Apostila Paciente Cirúrgico
Apostila Paciente Cirúrgico
Apostila Paciente Cirúrgico
DOENÇA DE BASE
INTERVENÇÃO
ESTRESSE CIRÚRGICA ESTRESSE
PSICOLÓGICO METABÓLICO
DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS
Projeto ACERTO
O projeto ACERTO (ACEleração da Recuperação TOtal Pós-operatória) é um programa que visa acelerar
a recuperação pós-operatória de pacientes.
Baseado em programa europeu já existente (ERAS – Enhanced Recovery After Surgery) e
fundamentado no paradigma da medicina baseada em evidências, o projeto ACERTO é antes de tudo um
programa educativo.
O tradicional cuidado pós-operatório tem sido questionado e a evidência tem mostrado que muitas
condutas e práticas peri-operatórias são obsoletas e não tem respaldo científico. São quase empíricas e
transmitidas a novos cirurgiões há décadas sem devido questionamento.
Os principais pontos abordados no projeto ACERTO são:
A lei primeira do programa ACERTO é: o dia da operação é o primeiro dia da recuperação do paciente.
Ações
Integrar a nutrição na gestão geral do paciente
Evitar longos períodos de jejum pré-operatório
Restabelecer a alimentação oral o mais cedo possível após a cirurgia
Iniciar a terapia nutricional precoce, assim que um risco nutricional se torne aparente
Controle metabólico, por exemplo, de glicose no sangue
Reduzir os fatores que exacerbam o catabolismo relacionado ao estresse ou prejudicam a função
gastrointestinal
Minimizar o tempo de sedativos para gerenciamento do ventilador no período pós-operatório
Mobilização precoce para facilitar a síntese de proteínas e função muscular.
2 - Via de alimentação:
A utilização do trato gastrintestinal é sempre a via preferencial e obrigatória quando se encontra
disponível e funcionante.
Efeitos da ausência de estimulação no intestino:
- Redução da altura da vilosidade
- Redução da massa celular
- Redução da atividade enzimática da borda em escova
- Maior translocação bacteriana
- Maior absorção de endotoxinas
- Alterações no microbioma intestinal
- Redução da imunidade intestinal
- Alterações na liberação dos hormônios gastrintestinais
UFF - Faculdade De Nutrição -Dietoterapia II - Profa: Maria Thereza Wady
- Aumento na sepse e falência multisistêmica
3 - Local de acompanhamento:
Paciente ambulatorial:
- Observar condições:
Financeiras
Intelectuais
Higiênicas
Físicas
Paciente internado:
- Acompanhamento diário da ingestão alimentar
- Atendimento multidisciplinar
4 - Tempo disponível:
Circunstâncias cirúrgicas:
- Cirurgias emergenciais Não há tempo nem para se efetuar avaliação nutricional
- Cirurgias imediatas Pode-se avaliar, mas não há tempo de se corrigir
- Cirurgias eletivas Ideais para um bom preparo pré-operatório
Pré-operatório imediato
O jejum pré-operatório a partir da meia-noite é desnecessário na maioria dos pacientes.
Os pacientes submetidos à cirurgia, considerados sem risco específico de aspiração, devem beber
líquidos claros até duas horas antes da anestesia.
Os sólidos devem ser permitidos até seis horas antes da anestesia.
Não há evidências de que os pacientes que receberam fluidos claros até duas horas antes das
operações eletivas tenham maior risco de aspiração ou regurgitação do que aqueles em jejum pelas
tradicionais 12 horas ou mais, uma vez que os fluidos claros esvaziam o estômago dentro de 60-90 minutos.
Permitir a ingestão de líquidos claros minimiza o desconforto da sede e as dores de cabeça dos
sintomas de abstinência.
A ingestão de bebida hiposmolar rica em carboidratos a 12,5% demonstrou reduzir a resistência à
insulina pós-operatória.
As exceções a esta recomendação são os pacientes "em risco especial", submetidos a cirurgia de
emergência e aqueles com esvaziamento gástrico retardado conhecido, por qualquer motivo ou refluxo
gastroesofágico.
Em casos de emergência onde não é possível o preparo aconselha-se a lavagem gástrica
É importante que o indivíduo esteja com o estômago vazio na hora da cirurgia para evitar vômitos
e/ou broncoaspiração durante a indução ou despertar da anestesia.
Quando o paciente estiver em nutrição parenteral, recomenda-se a suspensão da infusão no dia da
cirurgia devido à demanda metabólica aumentada representada pelo metabolismo normal da solução nutritiva
(consumo de O2, excreção de CO2, liberação de catecolaminas e hormônios pancreáticos) associada ao trauma
do ato operatório. Entretanto, em pacientes estáveis e sem evidências de estresse metabólico a infusão
poderá ser mantida durante a cirurgia;
Per-operatório
Durante o ato operatório perde-se cerca de 1lt de água pelos pulmões e pela pele e ao mesmo tempo
produz-se inibição da função renal. A perda de N do organismo dependerá do tipo e duração da cirurgia.
Perdas de sangue importante levam a transfusões sanguíneas.
Equilíbrio Hidroeletrlítico:
A resposta metabólica à cirurgia está associada à retenção de sal e água e ao aumento da excreção de
potássio. Há uma margem relativamente estreita de segurança na fluidoterapia peri-operatória e muito ou
pouco pode ter um efeito negativo nos processos fisiológicos e no resultado clínico.
O objetivo da fluidoterapia intravenosa perioperatória deve ser manter a perfusão tecidual, o
fornecimento de oxigênio celular e o equilíbrio hidroeletrolítico.
A fluidoterapia intravenosa é geralmente desnecessária após o dia da cirurgia, exceto para aqueles
submetidos a procedimentos gastrointestinais e pancreáticos superiores
A sede comum do pós operatório pode ser causada por: Ação dos anestésicos sobre a mucosa bucal e
faríngea; perda de líquidos durante a cirurgia; hemorragias e perdas plasmáticas; vômitos; retenção de Na pela
inibição funcional dos rins
Objetivos:
Contornar as intolerâncias alimentares decorrentes do procedimento cirúrgico (náuseas, vômitos,
anorexia e distensão abdominal).
Promover sensação de bem-estar.
Manutenção do equilíbrio energético e hidroeletrolítico.
Manter ou melhorar o estado nutricional do paciente adequando a oferta protéico-calórica as suas
necessidades.
Ingestão adequada de nutrientes visando boa cicatrização e recuperação das atividades normais.
Preparo para o retorno ao ambiente familiar com dieta adequada ao seu estilo de vida.
Estará na dependência de:
- Expectativa de realimentação precoce
- Estado nutricional prévio
- Terapêutica nutricional pré-operatória
- Complicações per e pós-operatórias
Pós-operatório Imediato
Nas cirurgias extra-digestivas com anestesia local a alimentação pode ser iniciada logo após o
procedimento.
É sempre preferível a alimentação por via oral quando não estiver contraindicado.
Os pacientes devem ser encorajados a beber assim que acordarem sem náuseas após a operação.
Quando a ingestão adequada de fluidos orais é tolerada, a administração de fluidos intravenosos deve
ser interrompida.
Quando a anestesia for local, mas comprometer as vias digestivas, a nutrição oral pode ser iniciada, na
maioria dos casos, algumas horas após a cirurgia (6 horas) com líquidos claros.
Adaptar a ingestão oral (tipo e quantidade) de acordo com a tolerância individual e ao tipo de cirurgia
realizada, com especial atenção aos pacientes idosos.
Se houver choque ou hipotensão durante a cirurgia, só iniciar a nutrição quando houver estabilização
hemodinâmica;
Em pacientes com nutrição enteral por via gástrica a introdução será no mesmo tempo que pela via
oral.
Pacientes em nutrição enteral, tipo monomérica e por via jejunal podem reiniciar a dieta mais
precocemente.
Em cirurgias de grande porte a introdução precoce de dietas via jejunostomia vem apresentando bons
resultados.
A alimentação precoce por sonda (dentro de 24 horas) deve ser iniciada em pacientes nos quais a
nutrição oral precoce não pode ser iniciada e nos quais a ingestão oral será inadequada (<50%) por
mais de 7 dias. Os grupos de risco especiais são:
- pacientes submetidos a grandes cirurgias de cabeça e pescoço ou gastrointestinal para câncer
- pacientes com trauma grave incluindo lesão cerebral
- pacientes com desnutrição óbvia no momento da cirurgia
Se as necessidades de energia e nutrientes não podem ser atendidas apenas pela ingestão oral e
enteral (<50% da necessidade calórica) por mais de sete dias, uma combinação de nutrição enteral e
parenteral é recomendada
Se a alimentação por sonda for indicada, ela deve ser iniciada em até 24 horas após a cirurgia
No pós-operatório, a ingestão oral plena costuma ser atrasada devido ao inchaço, obstrução ou
esvaziamento gástrico prejudicado, dificultando o atendimento às necessidades nutricionais. A terapia
nutricional reduz a morbidade com um efeito protetor crescente de NP, NE e fórmulas
imunomoduladoras
Recomenda-se iniciar a alimentação por sonda com uma taxa de fluxo baixa (por exemplo, 10 a 20
ml/h) e aumentar cuidadosamente devido à tolerância intestinal limitada. O tempo para atingir a
ingestão desejada pode levar de cinco a sete dias.
A nutrição parenteral deve ser administrada o mais rápido possível se houver contraindicação para
nutrição enteral, como na obstrução intestinal.
Em pacientes que não conseguem atender suas necessidades de energia por via oral/enteral em 5–7
dias, a NP só deve ser iniciada se a duração da terapia for >7 dias.
Alimentos por via oral precoce ou NE, incluindo líquidos claros no primeiro ou segundo dia pós-
operatório, não causam prejuízo na cicatrização de anastomoses no cólon ou reto e leva a uma
redução significativa do tempo de internação hospitalar.
A nutrição pós-operatória precoce está associada a reduções significativas nas complicações totais em
comparação com as práticas de alimentação pós-operatórias tradicionais.
Complicações Cirurgias:
Hematoma: causado por hemorragia oculta
Abscesso: acúmulo de pus como resultado do processo inflamatório.
Fístula: comunicação entre dois órgãos ou vasos que normalmente não se comunicam.
Deiscência: é a abertura de suturas. É uma separação da camada de aponeurose durante o período
pós-operatório detectada pelo extravasamento de secreção serosa sanguinolenta pela ferida.
Evisceração: é resultante de uma incapacidade de manter a camada aopneurótica fechada devido a
uma técnica cirúrgica inapropriada, com contribuição do aumento da pressão abdominal;
Enterectomia:
- Diarréia
- Desnutrição
- Fístulas
Avaliar a necessidade de dieta oligomérica, evitar alimentos produtores de gases; evitar jejum prolongado,
fracionar as refeições e em volumes pequenos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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