Livro Texto - Unidade I
Livro Texto - Unidade I
Livro Texto - Unidade I
Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid-1998), residência clínica
pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD-1999), mestrado em Bioética pelo Centro Universitário
São Camilo (2007) e doutorado em Patologia Experimental pela Universidade Paulista (UNIP-2017). Docente na
UNIP desde 2001 – professora adjunta – das disciplinas Controle Motor e Neurociências, Fisioterapia Pediátrica e
Fisioterapia Neurofuncional. Coordenadora do curso de pós-graduação em Fisioterapia Neurofuncional do Instituto
Imparare desde 2016.
CDU 615.8-053.2
U510.57 – 21
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Bruna Baldez
Jaci Albuquerque de Paula
Sumário
Fisioterapia Pediátrica
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR............................................................................................. 11
1.1 Considerações gerais............................................................................................................................ 11
1.1.1 Embriogênese.............................................................................................................................................11
1.2 Desenvolvimento neuropsicomotor normal.............................................................................. 16
1.2.1 Considerações gerais.............................................................................................................................. 16
2 REFLEXOS PRIMITIVOS................................................................................................................................... 19
2.1 Principais aquisições motoras.......................................................................................................... 29
2.2 Desenvolvimento de habilidades motoras finas e cognitivas............................................. 40
2.3 Prematuridade........................................................................................................................................ 41
2.4 Escalas padronizadas de avaliação................................................................................................. 44
3 PARALISIA CEREBRAL..................................................................................................................................... 46
3.1 Introdução................................................................................................................................................ 46
3.2 Considerações gerais............................................................................................................................ 46
3.3 Diagnóstico e classificação................................................................................................................ 53
3.4 Distúrbios associados à PC................................................................................................................ 62
4 ABORDAGENS ASSOCIADAS À PC............................................................................................................. 69
4.1 Avalição física e funcional da PC.................................................................................................... 69
4.2 Tratamento clínico e de reabilitação............................................................................................. 71
4.3 Correções cirúrgicas na PC................................................................................................................ 79
Unidade II
5 DEFEITOS DO FECHAMENTO DO TUBO NEURAL................................................................................... 86
5.1 Mielomeningocele (MMC)................................................................................................................. 89
5.2 Diagnóstico pré-natal......................................................................................................................... 93
5.3 Características clínicas da MMC..................................................................................................... 94
5.4 Classificação da MMC segundo os níveis preservados da medula espinhal................. 95
5.5 Complicações decorrentes da MMC.............................................................................................. 95
5.5.1 Deformidades da coluna vertebral................................................................................................... 95
5.5.2 Deformidades nos membros inferiores........................................................................................... 97
5.5.3 Hidrocefalia..............................................................................................................................................100
5.5.4 Síndrome da medula presa ou ancorada.....................................................................................104
5.5.5 Risco de fraturas e feridas.................................................................................................................105
5.5.6 Alergia ao látex.......................................................................................................................................106
5.6 Prognóstico de deambulação na MMC......................................................................................106
5.7 Objetivos de tratamento..................................................................................................................111
6 SÍNDROME DE DOWN OU TRISSOMIA DO CROMOSSOMO 21....................................................116
6.1 Formas de anormalidades cromossômicas...............................................................................117
6.2 Complicações associadas à SD.......................................................................................................122
6.2.1 Instabilidade atlantoaxial.................................................................................................................. 122
6.2.2 Cardiopatias congênitas.................................................................................................................... 123
6.2.3 Hipotonia muscular............................................................................................................................. 123
6.2.4 Frouxidão ligamentar.......................................................................................................................... 124
6.2.5 Demências............................................................................................................................................... 124
6.2.6 Obesidade................................................................................................................................................. 125
6.2.7 Alterações otorrinolaringológicas.................................................................................................. 125
6.3 Diagnóstico clínico.............................................................................................................................126
6.4 Objetivos do tratamento da fisioterapia....................................................................................128
Unidade III
7 DOENÇAS NEUROMUSCULARES E AMIOTROFIA ESPINHAL PROGRESSIVA (AMEP)
DA INFÂNCIA........................................................................................................................................................134
7.1 Distrofias musculares progressivas..............................................................................................134
7.2 Distrofia muscular de Duchenne (DMD)....................................................................................134
7.2.1 Herança genética.................................................................................................................................. 137
7.2.2 Quadro clínico........................................................................................................................................ 137
7.2.3 Progressão da DMD.............................................................................................................................. 139
7.2.4 Alterações posturais decorrentes da evolução da DMD e
alterações cardiorrespiratórias................................................................................................................... 140
7.3 Distrofia muscular de Becker (DMB)...........................................................................................141
7.4 Distrofia muscular tipo cinturas (DMC).....................................................................................142
7.5 Diagnóstico médico............................................................................................................................143
7.6 Tratamento fisioterapêutico...........................................................................................................143
7.7 Amiotrofia espinhal progressiva (AMEP) da infância...........................................................144
7.8 AMEP tipo I ou Werdnig-Hoffmann............................................................................................146
7.9 AMEP tipo II ou forma intermediária ou doença de Dubowitz........................................149
7.10 AMEP tipo III ou doença de Kugelberg-Welander ou forma branda...........................150
7.11 Critérios para o diagnóstico..........................................................................................................151
7.12 Tratamento clínico e de reabilitação........................................................................................151
8 ARTROGRIPOSE MÚLTIPLA CONGÊNITA (AMC) E OSTEOGÊNESE IMPERFEITA (OI).............152
8.1 Classificação da AMC.........................................................................................................................153
8.2 Quadro clínico da AMC.....................................................................................................................155
8.3 Diagnóstico da AMC..........................................................................................................................156
8.4 Fisioterapia na AMC...........................................................................................................................156
8.5 Introdução à osteogênese imperfeita (OI)................................................................................157
8.6 Classificação da OI..............................................................................................................................158
8.6.1 Classificação proposta por Sillence (1979)................................................................................. 158
8.7 Diagnóstico............................................................................................................................................160
8.8 Quadro clínico.......................................................................................................................................161
8.9 Tratamento da OI.................................................................................................................................162
8.9.1 Tratamento clínico................................................................................................................................ 162
8.9.2 Tratamento da fisioterapia na OI.................................................................................................... 163
8.10 Introdução à displasia congênita de quadril (DCQ)............................................................164
8.11 Tratamento da DCQ..........................................................................................................................166
8.12 Doença de Legg-Calvé-Perthes...................................................................................................168
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem como objetivo geral capacitar o aluno a realizar a avaliação e o tratamento
fisioterapêutico em crianças com disfunções decorrentes principalmente de lesões dos sistemas nervoso
(central e periférico) e musculoesquelético.
Nos conteúdos e exercícios que se encontram distribuídos nesta disciplina, são analisadas as diferentes
estratégias de tratamento atuais e desenvolvidas a habilidade de avaliação das disfunções decorrentes de
comprometimento neurológico e musculoesquelético, mediante a elucidação e prática dos procedimentos
adequados; a capacidade de identificação, a partir dos procedimentos de avaliação, dos objetivos
terapêuticos de curto, médio e longo prazo; e a habilidade de programar a intervenção fisioterapêutica a
partir da identificação dos objetivos terapêuticos e da escolha das estratégias adequadas, preparando o aluno
para compreender as disfunções neurológicas sob a perspectiva da inclusão social.
Por meio da leitura dos conteúdos e da resolução consistente dos exercícios, esperamos que você
não apenas compreenda a importância da abordagem fisioterapêutica em pediatria, mas obtenha amplo
conhecimento dos processos patológicos e reabilitativos.
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)
Bons estudos!
9
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Unidade I
1 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR
Iniciaremos o estudo da formação embrionária do sistema nervoso central (SNC), desde a concepção
até a formação completa do sistema nervoso, e então passaremos ao estudo do desenvolvimento motor
extrauterino, desde o nascimento até o primeiro ano de vida do bebê.
1.1.1 Embriogênese
Lembrete
11
Unidade I
A clivagem difere-se da divisão celular convencional que ocorre em muitos tipos de células em toda
a vida de um organismo, pois, durante a clivagem, cada célula‑filha formada tem aproximadamente a
metade do tamanho da célula‑mãe. Por outro lado, depois da divisão celular convencional, as células
crescem até o tamanho aproximado da célula‑mãe antes de sofrerem a próxima etapa de divisão.
Com cada clivagem, o citoplasma é dividido à medida que os núcleos são replicados, e a relação
nucleocitoplasmática se aproxima da relação de uma célula somática do organismo. Outro efeito da
clivagem é a produção de um embrião multicelular. As células da mórula e do subsequente blastocisto
(estrutura formada pelo surgimento de uma cavidade na mórula) são denominadas blastômeros.
Logo após a entrada da mórula no útero (por volta de quatro dias após a fecundação), os blastômeros
são separados em duas partes: o trofoblasto, que dará origem à parte embrionária da placenta; e o
embrioblasto, que é o primórdio do embrião.
Nesse estágio, o embrião é chamado de blastocisto e, após aproximadamente seis dias da fecundação,
adere-se ao epitélio endometrial. A implantação do blastocisto se completa durante a segunda semana
do desenvolvimento. No décimo dia, o embrião está completamente implantado no endométrio.
Oviduto
2 células
Primeira 4 células
clivagem
8 células Útero
Migração do pronúcleo
Mórula
Endom
Ovário Blastocito
Fertilização
é
trio
Ovócito I
Cerca de três semanas após a concepção, a gestação normal pode ser detectada pela ultrassonografia.
A gastrulação é o início da morfogênese. Durante a gastrulação, as células sofrem extensos movimentos
12
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
umas em relação às outras, alterando suas posições. Isso faz com que as células entrem em contato com
novos vizinhos e permite o repasse de informações entre as células, acabando por alterar seus destinos. Um
efeito da gastrulação é estabelecer os folhetos teciduais primitivos, denominados folhetos germinativos.
São formados três folhetos germinativos primários, chamados de ectoderma, mesoderma e endoderma. Os
folhetos germinativos dão origem a tecidos e primórdios de órgãos durante o desenvolvimento subsequente.
Epiderme
Dobramento
Prega neural
Sulco neural
Epiderme
Crista neural
Tubo neural
Observação
Como podemos ver, a placa neural vai se diferenciar craniocaudalmente, ou seja, ela é mais larga
cranialmente e mais afilada caudalmente. E é essa porção cranial expandida que dará origem ao cérebro.
Mesmo nesse estágio muito inicial de diferenciação, o futuro cérebro é visivelmente dividido em três
regiões: prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. A porção caudal mais estreitada da placa neural
(contínua cranialmente com o rombencéfalo) forma a medula espinhal. Com isso, podemos observar a
formação do nosso SNC.
13
Unidade I
A neurulação converte a placa neural em um tubo neural oco recoberto pelo ectoderma cutâneo. O
tubo neural, em seguida, começa a se diferenciar em cérebro e medula espinhal. Antes mesmo do fim da
quarta semana, grandes regiões do cérebro – prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo – tornam‑se
evidentes, e neurônios e glia começam a se diferenciar no neuroepitélio do tubo neural.
Com o decorrer da neurulação, células da crista neural separam‑se das bordas laterais das dobras
neurais e migram para vários locais do organismo, onde se diferenciam para formar uma grande
variedade de estruturas e tipos celulares.
Portanto, por volta do 22º dia de gestação, ocorre um espessamento do ectoderma dorsal do embrião,
formando um sulco longitudinal (sulco neural) que se aprofunda progressivamente, dando origem à
goteira neural. Os lábios da goteira neural se fundem, formando o tubo neural.
Núcleo vermelho
Trato teto-espinal
Trato rubro-espinal
Metatálamo Pedúnculo cerebelar superior
Lemnisco medial
Tálamo
Lemnisco lateral
Núcleo estriado Cerebelo
Pedúnculo cerebelar médio
Trato vestíbulo-espinal
Núcleo grácil
Medula oblonga
Hipotálamo Fibras do funículo posterior
Nervo vestibular
Vestíbulo
interno do Nervo
Retina do olho Nervo ouvido gustativo Trato espinotalâmico
óptico Cócclea Papila gustativa
Nervo cocclear
Nervos sensoriais
Pele
Nervo motor
Medula espinhal
Músculo
Observação
A coluna vertebral e a medula espinhal iniciam sua formação por volta do 19º dia pós-concepção.
O tubo neural se fecha na linha média em cinco pontos distintos de forma não sincronizada até o
29º dia. Esse modelo explica como é possível a ocorrência de defeitos de fechamento na coluna em
diversas localizações, os quais serão abordados no decorrer deste livro-texto e que são muito comuns
na nossa vivência profissional.
Na quinta semana de gestação, notam-se três vesículas encefálicas primárias, que são o prosencéfalo,
o mesencéfalo e o rombencéfalo, além da flexura cefálica (entre mesencéfalo e prosencéfalo) e da
flexura cervical (entre encéfalo e medula espinhal).
Lembrete
15
Unidade I
Ao iniciar o estudo do desenvolvimento infantil, devemos considerar que ele não depende
exclusivamente da criança, pois outros fatores poderão intervir no desenvolvimento dela. Com isso, será
necessário avaliar, por exemplo, o ambiente ao qual essa criança pertence.
A partir de agora, iremos considerar principalmente o desenvolvimento motor do bebê nos primeiros
meses de vida extrauterina. Sabemos que o desenvolvimento motor é o processo de mudança no
comportamento motor, relacionado com a idade do indivíduo. O desenvolvimento motor inclui mudanças
associadas à idade tanto na postura quanto no movimento, que caracterizam o comportamento motor.
Muitas vezes, é enfatizado que a aquisição das habilidades motoras ocorre devido à maturação do
SNC (visão neuromaturacional). Hoje, porém, considera-se que o ambiente favorável apresenta papel
marcante nesse desenvolvimento motor do bebê. Obviamente, o desenvolvimento neural é necessário
para que o bebê adquira essas habilidades, mas a prática e a oportunidade de interagir em um ambiente
adequado favorecem o desenvolvimento motor.
Exemplo de aplicação
O neonato é totalmente dependente, mas, durante o primeiro ano de vida, adquire grande
independência física, que passa a realizar com eficiência em habilidades motoras grossas – rolar, sentar,
engatinhar e levantar-se – e em habilidades motoras finas, tais como a manipulação de objetos de
diferentes formas e tamanhos.
O ganho e treino das aquisições motoras iniciam-se ainda na vida intrauterina, sendo caracterizados
inicialmente por padrões motores estereotipados chamados de reflexos primitivos. Principalmente nas
últimas semanas de gestação (último trimestre), ocorre um intenso processo de mielinização, e, após o
nascimento, ocorre a conquista das habilidades motoras.
Observação
17
Unidade I
O neonato é incapaz de apresentar controle postural contra a ação da força da gravidade, e esse
controle ele adquirirá de forma gradual, conseguindo alinhar os segmentos do corpo, tanto em relação
ao outro quanto em relação ao ambiente, até ser capaz de adquirir a postura ortostática (ficar em pé).
Devido à posição fetal intrauterina, principalmente no final da gestação, ao nascer, considera-se que
o neonato apresenta uma postura em tríplice flexão (postura fetal), ou seja, flexão de cabeça, tronco e
membros, o que leva a um encurtamento fisiológico dos grupos musculares flexores e um alongamento
fisiológico dos grupos musculares extensores.
Observação
18
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Você deverá considerar que o neonato ainda apresenta comportamentos motores imaturos, ou
seja, uma atividade motora predominantemente reflexa. Isso ocorre porque os núcleos subcorticais
apresentam um amadurecimento anterior ao do córtex, porém, conforme ocorre a maturação cortical,
esses reflexos primitivos acabam sendo modulados.
Lembrete
Durante o primeiro ano de vida, as atividades reflexas são moduladas de acordo com a evolução do
SNC, passando para movimentos mais complexos e voluntários. No processo de maturação cerebral, as
experiências sensório-motoras do bebê contribuem para o desenvolvimento das habilidades motoras,
através do estabelecimento e da reorganização de sinapses e da formação de novas redes neurais.
2 REFLEXOS PRIMITIVOS
Neste tópico, serão descritos a seguir os comportamentos reflexos normais apresentados pelo
neonato e quando, em média, é esperado que eles sejam modulados.
Observação
19
Unidade I
• Reflexo de sucção: reflexo importante para a alimentação, desencadeado pela estimulação dos
lábios. No caso de bebês prematuros ou com lesão neurológica associada, é possível que esse
reflexo seja débil, o que dificultará a alimentação do neonato.
• Reflexo de procura ou dos pontos cardeais: ao dar o estímulo em um dos cantos da boca, o neonato
procura o estímulo externo, virando o rosto em busca do estímulo – no caso, seria a busca pelo
alimento. Geralmente, ocorre o movimento de sucção em seguida. Isso facilita a amamentação.
20
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Lembrete
• Reflexo magnético: em decúbito dorsal, partindo da flexão dos joelhos e dos quadris, o examinador
deverá comprimir seus polegares contra a sola dos pés do bebê e, lentamente, afastar seus dedos.
Como resposta, as pernas e os quadris do bebê partem para o movimento de extensão, como se
estivessem colados ao dedo do examinador.
21
Unidade I
Você já chegou a assistir a algum vídeo de um bebê andando ainda recém-nascido? Aqui
está a explicação.
• Reflexo de glabela: ao realizar uma compressão com a ponta do dedo na região entre as
sobrancelhas (região glabelar) do bebê, ocorrerá o fechamento dos olhos como resposta. No
caso de se notar uma assimetria nesse fechamento, o examinador poderá suspeitar de um caso
de paresia facial.
22
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
• Reação de subida ou placing reaction: o examinador segura o bebê pelas axilas, com os pés
abaixo da borda de um degrau, e levemente toca o dorso do pé do bebê contra este. Como
resposta, o bebê eleva o membro como se subisse o degrau.
• Reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA) ou Magno: ao rodar a cabeça do bebê para um
lado, as extremidades dos membros do lado que o rosto está virado estendem-se e, do outro lado,
fletem-se, assemelhando-se ao movimento do esgrimista.
23
Unidade I
Observação
24
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
• Reflexo tônico cervical simétrico (RTCS): quando ocorre a flexão da cervical, os membros
superiores se flexionam e os membros inferiores estendem-se. Quando ocorre a extensão da
cabeça, os membros superiores estendem-se e os membros inferiores flexionam-se.
• Reflexo tônico labiríntico (RTL): quando colocado em posição prona (decúbito ventral), o
lactente assume total flexão, o que impede a liberação das vias aéreas superiores; e, quando
colocado em posição supino, ocorre a extensão do tronco e dos membros, sendo este geralmente
considerado um reflexo patológico presente principalmente no PC tetraparético espástico grave.
Se o bebê realiza uma postura extensora exagerada, recebe o nome de opistótono.
25
Unidade I
• Reflexo de preensão palmar: ao dar estímulo na palma da mão do bebê, este realiza o fechamento
da mão como se segurasse o dedo do examinador.
26
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
• Reação de Moro: divide-se em duas fases. O examinador posiciona o bebê no seu antebraço e,
com a outra mão, segura a cabeça do bebê; em seguida, solta a cabeça do bebê. Como resposta,
o bebê abre a boca, ergue os braços e estende os dedos das mãos como se abrisse um leque
(primeira fase); depois, o bebê fecha a boca, e os braços flexionam (segunda fase).
• Reação de Landau: ao segurar o bebê na posição horizontal e mantê-lo suspenso no ar, ele irá
erguer a cabeça e apresentar extensão dos membros inferiores.
27
Unidade I
• Disposição para o salto ou reação de paraquedas: suspende-se a criança pelo tronco e a aproxima
de forma rápida em direção ao solo. Antes da cabeça chegar ao solo, os braços estendem‑se como
se a criança fosse se apoiar.
28
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
A figura a seguir relaciona as reações e os reflexos primitivos de acordo com a idade de início e o
período de inibição de tais atividades.
Agora, veremos quais aquisições motoras são esperadas para o bebê durante o seu primeiro ano
de vida, mês a mês. Os marcos do desenvolvimento motor da criança sem lesão neurológica são bem
conhecidos e estabelecidos e seguem uma ordem cronológica, o que pode e deve ser usado para avaliar
possíveis alterações motoras decorrentes de lesões neurológicas.
29
Unidade I
Como já vimos, ao nascer, há um predomínio do tônus flexor, sendo este aumento considerado
fisiológico. O neonato não é capaz de adaptar-se às mudanças de postura, não apresenta reações de
equilíbrio nem reações de proteção.
O neonato apresenta muita atividade reflexa primitiva (a maioria dos reflexos primitivos ainda
não foi modulada). Em decúbito dorsal, predomina o padrão flexor: geralmente, a cabeça posiciona-se
para um dos lados, sendo que o bebê pode apresentar preferência por um dos lados. Os ombros ficam
retraídos e elevados, e os cotovelos e dedos das mãos em flexão. Os membros inferiores permanecem
com os quadris rodados externamente, com joelhos fletidos.
Em decúbito ventral, predomina também a postura flexora. A pelve fica elevada, o que leva a uma
maior transferência do peso corporal para a cabeça, dificultando a extensão cervical. Devido à elevação
e à retração da cintura escapular, torna-se impossível ao neonato descarregar o peso nos antebraços, o
que favoreceria a extensão da cabeça.
Ao tentar puxar o neonato pelas mãos para a postura sentada, a cabeça ficará pendente para trás,
pois o bebê ainda não é capaz de controlá-la. Isso significa que ele não tem controle de cervical – não
apresenta controle de tronco e não realiza trocas posturais.
Com dois meses, o bebê ainda apresenta predomínio do tônus flexor em decúbito dorsal, menor que
no primeiro mês de vida, mas já é capaz de realizar movimentos de esperneios alternados e apresenta o
corpo de forma mais simétrica.
Em decúbito ventral, a cintura escapular permanece retraída. Permanece a flexão no quadril com as
pernas rodadas externamente, e o bebê eleva mais a cabeça, mas não a mantém erguida. Ao ser puxado
para a posição sentada, começa a controlar a simetria da cabeça, porém ainda sem controle cervical.
30
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Ele também não apresenta reações de equilíbrio nem de proteção e ainda apresenta muita atividade
reflexa primitiva.
Os membros inferiores estarão um pouco mais estendidos, porém serão mantidos em flexão durante
a maior parte do tempo.
No terceiro mês, conseguimos observar algumas mudanças importantes. Em decúbito dorsal, o bebê
já consegue alinhar a cabeça na linha média, mas demostra preferência por mantê-la rodada para
um dos lados; já começa a levar as mãos à linha média; começa a brincar com objetos (por exemplo, um
chocalho) que são colocados em suas mãos, tentando levá-los até a boca; e já consegue estender melhor
os quadris e joelhos, porém ainda não alcança a linha média.
Em decúbito ventral, o bebê começa a transferir o peso corporal para os antebraços, permitindo
estender a cabeça até 45 graus, mas esse apoio ainda não é estável. Ainda apresenta grande oscilação da
cabeça e maior extensão do quadril com flexão dos joelhos. Ao estender mais o quadril, passa a diminuir
a transferência do peso corporal para a cervical. Lembre-se de que o controle postural ocorre da região
cefálica em direção à região caudal e inicia-se da região proximal para a distal.
Quando puxado para sentar, o bebê ainda não apresenta controle da cervical e da cabeça, mas já
consegue acompanhar o movimento sem deixar a cabeça pendente. Não apresenta controle do tronco,
porém já não apresenta mais o predomínio do tônus flexor. Ainda não apresenta controle das reações
de equilíbrio nem de proteção.
31
Unidade I
Lembrete
Em decúbito dorsal, o bebê apresenta posição simétrica e começa a virar para a posição de decúbito
lateral (para os dois lados); consegue trazer as mãos à linha média, segurar um objeto e levá-lo à
boca. Ele mantém os membros inferiores em rotação externa, com flexão dos joelhos, mas consegue
estendê‑los, com tornozelos em dorsiflexão e dedos em flexão.
Em decúbito ventral, já consegue erguer a cabeça a 90 graus e se apoia nos antebraços com
estabilidade, favorecendo a extensão do tronco. Ainda não assume a postura sentada, apresentando
uma cifose do tronco acentuada. Ocorre um contato maior do bebê com o ambiente; percebe-se o choro
não só para satisfazer suas necessidades alimentares, mas também para interagir, caso não consiga o
que deseja do ambiente.
Com cinco meses, em decúbito dorsal, o bebê consegue adquirir a primeira troca postural, que é o
rolar para o decúbito ventral (o bebê é capaz de rolar). O tronco está simétrico e alinhado com a cabeça,
e ele realiza movimentos tanto de extensão quanto de flexão dos membros inferiores.
32
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Para explorar melhor o ambiente, prefere assumir a posição de decúbito ventral, conseguindo ter bom
apoio nos antebraços, e começa a transferir o peso de um lado para o outro, ou seja, consegue apoiar
o corpo em só um dos antebraços. Também consegue rodar a cabeça para os dois lados, observando
atentamente o ambiente.
Quando colocado na postura sentada, apresenta uma melhora no ganho da extensão do tronco por
pouco tempo, com bom controle da cabeça, mas ainda não é capaz de ficar sentado sem apoio.
O tônus muscular apresenta-se normal. A movimentação passiva e a maioria dos reflexos primitivos
já estão modulados.
O bebê consegue rolar com facilidade, preferindo ficar em decúbito ventral, e é capaz de elevar
bem a cabeça nessa postura. Consegue apoiar-se nos antebraços e começa a estender os cotovelos,
transferindo parcialmente o peso para as mãos.
Quando colocado na postura sentada, consegue manter-se por pouco tempo e, ao se deslocar para
frente, consegue apoiar-se nas mãos, surgindo assim a primeira reação de proteção, chamada de reação
de proteção anterior.
33
Unidade I
Lembrete
Em decúbito ventral, o bebê consegue erguer bem a cabeça e apoiar o seu peso nas mãos, o que
favorece o desprendimento do tronco e do quadril do solo, treinando para adquirir a próxima troca
postural, que é a postura de gato ou de quatro apoios.
Na postura sentada, apresenta bom controle anterior do tronco, mas ainda não apresenta
controle para os lados nem total extensão do tronco na postura sentada. Ainda realiza a preensão dos
objetos em garra.
Nesta fase, o bebê já é capaz de adotar a postura de gato ou de quatro apoios e engatinhar, ainda
sem muita estabilidade. Também já permanece sentado com bom controle de tronco e cabeça, sendo
capaz de virar-se em torno do seu próprio eixo.
Apresenta reações posturais da cabeça sobre o corpo e do corpo no espaço. Quando na postura
sentada, se perde o equilíbrio para os lados, responde com a segunda reação de proteção, chamada de
reação de proteção lateral.
34
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Consegue bater palmas, faz movimento de dar “tchau” com a mão e começa a falar sílabas duplas,
imitar sons e estranhar pessoas desconhecidas.
Nesta idade, a criança já se senta de forma estável e consegue se apoiar para frente e para os
lados com facilidade. Começa a levantar-se segurando em objetos (por exemplo, no berço, apoiada nos
móveis). Quando apoiada, começa a dar os primeiros passos.
Consegue engatinhar com muita rapidez e, quando fica em pé com apoio, faz flexão e extensão do
quadril e dos joelhos. Apresenta bom equilíbrio postural sentada. Indica figuras com o dedo e começa
a pegar objetos com preensão em pinça (entre o polegar e o indicador), realizando atividade mais finas
(motricidade fina em desenvolvimento).
Observação
A criança já permanece sentada sozinha com bom equilíbrio, levanta-se para ficar em pé segurando
em objetos, mas já pode conseguir ficar em pé sem se apoiar. Consegue andar se segurando ao longo
35
Unidade I
dos móveis e passar para a postura de gato com bom equilíbrio. Quando perde o equilíbrio para trás,
responde com a terceira reação de proteção, chamada de reação de proteção posterior.
Começa a brincar de se esconder, ou seja, começa a brincar com os outros, e não apenas sozinha.
A criança consegue adotar a postura ortostática, sendo possível iniciar a troca de passos. Não apresenta
ainda equilíbrio em pé, e as que conseguem andar caminham com a base de apoio mais alargada.
Consegue falar poucas palavras com sentido (por exemplo: mamã, papá) e já percebe quando está
sendo elogiada ou repreendida.
Espera-se que até o décimo quinto mês essa criança seja capaz de andar de forma independente,
porém sem total equilíbrio.
Observação
36
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
37
Unidade I
A habilidade motora manual também ocorre de forma gradual. O quadro a seguir resume os principais
indicadores relacionados ao desenvolvimento da função manual em crianças nos primeiros anos de vida.
38
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Exemplo de aplicação
Se o bebê nascer prematuro, o terapeuta deverá corrigir sua idade gestacional para verificar em qual
estágio do desenvolvimento se encontra ou se já apresenta sinais de atraso do desenvolvimento motor.
Por exemplo: se o bebê for um prematuro de 32 semanas de gestação, devemos corrigir sua idade atual
descontando em torno de oito semanas (pensando em um período gestacional a termo de 40 semanas).
Vejamos o seguinte caso: você irá avaliar uma criança prematura de 32 semanas de gestação.
Atualmente, a criança está com 5 meses de vida, e, durante sua avaliação, notou-se que o bebê ainda
não consegue rolar e apresenta controle de cabeça por períodos curtos. Você poderia afirmar que esse
bebê apresenta um quadro de atraso motor?
39
Unidade I
Não, você não poderia realizar essa afirmação, uma vez que, se considerarmos a prematuridade
e dermos um desconto de oitos semanas (2 meses de vida intrauterina), esse bebê estaria se desenvolvendo
dentro do esperado.
Agora que já vimos sobre a aquisição motora mês a mês do bebê, iremos falar sobre o desenvolvimento
de habilidades motoras finas e cognitivas. No primeiro ano de vida, o desenvolvimento cognitivo e motor
ocorrerão juntos, com predomínio de atividades sensório-motoras. As respostas reflexas primitivas darão
lugar ao controle voluntário do movimento, às habilidades motoras finas e à aquisição da linguagem. O
quadro a seguir expõe as principais aquisições cognitivas esperadas nesse período.
40
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
2.3 Prematuridade
41
Unidade I
O recém-nascido (RN) é classificado de acordo com a idade gestacional (IG) e com o peso ao nascer.
• Idade gestacional (IG): duração da gestação medida a partir do primeiro dia do último período
menstrual normal, sendo expressa em dias ou semanas completas.
42
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Para o cálculo da IG, é necessário que a gestante saiba a data da última menstruação, além de
realizar o exame de ultrassonografia.
Diversos fatores podem contribuir para um parto prematuro, tais como: gestação gemelar, má-formação
uterina, idade materna avançada, abuso de drogas, entre outros.
A assistência adequada ao neonato prematuro deve contar com a presença de uma equipe
especializada, capaz de realizar, se necessário, manobras de reanimação e evitar hipotermia, quadros de
hipóxia ou de anóxia.
Devemos nos atentar para uma avaliação adequada desses prematuros ainda no período de internação
hospitalar e, a longo prazo, com o intuito de identificar possíveis alterações motoras e cognitivas.
No quadro a seguir, são apresentadas as principais complicações que podem ocorrer no RN pré-termo.
43
Unidade I
Ao longo dos anos, foram desenvolvidas algumas avaliações de triagem para verificar o
desenvolvimento motor desses bebês, detectando precocemente possíveis sequelas e favorecendo
o atendimento mais precoce. A seguir, abordaremos as principais escalas utilizadas nessas avaliações.
Trata-se da avaliação de postura e do movimento infantil, que pode ser utilizada com RN de 32 semanas
de idade gestacional até quatro meses de idade corrigida. Avalia a qualidade do movimento, o controle e
alinhamento postural, o equilíbrio e a coordenação de acordo com a evolução do controle da cabeça
e do tronco, supino e posições verticais. É um dos testes mais sensíveis às mudanças ocorridas na
coordenação motora de acordo com a idade em crianças bem pequenas.
44
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Saiba mais
https://www.infantmotortest.com/
Tem como objetivo avaliar as aquisições motoras de crianças até os 18 meses de idade. Através
de avaliação observacional, discrimina e avalia os componentes do desenvolvimento na tentativa de
identificar bebês cujo desenvolvimento motor esteja atrasado e medir esse desempenho através do tempo.
Saiba mais
Esse teste destina-se a avaliar o desenvolvimento motor de crianças de até um ano de idade que
apresentam alto risco para distúrbios motores, como contribuição para o estabelecimento da base para a
intervenção precoce. Tem como objetivo também monitorar os efeitos do programa de reabilitação,
estabelecer critérios para a intervenção terapêutica e fornecer suporte para a pesquisa como instrumento
de avaliação.
Escala proposta por Prechtl e Beintema (PRECHTL, 1977) que se constitui em um exame neurológico
utilizado para a avaliação do RN a fim de detectar precocemente sinais neurológicos anormais no
período neonatal. Consiste na observação e classificação dos movimentos espontâneos que o bebê
apresenta na posição supina. Prechtl e Beintema (1977) identificaram e descreveram os padrões motores
dos movimentos característicos dos neonatos, que se transformam à medida que o bebê amadurece.
É uma avaliação quantitativa, e não invasiva, que demonstra ser eficaz para a detecção precoce de
anormalidades a partir dos três meses de idade.
45
Unidade I
Este instrumento é utilizado para descobrir déficits funcionais, acompanhar progressos e analisar o
resultado de intervenções. A PEDI é um instrumento de avaliação infantil que caracteriza o desempenho
funcional de crianças com idade cronológica entre 6 meses e 7 anos e 6 meses. Porém, pode ser
utilizada quando – apesar da idade cronológica ser superior ao limite indicado – o indivíduo apresentar
desempenho funcional condizente com essa faixa etária, com o objetivo de acompanhamento evolutivo
da criança.
3 PARALISIA CEREBRAL
Agora que estudamos sobre o desenvolvimento humano intrauterino e extrauterino típicos, vamos
abordar algumas doenças, patologias ou condições que encontramos bastante na prática clínica,
começando por uma das mais vistas: a paralisia cerebral (PC).
3.1 Introdução
Como vimos, os primeiros anos de vida da criança são caracterizados como um período no qual
ocorrem a maturação neurológica e aquisição das habilidades motoras, permitindo a constante
aquisição de habilidades funcionais, independência e capacidade de adaptar-se ao ambiente.
É importante que você saiba reconhecer essas alterações, e, por isso, iniciaremos o estudo da desordem
motora mais frequente na infância, que é a PC.
O termo “paralisia cerebral” ou “encefalopatia crônica não progressiva” (ECNP) é utilizado para descrever
um grupo de distúrbios do desenvolvimento do movimento e da postura, que levam a incapacidades
funcionais devido a lesões encefálicas durante o desenvolvimento fetal ou infantil. As alterações motoras
geralmente estão associadas a distúrbios sensoriais, cognitivos, comportamentais, perceptuais, da
comunicação, além de quadros convulsivos, e podem causar prejuízos musculoesqueléticos secundários.
Geralmente, o termo ECNP não é utilizado, embora seja o mais correto. Se considerarmos o termo PC,
seu sentido literal seria similar ao termo “morte encefálica” (ou que o cérebro “parou”); já “encefalopatia
46
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
crônica não progressiva ou não evolutiva” seria mais correto, uma vez que se refere a lesões encefálicas
de caráter não progressivo, ou seja, a área da lesão não irá aumentar, e ocorre durante o desenvolvimento
intrauterino ou nos primeiros anos do desenvolvimento pós-natal.
A PC foi descrita pela primeira vez em 1843 pelo médico ortopedista inglês William John Little, que
relatou o caso de 47 crianças com quadro de hipertonia elástica nos membros inferiores. Posteriormente,
ainda no século XIX, Freud relatou que alterações durante o nascimento poderiam ser a causa real da
lesão, introduzindo assim o termo PC.
Considera-se que a PC pode ser causada ainda no período pré-natal ou durante o desenvolvimento
infantil. Não há um consenso de qual o limite de idade para ser dado o diagnóstico de PC, mas a maioria
dos autores considera desde o período pré-natal até os 2 anos de idade, embora alguns considerem até
os 5 anos de idade.
Em relação ao fator etiológico da PC, não é possível determinar a causa específica da lesão, porém
existem diversos fatores de risco para esse tipo de paralisia, os quais podem ser identificados durante o
período gestacional (fatores de risco pré-natais), durante o processo do parto (fatores de risco perinatais)
e após o nascimento até os primeiros anos de vida da criança (fatores de risco pós-natais).
Devemos considerar também que, mesmo na presença de um ou mais fatores de risco para a PC, não
podemos afirmar que essa criança terá lesões neurológicas. Por exemplo: se um bebê nascer prematuro
e de baixo peso gestacional, não significa que ele terá PC, e sim que se trata de um bebê de maior risco
para lesão encefálica.
Durante o período gestacional, algumas áreas cerebrais são mais suscetíveis a lesões do que outras.
Por exemplo: a substância branca periventricular apresenta maior vulnerabilidade no período entre
26 e 34 semanas de gestação, e, portanto, uma lesão dessa área nesse período pode ocasionar um
quadro chamado de leucomalácia periventricular.
47
Unidade I
No quadro a seguir, são descritos possíveis fatores de risco para PC, divididos em período pré, peri e
pós-natal, para melhor entendimento.
Como podemos observar no quadro anterior, nos fatores de risco pré-natais, há um grupo de
infecções materno-fetais (ultrapassam a barreira placentária) que podem ser associadas a PC. A sigla
TORSCHA é formada a partir da junção das iniciais dessas patologias, que são, respectivamente,
toxoplasmose, rubéola, sífilis, citomegalovírus, herpes, aids e, atualmente, tem-se acrescentado a letra Z,
devido aos casos de microcefalia causados pelo Zika vírus (TORSCHA + Z). Antes de engravidar ou durante
o pré‑natal, o médico deve solicitar a realização de testes sorológicos específicos e de pesquisa de
vírus para excluir a presença de patologias ou oferecer o tratamento adequado durante a gestação.
Vamos começar pelas duas primeiras letras da sigla que vimos, ou seja, falaremos sobre a toxoplasmose.
A toxoplasmose é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii (T. gondii), é mais prevalente em
países de clima tropical, com maior incidência nos níveis socioeconômicos mais baixos, com piores
condições higiênico-sanitárias. Em casos de infecção primária (fase aguda) durante a gestação ou em
casos de mulheres imunodeprimidas com ativação infecciosa, pode ocorrer o acometimento fetal.
Se o feto for infectado, poderá ocorrer o quadro da tétrade da toxoplasmose congênita clássica,
caracterizada por coriorretinite, hidrocefalia ou microcefalia, calcificações cerebrais e alteração neurológica.
Outras complicações incluem o risco de aborto fetal, parto prematuro, déficit do desenvolvimento
neurocognitivo do bebê, entre outros. As lesões do SNC de pacientes com toxoplasmose são caracterizadas
por necrose significativa e inflamação circundante. As áreas necróticas podem calcificar e levar a
achados radiológicos sugestivos da lesão causada pelo toxoplasma.
48
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
A toxoplasmose congênita fetal pode levar ao óbito do feto. O exame de ultrassonografia pode
mostrar áreas de calcificações cerebrais ou hepáticas, sinais de hidrocefalia, esplenomegalia, ascite e
pericardite. Já o neonato pode apresentar sinais como coriorretinite, estrabismo, encefalite, convulsões,
microcefalia ou hidrocefalia e atraso no desenvolvimento motor.
A rubéola, também conhecida como sarampo alemão, é uma doença viral aguda, causada pelo
vírus de RNA, e é transmitida de pessoa a pessoa através da propagação de gotículas de secreções
respiratórias de pessoas infectadas. O vírus da rubéola pode infectar a placenta da gestante, podendo
infectar o feto.
A síndrome da rubéola congênita é transmitida pela via transplacentária, após viremia materna.
Trata-se, portanto, de uma doença congênita, e, quanto mais precoce for a infecção em relação à
IG, mais grave será a doença. A infecção materna pode levar ao aborto, à morte fetal ou a anomalias
congênitas, tais como catarata, glaucoma e surdez. A vacinação é a forma de prevenção da doença,
interrompendo assim a transmissão do vírus.
As consequências da rubéola são mais sérias se a infecção ocorrer no primeiro trimestre da gravidez.
As complicações abrangem o risco de aborto espontâneo, morte fetal ou múltiplas alterações sistêmicas,
que incluem catarata, microftalmia, perda auditiva, estenose arterial pulmonar, microcefalia e atraso do
desenvolvimento motor.
Saiba mais
A rubéola e a síndrome da rubéola congênita (SRC) são doenças de
notificação compulsória no Brasil desde 1996. No entanto, a partir de 1999,
a vigilância epidemiológica integrada de sarampo e rubéola foi implementada,
com o intuito de atingir a meta de eliminação do sarampo no país. Assim,
essa vigilância tornou-se mais sensível com o monitoramento da circulação
do vírus da rubéola.
Para saber mais sobre o assunto, leia:
COSTA, F. A. et al. Síndrome da Rubéola Congênita: revisão de literatura.
Revista de Medicina e Saúde de Brasília, v. 2, n. 1, 2013. Disponível em:
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rmsbr/article/view/3895. Acesso
em: 26 nov. 2020.
A sífilis é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum, geralmente
adquirida pelo contato sexual com outro indivíduo infectado. Ela é mais comum nas grandes cidades e
em indivíduos jovens e sexualmente ativos.
A sífilis congênita resulta da disseminação hematogênica transplacentária da mãe para o feto, sendo
um grave problema de saúde pública responsável por altos índices de morbimortalidade intrauterina.
49
Unidade I
O risco de infecção fetal é maior nas fases iniciais da sífilis materna não tratada, e o tratamento
adequado e precoce da mãe pode evitar a doença clínica no neonato, mas o neonato infectado, ao nascer,
pode ser normal do ponto de vista clínico. As manifestações clínicas que o neonato pode apresentar
incluem hepatoesplenomegalia, icterícia, déficit auditivo e arqueamento das tíbias.
Saiba mais
O Citomegalovírus (CMV) humano é causado pelo beta-herpes-vírus e pode ser transmitido pelo
contato interpessoal com fluidos corporais infectados (saliva, sangue, urina e secreções genitais).
A transmissão placentária pode ocorrer por infecção materna primária ou secundária (reativação viral
ou exposição a nova cepa do vírus). O feto pode ser gravemente acometido, surgindo sintomas de
icterícia, hepatoesplenomegalia, anomalias no SNC e diminuição do desenvolvimento fetal.
A infecção congênita pelo herpes-vírus pode ocorrer na fase intrauterina, durante o parto ou no
pós-parto, e o neonato poderá apresentar sintomas de infecção de pele, olhos e boca, infecção do
SNC, entre outros.
A transmissão materno-infantil do HIV pode ocorrer da mãe para o bebê pela sua exposição
durante o período gestacional, durante o parto ou pelo aleitamento, sendo necessário adotar medidas
preventivas, como o uso de antirretrovirais pela gestante e pelo neonato – é contraindicado o
aleitamento materno –, para diminuir a ocorrência da transmissão.
Como vocês devem lembrar, em novembro de 2015 ocorreu uma epidemia de bebês microcefálicos
no Brasil, o que foi atribuído à infecção congênita pelo Zika vírus, levantando a possibilidade dessa
infecção provocar diversas lesões neurológicas nos RN. Pouco se sabe ainda em relação à patogênese
da infecção pelo Zika vírus, mas acredita-se que o vírus se replica nas células dendríticas.
50
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Figura 43 – Microcefalia
51
Unidade I
Saiba mais
Para complementar seus estudos, leia os artigos a seguir:
OESER, C.; LADHANI, S. An update on Zika Virus and Congenital Zika
Syndrome. Paediatrics and Child Health, v. 29, n. 1, p. 34-37, 2018.
FRANÇA, G. V. et al. Congenital Zika virus syndrome in Brazil: a case
series of the first 1501 livebirths with complete investigation. The Lancet, v.
388, n. 10.047, p. 891-897, 2016.
Durante o período pós-natal, podem ser adquiridas lesões no SNC, algumas vezes relacionadas a
casos de violência, como aqueles em que a criança é vítima de maus-tratos (síndrome do bebê sacudido),
ou casos de afogamento, infecções por meningite bacteriana, intoxicação, entre outros.
Um quadro relativamente comum apresentado pelo bebê é a icterícia neonatal, uma vez que a
função hepática para conjugação e excreção da bilirrubina não amadurece completamente até cerca
de duas semanas de idade. Quase todo RN desenvolve uma hiperbilirrubinemia não conjugada leve
e transitória, porém esta pode ser exacerbada com a amamentação, devendo ser tratada para evitar
quadros de hepatite neonatal. O tratamento preconizado é a fototerapia.
Lembrete
A hiperbilirrubinemia do RN surge nos primeiros dias de vida,
sendo causada pelo acúmulo de bilirrubina no sangue, deixando a pele
amarelada (ictérico).
A PC não é uma doença de notificação compulsória, e, portanto, no Brasil, não temos dados
relacionados a sua incidência e prevalência. Em países desenvolvidos, considera-se uma prevalência
entre 1,5 e 2,5 casos por 1.000 nascidos vivos; já em países em desenvolvimento, como o Brasil, a
prevalência chega a 7 por 1.000 nascidos vivos. As condições de assistência neonatal podem ser
diretamente relacionadas à incidência de PC como causa pré-natal, e as condições socioeconômicas
às causas pós-natais.
Durante a anamnese, deve ser questionado a respeito de possíveis fatores de risco para PC. Durante
a avaliação física, o terapeuta deve procurar por sinais clínicos que levem à suspeita de PC, tais como:
persistência de reflexos primitivos que deveriam ter sido modulados durante o desenvolvimento infantil;
atraso na aquisição das etapas do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM); presença de movimentos
anormais; alterações do tônus muscular e ausência de reações de proteção e endireitamento.
52
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
O diagnóstico da PC será baseado na anamnese coletada com os cuidadores, na avaliação clínica, nas
manifestações motoras apresentadas e nos exames de imagem radiológica.
Nos casos mais severos, associados, por exemplo, a más-formações do SNC, como ocorre na
microcefalia, ou nos casos de prematuridade associada ao sofrimento fetal agudo, o diagnóstico pode
ser mais facilmente estabelecido ainda nos primeiros meses de vida do bebê.
Por outro lado, nos casos menos severos de acometimento do SNC, o diagnóstico da PC pode ser
mais tardio, uma vez que as manifestações clínicas podem demorar a ser observadas.
Devemos sempre considerar as queixas apresentadas pelos pais e cuidadores, pois eles são, na maioria
das vezes, os primeiros a perceberem alterações e atrasos no desenvolvimento motor. É frequente
ouvirmos relatos de mães que perceberam precocemente o atraso motor de seu filho, principalmente
por compará-lo com outras crianças ou com seus outros filhos.
O exame de ultrassonografia (USG) fetal é um exame não invasivo, de baixo custo, que contribui para
diagnosticar más-formações do SNC. Já a USG transfontanela pode ser solicitada em casos de investigação
de crescimento anormal do perímetro cefálico (microcefalia, macrocefalia, hidrocefalia). Trata-se de um
exame que não utiliza radiação ionizante, é menos invasivo, e o aparelho é de fácil manuseio e pode ser
levado até o neonato. Ao realizar o exame, o médico pode identificar más-formações do SNC, tais como
agenesias do corpo caloso, cistos aracnoideos, encefaloceles, lissencefalias, hidrocefalias, entre outras.
Observação
O exame de tomografia computadorizada (TC) do crânio pode detectar lesões encefálicas, aumento
do sistema ventricular, más-formações encefálicas e lesões de origem vascular.
O exame de ressonância nuclear magnética (RNM) consegue precisar melhor possíveis áreas de lesão
ou de má-formação, principalmente lesões corticais.
O EEG pode ser solicitado para a verificação de quadros de crises convulsivas, enquanto o exame de
audiometria do tronco cerebral (BERA) pode ser solicitado para verificar a integridade das vias auditivas.
Durante a anamnese, o examinador deve coletar os dados referentes à história da doença, seguindo
uma ordem cronológica e questionando desde o planejamento da gestação: se realizou acompanhamento
gestacional adequado, se teve abortos prévios (espontâneos ou induzidos) e/ou complicações que
possam ter ocorrido durante o período gestacional (infecções, traumas, doenças metabólicas etc.).
Em seguida, deve-se questionar a respeito de: trabalho de parto, tempo gestacional (prematuridade,
gestação a termo, gestação pós-termo), tipo de parto (cesárea, parto normal, uso de fórceps), tempo
de duração do trabalho de parto, nota do índice do Apgar no primeiro e quinto minutos, peso do bebê
ao nascimento e possíveis complicações perinatais – por exemplo, desconforto respiratório do neonato,
necessidade de intubação orotraqueal e crises convulsivas.
O índice de Apgar é uma escala desenvolvida pela médica norte-americana Virginia Apgar
que consiste na avaliação por um pediatra ou médico neonatologista de cinco sinais objetivos do
RN. Avalia-se o estado geral, e é realizado no primeiro e quinto minutos após o nascimento, sendo
considerados a atividade do bebê, a frequência cardíaca, a coloração cutânea, a frequência respiratória
e os reflexos do bebê.
E você, sabe qual foi o seu índice de Apgar ao nascimento? Veja o quadro a seguir para entender melhor.
Pontos 0 1 2
Frequência cardíaca Ausente < 100 por minuto > 100 por minuto
Respiração Ausente Fraca e irregular Choro forte
Tônus muscular Flácido Flexão de pernas e braços Movimento ativo
Coloração Cianótico ou pálido Cianose de extremidades Rosado
Irritabilidade reflexa Ausente Algum movimento Choro
Na interpretação dos scores do índice do Apgar, valores de 7 a 10 pontos indicam uma criança sadia
que, provavelmente, não apresentará sequelas futuras. Já o índice inferior a 7 pontos é um sinal de
alerta para possíveis alterações neurológicas.
54
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Deve-se também questionar quando os cuidadores perceberam possíveis alterações, quais foram
essas alterações e quais medidas foram tomadas – por exemplo, consultas médicas realizadas, exames
solicitados e procedimentos cirúrgicos.
Durante a coleta da história do paciente, é importante lembrar que a PC é um distúrbio motor não
progressivo, e, portanto, se for relatada uma piora progressiva do quadro apresentado, deve-se avaliar
se é uma patologia progressiva ou degenerativa. Existe um grande grupo de encefalopatias crônicas
progressivas, nas quais há uma piora motora e clínica do paciente. Um exemplo dessas patologias é a
doença de Pelizaeus-Merzbacher (PMD), que se manifesta nos primeiros meses de vida do bebê, com
quadro de hipotonia, e depois é progressivamente substituída por sinais de espasticidade, prejuízo
motor e cognitivo.
Saiba mais
Lembrete
Alguns sinais de alerta para a presença de lesão neurológica podem ser precocemente observados
pelo examinador. A seguir, serão apresentados alguns itens que devem ser avaliados para auxiliar o
diagnóstico de possíveis distúrbios neurológicos.
55
Unidade I
Serão avaliadas também a evolução e aquisição das etapas do desenvolvimento motor ou sinais de
lesão associada, que incluem quadros de estrabismo, irritabilidade, distúrbios do sono, pobre resposta
motora, entre outros.
A classificação da PC é realizada seguindo dois princípios, que são a área da lesão encefálica e a área
corporal acometida (topográfica). De acordo com a área da lesão encefálica, o PC pode ser espástico ou
piramidal, discinético ou extrapiramidal, atáxico, misto e, menos comum, tipo flácido ou hipotônico. Já
de acordo com a área corporal afetada, ele pode ser tetraparético, diparético, hemiparético e, em casos
menos comuns, utilizam-se os termos “triparético” e “monoparético”.
A seguir, serão apresentados os tipos de PC de acordo com a classificação pela área da lesão e pelo
acometimento corporal.
O PC espástico – mais antigamente chamado de piramidal – é, sem dúvidas, o tipo mais frequente.
Caracteriza-se pelo quadro de liberação piramidal, ou seja, lesões que afetam o neurônio motor superior
e levam ao quadro patológico de espasticidade, a qual é caracterizada por sinais clínicos de exacerbação
dos reflexos osteotendinosos, aumento do tônus muscular (hipertonia elástica ou espástica), clônus e
sinal de Babinski positivo (reflexo cutâneo plantar em extensão).
O grau da hipertonia muscular é avaliado por meio da escala de Ashworth modificada, a qual será
descrita no quadro seguir.
56
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
A PC discinética ou extrapiramidal ocorre nas lesões que afetam os núcleos da base (corpo estriado,
substância negra e núcleo subtalâmico), sendo caracterizada pela presença de movimentos involuntários,
que podem ser subdivididos em movimentos atetoides, coreicos ou distônicos.
Os movimentos atetoides estão presentes nas extremidades dos membros, são mais distais, lentos
e vermiformes (parecem movimentos de vermes se deslocando). Os movimentos coreicos são mais
proximais e ocorrem de forma rápida. Já os movimentos distônicos são movimentos em torção, que
levam a uma dificuldade em manter a postura. Sabe-se que lesões do núcleo caudado e do putâmen
provocam hipercinesia (coreoatetoide).
• Coreico: movimentos involuntários presentes nas áreas proximais dos membros, rápidos
(dificultam a execução do movimento voluntário).
• Distônico: movimentos atetoides mantidos, com posturas fixas, podem se modificar (parecem
movimentos em torção).
A PC atáxica ocorre nas lesões cerebelares, é uma das formas mais raras e pode acontecer, por exemplo,
em casos de hipoplasia do cerebelo (não desenvolvimento adequado do cerebelo). É caracterizada por
movimentos incoordenados durante o movimento voluntário, dismetria (incapacidade de alcançar
um objeto com precisão), tremor de intenção, marcha ebriosa (parece estar alcoolizada, apresentando
aumento da base de sustentação) e fala disártrica, chamada de fala escandida, que se caracteriza por
ser no início explosiva e, em seguida, lenta e fragmentada.
Já a PC mista seria a combinação das formas descritas anteriormente. Por exemplo: a criança
pode ser um PC espástico e apresentar um componente coreoatetoide ou ser um PC espástico com
componente atáxico. O termo “componente” significa a presença de outro sinal patológico, porém
menos predominante que o primeiro.
A PC flácida ou hipotônica tende a apresentar um prejuízo motor e cognitivo mais grave, e deve-se
excluir outras patologias que podem ser confundidas, tais como encefalopatias progressivas.
57
Unidade I
O termo “PC diparético” é utilizado quando o acometimento dos membros inferiores é maior do que
os membros superiores, porém estes também estão acometidos. Ou seja, a criança terá comprometimento
dos quatro membros, porém os membros inferiores terão um maior comprometimento do que os
membros superiores. Geralmente, esses pacientes apresentam controle de cervical e controle de tronco
razoável, o que lhes permitirá ter maior possibilidade de adquirir a marcha.
O termo “PC hemiparético” é utilizado quando o acometimento motor ocorre em apenas um hemicorpo,
e, geralmente, o paciente pode apresentar uma maior desatenção com o lado afetado do corpo.
Vamos observar o quadro a seguir para maior entendimento das características que
falamos anteriormente.
58
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Figura 44 – PC tetraparética
59
Unidade I
Figura 45 – PC diparética
Figura 46 – PC hemiparética
Devido à grande variedade de quadros clínicos na PC, tem sido utilizado um sistema para identificar
o comprometimento motor global, que é conhecido como Gross Motor Function Classification System
(GMFCS), um sistema de classificação da função motora grossa.
60
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
O GMFCS é baseado no movimento iniciado voluntariamente, com ênfase no sentar, nas transferências
e na mobilidade. Trata-se de um sistema padronizado para diferenciar os tipos de PC por níveis de
mobilidade funcional. Pode ser classificado em cinco níveis, sendo o nível I aquele em que o paciente
apresenta mínima ou nenhuma disfunção com respeito à mobilidade comunitária; e o nível V em que o
paciente é totalmente dependente e precisa de assistência para a mobilidade.
61
Unidade I
Os distúrbios associados à PC podem ser, como vimos, sensoriais, perceptivos, de linguagem, comportamentais
e cognitivos. A equipe de reabilitação deve avaliar a presença desses distúrbios associados.
As crianças com PC podem apresentar distúrbios oftalmológicos com maior frequência e déficits
visuais de origem cerebral devido a lesões no córtex visual ou alterações decorrentes de processos de
infecção congênita, tais como na toxoplasmose e na rubéola. Devemos considerar que a integridade do
sistema visual é fundamental para o desenvolvimento motor e cognitivo da criança.
Além disso, crianças com PC podem apresentar quadro de sialorreia (incapacidade de deglutir a
saliva), anteriorização da língua, disfagia orofaríngea e refluxo gastroesofágico, levando à desnutrição,
principalmente nos casos de PC tetraparética, uma vez que a ausência do controle cefálico dificulta a
capacidade de deglutição, interferindo de forma negativa no desenvolvimento dessas crianças. Muitas
vezes, torna-se necessário o uso de alimentação parenteral ou de gastrostomia (GTT).
Observação
62
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Uma das complicações mais recorrentes e de grande gravidade são as pneumonias de repetição,
principalmente na PC tetraparética. Isso pode ocorrer, por exemplo, nos casos de refluxo gastroesofágico,
disfagia, movimentação inadequada do bolo alimentar, com movimento de anteriorização da língua,
associado ao controle de cabeça deficitário. Esses quadros podem levar a internações recorrentes e ao
risco aumentado de óbito.
As alterações cognitivas, incluindo a deficiência intelectual, podem limitar e até impedir a evolução
no âmbito educacional e social da criança. Torna-se necessário o acompanhamento escolar por uma
equipe especializada e que seja responsável pelas adequações desde o ambiente físico (cadeira, mesa,
parapodium, rampas) até a inclusão de fato do PC.
Nos membros inferiores, há uma alta incidência de subluxação ou luxação de quadril, de causa
multifatorial, o que pode ser um fator contraindicativo para a aquisição da postura ortostática,
dependendo do grau da lesão. A seguir, abordaremos especificamente os possíveis fatores agravantes
para o aparecimento da luxação de quadril.
63
Unidade I
A hipertonia dos músculos adutores do quadril, associada à permanência da postura sentada (maior
flexão do quadril, com anteversão do colo femural), poderá também favorecer à luxação. Portanto, há
uma maior incidência de subluxação do quadril nos pacientes não deambuladores, principalmente nos
tetraparéticos, seguidos pelo diparéticos. A figura a seguir ilustra o quadro de luxação de quadril na PC.
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
movimento de forma lenta para avaliar a amplitude do movimento; em seguida, realiza-se o movimento
de forma rápida para verificar se existe hipertonia elástica dos músculos adutores do quadril e se existe
simetria entre os dois lados.
A)
B)
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
A)
B)
67
Unidade I
A seguir, estão elencados os testes ortopédicos comumente utilizados para a avalição de encurtamento
muscular ou presença de hipertonia elástica.
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
4 ABORDAGENS ASSOCIADAS À PC
A avaliação deve começar pela anamnese completa, prestando-se atenção a dados de antecedentes
familiares, detalhes relativos à gestação (possíveis fatores de risco para PC), complicações relativas ao
parto, condição do bebê ao nascimento, análise de exames complementares e evolução da criança até o
presente momento (incluindo avaliações médicas prévias, tratamentos realizados e cirurgias).
O fisioterapeuta deve, sempre que possível, iniciar a avalição em um ambiente calmo e tranquilo.
Deve sempre considerar que a criança com PC será encaminhada para o serviço de reabilitação em idades
muito precoces e que os cuidadores estão muitas vezes ansiosos e receosos com o que está por vir.
Outro ponto a ser destacado é que, muitas vezes, o bebê ou a criança não aceitam ficar separados de
seus cuidadores e acabam tendo crises de choro ou de não aceitação do terapeuta. Em primeiro lugar,
deve-se ganhar a confiança tanto do paciente quanto de seus cuidadores.
Antes de retirar a criança do colo dos cuidadores, deve-se utilizar recursos lúdicos (de preferência
sonoros e luminosos) que chamem a atenção da criança e facilitem a interação terapeuta-paciente.
Durante as primeiras sessões, é aconselhável que o cuidador permaneça na sala de atendimento, para
que a criança se sinta mais confiante e segura.
O fisioterapeuta deve brincar com a criança, usar sua imaginação para distraí-la e, ao mesmo tempo,
entretê-la durante a terapia, evitando torná-la monótona e chata. Os brinquedos devem ser adequados
à faixa etária da criança e estar de acordo com a capacidade funcional por ela apresentada.
Aos poucos, solicita-se aos cuidadores que se retirem da sala de atendimento por curtos períodos,
para que seja treinado esse desapego tanto do paciente quanto do cuidador.
69
Unidade I
Muitos dados coletados durante a avaliação do fisioterapeuta são obtidos através da observação do
comportamento motor da criança. Deve-se observar com atenção o que ela é capaz de realizar sozinha,
se necessita de algum auxílio e qual a possibilidade de ela conseguir realizá-lo de forma independente.
Para isso, o terapeuta deve observar se a criança é capaz de realizar trocas posturais baixas (rolar, sentar
com e sem apoio e adotar a postura de quatro apoios ou gato) e altas (ajoelhada, semiajoelhada, ortostase
e marcha), se apresenta alinhamento corporal adequado e ajustes posturais adequados para a idade.
Observa-se também a presença de movimentos atípicos ou anormais, tais como alteração de tônus
muscular, presença de movimentos involuntários ou incoordenados; e se há reflexos primitivos, se estes
são compatíveis com a idade da criança ou se já deveriam ter sido modulados, tornando-se patológicos.
No quadro a seguir, são propostos os itens que devem ser observados e analisados pelo fisioterapeuta
durante a avaliação motora da PC.
Exemplo de aplicação
Podemos diagnosticá-la como um PC tetraparético espástico, uma vez que aos 2 anos de idade ela
já deveria ter marcha independente e ter adquirido total controle postural e espástico devido à presença
da hipertonia elástica nos músculos dos membros superiores e inferiores.
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Os medicamentos orais podem influir no tônus muscular pela ação no SNC, sendo os mais utilizados
o baclofeno, o tizanidina, o dantrolene e o diazepam.
O baclofeno é um análogo do neurotransmissor GABA, que leva a uma inibição dos reflexos
medulares, porém é mais utilizado em lesados medulares. Apresenta como efeito colateral o risco de
sedação excessiva, alucinação e alteração hepática.
O diazepam age nos receptores GABA, com ação principalmente supraespinhal (córtex cerebral,
tálamo, núcleos da base, cerebelo, formação reticular do tronco) e na medula espinhal. Como efeitos
colaterais, pode causar sedação e alteração hepática e sanguínea.
O mecanismo de ação da toxina botulínica ocorre devido a uma denervação química específica que
leva ao impedimento da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular. Os alvos moleculares da ação
da toxina botulínica são as proteínas SARE e SNAP25, que estão envolvidas na fusão de vesículas contendo
neurotransmissores com a membrana plasmática. Ao degradar essas proteínas, a toxina botulínica impede que
a acetilcolina seja liberada nas placas motoras, e, portanto, não ocorre contração do grupo muscular afetado.
A toxina botulínica inativa os terminais colinérgicos dos nervos periféricos, bloqueando a liberação
da acetilcolina na terminação pré-sináptica e impedindo sua liberação na fenda sináptica. Por
isso, não ocorre a despolarização do terminal pós-sináptico nem a contração muscular (o músculo
permanece em repouso).
Essa inativação se dá em quatro fases: ocorre a ligação da toxina botulínica aos receptores colinérgicos na
superfície pré-sináptica; em seguida, a absorção da toxina botulínica pelas células que contêm vesículas de
71
Unidade I
acetilcolina; a toxina atravessa a membrana da vesícula de acetilcolina e atinge o citoplasma da célula; e, por
fim, por meio de proteólise, o mecanismo de liberação da acetilcolina é inibido.
Durante a avaliação clínica, deve-se identificar o padrão da disfunção motora, avaliando quais
grupos musculares encontram-se espásticos, qual a habilidade do paciente em controlar esses músculos
e quais os riscos para eventuais encurtamentos e deformidades que podem prejudicar o movimento.
Lembrete
72
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Saiba mais
O uso do fenol para a espasticidade pode ser indicado na neurólise de nervos motores, porém há
o risco de afetar a parte sensitiva do nervo periférico, causando um quadro de parestesia dolorosa.
Quando o fenol é aplicado, nota-se um relaxamento muscular praticamente instantâneo, mas o risco de
causar alteração sensorial acaba, muitas vezes, inviabilizando seu uso, sendo mais indicada pela equipe
médica a aplicação da toxina botulínica.
O uso do bloqueio nervoso periférico poderá ser indicado quando a hipertonia muscular interferir
nas atividades de vida diária do paciente, quando a resposta aos fármacos orais não for suficiente e
quando houver dúvidas a respeito de encaminhar ou não o paciente para cirurgia. Caso o membro já
apresente deformidades ósseas, o uso do bloqueio será contraindicado.
Após a aplicação do bloqueio nervoso periférico, as terapias deverão ser reforçadas, e deverão ser
prescritas, quando necessárias, órteses de posicionamento para melhorar os ganhos em decorrência da
aplicação do bloqueio periférico.
Para que o tratamento de reabilitação seja o mais adequado possível, deve-se considerar alguns
fatores que podem influenciar as terapias e a recuperação funcional do paciente.
73
Unidade I
A avaliação da marcha na PC deve ser realizada para verificar a necessidade de dispositivos que
possam auxiliar na deambulação desses pacientes. Sabe-se que crianças que conseguem adquirir a
postura sentada até os 3 anos de idade terão grande possibilidade de adquirir a marcha, devido ao
controle postural do tronco. Por outro lado, quanto maior o acometimento motor do paciente, menor
será sua chance de deambular.
A criança com PC, principalmente nos casos de tetraparesia espástica, tende a apresentar um padrão
flexor dos membros superiores, chamado de postura em castiçal (elevação dos ombros, com adução e
retração das escápulas, flexão dos cotovelos, punhos e dedos). Na postura de castiçal, ao ser colocada
em decúbito ventral, torna-se impossível a criança realizar a extensão da cervical, uma vez que ela não
consegue apoiar os antebraços e abaixar a cintura escapular. Portanto, o fisioterapeuta deverá alinhar a
região escapular, permitindo a descida dos ombros, favorecendo a extensão cervical.
Também é necessário permitir o alinhamento dos membros superiores, ajudando o paciente a levar
as mãos à linha média e as mãos à boca, por exemplo. Se ele apresentar a persistência do RTCA ao rodar
a cabeça para um dos lados, haverá a extensão do membro superior e inferior do mesmo lado e a flexão
do membro superior e inferior do outro lado, impossibilitando que ocorra um movimento de forma
simétrica. Para tanto, o terapeuta deverá treinar a simetria na execução de determinado movimento e a
transferência adequada do peso corporal.
Cabe ao terapeuta ensinar aos cuidadores como posicionar a criança de forma confortável e
adequada em decúbito ventral (com o devido cuidado nos casos de crianças com uso de traqueostomia
ou gastrostomia), decúbito lateral e na postura sentada com ou sem apoio. É possível confeccionar
uma calça de posicionamento, a qual pode auxiliar no posicionamento da criança ou uso de cunhas de
espuma que facilitem o posicionamento em decúbito ventral, favorecendo a transferência do peso para
o tronco e estimulando, assim, o controle de cabeça.
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Na postura sentada (sedestação), deverá ser estimulado o controle de tronco, com base de apoio
adequada. Veja se o apoio ocorre na região isquiática ou com apoio sacral – se a criança ficar sentada
com apoio sacral, a tendência é que haja uma maior cifose torácica, o que dificultará o controle do
tronco e o alcance funcional, além de favorecer a hipertonia extensora nos membros inferiores nos
casos de PC espásticos.
75
Unidade I
• Sentado: evitar sentar em sacro, o que pode favorecer o aumento da cifose torácica, e estimular
o controle do tronco superior e inferior, retirando os apoios aos poucos.
O terapeuta deverá estimular a realização de trocas posturais (rolar, sentar adotar postura de quatro
apoios, engatinhar, ajoelhar, semiajoelhar, ortostase e marcha) de acordo com as possibilidades do
paciente. Se a criança é incapaz de adotar a postura sentada sem apoio, possivelmente não estará apta
para deambular sem auxílio; por outro lado, se não for estimulado o ortostatismo, poderá existir um
risco maior para alterações do quadril ou alteração do crescimento ósseo, caso não seja feita a descarga
de peso nos membros inferiores (efeito piezoelétrico).
Deve-se, portanto, priorizar a aquisição das posturas baixas (rolar, sentar, gato) nas fases iniciais
do tratamento, favorecendo, assim, o adequado controle de cabeça e do tronco. Isso tornará possível a
aquisição das posturas mais altas (ajoelhada, semiajoelhada, ortostase e marcha).
Deve-se avaliar o que o paciente é capaz de realizar de forma independente, se necessita de auxílio
ou se é dependente para realizar a troca postural. O terapeuta deve estimular o paciente a realizar a
troca do modo mais independente possível e, quando auxiliar, utilizar pontos-chave (cintura escapular,
cintura pélvica, fossa poplítea), favorecendo o mínimo auxílio durante a troca postural.
O termo “equilíbrio postural” refere-se à habilidade de manter o centro de massa do corpo, dentro
dos limites de estabilidade, por meio da inter-relação das forças da gravidade e dos músculos e das
forças inerciais. Pode-se dizer que a tarefa básica do equilíbrio é a manutenção da estabilidade corporal
tanto em condição estática quanto dinâmica.
Na PC, tanto o controle postural quanto o equilíbrio postural podem sofrer interferências devido a
alterações do tônus muscular ou à presença dos movimentos involuntários ou incoordenados, associados
ao atraso na aquisição das trocas posturais.
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Os déficits de equilíbrio são proeminentes no PC atáxico, sendo que a criança apresentará alterações
na base de sustentação. Por exemplo: em ortostase, terá um afastamento maior entre os pés (base de
apoio alargada) para ter maior estabilidade, apresentando oscilações do tronco em diversas direções.
No caso do PC espástico, o aumento do tônus poderá dificultar os ajustes posturais, pois a hipertonia
elástica impedirá a criança de ter o controle dos grupos agonistas e antagonistas de forma adequada.
Para evitar os encurtamentos musculares, o fisioterapeuta deve alongar os grupos musculares mais
afetados, além de usar recursos de eletroterapia para ativar determinados grupos musculares. Deve-se
também orientar aos cuidadores que realizem esses alongamentos em domicílio.
77
Unidade I
As órteses são dispositivos que auxiliam a função do membro afetado, promovendo a prevenção de
deformidades, o realinhamento e o posicionamento adequado.
Para evitar os encurtamentos musculares nos membros inferiores, deve ser feita a descarga de peso
adequada, evitando, assim, casos de má-formação acetabular e osteopenia. O terapeuta deve estimular
o uso precoce de equipamentos que favoreçam a aquisição da postura ortostática – a indicação do
parapodium deve ser feita de forma precoce, desde o primeiro ano de vida.
Figura 63 – Parapodium
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FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
As complicações respiratórias são uma causa importante de mortalidade na PC. Pelo menos dois
terços desses pacientes apresentam tosse e presença de roncos durante a alimentação, e alguns
podem apresentar apneia. Fatores relacionados que podem contribuir para o desenvolvimento de
doença pulmonar nesses pacientes incluem: aspiração pulmonar; infecções recorrentes, levando a
bronquiectasias e deformidades da coluna vertebral, principalmente cifoescoliose; e obstrução das vias
aéreas superiores (hipertrofia de amígdalas, adenoides, gengiva) e inferiores (asma).
Por último e em alguns casos, apenas o tratamento conservador não será o suficiente, sendo
necessária a realização de cirurgias.
A correção da flexão de quadril, por exemplo, pode ser realizada pela tenotomia intrapélvica do
tendão do músculo psoas, que é seccionado na altura do osso ilíaco, de 4 cm a 5 cm acima do ligamento
inguinal, mantendo íntegro o ventre muscular.
A correção da adução dos quadris, quando o paciente apresenta, por exemplo, marcha em tesoura,
é a tenotomia dos músculos adutores de quadril, o que pode impedir o agravamento de quadros de
luxação de quadril. Porém, o cirurgião ortopédico deve evitar casos de abdução exagerada do quadril
(hipercorreção).
A rotação interna do quadril é basicamente causada pela anteversão do colo femural, sendo que o
trocânter maior fica posteriorizado, levando à fraqueza muscular do glúteo médio. A correção cirúrgica
utilizada é a osteotomia femural derrotativa (derrotatória) intertrocantérica, associada, quando
necessário, à varização do colo femural.
A correção da flexão do joelho pode ser realizada através do alongamento fracionado do músculo
semimembranáceo e grácil, evitando o hiperalongamento muscular, que pode levar a um recurvo do joelho.
A correção do pé e tornozelo em equino, quando dinâmica, pode ser tratada com o auxílio de órtese
curta de polipropileno, que bloqueia o tornozelo em 90 graus, associado ou não ao bloqueio nervoso
periférico. O alongamento do tendão calcâneo tem sido cada vez menos indicado, usado só em casos
mais graves com risco de deformidade.
79
Unidade I
Na PC, o médico cirurgião deverá considerar que, além da perda de continuidade articular, existe um
desequilíbrio de forças que altera a dinâmica do quadril, ocasionando deformidades em flexão, adução
e rotação interna, causadas pelo desequilíbrio de forças dos adutores, psoas e isquiotibiais mediais, que
tendem a levar o quadril a uma situação de luxação ou subluxação.
Saiba mais
80
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Resumo
81
Unidade I
82
FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA
Exercícios
Questão 1. (Enade 2016) Em consulta de avaliação fisioterapêutica a uma criança de três anos de
idade, com diagnóstico de paralisia cerebral e tetraparesia espástica, o fisioterapeuta observou padrão
flexor em membros inferiores e superiores, incapacidade de permanência em sedestação sem apoio e
ausência de controle cervical e tronco.
Com base nesse quadro clínico, avalie as afirmativas, em relação aos equipamentos assistivos
indicados para a criança.
III – A órtese extensora de lona para membros inferiores e superiores auxilia o controle e/ou prevenção
de deformidades.
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.
Análise da questão
83
Unidade I
Para evitar a ocorrência de tais deformidades, o fisioterapeuta deve orientar os pais sobre a importância
do uso precoce, pela criança, de equipamentos auxiliares. Os equipamentos auxiliares incluem:
• a cadeira de rodas adaptada, que apresenta apoio cervical e suporte para o tronco, de modo a
prevenir a escoliose e outras deformidades;
• as órteses rígidas tornozelo-pé, que mantêm a articulação do tornozelo e o pé posicionados em
ângulo de 90 graus, de modo a prevenir a deformidade em equino;
• as órteses extensoras de lona, que mantêm os membros inferiores e superiores totalmente
estendidos durante os momentos de estimulação motora.
Questão 2. O neonato apresenta, de maneira predominante, tônus flexor. Ele não é capaz de se
adaptar às mudanças de postura e não apresenta reações de equilíbrio ou de proteção, mas já apresenta
uma série de reações e de reflexos primitivos. Em relação à avaliação desses reflexos, leia as afirmativas
e assinale a alternativa correta.
II – A compressão da sola de um dos pés do neonato contra a base de apoio, quando ele é sustentado
em pé pelas axilas e mantido verticalmente em relação ao solo, com o tronco inclinado para frente,
deve resultar na manutenção do repouso dos membros inferiores, pois a criança somente desenvolve o
reflexo de marcha automática ao se aproximar do primeiro ano de idade.
III – O reflexo tônico cervical assimétrico desenvolve-se ao final do primeiro mês de idade. Sua
persistência por mais de quatro meses pode levar à dificuldade de se realizar trocas posturais, tais como
o rolar e o sentar, e ao desenvolvimento de assimetria postural e escoliose.
IV – A ausência bilateral do reflexo de Moro, que se refere aos movimentos da boca e dos braços do
neonato em resposta à retirada do apoio da cabeça, sugere danos no sistema nervoso central.
A) I e II.
B) II e III.
C) III e IV.
D) I e III.
E) II e IV.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: além dos reflexos de sucção, de deglutição, de mordida e de vômito, o neonato também
deve apresentar o reflexo de busca ou procura: ao estimular um dos cantos da boca do neonato, ele vira
o rosto na direção do estímulo, e geralmente ocorre o movimento de sucção em seguida. O reflexo de
busca, portanto, está relacionado com a procura do alimento (no caso, o peito materno) pelo neonato.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o reflexo de marcha automática deve estar presente logo nas primeiras horas de vida.
Para verificá-lo, o neonato é sustentado em pé pelas axilas, mantido verticalmente em relação ao solo,
com o tronco inclinado para frente, e, então, o examinador realiza a compressão da sola de um dos
pés do neonato contra a base de apoio. A perna cujo pé recebeu a compressão se flexiona, enquanto
ocorre a extensão da outra perna. Se o examinador realizar esse movimento de forma alternada, dará
a impressão de uma marcha automática, daí o nome do reflexo. A persistência do reflexo de marcha
automática além do terceiro mês de vida é uma indicação precoce de lesão neurológica, e a sua ausência
desde as primeiras horas de vida é um sinal precoce de encefalopatia grave.
Justificativa: o reflexo tônico cervical assimétrico, que se desenvolve durante o primeiro mês de
idade, consiste no seguinte: ao rodar a cabeça do bebê para a direita, os membros da direita estendem‑se
e os da esquerda sofrem flexão, e vice-versa, o que lembra o movimento do esgrimista. A persistência
do reflexo tônico cervical assimétrico além do quarto mês de vida leva à dificuldade de adquirir trocas
posturais, tais como o rolar e o sentar. Além disso, dependendo da intensidade da persistência desse
reflexo, pode se desenvolver grande assimetria postural, que resulta em variados graus de escoliose.
IV – Afirmativa correta.
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