Resp 2.037.088
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EMENTA
ACÓRDÃO
EMENTA
RELATÓRIO
Cuida-se de recurso especial interposto por interposto por Ernst & Young
Auditores Independentes S.S., com fundamento nas alíneas a e c do permissivo
constitucional, em contrariedade a acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo.
(i) viola os arts. 489, § 1°, III, IV e VI, e 1.022, II e parágrafo único, I, do CPC,
pois mesmo após a oposição de Embargos de Declaração, não se
pronunciou acerca da aplicação do art. 1.015, I e VI, do CPC à espécie, bem
como do Tema Repetitivo 988, que são temas essenciais para o deslinde da
pretensão recursal de EY AUDITORES;
(ii) viola os arts. 382, § 4º, 927 e 1.015, I e VI, do CPC, uma vez que (ii. a) a
r. Decisão Agravada Liminar e a pretensão de Auge Investments se referem
apenas à exibição de documentos (hipótese do inciso VI), (ii. b) a r. Decisão
Agravada Liminar possui natureza de tutela provisória de caráter satisfativo
(hipótese do inciso I) e (ii. c) há urgência na apreciação da questão em razão
da inutilidade de seu exame posterior (Tema Repetitivo nº 988, relativo à
natureza do rol do art. 1.015); e
(iii) cria dissídio jurisprudencial ao conferir interpretação diversa de outros
Tribunais ao art. 382, § 4º, do CPC e ao deixar de aplicar à espécie o art.
1.015, VI, do CPC.
É o relatório.
VOTO
Vistos.
A produção antecipada da prova só pode ser admitida nos casos em que
houver fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a
verificação de certos fatos na pendência da ação; que a prova a ser
produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio
adequado de solução de conflito; ou, ainda, que o prévio conhecimento dos
fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação, tudo nos termos do art.
381 do CPC.
No caso dos autos, a exibição da documentação requerida pode viabilizar a
autocomposição ou mesmo evitar o ajuizamento de futura ação, razão pela
qual defiro a medida, determinando sejam exibidos pela ré os seguintes
documentos, no prazo de 30 (trinta) dias úteis:
[...]
Cite(m)-se os interessados, os quais deverão ser cientificados de que,
nos termos do art. 382, § 4° do CPC, neste procedimento não se
admitirá defesa ou recurso, salvo contra decisão que indeferir
totalmente a produção da prova pleiteada pelo requerente originário.
No último caso, além das situações que revelem urgência e risco à prova, a
pretensão posta na ação probatória autônoma pode, eventualmente, se exaurir na
produção antecipada de determinada prova (meio de produção de prova) ou na
apresentação/exibição de determinado documento ou coisa (meio de prova ou meio de
obtenção de prova – caráter híbrido), a permitir que a parte demandante, diante da
prova produzida ou do documento ou coisa apresentada, avalie sobre a existência de
um direito passível de tutela e, segundo um juízo de conveniência, promova ou não a
correlata ação.
[...]
De todo modo, sendo a jurisdição atividade vocacionada à solução
imperativa de conflitos, cumpre [...] destacar especificamente onde está o
conflito no procedimento da produção antecipada da prova.
Sobre o tema, recorde-se que a natureza autônoma do direito à prova,
naturalmente, não o torna absoluto. Ao contrário: se a produção de
determinadas provas pode acarretar relevante restrição a valores
tutelados pelo ordenamento jurídico como o sigilo, a privacidade e
outros, é natural que o exercício de tal direito deva ser compreendido
dentro de certos limites. E esses limites deverão ser determinados a
partir da ligação que a prova cuja produção se requereu possui com a
situação de direito material subjacente.
As discussões, pois, que gravitam em torno do direito (ou não) à
produção de tal ou qual prova, conduzem à conclusão de que as ações
probatórias autônomas tratam de efetivos conflitos estabelecidos em
torno da própria prova, cujo direito à produção é o que constitui a
própria causa de pedir deduzida; e que, portanto, materializam real ou
potencial oneração ou restrição à esfera jurídica do demandado (tal
como acima se exemplificou com o sigilo e a privacidade). Dado que o
exercício do direito à prova, autônomo que é, onera as partes e gera efeitos
substanciais (e que atuam, inclusive, sobre mora, interrupção da prescrição
etc.), forçoso é concluir pela fragilidade do argumento que ora rebatemos;
ressalvado, naturalmente, respeito à convicção diversa.
[...] (Produção Antecipada de Prova Desvinculada da Urgência na
Arbitragem: Réquiem? YARSHELL, Flávio Luiz; PEREIRA, Guilherme
Setoguti (Coordenadores). in Processo Societário IV. São Paulo: Quartier
Latin, 2021, p. 455-472)
Esse, todavia, não foi o fundamento adotado pelo Tribunal de origem para
não conhecer do agravo de instrumento. Compreendeu-se, como visto, pelo absoluto
descabimento do exercício do contraditório (no caso, inclusive, por meio de recurso),
nos exatos termos decididos pelo Juízo a quo.
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ONOFRE DE FARIA MARTINS
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ERNST & YOUNG AUDITORES INDEPENDENTES S/S
ADVOGADOS : DIÓGENES MENDES GONÇALVES NETO - SP139120
GIANVITO ARDITO - SP305319
ISABELLA NOVAIS DIAS - SP452735
RECORRIDO : AUGE INVESTMENTS LTD
ADVOGADO : RICARDO BOTOS DA SILVA NEVES - SP143373
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Material
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. GIANVITO ARDITO, pela parte RECORRENTE: ERNST & YOUNG AUDITORES
INDEPENDENTES S/S
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino e
Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.