Estruturas de Concreto Armado-Incendio
Estruturas de Concreto Armado-Incendio
Estruturas de Concreto Armado-Incendio
TOLEDO - PR
2018
2
TOLEDO - PR
2018
3
Ministério da Educação
TERMO DE APROVAÇÃO
por
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Orientador Dr. Lucas Boabaid Ibrahim pela contribuição com seus
conhecimentos e auxílio na elaboração árdua do trabalho. Agradeço também aos Técnicos do
laboratório, Wilson e Marcos, pelo engajamento na realização dos ensaios.
Deixo meu reconhecimento aos meus familiares que me apoiaram e ao Eduardo pelo
empréstimo de materiais e auxílio no corte das barras de aço. Por fim, agradeço ao meu bom
Deus que está sempre presente em minha vida.
5
RESUMO
ABSTRACT
The present work presents the analysis of the behavior of CA-60 steel in a fire situation. Steel
is a widely used material in engineering all over the world. It is one of the main components
of reinforced concrete structures. When in a fire situation, the whole structure undergoes
several modifications, among them, the decrease of the resistance to the flow and modulus of
elasticity. Analyzing steel alone ensures that its behavior is monitored efficiently. In this way,
CA-60 steel bars with a diameter of 5 mm were tested at various temperatures (200 ° C, 400 °
C, 600 ° C, 800 ° C and 1000 ° C), with exposure time of 60 and 120 minutes, then air-cooled
and a tensile test performed on the universal press. Voltage-deformation diagrams were
obtained which demonstrated how great the loss of resistive capacity can be with increasing
temperature and how important is air cooling to steel bars.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Temperatura dos gases em função do tempo conforme ASTM E119 (ASTM,
2007). ........................................................................................................................................ 20
Tabela 2 - Valores das relações para concretos de massa específica normal, preparados
predominantemente com agregados siliciosos ou calcáreos..................................................... 28
Tabela 3 - Valores das relações para as temperaturas estudadas em aço de armadura passiva.
.................................................................................................................................................. 38
Tabela 4 - Propriedades mecânicas exigíveis. ......................................................................... 41
Tabela 5 - Lotes dos corpos de Prova. ..................................................................................... 48
Tabela 6 - Tensão de escoamento. ........................................................................................... 51
Tabela 7 - Fator de redução da resistência ao escoamento. ..................................................... 54
Tabela 8 - Tensão Máxima. ..................................................................................................... 57
Tabela 9 - Módulos de elasticidade médios. ............................................................................ 62
Tabela 10 - Fator de redução da modulo de elasticidade......................................................... 63
Tabela 11 - Comparação dos fatores de redução da resistência ao escoamento. ..................... 65
Tabela 12 - Comparação do fatores de redução do módulo de elasticidade. ........................... 67
10
LISTA DE SIMBOLOS
Temperatura do concreto
Temperatura do aço
( ) Densidade do concreto
SUMÁRIO
1 INTRODUÇAO................................................................................................................13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................................17
3 MÉTODO DO ENSAIO..................................................................................................43
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................51
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................69
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................71
ANEXOS..................................................................................................................................75
13
1 INTRODUÇAO
Por volta da década de 90, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São
Paulo outorgou a instrução técnica IT 08 (SP, 2001), exigindo que fossem avaliadas a
resistência e a segurança de projetos de estruturas contra incêndios, foi então que a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) cria a primeira normatização nacional:
NBR 14432 (ABNT, 2001), que define exigências de resistência ao fogo de elementos
construtivos. Mais tarde, as normas foram estendidas também para projetos de estruturas
mistas de aço e concreto em situação de incêndio através da NBR 14323 (ABNT) em 2013.
De acordo com a Lei Federal Nº 10406 (Brasil, 2002), Art. 1346: é obrigatório o seguro
de toda edificação contra o risco de incêndio ou destruição, total ou parcial. Recentemente,
após o incêndio da Boate Kiss (RS), criou-se a Lei Federal Nº 13425 (Brasil, 2017), que
estabelece diretrizes gerais sobre medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres em
estabelecimentos, edificações e áreas de reunião pública.
1.1 OBJETIVOS
Nos itens a seguir serão abordados os objetivos gerais e específicos do trabalho, que irão
embasar a metodologia do ensaio.
Realizar ensaios de tração para obter o diagrama tensão-deformação do aço CA-60 para
diferentes temperaturas e tempos de aquecimento, resfriando ao ar;
A partir do diagrama tensão-deformação, determinar a resistência ao escoamento e
módulo de elasticidade do aço CA-60 exposto a 200 ºC; 400 ºC; 600 ºC; 800 ºC e 1000 ºC
por 60 e 120 minutos, resfriando ao ar;
Obter o gráfico que relaciona o fator de redução da resistência ao escoamento do aço em
função da temperatura e compará-lo com o fornecido pela NBR 15200 (ABNT, 2012);
Obter o gráfico que relaciona o fator de redução do módulo de elasticidade do aço em
função da temperatura e compará-lo com o fornecido pela NBR 15200 (ABNT, 2012);
Comparar os resultados encontrados, com os resultados obtidos em trabalhos anteriores na
literatura existente.
1.2 JUSTIFICATIVA
As bibliografias que relacionam incêndio e aço, na maioria das vezes, tratam de estruturas
compostas de peças perfiladas (laminadas ou soldadas), ou de estruturas de concreto armado.
Com relação somente à barras de aço em situação de incêndio, as bibliografias tornam-se
escassas e muitas destas são estrangeiras.
Desta forma, analisando apenas o aço isoladamente será possível colher dados precisos de
seu comportamento em situação de incêndio, contribuindo com a literatura, tornando o
trabalho original e viável de ser estudado.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O INCÊNDIO
O incêndio é definido como fogo que lavra com intensidade, em material que não estava a
ele destinado, destruindo e, às vezes, causando prejuízos. Pode ter origem física; biológica;
físico-química; acidental ou intencional (CALDAS, 2008).
Para que o fogo ocorra, são necessários três elementos que devem estar continuamente
presentes: combustível; calor e oxigênio. Retirando um dos elementos, o processo de
combustão não se sustenta e o fogo é extinto. Porém, a combustão é uma reação em cadeia, e
após o início é mantida com parte do calor produzido, tornando o processo autossustentável.
Fase de resfriamento: Nesta fase ocorre uma diminuição progressiva da temperatura dos
gases, pela falta de carga combustível ou oxigênio, ou mesmo pela intervenção de uma
brigada de incêndio (MARTINS, 2000).
De acordo com Silva (2001), tendo em vista que a curva temperatura- tempo altera-se para
cada situação estudada, convencionou-se adotar uma curva padronizada como modelo para a
análise experimental, este modelo chama-se modelo do incêndio padrão.
É importante ressaltar que essa curva não representa um incêndio real, pois independe das
características do ambiente e da carga de incêndio. As conclusões que se tenham com base
nessa curva devem ser analisadas com cuidado, podendo ser utilizada apenas como modelo
experimental.
A norma ISO 834 (ISO, 2014), recomenda a Equação 1 para determinar a curva
temperatura tempo:
( ) (1)
Sendo:
Tabela 1 - Temperatura dos gases em função do tempo conforme ASTM E119 (ASTM, 2007).
De acordo com a norma da União Européia EUROCODE 1 (CEN, 2002), existem três
curvas temperatura-tempo:
( ) (2)
Sendo:
Fonte: ISO 834 (ISO, 2014); ASTM E119 (ASTM, 2007); EUROCODE 1 (CEN, 2002).
Denomina-se incêndio natural, o incêndio para o qual se admite que a temperatura dos
gases respeite as curvas temperatura-tempo naturais, construídas a partir de ensaios (SILVA,
2001).
Segundo a NBR 14432 (ABNT, 2001), incêndio natural é a variação de temperatura que
simula o incêndio real, sendo função da geometria, ventilação, características térmicas dos
elementos de vedação e da carga de incêndio específica.
Figura 5 - Curvas temperatura-tempo padronizadas pelas principais normas internacionais e curva típica
natural.
Sabe-se que cada incêndio é único e depende de diversos fatores, porém, durante a análise
de um incêndio é possível observar alguns parâmetros válidos que os caracterizam, tais como:
temperatura crítica; tempo requerido de resistência ao fogo e carga de incêndio.
24
Segundo Gomes (2017), no caso do concreto, para temperaturas não superiores a 150 ºC, a
ação do fogo causa a perda da água capilar. As primeiras fissuras irão aparecer com
temperaturas acima de 300 ºC.
A NBR 14432 (ABNT, 2001) define o tempo requerido de resistência ao fogo (TRRF)
como sendo o tempo mínimo de resistência ao fogo de um elemento construtivo quando
sujeito ao incêndio-padrão. Trata-se de um valor que é função do risco de incêndio e de suas
consequências.
O TRRF varia de uma especificação (norma, lei ou regulamentação) para outra, sendo
fruto do consenso da sociedade, não significando a duração do incêndio ou o tempo de
25
Pode ser calculado de duas maneira: Método tabular e Método do tempo equivalente:
Método Tabular:
A NBR 14432 (ABNT, 2001), permite a utilização desse método. O tempo equivalente
determinado por meio de expressão é função da carga de incêndio; das características térmicas
dos elementos de vedação; da ventilação horizontal e vertical e do pé-direito do
compartimento.
De acordo com a Instrução Técnica do Corpo de Bombeiros de São Paulo (IT08, 2001),
para edificação com altura inferior a 12 m, admite-se o uso do método do tempo equivalente
de resistência ao fogo em substituição ao método tabular, excetuando-se as edificações com
explosivos e centrais de comunicação e energia.
Carga de incêndio é a soma das energias caloríficas que poderiam ser liberadas pela
combustão completa de todos os materiais combustíveis em um espaço, inclusive os
revestimentos das paredes divisórias; pisos e tetos (ABNT NBR 14432, 2001).
O valor da carga de incêndio específica é tabelada de acordo com a norma NBR 14432
(ABNT, 2001), onde é determinada a ocupação e uso de cada edificação de acordo com uma
descrição completa das características pertinentes, encontrando assim a carga de incêndio em
MJ/m².
Os valores da carga de incêndio específica podem ser determinados pela Equação 5:
(5)
Sendo:
: É o valor da carga de incêndio específica, em megajoules por metro quadrado de área de
piso;
: É a massa total de cada componente i do material combustível, em quilogramas. Se
houver alteração de ocupação, o deve ser reavaliado;
: O potencial calorífico específico de cada componente i do material combustível, em
megajoules por quilograma, conforme ANEXO B;
: A área do piso do compartimento, em metros quadrados.
Ainda segundo a norma NBR 14432 (ABNT, 2001), o levantamento da carga de incêndio
deve ser realizado em módulos de 500 m² ou inferior, de área de piso. Módulos maiores
podem ser utilizados quando o espaço analisado possuir materiais combustíveis com
27
Os objetivos da segurança contra incêndio (SCI) são minimizar o risco à vida e reduzir a
perda patrimonial. A seleção do sistema adequado de segurança deve ser feita tendo por base
os riscos de início de um incêndio, de sua propagação e de suas consequências (VARGAS;
SILVA, 2003).
Segundo Silva (2001), o risco à vida devido ao colapso estrutural por ocorrência de um
incêndio em edifício dimensionados de maneira adequada, de acordo com as normas
pertinentes é muito pequena. A inclusão de medidas de proteção e combate ao incêndio e,
principalmente, de meios que permitam a rápida evacuação dos ambientes em chamas deve
ser conscientemente analisada.
A norma NBR 14432 (ABNT, 2001), estabelece as condições a serem atendidas pelos
elementos estruturais e de compartimentação que integram os edifícios para que, em situação
de incêndio, seja evitado o colapso estrutural:
Segundo a NBR 15200 (ABNT, 2012), a estrutura mantém a função de não permitir que o
fogo a ultrapasse ou que o calor a atravesse em quantidade suficiente para gerar combustão no
lado oposto ao incêndio inicial, compreendendo o isolamento térmico e a estanqueidade à
passagem de chamas. A estrutura deve manter sua capacidade de suporte da construção como
um todo ou de cada uma de suas partes, evitando o colapso global ou o colapso local
progressivo.
Segundo Vargas e Silva (2003), para se obter maior capacidade resistente à temperatura
ambiente, as armaduras são dispostas próximas ao contorno da seção de concreto. As
propriedades naturais de isolamento do concreto restringe o aumento da temperatura do aço
protegido durante o incêndio, permitindo assim que a parte exposta resista a altas
temperaturas e possa desenvolver maior tempo de resistência ao fogo.
O concreto, além da redução de sua resistência, perde área resistente devido ao “spalling”.
Este fenômeno pode ser definido por Seito (2008):
Segundo Vargas e Silva (2003), o concreto atingirá a ruína à temperatura média menor do
que a de um elemento de aço, considerando carregamento proporcional à respectiva
resistência. Além disso, o concreto perderá muita resistência ao entorno da estrutura, mas no
núcleo perderá pouca ou nenhuma, dependendo da severidade do incêndio.
De acordo com a NBR 15200 (ABNT, 2012), é possível obter valores comparativos de
resistência e módulo de elasticidade. A alteração das propriedades de resistência e rigidez do
concreto quando submetido a compressão axial a elevadas temperaturas devem ser obtidas de
acordo com a Tabela 2, adaptada da norma, apresentando apenas os valores de temperaturas
de interesse do ensaio.
Tabela 2 - Valores das relações para concretos de massa específica normal, preparados predominantemente com
agregados siliciosos ou calcáreos.
Sendo:
: Resistência à compressão do concreto em situação normal;
: Resistência à compressão do concreto submetido a diferentes temperaturas;
(6)
Sendo:
(7)
Sendo:
Para
(8)
31
Para
(9)
( ) (10)
Para
(11)
Para
(12)
Sendo
( ) (13)
( )( ) (14)
( )
( ) (15)
( ) (16)
Segundo a NBR 15200 (ABNT, 2012), quando a umidade não for considerada, a relação
entre calor específico do concreto e a sua temperatura pode ser considerada constante ( )
situado entre 100 ºC e 115 ºC. De forma simplificada, a relação entre calor específico do
concreto e a temperatura pode ser considerada constante igual a 1000 J/kg ºC.
( ) (17)
( ) (18)
Sendo:
( ) ( ) (19)
( ) ( ) ( ) (20)
( ) ( ) ( ) (21)
( ) ( ) ( ) (22)
Segundo Almeida (2002), aço é uma liga metálica composta principalmente de ferro e de
pequenas quantidades de carbono. Segundo Ricardo (2015), como o concreto simples
apresenta pequena resistência à tração e é frágil, é altamente conveniente a associação do aço
ao concreto, obtendo-se o concreto armado.
De acordo com Pinheiro et al. (2010), as características mecânicas mais importantes para
a definição de um aço são o limite elástico, a resistência e o alongamento na ruptura. Essas
características são determinadas em ensaios de tração.
De acordo com a NBR 14323 (ABNT, 2013), a massa específica do aço independe da
temperatura e pode ser considerada como sendo igual a 7850 kg/m³. A condutividade térmica
( ) do aço expressa em Watts por metro e por graus Celsius (W/mºC), pode ser determinada
com as Equações 23 e 24:
(23)
(24)
A norma NBR 14323 (ABNT, 2013), possibilita que o calor específico do aço também
pode ser considerado de forma simplificada independente da temperatura como sendo igual a
(Joule por quilograma e por graus Celsius).
(25)
Sendo:
(26)
Sendo:
O módulo de elasticidade do aço em situação normal pode ser considerado igual 210 GPa
de acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014). O módulo de elasticidade (E) indica a rigidez de
um material, quanto maior for o módulo de elasticidade mais rígido será o material.
Os valores de redução ( ) também são tabelados de acordo com a norma NBR 15200
(ABNT, 2012), apresentada de forma simplificada de acordo com as temperaturas de interesse
do ensaio (Tabela 3):
Tabela 3 - Valores das relações para as temperaturas estudadas em aço de armadura passiva.
Temperatura do
aço (ºC) Tração Compressão
CA-60 CA-60 CA-60
20 1,00 1,00 1,00
200 1,00 0,89 0,87
400 0,94 0,67 0,56
600 0,40 0,33 0,24
800 0,11 0,08 0,06
1000 0,05 0,04 0,03
Fonte: Adaptada de NBR 15200 (ABNT, 2012).
Sendo:
Segundo Pinheiro et al. (2010), o ponto de partida para obtenção do aço é o minério de
ferro. O processo de transformação do minério de ferro em aço ocorre em quatro grandes
estágios: preparação ou tratamento do minério e do carvão; redução do minério de ferro;
refino e tratamento mecânico. A diferenciação entre aços CA-50 e CA-60 ocorre no
tratamento mecânico, para obtenção dos aços CA-50 ocorre tratamento a quente, e tratamento
a frio para obtenção de aços CA-60.
Segundo Freitas Jr (2007), o processo de encruamento do aço CA-60 ocorre por torção
combinada com tração, ambas responsáveis pela mudança de textura do aço e pelo aumento
de sua resistência. Observa-se que o aumento de resistência é conseguido à custa de uma
grande diminuição da tenacidade. De fato, o alongamento de ruptura abaixa de 20% para 6 a
8%. Havendo defeitos no material, ele rompe por ocasião do encruamento, o que torna o
processo de fabricação um verdadeiro ensaio de detecção de defeitos. Uma torção exagerada
ou tração excessiva podem encruar demasiado o material, que terá uma resistência muito
elevada, mas ductilidade insuficiente (alongamento de ruptura muito baixo).
De acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014), define-se limite de escoamento , para os
aços deformados a frio, como a tensão que corresponde a uma deformação permanente de
0,2%. Segundo Rasma (2015), a tensão do escoamento é a tensão máxima suportada pelo
corpo de prova no estado elástico, que delimita o início das deformações plásticas. O limite de
proporcionalidade é indicado por , onde as tensões obedecem a lei de Hooke sendo
proporcionais as deformações. Posteriormente tem-se , que representa a tensão de ruptura
do material.
Segundo Costa e Silva (2002), os aços CA-60 quando submetidos a altas temperaturas
(incêndios), sofrem as mesmas reações dos aços laminados e ainda tendem a uniformizar a
distribuição dos grãos, retomando a estrutura original antes do encruamento. Dessa forma, o
aço encruado transforma-se em aço laminado, e essa mudança de classe implica em uma
redução de resistência de até 50% daquela inicial.
Segundo Costa e Silva (2002, apud Prado 1998), o calor se propaga mais rápido e
uniformemente ao longo das ferragens enquanto o concreto permanece com uma temperatura
média mais baixa, logo, as armaduras se dilatam mais do que o concreto. As barras flambam e
comprimem a zona de aderência aço-concreto comprimindo a interface ocorrendo a perda de
aderência e ancoragem.
O concreto ao ser resfriado, geralmente, não recupera a resistência inicial (SILVA 2012,
apud GUO; SHI 2011). Segundo Silva (2012), o valor da resistência após o resfriamento
depende da temperatura atingida durante o incêndio e da velocidade de resfriamento, quanto
mais rápido o resfriamento, mais prejudicial será para a resistência do concreto.
Dimensionar a estrutura para a situação de incêndio não impede que haja deformações
e fissuras exageradas, a menos que o incêndio tenha sido de pequena severidade ou se a
estrutura tinha proteção superabundante (SILVA, 2012).
3 MÉTODO DO ENSAIO
44
Os corpos de prova do aço GG-60 foram submetidos a altas temperaturas, simulando uma
situação de incêndio com a utilização de um forno mufla (Figura 19), em diferentes
temperaturas e tempos de exposição.
Fonte: Autora.
Após o aquecimento, as barras foram retiradas do forno mufla com auxílio de pinça tenaz
e luvas com fios de aramida e demais equipamento para proteção individual (Figura 20).
Fonte: Autora.
Após a retirada das barras de aço do forno mufla, foram colocadas em bandejas
metálicas (Figura 21) para resfriamento ao ar até atingirem temperatura ambiente.
Fonte: Autora.
Fonte: Autora.
Fonte: Autora.
Antes da realização do ensaio de tração, cada corpo de prova teve seu comprimento total
inicial medido com auxílio de paquímetro (Figura 24), além disso, foram marcados 5 cm em
cada extremidade das barras para delimitar a posição das garras no corpo de prova. A partir da
medida do comprimento inicial total, diminuindo o comprimento das garras, tem-se o Lo,
utilizado para o cálculo do módulo de elasticidade.
Fonte: Autora.
Figura 25 - Extensômetro.
Fonte: Autora.
Cada corpo de prova tem sua designação formada por três caracteres que representam,
respectivamente:
48
Número do Lote (1 a 11) – Temperatura atingida (200 °C; 400 °C; 600°C; 800°C ou
1000°C) – Tempo de exposição as altas temperaturas (60 min ou 120 min)
Como pode ser observado na Tabela 5, são 11 lotes com 6 corpos de prova cada,
totalizando 66 corpos de prova. O lote 11 (L11) é submetido apenas ao ensaio de tração para
obtenção de sua respectiva resistência em condições normais, neste lote foi possível a
utilização do extensômetro.
Fonte: Autora.
Os corpos de prova aquecidos a 800 ºC e 1000 ºC tiveram que passar pelo processo de
descamação e limpeza, já que as barras de aço passaram a esfarelar (Figura 27), fazendo com
que as garras da prensa universal se prendam adequadamente ao material ensaiado, evitando o
deslocamentos.
Fonte: Autora.
50
Figura 28 - Exemplo de Diagrama tensão-deformação gerado a partir do ensaio de tração (L11 com
extensômetro).
Fonte: Autora.
Juntamente com os diagramas (Figura 28), a prensa universal gerou arquivos com todas
forças e deslocamento correspondentes para cada corpo de prova em cada fração de segundo.
A partir desses dados foi possível calcular os módulos de elasticidade; tensões de escoamento
e resistências última apresentados no item 4.
51
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As tensões de escoamento para todos os corpos de prova foram fornecidos pelo relatório
da prensa universal (ANEXO C). Na Tabela 6 tem-se os valores médios de cada lote.
Lote Temperatura
Tempo (Minutos)
°C (MPa)
L11 0 0 759,60
L1 200 60 756,80
L2 200 120 756,60
L3 400 60 715,00
L4 400 120 706,00
L5 600 60 349,60
L6 600 120 331,00
L7 800 60 328,40
L8 800 120 321,00
L9 1000 60 295,80
L10 1000 120 261,50
52
De acordo com a NBR 7480 (ABNT, 2007), para o aço CA-60 é esperado que se tenha
resistência característica ao escoamento de, no mínimo, 600 MPa. A partir da tabela 6
verificou-se que as tensões de escoamento apresentadas pelos corpos de prova em situação
normal foram superiores ao esperado.
Percebeu-se também que a variação do tempo de exposição das barras (60 e 120 minutos)
não influenciou de maneira tão significativa na redução da resistência quanto o aumento da
temperatura. Como pode ser observado na Tabela 6, a principal diferença ocorreu com as
barras aquecidas a 1000 °C, desta forma, durante 60 minutos a resistência ao escoamento foi
de 295,8 MPa e quando aquecidas durante 120 minutos a resistência ao escoamento foi de
261,50 MPa, totalizando uma diferença de 34,3 MPa.
Figura 29 - Incandescência.
Fonte: Autora.
Fonte: Autora.
De acordo com a norma NBR 15200 (ABNT, 2012), o fator de redução de resistência ao
escoamento é determinado pela Fórmula (27):
(27)
54
Sendo:
Norma NBR
Temperatura
Tempo (Minutos) (Ensaio) 15200
°C
(ABNT,2012)
200 60 0,996
0,996
1,00
200 120
400 60 0,941
0,929
0,94
400 120
600 60 0,460
0,436
0,40
600 120
800 60 0,432
0,423
0,11
800 120
1000 60 0,389
0,05
1000 120 0,344
Para os corpos de prova aquecidos a 600 °C; 800 °C e 1000 °C, é recomendável a
utilização dos fatores de redução da norma já que estes foram inferiores aos encontrados no
ensaio, logo, a resistência de cálculo será menor, priorizando a segurança da edificação.
1,200
1,000
FATORES DE REDUÇÃO
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
200 400 600 800 1000
TEMPERATURA
Percebe-se que as curvas do ensaio (60 Min. e 120 Min.), apresentadas pelo Gráfico 2,
ficaram bastante próximas entre si e distantes da curva fornecida pela norma 15200 (ABNT,
2012) principalmente nas temperaturas de 800 °C e 1000 °C. Desta forma, o
dimensionamento de estruturas em situação de incêndio utilizando apenas os fatores
apresentados na norma 15200 (ABNT, 2012), torna-se viável para o aço CA-60.
56
A tensão última é determinada como a tensão máxima suportada pelo material, a partir da
qual ocorre a estricção deste, que representa o início da ruptura. A ductilidade é a capacidade
do material de se deformar plasticamente sem se romper. Pode ser medida por meio do
alongamento específico () ou da estricção. Quanto mais dúctil o aço, maior é a redução da
área ou o alongamento antes da ruptura.
Ao sofrer tratamento mecânico a frio (encruamento), o aço CA-60 passa a ter sua
ductilidade reduzida, porém, percebeu-se que as barras aquecidas em temperaturas iguais ou
superiores a 600 °C, perderam essa propriedade e passaram a apresentar estricção visualmente
significativa (Figura 31).
Figura 31 - Estricção.
Fonte: Autora.
Segundo Rasma (2015), a partir dos valores das cargas máximas, pode-se calcular as
tensões últimas. A tensão máxima ( ) ocorre quando a carga atinge o ponto máximo de
carregamento, que por sua vez, é imediatamente anterior ao início da estricção e, portanto, da
queda da carga, caracterizada por uma rápida redução local da seção de fratura. A tensão de
ruptura por sua vez, é a tensão suportada pelo material antes da fratura.
Os valores da tensão máxima são fornecidos pelo relatório da prensa universal para
cada corpo de prova, a Tabela 8 apresenta apenas os valores médios, sendo que todos os
valores encontrados estão tabelados no ANEXO D.
57
L1 200 60 765,9
L2 200 120 765,5
L3 400 60 750,9
L4 400 120 743,8
L5 600 60 438,9
L6 600 120 423,6
L7 800 60 347,2
L8 800 120 337
L9 1000 60 308,5
L10 1000 120 286,5
(28)
Sendo:
A tensão de tração é determinada pela Equação (29) onde a força aplicada (N) é obtida
através do relatório da prensa universal. Os corpos de prova, como dito anteriormente,
possuem diâmetro de 5mm, logo, a área é de 19,63 mm².
(29)
Sendo:
(30)
Sendo:
: Deformação específica;
59
A parte útil do corpo de prova, identificado por Lo, é a região onde são feitas as medidas
das propriedades mecânicas do material, e as cabeças são as regiões extremas que servem para
fixar o corpo de prova a máquina (Figura 32). Ou seja, para o cálculo do Lo é necessário
medir o comprimento total do corpo de prova e descontar o comprimento da cabeça, que no
caso, foi de 5 cm.
A Lei de Hooke para determinação do módulo de elasticidade pode ser utilizada no trecho
em que o diagrama apresenta variação linear, podendo ser aproximado por uma reta,
respeitando o limite de proporcionalidade do gráfico, como exemplifica a Figura (33), onde:
Fonte: Autora.
(31)
Figura 34 - Diagrama Tensão-Deformação para o lote aquecido a 200 °C durante 120 minutos.
Fonte: Autora.
Figura 35 - Diagrama Tensão-Deformação para o lote aquecido a 600 °C durante 120 minutos.
Fonte: Autora.
Segundo Costa (2002), o aço CA-60, submetido a altas temperaturas, superiores a 500 °C,
além de sofrer as mesmas reações do aço CA-50, tende a uniformizar a distribuição dos grãos,
retomando a estrutura original antes do encruamento. Portanto, o aço tipo CA-60 transforma-
se em aço CA-50 e esta mudança de classe implica na mudança do diagrama tensão-
deformação, passando a apresentar patamar de escoamento bem definido.
O resultado encontrado para os corpo de prova de cada lote está exposto no ANEXO E.
Na Tabela 9, tem-se os valores dos módulos de elasticidade médio.
62
Percebeu-se quando os corpos de prova foram aquecidos a 600 °C, durante 60 minutos a
redução do módulo de elasticidade aumentou de maneira significativa para 27,81%. Quando
aquecido durante 120 minutos a 600 °C, a perda do módulo de elasticidade foi ainda maior,
sendo 41,50%.
Comparando o aquecimento a 600 °C com 800 °C, não houve alteração significativa na
alteração do módulo de elasticidade. Verifica-se que para os corpos de prova aquecidos a 800
°C durante 60 minutos a redução foi de 45,76%, ou seja, superior em apenas 4,26% em
relação ao corpo de prova aquecido a 600 °C durante 120 minutos.
Por fim, os corpos de prova aquecidos a 1000 °C durante 120 minutos demonstraram o
pior resultado, obtendo redução do módulo de elasticidade de 53,42%, ou seja, a rigidez do
material à deformação esteve bastante comprometida.
De acordo com a NBR 15200 (ABNT, 2012), o módulo de elasticidade decresce com o
aumento da temperatura podendo ser calculado por:
63
(32)
Sendo:
400 60 0,952
0,560
400 120 0,951
600 60 0,722
0,240
600 120 0,585
800 60 0,542
0,060
800 120 0,535
1000 60 0,512
0,030
1000 120 0,466
1,200
FATORES DE REDUÇÃO
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
200 400 600 800 1000
TEMPERATURA
Laske (2017) expõe dados obtidos submetendo aços da marca Gerdau, com diâmetro de
10 mm, laminados a quente (CA-50), promovendo aquecimento no forno industrial em
temperaturas de 200 °C; 400 °C; 600 °C; 800 °C e 1000 °C, durante 60 e 120 minutos de
exposição, posteriormente resfriando as barras ao ar, finalizando com ensaio de tração em
prensa universal similar.
Quando aquecido a 600 °C, o aço CA-50 com diâmetro de 10 mm conseguiu manter sua
resistência mais próxima da original, enquanto que o aço CA-60 com diâmetro de 5 mm se
manteve próximo aos valores da norma NBR 15200 (ABNT, 2012). Essa mudança de
comportamento pode ter sido gerada pelo diâmetro do material, pois a 600 °C com 5 mm de
diâmetro toda a matriz do material já estava aquecida, enquanto que o material com 10 mm
demorou mais tempo para aquecer completamente e apresentar perda de capacidade resistiva.
( ) ( ) (33)
( ) ( ) (34)
66
1,20
FATOR DE REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA AO
1,00
0,80
ESCOAMENTO
0,60
0,40
0,20
0,00
0 200 400 600 800 1000 1200
TEMPERATURA
Percebeu-se que os fatores de redução da resistência para o aço CA-50 foram superiores
aos fatores da normas NBR 15200 (ABNT, 2012) e também aos fatores para o aço CA-60.
Houve uma grande diferença entre os fatores de redução da resistência a 600 °C.
Da mesma forma que na Tabela 11, a diferença entre os fatores foi pequena em
temperaturas inferiores a 400 °C, ocorrendo maior variação em 600 °C. Quando aquecidas a
1000 °C a diferença converge para 0,02 apenas, como exemplificado abaixo (Equação 35 e
36).
( ) ( ) (35)
( ) ( ) (36)
1,20
FATOR DE REDUÇÃO DO MÓDULO DE
1,00
0,80
ELASTICIDADE
0,60
0,40
0,20
0,00
0 200 400 600 800 1000 1200
TÍEMPERATURA
Laske (2017), não obteve resultados para os corpos de prova ensaiados a 1000 °C, durante
120 minutos de aquecimento, devido à grande degradação do material. De maneira geral, os
valores dos fatores de redução da resistência ao escoamento e módulo de elasticidade
apresentaram valores superiores ao da norma NBR 15200 (ABNT, 2012) para os dois
trabalhos.
69
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a temperatura de ensaio aumentou, (200 °C, 400 °C, 600 °C, 800 °C e 1000
°C), o aço foi se deteriorando em relação a sua estrutura física e química, apresentando
incandescência, estricção e descamação da seção transversal. Ocorreu também perda da
resistência ao escoamento; tensão última e módulo de elasticidade.
Percebeu-se que o aço aquecido a 200 °C mantêm suas características resistivas tanto na
resistência ao escoamento, como no módulo de elasticidade. Os fatores de redução da
resistência e módulo permanecem bem próximos aos valores de referência da norma NBR
15200 (ABNT, 2012), assim como ao trabalho da Laske (2017).
Desta forma, para que possa ser garantido a resistência global das estruturas em situação
de incêndio e evitar maiores danos à saúde e bem estar da população, como também evitar a
perda material é imprescindível a análise do efeito das altas temperaturas nos materiais,
levando em consideração as perdas de resistência e módulo de elasticidade, a partir da norma
NBR 15200 (ABNT, 2012).
Para trabalhos futuros, é recomendável estudar o aço CA-60 para o resfriamento com
aspersão de água, simulando a ação dos bombeiros. Também é recomendável fazer os ensaios
de tração com auxílio de extensômetro em todas barras de aço, inclusive nas que fossem
danificadas pelas altas temperaturas, retirando o fator humano na determinação da
deformação.
No geral, o aço CA-60 da marca Gerdau apresentou bons resultados quanto a resistência
ao escoamento e módulo de elasticidade, sendo superiores aos valores apresentados pela
norma NBR 15200 (ABNT, 2012). Portanto, por exemplo, para o dimensionamento de
estruturas submetidas a altas temperaturas, recomenda-se a utilização dos fatores da norma,
pois convém com a realidade.
71
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Luiz Carlos de. Aços para concreto armado. Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Departamento de Estruturas. São Paulo. 2002.
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Conshohocken, PA, 2007.
_____. NBR ISO 6892-1: Materiais metálicos – Ensaio de tração, Parte 1: Método de ensaio
à temperatura ambiente. 2013.
_____. NBR 14323: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de
edifícios em situação de incêndio. 2013.
BRASIL. Lei Nº 10406 de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, DF.
72
______. Estruturas de concreto armado em situação de incêndio. In: XXX Jornadas Sul-
Americanas de Engenharia Estrutural. Universidade Federal de Brasília. DF – Brasília. 2002.
21 p.
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FREITAS JR, José de Almeida. Aços para concreto. Universidade Federal do Paraná, Setor
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60079-10. Revista Controle & Instrumentação, São Paulo, n. 75, Novembro de 2002.
74
SEITO, Itiu Alexandre. et al. A segurança contra incêndio no Brasil. São Paulo: Projeto
Editora, 2008. Pg. 496.
SILVA, Valdir Pignatta e. Estruturas de aço em situação de incêndio. São Paulo: Zigurate
Editora, 2001. 249 pg.
VARGAS, Mauri Resende; SILVA, Valdir Pignatta. Resistência ao fogo das estruturas de
aço. Instituto Brasileiro de Siderurgia - IBS / Centro Brasileiro da Construção em Aço -
CBCA, Rio de Janeiro, 2003. 76 p.
75
ANEXOS
ANEXO A. Tempo Requerido de Resistência ao fogo (TRRF).
76