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Quero agradecer à Doutora Elisete Martins pelos temas abordados no âmbito da unidade
curricular lecionada, que me proporcionaram uma visão holística, assim como, pelos desafios
que me proporcionou, não esquecendo a cultura geral com que me abrilhantou;
Agradeço à minha família que são a minha âncora, por acreditarem nas minhas capacidades e
pelo seu incondicional apoio, paciência e companheirismo, que me permitiram chegar a bom
porto;
Agradeço a todos os meus amigos pelas palavras de incentivo proferidas ao longo destes anos
e por terem acreditado na minha proficiência.
Agradeço à Dra. Luísa Albuquerque que muito contribuiu para que este sonho se tornasse
realidade.
vii
Agradecimento especial ao Montepio, nas pessoas do Sr. Presidente Dr. António Tomás
Correia e Dra. Paula Guimarães, pelo apoio concedido e respetiva autorização para elaboração
da parte prática nesta Instituição.
Agradeço ao Dr. Joaquim Caetano pelas suas sábias palavras no prefácio da dissertação e por
todo o apoio que me concedeu.
Agradeço mesmo aqueles que me tentaram travar, pois apenas me deram mais força para
continuar…
viii
Resumo
A presente dissertação consiste num trabalho de investigação, descritivo e exploratório, cujo objetivo
foi abordar o conceito de responsabilidade social, enfatizando a sua vertente organizacional.
Teve como principal desafio, por um lado, compreender a dinâmica da implementação de medidas
socialmente responsáveis por parte das organizações, por outro lado, avaliar as motivações das
organizações no que respeita às práticas de responsabilidade social.
Com base no estudo de caso realizado, concluiu-se que na organização estudada a adoção de políticas
socialmente responsáveis está diretamente relacionada com o seu modelo de gestão, que é baseado na
sua visão, missão e valores.
Com o culminar deste trabalho, pode-se aferir que as organizações cuja gestão é baseada em valores
estão mais comprometidas com o desenvolvimento sustentável.
Abstract
This dissertation consists of a piece of research, descriptive and exploratory, aimed at addressing the
concept of social responsibility, emphasizing its organizational aspect.
The main challenge was to, on one hand, understand the dynamics of the implementation of socially
responsible measures by organizations, on the other hand, assessing the motivations of organizations
with regard to social responsibility practices.
Based on the case study conducted, it was concluded that in the organization studied, the adoption of
socially responsible policies is directly related to its management model, which is based on its vision,
mission and values.
With the culmination of this work, we might infer that organizations whose management is based on
values are more committed to sustainable development.
ix
x
Prefácio
Não é fácil escrever sobre Responsabilidade Social nas organizações, ou se calhar até se pode
revelar uma tarefa fácil, depende do contexto em análise e da temática em discussão.
Quando a Rosa Gonçalves, me convidou para fazer o preâmbulo da sua dissertação, a
primeira questão que lhe coloquei foi: porquê eu?
Apresentou-me milhentas razões, umas validas, outras nem tanto assim, mas uma pequena
frase foi o suficiente para me ter convencido: “…gostaria que o Joaquim fizesse também
referência ao valor da nossa Instituição e ao seu papel na sociedade portuguesa”. Confesso
que esta frase, foi o clip para ter aceite tão honroso e singelo convite, mas também, um
convite carregado de responsabilidade afetiva e efetiva.
Afetiva, porque partilho com a Rosa Gonçalves uma história de 172 anos, de Associação
Mutualista. Não é essa propriamente a nossa idade (mesmo somadas as nossas idades,
ficamos muito aquém desse valor), mas o sentimento que nos une em prol desta Instituição, é
um peso que partilhamos com mais de cerca de 550 000 associados.
Efetiva, porque é a nossa “segunda casa”, a nossa “segunda família”, vivemos intensamente
tudo o que esta organização nos proporciona e disponibiliza à Sociedade Civil. Por vezes não
é fácil expressar o sentimento de união que nos liga a esta Associação, o seu carisma, a sua
força, a sua intensidade de intervenção e as pessoas que por lá passam e têm passado ao longo
da sua história. As pessoas de hoje, as figuras de ontem e aquelas que hão de vir amanhã.
As “organizações são pessoas”, é um velho chavão que aprendemos nos bancos das escolas,
mas as organizações são mais que pessoas, são organismos vivos, que mexem, respiram e que
precisam de mimos e de carinhos, como qualquer um de nós.
E por vezes torna-se difícil explicar por palavras (poucas no essencial), o que move esta
Instituição, qual a sua missão e os valores que representa?
Estávamos nesta dissertação filosófica quando surge de imediato a segunda questão: qual é o
tema da tese e qual a relação com o conceito de responsabilidade social organizacional?
Resposta pronta da nossa amiga Rosa Gonçalves:
A tese denomina-se: “Responsabilidade Social nas Organizações – Avaliação das motivações
no desenvolvimento e implementação de práticas socialmente responsáveis”.
O mote estava dado, os dados estavam lançados. Tudo tinha a ver com tudo. Avaliar as
motivações das organizações em relação à prática de projetos de responsabilidade social;
Correlacionar a cultura organizacional e a liderança por valores com a implementação de
xi
práticas socialmente responsáveis por parte das organizações; Percecionar quais os valores
pelos quais se pautam as organizações que promovem estas medidas; Compreender quais os
verdadeiros interesses que levam as organizações a comprometerem-se perante a sociedade;
Conhecer as opiniões dos responsáveis pela prática da RS, foram estes os objetivos concretos
definidos pela mestranda e que seriam os objetos de estudo a serem trabalhados nesta
dissertação.
Mas comecemos pelo princípio. Na minha modesta perspetiva uma organização só pode ser
entendida como “socialmente responsável”, quando intrínseca nas suas Linhas de Orientação
Estratégicas as seguintes premissas:
Responsabilidade Empresarial ou Organizacional, que comporta a sua relação com todos os
públicos internos que circulam à sua volta e que dão vida à própria organização. O fator
“relação humana” é preponderante para uma estável relação entre os Colaboradores e os
Dirigentes.
Uma organização em “perfeita harmonia”, consegue rentabilizar todos os recursos
disponíveis, sejam eles humanos, materiais, ou outros que tais.
Cidadania Empresarial ou Organizacional, que assenta na relação existente entre a
organização e a sua comunidade de referência, seja ela de âmbito local ou nacional. É
importante que as organizações olhem para as comunidades num sentido mais lato da sua
vivência conjunta. São as comunidades que fazem as organizações pulsarem e estas devem
saber reconhecer as dádivas que tão gentilmente recebem dos seus concidadãos.
Portanto, há que saber receber, mas também há que saber distribuir ou devolver o “mais” que
se recebe.
E por último o voluntariado empresarial ou corporativo, eixo único que consegue movimentar
e motivar os seus colaboradores, para trabalharem em conjunto para uma causa social, em
prol da sua comunidade de referência.
Este é um modelo que defendo já há muitos anos, mas acredito igualmente, noutros modelos
que funcionam com outras variáveis. Mais complexos, mais simplificados, no entanto, na
minha ótica, o importante é a organização saber partilhar com a sua comunidade de
referência, princípios básicos de sobrevivência, porque nessa comunidade de referência, estão
também, a sua mão-de-obra e a matéria-prima que necessita para conseguir ir mais além, ir
mais longe, quer em termos empresariais, quer em termos sociais.
E é aqui que “entra” o Montepio e falar no Montepio para mim não é fácil.
xii
Pela história, pela cultura, pelo contributo social que tem dado desde a sua formação. É um
sentimento estranho entre admiração e fascinação.
Vou tentar ser imparcial e limitar-me a descrever alguns programas de responsabilidade social
desenvolvidos ao longo da última década.
A literacia financeira é um problema social com o qual nos deparamos diariamente. Cada vez
mais, é aflitivo o modo como as pessoas fazem a gestão, ou melhor, a “não gestão” do seu
dinheiro. Nesse sentido, o Montepio desenvolveu e implementou um Programa de Educação
Financeira, destinado a Crianças e Adultos, nomeadamente, beneficiários do RSI, de modo, a
“educar” crianças e adultos, com baixos rendimentos financeiros, para aprenderem a gerir os
seus parcos dividendos.
O Programa Frota Solidária, nasceu da possibilidade da sociedade civil, através da
consignação fiscal, contribuir para um projeto que visa, fundamentalmente, dotar as
organizações mais carenciadas do 3º setor, de um veículo que permita corresponder às
necessidades mais básicas das suas atividades sociais.
O Prémio Escolar é um programa destinado a distinguir o bom desempenho dos
estabelecimentos de ensino, espalhados ao longo do mapa continental e ilhas. Pretende-se
estimular a apresentação de projetos educativos que sejam inovadores e disseminadores de
boas práticas pedagógicas.
E por fim referir o Programa de Voluntariado Corporativo, que foi lançado em Dezembro de
2006, na data de celebração do "Dia do Voluntário", e já reúne mais de 900 colaboradores aos
quais a Instituição concede tempo para que, durante o horário de trabalho, se dediquem a
projetos solidários.
O número de iniciativas voluntárias realizadas já ultrapassa as seis dezenas e, da recuperação
de espaços à construção de uma biblioteca, da plantação de árvores à limpeza de matas ou à
recolha de bens alimentares e materiais para oferta a instituições, muito foi feito pelos
colaboradores-voluntários do Montepio. Acresce a este ponto os formandos-voluntários do
Programa de Educação Financeira e as ações de formação destinadas aos Associados, da
Associação Mutualista.
Este Programa, que permite a concretização de projetos que várias instituições de
solidariedade social desejam realizar mas para os quais nem sempre têm os meios humanos ou
financeiros, promove, também, o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais
adicionais junto dos voluntários, aumenta os níveis motivacionais e aproxima ainda mais o
Montepio e as suas equipas das iniciativas solidárias desenvolvidas pelo País.
xiii
As organizações precisam de ter a capacidade de recriarem novos paradigmas de governação.
É necessário urgentemente que se transformem em “cidadãs” e que o exercício da cidadania
seja parte integrante da sua génese estruturante. A sociedade encontra-se num processo
irredutível de mudança e as organizações têm que ter a capacidade de contribuírem para a
reconstrução de uma nova sociedade global!
Imagino que esta dissertação não deva ter sido fácil de compilar, visto que se debruça em
detalhe sobe os variadíssimos aspectos desta complexa disciplina.
Além do mais, quero desde já dar os meus parabéns à autora, pela coragem que teve em
abordar em profundidade um tema tão difícil e polémico quanto apaixonante.
E para terminar deixo uma mensagem de esperança nesta sociedade em constante mudança:
“é bom ver que ainda existem organizações que resistem ao tempo, às convulsões sociais e
geográficas. É bom recordar que ainda existem organizações que conseguem comemorar dois
séculos de vida e ainda, têm a capacidade de se projetarem no futuro. É bom saber que ainda
existem pessoas que têm a capacidade de olharem para essas organizações centenárias e
fazerem das mesmas, belíssimos casos de estudo. E por tudo isto, é importante não esquecer
que somos simplesmente seres HUMANOS.”
Joaquim Caetano
Junho, 2012
xiv
Índice
Introdução .................................................................................................................................. 1
1. A organização ........................................................................................................................ 5
8. Desenvolvimento/Aplicação ................................................................................................ 41
Conclusão ................................................................................................................................. 79
Referências da Internet............................................................................................................. 85
Anexos ..................................................................................................................................... 87
xvi
Lista de figuras
Figura 1 - Os vários grupos de públicos de interesse (Stakeholders) ........................................ 8
Figura 2 - Os quatro quadrantes dos sistemas humanos. ......................................................... 14
Figura 3 - Responsabilidades sociais da empresa .................................................................... 22
xvii
Lista de quadros
Quadro 1 - Dimensões da responsabilidade social das empresas ............................................ 28
Quadro 2 - Síntese das respostas dos colaboradores ................................................................ 54
Quadro 3 - Síntese das respostas dos colaboradores ................................................................ 57
Quadro 4 - Síntese das respostas dos colaboradores ................................................................ 59
Quadro 5 - Síntese das respostas dos colaboradores ................................................................ 62
Quadro 6 - Síntese das respostas dos colaboradores ................................................................ 64
Quadro 7 - Síntese das respostas dos líderes............................................................................ 68
Quadro 8 - Síntese das respostas dos líderes............................................................................ 70
Quadro 9 - Síntese das respostas dos líderes............................................................................ 71
Quadro 10 - Síntese das respostas dos líderes.......................................................................... 73
Quadro 11 - Síntese das respostas dos líderes.......................................................................... 74
xviii
Lista de gráficos
Gráfico 1 - Perfil da amostra quanto à antiguidade ................................................................. 50
Gráfico 2 - Perfil da amostra quanto à formação académica ................................................... 51
Gráfico 3 - Género ................................................................................................................... 52
Gráfico 4 - Antiguidade/género ............................................................................................... 52
Gráfico 5 - Valores da organização nas práticas de RS ........................................................... 53
Gráfico 6 - Grupos das respostas ............................................................................................. 54
Gráfico 7 - Valores da Instituição quanto ao género ............................................................... 54
Gráfico 8 - Preocupações sociais quanto ao género ................................................................. 55
Gráfico 9 - Valores mais referenciados nas respostas dos colaboradores................................ 55
Gráfico 10 - Valores mais referenciados quanto à antiguidade ............................................... 56
Gráfico 11 - Perceção da sincronia entre os valores dos colaboradores e os da Instituição .... 56
Gráfico 12 - Motivações da Instituição na promoção de medidas de RS ................................ 58
Gráfico 13 - Grupos quanto ao género ..................................................................................... 58
Gráfico 14 - Grupos de projetos de RS indicados pelos colaboradores ................................... 60
Gráfico 15 - Reconhecimento quanto ao género ...................................................................... 60
Gráfico 16 - Identificação dos colaboradores .......................................................................... 61
Gráfico 17 - Sincronia dos colaboradores ................................................................................ 61
Gráfico 18 - Grupos de vantagens para a Instituição, da promoção de práticas socialmente
responsáveis ..................................................................................................................... 63
Gráfico 19 - Impacto do voluntariado na Instituição ............................................................... 65
Gráfico 20 - Género ................................................................................................................. 66
Gráfico 21 - Antiguidade ......................................................................................................... 66
Gráfico 22 - Visão, missão e valores da Instituição ................................................................. 69
Gráfico 23 - Conhecimento dos projetos dinamizados pela Instituição................................... 72
Gráfico 24 - Motivações da Instituição na promoção de medidas de RS ................................ 73
Gráfico 25 - Impacto do voluntariado na Instituição ............................................................... 75
xix
Lista de abreviaturas e siglas
xx
Introdução
O tema da responsabilidade social é um tema dotado de complexidade e em constante
evolução. Tem vindo a ganhar particular relevância na última década, no campo da gestão.
A forma de olhar para as organizações alterou significativamente. Presentemente são vistas
como entidades com natureza económica, mas também com uma vertente social e responsável
perante os stakeholders, onde as preocupações com o ambiente estão na ordem do dia.
A responsabilidade social pode ser definida como o compromisso de uma organização perante
a sociedade. Assim, as organizações assumem obrigações de caráter moral, cujo objetivo é a
cooperação para o desenvolvimento sustentável da sociedade.
As organizações que aplicam medidas socialmente responsáveis estão empenhadas em apoiar
a implementação dos princípios do desenvolvimento sustentável como parte ativa da solução,
ajudando a promover o desenvolvimento mais justo e equitativo em todas as suas vertentes:
crescimento económico, proteção ambiental e bem-estar social.
A escolha do tema prende-se com o intuito de compreender a dinâmica da implementação de
medidas socialmente responsáveis por parte das organizações.
Perceber quais as motivações inerentes à adoção de uma política integrada de qualidade, ao
desenvolvimento e apoio a inúmeros projetos na área da solidariedade social, saúde, ambiente,
economia social, educação, formação, na política de investimento, na qualificação e formação
dos seus recursos humanos, assim como, na forma como operam e realizam os seus negócios.
Procura-se compreender os verdadeiros interesses que levam as organizações a
comprometerem-se perante a sociedade, a desenvolver e apoiar projetos que promovam uma
forte ligação quer com as comunidades envolventes, quer com a sociedade em geral, através,
do desenvolvimento de parcerias e de atividades que visam estreitar relações.
Tendo estas medidas em termos económicos impactos muito relevantes, quais as motivações
que estão subjacentes a esta tomada de decisão?
Com o intuito de dar resposta à pergunta de partida, fundamentada em autores-chave como
Filipe Almeida (2010), Richard Barrett (2011), Simon Dolan & Salvador Garcia (2006),
Mario Raich & Simon Dolan (2008), Ana Leal, Joaquim Caetano, Nuno Brandão, Sofia
Duarte & Tiago Gouveia (2011), pretende-se enquadrar esta temática, assim como,
apresentar um estudo empírico realizado numa organização.
Deste modo, apresenta-se a organização do trabalho:
1
O trabalho é constituído por duas partes. A parte I - onde é efetuado o enquadramento teórico,
designado por revisão da literatura e a parte II - dedicada ao desenvolvimento do estudo
empírico.
A parte I é constituída pelo primeiro capítulo, onde se procede à caraterização e
enquadramento do tema, com especial ênfase a temas que estão diretamente relacionados com
a responsabilidade social das organizações, como é o caso do conceito de organização, dado
que as organizações são o “palco” onde a responsabilidade social “atua” e os seus
intervenientes são os “atores” que representam a organização.
Sendo a visão, a missão e os valores a estrutura base da organização, é essencial abordar os
seus conceitos de forma a compreender a sua importância no sucesso de qualquer
organização.
No entanto, a organização não sobrevive sem os seus parceiros, isto é, pessoas ou
organizações com participação direta ou indireta no sucesso do negócio, também designados
Stakeholders, mas, não se pode falar em organizações sem fazer referência à sua cultura.
Assim, atendendo à sua relevância na dinâmica organizacional, faz todo o sentido que o tema
cultura organizacional seja abordado.
Sendo os valores inerentes à cultura de qualquer organização, pretende-se pois, percecionar
quais os valores pelos quais se pautam as organizações, quais as suas características e a forma
como estes valores convergem com a sua missão, quer em termos de filosofia, quer em temos
de estratégia organizacional.
É importante compreender até que ponto pode a gestão por valores ser considerada uma mais-
valia para o desempenho organizacional e contribuir para o desenvolvimento da
sustentabilidade das organizações.
Após um levantamento do estado da arte, é elaborada a revisão da literatura alusiva ao tema
responsabilidade social, explanando as diversas perspetivas de autores-chave nesta área.
Contudo, e atendendo aos objetivos do trabalho, interessa essencialmente abordar o conceito
de RS na sua vertente organizacional, assim como definir as suas dimensões: interna e
externa.
Tendo em conta que o desenvolvimento sustentável está diretamente associado ao conceito de
RSE, as organizações devem perseguir três tipos de objetivos: económicos, sociais e
ambientais, por forma a garantir quer o presente, quer o seu futuro.
De forma a dar resposta à pergunta de partida, pretende-se enfatizar as principais motivações
para a adoção de práticas socialmente responsáveis.
2
Por último, apresentam-se alguns estudos na área da responsabilidade social que evidenciam a
importância da mesma e o seu desenvolvimento nas organizações portuguesas.
A parte II é constituída pelo segundo capítulo, onde é apresentado um estudo empírico numa
organização portuguesa que é um marco nesta área e representa a verdadeira essência da
responsabilidade social empresarial.
Neste capítulo para além da apresentação da organização em estudo, são patenteados os
objetivos da investigação, de forma a compreender a dinâmica da implementação de medidas
socialmente responsáveis por parte da organização alvo do estudo.
Paralelamente faz-se referência à metodologia utilizada, ao perfil da amostra e sua descrição
sociodemográfica. Por último, revelam-se os resultados obtidos no estudo de caso, elabora-se
a análise e discussão dos resultados, assim como são apresentadas as respetivas ilações.
3
4
Parte I - Revisão da literatura
1. A organização
O tema do trabalho prende-se com a responsabilidade social das organizações, nomeadamente
a compreensão da dinâmica da implementação de medidas socialmente responsáveis por parte
das organizações e a avaliação das motivações subjacentes a esta implementação.
Tendo em conta que todo o processo de responsabilidade social se desenvolve em torno das
organizações, quer interna, quer externamente, envolvendo os seus stakeholders, conceber-se-
á em primeiro lugar, uma abordagem ao conceito organização, na perspetiva de alguns
autores.
Assim, as organizações podem ser definidas como “conjuntos de pessoas que trabalham de
forma coordenada para atingir objectivos comuns” (Cunha, Rego, Cunha & Cardoso, 2007, p.
38).
Esta ideia é reforçada por Almeida (2010) que afirma que as empresas são organizações
coletivas, com objetivos económicos específicos, dirigidas por indivíduos que não se
representam apenas a si enquanto cidadãos e cujas decisões originam efeitos que afetam os
interesses e o bem-estar de diversos grupos sociais.
As organizações têm a capacidade de alcançar os seus objetivos e de permitir que todos os
que nelas trabalham possam igualmente alcançar os seus próprios objetivos.
“Uma organização somente existe quando:
1. há pessoas capazes de se comunicarem e que
2. estão dispostas a participar e a contribuir com ação conjunta,
3. a fim de alcançarem um objetivo comum” (Chiavenato, 2009, p. 8).
Segundo o mesmo autor e tendo em conta uma abordagem mais vasta, as organizações são
unidades sociais, propositadamente concebidas e reorganizadas, para atingir objetivos
concretos. Denota-se que as organizações são concebidas de uma forma planeada e para
atingir resultados. Mas também são reorganizadas e redefinidas assim que se atinge os
objetivos ou se encontram novos recursos que permite atingi-los de uma forma mais eficiente.
Desta forma, Chiavenato (2009) alude que a organização é um organismo social vivo, sujeito
a constantes mudanças, pelo que, nunca constitui uma unidade pronta e acabada.
As organizações promovem a satisfação de diversos tipos de necessidades das pessoas, sejam
elas emocionais, espirituais, intelectuais e económicas.
Assim, como forma de conclusão e indo ao encontro de Chiavenato (2009) as organizações
são criadas para cumprir objetivos que os indivíduos de forma isolada não conseguem
conquistar, devido às suas limitações individuais.
5
Não se pode falar do conceito de organização, sem fazer referência à visão, à missão e aos
valores, tendo em conta a sua importância na organização.
1.1 A visão a missão e os valores
Para melhor se compreender o conceito de visão, dá-se a conhecer algumas das perspetivas da
investigação neste domínio:
Segundo Ansoff (1965, cit. in Camara, Guerra & Rodrigues, 2007, p. 766) “A Visão é a
perspectiva de longo prazo da Empresa, é aquilo que esta pretende ser, ou estar, num
determinado horizonte temporal (período) no qual a empresa procura optimizar a eficiência do
processo de transformação e recursos”.
Quando se fala em visão, está-se sem dúvida a falar não só do futuro da organização (o que
ela ambiciona ser) mas também da sua estratégia e forma de atuação.
Nesta linha de pensamento, Ferreira, Santos e Serra (2010) vêm a visão como um mapa que
orienta o futuro da organização, em termos de tecnologia-produto-cliente, de posicionamento
nos mercados geográficos, no desenvolvimento das capacidades e competências, assim como,
o tipo de gestão que a organização procura implementar.
Pode constatar-se que existem várias designações de visão:
Visão de negócios, visão organizacional e visão de futuro, dado que se trata do sonho
adormecido pela organização. Mas mais importante que a própria designação é a imagem com
que ela se vê no futuro (Chiavenato e Sapiro, 2010).
A visão deve ser o retrato do futuro que se deseja para a organização, esta deve contemplar o
longo prazo, deve ter uma descrição clara dos objetivos subjacentes da organização, ser
inspiradora a fim de promover a criatividade e estar alinhada com os valores perfilhados pela
organização.
Com o mesmo intuito, Camara et al., (2007) referem que a visão de futuro deve ser ambiciosa
com propósitos futuros, com capacidade de motivar e alinhar os interesses dos stakeholders.
Sendo a mesma de crucial importância, Cunha et al., (2007) argumentam que a visão deve ser
precisa, de forma a transmitir a toda a organização uma mensagem de força, tendo impacto na
vida e no trabalho dos seus membros, e pode-se acrescentar de forma a culminar no sucesso e
longevidade da organização.
Assim sendo, parece existir um consenso relativo à visão como a razão de existir de qualquer
organização, aquilo que lhe dá identidade.
No que se refere à missão, ela é definida como:
6
“A missão é a razão da existência da Empresa e deve ser o principal objectivo a ser
perseguido por todos. Deve também delimitar o âmbito de actuação e representar um
instrumento orientador dos esforços de todos os colaboradores” (Camara et al., 2007, p. 766).
Quando se define a missão de uma organização deve-se previamente efetuar uma análise da
envolvente externa, uma segmentação do mercado que interessa à organização, deve-se
igualmente compreender as necessidades dos clientes, de forma a definir o seu propósito.
Para Chiavenato e Sapiro (2010) a missão deve observar determinados aspetos, que se
consideram importantes para o desenvolvimento da atividade da organização, nomeadamente,
a razão de ser da organização, o seu papel na sociedade, a natureza do seu negócio, o valor
que a organização concebe para os seus públicos de interesse, assim como, o tipo de atividade
em que a organização deve concentrar os seus esforços no futuro.
Sendo a missão de uma organização o principal argumento da sua existência, esta deve
abranger o projeto da organização e estar coordenada com os seus valores. Neste sentido,
aludem que:
A missão é uma tradução da estratégia da empresa expressando o propósito da sua própria
existência (…) a missão expressa a finalidade (a razão de ser), a estratégia (objectivos e
posicionamento no mercado), os valores (princípios éticos que orientam a actuação da
empresa) e os padrões de actuação da empresa (a forma como se espera que os colaboradores
actuem) (Ferreira et al., 2010, p. 153).
Como se pode constatar, não se pode dissociar a missão dos valores, dado que esta está
alicerçada em valores e estes retratam as convicções, crenças e os princípios que deverão ser
tidos em consideração e que constituem a base orientadora do comportamento de todos nas
ações que a organização desenvolve (Camara et al., 2007).
Os autores referem ainda que, os valores devem ser claros e bastante difundidos por todos os
que interagem com a organização, nomeadamente os colaboradores que neles devem acreditar
e valorizá-los.
Assim sendo, os valores, são designados por Chiavenato (2010) como crenças, atitudes
básicas cujo objetivo é auxiliar a determinação do comportamento individual.
Os valores são uma componente essencial na formação da identidade individual e influenciam
as atitudes e os comportamentos dos membros da organização, tendo um impacto direto na
própria organização.
Por seu lado, Niven (2003, cit. in Cunha et al., 2007) define os valores organizacionais como
princípios intemporais que conduzem uma organização, pois retratam as convicções da
organização e são colocados em prática pelos seus membros no seu dia-a-dia.
7
Quando se fala em organizações, para além de ser primordial falar da visão, da missão e dos
valores, torna-se imperativo falar sobre os seus parceiros.
Chiavenato (2009) alude que os participantes ou parceiros das organizações eram
tradicionalmente os seus proprietários, administradores e colaboradores, considerados
participantes internos. Atualmente a organização é concebida como um processo composto
por diferentes parceiros que interagem para atingirem os objetivos e que estão em constante e
recíproca interação.
Com o objetivo de ampliar o conceito de organização muitos são os autores que denominam
como stakeholders, os parceiros da organização. Assim, a organização é um sistema que
reúne diversos grupos de stakeholders com os quais estabelece relações.
“Stakeholders são as pessoas e grupos capazes de influenciar ou serem influenciados pelos
resultados alcançados e que possuam reivindicações a respeito do desempenho da empresa.
São os públicos, que têm algum interesse na empresa, ou seja, pessoas ou organizações que
participam direta ou indiretamente do sucesso do negócio” (Mano, 2004, cit. in Chiavenato,
2009, p. 22).
Os diversos grupos de stakeholders são ilustrados na figura que se segue:
Em síntese, Chiavenato (2009) alude que cada organização é um sistema complexo e humano,
dotada de caraterísticas, cultura e valores próprios.
Debateu-se o tema organização, com o objetivo de compreender qual a sua visão, missão e os
valores que perfilha. Procurou-se dar enfâse às organizações, atendendo que não se pode
8
abordar a cultura organizacional, sem primeiro compreender o conceito de organização, o que
vai ao encontro da perspetiva de Chiavenato (2010) que ressalta que a cultura organizacional
é um elemento comum a todas as organizações e para melhor se conhecer uma organização é
necessário primeiro conhecer a sua cultura.
2. A cultura organizacional
A cultura organizacional tem um papel primordial na eficácia das organizações, uma vez que,
é a base da organização, contribuindo para o seu sucesso, aliada aos valores que, quando são
partilhados pelos seus membros, trazem mais-valias para a mesma.
Assim, pretende-se enfatizar a importância da cultura organizacional baseada nas perspetivas
de vários autores-chave nesta temática.
Para Tavares (2004) a cultura organizacional é definida como o padrão de valores
dominantes, das atitudes, crenças, assunções, expectativas, atividades, interações frequentes,
normas, sentimentos e artefactos.
Esta definição é partilhada por Chiavenato (2010) que alude que a cultura
organizacional é constituída por hábitos, crenças, valores, atitudes, expectativas, mas
acrescenta que existe uma partilha pelos membros da organização.
Assim, Chiavenato (2005, cit. in Chiavenato, 2010) exibe seis características principais da
cultura organizacional, nomeadamente:
Regularidades nos comportamentos observados - as interações entre os intervenientes
caracterizam-se pela utilização de uma linguagem comum, terminologias próprias e rituais
relacionados com comportamentos e deferências;
Normas - padrões de comportamento e que incluem orientações da forma da organização
atuar;
Valores dominantes - principais valores que a organização defende e espera que os
intervenientes compartilhem, nomeadamente a qualidade do produto, redução do absentismo e
a alta eficiência;
Filosofia - a política no que concerne à forma de tratar os colaboradores e clientes;
Regras - orientações relacionadas com o comportamento na organização, as quais devem ser
apreendidas pelos novos membros, de forma a serem aceites no grupo;
Clima organizacional - sentimento transmitido na organização, a forma como os
intervenientes interagem, o tratamento dado aos clientes e fornecedores.
A cultura organizacional é determinante no desempenho organizacional, na satisfação laboral,
assim como, na produtividade organizacional, contudo, quando se aborda o tema da cultura
9
organizacional, não se pode ignorar o facto de os valores estarem inerentes à mesma, dado
que são um instrumento de grande importância na compreensão da cultura e dos objetivos da
organização.
A cultura de uma organização é um conjunto único de características que permite distingui-
la de qualquer outra. Corresponde à personalidade no indivíduo e transmite a forma como as
pessoas duma organização se comportam, estabelecendo um sistema de valores que se exprime
por meio de ritos, rituais, mitos, lendas e acções (Teixeira, 2004, p. 173).
Da bibliografia consultada pode-se aferir que é unânime a importância dada pelos diversos
autores à cultura organizacional, exemplo disso é a afirmação efetuada por Dolan e Garcia
(2002, cit. in Raich e Dolan, 2008, p. 235) “a cultura da empresa é a sua personalidade” com a
qual se está completamente de acordo.
Quando uma organização é criada, os valores do seu fundador são transmitidos aos novos
membros, para que estes se identifiquem com a cultura organizacional e se sintam membros
ativos da mesma, tornando-se numa mais-valia para a organização.
Esta ideia é reforçada por Tavares (2004) que equipara a vivência organizacional a uma fonte
donde emana a cultura de cada organização. A autora refere ainda, que se trata de um
processo dinâmico que converte a cultura inicial sugerida pelos seus fundadores e recriada,
sendo disseminada pelos seus gestores.
É de crucial importância a identificação dos novos membros da organização com a sua
cultura, quer para o seu processo de identificação, quer para a sua contribuição para o sucesso
da mesma.
Na opinião de Raich e Dolan (2008) a cultura é considerada “forte” quando os trabalhadores
reagem a estímulos dado que, se encontram alinhados com os valores da organização. Uma
cultura é considerada “fraca” quando o alinhamento é “ténue”.
Por sua vez, French e Bell (cit. in Tavares, 2004) afirmam que o sucesso das organizações está
dependente da interligação da cultura com as metas e o contexto da atividade, devendo a
cultura estar alinhada com a estrutura, a estratégia e estas com os objetivos da organização.
Neste contexto, Camara et al., (2007) complementa que a eficácia de uma organização não
pode ser analisada de uma forma superficial, sem que haja uma analogia com a cultura.
Pois, só a partir dessa analogia e na opinião de Raich e Dolan (2008) é possível criar
estabilidade a partir do interior da organização e integrá-la na cultura, de forma a preservar o
melhor do passado e paralelamente desenvolver novas formas de pensar e agir.
Atendendo ao que foi já referenciado sobre a cultura organizacional, nomeadamente a sua
importância no sucesso organizacional, é importante complementar com o contributo de
10
Chiavenato (2010) que alude que a cultura organizacional espelha o modo através do qual
cada organização aprendeu a lidar com o seu ambiente, dado que se trata de uma complexa
combinação de pressupostos, crenças, comportamentos, histórias, mitos, metáforas e outras
ideias, que em conjunto revelam o modo particular do funcionamento da organização e da
sua forma de trabalhar.
Contudo, como referenciado por Chiavenato (2009) a cultura de uma organização não é
estática e permanente, ao longo do tempo, vai sofrendo alterações, em função de condições
internas ou externas. A melhor forma de mudar uma organização é mudar a sua cultura, ou
seja, os sistemas dentro dos quais as pessoas vivem e trabalham.
Da revisão bibliográfica efetuada sobre a cultura organizacional, parece estar-se em condições
de afirmar que embora seja notória a sua importância na eficácia e sucesso organizacional, a
cultura deve ser vista de uma forma holística, o que vai ao encontro da perspetiva de Veloso
(2005, cit. in Leal, et al., 2011) que considera que as organizações têm de ter um conceito
abrangente de cultura, e que esta deve ser vista de forma mais sistemática e profunda.
Segundo esta linha de pensamento, Ferreira (2005, cit. in Leal, et al., 2011) sustenta que o
conceito de cultura organizacional está adaptado às novas formas de gestão, que estão orientadas
para a procura justificada da “performance financeira”, mas ao mesmo tempo, de forma a
conjugar os princípios da “performance social”.
No entanto, Leal et al., (2011) acrescenta que a “performance organizacional” só é, desta forma
conseguida, se se associar e desenvolver os melhores recursos financeiros com as preocupações
sociais com a comunidade.
Adotando esta linha de pensamento, pode-se aferir que esta nova forma de pensar e agir é um
princípio para que as organizações incluam na sua estratégia e na sua cultura as práticas de
responsabilidade social. É neste sentido, que importa destacar a abordagem seguinte:
Não há muito tempo, a Empresa era vista por critérios exclusivamente económicos.
Reconhecer a Empresa como uma realidade social coexistente com a económica é o primeiro
passo para uma nova política de relações humanas, de organização e métodos de produção, de
repartição de responsabilidades e de expressão do pessoal (Camara et al., 2007, p. 159).
Esta abordagem é complementada por Cunha et al., (2007) que considera que as organizações
não devem limitar os seus interesses apenas à melhoria dos seus resultados financeiros e
produtivos, atribuindo importância a outros resultados. Assim, devem constituir resultados
centrais da sua atividade organizacional, os de caráter humano (motivação, satisfação) e o
desenvolvimento social.
Zenone (2006, cit. in Leandro e Rebelo, 2011) alude que a responsabilidade social é vista como
11
algo que a organização desenvolve e coloca em prática voluntariamente um conjunto de valores,
que embora possam fazer parte de um código de ética, altera consensualmente a cultura interna,
originando uma forma de ação que é comum a todos, pelo que, faz todo o sentido estabelecer
uma analogia entre a cultura organizacional e a responsabilidade social, uma vez que a RS deve
ser disseminada por toda a organização e adotada como cultura de gestão.
Assim, parece existir um consenso no se concerne à analogia existente entre a eficácia das
organizações e a sua cultura e paralelamente uma outra, entre a cultura e a responsabilidade
social.
Contudo, para ir ao encontro desta analogia, parece importante refletir em primeiro lugar sobre
qual é a pertinência dos valores na cultura organizacional e empresarial.
“A resposta a esta questão resulta da afirmação de que a comprovação da Cultura
Organizacional passa pela identidade social e que esta passa pelo conceito de valor” (Camara,
et al., 2007, p. 169).
Assim sendo, seguidamente vai-se abordar a gestão por valores e tentar compreender até que
ponto esta pode ser considerada uma mais-valia para o desempenho organizacional e
contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade das organizações.
3. A gestão por valores
Para assegurar a sustentabilidade das organizações é essencial ter condutas éticas que
valorizem o ser humano e a sociedade, pelo que se torna perentória a gestão por valores.
Pode a gestão por valores ser considerada uma mais-valia para o desempenho organizacional e
contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade das organizações?
Pretende-se compreender o que são os valores, mas acima de tudo compreender a importância
da gestão por valores, o seu impacto na organização quer interna, quer externamente, e a sua
influência na implementação de medidas socialmente responsáveis por parte das organizações.
Segundo as perspetivas dos autores que se seguem pretende-se revelar o que são os valores:
Para Dolan e Garcia (2006) os valores não são somente palavras. Estes orientam e dirigem o
nosso comportamento e influenciam as nossas experiências diárias. Raich e Dolan (2008)
aludem que se trata do “esqueleto” da organização, por seu lado, Camara et al., (2007)
clarificam que os valores dizem respeito aos preceitos éticos que regulam a conduta da
empresa e podem resumir-se em:
Integridade: atuar sempre em exata conformidade com os preceitos legais e morais
vigentes no meio em que atua.
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Proporcionar valor aos clientes: fornecer-lhes bens ou serviços de boa qualidade e praticar
preços ajustados, evitando as margens de lucro especulativas.
Tratar com justiça e equidade os colaboradores: não os diferenciar com base na raça, sexo,
crença religiosa ou ideologia política e premiá-los baseado em critérios uniformes, na
justa medida da sua contribuição para o sucesso da organização.
Os valores brotam do núcleo mais profundo daquilo que significa o ser humano. Os valores
mantêm juntas as famílias, as comunidades e culturas, contudo, as organizações ignoraram este
facto durante décadas. Só agora começamos a constatar que o fundamento para novos modelos
organizacionais tem de ser a maneira como os valores da empresa são desenvolvidos e
implementados (Laszlo, 2003, p. 76).
Após o relato das várias definições dadas pelos autores acima referenciados, é importante
agora ressaltar a importância dos valores na gestão da organização.
Neste sentido, Almeida (2010) salienta que a filosofia de gestão perfilhada por cada gestor
está interligada às suas crenças no que respeita ao mundo, à vida e às pessoas.
Assim sendo, os valores que integram o referencial de cada gestor são um fator fundamental
para entender a sua visão pessoal do papel que as organizações devem ter na comunidade,
partindo da visão pessoal que tem do mundo.
Contudo, muitas decisões empresariais nem sempre estão estatuídas pela legislação, pelo que
os gestores tomam decisões baseados nas crenças individuais e nas normas sociais que
orientam as suas escolhas.
De acordo com a linha de pensamento do autor, o estudo dos valores humanos básicos que
guiam as crenças individuais dos gestores pode contribuir para o entendimento da natureza
das motivações éticas que inspiram as práticas e políticas empresariais.
Segundo Raich e Dolan (2008) o trabalho de um líder é impor à organização uma ação
alinhada com a estratégia e com os seus valores básicos, concebendo uma cultura de criação
de valor que orienta os colaboradores nas suas atividades diárias, em todos os níveis e em
todas as funções.
Os autores sustentam que os gestores outrora, consideravam os valores como algo
“demasiado suave”, pelo que, não eram tidos em conta na estratégia de gestão,
presentemente são considerados uma mais-valia.
A prática demonstra que quando os valores individuais colidem ou não estão em harmonia
com os valores da organização, causam descontentamento, stress, alienação, influenciando o
desempenho e o bem-estar geral, quer do indivíduo quer da própria organização.
13
Também é de crucial importância no sucesso de qualquer organização, que se reconheça o
valor individual e coletivo dos colaboradores, pode mesmo afirmar-se, que passou de uma
opção a uma obrigação.
Daí a necessidade de efetuar mudanças na gestão das organizações e pautá-las por uma gestão
por valores. Neste sentido, propõe-se apresentar ao longo do desenvolvimento deste tema dois
autores que defendem a gestão por valores.
Barrett (2011) revela que o processo de gestão por valores pode contribuir para apoiar a
melhoria contínua do desempenho organizacional e na promoção do desenvolvimento da
sustentabilidade de longo prazo.
O autor começa por nos apresentar os quatro quadrantes que representam as diferentes
perspetivas que se pode ter sobre os sistemas humanos:
A perspectiva do interior do indivíduo – consciência individual – valores e crenças
individuais
A perspectiva do exterior do indivíduo – ações e comportamentos pessoais
A perspectiva do interior do coletivo – consciência de grupo – valores e crenças
culturais
A perspectiva do exterior do coletivo – estruturas sociais, sistemas, processos, ações
e comportamentos do grupo (Barrett, 2011, p. 3).
Este modelo permite-nos concluir que da mesma forma que os indivíduos mudam os seus
valores e crenças, também as suas ações e comportamentos se alteram. Assim, quando um
grupo de indivíduos muda os seus valores e crenças no mesmo sentido, também alteram as
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suas ações e comportamentos coletivos. Para que este fenómeno aconteça é essencial existir
uma mudança em simultâneo em todos os quadrantes.
Designada por “mudança integral do sistema”, esta ocorre quando começa por uma mudança
da consciência individual e termina com alterações nas ações e comportamentos do grupo.
Barrett (2011) alude que apenas as pessoas se transformam, nunca as organizações.
O intuito da gestão por valores é mensurar e verificar de forma ativa os valores e
comportamentos da organização, de forma a realizar os devidos ajustamentos à cultura, com o
propósito de promover o desempenho sustentável.
Deste modo, a gestão por valores é definida como:
o processo através do qual uma organização mede, monitoriza e responde de forma efetiva aos
seus indicadores causais de desempenho, ajustando a sua cultura e comportamentos de forma a
operar com base em elevados níveis de desempenho (efeitos) e desta forma atingir os seus
objetivos (resultado) (Barrett, 2011, p. 147).
A mudança integral do sistema deve partir da mudança pessoal do grupo que lidera a
organização. Os líderes devem estar comprometidos e servir de exemplo tendo em conta a
visão, missão, valores e comportamentos. Assim, Barrett (2011) sustenta que a tomada de
decisão deve estar alinhada com a visão, a missão, os valores, assim como os comportamentos
que os suportam. No que concerne aos valores e comportamentos, estes devem incidir no
recrutamento dos colaboradores, gestores e diretores, no teor dos programas de orientação aos
novos colaboradores, no âmbito dos programas de desenvolvimento de gestão e decisão, na
forma de seleção e desenvolvimento de novos talentos, nos critérios adotados nas promoções,
nos programas de desenvolvimento da liderança e gestão do desempenho.
Por outro lado, Barrett (2011) afirma que a cultura deve ser totalmente observada através da
avaliação de indicadores de desempenho “causais” (valores e comportamentos) individuais e
coletivos para assegurar um elevado desempenho sustentável.
Em suma, para que a mudança integral do sistema obtenha sucesso, os valores têm de estar
presentes em tudo o que diz respeito à organização. Devem dirigir todas as tomadas de
decisão e estar espelhados em todos os sistemas e processos.
Assim, os valores devem refletir os comportamentos individuais dos líderes, gestores e
colaboradores, assim como os comportamentos coletivos da organização. Devem pois, estar
incluídos no “ADN” da cultura organizacional.
A MBV ou gestão por valores é segundo Raich e Dolan (2008) uma filosofia e uma prática de
gestão, concentrando a atenção de uma organização nos seus valores principais e alinhados
com os objetivos estratégicos.
15
Assim a gestão por valores “deve ser empregue na reflexão e na formulação da estratégia
pessoal, além de constituir uma filosofia e uma prática de gestão. Quando analisados de
uma forma específica, os valores podem e devem ser usados como um instrumento de
gestão” (Garcia e Dolan, 1997, cit. in Raich e Dolan, 2008, p. 240).
É importante recordar que as organizações são compostas por pessoas que levam consigo um
conjunto de valores apreendidos ao longo do seu percurso de vida, nomeadamente, no contexto
familiar e escolar, pelo que, quando integra a organização vai receber outros valores, próprios da
instituição e que podem colidir com os seus valores pessoais, influenciar as suas atitudes e
comportamentos na organização.
Deste modo, Camara, et al., (2008) referem que numa organização existem conjuntos de
indivíduos, ou grupos que se orientam por um conjunto de valores. Nesta realidade, o sujeito
ou se adapta, identificando-se com os valores que guiam o grupo, encontrando desta forma a
sua identidade social, ou se marginaliza (é marginalizado) ou abandona a organização.
Assim, Raich e Dolan (2008) argumentam que a vantagem da partilha de valores manifesta-se
no sentimento de compromisso, satisfação, diminuição da vontade de deixar a organização,
menor rotação das pessoas. Simplifica a mudança organizacional, influi nas relações de poder
e reduz o cansaço.
Os autores sustentam que esta partilha sintonizada dos valores acontece quando os indivíduos
são atraídos, selecionados e permanecem em organizações que detêm valores, atitudes e
personalidade que se adequam à sua.
Pelo contrário, diz-se que há falta de correspondência quando o indivíduo perceciona que os
valores da organização não correspondem às suas intenções, o que origina conflitos frequentes
e desinteresse por parte do trabalhador.
Para Raich e Dolan (2008) a harmonia das crenças e dos valores entre os líderes e os
colaboradores é uma vantagem competitiva de capital importância. No entanto, as
organizações nem sempre conseguem colocar os valores em prática.
Assim, a disparidade entre os valores proclamados e os praticados internamente podem criar
um desajuste, uma vez que, são os valores praticados que exercem maior influência no
comportamento.
A partilha de valores proporciona aos membros da organização absorver e processar os
estímulos externos de uma forma idêntica e deste modo, também o comportamento se torna
idêntico. Assim sendo, a gestão por valores está-se a tornar no principal impulsor de uma
cultura sustentável, competitiva e humana.
16
Presentemente uma organização que não alinhe os valores dos seus colaboradores com a sua
missão e objetivos poderá não perdurar a longo prazo.
A MBV perfilha que a essência da autêntica liderança sempre foi distinguida pelos valores
humanos. Raich e Dolan (2008) afirmam que ao “humanizar” a visão estratégica, a
organização pode sustentar a sua sobrevivência e crescimento, aumentando os retornos
económicos através do compromisso de todos os parceiros, externos e internos.
Os líderes e os gestores necessitam de desenvolver a capacidade de gerir a complexidade
considerando a gestão dos valores básicos, quer a nível individual, quer organizacional.
Desta forma, Dolan e Garcia (2006) opinam que a gestão por valores se esteja a tornar
velozmente no principal guia do “como” desenvolver uma cultura mais sustentável,
competitiva e humana.
Dolan e Garcia (2006) conceberam o modelo triaxial, com o objetivo de melhor se
compreender a gestão por valores e dividem os valores em três dimensões de um sistema de
valores de uma organização - os valores económico-pragmáticos, valores ético-sociais e
valores emocionais-desenvolvimento. A gestão por valores pode ser observada e aplicada à
generalidade das organizações e pode ser resumida da seguinte forma:
Os valores económico-pragmático - abarcam valores relativos à eficácia, padrões de
desempenho e disciplina. Estes valores dirigem atividades como a contabilidade,
planeamento e qualidade.
Os Valores ético-Sociais - abarcam a forma como as pessoas se comportam em grupo e
como devem atuar em público, no trabalho e nas relações. Estão aliados a valores sociais
tais como a honestidade, a congruência, respeito e lealdade. Os valores ético-sociais vão
influir no comportamento aquando da vivência com os valores pessoais económico-
pragmáticos e dos valores emocionais-desenvolvimento.
Valores emocionais-desenvolvimento - Estão relacionados com a realização pessoal,
confiança, liberdade e felicidade. A criatividade/imaginação, vida/realização
pessoal, auto asserção/frontalidade e adaptação/flexibilidade são exemplos disso.
Deste modo, este modelo trixial da gestão por valores demonstra-nos que as organizações
possuem na sua essência três dimensões de valores, onde a cultura organizacional reflete como
estas dimensões são vividas. A gestão por valores é a ligação e expansão ou adaptação a estas
dimensões por forma a alinhá-las com os objetivos da organização.
17
Fundamentado em autores de referência no tema, destacou-se a importância da gestão das
organizações firmada em valores, salientando as mais-valias que essa gestão implica em
termos internos, na própria cultura organizacional e que são refletidas externamente em
termos de sustentabilidade.
Termina-se o desenvolvimento deste tema com a citação de um dos autores referenciados e
acérrimo defensor da gestão por valores: “empresas geridas por valores são, sem dúvida, as
empresas mais bem sucedidas do planeta” (Barrett, 2011, p. 1).
Como se pôde constatar, diferentes autores referenciam a importância dos valores partilhados
num contexto organizacional, pelo que as organizações que adotam esta gestão estão mais
propensas a integrar na sua estratégia a responsabilidade social como um ato de gestão e não
pura filantropia.
Atendendo à sua capital importância o conceito de responsabilidade social vai ser abordado de
uma forma mais holística e fundamentado em autores-chave nesta matéria.
4. O conceito de responsabilidade social
A responsabilidade social é tendencialmente um pressuposto de atuação por parte das
organizações, funciona como um fio condutor, transversal e inspirador das várias áreas de
atuação.
A responsabilidade social deve ser inerente à própria organização, fazendo parte da sua
estratégia, dos seus princípios e valores, tendo a ética como aliada e envolvendo os
stakeholders, assim como as suas preocupações atuais e futuras, no âmbito da sua qualidade
de vida, tornando as organizações socialmente responsáveis e sustentáveis.
Na opinião de Monteiro (2009) a responsabilidade social apresenta-se como um tema cada
vez mais importante no comportamento das organizações, exercendo impacto nos objetivos,
estratégias e no próprio significado de empresa.
Segundo o mesmo autor, o conceito de RS pode ter várias interpretações: responsabilidade
social empresarial (RSE), responsabilidade social das organizações (RSO) e
responsabilidade social corporativa (RSC). Esta variedade de conceitos, está relacionada
com a controvérsia empresa/organização, no qual o conceito de empresa está associado
a uma lógica de mercado, de oferta e procura, onde o mais importante é a obtenção do
lucro e a satisfação dos acionistas e o conceito de organização é perspetivado como
um todo interdependente no qual as variáveis clientes, fornecedores, colaboradores,
comunidade, acionistas, entre outros são considerados na elaboração e definição da sua
estratégia.
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Pese embora as diversas interpretações existentes, fruto das várias linhas de pensamento é
essencial ter em conta que se referem apenas a um único conceito – Responsabilidade Social.
A responsabilidade social é uma “obrigação moral das organizações que reflete o contributo
das suas iniciativas para o desenvolvimento da comunidade envolvente” (Lisboa, Coelho,
Coelho & Almeida, 2008, p. 140).
Segundo os mesmos autores, a responsabilidade social emerge como um conceito inerente a
todo o tipo de organização, na medida em que estas são constituídas por indivíduos
socialmente integrados numa comunidade que acolhe a sua vida privada e onde incrementam
a sua atividade profissional.
No âmbito organizacional, a responsabilidade social diz respeito ao conjunto de ações que
visam o interesse e o desenvolvimento da sociedade, no entanto, não têm uma relação direta
com os resultados organizacionais.
Segundo os mesmos autores, os destinatários da responsabilidade social desenvolvida por
uma organização, encontram-se agrupados em quatro dimensões: os consumidores, os
colaboradores, o ambiente e a sociedade.
No que concerne aos consumidores, constituem a razão de existência de uma organização,
sendo diretamente afetados pela conduta da empresa, face aos produtos desenvolvidos.
Desta forma, podem considerar-se como políticas socialmente responsáveis as que incentivam
a segurança, a qualidade dos produtos e serviços oferecidos, a prática de preços justos e o
recurso a publicidade transparente e verdadeira para promoção destes produtos.
No que se refere aos colaboradores, considerados o recurso mais estratégico da organização e
de gestão mais exigente, são a força viva que possibilita que ela se conserve ativa e se
desenvolva.
Neste âmbito, pode-se considerar ações de responsabilidade social as preocupações com a
higiene e segurança no posto de trabalho, pôr em prática políticas adequadas de remuneração
e de incentivos, promover a não discriminação dos trabalhadores com base no género, na raça
ou na religião, a observância de políticas ativas de formação e o desenvolvimento dos
colaboradores, a existência de uma relação íntegra com os colaboradores e a partilha de
informação relevante sobre perspetivas de emprego e condições de trabalho.
Relativamente ao ambiente, esta dimensão diz respeito à qualidade do meio envolvente da
organização e dos espaços abrangidos pela sua ação (o ambiente natural ou o espaço urbano).
Neste domínio, destacam-se as preocupações com a higiene e segurança dos processos, as
19
medidas de combate à poluição, a utilização de embalagens biodegradáveis ou recicláveis e o
tratamento de detritos e produtos perigosos.
Em relação à sociedade, esta representa a comunidade envolvente na qual se refletem os
efeitos das práticas empresariais. São vulgarmente consideradas ações de responsabilidade
social as que se encontram aliadas ao apoio às artes, à educação, à saúde, ao desenvolvimento
social, participar em ações comunitárias, nomeadamente a intervenção em ações sociais
voluntárias, a prática de doações e a participação em campanhas de sensibilização com o
objetivo de contribuir para a resolução de um determinado problema social.
Como pode constatar-se, a prática da responsabilidade social possui várias facetas, atendendo
ao número de stakeholders envolvidos, originando diferentes abordagens.
Assim, a responsabilidade social deverá estar integrada na estratégia da organização e
não ser apenas vista como um mero cumprimento legal.
Deste modo e segundo Monteiro (2009) uma organização que adote estratégias de RS
patenteia as seguintes caraterísticas:
Propósito, visão e valores perfilados de forma consistente com as suas práticas de
negócio-integração estratégica no modelo de negócio;
Partilha e vivência pela liderança e a equipa de gestão dos valores pautados pela
organização, com o envolvimento da gestão de topo;
Comunicação continuada e ativa dos propósitos, visão e valores através da
organização e aos seus stakeholders;
Propósitos, visão e valores constantemente fortalecidos através da cultura
organizacional, processos e recompensas, nomeadamente:
Recrutamento e seleção;
Formação da equipa de gestão e colaboradores;
Definição de objetivos de desempenho;
Estruturas de avaliação de desempenho e recompensas;
Promoção de trabalhadores;
Processo de compras e critérios de seleção de fornecedores;
Procedimentos de avaliação e conhecimento de parceiros de negócio.
Mecanismos efetivos de comunicação de falhas de valores, entre o patente e o
praticado na organização;
Processos e ferramentas concretas na identificação e priorização de riscos e
oportunidades associadas com a RS, assim como, uma abordagem definida para a
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decisão e revisão da consistência para com os valores corporativos;
Processos de decisão ao nível da gestão de topo para identificar erros e omissões
transversais à organização, garantindo a melhoria contínua;
Processos de envolvimento efetivo para com os stakeholders, que de forma pró-
ativa possibilitem a identificação de oportunidades, sustentem a confiança,
abertura e empatia que estimule o emergir dessas oportunidades;
Código ético que regule a relação com parceiros, delimitando a justa partilha de
riscos e recompensas (p.e. direitos de propriedade intelectual) que surjam das
oportunidades sociais;
Mecanismos adequados de monitorização e comunicação do desempenho da
organização, bem como de correção das lacunas.
Embora a responsabilidade social seja uma temática muito abrangente, pretende-se neste
trabalho aprofundar a sua vertente organizacional.
4.1 A responsabilidade social no contexto organizacional
A Responsabilidade social nas organizações é um tema profusamente debatido no campo da
gestão, envolvendo académicos, políticos, empresários e a sociedade em geral.
A forma de olhar para as organizações alterou. Presentemente são vistas como entidades com
natureza económica, mas também com uma vertente social e responsável perante os
stakeholders, bem como, com preocupações com o seu meio envolvente.
A literatura que compreende este tema, apresenta um conjunto variado de definições com o
objetivo de melhor compreender o conceito de RSE. Assim, inicia-se com uma reflexão do
presidente do conselho de administração da organização que serviu de base ao estudo de caso
apresentado neste trabalho.
“Até fins do século passado, o que se esperava das empresas era que produzissem bens de boa
qualidade, prestassem serviços a preço justo, remunerassem equilibradamente os seus
colaboradores e cumprissem as suas obrigações fiscais. Hoje, exige-se que além de cumprirem
as obrigações legais, se preocupem, afectem recursos e desenvolvam estratégias que garantem
a sustentabilidade do Planeta, dos países, das famílias…
Foi neste enquadramento que o conceito de Responsabilidade Social Empresarial se
desenvolveu e consolidou e que assistimos a uma mudança de atitude e posicionamento das
organizações” (Correia, 2011, cit. in Leal, et al., 2011, p. 224).
23
Importa deste modo, compreender de que forma a responsabilidade social empresarial é vista:
“o compromisso adoptado pelas empresas em contribuírem para o desenvolvimento
económico sustentável, enquanto promovem a qualidade de vida dos trabalhadores e das suas
famílias, das comunidades locais e da sociedade em geral” ou de uma forma mais simplificada
o “compromisso das empresas na promoção do bem-estar das sociedades nas quais actuam
directamente” (World Business Council for Sustainable Development – WBCSD, 2001, cit. in
Santos, Santos, Pereira & Silva, 2006, p. 25).
Este compromisso é desenvolvido paralelamente com o desenrolar da atividade da
organização e pode abarcar múltiplas iniciativas, em termos internos e externos à organização.
Neste contexto, Santos et al., (2006) observa que a RSE está presente quando as organizações
ao gerirem a sua atividade abraçam as preocupações, os interesses e os benefícios dos
stakeholders e agem, promovendo ações de proatividade, no sentido de melhoria das
condições atuais, com o espírito de fomentar o desenvolvimento sustentável da envolvente.
No entender de Santos et al., (2006) a RSE agrega determinadas características,
designadamente:
Pressupõe um comportamento adotado voluntariamente pelas organizações muito para
além dos dispostos legais;
É indissociável do conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, as organizações
têm de incluir nas suas operações impactos económicos, sociais e ambientais.
Não consiste num “acrescento” facultativo às atividades essenciais de uma
organização, mas é considerada uma nova conceção no que respeita à forma de gestão
das organizações em geral.
Segundo Rodrigues & Duarte (2012) a responsabilidade social das organizações está
diretamente associada ao conceito de ética nos negócios e ao desenvolvimento sustentável,
pelo que estão implícitas práticas éticas e transparentes em relação a todos os stakeholders.
Parece existir consenso no que diz respeito à RSE ter como principal aliada a ética.
Veloso (2005, cit. in Leal et al., 2011) alude que o desenvolvimento de políticas de
responsabilidades sociais origina o estabelecimento de critérios e padrões empresariais cujas
atividades socialmente responsáveis sejam sustentadas em preocupações e princípios “éticos”
e “valores morais”.
Segundo Ethos – Instituto de Empresas e Responsabilidade Social (2010, cit. in Leal et al.,
2011) a responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da organização com todos os intervenientes com que interagem e pela
criação de metas empresariais que estimulem o desenvolvimento sustentável da sociedade,
conservando os recursos ambientais e culturais para as gerações vindouras, com respeito pela
diversidade e promovendo a diminuição das desigualdades sociais.
24
Conforme Rodrigues e Duarte (2012) a responsabilidade social das empresas é bastante
incentivada a nível europeu, constituindo mesmo um objetivo partilhado na União Europeia,
de forma a garantir a modernização económica, baseada no incremento dos níveis de
competitividade e produtividade, no respeito pelas políticas sociais e proteção da qualidade do
meio ambiente.
Exemplo disso, é a autonomização do conceito através da publicação pela comissão Europeia,
em Julho de 2001 do Livro Verde “Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade
Social das Empresas”.
Para Leal et al., (2011) no Livro Verde está patente uma transparente intenção de promover
um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas, representado por três tipos
de objetivos genéricos da RSE: económicos, sociais e ambientais.
Assim, a RSE é entendida como:
“a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas
operações e na sua interacção com outras partes interessadas”. Defende também que “ser
socialmente responsável não se restringe ao cumprimento de todas as obrigações legais,
implica ir mais além através de um maior investimento em capital humano, no ambiente e nas
relações com outras partes interessadas e comunidades locais (Comunidade Europeia (CE),
2001, cit. in, Santos et al., pp. 24-25).
Melícias (2003) menciona que a noção de RSE refere-se à decisão voluntária das empresas
que vão para além das normas consignadas no quadro jurídico-normativo por onde as
empresas se regulam - de integrar de forma contínua preocupações sociais e ecológicas nas
suas atividades produtivas e comerciais e nas suas relações com todos os parceiros, assim
sociais como civis, contribuindo para a melhoria da sociedade e para a qualidade ambiental.
Para Carrol (1991, cit. in Nunes, 2004) o conceito de responsabilidade empresarial presume
que o que é bom para a organização é igualmente bom para a sociedade, o que revela que
existe uma inter-relação entre o bem público e o bem da empresa. Esta perspetiva possibilita
uma visão abrangente do conceito de responsabilidade social das empresas.
Pese embora a bibliografia consultada revele a existência de unanimidade em torno da RSE,
pode-se igualmente constatar que emerge uma nova forma de gestão.
Neste sentido, para Rodrigues & Duarte (2012) a responsabilidade social e ambiental de uma
organização, deve ser vista do ponto de vista do investimento e não como um custo.
Paralelamente, outros autores partilham do mesmo ponto de vista e referem que:
“O que distingue uma verdadeira empresa de um mero negócio é a consciência e a
responsabilidade cívicas” (Pinto, 2010, cit. in Leal, et al., 2011, p. 20).
25
Esta afirmação é alvo de comentário, por parte de Leal et al., (2011) que ressaltam que as
políticas de responsabilidade social devem ser compreendidas numa estratégia de
desenvolvimento sustentável, estando longe da mera visão de procura de reputação
empresarial, ações de marketing ou comunicação.
Existem inúmeras noções sobre o conceito da RSE (designada na língua inglesa por CSR),
embora se tenha constatado grande unanimidade, é sempre importante destacar a opinião de
autores que vão mais longe ao afirmar:
Ser bom cidadão é uma causa nobre e encorajamos as empresas a assumir cada vez mais CSR.
Mas, até que os CEOs das organizações actuais possam perder o emprego por não cumprirem
a CSR, o conceito não passará de pensamentos optimistas, de uma demonstração de boa
vontade, uma imagem de marca, e nada mais. Apenas nalgumas organizações todos os
intervenientes, incluindo os accionistas, defendem totalmente este conceito (Raich e Dolan,
2008, p. 232).
Do meu ponto de vista, a RSE deve fazer parte integrante da estratégia da organização e todos
os intervenientes da mesma devem estar imbuídos no conceito, defendê-lo, mas sobretudo
colocá-lo em prática.
A RSE deve estar ao mesmo nível das preocupações económicas e não deve ser usado apenas
como um efeito de “cosmética” na imagem da organização. A organização deve assumir a
RSE como parte integrante da gestão, cujas mais-valias estão para lá do universo económico e
financeiro.
A RSE pode ser vista de duas perspetivas: a interna e externa, pelo que se faz seguidamente a
elucidação das mesmas.
4.2 A Dimensão interna e externa da responsabilidade social
Na responsabilidade social das organizações o desempenho global, que se prende com o
respeito e preservação do meio ambiente, assim como o cumprimento das melhores práticas
sociais, é avaliado numa abordagem de longo prazo, baseada em três P´s (people, planet e
profit) desenvolve-se em responsabilidade ambiental, social e económica e pode ser vista do
ponto vista interno e externo (Rodrigues e Duarte, 2012).
Assim, a responsabilidade social compreende duas dimensões: a interna e externa.
A dimensão interna da RS envolve práticas socialmente responsáveis consagradas aos
colaboradores da organização e relacionam-se na sua maioria com questões de
desenvolvimento do capital humano, designadamente, da saúde, da segurança no trabalho, da
comunicação, da gestão da mudança. Paralelamente aborda aspetos relativos à gestão do
impacto ambiental e dos recursos naturais.
A nível da empresa, as práticas socialmente responsáveis implicam, fundamentalmente, os
trabalhadores e prendem-se com questões como o investimento no capital humano, na saúde,
26
na segurança e na gestão da mudança, enquanto as práticas ambientalmente responsáveis se
relacionam sobretudo com a gestão dos recursos naturais, explorados no processo de
produção. Estes aspectos possibilitam a gestão da mudança e a conciliação do
desenvolvimento social com uma competitividade reforçada (Livro Verde, 2001, cit. in Rocha,
2010, p. 284).
A dimensão externa vai para além das fronteiras da organização, envolvendo na sua estratégia
os acionistas, parceiros comerciais, fornecedores, clientes, autoridades públicas, ONG e toda a
comunidade envolvente.
A responsabilidade social de uma empresa ultrapassa a esfera da própria empresa e estende-se
à comunidade local, envolvendo, para além dos trabalhadores e accionistas, um vasto espectro
de outras partes interessadas: parceiros comerciais e fornecedores, clientes, autoridades
públicas e ONG que exercem a sua actividade juntos das comunidades locais ou no domínio
do ambiente. Num mundo de investimentos multinacionais e de cadeias de produção globais, a
responsabilidade social das empresas terá também de estender-se para além das fronteiras da
Europa. A rápida globalização fomentou a discussão sobre o papel e o desenvolvimento de
uma governação à escala planetária, para a qual contribui a definição de práticas voluntárias de
RSE (Livro Verde, 2001, cit. in Rocha, 2010, p. 288).
Apresenta-se de seguida um quadro com a síntese das dimensões da RSE, segundo o Livro
Verde – “Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas,
apresentado pela Comissão das Comunidades Europeias em 2001.
27
Dimensões Humanas (internas) Dimensões Externas
Gestão de Recursos Humanos Comunidades Locais
Aprendizagem ao longo da vida. Integração adequada da organização na envolvente local.
A responsabilização dos trabalhadores. Contribuir para a vida das comunidades locais no que se
Uma melhor informação no seio da empresa. prende com emprego, remunerações, benefícios e impostos.
Melhor equilíbrio entre a vida profissional, familiar e de As organizações dependem da salubridade, estabilidade e
tempos livres. prosperidade das comunidades onde operam.
Uma maior pluralidade de recursos humanos. Interação com o meio físico local.
Igualdade em termos remuneratórios e de carreira, no que Envolvimento social local.
concerne às mulheres.
Regimes de participação nos lucros e no capital da
organização.
Preocupação em relação à empregabilidade e à segurança
dos postos de trabalho.
Práticas de recrutamento responsáveis, nomeadamente não
discriminatórias.
Saúde e Segurança no Trabalho Parceiros Comerciais, Fornecedores e Consumidores
Implementação de medidas legislativas. Estabelecer relações com empresas comuns ou parceiros de
Incutir uma cultura de prevenção. alianças ou de empresas comuns e franquiadas.
Quantificação, documentação e comunicação das boas Responsabilidade social da empresa envolvendo os clientes,
práticas de saúde e segurança no trabalho. fornecedores, subcontratados e concorrentes.
Programas de certificação e rotulagem para produtos e Envolvimento no capital de risco de novas empresas
equipamento. inovadoras por forma a propiciar o desenvolvimento destas.
Programas de certificação de sistemas de gestão e de Fornecer de forma ética, eficiente e ecológica produtos e
subcontratação, centrados na saúde e segurança no trabalho. serviços que os consumidores necessitam.
Inclusão nos regimes de adjudicação de contratos de
critérios de segurança e saúde no trabalho.
Adaptação à Mudança Direitos Humanos
Redução das despesas, aumento da produtividade e Respeito pelas normas laborais, da proteção do ambiente e
promover melhoria da qualidade do serviço prestado aos dos direitos humanos.
clientes. Combate às práticas de suborno e corrupção.
Ter em consideração o equilíbrio entre os interesses de Adoção de códigos de conduta que abarcam as condições de
todas as partes interessadas e afetadas pelas mudanças e trabalho, os direitos humanos e aspetos ambientais,
decisões. destinados aos seus subcontratantes e fornecedores.
Identificação dos riscos, previsão de custos, promoção de Observação do impacto das atividades da organização sobre
estratégias e políticas alternativas que permitam combater a os direitos humanos dos trabalhadores e da comunidade
necessidade de despedimentos. local.
Promover formação profissional, modernização dos Aplicação e verificação dos códigos de conduta e de
instrumentos e sistemas de produção, captação de promoção das normas internacionais do trabalho em todos
investimentos públicos e privados, definição de os níveis da organização e da cadeia de produção.
procedimentos para a informação, o diálogo, a cooperação e Políticas de informação total, formação de gestores,
estabelecimento de parcerias. trabalhadores e comunidade local, relativamente à aplicação
Garantir a inserção profissional dos trabalhadores. dos códigos de conduta.
Participação no desenvolvimento local e em estratégias Verificação do cumprimento e aplicação dos códigos,
ativas para o mercado de trabalho, estabelecendo parcerias segundo normas (“auditoria social”), garantindo desta forma
locais de emprego e/ ou inclusão social. a credibilidade dos códigos de conduta.
Impacto Ambiental e dos Recursos Naturais Preocupações Ambientais Globais
Redução na exploração de recursos. Melhoria do desempenho ambiental ao longo de toda a
Redução na emissão de poluentes. cadeia de produção.
Redução na produção de resíduos. Contribuição para um desenvolvimento sustentável global.
Redução nas despesas energéticas.
Eliminação dos resíduos.
Redução dos custos de matéria-prima e de despoluição.
Quadro 1 - Dimensões da responsabilidade social das empresas
Fonte: Adaptado do Livro Verde da Comissão das Comunidades Europeias (2001)
28
4.3 Nova definição do conceito de RSE
Como foi já referenciado no desenvolvimento deste tema, a Comissão Europeia tem sido
precursora no desenvolvimento das políticas públicas confinadas a promover a
responsabilidade social das organizações, desde a publicação do seu Livro Verde em 2001, no
qual a RSE foi definida como um conceito através do qual as organizações integram
voluntariamente preocupações sociais e ambientais nas suas atividades comerciais e na sua
interação com os stakeholders.
A RSE diz respeito a ações desenvolvidas pelas organizações muito para além do
cumprimento das suas obrigações legais perante a comunidade e o ambiente.
Contudo, em 25 de Outubro de 2011, foi efetuada pela Comissão Europeia uma comunicação
dirigida ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao
Comité das Regiões, denominada “responsabilidade social das empresas: Uma nova estratégia
da EU para o período de 2011-2014”.
Na presente comunicação a Comissão Europeia apresenta uma visão moderna da
responsabilidade social das empresas que integra uma nova definição e uma nova agenda.
Desta forma, de acordo com a nova definição da Comissão a responsabilidade social das
empresas é “a responsabilidade das empresas pelo impacto que têm na sociedade”.
O respeito pela legislação em vigor e dos acordos coletivos com os parceiros sociais é uma
condição para honrar essa responsabilidade.
De forma a cumprir em pleno a responsabilidade social que lhes compete, as organizações
devem adotar processos com o propósito de incluir as preocupações de natureza social,
ambiental e ética, o respeito pelos direitos humanos e as preocupações dos consumidores nas
respetivas atividades e estratégias, em estreita cooperação com as partes interessadas, com o
objetivo de:
Maximizar a criação de uma comunidade de valores para proprietários e acionistas,
demais partes interessadas e para a sociedade em geral;
Identificar, evitar e atenuar os seus possíveis impactos negativos.
Este processo poderá ser mais ou menos complexo, atendendo à dimensão das organizações e
à natureza da sua atividade.
Esta nova comunicação veio ao encontro das solicitações do Conselho e do Parlamento
Europeu, no sentido de que a CE reforçasse a sua política no domínio da RSE, de modo a
potenciar a criação de condições para o crescimento sustentável, o comportamento
responsável por parte das organizações e a criação de emprego a médio e longo prazo.
29
Deste modo, o programa de ação para 2011 – 2014 compreende os compromissos assumidos
pela CE, assim como sugestões para as organizações, os estados-membros e as partes
interessadas:
Dar mais visibilidade à responsabilidade social das empresas e à divulgação de boas
práticas;
Melhorar e acompanhar os níveis de confiança nas empresas;
Aperfeiçoar os processos de co-regulação e auto-regulação;
Melhorar a remuneração do mercado para a responsabilidade social das empresas;
Mais transparência no plano social e ambiental;
Integrar melhor a responsabilidade social das empresas na educação, formação e
investigação;
Dar relevo às políticas nacionais e subnacionais em matéria de responsabilidade social
das empresas;
Harmonizar a perspetiva europeia e mundial no que se refere à responsabilidade social
das empresas;
Tendo em conta a complexidade deste processo, a comissão acompanhará o desenvolvimento
no período referido. Comissão Europeia Home Page. Disponível em http://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2011:0681:FIN:PT:PDF [Consultado em
18/08/2012].
Ao longo deste tema pôde-se verificar que o conceito responsabilidade social é por si só
entendido como uma tendência de atuação das organizações, encarado como parte integrante
da gestão, envolvendo todos os seus stakeholders, com princípios éticos e transparentes por
parte das organizações. Com este novo conceito de RSE, renovam-se os esforços à criação de
condições propícias ao desenvolvimento sustentável.
De forma a compreender melhor esta temática desenvolve-se seguidamente uma análise mais
aprofundada do tema.
5. O desenvolvimento sustentável das organizações
O conceito de desenvolvimento sustentável é indissociável do conceito de responsabilidade
social das organizações, desta forma a RSE carece ser vista como um meio para atingir o
desenvolvimento sustentável da sociedade, o que implica que as organizações têm de incluir
nas suas operações, preocupações com o impacto económico, social e ambiental.
O conceito de desenvolvimento sustentável pressupõe que as preocupações da organização
não sejam apenas com o presente, mas também direcionadas para o futuro, protegendo os seus
30
recursos, fomentando fatores de coesão social e igualdade e garantindo um crescimento
económico “amigo” do ambiente e da sociedade envolvente.
Segundo o Relatório Brundtland (1987) o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades. Sair da casca Home Page. Disponível em
http://www.sairdacasca.com/origemeevolucao.asp. [Consultado em 04/07/2012].
Segundo Laszlo (2003) a sustentabilidade revela uma mudança de paradigma do mundo
empresarial: concede às empresas um novo papel.
É neste sentido que o Alto-comissário das Nações Unidas para os refugiados, António
Guterres afirma que “O século XXI tem sido marcado por enormes mudanças, a nível social,
económico, energético, inovação, tecnologia, telecomunicações, ambiente, entre outros. Mas
há um aspecto que lhes é transversal – A Sustentabilidade.” (Guterres, 2011, cit. in Leal, et
al., p. 17).
Segundo o mesmo autor, face à situação política, económica, social e ambiental que o mundo
defronta é imperativo providenciar o desenvolvimento sustentável da sociedade.
Ainda dentro desta perspetiva, Leal et al., (2011) clarificam que:
“No século XXI, aumenta a exigência para que as organizações se comprometam com o
desenvolvimento sustentado face aos seus diferentes stakeholders, assim como, as organizações
devem considerar a aposta em políticas e ações de responsabilidade social um investimento e não um
custo. Devem considerá-las como uma vantagem competitiva”.
As organizações devem repensar as suas políticas, de forma a incrementarem a
responsabilidade social, tendo sempre presente que a mesma representa para as organizações
uma vantagem adicional.
Para Rodrigues & Duarte (2012) uma empresa é considerada sustentável se alcançar atingir
desempenhos contínuos que favoreçam a sua continuidade e sobrevivência.
Deste modo, o desempenho sustentável pode ser considerado quer o objetivo pelo qual a
organização desenvolve a sua atividade, quer o meio através do qual a mesma deve planear,
executar e avaliar os aspetos da sua atividade.
O desenvolvimento sustentável, na opinião de Rodrigues & Duarte (2012) está dependente da
esfera política, na medida em que as políticas de sustentabilidade definidas pelos países,
podem influenciar o desenvolvimento da atividade económica da organização, o que leva a
concluir que o desenvolvimento sustentável pode influenciar os objetivos, uma vez que,
definem os princípios que modelam a envolvente em que ela se deverá mover.
31
Contudo, as organizações devem ter como desafio na sua atividade económica pôr em prática
as dimensões económicas, sociais e ambientais de forma a promoverem o equilíbrio da
sustentabilidade.
Às Empresas cabe a capacidade de saberem integrar na sua corporate governance a
sustentabilidade, para que os seus stakeholders, na qual a sociedade está incluída, tenham
mais-valias, ao nível social, económico e ambiental, envolvendo-se e envolvendo as partes
interessadas na construção de uma sociedade com menos desequilíbrios (Guterres, 2011, cit. in
Leal et al., 2011, p. 17).
32
uma imagem de maior credibilidade perante os stakeholders e a sua reputação no mercado,
fica sem dúvida fortalecida.
As organizações consideradas socialmente responsáveis transmitem uma imagem de
confiança aos consumidores que, cada vez mais, valorizam este tipo de práticas e contribuem
para que estes se sintam cidadãos socialmente responsáveis.
Deste modo e segundo Rego et al., (2006, cit. in Leal et al., 2011) está cada vez mais
distanciada a ideia de “moda”, no que concerne ao tema responsabilidade social empresarial.
Esta tem tido um papel preponderante no combate aos escândalos empresariais, às denúncias
efetuadas pelas organizações de consumidores, aos desafios da globalização e ao gradual
interesse por esta temática, por parte da comunicação social. Estes fatores têm cooperado para
a sua célere institucionalização.
A RSE pode ter múltiplas abordagens, muitas organizações associam-na ao objetivo de
aumentar a venda dos seus produtos, dado que, os consumidores e investidores cada vez mais
abraçam critérios sociais na tomada das suas decisões.
Assim, segundo Monteiro (2009) as principais motivações das organizações para a adoção de
práticas socialmente responsáveis, prendem-se basicamente com:
Pressões: Necessidades de a curto prazo responder a pressões externas, tais como, alterações
legislativas e regulamentares, atividade de grupos de opinião ou ONG´s;
Valores: Dar expressão aos valores fundamentais da organização;
Estratégia: Suportar ou reforçar, no longo prazo, aspetos fundamentais da estratégia da
organização.
Por seu lado, a Comissão Europeia enuncia os fatores que motivam o desenvolvimento da
responsabilidade social por parte das organizações:
novas preocupações e expectativas dos cidadãos, consumidores, autoridades públicas e
investidores num contexto de globalização e de mutação industrial em larga escala,
critérios sociais que possuem uma influência crescente sobre as decisões individuais ou
institucionais de investimento, tanto na qualidade de consumidores como de investidores,
a preocupação crescente face aos danos provocados no meio ambiente pelas actividades
económicas,
a transparência gerada nas actividades empresariais pelos meios de comunicação social e pelas
modernas tecnologias da informação e da comunicação (Livro Verde, 2001, cit. in Rocha,
2010, p. 279).
As motivações que têm sido referenciadas vão ao encontro da dimensão externa. Almeida
(2010) argumenta que tem origem na pressão exercida pelo mercado para a adoção de práticas
que geram vantagens competitivas, ao passo que as dimensões internas, tem origem na
consciência individual do gestor.
Almeida (2010) refere ainda que na esfera organizacional a perceção sobre as
responsabilidades das organizações perante a sociedade e o seu cumprimento, implica uma
33
análise implícita sobre a vida em sociedade e o desígnio da ação humana. Desta forma, os
valores humanos que confinam as crenças individuais dos gestores podem contribuir para a
perceção da índole das motivações éticas que influenciam certas práticas e políticas
empresariais.
Pelo que, para Porter e Kramer (2002, cit. in Almeida, 2010) as empresas podem beneficiar
claramente com a melhoria das condições do ambiente envolvente, conquistando um retorno
que intensifica a sua competitividade.
Assim, as empresas deverão colocar em prática políticas de RSE, de modo a que estas
respondam aos objetivos de crescimento da atividade, que se traduzem forçosamente em
prosperidade económica.
Almeida (2010) ressalta que existem estudos que asseguram que o crescimento económico
não é incompatível com práticas empresariais de impacto social positivo, que vão para além
das obrigações legais, demonstrando relações estatísticas positivas entre o desempenho social
e os resultados financeiros das organizações.
Por seu lado, Santos et al., (2006) referenciam que existem estudos no âmbito da RS
apontando as diferentes motivações que estão subjacentes à aplicação de práticas de RS.
As mais frequentes relacionam-se com as questões do foro ético e o espírito de boa cidadania;
a imagem no mercado e na sociedade; a perceção das vantagens competitivas implícitas à
adoção de um comportamento ambiental e socialmente responsável, e a pressão exercitada
pelas entidades reguladoras e pelas comunidades locais.
Os estudos revelam que as práticas de RS interna estão associadas a uma conscientização de
que a satisfação e motivação dos trabalhadores, assim como o seu bem-estar estão aliadas a
uma melhoria da performance das empresas (diminuição do absentismo, menor rotatividade e
índices acrescidos da satisfação e motivação).
No que se refere às práticas de responsabilidade externa estão associadas à procura de
notoriedade da empresa, ao bem-estar das populações e com o aumento da credibilidade das
empresas na envolvente.
Segundo o Livro Verde (2001, cit. in Rocha, 2010) o número de empresas europeias que
promovem estratégias de responsabilidade social aumentou, motivado pelas pressões de
natureza social, ambiental e económica. Com estas iniciativas as empresas pretendem, por um
lado, dar um sinal às diversas partes interessadas com as quais interagem (stakeholders) e por
outro, as empresas estão a investir no seu futuro e acreditam que este compromisso voluntário
contribua para o aumento da sua rentabilidade.
34
Melícias (2003) alude que existem organizações que integram a responsabilidade social como
elemento relevante da respetiva cultura empresarial e das prioridades de desenvolvimento
empresarial, muito para além da mera resposta a problemas de imagem. Isso permitiu
constituir um acervo importante de boas práticas.
As práticas socialmente responsáveis segundo a perspetiva de Santos et al., (2006)
proporcionam à organização a criação de valor, o incremento de motivação e empenho por
parte dos colaboradores que se traduz no incremento da produtividade e dos resultados, a
satisfação de clientes e fornecedores, a reputação da marca e imagem da organização, da
diversidade positiva face à competitividade e de melhoria das relações com a comunidade em
geral.
No entanto, na opinião de Grace (2004, cit in Leal et al., 2011, p. 33) “acções pontuais não
conferem o estatuto de empresa socialmente responsável”. É necessário que as organizações
se comprometam com a sociedade e sejam um exemplo de boas práticas, assumindo políticas
de desenvolvimento que vão ao encontro das expetativas dos intervenientes da organização.
As principais motivações das organizações que promovem estas práticas assentam em
primeiro lugar, na base da sua missão, da sua visão e nos seus valores, pois só assim se
compreende as suas atitudes e comportamentos socialmente responsáveis.
7. Evidências empíricas da responsabilidade social
Procura-se referenciar alguns estudos elaborados por organizações portuguesas, alusivos ao
conceito de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável de forma a evidenciar a
importância dos conceitos, assim como dar a conhecer as principais conclusões dos referidos
estudos.
Estudo da Delloite:
Em 2003, a Delloite, apoiada pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento
Sustentável de Portugal (BCSD Portugal), efetuou um estudo intitulado “O desafio do
desenvolvimento sustentável nas empresas portuguesas”, management solutions, que teve
como objetivo ajudar a avaliar, no seio das organizações mais importantes do tecido
empresarial português, as seguintes questões:
- A sua sensibilidade, para a temática do desenvolvimento sustentável;
- O atual estado da gestão das suas vertentes;
- Até que ponto as organizações estão a gerar valor para negócios e para as suas partes
interessadas, através dessa gestão.
35
O estudo fundamentou-se nas respostas a um inquérito, composto por 20 questões,
organizadas em 5 temáticas, desenvolvido a partir duma metodologia internacional
denominada “DeloitteDEX Company Survey on Business and Sustainable Development”. A
amostra, composta por 82 organizações, abarcou empresas de diversos setores de atividade
(quer ao nível industrial, quer ao nível dos serviços), empresas públicas e privadas, bem como
empresas nacionais, e multinacionais representadas em Portugal. Foram 35, as empresas que
responderam ao convite exposto pela Deloitte.
Da análise dos resultados do estudo, conclui-se que a generalidade das organizações objeto do
estudo já estava a desenvolver práticas sólidas ao nível da gestão das vertentes do
desenvolvimento sustentável.
Foram comprovadas, que questões básicas como o cumprimento da legislação aplicável e a
existência de sistemas de gestão nas mais variadas vertentes do desenvolvimento sustentável,
estavam já implantadas nas organizações, sendo que ao nível da legislação, grande maioria
das organizações adotava preceitos que iam para além do mero cumprimento legal.
Verificaram também que a grande maioria das organizações atribuía importância à gestão e ao
desempenho das várias vertentes do desenvolvimento sustentável;
Cerca de 90% das organizações afirmaram ser proativas na gestão de questões ambientais e
sociais e todas elas, exceto uma, afirmaram ter assumido oficialmente o compromisso de
aperfeiçoar o desempenho, em pelo menos uma das vertentes do desenvolvimento sustentável.
Mais de 70% das organizações afirmaram ter assumido convencionalmente o compromisso de
melhorar o desempenho em todas as vertentes. Quase 40% das organizações aplicavam
regularmente benchmarking interno e/ou externo, sobre questões ambientais e sociais, sendo
que 80% das organizações referiu que realizava periodicamente relatórios de desempenho ao
nível de vertentes de sustentabilidade, e, cerca de metade referiu igualmente que estes
relatórios são discutidos com a gestão de topo, garantindo assim o seu envolvimento. BCSD
Home Page. Disponível em http://www.bcsdportugal.org/o-desafio-do-desenvolvimento-
sustentavel-nas-empresas-portuguesas/368.htm [Consultado em 26/08/2012].
Estudo da Fundação Eugénio de Almeida:
A Fundação Eugénio de Almeida em parceria com a Fundación Academia Europea de
Yuste e a Fundación para el Desarrollo de la Ciencia e Tecnología en Extremadura
desenvolveram, entre 2006 e 2007, no âmbito da iniciativa comunitária INTERREG III-A, o
projeto FUNDAR - Cooperação Transfronteiriça entre as Fundações e o Mundo Empresarial
36
para a Promoção e a Valorização da Responsabilidade Social um estudo sobre as práticas de
responsabilidade social no Alentejo e Extremadura (Espanha).
A pesquisa, iniciada em 2006 e concluída em 2007, derivou duma investigação empírica
realizada através da aplicação de um inquérito por questionário a 113 fundações, empresas e
outras organizações do terceiro setor do Alentejo Central e da Extremadura, tendo assentado
numa abordagem quantitativa.
Foram apresentados cinco temas no questionário: A) Caracterização das organizações; B)
Aspetos sociais e recursos humanos; C) Gestão responsável e Ética na organização; D)
Aspetos ambientais; E) Questões comunitárias e fundacionais.
No tocante ao tema A) caracterização das organizações, concluíram que os dirigentes
máximos das empresas, na grande maioria pequenas e microempresas não tinham recetividade
e motivação para participarem em estudos através da resposta a inquéritos.
No que concerne ao tema B) aspetos sociais e recursos humanos verifica-se que, na
generalidade dos aspetos listados, a maioria das organizações afirma ter boas práticas de
gestão das pessoas, desde a gestão das carreiras, à formação e desenvolvimento dos
colaboradores, à saúde, higiene e segurança no trabalho num clima de gestão participativa.
Relativamente ao tema C) gestão responsável e ética na organização, os resultados obtidos
evidenciam que as temáticas da certificação da qualidade e da normalização dos processos
relativos à responsabilidade social e à ética empresarial ainda não se encontram incorporadas
na gestão operacional ou estratégica das instituições que participaram no estudo.
O tema D) questões ambientais apresenta resultados que eram expectáveis para o tipo de
organizações que participaram no estudo, demonstrando-se que já existe preocupação sobre
este tipo de questões, em termos de poupança de energia, reciclagem, diminuição dos custos e
prevenção da poluição, não sendo considerado tão prioritárias a informação ambiental e a
utilização de transportes sustentáveis.
No que diz respeito ao tema E) questões comunitárias e fundacionais pode-se constatar que
globalmente existe uma opinião muito favorável ao desenvolvimento de projetos e ações no
âmbito da responsabilidade social.
De referir ainda que, neste estudo, apenas se faz alusão aos resultados relativos ao território
nacional. Fundação Eugénio de Almeida Home Page. Disponível em
http://fundacaoeugeniodealmeida.pt/osa/estudos.asp?lingua=pt [Consultado em 26/08/2012].
37
Estudo elaborado por Santos et al., (2006) divulgado no livro “A Responsabilidade
Social nas PME – Casos em Portugal
Neste trabalho apenas se faz referência a uma parte do estudo apresentado pelos autores,
atendendo quer à sua dimensão quer à especificidade do que se pretende demonstrar.
Objetivos do estudo:
Conhecer quais as práticas de RS que as PME´S portuguesas desenvolvem quer ao nível
económico, social e ambiental.
Analisar quais os fatores que maioritariamente condicionam as PME a desenvolver estas práticas:
conhecer as suas condicionantes, motivações e fatores inibidores.
Construir uma bolsa de práticas com a concretização de exemplos que possam ser utilizados pelas
empresas.
Identificação de parcerias/redes constituídas a nível nacional e já em funcionamento.
Análise das tendências futuras relativamente à evolução da RS em PME.
Para a concretização dos objetivos do estudo foi utilizada uma metodologia de investigação/ação.
Neste estudo foram considerados os conceitos de pequenas empresas (entre 10 a 49 trabalhadores
e volume de negócios entre 2 a 10 milhões de euros); médias empresas (50 a 249 trabalhadores e
volume de negócios entre 10 e 50 milhões de euros).
Foi elaborado um inquérito por questionário, com o objetivo de identificar as práticas da
responsabilidade social desenvolvidas pelas PME, no âmbito das dimensões económica, social e
ambiental. O inquérito foi aplicado por correio, a uma amostra de 2000 pequenas e médias
empresas de cinco regiões de Portugal (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e
Algarve). Dos 2000 inquéritos enviados foram rececionados 235.
No que concerne à estratégia de Gestão e a RSE:
O diagnóstico realizado às práticas de responsabilidade social das PME portuguesas
inquiridas, confirma que o exercício de RSE é informal. Maioritariamente as práticas de RS
não estão integradas na estratégia de negócio da empresa e assumem um caráter ocasional.
No que respeita ao significado atribuído à RSE pelas PME:
Para a maioria das PME portuguesas a RS está associada ao cumprimento de legislação
ambiental e social.
Quanto à visão geral das práticas mais desenvolvidas pelas PME portuguesas:
A totalidade das PME portuguesas refere desenvolver ações em todas as áreas de RS sendo
muito elevadas as práticas na vertente social interna e na vertente económica. Este facto
permite-nos concluir que a RS, para as PME, pode ser novidade enquanto conceito, mas
enquanto prática, está incorporada no seu quotidiano de gestão.
38
Avaliação dos resultados que as PME portuguesas fazem das práticas de RS que
desenvolvem:
De uma forma geral todas as PME estão razoavelmente satisfeitas com o resultado das
práticas de RS implementadas. O grau de satisfação é mais acentuado na dimensão económica
(clientes, produtos, serviços e fornecedores) onde existe maior insatisfação é ao nível dos
serviços sociais (73%), da articulação com a comunidade (69%), da gestão da mudança
organizacional (71%) e da gestão do impacto ambiental (61%).
Relativamente à relação entre o perfil das PME e as práticas:
Não existe relação entre as práticas de RS praticadas pelas PME e o volume de faturação ou
os mercados de atuação da empresa. Existe relação estatisticamente significativa entre
certificação, dimensão da empresa, antiguidade e setor de atividade e algumas práticas de
RSE.
Pretendeu-se fazer alusão a alguns estudos relacionados com a RSE e o desenvolvimento
sustentável, desenvolvidos com objetivo de clarificar através da análise das principais
conclusões obtidas à importância dada aos conceitos e a sua implementação nas organizações
alvo dos estudos.
39
40
Parte II – Estudo empírico
8. Desenvolvimento/Aplicação
Inicia-se este capítulo com a apresentação da organização alvo do estudo de caso, designada
por “Instituição”, proceder ao tratamento dos dados recolhidos na investigação, à sua análise e
posterior discussão.
8.1 Estudo de caso
O estudo aborda a responsabilidade social das organizações. Tem como finalidade
compreender a dinâmica da implementação de medidas socialmente responsáveis por parte da
organização em estudo, relativamente aos colaboradores e aos líderes.
Após uma fase de investigação sobre o tema, baseada na revisão de literatura, pesquisas
bibliográficas, consulta de artigos científicos, internet e leitura, a investigação qualitativa e a
técnica de estudo de caso, revelaram-se como as mais pertinentes, atendendo ao realismo
implícito nesta organização, dado que, implementa práticas socialmente responsáveis.
O Grupo Montepio está enquadrado no setor da Economia Social, sendo a maior Associação
Mutualista do País e Instituição Financeira entre as maiores no plano nacional.
Enquanto Instituição do setor da Economia Social tem por missão dar resposta às
necessidades de previdência complementar, prestação de serviços de saúde, no apoio às
estruturas solidárias nacionais e aos cidadãos mais vulneráveis.
Como entidade bancária, a sua missão é contribuir para o crescimento económico, no apoio às
famílias, às empresas e aos projetos empreendedores, em linha com as melhores práticas de
responsabilidade social.
O Montepio assume um duplo compromisso com a sociedade.
Neste sentido, as políticas definidas e as ações empreendidas pelo Montepio têm em vista a
promoção de um desenvolvimento sustentável da sociedade, estabelecendo o equilíbrio entre
o crescimento económico, a equidade social, sem descurar a envolvente ambiental, e que
permitam valorizar as relações com os diversos stakeholders, designadamente associados,
clientes, investidores e colaboradores.
41
Missão, visão e valores
Missão
Garantir, observando os princípios da solidariedade, benefícios de segurança social e
saúde aos seus associados e familiares e aos beneficiários por aqueles designados,
através de modalidades individuais e coletivas.
Contribuir para a resolução dos problemas habitacionais dos associados.
Prosseguir outras formas de proteção social e gestão de equipamentos, serviços, obras
sociais e outras atividades que visem o desenvolvimento cultural e a qualidade de vida
dos associados e familiares.
Gerir regimes complementares das prestações garantidas pela Segurança Social e
outras formas coletivas de proteção. – C
Visão
Maior associação nacional, promotora e gestora de regimes complementares de
Segurança Social, individuais e coletivos, de serviços e equipamentos sociais e de
serviços da economia do bem-estar e da qualidade de vida, através de uma gestão
dinâmica, prudente e ética, respeitando os valores mutualistas de solidariedade e
participação associativa, elevados padrões de responsabilidade e sustentabilidade
42
social e contribuindo para o desenvolvimento e consolidação da Economia Social e do
Terceiro Setor em Portugal.
Valores da
economia do bem-
estar e da qualidade
43
O seu negócio concentra-se na intermediação de retalho, através da captação de recursos de
clientes de pequena e média poupança e da concessão de crédito a particulares,
microempresas, PME´S, empresários em nome individual e instituições do terceiro setor.
Missão, visão e valores
Missão
Criar valor para os associados do Montepio e para os restantes stakeholders, obtendo
níveis de rendibilidade sustentados numa oferta universal de produtos e serviços que
satisfaçam integralmente as necessidades bancárias e financeiras dos associados e
clientes.
Prestar um serviço de qualidade, atuando com elevados padrões éticos, respeitando os
princípios mutualistas e os critérios de sustentabilidade social.
Visão
Banco de retalho que se diferencia pelas suas finalidades mutualistas e representa os
valores da participação associativa e da solidariedade.
Assegura uma oferta universal de produtos e serviços bancários, mutualistas e
financeiros.
É reconhecida pela gestão prudente, qualidade de serviço, comportamento ético e pelo
papel de agente dinamizador da Economia Social.
Fundação Montepio
Criada em 4 de Outubro de 1995, fundação de direito privado e utilidade pública, assume um
papel fundamental no estabelecimento de parcerias e na concessão de apoios ao terceiro setor
e que tem por vocação e objeto a solidariedade social entendida como atitude de ajuda em
prol da inclusão, da coesão social e do desenvolvimento.
A ação da Fundação é exercida através do Gabinete de Responsabilidade Social, que
operacionaliza a missão da responsabilidade social do Grupo Montepio.
Em 2011, foram analisadas mais de 600 propostas e projetos, realizadas cerca de 300 visitas e
reuniões de avaliação, que permitiram apoiar técnica e financeiramente 175 instituições.
Ao longo dos últimos anos, a fundação tem vindo a desenvolver um conjunto de projetos, dos
quais se destacam os seguintes:
44
Programa educação financeira
O Montepio desenvolveu e implementou um Programa de primordial relevância, de pura
responsabilidade social, no âmbito da educação face à atual conjuntura, no combate ao
sobreendividamento das famílias, num apelo à poupança e ao planeamento financeiro do
futuro. Neste programa participaram quarenta e seis voluntários em 213 ações de formação e
6 ações de sensibilização em diversos pontos do país, tendo sido abrangidas 37 escolas, num
total de 74 turmas e 1 775 crianças.
Frota solidária
O programa frota solidária, nasceu da possibilidade da sociedade civil, através da consignação
fiscal, contribuir para um projeto que visa, fundamentalmente, dotar as organizações mais
carenciadas do terceiro setor, de um veículo que permita corresponder às necessidades mais
básicas das suas atividades sociais.
A Frota Solidária, cuja quarta edição promovida pela Fundação Montepio, transformou o
valor recebido por via da Consignação Fiscal – Lei da Liberdade Religiosa em 20 viaturas
adaptadas, que posteriormente ofereceu a 20 instituições de solidariedade social, apoiando a
mobilidade de quem mais necessita e solucionando uma das dificuldades mais sentidas pelas
organizações de solidariedade.
Prémio escolar
O Prémio escolar é um programa destinado a distinguir o bom desempenho dos
estabelecimentos de ensino, espalhados ao longo do mapa continental e ilhas. Pretende-se
45
estimular a apresentação de projetos educativos que sejam inovadores e disseminadores de
boas práticas pedagógicas.
O Projeto do Prémio Escolar Montepio em 2011, procedeu à entrega da sua terceira edição,
com a atribuição de um donativo unitário de 25 mil euros a 4 escolas do ensino público que
apresentaram os melhores projetos educativos, os mais inovadores, com o objetivo de premiar
o bom desempenho escolar.
Museu das crianças
Mathnasium
Casa de São Vicente
Entre outros
Microcrédito
Trata-se de um protocolo de parceria com a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa destinado a
contribuir para a redução da pobreza e do desemprego, através do apoio a quem, encontrando-
se excluído do sistema financeiro tradicional, procura criar um projeto empresarial orientado
para o auto-emprego.
Cartão + vida
É um cartão de crédito da marca Visa, emitido pelo Montepio e que permite contribuir para
diversas associações de solidariedade social e usufruir de um crédito gratuito até 50 dias.
46
O cartão + vida é único e socialmente responsável. De forma solidária e responsável o
Montepio divide os resultados obtidos pelas operações realizadas pelos seus clientes com
IPSS´S, selecionadas pela Fundação Montepio. Os valores atribuídos são parte da margem do
Montepio, pelo que não se trata de doações diretas do cliente.
Minuto solidário
De forma a reforçar a proximidade com as diversas entidades que constituem o terceiro setor,
o Montepio desenvolveu o projeto “Minuto Solidário” em que divulga as causas e os projetos
sociais de cada uma das 30 instituições apoiadas.
Sob o lema «Um minuto que faz toda a diferença», 3 vezes por dia, e durante 1 minuto, o
Montepio deu a conhecer projetos no âmbito da infância, 3.ª idade e deficiência, cuja missão
marca a diferença pelo seu papel ativo junto das suas comunidades, pela responsabilidade
social e pela solidariedade que demonstram no apoio às causas e às pessoas. Num total de 30
minutos, o Montepio deu a conhecer a ambição e missão de 30 Instituições do Terceiro Setor.
Parcerias
No âmbito da sua política de responsabilidade social o Montepio tem vindo a desenvolver
parcerias com várias organizações e projetos.
Organizações que o Montepio integra:
Grace - Grupo de Reflexão para a Cidadania Empresarial
BCSD Portugal - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
Aprender a empreender - Associação Aprender a Empreender – Junior Achievement
Portugal
ESBG - Comité de Responsabilidade Social do European Saving Banks Group
RSO - Rede Nacional de Responsabilidade Social das Organizações
Confederação Portuguesa de Voluntariado
Movimento ECO - Projeto de Cidadania Empresarial e Impacto Nacional
Habitat for Humanity Portugal
Make A Wish Portugal - Fundação realizar um desejo
47
Reconhecimento e Prémios atribuídos
A Marca Montepio foi eleita em 2008, 2010, 2011 e 2012 “Marca de Excelência em
Portugal” pela Superbrands, organização internacional independente que se dedica à
promoção de marcas de excelência em 88 países.
O Montepio conquistou o 1.º lugar no European Satisfaction Index 2010 da Associação
Portuguesa para a Qualidade e Instituto Português da Qualidade (Ministério da Economia e
Emprego).
O estudo RepTrakTM Pulse 2011, desenvolvido pelo Reputation Institute (RI), atribuiu ao
Montepio, entre 208 instituições financeiras, a 56.ª posição do ranking global.
Ainda no âmbito da reputação da Marca, o Montepio é considerado pelos clientes e não
clientes particulares o banco com melhor perceção ao nível dos Produtos e Serviços, Governo
de Sociedade e Responsabilidade Social.
“Prémio Timeless Brand” - reconhecimento assegurado pela Exponor pela forma como a
marca se distingue na forma de comunicar com o seu público e pela capacidade singular de se
reinventar ao longo do tempo.
8.3 Objetivos de investigação tendo em conta os colaboradores e líderes da organização
Perceção dos colaboradores
Objetivo geral
Pretende-se com a elaboração do presente estudo e segundo a perspetiva dos colaboradores,
compreender a dinâmica da implementação de medidas socialmente responsáveis por parte do
Montepio, tendo em conta os objetivos específicos a seguir referenciados.
Objetivos específicos
Analisar a importância dos valores na implementação das práticas socialmente
responsáveis.
Confirmar a identificação dos valores pessoais dos colaboradores com os da
Instituição.
Compreender a autenticidade do alinhamento dos valores pessoais com os
institucionais.
Compreender as motivações subjacentes à implementação de medidas socialmente
responsáveis por parte da Instituição.
Compreender as mais-valias da implementação das práticas socialmente responsáveis.
Reconhecer o benefício institucional na implementação das medidas.
48
Perceção dos líderes
Objetivo geral
Pretende-se com a elaboração do presente estudo e segundo a perspetiva dos líderes,
compreender a dinâmica da implementação de medidas socialmente responsáveis por parte do
Montepio, tendo em conta os objetivos específicos a seguir referenciados.
Objetivos específicos
Identificar a importância da visão e da missão da Instituição face à implementação das
medidas de responsabilidade social.
Validar a importância da cultura organizacional e a sua sintonia com o perfil de
valores da Instituição.
Confirmar a importância dos valores na implementação das práticas socialmente
responsáveis.
Analisar a forma como os colaboradores interpretam a implementação de medidas de
RS.
Compreender as motivações subjacentes à implementação de medidas socialmente
responsáveis por parte da Instituição.
Reconhecer o benefício institucional na implementação das medidas.
8.4 Metodologia
A metodologia utilizada foi qualitativa, no universo dos colaboradores das direções comerciais,
departamentos regionais, departamento do terceiro setor, gabinete de responsabilidade social e
balcões da Caixa Económica Montepio Geral.
Foram realizadas 23 entrevistas escritas (de dois tipos, uma dirigida aos líderes e outra aos
colaboradores da Instituição, compostas por questões de resposta fechada e aberta). De referir
que foram enviadas 38 entrevistas, mas apenas se obteve 23 respostas, correspondente a 18
colaboradores e 5 líderes.
As entrevistas foram elaboradas com recurso ao “Google Docs” e enviadas para os entrevistados
via correio eletrónico, por forma a obter as suas respostas.
Paralelamente foi efetuado um guião para as entrevistas dos colaboradores e outro para o dos
líderes, onde foram criadas categorias de análise, designadas por “dimensões” e definiu-se tendo
em conta o objetivo subjacente a cada questão.
Posteriormente foi realizada uma análise descritiva, com base nas categorias de análise, em
função dos objetivos delineados para o estudo.
49
Da análise às respostas dadas pelos entrevistados procedeu-se, em primeiro lugar, à ordenação e
descrição de todas as respostas.
Seguidamente foram criados grupos, de acordo com os objetivos subjacentes a cada questão.
Foram efetuados quadros, de forma a evidenciar a informação obtida e com o objetivo de
facilitar a análise dos dados.
Por último, foram elaborados gráficos para uma visualização mais apelativa e exata dos
dados, a partir dos quais foram retiradas as respetivas conclusões.
O tratamento dos dados foi efetuado com recurso ao Software Microsoft Excel 2010.
A apresentação da informação garante o anonimato e a confidencialidade das respostas.
8.5 Tipo de amostragem e descrição sóciodemográfica da amostra
A amostra foi escolhida por conveniência no universo dos colaboradores das direções
comerciais, departamentos regionais, departamento do terceiro setor, gabinete de
responsabilidade social e balcões, sendo composta por vinte e três colaboradores com idades
compreendidas entre os 27 e 64 anos (média das idades = 40 anos) na sua maioria com 11 a
21 anos de antiguidade (com uma percentagem de 77%) e formação académica igual ou
superior a licenciatura (com uma percentagem de 79%), conforme ilustram os gráficos 1 e 2.
50
Gráfico 2 - Perfil da amostra quanto à formação académica
No que concerne às funções desempenhadas pelos colaboradores, pode-se aferir que varia de
Administrativo, Gestor de Cliente Premium, Gestor de Negócios, Subgerente, Gerente,
Responsável Regional, Diretor Comercial, Responsável do Gabinete de Responsabilidade
Social, Técnico do Gabinete de Responsabilidade Social, Técnico do Terceiro Setor, Técnico
de Cross Selling e Apoio Administrativo.
8.6 Resultados
Os resultados alcançados encontram-se organizados em quadros e em gráficos, a partir dos
quais foram retiradas as devidas ilações.
A informação obtida foi evidenciada em quadros, por forma a permitir uma melhor análise
dos dados.
Entrevistas aos colaboradores
Relativamente à análise da dimensão “perceção do conceito de responsabilidade social”,
conclui-se que a totalidade (100%) dos colaboradores tem um perfeito conhecimento do
mesmo.
Pode-se constatar que 72% dos colaboradores é pertencente ao género feminino e 28% ao
masculino, conforme demonstrado no gráfico 3.
Relativamente à antiguidade, constata-se que metade dos colaboradores pertence ao género
feminino e ao mesmo tempo com antiguidade compreendida entre os 11 e 21 anos, sendo que
a classe de antiguidade “> 21” tem representação residual em ambos os géneros, de acordo
com o gráfico 4.
51
Gráfico 3 - Género
Gráfico 4 - Antiguidade/género
52
Gráfico 5 - Valores da organização nas práticas de RS
54
Gráfico 8 - Preocupações sociais quanto ao género
55
Gráfico 10 - Valores mais referenciados quanto à antiguidade
Face aos resultados obtidos, pode-se concluir que os colaboradores têm conhecimento dos
valores atendendo que, estão imbuídos nos mesmos e nos princípios humanistas da
Instituição.
No que se refere à dimensão “perceção da sincronia entre os valores dos colaboradores e
os da Instituição” a grande maioria (89%) dos colaboradores reconhece que os seus valores
estão alinhados com os valores da Instituição.
De referir ainda que cerca de um décimo dos colaboradores não foi explícito na resposta (11
%), conforme gráfico 11.
56
Relativamente à dimensão “perceção das motivações da Instituição na promoção de
medidas de responsabilidade social” foram referidas vinte e quatro motivações, as quais,
foram agrupadas em cinco grupos distintos de forma a sintetizar a informação recolhida.
As motivações mais referenciadas foram a sua “natureza/ADN/génese” (dez respostas),
“essência mutualista” (quatro respostas), que se inserem no grupo “motivações intrínsecas à
génese da Instituição”, seguido de “contribuir para o cumprimento da missão (três respostas),
que se insere no grupo “motivações inerentes ao desenvolvimento das práticas”, por fim a “
promoção da imagem, marca, notoriedade” (três respostas) que se insere no grupo
“motivações de natureza comercial” (quadro 3).
Grupos Respostas dos Colaboradores Nº
Contribuir para o cumprimento da missão 3
Entreajuda 1
Proporcionar qualidade de vida da sociedade em geral 1
Motivações inerentes ao Promover sociedade mais inclusa 1
Promover sustentabilidade social 1
desenvolvimento das práticas
Preocupação com a proteção social 1
Promover o bem-estar dos cidadãos 1
Preocupações ambientais 1
Ajuda às entidades mais carenciadas 1
Nº total de respostas 11
Natureza/ADN/Génese 10
Motivações intrínsecas à génese da Ideais da Instituição 1
Essência mutualista 4
Instituição
Defesa dos valores 1
Cooperativismo 1
Nº total de respostas 17
Perspetiva de crescimento 1
Oportunidade de marketing 1
Motivações de natureza comercial Promoção da imagem, marca, notoriedade 3
Retorno da sociedade civil perante as práticas 1
Visibilidade das ações 1
Nº total de respostas 7
Manutenção da cultura organizacional 1
Motivações inerentes aos recursos Contribuir para a motivação dos colaboradores 1
humanos Dar o exemplo 2
Igualdade de oportunidades 1
Nº total de respostas 5
Outras motivações Promover a troca de sinergias 1
Nº total de respostas 1
Quadro 3 - Síntese das respostas dos colaboradores
O grupo “motivações intrínsecas à génese da Instituição” é o mais representativo com
dezassete respostas dadas, logo seguido das “motivações inerentes ao desenvolvimento das
práticas” com onze respostas, com base na leitura do gráfico 12.
57
Gráfico 12 - Motivações da Instituição na promoção de medidas de RS
58
Na opinião dos colaboradores ao falar de motivações no desenvolvimento das práticas, está-se
a falar do seu ADN, da sua génese, dado que a sua base e a sua ação assentam nos princípios
do mutualismo. E falar de mutualismo é por si só falar de princípios e práticas socialmente
responsáveis.
De salientar ainda que, através da prática destas ações a Instituição motiva os colaboradores a
olhar para a sociedade civil não apenas como espetadores mas como intervenientes.
No que concerne à dimensão “conhecimento dos projetos dinamizados pela Instituição” a
totalidade dos colaboradores (100%) assegura que tem conhecimento dos projetos
dinamizados pela Instituição.
No tocante à dimensão “perceção dos novos projetos de responsabilidade social que os
colaboradores gostariam de ver implementados” pode-se aferir que no tocante ao grupo
“reconhecimento” e “projetos de apoio social” existem diferenças mas com traduções
diferentes, como se pode observar no quadro 4 e pela leitura do gráfico 14.
Grupos Respostas dos colaboradores Nº
Apoio a crianças e idosos 1
R.
Apoio a doentes 1
Projetos de apoio social Apoio a crianças e idosos desfavorecidos 2
Apoio a crianças hospitalizadas e órfãs 1
Criação de lares, centros de dia, creches, para pessoas desfavorecidas 1
Nº total de respostas 6
Donativos Atribuição de donativos a IPSS e a outras instituições 1
Doação dos ativos tangíveis que se encontrem em boas condições 1
Nº total de respostas 2
Apoio ao desporto 1
Projetos de apoio à cultura/desporto/artes
Apoio às artes e à cultura em geral 1
Nº total de respostas 2
Projetos de voluntariado Voluntariado jovem e ambiental 1
Ações de voluntariado com abertura a clientes 1
Nº total de respostas 2
Reconhecimento do bom trabalho efetuado pela Instituição 2
Reconhecimento A Instituição atua em todas as “frentes” 4
A Instituição dará resposta ao que surgir de novo 1
Nº total de respostas 7
Projetos orientados para os recursos Apoio psicológico 1
humanos Nº total de respostas 1
Outros Desenvolvimento dos meios rurais 1
Nº total de respostas 1
Não sabe/não responde 2
2
4
Quadro 4 - Síntese das respostas dos colaboradores
59
Gráfico 14 - Grupos de projetos de RS indicados pelos colaboradores
Dentro do grupo “reconhecimento” mais de metade dos colaboradores que considera que a
Instituição já atua em todas as “frentes”, pertence ao género masculino, conforme
demonstrado no gráfico 15.
60
identifica com as práticas de responsabilidade social que a Instituição promove, conforme
ilustrado no gráfico 16.
61
Os colaboradores aludem que se envolvem nas iniciativas, porque se identificam com os
valores que a própria iniciativa transmite, pois comungam das mesmas preocupações sociais,
e por outro lado, referem que o sentimento que fica destas ações é muito gratificante.
Relativamente à dimensão “conhecer as vantagens para a Instituição, da promoção de
práticas socialmente responsáveis”, as vinte e sete respostas dadas pelos colaboradores
foram reunidas em nove grupos distintos (quadro 5 e gráfico 18) de forma a sintetizar a
informação recolhida.
Grupos Respostas dos colaboradores Nº
Visibilidade e notoriedade 4
R.
Valorização da imagem e promoção da Instituição 7
Reconhecimento da Instituição por parte da comunidade 2
Vantagens em termos de imagem Divulgação do bom nome 1
Publicidade de forma mais direta 1
Associação da Instituição à ética 1
Retorno publicitário 2
Ultrapassa a barreira do universo financeiro 2
Nº total de respostas 20
Estabelecimento de contacto com a comunidade envolvente 1
Proximidade da comunidade Conhecimento da sociedade civil de forma a identificar as suas 1
necessidades
Proximidade da comunidade 1
Nº total de respostas 3
Retorno institucional e lucro 3
Financeiras Potencial de negócio 1
Benefício fiscal 1
Nº total de respostas 5
Ambiente social mais equilibrado 1
Sociais Proporcionar melhores condições de vida 1
Melhorar o meio que é de todos 1
Contribuir para o bem-estar de pessoas ou instituições 2
Nº total de respostas 5
Aumento da motivação/produtividade Aumento da motivação e satisfação dos colaboradores 3
Identificação dos seus recursos humanos com a Instituição 1
dos colaboradores
Aumento da produtividade dos colaboradores 1
Nº total de respostas 5
Identificação com a Instituição Confiança dos clientes 1
Afinidade à Instituição 1
Nº total de respostas 2
Outros Manutenção dos princípios da fundação/missão 1
Nº total de respostas 1
Sem vantagens financeiras A Instituição não retira vantagens do ponto de vista económico e 1
financeiro
Nº total de respostas 1
Servir de exemplo Exemplo dado a outras instituições 1
Sensibilização social 1
Nº total de respostas 2
Quadro 5 - Síntese das respostas dos colaboradores
62
Gráfico 18 - Grupos de vantagens para a Instituição, da promoção de práticas socialmente
responsáveis
O grupo “vantagens em termos de imagem” é o mais significativo, com vinte respostas dadas,
logo seguido das “vantagens financeiras, “vantagens sociais” e “aumento da
motivação/produtividade dos colaboradores, todos com a mesma representatividade.
As vantagens mais aludidas são “valorização da imagem e promoção da Instituição”, que se
inserem no grupo “vantagens em termos de imagem”, seguido de “visibilidade e notoriedade”
no mesmo grupo.
Embora o grupo “vantagens em termos de imagem” seja o mais representativo, houve ainda
uma referência considerável do “retorno institucional e lucro” e do “aumento da motivação e
satisfação dos colaboradores, ambas com três respostas.
De referir ainda que os colaboradores mencionam, por um lado, não haver qualquer vantagem
em termos económico/financeiro, por outro, salientam que o impacto na personalidade dos
voluntários e nas pessoas que beneficiam das ações é imensurável, assim como a motivação e
o orgulho são também sentimentos que resultam destas ações.
No que concerne à dimensão “perceção do impacto do voluntariado na Instituição”,
conclui-se que relativamente ao grupo “impactos positivos nos colaboradores” (vinte
respostas) a maioria destaca o “aumento da motivação dos colaboradores” (cinco respostas),
“valorização pessoal e profissional dos colaboradores” (quatro respostas), logo seguido do
63
grupo “reconhecimento/valorização” (oito respostas) e por fim o grupo “impactos sociais”
(quatro respostas), como se pode constatar no quadro 6 e gráfico 19.
Grupos Respostas dos colaboradores Nº
Aumento da capacidade de entreajuda entre os colaboradores 1
Consciencialização de todos no apoio social 1
Promove o desenvolvimento individual e organizacional 1
Proporciona a união entre os colaboradores 1
Impacto positivo na personalidade dos voluntários 1
Proporciona sentimento de orgulho nos colaboradores 1
Aumento das relações pessoais e profissionais entre os colaboradores 1
Impactos positivos nos colaboradores
Proporciona sentimentos de bem-estar aos colaboradores 1
Mais-valia para a Instituição das competências adquiridas pelos 1
colaboradores
Aumento da motivação dos colaboradores 5
Valorização pessoal e profissional dos colaboradores 4
Maior bem-estar e satisfação dos envolvidos 1
Realização de algo em que se acredita 1
Nº total de respostas 20
Ajuda ao próximo 1
Proximidade da comunidade, beneficiando-a 1
Impactos Sociais Aumento da preocupação com os outros 1
Proporciona a concretização de projetos desejados por diversas 1
instituições
Nº total de respostas 4
Valorização da imagem junto dos beneficiários do voluntariado 2
Reconhecimento do esforço da Instituição e seus elementos 2
Reconhecimento/valorização Imagem favorável transmitida para o exterior 1
Divulgação dos valores da Instituição 1
Torna-a mais socialmente responsável 1
Impacto positivo na personalidade dos beneficiários das ações 1
Nº total de respostas 8
Não terão impacto mensurável 1
Outros Troca de sinergias 1
Resposta inconclusiva 1
Nº total de respostas 2
Não sabe/não responde 1
Nº total de respostas 1
Quadro 6 - Síntese das respostas dos colaboradores
64
Gráfico 19 - Impacto do voluntariado na Instituição
65
Gráfico 20 - Género
Relativamente à antiguidade, a maioria dos líderes tem entre 11 a 21 anos de serviço (60%),
como se pode verificar no gráfico 21.
Gráfico 21 - Antiguidade
66
No grupo “missão” salienta-se que “criar valor para os associados do Montepio e para os
restantes stakeholders” e “obter níveis de rendibilidade sustentados através de uma oferta
universal de produtos e serviços que satisfaçam as necessidades bancárias e financeiras dos
associados e clientes” foram as respostas mais evidenciadas (três respostas cada, e que juntas
correspondem a quase dois quintos das respostas), seguido de “prestar um serviço de
qualidade atuando com elevados padrões éticos respeitando os princípios mutualistas e os
critérios de sustentabilidade social” (duas respostas).
Relativamente ao grupo “valores” a solidariedade, a participação e o mutualismo são os
valores mais identificados pelos líderes, com três, duas e duas respostas, respetivamente.
Grupos Respostas dos líderes Nº
Banco de retalho universal particularmente posicionado na economia
1
social
Grupos Banco de retalho universal que se diferencia pelas suas finalidades
2
mutualistas
Maior Associação promotora e gestora de regimes complementares de
segurança social 1
67
Grupos Respostas dos líderes Nº
Garantir benefícios de segurança social e de saúde aos seus associados,
familiares e beneficiários através de modalidades individuais e 1
Grupos coletivas
Contribuir para a resolução dos seus problemas habitacionais 1
Prosseguir outras formas de proteção social 1
Gestão de equipamentos, serviços e obras sociais 1
Promover atividades que visem o seu desenvolvimento cultural e a sua
1
qualidade de vida
Gerir regimes complementares de segurança social e outras formas
1
coletivas de proteção social
Missão Criar valor para os associados do Montepio e para os restantes
3
stakeholders
Obter níveis de rendibilidade sustentados através de uma oferta
universal de produtos e serviços que satisfaçam as necessidades 3
bancárias e financeiras dos associados e clientes
Prestar um serviço de qualidade atuando com elevados padrões éticos
respeitando os princípios mutualistas e os critérios de sustentabilidade 2
social
Perseguir a ambição de constituir “um banco formado por pessoas e
para pessoas”, independente e capaz de proporcionar a melhor 1
qualidade de serviço aos clientes
Não responde 1
Nº total de respostas 16
Solidariedade 3
Participação 2
Sustentabilidade 1
Profissionalismo 1
Transparência 1
Ética 1
Integridade 1
Mutualismo 2
Valores
Desejo de contribuir de forma positiva para a sociedade onde estamos
1
enquadrados
Prestar serviço de qualidade atuando com elevados padrões éticos
respeitando os princípios mutualistas e os critérios de sustentabilidade 1
social
Partilha 1
Promoção de bem-estar 1
Responsabilidade social coletiva 1
Nº total de respostas 17
Quadro 7 - Síntese das respostas dos líderes
68
Gráfico 22 - Visão, missão e valores da Instituição
69
Relativamente à dimensão “perceção da forma como os colaboradores interpretam a
implementação de medidas de RS” a maioria dos líderes (60%) é unânime ao afirmar que os
colaboradores se identificam de forma positiva, apreciam e alinham nas medidas de RS com
naturalidade, atendendo aos valores que a Instituição defende, sentindo-se orgulhosos das
medidas, da sua participação nas mesmas e dos resultados obtidos com estas ações.
Contudo, um dos líderes considera que terão de ser encontrados novos caminhos de
disseminação, de forma a incentivar a proatividade na procura de informações sobre as
medidas de RS e outro não teceu qualquer opinião. Estes dados podem ser visualizados no
quadro 8.
Grupos Respostas dos líderes Nº
As ações que a Instituição tem tomado só são possíveis de executar
com a intervenção dos colaboradores e a aceitação tem sido muito 1
Grupos positiva.
De forma muito positiva 1
Clara identificação dos colaboradores 1
Apreciam e alinham facilmente nas medidas de RS, nomeadamente no
1
voluntariado empresarial
Forma de identificação
As medidas são vistas com naturalidade por todos, atendendo aos
1
valores que defendemos
Existência de orgulho por parte dos colaboradores nas medidas e nos
1
resultados proporcionados pelas mesmas.
Pouca proatividade na procura da informação acerca das práticas de RS 1
Ignoram as práticas de RS 1
Não responde 1
Nº total de respostas 9
Quadro 8 - Síntese das respostas dos líderes
No que diz respeito à categoria “perceção da sincronia dos colaboradores com a estratégia
da Instituição” a maioria (60%) dos líderes considera que os colaboradores se envolvem nas
iniciativas promovidas pela Instituição por estarem alinhados com a estratégia.
No entanto, dois dos líderes são de opinião contrária.
Um, refere que é importante que os colaboradores participem nas diferentes iniciativas de
forma a poderem usufruir de experiências relevantes quer a nível profissional quer pessoal.
Outro, refere que os colaboradores o fazem de forma genuína e com total altruísmo, face à sua
experiência de envolvimento fora da Instituição.
No tocante à dimensão “conhecimento do grau de identificação dos colaboradores com as
práticas de RS” a totalidade (100%) dos líderes assegura que os colaboradores se identificam
com as medidas de RS implementadas pela Instituição.
70
No que se refere à dimensão “conhecimento dos projetos dinamizados pela Instituição”
foram criados quatro grupos distintos com o objetivo de sintetizar a informação recolhida
(quadro 8).
No tocante ao grupo “projetos de apoio social” a doação de veículos para IPSS´S, designada
por “Frota solidária” foi o projeto mais nomeado (três respostas), seguido do cartão + vida e
atribuição de donativos a instituições (duas respostas cada).
No grupo “voluntariado” os projetos de voluntariado empresarial e no grupo “projetos de
apoio à educação” educação financeira para crianças e adultos, obtiveram duas respostas cada,
conforme exposto no quadro 9 e gráfico 23.
Grupos Respostas dos líderes Nº
Apoio à construção de habitação para famílias carenciadas 1
R.
Doação de veículos para IPSS´S (Frota solidária) 3
Cartão + vida 2
Projetos de apoio social
Atribuição de donativos a instituições 2
Protocolos de cooperação com entidades da sociedade civil 1
Doação de bens necessários a IPSS´S 1
Nº total de respostas 10
Florestamento 1
Pintura de IPSS’S 1
Voluntariado Limpeza de praias e matas 1
Projeto jovem voluntário 1
Projetos de voluntariado empresarial 2
Nº total de respostas 6
Educação financeira para crianças e adultos 2
Projetos de apoio à educação Prémio Júlio Dinis 1
Prémio escola 1
Nº total de respostas 4
Microcrédito 1
Outros
Existem projetos em estudo 1
Projetos de apoio na área da cultura (espetáculos de música/arte) 1
Nº total de respostas 3
Quadro 9 - Síntese das respostas dos líderes
71
Gráfico 23 - Conhecimento dos projetos dinamizados pela Instituição
De referir ainda que, um dos líderes revela que existem projetos em estudo e propostas de
diversos setores do Montepio, contudo, na sua opinião, neste momento é importante
consolidar a sua intervenção, definir indicadores e avaliar a atividade desenvolvida até agora.
Na dimensão “perceção das motivações da Instituição na promoção de medidas de RS”,
destaca-se que o grupo “motivações de natureza comercial” sobressai no número de respostas
comparativamente com os restantes grupos, no entanto, pode-se afirmar que os líderes,
relativamente a esta dimensão, apresentaram uma grande diversidade de respostas, o que
permite concluir que relativamente às motivações da Instituição, os mesmos, consideram que
existem variadas motivações, atribuindo uma maior importância às de natureza comercial,
como pode ser observado no quadro 10 e gráfico 24.
72
Grupos Respostas dos líderes Nº
De salientar ainda que no entender de um dos líderes não existe motivação, dado que faz parte
dos valores que gerem a atuação da Instituição no seu dia-a-dia.
73
Nesta linha de pensamento, outro líder menciona que para a instituição a RS é um imperativo
emergente da sua natureza e dos seus compromissos estatutários.
No que concerne à dimensão “perceção do impacto do voluntariado na Instituição” e pela
observação do quadro 11 e gráfico 25, denota-se que o grupo “impactos positivos nos
colaboradores” é o mais representativo com um total de sete respostas, salientando-se que a
mais respondida foi “tem um impacto muito positivo nos colaboradores” (duas respostas).
Grupos Respostas dos líderes Nº
Tem um impacto muito positivo nos colaboradores R.
2
Proporciona o envolvimento dos colaboradores permitindo-lhes um
1
sentido de “contributo” e “dever cumprido”
74
Gráfico 25 - Impacto do voluntariado na Instituição
Assim, pode-se concluir que os líderes consideram que o voluntariado é uma mais-valia para
os colaboradores, em termos de alargamento de horizontes, das competências pessoais, assim
como no desenvolvimento do espírito de equipa e elevação dos seus níveis motivacionais.
Relativamente à dimensão “perceção dos benefícios para a imagem da Instituição” todos
os líderes foram unânimes na resposta, considerando que a imagem da Instituição é
valorizada.
Um dos líderes complementa que as práticas de RS têm um efeito muito mais positivo do que
ações de marketing tradicionais, sendo certo que, na opinião de outro líder não é apenas a
imagem que é valorizada, mas sobretudo a sua marca identitária, a sua impressão digital.
8.7 Análise e discussão de resultados
De acordo com os resultados globais do estudo, no que concerne à análise da importância dos
valores na implementação das práticas socialmente responsáveis, é possível afirmar que:
Os valores pelos quais a organização se pauta coadunam-se com as práticas de
responsabilidade social, confirmado por 83% dos colaboradores e a totalidade dos líderes. A
génese da Instituição, a própria missão e a visão muito contribuem para estes resultados,
atendendo que, a sua base e a sua ação assentam nos princípios do mutualismo. E falar de
mutualismo é por si só falar de princípios e práticas socialmente responsáveis. Por outro lado,
constata-se que a cultura organizacional alinhada a uma gestão por valores tem todos os
75
“condimentos” necessários à implementação de práticas de responsabilidade social, atendendo
à sua relação com os clientes e associados, ao envolvimento existente com todos os seus
stakeholders.
No que concerne à análise da identificação dos valores pessoais dos colaboradores com os da
Instituição, como se pode observar através da leitura dos dados, 89% dos colaboradores
reconhece que os seus valores estão alinhados com os da Instituição, opinião partilhada pela
esmagadora maioria dos líderes que referiu que existe uma sincronia entre ambos.
Relativamente à forma como os colaboradores interpretam a implementação das medidas de
RS, pode concluir-se que a maioria dos líderes é unânime em afirmar que os colaboradores,
atendendo aos valores da Instituição, se identificam de uma forma natural, positiva, apreciam
e perfilham das medidas praticadas, com um sentimento de orgulho, quer pela realização da
ação, pela sua participação, assim como, pelos resultados obtidos com essas ações.
No que concerne à autenticidade do alinhamento dos valores pessoais dos colaboradores com
os institucionais, pode concluir-se que a maioria dos colaboradores (61%) reconhece que
embora esteja alinhada com a estratégia da organização, não é esta a principal razão para se
envolver nas iniciativas promovidas pela Instituição, mas essencialmente porque está
predisposta a este tipo de iniciativas, identifica-se pessoalmente com elas, com os seus valores
e acima de tudo partilha das mesmas preocupações sociais. Contudo, e de acordo com os
resultados obtidos, constata-se que a maioria dos líderes não partilha desta perspetiva, pois,
considera que os colaboradores apenas estão alinhados com a estratégia. O que não deixa de
ser interessante a análise das duas visões que estando em contradição revelam os pontos de
vista de ambos. No entanto, face à percentagem de respostas obtidas, pode confirmar-se o
alinhamento dos valores pessoais por parte dos colaboradores, de forma genuína e com
altruísmo em relação aos institucionais.
Relativamente à compreensão das motivações subjacentes à implementação de medidas
socialmente responsáveis por parte desta Instituição, é interessante salientar que os dois
grupos de entrevistados (colaboradores e líderes) diferem nas motivações referidas.
Os colaboradores evocam que as principais motivações são intrínsecas à
natureza/ADN/génese da própria Instituição, a essência mutualista, o cumprimento da missão,
isto é, motivações que estão implícitas ao desenvolvimento da atividade da Instituição.
Contrariamente os líderes atribuem maior importância às motivações de natureza comercial,
nomeadamente a reputação/melhoria da imagem/reconhecimento, assim como o retorno
económico.
76
Mais uma vez se reforça a análise nesta diferença de perspetivas entre os colaboradores e os
líderes, quanto à mesma questão.
No que diz respeito às mais-valias que a implementação das medidas proporciona, pode-se
observar que os colaboradores referem-se às vantagens em termos de imagem,
designadamente a valorização da imagem e promoção da Instituição, embora façam menção a
um aspeto que se considera pertinente mencionar que uma das vantagens prende-se com o
imensurável impacto na personalidade dos colaboradores que se envolvem na realização
destas práticas, nomeadamente o sentimento de orgulho e o aumento de motivação.
No que concerne ao último objetivo de investigação, que se prende com o reconhecimento do
benefício institucional na implementação das medidas de RS, pode-se aferir que a totalidade
dos colaboradores e um dos líderes é unânime em afirmar que a imagem da Instituição é
muito valorizada, mas não é apenas a imagem, sobretudo a sua marca identitária.
Em síntese, os objetivos de investigação foram comprovados através dos dados apresentados e
dos resultados discutidos, o que permite concluir que nesta Instituição as motivações no
desenvolvimento e implementação de práticas de responsabilidade social estão relacionadas,
com a sua a génese, isto é com a sua natureza associativa e mutualista, com a sua missão,
visão e pelos valores pelos quais a Instituição se pauta e coloca em prática, uma vez que
associa a sua atividade comercial às necessidades sociais dos stakeholders e da sociedade em
geral.
Termina-se esta análise com as palavras do Presidente do Montepio “Esforçamo-nos por ser
socialmente responsáveis, economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis (…)
defendemos que só a partilha do risco e a solidariedade na acção podem ser receitas de
sucesso” (Correia, 2011, cit. in Leal et al., 2011, p. 224).
77
78
Conclusão
Principais conclusões
O presente trabalho é alusivo ao tema “Responsabilidade social nas organizações – Avaliação
das motivações no desenvolvimento e implementação de práticas socialmente responsáveis”.
Os objetivos inerentes a este trabalho prenderam-se com a compreensão da dinâmica da
implementação de medidas socialmente responsáveis por parte das organizações, assim como,
da avaliação das motivações subjacentes ao desenvolvimento e implementação de práticas de
responsabilidade social por parte das organizações, mais concretamente na organização visada
onde se realizou o estudo empírico.
Desta forma, com base na pesquisa bibliográfica efetuou-se uma abordagem a temáticas que
se consideraram estratégicas e que estão diretamente relacionadas com o conceito de
responsabilidade social nas organizações.
Assim, foram abordadas as organizações, assim como, a sua perspetiva da missão, visão e
valores, complementada com a referência à cultura organizacional, à gestão por valores, na
qual se debateu a importância dos valores nas organizações e apresentou-se com base em
autores-chave o processo de gestão por valores, deixando no “ar” a seguinte questão:
“Pode a gestão por valores ser considerada uma mais-valia para o desempenho organizacional
e contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade das organizações?”
A resposta a esta questão dar-se-á mais adiante, com base no estudo empírico realizado numa
organização.
Explanou-se sobre o próprio conceito de responsabilidade social, dando um maior ênfase à
sua vertente organizacional e caracterizaram-se as suas vertentes: interna e externa.
Com base numa comunicação da Comissão Europeia divulgou-se a atualização do conceito de
RSE, a vigorar entre 2011 e 2014.
Retratou-se o desenvolvimento sustentável como tema indissociável da responsabilidade
social.
De forma a ir ao encontro dos objetivos do presente trabalho, elucidou-se sobre as motivações
da adoção de práticas socialmente responsáveis.
Evidenciaram-se alguns estudos elaborados em Portugal, subordinados ao tema da RSE e
desenvolvimento sustentável, apresentando as suas principais conclusões com o objetivo de
referenciar a importância destes temas na atualidade.
79
Por último, com base num estudo empírico numa organização portuguesa, procurou-se
responder às questões de partida deste trabalho, assim como às que se foram levantando direta
ou indiretamente ao longo do desenvolvimento do mesmo e às quais se pretende dar resposta.
Assim sendo, o estudo empírico foi realizado no Grupo Montepio. Embora já tenha sido
efetuada a sua apresentação é importante reforçar que sendo a maior Associação Mutualista
do país, toda a sua atividade é orientada para a proteção social complementar solidária e
voluntária - o Mutualismo – e alinhada por valores e princípios humanistas.
Desta forma, pode-se concluir que os valores pelos quais a organização se pauta coadunam-se
com as práticas de responsabilidade social implementadas.
A génese da Instituição, a própria missão e a visão contribuem em grande parte para a
obtenção destes resultados, tendo em conta que a sua base e a sua ação assentam nos
princípios do Mutualismo. Falar de Mutualismo é logo à partida falar em princípios e práticas
socialmente responsáveis.
Conclui-se que relativamente à cultura organizacional está perfeitamente alinhada com os
valores da Instituição, dado que, permite uma forte ligação aos clientes e associados, maior
envolvimento com os stakeholders, com a comunidade, assegura uma prática de transparência
e sustentabilidade.
Os resultados permitem concluir que os colaboradores têm conhecimento dos valores, tendo
em conta, que estão imbuídos nos mesmos e nos princípios humanistas da Instituição.
Do mesmo modo, pode-se concluir que os valores dos colaboradores estão alinhados com os
valores da Instituição, existindo uma sincronia entre ambos.
Atendendo às conclusões evidenciadas, está-se em condições de responder à questão
levantada no desenvolvimento teórico deste trabalho, que se prendia com o facto da gestão
por valores ser considerada uma mais-valia para o desempenho organizacional e contribuir
para o desenvolvimento da sustentabilidade das organizações.
Sem dúvida que uma organização que conceba a sua gestão baseada em valores e consiga que
os colaboradores estejam imbuídos dos valores pelos quais a organização se pauta, existindo
desta forma uma sincronia, tem todas as condições para o desenvolvimento organizacional,
assim como, contribuir para a sua sustentabilidade.
Este facto vai ao encontro dos autores-chave que defendem a gestão por valores,
nomeadamente Barrett (2011) que revela que o processo de gestão por valores pode contribuir
para apoiar a melhoria contínua do desempenho organizacional e para a promoção do
desenvolvimento da sustentabilidade de longo prazo.
80
Por outro lado, conclui-se também que esta gestão afeta de forma positiva a implementação de
medidas socialmente responsáveis por parte desta Instituição.
No que concerne aos objetivos que se propôs atingir, isto é, compreender as motivações
subjacentes à implementação de medidas socialmente responsáveis por parte da Instituição,
pode-se concluir que as motivações subjacentes são as que são intrínsecas à
natureza/ADN/génese da própria Instituição, a essência mutualista, o cumprimento da missão,
da visão e dos valores pelos quais a mesma se pauta e coloca em prática.
Deste modo, as motivações estão implícitas ao desenvolvimento da atividade da Instituição.
Sem dúvida, esta associa a sua atividade comercial às necessidades sociais dos stakeholders e
da sociedade em geral.
Reconhece-se igualmente, que a implementação das medidas proporciona vantagens à
Instituição. A promoção da Instituição e da sua imagem são algumas das vantagens
conquistadas, mas, não é apenas a imagem da Instituição que sai valorizada, mas
principalmente a sua marca identitária.
Outra das vantagens, e que se considera não menos importante, prende-se com o imensurável
impacto na personalidade dos colaboradores que se envolvem na realização destas práticas. O
sentimento de orgulho, que se traduz no aumento da motivação que reverte a favor da
Instituição, tornando-se numa mais-valia.
Em suma, tudo o que foi já referenciado serve de mote para que o Grupo Montepio continue a
ser “socialmente responsável”, “economicamente viável” e “ecologicamente sustentável”.
Espera-se que com as suas “boas práticas” possa servir de exemplo a outras organizações cujo
caminho ainda se encontre por “desbravar”.
Limitações do estudo
Uma das principais limitações do estudo prende-se com o reduzido número de entrevistas
(vinte e três) que representa uma pequena parte dos colaboradores da Instituição, que, de certo
modo, limita a possibilidade de apresentar resultados mais elucidativos da realidade da
Instituição.
Outra das limitações prende-se com a dificuldade na obtenção das respostas, embora a grande
maioria dos entrevistados se tenha mostrado recetivo na colaboração do estudo empírico.
Sugestões para investigação futura
Apesar das limitações referidas, poder-se referenciar algumas das linhas de orientação para
trabalhos futuros:
81
- Alargar este estudo aos restantes colaboradores da Instituição, de forma a ampliar o universo
da amostra e desta forma efetuar uma comparação dos resultados obtidos.
- Alargar este estudo aos restantes stakeholders da Instituição, nomeadamente aos clientes de
forma a medir o impacto que as práticas de responsabilidade social desenvolvidas e
implementadas têm na sua visão da Instituição.
82
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Ferreira, Manuel; Santos, João; Serra, Fernando (2010). Ser Empreendedor – Pensar,
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83
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Teixeira, Sebastião (2004). Gestão das organizações. Lisboa: McGraw-Hill.
84
Referências da Internet
85
86
Anexos
Anexo 1 - Guião da entrevista aos colaboradores
87
Conhecer as vantagens para a Instituição Compreender, na perspetiva dos 10 - Do seu ponto de vista, quais as
da promoção de práticas socialmente colaboradores, quais as mais- principais vantagens para a
responsáveis. valias para a Instituição da Instituição da promoção de práticas
promoção de práticas de RS. de responsabilidade social?
Perceção do impacto do voluntariado na Conhecer as opiniões dos 11- Na sua opinião, no que respeita
Instituição. colaboradores relativamente aos à promoção do voluntariado, qual o
impactos que a promoção do impacto que estas ações
voluntariado origina. representam para a Instituição?
Perceção dos benefícios para a imagem Compreender se existem 12 - Considera que a imagem da
da Instituição. reflexos positivos em termos da Instituição é valorizada com a
imagem da Instituição, pelo implementação de práticas de
facto de implementar práticas responsabilidade social?
de RS.
88
Anexo 2 - Guião da entrevista aos líderes
89
Perceção das motivações da Instituição na Compreender do ponto de vista 10 - Quais são as principais
promoção de medidas de RS. dos líderes, as motivações que motivações da Instituição no
levam a Instituição a desenvolvimento e
implementar práticas de implementação de práticas
responsabilidade social. socialmente responsáveis?
Perceção do impacto do voluntariado na Conhecer o impacto que o 11 - Em sua opinião, no que
Instituição. voluntariado representa para a respeita à promoção do
Instituição. voluntariado qual o impacto que
estas ações representam para a
Instituição?
Perceção dos benefícios para a imagem da Compreender até que ponto a 12 - Considera que a imagem da
Instituição. imagem da Instituição é Instituição é valorizada com a
favorecida através da implementação de práticas de
implementação de práticas de responsabilidade social?
RS.
90
Anexo 3 - Entrevistas modelo
91
Responsabilidade
social nas
organizações
Género:
Feminino
Masculino
Nome:
Idade:
Formação académica:
92
Atividade profissional:
Antiguidade na organização:
Desde (DD/MM/AAAA):
93
4. Considera que os seus valores estão alinhados com os valores da
Instituição?
94
9. Considera que os colaboradores que se envolvem nas iniciativas promovidas
pela Instituição o fazem apenas por estarem alinhados com a estratégia?
95
Submit
96
Responsabilidade
social nas
organizações
Género:
Feminino
Masculino
Nome:
Idade:
97
Formação académica:
Atividade profissional:
Antiguidade na organização:
Desde (DD/MM/AAAA):
98
4. Na sua opinião, os valores da Instituição coadunam-se com as práticas de
responsabilidade social?
99
8. Sempre que são implementadas medidas de responsabilidade social,
considera que os colaboradores se identificam com elas?
100
12. Considera que a imagem da Instituição é valorizada com a
implementação de práticas de responsabilidade social?
Submit
101