um discurso que
tem o “objetivo de ensinar as pessoas a aprenderem a partir de perguntas abertas que ajudam o
coachee a aumentar a percepção sobre o seu estado atual e sobre possibilidades para o futuro”
(Reis, 2014, p. 27). Ou seja, o processo de coaching determina que as “possibilidades para o
futuro” serão descobertas nas sessões de coaching por meio de perguntas sobre os desejos de
indivíduos que buscam concretizar, a partir daquilo que é determinado pelo indivíduo como
insuficiente.
performance direcionada para o alcance de resultados por meio de uma dedicação e esforço
por parte do indivíduo. Como colocam Bachkirova, Cox e Clutterbuck, (2010) o coaching é
otimizar a eficácia pessoal”28. A partir disto, observa-se que o crescimento de uma demanda
de mercado por um indivíduo mais produtivo pode ser correspondido por meio das técnicas de
28 recognized as a powerful vehicle for increasing performance, achieving results and optimizing personal
effectiveness (Bachkirova, Cox e Clutterbuck, 2010, p.1)
76
nova perspectiva de como os indivíduos devem desenvolver-se e quais devem ser seus
parâmetros de progresso.
no Brasil, este aspecto é ainda incipiente, uma vez que a prática tem crescido num ritmo mais
acelerado do que a teoria, de forma que produções nacionais sobre coaching ainda são
definição do que concerne à prática, é entendido pelos estudiosos da área enquanto fase do
Clutterbuck, 2010 & Grant & Cavanagh, 2004), porém, tal aspecto torna complexo delimitar a
“necessidade de relatos sobre um panorama do que é o coaching e como ele pode ser
genéricas e comerciais que atualmente costumam representar o coaching no Brasil” (p. 364)
correlacionado à ideologia do mérito, demonstra que ambos têm crescido sem estudos os
quais possibilitem tanto analisar suas possíveis correlações, quanto averiguar sua função e
29 Consumers of coaching services have grown progressively more sophisticated (Grant & Cavanagh, 2004,
p.2)
77
pesquisas.
haja perspicácia por parte das empresas, para que seja possível acompanhar as mudanças e
garantir sua manutenção no mercado, sendo que as empresas com melhores resultados são
coaching enquanto uma ferramenta que tem cooperado para a responsabilização do indivíduo
teórico já apresentados, parece que tal prática do coaching está desenvolvendo-se sem uma
uma ferramenta e metodologia que possibilita tal empreitada (Karawejczyk & Cardoso, 2012).
Sobre tal aspecto, é possível observar que a perspectiva da meritocracia se apresenta de modo
a corroborar para a mesma empreitada. Barbosa (2003, p. 81) coopera ao pontuar que “[...]
De acordo com Batista e Cançado (2017) “mais de 40% dos chief executive officers
(CEO) e 90% dos altos executivos americanos já usaram a técnica [do coaching]. Na
Inglaterra, segundo a Bristol University, 88% das organizações também são adeptas da
prática” (p. 27). Para além, discorrem que o coaching movimentou, em 2008, nos Estados
Unidos, 2,4 bilhões de dólares, o que demonstra a explicitação de McLean (2012) de que é
intuito de oferecer serviços de consultoria ou como um meio de agregar valor seu ao próprio
(Frank Besser Consultant, 2009), corroboram para a afirmação supracitada, ao demonstrar que
em 2009 havia no Brasil cerca de 1000 coaches executivos, os quais frequentaram alguma
Ainda que neste período o relatório tenha caracterizado o número de coaches no Brasil
enquanto baixo, discorre que a presença de associações “sugere que os órgãos de treinamento
maneira mais local” 30(Frank Besser Consultant, 2009, p. 10). No que tange ao cenário
30 suggests that coaching bodies are actively shaping the development and understanding of coaching in a more
local way (Frank Besser Consultant, 2009, p. 10)
79
mundial, a pesquisa trouxe que existiam por volta de 44.000 coaches, sendo que 80% destes
2009).
que existiam cerca de 47.500 coaches globalmente, enquanto que na América Latina
somavam-se 2.600 profissionais. A mesma instituição publicou uma nova pesquisa em 2016,
a qual aponta a presença de 64.100 sujeitos em âmbito global que atuam enquanto coaches,
nível global, a qual desenvolve pesquisas e produções teóricas sobre a área no intuito de
melhor delimitá-la e fornecer credibilidade para o meio (The Association for Coaching, 2015).
e conquista, há uma previsão da Sociedade Brasileira de Coaching de que, até 2020, haja
(2018) devido as mudanças no mercado de trabalho que fazem com que as pessoas busquem
decorrência dos resultados positivos gerados por meio de seus métodos de desenvolvimento
pessoal e organizacional. Entretanto, entende-se que estas demandas por mudanças se dão
portanto “é capaz que o coaching esteja sendo visto como uma ferramenta capaz de auxiliar as
pessoas a lidar com esse novo contexto de trabalho” (Oliveira-Silva et al., 2018, p. 369).
Logo, observa-se que este tem se apresentado enquanto efetivo, ou seja, de fato gera
influenciem na vida dos indivíduos, assim há uma ampliação do âmbito empresarial para o
uma sistematização da demanda orientada para atingir os melhores resultados e delimita seu
identificar os seus benefícios, não somente para os líderes, mas também para os
mudanças tecnológicas corroboraram para uma maior flexibilização das relações de trabalho,
arranjos de carreiras tradicionais. Em outras palavras, atualmente a carreira não é mais apenas
ao longo da vida, mas como uma sequência de experiências que comporta alterações de
discursivamente positivo pelos adeptos do coaching, coloca que este indivíduo tem de ser
cotidiano, posto que a dinamicidade das relações de trabalho, do mercado e das organizações
este ainda depende da venda de sua força de trabalho para reprodução da vida cotidiana. Nesta
perspectiva, isto se dá por meio do compartilhamento de uma ideologia de que seria possível
Para além, ainda de acordo com Bernardo e Pereira (2017) a incorporação de tal
relações de trabalho e na “flexibilidade dos contratos”. Pereira (2018) pontua que isso
corrobora com a busca das empresas por trabalhadores mais competitivos e eficientes e que
culmina em uma “volatilização dos salários, piora das condições laborais e desmantelamento
Oliveira-Silva et al. (2018) pontua que o meio pelo qual o coach instrui o coachee é
por meio da denominada prática não-diretiva, pautada em perguntas abertas as quais visam
que o indivíduo que esteja passando pelo processo se responsabilize pelas suas mudanças,
sendo protagonista ao criar seu próprio plano de ação e estabelecer suas metas, assim o coach
autônomo, o qual busca o serviço do coach para investir em seu próprio desenvolvimento,
Por ter como pontos principais o foco, a ação e resultados, o coaching faz com que os
líder (coach). O importante é que faça este colaborador (coachee) refletir, pensar,
Posto que o coach é apenas o profissional que conduz o processo, que pode ser
organiza a agenda e ele mesmo é quem determina quais metas serão atingidas” (p. 365).
também para o progresso e ganhos para organização, ainda que o discurso difundido priorize
os ganhos individuais dentro de uma perspectiva de trabalho flexível. Assim, esse indivíduo
pode ser considerado enquanto um sujeito meritocrático, pois terá as habilidades necessárias e
provará o seu esforço por meio do desempenho apresentado, sendo o coaching uma proposta
ideologia.
83
entre o perfil almejado de profissional nos dias atuais e o sujeito meritocrático. No que tange
como segue:
Criativo, habilidoso, perceptível a novas situações, ágil nas respostas e ainda deve
sua formação, ou seja, para ser um bom líder o profissional deve possuir o máximo de
Com isso, pode-se observar que a descrição do profissional almejado pelo coaching é
Barbosa (2003), ambos devem ser criativos, autônomos, habilidosos etc. Não obstante, ao
trazidos pela ferramenta do primeiro são compreendidos enquanto uma proposta que visa
Outro aspecto que corrobora para que seja possível fazer as primeiras aproximações
critérios para avaliação de indivíduos e uma perspectiva que entende o progresso a partir do
coaching deve ser aplicado em situações diversas dentro das empresas, tais como: avaliação
necessidades de novas competências e necessidades nos negócios, como, por exemplo, maior
Por fim, no presente trabalho buscar-se-á colaborar com o avanço dos conhecimentos
sobre o coaching e a meritocracia. Para isso, propõe-se a análise dos discursos, práticas e
públicas e seus suportes. No website institucional é possível ter acesso a informações sobre a
proposta metodológica e seu criador, assim como descrições dos cursos, a estrutura das
unidades institucionais, e-books gratuitos, podcasts, vídeos, entre outros. A instituição, tendo
seu criador como autor, ainda publicou livros sobre, por exemplo, o desenvolvimento
1.5 A FEBRACIS
inicialmente denominava-se Instituto Paulo Vieira. Em seu vídeo institucional de 201931, esta
é descrita enquanto a maior instituição de coaching do mundo e Paulo Vieira, seu fundador,
inteligência emocional de toda a América Latina” (Vieira, 2015, p. 15), “tido como o futuro
do coaching por conseguir, em um prazo muito menor, produzir resultados muito maiores e
efetivos do que o coaching tradicional”¹. Entretanto, ainda que se auto-intitule como uma
possuir uma autoridade comum, com objetivos comuns, associados em uma unidade, a
Federação. No caso da FEBRACIS compreende-se que seu criador se apresenta como uma
autoridade máxima, e não a instituição apenas, e que, para além, construiu filiais de sua
Ainda que não haja uma explicitação científica (ou de outra ordem) pertinente sobre
nenhum dos dados apresentados pela FEBRACIS, esta faz uso constante de superlativos
Paulo Vieira, como se observa também em “Paulo Vieira, o maior e mais experiente coach do
Brasil”¹. Percebe-se que há entre Vieira, suas publicações editoriais, a reprodução massiva de
sua imagem, e a instituição FEBRACIS uma vinculação que torna tênue a linha entre o
profissional de coaching e a instituição, ainda que esta seja descrita, novamente, enquanto
uma Federação.
alavanca a imagem comercial ora da instituição, ora do próprio Paulo Vieira, dando enfoque
aos livros escritos por Vieira, os cursos (ministrados pelo mesmo) e outros produtos
ser consideradas, como o canal de divulgação na plataforma YouTube com diversos vídeos
diários contatos via endereço eletrônico e telefônico para que efetuam cadastro na página
oficial da instituição.
Paulo Vieira, PhD em Master Coaching pela Florida Christian University, “com
Brasileira de Coaching Integral Sistêmico (FEBRACIS)” (Taunay, Souza & Vieira, 2014, p.
7) descreve sua trajetória pessoal como uma “história de superação”, discorre que descobriu
86
ser seu próprio “sabotador” após “uma série de privações entre os 17 e 30 anos” e um
humana funcionava”, Vieira pontua que, apenas um ano após iniciar práticas pautadas em tais
estudos, mudanças pessoais o possibilitaram alcançar os bens materiais que almejava, como
aquisição de imóvel particular, automóveis e “tudo isso de modo mais ou menos consistente,
bem consistente até”32, sendo tal história utilizada recorrentemente em vídeos de acesso
preponderante para o seu sucesso individual, confluindo com o que pontua ser seu lema: “tem
poder quem age”². Apesar do título de criador do método CIS, Vieira não se autointitula como
um “sujeito inteligente”, mas descreve que seu sucesso individual está intimamente vinculado
às trocas e trabalho conjunto dos indivíduos que compõem seu cotidiano profissional e
pessoal.
Pode-se observar que a descrição da trajetória individual de Paulo Vieira (PV) ilustra o
que fora apresentado por Barbosa (2003), McNamee e Miller Jr. (2014) e Littler (2018), ou
seja, PV se apresenta como um sujeito que possui uma inteligência, que se esforça
(doentiamente persistente), sendo competitivo e autônomo, posto que constrói uma narrativa
da sua história pessoal que apresenta as pessoas do seu entorno de modo secundário. É dado
enfoque ao poder, associado as suas ações individuais, responsabilizando-se pelos seus ônus e
bônus, e descrevendo sua história de superação como um self made man, o qual, após uma
32 Material disponível em entrevista de Paulo Vieira para o canal “papo foda”. Disponível em sua mídia
de comunicação oficial na plataforma Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=XXIbFHEyFjI
87
Performance” (2017b) de acordo com o ranking de livros mais vendidos no ano de 2018 da
“Poder da ação” (2015) ainda ocupava o 5º lugar nesta mesma lista. Em termos quantitativos,
especificando o título. Ainda assim, é possível observar o alcance popular dos livros escritos
pelo autor do método CIS. Para além dos títulos citados, Vieira possui mais oito livros
ação para crianças” (2018), escrito em parceria com o cartunista Maurício de Souza.
Além das publicações editoriais, na página oficial da instituição é possível ter acesso
gratuito a 20 e-books que abordam temáticas como a gestão de si, inteligência emocional,
vícios emocionais, liderança, foco e afins35, assim como testes sobre domínio e inteligência
Luanda, Boston, Orlando e Lisboa. Em entrevista², Vieira pontua que no total possui cerca de
amplitude é demonstrada por meio de qualificações além da geográfica, dado que em termos
espaciais possui mais de 30 mil m². No que tange ao alcance da difusão de seu método e
formação de novos coach expõe que houve 300 turmas de formação, sendo 18 mil coachs
treinados com método CIS, mais de 310 mil sessões de coaching realizadas e mais de 600 mil
Riqueza, CIS Assesment, entre outros, abarcando sua perspectiva integralista de ajudar seus
crescer e contribuir”. Explicita que criou uma matriz, por meio de um cálculo matemático o
qual “descreve como a pessoa é” (matriz de plenitude) e que por meio deste mapa é possível
observar quais são os “quadrantes de plenitude” que devem ser desenvolvidos pelo indivíduo
para que este alcance suas metas, enriqueça, mas que também “impacte a vida daqueles que
estão ao seu redor”. Assim, Vieira coloca que quando há o desejo de prosperar
as coisas acontecem”.37
Vieira ainda explicita que dorme “pensando em como ganhar mais e prosperar” e em
como “ajudar pessoas”, para além, coloca que uma “dica” para indivíduos prosperarem é o
autoquestionamento, pois “se as coisas não estão dando certo é porque tem algo errado em
você, e não nos outros. Se você não tá ganhando dinheiro, tem algo errado em você e não nos
37Material disponível em entrevista de Paulo Vieira para o canal “papo foda”. Disponível em sua mídia de
comunicação oficial na plataforma Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=XXIbFHEyFjI. Minutagem:
8’25’’
89
outros. Se o seu casamento não tá bom, se alguma coisa não tá bem, se sua empresa não tá
explanado pela FEBRACIS, seu objetivo é “impactar vidas”39, sendo isso feito por meio de
frases que remetem a grandiosas alterações na condição de vida dos indivíduos, seja
integral sistêmico”, ou mesmo “alcance os resultados que você busca em sua vida pessoal e
sem fontes de referências que garantam sua validade científica, ainda que sejam explicitados
website da FEBRACIS e desenvolvido pela mesma, o qual não faz menção aos números
citados, apenas busca apresentar o método CIS, não tendo sido publicado em periódico
científico. Desenvolvida por Taunay, Souza e Vieira (2014)40, a pesquisa busca comprovar a
38Material disponível em entrevista de Paulo Vieira para o canal “papo foda”. Disponível em sua mídia de
comunicação oficial na plataforma Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=XXIbFHEyFjI. Minutagem:
8’56’’
humano” (Taunay, Souza & Vieira, 2014, p. 3). Vieira (2017a) acrescenta que o método CIS
do indivíduo.
A pesquisa desenvolvida pela instituição (Taunay, Souza & Vieira, 2014) fora de
foram feitas em dois momentos distintos, o primeiro no início do curso e o segundo um ano
com os resultados obtidos, ainda que os autores discorram sobre a necessidade de maiores
O curso Método CIS é capaz de viabilizar uma nova perspectiva de vida, libertadora e
instigante, que transforma não apenas a relação do sujeito consigo mesmo, bem como
suas relações sociais e afetivas. Esta iniciativa se faz necessária no contexto atual da
91
familiares, sociais e trabalhistas, de modo que o curso pode ser importante não só para
a transformação do indivíduo e sua saúde física e mental, mas para a sociedade como
distribuídos entre cursos e palestras para que os seus clientes atinjam tal nível de
Método CIS mediante autorização médica por escrito. Reafirmamos essa informação, pois o
riqueza” e “Formações em coaching” e o “Método CIS”, o qual em 2014 possuía cerca de 600
participantes por edição (Taunay, Souza & Vieira, 2014). Os outros cursos oferecidos são:
foco na prática; formação em orientação vocacional; power business; jeito de viver família
para coaches; poder e alta performance para alunos; decifre e influencie pessoas; o poder da
coaching individual; coaching pra metas; como prosperar em qualquer carreira e negócio;
como prosperar no mercado do coaching; como vender tudo com marketing digital; CIS
coaching for money.42 Ressalta-se a americanização dos termos, deflagrando uma influência
estes o “Green Belt”, composto por 452h e pelos seguintes cursos: método CIS, formação em
“Golden Belt”, inclui todos os cursos da primeira modalidade e outros três, o advanced
excutive coaching, mindfulness, master coaching integral sistêmico, compondo, no total, 697h
Observa-se que o caráter holístico não é perceptível pelos títulos dos cursos, que fazem
referência a aspectos empresariais, levando a concluir que este é o aspecto o qual se sobrassai
A instituição expõe constantemente que tais cursos e palestras são pautados em teorias
emocional do método CIS, entre outros. De um modo geral, o discurso veiculado nos
materiais abordados (livros, sites, vídeos etc) é autointitulado como científico, ainda que
discorra sobre temáticas complexas de modo breve, superficial, com um uso indiscriminado
de jargões científicos que são mesclados com conceitos do método CIS. Tal aspecto é possível
de ser ilustrado a partir de uma fala de Paulo Vieira, o qual culpabiliza a vítima em uma
palestra sobre relacionamentos abusivos por meio de um discurso individualista, como pode-
é você quem tem de mudar [...] pessoas que são abusadas são abusadas
são crenças limitantes sobre quem você é. A nossa estrutura, a nossa formação, a nossa
psique, a formação do seu indivíduo é formado por três crenças primais [...] a base da
Vieira pontua que no Brasil o suicídio é uma epidemia, sendo sua principal razão a
dificuldade, por parte do suicida, em lidar com a frustração e a sua falta de “músculos
preponderantemente na classe média brasileira, pois os pais não permitem que seus filhos se
frustrem, não falam “não” para estes, gerando pessoas “frágeis emocionalmente”. Observa-se
Ele perdeu o emprego por não saber trabalhar em equipe. Ela perdeu a família por não
conseguir abraçar o próprio filho. Ele perdeu a saúde por estar mergulhado em vícios.
Ela perdeu os amigos por nunca ter pedido perdão pelo o que fez. Ele perdeu a esposa
por não conseguir mais dizer eu te amo. Ela perdeu os pais por ser orgulhosa e cheia
de rancor. Ele perdeu grandes oportunidades de crescer na carreira por não ter foco e
nunca concluir o que começa. Eles perderam a vida inteira por nunca admitir que
precisavam de ajuda. O que mais você vai perder por não ter inteligência emocional?
Que oportunidades você ainda vai perder porque não aceita que precisa mudar? Seu
maior oponente é você mesmo! Método CIS, o maior curso de inteligência emocional
Para Vieira (2017a), indivíduos que possuam inteligência emocional (IE) são dotados
Goleman por Vieira (2017a), o qual explicita que a inteligência emocional se divide em dois
domínios principais, a competência pessoal e social. No que tange à primeira, entende-se que
modo, estando apto a crescer e desenvolver de maneira continua” (Vieira, 2017a, p. 41), já a
pessoas à sua volta e, dessa maneira, contribuir com o crescimento delas” (p. 47).
Vieira (2017a) expõe que a IE é alcançada apenas quando o indivíduo for capaz de se
responsabilizar por todo seu crescimento nas mais diversas áreas da vida. No livro “O Poder
crença de que você é o único responsável pela vida que tem levado; sendo assim, é o único
Não obstante, Vieira (2017a) entende que para o indivíduo ser autorresponsável e
compreender os aspectos do mundo que o cerca e também do seu mundo interior [...] permite
entender os “porquês”, as causas e efeitos do que acontece em nossas vidas” (Vieira, 2017a, p.
54). Em suma, pode-se compreender que o indivíduo, para possuir uma vida plena e feliz,
com altos índices de produtividade, deve obter “consciência” e enlaçar todos os âmbitos de
sua vida aos conceitos propagados pela instituição, sendo um dos principais a
pessoal e desenvolvimento.
como os agentes veiculam suas imagens e falas para melhor ilustrar um discurso à ser
apresentam-se como uma fonte de materiais profícuos para o aprofundamento dos estudos
1.6 Objetivos
aparece em práticas e discursos por meio da análise de materiais de ampla distribuição de uma
estudar os discursos e práticas da instituição a partir dos materiais dos livros “O poder da
institucional. 3. Discutir suas aproximações com alguns dos conceitos foucaultianos, como o
2. Metodologia
da análise documental (Cellard, 2012; Spink et al., 2014), associado à ferramenta da análise
temática apresentada por Souza (2019). Ambos os métodos foram escolhidos e associados por
organização e descrição de documentos visando sua análise (Cellard, 2012; Souza, 2019).
compreendendo-se que este é “tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de
especificamente, na presente pesquisa foram utilizados apenas documentos públicos, que são
toda e qualquer matéria escrita produzida para a leitura e o uso pelo público em geral
ou para um público específico. Por escrita entende-se desde avisos escritos à mão e
tem uma presença física; que fala sobre algo e é também algo (Spink et al., 2014, p.
207)
Ao exposto, Spink et al. (2014) acrescenta que podem ser utilizadas páginas
objeto, apontando seus pontos importantes e relatando o endereço da fonte acessada e o dia de
acesso. Como pode-se observar, neste trabalho tais informações são acrescidas como notas de
rodapé. Ademais, Spink et al. (2014) acrescenta que os documentos eletrônicos devem ser
98
gravados, de modo que foram tiradas fotos eletrônicas das páginas mencionadas no texto, as
Delimitou-se o livro “O poder da ação”, pois este demonstrou ser propositivo no que
um dos principais conceitos (também denominado enquanto uma ferramenta) do CIS. No site,
o indivíduo tem acesso a diversos formatos de informações gratuitas diferentes, como vídeos,
podcasts e e-books, uma loja virtual com livros e souvenir, assim como inscrições para
palestras e cursos em 23 Estados do país e países no exterior, como Portugal, EUA e Angola.
Entende-se como pertinente a escolha deste material para uma análise dada à
alcança e os fluxos de capital que movimenta. Posto isto, visando compreender e apreender os
discursos e práticas meritocráticas não se pode perder de vista sua inserção no atual sistema
relevantes, dado seu amplo alcance a população e facilidade de acesso, posto que para os
livros, “a única restrição de acesso é o fato de que alguém precisa comprá-lo [...] o conteúdo é
livre para ser descrito, comentado e referenciado para outros também tecerem suas opiniões”
(Spink et al., 2014, p. 208). Com isso, ressalta-se a fecundidade dos materiais, posto que
ideias, argumentos, sentidos e propostas estão sempre em circulação, sendo tal circulação o
que fomentadora de seu debate a partir da visibilidade fornecida (Spink et al., 2014). O debate
é relevante dado que os de domínio público são produtos sociopolíticos de uma ideia radical,
os quais possibilitam discussão que se formam novas opiniões (Spink et al., 2014). Neste
partir da memória não seriam possíveis (Cellard, 2012). Para tais reconstruções e no que se
refere à análise temática, foram utilizados temas/categorias visando buscar por padrões,
os temas (Souza, 2019). Ainda a partir de Souza (2019), entende-se que a análise temática não
é um método que deve ser utilizado isoladamente, mas de modo complementar a outros
métodos, como no caso, a análise documental. Com isso, esta será apresentada ao longo da
composta por cinco dimensões preliminares à análise propriamente dita: (1) no exame do
contexto social global no qual foi produzido o documento, (2) os autores, (3) a confiabilidade
o exame do contexto social global no qual foi produzido o documento, em que está
mergulhado seu autor e aqueles a quem foi destinado, ou seja, é necessário abordar a
100
(Cellard, 2012).
conjunturas que dizem sobre a meritocracia e a FEBRACIS, como fora pontuado por Cellard
(2012), delimitando assim o seu contexto. Para construção do referencial teórico sobre
fora feita uma filtragem dos materiais, visando delimitar as principais referenciais, ou seja,
econômicos, sociais, políticos, culturais. O mesmo procedimento lógico fora executado para o
Dimensão 2: A segunda dimensão apontada por Cellard (2012), a do autor, pode ser
quem foi seu autor; quais as condições de sua escrita; qual era o contexto; em que e
com quem seu autor estava envolvido; quais eram seus valores e crenças? Sendo que,
ao mesmo tempo, nosso olhar também pode estar voltado para nós mesmos ao
Cellard (2012) considera que elucidar a identidade do autor possibilita avaliar melhor
entretanto, observa-se de antemão a relevância de Paulo Vieira, posto que é autor dos livros,
criador do método ofertado e presidente da FEBRACIS. Com isso, tal dimensão torna-se
relevante para presente análise, sendo necessário averiguar de que modo isto se dá. Não
101
obstante, corrobora para o primeiro passo da análise temática, a familiarização com os dados a
procedência do documento (Cellard, 2012). Cellard (2012) ressalta que é importante estar
atento à relação entre o autor e o que é descrito, questionando aspectos como: Ele foi
testemunha direta ou indireta do que relata? Ele reportou as falas de alguma outra pessoa? Ele
poderia estar enganado? Ele estava em posição de fazer esta ou aquela observação, de
estabelecer tal julgamento? (Cellard, 2012). Considerando que os livros foram adquiridos na
Cellard (2012) cooperarão para apontamentos que foram utilizados nos resultados e análise.
posto que a estrutura do texto pode variar de acordo com contexto no qual ele é redigido
(Cellard, 2012), a saber entende-se que o por serem documentos públicos, os suportes livro e
a lógica interna do texto analisado, ou seja, ao sentido dos termos empregados pelo autor,
Na análise temática são seis os passos delimitados por Braun e Clark (segundo Souza
2019): I - familiarização com os dados; II -geração de códigos iniciais; III - busca por temas;
(Souza, 2019). É a partir do vaivém constante entre o banco de dados e a constituição destas
102
seja, os padrões a serem considerados para a produção das análises (Souza, 2019). A análise
as dimensões da análise documental, pois demanda um contato repetitivo com o material a ser
analisado (Souza, 2019), tendo sido feitas leituras e consultas exaustivas ao longo de todo
explicitar seu uso. Considerando a aproximação com conceitos chave e com a lógica interna e
geral do texto analisado, na segunda etapa da análise temática, foram extraídos códigos
a partir da familiarização com o material, visando a posterior divisão nos temas (Souza,
2019). Neste momento foram produzidos os quadros auxiliares I (Apêndice 1), o qual contém
os principais pontos abordados em cada capítulo de cada livro e nas abas identificadas no site,
potenciais, de modo mais abrangente, Souza (2019) esclarece que alguns destes podem
desaparecer, enquanto outros podem tornar-se temas. Desta forma, considerando os quadros
construção dos materiais analisados, sendo estes três elementos utilizados enquanto crivo.
apresentam um padrão observável e estão coerentes de acordo com o banco de dados (Souza,
2019). Com isso, a partir dos elementos elencados em ambos os quadros, fora possível
103
determinados dos elementos ao longo dos documentos. Para cada tema fora delimitada uma
cor e os respectivos trechos considerados equivalentes foram grifados ao longo dos dois
quadros auxiliares.
resultados utilizados na análise. Ao se debruçar sobre os temas, pode-se ser que haja
subtemas, temas dentro de um tema, os quais podem ser úteis para estruturar um tema maior e
mais complexo, bem como para demonstrar a hierarquia de significados dentro dos dados
(Souza, 2019). Neste processo compreendeu-se que alguns dos temas apontados eram
abordados de modo associado a temas mais amplos, logo, os temas e subtemas delimitados
disseminação da FEBRACIS” se encontra pulverizado entre os outros temas, não tendo sido
utilizado nos temas finais. Com isto, produziu-se os resultados dos materiais analisados, que é
uma apresentação dos elementos destacados a partir das leituras da pesquisadora de modo
coerente, no intuito de fornecer uma visão geral do que se encontra nos materiais, do método
A sexta etapa, e última da análise temática, consiste na escrita da análise em si, o qual
precisa explicitar ao leitor a descrição da história que os dados contam, fornecendo evidências
destes, mas também uma narrativa analítica que vá além da descrição (Souza, 2019). É na
104
considerando que, como todo o processo que levou a análise, a abordagem se caracteriza
como indutiva e dedutiva (Cellard, 2012). Neste processo o pesquisador desconstrói, tritura
seu material à vontade; depois, procede a uma reconstrução, com vista a responder seu
Para chegar a isso, ele deve se empenhar em descobrir as ligações entre os fatos
coerente e realizar uma reconstrução de um aspecto qualquer de uma dada sociedade, neste ou
do que foi possível extrair da análise temática, o que permitiu tomar consciência de suas
da análise. Foram as combinações possíveis entre os diferentes elementos contidos nas fontes
que estabelecem relação com o contexto, à problemática, ou ao quadro teórico, devendo ser
se ser importante formular, desde o princípio, algumas ideias diretrizes, propondo um quadro
É neste sentido que se recorreu aos escritos e conceitos de Foucault enquanto parte do
desenvolvimento da análise a partir dos temas delimitados e do direcionado dado pelo autor
análise do material coletado a partir do livro “O poder da ação” (Vieira, 2015), “O poder da
mais direto a um público amplo e fornecem uma concepção geral da teoria e prática da
Michel Foucault e os outros teóricos já acionados ao longo deste trabalho, autores como
Dardot e Laval (2016), Elias (1994), Weber (2014) entre outros contemporâneos também irão
compor os debates que seguirão nas análises dadas suas contribuições para se pensar a
instituição FEBRACIS.
FEBRACIS. Foucault (1979/2019a) se detém sobre a questão do que é o poder, sem almejar
sua conceituação, como em uma teoria do poder, mas busca saber: quais são “em seus
os corpos ao ponto de produzi-los, que não se encontra apenas em âmbitos institucionais, que
não se detém, não se troca, mas que “se exerce, só existe em ação, como também da
econômicas, mas acima de tudo uma relação de força” (Foucault, 1979/2019a, p. 274). Com
isso o poder não é uno, mas sim múltiplo, são os poderes, em sua pluralidade, que permeiam
poder se exercendo sobre o próprio corpos dos indivíduos”, funcionando como malhas em
uma rede sem “praias de liberdades elementares”, sendo as relações de poder intrincadas a
uma única forma de manifestação de poder, como o castigo ou a interdição, mas respondem a
compreende como em percepções clássicas sobre o poder. Explicita que este serve a relações
de dominação, como o interesse econômico, mas que não está “à serviço” de poderes
que não há relações de poder sem resistências, que estas são tão mais reais e eficazes
quanto mais se formem ali mesmo onde se exercem as relações de poder; a resistência
ao poder não tem que vir de fora para ser real, mas ela não é pega na armadilha porque
ela é compatriota do poder. Ela existe tanto mais quanto ela esteja ali onde está o
poder; ela é, portanto, como ele, múltipla e integrável a estratégias globais (Foucault,
consciência do próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo
pelo poder” (Foucault, 1979/2019a, p. 235), ou seja, o poder interfere diretamente na forma
subjetivos, como os comportamentos, pensamentos e condutas, mas não apenas por meio de
coerções e dominações punitivas. O poder é forte “porque produz efeitos positivos no nível do
desejo […] e também no nível do saber. O poder, longe de impedir o saber, o produz” (p.
239). O corpo responde a uma demanda de sujeito da sociedade atual, “resta estudar de que
Foucault (2014, p. 31) propõe uma análise dos investimentos políticos do corpo em suas
serve à sua utilização econômica e, enquanto força de produção, o corpo é investido por
relações de poder e de dominação, ainda que só se organize enquanto força de trabalho por
estar preso a um sistema de sujeição que torna a necessidade humana um instrumento político.
Com isso, “o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e
ideologia” (Foucault, 2014, p. 29), pode ser uma sujeição direta, física, ou mesmo agir sobre
elementos materiais sem usar a força física, em suma, pode haver um controle sobre o corpo
que se constitui no que Foucault denominou como tecnologia política do corpo, uma
microfísica do poder que se apresenta por meio de estratégias, com seus efeitos e
mecanismos, que são postos em jogo pelos aparelhos e instituições. Assim, tal microfísica se
deve ser observada a partir de suas técnicas de funcionamento, em sua característica daquele
investimentos das relações de poder e de saber, fazendo do corpo um objeto de saber. Não se
desejo, faz com que queiram seguir determinadas condutas, acreditem e (re)produzam
Assim, como coloca Ayub (2015) o poder se faz presente na produção de desejos,
a obediência política dos indivíduos, produção de saberes, normas, instituições e etc.” (Ayub,
2015, p. 32-33)
109
representatividade social que possa irromper. Assim, Foucault (1973/2002) situa que se criam
como uma forma de ortopedia social, representada principalmente pelo panoptismo, uma
vigilância que se exerce ao nível “não do que se faz, mas do que se é; não do que se faz, mas
do que se pode fazer” (Foucault, 1973/2002, p. 104), individualizando cada vez mais o autor
do ato e colocando em evidência para que seja possível uma constante vigilância, seja está por
parte do indivíduo ou dos outros, do ser ou estar bem sucedido de acordo com os padrões
A disciplina “fabrica” indivíduos por meio da produção de corpo dóceis, alvo e objeto
de poder que o manipula, modela, treina, torna-o hábil a partir de forças ininterruptas
processos empíricos e refletidos para controlar ou corrigir as operações do corpo”. Com isso,
os “mecanismos de poder”, atuam como forças que permitem o controle minucioso das
operações do corpo (sua atenção ao detalhe, sua microfísica) e impõe uma relação de
É por meio de práticas de exame que se observam técnicas de uma hierarquia que
vigia e sanções que normalizam, “é um controle normalizante, uma vigilância que permite
qualificar, classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade por meio da
qual eles são diferenciados e sancionados” (Foucault, 2014, p. 181), logo, podem ser
excluídos. O exame sanciona o aprendizado, a correspondência dos sujeitos para com a norma
estabelecida, ele avalia por meio de “provas” e valida aptidões, assim, “o exame supõe um
mecanismo que liga um certo tipo de formação de saber a uma certa forma de exercício do
O exame então promove uma objetivação dos indivíduos, torna-os o foco e impõe sua
visibilidade, sendo justamente esta que “assegura a garra do poder que se exerce sobre eles. É
o fato de ser visto sem cessar, de sempre poder ser visto, que mantém sujeito o indivíduo
disciplinar” (Foucault, 2014, p. 183). Assim, para manter tal vigília, os corpos necessitam ser
jurídicas” (1973/2002), na qual considera o panóptico uma forma de poder que repousa sobre
mesmo tempo que vigia, constitui um saber sobre os indivíduos. O exame serve assim para
vigiar como se deve ou não conduzir, se progride ou não, ordenando-se em torno da norma,
do que é normal ou não, do correto ou não de ser feito e, o angariar informações sobre os
indivíduos, se configura não apenas como uma prática de poder, mas de um mecanismo de
qual “as técnicas que permitem ver [a disciplina] induzam a efeitos de poder, e onde, em
construção, de modo que ao longo de suas grandes obras, como a “História da Sexualidade I –
Foucault traz uma descrição mais diretiva do que é dispositivo em entrevistas que
forneceu, dentre elas, a “Le Jeu de Michael Foucault” (1977), publicado no Brasil na
em primeiro lugar:
passagem dos estudos da arqueologia do saber, que engloba as pesquisas de Foucault ao longo
da década de 60, para a genealogia do poder. Piovezani e Curcino (2014) situam a relevância
do fazer, do ver, logo, do ser (Piovezani e Curcino, 2014, p. 42, grifos dos autores).
poder e saber […] deve-se conceber o discurso como série de segmentos descontínuos, cuja
função tática não é uniforme nem estável” (2019b, p. 109), ou seja, é na prática discursiva que
é possível observar os caminhos exercidos pelas relações de força e que, ainda a partir do
autor, o discurso deve ser compreendido em sua multiplicidade de elementos que podem
entrar em estratégias diferentes. Por exemplo, considera-se a posição de poder de quem fala, o
contexto em que fala como parte de elementos que compõe um complexo jogo entre discurso
e poder em que
discurso veicula e produz poder; reforça-o mas também o mina, expõe, debilita e
certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar
1970/1999a, p. 9), assim, entende-se que há uma produção discursiva presente na sociedade
que é atravessada por procedimentos que são determinantes e determinados pelos jogos entre
forças do que é possível dizer (ou não), por quem, em que contexto e afins. Logo, o discurso
não é neutro, sendo objeto do desejo, tanto quanto aquilo que o oculta ou presenta, e
embrenha-se ao poder.
reconduzida pelo modo como "o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado,
distribuído, repartido e de certo modo atribuído" (Foucault, 1970/1999a, p. 17), sendo que a
tal vontade de verdade se apresenta como uma espécie de coerção e pressão sobre o discurso.
no discurso, tão vinculados ao desejo e ao poder, se exercem do exterior do discurso, mas que,
para além, existem procedimentos internos, "visto que são os discursos eles mesmos que
exercem seu próprio controle [...] que funcionam, sobretudo, a título de princípios de
sendo que constroem novos discursos, resgatam o velho, e misturam velho e novo, operando
ali no que é dito. Há assim menos uma causalidade do discurso do que um controle do
mesmo. Foucault situa ainda que existe um terceiro grupo que possibilita o controle dos
impor aos indivíduos certas regras a serem seguidas para que entrem na ordem do discurso,
estipulando certos campos de apropriação social dos discursos que o limita a determinados
indivíduos.
verdade sobre o mundo e sobre o homem, como esse deve ser, relacionar-se, o que deve
pensar e como deve cooperar para o desenvolvimento social. Veiga-Neto (2009) coloca que
numa versão probabilística – se chegue cada vez mais perto das “verdades
da razão humana em executar tal feito, construindo um ideal que se pauta nos conhecimentos
modo conveniente, propõe um ideal de homem que cooperaria para alcançar tais poderes que
Foucault (1979/2019a) compreende que a “verdade não existe fora do poder ou sem
poder” (p. 51), que esta é produzida devido a múltiplas coerções presentes no mundo e que
produz efeitos regulamentados de poder neste mundo. Foucault (1979/2019a) esclarece que
cada sociedade possui seu regime de verdade, uma política geral de verdade que emerge a
115
partir de tipos de discursos que são acolhidos e funcionam como verdades. Para isso,
circulação e o funcionamento dos enunciados” (p. 54) se faz presente e se dissemina por meio
de enunciados, veículos em sistemas de poder que a produzem e apoiam tal verdade. Para
além, a verdade se liga a efeitos de poder que ela mesma induz e que a reproduzem, criando
p. 30) colocam que, em última instância, há uma estreita relação entre discurso e dispositivo,
dispositivos. Com isso, o discurso tem uma função de produtividade tática, posto que produz
correlações de forças necessárias que são mobilizadas (Foucault, 2019b, p. 111). Com isso,
compartilham o princípio segundo o qual as ações dos sujeitos não são fruto das
sujeito a’ e de ‘ser sujeito de’, ao longo da história (Piovezani e Curcino, 2014, pp. 41)
116
relações de poder. Carvalho e Sargentini (2014) acrescentam ainda que o dispositivo são
transformadores dos indivíduos e, por consequência, do discurso, sendo que se deve pensar o
dispositivo a partir do discurso, e não se sobrepondo a ele, coloca-se ainda que uma de suas
discurso e dispositivo se fazem presentes na rede de elementos por onde flui o poder e a
3. Resultados
mecanismos que tangem a estruturação do discurso ao longo dos materiais, ou seja, serão
apontados a forma como Paulo Vieira constrói discursivamente uma prática que opera ao
longo do texto, aplicando o método CIS enquanto explicita o mesmo. A exposição se pauta no
presente pesquisa, em outras palavras, naquilo que concerne as relações e os efeitos de poder
que são operados pelo CIS e permeiam os corpos dos que buscam o método
disseminação de seu método e de que, para obter resultados extraordinários, o indivíduo deve
passar por todas as ferramentas do CIS, não apenas tendo dedicação na execução dos
coaching individuais. Para comprovar a eficácia do CIS, o coach relata uma história na qual
uma aluna do seminário do CIS recorreu a sua ajuda em prantos após uma relação
tinha antes do trauma. Ela melhorou não só em termos conjugais como também nos
relacionamentos de amizade. Hoje está casada, tem filhos e foi promovida. (Vieira,
2015, p. 223)
uma proposta metodológica, uma tecnologia (Vieira, 2017a, p. 28) criada por Paulo Vieira em
tradicional é expandido para trabalhar os lados racional e emocional do ser humano” (Vieira,
diversas áreas da vida, sendo estas “espiritual, parentes, conjugal, filhos, social, saúde, servir,
desconstrução de crenças, o método CIS traz em seu bojo um conjunto conceitual de técnicas
Vieira (2015, 2017a) compreende que a sociedade se constitui por meio de indivíduos
de sucesso, como aqueles que possuem reconhecimento social (por exemplo, Nelson Mandela
e Luther King), e que todos os seres humanos são dotados de um poder inato e destinados a
uma vida plena e abundante. Nesta visão, é o esforço, as habilidades e a dedicação individuais
que colocam em prática o poder inato humano, assim, os indivíduos de sucesso tornam-se
figuras primordiais para o avanço social pois são possuidores de habilidades que articulam tal
poder inato, o qual habita o homem. Paulo Vieira, que está apenas cumprindo sua missão
bem e o mal, o certo e o errado, e vasto em recursos espetacularizados que buscam mobilizar
os afetos dos indivíduos, Paulo Vieira faz amplo uso dos ditos bordões pessoais, conceitos
tempo em que apresenta seu método em “O poder da ação”, aplicando-o por meio de suas
narrativas nos livros, cursos e no website. É interessante ressaltar que seu objetivo de
apenas um caminho, um fluxo. Aqui vou descrever e explicar cada passo do progresso
universal para que você possa trilhar sua jornada pessoal de mudança, crescimento e
Não obstante, constrói uma verdade que se diz científica e que deseja que seja
concretizada e absorvida por seus leitores, sendo esta verdade constantemente contraposta a
problemáticas da vida cotidiana, para as quais são propostas soluções que se pautam, parte em
do método CIS. O indivíduo, por sua vez, pagará o preço, investirá, para que “suas fichas
caiam”, e seu desenvolvimento seja alcançado “por meio de temas que combinam
do leitor e fazer com que ele assuma total responsabilidade pelos seus resultados, sejam eles
Paulo Vieira apresenta sua proposta de desenvolvimento humano por meio do método
CIS, principalmente em “O poder da ação” (2015), mediante sete passos compostos por
comunique-se, questione e creia) que visam impactar afetivamente o leitor para que este
desenvolva uma vida abundante e produtiva. De acordo com Vieira (2017a), crenças são as
lentes pelas quais enxergamos a nós mesmos e ao mundo, reflexos de nossas vivências
familiares, éticas, morais e dos valores que nos são transmitidos desde os primeiros anos de
vida, capazes de serem alteradas, haja vista que “toda crença é autorrealizável, portanto,
Vieira (2015) expõe que seu objetivo é “produzir estímulos emocionais e cognitivos
suficientes para haver novas sinapses neurais, uma nova e diferente maneira de conectar os
neurônios [...] e o melhor disso é que todas essas mudanças acontecem depressa, muito
depressa” (p. 220). O coach argumenta que, ao longo de todo o livro “O poder da ação”, seu
da infância e da puberdade, que, a partir do CIS, devem ser alteradas para que haja uma vida
precisão, focado e se questionando, então já está com boa e grande parte de suas crenças
refeitas, pode levantar a cabeça e sonhar com o que há de melhor dentro e fora de você”
Partindo da premissa de que “para o cérebro humano, real = imaginado” (Vieira, 2015,
p. 226), argumenta-se que existem indivíduos pobres que melhoram sua qualidade de vida,
pois são capazes de pensar e agir como pessoas ricas, mudando sua condição de vida. Assim,
neste viés argumentativo, um modelo de exceção daquele que consegue ter mobilidade social
é generalizado. Vieira (2015) argumenta que um dos diferenciais do método CIS, que
permitiu ao seu criador tornar-se professor nos EUA, fora sua capacidade de colocar em
121
prática os conceitos da neurociência de rede, sinapse e plasticidade neural por meio do poder
da ação presente em suas técnicas, que promovem forte impacto emocional e repetições que
2017a) apresenta aproximações, como ao propor uma prática a partir de tal área de saber, e
necessárias ao campo científico. Tal observação é recorrente, como é melhor ilustrado ao não
(Vieira, 2015, p. 219; Vieira, 2017a, p. 25), ainda que seja feita uma ampla citação direta.
aplicados a partir do CIS, sendo o primeiro “todos temos os recursos que necessitamos para
prosperar e ser felizes” (Vieira, 2017a, p. 132) e o segundo “se alguém pôde, você também
aprendizado de tudo que ele viu, ouviu e sentiu principalmente ao longo da infância
filhos capazes e vencedores não importando o meio em que estes vivem. E se o pai
O coach ainda evoca o teste ACE (Adverse Childhood Experiences), desenvolvido nos
EUA por Nadine Burke, que identifica dez tipos de traumas na infância, como, por exemplo,
ao leitor e são apontados dados quantitativos referentes à pesquisas que fizeram uso desta.
Vieira (2015) convida o leitor a fazer seu próprio teste ACE, que consiste em
havendo referências que explicitem se tais questionamentos foram desenvolvidos por Vieira
237).
autoestima, que “é o bem querer que uma pessoa tem por si mesma” (p. 229). Assim, utiliza
tal conceituação de base para dividir os indivíduos entre aqueles que possuem crenças de
2015, p. 231) e do seu potencial de realização são determinantes e determinadas para crença
salutar reprogramar as três crenças para que sejam alteradas as crenças disfuncionais geradas
“conhecer o próprio estado atual em cada área da vida [...] o início de toda jornada e de todas
as mudanças” (Vieira, 2017a, p. 31). Associado ao acordar, visa uma “autoanálise profunda,
(Vieira, 2015, p. 22). Em outras palavras, refere-se a uma tomada de consciência por parte do
123
leitor, que deve “cair as fichas” (Vieira, 2017a, p. 73) e que será adquirida por meio de
questionamentos propostos pelo autor no intuito de definir o que faz o indivíduo feliz e aquilo
(2015), com o intuito de proporcionar que “as fichas caiam”, questiona o leitor: “você tem
tremendo e, dessa maneira, conduzindo sua carreira e seu sucesso profissional?” (Vieira,
2015, p. 23). Descrito como um momento de dor intensa (fichas caindo), os questionamentos
devem cooperar ainda para o processo educativo e empático do reconhecimento de suas ações
e os prejuízos que estas podem trazer para si e para os outros ao seu entorno, ou seja, devem
A consciência é tida como a parte divina que habita o homem, que o permite se
conectar consigo, com o outro e com o mundo, veículo de compreensão para as causas, efeitos
e os porquês dos acontecimentos que perpassam uma vida (Vieira, 2017a). De acordo com a
seguida, deve-se adquirir autorresponsabilidade, uma visão positiva de futuro e, como último
conduzi-lo até sua visão positiva de futuro” (Vieira, 2017a, p. 87). Aspecto relevante, posto
que Vieira (2017a) dedica cerca de um dia ao binômio consciência-ciência e cerca de 14h
disfuncional. De modo sucinto, ter uma consciência plena tange a uma compreensão adequada
imperfeita “torna imprecisa a avaliação de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, causando
prejuízo a alguém” (Vieira, 2017a, p. 64), sendo indicado o processo de coaching integral
mundo, associada a pessoas mentalmente enfermas e indivíduos que tenham passado por
intensa dor ou trauma, sendo que apenas estes últimos não são passíveis de serem resgatados
pelo método CIS, os outros dois tipos de consciência podem ser regatados, caso estejam
A partir da perspectiva do CIS, Vieira (2017a) traz que, para ser feliz deve-se possuir
Assim, ser feliz é possuir as aptidões “emocionais necessárias à arte de se conectar consigo e
2017a, p. 11).
percurso para atingi-los e argumentando que “cada um tem a vida que merece” (Vieira, 2015,
p. 24), Vieira (2015) propõe ao leitor que seja um sujeito autônomo e voltado para a ação, que
pague “o preço das mudanças [e] desperte o gigante adormecido que existe em você” (p. 24).
2015, p. 23), ferramenta aparentemente desenvolvida pelo autor e presente nos dois livros
aspectos que tangenciam as áreas do método CIS, como família, trabalho, oportunidades e
dificuldades.
você a acordar e assumir sua real identidade, e garanto que este livro vai lhe ajudar a
descobri-la. Entre nessa viagem para conseguir trazer à tona uma nova atitude
desvencilhada dos resultados que você obteve no passado, assim como da autoimagem
Como se observa, a mobilização dos afetos sobre o leitor se faz por meio de uma
comunicação simples, direta e que busca implicar o indivíduo a atual condição de vida que
possa se encontrar, convocando-o a acordar, a olhar e a agir, retirando-o de uma posição tida
como passiva para uma posição ativa perante sua vida (Vieira, 2015, 2017a). Vieira (2015)
pontua que a mídia tradicional é a culpada por um distanciamento dos indivíduos da vida
indivíduos veiculam conteúdos de “morte, dor, medo, perda, traição, tristeza, mentira,
vingança, ódio, violência, cobiça, inveja, inversão de valores, e assim por diante” (Vieira,
alta precisão cognitiva no que deseja comunicar, vem também abarrotada de forte e
impactante conteúdo emocional, que atinge profundamente o ser humano nos dois
pela repetição incessante nosso cérebro passe a acreditar que todo esse lixo de
Assim, ao alienar o indivíduo, que recebe tais materiais com cada vez menos crítica,
estes passam a ser percebidos como normais e impeditivos para a vida abundante, tendo se
tornado fatos comuns na vida cotidiana, mas que não devem ser normalizados (Vieira, 2015).
Tais normalizações vão de encontro a perspectiva de vida abundante, neste sentido, Vieira
DISFUNÇÃO” (p. 25, grifos do autor). Para isto, aponta referências bíblicas sobre a
problemas ao longo de nossa vida, isso é algo que não escolhe classe social, raça ou gênero,
as dificuldades existem para todos os seres humanos” (Vieira, 2015, p. 25). Acrescenta ainda
que
eu acredito que a nossa essência foi criada por Deus e é imutável, até porque é
perfeita, porém a criação que tivemos, a educação que recebemos, os ambientes que
frequentamos e a quantidade e qualidade de amor que nos foi dada, tudo isso nos
tornou pessoas distantes dos nossos sonhos e potenciais [...] podemos ser mais
motivados, mais alegres, mais amorosos, mais competitivos, mais vitoriosos [...]
podemos ser quase tudo o que quisermos. Isso é ser humano, ou seja, exercer de
maneira digna o livre-arbítrio que Deus nos deu. (Vieira, 2017a, pp. 34-35)
Vieira (2015) expõe o método CIS como uma “base teórica, filosófica, ferramental e
prática [que] busca em seus processos produzir abundância em todas as áreas” (p. 25),
tratando as “disfunções que devem e merecem ser tratadas” (p. 25), ou seja, aquilo que não se
encontra no campo da felicidade e da produtividade. Expõe, por exemplo, que não ter dinheiro
e não ter um corpo saudável demonstram falta de abundância na vida e que aquele indivíduo
que não possui “faltas”, ou seja, que consegue pagar as contas do mês e fazer algum exercício,
é egoísta, pois limita suas ações ao atendimento de suas próprias necessidades, já que
argumentando que este não deve ser medíocre, mas sim visar a constante superação de seus
limites, conquistas e dificuldades. Em resumo, coloca que o estilo de vida abundante é quando
o indivíduo:
127
acorda cedo, vai malhar, faz amor logo de manhã cedo com o homem ou mulher da
sua vida, brinca com seu filho, deixa ele no colégio. Vai trabalhar, ama o trabalho e
gosta do que faz. E por isso faz com prazer, faz bem-feito, é reconhecido, ganha
dinheiro mais do que apenas o suficiente para sua sobrevivência. Despede-se dos
colegas de trabalho já com saudade deles. Vai dar uma corrida, encontrar com a
família, e ainda encontra os amigos para jantar em um bom restaurante. Depois vai
para casa, ama seus filhos, é amado por seu marido ou por sua esposa, dorme gostoso
e acorda no dia seguinte e grita: yes! […] um estilo de vida no qual tudo é abundante:
coloca “me percebi” (p. 20), ou seja, em seus termos, acordou. Tal acordar vem a partir do
encontro com um trecho do mito de Sísifo, presente em um livro de autoajuda o qual não
menciona o título, apenas seu autor, Roberto Shinyashiki. Acrescenta ainda que ao longo da
“busca por ferramentas, caminhos e métodos para mudar a minha vida, descobri o Coaching
[...] a partir das minhas mudanças, percebi que poderia contribuir com a vida de outras
Vieira (2017a) descreve como o mito de Sísifo possibilitou a percepção de que “tudo
aquilo que estava vivendo nos últimos treze anos não eram fracassos, mas, sim, os resultados
das minhas ações e atitudes. Cada resultado negativo era um alerta de Deus” (p. 22),
depois de ter consciência de que eu era o meu sabotador, as coisas foram acontecendo
como que por magia. As pessoas que conheci, os livros que li, os filmes a que assisti e,
presente análise, descrito enquanto fonte de inspiração para Paulo Vieira (Vieira, 2017a),
editora Gente, responsável pela publicação de todos os livros de Vieira, ainda que este afirme
que não produz conteúdos de autoajuda, mas sim científicos, se autointitulando um cientista.
A partir da proposta de uma vida abundante, a qual não se limita a alegria passageira,
Vieira (2015) expõe a necessidade de se buscar potencializar todas as áreas da vida e afirma
que “sua vida não é o que você diz que ela é, e sim o que é percebido, visto e presenciado na
prática” (p. 37). Assim, coloca em cheque o saber que os sujeitos possam ter sobre si, a sua
visão de si mesmos e do mundo para convocá-los a desejar as mudanças propostas pelo CIS,
posto que “o que importa são nossos comportamentos e, em especial, os resultados gerados e
percebidos por todos” (p. 37). Para isto, o indivíduo deve agir, temática que explora enquanto
A segunda crença abordada por Vieira (2015) são as que se referem a ação e o que
possivelmente pode impedi-la. Inicia seus argumentos com um provérbio bíblico no qual
explicita que aquele que dorme (que não age) é preguiçoso, para em seguida fornecer a
metáfora do tonel, no intuito de que o leitor desenvolva o que ele denomina como
“Representação Metafórica Interna” (p. 41), sem fazer referências de onde o conceito advém.
129
É relevante ressaltar que para Vieira (2015, 2017a) as metáforas são representações internas
que o indivíduo constrói de si e que podem ser alteradas a partir da introdução de outras
metáforas.
A metáfora consiste no leitor imaginar que uma pessoa querida se encontra em cima
de um tonel com uma substância fétida, associada a situações ou objetos que fazem mal ao
ente querido, como a falta de coragem, o álcool, as dores que tais ações podem gerar em entes
pessoa, ou seja, como se estivessem sendo pronunciados pelo leitor, para posteriormente
propor um exercício de PPS’s em que o convoca a identificar o que Vieira (2015) denominou
como zona de conforto, sendo esta “o lugar que encontramos desculpas para não fazer o que
Deste modo, Vieira (2015) constrói uma perspectiva em que o leitor é posto em jogo
como o sujeito da metáfora, aquele que poderá agir em prol do outro, uma vez que souber,
mediante as PPS’s, de que modo é possível ajudar. Vieira (2015) expõe que, caso o indivíduo
não aja e saia de sua zona de conforto, seu destino se encontra fadado:
Afinal, não precisamos ser paranormais nem videntes para imaginar qual será o
destino daquela pessoa que nunca encarou a vida profissional. Não precisamos ser
muito inteligentes para acertar como será o futuro do alcoólatra ou como será a família
do adúltero. Ou como será a saúde do glutão sedentário ou a vida daquela mulher que
trocou os filhos pelos colegas de balada e seu futuro financeiro por bolsas e sapatos.
Certamente é bem mais fácil e cômodo dizer como será a vida das pessoas presas na
autocitando, traz que “tem poder quem age, e mais poder ainda quem age certo” (p. 44), o
não é correto dizer que uma pessoa passou o dia em casa na frente da televisão,
deitada no sofá, tomando cerveja, sem fazer nada. A verdade é que ela fez algo;
porém, o que foi desnecessário e improdutivo [...] faça o que é bom, produtivo e
Continua ao trazer que, caso o indivíduo não possua abundância, é porque este se
conta historinhas utilizadas para explicar seu fracasso e tolher sua autonomia (zona de
historinha ser interpretada como verdade pelo cérebro” (Vieira, 2017a, p. 45). Define por
historinhas
fracassos, nossas falhas e nossos insucessos. Uma maneira às vezes sutil e outras vezes
verdades sobre indivíduos hipotéticos, que, ao final de cada uma, são categorizadas a partir do
historinha. A título de exemplo, tem-se o Caso 2 (p. 47), no qual descreve um empresário que
do país. Ainda que concorde com tal instabilidade, Vieira (2015) pontua que
entretanto, se o problema da empresa dele era apenas esse, então por que seu
concorrente, que na verdade começou bem depois dele e sem capital, está indo tão
131
Vieira (2015) afirma que “após 15 anos fazendo coaching […] percebi de forma
empírica, porém com muita consistência, que mesmo as mais simples mudanças
comportamentais eram impedidas pela contação de historinhas” (p. 49). Ainda que coloque
suas supostas averiguações empíricas em oposição a consistência, propõe que por meio do
método CIS é possível abandonar tais historinhas, trocando-as por histórias, tidas enquanto
“narrativas verdadeiras” (Vieira, 2015, p. 49) que colocam o indivíduo como dono de sua
Após tal extensa exposição e desenvolvimento de exemplos que ilustram para o leitor
discorre sobre a categorização feita ao fim de cada caso e solicita dedicação ao leitor para o
Vieira (2015) pontua ainda que as PPS’s anteriores devem estar à mão e serem
repetidas com ênfase, “essa nova e profética história deve ser repetida cinco vezes por dia em
voz alta, até que, por repetição, ela seja uma verdade em seus comportamentos e resultados”
(p. 51). As PPS’s permeiam desejos futuros do leitor em torno de temáticas como sucesso,
complementando seu bordão ao pontuar que “o que importa é se você está indo na direção
certa, com os comportamentos certos e se vai na melhor velocidade possível” (p. 58), afinal,
“o fato é que qualquer um pode” (p. 59) e atingir objetivos depende apenas de ações massivas
e consistentes.
detrimento das habilidades e do esforço. Para isto, relata uma história pessoal em que se
encontrava com dificuldades de atingir suas metas financeiras anuais. Textualmente traz
pensamentos mais positivos e enfáticos do que sua esposa, dando a entender que há sorte,
como ao correlacionar o ganho posterior de um carro no valor de 120 mil reais e crescimentos
dimensão, ainda que compreensível quando se considera o esforço dedicado. Com isso,
ressalta que o crescimento da FEBRACIS não se deu por sorte, mas sim devido ao
aproveitamento e dedicação que soube dar aos seus talentos e dedicação ao trabalho. Assim,
apresenta sua sorte como uma naturalidade advinda do esforço e das habilidades. Ou, como
expõe:
Veja bem, que não nos tornamos a maior instituição de coaching da América Latina
por sorte. A verdade é que agimos com precisão, eficácia e diligência. Atribuir à sorte
o crescimento do CIS seria como negar que em 2008 eu já tinha mais de cinco mil
horas de sessões de coaching. Seria negar que a cada ano a FEBRACIS faz uma
133
revolução no contexto de inovações e gestão. Acredito que quanto mais trabalho com
dedicação, quanto mais aprendo e mais inovo, mais sorte eu tenho. (Vieira, 2015, p.
60)
do esforço e das habilidades, como um prêmio, retomando o exemplo do carro. Para que as
ações dos indivíduos sejam direcionadas e acertadas, Vieira (2015) solicita ao leitor escrever
novamente (como no exercício supramencionado) quais ações serão mudadas e fornece uma
ferramenta que não fornece maiores explicações, apenas relata que esta se encontra no
website.
ferramenta para planejamento e organização de metas pautadas nas questões: O que? (qual
ação), Quando?, Por que?, Onde?, Quem?, Como?, e Quanto?. É fornecido um modelo de
tabela em branco a ser preenchido pelo leitor, não sendo aprofundados quaisquer detalhes,
proposta do método CIS e que fornece maior enfoque a meritocracia. O livro “O poder da
transformação humana (de tudo o que precisa ser mudado em sua vida), uma ferramenta a
qual potencializa resultados (Vieira, 2017a). Para explicitar o conceito, recorre a uma
autocitação:
Você é o único responsável pela vida que tem levado. Você está onde se colocou. A
vida que você tem levado é absolutamente mérito seu, seja pelas suas ações
134
comportamentos e suas palavras. Por mais doloroso que seja, foi você que levou a sua
vida ao ponto em que está hoje. Sendo assim, só você poderá mudar essa
Vieira (2017a) afirma ainda que após 10.800 horas de sessões de coaching individual,
pôde “comprovar essa receita infalível: o ato de se responsabilizar por tudo o que acontece em
sua vida traz a certeza de realização e plenitude” (p. 12). O argumento religioso, de que “de
Deus não se zomba. O que você plantou isso sim é o que você vai colher” (Vieira, 2017a, p.
como o fez ao se apropriar de falas e histórias de figuras públicas como Nelson Mandela e
Gandhi (Vieira, 2015, 2017a). Neste intuito, faz referência, por exemplo a pesquisa de Amy
Cuddy e, sem discorrer sobre a pesquisa, mas citando Harvard como a instituição de onde está
provém, argumenta que Cuddy, psicóloga e pesquisadora, afirma que pessoas de sucesso
sabem utilizar sua estrutura mental e linguagem corporal de modo mais eficiente.
Vieira (2015) constrói uma perspectiva em que, para se ter sucesso, o indivíduo deve
comportar-se como autor de sua própria história, timoneiro de seu barco, acreditando que,
desta forma, poderá “se colocar em qualquer outro lugar, poderá escrever e reescrever seus
caminhos e suas escolhas” (p. 66), já que “você tem se colocado onde quer que esteja, de
autorresponsável por seus resultados, que são aqueles “sabem utilizar sua estrutura mental
para colher resultados e, quando os resultados são ruins, aprendem com eles, com
135
responsabilidade, optando por uma estrutura mental correta - passam a falar, pensar e se
Ainda que diga que não possua a intenção de parecer culpabilizar o indivíduo (Vieira,
modo a se debruçar sobre seus erros como fatores nocivos e ruins para sua vida, impeditivos
que modo o este deve pensar e complementar: “não trabalhei bem, não dei o meu melhor e fui
demitido. Contudo, hoje, reconheço onde errei, afirmo que não vou mais cometer essa falha, e
por isso quero muito essa oportunidade para…” (Vieira, 2015, p. 67). O erro é tido enquanto
Para Vieira (2017a) “as pessoas que não possuem a crença da autorresponsabilidade,
optam por criticar, reclamar e se esconder atrás dos outros, elas estão à margem da própria
vida” (p. 160). O discurso aponta para uma perspectiva de submissão do trabalhador perante a
encontra, mesmo que a empresa não reconheça o valor que acredite possuir, como coloca
circunstâncias. Mesmo que não estejam sendo remunerados a contento, eles dão seu
melhor; mesmo que não sejam tão valorizados, continuam sendo produtivos e alegres
[…] optam por não reclamar, não criticar, muito menos culpar a empresa ou os
pedem licença para fazer seu caminho e criar responsavelmente sua história – e, com
Acrescenta-se ainda que o indivíduo “autorresponsável não julga o outro, mas sim a
atitude dele” (Vieira, 2017a, p. 154), proliferando a visão de que há um olhar externo julgador
sobre as ações individuais. Vieira (2015) pontua que para ser um indivíduo autorresponsável
deve-se avaliar e desenvolver seu nível de maturidade emocional e, ao fazer isto, o indivíduo
aumentará sua capacidade de realização, garantindo “a certeza de possuir uma crença que
valida todas as outras crenças fortalecedoras que você possui” (p. 69).
Em seguida, Vieira (2015, 2017a) faz referência a uma pesquisa que aborda a
mudança, feita pelo psicólogo e professor Daniel Goleman, trazendo apenas dados
conclusivos para argumentar que existem indivíduos os quais são líderes e guiam a
humanidade (os que produzem mudança), enquanto há outros que são guiados, não sendo
dada a falta de aprofundamento sobre os dados apresentados. Vieira (2015) frisa ainda que a
Caso, a partir de sua proposta de modelagem por meio do CIS, mudanças não venham
a ocorrer, Vieira (2015) fornece duas possíveis soluções: pode-se fazer uso da
escolha entre ser autorresponsável ou vitimar-se. Na esteira da mudança, retoma seu jargão
sobre a necessidade de ação, de o indivíduo não se limitar ao campo das ideias, posto que as
pessoas de sucesso geram boas ideias, “talvez não sejam as melhores ideias, talvez nem sejam
suas -, porém são capazes de colocá-las em prática, de fazê-las acontecer” (Vieira, 2017a, p.
supostamente utilizados por Goleman e Jill Bolte Taylor, para argumentar que o indivíduo
137
próspero e vitorioso faz uso de ambos os hemisférios cerebrais, ainda que considere não ser
o hemisfério esquerdo é o lado do cérebro responsável pela lógica, pela memória, pela
enquanto teorias intelectuais que “reforçam que somos meros espectadores e que não
podemos mudar ou reescrever nossa história” (p. 74). O autor traz tal fala ilustrando um caso
descreve enquanto uma pessoa aparentemente capacitada que cita tais autores e é refutada por
quando essa professora tinha discordado, uma outra tentou puxar aplausos junto aos
outros participantes [...] chegou com uma postura totalmente reativa, não participou de
instituição e ao momento. É certo que, para aquelas duas professoras, suas vidas não
estavam sob seus controles e as coisas não estavam como desejavam. Talvez elas
continuem assim, até que se tornem capazes de se responsabilizar por seus destinos -
até que parem de achar culpados para seus insucessos e frustrações [...] eliminando a
Dando continuidade a um discurso que visa não apenas a apresentação conceitual, mas
método CIS, Vieira (2015) traz outro caso da vida real para exemplificar o conceito e fornece
6) Se for julgar alguém… julgue a atitude dessa pessoa. (Vieira, 2015, p. 80)
Vieira (2015) pontua que ao seguir tais leis haverá uma mudança dos hábitos diários e
que coisas muito boas estão acontecendo sem explicações […] perceberá que a mágica da
autorresponsabilidade chegou” (Vieira, 2015, p. 81). Cada seção descritiva sobre as leis
construção de um caminho (por meio do CIS) para que seja possível atingir a verdade de uma
vida plena.
Em seguida, Vieira (2015, 2017a) pontua que o leitor deve imprimir as leis e deixá-las
em lugares de fácil acesso e rotineiramente frequentados para que haja uma manutenção
disciplina, você pode começar a mudar tais hábitos, mas, para isso, aconselho que imprima as
seis leis em papel e cole nos lugares que você mais frequenta” (Vieira, 2017a, p. 158). Para
além, convida o leitor a disseminar tais leis, exemplificando como foram executadas em uma
dando enfoque ao desenvolvimento de ideias do autor. Ainda assim, Vieira (2015) solicita, ao
final do capítulo, que o leitor assine um termo de compromisso, onde declara que seu sucesso
imaginação de resultados que serão colhidos, acrescentando que “depois de escrever você
deve decorar sua declaração e verbalizá-la em voz alta por trinta dias seguidos ao acordar”
184)
140
Vieira (2015) aborda ainda o fator oportunidade, considerando-o como algo que é
acontecerão, e as oportunidades aparecerão […] isso é poder pessoal ao seu alcance” (p. 93),
neste sentido, oportunidades não ocorrem ao acaso, não são fatores externos e distribuídos na
quando não aparecem, pois sabem que estão no comando do barco de suas vidas,
sabem que as coisas não acontecem simplesmente mas são criadas consciente ou
inconscientemente. Sabem que nada acontece por acaso, que a nossa atitude diante da
vida trará resultados, e que tudo, absolutamente tudo, é resultado dos nossos
Após isto, acrescenta um relato pessoal no qual se depara com um conhecido, que
passava por dificuldades familiares e financeiras, e oferta gratuitamente seu curso do método
CIS. Relata que o conhecido não aproveitou a oportunidade oferecida pelo destino e, ao
encontrá-lo anos depois, o mesmo se mantinha com as mesmas questões. Logo, “pessoas sem
pela mediocridade de suas vidas e dizem: “se eu tivesse dinheiro...”” (Vieira, 2017a, p. 122).
Na seção sobre foco, tal a capacidade é posta como essencial para o alcance dos
objetivos e metas, logo, para o desenvolvimento a partir do CIS. Foco é definido como “a
concentrar atenção em um único ponto […] com força suficiente para produzir mudanças e
141
realizações rápidas” (Vieira, 2015, p. 102), definição que é textualmente reproduzida duas
vezes seguidas.
oportunidades dos indivíduos, que devem ser alteradas, melhor enfocadas, a partir do
(2015) compreende que o foco deve ser múltiplo para que haja o desenvolvimento equilibrado
em todas as áreas da vida. No intuito de que isto ocorra, deve-se identificar primeiro os
Para subsidiar sua afirmação de que pessoas de sucesso não se distraem como os
outros indivíduos, Vieira (2015) recorre a Goleman, afirmando que a capacidade de focar está
identifique suas distrações, Vieira (2015) fornece uma tabela com fatores “de distração mais
comum relatados por nossos alunos no método CIS” (p. 106), os quais devem ser avaliados de
0 à 10. A título de exemplo, são listados fatores como telejornais, bebida, jogos de azar,
filhos órfãos de pais vivos, empresas quebradas, acidentes e muitos outros danos” (pp. 106-
107).
Emocional (IE) de Goleman, é utilizado por Vieira (2017a) em um exercício que faz uso de
foram pesquisadas por Goleman, mas coube a Vieira transformá-las em exercícios. Em tal
142
exercício é dada uma nota pela qual o indivíduo avalia suas capacidades produtivas, por
exemplo, deve avaliar sua capacidade de superação de desempenho antes e depois de ler o
Ao explicitar o que considera ser nocivo para a capacidade de foco, logo, para o
sucesso individual, Vieira (2015) fornece uma nova tabela ilustrativa para que o leitor
exercite-se, elencando, primeiramente, o que é relevante para si em cada área explorada pelo
método CIS. Em segundo, a distração associada a esta e a ação para eliminar a distração,
Para que haja uma rotina focada, ou seja, com excelência produtiva, é fornecida outra
ferramenta do CIS, a Agenda da Vida Extraordinária, a qual consiste em uma agenda semanal,
não de tarefas, “e sim um estilo de vida abundante […] é como um mapa que conduzirá a
resultados realmente extraordinários em muito pouco tempo” (Vieira, 2015, p. 109), que
inclui o ócio criativo aos finais de semana. Um modelo desta ferramenta se encontra
disponível no website e são feitos questionamentos intimidadores ao leitor para que faça uso
E você, como está a sua rotina de vida? Onde você tem conseguido colocar seu foco e
sua atenção? Você vem tendo uma vida extraordinária e realmente feliz, ou você vive
tentando compensar sua vida limitada com alegrias passageiras em festas badaladas?
Que tal você montar a sua Agenda da Vida Extraordinária agora? Que tal você acordar
para a vida, agir e agir certo, focando o que de fato é bom, proveitoso e valoroso para
Para além, não basta ao leitor utilizar ambas as ferramentas supracitadas, este deve
desenvolver a capacidade de foco múltiplo criado por Vieira, a qual consiste em ter três tipos
Vieira (2015) apresenta um “estudo de caso” de um “cliente de coaching que em oito meses
saiu de um salário/pró-labore de 15 mil reais para 180 mil reais por mês” (p. 119). Neste
Tal trajetória teve início a partir da identificação das metas (curto, médio e longo
prazo), os objetivos de cada meta e a definição de prazos para atingi-las (foco visionário). O
mentalidade e suas crenças internas, como também ele moveu quanticamente o mundo ao seu
redor, criando uma gama de acontecimentos não planejados, porém benéficos, que
como fazer ensaios mentais fortes e constantes sobre estas, englobando na rotina materiais
diversos que cooperem para sua efetivação. A partir do exemplo, descrito enquanto um estudo
de caso, ao incorporar diversos materiais, o indivíduo em questão “ao entrar no carro, ele
ouvia todos os meus [de Vieira] CDs de sucesso financeiro, vendas, negociação e
contínua dos outros dois até que os objetivos sejam realizados, sem haver um prazo
determinado.
144
Para Vieira (2015), caso as metas não aconteçam, provavelmente deve ter ocorrido
uma falha no processo de imersão ou os indivíduos “não aprenderam nada com a experiência”
(p. 123), sendo, do modo que é exposto, um sintoma individual. Neste sentido, aponta a
com toda a clareza o sucesso de pessoas que vieram de baixo e o fracasso das pessoas
memórias boas e más, o presente como momento efêmero que comporta a ação e o futuro
enquanto “uma sequência de cenas criadas nos nossos circuitos neurais do que queremos que
aconteça ou do que não queremos que aconteça” (Vieira, 2015, p. 126). Tal visão de um
futuro possui “enormes poderes sobre o indivíduo e o mundo real que o cerca […] é a base da
consciência humana. É a nossa porção divina, é o que chamamos de fé” (Vieira, 2015, p.
126), sendo que o autor afirma que tais perspectivas advém da física quântica.
Quanto a inteligência foco-temporal, Vieira (2015) afirma que “existem três tipos de
depressiva vive do passado e tende a se cercar de negatividade” (Vieira, 2015, p. 127). Nesta
manejar o sofrimento ocasionado pela violência e desigualdade social, Vieira (2015) responde
com uma metáfora reflexiva que exprime a ideia de que se deve fazer o que está ao alcance
145
individual, não desistindo de suas metas, não duvidando dos objetivos, mantendo o foco nos
produzindo insegurança.
de mil pessoas e construído para ser reproduzido como padrão de sucesso, propõe que haja
pouca dedicação ao passado, assim, as memórias ruins devem ser utilizadas para gerar
mudanças positivas, e a maior parte da energia psíquica e física deve ser dedica a ação
produtiva, enquanto que ao futuro cabe criar imagens do extraordinário (Vieira, 2015).
Vieira (2015) afirma ao leitor que, a partir do que expôs sobre foco-temporal, “muitas
fichas caíram e você está entendendo o porquê de muitos dos seus resultados bons e ruins” (p.
130) e que o modelo apresentado “não permite que o mundo determine seu padrão mental
[…] você é autorresponsável e o comandante do barco da sua vida” (p. 131), referindo-se a
autonomia que supostamente proporciona. Como de praxe, após tais exposições, Vieira
comunicação individual, visto que Vieira (2015) afirma que “existe grande poder nas palavras
ditas como também na estrutura linguística […] as palavras e suas estruturas são ferramentas,
armas poderosas 100% disponíveis a qualquer um que esteja disposto a usá-las” (p. 141). É
importante ressaltar que para o autor, o poder, recorrentemente utilizado em toda a sua
perspectiva do método CIS, é definido como uma energia que “está inalienavelmente dentro
146
de todos os seres humanos” (Vieira, 2015, p. 144) e é capaz de criar e alterar a realidade a
No que se refere a comunicação, Vieira (2015) pontua que a linguagem é “o meio pelo
qual exprimimos nossas ideias, nossos sentimentos, nossas vontades a nós mesmos e a outras
pessoas” (p. 141). Assim, caracteriza que uma comunicação (a linguagem eficiente), definida
pelo autor como a perfeita linguagem, é possível a partir do método CIS, o qual proporciona o
ratificar o poder transcendente das palavras. A mesma ideia se percebe cada vez mais
143)
pela neurociência trazem uma forma mais clara e objetiva de entender o ser humano,
No que tange a Física Quântica, Vieira (2015) diz basear-se em Frijtof Capra para
embasar a perspectiva sistêmica do CIS, pontuando que “tudo está conectado; assim o que
penso, falo e sinto cria uma realidade ao meu redor” (p. 145). Para trazer validade sobre seus
argumentos, Vieira (2015) recorre a exemplos como a conhecida citação bíblica onde Deus
Fornece ainda outro exemplo, em que Zacarias e Mussum, do programa televisivo “Os
trapalhões”, tiveram sua morte profetizada em um episódio gravado em 1983, pois este
fornecendo uma materialização. Com isso, Vieira (2015) afirma que “toda palavra é na
verdade uma profecia autorrealizável” (p. 146). Neste momento é citado um vídeo que se
danificado, não tendo sido possível visualizá-lo ou mesmo localizá-lo na plataforma de vídeos
YouTube.
De acordo com a proposta de reprogramação mental do método CIS, deve ser proposto
um novo padrão linguístico, abrangendo aspectos verbais e não verbais. Neste sentido, Vieira
(2015) mantém o mesmo padrão de escrita no qual explicita suas percepções com
conjunto de palavras, frases e falas que dizemos audível e verbalmente, como também as falas
e os pensamentos que mentalizamos como verdades sobre nós mesmos e sobre o mundo que
148
nos rodeia” (p. 147). Desta maneira, cada indivíduo possui seu próprio padrão linguístico,
147), sua posterior cessação e alteração, buscando remediar as problemáticas que emergirão
anulará o que já foi dito e os resultados ruins como também produzirá novas crenças e
Para isto, deve-se identificar o estilo linguístico, ou seja, todo o conjunto de atitudes e
gratidão e da perfeita linguagem do amor. No que tange a gratidão, Vieira (2015) ressalta que
é um fenômeno amplamente estudado pela Psicologia Social e Positiva, citando, sem maiores
explicitações, pesquisas de ambos os campos teóricos que comprovam associações entre a alta
vida permeado por falas e comportamentos de gratidão. Há ainda PPS’s propostas para o
desenvolvimento de tal postura, voltadas para o passado, presente e futuro (ser grato pelo o
Vieira (2015) frisa que tais reprogramações não devem ser mecânicas, ou seja, sem
afeto. Pelo contrário, deve haver também um engajamento afetivo por parte do indivíduo em
cada atividade para que estas produzam os efeitos almejados, sendo, desta forma, que se
atinge uma vida abundante e repleta de sentido. Nesta esteira, a perfeita linguagem do amor,
internos e externos. Em outras palavras, afeta o indivíduo e muda o mundo, assim, Vieira
149
(2015) afirma que tal linguagem “além de mudar a sua sorte (literalmente), pode blindar você
comunicação em que o indivíduo se sinta único, importante e que pertença, aproxime seus
interlocutores. Entretanto, caso o amor não funcione, deve-se manter a perfeita linguagem
caso verídico em que, após o método CIS e a aprendizagem de uma linguagem que reflete
amor, um pai
usou seu novo estilo de comunicar para resgatar o filho das drogas [...] o amor
amor comunicado que altera a psique, a matéria e a própria realidade ao redor de quem
Parte do tratamento criado por Vieira (2015) consiste na execução do mais longo
exercício do livro “O poder da ação”, no qual são propostos sete passos para reprogramação
mais dez possíveis padrões (passo dois) que não foram listados. Em seguida, os padrões
identificados devem ser novamente escritos e acrescidos de seus prejuízos (passo três). O
passo quatro consiste em, de acordo com a orientação, reescrever cada um dos 10 padrões de
modo ultrapositivo a partir dos exemplos fornecidos, ainda que tal reescrita contenha frases
irreais.
150
No passo cinco propõe-se que, por neuroassociação, um reforço negativo deve ser
fornecido ao se repetir os padrões linguísticos negativos, assim, um elástico deve ser colocado
no pulso e o indivíduo deve repetir verbalmente cinco vezes, os cinco piores padrões descritos
anteriormente e, para cada repetição, deve-se esticar o elástico e soltá-lo, produzindo uma dor
fina e intensa (Vieira, 2015), ou seja, o indivíduo deve punir-se 25 vezes. O passo seis do
tratamento consiste na reprogramação propriamente dita destes padrões. Para isto, cada um
dos 10 novos padrões ultrapositivos precisam ser reescritos 50 vezes, “até que seu cérebro por
estímulos repetitivos substitua o padrão antigo pelo novo [...] serão 500 linhas de
reprogramação de crenças. É importante que cada vez que você escrever um padrão, diga-o
em voz alta pelo menos 4 vezes” (Vieira, 2015, p. 151), resultando em 2.000 verbalizações.
Orienta-se (passo sete) que, após este exercício, caso o indivíduo volte a repetir os padrões,
Vieira (2015) repetidamente afirma ainda que o indivíduo tem que estar disposto a
Talvez você esteja preso à zona de conforto e pouco disposto a dedicar tempo e
energia mental para cumprir os passos 5 e 6. Se esse é o seu caso, procure ver se neste
momento não está criando historinhas para não realizar parte do tratamento.
Historinhas de arrogância, como: “Eu não preciso escrever 50 vezes isso”, ou “não sou
idiota para soltar um elástico no meu braço e sentir alguma dor”. A quem pensa assim,
vou só dizer uma frase que sempre repito em ocasiões como essa: “Fica tranquilo. Está
tudo certo. Cada um tem a vida que merece”. Se você não quer cumprir esses passos,
não tem problema, porém, não acredite que terá todos os ganhos e as mudanças
propostas. Não se engane achando que um hábito linguístico de muitos anos será
No que se refere a comunicação não verbal, ainda que esta já tenha sido anteriormente
associada por Vieira (2015) à comunicação verbal, como explicitado na perfeita linguagem do
entonação vocal e expressões faciais etc” (p. 177), o que confere ao indivíduo um padrão
linguístico não verbal e deve ser alterado para obtenção de melhores resultados. Vieira (2015)
baseia-se amplamente nos estudos da neurociência, trazendo pesquisadores como Amy Cuddy
e Robert A. Emmons, para argumentar que a comunicação não verbal influencia na produção
(ou não produção) de hormônios, os quais interferem diretamente na mente humana, logo, nos
resultados produzidos.
palestras do método CIS. Desta vez, relata como uma senhora de 65 com diagnóstico de
depressão e baixa produção serotoninérgica (hormônio da felicidade) curou-se após mudar sua
postura com o CIS e o uso de uma ferramenta, o colete elástico corretor, “já no dia seguinte
pela manhã, percebeu mudanças na sua atitude e no seu humor. No segundo dia, ela estava se
sentindo mais disposta. No quarto dia ela ressurgiu das cinzas” (Vieira, 2015, p. 183).
nossos resultados apenas regulando a postura e a comunicação não verbal” (Vieira, 2015, p.
184).
Cada postura e comunicação não verbal produzem, para Vieira (2015), o que fora
denominado enquanto moléculas de emoção (MDEs), “que são um composto químico ou uma
para impulsionar a produção de bons hormônios, caso contrário, serão sustentados vícios
emocionais. Vieira (2015) “faz uma relação dos principais vícios emocionais que tenho
152
encontrado nesses quase vinte anos de profissão” (p. 186). A lista fornecida se equipara aos
listam-se sentimentos, afetos, os quais remontam as mesmas frases do padrão negativo. Para
Vieira (2015)
cada vício pede uma comunicação ou um estilo linguístico não verbal específico, que
por sua vez produz a química do vício e o ciclo se reinicia novamente. (Vieira, 2015,
pp. 188-189)
repetitivos que produzam novos MDE’s, que combatem “com absoluto sucesso os sintomas
dos vícios emocionais, [e] tem tido também resultados extraordinários no combate ao vício
em drogas lícitas e ilícitas” (Vieira, 2015, p. 190). A proposta do CIS, ou melhor, de Vieira
(2015) por meio do CIS, é substituir emoções ruins e sabotadoras por emoções positivas e
fortalecedoras. Para isto, deve-se exercitar com intensa emoção e repetidamente os padrões
capazes de produzir cinco emoções curativas primárias, sendo estas a vitória, o poder, a paz, a
alegria/entusiasmo e o amor.
Para cada padrão, Vieira (2015) fornece imageticamente as posturas a serem feitas
pelo leitor, apresentando os hormônios que são produzidos a partir dos estudos
neurocientíficos, as emoções sabotadoras que combatem e por quanto tempo, quantas vezes e
de que modo os exercícios devem ser executados. Ressaltando por fim que “nossa observação
maior relevância àqueles que possuem competência para discursar. Conclama a atenção do
leitor para a qualidade das perguntas feitas e hierarquiza os indivíduos de acordo com aqueles
Partindo da premissa que “sua mente responderá a todos os questionamentos que você
lhe fizer” (Vieira, 2015, p. 203) a partir do instante que forem feitos de modo verdadeiro,
Vieira (2015) aborda relatos pessoais, ressaltando quanto tempo perdeu e as dores que sofreu
ao ter “verdades absolutas” (p. 204), as quais poderiam ter sido amenizadas caso ele soubesse
saber fazer as perguntas certas, que “direcionam o nosso querer e nos fazem pedir o que é de
fato certo [aquelas que] vão nos mostrar os propósitos e os valores por trás do que queremos e
Institui como questão social que “as pessoas não param para pensar por que agem,
como agem ou por que querem o que querem […] ora aceitando as verdades de outras
pessoas, ora se guiando pelas suas” (Vieira, 2015, p. 205), e afirma que tais indivíduos se
encontram na base da pirâmide de maturidade emocional. Vieira (2015) ainda pontua que não
está “dizendo que suas verdades [do leitor] ou as verdades de outras pessoas sejam ruins ou
boas. Só estou questionando a validade delas para o seu momento presente” (p. 205). Deste
modo, convida o leitor a questionar o que lhe é dito, trazendo exemplos de como estes
questionamentos devem ser, pontuando que “o bom senso diz que primeiro precisamos
aqueles que possuem uma vida abundante, “os verdadeiros super-humanos sabem questionar a
si mesmos a ponto de descobrir seus propósitos e seus porquês. Eles descobrem seus valores
pessoais e sua missão de vida, que estão por trás do que pensam, sentem e fazem” (Vieira,
2015, p. 208), estes fazem constantes PPS’s para prevenir a disfuncionalidade em sua vida,
sendo que
como nada é por acaso, uma pessoa que havia feito o método CIS surgiu de repente e
começou a falar de suas experiências e suas mudanças após o evento. Era como se
Deus estivesse dizendo pra ela que suas perguntas também tinham respostas. Ela e o
marido, que era um bom pai, tornou-se um ainda muito melhor. O casamento, que era
pacífico, ficou ainda melhor. A empresa de Engenharia do marido, que há dois anos se
20% a mais do que nos doze meses do ano anterior. Muitas coisas mais aconteceram
Abordando Luther King e aspectos religiosos, Vieira (2015), mais uma vez, convida o
leitor a identificar e elencar seus limites ao questionar o que há de ruim em sua vida e o que
falta para ser um super-humano. Para o empresário, as PPS’s possuem, enquanto critério,
serem orientadas para o futuro, a ação, a reflexão, a solução, as metas e os objetivos e para a
abundância na vida (Vieira, 2015). O coach cita ainda mais uma técnica que desenvolveu, o
capacidade de
155
processo profundo que usa como base as PPS’s normalmente focadas em um objeto
consistentes na direção do objetivo. Como você já sabe, tem poder quem age, e mais
discurso geral propagado por Vieira por meio da FEBRACIS, tanto quanto expor a estrutura
que embasa o método CIS. De um modo geral, o método é uma proposta de reprogramação de
neurociência, ainda que traga outras áreas de saber, como a Psicologia social e a Psicologia
positiva. Paradoxalmente, também aborda fontes de informação que diz negar, como a
autoajuda.
coloca a FEBRACIS, como a própria sigla delimita, enquanto uma federação. Uma federação,
caracteristicamente, é composta por mais de uma instituição, assim como seu escopo de
práticas e filosofia devem englobar ideias que vão além de um único pensador. Em
contrapartida, o que se observa não é uma aproximação de saberes que advém de diferentes
indivíduos, mas sim a aglutinação de saberes de outras áreas em torno e por meio de Paulo
Vieira.
Tal afirmação é possível, considerando que todos os livros da instituição são escritos
por Vieira, assim como os cursos e as palestras são ministrados por ele, não havendo
informações nos livros ou mesmo no website sobre a participação de outros coaches enquanto
palestrantes ou contribuintes do método CIS, pelo contrário, afirma-se que este fora
156
desenvolvido enquanto tese de doutoramento de Vieira. Tal aspecto não apenas torna a
de Vieira e seu nome, sua pessoa em específico. Isto o torna detentor e disseminador deste
discurso, assim como coloca Paulo Vieira enquanto um dos indivíduos de sucesso que busca
construir e disseminar por meio do método CIS, exemplo que é utilizado em seus espaços de
comunicação.
textualmente, considerou-se não ser possível delimitar de modo claro os limiares de seu uso,
posto que, como fora apresentado, são feitas referências a técnicas e ferramentas em que não é
possível discernir de onde estas provém, como no caso do plano de ação 5W 2H. Em outros
momentos, observa-se ainda citações indiretas dos estudos e pesquisas de autores como
Goleman e Burke, não sendo possível diferenciar em que momento as construções deixam de
fazer referência às pesquisas, dado que isto não fora claramente delimitado na construção
pensamento de Vieira não fica textualmente explícito em dados momentos dos livros.
O método CIS propõe que sejam desprogramados vícios mentais, traumas infantis,
hábitos, comportamentos e pensamentos no que se refere a áreas da vida humana que dizem
sobre a relação consigo, com o outro e com o mundo, dando ênfase a sua característica
profissionais são priorizados, emergindo com maior preponderância nas histórias, historinhas,
metáforas e analogias. Estes aspectos são também pontos que o CIS busca reprogramar para
sucesso, ou, como também é descrito, o super-humano. Vieira reitera em seu discurso a
possibilidades disto estão diretamente atreladas ao próprio indivíduo. Assim, o indivíduo deve
desejar mudar seu comportamento, deve questionar-se sobre si e sobre o mundo (mas apenas
as perguntas corretas), deve propor alterar suas ações e comportamentos compreendendo que
Para que seja possível alterar suas crenças e modificar a si, e por consequência
atingir suas metas e objetivos. Com isto, fica claro que o método CIS compartilha sua
individualista, posto que atribui as possibilidades e os fracassos apenas aos indivíduos, assim
como sua perspectiva de que é apenas por meio do esforço, da repetição e do contato com o
sofrimento que o sucesso pode, e será, alcançado (como é garantido por Vieira).
sucesso e que possui certa mágica, modificando a vida de um indivíduo. Conceito descrito
descrita enquanto nociva para uma superior, assim, hierarquizando os indivíduos entre
método de reprogramação humana, Vieira apresenta ao longo dos materiais sua filosofia e
teoria. Estas colocam em prática valores éticos e morais meritocráticos, cristãos e neoliberais
os quais buscam alterar os corpos, normatizando-o a partir de seus padrões. Exemplo disto é
que Vieira não busca intervir apenas por meio de seus cursos e livros, mas busca ampliar sua
presença na rotina individual. Logo, ainda que declare o discurso da mídia enquanto alienante,
Vieira faz uso dos mesmos recursos culturais para veicular suas ideias e perspectivas de vida.
grato. Neste sentido, para a análise que segue, pretende-se explorar as relações de poder que
4. Análise
mental, a presente análise dará enfoque ao tipo de indivíduo que busca ser construído a partir
dos modelos propostos pela instituição, aprofundando-se no modo em que o método CIS
executa tal reprogramação. Para isto, primeiro será abordado o indivíduo de sucesso, seguido
pela explanação dos discursos e das práticas que compões o processo de modelagem. Dos
corpos dóceis voltados para produtividade (Foucault, 2014). Por mecanismos disciplinares,
entende-se técnicas voltadas para a gestão dos homens, para “controlar suas multiplicidades,
utilizá-las ao máximo e majorar o efeito útil de seu trabalho e sua atividade, graças a um
homens voltada para sua máxima eficácia, exercendo um controle mais sobre o
tempo para apreendê-los (Foucault, 1979/2019a). Isto implica uma vigilância perpétua,
que classifica, distribui, mede, julga e localiza os indivíduos (Foucault, 1979/2019a). Desta
160
(Foucault, 2014).
Ressalta-se que apesar de Vieira (2015, 2017a) discorrer amplamente sobre resultados
individuais, o seu foco e objetivo da FEBRACIS por meio do CIS é fornecer uma proposta
que a FEBRACIS é uma instituição disciplinar que detém procedimentos e técnicas que
registro e treinamento que se apropria do espaço e do tempo dos indivíduos (Foucault, 2014).
2017a, p. 53), o qual institui um único caminho para um progresso que é serial, orientado e
cumulativo, em que há um tempo evolutivo que é controlado (Foucault, 2014), ou seja, são
instituídas etapas em sequência que devem ser progressivamente cumpridas e expandidas para
todas as áreas da vida. Já as técnicas revelam uma serialização dos indivíduos, uma gestão de
seu tempo para torná-lo útil por meio de exercícios semelhantes a exercícios militares,
religiosos e universitários (Foucault, 2014). Por exemplo, Vieira (2015, 2017a) faz uso de
Com isso, os procedimentos e técnicas analisados são aqueles adotados pelo método
CIS, que é formado por uma “base teórica, filosófica, ferramental e prática [que] busca em
seus processos produzir abundância em todas as áreas” (Vieira, 2015, p. 25). Em outras
sendo a “. Logo, compreendeu-se que o método CIS pode ser dividido em duas partes, a
questionários, testes retirados de fontes científicas, nas ferramentas, e nas técnicas como a
conteúdos da instituição, como podcasts, livros, vídeos e afins em momentos em que o tempo
buscará discernir os pontos delimitados em cada um. Isso se dá para que seja possível
separação não ocorre, o que se observa é uma articulação estratégica, ou seja, a partir de
por meio de práticas e discursos do seu método. A articulação do heterogêneo significa que
em seu discurso Vieira (2015, 2017a) fornece um entrecruzamento que delineia fatos gerais de
comportar, pensar e sentir, que acompanha ferramentas para fabricação de corpos produtivos.
Dessa forma, a separação entre práticas e discursos se dá apenas para melhor explicitação ao
leitor.
necessário explanar sobre o modelo de indivíduo que é almejado, posto que as relações de
162
poder que se fazem presentes em seus procedimentos e técnicas voltam-se para constituição
sucesso, quais são suas características, para em seguida explicitar como os discursos e práticas
o atravessam e constituem.
O método CIS fornece ao seu leitor uma visão de mundo e de diversas áreas da vida
em que traz leis, regras de uma norma, de como as pessoas devem pensar, agir e ser, definindo
o que é certo e o que é errado, em outras palavras, o que traz sucesso e o que não traz. Assim,
de sucesso, que possui como propósito de vida obter conquistas de modo prazeroso, posto que
a felicidade não pode ser adiada (Vieira, 2015). O super-humano, aquele que “deixa um
específicos, como, por exemplo, o próprio Vieira (2015, 2017a), Gandhi, Luther King e
Nelson Mandela.
Tomando a trajetória de Mandela como exemplo, Vieira (2015) descreve que 27 anos
de prisão, muitos em solitária e o apartheid, não foram impeditivos para ele se preparar para
ser o primeiro presidente negro da África do Sul. Ele “estudou Administração Pública,
importantes para seu futuro, e tudo isso enquanto estava encarcerado” (Vieira, 2015, p. 71),
acrescenta ainda que “ele se considerava o único responsável por seus sentimentos, seus
futuro e no esforço produtivo. Vieira (2015, 2017a) aponta que tais indivíduos são pessoas
que possuem um estilo de vida abundante em, pelo menos, nove das áreas delimitadas pelo
163
CIS, sendo estas: espiritual, parentes, conjugal, filhos, social, saúde, servir, intelectual,
Dessa forma, para Vieira (2015), o indivíduo de sucesso é aquele feliz, que deve
tem de se ater aos seus objetivos e questionar os resultados (bons e ruins) de modo
autorresponsável, “questionam tudo o que pode de alguma maneira ser melhor” (Vieira, 2015,
p. 210) para assim serem capazes de mudar a si e agir da melhor forma possível na velocidade
mais rápida e, ainda que seja um longo caminho, sem atalhos. Assim, a sociedade é
Elias (1994) situa que considerar a sociedade enquanto formada por indivíduos pode
ser uma visão errônea, mas disseminada por alguns. Visão que se faz atual, posto que pode ser
observada no discurso de Paulo Vieira. Elias (1994) explicita uma possível concepção de
por diversos indivíduos. Acrescenta que esse modelo conceitual de criação de uma obra por
fenômeno que não seja explicável como algo planejado e criado por indivíduos mais ou
menos se perde de vista, entretanto, “permanece obscuro as ligações existentes entre os atos e
os objetivos individuais e essas formações sociais” (Elias, 1994, p. 15). Elias (1994) aponta
que nesta visão de sociedade construída por indivíduos, há um ramo científico que pensa as
funções psicológicas a partir do indivíduo singular como algo que pode ser isolado e
independe de suas relações com as demais pessoas, sendo necessário apenas elucidar a
Com isso, Vieira (2015, 2017a) dá enfoque à formação de tais funções psicológicas. O
coach parte do princípio de que todos os indivíduos são predestinados a uma vida abundante,
caso contrário, não estão valorizando de modo adequado os talentos, dons e o livre-arbítrio
dados por Deus e são disfuncionais. Por disfuncional, Vieira (2015) explicita, por exemplo,
que é não ter dinheiro para fazer investimentos, é não ter um corpo saudável e forte
independentemente de sua idade, corpo o qual deve trazer prazer e ser funcional para alcançar
desenvolvimento profissional, aquele que não possui amor, afeto, respeito, paz e proximidade
Para Vieira (2015, 2017a) a tomada de consciência das disfunções acima mencionadas
deve vir acompanhada da percepção de que estes são resultados das ações individuais e que
pessoas de sucesso optam pela correção de seus erros a partir de uma estrutura mental correta.
Neste sentido, o indivíduo deve pagar o preço da mudança, seja este material ou imaterial, e
não deve “culpar seus pais, o ambiente em que vivem ou até o governo” (Vieira, 2015, p.
218), mas ser o único responsável pela sua condição de vida, como é caracterizado na
do esforço necessário perante o processo de mudança ofertado pelo CIS, como se observa em:
Muitas pessoas estão buscando formas rápidas e fáceis de ganhar dinheiro. Elas
esperam que, por um passe de mágica ou um golpe de sorte, de repente, se vejam com
todo o sucesso que sempre sonharam. Não seja ingênuo: ninguém chega no topo por
atalho. Para subir a montanha, você vai ter que trilhar o caminho e pagar o preço da
Neste sentido, Vieira (2015) afirma “o fato é que qualquer um pode” (p. 59),
apontando para uma igualdade entre os indivíduos e para reafirmar seu bordão de que o poder
está na ação. Para além, a “abordagem é muito simples; cada um tem a vida que merece”
165
(Vieira, 2015, p. 24). Dessa forma pode-se observar que há aproximações entre o indivíduo do
mérito, da meritocracia, e o indivíduo de sucesso almejado pelo método CIS. No que se refere
às articulações com o indivíduo do mérito, pode-se observar que este deve fazer bom uso de
cabe ao indivíduo se esforçar para desenvolver seus talentos e habilidades por meio de
técnicas voltadas para produtividade. Entretanto, McNamee e Miller Jr. (2014) afirmam que
“não é apenas a capacidade inata, ou apenas o trabalho árduo, ou apenas o estado de espírito
adequado que faz a diferença. Em vez disso, é a combinação de oportunidade e esses outros
se aproxima do afirmado pelos autores ao entender-se que é necessário haver uma relação
dinâmica entre fatores como o esforço, as habilidades, os talentos e as oportunidades que são
conjugados entre as áreas descritas pelo CIS para o desenvolvimento. É necessário ressaltar
que McNamee e Miller Jr. (2014) desenvolvem ainda análises sobre, por exemplo, as
& Miller Jr., 2014), acrescentando que tais fatores não podem ser desconsiderados ao se
analisar a meritocracia.
Porém, tais fatores são desconsiderados pelo método CIS, como também se observa na
fatores políticos, sociais e econômicos que possam ser determinantes para os privilégios
48 It is not innate capacity alone, or hard work alone, or the proper frame of mind alone that makes a
difference. Rather, it is the combination of opportunity and these other factors that makes a difference
(McNamee & Miller Jr.., 2014, p.55)
166
Como apontou Maquiavel (1996) e Sadek (1999), a virtude (força e sabedoria) pode
perspectiva cristã de predestinação adotada por Vieira (2015, 2017a), entende-se que para
Maquiavel (1996) o livre-arbítrio é natural do homem, o qual deve lutar com sabedoria pelo
que almeja, sendo tais virtudes necessárias para a manutenção das conquistas de sucesso e do
poder.
Por sua vez, Vieira (2015, 2017a) se diferencia de Maquiavel (1996) ao considerar a
aproxima do filósofo ao acrescentar que se encontra no homem o poder para executar o livre-
arbítrio, ou seja, a possibilidade de conquistar bens, riquezas e honra dependerá de suas ações
individuais e do reconhecimento que estas possam ter. Com isso, Vieira (2015, 2017a) ainda
manutenção de seu poder. Dessa forma, constrói um discurso em que se mantém a origem
divina do homem ao mesmo tempo em que torna possível afirmar que o poder se encontra
Tanto o indivíduo descrito pelo CIS quanto o apresentado por Barbosa (2003) devem
exclusiva por suas vidas, por seus fracassos e progressos, tendo o trabalho como ponto
central. Vieira (2015, 2017a) vai além da meritocracia, pois este detalha outras características
ao indivíduo de sucesso, como a linguagem positiva, permeada por amor e gratidão, assim
ao insucesso.
167
disfuncional e medíocre” (p. 35), em outras palavras, o coach delimita uma divisão entre o
normal e o patológico em que indivíduos que não são de sucesso estão doentes e demandam
tratamento. Ao longo dos livros analisados Vieira (2015, 2017a) fornece modelos de
características, ações, pensamentos e falas sobre fatores que são impeditivos para o
lazer, comida), falas que apresentem afetos negativos (rancor, raiva, tristeza, magoa, medo),
cônjuge, com a saúde, o trabalho, com a religiosidade, com a rotina etc. Já as características
entendidas como demeritórias nessas mesmas áreas são apresentadas como disfunções. Com
gratidão perante as benesses que a ação trouxer, construindo uma relação de reconhecimento
Entretanto, Vieira (2015, 2017a) não apenas afirma o indivíduo como responsável
pelos seus bônus e ônus. Ele também patologiciza aqueles que não correspondem às
últimos a partir de uma estrutura mental correta. Assim como a meritocracia é um processo de
diferenciação entre os indivíduos a partir de seus ônus e bônus (Kreimer, 2000), o discurso de
Vieira (2015, 2017a) propõe uma mesma diferenciação em todas as áreas da vida.
168
disciplinar, poder este que liga forças para multiplicá-las e utilizá-las. Não se trata de tornar
uma massa de indivíduos em algo homogêneo, mas de separar, analisar, diferenciar por meio
exame (Foucault, 2014), como se entende que funciona o método CIS. Com isso, torna-se
constituem a partir de uma lei que tem por papel e função codificar a norma em suas
prescrições. Entende-se que a lei remete a um poder soberano que, no caso do método CIS, é
um código que se pauta primordialmente na ciência e na religião para prescrição das normas.
Há assim um arcabouço de leis que normalizam por meio de técnicas que analisam,
Nesse sentido as técnicas se dividem em quatro aspectos. Primeiro, o intuito é que seja
que ambos se voltam para identificação e classificação (categorização) dos indivíduos a partir
de sua produtividade.
corresponder à proposta de uma visão positiva de futuro (Vieira, 2017a). O quarto aspecto
outros. Ou seja, é a partir daí que se faz a demarcação entre o normal e o anormal” (Foucault,
1978/2008b, p. 75). Deste último aspecto, pode-se ressaltar a relevância das diversas práticas
certo resultado. Por sua vez, suas operações consistem em tornar as pessoas, os gestos e os
atos conforme o modelo, sendo normais apenas aqueles indivíduos que estiverem aptos a
poderes que visam concretizar tais procedimentos no corpo do indivíduo em prol dos
resultados almejados buscar-se-á apresentar de que modo Vieira (2015, 2017a) delimita o
caminho universal do progresso. Para isso, primeiro será analisada a função de Vieira na
instituição FEBRACIS, dando enfoque ao papel exercido pelo coach e suas aproximações
a despeito do papel e função de Paulo Vieira na constituição do método. Isso ocorre pois,
ainda que o objetivo geral seja estudar o discurso de uma instituição, o que se observou é que
seu criador detém funções singulares e centralizadas desde a constituição discursiva até
afirma que a FEBRACIS é a sua empresa de sucesso, abordando ainda seu viés religioso e
descrevendo como sua missão de vida é impactar as pessoas através da FEBRACIS. Vieira
(2017a) vende sua própria história ao leitor como um exemplo de possibilidades de mudanças
oferecidas pelo método que ele mesmo criou, ressaltando ainda suas qualificações
Vieira (2015) ensina e compartilha com seus alunos e leitores suas descobertas sobre
exercendo um poder sobre estes ao apontar os desvios e caminhos. Isso pode ser ilustrado a
vendedor de carros pelo seu insucesso e aponta sua autocomiseração, afirmando que após isto:
mudanças que redirecionaram a vida dele: familiar, conjugal, social e, até mesmo, a
se faz presente no título do seu canal no Youtube: Paulo Vieira – Febracis49, o qual apresenta
FEBRACIS50, a principal face e voz da instituição e do método CIS, sendo que seu currículo
enquanto coach é mais destacado nos materiais analisados do que a instituição em si. Isso se
observa a partir da correlação entre as menções que vangloriam a instituição como “a maior
exercidas por Vieira em sessões de coaching, a criação do CIS e sua formação, como ocorre
na aba “quem somos nós” 52, na página inicial7, na aba “instituto Paulo Vieira”53 e na aba
Logo, ainda que o método CIS seja compreendido enquanto uma prática da
FEBRACIS, é necessário ressaltar que não é possível discernir claramente entre a imagem de
Paulo Vieira e a instituição, pois também se observa que a empresa possui vínculos estreitos
com Vieira e sua família. Afirma-se isso dado que Camila Saraiva (esposa de Vieira) é
vídeos no canal institucional na plataforma Youtube57, fato que não ocorre com diretores de
outras unidades.
O casal possui três filhos que são mencionados de modo geral, já que uma das áreas
abordadas pelo método CIS é a família e Vieira faz uso de relatos pessoais em seus livros. Em
um documentário sobre o método CIS, sua filha mais velha fornece um depoimento que é
transmitido no curso. Neste, a filha de Vieira elogia amplamente o pai, verbaliza que a família
é imperfeita, traz o discurso religioso e afirma o quanto a família, enquanto grupo, evoluiu. A
filha ainda se coloca como aquela que tem um legado a assumir e construir, dados os
família inteira andando de bicicleta e depois em um lago, próximo ao fim da tarde (com
música ao fundo), logo em seguida Vieira faz um discurso emocionado sobre sua família e um
A herança é apenas uma das vantagens que as crianças de pais ricos e bem formados
preferencial e o crescimento de investimento para com os filhos, de modo que os pais passam
atividades físicas e ainda tem a possibilidade de ter um maior tempo passado com as crianças.
sucesso, proprietário de uma empresa a qual possui a intenção de ter sua continuidade no
meio familiar, sendo uma herança familiar para seus filhos. A presença que sua família possui
na instituição traz características de uma empresa familiar, passada entre gerações e com seus
membros atuando nesta, de algum modo. Para além, Vieira não se posiciona apenas como o
presidente de uma empresa, mas como exemplo a ser seguido, missionário (quase divino) de
mudanças na terra que se deleita ao observar as alterações dos indivíduos que seguem suas
palavras e método.
comercializados pela instituição, posto que este é o único autor. Dos livros analisados,
percebe-se que Vieira (2015, 2017a) situa para o leitor seus bordões e os menciona repetidas
vezes. Pode-se afirmar que Vieira promove sua própria imagem enquanto um indivíduo de
Vieira (2017a) relata brevemente sua história de vida anterior ao método CIS, trazendo um
relato de fracasso, tendo renascido para uma vida extraordinária. Como coloca:
iniciei a minha caminhada para a vitória – caminhada essa que continuo e continuarei
por toda a vida. Hoje, meu casamento é ainda melhor do que há vinte anos, também
me sinto mais saudável fisicamente (já corri quatro meias maratonas), tenho mais e
(Coaching Integral Sistêmico), curso criado por mim e que se tornou o maior
mais de 3.500 pessoas. E o melhor de tudo, minha relação com Deus está mais
próxima e mais forte, hoje consigo chamá-lo de Pai – meu Pai (Vieira, 2017a, pp. 27-
28).
diversos momentos de seus livros, isso se observa a partir da gratidão que demonstra em
“Deus, que me concedeu e me permitiu ter as crenças e os valores necessários para trilhar essa
jornada, que me dão energia e entusiasmo para alçar voos ainda maiores e crescer e contribuir
imensamente mais” (Vieira, 2017a, p. 5). Tal crescer e contribuir envolve o método CIS, o
qual guia os indivíduos para mudança e evidencia ainda nos valores da FEBRACIS sua base
existentes na relação entre pastor e seu rebanho, ou seja, um modo de governo sobre os
homens pelos homens, uma arte de conduzir coletiva e individualmente. Logo, se Deus é o
pastor de todos os homens, o indivíduo-pastor será seu subalterno direto e assim como um
econômico dos méritos e deméritos dos indivíduos que visa, necessariamente, o caminho da
partir da metáfora do pastorado, a relação entre pastor e ovelhas não é global (igual para com
todos) e a salvação deve ser integral, ou seja, todos que compõem o rebanho devem ser
salvos. Nesse sentido, também a relação coach e coachee é uma relação singularizada, que se
dá por meio de sessões para o aprofundamento do indivíduo que busca o serviço (Reis, 2014).
Ademais, o método CIS é descrito por seus resultados, como se observa em algumas das
Vieira (2015) considera que ao impactar pessoas por meio do CIS está cumprindo sua
missão, seu destino designado por Deus, ao apresentar um método que pode fornecer
salvação. Assim como apontado por Foucault (1978/2008b), o pastor, é um devoto que cuida
daqueles que pastoreia e deve prestar contas a Deus, posto que Deus “não governa no modo
pastoral. Ele reina soberanamente sobre o mundo através de seus princípios” (Foucault,
1978/2008b, p. 314), de suas leis universais, simples e inteligíveis, as quais são seguidas por
Vieira. Acrescenta-se que o pastor não é a lei, nem um representante dela, pois sua figura não
se aproxima da de um juiz, mas sim de um médico, que cuida e que se encontra submetido às
O coach acrescenta que ““...só Deus pode julgar os vivos e os mortos” (Vieira, 2017a,
p. 156). A nós só compete julgar as atitudes e ações, “e de preferência começando por julgar
as nossas próprias” (p. 156). Assim, observa-se que há um julgamento primordial, uma
avaliação entre o bem e o mal que é feita por Deus e ao indivíduo cabe julgar apenas ações e
mesmo cabe ao pastor, o qual apenas prescreve as leis de Deus (Foucault, 1978/2008b), dessa
Assim, a partir de Foucault (1978/2008b) o pastor deve prestar contas a Deus sobre
suas ovelhas por meio de uma distribuição numérica e individual. Por sua vez, Vieira (2015,
2017a) sinaliza os indivíduos ao adotar, em alguns de seus exemplos, uma abordagem direta
por seus nomes e sobrenomes, além de contabilizar quantas pessoas participam de seus
cursos. Desta forma, Vieira (2015) utiliza-se de depoimentos reais em que apresenta os
por Vieira (2015), ter mudado sua vida após o CIS, tendo conseguido perceber que não estava
sendo uma boa mãe, demitindo a babá (agradecendo por seus serviços), passando a acordar
cedo, e organizar a rotina dos filhos para a escola . No relato apresentado, Vânia ainda declara
ter se tornado uma empreendedora, dona de uma gelateria e pontuando que “sempre falo para
as pessoas que Deus usa anjos, e Ele usou o Paulo Vieira na minha vida e na da minha família.
Sou muito grata” (Vieira, 2015, p. 19). Assim, Vieira (2015) aproxima a sua pessoa e o
método CIS a Deus, que é divino, por meio do depoimento de pessoas que impactou e dos
exaustiva e instantânea, assim como deve se dispor ao sacrifício pelo seu rebanho, ou seja, os
ônus e os bônus são responsabilidade do pastor e este deve se perder por seu rebanho.
Entretanto, caso as ovelhas sejam indóceis, o pastor será absolvido, “e, inversamente, pode-se
dizer que as fraquezas do pastor podem contribuir para a salvação do rebanho, assim como as
227). Desta forma, o cálculo dos méritos e deméritos para salvação implica a submissão às
ovelha, porém, estes mesmos resultados podem reverberar na salvação de uma das partes e
não da outra, caso haja uma condução adequada a partir das leis de Deus. Nesse sentido, os
erros do pastor não devem gerar ônus ao rebanho, mas “o exemplo do pastor é fundamental,
Porém, ainda que Vieira (2015, 2017a) se coloque enquanto um exemplo a ser
seguido, como aquele que conduz ao caminho da salvação e se paute nas leis de Deus, este
das punições, posto que Vieira (2015) se apropria dos méritos dos indivíduos, já que os bons
resultados são utilizados para divulgar o método CIS e o caminho para o sucesso que oferece
Dessa forma, instaura-se por meio do método CIS um sistema de distribuição das
punições e das recompensas, dos méritos e dos deméritos, posto que haverá nos exercícios
uma série de avaliações por notas e níveis de formação diferentes a depender dos cursos já
executados no CIS, assim, "a todo momento se pune e se recompensa, se avalia, se classifica,
se diz quem é o melhor, quem é o pior" (Foucault, 1973/2002, p. 120). A hierarquização que
opera no CIS se dá a partir de uma distribuição dos indivíduos de acordo com sua capacidade
produtiva, seus resultados, logo, as punições operam por meio de representações que
representações, Vieira (2015, 2017a) faz isso por meio de metáforas, analogias ou mesmo
falas diretas para discorrer sobre as punições, os deméritos, que podem sofrer aqueles que não
Afinal, não precisamos ser paranormais nem videntes para imaginar qual será o
destino daquela pessoa que nunca encarou a vida profissional. Não precisamos ser
muito inteligentes para acertar como será o futuro do alcóolatra ou como será a família
do adúltero. Ou como será a saúde do glutão sedentário ou a vida daquela mulher que
trocou os filhos pelos colegas de balada e seu futuro financeiro por bolsas e sapatos.
Certamente é bem mais fácil e cômodo dizer como será a vida das pessoas presas na
Por meio de uma passagem metafórica bíblica em que um senhor concede seus bens
(dons e talentos) aos seus servos, Vieira (2015) explicita como o senhor puniu um dos servos
por este não ter feito o talento prosperar, multiplicar-se, tendo lançado “o servo inútil nas
178
trevas exteriores, ali haverá choro e ranger de dentes” (Vieira, 2015, p. 61). Em seguida Vieira
(2015) acrescenta
e você, o que tem feito com seus dons e talentos? Tem agido e aproveitado? Ou tem
ficado estático, inerte e acomodado? E suas ações e seus comportamentos são cheios
velocidade possível [...] nós estamos falando de ação. Só tem poder quem age (Vieira,
2015, p. 61)
Deste modo, pode-se observar que a essência humana, seus poderosos talentos, foram
autorresponsável; caso contrário, é como negar a lei Deus e correr o risco de sofrer punições.
A partir de Kreimer (2000) pode-se observar que Vieira (2015, 2017a) se afasta de uma
proposta judaico-cristã, pois sua ética não visa apenas alcançar a salvação eterna e o
reconhecimento de Deus; para o coach a gratidão pela criação humana advém de ações que
são reconhecidas em terra, que trazem ganhos materiais e imateriais neste plano. Como se
observa por meio do exemplo, os talentos devem ser valorizados através de ações,
Kreimer (2000) aponta que a transição do mérito católico para o mérito protestante se
deu com a passagem para o mundo moderno em que o pecado passa a ser entendido como
perspectiva holística do método CIS (referente a toda as áreas da vida) entende-se que a razão
da vida do indivíduo proposto por Vieira (2015) não é necessariamente o trabalho, mas este se
apresenta enquanto ponto preponderante nos exemplos e essencial para o sucesso. No mais,
Vieira (2015) ainda orienta o leitor sobre a importância do erro e da aprendizagem, posto que
para haver desenvolvimento deve-se aprender com seus resultados e se questionar: “o que eu
179
devo fazer de modo diferente para que da próxima vez os resultados sejam melhores?”
(Vieira, 2015, p. 67). Tal questionamento é seguido por uma descrição sobre a
Weber (2004) esclarece que, de um modo geral, mas não generalizável, a ascese
católica não priorizava o fomento das atividades econômicas, focalizando a salvação divina,
mundo espiritual e material, compreendendo a vocação profissional enquanto uma missão que
glorifica a Deus e também está a serviço da “vida intramundana da coletividade” (p. 99),
há os eleitos e não eleitos por Deus em suas qualidades, seus talentos, aptidões, sendo que o
destino de cada indivíduo já foi previamente traçado, não havendo uma consideração dos
méritos ou deméritos terrenos, ao indivíduo cabe apenas gerenciar os bens que lhe foram
dispensados por Deus (Weber, 2004). Logo, o que Weber (2004) traz é que “torna-se pura e
simplesmente um dever considerar-se eleito e repudiar toda e qualquer dúvida como tentação
uma atuação insuficiente da graça” (p. 101, grifo do autor), assim, deve-se conquistar na luta
do dia a dia a confiança para a eleição divina por meio do trabalho profissional sem descanso,
homem em sua forma concreta. Para que os homens sejam efetivamente colocados no
preciso a operação ou a síntese operada por um poder político para que a essência do
Neste sentido entende-se que Vieira (2015, 2017a) agrega argumentos judaico-cristãos
(por declarar-se enquanto tal) a protestantes e constrói seu próprio arcabouço teórico-
conceitual que será ainda associado a argumentos científicos para construção de um discurso
forma, pensando a partir de Foucault (1999b), Vieira (2015, 2017a) parte de princípios de uma
lei, no caso, divina, a qual exerce um poder e se articula ao discurso científico e gera efeitos
de verdade, a produção de uma verdade, observáveis na relação de poder pastoral entre coach
religiosos (cristão e/ou protestante) ao propor um caminho do progresso, sendo este caminho
também regulado pelas leis divinas as quais estão preservadas no método CIS.
Outro aspecto que embasa o método CIS é a ciência, considerando que a veracidade e
correção que os indivíduos devem tomar. Ao que parece a escolha de Vieira (2017a) por tais
objetivas sobre o ser humano, cooperando para a construção de técnicas que possibilitam a
desenvolvimento” (p. 84), não mencionando especificamente ao que se refere, possui uma
trazem uma forma mais clara e objetiva de entender o ser humano, seus sentimentos e
mas uma dualidade por imagens mentais e um diálogo interno mental, e, por isso, é um
Desta forma, a proposta corretiva para o sucesso consiste em um método com práticas
concretas voltadas para reprogramação mental das crenças individuais, tais práticas se dão por
meio de discursos que recorrem a saberes das áreas supracitadas, exercícios originais e
menções religiosas para mobilizar os afetos de seus adeptos e criar um campo fértil para
propagar seu discurso de mudança pautada no progresso. Nas palavras de Vieira (2015)
meu objetivo com este livro é produzir estímulos emocionais e cognitivos suficientes
para haver novas sinapses neurais, ou seja, uma nova e diferente maneira de conectar
para Vieira (2015). De modo complementar, Anthony Portigliatti (presidente da FCU) pontua
que “o livro O poder da ação apresenta ampla investigação científica resultante da dedicação
Christian University (FCU)” (Vieira, 2015, p.13, grifos do autor). Sobre o mesmo livro, Vieira
o encare não apenas como uma leitura racional e explicativa, e sim como um manual
questionários e testes. E para que você tenha os melhores e maiores resultados, peço
182
que sublinhe e marque tudo o que achar necessário, mas, sobretudo, que você faça e
responda dedicadamente cada um dos exercícios propostos. Desejo uma ótima leitura e
autoajuda e de sua própria história, mas, o principal discurso a que recorre para afirmar a
eficácia de seu método, é o científico. Paulo Vieira não apenas se pauta em saberes científicos,
mas busca se afirmar discursivamente como alguém que teve uma formação acadêmica que
pesquisador, pode-se até dizer que eu sou um cientista. Mas, com todo respeito,
motivador eu não sou, nem sou esotérico, nem sou autoajuda. [...] se autoajuda é uma
forma pejorativa que não está baseada na ciência, não, não sou. Tudo meu é científico.
No método CIS, hora após hora, eu dou uma base bibliográfica, uma base científica,
eu digo o autor, eu digo o cientista, digo o livro, eu mostro o vídeo dos cientistas. Todo
tempo trazendo uma base científica, eu não falo nada que eu não traga o embasamento
científico profundo. As pessoas saem de lá com mais de trinta citações de livros, onde
eu tenho meu escopo de estudo, de pesquisa. As pessoas saem com, pelo menos, sete
vídeos de cientistas, que balizam toda a minha pesquisa, onde o método CIS está
emocional, que será abordada) e instituições de origem dos cientistas que menciona, visando
da credibilidade ao seu discurso. Porém, para Vieira, a prova da cientificidade do CIS e sua
contribuição se detêm na aplicabilidade que fornece aos saberes científicos, sendo presente
nos exercícios, palestras, cursos e sessões de coaching. Entende-se que seu objetivo
primordial é apropriar-se dos conhecimentos que forem necessários apenas para propor meios
de alterar os indivíduos, corrigir suas ineficiências, seus erros e os aspectos que possam
Assim, observa-se que Vieira (2015) busca dar embasamento científico às ferramentas
que propõe no método CIS, entretanto os exercícios são os principais aspectos ressaltados
para reprogramação mental. É necessário pontuar que, apesar de negar o vínculo com a
autoajuda, Vieira (2017a) situa que sua trajetória teve início a partir de um livro dessa
temática, com autoria de Roberto Shinyashiki (proprietário da editora Gente). Afirma que foi
a partir deste “que minha vida começou a mudar de forma extraordinária. Ali, a minha chave
ligou, os faróis se acenderam e comecei a andar; porém, daquela vez, na direção certa”
Logo, ainda que a presença da autoajuda não seja associada diretamente ao método,
entende-se que por esta ter feito parte das leituras de Vieira e ainda possuir presença em sua
vida (posto que o editor de seus livros é o autor do livro que o impactou) infere-se que esta se
faz presente em seu método de modo indireto, já que é um elemento que o impactou
afetivamente. Não obstante, isso ainda pode ser afirmado ao ser observável citações de
Napoleon Hill, autor de livros classificados como de autoajuda, ao final de capítulos (Vieira,
2017a, p. 52 e p. 162)
Entende-se que, apesar de contraditório, Vieira (2015, 2017a) apresenta uma trajetória
Foucault (1979/2019a). Para o filósofo, o intelectual universal faz uso de seu saber, de sua
discorre sobre como a biologia e a física foram, de maneira privilegiada, as zonas de formação
desse novo personagem, de modo que a extensão das “estruturas técnico-científicas na ordem
da economia e da estratégia lhe deram sua real importância. A figura em que se concentram as
funções e os prestígios do novo intelectual não é mais do “escritor genial”, mas a do ‘cientista
Com isso, considerando o que fora exposto a partir de Vieira (2015, 2017a), como o
(dificuldades familiares, falta de dinheiro e afins), as quais podem ser reconhecidas por
diversas pessoas, Vieira (2015, 2017a) faz uso de seus saberes e de sua competência enquanto
criador) no treinamento que fornece, como um cientista que, pelo menos pretende e, de algum
massas (o que é definitivamente falso, pois não só elas têm consciência deles como
também neles estão implicadas) ou de que ele serve aos interesses do capital e do
Estado (o que é verdade, mas mostra, ao mesmo tempo, o lugar estratégico que ele
ocupa) ou ainda de que ele veicula uma ideologia cientificista (o que nem sempre é
verdade e tem apenas uma importância secundária com relação ao que é primordial: os
Vieira (2015, 2017a) tem por objetivo impactar as pessoas, as massas, veiculando uma
modos de pensar (como explicita ao discorrer sobre outras teorias) e ocupando um lugar
estratégico que ser aos interesses do capital e do Estado ao estimular uma produtividade e
ganhos constantes. A verdade que Vieira (2015, 2017a) busca veicular é a da ciência, tendo a
como essencial ao CIS, posto que é utilizado como parte do título “Método CIS® (Coaching
Integral Sistêmico), curso criado por mim [Vieira] e que se tornou o maior treinamento de
dão de modo livre, o conceito de Goleman não é desenvolvido ou mesmo melhor explicitado
ao leitor. É válido ressaltar que na aba de referência científica do método apontado pelo
website62 enquanto uma pesquisa sobre o CIS, não há uma conceituação de IE, mas menções
sobre o CIS. Como em: “uma metodologia de desenvolvimento pessoal orientada à conquista
Assim, ainda que Goleman seja um Psicólogo, pode-se afirmar suas aproximações
com o discurso neurocientífico, sendo este também mencionado enquanto uma das bases
eventuais menções por parte de Vieira (2015, 2017a) a neurocientistas e seus estudos. Por
exemplo, o estudo desenvolvido pelo “doutor Rene Hurlemann” (Vieira, 2015, p. 198) que
cérebro e
pela inconsciência, pela intuição e pelas crenças. É o lado responsável pela nossa
Inteligência Emocional (QE), assunto tão abordado hoje em dia pelo famoso
arte e a poesia. É o lado que sente paixão, saudade, tristeza, além de ser o responsável
a capacidade de realização, logo, ao seu bordão e foco do método, tem poder quem age,
afirmando que: “se eu tivesse de escolher entre ter grandes ideias e reflexões ou ser realizador,
de ideias medíocres” (Vieira, 2015, p. 73). No intuito de fornecer o caminho para a ação, para
se adquirir IE, Vieira (2017a) vincula tal conceito ao de autorresponsabilidade, afirmando que
pelo seu crescimento nas mais diversas áreas da vida” (Vieira, 2017a, p. 12).
Assim como coloca Vieira (2015) sobre as conceituações de QI e QE, ser inteligente,
ter talento e esforço não bastam para atingir seus objetivos, como apontam McNamee e Miller
Jr. (2014). Estes elementos devem ser cultivados e treinados a partir das oportunidades, mas
ressaltam que nem todo treinamento é uma opção amplamente acessível de formação. Ao
187
do que McNamee e Miller Jr. (2014) denominaram enquanto talento bruto a ser desenvolvido,
entretanto, para os autores, por mais que os talentos sejam fatores relevantes, a complexidade
da questão se centra em saber de que modo a interação entre fatores inatos e fatores
Confluindo com McNamee e Miller Jr. (2014), Vieira (2015), também considera que a
inteligência, o QI, isoladamente não é um fator que por si só pode trazer sucesso para vida do
indivíduo, considerando a interação holística entre todas as áreas da vida. Entretanto, Vieira
a maioria dos cientistas sociais e neurocientistas agora concluem que tentar isolar os
ambos e como esses fatores interagem de maneiras complexas. É claro, entretanto, que
a capacidade inata por si só não conta para nada (McNamee & Miller Jr., 2014, p.
28)63.
um portador de valores universais, e possui uma economia política da verdade que tem cinco
tanto para a produção econômica, quanto para o poder político); é objeto, de várias
63 most social scientists and neuroscientists now conclude that trying to isolate the effects of “nature” from
“nurture” in predicting the probabilities of life outcomes is a wild goose chase; rather than one or the other, what
matters is a combination of both and how those factors interact in complex ways. It is clear, however, that innate
capacity alone accounts for nothing. (McNamee & Miller Jr., 2014, p.28)
188
Goleman que Vieira busca se aproximar de tal verdade, colocando-se no papel de seu
CIS a partir de sua aplicabilidade por meio de exercícios. Por exemplo, em um exercício,
Vieira (2017a) propõe ao leitor adquirir IE ao aplicar a autorresponsabilidade, para isso este
intuito do exercício é evidenciar pontos frágeis e prejuízos do indivíduo para que este possa
corrigi-los, a depender da pontuação avaliada poderá ser um indicativo de que “você poderia
estar fazendo e produzindo muito mais, mas não está. Como consequência sua vida
constituição do saber sem considerar os efeitos e ensejos do poder, Foucault (2014) aponta
que "não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que
não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder" (p. 31). Nesse sentido, ainda
conceitual (de algum modo), um método, uma instituição e uma forma de reprodução daquilo
189
Paulo Vieira e a FEBRACIS se situam no campo de um saber o qual, por meio de suas
Assim, os autores e pesquisas resgatados por Paulo Vieira, são condizentes com sua
trajetória americanizada e cristã de formação, estes (os autores resgatados) são de áreas
científicas como a neurociência, a psicologia positiva, psicologia social e afins. Tais áreas de
indivíduo. Não obstante, o público ao qual se direciona em seu discurso são indivíduos
integra a uma verdade, entende-se que especificamente o método CIS funciona de modo a
produzir um saber e exercer um poder sobre o indivíduo, posto que é uma prática de exame
que combina técnicas disciplinares, ou seja, uma hierarquia que vigia e uma sanção que
normaliza,
Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados
p. 181)
190
Dessa forma, o método é uma proposta de reprogramação mental que visa adquirir
informações sobre os indivíduos e que tem por objetivo controlá-los integralmente, seja
há uma visibilidade fornecida pelas informações e um olhar constante sobre estas, como se
observa nas práticas e exercícios que devem ser executados a partir de etapas ou mesmo
enquanto uma
relatos de inúmeros usuários desta metodologia (Taunay, Souza & Vieira, 2014, p. 12)
O método CIS consiste em uma proposta de correção dos desvios dos indivíduos que
seu corpo e suas crenças religiosas, para isso recorre a saberes principalmente da Psicologia e
da Neurociência. Sendo o CIS posto enquanto uma abordagem de atenção à saúde, Vieira
evidenciando sua proposta corretiva. O CIS se debruça sobre o tempo, o corpo, os gestos e as
atividades de todos os dias, “a alma também, mas na medida em que é sede de hábitos”
emoções, do estresse” (p. 339). Assim, os coaches têm por objetivo fortalecer o indivíduo ou
191
transformação do indivíduo utilizadas para a condução das condutas individuais, sendo suas
computador, um hard disk (HD), que necessita ter espaço liberado para novas informações e
existência por meio de programações mentais, colocando tal corpo como “máquina no seu
Entende-se que o corpo visado e constituído pelo método deve possuir em suas
técnicas e procedimentos um cálculo, uma economia, voltada para eficácia e organização dos
movimentos internos, havendo uma sujeição que impõe relações de docilidade-utilidade, uma
para o aumento de aptidões. Para isto, é proposta a jornada do progresso humano (Vieira,
Consciência
Assim como descrito na meritocracia, todo o foco é posto nas ações individuais, sendo
nas tradições políticas, culturais, religiosas e econômicas (McNamee e Miller Jr., 2014). Tais
tradições deixam como herança para o indivíduo uma ética e moral protestante voltada para o
Estado, ou seja, igualdade civil; uma economia capitalista pautada no livre mercado,
que crê ser possível alcançar objetivos ao tê-los como metas (Mcnamee e Miller Jr., 2014).
Logo, a meritocracia recorre apenas a características dos indivíduos para explicar o que
Vieira (2015) discorre que Deus habita o homem por meio de uma voz que convida o
indivíduo a acordar (tomar consciência), conectando-se com sua parte divina, explicitando
que não há sorte, há a recompensa de Deus pelos esforços em criar abundância. Assim, para
Vieira (2015), o indivíduo deve ter ações voltadas para um posicionamento autônomo por
quem é o timoneiro do barco de sua vida e em quais áreas se localizam seus prejuízos. É por
meio destas questões, que são feitas e refeitas por um tempo indeterminado, que há um modo
Ainda Vieira (2015, 2017a) dê relevância da autonomia, é o coach que traz definições
de sucesso e que se coloca em uma posição daquele que explicita a verdade dos fatos, que
“Os resultados que você tem colhido na sua vida estão de acordo com o que você gostaria de
pastorado nem sempre é voluntária, podendo ser obrigatória e necessariamente deve ocorrer
de haver uma obediência integral, de submissão, de um indivíduo para com outro, assim a
ovelha deve ser capaz de ter humildade e renunciar às suas próprias vontades, entendendo-se
193
que estas são ruins (Foucault, 1978/2008b). Neste sentido, no pastorado há um modo de
individualização que demanda a anulação do eu, posto que o pastor atua a partir da verdade,
ou seja, sua função é mostrar a direção correta da conduta cotidiana, passando por uma
observação, uma vigilância e uma direção exercida a cada instante. Como coloca Vieira
(2015)
Então, fique alerta. Sua vida não é o que você diz que ela é, e sim o que é percebido,
visto e presenciado na prática. Não adianta você dizer que é um bom pai e que seus
filhos são felizes se você não dedica tempo, e tempo de qualidade, a eles. Não adianta
dizer que você é um bom pai, se seus filhos não são fortes emocionalmente, vigorosos
e felizes. Então, não importa o que eu ou você dizemos, não importa nossa visão, às
vezes até nossas certezas sobre o que acontece no dia a dia. O que importa são nossos
2015, p. 37)
Com isso, o poder que opera nesta relação coach e coachee, pastor e ovelha, busca no
individuais em todas as áreas da vida. A partir de Foucault (1999b) entende-se que “somos
forçados a produzir a verdade pelo poder que exige essa verdade e que necessita dela para
poder de coação e submissão a tal verdade, devendo segui-la enquanto parte de uma norma.
poder que indaga para apontar o desvio. Há um registro escrito da identificação resultante dos
194
questionamentos das áreas da vida que estão produtivamente insuficientes, ou, ao menos, não
baseado em uma rotina de excelência” (Vieira, 2015, p. 36). Logo, entende-se que tal verdade
se atrela ao explicitado por Foucault (1999b), para o qual: “temos de produzir a verdade
como, afinal de contas, temos de produzir a riquezas, temos de produzir a verdade para
produzir riquezas” (p. 29). Desta forma, a tomada de consciência é apresentada por meio de
Ele dorme cedo com uma sensação de preenchimento, de completude, de que sua vida
vale a pena ser vivida. No dia seguinte, acorda cedo, pensa em seus planos e sonhos
futuros, vai fazer atividade física e depois saboreia um saudável café da manhã com
boa parte da família. Depois vai trabalhar com entusiasmo e energia. Como isso é
Cumprimenta cada colega de trabalho com olhar sorridente, sorriso sincero e palavras
como um perito no que faz. Esse homem sente enorme prazer em trabalhar e produzir.
Ao acabar sua jornada de trabalho, ele é invadido por uma sensação gostosa de dever
colegas e sai com um sorriso no rosto e ávido para chegar em casa, sabendo que
existem pessoas que esperam por ele no aconchego do seu lar. Isso é de fato normal.
Quando ele chega em casa, tudo se repete, de maneiras diferentes, mas com a mesma
A verdade que Vieira (re)produz é a da ação produtiva, esta diz sobre o indivíduo que
deve ser produtivo e como este deve ser. Com isso, é importante ressaltar a função da ação,
pois com a tomada de consciência é necessário que se aja, que o indivíduo faça algo a respeito
da sua condição, saia da zona de conforto improdutiva e de narrativas que justifiquem sua
comportamental, como Vieira (2015, 2017a) coloca (repetidas vezes) em seu bordão: “TEM
PODER QUEM AGE E MAIS PODER AINDA QUEM AGE CERTO E MASSIVAMENTE”
aproxima de Vieira (2015, 2017a) até certo ponto, posto que ambos percebem nas ações
distanciam-se neste mesmo ponto, posto que para Foucault (1999b) o poder se dá
necessariamente nas relações, não sendo um fator detido pelo indivíduo ou mesmo substância
divina. Assim, por mais que as ações individuais façam parte da percepção de poder em
Foucault (1999b), entende-se que tais elementos devem ser analisados a partir de suas
relações com outros elementos, considerando a função que exercem dentro de mecanismos de
uma coisa que circula, ou melhor, uma coisa que só funciona em cadeia. Jamais ele
está localizado aqui ou ali, jamais está entre as mãos de alguns, jamais é apossado
como uma riqueza ou um bem. O poder funciona. O poder se exerce em rede e, nessa
rede, não só os indivíduos circulam, mas estão sempre em posição a ser submetidos
por esse poder e também de exercê-lo. Jamais eles são o alvo inerte ou consentidor do
poder, são sempre seus intermediários. Em outras palavras, o poder transita pelos
Logo, para Foucault (1999b) o poder transita pelo indivíduo, sendo este ao mesmo seu
constituidor (por meio do corpo) e intermediário (seu efeito), considerando-se que “o domínio
corpo pelo poder” (Foucault, 2019b, p. 235). Em contrapartida, Vieira (2015, 2017a) constrói
Foucault, 2019b).
aquisitivo” (Vieira, 2015, p. 144), o coach delega aos indivíduos o poder de mudar sua
indivíduo por seus ônus e bônus, assim como no discurso meritocrático de que cabe o
indivíduo ter as ações necessárias para alterar sua realidade, anulando a possibilidade de se
independentemente de suas origens socioeconômicas, gênero, raça, já que tais fatores não são
barreiras para o sucesso, basta que o indivíduo libere seus talentos interiores por meio do
para Vieira (2015, 2017a), que reside a possibilidade de desenvolvimento a partir dos
Para além, o poder exercido busca guiar o indivíduo para um caminho sempre positivo
nossa essência foi criada por Deus e é imutável, até porque é perfeita, porém a criação
quantidade e qualidade de amor que nos foi dada, tudo isso nos tornou pessoas
distantes dos nossos sonhos e potenciais [...] podemos ser mais motivados, mais
alegres, mais amorosos, mais competitivos, mais vitoriosos, mais entusiasmados, mais
felizes, enfim, podemos ser quase tudo o que quisermos. Isso é ser humano, ou seja,
exercer de forma digna o livre-arbítrio que Deus nos deu. Acredite, você pode optar
por uma vida muito melhor, mais farta de amor, conquistas e realizações (Vieira,
2017a, p. 35)
que construímos que deturpa o potencial humano, como se a sociedade fosse necessariamente
sentimentos positivos. Com isso, considera-se o poder exercido enquanto coercitivo, mas
também em sua positividade, pois possui efeitos positivos no nível do desejo e do saber,
produzindo um saber sobre o indivíduo que visa à produção de corpos (Foucault, 2019b). Em
outras palavras, o ser humano é bom, vitorioso e competitivo por natureza, é a própria
sociedade que, contraditoriamente construída por humanos, nos deturpa. Para obter tal
o único responsável pela vida que tem vivido” (Vieira, 2017a, p. 82)
Autorresponsabilidade
se apropriar de seus ônus e seus bônus, ou seja, todas as suas ações e pensamentos, assim
conceito basilar criado e disseminado no método CIS e pela FEBRACIS, que também é uma
ferramenta, configurando-se como uma prática e discurso, que tem por intuito explícito a
voltadas para que este compreenda a si enquanto força motriz de mudanças e das
plenamente consciente e mestre de suas escolhas, ele é plenamente responsável por aquilo que
lhe acontece” (p. 344). Entende-se que tanto os procedimentos voltados para examinar a
poderes que “extraem dos indivíduos um saber e extraem um saber sobre estes indivíduos
submetidos ao olhar e controlados [...] se forma um saber extraído dos próprios indivíduos, a
partir de seu comportamento” (Foucault, 1973/2002, p. 121) e se identifica o saber que tais
emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito […] fazem-se a si
e a dor, e sem ter o que fazer, [o indivíduo] reconhece seus caminhos errados, se arrepende e
muda” (Vieira, 2017a, p. 73), isto é responsabilizar-se pelos seus erros, aceitar suas punições.
Como ainda acrescenta em um de seus relatos sobre experiências reais, Vieira descreve como
ele fez a dor aparecer no intuito de “experimentar mentalmente as consequências dos seus
atos” (Vieira, 2017a, p. 80). Nos exemplos utilizados como frases modelo de
devem ser desconsiderados, assim como aponta para submissão as demandas de produtividade
Houve um corte por causa da crise e, por não estar batendo minhas metas, eu fui
demitido. A partir de agora, estou disposto a fazer tudo de modo diferente, alcançar
minhas metas e ser motivo de orgulho para as pessoas que me amam (Vieira, 2015, p.
68)
Entende-se que Vieira e o CIS têm como parte do método se colocar na posição de
quem gera punições ao indivíduo, gera a dor, e em seguida fornece a norma, a solução e um
próprio conceito é que, ao compreender que tudo é responsabilidade individual, Vieira (2015)
é apenas aquele que expõe um fato, não considerando tais posturas como culpabilizadoras.
as “seis leis da autorresponsabilidade” (Vieira, 2015, Vieira, 2017a), estas definem como o
indivíduo deve conduzir suas ações e pensamentos para ser autorresponsável. De um modo
geral, descrevem que o indivíduo não deve criticar e julgar os outros, reclamar de suas
circunstâncias, buscar culpados, se fazer de vítima, julgar ou mesmo justificar seus próprios
erros, pois, caso o faça, o indivíduo estará criando historinhas e sendo improdutivo.
200
reclamação, o julgamento e afins, são explicitados de modo a dizer para o leitor o que este
deve ou não fazer, o foco em que deve direcionar suas ações (objetivos e resultados) e de que
modo deve ater-se a ações pacíficas e positivas, afinal, argumenta-se que o indivíduo deve
buscar a solução, dar sugestão, ter postura de vencedor e aprender com seus erros (Vieira,
2017a).
Como exemplo, são abordadas três diferentes historinhas em que o indivíduo é obeso,
possui hábitos sedentários e não possui bons ganhos econômicos, exemplos do cotidiano que
tangenciam relações domésticas e de trabalho para ilustrar maus hábitos (não produtivos) para
que posteriormente o leitor identifique e avalie (nos exercícios) quais são os seus. Tal discurso
documenta de modo específico, se associa a este discurso, já que coloca todas as suas ações,
contento, eles dão seu melhor, mesmo que não sejam tão valorizados, continuam sendo
produtivos e alegres” (Vieira, 2015, p. 75). A partir disto, observa-se que seu conceito se pauta
consciente por parte do indivíduo em compreender que sua vida é um resultado direto apenas
de suas ações, devendo conformar-se com seus resultados, sem esta percepção, pontua-se que
sucesso econômico enquanto aquele que possui habilidades cognitivas, como a inteligência,
201
diversas atitudes e traços comportamentais específicos, resumidos pela expressão “ter atitude
Ter a atitude certa está associado a qualidades como ambição, energia, motivação e
confiabilidade. Também pode envolver traços mais sutis como bom senso, senso de
independência e assim por diante. Por outro lado, a falta de atitudes adequadas,
McNamee e Miller Jr. (2014) ainda acrescentam que as atitudes corretas podem
Desta forma, ao descrever os indivíduos obesos, que não ganham muito dinheiro e que
não fazem exercícios físicos enquanto aqueles que não possuem um estilo de vida abundante
Vieira (2015) os desqualifica. Tal desqualificação pode ser compreendida como uma forma de
vergonha, de humilhação, sendo este um modo de culpar, de punir, o indivíduo por suas
Isto pode ser exemplificado a partir da 4ª lei da autorresponsabilidade, que traz que
caso a pessoa se vitime isso se dá devido a traumas infantis, uma falta de amor e atenção por
autocomiseração quando adultos (Vieira, 2017a). Não obstante, Vieira (2015), ao discorrer
Caso este venha a ser o tipo de conduta do indivíduo, o mesmo deve constituir
modo de punição ao colocar que o indivíduo que escapa a norma é detentor de uma disfunção,
sendo esta sua responsabilidade e é ofertada uma solução para corrigir, no caso do exemplo,
seus traumas, caso contrário, o indivíduo não obterá o sucesso (Vieira, 2015).
Com isso, o método CIS se adéqua a arranjos panópticos de funcionamento, posto que
é um modo de poder que se “exerce sobre os indivíduos sobre forma de vigilância individual e
1973/2002). Assim ocorre uma vigilância, um controle e uma correção (bases do panóptico)
coaching) e fornecendo uma estrutura que conta com profissionais formados pela própria
instituição, material didático e uma estrutura arquitetônica que possui salas de treinamento,
aparatos que possibilitam uma vigilância que individualiza o autor dos atos, ou seja, dá foco,
1973/2002), assim, “é justamente por ser um indivíduo que ele se encontra colocado em uma
instituição, sendo esta instituição que vai construir o grupo, a coletividade que será vigiada”
No que se refere à operação de uma inclusão por exclusão, Sawaia (1999) discorre que
exclui, gerando o sentimento de culpa individual pela exclusão” (p. 9). Nessa análise
culpa, sentimentos morais generativos e ideologizados com a função de manter a ordem social
excludente, de forma que a vergonha das pessoas e a exploração social constituem duas faces
da mesma questão (Sawaia, 1999). Entende-se que Vieira (2015, 2017a) opera a partir desta
perspectiva, posto que faz uso deste conceito para diferenciar os indivíduos entre aqueles de
diferentes camadas hierárquicas a partir do momento que não correspondem a norma. Dessa
Considerando que para o método CIS a oportunidade é um dos fatores que expressa o
resultado individual, Vieira (2015, 2017a) discorre que o indivíduo não deve aguardar as
desenvolvimento de si, ao, como já fora mencionado, “plantar sementes” para colher
oportunidades. Como o coach coloca: “acredite, estamos plantando a todo instante. Se estou
ereto e alegre, certamente estou plantando tais sementes. E com pensamentos, sentimentos e
neurociência e da mágica emergem em uma mesma sentença, já que Vieira (2015, 2017a)
emergirão.
Por sua vez, para McNamee e Miller Jr. (2014) a oportunidade envolve dois fatores
não meritocráticos, o capital social e cultural. Os autores discorrem que a oportunidade não é
um fator individual, ou seja, em que a partir das habilidades o indivíduo seja capaz de
construir oportunidades, como expõe Vieira (2015, 2017a). Para McNamee e Miller Jr.
(2014), ainda que a oportunidade não seja dissociada de fatores como as capacidades
individuais, esta depende de fatores como quem o indivíduo conhece, suas relações
refere a
ao conhecimento das normas, valores, crenças e modos de vida dos grupos aos quais
demorada para acumular, que, como o capital social, medeia o acesso à oportunidade.
Ambos os capitais mencionados são constituídos primordialmente por fatores que não
são passíveis de controle individual, posto que se referem aos espaços e indivíduos que se tem
acesso e a adequação as normas, valores, crenças de determinados grupos para que seja
fazer surgir oportunidades, como coloca Vieira (2015, 2017a), pois demandam uma
adequação aos valores de grupos determinados, as regras e normas para ser possível ter acesso
ao meio. Nesse sentido, as oportunidades assemelham-se mais aos privilégios, da sorte e das
Os grupos de classe, status, gênero, raça e etnia têm acesso diferente ao capital social
65 Individual and family social connections mediate access to educational, occupational, and economic
opportunity (McNamee & Miller Jr., 2014, p.78)
66 knowledge of the norms, values, beliefs, and ways of life of the groups to which people belong. It is
information, often esoteric, specialized, costly, and time consuming to accumulate, that, like social capital,
mediates access to opportunity. It is a factor in social mobility because as people move into different segments of
society, they need to acquire the cultural wherewithal to travel in different social circles. In essence, cultural
capital is a set of cultural credentials that certify eligibility for membership in status-conferring social groups
(McNamee & Miller Jr., 2014, p.77)
206
contatos com melhor posição social (McNamee & Miller Jr., 2014, p. 83)67
hierárquico, no qual, por definição, algumas pessoas ficam necessariamente para trás. A partir
dos atores sociais e as relações que os constituem. Entende-se que tais relações de
mas também nas possibilidades de ter acesso a oportunidades que permitam a mobilidade
social.
tensões e as pressões suscitadas pelas diferenças, pelas desigualdades, logo, também é seu
grau que explicita as distribuições de oportunidades (Scalon, 1999). Assim, Scalon (1999)
assegura a eficiência e a ordem mediante o bom desempenho dos indivíduos, sendo que, o que
garante uma alocação eficaz dos talentos. Por exemplo, instituições de treinamento e
a necessidade de mão de obra qualificada, a partir do que o mercado demanda, que favorece a
Com o foco dado ao indivíduo por Vieira (2015, 2017a), este desconsidera fatores não
67 Class, status, gender, racial, and ethnic groups have different access to social capital because of their
advantaged or disadvantaged structural positions and associated social networks. Individuals with higher
socioeconomic origins are more likely to access better social resources in social networks or to find contacts
with better social standing (McNamee & Miller Jr., 2014, p.78)
207
Vieira (2017a) pontua que “como diz na Bíblia: “De Deus não se zomba. O que você plantou
isso sim é o que você vai colher [...] então faça o que é bom, produtivo e benéfico” (p. 83).
não são distribuídas por Vieira (este se coloca apenas como articular do discurso punitivo,
dissociando-se enquanto autor da punição), mas sim por Deus ou por Jesus Cristo, utilizadas
Ele [Jesus Cristo] de fato era completamente autorresponsável, não criticava, não
reclamava, não buscava culpados, não se fazia de vítima, de modo algum julgava os
genuíno. Não fugia, nem se calava diante da mentira (Vieira, 2017a, p. 180)
Apesar disto, Vieira (2015) pontua que não deve responsabilizar a Deus por sua
condição de vida, que este não está trabalhando contra os indivíduos e não deve ser
responsabilizado pelo azar e erro alheio, mas, considerando a metáfora do semear, pode-se
inferir que Deus também recompensará o indivíduo a partir do que este plantar, com as
improdutividade, será punido com falta de abundância, consequência de seus próprios atos e
distribuída por Deus, sendo apenas os resultados das ações do indivíduo. Com isso, Vieira
seus pensamentos, afetos e comportamentos para que seja possível mudar, reconhecendo suas
zonas de conforto e alterando as “historinhas” (mentiras que conta para si, mas que são
208
verdades para o cérebro) e construindo novas histórias (novas verdades sobre si) com uma
visão positiva de futuro (Vieira, 2015). Logo, ao se debruçar sobre seus erros, historinhas e
ineficiências o indivíduo entra em contato com a verdade, faz uso de sua autonomia, se
esforça e direciona suas habilidades para mudanças que tragam a plenitude e a produtividade,
não reclamando e colocando-se como timoneiro de sua vida de modo sempre positivo, não
abundância (ligada a uma vida extraordinária) só é possível de ser alcançada caso haja uma
vida, característica e caráter, inerentes aos indivíduos de sucesso. Compreende-se que seu
intuito é evidenciar as ineficiências dos indivíduos, sua falta de produtividade, para que, por
meio do poder que o habita este altere seus comportamentos ao se assumir enquanto o único
responsável por onde se encontra hoje, e o único que deve mudar, para isto ser possível, Vieira
uma confissão, uma culpabilizam de si e ferramentas para o planejamento (controle) das horas
do dia pode-se observar que, enquanto uma instituição disciplinar, a FEBRACIS sequestra o
tempo e produtividade do indivíduo por meio de jogos de poder e de saber, poder múltiplo e
isso, procura-se que “o tempo da vida se torne tempo de trabalho, que o tempo de trabalho se
torne força produtiva; tudo isto é possível pelo jogo de uma série de instituições” de sequestro
(Foucault, 1973/2002, p. 122), tendo como objetivo “fazer do tempo e do corpo dos homens,
da vida dos homens, algo que seja força produtiva” (Foucault, 1973/2002, p. 122).
209
A partir do método CIS (Vieira, 2017a), para mudar não basta apenas a consciência e a
visão positiva de futuro, terceira etapa do progresso humano. Nesta, Vieira (2017a) aponta a
quais imagens têm sido cultivadas, “imagens de paz, amor, prosperidade e felicidade, ou de
dor, medo, angústia, frustração, perda e tristeza?” (Vieira, 2017a, p. 86). Para o coach é
necessário reprogramar tais imagens negativas e construir uma visão positiva de futuro bem
definida por meio das ferramentas ofertadas pelo CIS, como o foco.
Ao pontuar que se deve agir massivamente e na direção certa, Vieira (2015) afirma
que apenas o esforço não basta, é necessário que também haja um planejamento, um conjunto
de metas e objetivos a serem delimitados entre coach e coachee estruturando-se um foco. Tal
foco é tido como uma expressão do poder que advém das capacidades individuais que
Entende-se que tal expressão de poder que remonta ao planejamento, metas e objetivos
Jr. (2014) enquanto um dos fatores essenciais para o sucesso, posto que se refere a efeitos de
atitudes, como motivação, laboriosidade e ambição. Porém, McNamee e Miller Jr. (2014)
ressaltado por Vieira (2015). O coach discorre que o esforço por si apenas não basta, aspecto
ilustrado por McNamme e Miller Jr. (2014), os quais afirmam que aqueles que trabalham mais
é muito mais importante do que o quão “duro” elas o fazem. Quando as pessoas citam
o trabalho árduo como um fator para progredir, elas realmente significam trabalho
produzida de modo rápido para “potencializar a vida em todas as suas nuances” (Vieira, 2015,
p. 103). Para isso, é necessário que o indivíduo identifique quais são os fatores que o afastam,
que o distraem de seus objetivos. Entende-se que tais fatores referem-se a momentos de lazer,
hábitos, relações e pensamentos, planejados ou não, mas que não possuem um propósito
de distração que precisam ser regulados, como, por exemplo, festas, televisão, jogos, redes
amorosos improdutivos, insegurança, depressão e “só fazer o que dá prazer” (Vieira, 2015, p.
106).
Vejo ainda com frequência pessoas que assistem apenas uma “novelinha” todas as
noites. Isso quer dizer que essa pessoa passa mais de uma hora por dia na frente da TV.
Sete horas por semana, trinta horas por mês, 360 horas por ano. Em termos de tempo,
Vieira (2015) promove um discurso em que tais comportamentos não são apenas
68 Hard work matters, but in terms of compensation, what people do matters much more than how “hard” they
do it. When people cite hard work as a factor in getting ahead, they really mean hard work in combination with
other factors, especially opportunity and acquired skills, both of which are more related to social background
than individual capacities (McNamee & Miller Jr., 2014, p.36)
211
filhos órfãos de pais vivos, empresas quebradas, acidentes e muitos outros danos” (p. 106).
Com isso, constrói-se uma perspectiva em que o lazer, atividades prazerosas e as relações
desenvolvimento que proporciona, como na citação acima, em que ver 1 hora de novela por
dia é um fator improdutivo que poderia ser substituído por uma pós-graduação.
Como fora pontuado, o mecanismo da FEBRACIS necessita que o tempo dos homens
seja oferecido ao aparelho de produção, para que possa utilizar “o tempo de existência dos
homens. É para isso e dessa forma que o controle se exerce […] é preciso que o tempo dos
homens seja colocado no mercado, oferecido aos que querem comprar, e comprá-lo em troca
O tempo sequestrado não é apenas o do dia de trabalho, mas o da vida como um todo;
futuro, ou seja, controla-se o corpo em todas as instâncias possíveis. Isso “implica uma
corpo do indivíduo” (p. 119), posto que na modernidade industrial o corpo deve “adquirir
formar o corpo para o trabalho, todo o tempo possível deve ser em prol desenvolvimento de
que define, em um exemplo, quais atividades devem ser feitas a cada hora, isto entre as 7h e
as 23h, sendo que o único dia que não possui uma rotina é o domingo. As atividades
delimitadas na ferramenta são: trabalho, refeições, estudos, atividades físicas, leituras bíblicas,
organização financeira, trabalhos caritativos, contato com a família extensa e tempo com a
família nuclear.
Delimitadas as áreas que devem compor a rotina do indivíduo Vieira (2015) apresenta
desta forma, a vida é então repartida de acordo com um horário absolutamente estrito, sob
uma vigilância ininterrupta posto que cada instante do dia é destinado para alguma coisa,
engloba um discurso que demanda a construção de uma visão do futuro pautada em metas
consistência, ou seja, necessidade de repetição até que o objetivo tenha sido alcançado
(Vieira, 2015). O saber documentado individualiza, toma conhecimento das condutas, dos
virtualidades, para discernir onde é necessário operar para sua alteração (Foucault, 2014). Há
uma apropriação do tempo do indivíduo não apenas em seu aspecto cotidiano, mas ainda, se
apropria e cria ferramentas para manutenção do controle dos corpos em suas histórias e
Enquanto exemplo de foco, Vieira (2015) aborda um caso acompanhado por ele em
que o indivíduo passou de um pró-labore de 15 mil reais para 180 mil reais em 8 meses.
Primeiro (foco visionário) o coach apresenta as metas e a visão que indivíduo construiu,
fechar o ano com uma renda de 50 mil por mês. Visão: mostrando para a esposa o
instrumentos para falar, escrever, agir, pensar, refletir, ler, ouvir, assistir e imaginar sempre em
prol das metas (Vieira, 2015). A terceira, o foco consistente, visava cumprir uma agenda
programada, construída com o Paulo Vieira, para dar continuidade aos outros dois tipos de
foco até que a meta final tenha sido cumprida (Vieira, 2015).
Com isso, ao partir dos sonhos, da visão de futuro almejada pelo indivíduo, o coach
mediação solitário, trabalho em comum, silêncio, aplicação, respeito e bons hábitos [...] o
(Foucault, 2014, p. 128). O que se propõe explicitamente no discurso de Vieira (2015, 2017a)
Pensando a partir de Foucault (2014), tais indivíduos possuem seu tempo capitalizado
e controlado através de processos que dividem serialmente as etapas, como no modo como
divide o tempo e que propõe formações que vão além do método CIS e se combinam segundo
integral do indivíduo com formações voltadas para todas as áreas abordadas pelo CIS, seja
executando a formação completa Green e Golden Belt ou mesmo desenvolvendo-se por meio
Outro aspecto abordado que se refere à visão positiva de futuro é a linguagem, que
busca modificar a comunicação verbal e não verbal. Vieira (2015) parte do princípio da
da gratidão. Não obstante, as posturas e aparência física devem comunicar poder, paz, vitória,
financeira, abundância familiar, saúde física e muito mais” (Vieira, 2015, p. 141).
afirma o indivíduo deve produzir uma nova maneira de se “comunicar interna e externamente,
verbal e não verbalmente […] me refiro a novas sinapses neurais, novos programas mentais,
um novo estilo de vida e conexão humana” (Vieira, 2015, p. 141). Ao caracterizar esta nova
linguagem neurológica, Vieira (2015) pretende que o leitor aprenda a produzir “o comando
perfeito que seu cérebro entenderá e prontamente obedecerá” (Vieira, 2015, p. 142).
Vieira (2015, 2017a) visa o controle dos discursos individuais. Como coloca Littler
que pode se referir aos desejos dos indivíduos. A partir de Foucault (1999) o discurso opera,
também, por meio de procedimentos de exclusão, como a interdição, em que se entende que
todos os indivíduos não têm direitos iguais sobre o que se pode falar ou em qualquer
circunstância, nem sobre qualquer assunto. Interdições estas que evidenciam a ligação entre
215
desejo e poder, posto que o discurso “não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o
o errado a ser dito, Foucault (1999) discorre sobre a vontade de verdade, que se apoia em um
distribuído, repartido e que exerce uma forma de coerção. Ao abordar tal aspecto, Foucault
(1999) pontua que “as práticas econômicas, codificadas como preceitos ou receitas,
e justificar-se a partir de uma teoria das riquezas e da produção” (p. 18), assim, neste discurso
a verdade se encontra no próprio enunciado, no seu sentido, na sua forma, no seu objeto, na
sinapses neurais consiste em alterar os valores éticos e morais do indivíduo sobre o mundo ao
seu entorno a partir da modificação de como este se comunica por meio da linguagem verbal e
comportamental, assim como o que pensa e sente. Para abordar aspectos específicos à
Vieira (2015) aponta que na pesquisa de Emmons e Michael E. McCullough “a gratidão tem
impossível atingir um alto nível de felicidade sem tê-la como estilo de vida” (Vieira, 2015, p.
154).
associada a felicidade, sendo vinculadas intrinsecamente, assim seu discurso faz uso de
216
argumentos científicos para afirmar que sem um alto nível de produtividade não haverá a
felicidade. No que se refere à comunicação não verbal, Vieira (2015) pontua que esta “inclui
todos os maneirismos gestuais, posturais, entonação vocal e expressões faciais etc” (Vieira,
2015, p. 177) e acrescenta ainda que “o que todos os experimentos e todas as pesquisas da
Neurociência mostram é que podemos definir nossa performance e nossos resultados apenas
que para o desenvolvimento de um novo padrão linguístico, o indivíduo deve eliminar falas
tais falas, instalando um novo padrão ultrapositivo o qual produzirá os hormônios necessários.
Para Vieira (2015) as palavras são proféticas, logo, mesmo uma situação que não seja
benéfica ao indivíduo deve ser manejada de modo positivo, caso contrário o mesmo sofrerá os
efeitos nocivos de sua fala. Observa-se que os discursos mencionados produzem uma
e que apenas assim poderão ter abundância, que equivale a uma vida produtiva, com isso, o
indivíduo produtivo é dócil, já que, nesta perspectiva, ações negativas não são autorizadas.
discurso” (p. 36), dessa forma há uma produtividade, já que há uma multiplicidade de
discursos que são produzidos, não deixando de haver uma coerção, tratando-se de determinar
suas condições de funcionamento, como se observa no ritual. Entende-se que o ritual define a
qualificação que os indivíduos falantes devem possuir, devendo ocupar determinada posição e
devem acompanhar o discurso; fixa, enfim, a eficácia suposta ou imposta das palavras,
seu efeito sobre aquele os quais se dirigem, os limites de seu valor de coerção […]
217
crenças do CIS, posto que este possui exercícios (verbais e escritos) que se debruçam
100% disponíveis a qualquer um que esteja disposto a usá-las” (Vieira, 2015, p. 141). Não
obstante, a dimensão do pensamento é tida enquanto um aspecto que pode ser alterado pelos
comportamentos. Vieira (2015) cita diretamente (em itálico e com recuo no parágrafo) Amy
Cuddy, psicóloga de Harvard, que demonstra que posturas produzem hormônios, como,
Sabemos que nossa mente muda nosso corpo, o que não sabíamos é que nosso corpo
muda nossa mente ainda mais rápido. Como também fazer poses ou posturas de poder
por alguns minutos pode realmente mudar sua vida de maneira significativa,
2015, p. 178)
De um modo geral, Vieira (2015) entende que “quando gerenciamos nosso estado
de direcionar com grande margem de acerto nossa vida ao alvo desejado. Isso é poder pessoal
ao seu alcance” (Vieira, 2015, p. 93). Tal citação ilustra a percepção geral de poder
disseminada por Vieira, assim, tem-se que o poder é algo associado à conexão divina do
homem com Deus e que foi descoberto como utilizá-lo através da ciência. Percebe-se que
quem não fizer uso do poder poderá ser punido e perder este, mas que aqueles que o fizerem
terão sucesso, serão reconhecidos por seus dons e talentos e (de acordo com o bordão) serão
detentores do poder.
218
instrumentos que utiliza para transformá-lo (Foucault, 2014). Compreende-se que a força do
poder se dá
também no nível do saber. O poder, longe de impedir o saber, o produz. Se foi possível
escolares. Foi a partir de um poder sobre o corpo que foi possível um saber
É isso que permite que o poder se mantenha e que seja aceito, este não é simplesmente
uma força que diz não, mas que de fato permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber,
produz discurso (Foucault, 1979/2019a). Deve-se considerá-lo como uma “rede produtiva que
atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função
reprimir” (Foucault, 1979/2019a, p. 45). Desta forma, ao caracterizar como o indivíduo deve
pensar, agir e ser limitando isto a aspectos positivos e produtivos, Vieira (2015, 2017a) produz
discursos que devem ser reproduzidos pelos indivíduos, cooptando seus desejos.
progresso (Vieira, 2017a), sendo o método CIS “um composto de ferramentas que leva o
profundamente as crenças enraizadas” (p. 89) e aplicar sua visão positiva de progresso. Dessa
forma, Vieira (2015, 2017a) fornece um arcabouço prático próprio para construir a trajetória e
método CIS e, ao mesmo tempo, traz o método como uma etapa final da jornada do
219
desenvolvimento humano, compreendendo-se que este é separado das outras três etapas,
sendo estas sobrepostas aos outros discursos utilizados por Vieira. Nesta etapa o enfoque é
dado aos exercícios e treinamentos, logo, faz-se coerente abordá-la no tópico que se refere às
práticas.
de um saber, assim, McNamee e Miller Jr. (2014) pontuam que a “educação identifica e
em proporção indireta ao mérito individual” (p. 101)70. Os autores continuam que os tipos e a
critério de elegibilidade para ocupações e recompensas materiais, que são parte da chave do
desenvolvimento tecnológico e científico, McNamee e Miller Jr. (2014) situam que novas
modernidade haver um processo educacional para inclusão no atual mercado, para ter
desenvolvido. Assim, a educação envolve fatores meritocráticos e não meritocráticos, pois diz
Vieira (2015, 2017a) utiliza o discurso da Neurociência para argumentar que por meio
70 education identifies and selects intelligent, talented, and motivated individuals and provides educational
training indirect proportion to individual merit (McNamee & Miller Jr., 2014, p.101)
220
a técnica pela qual se impõe aos corpos tarefas ao mesmo tempo repetitivas e
relação aos outros indivíduos, seja em relação a um tipo de percurso. Assim, realiza,
A partir de Foucault (2014), entende-se que há no método CIS uma organização linear,
continuamente progressiva dos exercícios, nestes existem etapas a serem executadas, as quais
percorre o seguinte caminho: primeiro há a identificação dos elementos que pretendem ser
apresentada pelo CIS. Em seguida o que fora identificado e categorizado deve ser escrito e
partir dos modelos, tal alteração da escrita ainda aciona os desejos e imaginação de futuro dos
indivíduos (Vieira, 2015, 2017a). Com o emparelhamento a partir da norma há uma avaliação
221
dos prejuízos e hierarquização do indivíduo em relação aos modelos, seguido por técnicas que
identificar, dar visibilidade, a seus aspectos nocivos e positivos, tanto por meio de exercícios
indivíduo identifique seus pontos positivos, mas principalmente seus pontos negativos em
relação à abundância. Entende-se que as PPS’s são um modo de vigilância de si que se pauta
sempre retomando os parâmetros estabelecidos pela norma presente nos modelos fornecidos
(Foucault, 2014). A escrita e a reescrita que englobam o processo mantém suas características
(Vieira, 2017a, p. 99), o leitor deve reescrever em primeira pessoa e com suas palavras três
pela vida que tem levado, sendo assim, é o único que pode mudá-la” (Vieira, 2017a, p. 99).
Temos aqui um modelo direcionado a partir da norma. Este é seguido pelo exercício 5, que
solicita ao leitor responder as questões: “o que você gostaria de ter, ser ou fazer? Quais são
seus sonhos mais ousados (pense nisso sem críticas e sem limitar suas possibilidades)?
e 70 (Vieira, 2015), respectivamente. Para além destes dois exercícios, em ambos os livros se
faz presente o termo de responsabilidade (Vieira, 2015, 2017a), nestes o leitor deve declarar
fornecidas nos dois exercícios mencionados. Não obstante, outros exercícios sobre a
percebo na zona de conforto? Como será minha vida se continuar, por ação ou omissão, na
que culpam o outro) e brincadeiras (que impossibilitam enxergar o problema), para cada
Vieira (2015, 2017a) preenche seus textos com exemplos que apontam hábitos,
pensamentos e falas que são criticados como ações improdutivas e que “validam, explicam e
justificam nossos fracassos, nossas falhas e nossos insucessos” (Vieira, 2015, p. 45), as
formar categorias, estabelecer médias, fixar normas” (Foucault, 2014, p. 186), sendo que o
Além das PPS’s e outros exercícios do método CIS existentes ao longo dos materiais
analisados, são abordados testes como o “ACE” (Vieira, 2015, p. 239) e o “5W2H” (Vieira,
2015, p. 63). Essas ferramentas são propostas como científicas, sendo que o teste 5W2H visa
atuar como um “plano de ação convencional” (Vieira, 2015, p. 63) por meio da identificação e
são apenas mencionadas pesquisas, mas não os autores) visa a identificar e avaliar (por nota)
ou seja, o que fora identificado é subdividido a partir de critérios que melhor delimitam os
prejuízos, sendo que outros exercícios ainda separam o que é o comportamento prejudicial do
pensamento prejudicial. A partir dessa categorização são fornecidas listas com modelos de
bíblicas, histórias de pessoas de sucesso, enfim, modelos de uma norma para serem seguidos.
Neste processo o indivíduo é instruído a avaliar a si, isso significa observar seus
pelo outro dos resultados do indivíduo. Ou seja, instrui-se sobre a necessidade de vigilância
de si e do outro.
registra e treina, decompondo as instâncias “para aumentar sua função produtora” (Foucault,
2014, p. 171). Entende-se que a vigilância está integrada a uma relação de treinamento,
havendo uma fiscalização de si e também podendo haver por parte de outro indivíduo, no caso
o coach. Como coloca Foucault (2014) o que se dá na vigilância é uma divisão segundo as
castigar […] a disciplina recompensa unicamente pelo jogo das promoções que permitem
exercícios em que o indivíduo deve identificar e avaliar por nota quais são suas competências
Esse exercício é seguido por outros dois exercícios do mesmo modelo, os quais
identificam e avaliam as competências sociais e seus prejuízos, mas desta vez a partir das
ainda para construir modos de controle e vigilância por e no indivíduo já que este, de um
refere às suas relações de trabalho, otimizando seu serviço em prol da organização, que
Assim, a avaliação compara os resultados individuais à norma e/ou ao grupo que for
utilizado como referência. Essa comparação serve para hierarquizar os indivíduos entre si,
processo de avaliação é recorrente, não se dá apenas uma vez, mas é o mecanismo que
dinamicidade do mecanismo de exame (Foucault, 2014), presente no método CIS, faz com
conjunto – que se deve fazer funcionar como base mínima, como media a respeitar ou
a repetições e rotinização, o qual demanda sua interação integral por meio de técnicas verbais,
de escrita, de escuta, de execução. Para além, há ainda exercícios que demandam a repetição
da reescrita com as alterações a partir do modelo e outros que solicitam a repetição oralmente,
ao longo da rotina cotidiana (Vieira, 2015, 2017a). As técnicas em questão não são
extenso exercício presente no “O Poder da Ação” (Vieira, 2015), composto por sete passos.
No intuito de modelar um novo padrão linguístico, Vieira (2015) afirma que as falas negativas
devem cessar e tem-se de impedir os efeitos das palavras negativas já ditas, em seguida é
listados, como “nada dá certo pra certo pra mim” (Vieira, 2015, p. 148). Segundo, deve-se
identificar mais dez padrões negativos não listados e escrevê-los. No terceiro passo o
prejuízos.
226
O quarto passo consiste em “conduzir o tratamento que não só anulará o que já foi dito
e os resultados ruins como também produzirá novas crenças e programações mentais capazes
de mudar a sua existência” (Vieira, 2015, p. 150), ou seja, entende-se que, para Vieira, é a
partir desse momento que a modelagem começa. Neste passo, a partir de um modelo, Vieira
(2015) solicita ao leitor escrever novamente os dez padrões dos passos um e/ou dois e
um exercício de reforço negativo, ou seja, punitivo. O exercício consiste em gerar uma dor
fina e intensa ao puxar e soltar um elástico sobre o pulso cinco vezes para cada repetição dos
padrões negativos. No sexto passo Vieira (2015) orienta o leitor a escrever, pelo menos, 50
vezes cada um dos dez novos padrões, sendo que cada linha escrita tem de ser verbalizada, em
voz alta, quatro vezes. O último passo consiste em manter o elástico no pulso e utilizá-lo
imediatamente sempre que padrões negativos forem verbalizados. Vieira (2015) ainda adverte
que:
Talvez você esteja preso à zona de conforto e pouco disposto a dedicar tempo e
energia mental para cumprir os passos 6 e 7. Se esse é o seu caso, procure ver se neste
momento não está criando historinhas para não realizar parte do tratamento.
Historinhas de arrogância, como: “Eu não preciso escrever 50 vezes isso”, ou “não sou
idiota para soltar um elástico no meu braço e sentir alguma dor”. A quem pensa assim,
vou só dizer uma frase que sempre repito em ocasiões como essa: “Fica tranquilo. Está
tudo certo. Cada um tem a vida que merece”. Se você não quer cumprir esses passos,
não tem problema, porém, não acredite que terá todos os ganhos e as mudanças
propostos. Não se engane achando que um hábito linguístico de muitos anos será
etapas que devem ser seguidas a partir de uma determinação sancionada pela norma e
operando de modo a tornar penalizáveis as frações mais tênues da conduta, como punições
disciplinares. Como o tempo, caso o indivíduo não faça o exercício ou atrase ao puxar o
elástico, assim como a atividade, se esta for feita sem zelo e com desatenção. Ademais, ainda
se penaliza a maneira de ser, os discursos e o corpo, posto que o indivíduo não pode ser
grosseiro ou desobediente, não deve falar de modo negativo e precisa se comportar de modo
Assim, de modo disciplinar, o método CIS penaliza “tudo que está inadequado à regra,
tudo que se afasta dela, os desvios” (Foucault, 2014, p. 176). A repetição tem relevância
enquanto procedimento de controle dentro destas técnicas, sendo uma forma de relação de
poder em que a visão da FEBRACIS se baseia. É pela repetição que as relações de poder se
(Foucault, 2014).
2014). É por meio dessa microeconomia das penalidades e das recompensas (Foucault, 2014)
que, por exemplo, os indivíduos são avaliados a partir de seus padrões linguísticos,
Para isso, não basta haver uma repetição nos exercícios e nos livros, mas essa deve
estar presente na rotina do indivíduo. Deve fazer parte de sua rotina nos exercícios impressos,
228
nas mentalizações, nas ferramentas de organização dos horários das pessoas, nos hábitos que
uma apropriação do tempo da pessoa, seu tempo é controlado e dito como deve ser utilizado,
gerenciamento de si.
Com isso, a partir de Foucault (2014) há um controle do horário por meio de processos
foco, o tempo deve ser integralmente útil, pautado em metas, voltado para eficiência e para
rapidez, visando a composição de um corpo mecânico, penetrado pelo tempo e com este todos
Não obstante, observa-se que o controle do corpo também se dá no campo dos gestos,
seja de uma coletividade ou apenas do indivíduo. Posto que Vieira (2015), ao abordar os
posturas específicas que geram MDE’s (moléculas de emoção) de vitória, paz, amor, poder,
felicidade, alegria e entusiasmo, produzindo de modo rápido tais emoções. O leitor deve, por
brados de alegria em forma de yes 30 vezes seguidas, repetindo tais movimentos 10 vezes ao
Os mesmos exercícios são executados por um público de cerca de 600 pessoas nos
seu interior no desenrolar de suas fases, sendo “definida a posição do corpo, dos membros,
das articulações; para cada movimento é determinada uma direção, uma amplitude, uma
Tendo exposto os modos de modelagem do método CIS, pode-se observar que seus
vida por meio de mecanismo de coerção e de controle. Corpo individual que deve estar apto e
(2014) apontam que há, pelo menos nos EUA, uma crescente de desemprego dos jovens
diplomados, entretanto, “nessas condições, muitos alunos percebem que obter uma educação
universitária não os ajudará tanto quanto a falta de uma educação universitária os prejudicará”
72
(p.14), fazendo com que os profissionais busquem formações profissionalizantes, além de
indivíduos mais competitivos no mercado de trabalho, mais produtivos, mas o que se observa
quais podem ser trocadas no mercado de trabalho. O capital humano é comumente incluído na
fórmula do mérito para o sucesso, sendo um modo de investimento em si mesmo que visa o
ressaltam que não basta desenvolver as habilidades do interesse individual, estas devem estar
72 under these conditions, many students perceive that getting a college education will not help them so much as
the lack of a college education will hurt them (McNamee & Miller Jr., 2014, p.14)
230
Vieira (2015, 2017a) visa justamente o desenvolvimento de capital humano que melhor de
adapte e flua com as demandas de mercado. Porém, como ressaltaram McNamee e Miller Jr.
(2014), por mais que o processo de seleção dos indivíduos a partir de suas habilidades possa
definir o mais meritório entre eles, posto que se será selecionado aquele que melhor
corresponda à demanda da empresa, não necessariamente aquele que seja o melhor de todos.
socioeconômico, este é uma racionalidade que estrutura e organiza não apenas as ações dos
governantes, mas até a própria conduta dos governados, tendo como principal característica a
subjetivação.
Nesse sentido há uma atomização “das pessoas como indivíduos que devem competir
recantos da vida cotidiana73” (Littler, 2018, p. 2). É por meio de narrativas como essa e
práticas como a da FEBRACIS que se argumenta sobre a mobilidade social ser acessível a
todos e um fator que depende do indivíduo. Ainda pensando a partir de Littler (2018), para
que haja tal mobilidade é inerente que haja desigualdade e que os indivíduos interajam de
73 atomise people as individuals who must compete with each other to succeed, by extending entrepreneurial
behaviour into the nooks and crannies of everyday life (Littler, 2018, p. 2)
231
para criar a ideia de um campo de jogo nivelado que não existe (Littler, 2018, p. 50)74
Como colocam Dardot e Laval (2016), para que tal indivíduo competitivo tenha se
tanto econômicos como sociais, cuja função era obrigar indivíduos a governar a si mesmos
capital que devia valorizar-se” (Dardot & Laval, 2016, p. 201), como investir na sua própria
culpabilizar que coaduna com o discurso neoliberal. Littler (2018) observa que:
74as we have seen, meritocracy today, in its neoliberal form, tends to endorse a competitive, linear system of
social mobility and to function as an ideological myth to obscure inequalities, including the role this discourse of
meritocracy itself plays in actually curtailing social mobility. Its myth of mobility is used to create the idea of a
level playing field that does not exist (Littler, 2018, p.50)
75Yet notably it is often people who face significant disempowerment in terms of the extent of their resources
and the range of available choices who are most intensely incited to construct a neoliberal meritocratic self. [...]
Less privileged constituencies are then positioned as particularly amenable to a meritocratic discourse of
empowerment by becoming ‘entrepreneurial selves’, whilst, at the very same time, these constituencies continue
to face far greater difficulties in terms of both recognition and redistribution (Littler, 2018, p. 70)
232
circuito da produção e do consumo (Dardor & Laval, 2016). O objetivo do controle que é
resultados e minimizar os gastos inúteis. Fabricar homens úteis, dóceis ao trabalho, dispostos
os indivíduos aptos a suportar as novas condições que lhe são impostas, enfim, são produzidos
condições cada vez mais duras que eles mesmos ajudam a produzir (Dardot & Laval, 2016).
considerados faculdades adquiridas uma verdade por todas, mas vistas como
dentro por uma racionalização técnica de sua relação consigo mesmo. Ser
Por fim, pode-se concluir que o corpo modelado pelo método de Vieira (2015, 2017a)
docilizado que deve aprender a gerenciar a si mesmo nos mínimos detalhes de seu tempo. O
afetos, assim como em suas relações. Deve medir-se, limitar-se e construir seus desejos a
5. Considerações Finais
dos materiais selecionados fora possível delimitar de que modo uma instituição específica, a
discursos e práticas que são veiculados para modelagem do indivíduo de sucesso almejado.
Neste sentido foi possível observar de que modo mecanismos disciplinares, principalmente
por meio de práticas de exame, produzem um corpo docilizado, voltado para produtividade.
discurso, dentre as contribuições do trabalho, pode-se observar que a FEBRACIS não ocupa a
as técnicas, escrevem os livros ou ministram os cursos oferecidos pela instituição, posto que
quem ocupa esse papel, primordialmente, é Paulo Vieira. Por meio do método de
desenvolvimento construído pelo coach e empresário foi possível observar qual indivíduo
para que o indivíduo seja considerado enquanto alguém de sucesso, o indivíduo produtivo.
padronizando-os a partir de uma norma que se volta para a produtividade. Produtividade esta
234
compreender de que modo são constituídas as técnicas e métodos disciplinares que exercem
Dentre os limites da pesquisa, entende-se que o foco dado foi ao método e aos
apenas veiculado pela instituição e por Paulo Vieira, não tendo sido analisados percepções
desvinculadas destes. Isto se deu pois os materiais selecionados para análise impuseram tais
limitações. Para que fosse possível analisar as outras percepções sobre o método CIS seria
necessário ter acesso a informações, falas ou materiais que discorressem sobre este, mas que
não tenham sido produzidos pela FEBRACIS ou por Paulo Vieira, pois, como pode ser
observado, na maioria dos materiais constavam apenas os casos de sucesso, exemplos que
analisados são públicos, de amplo acesso e fornecidos pela instituição, fatores relevantes para
sua escolha, mas que também implicam limitações, como o acesso à diversidade de
informações pontuadas.
estudou-se apenas a FEBRACIS, mas como foi apresentado na seção sobre o tema, o
Sociedade Brasileira de Coaching77. Ambas são empresas que oferecem produtos semelhantes
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Veras, M.P.B. (2001). Exclusão social – um problema brasileiro de 500 anos (notas
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Vieira, P. (2015). O poder da ação: faça sua vida ideal sair do papel. São Paulo: Editora
Gente.
Vieira, P. (2017b). Poder e Altar performance: O manual prático para reprogramar seus
hábitos e promover mudanças profundas em sua vida. São Paulo: Editora Gente.
Vieira, P. (2017c). Foco na prática: manual prático para uma vida extraordinária. São
Vieira, P. (2019). Geração de riqueza: Uma metodologia simples e poderosa que vai
enriquecê-lo e fazer você atingir seus objetivos. São Paulo: Editora Gente.
247
Vieira, P. & Souza de, M. (2018). O poder da ação para crianças: Como aprender sobre
autorresponsabilidade e preparar seus filhos para uma vida feliz e completa. São
Walker, I. (1995). The social psychological study of ideology. In M. Augoustinos & I. Walker
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Wanderley, M.B. (2001). Refletindo sobre a noção de exclusão. In B. Sawaia (2ª ed.; Org.).
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https://www.theguardian.com/politics/2001/jun/29/comment
Zioni, F. (2006). Exclusão social: noção ou conceito?. Saúde e Sociedade, 15(3), 15-29.
7. Apêndices
7.1 Apêndice 1
Escrito por Shinyashiki, apresenta o livro trazendo os principais aspectos que Viera aborda para construção de um
Prefácio
homem de sucesso
Apresentação Escrito pelo presidente da FCU (instituição do doutorado); Formação de Vieira; Apresentação dos capítulos
Repete formação; depoimentos de pessoas que superaram adversidades na vida com o CIS; instruções e
Introdução
comunicação direto com o leitor sobre as transformações do livro
Como fazer autoanálise/tomada de consciência (fichas caem); exercícios para apropriação do próprio discurso;
Cap. 1 – Acorde abundância como estilo de vida (dinheiro, desempenho, corpo, casamento, trabalho, tudo); mediocridade como
tudo aquilo que se opõe a abundância; retórica para o leitor questionar pontos específicos que devem ser mudados
Metáforas e PPS’s (perguntas poderosas de sabedoria) sobre a zona de conforto (aquilo que impede a ação);
negação dos problemas e a representação de si; casos para exemplificar e exercícios de categorização; exercícios de
Cap. 2 – Aja reprogramação para o sucesso (PPS’s); tem poder quem age rápido, com metas e massivamente; qualquer um pode,
difícil é pagar o preço da abdicação dos prazeres; argumentos bíblicos sobre dons e talentos e supostamente
científicos (teste 5W 2H)
Cap. 3 – Autorresponsabilize- Reconhecimento de si enquanto responsável por tudo que compõe a sua vida, seja do passado, presente e futuro,
se assim como sentimentos, pensamentos e comportamentos; exercícios para apropriação da responsabilidade e
alteração das crenças; perfil das pessoas de sucesso (autorresponsável), maturidade emocional (QI e QE) e
argumentos científicos; sociedade de grandes indivíduos; comunicação com o leitor por meio de casos; associações
bíblicas, deus lhe deu o livre-arbítrio; retórica de culpabilização e oferta de uma solução (o CIS) para o sucesso; as
seis leis da autorresponsabilidade (novo padrão discursivo); repetição das técnicas, incorporação das ferramentas ao
249
cotidiano; oportunidade se constrói; cuidado ao autorresponsabilizar os outros, mas faça; contrato de compromisso
Definição das metas e objetivos para eliminar os problemas a partir do foco; mudanças rápidas e intensas; exercício
para identificar o que afasta o foco; conceito científico (Inteligência emocional) e o sucesso; prazeres, vícios e
excessos são distrações; exercícios para identificação e eliminação dos prejuízos para o foco; foco deve ser usado
na rotina de excelência, sucesso e produtividade; ferramenta agenda vida extraordinária; conceito de foco múltiplo
Cap. 4 – Foque
(visionário, comportamental e consistente); estudos de caso; conceito inteligência foco-temporal (passado/presente/
futuro e a reprogramação de crenças ruins); foco é poder; utilização dos conceitos de foco para apresentar três
perfis de pessoas (ansiosas, depressiva e de sucesso); exercícios (PPS’s) para pessoa aplicar os conceitos e teoria a
sua vida; casos reais (exemplos dos resultados que focar no ruim traz e do focar no bom, regra 10/90)
Maior cap. do livro, muitos exercícios; dividido em duas partes, a saber: comunicação verbal e não verbal;
reprogramação de crenças como estruturação de novas sinapses; conceito de linguagem; a perfeita linguagem (do
amor e gratidão) /comunicação verbal; metáforas bíblicas associadas a conceitos científicos; palavras tem o poder
de criar realidades (profecia autorrealizável); parece mágica mas não é, é ciência (física quântica); novo padrão
linguísticos (identificar o que é ruim, parar de dizer e mudar pra um padrão ultrapositivo, corrigido e aperfeiçoado
[sic]), exercícios repetitivos (exemplos de padrões p/ corrigir, identificação, associação com prejuízos, alteração
com nova escrita); exercício com punição; conceito de estilo linguístico, gratidão, amor e argumentos científicos;
defeitos que inibem a perfeita linguagem; não se pode só falar, tem que de haver afeto (impacto) sempre
envolvidos para as técnicas funcionarem; exercícios para identificar seus inibidores e alterar para linguagem de
amor e gratidão; fundamentos e exemplos da perfeita linguagem (conteúdo + afeto) deve gerar pertencimento,
Cap. 5 – Comunique-se
importância, significado e distinção; tabela linguagem x pessoas da vida; comunicação de luz e trevas; quando o
amor não funciona, usar autorresponsabilidade; argumento científico para avaliar matematicamente os resultados
de qualquer relacionamento;
Comunicação não verbal (comportamentos, roupas, voz, expressão) como tudo que não é verbal; discurso da
neurociência, produção hormonal e os comportamentos; exercícios para identificação de posturas, expressões
faciais, associações a psicopatologias e correções com ferramentas (colete corretor); vícios emocionais, moléculas
de emoção (MDE’s); exercícios de identificação dos seus vícios; CIS como solução pra reprogramação mental de
tais vícios (resolve o vício em drogas e a depressão; seis padrões comportamentais que liberam boas MDE e
alteram os vícios (poder, vitória, felicidade, alegria e entusiasmo, paz e amor); como práticas os padrões:
necessidade, intensidade e repetição (repetição, afeto e rotinização); estresse inibe um bom desenvolvimento
Cap. 6 – Questione Questionar as suas verdades; mente humana como um HD que absorve coisas por osmose; tem que saber fazer boas
perguntas (aquelas que apresentam seus valores e propósitos); perguntas tem poder, principalmente as PPS’s; três
250
tipos de pessoas, os questionadores, os +- e os que não questionam (perspectiva linear, de pirâmide); qualificar as
perguntas é avaliar as informações que chegam do outro, contextualizar a fala a partir dos objetivos e necessidades;
a verdade está na ciência; exemplos de perguntas são voltados para produtividade, alcance de objetivos e metas;
super-humanos (grandes indivíduos, de sucesso) usam PPS’s, como Mandela, Ganghi, Einsteins; perguntas devem
ser para o futuro, para questionar o presente e para solucioná-lo; autocoaching
Conceito de crença (circuito neural), reprogramação graças a sinapses e plasticidade neural; objetivo do CIS é
produzir fortes estímulos emocionais e cognitivos para reprogramação, aprendizagem de novas crenças; conceitos
são associados a esperança e liberdade; ser rico e ser pobre é algo que se aprende; o CIS resolve os problemas, e
depressa; a fixação está na repetição; funciona porque o nosso cérebro entende que “real = imaginado”; crenças
Cap. 7 – Creia
devem mexer com a percepção de si, existem três (merecimento, capacidade e identidade) que são associados a
tipos de comportamento (ter, fazer, ser); exercícios para identificação; homofilia (relação entre pessoas que se
parecem); reprogramação de crenças (traumas) infantis, identificação de doenças física, emocionais,
comportamentais e sociais a partir do teste ACE; associação entre traumas e problemas na vida adulta
Resumo do que foi apresentado resgatando alguns conceitos e afirmando que agora o processo de mudança para o
Mensagem Final
desenvolvimento começou; comunica-se com entusiasmo característico
Referências Não são referenciados todas as citações do texto
Justifica-se que o motivo para ler o livro se encontra na importância da Inteligência Emocional (IE) para ser feliz e
Introdução ter aptidões; não se tem IE sem autorresponsabilidade, que também traz abundância; poder está dentro de você; a
jornada da vida deve ser direcionada para direção certa;
História de trajetória pessoal de sucesso do PV; cita encontro com livro do Shinyashiki; mito de Sisífo (castigo e
punição pra quem não “paga o preço” do esforço e trabalho duro; mas o que o PV diz é que o mito o acordou,
porque ele percebeu que se importava mais com o esforço do que com as conquistas (faltava foco), foi um recado
Cap. 1 – Como tudo começou de Deus; descreve como se impactou, começou a mudar, estudou, adquiriu autorresponsabilidade e em um curto
espaço de tempo mudou toda a sua vida, virando um individuo de sucesso; repete citação do poder da ação sobre
plasticidade neural; neurociência ajudou a mudar sua vida; o CIS é apenas o PV cumprindo seu destino de vida; no
CIS há um caminho e tecnologias para reprogramação de crenças
Cap. 2 – Identificando seu Objetivo da vida são suas conquistas; trajetória tem que ser prazerosa; há a necessidade de consciência,
251
identificação do estado atual de sua vida; PPS’s para identificar; essência humana é criada por Deus, somos
predestinados a abundância, se você não tem isso, falta Deus e mais esforços; você tem que desenvolver seus
potenciais para ser mais competitivo, vitorioso e feliz, fazer valer o livre-arbítrio dado por Deus; PPS’s para
estado atual
identificar o que você é, o que tem e o que faz para alterá-las em padrões de futuro, das metas, sonhos e objetivos;
avaliar (dando uma nota a partir de modelo) sua competência emocional e social (antes e depois) e elencar seus
prejuízos
Descarta trajetória socioeconômica, cultural e histórica para afirmar que existe apenas um caminho pro progresso,
que se dá em 4 etapas; 1º é a consciência, compreensão e interpretação individual do mundo, parte de conexão
com Deus e se subdivide em plena, relativa e disfuncional; PPS’s para identificação do seu nível de consciência e
associação dos três níveis a comportamentos produtivos, improdutivos e prejudiciais; CIS traz a consciência e as
dores necessárias para “cair as fichas”; impeditivos para ativação de consciência são associados ao “mau
caratismo” (adultério, vícios e afins); 2º autorresponsabilidade é compreendida como livre-arbítrio ou a
Cap. 3 – O caminho universal
responsabilidade individual por tudo que acontece em sua vida; PPS’s de autorresponsabilidade e; 3º Visão
do progresso humano
positiva de futuro: métodos clássicos de desenvolvimento (não cita o que são) são subjetivos demais, agora o que
vale é a neurociência; pensamento não é subjetivo, é só um dialogo interno que precisa ser utilizado para
reprogramação de crenças e mudança comportamental, por isso tem-se que ter uma visão positiva de futuro; 4º
ferramentas poderosas de progresso é um mindset que vai te trazer uma visão positiva de futuro, o coaching é uma
delas, mas insuficiente, por isso o PV criou o CIS; As armadilhas que dificultam as mudanças são a zona de
conforto, arrogância, vaidade e busca de atalhos
Tudo é mérito individual (ônus e bônus); PPS’s para autorresponsabilizar; se autorresponsabilizar traz liberdade
para mudar seu futuro, pessoas de sucesso usam sua estrutura mental para ter os melhores pensamentos e
comportamentos; pessoas de sucesso assumem seus resultados; gera desenvolvimento de maturidade emocional;
Cap. 4 - Autorresponsabilidade PPS’s para sonhar sobre desejos; história real de autorresponsabilidade (do Mandela); não se deve achar culpados;
pessoas de sucesso usam os dois lados do cérebro (QI + QE); pessoas de sucesso são sempre positivos e motivos,
não importa o que esteja acontecendo; exemplos de casos reais (traz 1 caso, fecha o capitulo e continua no
próximo com o caso 2)
Falar que não existem oportunidades é falta de autorresponsabilidade; caso 2 (método cis resolve os problemas
Cap. 5 – Usando metáforas
que impediam a autorresponsabilidade); caso 3; pressupostos da reprogramação neurolinguistica (se alguém pode,
para mudar a si mesmo
eu também / todos temos os recursos para mudar)
Cap. 6 – As seis leis para 1ª não critique, fique calado (os padrões de linguagem tem que ser positivos e o foco no acerto); 2ª não reclame,
conquista da dê sugestão (metáfora bíblica / quem reclama está fugindo da autorresponsabilidade e não focando nas soluções);
autorresponsabilidade 3ª não culpe, busque solução (culpar evita a autorresponsabilidade e a mudança, vitoriosos criam as soluções e
252
oportunidades); 4ª não seja vítima, seja vencedor (vítimas querem atenção e amor e repetem comportamentos
infantis); 5ª não justifique erros, aprenda com eles (errar faz parte da aprendizagem, logo, são resultados,
utilizados pro progresso por pessoas de sucesso); 6ª só julgue as atitudes e comportamentos das pessoas (julgar a
atitude do momento e não usa isso pra desmoralizar a pessoa), traz analogia da bíblia
Deve-se começar a optar pelo o que faz bem, fazer uso do racional, ter disciplina e esforço para mudar hábitos ; a
Cap. 7 – Como usar as leis da repetição é primordial, as leis devem estar coladas em lugares de fácil acesso para serem lidas todos os dias;
autorresponsabilidade analogia sem muitas explicitações para justificar a responsabilização e a não usar o outro imaginário como
desculpa pros seus erros
Falta de oportunidade não pode ser usado como justificativa para o insucesso, isso é falta de
Cap. 8 – Ah, se eu tivesse autorresponsabilidade; pessoas de sucesso plantam oportunidades; o livro vai te ajudar a ver as oportunidades
oportunidade (resultados) brotarem a partir do gerenciamento de pensamentos, comportamentos e atitudes; não é que as
oportunidades não existem, as pessoas é que estão cegas por causa de suas crenças limitantes;
Cap. 9 – Mudando minha Se você mudar a si mesmo (for autorresponsável) não precisa se preocupar em mudar o outro e nem deve
existência sem mudar as preocupar-se com isso (é infrutífero e improdutivo), porque a partir da mudança de si mesmo seu entorno também
pessoas se alterará
Jesus (grande inspiração de Vieira) confrontava os outros com a verdade, era genuíno e não presenciava uma
Mensagem final –
mentira sem se manifestar. O mesmo vale para os autorresponsaveis, que devem ser alegres e não temer a verdade.
confrontando a si e aos outros
Afirma que não somos jesus e temos que tomar cuidado com a confrontação, resgatando as seis leis da
com a verdade
autorresponsabilidade
É o mesmo contrato que aparece no poder da ação, você deve colocar seu nome e declarar para todos os fins que
Exercício final seus sucessos e felicidade dependem só de você, acrescendo uma cópia das seis leis; parabeniza o leitor por ter
começado sua mudança. Obs: o livro não possui referências, nem notas de roda pé referenciando as citações
253
frequentes.
- plataforma específica para a venda dos produtos
Loja Virtual - https://www.lojaFEBRACIS.com.br/?utm_source=Febracis.com FEBRACIS; são vendidos livros, acessórios, roupas,
produtos de casa e escritório e cursos apenas online
- a aba “artigos” no menu da parte inferior direciona para
página blog
- são artigos gerais sobre as temáticas abordadas pela
FEBRACIS; as vezes possuem vídeos e uma versão em áudio
Blog - https://FEBRACIS.com/blog/ da matéria (acessível apenas mediante inscrição com e-mail);
possuem também vínculo com os posts das redes sociais
- na página inicial há 12 artigos, no total são cerca de 310
artigos, mas, ao tentar acessar as páginas o site não funcionou
(tentei em dois navegadores diferentes)
- aba com botões que respondem perguntas sobre aspectos
Dúvidas? - https://FEBRACIS.zendesk.com/hc/pt-br financeiros, pedagógicos, plataformas online, cursos online,
cursos e a loja online
- abre-se um formulário para preenchimento de dados
Solicitação de atendimento pessoais, curso de interesse, unidade mais próxima e
necessidade (aquilo que a pessoa busca)
- é a pesquisa que eu usei na seção FEBRACIS da dissertação
(eles que fizeram, não tem vínculo com revistas, instituições
Referências Científicas - https://metodocis.com/referencia-cientifica/ nem nada), não existem tantos detalhes descritivos e não foi
publicada em lugar algum, é uma pesquisa sem avaliação dos
pares e sem possibilidade de verificação dos dados trazidos
Agenda de cursos - https://FEBRACIS.com/eventos/ - a aba possui duas formas de acesso diferentes. Uma no
menu superior, simplesmente como “Agenda” e outra na
parte inferior, como “Agenda de cursos”
- os cursos se alteram com o tempo, no momento o ofertado é
“Formação de oradores e palestrantes”, serão 39 cursos,
ministrados em cidades diferentes, em um mesmo dia (04/08)
- cada curso possui um acesso de link para “saiba mais” no
qual cada uma informa o telefone de contato de cada cidade
256
franquia, um investimento
- trazem informações de artigos como da revista Fortune para
argumentar sobre a posição da empresa no mercado
- explicam “o negócio” que consiste na apresentação dos
cursos: o método CIS; formação em coaching integral
sistêmico; master coaching integral sistêmico; team coaching
life and business
- explicitam a estrutura do negócio (descrição das unidades)
- apresentam as vantagens e requisitos (um deles é ter feito o
golden belt)
- há 2 depoimentos (diretores de Brasília e Curitiba)
- no final da página tem um formulário com um pré-cadastro
- portal específico com o software para o desenvolvimento do
Sistema de coaching - https://www.scisapp.com/
trabalho dos coaches e coachees integrais sistêmicos
Autenticidade dos certificados - - direciona para uma plataforma da TOTVS para emissão de
http://apps.FEBRACIS.com.br/Corpore.Net/Source/Rpt-GeradorRelatoriosNet/ certificados
RM.Rpt.Reports/Anonymous/RptFindReportByGuid.aspx
260
7.2 Apêndice 2
Quadro-auxiliar 2 – Recortes das três fontes quanto a técnicas, ferramentas e aspectos teórico-conceituais
Aspectos/ Livro “O poder da
Livro “O poder da ação” Website
Fontes autorresponsabilidade”
Técnicas - método CIS - metáforas e mitos - apresentação de vídeos promocionais dos
- autoanálise - descrição de PV da sua história de cursos, da instituição, do método CIS com efeitos
- autorresponsabilidade sucesso sonoros, visuais e de roteiro que visam o impacto
- metáforas e analogias - autoanalise afetivo*
- identificação de problemas, prejuízos, - método CIS - apresentação de vídeos dos depoimentos de
falta de produtividade, vícios e afins - momentos de reflexão* pessoas que fizeram o(s) cursos da FEBRACIS
- exemplificação para execução dos - páginas do livro exclusivas para - apresentação de informações quantitativas sobre
exercícios, de modos corretos de pensar, destaque de texto a instituição (pessoas impactadas, unidades,
agir e sentir - questões reflexivas (sem espaço coaches formados, etc)
- estímulo do sonhar para resposta) - uso da imagem do Paulo Vieira (suas
- apresentação de histórias de indivíduos - imagens descritivas da jornada do qualificações técnicas como coaching e formação)
de sucesso (casos reais) progresso humano e das etapas da e sua família
- apresentação de histórias problemáticas consciência - seção "resultado em números", da aba quem
(casos reais) - figura representativa dos somos*
- as seis leis da autorresponsabilidade estímulos negativos dos três níveis - apresentações detalhadas dos cursos pelos
- gerenciamento de si de consciência botões "saiba mais" contemplando uma
- repetição massiva de frases dos - estímulo ao sonhar e desejar diversidade de informações
exercícios, do termo de compromisso, das - apresentações de histórias - acesso facilitado para redes sociais garantindo a
leis e etc problemas e histórias de sucesso disseminação de informações em diversos
- reprogramação de crenças, hábitos e - aceitação da dor veículos*
comportamentos - questões para ativação da - disponibilidade de acesso geográfico as
- modelagem humana consciência unidades*
- foco - autorresponsabilização do - franqueamento da empresa FEBRACIS
- foco Múltiplo (visionário, indivíduo
comportamental e consistente) - argumentação científica
261
metas; repetir tais ações até a meta dar - descrições de casos reais
certo - metáforas como ferramenta para
- tabela de qualificação da inteligência mudar a si
foco-temporal - termo de compromisso
- lista modelo de padrões linguísticos
negativos
- escrita dos padrões linguísticos
negativos do indivíduo
- reescrita dos padrões negativos e escrita
dos seus prejuízos
- modelo de reescrita dos padrões
negativos para ultrapositivos
- reescrita ultrapositiva dos padrões
negativos individuais
- repetição verbal dos padrões linguísticos
negativos seguidos por punição com
elástico no pulso
- reescrita repetitiva do padrão linguístico
negativo
- tabela modelo dos estilos de gratidão e
não gratidão
- lista de frases para avaliação (por nota)
da gratidão
- lista de frases para avaliação (por nota)
dos impeditivos para gratidão
- listagem do que se é grato por
- tabela de avaliação (nota) da
comunicação com pessoas próximas
- tabela para avaliação de comunicação
entre luz ou trevas
- Escrita dos afetos que surgem a partir do
modelo de posturas corporais
264