O Romantismo Na Música

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O Romantismo na música (1810-1910)

Música - História da Música

A Revolução Francesa causou profundas transformações,


não apenas políticas, mas abalou todas as estruturas do
pensamento espraiando sua influência no campo das artes, da
cultura e da filosofia, sob a forma de um surto de liberalismo
que se traduzia na defesa dos Direitos do Homem, da
democracia e da liberdade de expressão. Alterando a
mentalidade européia e modificando os seus critérios de
valor. Assim a música e a arte de modo geral procuravam se
desligar da arte do passado deixando aos poucos os salões
dos palácios e pondo-se mais ao alcance da nova classe social em ascensão, a burguesia,
e invadindo as salas de concerto, conquistando um novo público ávido de uma nova
estética.

O movimento romântico constitui uma reação contra o racionalismo e o classismo,


opondo à universalidade dos clássicos o individualismo e o subjetivismo.

Enquanto no Classisismo havia uma grande preocupação pelo equilíbrio entre a


estrutura formal e a expressividade, no romantismo os compositores buscavam uma
maior liberdade da forma e uma expressão mais intensa e vigorosa das emoções,
freqüentemente revelando seus sentimentos mais profundos, inclusive seus sofrimentos.

Além da forte expressividade outra característica marcante no período musical


romântico é a chamada música programática ou música descritiva. Não que em outros
momentos da história da música não houvesse esse tipo de produção, mas no período
romântico, essa é uma tendência bastante acentuada. Neste aspecto, muits vezes, o
romantismo literário se confunde com o musical. Muitos compositores românticos
eram ávidos leitores e tinham grande interesse pelas outras artes, relacionando-se
estreitamente com escritores e pintores. Não raro uma composição romântica tinha
como fonte de inspiração um quadro visto ou um livro lido pelo compositor. Mas aqui
mais uma vez a necessidade de expressar, a música aliás, tem no romantismo a função
essencial de expressar, e a alma é o objeto que se deve primordialmente retratar. Muitas
das composições pintam quadros, contam histórias; o individualismo romântico incitará
freqüentemente o músico a "pintar" suas próprias experiências. Entretanto, apesar do
individualismo, da subjetividade e do desejo de expressar emoções, o músico romântico
ainda respeita a forma e muitas das regras de composição herdadas do classismo.

O Romantismo surge sobre bases tonais sólidas, o período romântico é o derradeiro


momento da música tonal. Entre os traços comuns aos compositores do período
podemos ressaltar a maior liberdade de modulação e o cromatismo cada vez mais
progressivo que levou os músicos até a fronteira do sistema tonal de Bach. E é esse
cromatismo que vai garantir uma maior liberdade e expressividade a essa música
"individualista" e "subjetiva". As formas livres, lieds, prelúdios, rapsódias, o
sinfonismo, o virtuosismo instrumental e os movimentos nacionais incorporam
elementos alheios à tonalidade estrita do classicismo e esta lentamente se desfaz, até
chegar à beira da atonalidade com a música de Wagner (1813-1883).
Outro aspecto de destaque do período romântico está na
própria concepção de artista da época. A concepção do
homem genial incita a buscar na biografia do artista os
sinais de um destino excepcional. Os reveses da vida
tendem a satisfazer a sanha do público, pois o artista
genial é o eterno sofredor, em volta do mito estão a
pobreza, a humilhação, as desventuras amorosas
(Beethoven), a incompreensão dos contemporâneos, a
doença (Beethoven) ou a loucura (Berlioz e Schumann)
contribuem para a admiração sobre o caráter singular
do artista. Na verdade os artistas românticos eram eles
mesmos bastante atentos à publicidade da sua imagem.
Ou como diria Flaubert "O artista deve dar um jeito
para fazer a posteridade acreditar que ele não viveu".

O músico romântico procurou se firmar como um artista autônomo, deixando de se


submeter a patronos ricos, como ocorria no período barroco e clássico. Isso
evidentemente garantia uma maior liberdade de criação aos músicos

Durante o Romantismo
houve um rico
florescimento da canção,
principalmente do lied
('canção' em alemão) para
piano e canto. O primeiro
grande compositor de
lieder (plural de lied) foi
Schubert (1797-1828).
Essa forma é também
desenvolvida mais tarde
por Robert Schumann
(1810-1856) e mais
posteriormente por
Johannes Brahms (1833-1897). Inicialmente os textos são retirados da poesia romântica
alemã de Goethe (1749-1832) e Heine (1799-1856). Também são características da
época as formas livres como os prelúdios, rapsódias, noturnos, estudos, improvisos etc.,
presentes na obra de Frederic Chopin (1810-1849) e Franz Liszt. Essas peças são
geralmente para piano solo e realçam o virtuosismo instrumental, dividindo a
importância do concerto entre a obra e a presença do intérprete.

A ópera

As óperas mais famosas hoje em dia são as românticas. Os grandes compositores de


óperas do Romantismo foram os italianos Verdi e Rossini e na Alemanha, Wagner. No
Brasil, destaca-se Antônio Carlos Gomes com suas óperas O Guarani, Fosca, O
Escravo, etc. A orquestra cresceu não só em tamanho, mas como em abrangência. A
seção dos metais ganhou maior importância. Na seção das madeiras adicionou-se o
flautim, o clarone, o corne inglês e o contrafagote. Os instrumentos de percussão
ficaram mais variados.

O concerto romântico usava grandes orquestras; e os compositores, agora sob o desafio


da habilidade técnica dos virtuosos, tornavam a parte do solo cada vez mais difíceis.
Compreende obras para grandes orquestras e privilegia o virtuosismo. Destaca-se a obra
de Johannes Brahms, com suas quatro sinfonias, dos franceses César Franc (1822-1890)
e Hector Berlioz (1803-1869), que revoluciona a concepção da orquestra clássica ao
acrescentar mais instrumentos em sua Sinfonia fantástica, op.14, de 1830, reformulando
os modos de instrumentação vigentes em sua época.

Outro aspecto de destaque no


período romântico é o
nacionalismo. A música do
final do século XIX, embora
imbuída do individualismo,
reflete as preocupações
coletivas relacionadas aos
movimentos de unificação que
marcam a Europa. Até a
metade do século XIX, toda a
música fora dominada pelas
influências alemãs. Foi quando
compositores de outros países,
principalmente os russos,
passaram a ter a necessidade de criar a sua música, enaltecendo as suas raízes e a sua
pátria. Inspiravam-se em ritmos, danças, canções, lendas e harmonias folclóricas de seus
países. É o chamado Nacionalismo Musical. Músicos como Bedrich Smetana (1824-
1884) e Antonin Dvorák (1841-1904), Edvard Grieg (1843-1907), Modest Musorgsky
(1839-1881) e Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) empregaram com freqüência
temas nacionalistas em suas óperas, enquanto suas obras sinfônicas adquiriam
intensidade e identidade própria ao combinar coloridos nacionalistas com os
procedimentos estruturais estabelecidos pela corrente principal alemã.

A imagem que temos hoje da chamada


música erudita é notadamente romântica.
Não é à toa portanto, que nas salas de
concerto, o piano seja visto como
instrumento de destaque, ao lado do violino,
que também ganhou fama como
instrumento solo e orquestral. No século
XIX o piano passou por diversos
melhoramentos. Quase todos os
compositores românticos escreveram para
este instrumento, os mais importantes foram: Schubert, Mendelssohn, Chopin,
Schumann, Liszt e Brahms. Embora em meio às obras destes compositores se
encontrem sonatas, a preferência era para peças curtas e de forma mais livre. Havia uma
grande variedade, entre elas, as danças como as valsas, as polonaises e as mazurcas,
peças breves como o romance, a canção sem palavras, o prelúdio, o noturno, a balada e
o improviso. Outro tipo de composição foi o étude (Estudo), cujo objetivo era o
aprimoramento técnico do instrumentista (aqui destaca-se mais uma vez os "estudos
para piano").
Com efeito, durante esta época houve um grande avanço nesse sentido, favorecendo a
figura do virtuose: músico de concerto, dotado de uma extraordinária técnica. Virtuoses
como o violinista Paganini e o pianista Liszt eram admirados por platéias assombradas.

O século XIX apresenta um


novo público formado pela
classe social burguesa que se
interessa pela arte intimista:
obras para solista, música de
câmara e representações
vocais, com acompanhamento
instrumental, e a poesia de
diferentes países. O canto
acompanhado quer com cravo,
piano ou guitarra, possui as
qualidades específicas
nacionais, as que encontramos
no lied alemão, na mélodie
francesa ou na canção
espanhola ou inglesa. Ainda que antigo na forma, e talvez até por isso, é imediata a
identificação do público graças aos temas que essas canções "românticas", evocam, tão
próximas aos anseios do homem burguês. Como foi definido por Heinrich Heine, o lied
é o "coração que canta, o peito que se agita". A canção é a expressão musical de um
"estado de espírito", impõe a primazia da paixão e dos sentimentos sobre a razão, junto
a idéia de liberdade e exaltação da natureza. Entre os lieder mais famosos estão
evidentemente os de Schubert, a exemplo de "Nacht und Träume", considerado um dos
mais belos do autor. Schubert fez cerca de seiscentos e cinqüenta leader, nas formas
mais diversas, desde a simples canção estrófica até a cena dramática ou a cantata.

No que se refere à música coral, as mais importantes realizações dos compositores


românticos estão na forma do oratório e do réquiem (missa fúnebre). Dentre os mais
belos oratórios se incluem o "Elias", de Mendelssohn (1809-1847), composto nos
moldes de Haendel; "L´Enfance du Christ" (A infância de Cristo) de Berlioz (1803-
1869); e "The Dream of Gerontius" (O sonho de Gerôncio) de Elgar (1857-1934), que
em vez de se basear em algum texto bíblico, constitui o arranjo de um poema religioso.

Certas Missas de Réquiem são importantísssimas e algumas mais apropriadas para


serem apresentadas em casas de concerto do que em uma igreja. O réquiem de Berlioz
por exemplo, exige uma imensa orquestra com oito pares de tímpanos e quatro grupos
extras de metais, posicionadosnos quatro cantos do coro e da orquestra. O Réquiem de
Verdi embora de estilo dramático, é sincero em seu sentimento religioso. Em nítido
contrastre com estas obras de caráter grandiloqüente está o calmo e sereno réquiem do
compositor francês Gabriel Fauré (1845-1924). Não podemos deixar de citar o réquiem
de Brahms, considerado por alguns como a mais bela obra coral do romantismo,
composto por ocasião da morte de sua mãe. Para essa obra, em vez de musicar o usual
texto latino, Brahms (1833-1897) selecionou passagens significativas da Bíblia.
Ainda no que se refere ao canto não se pode falar sobre romantismo sem citar a
importância da ópera, é na verdade nessa forma musical ampla e complexa, que une o
canto e a interpretação, musica e teatro que está o verdadeiro destaque da musical vocal
no período.

Surge uma nova ópera italiana em que às artes do bel canto somam-se um forte
elemento histriônico: os cantores também têm que emocionar ou divertir o público com
artes de ator. O enredo acaba crescendo em importância. A grande ária ainda é o
ingrediente essencial, mas como centro da cena dramática. Essa nova importância do
elemento teatral é a contrribuição italiana à ópera romântica. Destacam-se autores como
Rossini (1792-1868), Bellini (1801-1835) e Donizette (1797-1848). Outras mudanças
significativas: os adornos não podem ficar à decisão do intérprete que tende a abusar
deles (o que era comum no barroco); todos devem figurar na partitura porque o
brilhantismo das vozes não será desde essa altura o único interesse das representações; a
missão da orquestra vai além de simples acompanhamento das vozes, tendo um papel
bastante relevante.

A primeira reação à música lírica italiana partiu de Weber


(1786-1826) que deu características germânicas à opera
inspirando-se na época medieval e na mitologia alemã. A
forma vocal oscila entre o canto propriamente dito e o
Singspiel, alternando o diálogo falado com árias.
Entretanto é inovador por introduzir na ópera a essência
musical popular alemã. Seu herdeiro seria Richard
Wagner (1813-1883), que em busca de uma "obra de arte
integral", criou o Drama Musical. Este reunia a pintura, a
poesia e a arquitetura, além da música. Mas, não contente
com o drama isolado Wagner compôs uma tetralogia
(conjunto de quatro dramas). As suas experiências no
canto tonal deram a obra wagneriana uma tal originalidade que criou para os demais
compositores românticos um dilema, ou uniam-se à Wagner ou lutavam contra ele. A
estrutura do cromatismo wagneriano e a figura do leit motiv levavam a música para a
beira da atonalidade, era na realidade um caminho difícil de ser seguido, um caminho
sem volta. A renovação na ópera completou-se com a idéia wagneriana de estrutura
continua da ação, de maneira que o conjunto não seja dividido apenas por uma sucessão
de árias, interlúdios, coros, duos, etc., que surgem como conseqüência da ação
dramática, mas que não devem partir a obra em seções prejudicando a idéia geral de
unidade. Wagner é quem leva a termo essa idéia que será acolhida não só pelos
compositores de língua alemã, mas também pelo italiano Giuseppe Verdi (1813-1901),
um dos maiores autores de óperas do período romântico, que criou as célebres
"Nabuco", "Aida"., "Rigolleto" e tantas outras que saíram da pena do prolixo e popular
compositor, que celebizou-se em pouco tempo estendendo a sua influência a românticos
de todo o mundo, incluindo Carlos Gomes (1836-1896)

Na França aporta a estrutura da grande ópera que já havia estado presente na tradição
espetacular da ópera-ballet de Lully. A mesma variedade musical do lied romântico
manifesta-se também na ópera, na complexidade dos arranjos orquestrais e na
dificuldade do traçado das linhas melódicas. Destacam-se os óperas de Meyerbeer
(1791-1901) e a leveza da opereta cômica de Offenbach (1919-1880) mais próxima do
music hall.
BIBLIOGRAFIA

CANDÉ, Roland. História Universal da Música. São Paulo: Martins Fontes, 1994

CARPEAUX, Oto Maria. O Livro de Ouro da História da Música: da Idade Média ao


Século XX.

por Beatrix Algrave

Texto retirado do site: http://www.beatrix.pro.br/musica/historia/musica-


romantismo.html

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