Agravo de Instrumento

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) DESEMBARGADOR(A) DO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

Processo nº: 1319711-88.2021.8.13.0183

Agravante: FUNDAÇÃO ROTERDAN

Agravados: BERNARDO SHEPHERD, DÉCIO SHEPHERD E ZOE SHEPHERD

FUNDAÇÃO ROTERDAN, já devidamente qualificada nos autos do processo, vem,


respeitosamente por meio de sua advogada infra-assinada, com fulcro no art. 1.015 e
seguintes do CPC, interpor:

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO


SUSPENSIVO

Em face da decisão de fls. 62, que deferiu o pedido de tutela de evidencia pleiteado
em ação cível e trabalhista, ajuizada em face da Fundação Roterdan.

I - DO PREPARO

A Agravante juntou a guia de pagamento do preparo recursal, com base na tabela de


custas deste Tribunal, nos termos dos artigos 1.007, caput e art. 1.017, § 1º, ambos do CPC.
II – DA TEMPESTIVIDADE E DO CABIMENTO

O presente agravo de instrumento foi protocolado dentro do prazo de 15 dias úteis,


iniciando-se a contagem do dia que foi intimado, nos moldes do art. 1.003, do CPC, assim, é
tempestivo o recurso.

Ainda, é previsto no art. 1.015, XI do CPC, o cabimento de interposição de recurso


de agravo de instrumento contra decisão interlocutória referente a tutela provisória
fundamentada no art. 1.015, § 1º do CPC.

III - NOME E ENDEREÇO DOS PROCURADORES DAS PARTES (ART. 1.016, IV


DO CPC)

Advogado da agravante:

Josephine Wilson, OAB/MG 654.321.879, endereço profissional: Av. Três, nº 360, centro, em
Belo Horizonte/MG. Endereço eletrônico: [email protected].

Advogados dos agravados:

Amélia Shepherd, OAB/MG nº 123.456.789, endereço profissional: Rua Dois, nº 04, 8º andar,
em Belo Horizonte/MG. Endereço eletrônico: [email protected].

Cristiana Iangue OAB/MG nº 987.654.321, endereço profissional: Rua Dois, nº 04, 8º andar,
em Belo Horizonte/MG. Endereço eletrônico: [email protected].
IV – DA JUNTADA DAS PEÇAS NECESSÁRIAS (ART. 1.017 DO CPC)

Tendo em vista que se trata de autos eletrônicos, deixo de juntar os documentos do


art. 1.017, I e II, do CPC com base no disposto pelo parágrafo 5º do mesmo artigo, devido ao
fácil acesso aos sequencias principais e por ser facultativo em acrescentar arquivos que julgue
relevante.

Posto isso, pugna-se pelo recebimento do presente recurso e o julgamento pelo


Egrégio Tribunal de Justiça, com devida intimação da Agravada para oferecer contrarrazões,
no prazo de 15 dias, conforme art. 1.019, II do CPC.

Nesses termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 10 de março de 2021.

Josephine Wilson
______________________________________________________
OAB/MG 654.321.879
RAZÕES RECURSAIS

Processo nº: 1319711-88.2021.8.13.0183

Agravante: FUNDAÇÃO ROTERDAN

Agravados: BERNARDO SHEPHERD, DÉCIO SHEPHERD E ZOE SHEPHERD

Origem: 7º VARA CÍVEL DA COMARCA DE CONSELHEIRO LAFAIETE – MINAS


GERAIS

Eméritos Julgadores

Colenda Câmara

DAS RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

A respeitável decisão interlocutória do juízo a quo, merece ser reformada, uma vez
que a decisão deferiu o pedido de tutela de evidencia sem o preenchimento de nenhuma das
hipóteses de cabimento.

I - RESUMO DOS FATOS

Em agosto de 2020, o segundo agravado, disposto a auxiliar na busca de soluções


para a extirpação da COVID-19, se propôs a participar da pesquisa realizada pela agravante, a
Fundação Roterdan, patrocinada e controlada pelo Ministério da Saúde. A referida pesquisa
foi realizada para verificar se a vacina experimental desenvolvida ajudaria na prevenção ou na
diminuição dos efeitos provocados pelo coronavírus e, ainda, conhecer possíveis efeitos
adversos da vacina experimental. Tendo-se em vista que a pesquisa está diretamente
relacionada à saúde dos participantes, para sua realização era necessário informar à Fundação
uma série de dados a respeito da saúde dos voluntários.

Diante da necessidade de preenchimento do questionário, Décio, com honestidade e


mantendo a lisura do procedimento, no dia 22/08/2020, informou que é portador do vírus
HIV, destacando, porém, que faz tratamento regular e, portanto, mantém sua carga viral
controlada. 17. O preenchimento do questionário ocorreu em ambiente digital, pelo aplicativo
“Conexão MS”, Décio passou a utilizar o aplicativo com frequência até que o site ficou
indisponível.

No dia 11/02/2021, ocorreu um grande vazamento de dados supostamente obtidos na


pesquisa e hospedados pelo Ministério da Saúde, as informações preenchidas pelo autor foram
vazadas e, dentre os dados divulgados, estava s menção ao fato de que Décio Shepherd é
portador do vírus HIV. 19.

A notícia foi divulgada em outros portais de notícia e de modo praticamente


instantâneo os moradores da cidade tiveram ciência desse fato tão íntimo relacionado ao
médico. . A notícia também circulou em diversos grupos de Whatsapp, o que, evidentemente,
fez com que dados sensíveis de Décio fossem divulgados de modo descontrolado e perigoso.
Diante desse cenário, não somente Décio foi constantemente ofendido, como também o foram
sua esposa e seus filhos, Zoe e Bernardo Shepherd, os outros dois agravados.

Trata-se de ação cível e trabalhista pleiteando a reparação por danos morais e


materiais em vista do suposto vazamento de dados pessoais, requerendo como tutela de
evidencia que a agravante retire os dados pessoais do primeiro autor cadastrados no aplicativo
“Conexão MS” no prazo máximo de três dias, sob pena de multa diária e que seja determinada
a expedição de ofício à EMBRATEL, ANATEL, bem como a todas as operadoras de telefonia
celular, a fim de que providenciem a suspensão do serviço do aplicativo Whatsapp até que a
ordem judicial de eliminação dos dados pessoais do primeiro autor seja efetivamente
cumprida pelas rés, requerendo ainda que seja determinado às rés a realização de campanha,
em no máximo uma semana, para desmistificar as ideias equivocadas disseminadas
socialmente sobre o vírus HIV no município de Conselheiro Lafaiete, especialmente no
Hospital Municipal Queluz e no condomínio de residência dos autores, sob pena de multa
diária.

II – DO DIREITO E DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

O Código de Processo Civil, em seu art. 311, versa sobre aplicação da tutela de
evidência, vejamos:

Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de


perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da


parte;

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese


firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato


de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa;

IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do
direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente.
Diante das hipóteses elencadas acima, fica evidente que o pedido do agravado não se
enquadra em nenhuma, a parte agravante não apresentou contestação ainda, não podendo se
elencar no inciso I, já que o mesmo sequer apresentou uma defesa. Por se mostrar muito
difícil uma demanda judicial onde a comprovação documental é tamanha que não se abre
possibilidade para discutir o direito da parte. Deve ocorrer a reforma da decisão interlocutória
que concedeu a tutela provisória.

A tutela de evidência, por não ser considerada uma tutela urgente, tende a ser a mão
ser deferida na petição inicial por necessidade de formação do contraditório pela parte ré do
processo, como apontam os agravos de instrumento nº 2052376-02.2018.8.26.0000 e
2045221-45.2018.8.26.0000, ambos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Assim, este é o entendimento jurisprudencial:

(TJSP, Agravo de Instrumento n. 2052376-02.2018.8.26.0000, Rel. Gomes Varjão, 34ª


Câmara de Direito Privado, j. 28/3/2018, grifou-se)

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.


PERDAS E DANOS - PEDIDO DE CONCESSÃO DE TUTELA DE EVIDÊNCIA -
INDEFERIMENTO - NECESSIDADE DA FORMAÇÃO DO CONTRADITÓRIO, NOS
TERMOS DO INCISO IV DO ARTIGO 311 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL -
DEFERIMENTO DA REFERIDA TUTELA QUE PODERÁ SER REANALISADA APÓS
A CONTESTAÇÃO - DECISÃO MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO.

(...)

O agravante pleiteia o deferimento da tutela de evidência com base no inciso IV do


artigo 311 do Código do Processo Civil (fls. 15).

Pois bem.
Ressalta-se que a tutela de evidência será concedida com fundamento no art. 311 do
CPC, sendo que, nos termos do inciso IV, quando “a petição inicial for instruída com prova
documental suficientes dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha
prova capaz de gerar dúvida razoável” (grifos nossos).

Assim, o referido dispositivo exige expressamente a necessidade da formação do


contraditório, de modo que se deve aguardar a resposta do Banco agravado para que seja
apreciada a pretensão do agravante. (..)"

III - DA ATRIBUIÇÃO DO EFEITO SUSPENSIVO

No caso exposto, o magistrado de primeiro grau realizou o deferimento de tutela


provisória, na qual determina que o agravante deve retirar os dados pessoais do primeiro autor
cadastrados no aplicativo “Conexão MS” no prazo máximo de três dias, sob pena de multa
diária e que seja determinada a expedição de ofício à EMBRATEL, ANATEL, bem como a
todas as operadoras de telefonia celular, a fim de que providenciem a suspensão do serviço do
aplicativo Whatsapp até que a ordem judicial de eliminação dos dados pessoais do primeiro
autor seja efetivamente cumprida pelas rés, requerendo ainda que seja determinado às rés a
realização de campanha, em no máximo uma semana, para desmistificar as ideias equivocadas
disseminadas socialmente sobre o vírus HIV no município de Conselheiro Lafaiete,
especialmente no Hospital Municipal Queluz e no condomínio de residência dos autores, sob
pena de multa diária.

Portanto, com base no art. 1.019, I do CPC, é possível o pleito de efeito suspensivo:

Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não


for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou
parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;

Ainda, anuncia que não há matéria do presente recurso relacionado aos incisos III e IV do art.
932, do CPC. Assim, é cabível a aplicação do inciso I do artigo citado, a fim de aplicar o
efeito suspensivo.

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão
judicial em sentido diverso.

Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se
da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível
reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.

O agravante sofre com o risco de dano de difícil reparação, já que o mesmo não é o
responsável pelo aplicativo Conexão MS, aplicativo esse que ainda se encontra indisponível
para acesso, o que dificultará que o agravante cumpra o que foi estabelecido em tutela
provisória, o descumprimento lhe gerará multa, valor esse que provavelmente não lhe será
reembolsado, assim como aquele que o agravante terá que gastar para promover as campanhas
requeridas no curto prazo de uma semana.

IV – DOS PEDIDOS

a) A reforma da decisão interlocutória que deu deferimento ao pedido de tutela de evidencia;

b) A concessão pelo relator, na forma do art. 1.109, inciso I, do CPC, a concessão do efeito
suspensivo, considerando a presença do periculum in mora e o fumus boni iuris, para que
suspenda os autos principais até o julgamento do presente recurso;
c) Intimação da Agravada para, querendo, apresentar resposta em 15 dias (seq. art. 1.019, II
do CPC);

d) O conhecimento do presente recurso e acolhimento dos pedidos, com consequência


reforma da decisão agravada, tendo em vista que é contrária ao art. 311 do CPC;

e) Requer, por fim, a dispensa de juntada dos documentos, nos termos do art. 1.017, § 5º do
CPC.

Nesses termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 10 de março de 2021.

Josephine Wilson
______________________________________________________
OAB/MG 654.321.879

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