Guia Clinico Perturbacoes Uso Cannabis
Guia Clinico Perturbacoes Uso Cannabis
Guia Clinico Perturbacoes Uso Cannabis
Um guia clínico
Um guia clínico
UM GUIA CLÍNICO 3
um guia clínico
©National Cannabis Prevention and Information Centre, University of New South Wales,
Sydney, 2009
Este trabalho tem direitos de reprodução. Pode fazer download, exibir, imprimir e reproduzir
este material de forma inalterada (mantendo o presente aviso) para uso pessoal, não
comercial ou uso interno da sua organização. Todos os outros direitos são reservados.
Pedidos, informações respeitantes à reprodução e seus direitos devem ser endereçados ao
The Director, National Cannabis Prevention and Information Centre, Univeristy of New South
Wales, Sydney NSW 2052, Australia.
Este documento é um guia geral adequado à prática, apenas para ser seguido por profissionais
e sujeito a julgamento para cada caso individual. As linhas de orientação estão concebidas para
apoiar a tomada de decisão e baseiam-se na melhor informação existente à data da publicação.
Reconhecendo o ritmo de avanço neste campo recomenda-se que estas linhas de orientação
sejam revistas e atualizadas periodicamente.
ISBN: 9780733428074
4 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
FICHA TÉCNICA:
Este guia foi traduzido a partir da edição original da ©National Cannabis Prevention and
Information Centre, University of New South Wales, Sydney, 2009
Título da tradução para Português: Gestão das Perturbações do Uso de Canábis e Questões
Associadas – um guia clínico
Paula Gonzalez, psicóloga da Divisão para a Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas
Dependências – ARS Norte, IP
NOTA PRÉVIA:
A tradução do presente manual para português surge no âmbito do trabalho de parceria que
decorreu ao longo do ano de 2015 entre a Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência do
Porto, SICAD e a Divisão para a Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
– ARS Norte, IP.
O interesse desta tradução releva para os profissionais e técnicos portugueses que trabalham
com consumidores de canábis, permitindo fornecer-lhes um instrumento de trabalho na
abordagem a estes utilizadores, contendo materiais específicos para o desenvolvimento de
estratégias de intervenção focadas no comportamento do uso de canábis.
UM GUIA CLÍNICO 5
CONTEÚDOS
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1: Informações gerais .......................................................................................................... 16
1.1 Prevalência da Canábis ..................................................................................................................... 16
1.2 Dosagem........................................................................................................................................... 17
1.3 Potência............................................................................................................................................ 17
1.4 Procura de tratamento ..................................................................................................................... 18
1.5 Problemas relacionados com a canábis ........................................................................................... 19
1.6 Intoxicação, abuso e dependência de canábis ................................................................................. 20
1.7 Risco de dependência ...................................................................................................................... 22
1.8 Síndrome de abstinência .................................................................................................................. 22
1.9 Tratamentos à canábis ..................................................................................................................... 23
1.10 Políticas para os riscos da canábis.................................................................................................. 25
1.11 Abordagens penais internacionais ................................................................................................. 26
1.12 Referências ..................................................................................................................................... 26
CAPÍTULO 2: Trabalhar com consumidores de canábis ......................................................................... 29
2.1 Princípios gerais do trabalho com consumidores de canábis .......................................................... 29
2.2 Intensidade do tratamento .............................................................................................................. 30
2.3 Princípios gerais das intervenções com canábis .............................................................................. 31
2.4 Contexto ........................................................................................................................................... 31
2.5 Leituras complementares................................................................................................................. 32
2.6 Referências ....................................................................................................................................... 32
CAPÍTULO 3: Rastrear o uso de canábis ................................................................................................ 33
3.1 O que é o rastreio ............................................................................................................................. 33
3.2 Racional ............................................................................................................................................ 33
3.3 Como e quando fazer o rastreio do uso de canábis? ....................................................................... 34
3.4 Como introduzir o rastreio ao utente .............................................................................................. 34
3.5 Tipos de rastreio ............................................................................................................................... 35
3.6 Instrumentos de rastreio estandardizados ...................................................................................... 35
3.7 Marcadores bioquímicos para rastreio e avaliação ......................................................................... 37
3.8 Sumário ............................................................................................................................................ 39
3.9 Referências ....................................................................................................................................... 40
CAPÍTULO 4: Avaliação ......................................................................................................................... 41
4.1 Introdução ........................................................................................................................................ 41
4.2 Racional ............................................................................................................................................ 42
4.3 A avaliação como estratégia de compromisso com a intervenção .................................................. 42
4.4 A avaliação compreensiva do uso de substâncias (60-120 mins)..................................................... 42
4.5 Domínios da avaliação...................................................................................................................... 43
4.6 Medidas auxiliares............................................................................................................................ 48
4.7 Avaliação contínua ........................................................................................................................... 49
6 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Jan Copeland é Professora de Estudos sobre Drogas e Álcool e Diretora da Australia National Cannabis
Prevention and Information Centre (NCPIC). É igualmente Diretora Assistente do National Drug and
Alcohol Research Centre (NDARC). O NCPIC é um consórcio liderado pelo NDARC com seis parceiros chave,
com gestão ao nível nacional de um conjunto grande e diversificado de programas. No decurso da sua
carreira, a Professora Copeland desenvolveu três grandes programas de pesquisa: intervenções breves
para os transtornos relacionados com o uso de canábis; desenvolvimento de sistemas de monitorização
dos resultados do tratamento; e psicoestimulantes. Publicou amplamente sobre os aspetos das
intervenções breves para os transtornos relacionados com o uso de canábis. Trabalha na avaliação e na
gestão executiva de diferentes instituições/organizações com base na comunidade.
Amie Frewen é diretora sénior de pesquisa no National Cannabis Prevention and Information Centre
(NCPIC) em Sydney. Amie trabalhou anteriormente na área da psicologia clínica, como clínica e como
investigadora. O trabalho de doutoramento de Amie foi sobre os sintomas de abstinência da canábis e o
tratamento, com a utilização de meios farmacológicos.
Kathryn Elkins é uma bolseira de investigação com uma base na psicologia clínica. Trabalhou no Orygen
Youth Services em Melbourne mais de 14 anos, em ensaios clínicos de comorbilidade de substâncias e
doença mental, tanto como investigadora como terapeuta/clínica. É co-autora de artigos científicos e do
manual de tratamento para consumidores de canábis e psicoses, tal como de muitas outras publicações
cerca da comorbilidade. A pesquisa de doutoramento de Kathryn é sobre o consumo de tabaco em
população que experimentou um primeiro episódio de psicose.
10 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
AGRADECIMENTOS/RECONHECIMENTOS:
Um agradecimento especial às seguintes pessoas pelos conhecimentos adicionais incluídos nestas linhas
de orientação: Dr. KyleKyle Dyer, pela sua ajuda nos marcadores biológicos; Dr. Julia Butt, pela ajuda com
CLAD e populações indígenas; e a Dra. Melissa Norberg, pela sua assistência editorial qualificada. Os
autores também não querem deixar de agradecer aos terapeutas no terreno pelo feedback na penúltima
versão. A edição profissional foi completada por Paul Dillon, Clare Chenoweth e Dion Alperstein.
UM GUIA CLÍNICO 11
PREFÁCIO
As bases científicas de alta qualidade sobre à canábis desenvolvem uma variedade de tópicos, que incluem
a epidemiologia do consumo de canábis, a sua relação com a psicose e outras doenças mentais, riscos
respiratórios, apenas para nomear alguns. Enquanto estas pesquisas conseguem fornecer aos que
trabalham com consumidores de canábis e com as suas famílias, materiais importantes para as
intervenções psicoeducativas; não encontramos consenso especializado que apontasse linhas de
orientação clínicas baseadas no consenso para o tratamento de problemas relacionados com a canábis.
As presentes linhas de orientação são o culminar de mais de uma década de pesquisa no rastreio,
avaliação e gestão dos problemas relacionados com a canábis. Embora se verifique um crescimento da
literatura acerca das intervenções motivacionais, cognitivo-comportamental e de gestão da contingência,
até à data não são suficientes para uma meta análise. Estas linhas de orientação têm como objetivo
proporcionar aos terapeutas um ponto de referência para a gestão dos problemas relacionados com a
canábis. Os profissionais de saúde podem ser confrontados com utentes com consumos ocasionais de
canábis, a outros, dependentes; podem ainda incluir sintomas de doença mental e distúrbios agudos do
comportamento, como psicose e agressão. Esta monografia é adequada para profissionais de saúde que
trabalham com indivíduos com diferentes usos de canábis. Os leitores irão familiarizar-se com os diversos
aspetos das intervenções, incluindo a avaliação, a sintomatologia da abstinência e a intervenção
psicoeducativa.
Quero agradecer aos colegas que trabalharam intimamente comigo ao longo destes anos na equipa da
intervenção com canábis, particularmente a Etty Matalon, Dr. Greg Martin e a Dra. Wendy Swift. Um
agradecimento especial à Dra. Amie Frewen, que liderou este projeto e supervisionou o trabalho com os
especialistas internacionais e que contribuíram para estas diretrizes.
Por favor, visite o website do centro, em www.ncpic.org.au, para outras publicitações de práticas clínicas
e sumários de pesquisas emergentes nas intervenções com desordens associadas ao consumo de canábis.
Glossário
12 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Trabalhadores do Todos aqueles, com competências clínicas, que trabalham nos serviços de tratamento de
álcool e outras álcool ou drogas. Estes incluem, mas não são limitativos, enfermeiros, médicos, psiquiatras,
drogas psicólogos, assistentes sociais e outros trabalhadores do setor.
Cachimbo de água Cachimbo de água utilizado para fumar canábis (também pode ser usado com tabaco). A
secção que contém a canábis é a parte do cone. Por conseguinte a unidade de medição é
referida como “um cone”
Intervenção breve Interação mínima com um médico ou profissional de saúde mental, variando entre alguns
minutos a seis ou mais sessões. Este termo é utlizado principalmente no contexto de
tratamento para problemas relacionados com o uso de substâncias.
Canabinóide Substância química orgânica que pertence a um grupo que compreende os constituintes
ativos da canábis. Os 3 principais são: THC, CBD e CNB
Canabinóide (CBD) Canabinóide encontrado na canábis. É o principal constituinte da planta, representando 40%
nos seus extratos. Verifica-se na relação inversa do THC, ou seja, como o nível de THC sobe,
o de CBD, cai. Estudos recentes apontam para as propriedades antipsicóticas do CBD.
Canabinóide (CBN) O CBN é produzido como THC, envelhece e reparte-se. É pensado para potenciar as
qualidades de desorientação do THC.
Comorbilidade Nestas diretrizes, refere-se à concorrência entre o consumo de álcool e outras drogas (AOD)-
desordem de consumo com uma ou mais condições de doença mental. Também conhecido
como co-ocorrência ou duplo diagnóstico.
Descriminalização Política de drogas em que a posse de uma droga para consumo individual é tratada como
uma contraordenação em vez de crime, mas o consumo continua a ser ilegal.
Haxixe Resina purificada, preparada a partir da planta fêmea da canábis, que pode ser fumada ou
mastigada. É considerada a mais potente preparação de canábis.
Charro Canábis herbácea ou resina (algumas vezes misturada com tabaco ou com outro material
vegetal) enrolada num cigarro
Distúrbio mental Refere-se à presença de um distúrbio mental (exceto os transtornos por uso de substâncias)
como definido no DSM-IV-TR
Psicoses Qualquer distúrbio mental que se carateriza pela perda de contacto com a realidade, por
delírios, alucinações e/ou distúrbios e incapacidade em interpretar a informação e de fazer
sentido no mundo
Cuidados por Uso de intervenções que se iniciam com as menos intensivas e após um período de
passos monitorização ou são intensificadas ou inversamente, baixam, após os ganhos resultantes
do tratamento
Tetrahidocanabinol O canabinóide responsável pela “moca”
(THC)
UM GUIA CLÍNICO 13
INTRODUÇÃO
O manual Gestão das perturbações do uso de canábis e questões associadas – um guia clínico, fornece
conhecimentos essenciais para o apoio dos indivíduos na redução, cessação ou gestão dos seus problemas
relacionados com o consumo de canábis. O manual tem como objetivos fornecer factos, dados e técnicas
úteis para apoiar os terapeutas, fornecendo tratamentos baseados em evidências clínicas, para os
consumidores de canábis que desejem mudar os seus padrões de consumo. O manual providencia ainda
um conjunto de materiais de trabalho para serem utilizados com os utentes.
Capítulo 4: Avaliação
Este manual não pretende ser um substituto à intenção de formação e à experiência na gestão das
substâncias ou das competências de aconselhamento gerais. Designa-se como um complemento às
competências já existentes e como uma ajuda aos profissionais para que possam oferecer aos utentes as
terapêuticas com maiores benefícios.
Estas diretrizes são para todos os técnicos que trabalham com jovens e adultos que experienciam
problemas relacionados com o uso de canábis. Ao longo do guia, referimo-nos a vocês como
“técnicos/terapeutas/clínicos” e àqueles que procuram ajuda como “clientes/utentes/consumidores”. Os
técnicos que podem considerar estas diretrizes como úteis para o seu trabalho incluem, (mas não se
limitam a estes), os profissionais que trabalham questões relacionadas com o consumo de álcool e outras
substâncias, enfermeiros, trabalhadores da área da saúde mental, jovens profissionais, médicos
especialistas na área do álcool e outras drogas, trabalhadores da saúde, psicólogos, psiquiatras,
profissionais na área da proteção infantil, técnicos da reinserção social (liberdade condicional), e médicos
de clínica geral. Estas diretrizes podem ser úteis para aqueles que trabalham nos cuidados de saúde gerais,
em ambiente residencial ou em ambulatório. Podem igualmente ajudar os médicos de clínica geral pois
estão na posição ideal para identificarem problemas relacionados como uso de canábis, tendo em conta
o número elevado de população que é atendida anualmente nesses serviços.
Tendo em conta os diferentes papéis dos trabalhadores, educação, treino e experiência, nem todos os
leitores estão capazes de resolver todos os problemas na mesma medida. Os técnicos devem utilizar estas
orientações considerando o contexto onde desenvolvem o seu trabalho e de acordo com o âmbito da sua
prática profissional. Por outras palavras, estas orientações não substituem a necessidade de obterem
competências, prática ou supervisão, bem como, utilizar o juízo clínico quando as aplicar.
Competências essenciais
Estas diretrizes não servem para ensinar competências clínicas fundamentais e não substituem os cursos
de treino especializados. Para as utilizar, deverá adquirir competências nas seguintes áreas:
O Australian National Health and Medical Research Council (NHMRC) e organizações internacionais
similares estão a desenvolver um processo de avaliação das provas e de formulação de recomendações
para as diretrizes clínicas. Este processo envolve o desenvolvimento de novas provas hierarquizadas,
baseadas nos “Níveis de Prova” da NHMRC mas menos restritivas e que permitem a classificação dos
estudos, envolvendo o diagnóstico, o prognóstico, a etiologia e a triagem.
Volume da prova (o que inclui o número de estudos, classificados segundo a sua metodologia e
a sua relevância para os utentes)
Para as atuais diretrizes, a literatura foi revista pelo menos por dois peritos e endossado por um painel
mais amplo de médicos e investigadores com conhecimentos específicos e peritos em canábis. A
recomendação está sumarizada no final de cada capítulo e é graduada da seguinte forma:
Grau Recomendação
A Corpo de evidências confiável para orientar a prática
B Corpo de evidências confiável para orientar a prática na maioria das situações
C Corpo de evidências fornece algum suporte para a recomendação(s) mas deve-se ter cuidado na sua
aplicação
D Corpo de evidências fraco e a recomendação é de que se pode aplicar com cautela
A canábis é a substância ilícita mais usada no mundo ocidental. Durante os anos 90, a incidência do uso
da canábis aumentou, particularmente entre a população jovem. Dados recentes indicam que a tendência
ascendente está a estabilizar embora em níveis historicamente elevados (ver Quadro 1) (EMCDDA, 2008).
Em 2007, de 17.2 milhões de australianos com 14 anos ou mais de idade, um em três (33.5%, sobre 5.8
milhões) usaram canábis em alguma fase da sua vida; quase um em dez (9.1%, 1.6 milhões) usou canábis
nos últimos 12 meses; e, mais de 600,000 (3,5%) tinha utilizado na semana anterior à pesquisa (AIHW,
2008a). Taxas mais altas são percebidas nos subgrupos particulares. Junto das populações indígenas, por
exemplo, foram relatadas, taxas de canábis semanais até 45% (Clough et al., 2004). Taxas mais altas são
observadas entre os jovens e também entre aqueles com diagnósticos de saúde mental.
Em 2007, aproximadamente 40% dos estado-unidenses com 12 anos ou mais, afirmaram ter usado
canábis em algum momento da sua vida. O seu uso no mês passado foi de aproximadamente 5,8% (14,4
milhões). A maioria dos utilizadores atuais eram menores de 25 anos (maiores taxas de 18 a 20 anos de
idade) e do sexo masculino (SAMHSA, 2008).
De todos os europeus com idades entre 15-64 anos, aproximadamente 20% (65 milhões) tinham
experimentado canábis pelo menos uma vez ao longo da vida; 1-11% tinham usado canábis no ano
anterior; e, aproximadamente a metade destes últimos tinham consumido canábis no último mês
(EMCDDA, 2008).
Quadro 1: Prevalência do abuso da canábis, em percentagem, da população com idades entre 15-64
anos - 2008
UM GUIA CLÍNICO 17
Europa
Oeste e Central 0.8-11.2%
Sudeste 0.9-4%
Oriental 1.5-3.9%
América
Central 1.3-6.7%
Norte 3.1-17%
Sul 1.6-7%
Caraíbas 1.9-10.7%
Oceania 0.1-29.5%
Africa
Este 0.2-9.1%
Norte 0.05-9.6%
Sul 2.1-17.7%
Oeste e Central 0.9-21.5%
Ásia
Central 3.4-6.4%
Este e Sudoeste Asiático 0.002-4.2%
Próximo e Médio Oriente/Sudoeste Asiático 0.1-8.5%
Ásia do Sul 1.5-3.3%
N.B. Este quadro contém estimativas do Gabinete das Nações Unidas Contra a Substância e o Crime com base em estudos locais,
estudos de grupos especiais da população, e/ou relatórios das autoridades policiais e judiciais (UNODC, 2008).
1.2 Dosagem
O relatório da comissão global sobre a canábis (Room et al., 2008) sugere que geralmente um “charro”
típico contém entre 0,25 g e 0,75 g de matéria vegetal-canábis, mas que a quantidade real de THC
absorvido depende de vários fatores e é difícil de quantificar. A proporção de THC absorvida pelos
pulmões estima-se variar entre 20% a 70%. A biodisponibilidade de THC (a fração de THC que chega ao
sistema sanguíneo ou ao cérebro) é relatada como sendo de 5% a 24% (Hall & Solowij, 1998; Heustis et
al., 2005; Iversen, 2007).
1.3 Potência
A canábis é uma planta que contém pelo menos 60 químicos ativos conhecidos como canabinóides, vários
dos quais são biologicamente ativos. A potência (ou força) da canábis é conhecida por oscilar amplamente,
dependendo da variedade e das condições de crescimento (WHO, 1997). Em relação à potência, os
canabinóides de maior interesse são os tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O THC é
responsável pela maioria dos efeitos psicoativos da canábis, incluindo a “moca". Estudos recentes
sugerem que o CBD tem propriedades anti psicóticas e ansiolíticas (Poter, Clark, & Brown, 2008), que
podem compensar alguns dos efeitos psicoativos do THC. Morgan e Curran (2008) sugeriram que a
potência da canábis não é devida simplesmente à quantidade de THC na amostra, mas também tem que
ver com a proporção de THC para CBD. Os meios de comunicação têm afirmado que a potência da canábis
aumentou de 20 para 30 vezes nas últimas décadas; no entanto, a investigação sugere que a potência da
canábis terá, pelo menos, duplicado nos últimos 10 anos (McLaren et al., 2008).
Abaixo está um breve resumo dos países que têm analisado a potência da canábis:
18 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Na Austrália, entre 2005 e 2006, 44% de todos os pedidos de apoio para tratamento de álcool ou outras
SPA´s em instituições de saúde públicas, incluíam a canábis como substância a ter em atenção (AIHW,
2008b). Em 23% desses casos, a canábis era a substância de eleição, nomeadamente em relação aos
adolescentes, com idades entre os 10 e os 19 anos, seguindo-se o álcool (AIHW, 2008b). Nos Estados
Unidos e na União Europeia, as admissões ao tratamento são um pouco menos comuns para a canábis.
Desde 2001, as taxas de admissão ao tratamento de canábis tornaram-se relativamente estáveis,
situando-se entre 15-16% (SAMHSA, 2009). Por exemplo, os dados do tratamento referem que a canábis
estava igualmente presente em 16% dos pedidos de admissão por álcool, no setor público e noutros
serviços de tratamento da toxicodependência, nos EUA (SAMHSA, 2009). Na União Europeia, a canábis foi
a segunda substância ilícita que mais preocupação suscitou, representando 15% de todos os utentes, e
27% dos novos utentes referiram a canábis como o seu principal problema de consumo (EMCDDA, 2008).
Apesar dos números de procura de tratamento para álcool e SPA´s serem altos, a maioria dos
consumidores de canábis não procuram apoio profissional para o seu consumo (Agnosti & Levin, 2004).
Este facto pode ser atribuído a uma série de razões, entre as quais: a crença de que o tratamento para o
uso de canábis é desnecessária; não existir motivação para o abandono destes consumos; e a
estigmatização associada ao tratamento (Gates et al., 2008). Quando os consumidores de canábis
procuram os médicos de clínica geral, nos serviços não especializados, fazem-no normalmente por
preocupações secundárias, tais como, ansiedade ou depressão, e não propriamente por causa do seu
consumo de canábis (Roxburgh & Degenhardt, 2008). Além disso, a dependência de canábis pode ser vista
UM GUIA CLÍNICO 19
como qualitativamente diferente dos restantes problemas de dependência para os quais estão
vocacionados os serviços tradicionais de saúde especializados nas dependências. Um indivíduo pode,
portanto, concluir que não vai ter nada em comum com os utentes das ditas instituições convencionais, e
que os programas e serviços oferecidos pelas mesmas não serão relevantes para a dependência de
canábis.
Embora as consequências negativas a curto prazo do consumo de canábis sejam bastante conhecidas, o
mesmo não se passa quanto aos efeitos a longo prazo de um uso regular desta substância. Determinar os
efeitos a longo prazo tem sido difícil, devido a muitos fatores, incluindo altas taxas de policonsumos, um
longo período de tempo para que os efeitos a longo prazo se manifestem, e uma falta de literatura com
indicação do uso nocivo, embora esta última esteja a mudar. Um resumo acerca das preocupações
conhecidas com a saúde é dado no Quadro 2.
A avaliação da dependência e abuso de canábis pode ser uma ferramenta clínica importante tanto para a
articulação com outros profissionais, como para abordar a natureza da questão com o utente, e para
avaliar os resultados das intervenções. Este trabalho pode ser realizado por meio de entrevistas clínicas
estruturadas e questionários. Existem dois principais sistemas internacionais de classificação de
transtornos mentais: a Classificação Internacional dos Distúrbios, versão 10 (ICD-10) (WHO, 1992) e o
Manual Diagnóstico Estatístico, Versão IV (DSM-IV-TR) (APA, 2000). O último, é o sistema mais utilizado
nos EUA e o primeiro, na Europa e na Austrália. Os critérios de diagnóstico de intoxicação, abuso e
dependência, de canábis, de acordo com cada sistema de classificação encontram-se descritos abaixo.
Note-se que o DSM-IV-TR inclui um transtorno específico no uso da canábis, enquanto a ICD-10 especifica
somente um diagnóstico genérico.
O padrão de início e duração de intoxicação por canábis é variável. Se a canábis é fumada, a intoxicação
geralmente ocorre dentro de minutos e dura cerca de três a quatro horas. Quando consumida por via
oral, o início dos efeitos pode demorar horas, mas estes são mais duradouros. O DSM-IV-TR observa que
a magnitude dos efeitos irá variar de acordo com a dose, a via de administração, e as características
pessoais, tais como, a tolerância e a sensibilidade à canábis.
É importante referir que o DSM-IV-TR acrescenta uma qualificação, os distúrbios de perceção, situação
de intoxicação por canábis em que o indivíduo experiencia alucinações, mantendo intacto o quadro da
realidade ao seu redor ou em que na ausência de um delírio, podem ocorrer alterações auditivas, visuais,
táteis ou ilusões. Por outras palavras, este qualificador é notado apenas quando o consumidor percebe
que os distúrbios de perceção são induzidos pelo consumo de canábis. Esta experiência é distinta do
transtorno psicótico induzido pela substância.
A intoxicação aguda é uma condição transitória que se segue ao consumo de álcool ou de outra substância
psicoativa, resultando em perturbações ao nível da consciência; da cognição; da perceção; afetivas; do
comportamento; ou outras funções psicofisiológicas. O ICD-10 especifica que este diagnóstico deve ser
UM GUIA CLÍNICO 21
um diagnóstico principal apenas nos casos em que a intoxicação ocorre na ausência de problemas com
álcool ou relacionados com problemas de substâncias mais persistentes. Quando existem tais problemas,
deve ser dada precedência ao diagnóstico de uso nocivo (f1x.1), síndrome de dependência (f1x.2) ou
transtorno psicótico (f1x.5).
C) A dependência de canábis
Fazer um diagnóstico de dependência de canábis ajuda os técnicos a darem ao utente feedback sobre os
malefícios associados ao consumo de tal substância. A dependência é caraterizada por um acentuado
sofrimento, resultante de um conjunto recorrente de problemas que refletem um controlo deficiente
sobre o consumo de canábis, o qual se mantém, apesar dos danos dele decorrentes. Veja o quadro 3 para
obter uma lista dos critérios em ambos os sistemas de classificação.
22 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Ambos os sistemas de classificação afirmam que o diagnóstico é fundamentado caso três dos seguintes
critérios ocorreram dentro de um período de 12 meses:
ICD-10 (WHO, 2004) critérios de dependência DSM-IV-TR (APA, 2000) critérios de dependência
Um forte desejo ou compulsão para consumir Há um desejo persistente em consumir canábis ou
canabinóides existiu, um ou mais que um esforço para reduzir ou
controlar o consumo de canábis, sem sucesso
A maioria das pessoas que experimentam canábis não se torna dependente desta substância. As taxas de
prevalência ao longo da vida adulta para a dependência de canábis situam-se entre os 9-15% (Degenhardt,
Hall, e Lynskey, 2001; Anthony, Warner, & Kessler, 1994). Tal como acontece com outras substâncias, o
risco de desenvolver dependência parece ser maior naqueles indivíduos com história de consumo de
canábis frequente ou diária e naqueles que o iniciam precocemente (Coffey, et al., 2002).
Durante a última década, estudos clínicos produziram evidências sobre a existência de síndrome de
abstinência de canábis. Atualmente, estes sintomas não estão documentados no DSM-IV-TR ou no ICD-
10. Nos estudos sobre o tratamento, a percentagem de utentes que relatam sintomatologia de
UM GUIA CLÍNICO 23
abstinência de canábis varia entre os 50% e os 95% (Budney & Hughes, 2006). Os sintomas geralmente
surgem depois de 1-3 dias de abstinência, sendo o pico entre o segundo e o sexto dia, e normalmente
duram de 4 a 14 dias (Budney et al., 2003). A gravidade dos sintomas de abstinência relaciona-se com as
dificuldades em abandonar os consumos (Stephens, Roffman, e Simpson, 1993; Copeland et al., 2001;.
Budney et al., 2000). Por isso, discutir as questões da sintomatologia da abstinência tornou-se um aspeto
importante no tratamento. Recomendamos o uso de técnicas psicoeducativas (ver secção "materiais")
para identificar os sintomas e padrões típicos da síndrome de abstinência, de modo a que estas questões
possam ser integradas no plano de tratamento.
Atrair utentes ao tratamento é um desafio para muitos serviços vocacionados para os comportamentos
aditivos e dependências, incluindo os direcionados para o tratamento do uso de canábis. Stephens et al.
(2007) relataram que somente 9,8% daqueles que preenchiam os critérios para dependência ou abuso de
canábis em 2003, receberam tratamento. Ou seja, uma proporção menor do que aqueles que satisfaziam
os critérios para outros tipos de substâncias. Infelizmente, como acontece com outras substâncias, muitas
pessoas voltam a consumir canábis depois de terem completado o tratamento. Apesar disso, o
tratamento melhora as suas vidas ajudando-os a reduzir a quantidade de canábis consumida, mitigando
problemas de saúde e sociais associados. À medida que aprendemos mais com base nos problemas
relatados pelos consumidores, o tratamento tornar-se-á mais eficaz em termos de desenvolvimento e
avaliação. A pesquisa atual em termos de intervenções específicas para a canábis, está resumida abaixo.
A) As intervenções psicológicas
Até à data, nove ensaios aleatórios para adultos com abuso de canábis/dependência foram relatados na
literatura publicada (Budney & Hughes, 2006). Os resultados indicam que os tratamentos ambulatórios
com base comportamental são eficazes para a redução do consumo de canábis e com sucesso para a
24 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
abstinência. A Terapia Cognitivo Comportamental (CBT) tem sido a pedra angular da maioria das
intervenções (Budney et al., 2007). A CBT inclui o ensino e prática de competências cognitivas e
comportamentais para lidar com fatores de risco (recusa de substâncias, lidar com as vontades de
consumir, a gestão do humor, o evitar de ambientes que oferecem alto risco de uso de substâncias, e a
procura de atividades alternativas, etc.). É essencial que a pessoa se foque nos sentimentos
experienciados e responda aos pensamentos e experiências negativas no sentido de os modificar.
Uma série de opções de tratamento com base no comportamento têm sido apresentadas como sendo
eficazes no tratamento da dependência de canábis. Estas incluem Terapias do Aumento da Motivação
(MET) combinadas com a Terapia Cognitiva Comportamental (CBT) e com a Gestão da Contingência (CM).
Estas abordagens serão discutidas em detalhe no capítulo 6.
B) As intervenções farmacológicas
Atualmente, não existem medicamentos aprovados para a dependência de canábis ou para os sintomas
decorrentes da sua abstinência. Pesquisas realizadas durante os últimos dez anos começaram a explorar
medicamentos que podem tanto bloquear os sintomas de abstinência de canábis como bloquear os
efeitos do consumo da canábis. Estes medicamentos ainda estão em fase experimental. Mais informações
estão inscritas no capítulo 5.
Embora não existam estudos sobre estes resultados, os consumidores de canábis podem encontrar
programas de apoio de pares, tais como, os que existem direcionados para os problemas com álcool e
outras substâncias. Um grupo de autoajuda é qualquer grupo que tem como objetivo apoiar e cuidar dos
seus membros, os quais partilham um problema comum, de forma pragmática. Os dois tipos de grupo
mais conhecidos são: (1) Marijuana Anonymous/Narcóticos Anónimos, e os (2) Self Management and
Recovery Training (SMART).
Os grupos de Narcóticos Anónimos (NA) e de Marijuana Anonymous baseiam-se na teoria dos 12 Passos
e são grupos com base na espiritualidade. O objetivo principal do MA é " ficar livre de canábis e ajudar o
adito de canábis que ainda sofre a alcançar a mesma liberdade".
Não há estudos experimentais que inequivocamente demonstrem a eficácia das abordagens dos
Alcoólicos Anónimos ou 12 Passos para reduzir a dependência ou problemas de álcool, e não existem
estudos que sirvam para a canábis (Ferri, Amato & Davoli, 2006). Os utentes que pretendam frequentar
tais grupos, não devem ser desencorajados a fazê-lo.
Outros grupos de apoio mútuo, não com base no modelo de 12 Passos, como o SMART (incluindo grupos
on-line), encontram-se disponíveis em muitos países (por exemplo
http://www.smartrecoveryaustralia.com.au/). Estes grupos baseiam-se em princípios de CBT, são práticos
e focados nas soluções, e ensinam os membros do grupo:
UM GUIA CLÍNICO 25
No balanço acerca dos estilos de vida (equilíbrio entre satisfações momentâneas e duradouras).
Até ao momento não existem dados sobre os resultados disponíveis do programa SMART. Numa avaliação
interna dos participantes dos grupos em Sydney, quatro em cada cinco (83%, ou 90%) indicaram que o
programa lhes tinha dado "muita ajuda" (AER, 2006).
Atualmente a política australiana para a canábis é guiada pela Estratégia Nacional de Canábis 2004-2009
(Commonwealth of Australia, 2006), que engloba:
Redução de danos: estratégias de redução dos danos relacionados com as substâncias, nos indi-
víduos e nas comunidades
Tasmania (1998)
26 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Victoria (1998)
Queensland (2001)
As Leis das Substâncias são orientadas pela United National Convention Against Illicit Traffic in Narcotic
Drugs and Psychotropic Substances (1988). A convenção estabeleceu uma diferença entre a intenção de
tráfico e posse, compra e cultivo de substâncias para consumo pessoal. Em vários países, a posse de uma
quantidade de canábis para uso pessoal é descriminalizada e, há muitos outros países em que a prioridade
já não é a aplicação lei, e noutros as sentenças foram reduzidas (Jelsma, 2008).
A descriminalização existe em muitos países da E.U. (incluindo a Bélgica, Itália, República Checa, Portugal
e Dinamarca) e nalguns estados norte-americanos.
Algumas jurisdições na Europa (Espanha e partes dos Países Baixos e Alemanha) mantêm a ilegalidade da
canábis, mas não a aplicam, resultando numa situação em que " existe legalização de facto " da posse de
pequenas quantidades de substância em algumas circunstâncias. Nalguns países, sendo o exemplo mais
conhecido, a Holanda, a venda é permitida até 5 g de canábis para adultos em coffee-shops.
Sumário das Leis A canábis é ilegal em todo o mundo, mas existem países que têm diminuído as penalidades
pela posse de pequenas quantidades de canábis, sendo esta punida com uma multa e/ou
advertência, em vez de prisão. Veja NCPIC Criminal Justice Bulletin, Março de 2009, para mais
detalhes. www.ncpic.org.au
1.12 Referências
Alcohol Education and Rehabilitation Foundation (AER). (2006). St Vincent’s Hospital Alcohol and Drug
Service Final Report: Smart Recovery. Sydney: AER.
Advisory Council on the Misuse of Drugs. (2008).Home Office Cannabis Potency Study. Available on line:
http://drugs.homeoffice.gov.uk/publicat... iew=Binary
Agnosti, V. & Levin, F. (2004). Predictors of treatment contact among individuals with cannabis
dependence. The American Journal of Drug and Alcohol Abuse 30(1), 121–127.
American Psychiatric Association (APA). (2000). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,
4th edn. (DSM-IV-TR). Arlington, VA: APA.
Anthony, J.C., Warner, L.A. & Kessler, R.C. (1994).Comparative epidemiology of dependence on tobacco,
alcohol, controlled substances, and inhalants: Basic findings from the National Comorbidity Survey.
Experimental and Clinical Psychopharmacology 2,244–268.
Australian Institute of Health and Welfare. (2008a). National Drug Strategy Household Survey: First
Results. Drug statistics series no. 20. AIHW cat. no. AUS 104. Available on line: http://www.aihw.gov.
au/publications/index.cfm/title/10579
UM GUIA CLÍNICO 27
Australian Institute of Health and Welfare. (2008b). Alcohol and other drug treatment services in
Australia2006–07: Findings from the National Minimum Data Set. Available on line:
http://www.aihw.gov.au/publications/index.cfm/title/10591
Budney, A.J. & Hughes, J.R. (2006). The cannabis withdrawal syndrome. Current Opinion in Psychiatry 19,
233-238.
Budney, A.J., Higgins, S.T., Radonovich, K.J., & Novy,P.L. (2000). Adding voucher-based incentives to
coping skills and motivational enhancement improves outcomes during treatment for marijuana
dependence. Journal of Consulting and Clinical Psychology 68(6), 1051–1061.
Budney, A.J., Moore, B.A., Vandrey, R.G., & Hughes, J.R. (2003). The time course and significance of
cannabis withdrawal. Journal of Abnormal Psychology 112(3), 393–402.
Budney, A.J., Roffman, R., Stephens, R.S., & Walker,D. (2007). Marijuana dependence and its treatment.
Addiction Science & Clinical Practice 4(1), 4–16.
Clough, A., d’Abbs, P., Cairney, S., Gray, D., Maruff,P., Parker, R., & O’Reilly, B. (2004). Emerging patterns
of cannabis and other substance use in Aboriginal communities in Arnhem Land, Northern Territory: A
study of two communities. Drug and Alcohol Review 23(4), 381–390.
Coffey, C., Carlin, J.B., Degenhardt, L., Lynskey, M., Sanci, L., & Patton, G.C. (2002). Cannabis dependence
in young adults: An Australian population study. Addiction 97, 187–194.
Copeland, J., Swift, W., Roffman, R., & Stephens, R. (2001). A randomised controlled trial of brief
cognitive–behavioural interventions for cannabis use disorder. Journal of Substance Abuse Treatment 21,
55–64.
Degenhardt, L., Hall, W. & Lynskey, M. (2001). The relationship between cannabis use and other
substance use in the general population. Drug and Alcohol Dependence 64(3), 319–327.
ElSohly, M.A., Ross, S.A., Mehmedic, Z., Arafat, R., Yi, B., & Banahan, B.F. (2000). Potency trends of delta-
9- THC and other cannabinoids in confiscated marijuana from 1980–1997. Journal of Forensic Science 45,
24–30.
EMCDDA. (2004). EMCDDA insights: An overview of cannabis potency in Europe. Lisbon: European
Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction.
EMCDDA. (2008). A cannabis reader: Global issues and local experiences. Monograph series 8, Volume
1. Lisbon: European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction.
Ferri, M., Amato, L. & Davoli, M. (2006). Alcoholics Anonymous and other 12-step programmes for
alcohol dependence. Cochrane Database of Systematic Reviews 3 (art. no. CD005032). Available on line:
http://dx.doi. org/doi:10.1002/14651858.CD005032.pub2
Gates, P., Taplin, S., Copeland, J., Swift, W., & Martin, G. (2008). Barriers and facilitators to cannabis
treatment. Bulletin no. 4. Available on line: http://www.ncpic.org.au
Hall, W. & Solowij, N. (1998). Adverse effects of cannabis. Lancet 352, 1611–1616.
Huestis, M.A., Barnes, A. & Smith M.L. (2005). Estimating the time of last cannabis use from plasma Δ9-
tetrahydrocannabinol and 11-nor-9-carboxy-Δ9-tetrahydrocannabinol concentrations. Clinical Chemistry
51(12), 2289–2295.
28 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Iversen, L. (2007). The science of marijuana, 2nd ed. New York. NY: Oxford University Press.
Jelsma, M. (2008). The current state of drug policy debate: Trends in the last decade in the European Union
and United Nations. Support text for the first meeting of the Latin American Commission on Drugs and
Democracy. Available on line:
http://www.ungassondrugs.org/index.php?Option=com_content&task=view&id=206&Itemid=79
McLaren, J., Swift, W., Dillon, P., & Allsop, S. (2008). Cannabis potency and contamination: A review of
the literature. Addiction 103(7), 1100–1109.
Morgan, C. & Curran, H. (2008). Effects of cannabidiol on schizophrenia -like symptoms in people who
use cannabis. The British Journal of Psychiatry 192, 306–307.
Potter, D., Clark, P. & Brown, M. (2008). Potency of Δ9-THC and other cannabinoids in cannabis in England
in 2005: Implications for psychoactivity and pharmacology. Journal of Forensic Science 53(1), 90–94
Poulsen, H.A. & Sutherland, G.J. (2000). The potency of cannabis in New Zealand from 1976 to 1996.
Science Justice 40, 171–176.
Room, R., Fischer, B., Hall, W., Lenton, S., & Reuter, P. (2008). The global cannabis commission report:
Cannabis policy: Moving beyond stalemate. Oxford: The Beckley Foundation. Available on line:
http://www.beckleyfoundation.org/pdf/BF_Cannabis_Commission_Report.pdf
Stephens, R.S., Roffman, R., Fearer, S., Williams, C., & Burke, R. (2007). The marijuana check-up:
Promoting change in ambivalent marijuana users. Addiction 102(6), 947–957.
Stephens, R.S., Roffman, R.A. & Simpson, E.E. (1993). Adult cannabis users seeking treatment. Journal of
Consulting & Clinical Psychology 61, 1100–1104.
Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA), Office of Applied Studies.
(2002). National Survey on Drug Use and Health. Rockville, MD: Office of Applied Studies.
Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA), Office of Applied
Studies.(2008). Results from the 2007 National Survey on Drug Use and Health: National Findings. NSDUH
series no. H-34, DHHS publication no. SMA 08-4343. Rockville, MD: Office of Applied Studies.
Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA), Office of Applied Studies.
(2009). Treatment Episode Data Set (TEDS)Highlights: 2007 National admissions to substance abuse
treatment service. OAS series no. S-45, DHHS publication no. SMA 09-4360. Rockville, MD: Office of
Applied Studies.
World Health Organization (WHO). (1992). ICD-10: The ICD-10 classification of mental and behavioural
disorders: Clinical descriptions and diagnostic guidelines. Geneva: WHO.
World Health Organization (WHO). (1997). Cannabis: A health perspective and research agenda. Geneva:
WHO.
Capítulo 2: Trabalhar com consumidores de canábis
Os resultados das pesquisas sobre tratamento em ambulatório, sugerem que a maioria das terapias,
quando comparadas diretamente em estudos aleatórios, são igualmente eficazes. Contudo, a pesquisa
também tem demonstrado que uma forte relação terapêutica é uma condição necessária, mas não
suficiente, para a efetiva psicoterapia. De acordo com Ackerman & Hilsenroth (2003), uma forte relação
terapêutica envolve flexibilidade, honestidade, respeito, confiança, cordialidade, confidencialidade,
interesse e abertura. Em última análise, a eficácia da terapia baseia-se na capacidade de se estabelecer
uma relação terapêutica e nas competências e conhecimentos específicos do terapeuta. Isto é
especialmente verdadeiro no trabalho na área da canábis, na qual a maioria dos consumidores não vão
voluntariamente procurar ajuda para o seu comportamento de uso da substância e, portanto, as
intervenções poderão ter de ser adaptadas para consumidores que possam estar ambivalentes sobre
como fazer alterações ao seu comportamento de uso de substâncias. Além disso, o uso da canábis pode
ser secundária ao uso de outras substâncias, problemas de saúde ou condições de saúde mental.
A avaliação deve ser considerada parte integral do processo empático e de tratamento, ao invés de um processo
independente
A intervenção precoce no percurso de uso, oferece a oportunidade para se intervir antes dos comportamentos se
tornarem enraizados. O uso de entrevistas motivacionais é sugerido a fim de se aumentar o envolvimento
Dados empíricos baseados em intervenções de canábis, devem ser explicados ao consumidor e incorporados num
plano de tratamento compreensivo, com metas e intensidade do tratamento individualizado
Quando relevante, o consumo de canábis pode ser abordado no contexto de outras substâncias
As intervenções podem precisar de ser aplicadas repetidamente antes da mudança significativa ser alcançada,
porque o uso de substâncias, incluindo o uso de canábis, é condição cíclica e recidivante
Alguns consumidores podem ter outros distúrbios associados, o que afeta todas as fases do processo de mudança
Determinar os objetivos do tratamento, que podem ser transitórios e progressivos, até atingir os objetivos finais
Integrar tratamento do uso/abuso de substâncias com os serviços paralelos, como de saúde mental ou de justiça,
para melhor atender às necessidades complexas
O tratamento faseado envolve uma série de intervenções, desde a menos intensa até à de maior
intensidade, com a avaliação de cada um dos níveis de intervenção, tendo em conta resposta do
consumidor ao nível anterior.
O tratamento por fases promove uma melhor prática para a integração, para a formulação e para o
planeamento de tratamento, no processo de intervenção, e é útil para determinar o nível da intervenção
necessário para um indivíduo. Por exemplo, uma intervenção breve motivacional pode ser suficiente para
alguns, mas não para outros consumidores. Os consumidores que não evoluam depois de uma
intervenção breve, podem ter de passar para o nível de cuidados seguintes (por exemplo, um ambulatório
de 12 sessões). Se continuar a ter problemas, um plano de tratamento mais abrangente pode ser
necessário (por exemplo, tratamento para situação de comorbilidades; envolvimento da família; etc.). O
nível de intervenção necessário para o sucesso não se relaciona necessariamente com o nível de utilização
(ou seja, nem todos os consumidores de canábis requerem um programa de tratamento abrangente).
Os indivíduos que têm cumulativamente problemas de saúde mental, problemas com álcool e outros
problemas de substâncias, são muito heterogêneos em termos de tipo, gravidade, e prontidão para lidar
com seus vários problemas em tratamento, e a intervenção por fases possibilita a flexibilidade do
tratamento. A intervenção por fases pode:
Há uma série de princípios clínicos que devem ser considerados nas diferentes opções de tratamento para
a dependência da canábis:
UM GUIA CLÍNICO 31
O progresso do utente pode ser variável, logo as intervenções (incluindo aquelas que são
individuais) terão de ser adaptados às necessidades individuais.
O abandono precoce (isto é, pessoas que vão apenas a uma sessão) é comum, pelo que é
necessário, priorizar as mensagens-chave e trabalhar no estabelecimento e construção da
motivação na primeira sessão;
A pesquisa ainda não estabeleceu o número ótimo de sessões para oferecer aos consumidores
dependentes de canábis. Estudos sugerem que as sessões individuais podem ser eficazes mas a
continuidade dos cuidados neste acompanhamento depende da complexidade do caso e de
questões motivacionais do utente.
2.4 Contexto
Intervenções em ambulatório
De forma consistente com outras intervenções dirigidas a desordens de uso de outras substâncias,
também no caso da canábis a maioria das intervenções breves podem ir de 1 a 5 sessões. Isto é consistente
com as evidências e com os padrões descritos no conjunto de dados sobre tratamento. Os capítulos de
triagem e de avaliação fornecem linhas de orientação para domínios de avaliação e intervenção breves e
apresentam esboços de opções de tratamento. Os técnicos, em serviços de ambulatório, devem ser
proficientes na avaliação e na prestação de intervenções breves. Estas orientações irão contribuir para o
desenvolvimento de um guia de recursos para os utentes. Este pode incluir uma lista de grupos de apoio
locais e de material de autoajuda.
Embora estas linhas de orientação sugiram que a primeira linha de tratamento para problemas de canábis
é o ambulatório, os consumidores com síndrome de abstinência grave, dependência de múltiplas
substâncias (especialmente álcool e benzodiazepinas) e problemas agudos ou crónicos de saúde mental,
têm maior risco de consequências adversas durante a retirada das substâncias e podem exigir o
internamento ou a integração em comunidades terapêuticas. Nestas situações, o consumo de canábis
pode não ser trabalhado especificamente, mas tratado no contexto de um programa geral de abstinência
de álcool e de substâncias. As fichas de trabalho fornecidas, na parte final destas linhas de orientação,
podem ser usadas para trabalhar individualmente com os utentes que desejem abordar o uso de canábis
durante o internamento. É altamente recomendado que tanto no internamento como na integração em
comunidade terapêutica, seja constituído pelo menos um grupo direcionado para o tratamento específico
da canábis, considerando a prevalência, entre os consumidores de substâncias ilícitas, do consumo de
canábis e de comorbilidade associada a dependência do uso de substâncias.
Addy, D., Ritter, A., Lang, E., Swan, A., & Engelander, M. (2000). Key principles and practices. Clinical
treatment guidelines for alcohol and drug clinicians no. 1. Fitzroy, Victoria: Turning Point Alcohol and Drug
Centre Inc.
Gates, P., Taplin, S., Copeland, J., Swift, W., & Martin, G. (2009). Barriers and facilitators to cannabis
treatment. NCPIC Technical Report # 1. Sydney: NCPIC. Available online: http://www.ncpic.org.au
Jarvis, T., Tebbutt, J., Mattick, R., & Shand, F. (2005). Treatment approaches for alcohol and drug depend-
ence, 2nd edn. London: John Wiley and Sons.
Marsh, A. & Dale, A. (2006). Addiction counselling: Content and process. East Hawthorn, Vic: IP Commu-
nications.
Miller, W. & Heather N. (1998). Treating addictive behaviours, 2nd edn. New York: Plenum Press.
NSW Department of Health. (2008). NSW Health drug and alcohol psychosocial interventions: Profes-
sional practice guidelines. Available on line: http://www.health.nsw.gov.au
Steinberg, K.L., Roffman, R.A., Carroll, K.M., Mcree, B., Babor, T.F., Miller, M., Kadden, R., Duresky, D.,
& Stephens, R. (2005). Brief counselling for marijuana dependence: A manual for treating adults. DHHS
publication no. [SMA] 05-4022. Rockville, MD: Center for Substance Abuse Treatment, Substance Abuse
and Mental Health Services Administration.
2.6 Referências
Ackerman, S.J. & Hilsenroth, M.J. (2003). A review of therapist characteristics and techniques positively
impacting the therapeutic alliance. Clinical Psychology Review 23, 1–33.
Capítulo 3: Rastrear o uso de canábis
O atendimento inicial com o utente deverá centrar-se na empatia e na identificação das questões do uso,
considerando-se esta a melhor prática clínica. Para o rastreio do uso de canábis é relevante estabelecer
onde o fazer, se nos cuidados de saúde, nos locais de trabalho, ou nas escolas, contextos onde é
UM GUIA CLÍNICO 33
importante a deteção dos riscos do uso, bem como, onde as intervenções são tipicamente breves e a
referenciação é possível.
O rastreio é um método rápido para determinar se um distúrbio, como o uso problemático de substâncias,
ou uma situação de saúde mental, como a depressão, estão instalados. O rastreio é um processo para
identificar a eventual existência de um problema. Nem sempre constata a existência de um distúrbio, tão
pouco permite considerações acerca do papel do uso de canábis na vida do consumidor. O rastreio pode
ser facilmente aplicado na prática clínica e pode ser a porta de entrada para o cuidado clínico. Um rastreio
positivo vai induzir, na maioria das vezes, uma avaliação detalhada do nível de risco.
Lee et al.(2007)
3.2. Racional
O rastreio como procedimento habitual para a identificação do uso de canábis é importante por muitas
razões:
1. Os consumidores de canábis podem procurar apoio para outros problemas, tais como má
qualidade do sono, raiva, depressão, ansiedade, problemas relacionais ou problemas
respiratórios, e não mencionarem que consomem canábis
2. A deteção precoce das questões relacionadas com o uso de canábis é importante na prevenção
da escalada de problemas
3. Só uma pequena minoria dos consumidores de canábis procura ativamente alguma forma de
intervenção direcionada ao uso. Embora muitos dos consumidores de canábis apenas tenham
pequenos problemas com o seu uso, uma proporção expressiva experiencia dependência
significativa. Estes consumidores relatam danos que os afetam, e danos que afetam outras
pessoas, mas, ainda assim, não procuram tratamento.
4. O uso de canábis é bastante comum, especialmente nas faixas etárias entre os 15 e os 30 anos e
em indivíduos consumidores de outras substâncias ilícitas, com problemas de saúde mental.
Aqueles que se apresentem com novos problemas respiratórios, tais como asma ou tosse devem
ser rastreados para o consumo de canábis, uma vez que é um fator potenciador destes
problemas.
Devido ao uso difundido de canábis, a orientação é de que todas as pessoas que acedem aos cuidados
de saúde devem sem rastreadas para este consumo.
Médico de família Qualquer consulta de rotina, ou consulta antitabágica, ou relacionada com a função
respiratória, a saúde mental, ferimentos, planeamento familiar, acidente ou sono
Técnicos de saúde mental Toda a avaliação compreensiva deve incluir um rastreio a todas as substâncias,
especialmente as que podem induzir psicose
Informar os utentes do porquê e de como vai ser efetuado o rastreio para o uso de canábis, ajudará a
proporcionar um contexto não ameaçador. Em qualquer serviço é importante assegurar ao utente que o
que diz manter-se-á confidencial e que apenas se usará a informação para planear o tratamento. Há ainda
a necessidade de discutir as limitações relevantes da confidencialidade do serviço (incluindo o risco de
suicídio e obrigações éticas/deontológicas). Num serviço não especializado em álcool e outros
tratamentos da dependência de substâncias, o rastreio é realizado pelo médico ou enfermeiro, pelo que
é importante introduzir o rastreio de uma forma não ameaçadora. Por exemplo:
“Eu vou, agora, colocar-lhe algumas questões acerca do seu estilo de vida. Tudo bem? [abordagem
colaborativa]
Pois bem, primeiro, usa álcool ou tabaco [se sim, quanto]? Já usou alguma outra substância [se sim,
quantificar e explorar usando especificamente o nome de cada uma das substâncias]?”
O rastreio pode ser estandardizado ou não, as questões podem ser abertas ou fechadas. A maioria dos
instrumentos de rastreio utiliza questões fechadas. Sugere-se que depois de se introduzir o rastreio ao
utente como recomendado em 3.4, os profissionais de saúde comecem por fazer questões gerais e
abertas acerca do uso de canábis tal como é sugerido no quadro 6.
Que idade tinhas quando consumiste pela primeira vez Fala-me acerca das tuas primeiras experiências de uso de
canábis? canábis.
Com que frequência usas canábis? Como é que o teu uso de canábis se alterou ao longo do
tempo?
Que idade tinhas quando começaste a usar diariamente? Descreve algumas das tuas experiências recentes de uso
de canábis.
Quando foi a primeira vez que pensaste ter um problema És capaz de dizer as coisas menos positivas que
com o consumo de canábis? experimentas quando usas canábis.
Os instrumentos psicométricos são usados, muitas vezes, como coadjuvantes para a avaliação clínica (ver
quadro 7). A evidência científica mostra que a Escala de Severidade da Dependência (SDS) é um bom
instrumento para ser usado no rastreio; os outros instrumentos de medida, abaixo reportados, ainda
estão em fase de fundamentação da sua evidência científica. Urge notar que o quadro não é uma lista
exaustiva dos instrumentos disponíveis e que os instrumentos disponíveis não são de diagnóstico.
(versão curta)
“Técnico: O que me está a dizer é que não acha que precisa de reduzir já o uso de canábis (reflete de volta).
E que, sente que tem controlo sobre o seu uso.”
“Técnico: O que pensa é que o uso de canábis não é tão prejudicial quanto as outras substâncias (reflete
de volta). É capaz de me dizer porque é que usar canábis é menos arriscado para si do que usar as outras
substâncias?”
“Técnico: Então, acredita que não tem um problema com o uso de canábis porque os seus amigos fumam
mais. É assim?
“Técnico: Sim, é verdade que nem todas as pessoas que usam canábis ficam dependentes. Vamos olhar
para as respostas ao teste de rastreio e verificar qual é a sua situação.”
Em alguns contextos, os testes de urina, sangue, cabelo e amostras de fluídos orais, para despiste de uma
substância, ou de metabolitos de uma substância, são aceitáveis para avaliação do uso dessa substância.
Os marcadores biológicos guiam a escolha de posteriores métodos de avaliação. Por exemplo, se um
utente acusa positivo para uma substância no rastreio, instrumentos como a Escala de Severidade da
Dependência de Canábis (SDS) (Gossop et al., 1995), pode ser adequada para determinar a severidade do
uso. Os marcadores bioquímicos podem também ser usados para validar os auto-relatos.
A. Testes de Rastreio
Os testes de rastreio (por exemplo, testes descartáveis de urina) tendem a ser muito específicos, mas
pode faltar-lhes sensibilidade. A especificidade refere-se à capacidade de apresentar um resultado
negativo em alguém que não usou recentemente uma substância em particular. A sensibilidade, por outro
lado, refere-se à capacidade de acusar resultado positivo em alguém que usou recentemente.
B. Testes de Confirmação
A confirmação de um rastreio positivo envolve o uso de um segundo e mais rigoroso método de deteção,
que normalmente é realizado em laboratório. O método mais usado para procedimento de confirmação
é a cromatografia gasosa ou a espectrometria de massas.
É uma medida objetiva que fornece resultados sobre o abuso de substâncias ou a recaída com
base nos quais se planeiam decisões clínicas e de tratamento
Pode confirmar o progresso clínico. Os serviços laboratoriais locais que fornecem os “ensaios de
emites” podem quantificar os canabinóides, mas o que estas quantidades representam pode ser
de muito difícil interpretação e, tal não pode ser usado sem uma perícia especializada que for-
neça uma gama alternativa de possíveis interpretações. Isto pode ser vantajoso no feedback com
o consumidor acerca da diminuição dos níveis de canabinóides; na medição dos resultados do
tratamento; e, em estudos de investigação. Deverá ser salientado que os resultados destes testes
laboratoriais podem não estar imediatamente disponíveis após a recolha da amostra e que estes
testes podem ter custos acrescidos.
Os testes de descartáveis fornecem a imediata confirmação do uso de substância, mas não po-
dem estabelecer se um consumidor apenas a usou recentemente ou se tem um problema de uso
crónico. Isto é, estes testes não podem aferir se a canábis foi usada nas últimas 24 horas, quantas
vezes foi usada ou quanta quantidade foi consumida.
Um método menos intrusivo pode ser mais apropriado. Os kits de testes de saliva são cada vez
mais usados numa variedade de cenários. A libertação de THC do sangue para a saliva é idiossin-
crática, contudo os testes de saliva frequentemente não conseguem distinguir o uso imediato,
do uso de um dia ou o uso mais longínquo; assim, a deteção de THC, através dos atuais testes de
saliva, tem limitações que obrigam a um conhecimento alargado das interpretações alternativas.
Quão importante é o efeito negativo para a aliança terapêutica, quando o consumidor rejeita a
realização dos testes de rastreio bioquímico ou é percebido que este subestima o seu uso de
canábis?
O custo do exame. Os custos podem ser proibitivos para determinados indivíduos e serviços e
podem ser um impedimento ao tratamento se é pedido ao consumidor que os suporte.
Todas as opções. Selecionar o teste de entre as opções disponíveis de acordo com a adequação,
preço, disponibilidade e intrusão.
Note-se que se um utente solicitar o rastreio de substâncias por amostra de urina para efeitos de
justiça criminal ou médico-legal, deve-se garantir que os procedimentos de segurança serão mantidos
de forma incorruptível.
Recolha de amostras
O método de recolha de uma amostra de urina para o despiste de substâncias é importante. As técnicas
incluem a medição da temperatura ou o ph da amostra imediatamente após ser recolhida, e usar
recipientes à prova de adulteração. A recolha de amostras pode necessitar de ser supervisionada para
assegurar que se trata da urina da pessoa que vai ser rastreada.
Tempos de deteção
A janela de deteção do último uso de canábis é assunto de debate (Cary, 2006). O grau de deteção é
influenciado por várias técnicas (por exemplo, diferentes métodos de testagem e sensibilidades), variáveis
farmacológicas, (duração do uso, metabolismo, forma de administração), e diferenças individuais
importantes no metabolismo.
3.8 Sumário
Recomendações Evidência
O rastreio do consumo de canábis deve ser realizado como rotina, em diferentes serviços de A
saúde, incluindo os serviços de saúde especializados no tratamento de álcool e outras
substâncias; os serviços de saúde mental; os serviços de urgência; e nos cuidados primários de
saúde
Das listadas na Tabela 7, apenas o SDS e o ASSIST, são quanto à evidência e fiabilidade de grau B.
As restantes são de fiabilidade de grau C.
40 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
3.9 Referências:
Adamson, J.D. & Sellman, J.D. (2003). A prototype screening instrument for cannabis use disorder: The
Cannabis Use Disorders Identification Test (CUDIT) in an alcohol -dependent clinical sample. Drug and
Alcohol Review 22(3), 309–315.
Bashford, J.L. (2007). The Cannabis Use Problems Identification Test (CUPIT): Development and
psychometrics. Unpublished doctoral thesis. Palmerston North, New Zealand: Massey University.
Cary, P. (2006). The marijuana detection window: Determining the length of time cannabinoids will
remain detectable in urine following smoking: A critical review of relevant research and cannabinoid
detection guidance for drug courts. National Drug Court Institute IV (2). Available on line:
http://www.ndci.org/publications/THC _Detection_Window_Fact_Sheet.final.pdf
Danseco, E.R. & Marques, P.R. (2002). Development and validation of a POSIT-short form: Screening for
problem behaviors among adolescents at risk for substance use. Journal of Child and Adolescent Substance
Abuse 11(3), 17–36.
Dyer, K., Wilkinson, X. & Wilkinson, C. (2008). The detection of illicit drugs in oral fluid: Another potential
strategy to reduce illicit drug-related harm. Drug and Alcohol Review 27, 99–107.
Gossop, M., Darke, S., Griffiths, P., Hando, J., Powis, B.,Hall, W., & Strang, J. (1995). The Severity of
Dependence Scale (SDS): Psychometric properties of the SDS in English and Australian samples of heroin,
cocaine and amphetamine users. Addiction 90, 607–614.
Humeniuk, R., Ali, R., Babor, T.F., Farrell, M.,Formigoni, M.L., Jittiwutikarn, J., de Lacerda, R.B.,Ling, W.,
Marsden, J., Monteiro, M., Nhiwatiwa, S.,Pal, H., Poznyak, V., & Simon, S. (2008). Validation of the
Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST). Addiction 103(6), 1039–1047.
Knight, J.R. (2001). Reliability of the Problem Oriented Screening Instrument for Teenagers (POSIT) in
adolescent medical practice. Journal of Adolescent Health 29(2), 125–130.
Latimer, W.W., Winters, K.C. & Stinchfield, R.D. (1997). Screening for drug abuse among adolescents in
clinical and correctional settings using the Problem-Oriented Screening Instrument for Teenagers.
American Journal of Drug and Alcohol Abuse 23(1), 79–98.
Lee, N., Jenner, L., Kay-Lambkin, F., Hall, K., Dann, F., Roeg, S., Hunt, S., Dingle, G., Baker, A., Hides, L.,&
Ritter, A. (2007). PsyCheck: Responding to mental health issues within alcohol and drug treatment.
Canberra, ACT: Commonwealth of Australia.
Martin, G., Copeland, J., Gates, P., & Gilmour, S.(2006). The Severity of Dependence Scale (SDS) in an
adolescent population of cannabis users: Reliability, validity and diagnostic cut-off. Drug and Alcohol
Dependence 83, 90–93.
Steinberg, K.L., Roffman, R.A., Carroll, K.M., Mcree, B., Babor, T.F., Miller, M., Kadden, R., Duresky, D.,
& Stephens, R. (2005). Brief counselling for marijuana dependence: A manual for treating adults. DHHS
publication no. [SMA] 05-4022. Rockville, MD: Center for Substance Abuse Treatment, Substance Abuse
and Mental Health Services Administration.
Swift, W., Copeland, J. & Hall, W. (1998). Choosing a diagnostic cut-off for cannabis dependence.
Addiction 93, 1681–1692.
WHO ASSIST Working Group. (2002). The Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test
(ASSIST): Development, reliability and feasibility. Addiction 97(9), 1183–1194.
UM GUIA CLÍNICO 41
CAPÍTULO 4. Avaliação
4.1. Introdução
Realizar uma avaliação compreensiva dos consumos de canábis, é um requisito essencial para determinar
a intervenção mais apropriada para o consumidor (veja figura 1). Na dependência, a avaliação
compreensiva providencia informação capaz de monitorizar o processo de tratamento, ao ser realizada
no início e ao longo da intervenção.
Os técnicos, com experiência em avaliação nas áreas sociais e da saúde, devem avaliar o uso de canábis e
os problemas associados, como parte de uma avaliação alargada sobre os aspetos do funcionamento da
saúde psicossocial do utente.
Para que o consumidor consiga compreender os propósitos da avaliação, os técnicos de saúde devem
fornecer informação detalhada sobre a própria avaliação, sobre como os seus resultados podem ser
usados para referenciações adequadas e como também podem ser usados para identificar a eficácia dos
serviços de tratamento providenciados ao consumidor.
instrumentos
de rastreio
informação instrumentos
colateral de avaliação
compreender o
consumidor
entrevista
observação
clínica
42 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
4.2. Racional
A deteção precoce e a intervenção nos problemas de consumo de canábis é uma estratégia efetiva de
saúde pública. Permite o aumento da possibilidade dos indivíduos beneficiarem de uma intervenção breve
capaz de reduzir os danos da dependência de canábis a longo prazo.
Logo que os utilizadores de canábis se apresentam para um primeiro atendimento, o desafio colocado ao
técnico é o de desenvolver e potenciar o envolvimento do consumidor na intervenção a prosseguir.
Mesmo que procurem deliberadamente apoio para os seus consumos de canábis, os utilizadores
comparecem com determinado grau de ansiedade e de relutância sobre a possibilidade de serem
julgados. Este aspeto aumenta a possibilidade de desenvolverem defesas relativamente a uma das suas
maiores estratégias de coping – a canábis.
A avaliação dos problemas associados à canábis pode ser realizada num único atendimento, e ser
relativamente breve. Por outro lado, o processo de avaliação compreensiva e contínua é uma
oportunidade para os técnicos fornecerem de forma imparcial, e para os consumidor procurarem,
informação útil, na assistência para a implicação num processo de mudança do seu comportamento de
uso (Beich, Thorsen & Rollnick, 2003). As forças pré-existentes de um consumidor, os seus deficits,
UM GUIA CLÍNICO 43
objetivos, assim como, os efeitos da canábis na sua vida, precisam de ser considerados na formulação de
um plano de tratamento (Beich, Thorsen & Rollnick, 2003). Uma avaliação compreensiva necessita de
cuidados particulares nos seus diferentes domínios.
Os principais elementos de qualquer avaliação sobre o uso de canábis devem cobrir um leque abrangente
de problemas, para além do abuso ou dependência da canábis, assim como avaliar os fatores que
predispõe, precipitam ou mantêm o uso. A medida em que cada uma destas áreas é explorada depende
da sua relevância para o utente com quem se está a trabalhar.
Questões sobre o uso de outras substâncias (i.e. historial de consumos, padrões típicos ou atuais
de uso de outras drogas) e verificação de qual substância causa maior disfunção atualmente
(note-se que pode não ser relevante ou possível de identificar se os consumidores se envolvem
em variados padrões de uso de diferentes substâncias ou se a substituição é comum)
Marcadores biológicos
Medicações
Questões psicossociais
NOTA: The Cannabis Problems Questionnaire pode ajudar a aumentar a consciencialização das questões
psicossociais associadas ao uso de canábis (ver capítulo 11).
Objetivos do tratamento
DICA é importante avaliar a saúde mental do consumidor com regularidade, a qual pode estar mascarada e
agravar com a remissão/redução dos consumos
Apesar das sequelas negativas do uso de canábis, alguns consumidores podem estar relutantes ou
ambivalentes em relação à mudança do seu comportamento de uso, e podem aparecer no atendimento
sob coação de outros (familiares, tribunais, companheiro). Por esta razão é importante avaliar a
motivação interna e externa para a mudança; os obstáculos à mudança; tal como o sucesso de tentativas
anteriores; os prós e os contras da mudança; mudanças no comportamento (Miller & Rollnick, 1991).
“Quais são as mudanças mais importantes que quer alcançar após diminuir ou deixar de consumir
canábis?”
“As suas preocupações sobre a sua relação com alguém importante para si motivam-no para a
mudança?”
“Quem, na sua vida, espera que você mude (família, esposa, outros significativos, amigo próximo)?”
Natureza e número de tentativas, período de abstinência mais longo, razões das recaídas recentes.
“Olhando para trás, o que fez para que as tentativas tivessem sucesso, ou não tivessem sucesso?”
“Quais foram os seus pensamentos interiores/conversas consigo próprio, imediatamente antes e após
a recaída?”
“Numa escala de 1 a 10, qual é a confiança que tem no sucesso da atual tentativa?”
Considerar o que o consumidor já fez para mudar o seu comportamento de uso de canábis. Acrescentar
o que pretende realizar no futuro. É importante validar os sucessos conseguidos até à data.
“Desde o tempo que tentou mudar, que ações encetou para a mudança (evitar situações de alto-risco,
afastar-se de amigos consumidores, restrições na aquisição, etc)?”
“Que outras ações vai tomar para dar modificar o seu comportamento?”
Avaliar os estádios de mudança, tais como foram descritos por Prochaska e DiClemente (1983), pode ser
atingido através de atividades como a escada/progressão da contemplação ou pelo trabalho que o técnico
pode desenvolver, através de uma série de tarefas descritas no quadro seguinte:
UM GUIA CLÍNICO 47
Baseada nos “estádios de mudança” de Miller e Rollnick (1991), a Escada de Contemplação (Biener &
Abrams, 1991) é uma escala representada como uma escada em que os degraus mais elevados ilustram
maior motivação para a mudança. A “Marijuana Ladder” foi desenvolvida por Slavet et al. (2006) para
jovens reclusos e está associada a maiores níveis de implicação na mudança de adolescentes (ver capítulo
12).
A motivação para a mudança também pode ser avaliada através do recurso a instrumentos validados, que
podem incluir:
Motivações para o uso de substâncias nos doentes psicóticos (Spencer, Castle & Michie, 2002)
A avaliação pode ser guiada pelas entrevistas clínicas estruturadas e validadas e auto-relatos. O quadro
seguinte fornece detalhes sobre instrumentos de medidas auxiliares validados pelo nível mínimo de
evidência e disponíveis no domínio público.
Tal como nos problemas de uso de outras substâncias, os consumidores de canábis podem substituir esta
substância por outras substâncias, tal como, o álcool. É importante monitorizar o uso de outras
substâncias para avaliar a escalada e/ou a substituição quando a substância de eleição é reduzida. Esta
monitorização ajuda os técnicos na decisão de ajustar a exigência ou flexibilidade do acompanhamento.
Fornecer feedback ao consumidor sobre a avaliação realizada, permite que este aumente o conhecimento
dos danos associados com o seu uso de canábis, bem como aumente o seu grau de motivação para a
mudança. Investigações recentes sugerem que o feedback estruturado pode potenciar a mudança
significativa no utente, mesmo que não seja fornecida uma intervenção mais intensiva (Wild et al. 2007;
Doumas & Hannah, 2008).
Este feedback deve sumariar a avaliação dos problemas associados ao uso da substância. Os técnicos são
encorajados a acompanhar esta informação comparando-a com os níveis de uso e problemas
evidenciados pela população em geral e pelos consumidores de canábis que procuram tratamento. Os
técnicos devem fornecer feedback de forma objetiva, de fácil compreensão, culturalmente sensível e de
forma colaborativa. Note-se que os instrumentos apresentados neste manual não foram validados em
grupos culturais específicos e podem não ser apropriados para determinados grupos. Como sempre, o
julgamento clínico deve determinar a qualidade do feedback a fornecer e em que momento deve ser
transmitido.
Sumariando, os técnicos devem fornecer feedback preciso, de forma empática, imparcial, e não
ameaçadora. Este contexto permite ao consumidor perceber quais os benefícios da mudança e vai
promover a motivação para a mudança. Após o fornecimento de feedback, os técnicos devem permitir ao
consumidor traçar os seus objetivos para a intervenção. Tal processo promove um ambiente colaborativo,
mais capaz de promoção da mudança, por oposição ao ambiente coercivo de intervenção. Os técnicos
devem fomentar a eficácia do consumidor em conseguir atingir e consolidar as mudanças que decidiu
encetar.
“O seu nível/frequência de consumo de canábis, assim como, os problemas que descreveu, tais como,
faltar ao trabalho, dificuldades em dormir, dificuldades em não usar a substância, sugerem que pode
estar dependente de canábis. Como é que esta avaliação se ajusta com a sua perceção sobre os
consumos que faz?”
50 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
4.9. Sumário
Recomendações Evidência
Uma avaliação cuidadosa pode incluir uma entrevista clí- A&B
nica, bem como questionários estruturados
e.g. SDS, TLFB. Instrumentos como a MWC não atingem
o nível A de evidência
Tópicos-chave da avaliação incluem: A
Padrão de consumos de SPA`s; funcionamento psicosso-
cial; saúde geral; sintomatologia psíquica; preparação
para a mudança; objetivos do tratamento
4.10. Referências
Achenbach, T.M. & Edelbrock, C.S. (1991). Manual for the Youth Self-Report and 1991 profile. Burlington,
VT: University of Vermont, Department of Psychiatry.
American Psychiatric Association (APA). (2000). Diagnostic and statistical manual of mental disorders,
fourth edition (DSM-IV-TR). Arlington, VA: APA.
Beich, A., Thorsen, T. & Rollnick, S. (2003). Screening in brief intervention trials targeting excessive drink-
ers in general practice: Systematic review and meta analysis. British Medical Journal 327, 536–542.
Biener, L. & Abrams, D. (1991). The contemplation ladder: Validation of a measure of readiness to con-
sider smoking cessation. Health Psychology 10, 360–365.
Budney, A.J., Novy, P. & Hughes, J.R. (1999). Marijuana withdrawal among adults seeking treatment for
marijuana dependence. Addiction 94, 1311–1322.
Copeland, J., Gilmore, S., Gates, P., & Swift, W. (2005). The cannabis problems questionnaire: Factor
structure, reliability and validity. Drug and Alcohol Dependence 80(3), 313–319.
Dennis, M., Babor, T.F., Roebuck, M.C., & Donaldson, J. (2002). Changing the focus: The case for recog-
nizing and treating cannabis use disorders. Addiction 97, 4–15.
Doumas, D. & Hannah, E. (2008). Preventing highrisk drinking in youth in the workplace: A web-based
normative feedback program. Journal of Substance Abuse Treatment 34(3), 263–271.
UM GUIA CLÍNICO 51
First, M., Spitzer, R., Gibbon, M., & Williams, J. (1997). Structured Clinical Interview for DSM-IV Axis I
Disorders: Clinician version (SCID-I Administration Booklet). Washington, DC: American Psychiatric Press,
Inc.
Gossop, M., Griffiths, P., Powis, B., & Strang, J. (1992). Severity of dependence and route of administra-
tion of heroin, cocaine and amphetamines. British Journal of Addiction 87, 1527–1536.
Heatherton, T.F., Kozlowski, L.T., Frecker, R.C., & Fagerström, K.O. (1991). The Fagerstrom Test for Nic-
otine Dependence : A revision of the Fagerstrom Tolerance Questionnaire. British Journal of Addiction 86,
1119–1112.
Kessler, R.C., Andrews, G., Colpe, L.J., Hiripi, E., Mroczek, D.K., Normand, S.L.T., Walters, E.E., & Zaslav-
sky, A. (2002). Short screening scales to monitor population prevalences and trends in nonspecific psy-
chological distress. Psychological Medicine 32(6), 959–976.
Kessler, R.C., Andrews, G., Mroczek, D., Ustun, T.B., & Wittchen, H.U. (1998). The World Health Organi-
zation Composite International Diagnostic Interview Short Form (CIDI-SF). International Journal of Meth-
ods in Psychiatric Research 7(4), 171–185.
Lovibond, P.F. & Lovibond, S.H. (1995). The structure of negative emotional states: Comparison of the
Depression Anxiety Stress Scales (DASS) with the Beck Depression and Anxiety Inventories. Behaviour Re-
search and Therapy 33, 335–343.
Martin, G., Copeland, J., Gates, P., & Gilmour, S. (2006). The Severity of Dependence Scale (SDS) in an
adolescent population of cannabis users: Reliability, validity and diagnostic cut-off. Drug and Alcohol De-
pendence 83, 90–93.
Miller, W.R. & Johnson, W.R. (2008). A natural language screening measure for motivation to change.
Addictive Behaviors 33(9), 1177–1182. Miller, W.R. & Rollnick, S. (1991). Motivational interviewing: Pre-
paring people to change addictive behavior. New York: Guilford Press.
Miller, W.R. & Rollnick, S. (eds.) (2002). Motivational interviewing: Preparing people for change. New
York: Guilford Press. Prochaska, J.O. & DiClemente, C.C. (1983). Stages and processes of self-change of
smoking: Toward an integrative model of change. Journal of Consultant and Clinical Psychology 51, 390–
395.
Rollnick, S. (1998). Readiness, importance and confidence: Critical conditions of change in treatment. In
W. Miller & N. Heather (eds.), Treating Addictive Behaviors, 2nd edn. London: Plenum Press, pp. 49–60.
Rollnick, S., Heather, N., Gold, R., & Hall, W. (1992). Development of a short “readiness to change” ques-
tionnaire for use in brief, opportunistic interventions among excessive drinkers. British Journal of Addic-
tion 87, 743–754.
Slavet, J., Stein, L., Colby, S., Barnett, N., Monti, P., Golembeske, C., & Lebeau-Craven, R. (2006). The
Marijuana Ladder: Measuring motivation to change marijuana use in incarcerated adolescents. Drug and
Alcohol Dependence 83, 42–48.
Sobell, L.C. & Sobell, M.B. (1996). Timeline Followback user’s guide: A calander method for assessing al-
cohol and drug use. Toronto, Canada: Addiction Research Foundation.
Spencer, C., Castle, D. & Michie, P.T. (2002). Motivations that maintain substance use among individuals
with psychotic disorders. Schizophrenia Bulletin 28(2), 233–247.
Trzepacz, P.T. & Baker, R.W. (1993). The psychiatric mental status examination. Oxford, U.K.: Oxford Uni-
versity Press.
52 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Wild, T., Cunningham, J. & Roberts, A. (2007). Controlled study of brief personalized assessment-feed-
back for drinkers interested in self-help. Addiction 102(2), 241–250.
Wing, J.K., Babor, T., Brugha, T., Burke, J., Cooper, J.E., Giel, R., Jablensky, A., Regier, D., & Sartorius, N.
(1990). SCAN: Schedules for Clinical Assessment in Neuropsychiatry. Archives of General Psychiatry 47,
589–593.
Zweben, A. & Zuckoff, A. (2002). Motivational interviewing and treatment adherence. In W.R. Miller & S.
Rollnick (eds.), Motivational interviewing: Preparing people for change, 2nd edn. New York: Guilford Press,
pp 199–219
UM GUIA CLÍNICO 53
Como mencionado no capítulo dois, os sintomas mais comuns de abstinência são irritabilidade,
ansiedade/nervosismo, agitação e dificuldades em dormir (incluindo sonhos estranhos), raiva e agressão.
Os sintomas geralmente surgem depois de 1-3 dias de abstinência, tendo o seu pico entre os dias 2 e 6, e
têm a duração entre 4 a 14 dias (Budney et al, 2003;. & Budney & Hughes, 2006).
O fornecimento de informação verbal e escrita acerca do que pode ocorrer (ver folheto de
abstinência). Por favor, note que é importante informar os utentes que eles podem não
experienciar todos os sintomas (ou algum) e que a severidade de qualquer sintoma
experimentado depende de vários fatores;
Presentemente, não há nenhuma medida validada para a abstinência de canábis. Os investigadores têm
utilizado a checklist de retirada da canábis (MWC- Marijuana Withdraw Checklist) (Budney, Novy &
Hughes, 1999) para avaliar a abstinência da canábis em adolescentes e adultos. Várias versões da MWC
têm aparecido na literatura; mais recentemente, uma versão de 15 itens foi utilizada para captar a gama
de sintomas da maioria dos pacientes (Budney et al., 2008). Para monitorizar os sintomas de abstinência,
os consumidores podem concluir a MWC fazendo um registo diário (ver capítulo 11). Quando possível, o
acompanhamento dos sintomas de abstinência deve começar pelo menos um dia antes da cessação, a
fim de obter uma linha de referência precisa dos valores dos sintomas e comportamentos associados à
abstinência. Como a maioria dos sintomas regridem substancialmente em seis dias, um registo diário deve
ser mantido por pelo menos sete dias. Como os problemas relacionados com o sono podem persistir por
mais tempo em alguns indivíduos, o registo pode ser continuado até um mês.
Os sintomas de abstinência da canábis podem ser geridos em regime de ambulatório com segurança, mas
alguns utentes podem necessitar de internamento ou de um suporte em ambiente residencial. A
necessidade de internamento precisa de ser avaliada de forma individualizada e de ser guiada pela história
do utente relativamente às tentativas anteriores de tratamento em ambulatório; pelas circunstâncias
pessoais e familiares; e por outras considerações de saúde física ou mental.
Recomendamos que os utentes que consumam canábis e que se apresentem para o tratamento de álcool
ou de outra substância psicotrópica que não a canábis, reduzam o seu uso da canábis simultaneamente
com a redução da substância de preocupação primordial. A evidência sugere, no entanto, que os bons
resultados, no que respeita ao tratamento da substância de preocupação primordial, não implicam
necessariamente a redução da canábis. Utentes com severa dependência alcoólica e/ou condições
psiquiátricas poderão precisar de cuidados adicionais.
E se a canábis não é a única substância que o paciente Não há pesquisas no sentido de indicar qual a
usa regularmente? substância que o utente deve cessar primeiro;
O referencial de procedimentos de boas práticas deve
ser seguido caso o clínico considere que se justifique
uma intervenção para o utente de outras substâncias
(incluindo medicação)
A abstinência do tabaco é idêntica à da canábis? O uso do tabaco com canábis é muito
comum e muitos dos sintomas de abstinência são
semelhantes;
Avaliar se o indivíduo está a experienciar
simultaneamente a abstinência ao uso de tabaco e de
canábis
Os fumadores de canábis muitas vezes fumam tabaco, quer seja juntamente com a canábis ou
separadamente. Utentes que apenas consomem tabaco conjuntamente com a canábis devem estar
cientes de que podem experimentar simultaneamente sintomas de abstinência por abandono de ambas
as substâncias. Os técnicos devem monitorizar ambas as abstinências, e deverá ser discutida a terapia de
reposição de nicotina durante este período, com os grandes fumadores de tabaco que também usam
tabaco em conjunto com canábis. (O quadro 11 expressa os tempos típicos de abstinência de nicotina). A
redução de tabaco também pode causar alterações da saliva, que poder controlada, bebendo-se água
com regularidade.
Até agora não há estudos que indicam se a redução gradual da canábis pode diminuir os sintomas de
abstinência ou permitir aos utentes uma taxa de sucesso maior do que a interrupção abrupta. A literatura
sobre álcool e outras substâncias, e a experiência clínica na gestão da abstinência de canábis, sugerem
que um período de abstinência de canábis beneficia os dependentes desta substância e torna mais
provável que sejam capazes de uma melhor gestão do consumo a longo prazo. Os utentes que desejam
reduzir gradualmente devem fazê-lo, após estabelecerem uma data de paragem, nas 2 ou 3 semanas
seguintes.
56 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Como o abandono da canábis envolve uma gama de sintomas e não existem medicamentos disponíveis
para reduzir essa variedade de sintomas de abstinência, uma outra abordagem possível é considerar os
medicamentos que têm como alvo sintomas individuais. No entanto, não existe evidência direta, sobre os
tratamentos focados no sintoma, na gestão da abstinência. Consequentemente, os profissionais terão de
avaliar a utilidade da gestão sintomática, caso-a-caso. Por exemplo, um técnico pode considerar
apropriado prescrever, por um período curto de tempo, medicação sedativa-hipnótica em doses baixas,
a um consumidor que apresenta problemas significativos de sono enquanto reduz os consumos.
Como algumas pessoas com dependência de canábis são vulneráveis ao desenvolvimento de dependência
de outra substância psicoativa, recomenda-se que um membro da família auxilie na distribuição e/ou
monitorização do uso da medicação prescrita, sempre que possível, estando o regime típico limitado a
um máximo de cinco dias.
Para um utente que também tem sinais e sintomas de um transtorno de ansiedade, psicose aguda, mania,
ou depressão agitada, a avaliação por um psiquiatra é recomendada. Condições psiquiátricas
diagnosticáveis podem surgir no final da cessação da canábis, e regimes adequados de medicação a longo
prazo podem ter de ser considerados logo que esse diagnóstico seja confirmado.
Cuidado
A prescrição de uma benzodiazepina não é recomendada como uma abordagem rotineira para as pessoas que
estão em fase de abandono da canábis.
Ao se considerar as opções de medicação, a consulta em serviços especializados é recomendada.
O uso da medicação deve ser de curto prazo e cuidadosamente monitorizado.
Tal como acontece com outras substâncias psicoativas, a dependência fisiológica da canábis, por si só, não
é suscetível de conduzir à mudança do comportamento a longo prazo. A abstinência deve ser parte de um
processo contínuo de cuidados. Isso incorpora planeamento de apoio do caso pós-tratamento. Devem ser
seguidos bons procedimentos de referenciação e existir um gestor central do caso que coordene as
referenciações, identificando os serviços de apoio apropriados, ao prosseguimento do tratamento. O
planeamento pós-abstinência pode ser realizado formalmente (plano pós-tratamento) ou informalmente
(deixando a porta aberta para que o utente volte) dependendo dos procedimentos institucionais.
Como a pesquisa sobre abstinência da canábis está no início, poucos estudos examinaram a eficácia
específica das intervenções psicossociais para lidar com a abstinência da canábis. As intervenções
psicossociais para gestão da abstinência da canábis encontram-se bem suportadas na literatura mais
abrangente. Estas intervenções envolvem o fornecimento aos utentes de informações precisas sobre a
natureza e o curso dos sintomas de abstinência (ver capítulo 9) e envolvem também a ajuda no
desenvolvimento de estratégias para lidar com potenciais sintomas. Estratégias de autogestão, que têm
uma forte base de evidência na literatura sobre abuso de substâncias, incluem a higiene do sono, o
relaxamento muscular progressivo, a meditação, o exercício e o apoio social.
Os utentes devem ser encorajados a manter um diário dos sintomas que experimentam durante todo o
período de abstinência. As estratégias para lidar com eles aparecem no quadro 12. O diário pode ser
analisado durante as sessões de tratamento, e pode ajudar os utentes e o técnico na determinação das
estratégias que são mais eficazes e, ajudar também a demostrar que os sintomas vão rapidamente
diminuindo. É importante explicar aos utentes que os sintomas de abstinência podem ser muito distintos
e que cada pessoa não tem que os experienciar todos. Em cada sessão, é importante rever com o utente
os sintomas que estão e os que não estão em remissão; estratégias de gestão utilizadas; e sua eficácia.
Relaxamento e estratégias de
coping
Alterações do humor Gestão do humor Aprender a gerir eficazmente as emoções difíceis, tais
como a raiva, depressão, ansiedade e baixa auto-
estima
Estratégias de coping Estratégias para aliviar ou lidar com situações
stressantes em que o risco de recaída é elevado
Agendamento de atividades Calendarização de atividades agradáveis que dão
prazer e desafiam perceções negativas
Consultar o capítulo 12 para ver exemplos de como executar estas intervenções com os utentes.
5.12. Sumário
58 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Os sintomas de abstinência são comuns em utentes que usam canábis regularmente. Embora os sintomas
de abstinência sejam geralmente ligeiros, podem dificultar a abstinência. A monitorização dos sintomas e
a comunicação sobre o seu papel ao longo do percurso de abstinência da canábis, pode ser uma
intervenção útil. Até agora, não existem medicamentos aprovados que estejam disponíveis para auxiliar
na gestão da abstinência da canábis.
Recomendação Evidência
Independentemente da abordagem, os sintomas de abstinência devem ser considerados de B
forma rotineira na avaliação
Devem ser consideradas uma série de intervenções psicossociais antes da terapia farmacológica C
para a gestão dos sintomas de abstinência
Monitorização dos sintomas de abstinência e intervenção psicoeducativa apropriada, são C
abordagens que serão úteis para a intervenção
Embora não haja nenhuma evidência atual para apoiar o uso de farmacoterapia no alívio dos D
sintomas de abstinência, pode ser considerado, por um curto prazo, o uso medicamentos
apropriados para sintomas específicos decorrentes da abstinência
5.13. Referências
Budney, A. & Hughes, J. (2006). The cannabis withdrawal syndrome. Current Opinions in Psychiatry 19,
233–238.
Budney, A.J., Moore, B.A., Vandrey, R.G., & Hughes, J.R. (2003). The time course and significance of
cannabis withdrawal. Journal of Abnormal Psychology 112(3), 393–402.
Budney, A.J., Novy, P. & Hughes, J.R. (1999). Marijuana withdrawal among adults seeking treatment for
marijuana dependence. Addiction 94, 1311–1322.
Budney, A.J., Vandrey, R.G., Hughes, J.R., Thostenson, J.D., & Bursac, Z. (2008). Comparison of cannabis
and tobacco withdrawal: Severity and contribution to relapse. Journal of Substance Abuse Treatment
35(4), 362–368.
Copeland, J. & Swift, W. (2009). Cannabis use disorder: Epidemiology and management. International
Review of Psychiatry 21(2), 96–103.
Copersino, M.L., Boyd, S.J., Tashkin, D.P., Huestis, M.A., Heishman, S.J., Dermand, J.C., Simmons, M.S.,
& Gorelick, D.A. (2006). Cannabis withdrawal among non-treatment-seeking adult cannabis users.
American Journal on Addiction 15(1), 8–14.
McEwen, A., Hajek, P., McRobbie, H., & West, R. (2006). Manual of smoking cessation: A guide for
counsellors and practitioners. London: Blackwell; 2005.
As intervenções breves geralmente variam de uma a nove sessões e tipicamente incluem o fornecimento
de material de auto-ajuda, uma avaliação breve, aconselhamento e informações, avaliação da motivação
para a mudança, resolução de problemas, definição de metas, prevenção de recaídas, redução de danos
e follow up (Marsh, Dale & Willis, 2007). Uma série de estudos em grande escala nos EUA e na Austrália
(ver quadro 13) fornecem o suporte para quatro intervenções de base comportamental: Entrevista
Motivacional (MI), Terapia Motivacional (MET), Terapia Cognitivo-Comportamental (CBT) e Gestão da
Contingência (CM). O tratamento que recolhe maior evidência tem sido a combinação da Gestão da
Contingência com a Terapia Cognitivo-comportamental (Budney et al., 2006).
Dado que o número ótimo de sessões é desconhecido, este capítulo fornece duas opções para as
intervenções. Para a primeira, são fornecidas informações a respeito de uma intervenção de duas sessões
breves para consumidores que ainda apresentam poucos problemas relacionados com o consumo de
canábis ou que não estejam motivados para iniciar um processo mais intensivo nos serviços de
tratamento. Para a segunda, detalha-se componentes comuns utilizadas em várias intervenções baseadas
na evidência, de modo a que o terapeuta possa adicionar essas componentes ao tratamento-base de duas
sessões, de acordo com as necessidades do consumidor. Como a maioria dos programas variam entre 4 a
6 sessões, oferece-se um programa de seis semanas que pode ser adaptado para cada consumidor.
Desenho Manual
Autor N do estudo Intervenção Resultados disponível
60 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Stephens 212 Adultos, CBT vs grupo Ambos os grupos tiveram reduções N/A
et al., 1994 dois social de apoio significativas quanto ao consumo de
grupos, (intervenção/ canábis. Não existiram diferenças
12-meses discussão) significativas entre os grupos, em dias de
follow-up consumo de canábis, problemas
relacionados com a canábis, ou taxas de
abstinência.
Stephens 291 Adultos, grupo de Os dois primeiros grupos (CBT e MET) N/A
et al., 2000 três tratamento de 14- revelaram melhores resultados do que o
grupos, sessões CBT grupo de controlo (DTC). Não existiram
12-meses vs diferenças significativas nos resultados
follow-up 2-sessões MET vs entre os grupos CBT e MET.
grupo de controlo
com tratamento
adiado (DTC)
Budney 60 Adultos, 4-sessões MET Não existiram diferenças significativas NO
et al., 2006 três vs 14-sessões quanto à abstinência entre os grupos
grupos, MET/CBT vs MET/ MET e MET/CBT. MET/CBT + V teve
sem CBT e incentivos períodos maiores de abstinência e mais
follow-up com voucher sujeitos abstinentes no fim do
(MET/ tratamento do que os outros dois grupos
CBT+V)
Miller e Sanchez (1993) analisaram uma série de intervenções breves nas questões do álcool e
identificaram os seguintes seis componentes comuns, que revelam eficácia:
De seguida, dar-se-ão mais informações acerca das técnicas mais adequadas. Estas técnicas são
genericamente eficazes na área dos consumos de substâncias e os técnicos são incentivados a realizarem
treinos específicos em estratégias cognitivo-comportamentais e em técnicas de aperfeiçoamento da
motivação.
62 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
A Entrevista Motivacional (MI – Motivational Interviewing) é uma estratégica clínica que tem como
objetivo aumentar a motivação do consumidor para a mudança. Na MI podem ser incorporados o
aconselhamento, a avaliação, as intervenções breves e os objetivos para aumentar a consciência do
consumidor acerca dos potenciais problemas causados pelo consumo, consequências experimentadas e
os riscos enfrentados, como resultado de um certo tipo de comportamento. Os principais objetivos são
estabelecer um relacionamento, provocar reflexões acerca da mudança e estabelecer uma linguagem de
compromisso com o consumidor. Como esta abordagem explora e resolve a ambivalência dentro do
consumidor, é adequada aqueles que são candidatos a tratamento não voluntário (isto é, têm obrigações
judiciais) ou que estão em fase de contemplação da mudança mas não completamente prontos para
passar para a fase da ação. A ambivalência é aceite como normal.
A MI é apoiada por mais de 80 ensaios clínicos controlados (Hettema, Steele & Miller, 2005) numa
variedade de populações-alvo e comportamentos, incluindo transtornos pelo uso de substâncias, a
promoção de comportamentos saudáveis, a adesão à medicação e tratamento de transtornos mentais.
1. COLABORAÇÃO
1. PERGUNTAS ABERTAS
COMPETÊNCIAS
2. AFIRMAR
3. REFLETIR
COMPORTAMENTO
4. RESUMIR
ALVO
Miller e Rollnick (2002) descreveram quatro princípios básicos de motivação subjacente à MI. Estes são
os seguintes:
1. Expressar empatia
2. Desenvolver a discrepância
4. Apoiar a auto-eficácia
1. Expressar empatia
O terapeuta da MI procura comunicar um grande respeito pelo consumidor. As relações que implicam
posições superior-inferior entre o terapeuta e o consumidor são evitadas. O papel do terapeuta é uma
mistura de companheiro solidário e consultor experiente. A liberdade de escolha do consumidor e a
direção a seguir são respeitadas. Neste ponto de vista só o consumidor pode decidir mudar e realizar essa
escolha. O terapeuta procura maneiras de reforçar e promover o consumidor, ao invés de denegrir ou
empurrar para baixo o consumidor. Grande parte da MI é ouvir em vez de dizer. A persuasão é gentil,
subtil, sempre com o pressuposto de que a mudança é para cima, para o consumidor. O poder da
persuasão gentil, não agressiva, tem sido amplamente reconhecido em escritos clínicos, incluindo Bill
Watson em “Trabalhando com os outros” (Alcoólicos Anónimos, 1976). A escuta reflexiva (empatia) é uma
competência fundamental na entrevista motivacional. Comunica-se a aceitação dos consumidores tal
como eles são e apoiam-se os seus processos de mudança.
2. Desenvolver a discrepância
A motivação para a mudança ocorre quando as pessoas percebem a discrepância entre onde estão e onde
querem estar. Esta abordagem visa aumentar e focar a atenção do consumidor nestas discrepâncias
64 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
relacionadas com o uso de substâncias. Em determinados casos, em que o consumidor não está
seriamente comprometido com o pensamento de mudança, pode ser necessário desenvolver tal
discrepância, sensibilizando o consumidor para as consequências adversas do seu uso de substâncias. Tal
informação, quando devidamente apresentada pode precipitar a motivação para a mudança. Como
resultado, o indivíduo pode estar mais disposto a entrar numa discussão honesta acerca das opções de
mudança, a fim de reduzir a discrepância e recuperar o equilíbrio emocional. Noutros casos, o consumidor
inicia o tratamento na fase da “contemplação” e, com menos tempo e esforço, é possível o consumidor
passar para o ponto da determinação de mudar.
Como o terapeuta lida com a “resistência” do consumidor, é uma caraterística crucial e definidora desta
abordagem. As estratégias da MI são, não encarar de frente a resistência mas sim, “rolar com” esta, com
o objetivo de mudar as perceções do consumidor no processo. Novas formas de pensar o problema são
apresentadas mas não são impostas. A ambivalência é vista como normal, não patológica, e é explorada
abertamente. As soluções são geralmente evocadas a partir do consumidor, para lidar com a resistência,
em vez de serem fornecidas pelo terapeuta. Esta abordagem, para lidar com a resistência, será descrita
detalhadamente mais tarde.
4. Apoiar a auto-eficácia
Uma pessoa que está convencida de que tem um grave problema, não se moverá em direção à mudança
a menos que haja esperança de sucesso. Bandura (1982) descreveu a auto-eficácia como um
determinante crítico da mudança de comportamento. Esta é, na sua essência, a crença de que é possível
realizar um determinado comportamento ou realizar uma determinada tarefa. Neste caso, os
consumidores devem ser convencidos de que podem mudar o seu uso de substâncias e, assim, reduzir os
problemas associados ao consumo. Vulgarmente, definimos esta situação de esperança ou otimismo,
embora não seja uma natureza otimista global que é crucial aqui, mas sim, a crença específica dos
consumidores de que podem alterar o seu problema com substâncias. A menos que este elemento esteja
presente, uma crise de discrepância é suscetível de ser resolvida em coping defensivo (por exemplo,
racionalização, negação) de forma a reduzir o desconforto, sem alterar o comportamento. Este é um
processo de proteção natural e compreensível. Se uma pessoa tem pouca esperança de que a situação
pode mudar, há pouco sentido em enfrentar o problema.
A MI foi adaptada para diversas abordagens de intervenções breves, das quais a mais conhecida é a MET
utilizada no PROJECT MATCH dirigida a consumidores de álcool (Project Match Research Group, 1993). A
MET é uma abordagem de 4 sessões, limitadas no tempo, que fornece feedback baseado na
normatividade, e utiliza a MI com o objetivo de explorar a motivação do consumidor para mudar face ao
UM GUIA CLÍNICO 65
Terapeuta: “Então foi obrigado a vir aqui. (refletindo de volta e sem zangas)”
Terapeuta: “Percebe que a canábis relaxa-o no momento. Também notei que teve um aumento da
ansiedade nos últimos 12 meses, o que corresponde ao período em que aumentou os consumos. (ligando
o passado e desenvolvendo a discrepância).”
Consumidor: “ Eu deixaria de consumir caso os meus pais não estivessem constantemente em cima de
mim.”
Terapeuta: “O seu consumo de canábis não é o seu único problema. Parece que existem algumas
questões para trabalhar como os seus pais. (contornando a resistência).”
Crê-se que os transtornos causados pelo abuso de substâncias, tal como muitas desordens psicológicas,
são o resultado, em parte, de processos de pensamentos defeituosos ou irracionais que têm a sua
manifestação em comportamentos disfuncionais (como o consumo de substâncias). Muitos desses
pensamentos são automáticos, habituais e resistentes à mudança. O desenvolvimento de técnicas para
alterar ou desafiar tais processos de pensamento, em conjunto com outras cognições e respostas
comportamentais de coping, pode promover a redução da dependência de um indivíduo face à
substância. Assim, a CBT é uma abordagem baseada nas competências e o seu trabalho consiste em ajudar
os consumidores a desenvolverem uma variedade de técnicas terapêuticas para superar a dependência
fisiológica e a dependência habitual de uma substância como um mecanismo de enfrentamento. A
abordagem é estruturada e orientada para o objetivo, com “trabalhos de casa”, tarefas que exigem aos
66 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Vantagens
Elementos
O êxito terapêutico da CBT implica vários elementos importantes. Basicamente, os consumidores são
instruídos no uso de competências de enfrentamento relacionados com a substância. Estes incluem:
Desenvolver estratégias pessoais, tanto para evitar como lidar com esses gatilhos, gestão dos
sintomas de abstinência e prevenção da recaída, aprendizagem de estratégias.
Técnicas de relaxamento.
Mais informações:
www.eabct.com/
Dos cinco ensaios publicados baseados na gestão da contingência e uso de canábis, todos relatam efeitos
positivos nos resultados sobre o consumo de canábis (Budney et al., 2006). A gestão de contingência, no
entanto, não possui avaliações fora das condições de ensaios experimentais. Apesar da falta de estudos
de eficácia (ou seja, de aplicações reais), existe uma evidência clara e consistente em toda a literatura de
abuso de substâncias, que comprova a eficácia em gerar altas taxas de abstinência a curto e médio prazo
nos programas de incentivo baseados na abstinência.
Informação geral
Reforço à base de prémios: sempre que os participantes apresentem resultados negativos nas
análises de despiste recebem conjuntos de senhas, as quais são mantidas num recipiente.
Perante resultados positivos, são retiradas senhas. Cada sorteio apresenta uma oportunidade de
ganhar um “prémio” com um valor variável. Normalmente, cerca de metade das senhas dizem
“Bom trabalho!”. A outra metade recebe um prémio de determinado valor.
Privilégios: os participantes recebem privilégios sempre que o teste tiver um resultado negativo
Incentivos monetários: tem havido alguns estudos na América no campo da canábis que
avaliaram o uso de incentivos monetários. Aparentemente os de baixo valor (US$3) são tão
eficazes quanto os de maior valor (US$20).
Se se considerar oferecer incentivos (CM) deve-se ter ciente que as seguintes questões têm que ser
acordadas:
Estabelecer
objetivos
Intervenção
Monitorizar
psicoeducativa
60 a 90
minutos
Preparação para
a Mudança
Rastrear
/Entrevista
Motivacional
Rastreio
A triagem/avaliação pode ser feita com perguntas abertas e/ou instrumentos formais
Convidar para reflexões, perguntando: "O que quer fazer com isso? "
Intervenção Psicoeducativa
Incluiu refletir acerca dos danos causados pelo consumo de canábis que são apresentados pelo
consumidor na sua avaliação. Fornecimento ao consumidor de materiais psicoeducativos
adicionais (ver guias e folhetos, como “Guia para Parar”, disponível a partir de www.ncpic.org.au)
Se os consumidores estão ambivalentes sobre a mudança acerca do seu uso de canábis, deve-se
empregar técnicas da MI para criar um desejo e firmar a resolução do compromisso com a
mudança.
Se o consumidor tem o compromisso de mudar, definir uma data para o abandono do consumo
e discutir a prevenção da recaída (ver capítulo 12)
Se o consumidor não está interessado em modificar o consumo deve-se, nessa altura, oferecer
material educativo (ver capítulo 9) e negociar uma sessão de follow-up
Sugerir duas a seis sessões de intervenção. Esta sugestão encontra-se descrita no ponto seguinte,
no entanto, técnicos mais experientes podem preferir escolher e aplicar intervenções, tais como
as referidas no quadro 14, as quais estão validadas.
Na ausência de evidência científica quanto ao número ideal de sessões e quanto aos componentes de
tratamento de maior sucesso, encontram-se descritos detalhadamente mais abaixo, os elementos melhor
sucedidos, apresentados em estudos acerca do tratamento de canábis. Técnicos experientes podem
incluir esses componentes de acordo com as necessidades do consumidor e com base na avaliação do
caso. Isto inclui um número negociável de sessões e o estabelecimento da ordem pela qual os
componentes serão apresentados. Não existe qualquer evidência quanto à importância dos
componentes, relativamente uns aos outros.
Definir objetivos
72 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Considerar os objetivos com base nas conversas sobre as razões para a redução/paragem
Explicar que manter sobre controlo o comportamento de uso pode ajudar a identificar
padrões inúteis de pensamento e comportamento
Planear a paragem
Terminar a sessão
Conclusão da sessão
Prevenção da recaída
A experiência clínica sugere o benefício dos consumidores nomearem um dia para a paragem (ou seja,
um dia em que deixarão de consumir canábis). Como nem todos os consumidores apresentam como
objetivo a abstinência, os técnicos podem precisar de adequar a data de paragem para uma data de
redução. Estas datas permitem aos consumidores iniciarem um processo de redução ao longo do tempo.
Objetivos do utente: como mencionado acima, nem todos os consumidores têm como objetivo
a abstinência
UM GUIA CLÍNICO 75
Auto eficácia para a recusa da canábis: a confiança do consumidor pode ser amplificada ao serem
discutidos sucessos anteriores quer na concretização da abstinência ou na alteração dos
consumos ou noutros sucessos que destaquem os seus recursos/pontos fortes
6.9 Sumário
Recomendação Evidência
6.10 Referências
Alcoholics Anonymous. (1976). Alcoholics anonymous, 3rd edn. New York: Alcoholics Anonymous World
Services.
Bandura, A. (1982). Self-efficacy mechanism in human agency. American Psychologist 37, 122–147.
Budney, A.J., Moore, B.A., Sigmon, S., & Higgins, S.T. (2006).
Budney, A.J. & Higgens, S. (1998). A community reinforcement plus vouchers approach: Treating cocaine
addiction. Rockville, MD: National Institute on Drug Abuse.
Budney, A.J. & Hughes, J.R. (2006). The cannabis withdrawal syndrome. Current Opinion in Psychiatry 19,
233-238.
Cannabis Treatment Research Project Group. (2004).Brief treatments for cannabis dependence: Findings
from a randomized multisite trial. Journal of Consulting and Clinical Psychology 72(3), 455–466.
Carroll, K.M., Easton, C.J., Nich, C., Hunkele, K.A., Neavins, T.M., Sinha, R., Ford, H.L., Vitolo, S.A.,
Doebrick, C.A., & Rounsaville, B.J. (2006). The use of contingency management and motivational/skills
building therapy to treat young adults with marijuana dependence. Journal of Consulting and Clinical
Psychology 74(5), 955–966.
76 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Copeland, J., Swift, W., Roffman, R.A., & Stephens, R.S. (2001). A randomized controlled trial of brief
cognitive–behavioral interventions for cannabis use disorder. Journal of Substance Abuse Treatment 21,
55–64.
Dennis, M., Titus, J.C., Diamond, G., Donaldson, J.,Godley, S.H., Tims, F.M., Webb, C., Kaminer, Y., Ba-
bor, T., Roebuck, M.C., Godley, M.D., Hamilton, N., Liddle, H., & Scott, C.K. (2002). The Cannabis Youth
Treatment (CYT) experiment: Rationale, study design and analysis plans. Addiction 97 Suppl 1, 16–34.
Hettema, J., Steele, J. & Miller, W.R. (2005). A Meta-Analysis of Research on Motivational Interviewing
Treatment Effectiveness (MARMITE). Annual Review of Clinical Psychology 1, 91–111.
Kadden, R.M., Litt, M.D., Kabela-Cormier, E., & Petry, N.M. (2007). Abstinence rates following behavioral
treatments for marijuana dependence. Addictive Behaviours 32(6), 1220–1236.
Marsh, A., Dale, A. & Willis, L. (2007). Evidence Based Practice Indicators for Alcohol and Other Drug
Interventions: Summary, 2nd edn. Western Australian Drug and Alcohol Office. Available on line:
http://www.dao.health.wa.gov.au
Martin, G. & Copeland, J. (2008). The Adolescent Cannabis Check-up: A randomised trial of a brief inter-
vention for young cannabis users. Journal of Substance Abuse Treatment 34, 407–414.
Mattick, R.P. & Jarvis, T. (1993). An outline for the management of alcohol problems: Quality assurance
project. National Drug Strategy Monograph no. 20. Canberra: Australian Government Publishing Service.
Miller, W.R. (1995). Motivational enhancement therapy with drug abusers. National Institute on Drug
Abuse. Available on line: http://www.motivationalinterview. org/clinical/metdrugabuse.pdf
Miller, W.R. & Rollnick, S. (eds.). (2002). Motivational interviewing: Preparing people to change addictive
behavior. New York: Guilford Press.
Miller, W.R. & Sanchez, V.C. (1993). Motivating young adults for treatment and lifestyle change. In How-
ard,G. (ed.), Issues in alcohol use and misuse by young adults. Notre Dame, IN: University of Notre Dame
Press.
Project MATCH Research Group. (1993). Project MATCH: Rationale and methods for a multisite clinical
trial matching patients to alcoholism treatment. Alcoholism: Clinical and Experimental Research 17, 1130–
1145.
Petry, N.M. & Simic, F. (2002). Recent advances in the dissemination of contingency management tech-
niques: Clinical and research perspectives. Journal of Substance Abuse Treatment 23, 81–86.
Rees, V., Copeland, J. & Swift, W. (1998). A brief cognitive–behavioural intervention for cannabis depend-
ence: Therapists’ treatment manual. Technical Report no. 64. Sydney: National Drug and Alcohol Research
Centre, University of New South Wales.
Sinha, R., Easton, C., Renee-Aubin, L., & Carroll, K.M. (2003). Engaging young probation-referred mariju-
ana abusing individuals in treatment: A pilot trial. The American Journal on Addictions 12, 314–323.
Steinberg, K.L., Roffman, R.A., Carroll, K.M., Mcree, B., Babor, T.F., Miller, M., Kadden, R., Duresky, D.,
& Stephens, R. (2005). Brief counselling for marijuana dependence: A manual for treating adults. DHHS
Publication No. [SMA] 05-4022. Rockville, MD: Center for Substance Abuse Treatment, Substance Abuse
and Mental Health Services Administration.
Stephens, R.S., Roffman, R.A. & Simpson, E.E. (1994). Treating adult marijuana dependence: A test of the
relapse prevention model. Journal of Consulting and Clinical Psychology 62, 92–99.
UM GUIA CLÍNICO 77
Stephens, R.S., Roffman, R.A. & Curtin, L. (2000). Comparison of extended versus brief treatments for
marijuana use. Journal of Consulting and Clinical Psychology 68, 898–908.
7.1 Jovens
78 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
O trabalho com jovens implica uma compreensão acerca das questões do desenvolvimento, assim como,
dos riscos e fatores de proteção associados às questões inerentes à adolescência. Tem sido sugerido que
o trabalho com jovens implica abordagens únicas em que são considerados os processos
desenvolvimentais, diferenças físicas, crenças diferentes e sistemas de valores (Winters, 1999).
Tipicamente, os jovens não procuram tratamento. Daqueles que se apresentam em tratamento, muitos
foram coagidos, por indicação judicial ou pressionados pela família ou escola e podem apresentar
desmotivação para a mudança. Uma vez que muitos jovens não concluem o tratamento, necessitam de
informação atualizada, incluindo estratégias de redução de danos; e estas devem ser fornecidas desde o
início do tratamento, combinando-se durante as primeiras sessões, a avaliação e a intervenção
psicoeducativas.
Existem vários fatores que podem reduzir a probabilidade dos jovens procurarem tratamento:
Podem não estar suficientemente desenvolvidos em termos sociais, para procurarem ajuda;
A literatura tem demonstrado que o envolvimento das famílias no tratamento dos jovens consumidores
é a “boa prática”. O envolvimento das famílias na avaliação e as questões do tratamento dos jovens
consumidores de substâncias estão delineados no capítulo 8.
As intervenções grupais têm que considerar uma harmonização dos jovens em termos de variáveis tais
como, a idade, o estádio de desenvolvimento, a intensidade do consumo, a filiação com os seus pares e a
subcultura juvenil.
UM GUIA CLÍNICO 79
1. O eventual participante é ajudado a perceber que o check-up é um programa que tem uma
natureza diferente do tratamento. É algo que pode ajudar os jovens a questionar o seu
comportamento ou ajudar aqueles que já revelam preocupações com o seu consumo; e algo,
que no decurso da participação, permite aos jovens aceitar ou rejeitar o feedback oferecido.
2. Cada check-up implica uma avaliação que reúne informação acerca dos padrões
comportamentais, consequências positivas e negativas conforme entendidas pelo jovem, e
atitudes no sentido de mudar ou não o comportamento.
4. Um estilo de entrevista que facilita uma conversa calma acerca do comportamento (isto é,
entrevista motivacional) é essencial a este tipo de experiência.
Os modelos check-up também demonstraram ser úteis no trabalho com populações de adultos
consumidores de canábis. Para mais informações e treino no modelo, veja-se Walker et al. (2006), Martins
& Copeland (2008) e www.ncpic.org.au
Os seguintes websites estão bem desenhados, considerando a população juvenil. Estes oferecem
informação e uma ampla gama de escalas de auto-classificação, atividades, fichas e plataformas
interativas, testadas e validadas, incluindo um programa web de CBT (www.moodgym.anu.edu.au) que
funciona como um e-sofá e está descrita na literatura (Burns et al., 2007).
http://www.reachout.com.au
http://www.headspace.org.au
http://www.somazone.com.au
http://www.ybblue.org.au
http://www.beyondblue.org.au
http://www.moodgym.anu.edu.au
7.2 Género
Os serviços direcionados para o tratamento do álcool e das substâncias, na sua generalidade, falharam no
atendimento às necessidades especiais das mulheres dependentes de substâncias. Dada a escassez de
serviços específicos no trabalho com a canábis, não é surpreendente que existam um número limitado de
programas que considerem o género. Não é demais lembrar que as mulheres apresentam alguns
constrangimentos específicos no acesso ao tratamento. Estes incluem uma especial sensibilidade ao
estigma associado à dependência de mulheres, sobretudo no caso das grávidas (Zeese & Lewin, 1999);
elevadas taxas de trauma e de comorbilidade de doença mental (em especial, a depressão, ansiedade,
desordens somáticas e de personalidade); e dificuldades na acessibilidade física aos serviços, devido às
responsabilidades parentais. Nas últimas décadas, o número de mulheres consumidoras de canábis
aumentou, e subsequentemente, a redução nos dois géneros ocorreu de forma mais lenta do que nos
homens, de modo que atualmente os números convergem nas faixas etárias entre os 14 e os 19 anos de
idade. Os motivos associados ao consumo de homens e mulheres divergem, sendo que os primeiros
apontam a melhoria do humor e as mulheres usam para lidar com o stress e a tensão crónica (Chabrol et
al., 2005), o que pode justificar as altas taxas de ansiedade e depressão relatadas pelas mulheres
consumidoras de canábis (Copeland, 2006; Degenhardt, Hall & Lysnkey, 2003; Poulin et al., 2005). As altas
taxas de desordens mentais entre as mulheres consumidoras de canábis geralmente emergem na
adolescência (Tu, Ratner & Johnson, 2008), o que sugere que uma intervenção precoce nos problemas de
saúde mental pode reduzir o número de mulheres que necessitam de tratamento no futuro.
Os homens iniciam os consumos mais cedo do que as mulheres, sendo estes a maioria dos consumidores
de canábis, e os que mais procuram ajuda na resolução do seu problema com canábis. Isto sugere que os
programas de educação de substâncias destinados para a prevenção e para a identificação do problema
UM GUIA CLÍNICO 81
deveriam desenvolver-se especificamente para os rapazes e aplicados mais cedo do que os programas
específicos dirigidos às raparigas. As questões específicas para homens devem incluir as relações entre
consumos de substância e raiva e/ou violência, e as altas taxas de suicídio consumado. As abordagens
destas questões aquando do tratamento são essenciais. Refira-se ainda que os homens respondem
melhor ao concreto, com abordagens de tratamento orientadas para a ação (como as CBT) e melhor em
grupos mistos ao nível do género (Marsh & Dale, 2006).
Os indivíduos com origens culturais e linguísticas diversas (CALD) têm menor acesso aos serviços de
tratamentos de substâncias do que aqueles que provém da cultura dominante; e quando o conseguem, é
após um longo período de tempo passado a lidar sozinhos com os seus problemas com substâncias (Reid,
Crofts & Beyer, 2001). A pesquisa identificou diversos fatores que contribuem para esta situação. Estes
incluem a falta de conhecimento sobre os serviços disponíveis; a falta de conhecimento na procura de
ajuda, para além da unidade familiar ou da comunidade, na resolução de problemas; grande estigma ou
vergonha em redor do consumo de substâncias, o que dificulta a procura de ajuda para este problema
particularmente difícil (Donato-Hunt, 2007). Desenvolver uma relação terapêutica efetiva necessita de ter
em conta estes fatores para o sucesso das abordagens de tratamento.
Quando trabalhamos com pessoas de populações CALD, é importante ter em conta o contexto cultural de
consumos de canábis. Houseman (2003) recomenda que, no sentido de perceber o contexto cultural de
consumos e de modo a providenciar um tratamento culturalmente seguro, os técnicos devem
desenvolver uma compreensão da experiência cultural e de crenças dos utentes, em três domínios
fundamentais:
Crenças em relação à cultura dominante – verificar se as crenças dos utentes são tradicionais,
estão aculturadas ou são uma mistura dos dois.
O Centro de Educação Multicultural de Substâncias e Álcool (DAMEC) recomenda que os técnicos estejam
cientes do grau de compreensão da língua por parte do utente. Importa ainda notar que a compreensão
afetará a capacidade do utente para comunicar as suas expetativas face ao tratamento, o qual poderá
afetar seriamente a relação e os resultados terapêuticos do tratamento; para além disso, poderá afetar a
participação do utente e o ambiente de grupo terapêutico. Evitar jargões e não valorizar os trabalhos de
casa escritos e a informação escrita, facilitará a comunicação. A utilização de um intérprete em certas
situações poderá facilitar a comunicação mas também poderá resultar em numerosos problemas. Dale,
Marsh e Willis (2007) recomendam o especial cuidado que os técnicos têm de ter na utilização de
intérpretes: sobretudo, no que diz respeito à confidencialidade e tradução rigorosa.
82 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Perante a indisponibilidade do mediador cultural, apurar qual a abordagem mais útil para os utentes.
O uso de canábis pelos indígenas australianos é comum e apresenta-se como um sério problema de saúde
(Clough et al., 2004). Por exemplo, o Western Australian Aboriginal Child Health Survey (2005), que
pesquisou o bem-estar emocional e social de 5289 jovens aborígenes até aos 17 anos de idade, e a viver
na Austrália Ocidental (Blair et al., 2005), indicou o seguinte:
30% dos jovens da amostra tinham usado canábis nalguma altura ao longo das suas vidas
40% do género masculino da amostra e 21% do género feminino tinham usado canábis, pelo
menos, semanalmente
75% dos indivíduos da amostra que bebiam álcool e fumavam cigarros também usavam
regularmente canábis, em comparação com 8% dos que nunca tinham bebido álcool ou fumado
cigarros
Similarmente, Clough e colegas relataram a prevalência ao longo da vida de consumo de canábis em 77%
dos indivíduos de género masculino e 61% do género feminino numa amostra de 190 indivíduos (17-36
anos de idade) de duas comunidades em Arnhem Land.
Dada a prevalência do uso de canábis, incluir a avaliação em todos os serviços de saúde primários
e, na generalidade dos contextos de aconselhamento
Reconhecer que os questionários e outras metodologias de avaliação podem não ser as mais
adequadas. Quando providenciamos o feedback de algumas medidas, deve-se estar ciente de
que os resultados em relação à população geral podem ter pouco significado para o utente
De acordo com o utente, deve-se ter como objetivo o trabalho com os sistemas familiares e
comunitários. Manter a confidencialidade.
Estar ciente da intensidade da dor e da perda que continuam a afetar muitas comunidades
indígenas e ter estes aspetos em consideração nas abordagens e formas de tratamento (Dale,
Marsh & Willis, 2007)
Ter consciência da compreensão do idioma e grau de literacia do utente, reduzir o jargão clínico
e fornecer informações escritas em conformidade com o descrito, bem como, nas que
contemplam tarefas para casa.
Os estilos de práticas existentes nem sempre são sensíveis às crenças culturais e aos sistemas familiares
dos aborígenes. Strong Spirit Strong Mind (Casey & Keen, 2005) é um dos exemplos de intervenção com
álcool e substâncias que aplicam CBT de uma forma culturalmente segura. Os recursos de The Strong Spirit
Strong Mind definem a forma como o inner spirit deve ser abordado no contexto terapêutico e
incorporam-no na CBT. O SSSM descreve como a espiritualidade pode ser trabalhada num contexto
terapêutico e como incorpora de forma culturalmente segura os princípios da CBT. O modelo fornece a
84 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Recursos úteis:
Casey, W. & Keen, J. (2005). Strong Spirit Strong Mind, Aboriginal alcohol and other drugs worker re-
source: A guide to working with our people, families and communities. Aboriginal Alcohol and other Drugs
Program, WA Drug and Alcohol office.
Dudgeon, Garvey & Pickett’s (2000) Working With Indigenous Australians: A Handbook for Psychologists
(Perth: Gunada Press, Curtin Indigenous Research Centre).
http://www.hc-sc.gc.ca/fniah-spnia/substan/ads//nnadap-pnlaada-eng.php
As referenciações involuntárias são muito comuns no tratamento à canábis com a introdução de diversas
estratégias de acordo com as várias jurisdições internacionais. Existem, no entanto, outros tipos de
coação. Estas incluem a referenciação dos pais aos serviços de proteção à infância e juventude; pedidos
das entidades empregadoras; referenciações de adolescentes pelos progenitores ou escolas; e, coação
por alguém próximo.
Em sessão:
Reconhecer porque se encontra ali, e validar os sentimentos inerentes ao facto de ter sido
encaminhado/coagido para o tratamento
Reconhecer que pode haver uma monitorização formal do progresso e outros limites à
confidencialidade
UM GUIA CLÍNICO 85
Muitos dos utentes coagidos para tratamento não estão interessados em mudar o seu
comportamento. Nestes casos, devem-se considerar cuidadosamente as estratégias de redução
e minimização dos danos (dependendo dos objetivos judiciais de abstinência/redução do uso)
Tal como nos consumidores de outras substâncias, a maioria dos consumidores de canábis não procuram
tratamento especializado. É assim, importante, que um conjunto de atividades, incluindo a promoção da
saúde, possa ocorrer numa variedade de contextos com o objetivo de elevar as opções de tratamento.
Existem oportunidades para uma atuação proactiva, capaz de fornecer uma intervenção precoce com a
finalidade de se evitar que o uso de canábis se torne problemático. Informação geral acerca da canábis e
opções de tratamento podem ser disseminadas através de serviços de saúde, cuidados de saúde
primários, espaços comunitários, serviços juvenis e escolas. As iniciativas incluem:
Programas de educação de pares, com consumidores que usam ou usaram canábis, acerca dos
riscos da canábis, estratégias de redução de riscos e tratamentos e serviços disponíveis.
Os estudos acerca da intervenção com canábis explanados na literatura incluem intervenções de grupo e
intervenções individuais. Embora muitos utentes prefiram a abordagem individual, as evidências
demonstram que CBT poderá beneficiar de espaços de grupo (Stephens et al., 1994; Stephens et al., 2000;
Marques & Formigoni, 2001). A fim de integrar efetivamente a CBT num ambiente de grupo, os técnicos
necessitam de ser proficientes em processos grupais.
Considerações
As capacidades dos técnicos no desenvolvimento de CBT, tanto em grupo como noutras formas
de intervenção;
O interesse dos utentes de se envolverem no trabalho de grupo. De um modo geral, é difícil atrair
indivíduos para os grupos, devido ao estigma e embaraço;
Estes serviços devem ser capazes de responderem mais rapidamente às necessidades dos
utentes através de grupos (através da redução das listas de espera) mas as desistências podem
ser altas.
Para os técnicos que considerarem o trabalho com grupos para canábis, recomenda-se o manual Cannabis
Youth Treatment, disponível online em http://ncadi.samhsa.gov/govpubs/bkd384/OK
Faltam estudos bem conduzidos que avaliem a eficácia do internamento comparativamente com o
tratamento em ambulatório relativamente aos transtornos por uso de substâncias, bem como sobre a
eficácia dos diferentes modelos específicos de internamento. O internamento poderá ser considerado
para aqueles utentes que têm por objetivo a abstinência e apresentam comorbilidade física, problemas
de saúde mental ou social (por exemplo, habitação). O utente em primeiro lugar, deverá tentar um
tratamento em ambulatório. Qualquer benefício adicional que possa existir num período de reabilitação
residencial, para além do que se obteve durante o período de desintoxicação, é provável que esteja
relacionado com a cronicidade da dependência e/ou com as comorbilidades dos seus problemas
psicossociais. Quando a medicação para os sintomas da síndrome da abstinência é necessária, é
importante a ligação entre os médicos e as instituições de tratamento.
Preferência do utente.
UM GUIA CLÍNICO 87
E se um adolescente desiste do tratamento? Os jovens devem ser seguidos de forma mais assertiva.
Dicas do acompanhamento:
Uso de um telefonema (mínimo) seguido de uma carta
(escrita à mão num papel timbrado da instituição poderá
levar a melhores resultados de compromisso)
A pesquisa aponta que confirmar as marcações por
mensagens de texto/SMS aumenta a presença nos
atendimentos
Na gestão das desordens pelo consumo de canábis, é positiva a realização de sessões de follow-up ou de
reforço. O tempo de uma sessão de acompanhamento pode depender de diferentes questões, como a
magnitude do problema, as competências que o utente necessita de praticar entre sessões e a capacidade
do terapeuta e do serviço. As pesquisas analisaram diferentes modelos de cuidados continuados. Existe
ainda muito para se aprender acerca do tema:
Todos os técnicos são encorajados a desenvolveram os seus próprios modelos considerando os recursos
e as limitações existentes, como a pesquisa indica, independentemente do método utilizado, se este for
bem aplicado, os resultados positivos aumentam. Dois métodos serão, de seguida, discutidos.
O uso de intervenções baseadas no telefone é novo e ganhou popularidade como uma opção de baixo
custo. Os resultados sugerem que a realização de um telefonema semanal, como cuidado continuado,
para utentes que estiveram internados, pode levar a um aumento dos resultados (Cacciola et al., 2008).
Os autores recomendam que os procedimentos de follow-up devem ser explicados aos utentes
detalhadamente desde o momento da admissão. Isto aumenta as taxas de participação e baixa as taxas
de abandono não programadas. Os procedimentos para o número de tentativas das chamadas e para o
aumento da intensidade ou frequência dos contactos telefónicos falhados precisam de ficar claramente
documentadas.
O processo em geral inicia-se com uma reunião entre os técnicos e os utentes antes da alta.
Posteriormente, o técnico providencia apoio ambulatório ou telefónico e apoia na negociação de serviços
de tratamento adicionais, os quais podem incluir apoio escolar, apoio judicial e outros serviços no apoio
à recuperação. Os planos de apoio continuado podem incluir ligações para programas locais de
tratamento em ambulatório e de grupos de auto e ajuda-mútua.
Considerações
Apesar da dificuldade em acompanhar os utentes, deve ser dada prioridade absoluta a este
seguimento
Os formatos dos procedimentos de follow-up devem ser explicados aos utentes antes da alta.
Aos utentes dever ser dada a opção de não participarem no follow-up, mas é a sua importância
deve ser enfatizada
A primeira sessão de follow-up dever ser realizada antes que o utente complete o tratamento
O acompanhamento dever ser agendado segundo uma periodicidade cuja frequência esteja de
acordo com os recursos.
Embora as evidências sobre as desordens do consumo de canábis sustentem o uso de CBT e MET, poderão
existir razões para se considerarem outros tipos de terapia (por exemplo, complexidade, resistência à CBT,
ou treino clínico prévio). De acordo com o NSW Health Drug and Alcohol Practice Guidelines (NSW
Department of Health, 2008), as seguintes terapias estão suportadas pelo nível 2 ou 3 da investigação ou
da opinião clínica.
Redução do stress baseada em Mindfulness (desenvolvida por Segal, Williams & Teasdale, 2002)
Terapia da aceitação e do compromisso (ACT) (desenvolvida por Hayes & Strosahl, 2004)
A pesquisa sugere que a ACT é efetiva na gestão do stress, depressão, dor, doença crónica e
dependência de substâncias
Terapia breve focada nas soluções (SFBT) (desenvolvida por Shazer, 1985)
Esta abordagem assume que o utente está disposto e motivado para a mudança, e o
tratamento ajuda-o a imaginar o que gostaria que fosse diferente e o que poderá ser feito
para conseguir essa mudança.
Uma meta-análise das abordagens SFBT encontrou efeitos positivos no tratamento (Kim,
2008)
90 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Abordagens psicodinâmicas
Uso de tabaco
Para utentes que consomem canábis e fumam tabaco (independentemente e/ou misturado com canábis),
as evidências sobre a abstinência simultânea são mistas. Um estudo demonstrou que a cessação do
consumo de ambas não perturbou a abstinência face ao álcool, sugerindo que a paragem poderá até
aumentar a probabilidade de sobriedade a longo prazo (Gulliver, Kamholz & Helstrom, 2006). Um estudo
adicional descobriu que os sintomas de abstinência de ambas foram mais graves durante a cessação
simultânea mas as diferenças foram de curta duração e não significativas; diferenças individuais
substanciais foram notadas (Vandrey et al., 2008). Sullivan e Covey´s (2002) na revisão de ensaios clínicos,
afirmam que a continuação do consumo de tabaco afeta negativamente o tratamento para a dependência
de canábis.
A incapacidade ou falta de motivação para o utente cessar o consumo de tabaco não deverá, no entanto,
ser uma barreira para a cessação ou continuidade do tratamento face à canábis. Os utentes que misturam
tabaco com a canábis podem não se identificar como consumidores de tabaco, e desta feita, a avaliação
de forma cuidadosa da comorbilidade com a dependência de nicotina e o feedback acerca dos riscos do
uso do tabaco devem ser garantidos.
“A dificuldade com a cessação tabágica pode ser considerada um dos efeitos adversos mais importantes do uso de
canábis” (Ford, Vu & Anthony, 2002, p. 247)
Visão global
Passos
Se o utente está motivado, discutir e/ou referir as opções farmacológicas como a Nicotine
Replacement Therapy (NRT), buproprion (Zyban) ou vareniclina (Champix). Várias opções são
descritas no quadro 15.
NB: The Fagerstrom Nicotine Dependence Questionnaire poderá não se adequar para aqueles que não
fumam tabaco independentemente do seu consumo de canábis.
A revisão da Cochrane (Stead et al., 2008) de 132 ensaios de NRT, com mais de 40 000 indivíduos, concluiu
que todas as formas de NRT tornam mais possível o sucesso das tentativas de cessação tabágica. A
probabilidade de parar de fumar aumenta 50% a 70% (baseado no hábito de fumar 15 cigarros por dia).
Globalmente, não existem diferenças significativas na eficácia das diferentes formas de NRT, nem
benefício no uso de selos para além das 8 semanas
Os indivíduos que utilizam NRT durante a tentativa de paragem estão mais suscetíveis de
aumentar a sua possibilidade de sucesso, usando uma combinação do adesivo de nicotina e uma
medicação de ação rápida
Dados preliminares sugerem que a utilização da NRT um puco antes da data de paragem do
consumo pode aumentar as possibilidade de sucesso
Sistemas transdérmicos Estão disponíveis pensos Podem ocorrer irritações locais 1 penso por dia
de 16 e de 24 horas.
São colocados numa parte
com poucos pelos entre o
pescoço e o tornozelo
Comprimidos sublinguais Um comprimido é Alguma sensação de ardência na 15-20
colocado sob a língua e boca comprimidos/dia
absorvido
Losangos Um losango é colocado na Alguma sensação de ardência na 10-15/dia
boca boca
Pastilhas elásticas Mastigar por alguns Alguma sensação de ardência na 1-15/dia
minutos e depois deixar boca
na boca. Dor no maxilar
Repetir, mudando de lado
20 minutos é o limite para
cada pastilha elástica
Spray nasal Um esguicho por narina Alguma sensação de ardência nas 2 esguichos
narinas regularmente ao
Espirros e olhos lacrimejantes longo do dia
Atenção
Deve-se ter atenção na prescrição de bupropion (Zyban) durante a paragem do consumo de canábis, pois a
sintomatologia de abstinência pode ser exacerbada.
Não existe nenhuma base factual para a NRT em jovens consumidores.
A NRT está disponível em farmácias mas não é comparticipada. O Champix e o Zyban estão disponíveis
mediante prescrição médica e são subsidiados pela PBS. Nesta altura, não existem ensaios clínicos
publicados acerca do uso de NRT e do Champix para o uso na dependência de canábis, ou na dependência
de nicotina e de canábis. Existe apenas um estudo publicado acerca do uso de Zyban no caso de
dependência de canábis com resultados baixos devido aos efeitos secundários da bupropion na
exacerbação dos efeitos da abstinência.
Para os consumidores que procuram tratamento à canábis e que também utilizam benzodiazepinas, são
recomendados os seguintes passos, para o reconhecimento desta condição ou a sua dependência de
benzodiazepinas:
4 Após a cessação do consumo de canábis (ou redução e estabilização do uso), considerar as opções para
a abstinência ou redução de benzodiazepinas com supervisão médica
Ao longo destas diretrizes temos falado na definição de intervenções direcionadas para os interesses do
utente. No entanto, as intervenções terão que também ter em conta a instituição, bem como, o tempo
que o técnico tem disponível. De seguida, apresenta-se um guia para moldar as intervenções (adaptado
de Shand et al., 2003).
7.15 Sumário
Recomendações Evidências
Na maioria dos casos, a dependência de canábis pode ser tratada em regime ambulatório, A
através de intervenções MI/CBT
Enquanto não forem testados outro tipo de ensaios a utilização complementar de CM e MI/CBT A
demonstrou melhores resultados
As dependências com comorbilidade são comuns e podem ser tratadas em simultâneo, por C
exemplo, dependência de nicotina com NRT
Enquanto não existir investigação que suporte o número ideal de sessões, cursos de uma a nove C
sessões foram testadas com resultados positivos
Os cuidados continuados e um follow up assertivo são aspetos importantes do tratamento B
7.16 Referências
An, L.C., Klatt, C., Perry, C.L., Lein, E.B., Hennrikus, D.J., Pallonen, U.E., Bliss, R.L., Lando, H.A., Farley,
D.M., Ahluwalia, J.S., & Ehlinger, E.P. (2008). The realU online cessation intervention for college smokers:
A randomized controlled trial. Preventive Medicine 47(2), 194–199. Available on line:
94 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
http://dx.doi.org/doi:10.1016/j.ypmed.2008.04.011
Blair, M.E., Zubrick, S.R., & Cox, A.H. (2005). The Western Australian Aboriginal Child Health Survey: find-
ings to date on adolescents. Medical Journal of Australia. 183(8), 433-435.
Burns, J., Morey, C., Lagelée, A., Mackenzie, A., & Nicholas, J. (2007). Reach Out!: Innovation in service
delivery. Medical Journal of Australia 187(7), S31–S34.
Cacciola, J., Camilleri, A., Carise, D., Rikoon, S., McKay, J., McLellan, T., Wilson, C., & Schwarzlose, J.T.
(2008). Extending residential care through telephone counseling: Initial results from the Betty Ford Center
Focused Continuing Care protocol. Addictive Behaviors 33(9), 1208–1216.
Casey, W. & Keen, J. (2005). Strong Spirit Strong Mind, Aboriginal alcohol and other drugs worker re-
source: A guide to working with our people, families and communities. Aboriginal Alcohol and other Drugs
Program, WA Drug and Alcohol office.
Chabrol, H., Duconge, E., Casas, C., Roura, C., & Carey, K.B. (2005). Relations between cannabis use and
dependence, motives for cannabis use and anxious, depressive and borderline symptomatology. Addictive
Behaviours 30, 829–840.
Clough, A., d’Abbs, P., Cairney, S., Gray, D., Maruff, P., Parker, R., & O’Reilly, B. (2004). Emerging pat-
terns of cannabis and other substance use in Aboriginal communities in Arnhem Land, Northern Territory:
A study of two communities. Drug and Alcohol Review 23(4), 381–390.
Copeland, J. (2006). Cannabis use, depression and public health. Addiction 101, 1380.
Copeland, J. & Maxwell, J. (2007). Correlates and outcomes of cannabis treatment among legally coerced
versus non coerced adults in Texas. BMC Public Health 7, 111.
Degenhardt, L., Hall, W. & Lynskey, M. (2003). Exploring the association between cannabis use and de-
pression. Addiction 98, 1493–1504.
Dennis, M., Godley, S.H., Diamond, G., Tims, F.M., Babor, T., Donaldson, J. et al. (2004). The Cannabis
Youth Treatment (CYT) study: Main findings from two randomized trials. Journal of Substance Abuse Treat-
ment 27, 197-213.
Donato-Hunt, C. (2007). Issues for CLD clients in accessing appropriate treatment. Drug Info Newsletter
5(2), 2.
Doumas, D. & Hannah, E. (2008). Preventing highrisk drinking in youth in the workplace: A web-based
normative feedback program. Journal of Substance Abuse Treatment 34, 263–271.
Dudgeon, P., Garvey, D. & Pickett, H. (2000). Working with Indigenous Australians: A handbook for psy-
chologists. Perth: Gunada Press.
Ford, D.E., Vu, H.T. & Anthony, J.C. (2002). Marijuana use and cessation of tobacco smoking in adults
from a community sample. Drug and Alcohol Dependence 67, 243–248.
Godley, S.H., Godley, M.D. & Dennis, M.L. (2001). The Assertive Aftercare Protocol for adolescent sub-
stance abusers. In E.F. Wagner & H.B. Waldron (eds.), Innovations in adolescent substance abuse inter-
ventions. New York: Pergamon, pp. 313–331.
Godley, S.H., Meyers, R.J., Smith, J.E., Karvinen, T., Titus, J.C., Godley, M.D., Dent, G., Passetti, L., &
Kelberg, P. (2001). The adolescent community reinforcement approach for adolescent cannabis users. Can-
nabis Youth Treatment (CYT) series, Vol. 4. DHHS Pub. no. 01–3489. Rockville, MD: Center for Substance
UM GUIA CLÍNICO 95
Abuse Treatment, Substance Abuse and Mental Health Services Administration. Available on line at
http://www.chestnut.org/li/cyt/products/acra_cyt_v4.pdf
Gulliver, S.B., Kamholz, B.W & Helstrom, A.W. (2006). Smoking cessation and alcohol abstinence: What
do the data tell us? Alcohol Research & Health 29(3), 208–212.
Hayes, S. & Strosahl, K.D. (eds.). (2004). A practical guide to acceptance and commitment therapy. Hei-
delberg, Germany: Birkhauser.
Houseman, D. (2003). A framework for working with alcohol and other drug clients from diverse commu-
nities. Melbourne: Victorian Dept of Human Services.
Hser, Y.I., Anglin, M.D., Grella, C.E., Longshore, D., & Prendergast, M.L. (1997). Drug treatment careers:
A conceptual framework and existing research findings. Journal of Substance Abuse Treatment 14(6), 543–
558.
Kim, J. (2008). Examining the effectiveness of solution focused brief therapy: A meta-analysis. Research
on Social Work Practice 18, 107–116.
Kypri, K., Langley, J.D., Saunders, J.B., Cashell-Smith, M.L., & Herbison, P. (2008). Randomized controlled
trial of web-based alcohol screening and brief intervention in primary care. Archives of Internal Medicine
168, 130–136.
Linehan, M.M. (1993). Cognitive behavioral treatment of borderline personality disorder. New York: Guil-
ford Press.
Marsh, A. & Dale, A. (2006). Addiction counseling: Content and process. Melbourne: IP Communications.
Marsh, A., Dale, A. & Willis, L. (2007). Evidence Based Practice Indicators for Alcohol and Other Drug
Interventions: Summary, 2nd edn. Western Australian Drug and Alcohol Office. Available on line:
http://www.dao.health.wa.gov.au
Martin, G. & Copeland, J. (2008). The Adolescent Cannabis Check-up: A randomised trial of a brief inter-
vention for young cannabis users. Journal of Substance Abuse Treatment 34, 407–414.
McEwen, A., Hajek, P., McRobbie, H., & West, R. (2006). Manual of smoking cessation: A guide for coun-
sellors and practitioners. Oxford UK: Blackwell Publishing
Marques, A. & Formigoni, M. (2001). Comparison of individual and group cognitive-behavioral therapy
for alcohol and/or drug-dependent patients. Addiction 96, 835–846.
NSW Department of Health. (2008). NSW Health Drug and Alcohol Psychosocial Interventions Profes-
sional Practice Guidelines. Available on line: http://www.health.nsw.gov.au
Ogilvie, J. & Willis, K. (2009). Police drug diversion in Australia. Criminal Justice Bulletin series no. 3. Avail-
able on line: http://www.ncpic.org.au
Okoli, C.T.C., Richardson, C. & Johnson, J.L. (2008). An examination of the relationship between adoles-
cents’ initial smoking experience and their exposure to peer and family member smoking. Addictive Be-
haviors 33 (9), 1183–1191.
Patton, G.C., Coffey, C., Carlin, J.B., Sawyer, S.M., & Lynskey, M. (2005). Reverse gateways? Frequent
cannabis use as a predictor of tobacco initiation and nicotine dependence. Addiction 100, 1518–1525.
Poulin, C., Hand, D., Boudreau, B., & Santor, D. (2005). Gender differences in the association between
substance use and elevated depressive symptoms in a general adolescent population. Addiction 100, 525–
535.
96 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Ream, G., Benoit, E., Johnson, B., & Dunlap, E. (2008). Smoking tobacco along with marijuana increases
symptoms of cannabis dependence. Drug and Alcohol Dependence 95(3), 199–208.
Reid, G., Crofts, N. & Beyer, L. (2001). Drug treatment services for ethnic communities in Victoria, Aus-
tralia: An examination of cultural and institutional barriers. Ethnicity and Health 6(1), 13–26.
Riper, H., Kramer, J., Smit, F., Conijn, B., Schippers, G., & Cuijpers, P. (2008). Web-based self-help for
problem drinkers: A pragmatic randomized trial. Addiction 103, 218–227.
Segal, Z., Williams, J.M.G. & Teasdale, J.D. (2002). Mindfulness-based cognitive therapy for depression: A
new approach to preventing relapse. New York: Guilford Press.
Shand, F., Gates, J., Fawcett, J., & Mattick, R. (2003). Guidelines for the treatment of alcohol problems.
Canberra: Australian Government Department of Health and Ageing.
Stead, L.F., Perer, R., Bullen, C., Mant, D., & Lancaster, T. (2008). Nicotine replacement therapy for smok-
ing cessation. Cochrane Database of Systematic Reviews 1 (art. no. CD000146). Available on line:
http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD000146.pub3
Stephens, R.S., Roffman, R.A. & Simpson, E.E. (1994). Treating adult marijuana dependence: A test of the
relapse prevention model. Journal of Consulting and Clinical Psychology 62, 92–99.
Stephens, R.S., Roffman, R.A. & Curtin, L. (2000). Comparison of extended versus brief treatments for
marijuana use. Journal of Consulting and Clinical Psychology 68, 898–908.
Sullivan, M. & Covey, L. (2002). Current perspectives on smoking cessation among substance abusers.
Current Psychiatry Reports 4, 388–396.
Tevyaw, T.O. & Monti, P.M. (2004). Motivational enhancement and other brief interventions for adoles-
cent substance abuse: Foundations, applications and evaluations. Addiction 99, 63–75.
Tu, A.W., Ratner, P.A. & Johnson, J.L. (2008). Gender differences in the correlates of adolescents’ canna-
bis use. Substance Use and Misuse 43(10), 1438–1463.
Vandrey, R.G., Budney, A., Hughes, J., & Liguori, A. (2008). A within-subject comparison of withdrawal
symptoms during abstinence from cannabis, tobacco, and both substances. Drug and Alcohol Dependence
92(1–3), 48–54.
Vendetti, J., McRee, B., Miller, M., Christiansen, K., Herrell, J., & The Marijuana Treatment Project Re-
search Group. (2002). Correlates of pre-treatment drop-out among persons with marijuana dependence.
Addiction 97 Suppl. 1, 125–134.
Walker, D., Roffman, R., Stephens, R., Berghuis, J., & Kim, W. (2006). A brief motivational enhancement
intervention for adolescent marijuana users: A preliminary randomized controlled trial. Journal of Con-
sulting and Clinical Psychology 74(3), 628–632.
Weatherburn, D., Jones, C., Snowball, L., & Hua, J. (2008). The NSW drug court: A re-evaluation of its
effectiveness. Crime and Justice Bulletin no. 121. Sydney: NSW Bureau of Crime Statistics and Research.
Winters, K.C. (1999) Treatment of adolescents with substance use disorders. Treatment Improvement
Protocol Series 32. Substance Abuse and Mental Health Service Admin (SAMHSA). Centre for Substance
Abuse Treatment: Rockville MD.
Zeese, K.B. & Lewin, P.M. (1999). Reduce drug abuse and use among women: The Effective National Drug
Control Strategy 1999. Common Sense for Drug Policy: Falls Church, VA.
UM GUIA CLÍNICO 97
8.1 Famílias
As crianças podem vivenciar consequências negativas relativas ao consumo de substâncias dos pais. Um
relatório recente aponta que aproximadamente 10% das crianças residem em agregados familiares em
98 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
que os pais são consumidores ou dependentes de álcool ou substâncias. Além disso, 24 em 1000 crianças
australianas com menos de 12 anos de idade estiveram expostas a pelo menos um indivíduo que consome
diariamente. (Frye et al. , 2008)
Ter em consideração as famílias é um aspeto importante para o tratamento, particularmente no que diz
respeito à relação com utentes adolescentes. Este capítulo considera o envolvimento dos membros da
família, independentemente do facto do consumidor ser o progenitor ou o filho. As intervenções
mencionadas neste capítulo podem ser implementadas em qualquer estádio do tratamento conforme o
que se avalia como sendo o mais adequado. Os técnicos e os contextos de intervenção variam nas suas
práticas e na sua capacidade de providenciar intervenções junto dos familiares. Os técnicos são motivados
a fazer uma avaliação formal relativamente à disposição do individuo em envolver a família no tratamento
e à sua capacidade para o fazer. Uma avaliação compreensiva deve incluir a história da saúde mental e a
avaliação do consumo de substâncias dos pais e uma potencial referenciação para o tratamento individual
destas questões. Em baixo estão enumerados os princípios e os diferentes níveis de intervenção de
suporte às famílias que os técnicos podem ter em consideração. Estas intervenções podem ser
implementadas em qualquer estádio do tratamento, conforme se considere apropriado. Note-se que
estas intervenções são recomendadas somente para técnicos com experiência prévia e treino específico
no trabalho com famílias.
Envolver as famílias nos serviços de tratamento pode permitir obter melhores resultados
comparativamente ao trabalho individual
Os utentes são os melhores juízes das suas famílias, e em que medida estas poderão envolver-se
no tratamento
Os membros da equipa necessitam de estar bem treinados e preparados para trabalharem com
as famílias.
8.3 Confidencialidade
Quando o trabalho é com mais do que um membro da família, os técnicos frequentemente deparam-se
com o dilema da quebra da confidencialidade. A prática inclusiva da família apoia-se nos direitos de todos
a um serviço confidencial. Existe o direito do utente de decidir a quem revelar detalhes do seu tratamento.
UM GUIA CLÍNICO 99
Nenhuma informação deverá ser cedida a outros sem que haja autorização explícita do utente
(recomenda-se que esta seja por escrito).
Discutir com os utentes quais as informações que poderão ser gravadas para o registo clínico.
Patterson e Clapp (2004) descreveram diferentes “níveis de compromisso” no trabalho com famílias, de
acordo com a sua capacidade para lidarem e de se envolverem com os consumidores de canábis.
No contacto inicial, os técnicos podem questionar os consumidores quanto à família ou outros indivíduos
significantes.
No desenrolar do trabalho com o utente e de forma a manter o conceito de família vivo em todos, o papel
do terapeuta é estar atento a quaisquer mudanças nas circunstâncias ou na intensidade de apoio, que
possam ocorrer. Os genogramas (representações esquemáticas das relações familiares) podem apoiar os
técnicos na exploração e concetualização das relações familiares e potenciais alianças.
Informações de referência;
Intervenção em crise;
Resolução de problemas.
As instituições ou técnicos que proponham referenciações devem manter uma lista de instituições
atualizada na área de intervenção. Os serviços podem incluir grupos de suporte, serviços de saúde
comunitários, serviços de apoio às famílias e parceiros na área dos profissionais de saúde.
Deve-se manter o contacto direto com outros serviços e profissionais com vista a reunir
informação acerca dos diversos processos; critérios de referência, o tipo de serviços que
oferecem, a duração do tratamento e os custos do tratamento;
Se o terapeuta ou a instituição tiver a possibilidade, deverá facilitar a criação de grupos de apoio a famílias
como fóruns para providenciar o acesso à informação acerca da canábis e seus efeitos. Os grupos são
geralmente desenvolvidos e facilitados por técnicos experientes que apresentam competências para a
gestão das complexidades nos grupos. Estes diferem dos grupos de autoajuda uma vez que são limitados
no tempo, os participantes são registados como utentes e a instituição tem a responsabilidade da
facilitação dos mesmos.
Os grupos de apoio podem providenciar suporte e segurança aos membros no sentido da normalização
das reações, diminuição dos sentimentos de isolamento, aumento das competências relacionais com o
UM GUIA CLÍNICO 101
consumidor. Estes providenciam um fórum no qual os familiares podem colocar questões e receber
respostas, participarem em experiências e cada um dos elementos da família pode aprender com os
outros os recursos e suportes disponíveis na comunidade mais ampla.
É uma consulta que tem como objetivo potenciar os recursos mais adequados e avaliar a motivação para
a mudança por parte dos utentes, com base nos princípios da terapia familiar e das intervenções breves.
Esta sessão pode incluir o consumidor e os familiares ou pode ser realizada com um único membro da
família.
Os técnicos interessados são encorajados a realizarem treinos para sessões únicas de terapia familiar.
1. Admissão: os elementos da família preenchem o questionário de entrada que visa avaliar as suas
perspetivas acerca do problema; existência de recursos ou pontos fortes; e, mudança que já
tenha ocorrido.
3. Follow-up: a família é seguida através de carta ou telefone cerca de três semanas depois da
sessão. Outra sessão única poderá ser agendada, ou os processos poderão ser arquivados se
nenhuma outra intervenção for necessária.
Copello e colegas (2009), apontam ainda que o trabalho com consumidores e as famílias têm conduzido
a resultados positivos na relação com a substância. Estes esboçaram uma intervenção breve para famílias,
contemplando cinco etapas, que se pode desenrolar numa sessão única.
Passo 3: discussão acerca das formas de resposta dos familiares ao consumo e aos comportamentos
associados a este.
O aconselhamento com famílias pode incluir sessões conjuntas ou separadas para os familiares, situação
decidida pelo utente e pela família antes do início. Os utentes com problemas relacionados com o
consumo de substâncias apresentam vivências complexas que podem passar pela alienação familiar ou
social. Lidar com estas problemáticas isoladamente pode ser extremamente difícil. Os familiares podem
ser convocados para passarem para a “equipa” do consumidor de forma a atuarem como parte da
solução. Não existem estudos que apontem a escolha de um tipo de terapia em detrimento de outra. Os
três tipos de terapia familiar que demostraram maiores evidências científicas são a terapia familiar
funcional (Waldron et al., 2001), a terapia familiar multidimensional (MDFT) (Liddle et al., 2001) e a terapia
multissistémica (Henggeler et al., 2002).
A Terapia familiar funcional mostrou ser eficaz com consumidores de alto risco e jovens sinalizados pelo
sistema judicial. É um programa altamente estruturado constituindo-se em diferentes fases. Cada fase
incluiu objetivos específicos, focos de avaliação, técnicas específicas de intervenção e as competências do
terapeuta necessárias para o sucesso. Tem como objetivo primeiro o desenvolvimento dos pontos fortes
dos elementos da família e a capacidade de serem capazes de melhorarem a sua situação. Isto permite à
família uma base para a mudança e para o funcionamento futuro que se estende para além do apoio
direto do terapeuta e de outros sistemas sociais.
A Terapia familiar multidimensional (MDFT) é uma abordagem familiar desenvolvida para adolescentes
consumidores de substâncias, com problemas de comportamento e para a prevenção precoce dos
consumos. O objetivo é uma redução significativa ou eliminação dos consumos dos adolescentes e outros
comportamentos problemáticos e o aumento do funcionamento global da família. MDFT é reconhecida
internacionalmente como uma das abordagens mais eficazes no trabalho com adolescentes consumidores
de substâncias (e.g. Brannigan et al., 2004; Rigter, Gageldonk & Ketelaars, 2005). Dois grandes ensaios
aleatórios suportam cientificamente a eficácia desta abordagem na redução do uso de canábis. O
primeiro, compara a abordagem MDFT num grupo terapêutico de adolescentes, com uma intervenção
educacional multifamiliar (Liddle et al., 2001); o segundo, numa amostra de cerca de adolescentes
dependentes de canábis, compara a eficácia da MDFT com Adolescent Community Reinforcement
Approach e um leque de outras intervenções, incluindo a MET/CBT e reforço comunitário (Dennis et al.,
2002). Os resultados do primeiro ensaio demonstraram progressos junto dos jovens em todos os
tratamentos e com MDFT foi ainda foi mais evidente o progresso tanto em relação ao consumo de
substâncias (primeiramente canábis) como ao funcionamento psicossocial mais genericamente, incluindo
função familiar e desempenho escolar. Os resultados positivos sugerem que a MDFT poderá ser
particularmente útil para jovens com problemas de comportamento associados. Em segundo lugar, todos
os grupos de tratamento mostraram melhorias e a MDFT não foi considerada como sendo o tratamento
com maiores custos.
UM GUIA CLÍNICO 103
Mais informações disponíveis: Howard A. Liddle (2002), Multidimensional Family Therapy for Adolescent
Cannabis Users (Cannabis Youth Treatment Series vol.5), Rockville, MD: SAMHSA.
(http://ncadistore.samhsa.gov/catalog/productdetails.aspx?Productid=15872)
A Terapia Multissistémica (MST) tem por base uma abordagem compreensiva às dificuldades dos
adolescentes, e envolve o jovem e a sua família, pares, escola e comunidade. A MST permite uma ampla
aplicação e foi usada para o tratamento criminosos, crónicos e violentos; abuso de substâncias; ofensas
sexuais; urgências psiquiátricas (por exemplo, homicídio, suicídio, psicoses); maus-tratos infantis;
problemas graves de saúde, como pouca capacidade de controlo de diabetes Tipo I e HIV. O seguimento
realizado quatro anos depois (n=118) um estudo aleatório que compara a MST com os serviços
comunitários habituais, demonstrou que os autorrelatos acerca do uso de canábis não diferiam entre
grupos, mas biologicamente confirmaram que a abstinência no grupo de MST era significativamente
maior (55% vs 28%) (Henggeler et al., 2002). Não é sugerido que todos os técnicos tenham treino nestes
modelos mas os que estejam interessados na terapia familiar poderão procurar treino específico.
8.5 Sumário
Recomendações Evidência
Os técnicos com formação e recursos para realizarem intervenções familiares devem fazê- A
lo, sempre que estas sejam adequadas às circunstâncias dos utentes
As famílias, sempre que possível, devem ser envolvidas nos planos de tratamento já que B
também são afetadas pelos consumos dos utentes
8.6 Referências
Brannigan, R., Schackman, B.R., Falco, M., & Millman, R.B. (2004). The quality of highly regarded adoles-
cent substance abuse treatment programs: Results of an in-depth national survey. Archives of Pediatrics
& Adolescent Medicine 158, 904–909.
Copello, A., Templeton, L., Velleman, R., Orford, J., Patel, A., Moore, L., & Godfrey, C. (2009). The relative
efficacy of two primary-care brief interventions for family members affected by the addictive problem of
a close relative: A randomised trial. Addiction 104, 49–58.
104 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Dennis, M., Titus, J.C., Diamond, G., Donaldson, J., Godley, S.H., Tims, F.M., Webb, C., Kaminer, Y., Ba-
bor, T., Roebuck, M.C., Godley, M.D., Hamilton, N., Liddle, H., & Scott, C.K. (2002). The Cannabis Youth
Treatment (CYT) experiment: Rationale, study design and analysis plans. Addiction 97 Suppl 1, 16–34.
Frye, S., Dawe, S., Harnett, P., Kowalenko, S., & Harlen, M. (2008). Supporting the families of young peo-
ple with problematic drug use. Canberra: Australian National Council on Drugs.
Henggeler, S.W., Clingempeel, W.G., Brondino, M.J., & Pickrel, S.G. (2002). Four-year follow-up of mul-
tisystemic therapy with substance-abusing and substance dependent juvenile offenders. Journal of the
American Academy of Child and Adolescent Psychiatry 41(7), 868–874.
Liddle, H.A., Dakof, G.A., Parker, K., Diamond, G.S.,Barrett, K., & Tejada, M. (2001). Multidimensional
Family Therapy for adolescent substance abuse: Results of a randomized clinical trial. American Journal of
Drug & Alcohol Abuse 27(4), 651–688.
Liddle, H.A. (2002). Multidimensional family therapy for adolescent cannabis users. Cannabis Youth Treat-
ment Series vol. 5. Rockville, MD: SAMHSA. Available online: http://ncadistore.samhsa.gov/cata-
log/productdetails.aspx?Productid=15872
Patterson, J. & Clapp, C. (2004). Working with families. Clinical Treatment Guidelines for Alcohol and Drug
Clinicians no. 11. Fitzroy, Victoria: Turning Point Alcohol and Drug Centre Inc.
Rigter, H., Van Gageldonk, A. & Ketelaars, T. (2005).Treatment and other interventions targeting drug
use and addiction: State of the art 2004. Utrecht, the Netherlands: National Drug Monitor.
Waldron, H.B., Slesnick, N., Turner, C.W., Brody, J.L., & Peterson, T.R. (2001). Treatment outcomes for
adolescent substance abuse at 4- and 7-month assessments. Journal of Consulting and Clinical Psychology
69, 802–813.
9.1. Introdução
A abordagem psicoeducativa é uma forma específica de educação que pretende ajudar os consumidores
com problemas relacionados com o uso de canábis a perceberem de forma clara e concisa um leque de
questões associadas a esta problemática. A intervenção psicoeducativa e os materiais de autoajuda (ex.:
UM GUIA CLÍNICO 105
livros, panfletos informativos, programas de computador) têm sido coadjuvantes na intervenção face-a-
face, mas também como intervenções próprias, desde os anos 70 (Finfgeld, 2000). A intervenção
psicoeducativa deve ser realizada de forma consistente com os princípios da Entrevista Motivacional (MI),
os quais assumem que o consumidor consegue fazer melhores escolhas quando possui conhecimento
adequado, autoconsciência e competências de tomada de decisão. A investigação mostra que quanto
mais as pessoas estão cientes da sua condição e de como esta afeta a sua própria vida e a dos outros,
maior controle têm sobre essa condição (Licoln, Wilhelm & Nestoriuc, 2007).
A educação pode ser realizada com ou sem contacto pessoal, e em contexto individual ou de grupo. Um
dos elementos chave é o de relacionar a informação com a experiência do consumidor. A intervenção
psicoeducativa fornece uma oportunidade para o desenvolvimento de uma boa relação terapêutica e
empática às histórias de uso de canábis do consumidor em questão. Pode proporcionar a troca pessoal
de experiências e estimular a esperança e a tranquilidade do consumidor. A intervenção psicoeducativa
reforça a informação que o consumidor recebe do seu médico de família, psicólogo psiquiatra ou
conselheiro; educa o consumidor e valoriza o tratamento e a terapia.
Recomenda-se que a intervenção psicoeducativa seja realizada de forma consistente com os princípios da
Entrevista Motivacional (MI), segundo o seguinte formato:
Fornecer informação
Os materiais da intervenção psicoeducativa devem ser apelativos, e para tal, devem idealmente:
Serem positivos no tom e na apresentação visual - os utilizadores não são tão atraídos para sinais
de “stop” e indicações de “não”;
Considerar os interesses do consumidor e criar uma oportunidade para que conte a sua própria
história
A seguinte listagem é um guia sobre alguns dos materiais psicoeducativos disponíveis para a canábis. A
maioria dos recursos foram desenvolvidos na Austrália e encontram-se disponíveis para download ou
encomenda no website indicado:
Mulling it over Informação sobre saúde para pessoas que usam canábis
108 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
http://www.mdecc.org.au/resources.htm
Trimming the grass http://www.mdecc.org.au/resources.htm
Fast facts on cannabis and http://ncpic.org.au:
mental health
Fast facts on cannabis http://ncpic.org.au:
Cannabis: Brochuras educativas sobre canábis publicadas pelo NIDA, disponíveis em inglês e
facts parents need to castelhano
know http://www.drugabuse.gov/MarijBroch/Marijlntro.html
A maioria das pessoas que têm problemas com álcool ou com o uso de outras substâncias conseguem a
abstinência ou a gestão do consumo sem recorrer a tratamento. Atualmente existem vários materiais
específicos disponíveis: psicoeducativos ou para intervenção breve, que podem ser recolhidos online, mas
apenas alguns foram rigorosamente avaliados. No quadro abaixo encontra-se uma listagem de links de
exemplos de psicoeducação, online, utilizados por técnicos de saúde.
Site Descrição
NCPIC Informação para profissionais de saúde, famílias e utilizadores
www.ncpic.org.au
UM GUIA CLÍNICO 109
Turning Point – service de O aconselhamento online é um serviço no qual podes comunicar com um
aconselhamento online profissional acerca de preocupações relacionadas com álcool ou outras
drogas, usando textos interativos: Este serviço é acessível para qualquer um
http://www.counsellingonline.org.au que procure ajuda, para si, para os seus familiares ou amigos, para os
/en/ problemas relacionados com drogas. O aconselhamento online está
disponível 24 horas por dia, 7 dias da semana, em toda a Austrália.
Know cannabis Este website pode ajudar-te na avaliação acerca do teu comportamento de
uso de canábis, no impacto deste na tua vida e na forma como podes
http://www.knowcanábis.org.uk produzir mudanças.
Somazone Site desenvolvido por jovens e para jovens, que fornece de forma rápida,
gratuita e anónima, informação sobre diversos assuntos relacionados com
www.somazone.com.au saúde em geral, uso de substâncias e álcool, imagem corporal, saúde
mental, relações e sexualidade.
Um grupo de autoajuda ou um grupo de ajuda-mútua tem como propósito providenciar apoio, ajuda
prática e cuidado aos membros do grupo que partilham o mesmo problema. (Baldacchino & Rassool,
2006). Dois dos mais comuns grupos de autoajuda são os Marijuana Anonymous (MA) e o SMART
Recovery. Apesar de não ter sido avaliada a eficácia destes grupos, eles constituem uma componente
importante de apoio social para alguns consumidores e são bem aceites por estes.
|o manual dá informação sobre os contactos destes grupos e descreve os seus pressupostos e formas de
atuação – não vertemos aqui esta descrição uma vez que os grupos não existem em Portugal, embora o
programa de 12 passos decorra nas reuniões de NA, e é um recurso nacional idêntico ao MA australiano|
O Programa SMART Recovery 4-Point emprega uma variedade de instrumentos e técnicas da CBT para
ajudar à mudança individual com vista a tornarem-se independentes dos comportamentos aditivos. Ao
gerir as crenças e as emoções que os conduzem ao uso de álcool e drogas, os participantes são motivados
para a utilização deste tipo de técnicas, conforme progridem no sentido de um estilo de vida saudável.
110 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Os grupos são “abertos” pelo que os membros podem permanecer mais ou menos tempo, de acordo com
o seu desejo. As sessões são uma oportunidade para os participantes discutirem dificuldades, desafios,
desempenhos, sucessos e focarem-se em objetivos.
9.7. SUMÁRIO
Recomendações Evidência
A intervenção psicoeducativa é um processo contínuo que envolve o fornecimento de B
material escrito ou oral sobre os danos associados com o uso de canábis, e deve ser
oferecido a todos os consumidores
Os técnicos de saúde devem estar familiarizados com os materiais impressos e com os B
recursos existentes online
Os técnicos de saúde devem oferecer livros de auto ajuda e detalhes sobre os grupos de C
suporte e autoajuda bem como sobre as oportunidades terapêuticas
9.8. REFERÊNCIAS
Baldacchino, A. & Rassool, H. (2006). The self help movement in the addiction field revisited. Journal of
Addictions Nursing 17, 47–52.
Carey, K.B., Purnine, D.M., Maisto, S.A., Carey, M.P., & Simons, J.S. (2000). Treating substance abuse in
the context of severe and persistent mental illness: Clinician´s perspectives. Journal of Substance Abuse
Treatment 19, 189–198.
Finfgeld, D.L. (2000). Therapeutic groups online: The good, the bad, and the unknown. Issues in Mental
Health Nursing 21, 241–255.
Lincoln, T.M., Wilhelm, K. & Nestoriuc, Y. (2007). Effectiveness of psycho-education for relapse, symp-
toms, knowledge, adherence and functioning in psychotic disorders: A meta-analysis. Schizophrenia Re-
search 96, 232–245.
Verifica-se uma maior proporção de doença mental junto de consumidores de canábis do que junto de
não-consumidores; assim como se verifica uma proporção maior de consumos de canábis junto dos
doentes mentais do que na população sem doença mental. Devido a esta associação, é provável que os
utentes que procuram um determinado tipo de tratamento (doença mental ou problemas de uso de
canábis), estejam numa situação de risco acima da média relativamente à outra desordem. Mesmo os
profissionais de saúde mental mais experientes podem não conseguir reconhecer uma desordem de
consumo concorrente com a doença mental avaliada. De forma semelhante, muitos técnicos que
trabalham nas perturbações de consumo podem não conseguir reconhecer ou responder às desordens
mentais concorrentes com o uso problemático de canábis. O reconhecimento precoce da existência de
UM GUIA CLÍNICO 111
ambas as desordens contribui para planear um tratamento efetivo desta comorbilidade, antes que
qualquer uma das condições se estabeleça.
10.1. Considerações
Os clínicos devem ativa e significativamente assistir a todas as pessoas com desordens concorrentes para
que estas obtenham o tratamento apropriado dentro do sistema de serviços de saúde – designando-se
esta abordagem de “não há portas erradas”. Os profissionais de saúde, de fora da área da saúde mental,
podem necessitar de providenciar “a primeira ajuda psicológica” aos consumidores de canábis, o que
pode incluir a monitorização da sua saúde mental, fornecendo apoio e assistência, encorajando o recurso
ao apoio social e, em raras ocasiões, certificando-se sobre a própria segurança do utente.
Sempre que possível, os consumidores devem receber tratamento integrado para a concorrência entre a
doença mental e os consumos de canábis. O tratamento integrado ocorre quando aos consumidores é
prestado tratamento tanto para o uso de substâncias como para as perturbações mentais. Esta integração
deve continuar para além do período agudo da intervenção e durante a recuperação, através de uma
interação formal entre os profissionais. O tratamento integrado também ocorre quando técnicos de
diferentes áreas de intervenção (por vezes, de instituições diferentes) trabalham conjuntamente na
formulação de um plano de tratamento individual. Para além das intervenções em situações agudas, esta
intervenção precisa de continuar ao longo processo de recuperação, através de uma interação formal
(Mueser, Birchwood & Copello, 2002).
Um estudo de meta-análise que avaliou a relação entre a canábis e a psicose encontrou 7 estudos
altamente relevantes (Moore et al, 2007). Os resultados consistentemente demonstraram que o uso de
canábis faz aumentar o risco de desenvolvimento de psicose. O conjunto de dados analisados revela que
nas pessoas que usaram canábis alguma vez, o risco de psicose aumentava 40%. Também foram
evidenciados resultados da relação entre dose-resposta, entre uma frequência alta de consumo de
canábis e o risco de psicose. Para consumidores abusivos de canábis, o risco aumenta entre 50%-200%.
Com base nestes dados, Moore sugeriu que cerca de 14% dos episódios psicóticos de jovens adultos do
UK não teriam ocorrido se não fosse usada canábis. Estudos nacionais dos USA, Austrália e Holanda
denotam que as taxas de uso de canábis em pessoas com esquizofrenia são aproximadamente o dobro
da população em geral (Arseneault et al., 2004). Se, de modo grosseiro, o uso de canábis duplica o risco
de psicose; o risco absoluto é pequeno – situando-se entre 7-14 casos per 1000 (Saha et al., 2005).
Ainda prevalecem dúvidas sobre se o uso de canábis é suficiente para causar esquizofrenia, doença que
de outra forma não se manifestaria na ausência de consumos, visto que as taxas de esquizofrenia parecem
estar a estabilizar ou a diminuir, apesar do aumento do consumo de canábis nas últimas décadas. A
112 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
canábis pode ser considerada “um fator causal cumulativo”, que atua em sinergia com outros fatores
(quer genéticos quer ambientais precoces, que são conhecidos como fatores de risco para a esquizofrenia,
como as complicações obstetras) para a manifestação da esquizofrenia. Um estudo que procurou os
fundamentos biológicos, identificou um gene particular (conhecido como COMT Val 158Met) que pode
estar implicado na relação entre o uso de canábis e a psicose (Caspi et al., 2005). Mas, este estudo ainda
não foi replicado.
Estudos recentes, clínicos e de populações (Moore et al., 2007; Raphael et al., 2005; Degenhardt, Hall &
Lynskey, 2001; Arseneault et al., 2004a; D´Souza et al., 2008; Fergusson, Horwood & Swain-Campbell,
2003) podem ser sumariados da seguinte maneira:
ainda assim, as taxas de esquizofrenia parecem estar a estabilizar ou mesmo a diminuir, apesar
do substancial aumento do uso de canábis
um estudo identificou um gene que pode mediar a relação entre o uso de canábis e a
esquizofrenia
Um excelente sumário pode ser encontrado em McLaren, Lemon, Robins, and Mattick´s (2008) Canábis
and Mental Health: Put into Context, disponível em www.ncpic.org.au
Os dados provenientes de uma análise recente do National Comorbidity Survey (NCS) deram indicação
que um alto risco para a manifestação de depressão major está associado com consumo elevado de
canábis (Chen et al., 2002). Igualmente, um estudo anterior referia que indivíduos com critério de abuso
ou dependência de canábis do DSM IV-TR seriam 6.4 vezes mais propensos a assumir os critérios para
depressão major do que os indivíduos sem esses critérios de abuso/dependência de canábis (Grant et al.,
2005). Estas descobertas de elevadas taxas de depressão entre os consumidores de canábis têm sido
verificadas entre numerosos estudos sobre a população jovem (Rey et al., 2002) e jovem adulta (Patton
et al., 2002), e em amostras longitudinais internacionais (Fergusson & Horwood, 1997; Angst, 1996). Uma
relação dose-resposta foi percebida em 4 de 5 estudos, indicando que uma alta frequência de uso de
canábis estava associada a um maior risco de depressão (Moore et al., 2007).
UM GUIA CLÍNICO 113
Há evidência crescente da existência de uma associação entre o uso de canábis e depressão que se encontra
relacionada também com a dose; mas esta evidência é ainda insuficiente no estabelecimento desta ligação causal.
Embora exista uma elevada taxa de desordens de ansiedade entre os consumidores de canábis, não há
muita evidência de uma ligação causal, até à data (Moore et al., 2007). Apenas 2 de 7 estudos, revistos
por Moore e pelos colegas, encontraram uma associação significativa entre o uso de canábis e ansiedade,
independentemente do potencial mescla de variáveis. Devido à natureza complexa dos canabinóides, há
evidência de que a canábis tanto pode provocar alívio ou criar ansiedade, dependendo da quantidade de
THC e de CBD (Hall Solowij, 1998).
Um pequeno número de estudos encontrou uma relação entre o uso de canábis e suicídio entre jovens
(ver Hillman et al., 2000, para uma revisão). Contudo, não é claro se este aumento do risco não é melhor
explicado por outros fatores de risco. Nesta fase, os estudos conduzidos são muito heterogéneos, para
que se possa fazer afirmações muito rigorosas sobres estas ligações.
Os problemas de comportamento nas crianças e no início da adolescência parecem estar associados com
o início dos consumos de canábis e satisfazem os critérios para a desordem de uso de canábis de forma
consistente com a hipótese da automedicação. Embora, esta associação seja mais o resultado de fatores
comuns subjacentes que aumentam o risco para ambas as desordens (ex. impulsividade).
Os técnicos que realizam o rastreio do uso de canábis devem estar alerta para a possibilidade de o
consumidor ter uma doença mental. Por esta razão, é importante realizar o rastreio e rever essa análise.
Ver quadro com os exemplos dos instrumentos de rastreio no cap. 3
114 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
todas as pessoas que receberam tratamento na área da saúde mental ou na área dos consumos
de substâncias, devem ser rastreadas ou avaliadas para outra desordem concorrente
o rastreio e/ou a avaliação de uma desordem concorrente deve ocorrer aquando do primeiro
contacto com a pessoa ou em tempo próximo
o rastreio ou a avaliação não deve acontecer quando a pessoa está intoxicada, perturbada, com
dor, a necessitar de tratamento de emergência ou em crise psicótica
aos mais jovens deve-se realizar sempre, em cada contacto, algum tipo de avaliação de uma
desordem concorrente
ATENÇÃO:
Note-se que instrumentos como a SDS podem apresentar cotações baixas para consumidores com doença mental,
refletindo a possibilidade destes experienciarem menos problemas com o uso de canábis, do que outros
consumidores
10.4. Avaliação e tratamento para o uso da canábis nos serviços de saúde mental
Devido à grande prevalência de problemas de saúde mental nos consumidores de canábis, é importante
que a avaliação do uso faça parte dos procedimentos de rotina da avaliação. A linguagem utilizada na
avaliação deve ser compreensível, deve transmitir confiança e ser contextualizada numa abordagem
colaborativa. As seguintes recomendações clínicas destinam-se à avaliação e ao tratamento de
consumidores de canábis com doença mental:
UM GUIA CLÍNICO 115
todas as pessoas com doença mental que se apresentam nos cuidados primários de saúde ou em
serviços de saúde mental especializados, devem ser rastreadas para o consumo de canábis e de
outras substâncias, incluindo tabaco
os técnicos devem estar alerta para a possibilidade de uso de canábis de todos os utentes com
doença mental, e não só para aqueles com psicose
pode ser útil recorrer a uma abordagem escalonada, desde as intervenções breves a intervenções
mais intensas, que siga as orientações desenvolvidas por Hides et al. (2006)
para além destes aspetos, uma associação bem estabelecida nos indivíduos com psicose, entre
o uso de canábis e os sintomas de recaída, (Linszen et al., 1994; Gleeson, 2004), evidencia a
necessidade de realizar a monitorização contínua do uso de canábis e da sintomatologia
psicótica, no sentido de detetar lapsos e ajudar a prevenir a recaída, nesta população vulnerável
Feedback
O feedback fornecido a indivíduos com psicose é útil no sentido de reforçar a dificuldade da história
pessoal do utente, e permitir a cada um corrigir os seus erros (Prochaska et al., 1993). O feedback
gráfico, tal como uma simples escada ou um gráfico de barras, que compara o uso do utente com o
de outros da sua faixa etária ou mesmo da população em geral, permite aos utentes reverem e
assimilarem a informação ao longo da sessão.
O feedback pode sumariar um conjunto de dados sobre as questões práticas do uso de canábis, tais
como, o tempo e o custo despendido na procura da substância, usar e estar intoxicado com canábis,
bem como, a relação entre o uso e os padrões de recaída. O feedback assume também a capacidade
de empoderamento do utente (ver materiais do cap. 12).
Tratamento
O uso de canábis tem coexistido com um leque de sintomas e desordens da saúde mental (uma
concorrência designada de comorbilidade, daqui em diante). Inquéritos epidemiológicos de larga
escala apresentam altos rácios de desordens psicóticas, afetivas, de ansiedade e de comportamento,
entre os indivíduos com desordens de consumo de substâncias, relativamente à população em geral
(Degenhardt, Hall & Lynskey, 2001; Farrell et al., 2001; Merikangas et al., 1998). A maioria dos
indivíduos vistos nos serviços públicos de saúde mental manifesta psicose (incluindo esquizofrenia),
desordem bipolar ou perturbação severa da personalidade, especialmente, desordem de
personalidade borderline. No entanto, verifica-se uma escassez de estudos sobre este assunto, mas
116 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
têm ocorrido diversas tentativas de desenvolvimento de tratamento de canábis para estas condições
(Edward et al., 2006; Barrowclough et al., 2001; Baker et al., 2006; Kavanagh et al., 2002). Estudos
australianos recentes indicam que o uso de canábis nos indivíduos com psicose é significativamente
maior, comparativamente a outros estudos internacionais sobre a população psicótica (Wade et al.,
2006; Wade et al., 2007; Hinton, Edwards & Elkins, 2008). Ver o quadro 21 para as fases e estratégias
de tratamento.
Os estudos sugerem que o uso de canábis entre pessoas com desordens mentais severas é passível
de tratamento.
o tratamento da situação decorre como descrito no Capítulo 6, mas inclui MET/CBT, que
integram as questões de saúde mental relacionadas com o uso de canábis
deve ser considerado o papel que o uso de canábis pode ter na vida de uma pessoa com
psicose, especialmente nos casos em que se verificam muitos incentivos à manutenção do
consumo após a recuperação
Psicoses
Nas situações de psicose precoce, deve ser tomada em consideração a idade e o estádio desenvolvimental
do utente, incluindo a idade dos primeiros sintomas. Pode ser necessário apoio ao nível do
desenvolvimento de competências básicas (isto é, resolução de problemas), uma vez que o
desenvolvimento normal destas competências poderá ter sido posto em causa ou interrompido com o
aparecimento dos sintomas psicóticos e/ou com o uso de longo-prazo de canábis.
Deve ser tomado em atenção o papel e a influência da família do utente e dos seus círculos sociais e das
suas atitudes para com o uso de canábis e de outras substâncias. Tal como com outros utilizadores de
substâncias, podem verificar-se níveis elevados de aceitação do uso de canábis no seio da família. O baixo
insight é comum para ambas as desordens; e os utentes podem necessitar de tempo para perceberem a
sua necessidade de tratamento para cada condição. Assim, os técnicos devem fornecer regularmente
feedback sobre a sua re-avaliação relativa ao uso de substâncias, preparação para a mudança e estado
mental, observando-se uma imagem clínica complexa e em fluxo constante.
Deve-se considerar que os utentes que experienciam a psicose enfrentam várias perdas e que podem
também considerar que o abandono do consumo de canábis é também uma nova perda. Alterar o padrão
de uso de canábis pode representar uma perda de prazer, de atividade social, ou de uma rotina, e o
118 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
regresso ao consumo pode ser um regresso às atividades usuais. A compreensão destas situações por
parte do técnico pode ajudar no estabelecimento da adesão aos objetivos da mudança.
É também importante explorar as dificuldades cognitivas que pode surgir com o uso abusivo de canábis,
no decurso da doença e com o uso da medicação, e adaptar as intervenções a estas circunstâncias. O
tratamento oferece uma janela de oportunidade pelo que deve ser assertiva e precocemente
apresentado.
ATENÇÃO:
Os sintomas de doença mental podem complicar a desabituação e podem conduzir à sobre medicação para a gestão
do sintoma. Também existem possibilidades de comorbilidade de dependência de nicotina entre os utentes com
comorbilidade psiquiátrica.
Existe literatura bem sustentada que indica que o abandono do tabaco pode conduzir ao aumento dos níveis de
medicação anti psicótica no sangue. A medicação deve ser cuidadosamente monitorizada durante a desabituação e
a cessação do consumo. A redução das doses pode ser necessária se se tornarem evidentes efeitos secundários.
Todos os especialistas em álcool e outras SPA´s são incentivados a avaliar e intervir nas questões menos
severas de saúde mental.
10.5.1. Rastreio
Após selecionar um único instrumento de rastreio (ver Quadro 23), os técnicos familiariarizam-se com a
sua aplicação e cotação. Devem também tomar em atenção que a sua validade pode ser afetada pelas
circunstâncias em que é administrado, tais como, as crenças que o utente tem acerca da utilização da
informação que fornece; a privacidade; a confiança e a relação terapêutica com o utente. É importante
ser sensível à forma como as questões culturais podem influenciar as respostas às questões do rastreio,
e saber que muitos instrumentos estão disponíveis noutras línguas, para além do inglês.
Deve existir um protocolo de avaliação para os utentes que são positivamente rastreados, o qual deve
incluir um protocolo de resposta imediata para necessidades urgentes, identificadas no rastreio, tais
como, pensamentos suicidas ou níveis de uso de substâncias que possam requerer atenção médica
imediata.
Instrumentos Descrição
Kessler 10 (K10) or Kessler 6 (K6) Discrimina casos, de não-casos, de doença mental grave
(Kessler, 2003) Rastreia perturbação genérica nos últimos 30 dias
Uma cotação de 13 ou superior indica doença mental grave
Uma cotação entre 8-12 indica perturbação de humor com traços
ansiogénicos, sem correspondência com diagnóstico de patologia severa
Mental Health Screening Form III Rastreio de 17 itens que examina a história de vida
(Carrol & McGinley, 2001) Inicialmente desenhado como um instrumento grosseiro
Para utentes que procuram tratamento quanto ao abuso de substâncias
O rastreio pode ser realizado em cerca de 15m (respostas positivas podem ser
desenvolvidas por questões sobre a duração, intensidade e concorrência de
sintomas. Um técnico de saúde mental qualificado deve determinar quais as
necessidades seguintes de avaliação e quais as recomendações de tratamento)
The Psychosis Screenner Rastreio de 7 itens
(Australian National Survey of
120 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Após o rastreio, deve ser sempre fornecido feedback aos utentes sobre os resultados. Se o rastreio for
positivo, é necessário realizar uma avaliação sobre o estado mental do utente. Se for negativo, devem ser
discutidos os potenciais efeitos do uso de substâncias na saúde mental, e continuar a monitorizar tanto a
saúde mental como o uso de substâncias.
10.5.2. Avaliação
Uma avaliação compreensiva e fornecida por técnicos devidamente treinados deve ser garantida
a todos os utentes identificados em rastreio com potencial comorbilidade. Os processos de
rastreios são os mesmos descritos anteriormente
Quando se trabalha em contextos de álcool e outras SPA´s deve ser conhecido se a saúde mental
do utente está a ser acompanhada por outro profissional
Deve ser considerada a referenciação de utentes aos serviços de saúde mental naqueles com
elevado risco ou em qualquer utente com psicose ou outra desordem de baixa prevalência, como
anorexia, ou desordem obsessivo-compulsiva
10.5.3. Tratamento
Se não for possível providenciar cuidados integrados, procurar adotar formas de comunicação e
processos paralelos, o que inclui conhecimento sobre marcação de consultas e comparência,
medicação prescrita, alterações no estado mental, etc
Deve-se procurar desenvolver competências nas desordens comuns com o uso de canábis, como
ansiedade e depressão
A recaída em ambas as situações é comum, por isso, a prevenção da recaída, deve ser um traço
proeminente dos planos de tratamento
UM GUIA CLÍNICO 121
Se os sintomas não melhoram, pode ser necessário realizar uma segunda referenciação
Pode ser benéfico os técnicos incluírem aspetos sobre os cuidados em saúde mental na
supervisão clínica
Manter ligações entre as equipas de saúde mental e os médicos de família, quando apropriado
Realizar referenciações para prescrição de medicação dirigida aos sintomas de saúde mental
10.6. SUMÁRIO
Recomendações Evidência
Devido às ligações entre o uso de canábis e a saúde mental, deve ser realizado A
rastreio para ambas as situações
Intervenções que incluem abordagens MET/CBT/PSICOEDUCATIVAS são efetivas A
para utentes com comorbilidade em saúde mental
Abordagens integradas devem ser providenciadas sempre que possível B
10.7. REFERÊNCIAS
Addington, J. & Addington, D. (2001). Impact of an early psychosis program on substance use. Psychiatric
Rehabilitation Journal 25, 60–67.
Angst, J. (1996). Comorbidity of mood disorders: A longitudinal prospective study. British Journal of Psy-
chiatry Suppl. 30, 31–37. Arseneault, L., Cannon, M., Witton, J., & Murray, R. (2004). Cannabis as a poten-
tial causal factor in schizophrenia. In D. Castle & R. Murray (eds.), Marijuana and madness: Psychiatry and
neurobiology. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 101–118.
Baker, A., Bucci, S., Lewin, T., Kay-Lambkin, F., Constable, P.M, & Carr, V.J. (2006). Cognitive–behavioural
therapy for substance use disorders in people with psychotic disorders: Randomized controlled trial. Brit-
ish Journal of Psychiatry 188, 439–448.
Barrowclough, C., Haddock, G., Tarrier, N., Lewis, S.W., Moring, J., O’Brien, R., Schofield, N., & McGov-
ern, J. (2001). Randomized controlled trial of motivational interviewing, cognitive behavior therapy, and
family intervention for patients with comorbid schizophrenia and substance use disorders. American Jour-
nal of Psychiatry 158(10), 1706–1713.
Carroll, J. & McGinley, J. (2001). A screening form for identifying mental health problems in alcohol/other
drug dependent persons. Alcoholism Treatment Quarterly 19(4), 33–47.
Caspi, A., Moffitt, T.E., Cannon, M., McClay, J., Murray, R., Harrington, H., Taylor, A., Arseneault, L.,
Williams, B., & Braithwaite, A. (2005). Moderation of the effect of adolescent-onset cannabis use on adult
psychosis by a functional polymorphism in the catechol-Omethyltransferase gene: Longitudinal evidence
of a gene X environment interaction. Biological Psychiatry 57, 1117–1127.
Chen, C.Y., Wagner, F.A. & Anthony, J.C. (2002). Cannabis use and the risk of major depressive episode:
Epidemiological evidence from the National Comorbidity Survey. Social Psychiatry and Psychiatric Epide-
miology 37, 199–206.
122 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Degenhardt, L., Hall, W. & Lynskey, M. (2001). Alcohol, cannabis and tobacco use among Australians: A
comparison of their associations with other drug use and use disorders, affective and anxiety disorders,
and psychosis. Addiction 96(11), 1603–1614.
Degenhardt, L., Hall, W., Korten, A., & Jablensky, A. (2005). Use of a brief screening instrument for psy-
chosis: Results of an ROC analysis. NDARC Technical Report no. 210. Sydney: National Drug and Alcohol
Research Centre.
D’Souza, D., Ranganathan, M., Braley, G., Gueorguieva, R., Zimolo, Z., Cooper, T., Perry, E., & Krystal, J.
(2008). Blunted psychotomimetic and amnestic effects of Δ-9-tetrahydrocannabinol in frequent users of
cannabis. Neuropsychopharmacology 33, 2505–2516. Available on line:
http://dx.doi.org/10.1038/sj.npp.1301643
Edwards, E., Elkins, K., Hinton, M., Harrigan, S., Donovan, K., Athanasopoulos, O., & McGorry, P.D.
(2006). Randomized controlled trial of a cannabis focused intervention for young people with first episode
psychosis. Acta Psychiatrica Scandinavica 114(2), 109–117.
Farrell, M., Howes, S., Bebbington, P., Brugha, T., Jenkins, R., Lewis, G., Marsden, J., Taylore, C., & Melt-
zer, H. (2001). Nicotine, alcohol and drug dependence and psychiatric comorbidity: Results of a national
household survey. British Journal of Psychiatry 179, 432–437.
Fergusson, D.M., Horwood, L.J. & Swain-Campbell, N.R. (2003). Cannabis dependence and psychotic
symptoms in young people. Psychological Medicine 33(1), 15–21.
Fergusson, D.M. & Horwood, L.J. (1997). Early onset cannabis use and psychosocial adjustment in young
adults. Addiction 92(3), 279–296.
Gleeson, J.F. (2004). The first psychotic relapse: Understanding the risks, and opportunities for preven-
tion. In J.F. Gleeson & P.D. McGorry (eds.), Psychological intervention in early psychosis: A treatment hand-
book. Chichester: Wiley.
Gossop, M., Darke, S., Griffiths, P., Hando, J., Powis, B., Hall, W., & Strang, J. (1995). The Severity of
Dependence Scale (SDS): Psychometric properties of the SDS in English and Australian samples of heroin,
cocaine and amphetamine users. Addiction 90, 607–614.
Grant, B., Stinson, F., Hasin, D., Dawson, D., Chou, S., Ruan, W., & Huang, B. (2005). Prevalence, corre-
lates, and comorbidity of bipolar I disorder and axis I and II disorders: Results from the National Epidemi-
ologic Survey on Alcohol and Related Conditions. Journal of Clinical Psychiatry 66(10), 1205–1215.
Hall, W. & Solowij, N. (1998). Adverse effects of cannabis. Lancet 352, 1611–1616. Hides, L., Dawe, S.,
Kavanagh, D.J., & Young, R.M. (2006). Psychotic symptom and cannabis relapse in recent-onset psychosis.
British Journal of Psychiatry 189, 137–143.
Hillman, S., Silburn, S., Green A., & Zubrick, R. (2000). Youth suicide in Western Australia involving can-
nabis and other drugs: A literature review and research report. Perth: Western Australian Drug Abuse
Strategy Office.
Hinton, M., Edwards, J. & Elkins, K. (2008). Problematic drug use in young people with first episode psy-
chosis. In S. Allsop & B. Saunders (eds.), Responding to co-occurring mental health and drug disorders.
London: IP Communications.
Johnsson, F., Freeman, J., Hinton, M., Powell, L., O’Donnell, J., & Power, P. (2004). Cannabis and psycho-
sis: A clinical audit of the prevalence and persistence of cannabis use in first episode psychosis: Patients
attending the Lambeth Early Onset (LEO) service in London. Schizophrenia Research 70, 72.
UM GUIA CLÍNICO 123
Kavanagh, D., Young, R., White, A., Saunders, J., Shockley, N., Wallis, J., et al. (2002). Start over and
survive: A brief intervention for substance misuse in early psychosis. In H. Graham, K.T. Mueser, M. Birch-
wood, & A. Copello (eds.), Substance misuse in psychosis: Approaches to treatment and service delivery.
Chichester, Sussex: Wiley.
Kessler, R.C., Barker, P.R., Colpe, L.J., Epstein, J.F., Gfroerer, J.C., Hiripi, E., Howes, M.J., Normand, S.L.T.,
Manderscheid, R.W., Walters, E.E., & Zaslavsky, A.M. (2003). Screening for serious mental illness in the
general population. Archives of General Psychiatry 60(2), 184–189.
Linszen, D.H., Dingemans, P.M. & Lenoir, M.E. (1994). Cannabis abuse and the course of recent-onset
schizophrenic disorders. Archives of General Psychiatry 51, 273.
McLaren, J., Lemon, J., Robins, L., & Mattick, R. (2008). Cannabis and mental health: Put into context.
Sydney: National Drug and Alcohol Research Centre. Available on line: http://ncpic.org.au/assets/down-
loads/ncpic/news/ncpic-news/new-nationaldrug-strategy-monograph-series-report-cannabis-ndmental-
health-put-into-context.pdf
Merikangas, K.R., Mehta, R.L., Molnar, B.E., Walters, E.E., Swendsen, J.D., Aguilar-Gaziola, S., Bijl, R.,
Borges, G., Caraveo-Anduaga, J.J., Dewit, D.J., Kolody, B., Vega, W.A., Wittchen, H.U., & Kessler, R.C.
(1998). Comorbidity of substance use disorders with mood and anxiety disorders: Results of the Interna-
tional Consortium in Psychiatric Epidemiology. Addictive Behaviours 23(6), 893–907.
Moore, T., Zammit, S., Lingford-Hughes, A., Barnes, T.R.E., Jones, P.B., Burke, M., & Lewis, G. (2007).
Cannabis use and risk of psychotic or affective mental health outcomes: A systematic review. Lancet 370,
319–328.
Mueser, K.T., Birchwood, M. & Copello, A. (eds.). (2002). Substance misuse in psychosis : Approaches to
treatment and service delivery. Chichester, Sussex: Wiley.
Patton, G.C., Coffey, C., Carlin, J.B., Degenhardt, L., Lynskey, M., & Hall, W. (2002). Cannabis use and
mental health in young people: Cohort study. British Medical Journal 325(7374), 1195–1198. Available on
line: http://dx.doi.org/10.1136/bmj.325.7374.1195 Pekkala, E. & Merinder, L. (2002).
Psychoeducation for schizophrenia. Cochrane database of systematic reviews 2 (art. no. CD002831). Avail-
able on line: http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD002831
Prochaska, J.O., DiClemente, C.C., Velicer, W.F., & Rossi, J.S. (1993). Standardized, individualized, inter-
active, and personalized self-help programs for smoking cessation. Health Psychology 12(5), 399–405.
Raphael, B., Wooding, S., Stevens, G., & Connor, J. (2005). Comorbidity: Cannabis and complexity. Journal
of Psychiatric Practice 11(3), 161–176.
Rey, J.M., Sawyer, M.G., Raphael, B., Patton, G.C., & Lynskey, M. (2002). Mental health of teenagers who
use cannabis: Results of an Australian survey. British Journal of Psychiatry 180, 216–221.
Saha, S., Chant, D., Welham J., & McGrath, J. (2005). A systematic review of the prevalence of schizo-
phrenia. PLoS Medicine 2, e141.
Sheehan, D.V., Lecrubier, Y., Sheehan, K.H., Janavs, J., Willer, E., Keskiner, A., Schinka, J., Knapp, E.,
Sheehan, M.F., & Dunbar, G.C. (1997). The validity of the Mini International Neuropsychiatric Interview
(MINI) according to the SCID-P and its reliability. European Psychiatry 12, 232–241.
Wade, D., Harrigan, S., Edwards, J., Burgess, P., Whelan, G., & McGorry, P. (2006). Course of substance
misuse and daily tobacco use in first-episode psychosis. Schizophrenia Research 81, 145–150.
124 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Wade, D., Harrigan, S., McGorry, P.D., Burgess, P.M.,& Whelan, G. (2007). Impact of severity of sub-
stance use disorder on symptomatic and functional outcome in young individuals with first-episode psy-
chosis. Journal of Clinical Psychiatry 68(5), 767–774.
WHO ASSIST Working Group. (2002). The Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test
(ASSIST): Development, reliability and feasibility. Addiction 97(9), 1183––1194.
[Neste capítulo do manual encontram-se descritos diferentes instrumentos, que podem ser usados como
ferramentas estruturadas de rastreio ou de complemento à avaliação, para detetar o grau de
envolvimento de adultos e/ou adolescentes com a canábis (e outras substâncias), mas também para
detetar problemas de saúde mental associados aos consumos. Nem todos os instrumentos foram
traduzidos, e os que foram traduzidos, não se encontram aferidos à população portuguesa. Sobre aqueles
que não foram traduzidos, optamos por assinalá-los nesta tradução.]
UM GUIA CLÍNICO 125
A Severity Dependence Scale SDS é um questionário de 5 itens cuja cotação indica a severidade de
dependência de canábis. Cada um dos 5 itens é cotado numa escala de 4 pontos (0-3). A cotação total é
obtida, somando a pontuação em cada um dos itens. Quanto mais alta for a cotação, maior será o grau
de dependência.
Cotação:
Indicadores para:
Dependência de canábis
Menos de um minuto
De domínio público
Sim
Sim
Onde se encontra?
http://www.ncpic.org.au
Forças:
Breve
Muito fácil de usar
Instrumento conhecido
Utilizável para medir resultados
Mais informações:
Gossop, M., Darke, S., Griffiths, P., Hando, J., Powis, B., Hall, W., & Strang, J. (1995). The Severity of
Dependence Scale (SDS): Psychometric properties of the SDS in English and Australian samples of heroin,
cocaine and amphetamine users. Addiction 90 (5), 607-614
Swift, W., Copeland, J. & Hall, W. (1998). Choosing a diagnostic cut-off for cannabis dependence.
Addiction 93, 1681-1692
Martin, G., Copeland, J., Gates, P., & Gillmore, S. (2006). The Severity of Dependence Sclae (SDS) in an
adolescent population of cannabis users: Reliability, validity and diagnostic cut-off. Drug and Alcohol
Dependence 83, 90-93
1. Alguma vez pensou que o seu uso de canábis estava fora de controlo?
Algumas vezes 1
Frequentemente 2
2. Imaginar que não vai consumir um charro deixa-o muito ansioso ou preocupado?
Algumas vezes 1
Frequentemente 2
De forma alguma 0
Um pouco 1
Várias vezes 2
Bastante 3
Algumas vezes 1
Frequentemente 2
Não é difícil 0
É um pouco difícil 1
É muito difícil 2
The Modified Simple Screening Instrument for Substance Abuse (MSSI-SA) – Ficha informativa
[não traduzido - ver p. 69 e 70 do manual na edição original]
Rastreia o consumo de substâncias, a preocupação e a perda de controle, as consequências adversas, os
problemas de reconhecimento e a sintomatologia de abstinência
ASSIST – Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test – Ficha informativa
Rastreia
As substâncias consumidas ao longo da vida
As substâncias usadas nos últimos 3 meses
Problemas associados ao uso de substâncias
Risco de uso e dependência (atual ou no futuro)
Uso intravenoso
De domínio público?
Sim
O ASSIST permite:
Avisar as pessoas do risco associado ao desenvolvimento de problemas relacionados com o seu
consumo de substâncias
Criar uma oportunidade de iniciar uma discussão sobre o consumo de substâncias
Identificar o consumo de substâncias como um fator que contribui para a doença apresentada
Estar associado a uma intervenção breve para apoiar os consumidores de alto risco de substân-
cias a reduzir ou interromper o seu consumo, evitando consequências danosas
O ASSIST distingue 3 grupos principais:
Pessoas abstinentes ou de baixo risco
Aqueles cujos padrões de uso os coloca em risco de desenvolverem problemas ou em risco de
desenvolverem dependência
Aqueles que são dependentes de substâncias
Forças:
Indica tanto o abuso como a dependência
Produz informação para a avaliação
Está associado a uma intervenção breve para pessoas com consumos problemáticos ou de risco
(em vez de dependência)
Limitações possíveis:
Requer algum esforço para ser integrado nas práticas de rotina
1 a 2 minutos
Sim
UM GUIA CLÍNICO 131
Onde se encontra?
http://www.ncpic.org.au
De domínio público:
Sim
Forças:
Breve
Simples
Ambas as versões incluem questões opcionais para uma abordagem mais completa
Informação adicional:
Copeland, J., Gilmore, S., Gates, P., & Swift, W. (2005). The Cannabis Problems Questionnaire: Factor,
structure, reliability and validity. Drug and Alcohol Dependence 80, 313-319.
Martin, G., Copeland, J., Gilmore, S., Gates, P., & Swift, W. (2006). The Adolescents Cannabis Problems
Questionnaire: Psychometric proprieties. Addictive Behaviors 31, 2238-2248.
As seguintes questões relacionam-se com as suas experiências de consumo de canábis, nos últimos três
meses.
Lê cada uma das questões cuidadosamente e responde SIM ou NÃO colocando uma cruz no
quadrado correto.
Por favor responde a todas as questões. Todas as questões relacionam-se com as tuas experiências com
o consumo de canábis, nos últimos três meses.
Se viveste com os teus pais (Representante legal) nos últimos três meses, responde às
questões seguintes. Caso contrário, passa para a pergunta 33. Sim Não
28. Os teus pais consomem canábis regularmente?
29. Os teus pais queixaram-se do teu consumo?
30. Os teus pais tentaram com que parasses de consumir?
31. Discutiste com eles devido ao teu consumo?
32. Tentaste evitá-los depois de consumires?
134 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Se tiveste um namorado/a nos últimos três meses, responde às questões seguintes. Caso
contrário, passa para a pergunta 38.
Pensa no namorado/a com quem passaste a mais tempo nos últimos três meses: Sim Não
33. Ele(a) consome canábis regularmente?
34. Ele(a) queixa-se do teu consumo?
35. Discutiste com ele(a) sobre o teu consumo?
36. Ele(a) ameaçou deixar-te devido ao teu consumo?
37. Evitaste-o(a) depois de teres consumido?
Se estiveste inscrito na escola ou num curso nos últimos três meses, responde às
questões seguintes. Caso contrário, passa para a pergunta 47. Sim Não
38. Estiveste menos interessado ou motivado na escola ou nos estudos?
39. Sentiste-te incapaz de frequentar as aulas devido ao consumo?
40. As tuas notas desceram?
41. Vais para as aulas após consumires?
42. Sentes-te menos capaz de te concentrares nas aulas?
43. Consumiste na escola?
44. Foste incapaz de fazer os trabalhos de casa devido ao consumo?
45. Tiveste queixas dos professores acerca do teu desempenho escolar?
46. Tiveste faltas disciplinares ou foste suspenso devido à canábis?
Se estiveste a trabalhar, seja em part-time seja a tempo inteiro, nos últimos três meses,
responde às questões seguintes. Sim Não
47. Sentes que o teu trabalho é menos interessante do que habitualmente?
48. Sentiste dificuldades em chegar a horas ao trabalho por causa do consumo?
49. Faltaste um dia inteiro ao trabalho devido ao consumo?
50. Sentes-te menos capaz de trabalhar devido ao consumo?
51. Foste trabalhar sob o efeito de canábis?
52. Tiveste queixas devido aos atrasos ou faltas ao trabalho?
53. Tiveste queixas formais da tua entidade patronal?
54. Foste suspenso ou despedido?
55. Tiveste acidentes de trabalho após consumires?
Cannabis withdrawal Checklist – ficha informativa
É de domínio público
Forças: breve; simples e pode ser usada para acompanhar a evolução da sintomatologia
Nome:
Data: Dia:
Em cada dia dos primeiros 5 dias da sua tentativa de abstinência ao consumo de canábis, por favor
responda, com base na sua experiência
Este questionário é usado para aceder à preparação para a mudança dos consumidores de álcool. Foi
adaptado para incluir a canábis.
O que rastreia?
(questionário de 12 itens) a preparação para o consumidor iniciar a mudança, ou para as atuais mudanças
nos hábitos de consumo (adaptado para incluir a canábis), sugerindo um de três estádios:
População-alvo
adulto/adolescentes
Aplicabilidade na investigação:
Fonte:
Center for Alcohol and Drug Studies Plummer Court, Carliol Place, Newcastle upon Tyne
NE1 6UR, UNITED KINGDOM
Tel: 44(0)191219 5648 Fax: 44(0)191219 5649
Referências
Rollnick, S., Heather, N., Gold, R., & Hall, W. (1992). Development of a short “readiness to change”
questionnaire for use in brief, opportunistic interventions among excessive drinkers. British Journal of
Addiction 87, 743–754.
Heather, N., Rollnick, S. & Bell, A. (1993). Predictive validity of the Readiness to Change Questionnaire.
Addiction 88, 1667–1677.
Heather, N., Gold, R. & Rollnick, S. (1991). Readiness to Change Questionnaire: User’s manual. Technical
Report no. 15. Kensington, Australia: National Drug and Alcohol Research Centre, University of New South
Wales.
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA MOTIVAÇÃO PARA A MUDANÇA – CANÁBIS (QAMM-C)
Nome:_________________________________________________ Data:__________________
As seguintes questões estão concebidas para identificar como é que se sente em relação ao seu uso atual
de canábis. Por favor, leia todas as questões cuidadosamente e decida se concorda ou se discorda das
afirmações, escolhendo a resposta certa.
COTAÇÃO
Método rápido:
-2 discordo bastante
UM GUIA CLÍNICO 139
-1 discordo
+1 concordo
+2 concordo bastante
Para calcular a cotação de cada estádio de mudança, somam-se os valores relativos a cada estádio. O
leque de valores para cada estádio varia entre -8 e +8. Uma cotação negativa reflete o desacordo
generalizado com os itens que determinam um estádio de mudança, enquanto uma cotação positiva,
representa acordo. O valor mais cotado corresponde ao estádio de mudança em que o consumidor se
situa.
Nota: se a cotação de 2 estádios for igual, o estádio mais distante do contínuo de mudança (pré-
contemplação contemplação-ação) representa o estádio em que se situa o consumidor que está a ser
avaliado. Por ex., se um consumidor cota 6 na escala da pré-contemplação, 6 na contemplação e -2 na
ação, então situa-se no estádio de contemplação.
Assinala-se também que, uma cotação positiva na escala da pré-contemplação significa baixa
prontidão/preparação para a mudança. Para obter a cotação de pré-contemplação que representa o grau
de preparação para a mudança do consumidor em avaliação, e que pode ser diretamente comparado com
a sua cotação ao nível da contemplação e da ação, inverta simplesmente o sinal de cotação da pré-
contemplação.
Se um dos 4 itens estiver em falta, a cotação do consumidor deve ser pro-classificada (i.e. multiplicada
por 1.33). Se estiverem em falta 2 ou mais itens, a cotação dessa escala não pode ser calculada, e o estádio
de preparação -para a mudança não pode ser determinado.
Exercício prático
Pensa numa decisão que tomaste recentemente, ou que tens de tomar. A decisão pode envolver qualquer
aspeto da tua vida, tais como trabalho, atividades de lazer, amigos ou família. Identifica as opções que
são seguras e as opções que podem aumentar o teu risco de recaída.
Alternativas seguras:
Alternativas de risco:
Um desejo é como uma onda na praia. Todas as ondas começam pequenas, depois crescem, até atingirem
o seu ponto máximo de elevação e depois partem-se e desfazem-se ao longo da praia. Nenhuma onda
dura mais do que alguns minutos.
Com os desejos/vontades acontece o mesmo. Começam pequenos e depois crescem, e são feitos de
comportamentos, pensamentos e sintomas físicos. Depois de atingirem o seu pico, quebram e
desaparecem. Este processo normalmente não dura mais do que 10 minutos. Quanto tempo duram os
teus desejos? Qual a sua intensidade numa escala de 1 a 10?
Como é a tua experiência com o desejo ou a vontade de consumir? Descreve os sintomas que
experimentas quando tens desejo ou vontade de consumir: os teus sintomas físicos (por ex., o coração
acelerado, sensação de enjoo), os teus comportamentos (por ex., inquietação), e os pensamentos (por
ex., "Eu tenho de fumar").
_____________________________________________________________________________________
Os Comportamentos:___________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Os Pensamentos:_______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
Os meus principais “gatilhos” de desejo ou vontade de Como é que posso lidar com este “gatilho”
consumir são:
1. EVITAR ou
2. EVITAR ou
3. EVITAR ou
4. EVITAR ou
5. EVITAR ou
Às vezes, quando os desejos não podem ser evitados, precisas de encontrar uma forma de lidar com eles.
A seguir encontras algumas opções que podes experimentar para conseguires lidar com os sintomas
físicos, os comportamentos e os pensamentos que constituem os desejos.
Assinala as opções que podem funcionar contigo.
Competências comportamentais:
Comer regularmente, mesmo quando não sentes fome
Beber muita água - especialmente quando sentes o craving.
Mastigar uma pastilha elástica ou comer um chupa-chupa
em vez de beber álcool ou consumir.
Decide (decide): Depois do desejo ter passado toma consciência dos teus sucessos na redução do uso de
substâncias, das razões para parar ou reduzir o uso, e congratula-te por não teres cedido ao desejo. Muitas
pessoas tentam lidar com os seus cravings, by gritting their teeth and toughing it out.
“Surfar impulsos”
de Steinberg et al. (2005)
Alguns impulsos, especialmente quando voltas aos locais/contextos em que normalmente usavas drogas,
são demasiado fortes para conseguires ignorá-los. Quando isto acontece pode ser útil, acompanhares o
teu impulso até que ele passe. Esta técnica chama-se “surfar o impulso”.
146 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Os impulsos são como ondas do mar. São pequenas quando começam, aumentam de tamanho e depois
partem ou quebram-se e dissipam-se. Podes imaginar-te como um surfista que vai cavalgar a onda,
permanecendo no topo até ela se desfazer e quebrar. As bases desta técnica são parecidas com as bases
de muitas artes marciais. No judo conseguimos dominar o adversário numa primeira fase aproveitando a
força do seu ataque. Ao aproveitarmos a força do adversário conseguimos controlá-la e redirecioná-la em
nossa vantagem. Esta técnica de ganhar controlo juntando-se à força do adversário permite-nos ter
controlo despendendo o mínimo de energia. O “surf de impulsos” é parecido. Podes juntar-te a um
impulso como forma de controlares esse impulso para consumir (em vez de o confrontares com uma
oposição forte). Depois de perceberes esta técnica podes perceber que é útil quando sentires um grande
impulso para consumir.
2. Focaliza-te numa área em que estejas a experimentar o impulso. Consciencializa as sensações exatas nessa
área. Por exemplo, sentes calor, frio, formigueiro ou dormência? Os teus músculos estão tensos ou relaxa-
dos? Qual a dimensão da área que está envolvida? Consciencializa as sensações e descreve-as para ti pró-
prio. Consciencializa as alterações que ocorrem nas sensações “muito bem - a minha boca está seca. A
atenção dos meus lábios e língua. Estou a engolir. Quando expiro, posso imaginar o cheiro e o gosto da
canábis”
3. Recentra-te em cada parte do teu corpo que experiencia o impulso. Toma atenção e descreve para ti próprio
as mudanças que ocorrem. Consciencializa como o impulso, vai e vem.
Muitas pessoas reparam que depois de alguns minutos a surfar o impulso, a urgência de consumir
desaparece. O objetivo deste exercício no entanto, não é fazer o impulso desaparecer mas experienciá-lo
de uma forma diferente. Se praticares esta técnica vais ficar familiarizado com os teus impulsos e vais
aprender como conduzi-los até eles se irem embora.
Tabela de balanço decisional - adaptado de Hinton et al. (2002)
Esta ficha de trabalho vai ajudar-te a: Pensar acerca do teu comportamento de fumar
Pensar nos custos e nos benefícios do teu uso Para pensares sobre o teu uso de canábis
atual de canábis. pergunta a ti próprio:
Perceber os fatores que afetam as tuas deci- “O que é eu perco e o que é que eu ganho se
sões para fumar; continuar com o meu padrão habitual de
Decidir o que queres fazer acerca disso; consumo de canábis”
"Qual o papel que a canábis desempenha na
minha vida?"
UM GUIA CLÍNICO 147
Coisas menos A minha namorada vai Quando começar vou Não estarei com os meus
boas continuar “a chatear-me” perceber que é difícil parar amigos tão frequentemente
Assinala os efeitos positivos e negativos que são mais importantes para ti; podes também, dar uma
pontuação a cada uma, numa escala de menos importante (1) até mais importante (10), e repara qual das
colunas soma um resultado mais elevado.
Escada de Canábis
10 Mudei o meu uso de canábis e nunca voltarei a consumir como consumia antes.
148 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
9 Mudei o meu uso de canábis, mas continuo preocupado com uma recaída, por isso tenho de
continuar a trabalhar nas alterações que consegui fazer sobre os meus consumos.
8 Tenho intenção de usar canábis mas vou mudar algumas coisas, como por exemplo diminuir
a quantidade de canábis que uso.
7 Tenho uma forte intenção de alterar o meu uso de canábis e estou quase capaz de fazer
planos sobre como mudar.
6 Tenho uma forte intenção de alterar o meu uso de canábis, mas ainda não estou capaz de
fazer planos sobre como mudar.
5 Penso muitas vezes na forma como consumo canábis, mas não tenho planos para mudar.
4 Às vezes penso na forma como uso canábis, mas não tenho planos para mudar.
3 Raramente penso em mudar o meu uso de canábis e, não tenho planos para mudar.
2 Nunca penso acerca de mudar o meu uso de canábis, e não tenho planos para mudar.
1 Eu gosto de consumir canábis e decidi que isso nunca vai mudar. Não quero mudar a forma
como uso canábis.
Dia, Onde e com quem consumiste? Como te estavas a sentir? Que quantidade Custo
data consumiste? (€)
UM GUIA CLÍNICO 149
Resumo personalizado
Adaptado de Hinton et al. (2002)
Realizado por:
Este resumo personalizado vai-te dar uma ideia do teu consumo atual de canábis.
150 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Visão global
O treino de relaxamento envolve uma série de procedimentos para voluntariamente nos libertarmos da
tensão. Estas técnicas podem ser utilizadas em situações diárias, quando o stress surge.
UM GUIA CLÍNICO 151
Objetivos
Reconhecer a tensão física e psicológica
Aprender a relaxar
Usar as imagens mentais para reduzir a tensão psicológica
Usar grupos musculares específicos para aliviar a tensão
Método
explicar que, em resposta ao stress, temos uma resposta de “ataque ou fuga” em que os músculos se
tornam mais tensos, a respiração mais rápida e superficial, e ficamos num estado de alerta
estas reações são normais, mas quando alguém sofrer de stress durante um longo período de tempo,
a tensão muscular pode permanecer elevada e pode ser difícil reconhece-lo, pois passa a ser uma sensa-
ção "normal"/”habitual”.
a constante tensão pode provocar sentimentos de ansiedade e contribuir para a recaída
o relaxamento eficaz inicia-se com situações não desafiantes e deve ser desenvolvido para que seja
possível usar em situações stressantes
os procedimentos básicos podem ser ensinados numa a três sessões, mas têm que ser praticados com
regularidade, por mais de 8 semanas
mais prática traz maiores benefícios
as técnicas de relaxamento são melhor implementadas a) num ambiente tranquilo, b) numa posição
confortável (mas não na cama), c) com uma atitude passiva, e com d) técnicas que promovam a diminui-
ção da tensão
Tipos de relaxamento
relaxamento Envolve a contração e relaxamento ativo de grupos musculares do corpo de
muscular forma progressiva e sequencial.
progressivo
procedimentos Relaxamento Mental que inclui a repetição de uma palavra (p. ex. relaxar) ou a
de evocação de imagens agradáveis.
relaxamento
meditativo
procedimentos Envolve trabalhar um músculo contra outro
isométricos A maioria dos exercícios não envolve qualquer movimento aparente pelo que
pode ser realizado sem constrangimento
Materiais de Trabalho correspondentes: 1. Dicas para dormir melhor; 2. Relaxar os músculos
Não use a cama para qualquer outra coisa, exceto para dormir e para atividade sexual. Não coma, não
veja tv, não leia, não se preocupe, na cama.
152 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Programe o despertador para se levantar todos os dias à mesma hora, independentemente das horas de
sono que dormiu. Uma hora de despertar constante ajuda o seu corpo a adquirir um ritmo de sono
consistente. Se tem dificuldade em adormecer, tente diminuir ou evitar as sestas durante o dia, e verifique
se isso melhora o seu sono.
Evite álcool, especialmente no final do dia. Embora o álcool possa ajudá-lo a adormecer mais
facilmente, é suscetível de provocar um sono interrompido.
Medicamentos para dormir podem ajudar inicialmente, mas podem tornar-se inúteis ou
desaconselhados a longo prazo.
Se se sentir irritado e frustrado porque não consegue dormir, não fique na cama a tentar dormir. Saia da
cama, vá para outro compartimento e faça algo diferente.
Relaxar os músculos
• está sentado numa cadeira confortável (o objetivo é estar relaxado enquanto acordado)
• não force os seus músculos; contraia apenas o suficiente para notar as diferenças entre tensão e
relaxamento.
Passos:
2. Contraia os músculos do seu rosto e da mandíbula. Não estique os músculos, aperte-os. Agora,
devagar, concentre-se na libertação de tensão.
3. Levante os ombros e incline a cabeça para trás. Não estique os músculos, aperte-os. Agora, va-
mos lentamente, libertando a tensão. Deixe os seus ombros cair e endireite a sua cabeça.
4. Rodeie o corpo com os braços, à sua frente e feche as mãos em punho. Não estique os músculos,
aperte-os. Agora, devagar, vá libertando a tensão. Deixe os braços cair suavemente.
5. Aperte os músculos do estômago. Não estique os músculos, aperte-os. Agora, devagar, concen-
tre-se na libertação da tensão.
6. Estique as pernas aperte os músculos das pernas. Não estique os músculos, aperte-os. Agora,
aos poucos liberte toda a tensão. Deixe os seus pés cair suavemente até ao chão.
7. Mantenha-se sentado por algum tempo e disfrute da sensação de calor e peso nos seus múscu-
los. Quando se levantar, tente manter esta calma.
Muitos dos consumidores de canábis podem experimentar alguns sintomas de abstinência; outros podem
sentir pouco ou nenhum desconforto quando deixam de usar. Para muitos consumidores, os sintomas
psicológicos são os mais difíceis. Existem também alguns sintomas físicos, que podem ser desconfortáveis,
mas não são perigosos.
Raiva Arrepios
Agressão Dores de estômago
Irritabilidade Tremuras
Nervosismo/ansiedade Suores
Alterações no apetite Humor depressivo
Inquietação
Dificuldade em dormir
Sonhos estranhos
Os sintomas de abstinência são sinais de que o corpo está a recuperar e a readaptar-se ao facto de estar
sem canábis, por isso são sinais positivos de recuperação. Geralmente, os sintomas de abstinência
resolvem-se entre 5 a 10 dias. Alguns sintomas, tais como desenvolver bons padrões de sono, podem
demorar mais algum tempo.
Opções de tratamento
Existem uma série de opções de tratamento na Austrália. Algumas dessas opções incluem
aconselhamento, grupos de apoio e grupos de educação. Também podes ligar para a Cannabis
Information and Helpline ou contactar os serviços locais de Alcohol Drug Information Service. Nesta fase,
não existem medicamentos específicos para a abstinência à canábis, no entanto o teu médico de família
pode recomendar medicação para alguns sintomas, como humor depressivo ou dificuldades no sono. Isto
dependerá da especificidade da tua situação pessoal.
Alterações no apetite
UM GUIA CLÍNICO 155
Dificuldades em dormir
Suores/suores noturnos
Desejo de consumir
canábis
Inquietação/irritabilidade
Agressividade/raiva
Dores de cabeça
Desenvolver um plano de gestão dos sintomas de abstinência com um amigo, familiar ou técnico, inclui:
Afastar todos os objetos de consumo, para afastar a tentação
Fazer um esforço para comer melhor e para realizar algum exercício
Escrever os pros e contras do abandono do consumo, e colocá-los num local visível
Não planear atividades stressantes nas primeiras semanas, mas sim, planear atividades agradá-
veis que o irão distrair
Encontrar um amigo ou alguém que o distrai do consumo e o ajude nos impulsos/desejos para
consumir
Tentar não se culpabilizar se tiver um lapso
Planeie uma recompensa para si próprio quando conseguir atingir o objetivo
Marque uma consulta com o seu médico/técnico para monitorizar o seu progresso e desenvolver
estratégias para consolidar e construir o seu sucesso.
Objetivos
Reconhecer a existência de um problema
Gerar uma variedade de potenciais soluções
Selecionar opções mais apropriadas e gerar um plano de ação
Avaliar a eficácia da abordagem
Processo Detalhes
Definir exatamente qual é o problema Definir o problema em termos de comportamentos
concretos
Se existem diversos comportamentos, pedir ao con-
sumidor que os priorize
Brainstorm de opções para lidar com o problema Não é permitido nenhuma crítica
Ser o mais criativo possível
O número de ideias é importante
O que resultou anteriormente?
Escolher a melhor opção ou opções Remover estratégias impraticáveis
Considerar os prós e contras de cada opção viável
Discutir todos os possíveis obstáculos à ação
Elaborar um plano detalhado de ação Desmontar as ações em passos concretos
Decidir quando, onde, como e com quem
Implementar o plano Praticar na sessão com role play e fazendo trabalhos
de casa
Avaliar os resultados A opção resolveu o problema na totalidade ou em
parte?
A estratégia precisa de ser melhorada, ou é necessá-
ria uma nova estratégia?
Ficha de trabalho correspondente: Competências de Resolução de Problemas – para os utentes
4. Plano de ação
Como?
Quando?
Onde?
Com quem?
Conceitos-Chave
Identificar situações de alto risco e desenvolver competências para lidar com os estímulos de-
sencandeadores;
Distinguir entre alguns tipos de uso (“escorregadela” ou lapso) e o retorno a um uso regular (re-
caída).
Processo Detalhes
Reforçar o compromisso com a Uma forte resolução de mudança é um aspeto importante para moderar o uso
mudança ou manter a abstinência.
Discutir as razões da mudança e registá-las para que possam ser usadas como
“lembretes” e fatores motivadores.
Identificar situações de alto Detalhes: quem, onde, com quem, a fazer o quê, e a sentir o quê.
risco
Isto pode ser registado num diário ou através da realização de questionários
tais como “Cannabis Situational Confidence Scale”.
Ensinar competências para lidar Os consumidores estarão capazes de implementar as competências para lidar
com a situação ou outras com a situação quando tiverem a confiança necessária para lidar com
competências úteis situações de alto risco (ver a ficha de trabalho sobre resolução de problemas).
Outras competências podem incluir: lidar com a pressão social, lidar com
distúrbios do humor, lidar com o craving ou desejo/vontade de consumir (ver
ficha de trabalho “surfando os impulsos”).
Outras dicas importantes para Uma das estratégias mais úteis para lidar com situações de alto risco é o
evitar a tentação planeamento prévio.
Preparar para a “escorregadela” Saunders and Allsop (1991) sugerem que seja feita uma simulação da recaída
(lapso) semelhante a uma simulação de incêndio, na qual é criado um plano para
prevenir que a “escorregadela” se torne uma recaída grave. Isto implica
identificar fatores emocionais e situacionais.
Outras questões importantes Fatores tais como a rede social, a rede de suporte (incluindo grupos de
para manter a mudança, autoajuda), competências de comunicação e envolvimento em atividades de
relacionadas com o estilo de tempos livres, são aspetos importantes do sucesso no tratamento.
vida
Grau de risco
(0-10) Situação Estratégias utilizadas
UM GUIA CLÍNICO 159
2. DIZER NÃO sem hesitação. Lembrar que, quem hesita está perdido!
Ser firme e educado. “Não” pode ser reforçado com uma mensagem sobre as suas intenções no futuro para prevenir
futuras ofertas. Por exemplo:
Não. Desculpa, não ouviste? Eu deixei os consumos.
Não, obrigado, ordens do médico.
Desculpa, mas tenho tosse, estou doente. Esta noite não, obrigado.
Não, obrigado não me sinto bem.
Para mim não, já não gosto disso.
Não, obrigado. Hoje não. Estou a fazer uma pausa nos consumos.
Obrigado, mas não. Ando “certinho”.
Não, obrigado. Vou conduzir.
Isto é explorado cuidadosamente, antes do técnico pedir ao utente que compare as duas listas. Por exemplo:
O que pensas das duas listas: como é que as podes comparar?
Atividades agradáveis
Adaptado por Macphilliamy & Lewinsohn (1982)
162 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
Ao deixares de consumir canábis estás a deixar uma atividade que ocupa uma grande parte do teu tempo.
É importante que tentes identificar outras atividades que te façam sentir bem e que as integres no teu
dia-a-dia.
O teu compromisso é o de fazeres uma coisa agradável todos os dias, algo que não tem necessariamente
que te fazer gastar muito tempo, esforço ou dinheiro. Podes precisar da ajuda de um companheiro ou da
cooperação de outra pessoa, mas não hesites em pedir ajuda.
Não importa se é um jantar fora, comprar qualquer coisa que querias muito, tomar um banho quente,
correr – deve ser qualquer coisa que te faça ter a sensação de que te preocupas contigo, que tratas de ti.
Tu mereces! Se isso implicar gastar um pouco mais de dinheiro do que o habitual lembra-te que tens
poupado dinheiro por não fumares canábis, vais perceber gradualmente formas de te mimar menos caras.
Regista todas as atividades na próxima semana para as discutirmos mais tarde.
Alguns exemplos:
Cinema; ver televisão; ouvir musica; jogar no computador; jogar cartas; resolver um puzzle; ler; tocar um
instrumento musical; yoga; exercício físico; desenhar; pintar; cozinhar; fotografia; jardinagem; comer;
escrever um e-mail a um amigo; uma massagem; beber chá ou café; tomar um banho; tirar uma sesta;
visitar o esteticista; meditar; nadar; reservar umas férias; ir ao mercado, a um parque ou a um museu;
fazer compras; ver desporto; fórum de internet; escrever um diário; usar roupas de que gostas; sair com
os amigos; dançar; andar de bicicleta; fazer pesquisas na internet; ir a uma venda de garagem; etc.
1
UM GUIA CLÍNICO 163
“Numa escala de 1 a 10, qual a importância que tem para si a alteração da forma como usa canábis?”
Se a importância de mudar é:
Baixa:
“Ok, então isso não é muito importante para si neste momento. Espero poder passar-lhe algumas
informações. Mesmo que não queira mudar a forma como usa canábis, existe alguma informação que
lhe posso dar sobre como pode reduzir os danos associados a esse uso.”
Se a mudança não é importante, explore o diagrama dos estádios de mudança e avalie em que estádio de
mudança é que a pessoa está. Avise a pessoa de que é comum avançar e retroceder entre estádios.
Média:
“Então, a meio da escala. Mas estou a pensar para mim próprio porque disse um “4” e não disse um
“1”? Então uma razão importante é … E que mais?”
Alta:
“Então é muito importante para si, fazer alguma coisa acerca do consumo de canábis. Porque será?
Então uma razão importante é … E que mais?”
Realize o follow up destes consumidores, para quem a mudança é importante, questionando o cliente
acerca dos seus planos para realizar essa mudança com o objetivo de explicitar um discurso claro de
mudança
Para clientes com Avalie separadamente a importância de fazer mudanças no uso de substâncias e nos
problemas de sintomas depressivos/de ansiedade. As questões acima devem ser colocadas primeiro
saúde mental acerca dos sintomas depressivos/de ansiedade e depois sobre o uso de substâncias, já
que desta forma diminuímos a resistência da pessoa em relação às mudanças no uso de
substâncias.
Avaliar o nível de confiança para mudar o padrão do uso de canábis - para técnicos.
Avaliar confiança individual para mudar o padrão habitual do uso de canábis
166 GESTÃO DAS PERTURBAÇÕES DO USO DE CANÁBIS E QUESTÕES ASSOCIADAS
“Numa escala de um a dez, qual é o grau de confiança que tens de que consegues mudar se o desejares?”
Explorar a confiança da pessoa, questionando:
Se a confiança em mudar é:
Baixa:
“Ligeiramente baixa. O que é que tem que acontecer para fazer aumentar, digamos para “5” ? Fala-me
de uma mudança que tenhas conseguido no passado? Como é que conseguiste?”
Média:
“Então, mais ou menos a meio. Então porquê um “4” e não um “1”? O que seria possível fazer para
aumentares a tua confiança, digamos para “8”? Como é que poderias conseguir? Como é que eu posso
ajudar?”
Alta:
“Então, estás muito confiante. Como é que vais prosseguir com isso? Como é que isso vai ser? Que mais?
Como é que eu posso ajudar?”
Nota: Uma confiança baixa na escala (inferior a 7) indica que pode ser necessário voltar à fase 1 das
estratégias de intervenção motivacional ou rever estratégias incluídas no plano de mudança.
Para clientes com Avaliar a confiança na mudança para a ansiedade, depressão e uso de substâncias
problemas de separadamente. Se a pessoa tem uma confiança baixa para lidar com a
saúde mental ansiedade/depressão, mas não para o uso de substâncias (ou não vice-versa), voltar às
estratégias de intervenção motivacional ou rever estratégias de mudança.
Referências
Hinton, M., Elkins, K., Edward, J., & Donovan, K. (2002). Cannabis and psychosis: An early psychosis
treatment manual. Government of Victoria, Department of Human Services. Published by Orygen
Research Centre, Victoria.
UM GUIA CLÍNICO 167
Kadden, R., Carroll, K., Donovan, D., Cooney, N., Monti, P., Abrams, D., Litt, M., & Hester, R. (1992).
Cognitive–behavioral coping skills therapy manual: A clinical research guide for therapists treating
individuals with alcohol abuse and dependence. NIAAA Project MATCH Monograph Series, DHHS
Publication no. (ADM) 92-1895, vol. 3. Rockville, MD: National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism.
Marlatt, G. & Gordon, J. (1985). Relapse prevention: Maintenance strategies in the treatment of addictive
behaviors. New York: Guilford Press.
MacPhillamy, D.J. & Lewinsohn, P.M. (1982). The Pleasant Events Schedule: Studies on reliability, validity,
and scale intercorrelations. Journal of Consulting and Clinical Psychology 50, 363–380.
Slavet, J.D., Stein, L.A.R., Colby, S.M., Barnett, N.P., Monti, P.M., Golembeske,C.Jr. & Lebeau-Craven, R.
(2006).The Marijuana Ladder: Measuring motivation to change marijuana use in incarcerated adolescents.
Drug and Alcohol Dependence 83, 42-48
Saunders, B., & Allsop, S. (1991). Alcohol problems and relapse: Can the clinic combat the community?
Journal of Community and Applied Social Psychology 1, 213-221
Steinberg, K.L., Roffman, R.A., Carroll, K.M., Mcree, B., Babor, T.F., Miller, M., Kadden, R., Duresky, D.,
& Stephens, R. (2005). Brief counselling for marijuana dependence: A manual for treating adults. SAMHSA,
Center for Substance Abuse Treatment. Rockville MD.
APÊNDICES
1. Classificaram-se cada uma das cinco componentes, e anotou-se as questões mais importantes que
emergiram nas discussões e a classificação no formulário
3. As classificações de cada um dos componentes e o respetivo descritor foram registados nas caixas
respetivas
4. Foi determinado o grau global de cada corpo de evidência, a partir da soma das classificações dos
diferentes componentes
A B C D
Componente Excelente Bom Satisfatório Pobre
Volume de Vários estudos de Um ou dois estudos Estudos de nível III Estudos de nível IV,
evidência nível I ou II com de nível II com baixo com baixo risco de ou estudos de nível I
baixo risco de viés risco de viés ou viés, ou estudos de a III com alto risco
estudos SR/múltiplo nível I ou II com de viés
nível III com baixo risco moderado de
risco de viés viés
A/Prof Jason Connor Director, Centre for Youth Sub- University of Queensland
stance Abuse Research
Dr John Howard Senior Lecturer National Cannabis Prevention and In-
formation Centre
Dr Sally Wooding Clinical Psychologist/Senior Re- Office of Mental Health and Drug and
search Officer Alcohol Policy
Prof Simon Lenton Deputy Director/Clinical Psy- National Drug Research Institute
chologist
Dr Stephanie Taplin Research Fellow National Drug and Alcohol Research
Centre
Mr Toby Lea Researcher Drug Health Services
Sydney South West Area Health
Service