Uddziwi - 2017 - FAGILDE E RAPOSO - MODELO 10 + 3
Uddziwi - 2017 - FAGILDE E RAPOSO - MODELO 10 + 3
Uddziwi - 2017 - FAGILDE E RAPOSO - MODELO 10 + 3
Abstract
Mozambique became independent in 1975, with an illiteracy rate of approximately 93%. During this period,
Education was nationalized and made free, resulting in a great educational explosion. As a consequence,
on the one hand, the number of Primary and Secondary students has tripled relatively to the number of
students in the final period of colonialism, and on the other hand, most of the Portuguese teachers have left
the country. It was urgent to train Mozambican teachers for all areas and subsystems of teaching and to
adapt the curricula to the new reality. The curricula were being altered and adapted to the different realities.
In particular for Primary Education, the prevailing curriculum is the 10th grade + 3 model. In this article we
intend to analyze and reflect on the great challenges of this model. The 10th grade + 3 model, the evaluation
report of the Ministry of Education and Human Development, the testimonies of 11 trainee teachers of this
model and a documentary research will be taken into account. The main results of this research are that the
modules need to be improved in terms of contents, as a way of adjusting their volume and the time of
teaching and the discrepancies existing in relation to the curriculum and in relation to the time of their
availability.
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Doutorada em Educação Matemática, Professora Associada, Universidade Pedagógica.
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Mestrada em Desenvolvimento Curricular e Instrucional, Doutoranda em Educação e Currículo, Universidade
Pedagógica.
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1. Introdução
Moçambique tornou-se independente em 1975, com uma taxa de analfabetismo de
aproximadamente 93%. Nesse período a Educação foi nacionalizada e tornada gratuita resultando
numa grande explosão educacional. Como consequência disso, por um lado, o número de
estudantes, do Ensino Primário e do Ensino Secundário, triplicou, relativamente ao número de
estudantes existentes no período final do colonialismo e por outro lado, a maioria dos professores,
portugueses, abandonou o País. Era urgente formar professores moçambicanos para todas as áreas
e subsistemas de ensino e adaptar os currículos à nova realidade (Fagilde, 2007).
Os currículos foram sendo alterados e adaptados as diferentes realidades. Porém, a questão
da qualidade de formação dos professores (FPs), em particular no Ensino Primário constituiu e
constitui um dos problemas recorrentes da falta de consistência dos modelos curriculares de FPs
pós-independência, o que, claramente se traduz na qualidade de ensino.
De acordo com Niquice (2006), os currículos da FPs Primários em Moçambique foram
mudados cerca de 20 vezes, em 36 anos de Independência, o que significa que, cada modelo
curricular perdurou cerca de um ano e meio. Contudo, apesar dos modelos curriculares terem sido
concebidos em função das situações em que se vivia na época, estes originavam algumas questões
de reflexão sobre a adequação dos mesmos, pois os resultados obtidos pelos alunos não
correspondiam às expectativas do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano,
(MINEDH), ex. Ministério da Educação. (INDE, 2010, p.12).
As mudanças curriculares foram pouco duradoiras e sem condições de maturação e, na sua
implementação, pautaram pelas ausências: de um acompanhamento efectivo em termos de
monitoria e apoio metodológico; de uma estrutura coerente de formação inicial e reciclagem dos
professores; e de material didáctico, instalações e equipamento adequados para o processo de
ensino-aprendizagem (PEA) dos alunos. Aliado a estes constrangimentos verificou-se, também,
uma ausência da avaliação do impacto que as constantes mudanças curriculares produziam na
sociedade e uma ausência de acompanhamento e de apoio às escolas, o que condicionou a
existência de diferentes actuações e interpretações das orientações curriculares destes modelos
pelos principais actores do processo educativo (Golias, 1993).
O modelo que actualmente se encontra em vigor é o de 10ª Classe +3, em fase de testagem
desde 2012. Inicialmente este modelo foi introduzido nas instituições de formação de Professores
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a maioria do povo, facto que era contrário à ideologia da educação colonial que abrangia uma
minoria assimilada em detrimento da maioria. Para tal, foram extintas as escolas de FPs do período
colonial e, em sua substituição, foram criados dez Centros de Formação de Professores Primários
(CFPPs), um em cada província, com a missão de formar 3000 professores da 1ª à 5ª classe, por
ano (INDE, 2010, p. 6). Isto, além de responder aos objectivos acima mencionados, permitia um
aumento substancial no número de professores, visando minimizar os problemas da grande falta
de professores que se fazia sentir.
Seguiu-se um período, de 77 a 91, durante o qual foram consolidados os cursos de FPs e
criado o SNE. Nos centros ora criados as condições foram melhoradas, o tempo de formação
aumentado de um para dois anos e o nível de ingresso alterado da 4ª.classe para a 6ª classe. Nessa
época foram sucessivamente criados, o Centro de Formação de Quadros de Educação em Maputo,
visando preparar Instrutores para os CFPPs e Quadros da Educação; as Escolas de Formação e
Educação de Professores (EFEPs), que foram posteriormente substituídas pelos Institutos Médios
Pedagógicos (IMEPs), em Maputo e Beira, para formar professores para o então Ciclo Preparatório
(5ª e 6ª classes); o Instituto Nacional de Formação de Professores de Educação Física de Maputo
(INEF), com o objectivo de formar professores de Educação Física para o ensino Primário e para
o Ensino Secundário. (INDE, 2010, p. 6 & Gómez, 1999, p. 244). Contudo, todas as acções
realizadas, não foram suficientes para solucionar o grande problema da falta de professores,
situação que ainda prevalece no momento presente.
Em 1977, a necessidade de professores para o ciclo preparatório era de tal modo elevada,
que o então Presidente da República de Moçambique, Samora Moisés Machel, tomou a histórica
decisão de encerrar temporariamente as então 10ª e 11ª classes do ensino Secundário Geral, e os
estudantes que se encontravam nesse nível, em número de 600 e originários de todas as províncias,
foram “chamados” a frequentarem cursos propedêuticos de letras e de Ciências e a grande maioria,
a frequentarem cursos de formação acelerada de professores para todas as disciplinas curriculares
do ciclo preparatório. Foram cursos com 9 meses de duração, ministrados na Universidade
Eduardo Mondlane, após os quais os graduados foram colocados nas diferentes escolas de todo o
Pais, como forma de assegurar a educação. Aqui pensamos importante salientar, que uma das
autoras, Sarifa, é parte deste grupo e frequentou o curso para leccionar a disciplina de Matemática.
Os diversos cursos de formação foram decorrendo e respondendo as necessidades do País de
forma diversificada. De acordo com o SNE (1983), a FP caracterizou-se pela ausência de uma
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Como forma de dar resposta ao âmbito dos saberes acima descritos, o INDE (2011), destaca
que o novo modelo de 10ª+3 deverá desenvolver 9 competências, organizadas em 3 domínios:
a. Domínio pessoal e social
1. Promover o espírito patriótico, a cidadania responsável e democrática, os
valores universais e os direitos da criança;
2. Comunicar adequadamente, em vários contextos;
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A análise dos dados baseou-se conforme mencionado anteriormente em três fontes: O plano
curricular do curso de 10ª Classe + 3, o encontro com os 11 estagiários, eticamente designados por
E1, E2, …, E11 e o relatório do MINEDH.
Os 11 professores estagiários consideram que o curso é importante e que lhes proporcionou
uma boa experiência no contacto obtido com os diferentes intervenientes do PEA, o que constituiu
um bom alicerce para uma boa prestação dos mesmos na escola. Como forma de enfatizar o
sentimento dos colegas E10 afirma:
"no terceiro ano… que é o estágio … avançamos bastante… tivemos
oportunidade de participar em todas as actividades do processo de aprendizagem
desde a planificação das aulas, a organização das turmas, reuniões das ZIPs,
reuniões escolares … aprendemos que para o bom funcionamento é preciso muito
trabalho na sala de aula e fora dela".
mudo … nós lá tínhamos aulas teóricas, 7ª classe, para dar Ciências Sociais …
que gesto eu vou fazer para ele … para falar com ele sobre regiões da Europa …
regiões da Europa … que gestos vou fazer para esse aluno para ele saber que
estou a falar do colonialismo … eu estou a falar da emancipação da mulher …
falar da localização geográfica … numa escola que não tem material suficiente
…”.
Os estagiários realçaram também, situações em que o próprio aluno tem ou pode comprar o
material necessário para a leccionação de determinadas aulas, porém, o professor nunca teve
contacto com os materiais e só os visualizou em desenhos. Para essa situação, o grupo sugeriu
aulas práticas e acções concretas para a sua efectivação no terreno.
Outra constatação reportada pelos professores estagiários e pelo relatório do MINEDH
(2014) tem a ver com os atrasos exagerados dos pagamentos dos subsídios para as necessidades
básicas como transporte e alimentação. E7 afirma,
(…) o subsídio para o deslocamento do formando para a escola foi uma grande
dificuldade … ficamos meses sem subsídios”.
Os dados apontam também para uma transição não correcta na passagem dos estagiários, no
processo da rotação pelos diferentes ciclos de aprendizagem. Esta constatação é duplamente
mencionada. Pelos estagiários e pelo relatório do MINEDH, que identificam que na mudança de
um ciclo para outro, os professores estagiários não são devidamente integrados, havendo casos em
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que o trespasse das turmas de um estagiário para o outro foi feito entre eles, sem mediação do tutor
nem do formador acompanhante. Além disso, esta permuta faz com que os alunos, particularmente
os da 6ªclasse, estabeleçam comparações acerca dos estagiários e, em alguns casos, manifestem
preferência pelo estagiário anterior, como por exemplo, aconteceu com os alunos das escolas
primária e secundária SOS, na província de Cabo Delgado e os das escolas de Txolo, Vacha,
Enhenhe (Alto Molócuè).
5. Conclusões e recomendações
Os diferentes modelos de formação de professores foram surgindo em resposta as
necessidades do momento visando sempre, directa ou indirectamente, a melhoria da qualidade de
ensino. O último modelo desenhado em 2012 e ainda em fase de experimentação é o de 10ª + 3,
modelo cujo plano curricular foi bem desenhado e se correctamente implementado, o produto
dessa formação seria de facto, um professor modelo para as aspirações de Moçambique. Um
professor que verdadeiramente contribuiria para uma qualidade de ensino elevada e,
consequentemente para um melhor desenvolvimento do País.
Foi sobre esse último modelo que nos debruçamos e sobre o qual poderemos destacar como
desafios essenciais os seguintes:
i. Melhoria dos módulos de Ciências Naturais e Matemática tendo em conta os erros que
transportam e dado que ainda há disciplinas cujos módulos ainda não existem, tornando-se
urgente que os mesmos sejam produzidos, evitando, assim, que os formadores usem outro
tipo de fontes que eventualmente podem não ser as mais adequados;
ii. Dificuldade de adaptação a monodocência do curso. São várias as disciplinas e não há
meios suficientes para formar um professor capaz de lidar com os vários aspectos das
diferentes disciplinas. Há necessidade de uma maior organização no curso de formação de
modo a fortalecer o formando com vista a ter capacidade de lidar com os aspectos atinentes
a monodocência;
iii. Ausência de recursos materiais e metodológicos para a leccionação dos alunos com
necessidades educativas especiais. Os IFPs devem ser apetrechados de modo a permitir que
o formando saia do curso com capacidade de leccionar aos alunos com necessidades
educativas especiais e que os conteúdos relacionados com este tipo de alunos sejam
devidamente cobertos. Além disso, os IFPs devem ser apetrechados com os materiais a
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Referências
FAGILDE, S. A. M, Communication in the Teaching of Mathematics in Mozambique, Ramco
Printing Press, Nairobi, Kenya, 2007.
GOLIAS, M. Sistema de Ensino em Moçambique: passado e Presente”. Maputo, Editora Escolar,
1993.
GÓMEZ, M.B. Educação Moçambicana - História de um processo: 1962-1984. Livraria
Universitária, Maputo, Moçambique, 1999.
INDE. Relatório da Monitoria 2009. “Leitura e Escrita Iniciais”, 2010.
INDE/MINED. Plano Curricular do Curso de Formação de Professores do Ensino Primário,
Maputo, 2011.
MAZULA, B. Educação, Cultura e ideologia em Moçambique: 1975-1985. Edições Afrontamento
e Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, 1995.
MINEDH. Relatório de avaliação do novo modelo de formação de professores (10ª+3). Maputo,
2014.
NIQUICE. A. “Formação de Professores Primários – Construção do Currículo”, Texto Editores,
Maputo, 2006.
Legislação
Lei. Nº 4/83de SNE de 23 de Março 1983.
Lei. Nº 6/92de SNE de 6 de Maio1992.
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Linhas Gerais e Lei Nº 4/83, 19