Falando de Outro Jeito Apostila 2023

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FALANDO DE OUTRO JEITO

Informações acerca do uso da Comunicação Suplementar e/ou Alternativa


para crianças, jovens e adultos com restrições de fala.

Simone I. Krüger
Fonoaudióloga
Mestre e Doutora em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do
Paraná
Pós-doutora /CAPES no Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da
Comunicação da Universidade Tuiuti do Paranà
Membro da International Society of Augmentative and Alternative
Communication (ISAAC)
Membro do conselho científico da ISAAC - Brasil
ACS (Augmentative Communication Specialist) pela ISAAC
Coordenadora do CER III Centro de reabilitação do Hospital Evangélico
Mackenzie Curitiba
PORQUE É IMPORTANTE LER ESSAS INFORMAÇÕES?

Algumas pessoas apresentam restrições de usar a fala oral, conhecidas


também como Pessoas com NECESSIDADES COMPLEXAS DE
COMUNICAÇÃO, e necessitam de outra forma de falar

Esta apostila tem o objetivo de fornecer informações acerca de pessoas, sejam


crianças ou adultos, que usam diferentes formas de conversarem.
Indicamos esta leitura para ajudar a você que vive ou trabalha com pessoas
que apresentam restrições de fala.

COMO CONVERSAMOS?

Para conversarmos necessitamos da linguagem. É pela linguagem que


comunicamos aos outros nossas experiências e também interagimos,
compreendemos e influenciamos as pessoas, mas a linguagem vai além das
funções de comunicar e representar, ela também tem a função de nos
estruturar. É pela linguagem que constituímos a nós mesmos e as nossas
relações sociais. É pela linguagem que organizamos e informamos as nossas
experiências e construímos os nossos pensamentos. O HOMEM É UM SER
DA LINGUAGEM.
Podemos refletir agora sabendo de todas as funções da linguagem que a
interação verbal com e entre pessoas que não “falam” do modo articulado,
pode estar quebrada, interrompida. Para construirmos ou reconstruirmos tal
ligação, pode-se utilizar a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa.

O QUE É COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU ALTERNATIVA (CSA)?

CSA ou também conhecida como CAA (Comunicação Aumentativa e


Alternativa) e simplificada como CA é a descrição que utilizamos para designar
os diferentes recursos usados por pessoas para suplementar ou substituir as
suas dificuldades de fala.
A CSA inclui gestos, sinais, símbolos, pranchas de comunicação em que
podemos colocar letras e palavras, fotos e símbolos e o uso de equipamentos
eletrônicos como vocalizadores e computadores. Não existe o melhor sistema

de CSA. Todos têm suas vantagens e desvantagens, tudo depende das


habilidades, necessidades, bem como das preferências de cada criança ou
adulto usuário da CSA.
O importante é saber que os recursos da Comunicação Suplementar e/ou
Alternativa (CSA) podem participar da produção da linguagem e contribuir para
as atividades dialógicas de pessoas com limitações na produção da fala.

Especialistas da CSA poderão ajudar a identificar o sistema e o recurso mais


apropriado para cada futuro usuário da Comunicação Alternativa. Tais
especialistas podem estar filiados ao ISAAC (International Society of
Algumentative and Alternative Communication www.isaac-online.org ). A ISAAC
já tem uma filial brasileira a ISAAC Brasil. Informações poderão ser
encontradas no site da ISAAC- Brasil http://www.isaacbrasil.org

QUAIS SÃO AS DIFERENTES FORMAS DE SE INTERAGIR?

Há crianças e adultos que utilizam os recursos da CSA de forma alternativa, ou


seja, permanentemente, e outras de forma suplementar /aumentativa, ou seja,
usam por certo período de tempo em suas vidas.
Uma das formas alternativas mais comuns utilizadas são a linguagem corporal
e as expressões faciais. Quase todas as pessoas “falam” através de seus
sorrisos do franzir de testa e pelos gestos como o nosso tchau e o balançar da
cabeça, afirmando ou negando alguma coisa. Para crianças e adultos que
apresentam limitações de fala, as expressões faciais, os gestos e os
movimentos corporais podem se tornar uma forma importante para que se
possam interagir.

Muitas pessoas com impedimentos físicos podem ter também restrições em


interagir pelos gestos e expressões faciais, tendo como uma das únicas formas
de dizerem ou pedirem alguma coisa pelo olhar. Por exemplo, olham para
baixo para dizerem não, ou piscam significando um sim. É importante que
nestes casos o interlocutor tenha tempo para encontrar a forma preferida de
comunicação daquela pessoa e que tal forma seja consistente, ou seja, sempre
a mesma, não sendo modificada, para que possam conversar sem maiores
dificuldades.
Outras crianças e adultos preferem usar a gestos e movimentos com as mãos.
Os que usam as mãos para interagirem geralmente usam a LÍNGUA de SINAIS
BRASILEIRA –LIBRAS. Geralmente a Língua de Sinais é usada pelas pessoas
surdas, mas pessoas com limitações de fala severas, podem se beneficiar
muito com essa forma de comunicação, quando não apresentam impedimentos
físicos/motores. Para que haja uma comunicação efetiva, todos que usam
LIBRAS devem aprendê-la.
Outro recurso cada vez mais utilizado são os símbolos, que estão em todos os
lugares por onde passamos. Símbolos são usados, por exemplo, como sinais
de trânsito com o objetivo de nos guiar de forma segura; Em rótulos de
alimentos para informar o que estamos consumindo e em computadores e
celulares para ajudar a selecionar os programas que desejamos usar. Símbolos
também são usados por pessoas que têm dificuldades de se comunicar, de se
interagir, através da fala.
Existem muitos sistemas diferentes usados no mundo e no Brasil e todos são
representados por diferentes símbolos para ajudar a você “dizer” o que você
quer.
Cada sistema pictográfico apresenta suas próprias características. É
importante você escolher o sistema mais apropriado para cada usuário.
Alguns sistemas são representados por símbolos ideográficos como é o caso
do BLISS e outros por símbolos pictográficos, por exemplo, o PCS (Picture
Communication System, o GRID 2,Tobii Communicator 4, Matrix maker e no

Brasil temos o PCS – Boardmaker, o Comunicar com símbolos (WIDGIT), O


Amplisoft (UTFPR), O Communis (KAYGANGUE), Imagoanavox (USP) e o
Comunique ( UFRJ). E agora um dos mais usados o ARAAC ( Espanha, já em
português do Brasil).
Todos os sistemas de CSA são vendidos por diferentes empresas de
Tecnologia Assistiva e alguns citados acima podem ser baixados de graça.
Hoje também temos vários softwares de sistemas de CSA para serem usados
especialmente em celulares com a tecnologia TOUCH SCREEN. Alguns deles
são o: Proloquo2; Voice4u; Icomm; Pocket AAC; Sono flex; ARABORD; GRID
MOBILE; PT magic contact; let me talk; BIA; Que fala; Go talk now; LIVOX e
outros. Alguns destes são pagos. Mais informações acerca dos diferentes
sistemas existentes no mercado você pode encontrar nos seguintes endereços:
www.tecnologiaassistiva.net ; www.civiam.com.br ; www.clik.com.br;
www.kaygangue.com.br/communis; https://comunicatea.com.br/
www.comunicaçãoalternativa.com.br ;www.assistiva.com.br;
www.cnotinfor.com.pt ; www.amplisoft.com.br ; www.widgit.com ;
www.QEOonline.co.uk ; www.mayer-johnson.co.uk www.inclusive.co.uk ;
www.smartboxat.com ; www.liberator.co.uk . www.assistiveware.com ;
www.tobii.com. Boardmakerhttps://www.boardmakeronline.com; Makaton e
signalong https://www.makaton.org/; ARASAAC- http://www.arasaac.org/
SOYVISUAL- https://www.soyvisual.org/; WIDGIT-
https://widgitonline.com/login ASTERICS https://grid.asterics.eu/#main
Os novos aplicativos para celulares podem ser comprados nas lojas virtuais da
apple store. E do Google/ Android store. Os que mais gosto são: Sonoflex, Let
me Talk, www.letmetalk.info/pt; Snap core first (vende pela Apple Store)
Todos os símbolos dos diferentes sistemas citados podem ser impressos e
colocados nas pranchas de comunicação ou pastas de comunicação. Muitas
vezes acima ou abaixo dos símbolos podemos escrever o que aquele símbolo

representa, ajudando assim ao interlocutor a identificar os símbolos, mas


lembre que um símbolo pode ter vários significados, isso depende muito do
contexto de conversação, do tema , do assunto. Apenas o sistema COMMUNIS
não possui versão eletrônica, pois é vendido em formas de cartões já
impressos e separados por sete diferentes categorias.
Existem diferentes formas de o usuário utilizar os símbolos. Tudo depende de
suas possibilidades físicas e em alguns casos intelectuais também
Há usuários que utilizam os sistemas de CSA em aparelhos eletrônicos como
em computadores, VOCAS (vocalizadores) e em celulares. Nos computadores
existem recursos da tecnologia assistiva que ajudam o usuário tanto sem
nenhum comprometimento físico, quanto àqueles com graves
comprometimentos a clicarem nos símbolos ou letras que desejam. Teclados
com teclas grandes e de cores diferentes ajudam bastante aqueles usuários
com dificuldades visuais e físicas. Para aqueles que quase não se
movimentam, existem diversos recursos, dentre estes a possibilidade do
usuário apontar para uma tela de computador ou para um símbolo exposto em
uma prancha de comunicação com o olhar de forma fixa ou com pequenos
movimentos feitos com a cabeça de acordo com a escolha do usuário. Existem
softwares especiais em que o usuário é colocado bem em frente à tela/monitor
e o foco do olhar daquela pessoa é captado. Os símbolos escolhidos são
acionados quando focados e em alguns softwares podem até ser vocalizados.
Para mais informações entrar na página do professor Percy Nohama
[email protected]
Se a criança ou o adulto é capaz de ler, o uso de uma prancha simples com
alfabeto escrito, ou um teclado de um computador, organizador pessoal ou um
celular, podem ajudá-los a se comunicar. Existem softwares especiais que
vocalizam a palavra teclada.
Os Vocas ou Vocalizadores são diferentes tipos de aparelhos desenvolvidos
para ajudarem as pessoas a se comunicarem. Os VOCAS funcionam de
diferentes maneiras, por exemplo, alguns memorizam palavras e frases. O

aparelho emite a palavra ou frase quando o usuário tecla em cima dos


símbolos escolhidos ou das letras e palavras. Para que isso aconteça é
necessário programar o aparelho anteriormente. Nos vocalizadores há a
possibilidade de terem vários símbolos ou até várias pranchas de comunicação
eletrônicas, de acordo com a potencialidade de cada aparelho.
Existem inúmeros tipos de VOCAS oferecidos no mercado internacional. É
essencial, antes de adquirir qualquer VOCA ou mesmo um software de CSA,
consultar um especialista em CSA para termos a certeza que a criança ou o
adulto está adquirindo o aparelho mais adequado de acordo com as suas
necessidades.

QUAIS SÃO OS BENEFÌCIOS DE UTILIZAR FORMAS DIFERENTES DE SE


INTERAGIR?

Para crianças ou adultos que dependem do uso de diferentes tipos de


linguagem o uso da CSA pode proporcionar um importante impacto em suas
vidas.
 O principal eles começam a se posicionar, ser sujeito de suas ações
 A pessoa passa a falar os seus sentimentos
 Começa a fazer perguntas e começa a falar o que necessita
 Começa a se sentir participante e mais segura
 Começa a se relacionar com os familiares e a fazer amigos
 Começa a participar na escola, no trabalho e no lazer.
 Faz as suas próprias decisões
 Começa a viver independentemente
 É capaz de arrumar um emprego
 Para muitas crianças e adultos o uso da CSA oferece a oportunidade de
começarem a viver suas vidas, pois passam a ter as mesmas
oportunidades de todos.

 Contribuir para a apropriação dos conteúdos acadêmicos, ou seja, no


processo de ensino e aprendizagem em todos os níveis
 Começa a se constituir como autores e interlocutores

COMO POSSO CONVERSAR COM ALGUÉM QUE USA A COMUNICAÇÂO


ALTERNATIVA?

Conversar com uma pessoa que usa a CSA pode ser inicialmente um pouco
frustrante. Geralmente fazemos estas perguntas: Será que sou capaz de
entender o que eles estão tentando falar? Será que eles nos entendem?
Preciso repetir quantas vezes? Preciso falar alto ou pausadamente? O que eu
tenho que fazer se algo der errado?

Abaixo segue uma lista de 10 dicas que poderão ajudar você neste processo.

1. Reduzir barulhos no ambiente. É melhor escolher um lugar calmo em


que ambos, tanto o locutor, quanto o interlocutor, possam conversar com
mais participação.
2. Olhe para a pessoa com quem você está conversando e faça contato
visual. É bom lembrar que não são todas as crianças ou adultos que ficam à
vontade ou são capazes de fazer ou manter contato visual. Aqueles com
autismo podem achar particularmente difícil e também para alguns usuários
que utilizam pranchas/pastas de comunicação.
3. Fale com o usuário que é a primeira vez que você esta conversando
com uma pessoa que usa a comunicação alternativa. Fazendo isso você
proporcionará a oportunidade do usuário mostrar o melhor jeito de vocês se
comunicarem.
4. Pergunte a eles como você poderia ajudar. Pergunte aos usuários como
eles usam a CSA e se você precisa fazer alguma coisa para que facilite a
conversação.

5.estabeleça um acordo com o usuário de CSA acerca da melhor maneira


dele responder o sim e o não. Talvez a maneira escolhida não seja o jeito
mais comum que é o de balançar a cabeça para cima e para baixo
indicando o sim e para os lados, indicando o não.
6. Quando você perguntar, espere pela resposta. Isso soa óbvio, mas para
algumas pessoas, elas precisam de um tempo maior para poder responder.
7. Seja paciente! Ás vezes você pode estar tentando terminar as
sentenças/respostas para ele. Alguns usuários eles podem até aceitar essa
estratégia, sendo uma forma de acelerar a conversa, mas, para outros, tal
estratégia pode incomodá-los. A melhor forma é perguntar para o usuário se
eles concordam que você utilize essa forma de conversa.
8. Sempre seja honesto sobre o quanto você esta entendendo acerca
daquela conversa, isso da à oportunidade do usuário de explicar novamente
o que não foi entendido ou mudar a forma de conversação procurando
novos suportes.
9. Se você não tem muito tempo naquele momento para conversar, então
combine de vocês se encontrarem em outra ocasião. Você precisa ter
tempo para sentar e conversar com o usuário de CSA.

10. Cheque e recapitule. Quando terminar uma conversação,


tenha certeza que ambos acreditam ter dito tudo que desejavam dizer e
cheque se ambos entenderam o que foi conversado.

DICAS GERAIS:
1. Ofereça o acesso a CSA o tempo todo. Crianças e adultos que usam a
CSA devem ter acesso a ela o tempo todo. Sem isso, os usuários
podem sentir-se isolados e excluídos por aqueles à sua volta.
2. Use símbolos. Ver os símbolos pendurados nas paredes, quadros,
portas das salas de aulas, corredores, entrada e saída nas escolas,
clínicas, hospitais e em diferentes estabelecimentos, pode ajudar as

3. crianças/adultos a apreender os símbolos e encorajar o uso da CSA


para conversar em diferentes lugares e momentos. O uso dos símbolos
também pode ajudar crianças e adultos cuja língua materna seja outra e
não o português e naqueles casos em que há alunos com dificuldades
de aprendizagem.
4. Use gestos, o corpo e o rosto. O uso de expressões corporais e faciais
pode oferecer um suporte visual extra que poderá ajudar a tornar a
conversação mais fácil e fluente.
4. Proporcione encontros com outros usuários de CSA e suas famílias. Dar
a oportunidade para os usuários de CSA e suas famílias a se encontrarem e
compartilharem experiências e vivências pode ser de grande valia. Eles
podem trocar informações acerca de certas dificuldades vivenciadas e
também compartilhar dicas de estratégias que foram boas para eles.
Adultos que usam a CSA podem representar um modelo positivo e de
sucesso do uso da CSA para crianças.
5. Oriente e ajude as famílias de usuários da CSA. As famílias de usuários
da CSA podem também precisar de auxílio para que eles possam
proporcionar o sucesso do uso da CSA pelos seus próprios filhos. Sem a
participação da família, as chances do não uso da CSA são maiores.
6. Mantenha atualizado a CSA de sua criança, enquanto ela vai se
desenvolvendo, adquirindo mais vocabulário e autonomia. É necessário
atualizar as pranchas de comunicação, tanto as impressas quanto as
virtuais, à medida que a criança vai crescendo. Fazer periodicamente uma
revisão dos conteúdos de uma prancha pessoal assegura que a prancha
continue a oferecer todas as possibilidades de conversação para aquele
usuário.
Referências Bibliográficas

Escola Inclusiva Linguagem e mediação. Lucia Reily Papirus Editora 2006

Comunicação Suplementar e ou alternativa: Fatores favoráveis e


desfavoráveis ao uso no contexto familiar: Simone I Krüger, Ana Paula
Berberian , Luciana Branco Carnevalle. Revista Brasileira de Educação
Especial. 2011.

Krüger, S. I. (2016). A comunicação suplementar e/ou alternativa: atividade


semiótica promotora das interações entre professores e alunos com
oralidade restrita. Tese de Doutorado

Infingardi Krüger, S., Berberian, A. P., & Orlosqui Cavalcante da Silva, S. M.


(2017). Delimitação da área denominada comunicação suplementar e/ou
alternativa (CSA). Revista CEFAC, 19(2).

Carnevale, L. B., Berberian, A. P., de Moraes, P. D., & Krüger, S. (2013).


Comunicação Alternativa no contexto educacional&58; conhecimento de
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Berberian, A. P., Krüger, S., Guarinello, A. C., & Massi, G. A. D. A. (2009). A


produção do conhecimento em fonoaudiologia em comunicação
suplementar e/ou alternativa: análise de periódicos. Revista CEFAC, 11(2).

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Simone I Kruger
Telefone para contato 041 998878174

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