Rodrigues e Veloso, 2013 RPOgrt
Rodrigues e Veloso, 2013 RPOgrt
Rodrigues e Veloso, 2013 RPOgrt
293-308
ISSN 1984-6657 • http://submission-pepsic.scielo.br/index.php/rpot/index
Resumo Inovar é, hoje, um imperativo para as organizações. Desse modo, é importante promover a criatividade
dos colaboradores e apoiar o processo que a transforma em inovação. O objetivo desta pesquisa foi com-
preender como a Gestão de Recursos Humanos (GRH) pode promover um ambiente de trabalho propício à cria-
tividade, na perspectiva dos colaboradores. Para isso, realizou-se um estudo de caso exploratório em uma empresa
portuguesa de médio porte da área das Tecnologias de Informação (TI). Recorreu-se a diferentes fontes de análise,
como observação participante, documentos organizacionais e entrevistas. Os dados resultantes dessas fontes foram
analisados e organizados com ajuda da template analysis. Os resultados revelaram que, para as chefias e colaborador
entrevistados, a criatividade na organização pode ser promovida por meio da existência de suporte para as novas
ideias, tolerância ao erro, autonomia, liberdade para que os colaboradores exerçam suas funções e debates para a
partilha de ideias. A GRH pode criar condições, por meio das suas práticas (p. ex., formação, avaliação de desem-
penho, recrutamento e seleção), para a promoção da criatividade e inovação organizacional.
Palavras-chave
Criatividade, Inovação, Gestão de Recursos Humanos.
Abstract Innovation is a key factor to organizations’ competitiveness. To achieve that, it is important to promote
creativity among employees and support the transformational process from creativity to innovation. The
main objective of this research was to understand how Human Resource Management (HRM) can promote a
work environment favorable to creativity, from the perspective of the employees. A case study was carried out on
a medium-sized Portuguese information technology (IT) enterprise. Various research techniques were used to
collect data, including observation, document analysis, and interviews. Data were organized and analyzed using
a template analysis. The results revealed that, for the respondents (managers and employee), creativity within the
organization can be promoted by the existence of support for new ideas, error tolerance, autonomy, freedom for
employees to perform their tasks, and discussions to share ideas. HRM can create conditions, through their prac-
tices (e.g., training, performance evaluation, recruitment, and selection), to promote organizational creativity and
innovation.
Keywords
Creativity, Innovation, Human Resources Management.
1 As autoras gostariam de agradecer a Isabel Silva e Jorge Gomes pelos seus comentários a uma versão anterior deste artigo.
2 Aluna PhD em Psicologia Organizacional, Escola de Psicologia da Universidade do Minho. Endereço para correspondencia: Escola de
Psicologia (EPSI), Campus de Gualtar, 4710-057 Braga – Portugal. E-mail: [email protected]. Telefone: +351.253604220;
Fax: 253604224
O
mercado econômico presencia o aumento da competitividade e o avanço da tecnolo-
gia. Acredita-se que a sobrevivência das organizações passe pela sua flexibilidade de
ajuste a uma realidade cada vez mais competitiva e pela sua capacidade de inovação
(Zanko, Badham, Couchman & Schubert, 2008). Segundo Lin (2011), as organizações de
sucesso criam vantagens competitivas, transformando a criatividade dos colaboradores em
inovação organizacional.
Para inovar, é necessário que os colaboradores coloquem a sua criatividade ao serviço da
organização. O objetivo deste estudo foi compreender de que forma a Gestão de Recursos
Humanos (GRH) de uma empresa portuguesa de médio porte promove um ambiente de tra-
balho favorável à criatividade.
O presente artigo é integrado por quatro seções: revisão da literatura sobre criatividade e
inovação e sua relação com a GRH; apresentação do estudo de caso; análise e discussão dos
resultados; e principais conclusões e implicações futuras.
DA CRIATIVIDADE À INOVAÇÃO
No âmbito organizacional, não existe acordo quanto ao construto de criatividade, mas
diversos autores consideram-na como a produção de ideias novas e úteis em uma determinada
área (Amabile, 1997).
Dada a complementaridade dos conceitos, criatividade e inovação surgem, muitas vezes, as-
sociadas, embora sejam concepções distintas. A inovação consiste na implementação eficaz das
ideias que provêm da criatividade (Amabile, 1997). Na revisão da literatura de Jiménez-Jiménez
e Sanz-Vale (2008, p. 1.209), com base em Damanpour, Szabat e Evan (1989), inovação é
definida como a “adoção de uma ideia ou comportamento, seja um sistema, política, programa,
processo, produto ou serviço, que é novo para a organização”. Para Marks e Huzzard (2008) e
Bassett-Jones (2005), a criatividade é uma condição necessária para que a inovação ocorra com
sucesso, exigindo a existência de um clima organizacional favorável ao seu desenvolvimento.
De fato, o clima parece ser um fator importante para o aparecimento de novas ideias.
Ekvall (1996) enumera características do ambiente de trabalho que favorecem o clima criativo:
desafio/motivação, dinamismo, liberdade para os colaboradores executarem as suas funções,
confiança/abertura para as pessoas expressarem opiniões, tempo disponível para pensar em
novas ideias, sentido de humor, suporte para novas ideias, debates (reuniões) e risco.
Para Amabile (1997), o ambiente de trabalho também é importante para a criatividade,
como evidencia no Modelo Componencial da Criatividade e Inovação Organizacional, se-
gundo o qual fatores individuais e ambientais interagem entre si e têm impacto na criatividade
e inovação. Os fatores individuais integram a expertise (conhecimento num dado domínio), o
pensamento criativo (p. ex., estilo cognitivo, combinação de ideias preexistentes para formar
novas soluções) e a motivação intrínseca (envolvimento afetivo na tarefa, independentemente
de recompensas externas). Como fatores ambientais, destaca-se a existência de recursos que
possibilitem a inovação; as práticas de gestão, como o suporte de colegas/chefias, ou desafio no
trabalho; e a motivação organizacional para apoiar a criatividade e inovação. O modelo pres-
supõe que as características do ambiente de trabalho têm impacto na criatividade individual
do colaborador/grupo.
As perspectivas de Ekvall (1996) e Amabile (1997) parecem ser complementares (Moultrie
& Young, 2009). Segundo Amabile (1997), todas as pessoas podem, de alguma forma, ser cria-
tivas, mas para que isso ocorra é importante a existência de um meio que sustente a criatividade.
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GRH, Criatividade e Inovação
estejam dispostos a mudar e que tenham as competências necessárias para concretizá-la, caben-
do à GRH desenvolver práticas promotoras da geração de novas ideias (Laursen & Foss, 2003).
Segundo Becker e Gerhart (1996), as pessoas e a sua gestão constituem vantagens competitivas
para as organizações, pelo valor que os seus conhecimentos, competências e comportamentos
podem ter no desempenho organizacional (Jiménez-Jiménez & Sanz-Valle, 2008).
A GRH pode ser entendida como um sistema de práticas dirigidas à gestão do recurso pes-
soa, e inclui atividades como recrutamento e seleção, descrição e análise de funções, formação
e desenvolvimento, gestão de carreiras, gestão e avaliação de desempenho, e compensação
(Pfeffer, 1998). Consiste na gestão das pessoas e do seu local de trabalho, com vista a al-
cançar vantagem competitiva, envolvendo os colaboradores e a estrutura de gestão (Sanders,
Moorkamp & Torka, Groeneveld & Groeneveld, 2010). As organizações de sucesso gerem de
maneira eficaz os seus recursos humanos, e a utilização de uma boa estratégia de GRH reflete-
se no desempenho organizacional, ou seja, na produtividade (Schuler & Jackson, 1997).
A relação entre inovação e GRH tem sido estudada (De Leede & Looise, 2005), dado o
papel da última na promoção da criatividade e da inovação organizacional (Perdomo-Ortiz,
González-Benito & Galende, 2009). Segundo Gupta e Singhal (1993), a GRH é um antece-
dente da inovação, pois a capacidade de uma empresa inovar está no fato de os colaboradores
colocarem as suas competências e a sua criatividade a serviço da organização.
Shipton, Fay, West, Patterson e Birdi (2005) verificaram que a gestão da performance, recru-
tamento e seleção, integração e formação profissional predizem a inovação nas organizações,
influenciando a criação, partilha e implementação do conhecimento. Outro estudo (Shipton,
West, Dawson, Birdi & Patterson, 2006) evidenciou que a formação profissional, o trabalho
em equipe e a avaliação de desempenho são preditores da inovação.
As organizações altamente inovadoras investem mais na formação profissional dos colabo-
radores (Lau & Ngo, 2004), o que lhes permite desenvolver conhecimentos e competências
necessários para a inovação (Beatty & Schneier, 1997).
Não obstante, a investigação sobre a relação entre criatividade e formação profissional
evidencia resultados incongruentes, o que também acontece com a associação entre criativi-
dade e avaliação de desempenho (Jiang, Wang & Zhao, 2012). Jiang et al. (2012) especulam
sobre a possibilidade de a avaliação reduzir a motivação intrínseca por ter um componente
monetário subjacente. Para Shipton et al. (2006), a avaliação permite que os colaboradores
identifiquem gaps entre os objetivos a alcançar e o seu desempenho, motivando-os a trabalhar
mais criativamente.
Jiang et al. (2012) encontraram uma relação positiva entre quatro práticas de GRH (tra-
balho em equipe, recrutamento e seleção, sistema de recompensas e análise e descrição de
funções) e a criatividade dos colaboradores. Quando as pessoas sentem que a organização
as valoriza e lhes proporciona tarefas interessantes, esforçam-se mais, gerando novas ideias;
quando trabalham em equipe, os indivíduos colaboram e partilham perspectivas, o que pode
levar à criatividade (Jiang et al., 2012).
Para Jiménez-Jiménez e Sanz-Valle (2005), a estratégia de inovação relaciona-se com a
compensação baseada em incentivos, encorajamento da participação dos colaboradores, uti-
lização de sistemas de avaliação de desempenho e existência de oportunidades internas de
carreira. As práticas de GRH que permitem a estabilidade dos colaboradores na organização,
onde podem correr riscos e participar nos processos de tomada de decisão que afetam o seu
trabalho, podem criar condições para o aparecimento de novas ideias (Jiménez-Jiménez &
Sanz-Valle, 2005).
Segundo Shipton et al. (2006), a inovação comporta duas fases: (1) a geração de ideias
criativas e (2) a implementação dessas ideias, que necessitam de um meio que as apoie. A
GRH tem responsabilidade em ambos os momentos, porque se certifica que as funções dos
colaboradores estão claras e que eles possuem as competências necessárias para o exercício das
atividades (Shipton et al., 2006).
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MÉTODO
Este estudo de caso realizou-se entre os meses de março e maio de 2012, em uma empresa
portuguesa de médio porte (IAPMEI, 2007), com 219 colaboradores à data do estudo, da área
das TI. A organização desenvolvia e comercializava soluções de gestão, destacando a inovação
como parte da sua visão e missão.
A empresa foi selecionada pelas seguintes características: premiada no âmbito da inovação
pela Associação Empresarial para a Inovação - COTEC Portugal (COTEC, 2010), existência
de um diretor de inovação (DI), localização geográfica e contato privilegiado com a organização.
A empresa integrava várias unidades organizacionais (Produção, Vendas e Desenvolvimento),
uma unidade com o Conselho de Administração e as Unidades de Prestação de Serviços (RH,
Administrativo-financeiro e Marketing). Dentro da direção havia uma pessoa responsável
pela inovação, um processo transversal a toda a organização, que coordenava um conjunto de
recursos integrados em outras unidades organizacionais.
Realizou-se um estudo de caso (Yin, 1994) e a estratégia de coleta de dados incluiu entre-
vistas, observação e análise de documentos organizacionais.
Participantes
Quatro pessoas foram entrevistadas, sendo três com formação de nível superior comple-
to e uma com o curso superior em andamento. A antiguidade laboral variou entre cinco e
doze anos. Os informantes-chave foram pessoas em posição de chefia (diretores de RH e
Inovação). Foi solicitada à diretora de RH a identificação de uma pessoa que fosse “criativa” na
organização, tendo sido indicado um colaborador da área Comercial. Pedimos ao diretor de
inovação que identificasse uma chefia intermediária, uma vez que esta categoria profissional
foi identificada como um obstáculo à inovação.
Instrumentos
No que concerne às entrevistas, recorreu-se a um roteiro exploratório, com questões ge-
rais: (1) Como se define criatividade e inovação?; (2) Por que o investimento em criatividade
organizacional?; (3) Como pode a GRH promover a criatividade?; (4) Como a organização
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GRH, Criatividade e Inovação
promove a criatividade dos colaboradores?; (5) Quais os processos que sustentam a criativida-
de/inovação na organização?
Foi construída uma grade de observação com os seguintes elementos: espaço geral das
instalações, luz e ruído, organização do espaço (open space, gabinetes para chefias, espaços
comuns, espaços e equipamentos de lazer e salas de reunião), comunicação (formal e infor-
mal, acessibilidade aos gabinetes das chefias/administração), informação (sobre inovação e da
organização, documentação escrita acessível), recursos materiais e humanos, movimento e
interação das pessoas (relações formais e informais). Subjacentes aos tópicos a observar estão as
perspectivas de Amabile (1997) e de Ekvall (1996), respectivamente, os recursos e motivação
organizacional e as dimensões do clima criativo brincadeira/humor e debates; e as de Alencar
e Bruno-Faria (1997), que consideram que um ambiente físico agradável (com luminosidade,
ventilação, mobiliário e espaços adequados) pode promover a criatividade.
Procedimento
O pedido de colaboração no estudo foi remetido por e-mail ao DRH. Os diretores foram
os primeiros entrevistados e seus dados (antiguidade laboral, nível de instrução/educação e
função) foram recolhidos. TABELA 1. Template inicial e final
As entrevistas foram rea-
lizadas na organização, em TEMPLATE INICIAL TEMPLATE FINAL
salas de reunião, garantin-
do o sigilo.
Foi solicitada a autoriza- 1. Criatividade e inovação na organização 1. Criatividade e inovação na organização
ção dos participantes para 1.1. Conceito de criatividade e inovação. 1.1. Conceitos:
a gravação das entrevistas 1.2. Crenças sobre criatividade/inovação. 1.1.1. Conceito de criatividade;
1.3. Promoção da criatividade e inovação: 1.1.2. Conceito de inovação;
(com duração aproximada 1.1.3. Passagem da criatividade à
de 1h30) e garantiu-se a 1.3.1. Papel do DI; inovação.
1.3.2.Papel do DRH. 1.2. Promoção da criatividade e inovação:
confidencialidade no tra-
1.2.1. Estratégias estruturais:
tamento dos dados. As en- 1.4. Impacto da criatividade e inovação. 1.2.1.1. Suporte para novas ideias e
trevistas foram transcritas tolerância ao erro;
1.2.1.2. Autonomia e liberdade;
integralmente. 1.2.1.3. Tempo para novas ideias;
Numa fase posterior, 1.2.1.4. Debates;
1.2.1.5. Relações
realizou-se a observação interdepartamentais;
e análise de documentos 1.2.1.6. Técnicas de criatividade.
internos (intranet, jornal 1.2.2. Estratégias de socialização.
interno e revistas), com o
1.3. Impacto da criatividade e inovação:
apoio de um dos técnicos 1.3.1 Impacto nas pessoas.
do DRH. Posteriormente, 1.4. Importância da criatividade e inovação na
organização.
o colaborador e a che- 1.5. Obstáculos:
fia intermediária foram 1.5.1. Internos;
entrevistados. 1.5.2. Externos.
1.6. Quem desenvolve:
1.6.1. DRH;
1.6.2. DI;
ANÁLISE E 1.6.3. Outras áreas.
DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS 2. Práticas de GRH 2. Práticas de GRH
2.1. Recrutamento e seleção;
Recorreu-se à template 2.2. Integração;
analysis (King, 1998) como 2.3. Gestão do desempenho;
2.4. Formação profissional;
método para analisar e or- 2.5. Gestão de carreiras;
ganizar os dados de acordo 2.6. Comunicação;
2.7 Trabalho em equipe.
com temas (ver tabela 1),
com o apoio do programa
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informático NVIVO8. Os dados são discutidos com recurso às informações das diversas fon-
tes de evidência e com pequenos trechos das entrevistas.
A template final, que evoluiu em função e ao longo da análise de dados (King, 1998), é
constituída por dois temas principais, “Criatividade e inovação na organização” e “Práticas de
GRH”, com seis e sete subtemas, respectivamente.
“(…) a inovação como processo resulta da criatividade, permite sistematizar os processos criativos
e torná-los em projetos efetivos” (Colaborador).
No que concerne à “Promoção da criatividade e inovação”, por meio das entrevistas, procu-
rou-se compreender de que forma a criatividade e inovação podem ser estimuladas na organi-
zação. Encontrou-se uma distinção entre estratégias estruturais (promovidas pela organização)
e estratégias de socialização, sobretudo sob a responsabilidade do DRH. Nas estratégias es-
truturais foi identificado suporte para novas ideias e tolerância ao erro, autonomia e liberdade,
tempo para novas ideias, debates, relações interdepartamentais e técnicas de criatividade.
No “Suporte para novas ideias e tolerância ao erro”, constatou-se que as novas ideias são
apoiadas e incentivadas por uma “plataforma de inovação”, em formato digital, e que é gerida
pelo DI, onde cada colaborador pode contribuir com novas ideias ao nível do produto, proces-
so, marketing (p. ex., crescimento em novos mercados) ou no âmbito organizacional (p. ex.,
acessar a informação relevante sobre a organização). As ideias geradas são trabalhadas pelo DI,
que procura encontrar um patrocinador interno para avaliar a sua viabilidade.
“(…) quando eu sinto que há pessoas com potencial para fazer alguma coisa na área da inovação
eu tento apoiá-las, a própria administração faz isso” (DI).
“(…) haver alguém que viesse dizer ‘não podemos avançar agora’, se não houver esse feedback a
pessoa dá a ideia e não sabe se alguém a lê (...) acho que houve pouco envolvimento com as pessoas
que tiveram a ideia” (Chefia).
De fato, a forma como as sugestões são tratadas e o feedback que as pessoas recebem é
importante para que surjam novas ideias (Alencar & Bruno-Faria, 1997). Assim, quando uma
sugestão é ignorada ou criticada negativamente, pode inibir a participação dos colaboradores.
Por esse motivo, é fundamental que se crie um clima de suporte, onde o erro seja permitido
e as novas ideias sejam encorajadas, num clima construtivo e positivo (Ekvall, 1996), como
explicou o colaborador entrevistado.
No mesmo sentido, a existência de suporte para a inovação está relacionada com a abertura
a novas ideias, a presença de canais de comunicação abertos, a recompensa e o reconhecimento
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GRH, Criatividade e Inovação
do trabalho criativo, bem como com uma avaliação justa do trabalho, mesmo quando este for
menos positivo (Amabile, 1997).
O clima criativo nas organizações também está associado com a autonomia e liberdade no
trabalho (Ekvall, 1996). Para Marks e Huzzard (2008), a autonomia no local de trabalho faz
com que os colaboradores contribuam com novas ideias. Na organização, as pessoas têm um
conjunto de objetivos a atingir, mas têm autonomia e liberdade para gerir o seu trabalho.
“(…) existe a liberdade dentro da organização para que qualquer pessoa se junte com outros colegas
e partilhe ideias, crie projetos novos (…) apesar de existir uma estrutura hierárquica definida, há
uma proximidade muito grande, uma partilha com as pessoas, o cargo é muitas vezes esquecido”
(Colaborador).
A forma como esta liberdade é obtida relaciona-se também com a gestão do tempo de
trabalho. Na organização, o horário de trabalho é flexível, havendo tempo para que os cola-
boradores pensem em novas ideias, condição que para alguns autores é favorável à criatividade
(Dul & Ceylan, 2011).
No passado, a organização tinha definido um momento, no final da semana de trabalho,
destinado à reflexão, que permitia pensar em novas ideias, prática que, apesar de formalmente
abandonada, subsiste ainda hoje.
“(…) cada diretor tem uma percentagem do seu tempo que pode e deve usar em inovação” (DI).
“(…) a pessoa tem que ter tempo para pensar (…) não sentir a pressão do tempo” (Colaborador).
“(…) sempre houve esse espaço, continua a existir com as reuniões, reuniões de departamentos, esses
momentos de pensamento coletivo” (Colaborador).
Constatou-se ainda, por intermédio da observação, que as portas das salas de reunião e
de alguns gabinetes estão frequentemente abertas, assim como o do RH. Essa disposição
parece facilitar a comunicação intra e interdepartamental, estimulando um clima de confiança
e receptividade. Pela exploração da intranet, verificou-se que os colaboradores têm acesso a um
conjunto de informações sobre diferentes departamentos. Existe ainda um reconhecimento de
que as relações interdepartamentais são importantes para partilhar novas ideias e conhecimen-
tos, como foi apurado nas entrevistas.
Essa relação entre departamentos é relevante para a criatividade como meio para a inovação,
pois promove a comunicação, essencial para o aparecimento de novas ideias (Amabile, 1997;
Alencar & Bruno-Faria, 1997). Um ambiente livre de barreiras entre os vários departamentos
pode facilitar a comunicação entre elementos que habitualmente não trabalham em conjunto,
impulsionando a partilha de ideias.
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“No fundo, isso faz sentir as pessoas úteis, (...) é uma forma de torna-las cooperantes, interessadas
naquilo que fazem e motivadas” (DI).
De fato, a motivação parece ser um dos fatores mais importantes para a criatividade,
principalmente a motivação intrínseca (Amabile, 1997). Espera-se que os colaboradores mo-
tivados para o trabalho apresentem ideias com mais facilidade, pois se envolvem mais com a
organização.
Todos os entrevistados consideraram que a Criatividade e a Inovação na organização são
elementos fundamentais pela vantagem competitiva e pela diferenciação que conferem às
empresas. Para Singh (2011), as organizações procuram, hoje, numa época de recessão econô-
mica, construir uma cultura para a inovação.
“(…) se determinada organização conseguir alinhar as suas competências e os seus ativos com as
necessidades do mercado para onde se dirige pode ter mais ou menos sucesso” (DI).
“A criatividade ajuda a resolver os problemas e, numa empresa que depende de apresentar coisas
novas, a criatividade é muito importante” (DRH).
“(…) há uma competitividade muito grande e não é suficiente nós sermos muito bons, é necessário
nos superarmos constantemente e isso passa por processos criativos” (Chefia).
“(…) são pessoas [chefias intermediárias] muito focadas nos objetivos, estão pressionadas por cima,
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pelas direções, e por baixo, pelos constrangimentos dos recursos (…) são pouco abertas a variações do
processo e a fazer de forma diferente”(DI).
Por este motivo, a organização promoveu uma ação de formação interna destinada às che-
fias intermediárias, com o intuito de discutir formas de colaboração entre as pessoas dessa
categoria profissional. A chefia entrevistada reconheceu a relevância desta formação e os be-
nefícios daí decorrentes.
“(...) a comunicação entre as chefias intermediárias tornava-se um pouco difícil, porque cada um
olha para o grupo que tem que gerir e depois tem dificuldade em integrar com as outras equipas
quando (...) o nosso trabalho é uma integração de todas as equipas, não conseguimos trabalhar
sozinhos” (Chefia).
Este exemplo evidencia o esforço que a organização faz para solucionar os obstáculos à
inovação.
Segundo Amabile (1997), a motivação organizacional para a inovação está relacionada com
a ausência de problemas políticos, crítica destrutiva e competição, bem como pela ausência de
forte controle da alta cúpula organizacional e de estruturas/procedimentos excessivamente for-
mais. A presença desses elementos pode destruir a criatividade, conjuntamente com a ausência
de tempo para pensar em novas ideias (Ekvall, 1996).
Outro obstáculo interno identificado foi a falta de iniciativa de alguns colaboradores.
Segundo a chefia intermediária, a sua equipe de trabalho não costuma contribuir com novas
ideias, apesar de existir um clima facilitador para que isso ocorra.
“(…) as pessoas não são capazes de fazer, (...) acham que não conseguem mudar as coisas” (Chefia).
“O processo de inovação nestas alturas [crise] é mais complicado, há uma pressão maior para a ino-
vação e há menos tempo (…). Há menos espaço para o risco, para o erro” (Colaborador).
“(…) quando estamos em épocas altas de economia em que os negócios correm bem, é muito difícil
reter os colaboradores (…) numa época má, as pessoas estão na empresa porque não têm mais para
onde ir, mesmo que não queiram estão lá” (Chefia).
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participantes reconhecer que o DRH deve contribuir para este processo, o DI não partilha
dessa perspectiva, a menos que se trate de estratégias de socialização.
2. Práticas de GRH
Todas as pessoas de uma organização têm um papel importante na criatividade, pois podem
contribuir com novas ideias ou ajudar os outros a fazê-lo (Shipton et al., 2006). A inovação
deve, assim, ser trabalhada por todos, exercendo a GRH um papel fundamental neste processo
(Perdomo-Ortiz et al., 2009).
Parece existir certa falta de reconhecimento da contribuição da GRH para o processo
criativo por parte do DI, o que poderá levar a uma ausência de articulação entre o DRH e o
DI, e condicionar a promoção da criatividade na empresa. Contudo, a diretora de RH e o co-
laborador consideram que a GRH pode exercer um importante papel na promoção de práticas
facilitadoras da criatividade e inovação, como referido por Laursen e Foss (2003).
“Eu acho que esses processos [de GRH] devem ser facilitadores da inovação (…), desde a gestão dos
processos de recrutamento até todos os processos relacionados com a avaliação, que tem a ver com o
conhecimento das pessoas, com a formação, são também catalisadores da inovação” (Colaborador).
“(…) deve ser uma questão de cultura da organização, começar a estimular desde que as pessoas
entram na organização, (…) isso entra também nos processos relacionados com a gestão de pessoas”
(Colaborador).
“No DRH já tivemos iniciativas promotoras da criatividade ao nível da formação, onde usamos a
técnica dos chapéus do De Bono” (DRH).
“Uma das nossas preocupações foi procurar candidatos com perfis diferentes, de nacionalidades
diferentes, com percursos de vida diferentes” (DRH).
A organização procura colaboradores dinâmicos, com bom nível de formação e com boa
capacidade de adaptação. Para a diretora de RH, essas características são importantes para que
as pessoas progridam internamente na carreira.
As organizações podem selecionar pessoas de acordo com os seus objetivos organizacio-
nais, com a sua estratégia de inovação (Gómez-Mejía, Balkin & Cardy, 2004). Se os objetivos
forem orientados para a inovação, será importante procurar colaboradores com características
criativas (opinião partilhada pelo colaborador entrevistado). É importante ressaltar que quan-
do citamos pessoas criativas, referimo-nos à little c, a criatividade quotidiana, que auxilia a
encontrar novas soluções para os problemas do dia a dia (diferente da alta criatividade, big C,
que está presente em grandes artistas, por exemplo, e tem impacto elevado nas outras pessoas)
(Hennessey & Amabile, 2010), mais relevante para as organizações.
Verificou-se que na integração, a experiência e as competências dos novos colaboradores
são privilegiadas. Esse processo é valorizado na organização que, há alguns anos, tinha a
figura do “padrinho de integração”, um colega que auxiliava a integração do novo colaborador.
Como explicou a diretora de RH, uma integração inadequada pode ter consequências negati-
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GRH, Criatividade e Inovação
vas, pessoal e profissionalmente. Por isso, existe uma preocupação em colocar os colaboradores
em funções para as quais têm uma maior competência. Assim, contribui-se para a satisfação
das pessoas, motivando-as para o trabalho, pois fazem o que gostam e o que efetivamente
sabem. Quando a integração afetiva não é adequada, o novo colaborador pode apresentar
dificuldades no relacionamento interpessoal, o que dificulta a comunicação e pode influenciar
negativamente a criatividade.
A investigação sobre como a integração promove a inovação não é clara (Shipton et al.,
2006). Para Schneider, Goldstein e Smith (1995), as organizações tendem a recrutar e reter
pessoas com características semelhantes às dos RH internos, o que pode pressionar os novos
colaboradores ao conformismo em relação às práticas já existentes. Uma integração eficaz pode
levar as pessoas a perceber as competências que precisam desenvolver e adquirir ao nível da
inovação (Shipton et al., 2006). Um processo de integração eficaz deve promover o desenvol-
vimento de um plano que permita adquirir essas competências (Harrison & Kessels, 2004).
É no âmbito da gestão do desempenho que os entrevistados acreditam que a GRH poderá
dar maior contribuição, por meio do estabelecimento de objetivos que promovam a inovação.
Na organização, como pudemos constatar por meio dos documentos organizacionais, mais
especificamente pela análise dos objetivos individuais de algumas chefias, existem funções que
abrangem objetivos relacionados com a inovação, como “desenvolver uma nova plataforma” ou
“desenvolver um novo processo”.
Shipton et al. (2006), partem do pressuposto de que a avaliação permite ao colaborador
perceber lacunas entre o desempenho desejável e aquele que efetivamente possui, o que pode
motivá-lo para trabalhar de forma mais inovadora.
No que concerne à formação profissional, na organização desenvolvem-se diversas ações
formativas e workshops, cujo objetivo é “promover a cultura de inovação” (DI).
“(…) as formações que as pessoas têm são uma forma de criar condições para a inovação” (Cola-
borador).
Nesse âmbito, a empresa recebe oradores regularmente, convidados para falar sobre inova-
ção, o que permite a partilha de ideias. O compartilhamento leva ao questionamento constante
do pensamento, a uma exploração de ideias, que constitui a primeira etapa do processo de
inovação (Shipton et al. 2006).
Habitualmente, faz-se uma associação entre formação e desempenho organizacional
(Tharenou & Burke, 2002), pois a formação promove o desenvolvimento das competências
dos colaboradores (Lado & Wilson, 1994). Então, é importante investir em formação para
conduzir os colaboradores à inovação (Shipton et al., 2006). Em um dos documentos inter-
nos analisados, era possível ler que a organização pretendia “desenvolver o potencial dos seus
colaboradores”.
A organização também se preocupa em direcionar as pessoas para as atividades que têm
mais vocação. A literatura mostra que, por meio da gestão de carreiras, é possível promover
a implementação de programas de formação profissional que capacitem os colaboradores de
competências (Ulrich, 1997).
Durante a exploração da intranet, encontrou-se uma plataforma digital onde todas as
pessoas podiam escrever as habilidades que possuíam, para que, em caso de necessidade, se
recorresse aos recursos internos. Os colaboradores sabiam que podiam evoluir na empresa.
“(…) nós devemos orientar a carreira e as funções que atribuímos às pessoas para aquilo que elas
melhor sabem fazer” (DRH).
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“O ideal era que a gestão não fosse necessária e é aí que eu tento pôr a equipa o mais autónoma
possível (…) a gestão pode ser partilhada” (Chefia).
“Se eu não estiver motivado, não vou ter tanto entusiasmo e vontade de pensar nas coisas (…) para
existir motivação tem que ser dado espaço às pessoas para fazerem o que gostam, tem que haver
reconhecimento e uma boa liderança” (Colaborador).
De fato, Jiang et al. (2012) referem que as práticas de GRH podem aumentar a criatividade
das pessoas na organização, pois influenciam a sua motivação para gerar ideias novas e úteis.
No modelo de Amabile (1997), a motivação intrínseca aparece como um dos componentes
que tem maior impacto na criatividade dos colaboradores, aspectos a que nos referimos an-
teriormente como sendo a utilização de competências individuais em funções desafiadoras.
Segundo Shalley, Zhou e Oldham (2004), as características contextuais são dimensões do
ambiente de trabalho capazes de aumentar a criatividade dos colaboradores. Para os autores,
a presença de determinados fatores contextuais (p. ex., complexidade do trabalho, suporte das
chefias, autonomia e ausência de julgamento), aumentam a motivação intrínseca das pessoas,
levando-as a uma maior criatividade (Shalley et al., 2004).
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GRH, Criatividade e Inovação
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