REFRATARIOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE MINAS,
METALRGICA E DE MATERIAIS PPGE-3M

COMPARATIVO ENTRE TIJOLOS MgO-C e DOLOMTICO PARA


APLICAO NO REVESTIMENTO REFRATRIO DA PANELA
PARA A FABRICAO DE AOS DE CONSTRUO MECNICA

Fabiano de Andrade
Engenheiro Metalrgico

Dissertao para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia, Modalidade


Profissional, Especialidade Siderurgia.

Porto Alegre
2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE MINAS,
METALRGICA E DE MATERIAIS PPGE-3M

COMPARATIVO ENTRE TIJOLOS MgO-C e DOLOMTICO PARA


APLICAO NO REVESTIMENTO REFRATRIO DE PANELA
PARA A FABRICAO DE AOS DE CONSTRUO MECNICA

Fabiano de Andrade
Engenheiro Metalrgico

Dissertao apresentada ao programa de Ps-Graduao em Engenharia de


Minas, Metalrgica e dos Materiais PPGE-3M, como parte dos requisitos para a
obteno do ttulo de Mestre em Engenharia, Modalidade Profissional, Especialidade
Siderurgia.

Porto Alegre - RS
2009

II

Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno de ttulo de


Mestre em Engenharia, Modalidade Profissional, Especialidade Siderurgia e aprovada
em sua forma final pelo orientador e pela Banca Examinadora do Curso de PsGraduao.

Orientador: Prof. Carlos Prez Bergmann

Banca Examinadora:
Prof. Dr. Fbio Domingos Pannoni Grupo GERDAU
Prof. Dr. Nestor Heck - UFRGS
Prof. Dr. Antnio Cezar F. Vilela - UFRGS

Prof. Carlos Prez Bergmann


Coordenador do PPGE-3M

III

A minha v, tia, esposa e filho.

IV

AGRADECIMENTOS

Agradeo a todos que participaram da elaborao desse trabalho, em especial


a empresa Magnesita, na figura do assistente tcnico Mateus Vargas Garzon, do
residente Eros Jose Talevi e do Gestor de Conta Felipe Nonaka.
Agradeo tambm a Aos Especiais Brasil - Unidade Charqueadas, na figura do
Eng Joo Luiz Boschetti, por disponibilizar tempo para que pudssemos desenvolver
esse trabalho, que de vital importncia para meu desenvolvimento pessoal e
profissional.
Ao professor Carlos Prez Bergmann, pelo apoio no desenvolvimento do
trabalho.
Agradeo tambm a minha famlia, nas figuras de minha amada esposa
Elisngela Aquino de Souza, meu querido filho Augusto de Souza Andrade e minha
cunhada Tais Aquino de Souza e seu filho Nicolas Souza.

SUMRIO
1. INTRODUO...............................................................................................1
2. OBJETIVO.....................................................................................................5
3. REVISO BIBLIOGRFICA..........................................................................6
3.1 METALURGIA DAS PANELAS.NA ACIARIA ELETRICA..................6
3.1.1 Panela Formato e Revestimento Refratrio.............................8
3.1.1.1 Revestimento Permanente...................................................10
3.1.1.2 Revestimento de Borda Livre (ou Free Board).....................11
3.1.1.3 Revestimento de Linha e Escria.........................................11
3.1.1.4 Revestimento de Linha de Metal..........................................12
3.1.1.5 Revestimento de Fundo.......................................................13
3.1.1.6 Sedes de Plugs e Vlvulas .................................................13
3.2 DEGRADAO DE REFRATRIOS EM PANELAS.......................13
3.2.1 Origem das solicitaes.............................................................13
3.2.1.1 Fatores Operacionais...........................................................14
3.2.1.2 Fatores Associados ao Projeto e Montagem.......................16
3.2.2 Tipos de Degradao dos Materiais Refratrios........................17
3.2.2.1 Desgaste .............................................................................17
3.2.2.2 Termoclase...........................................................................18
3.2.2.3 Corroso...............................................................................18
3.3 REFRATRIOS DOLOMTICOS.................................................... .20
3.3.1 Propriedades...............................................................................21
3.4 REFRATRIOS MGO-C...................................................................23
3.4.1 Propriedades...............................................................................24
4. MATERIAIS E MTODOS...........................................................................27
4.1 MATERIAIS......................................................................................27
4.2 MTODOS.......................................................................................27
4.2.1 Densidade e Porosidade Aparente............................................27
4.2.2 Resistncia a Compresso a Temperatura Ambiente...............29
4.2.3 Mdulo de Elasticidade .............................................................30
4.2.4 Teste de Refratariedade sob Carga...........................................31
4.2.5 Resistncia ao Ataque de Escria ............................................33
4.2.6 Resistncia ao Choque Trmico e Termoclase.........................34
VI

4.2.7 Microscpio Eletrnico de Varredura.........................................36


4.2.8 Analises da Espessura de Residuais.........................................36
4.2.9 Perfil Trmico das Panelas........................................................37
5. RESULTADOS E DISCUSSES................................................................39
5.1 COMPOSIO QUIMICA E MICROESTRUTURA.........................39
5.1.1 Composio Qumica................................................................39
5.1.2 Microestrutura............................................................................40
5.2 PROPRIEDADES FSICAS, MECNICAS E TERMOMECNICAS.......41
5.2.1 Densidade e Porosidade Aparente............................................41
5.2.2 Resistncia Compresso a Temperatura Ambiente...............42
5.2.3 Mdulo de Elasticidade............................................................ .42
5.2.4 Refratariedade sob Carga..........................................................42
5.2.5 Resistncia ao choque Trmico.................................................44
5.3 RESISTNCIA AO ATAQUE DE ESCRIA....................................45
5.3.1 Anlise pelo Ensaio de Resistncia ao Ataque de Escria.......45
5.3.2 Anlises dos Resduos aps Campanha..................................45
5.4 ANLISE DO PERFIL TRMICO DA PANELA EM OPERAO...47
6. CONCLUSES.............................................................................................50
7. SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS...........................................52
8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................53

VII

LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Evoluo do consumo de ao no Brasil ao longo dos anos. Fonte: Steel
Statistics Archives.
Figura 3.1 Panela nas etapas de produo do ao, utilizada como reservatrio, e no
caso do forno panela e desgaseificador como reator.
Figura 3.2 Desenho esquemtico de uma panela, em corte, indicando as zonas/partes
constituintes.
Figura 3.3 Esquematizao do processo de dissoluo do refratrio pela escria em
funo da microestrutura
Figura 3.4 Diagrama de fase CaO MgO que representam os refratrios dolomticos.
Figura 3.5 Molhamento dos refratrios com e sem C em sua composio qumica.
Figura 3.6 Comparao entre estruturas com GE (Gro Eletrofundido) e GS (Gro
Sinterizado). Aumento da lupa em (A) 20x e (B) em 50x.
Figura 3.7 Diagramas de fase do sistema MgO-xido de ferro. (A) em contato com
ferro metlico e (B) em contato com o ar.
Figura 3.8 Gros com e sem impurezas na matriz
Figura 3.9 Formao da zona densa de MgO no tijolo refratrio.
Figura 4.1 Tipos de porosidade fechada, no-transpassante e transpassante.
Figura 4.2 Determinao da resistncia mecnica compresso.
Figura 4.3 Corpo-de-prova submetido a ensaio para a determinao da resistncia
mecnica compresso, segundo a norma NBR 6224.
Figura 4.4 Determinao do mdulo de elasticidade por ultra-som.
Figura 4.5 Curva tpica de refratariedade sob carga de um material refratrio.
Figura 4.6 Determinao de resistncia ao ataque por escria.
Figura 4.7 Determinao da resistncia ao choque trmico em materiais refratrios.
Figura 4.8 Montagem do revestimento refratrio para efeito do clculo por elementos
finitos do perfil trmico da panela com os materiais refratrios investigados.
VIII

Figura 5.1 Micrografias por MEV das microestruturas dos materiais dolomtico e
magnsia-carbono investigados, antes (face fria) e aps (face quente) submisso a
temperaturas de servio no revestimento de fornos panela.
Figura 5.2 Refratariedade sob carga para o material refratrio dolomtico investigado.
Figura 5.3 Refratariedade sob carga para o materiais refratrio MgO-C investigado
Figura 5.4 Variao do mdulo de elasticidade em funo dos nmeros de ciclos de
choque trmico a que os materiais dolomticos e MgO-C investigados foram
submetidos
Figura 5.5 Resistncia ao ataque de escria para ensaio em forno de escorificao
rotativa
Figura 5.6 Regies das panelas onde foram medidos os residuais finais e iniciais dos
refratrios MgO-C e dolomticos. Os pontos indicados por 1, 2, 3 e 4 so relativos aos
pontos utilizados como referncia na panela (ver Tabela VI).
Figura 5.7 Perfil trmico apresentado para as panelas construo mecnica, montadas
com refratrios dolomitcos e MgO-C, para as temperaturas de 1550C e 1680C.

IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Composio qumica caracterstica de refratrios dolomticos


Tabela 4.1 Composio da escria utilizada para o teste de resistncia ao ataque
pelos materiais refratrios investigados.
Tabela 4.2 Condies de comparao para teste entre os refratrios dolomtico e
MgO-C.
Tabela 4.3 Materiais utilizados para anlise do perfil trmico da panela, em suas
respectivas regies e espessuras.
Tabela 5.1 Composio qumica dos refratrios dolomticos e MgO-C investigados.
Tabela 5.2 Anlise qumica por microssonda EDS dos pontos analisados via MEV nas
faces quentes e frias dos refratrios dolomticos e MgO-C investigados.
Tabela 5.3 Valores de densidade e porosidade aparente dos materiais refratrios
investigados.

LISTA DE SMBOLOS

T = temperatura
ri = raio Interno do revestimento
L = comprimento do lado reto da carcaa (zero para as panelas circulares)
Dh = altura de escria valor funo do comprimento de arco
escria

= densidade da escria

r = raio interno do revestimento da parede lateral


D= distncia do plug a parede lateral
LM = linha de metal
LE = linha de escria
= fase beta
= fase psi
RCT = resistncia ao choque trmico
D.M.A. = densidade de massa aparente
ms = massa seca
mu = massa mida
mi = massa imersa
dL = densidade do lquido
P.A. = porosidade aparente
D.A. = densidade aparente
Rcompresso = resistncia compresso
P= carga de ruptura
A= rea de aplicao da carga
E = mdulo de elasticidade
V = velocidade ultrassnica
= coeficiente de poisson
= densidade mdia aparente
= deformao
T0 = temperatura de estabilizao
Ti = temperatura de inicio de deformao
T1; T2; T3..n = temperatura onde 1, 2,...; n %.
XI

FEA = forno eltrico a arco


ABNT = Associao Brasileira de Normas Tcnicas
MI-1 = medida inicial na ponta da pea correspondente a parte superior do cadinho
MFE-1= medida final correspondente linha de escria
T.P. = tempo de patamar
D.C.M. = desgaste em contato com o metal.
MI-2 = medida Inicial de espessura na posio central da pea.
MI-3 = medida Inicial de espessura da ponta da pea correspondente parte inferior
do cadinho.
E = Modulo de elasticidade
E0 = Modulo de Elasticidade Inicial
RCTE= N de ciclos que o material resiste antes de atingir o modulo de elasticidade
igual a zero.
EDS = Energy Dispersive Sistem

XII

RESUMO
Os materiais base de MgO-C e CaO.MgO so utilizados como refratrios de
trabalho nas panelas da aciaria, por sua excelente refratariedade em condies de
servio. O emprego de materiais de melhor desempenho no revestimento refratrio
acarreta no aumento da produtividade dos equipamentos e uma reduo dos riscos
operacionais vinculados aos desgastes localizados em pontos especficos do contato
entre o refratrio e o ao lquido, e o refratrio e escria. Este trabalho realizou um
comparativo entre dois diferentes materiais refratrios: MgO-C (Grafinox PA LM) e
dolomtico (Dolmag 100), ambos fornecidos pela empresa Magnesita Refratrios S.A.
As caractersticas avaliadas foram as propriedades mecnicas e termomecnicas
(mdulo de elasticidade, resistncia mecnica compresso, refratariedade sob carga
e resistncia ao choque trmico), fsicas (densidade e porosidade aparentes) e
qumicas (composio qumica, resistncia a escrias e anlise microestrutural postmortem por microscopia eletrnica de varredura). Tambm foi estimado por elementos
finitos o perfil trmico de uma panela com revestimentos dos materiais refratrios
investigados. Os resultados obtidos indicaram o material refratrio de MgO carbono
como o que rene melhores propriedades para fazer frente s condies de processo
da Aos Especiais Brasil Unidade Charqueadas, com potencial para melhorar o
desempenho e a segurana operacional da aciaria.

XIII

ABSTRACT
Materials based on MgO-C and CaO.MgO are used as refractory in the
steelmaking ladles due to its excellent refractoriness. The use of materials with
improved performance in the refractory lining leads to an increased productivity and a
reduction of operational risks linked to wear located at specific points of contact
between the refractory and liquid steel/slag. This study has compared 2 different
refractories: MgO-C (Grafinox PA LM) and dolomitic (Dolmag 100), both supplied by
the company Magnesita Refratrios S.A. The evaluated characteristics were the
mechanical

and

thermal

properties

(elastic

modulus,

compressive

strength,

refractoriness under load and thermal shock resistance), physical (density and
porosity) and chemical (chemical composition, resistance to slag and post-mortem
microstructural analysis by scanning electron microscopy). It was also estimated by
finite element methodology the thermal gradient of a ladle using these refractory
materials. The results show that the MgO-C refractory can potentially achieve the best
results during service at Aos Especiais Brasil - Unidade Charqueadas, improving the
performance and operational safety of the melting shop.

XIV

1. INTRODUO
A evoluo nos ltimos anos do consumo mundial de ao per capita teve
uma correspondncia na produo das indstrias siderrgicas brasileiras,
conforme pode ser visto pelo grfico da Figura 1.1 (ALAFAR, 2008).

Evoluo da Produo de Ao no Brasil


Fonte: Steel Statistics Archives

40000
35000
30000
25000

20000
15000
10000
5000

2008

2006

2004

2002

2000

1998

1996

1994

1992

1990

1988

1986

1984

1982

1980

Anos
Figura 1.1: Evoluo da produo de ao no Brasil ao longo dos anos.
Fonte: Steel Statistics Archives 2008 World Steel Association

Esse significativo aumento dos nveis de produo e a evoluo das


indstrias siderrgicas em busca por desempenho superior com custos
competitivos nos diversos mercados mundiais levaram ao desenvolvimento de
materiais e mtodos mais modernos. Isso foi vlido tambm para as aciarias
eltricas, na busca por uma maior produtividade, o que veio a exigir um
aprimoramento nas caractersticas dos materiais refratrios, adequando-se a
novas prticas industriais.
Assim, os processos de aciaria eltrica sofreram diversas modificaes
em sua forma, buscando atender s exigncias do mercado. Segundo
Nakahara (1997), entre essas mudanas, est o aumento de vida til dos
1

materiais refratrios, a reduo dos custos com os materiais aplicados e o


aumento da segurana operacional nos processos produtivos.
A exigncia em desempenho dos materiais refratrios utilizados na
siderurgia se torna a cada dia mais elevada. As sadas prematuras dos
equipamentos do ciclo produtivo, devido a desgastes em trabalho ou por final
de vida til, dificultam o atingimento das metas estabelecidas e oneram a
relao custo por tonelada de ao produzida ou em kg/t, os quais geralmente
so os indicadores medidos na produo do ao.
A utilizao de materiais que proporcionem segurana e uma relao
custo-benefcio mais adequada a chave para o desenvolvimento das
empresas. Para tanto, faz-se necessrio conhecer as caractersticas e
propriedades dos tipos de materiais refratrios e seu comportamento nas
condies de processo, aos quais sero submetidos.
Segundo Coutinho (1996), a seleo de materiais refratrios para
aplicao como revestimento de fornos panelas vai ser definida a partir da
anlise de suas propriedades de interesse tecnolgico. Entre essas, pode-se
citar:
i)

Caractersticas

uniformidade dimensional,

frio

(temperatura

resistncia mecnica,

ambiente):

acabamento,

composio e

textura

uniformes, formatos e densidades, entre outros.


ii) Caractersticas a quente (elevadas temperaturas): refratariedade
simples, escoamento, estabilidade volumtrica, expanso trmica reversvel,
resistncia ao choque trmico, resistncia mecnica e permeabilidade aos
gases.
Os refratrios bsicos apresentam elevada resistncia corrosso em
atmosferas bsicas (escrias, poeiras, gases) a altas temperaturas. Dois dos
principais tijolos bsicos so os produtos magnesianos combinados com
carbono e os produtos dolomticos.
O desenvolvimento de tijolos de MgO-C mais resistentes corroso
resultou no decrscimo de consumo de tijolos impregnados e tijolos ligados com
carbono. O emprego de tijolos de MgO-C continua a crescer de importncia na

medida em que novos produtos dessa classe vm sendo lanados no mercado


e novas aplicaes vm sendo encontradas.
A idia de se adicionar carbono aos refratrios magnesianos surgiu em
razo do carbono reduzir o efeito da molhabilidade (*).
(*) a capacidade de qualquer superfcie slida ficar molhada, quando
em contato com um liquido cuja tenso superficial foi reduzida de modo que o
liquido se espalha sobre a superfcie do slido.
Ento, uma das principais funes do carbono prevenir que a escria
lquida penetre no refratrio e provoque sua ruptura. O carbono previne que os
constituintes da escria reajam quimicamente com a ligao de silicato diclcico
que se forma no refratrio, preservando sua refratariedade e resistncia
mecnica a quente. Alm disso, com a adio de carbono, h a diminuio de
gradientes trmicos no interior do tijolo (pela maior condutividade trmica
proporcionada pelo C). Assim, o carbono tambm previne o fenmeno de
esfoliao estrutural, onde a face quente do refratrio trinca e cai, devido
penetrao da escria em combinao com ciclos de temperatura.
No entanto, necessria uma elevada estabilidade a altas temperaturas,
o que significa uma capacidade do material refratrio em resistir a reaes
internas de oxidao-reduo que podem minar sua resistncia mecnica a
quente e afetar a integridade fsica do refratrio. Isto obtido atravs da
utilizao de anti-oxidantes (elementos como Al e Si) e MgO de alta pureza.
Os refratrios dolomticos so uma mistura de CaO e MgO. Sua alta
refratariedade explicada pelo fato do xido duplo apresentar temperatura de
fuso acima de 2300C. Alm da elevada refratariedade, resistem ao choque
trmico e no so atacados pelas escrias bsicas. Seu grande inconveniente
no resistirem umidade, hidratando-se com facilidade. Este problema pode
ser corrigido em parte pelo alcatroamento, tanto no processo de fabricao,
como depois de prontos.
Refratrios dolomticos oferecem um bom equilbrio entre baixo custo e
boa refratariedade para certos usos, com boas caractersticas metalrgicas
para aplicaes em aciarias. So basicamente utilizados na indstria

siderrgica, notoriamente em revestimento das paredes de panelas de usinas


de aos especiais.
Nos ltimos 20 anos, o uso de dolomticos aumentou em aplicaes que
envolvam a produo de aos e nas zonas de queima e de transio de fornos.
Especificamente, em relao produo de aos de elevada qualidade, os
refratrios dolomticos apresentam excelente compatibilidade com as escrias
bsicas, aliados a sua elevada refratariedade.
A boa resistncia s escrias, deve-se presena de CaO livre, no
encontrado em outros materiais refratrios de menor basicidade. No contato
com escrias no saturadas em CaO, uma camada densa de CaO
recristalizado e silicato diclcico se forma na face do tijolo, limitando a posterior
penetrao de escria.
O emprego tanto do refratrio MgO-C como do dolomtico vai depender
de vrios fatores. Sua seleo para um forno panela deve envolver a avaliao
das propriedades de interesse, para saber como esses materiais podem fazer
frente s condies de servio. A partir desta avaliao, possvel conhecer o
potencial de desempenho, incluindo a, as suas limitaes na resposta s
solicitaes advindas das condies de servio.
Nesse contexto, insere-se o presente trabalho, ao traar um comparativo
de propriedades de interesse tecnolgico entre materiais refratrios dolomticos
e MgO-C utilizados em fornos panelas. Com a perspectiva de se obter
subsdios e indicativos para a seleo de um material refratrio com melhor
potencial de desempenho, considerando as condies operacionais da aciaria
da Aos Especial Brasil Unidade Charqueadas.

2 OBJETIVO
O objetivo deste trabalho de realizar um comparativo entre as
propriedades fsicas, qumicas e estruturais, de dois materiais refratrios, um
dolomtico e outro de MgO-C, com potencial de emprego nas panelas para a
produo de ao de construo mecnica da aciaria da Aos Especial Brasil Unidade Charqueadas. Para isso buscou-se desenvolver os seguintes itens:
i) caracterizao de propriedades qumicas e mineralgicas;
ii) caracterizao de propriedades fsicas como densidade, porosidade e
condutividade trmica;
iii) caracterizao de propriedades mecnicas (resistncia compresso)
e termomecnicas (choque trmico e refratariedade sob carga);
iv) anlise microestrutural e controle dimensional, antes e aps uso, por
microscopia ptica e eletrnica;
v) levantamento do perfil trmico das panelas por simulao por
elementos finitos.
vi) comparar as propriedades analisadas em laboratrio, via simulaes e
amostragens, com os resultados industriais verificados a partir da analise de
espessura residual do refratrio em duas regies da panela:
- regio das fiadas 5 a 10 (revestimento do arranque);
- regio das fiadas 11 a 20 (revestimento da linha de metal).

3 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 METALURGIA DAS PANELAS NA ACIARIA ELTRICA
A crescente exigncia do mercado por produtos de melhor qualidade
com baixo custo fez com que os processos de produo do ao evolussem.
Assim, os fabricantes de ao viram-se obrigados a implementar novos
processos de controle da composio do ao, utilizando para tanto a panela
como recipiente (ARAUJO, 1997).
Segundo International Iron and Steel Institute, as panelas utilizadas em
aciaria vm sofrendo mudanas, no que se refere ao emprego de materiais
refratrios (Figura 3.1). De uma modesta panela de vazamento superior
passou-se a panelas com vazamento inferior. As primeiras panelas vazadas
pelo fundo tinham um mecanismo de haste tampo. As atuais panelas tm
sistemas de vazamento baseados em vlvulas-gavetas, talvez pelo fato de
serem agora um vaso-reator, capaz de suportar um novo conjunto de
solicitaes,

os

materiais

utilizados

na

panela

modificaram-se

substancialmente.

Figura 3.1 Panela nas etapas de produo do ao, utilizada como reservatrio, e no
caso do forno panela e desgaseificador como reator (IISI , 2009).

A metalurgia de panela e o processo de desgaseificao a vcuo


contribuiram fundamentalmente para o aumento do tempo de residncia do ao
na panela. Este aumento do tempo obrigou a utilizao de materiais refratrios
de melhor qualidade, traduzido pela melhor estabilidade fisico-quimca e
propriedades trmicas.
Acompanhando-se pela Figura 3.1, verifica-se que o ciclo de uma panela
na aciaria composto por duas etapas: uma, em que a panela contm o ao
lquido e est no processo e outra, em que se encontra vazia aguardando o
vazamento da prxima corrida. Assim, pode-se considerar, de acordo com a
U.S. Steel (1985) e Schaefer (1986):
Tempo com ao: inicia no momento que o ao vazado para a panela e
termina quando o ao totalmente transferido para o distribuidor no
lingotamento contnuo. Compreende as seguintes etapas: i) vazamento do ao
do FEA; ii) etapas de refino: forno panela, desgaseificao a vcuo e iii)
lingotamento continuo.
Tempo sem ao compreende o intervalo entre o fim do esvaziamento do
ao da panela no lingotamento e o prximo vazamento. Formado das seguintes
etapas: i) manuteno e manuseio de panelas; ii) aquecimento; iii) espera para
vazamento.
Entre as solicitaes na panela, pode-se citar: altas temperaturas,
escrias corrosivas, grandes tempos de residncia e agitao violenta do
banho:
i) Altas temperaturas: embora as mximas temperaturas do FEA sejam
tipicamente menores, as temperaturas na linha de escria do forno panela so
maiores, devido ao reaquecimento por arco eltrico. A corroso dos refratrios
pela escria possvel, e encontrando condies favorveis ser diretamente
proporcional a fluidez e temperatura da escria. Deve-se ter cuidado com os
pontos quentes, principalmente na manuteno da distncia entre o eletrodo e
parede do refratrio, para evitar a ocorrncia de desgaste nos pontos quentes.
ii) Escrias corrosivas: escrias contendo potencial de dissoluo do
material refratrio devido a sua composio qumica (basicidade e fluidez);

iii) Grandes tempos de residncia: tempos de refino e reaquecimento so


adicionados ao tempo total que o aquecimento alcanado na panela. Isto
resulta em um aumento da temperatura mdia dos refratrios da camada mais
interna, logo um aumento da penetrao de ao e escria na mesma.
iv) Agitao violenta do banho: a agitao contnua do banho gera um
aumento da eroso na regio adjacente do plug poroso. A eroso dos
refratrios da camada mais interna tambm ocorre.
Alm disso, para o refino secundrio tambm foram levadas as
operaes de dessulfurao e controle de incluses. Desenvolveram-se ainda
tcnicas de controle que permitiram o ajuste de temperatura e composio
qumica em faixas muito estreitas, alm de proporcionar um encharcamento
trmico da panela, reduzindo as perdas de temperatura no lingotamento,
obtendo-se

produo

de

aos mais limpos

(OREHOSKI,

1986

RELLERMEYER, 1986).
Alm dos processos citados acima, na metalurgia secundaria tambm
foram instalados equipamentos que permitem a eliminao do hidrognio
expondo o ao a presses reduzidas. Este procedimento denominado
desgaseificao a vcuo (*).
(*) Ambiente fechado, livre da presena de O2, onde as presses no interior da
campnula so inferiores a presso externa.
3.1.1 PANELA FORMATO E REVESTIMENTO REFRATRIO
De acordo com Coutinho (2000), as panelas so geralmente cilndricas
ou em tronco de cone, com a base maior para cima (para facilitar a retirada dos
casces de metal solidificado). Algumas vezes, as panelas so de seo oval,
devido ao aumento da capacidade original, mantendo-se o afastamento entre
os garfos de gancho da ponte rolante.
A armao da panela em chapa grossa, soldada de ao ao carbono.
Possui um anel de reforo preso ao fundo para basculamento por meio de
gancho e um orifcio no fundo por onde ir fluir o ao. Possui, ainda, um reforo
para sustentao dos munhes, pelos quais transportada.
Uma panela de grande capacidade tem a seguinte distribuio de peso:

i) carcaa 16%;
ii) refratrios 12%;
iii) ao lquido 70%;
iv) escria 1%.
Consideraes energticas e de custo baseiam uma diretriz de minimizar
o peso da panela em tudo o que se refere montagem (COUTINHO, 2000 e
HANDBOOK OF REFRACTORY PRATICE, 1998). O revestimento refratrio
das panelas deve resistir s temperaturas elevadas do ao lquido, entre
1580C e 1700C, e eroso mecnica provocada pela turbulncia do metal
durante o enchimento.
A Figura 3.2 apresenta esquematicamente uma panela em corte,
indicando as diferentes regies do revestimento refratrio. A panela compe-se
de uma carcaa metlica cilndrica, coberta por uma camada de isolante,
constituda de tijolos, placas, mantas ou ainda papel isolante.

Figura 3.2 Desenho esquemtico de uma panela, em corte, indicando as zonas/partes


constituintes. (Fonte: ACI-510 Gerdau Refratrios Aplicados a Aciaria Eltrica pg. 10).

O revestimento refratrio constitudo de duas partes: o permanente,


constitudo por material refratrio e isolante, formatado ou monoltico, e o de
trabalho (ou de desgaste), correspondente face quente da panela, em contato
direto com o ao, constitudo de tijolos que iro variar de acordo com o tipo de
ao produzido.
Das partes constituintes da panela, podem ser citadas as seguintes
caractersticas:
i) Tampa: empregada para minimizar perdas trmicas, sobretudo naqueles
casos de tempos prolongados de reteno;
ii) Borda ou linha superior da parede: encontra-se fora do contato direto
com o metal e/ou escria, em alguns casos, pode ser chamada de regio
de sobrelinha da escria;
iii) Linha de escria: em contato direto com a escria;
iv) Paredes: regio em contato com o banho de ao lquido;
v) Zona de impacto: rea sobre a qual impacta o ao lquido que
despejado na panela. Esta zona pode estar na parede ou no fundo;
vi) Fundo com sistema de vazamento (sede de vlvula) e de borbulhamento
(plug poroso).
A escolha dos materiais a serem empregados nestas regies da panela
dependem do processo que ser empregado na mesma, bem como o tipo de
ao a ser produzido.
Os materiais refratrios utilizados nas panelas podem ser dolomticos,
magnsia-carbono ou aluminosos, dependendo do local onde sero aplicados.
A montagem segue especificaes determinadas para cada rea (CASSETE,
2000).
3.1.1.1 Revestimento Permanente
O objetivo principal realizar o isolamento trmico e proteger a carcaa
metlica contra infiltraes de ao. Normalmente so empregados tijolos
queimados de alta alumina nas regies do fundo e linha de metal e na linha de
escria so utilizados tijolos MgO carbono.

10

3.1.1.2 Revestimento de Borda Livre (ou Free-Board)


Segundo Frueham (1985), os refratrios dessa regio esto sujeitos s
solicitaes de oxidao, temperaturas elevadas, variao de temperatura,
ataque (eroso/corroso) de escrias. Em usinas que possuem elevado tap-totap no forno panela, utiliza-se os mesmos refratrios usados na linha de
escria, devido ao ataque do arco eltrico, porm com teores de carbono mais
baixos, evitando assim oxidaes elevadas nessa regio.
3.1.1.3 Revestimento de Linha de Escria
De acordo com Ribeiro e Sampaio (1986), a linha de escria a regio
de maior solicitao no forno panela, e , na maioria dos casos, a regio
limitante na vida da panela. O principal mecanismo de desgaste a corroso
qumica pela ao das escrias, bem como eroso, funo de sua agitao,
quer seja por agitadores ou via injeo de gases inertes. Porm, existem outros
fatores que causam desgaste nessa regio:
i) Temperaturas elevadas;
ii) Ao da chama do arco eltrico;
iii) Elevado tap-to-tap no forno panela;
iv) Elevada agitao do banho nas etapas de correo de ligas e
dessulfurao;
v) Variao do volume de escria presente;
vi) Variao da composio qumica das escrias (basicidade), teor de
MgO, FeO e Al2O3.
Com isso, os materiais refratrios mais utilizados nessa regio so os de
MgO-C, pois possuem algumas caractersticas importantes para o processo:
I) Baixa porosidade;
ii) Elevada refratariedade;
Iii) Elevada resistncia mecnica a quente;
Iv) Elevada resistncia corroso por escrias;
v) Boa resistncia ao choque trmico;
11

vi) Adequada resistncia oxidao;


O uso de tijolos dolomticos para revestimento da linha de escria tem se
ampliado. Porm, os desempenhos de uma maneira geral no acompanham a
vida til do restante do revestimento, exceo do forno panela com excelente
controle sobre a qualidade das escrias de processo.
3.1.1.4 Revestimento da Linha de Metal
Segundo Young, Cameron e Schade (1999), na maioria das aciarias
predominam os refratrios bsicos, sendo que a principal caracterstica desses
materiais que o carbono contido no ultrapassa 8%, pois as solicitaes da
panela nessa regio, a eroso do metal lquido, as elevadas temperaturas e o
tempo de contato metal/refratrio so extremamente desfavorveis.
Em aciarias que utilizam desoxidao com silcio, os refratrios
dolomticos so amplamente utilizados devido ao custo e vida til. Para um bom
desempenho na linha de metal e linha de escria, considerando principalmente
os revestimentos dolomticos, recomenda-se a observar os seguintes cuidados
operacionais:
i) Pr-aquecimento dos novos revestimentos a uma temperatura mnima
de 1000C, em um tempo mnimo de 12 horas, com isso evita-se possveis
trincas ou lascamentos por choque trmico.
ii) Evitar o uso de O2 nos aquecedores de modo a preservar o carbono
da face quente dos tijolos, evitando infiltraes e perda de resistncia
mecnica.
iii) Reduzir o nmero de panelas no ciclo para manter-se o refratrio mais
quente.
iv) Evitar quedas de temperatura e panelas fora de ciclo, pois com isso
evita-se a degradao.
v) Utilizar o back fill(*) o que permite reduzir as infiltraes de ao e escria.
(*) camada de massa refratria aluminosa, entre o revestimento de
trabalho e o permanente.
vi) Otimizar a composio das escrias, evitando que a mesma busque
saturao de elementos qumicos no refratrio.
12

3.1.1.5 Revestimento do Fundo


Para a regio do fundo de panela, pode-se utilizar materiais dolomticos
ou aluminosos (alta alumina). A maior preocupao dessa rea do revestimento
est na regio de impacto do ao durante o vazamento do ao. Com o uso de
fornos com bicas excntricas, as regies de impacto ficaram bem localizadas no
fundo da panela. Para essas reas, recomenda-se o uso de tijolos do tipo
alumina-C (SAVAGE, 1998).

3.1.1.6 Sedes de Plugs e Vlvula


Como sedes de plugs e vlvulas, utiliza-se peas pr-moldadas, a partir
de concretos de baixo teor de cimento da linha alumina-cromo, alumina-MgO, e
alumina-espinlio (SAVAGE, 1998).

3.2 DEGRADAO DOS REFRATRIOS EM PANELAS


Tanto o Modern Refractory (1992) quanto Routschka (1992) afirmam que
quando um revestimento refratrio no est atendendo performance
esperada, sempre importante analisar todas as condies operacionais.
Essas informaes, combinadas com uma investigao post-mortem do
refratrio empregado e com caractersticas das escrias e do banho metlico
em contato, vo permitir a identificao das solicitaes (quanto ao tipo e
origem) e dos mecanismos de degradao atuantes.

3.2.1 ORIGEM DAS SOLICITAES


Duarte (2000) classifica genericamente as solicitaes que levam
degradao dos materiais refratrios em servio como trmicas, mecnicas e
qumicas. Em geral, no existe uma atuao isolada dessas solicitaes e sim
uma sinergia. Na sua origem, essas solicitaes podem estar associadas a
fatores operacionais e/ou de projeto e montagem, que so apresentados na
seqncia:
3.2.1.1 Fatores Operacionais
13

Os fatores operacionais podem ser classificados como:


i) Trmicos: temperatura mxima, alternncia de temperatura, fonte de
calor e taxa de fornecimento de calor;
ii) Qumicos: natureza do processo ataque de escrias, ataque de gases
da operao e ou combustvel, etc.;
iii) Mecnicos: impacto da carga slida, eroso por escria e ou metal
lquido, entre outros;
iv) Outras fontes: freqncia de operao, etc.
A operao do forno panela, que utiliza o arco eltrico como fonte
principal de energia para aquecimento das corridas, tambm apresenta os
fenmenos de agressividade parede refratria pela ao da chama irradiada
do arco, como em um forno eltrico.
O princpio de aquecimento do ao pela utilizao de energia eltrica
est no aquecimento de escria e na transferncia de calor da escria para o
metal via processo convectivo, ajudado pela agitao do banho promovida pela
ao de agitador eletromagntico, ou pela injeo de gases.
O controle operacional, para se evitar o sobreaquecimento das escrias
e o desgaste prematuro dos refratrios, deve ser feito das seguintes variveis: i)
consumo de energia eltrica; tempo de forno ligado e iii) regulagem da
rinsagem ou do agitador eletromagntico. Essas variveis so a seguir
descritas.
-Consumo de energia eltrica:
Em funo da regulagem eltrica adotada, tem-se como resultante um
comprimento de arco, que deve ser protegido pela escria para no causar os
fenmenos de formao de pontos quentes no revestimento refratrio. A
quantidade de escria a ser adotada, com o objetivo de proteo do arco pode
ser definida de acordo com a Equao 3.1.

escria

Peso de escria = [( ri + 2 ri L)) * Dh] *

Equao 3.1

14

onde 3,14; ri o raio interno do revestimento; L o comprimento do lado


reto da carcaa (zero para as panelas circulares); Dh o altura de escria
escria

menos o valor da funo do comprimento de arco e

a densidade da

escria.
-Tempo de forno ligado:
Quanto maior o tempo de forno ligado, maior ser a taxa de aquecimento
da escria e, como conseqncia, a sua agressividade sobre os refratrios. A
prtica das aciarias demonstra um aumento nas taxas de desgaste dos
refratrios medida que se aumentam os tempos de forno ligado, ou seja, o
consumo de energia eltrica.
-Regulagem da rinsagem ou do agitador eletromagntico:
Todo o processo de homogeneizao qumica e trmica em um forno
panela obtido atravs da agitao de banho metlico e escria. Os mtodos
mais tradicionais e amplamente usados so a rinsagem de gases inertes, via
plugs ou lanas e agitadores eletromagnticos. A energia de agitao
expressa em W/t ou W/m3 e os valores tpicos dessa energia em um forno
panela so da ordem de 200 a 1000 W/m3.
O desgaste de refratrios, principalmente da linha de escria, sofre efeito
direto dessa energia de agitao. Quanto maior essa energia, maior ser a
agitao da escria em relao aos refratrios, provocando solicitaes de
eroso e corroso qumica mais intensa.
O uso da injeo de gases mais comum na operao dos fornos
panela. Alm dos cuidados operacionais de controle de vazo e de presso da
rinsagem, a posio do plugs no fundo da panela deve obedecer Equao
3.2:
r < D< 2/3 r

Equao 3.2

onde r o raio interno do revestimento da parede lateral e D a distncia do plug


a parede lateral. A operao com plugs muito prximos parede forma regies
preferncias de desgaste ao longo da linha de metal e principalmente na linha
de escria da panela.
15

Rinsagens de baixa vazo podem causar o sobreaquecimento da escria


e das camadas superiores do ao, provocando baixas taxas de aquecimento da
corrida, aumentando a eroso dos refratrios, principalmente da linha de
escria. J altas taxas de rinsagem causam splash de ao, formao de curto
circuito do arco, pick up de carbono, consumo exagerado de eletrodo, e baixa
eficincia de aquecimento. Nesses casos, a chama do arco pode ser defletida
para as paredes levando a formao de pontos quentes.
Altas vazes 500 l/min devem ser empregadas somente nas etapas
de adies ou na dessulfurao. Operao com baixas taxas de vazo 200 a
300 l/min proporcionaro altas taxas de aquecimento, melhores condies de
flotao de incluses e menores taxas de eroso dos refratrios da panela.
Alm dos efeitos sobre os refratrios a energia de agitao exerce funo
metalrgica essencial nos processos de desoxidao e dessulfurao.
3.2.1.2 Fatores Associados ao Projeto e Montagem
Savage (1998) subdivide os fatores ligados ao projeto e montagem em:
i) Tipo de equipamento;
ii) Volume e geometria do equipamento;
iii) Projeto e dimenses das paredes, abobadas e arcos;
iv) Juntas de dilatao;
v) Isolamento trmico.
O projeto e a montagem do revestimento refratrio em panelas para um
determinado processo deve seguir os seguintes passos:
i) verificar a adequao do refratrio ao processo. Por exemplo, a fluorita
ataca todos os tipos de refratrios, mas os aluminosos se ressentem mais de
teores elevados de fluorita na escria; os dolomticos so incompatveis com
altos teores de alumina na escria.
ii) adequar o processo ao refratrio escolhido. Esta adequao abrange:
condicionamento de escria, minimizao das perdas trmicas entre corridas,
evitar temperaturas elevadas e minimizao das paradas de processo.

16

iii) anlise de custo. Nem sempre o melhor refratrio o mais adequado


para uma determinada usina, o mais importante o valor de consumo de
refratrio em relao ao produto fabricado.
Como para um mesmo processo, as solicitaes ao revestimento
refratrio variam em funo da regio da panela, necessria em cada regio a
utilizao do refratrio mais adequado, que apresente as propriedades mais
compatveis com as solicitaes.

3.2.2 TIPOS DE DEGRADAO DOS MATERIAIS REFRATRIOS


Modern Refractory Practice (1992) e Routschka (1997) avaliam que os
principais tipos de degradao a que um material refratrio est sujeito em
servio no forno panela so o desgaste, como fenmeno fsico; a termoclase,
como fenmeno termomecnico e a corroso, como fenmeno termoqumico.
3.2.2.1 Desgaste
O desgaste pode ocorrer por trs mecanismos diferentes no revestimento
refratrio de um forno panela, a seguir descritos:
i) Abraso: slidos se atritam com o refratrio, sejam esses provenientes
de materiais pesados, carregados no forno, ou por abraso por slidos
metlicos ou no-metlicos, ou a projeo direta de ps abrasivos ou gases em
altas velocidades;
ii) Eroso: fluidos com partculas em movimento em relao ao refratrio.
Em geral, associada a processos de corroso;
iii) Impacto: no impacto a energia cintica transformada em energia de
deformao, quando um corpo choca-se contra uma superfcie. abordado
levando-se em conta os conceitos de tenso, deformao e o de energia de
deformao dos materiais envolvidos no impacto.

17

3.2.2.2 Termoclase
Termoclase uma degradao por perda de fragmentos das faces dos
refratrios atravs de um processo de formao de trincas em sua estrutura,
quando submetidos a um gradiente trmico.
O gradiente trmico o perfil de temperaturas no interior de um refratrio
desde a face quente at a face fria. Assim sendo, revestimentos mais finos
apresentaro menores taxas de desgaste que os mais espessos, pois o
gradiente trmico se apresenta mais pronunciado e variaes bruscas de
temperaturas implicaro em gradientes trmicos no uniformes, o que
contribuir na gerao de fortes tenses trmicas caracterizando o fenmeno
de choque trmico (OLIVEIRA, 1997).
3.2.2.3 Corroso
o conjunto de reaes entre um material e seu ambiente, que produz
deteriorao do material e de suas propriedades.
Para que haja corroso, necessrio que existam agentes corrosivos. As
reaes ocorrem entre o refratrio, a escria fundida e os agentes fluxantes que
tenham sido empregados. A eroso do refratrio geralmente acompanha a
corroso por uma movimentao do lquido em contato com o refratrio. Assim,
para que ocorra a corroso so necessrias trs etapas: contato dos agentes
corrosivos, reao na interface com o refratrio e remoo dos produtos
formados. A Figura 3.3 apresenta quatro diferentes situaes a que o material
refratrio est sujeito em funo de sua microestrutura. A influncia da tenso
superficial entre o refratrio e a escria uma das variveis mais importantes
do processo de corroso, pois controlam as reaes entre o refratrio, o lquido
e o gs presente no ambiente. No caso de tijolos de MgO-C, o carbono por sua
elevada tenso superficial diminui a molhabilidade a metais e a escria lquida,
dificultando a penetrao no interior do material refratrio.

18

Figura 3.3: Esquematizao do processo de dissoluo do refratrio pela escria


em funo da microestrutura. (Fonte: ACI-510 Gerdau Refratrios Aplicados a Aciaria
Eltrica).

As escrias exercem sobre os refratrios, aes de corroso,


provocando intensas taxas de desgaste, principalmente nas regies de linha de
escria. A composio qumica das escrias do forno panela depende da
qualidade da escria primrias do forno eletrico nos aspectos de basicidade,
saturao em MgO e oxidao, e da quantidade de escria que deixada
passar do forno para a panela. O volume de escria passante uma importante
varivel e todas as medidas para minimiz-la devem ser tomadas, do contrario
adies extras de fundentes devero ser feitas no forno panela. Como
conseqncia, grandes volumes de escria estaro presentes levando a
elevada taxas de desgaste dos refratrios, alm de maiores consumos de
energia, eletrodos e ligas.
Os principais controles para se obter baixas taxas de ataque so:
i) Temperatura liquidus: Materiais com uma temperatura liquidus muito
elevada, precisam de mais energia para aquecer.
ii) ndice de saturao de escrias em MgO e CaO: Se o material no
estiver saturado nesses elementos a escria ir compensar a composio
qumica do refratrio da panela

19

iii) Volume de escria: Corridas com pouca escria, no iro proteger o


refratrio da ao do arco eltrico.
iv) Grau de agitao da corrida: Quanto maior a agitao, maior o
desgaste.
v) Tempo de contato escria refratrio: elevadas Tap-to-Tap ao longo
do processo aceleram o desgaste
vi) Temperatura de aquecimento das escrias: quanto maior temperatura
de aquecimento maior o desgaste.
3.3 REFRATRIOS DOLOMTICOS
Segundo classificao da Refractories Handbook (1998), dolomitas so
carbonatos duplos de magnsio e clcio (CaMg (CO3)2) que se decompem no
aquecimento, liberando o dixido de carbono e originando MgO (~700C) e
CaO (~900C). O produto da calcinao simplesment e uma mistura de cal e
MgO. So refratrios que possuem alta refratariedade. A Tabela 3.1 apresenta
a composio qumica caracterstica e algumas propriedades de refratrios
dolomticos. A Figura 3.4 apresenta o diagrama de fases do sistema CaO e
MgO. A dolomita existe em abundncia, mas nem todos os depsitos so
adequados para siderurgia, devido ao nvel de impurezas. O processo de
obteno da dolomita consiste em calcinao, moagem e lavagem para retirada
das impurezas. A Equao 3.3 descreve a obteno da dolomita.
MgCa(CO3)2

CaO +MgO + 2CO2

Equao 3.3

Tabela 3.1: Composio qumica caracterstica e algumas propriedades de refratrios


dolomticos.
Composio qumica

(%)

CaO

57

MgO

41

SiO2

0,7

Al2O3

0,5

Fe2O3

0,80

Fase lquida presente a 1600C

2-3

Propriedades fsicas
Densidade
Porosidade aberta
Resistncia hidratao (ASTM C-492)

3,25 g/cm

4%
< 5%

20

% Massa
Figura 3.4: Diagrama de fase CaO MgO que representam os refratrios dolomticos.
(Fonte: ACI-510 Gerdau Refratrios Aplicados a Aciaria Eltrica).

A calcinao deve ser levada a temperaturas muito superiores a 1700C,


o que ocasiona o crescimento dos gros e reduz a porosidade mxima para
15%, com isso o produto pode ser armazenado por vrias semanas.
A partir da dolomita calcinada morte, os refratrios dolomticos sofrem
queima em elevadas temperaturas por longos tempos, dando origem aos
refratrios dolomticos sinterizados. Material de custo elevado, mas pode
competir com os MgO-C, pois esto menos sujeitos hidratao do que os
dolomticos no sinterizados.
3.3.1 PROPRIEDADES
Os refratrios dolomticos apresentam tendncia deteriorao quando
estocados, pois a cal livre reage com a umidade do ar. Como antdoto, deve-se
transformar a cal livre em um silicato ou ferrita diclcica (adio de 5 a 7% xido
de ferro).
Os

refratrios

dolomticos

apresentam

tambm

tendncia

da

transformao do silicato diclcico-, que se forma a altas temperaturas, para a


21

forma -, o que ocasiona uma reduo de volume de 10%. Esta reao,


denominada dusting, pode desintegrar um tijolo denso, deixando-o na
granulometria similar a de um p de arroz. A adio de cido brico ou fosfatos
tendem a impedir a essa transformao de fase.
A adio de carbono tem a capacidade de inibir a penetrao profunda
de escrias, devido a uma combinao de vrios fatores como, por exemplo, o
bloqueio fsico dos poros e diminuio da molhabilidade (Figura 3.5), alm de o
carbono reagir com escrias ferrosas, reduzindo o Fe2O3 presente a FeO ou a
ferro metlico, que no so corrosivos para a MgO e para a cal. A impregnao
com alcatro tambm melhora a resistncia hidratao, e a resistncia ao
spalling e a escrias.
Os refratrios dolomticos possuem boa resistncia a escrias devido
cal livre que est presente em sua composio. Em contato com escrias pouco
saturadas em cal, uma densa camada de recristalizado de silicato diclcico
forma-se na face quente do tijolo, limitando posterior penetrao de escria e
retardando o desgaste. Contudo, escrias deficientes em cal e ricas em xidos
R2O3 podem ser bastante agressivas. Isto se deve formao de aluminatos de
clcio e/ou ferritas com ponto de fuso abaixo de 1600C.

Figura 3.5: Molhamento dos refratrios com e sem C em sua composio qumica.
(Fonte: ACI-510 Gerdau Refratrios Aplicados a Aciaria Eltrica).

22

De maneira geral, as propriedades dos refratrios dolomticos podem ser


subdivididas a partir do processo de fabricao a que foram submetidos. Os
materiais refratrios dolomticos sinterizados a altas temperaturas apresentam:
i) Elevada resistncia compresso;
ii) Estabilidade dimensional;
iii) Boa refratariedade;
Os materiais refratrios apenas queimados apresentam:
i) Baixa resistncia compresso;
ii) Elevada sensibilidade a xidos de ferro;

3.4 Refratrios MgO-C


Pela definio do Refractories Handbook (1998), os refratrios
magnesianos so materiais refratrios base de MgO que possui alto ponto de
fuso (superior a 2800C). Apresentam excelente res istncia ao ataque de
xidos de ferro, alcalinos e fundentes ricos em cal. Porm, a sua principal
limitao a expanso trmica elevada, que torna difcil produzir tijolos com
elevada resistncia ao choque trmico. Possuem elevada condutividade trmica
e elevado calor especfico, o que demanda muita energia para aquecimento.
A matria-prima a magnesita (MgCO3) que calcinada a elevadas
temperaturas. Quanto menor o teor de SiO2, melhor sua qualidade. Os
processos de fabricao podem levar a diferentes produtos, classificados como:
i) Tipo A: com pega cermica (sinterizao), obtida a partir de queima
entre 1500C e 1650C;
ii) Tipo B: com pega cermica (sinterizao), obtida a partir de queima a
temperaturas de 1700 a 1800C;
iii) Tipo C: so quimicamente ligados, pela adio de soluo de sulfato
de magnsio ou outras resinas e grafita. O tijolo fornecido como noqueimado;
iv) Tipo D: impregnados com piche (em desuso).

23

3.3.1 PROPRIEDADES
Os materiais refratrios que apresentam gros de periclsio, de 500 a
1000 m, fundidos por eletrofuso das matrias-primas, possuem maior
resistncia eroso e perda de massa que os materiais refratrios com gros
sinterizados.
Os gros eletrofundidos so tambm mais resistentes escria. Isso
ocorre devido menor porosidade intragranular. A Figura 3.6 apresenta um
comparativo entre as microestruturas de materiais refratrios com gros
eletrofundidos e com gros sinterizados. A maior resistncia do gro
eletrofundido especialmente importante na presena de carbono, pois acima
de 1650C o MgO tende a ser reduzido, segundo a Equ ao 3.4:
MgO + C

Mg (vaporiza) + CO

Equao 3.4

Os materiais refratrios de MgO possuem alta capacidade de acomodar


os xidos de ferro em solues slidas a temperaturas elevadas, sem formao
de fase lquida (1713C, ao ar, diagrama B da Figur a 3.7). O MgO pode conter
at 68% de Fe2O3 antes de formar lquido. A resistncia da microestrutura s
escrias vai depender do balano entre as impurezas intra e intercristalinas, as
quais iro determinar a resistncia do gro ou da matriz (Figura 3.8).

Figura 3.6: Comparao entre estruturas com GE (Gro Eletrofundido) e GS (Gro


Sinterizado). Aumento da lupa em (A) 20x e (B) em 50x. ( Fonte: Materiais refratrios Bsicos
pg.35)

24

Figura 3.7: Diagramas de fase do sistema MgO-xido de ferro. (A) em contato com ferro
metlico e (B) em contato com o ar. (Fonte: Materiais Refratrios Bsicos)

Figura 3.8: Gros com e sem impurezas na matriz. (Fonte: Materiais Refratrios Bsicos)

A adio de carbono ao refratrio de MgO promove um aumento da


condutividade trmica, por consequncia maior resistncia ao choque trmico.
Tambm aumenta a resistncia penetrao de escrias e, em certos casos, a
resistncia mecnica a quente e a refratariedade.
25

A presena do carbono modifica a microestrutura, em especial, a


distribuio do silicato lquido relativamente fase de periclsio, por fazer
aumentar o ngulo de contato entre a escria e o material refratrio. Este
aumento no devido baixa presso de O2, gerada pela presso do carbono,
mas antes alterao da energia de superfcie dos gros de MgO onde o
carbono penetra por difuso.
Outro efeito da presena de C a formao da chamada zona densa de
MgO(*), imediatamente atrs da face quente do refratrio magnestico que
contenha carbono, fenmeno ilustrado na Figura 3.9.
(*) Entre o ponto de reduo do MgO em contato com o carbono e a
vaporizao do metal na face quente, existe um combinao de potencial de
oxignio e temperatura, para a qual o Mg no estvel na forma de vapor.
Como a presso de O2 mais alta na face quente (~ 10-8 atm), o Mg oxida e
condensa a partir da fase vapor, formando uma camada densa de MgO
secundria. Teoricamente, a camada densa protege o refratrio contra a
oxidao do carbono e dificulta a infiltrao de escria no refratrio.

Figura 3.9: Formao da zona densa de MgO no tijolo refratrio.


(Fonte: Materiais Refratrios Bsicos).

26

4 MATERIAIS E MTODOS
4.1 MATERIAIS
Os materiais refratrios investigados neste trabalho foram:
i) Dolmag-100. Fornecidos pela empresa Magnesita Refratrios S.A.
um tijolo refratrio base de dolomita sinterizada, quimicamente ligada a piche
e impregnado. Com composio qumica base de CaO (50 54%) e MgO (43
47%). empregado na montagem das linhas de metal e escria das panelas.
ii) Grafinox PA LM, Fornecidos pela empresa Magnesita Refratrios S.A.
um tijolo refratrio de MgO-C, quimicamente ligado, base de MgO
sinterizado e /ou eletrofundido, com adies de antioxidantes. Com composio
qumica constituda por MgO (90 95%), C (5 8%) e outros (mx. 4,8%).
empregado na montagem das linhas de metal das panelas.

4.2 MTODOS
4.2.1 DENSIDADE E POROSIDADE APARENTE
A densidade aparente uma medida da relao entre a massa e o
volume de um refratrio. O mtodo utilizado para determinao da densidade
foi o da balana hidrosttica e geomtrica (norma NBR 6220). A Equao 4.1
calcula o valor da densidade de massa aparente (D.M.A.).

D.M.A. = ms [(mu - mi)/ dL]

Equao 4.1

onde:
ms = massa seca;
mu = massa mida;
mi = massa imersa;
dL = densidade do lquido.
A Figura 4.1 ilustra os tipos de porosidades possveis em um material
refratrio. A porosidade aparente, muitas vezes referida como aberta, uma
27

medida da proporo de poros abertos (ou transpassantes ou interconectados)


presentes em um material.

Figura 4.2. Tipos de porosidade fechada, no-transpassante e transpassante. (Fonte:


Refratrios para Siderurgia- Aciaria Eltrica- ABM).

Segundo a NBR 6220, a porosidade ou porosidade aparente uma


relao entre os poros abertos ou interconectados, permeveis aos fluidos, e o
volume do material. O mtodo utilizado para determinao da porosidade foi o
da balana hidrosttica e porosimetria de mercrio (*), realizado na empresa
magnesita, segundo a Equao 4.2.
(*) o mercrio colocado sobre a superfcie da amostra, e exercida uma fora
externa que supere a tenso superficial do mercrio e o ngulo de contato entre
o mercrio e material.
P.A. = [(mu- ms)/ (mu - mi)] * 100

Equao 4.2

O mtodo de saturao utilizado para a determinao da densidade e


porosidade, foi o de banho-maria e colocao em vcuo de gua ou querosene.
Para esse ensaio o foi preparado um corpo-de-prova cilndrico com
dimensional de 100x200mm2.

28

Foi utilizada uma balana semi-analtica com resoluo de 0,1g ou 0,01g.


Para materiais carbonceos, a secagem em estufa foi feita a 60C 5C, e para
materiais no-carbonceos a 110C 5C. O corpo de prova foi Imerso em um
recipiente com querosene como lquido saturante toda a vez que foi analisado
um material que reaja com gua ou contenha produtos nela solveis e submetlo a vcuo num perodo de 2h, em uma cmara de vcuo com presso absoluta
inferior a 6,66 KPa.
4.2.2 RESISTNICA COMPRESSO A TEMPERATURA AMBIENTE
A resistncia mecnica compresso (Rcompresso) foi avaliada segundo a
norma NBR 6224, de acordo com a Equao 4.3.
Rcompresso = P/A (MPa)

Equao 4.3

onde: P= carga de ruptura (N)


A= rea de aplicao da carga (mm2)
Os corpos-de-prova foram preparados com dimenses de 505 mm de
altura e dimetro, e secos em estufa a 110 C 10 C. A mquina de ensaios
universal utilizada permitiu a medida das cargas aplicadas, com preciso de
2%. O aumento de carga aplicada foi de 1 0,1 MPa/s.
A Figura 4.2 ilustra esquematicamente o ensaio realizado. A Figura 4.3
apresenta fotografias de um corpo-de-prova antes e aps a determinao de
sua resistncia mecnica compresso.

Figura 4.2. Determinao da resistncia mecnica compresso.

29

(Fonte: Magnesita, Ensaios Fsicos EPropriedades Mecnicas dos Refratrios)

Figura 4.3. Corpo-de-prova submetido a ensaio para a determinao da


resistncia mecnica compresso, segundo a norma NBR 6224.
(Fonte: Magnesita, Ensaios Fsicos e Propriedades Mecnicas dos Refratrios)

4.2.3 MDULO DE ELASTICIDADE


O mdulo de elasticidade foi calculado a partir da determinao da
velocidade do som nos materiais refratrios investigados, com base na norma
NBR 14641, de acordo com a Equao 4.4. A Figura 4.4 apresenta
esquematicamente a metodologia adotada.

E = V2. . [(1+ ) (1-2) / (1 )]

Equao 4.4

onde:
E = mdulo de elasticidade;
V = velocidade ultrassnica;
= coeficiente de Poisson;
= densidade mdia aparente;
Para a determinao da velocidade ultrassnica, foi utilizado um
equipamento de ultrassom da James Instruments Modelo C-4902 V Meter
de 150 kHz. Previamente medio, os corpos-de-prova foram secos em
estufa a 110 C 10C. As superfcies dos corpos-d e-prova foram umectadas
com graxa para melhor contato com os transdutores. Foi tomado o tempo de

30

transmisso do pulso ultra-snico em pelo menos trs pontos ao longo da pea,


com espaos entre si de no mnimo 200 mm.

Figura 4.4. Determinao do mdulo de elasticidade por ultra-som


Refratrios para Siderurgia- Aciaria Eltrica- ABM).

(Fonte:

4.2.4 TESTE DE REFRATARIEDADE SOB CARGA


O teste de refratariedade sob carga feito com uma taxa constante de
aquecimento,

onde

se

avaliam

as

temperaturas

correspondentes

determinadas deformaes pr-determinadas da amostra (Figura 4.5). So


testes que geram informaes importantes para solicitaes sob carga em altas
temperaturas, com base na norma NBR-6223.
Este ensaio fornece as temperaturas T0,5, T1; T2;..n nas quais a
deformao de 0,5%, 1%, 2%, e assim por diante, a partir da dilatao
trmica mxima do corpo-de-prova que ocorre na temperatura T0.
Para a realizao deste ensaio, utilizou-se corpos-de-prova dos materiais
em estudo, com dimenses de 110 mm de dimetro x 250mm de altura e 50mm
de dimetro x 600mm de altura e discos de MgO-C e CaO.MgO, com 50mm de
dimetro e 5mm de altura, numa mistura de coque mdio e grafita (10:1).
As medies foram realizadas em um forno eltrico, dotado de um
sistema que permite aplicao de carga vertical constante de 2kgf/cm2, com
zona de queima cilndrica e capacidade de at 1800C. As leituras de
temperatura e do micrmetro foram realizadas a cada 10 minutos e/ou quando
ocorreria um ponto tpico.
31

Figura 4.5. Curva tpica de refratariedade sob carga de um material refratrio


(Fonte: Refratrios para Siderurgia- Aciaria Eltrica- ABM).

4.2.5 RESISTNCIA AO ATAQUE DE ESCRIA


A resistncia ao ataque de escrias dos materiais refratrios investigados
foi determinada pelo ensaio esttico (Figura 4.6).

Figura 4.6. Determinao de resistncia ao ataque por escria (Fonte: Refratrios para
Siderurgia- Aciaria Eltrica- ABM 2000).

32

Para tanto, foi utilizado um forno de induo de 50KW que permitia a


fuso de uma carga de escria em tempos de 60 a 90 minutos. O nvel do
banho no cadinho contendo a escria foi mantido a da altura do cadinho. A
Tabela 4.1 apresenta a composio da escria utilizada no teste de resistncia
ao ataque pelos materiais refratrios investigados.
As coquilhas eram previamente pintadas com tinta grafitada dissolvida
em gua. Os corpos-de-prova foram avaliados aps a 2a ou 3 adio de
escria. Para tanto, a escria era retirada do cadinho, basculando o forno
lentamente at que aparecesse a linha de escria.
Aps ataque, os corpos-de-prova foram cortados ao meio no sentido
longitudinal. Foram tomadas as seguintes medidas com paqumetro digital:
a) duas medidas na linha de escria, uma em cada metade, na sua parte
mais desgastada, identificando como MFE-1 e MFE-2;
b) duas medidas da linha de metal em cada metade da pea,
determinada nos cadinhos com altura de 160 mm, a 15mm da parte inferior do
cadinho e a 35 mm acima da primeira medida. Quando a medida de 35mm
coincidia com a linha de escria, a segunda medida era tomada a 25mm acima
da primeira medida. Nos cadinhos com altura de 229 mm, a primeira medida foi
tomada a 15 mm da parte inferior do cadinho e a segunda medida a 100 mm
acima. Essas medidas foram identificadas como MFM-1, MFM-2, MFM-3 e
MFM-4.
Tabela 4.1. Composio da escria utilizada para o teste de resistncia ao ataque
pelos materiais refratrios investigados.

Material

% em
peso

Alumina calcinada S-3-G

12

Areia de slica < 45 m

18

Cal hidratada

55

Sinter M-10 < 45 m

15

Total

100

33

O desgaste na linha de escria (D.L.E.) foi calculado a partir da Equao 4.5.

D.L.E.

(MI-1 - MFE-1)
= ------------------------------- (mm/h)
TP

Equao 4.5

onde:
MI-1= medida Inicial na ponta da pea correspondente a parte superior
do cadinho (mm)
MFE-1= medida final correspondente linha de escria (mm)
TP= tempo de patamar (h)
O desgaste na linha de contato com o metal (D.C.M.) foi calculado a
partir da Equao 4.6.
(MI-2 + MI-3)/2 - (MFM-1 + MFM-2 + MFM-3 + MFM-4) /4

D.C.M =----------------------------------------------------------------------------x100

Equao 4.6

(MI-2 + MI-3)/2

onde:
MI-2= Medida Inicial de espessura na posio central da pea;
MI-3= Medida Inicial de espessura da ponta da pea correspondente
parte inferior do cadinho.
4.2.6 RESISTNCIA AO CHOQUE TRMICO E TERMOCLASE
Para a avaliao da resistncia ao choque trmico dos materiais
refratrios investigados, foi empregada uma metodologia desenvolvida pela
empresa Magnesita Refratrios S/A, baseada na avaliao do mdulo de
elasticidade residual da amostra aps 5, 10, 15 e 20 ciclos de choque trmico
entre as temperaturas de 1200C e a temperatura amb iente, medido por ultrasom (item 2.2.3). A extrapolao da reta traada entre os pontos para o valor de
mdulo de elasticidade residual igual a zero ( RCTE), permite estimar o nmero
de ciclos de choque trmico necessrios para se ter E igual a zero (Figura 4.7).
O mdulo de elasticidade dos corpos-de-prova (medindo 160 x 40 x 40
3

mm ) foi avaliado por ultra-som antes de serem submetidos a choque trmicos


(valor ME). A variao brusca de temperatura impingida aos corpos-de-prova
(dois grupos de 5) consistia em aquec-los em forno eltrico tipo mufla e mant34

los em patamar por 30 min. Em seguida, so retirados sequencialmente e


colocados sobre uma bandeja metlica, onde so resfriados por 30 min sob
fluxo de gua. Um novo ciclo se inicia, quando os corpos-de-prova eram
colocados novamente para aquecimento no forno eltrico.

GPa

Figura 4.7: Determinao da resistncia ao choque trmico em materiais


refratrios. (Fonte: Refratrios para Siderurgia- Aciaria Eltrica- ABM 2000.pg.75)

Aps o 5, 10, 15 e 20 ciclos, findos os 30 min de resfriamento sobre a


bandeja, os corpos-de-prova eram esfriados foradamente com o auxlio de um
ventilador at que a temperatura atingisse aproximadamente 40C (temperatura
de manuseio). Ento, eram realizadas leituras de ultra-som em todos os corposde-prova em teste.
Os corpos-de-prova dos materiais refratrios MgO-C tiveram suas faces
(com exceo da face retificada de 160 x 40 mm2) recobertas com silicato de
sdio lquido, at que formasse uma camada protetora vtrea em sua superfcie
(aproximadamente duas demos).

35

4.2.7 MICROSCPICO ELETRNICO DE VARREDURA


A microestrutura dos materiais refratrios foi investigada por microscopia
eletrnica de varredura. Para tanto, utilizou-se um equipamento da marca Jeol,
modelo JSM-5410, equipado com microssonda EDS.
As superfcies de interesse das amostras foram recobertas com grafita
por sputterring. A amostra foi embutida em uma resina e polida com
acabamento espelhado, especialmente para a obteno de imagens por
eltrons retro espalhados (backscatterd) e microanlises por raios X.

4.2.8 ANLISE DE ESPESSURAS RESIDUAIS


O desgaste dos revestimentos refratrios das panelas foi avaliado pela
medida do residual da linha de metal, aps sada de operao na fabricao de
ao de construo mecnica. A montagem do revestimento MgO-C e dolomtico
foram semelhantes da 33 a 30 (tijolos F3-10X) e da 29 a 21 (tijolos PA-AEP)
diferindo da 20 a 5 fiada: no caso do revestimento MgO-C, foi utilizado o tijolo
PA LM e no caso do revestimento dolomtico, o tijolo DOLMAG-100. A
espessura foi medida fiada a fiada em relao medida inicial demonstrada na
figura 4.8, para se obter o residual final de cada panela.
A Tabela 4.2 apresenta as condies de operao das panelas,
comparando o nmero de vezes em que a panela saiu para troca e retornou
para operao (n de corridas) e o nmero de corrid as em cada ciclo sem troca
do revestimento refratrio (MD corridas por panela).
Tabela 4.2. Condies de comparao para teste entre os refratrios dolomtico e MgO-C.

N campanhas (*)

N corridas da panela (**)

MgO-C

13

57

Dolomtico

58

42

(*) Nmero de vezes em que a panela saiu para troca do refratrio o retornou para
operao.
(**) N de corridas em cada ciclo do refratrio da panela, sem troca do refratrio.

36

4.2.9 PERFIL TRMICO DAS PANELAS


O perfil trmico das panelas foi avaliado com o auxlio do programa
ANSYS 10.0 WORKBENCH, atravs do mtodo de elementos finitos, para 4
configuraes: projetos de montagem do revestimento refratrio, operando a 2
temperaturas distintas de referncia do ao lquido: 1550 e 1680C. A
temperatura externa panela foi considerada 20C. A Tabela 4.3 apresenta os
parmetros utilizados na estimativa do perfil trmico por elementos finitos da
panela para a fabricao de ao construo mecnica, a partir dos materiais
utilizados na montagem e suas respectivas espessuras.
A Figura 4.8 apresenta a montagem do revestimento refratrio para efeito
do clculo por elementos finitos do perfil trmico da panela com os materiais
refratrios investigados.

Tabela 4.3. Materiais utilizados para anlise do perfil trmico da panela, em suas
respectivas regies e espessuras.

Regio

Dolomtico

MgO-C

Espessura
Inicial dos
Tijolos (mm)

Papel fibra Cermica

Isomag 70/ Duraplac

10

Sial - 45

Sial - 45

25

Permanente: LM/Free Board

Alukor 70 CP

Alukor 70 CP

76

Permanente: LE

Grafimag 10 T GX

Grafinox 2006/02

76

Back-Fill

Basimix BFP

Basimix - BFP

10

Trabalho LM

Dolmag 100

Grafinox PA LM

127

LE

Magnox PA AEP

Magnox PA AEP

127

Isolante Parede

OBS.: LM= Linha de Metal LE= linha da Escria


Regio grifada em azul (LM) foi a regio de estudo do trabalho.

37

114 mm SOBRELINHA
152 mm LINHA DE ESCRIA

127 mm LINHA DE ESCRIA

Regio de Estudo
127 mm LINHA DE METAL

Figura 4.8. Montagem do revestimento refratrio para efeito do clculo por elementos
finitos do perfil trmico da panela com os materiais refratrios investigados. (Fonte:
Desenho Tcnico fornecido pela empresa Magnesita Refratrios S.A.).

A regio destacada no rodap da panela refere-se s fiadas iniciais, onde


tem-se um desgaste acentuado, o qual tornou-se alvo desse estudo. Esse
desgaste deve-se a transio entre diferentes materiais refratrios e acumulo
de escria no local, aps o ciclo com ao da panela.

38

5 RESULTADOS E DISCUSSES
A seguir, sero apresentados e discutidos comparativamente os
resultados da caracterizao qumica, microestrutural, fsica e (termo)mecnica,
bem como resistncia a escria, residual aps campanha e perfil trmico dos
materiais refratrios dolomticos e os MgO-C investigados.

5.1 COMPOSIO QUMICA E MICROESTRUTURA


5.1.1 COMPOSIO QUMICA
A Tabela 5.1 apresenta a composio qumica dos materiais refratrios
dolomtico e MgO-C investigados. O percentual de C, mais elevado dos
refratrios MgO-C, possibilita uma maior resistncia penetrao de escria.
Outro ponto a ser observado est relacionado ao percentual de MgO e sua
implicao na no-saturao da escria ou de escria com basicidade baixa, o
que ir influenciar na suscetibilidade ao desgaste na linha de escria.
De outra forma, valores mais elevados para Al2O3 e MgO, se no
considerados no ajuste da escria, podem gerar incluses no ao, interferindo
assim em sua qualidade.
Tabela 5.1: Composio qumica dos refratrios dolomticos e MgO-C fornecidos pela
Magnesita.

39

5.1.2 MICROESTRUTURA
A Figura 5.1 apresenta micrografias da microestrutura dos materiais
refratrios investigados, antes (face fria) e aps (face quente) submet-los a
temperaturas de servio no revestimento de fornos panela. Com base nas
anlises qumicas por microssonda acoplada ao MEV, apresentadas na Tabela
5.2 para a face quente e face fria, pode-se verificar no material dolomtico uma
predominncia do elemento CaO na face quente do tijolo e uma melhor
distribuio no MgO-C. Isso aumenta sua sensibilidade em relao
hidratao, causando perda de resistncia mecnica durante o processo.
J o material MgO-C, por possuir em sua matriz mais homognea, tem
uma melhor resistncia s solicitaes advindas das condies de servios da
panela na aciaria.

Figura 5.1: Micrografias por MEV da microestruturas dos materiais dolomtico e


magnsia-carbono investigados, antes (face fria) e aps (face quente) submisso a
temperaturas de servio no revestimento de fornos panela. Ponto 1.

40

Tabela 5.2: Anlise qumica por microssonda EDS dos pontos analisados via MEV nas
faces quentes e frias dos refratrios dolomticos e MgO-C investigados.

Dolomtico

MgO-C

FACE QUENTE
Ponto analisado

MgO
Al2O3
SiO2
CaO
Fe2O3

94,8
0,7
1,3
2,7
0,5

6,7
0,2
0
93
0,1

1,1 95,8 0,4 1,5


1,5 0,5 30,8 1,1
25,4 1,5 6,3 25,9
71,4 1,6 60,4 71,2
0,6 0,6 2,2 0,4

FACE FRIA
Ponto analisado

MgO
Al2O3
SiO2
CaO
Fe2O3

96,2 97,6 2,9


0,8 0,3
0
1,6 1,3 0,04
0,6 0,8 96,9
0,8 0,1 0,1

5.2
PROPRIEDADES
TERMOMECNICAS

95
3
1,3
0,1
0,5

12,8
0,3
37,6
49,2
0

NA
NA
NA
NA
NA

FSICAS,

MECNICAS

5.2.1 DENSIDADE E POROSIDADE APARENTE


A Tabela 5.3 apresenta o resultado da determinao da densidade e da
porosidade aparente para os materiais refratrios investigados. O MgO-C
apresentou um valor de densidade aparente maior do que o dolomtico. Quanto
porosidade aparente, verifica-se que o material MgO-C mostrou valores
bastante inferiores, o que indicaria uma menor propenso para a infiltrao de
escrias na microestrutura do material refratrio.

Tabela 5.3. Valores de densidade e porosidade aparente dos materiais refratrios


investigados.

Densidade aparente (g/cm3)

Porosidade aparente (%)

MgO-C

3,08

3,34

Dolomtico

2,94

4,14

41

5.2.2 RESISTNCIA COMPRESSO A TEMPERATURA AMBIENTE


O material MgO-C apresentou uma resistncia mecnica compresso
de 57,2 MPa, superior 43,7 MPa do material dolomtico . Essa maior
resistncia mecnica nos ir gerar um melhor desempenho na parte estrutural
quando em baixas temperaturas, resistindo melhor ao transportes, estocagem e
manuseio ao longo de sua vida til, segundo a literatura.

5.2.3 MDULO DE ELASTICIDADE


O material MgO-C apresentou um mdulo de elasticidade no valor de
71,9 GPa, maior do que o dolomtico de 52,3 GPa. Isso indicaria uma maior
resistncia inicial para variaes trmicas a que o material refratrio como
revestimento da panela est submetido em servio. Alm disso, esses valores
sugerem que o refratrio MgO-C possui uma maior ligao entre os gros e
menor nmero de trincas em sua estrutura, o que propiciaria um melhor
desempenho e segurana operacional.

5.2.4 REFRATARIEDADE SOB CARGA


Conforme Figuras 5.2 e Figura 5.3, verifica-se para o material dolomtico
uma temperatura T0= 1640C e T06= 1665C e para o material MgO-C a T0=>
1700C. Logo, a temperatura T0 indica que no h variao de volume alm da
consequente da dilatao trmica para ambos os materiais. J na temperatura
T06 verifica-se uma variao de 6% no volume da amostra dolomtica. Portanto,
temperatura de 1640C, poder-se-ia ter uma formao de fase lquida no tijolo
dolomtico, o que indicaria uma propenso a um desgaste maior do dolomtico
quando comparado com o tijolo MgO carbono.

42

Gpa

Figura 5.2. Refratariedade sob carga para o material refratrio dolomtico


investigado.

Gpa

Figura 5.3. Refratariedade sob carga para o materiais refratrio MgO-C investigado.

43

5.2.5 RESISTNCIA AO CHOQUE TRMICO E TERMOCLASE


A Figura 5.4 apresenta a variao do mdulo de elasticidade em funo
do nmero de ciclos a que os materiais refratrios investigados foram
submetidos. O material refratrio dolomtico apresenta uma queda substancial
no valor do mdulo de elasticidade. O valor inicial de 52,3 GPa cai para menos
de 1 GPa j com 5 ciclos de choque, e chega a prximo de zero aps 20 ciclos.
O mdulo de elasticidade do material refratrio de MgO-C decai de 71,9
MPa para 4,41 aps 5 ciclos, chegando a 1,65 GPa aps 20 ciclos. A
diminuio do mdulo de elasticidade est relacionada ao surgimento de trincas
no interior do material, como forma de aliviar tenses de natureza trmica.
A menor queda do mdulo de elasticidade indicaria uma maior
resistncia a tenses de natureza trmica, podendo-se associar a um melhor
desempenho em servio, considerando os ciclos trmicos inerentes s
condies de servio de uma panela na aciaria. Com isso, reduz-se os riscos de
infiltrao, ataques de junta e at mesmo lascamento dos tijolos.
Contudo, cabe salientar que o material dolomtico, apesar dos cuidados
tomados, sofre com o processo de hidratao durante esse ensaio, sendo
questionvel, portanto, se o resultado inferior nos ciclos de choque trmico est
somente associado a uma menor resistncia ao choque trmico ou se por
formao de trincas do processo de hidratao do tijolo.

Figura 5.4. Variao do mdulo de elasticidade em funo dos nmeros de ciclos


de choque trmico a que os materiais dolomticos e MgO-C investigados foram
submetidos .

44

5.3 RESISTNCIA AO ATAQUE DE ESCRIA


5.3.1 ANLISE PELO ENSAIO DE RESISTNCIA AO ATAQUE DE
ESCRIAS
A Figura 5.5 apresenta a variao do desgaste (em mm/h e em
percentual em massa) nos materiais refratrios investigados em funo do
tempo de patamar nos ensaios de ataque por escria para uma temperatura de
1700C. Pode-se observar um desgaste bem mais pronu nciado do tijolo
dolomtico quando comparado com o MgO-C. Entretanto, importante
comentar que ensaios de laboratrio normalmente no propiciam a formao de
uma camada base de CaO.2SiO2, formado na prtica industrial, na face
quente dos tijolos dolomticos. Esse coating protege o material refratrio
dolomtico, aumentando sua resistncia ao ataque.

Figura 5.5. Resistncia ao ataque de escria para ensaio em forno de escorificao


rotativa.

5.3.2 ANLISE DOS RESIDUAIS APS CAMPANHA


A Figura 5.6 apresenta as regies das panelas onde foram medidos os
residuais finais e iniciais dos refratrios MgO-C e dolomticos. Os pontos
indicados por 1, 2, 3 e 4 so relativos aos pontos utilizados como referncia na
panela.
O resultado comparativo entre os dois materiais refratrios investigados
quanto ao residual da espessura das fiadas (para um inicial de 127 mm) mostra
que o MgO-C possui, ao final da campanha, residuais maiores do que o
dolomtico, conforme Tabela 5.4. Alm disso, pelo potencial de corridas
45

apresentado, o refratrio MgO-C com uma mdia de 85 de corridas na linha de


metal, contra uma mdia de 73 corridas do refratrio dolomtico, apresenta uma
maior segurana operacional, com uma reduo de custo por menor nmero de
sadas antecipadas de panelas, isto , maior vida das mesmas.

Figura 5.6. Regies das panelas onde foram medidos os residuais finais e iniciais dos
refratrios MgO-C e dolomticos. Os pontos indicados por 1, 2, 3 e 4 so relativos aos pontos
utilizados como referncia na panela (ver Tabela VI).

46

Tabela 5.4. Espessura final residual dos tijolos MgO-C e dolomticos investigados
(espessura inicial 127 mm). A tabela abaixo no considera as fiadas de 1 a 4, por estarem
abaixo do fundo.

Fiada

Dolomtico

MgO-C

20

61

65

63

66

Potencial
Corridas
70

59

67

65

67

Potencial
corridas
64

19

59

61

60

62

68

64

73

67

73

69

18

62

63

63

63

71

71

74

70

73

76

17

64

65

66

65

73

74

77

72

74

79

16

65

67

67

67

75

73

75

73

76

81

15

67

67

68

69

77

77

77

72

79

80

14

69

71

69

70

80

80

77

75

81

84

13

70

72

70

71

81

79

78

79

78

90

12

70

71

70

71

81

79

77

80

79

88

69

71

71

71

79

79

76

81

82

86

10

68

66

70

70

76

79

78

82

82

89

65

67

67

75

79

78

79

83

90

63

60

64

63

69

80

79

78

82

90

57

55

57

58

63

79

81

77

84

88

55

56

59

59

63

83

83

78

85

90

64

75

77

78

74

89

89

92

92

116

Dolomtico

MgO-C

MD Linha de Metal

73

85

MD Fiadas de 5 a 10

70

94

O fator preponderante para essa anlise concentra-se entre as fiadas 5 a


10 ( marcadas com crculos vermelhos no rodap da panela), as quais sofrem
um ataque localizado, devido ao acmulo de escria nesse local. Logo, os
residuais medidos para o MgO-C com potencial mdio para 94 corridas em
comparao ao dolomtico com potencial mdio de 70 corridas, sugerem uma
maior segurana operacional.

5.4 ANLISE DO PERFIL TRMICO DA PANELA EM OPERAO


De acordo com o resultado apresentado na Figura 5.7, para as
temperaturas de 1550C e 1680C, as panelas montada s com os refratrios

47

MgO-C apresentam um perfil de maiores temperaturas do que as apresentadas


nos dolomticos.

Figura 5.7. Perfil trmico apresentado para as panelas construo mecnica, montadas
com refratrios dolomitcos e MgO-C, para as temperaturas de 1550C e 1680C.

Contudo, essas temperaturas esto dentro dos limites aceitveis para


aos utilizados em carcaas metlicas. Mesmo com essa diferena de
48

temperatura ao longo da carcaa, no momento do desmanche da panela, notase que os tijolos MgO-C possuem um residual similar ao dos dolomticos, para
uma vida maior da panela. Logo, a diferena de temperatura deve-se
quantidade de carbono, que est em quantidade maior no material MgO-C.

49

6 CONCLUSES
A avaliao comparativa entre os materiais dolomticos e MgO-C quanto
a suas propriedades e desempenho permitiu inferir as seguintes concluses
quanto a uma melhor montagem refratria para o processo da Aos Especiais
Brasil

Unidade

Charqueadas,

visando

segurana

operacional

desempenho:

Em relao densidade e porosidade aparente, verifica-se que o

material MgO-C apresenta uma microestrutura mais fechada, o que propiciaria


uma melhor resistncia ao ataque de escrias, reduzindo lascamentos e
quedas de tijolos ao longo da campanha da panela;

No que diz respeito a problemas de estocagem e permanncia do

material montado temperatura ambiente, o material MgO-C nos indica ter


melhores caractersticas, pois sua resistncia mecnica temperatura ambiente
maior do que a do refratrio dolomtico.

Os resultados relacionados ao mdulo de elasticidade mostraram

que o material MgO-C deve possuir maior integridade interna o que reflete no
comportamento mecnico;

Em relao s avaliaes qumicas dos materiais, com a reduo

dos teores CaO e o aumento do percentual de C e MgO, ocorre o aumento da


resistncia mecnica do material MgO-C e uma reduo dos riscos de
hidratao do material. Contudo, o ajuste da escria no vazamento do forno
eltrico a arco fator determinante para evitar desgastes acentuados devido
busca de saturao de MgO na escria;

A resistncia ao ataque de escria e resistncia ao choque trmico

no refratrio MgO-C apresentaram-se superiores s do refratrio dolomtico;

A anlise dos residuais do refratrio MgO-C indica uma maior

segurana operacional, principalmente entre as fiadas 5 10 no perfil do


revestimento refratrio da panela, onde o ataque ao rodap da panela era ponto
preocupante no processo da Aos Especiais Brasil Unidade Charqueadas.

A temperatura de trabalho do refratrio MgO-C maior do que a do

refratrio dolomtico, mas isso no significa reduo de residual ou agresso


50

carcaa metlica, visto que essa temperatura, na maioria das vezes mantm-se
dentro de um padro aceitvel pelo projeto da panela.
possvel concluir que o refratrio MgO-C potencialmente proporcionaria
um melhor desempenho em processo e eliminaria o principal problema que hoje
caracteriza as panelas construo mecnica da Aos Especiais Brasil
Unidade Charqueadas, que o desgaste acentuado no rodap da panela. A
substituio do refratrio dolomtico pelo MgO-C, tecnicamente, apresenta-se,
assim, vantajoso.

51

7 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS


A realizao deste trabalho investigativo permite sugerir para trabalhos
futuros os seguintes tpicos:
i) Otimizar a montagem refratria da linha de escria e sobrelinha da
panela, visando uma reduo de custo;
ii) Analisar os principais pontos de desgaste na linha de escria das
panelas, reduzindo os ataques aos refratrios de segurana;
iii) Otimizar a espessura nas fiadas 20 23 onde tem se a transio linha
de metal e linha de escria visando aumentar a segurana operacional na troca
de refratrio;
iv) Acompanhar mais detalhadamente a parte termogrfica da panela ao
longo de suas campanhas, para verificar possveis problemas nas carcaas
metlicas ao longo do tempo;
v) Ajustar a adio de MgO no vazamento do forno eltrico, para reduzir
desgastes localizados na linha de escria, o que ocasiona sadas antecipadas
das panelas;
vi) Substituir o fundo da panela para um material similar ao da parede,
visando reduzir diferenas entre os coeficientes trmicos dos refratrios.

52

REFERNCIAS
1.

ASSOCIACIN

LATINO

AMERICANA

DE

FABRICANTES

DE

REFRACTARIOS (ALAFAR), Produccin de las Industrias Usuarias de


Refractarios, v.1, p. 1-6, 2008. www.alafar.com , acessado em 15/06/09
2. World Steel Association, Steel Statistics Archives 2008; www.worldsteel.org,
acessado em 10/05/09.
3 NAKAHARA, T., Innovation in a Borderless World Economy. Research &
Technology Management, p.7-9, May/June, 1997.Editora Arte e Cincia
4 COUTINHO, L., Globalizao e Capacitao Tecnolgica nos Pases de
Industrializao Tardia: Lies para o Brasil. Gesto e Produo, v.3, n.1, p. 4969, abril, 1996. Editora Arte e Cincia
5 ARAUJO, L. A., Manual de Siderurgia Produo, v.1, p. 329-468, So
Paulo, 1997. Editora Arte e Cincia
6 U.S. STEEL. The Making, Shaping and Treating of Steel Chapter 18
Electric Furnace Steelmaking- Pittsburg, EUA. 1985. Editora Arte e Cincia
7 SCHAFER, H. et al., Automatic Arc Furnace Control. Iron and Steel
Engineer, agosto 1986. Editora Arte e Cincia
8 OREHOSKI, M. A. Ladle Refining Process, Iron and Steel Engineer, v. 63,
n.1, janeiro 1986. Editora Arte e Cincia
9 International Iron and Steel Institute, www.IISI.com, acessado em 15/06/09
10 RELLERMEYER, H. Degassing and Ladle Treatment fo Production of
Special Steel Grades. MPT- Metallurgical Plant and Technology, v.1, 1986.
Editora Arte e Cincia
11 COUTINHO, E. S., Projetos de Revestimentos Refratrios- Fundamentos, p.
97-119, Curso de Refratrios para Aciaria Eltrica, 20 a 21 Maro 2000, Belo
Horizonte, Brasil. ABM
12 HANDBOOK OF REFRACTORIES PRATICE, Japan: The Technical
Association of Refractories, 1998. Editora Arte e Cincia

53

13 ACI-510 Gerdau Refratrios Aplicados a Aciaria Eltrica pg. 10; Mdulos de


Treinamento em Siderurgia da Gerdau Aos Especiais Piratini. Aciaria 2008.
www.gerdau.com.br, acessado em 10/03/09
14 CASSETE, W. Q., Refratrios para Uso em Forno-Panela, p. 135-151,
Curso de Refratrios para Aciaria Eltrica, 20 a 21 de maro 2000, Belo
Horizonte, Brasil.
15 FRUEHAM, R.J. Ladle Metallurgy: Principles and Practices. USA: Iron and
Steel Society, 1985.
16 RIBEIRO, D. B. e SAMPAIO, R.S., Refino Secundrio dos Aos. So
Paulo, ABM, 1996.
17 YOUNG, J., CAMERON, S. SCHADE, H., Clean Steel Systems for Ladle and
Tundish Operation. USA: Iron and Steel Society, 1999.
18 SAVAGE, B., Steelmaking Refractories: What the Mini and Integrated Mills
can learn from each other. In. McMASTER SYMPOSIUM ON IRON AND
STEELMAKING, 26, Ontrio, 1998,. McMaster University, 1998.
19

MODERN

REFRACTORIES

PRACTICE.

USA:

Harbison-Walker

Refractories, 1992.
20 ROUTSCHKA, G., Pocket Manual; Refractories Materials. v.1, ed. Essen:
Vulkan-Verlag, Alemanha, 1997.
21 DUARTE, A. K., Mecanismos Gerais de Desgaste em Refratrios, p. 77-95,
Curso de Refratrios para Aciaria Eltrica, 20 a 21 de maro 2000, Belo
Horizonte, Brasil.
22 OLIVEIRA, S. P., Escrias e Mecanismos de Desgaste de Refratrios para
Forno Panela. In: Curso sobre Fundamentos, Operacin y Refractories
Para Horno Cucharas, ALAFAR, San Nicolas, Argentina, 1997.
23 Magnesita, Ensaios Fsicos e Propriedades Mecnicas dos Refratrios,
www.magnesita .com.br, acessado em 10/04/09
24 Materiais Refratrios Bsicos, Materiais Refratrios DEMAT-UFRGS;
Laboratrio de Cermicos, 2008. www.ufrgs.br/lacer, acessado em 20/10/09.

54

- NBR 6220: Materiais refratrios densos conformados - Determinao da


densidade de massa aparente, porosidade aparente, absoro e densidade
aparente da parte slida, 1997.
- NBR 6224: Materiais refratrios densos conformados - Determinao da
resistncia compresso a temperatura ambiente, 2001.
- NBR 14641: Materiais refratrios densos conformados - Determinao da
velocidade ultra-snica, 2001.
- NBR 6223: Material refratrio - Determinao da refratariedade sob carga,
1995.

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