O Fiel Da Balança
O Fiel Da Balança
O Fiel Da Balança
Resumo
Nesse artigo pretende-se demonstrar que o Parlamento foi uma peça central para os
desdobramentos políticos no Pará após o golpe que depôs o visconde de Goiana da
presidência da província, em agosto de 1831. Será destacada também a atuação dos
representantes paraenses em torno dessa questão, na Câmara e no Senado, defendendo
as óticas das partes envolvidas, propondo punições ou anistias.
Palavras-chave
Pará • representação política • Império do Brasil.
Correspondência
Universidade Federal de São Paulo – Campus Guarulhos
Estrada do Caminho Velho, 333
Guarulhos – São Paulo – Brasil
CEP 07252-312
E-mail: [email protected]
Abstract
In this article I intend to demonstrate that the Parliament had an important role in the
political development in Pará after of the coup d´état which deposed visconde de Goiana
as president of the province, on August 1831. In this article it will be accentuated the
performance of the elected representatives by Pará about this question in Camera and
in Senate, defending the point of view of the involved parts, proposing punishments
or amnesties.
Keywords
Pará • political representation • Empire of Brazil
Contact
Universidade Federal de São Paulo – Campus Guarulhos.
Estrada do Caminho Velho, 333
Guarulhos – São Paulo – São Paulo – Brazil
CEP 07252-312
E-mail: [email protected]
1
Como se verá, a palavra “partido” era usualmente utilizada pelos próprios personagens destes
eventos para designar os grupos políticos do Pará.
2
Uma boa narrativa desses eventos, com a transcrição de vários documentos, pode ser encontrada
em RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos ou história dos principais acontecimentos po-
líticos da província do Pará desde o ano de 1821 até 1835. Belém: UFPA, 1970, p. 213-231.
3
MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real das sociedades: a crise política do
Antigo Regime português na província do Grão-Pará (1821-25). São Paulo: Hucitec/Fapesp,
especialmente a parte II.
4
MACHADO, André Roberto de A. Redesenhando caminhos: o papel dos representantes do Grão-Pará
na primeira legislatura do Império do Brasil (1826-29). Almanack Braziliense. São Paulo, n. 10, 2009.
5
De certa forma, ao analisar petições e representações, Vantuil Pereira demonstrou que essa ima-
gem do Parlamento era compartilhada em todo Império. Além dos seus atributos políticos, talvez
contribuísse para isso o fato do Parlamento apreciar nessa época matérias que hoje pertencem
ao Judiciário. Ver PEREIRA, Vantuil. Ao soberano Congresso: petições, requerimentos, repre-
sentações e queixas à Câmara dos Deputados e ao Senado. Os direitos do cidadão na formação
do Estado imperial brasileiro (1822-31). Tese de doutorado. Niterói: UFF, 2008, p. 213-305.
Enquadramentos
O golpe que depôs o visconde de Goiana da presidência do Pará está entre
os episódios mais revisitados entre os historiadores que se debruçaram sobre as
décadas de 1820 e 1830 na província, sobretudo aqueles que estavam ocupados
com a Cabanagem. Isso se deve, sobretudo, à força interpretativa que ainda goza
o livro Motins políticos, escrito por Domingos Antonio Raiol na segunda metade
do XIX.6 A crítica feroz à obra de Raiol, acusada impiedosamente de conserva-
dora, acompanha praticamente todas as tentativas dos jovens historiadores de
erguer novos estudos sobre a Cabanagem. As críticas, no entanto, poucas vezes
conseguiram superar algumas matrizes estabelecidas por Raiol que enquadram
nosso entendimento sobre essas décadas.7
Uma dessas matrizes é a cronologia estabelecida no Motins políticos. Prova da
grande inventividade e do talento incomum como historiador dentro dos cânones
do XIX, Raiol viu uma unidade no período que vai da adesão do Pará às Cortes de
Lisboa, em 1821, até a repressão da Cabanagem, em 1840. Ao contrário da quase
totalidade dos historiadores de outras províncias que relegaram as ditas “revoltas
regenciais” a um espasmo de violência, Raiol destacou o conflito como a marca
do constitucionalismo, da independência e dos anos iniciais do Império no Pará.
6
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit. Para uma crítica à obra de Raiol e um balanço
da historiografia da Cabanagem, veja de RICCI, Magda. Do sentido aos significados da Cabana-
gem: percursos historiográficos. Anais do Arquivo Público do Pará. Belém: s.i., 2001; PINHEIRO,
Luís Balkar Sá Peixoto. Nos subterrâneos da revolta: trajetórias, lutas e tensões na Cabanagem.
Tese de doutorado. São Paulo: PUC, 1998, cap. 1; LIMA, Leandro Mahalem de. Rios vermelhos:
Perspectivas e posições de sujeito em torno da noção de Cabano na Amazônia em meados de
1835. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 2008, cap. 1. Disponível em www.teses.usp.br.
7
Entre as análises que tiveram relativo sucesso em explorar a Cabanagem sob novos focos, podem
ser citados de LIMA, Ana Renata do Rosário de. Revoltas camponesas no vale do Acará. Disser-
tação de mestrado. Pará (1822-40). Belém: UFPA/Naea, 2002; e de RICCI, Magda. Um morto,
muitas mortes. A imolação de Lobo de Souza e as narrativas da eclosão cabana. In: NEVES,
Fernando Arthur de Freitas; LIMA, Maria Roseane Pinto (org.). Faces da história da Amazônia.
Belém: Pakatatu, 2006, p. 519-544.
Se esta cronologia estabelecida por Raiol lhe deu o grande mérito de ter supe-
rado o círculo de giz dos historiadores coevos, que construíram a mítica narrativa
do Império como um tempo de paz pontuado por conflitos isolados, por outro
lado, criou uma camisa de força para muitos dos seus sucessores que passaram a
ver os episódios no Pará, entre as décadas de 1820 e 1830, como alvo de interesse
apenas na medida em que eram “causas” da Cabanagem. É sob esta ótica que
está consagrada a análise do golpe de 1831 que depôs o visconde de Goiana da
presidência do Pará: de forma bastante simplificada, ela seria um ponto de acir-
ramento nas disputas que começaram no período da independência entre o grupo
político liderado por Batista Campos, acusado por seus opositores de defender
ideias radicais e incitar as ditas “classes ínfimas”, e facções conservadoras que
chegam a 1831 tendo como seu mais destacado líder Marcos Antonio Rodrigues
Martins, personagem que nos anos anteriores estava do outro lado contenda.
Como se verá, os golpistas justificaram a ação extrema, através da imprensa e de
cartas à Corte, sob a alegação de que o visconde de Goiana favorecia o partido
do cônego Campos e a anarquia, versão que o presidente deposto sempre negou,
acrescentando a acusação de que seus algozes seriam restauradores. Abaixo,
essas óticas serão confrontadas e problematizadas, mas agora o importante é
ressaltar que a deposição de Goiana é um episódio crucial para o entendimento
da Cabanagem dentro da interpretação consagrada por Raiol, já que para ele este
conflito era fundamentalmente resultado da acumulação de disputas internas da
província desde 1821, tendo pouca relevância a política fora das fronteiras do
Pará. Resume bem a permanência dessa tese, a análise final que Pasquale Di
Paolo faria do golpe de 1831, escrevendo cem anos depois de Raiol: para ele,
“a revolução dos homens vindos das cabanas não surgiu improvisadamente:
alimentava-se do arbítrio praticado, sem trégua, por parte do grupo dominante”.8
No entanto, é outro o enquadramento que este artigo propõe. O que se
deseja compreender é qual a relação entre a política na Corte e as disputas na
província, trazendo para o primeiro plano da análise o sistema representativo.
Como adiantado na introdução, a deposição do visconde de Goiana e, sobretu-
do, os desdobramentos deste ato são revisitados aqui porque demonstram que,
para a sobrevivência dos grupos políticos paraenses, era importante garantir
alguma influência no Parlamento, já que decisões tomadas ali desequilibravam
a correlação de forças locais. Da mesma forma, os paraenses estavam inse-
8
PAOLO, Pasquale di. Cabanagem: a revolução popular da Amazônia. 2ª edição, Belém: Cejup, 1986,
p. 126. Entre outros autores, esta ótica também pode ser encontrada no popular livro de Julio Chiave-
nato. Veja CHIAVENATO, Julio José. Cabanagem, o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984.
9
Sobre essa questão, para a independência, veja de MACHADO, André Roberto de A. A quebra
da mola real das sociedades, op. cit., cap. 3.
10
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1831. Rio de Janeiro:
Tipografia de H. J. Pinto, 1878. [APB (1831)], em 20 de maio.
11
APB (1831), em 20 de junho e 12 de outubro.
12
COSTA, Emília Viotti da. Liberalismo: teoria e prática. In: Idem. Da monarquia à república:
momentos decisivos. 7ª edição. São Paulo: Unesp, 1999, p. 149-150.
13
FONSECA, Silvia. Federação e república na imprensa baiana (1831-36). In: LESSA, Mônica L.;
FONSECA, Silvia C. P. de B. Entre a monarquia e a república: imprensa, pensamento político
e historiografia (1822-89). Rio de Janeiro: Eduerj, 2008. A edição citada é de 1834.
14
MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real das sociedades, op. cit., cap. 2. COE-
LHO, Geraldo Mártires. Onde fica a Corte do senhor imperador? In: JANCSÓ, István (org.). Brasil:
formação do Estado e da nação. São Paulo – Ijuí: Hucitec/Fapesp/Unijui, 2003. Sobre a dúvida da
integração do Pará e Maranhão no Império do Brasil durante a constituinte de 1823, veja de RO-
DRIGUES, José Honório. A Assembleia Constituinte de 1823. Petrópolis: Vozes, 1974, p. 113-117.
15
SILVA, Ignácio Accioli de Cerqueira e. Corografia paraense ou descrição física, histórica e política
da província do Grão-Pará. Salvador: Typografia do Diário, 1833, p 154. A tabela completa também
está transcrita em PINHEIRO, Luís Balkar Sá Peixoto. Nos subterrâneos da revolta, op. cit., p. 180.
16
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1830. Rio de Janeiro:
Tipografia de H. J. Pinto, 1878. [APB (1830)], em 8 de julho.
17
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro [IHGB] – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edi-
ção de 12 de janeiro de 1833; IHGB – PER 33.20 – O Paraguassu. Edição de 1 de março de 1833.
Além de reunir a coleção de jornais paraenses hoje sob a guarda do IHGB, Manuel Barata também
fez uma lista em que identificava quem eram os editores dos periódicos, algo nem sempre tão claro.
Veja de Barata, Manuel. Formação histórica do Pará. Belém: UFPA, 1973. Em junho de 1831,
circulou um impresso, que Manuel Barata creditava a Batista Campos, que também listava os jornais
existentes no Pará e os seus editores. IHGB – 115,6,17 – Carta aos cidadãos paraenses, verdadeiros
independentes, amigos da liberdade, residentes nesta cidade e no interior da província. Carta n. 02.
18
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 15 de dezembro de 1832.
19
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 4 de fevereiro de 1833; IHGB –
1,3,12 - Apontamentos relativos aos acontecimentos do Pará, de 1831 a 1836, que lhe oferece
o seu amigo, o general José Maria da Silva Bittencourt (Cópia feita para Manuel Barata de
documento da seção de manuscritos da Biblioteca Nacional – RJ).
20
IHGB – 1,3,12 - Apontamentos relativos aos acontecimentos do Pará, de 1831 a 1836, que lhe
oferece o seu amigo, o general José Maria da Silva Bittencourt. O ressentimento em relação
àqueles que considera como “liberais” percorre todo o texto. Bittencourt considerava que sua
nomeação para o cargo em uma província tão distante era uma espécie de punição ou prevenção
daqueles que o consideravam muito ligado ao ex-imperador, especialmente depois dele ter se
negado a retirar suas condecorações dadas pelo governo anterior.
21
Ata do Conselho Presidencial de 7 de agosto de 1831, transcrita em RAIOL, Domingos Antonio.
Motins políticos, op. cit., p. 215-216.
22
IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Suplemento n. 18 (sem data) e edição de 24 de agosto de 1831.
O Povo e a Tropa do Pará oferece a todas as demais províncias do Império este enérgico exem-
plo do seu esforço e espera que elas o saberão imitar quando algum de seus (ilegível) man-
dões ousar aliar-se com inimigos da Liberdade e de sua paz intestina. O Direito Natural que
escudou os fluminenses em 7 de abril é o mesmo que defendeu os paraenses em 7 de agosto.23
23
IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Edição de 24 de agosto de 1831. A ortografia foi atualizada.
24
Carta de Marcelino José Cardoso ao ministro dos Negócios do Império, em 9 de setembro de
1831. Transcrito em RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 232-234. Além
dos documentos já citados, outros impressos circularam posteriormente com a mesma linha
argumentativa. Sobre isso, veja de LIMA, Leandro Mahalem de. Rios vermelhos, op. cit., cap. 3.
25
IHGB – 1,3,12 – Apontamentos relativos aos acontecimentos do Pará, de 1831 a 1836, que lhe
oferece o seu amigo, o general José Maria da Silva Bittencourt. A partidarização dos paraenses
foi impulsionada, no começo da década de 1830, pela criação de sociedades políticas, fenômeno
que estava espalhado em todo o Império. Para o impacto disso no Pará e a utilização dos jornais
como veículos dessas sociedades, veja de SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem. Belém:
Cejup, 1992, p. 46-83. Sobre a proliferação de sociedades políticas no Império no começo da
década de 1830, veja de VERNET, Augustin. Sociedades políticas da província de São Paulo
na primeira metade do período regencial. Tese de doutorado. São Paulo: USP, 1975.
adiante que essa linha argumentativa teve impacto no Rio de Janeiro, sendo que
mais de uma vez membros do Ministério e do Parlamento manifestaram sua pre-
ocupação em preservar os “homens de consideração” do Pará, mesmo que estes
estivessem envolvidos na deposição de um presidente. Por sua vez, também será
demonstrado que esta postura serviu para que jornais alinhados a Batista Campos
acusassem o Parlamento e o Ministério de não garantir a aplicação igual para
todos da lei, independentemente da posição social e da simpatia política.
Se o quadro pintado ao Ministério era o da “salvação da ordem” graças ao
7 de agosto, na província, a propaganda era ainda mais alarmista. No dia 25 de
agosto, o presidente Marcelino Cardoso distribuía uma proclamação em que, além
de negar que uma facção portuguesa tivesse assumido o poder, ainda acusava seus
adversários de incentivarem a guerra civil e a revolução que eram responsáveis,
segundo a proclamação, pela miséria, a fome e o “nada político” que afligia a
América espanhola.26 Além disso, apesar de estar apenas sugerida na carta de Mar-
celino Cardoso ao Ministério, nas folhas que correram na província para justificar
a Agostada, um dos principais pontos era a acusação de que Batista Campos era
uma ameaça para a manutenção da escravidão africana, apesar de documentos
e da bibliografia especializada demonstrarem fartamente que Batista Campos
estava longe de ser um abolicionista.27 No jornal A Opinião, dizia-se que “quatro
ou cinco negros libertos foram iniciados em um mistério que tendia nada menos
que a perfeita dissolução da ordem social no Brasil; e estes negros foram cridos
apóstolos para catequizar seus irmãos cativos”.28 Apesar da escravidão negra no
Pará ter tido menor importância se comparada a outras províncias do Império,
ela estava altamente concentrada: 60% dos cativos de origem africana viviam
nas regiões de Belém e de Cametá, estimando-se que só a capital da província
contasse com mais de cinco mil escravos.29 Apesar da província depender em
maior escala do trabalho compulsório de indígenas, como se verá adiante, esse
contingente de escravos africanos altamente concentrado em algumas regiões era
26
IHGB – 105, 6, 23 – Coleção de proclamações, atas e outros impressos políticos relativos ao
Pará entre 1827 e 1837. (Doc. 5 – Proclamação do presidente Marcelino José Cardoso em 25 de
agosto de 1831).
27
Veja, entre outros, SILVA, João Nei Eduardo. Batista Campos: uma discussão biográfica na
historiografia paraense. In: BEZERRA NETO, José Maia; GUSMÁN, Décio de Alencar (org.).
Terra matura: Historiografia & história social na Amazônia. Belém: Paka-tatu, 2002, p. 139-149.
28
IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Suplemento n. 18 (sem data).
29
Um debate sobre esta questão está em MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real
das sociedades, op. cit., cap. 2. Com outra perspectiva, sobre a escravidão negra no Pará, veja de
BEZERRA NETO, José Maia. Escravidão negra no Grão-Pará (séculos XVIII-XIX). Belém: Paka-
tatu, s.d.; e de SALLES, Vicente. O negro no Pará, sob o regime da escravidão. Belém: UFPA, 1971.
30
SOUZA FILHO, Argemiro Ribeiro de. Confrontos políticos e redes de sociabilidade: da crise do
Antigo Regime à formação do Estado Nacional – Bahia. Relatório de Qualificação do doutorado.
São Paulo: USP, 2009, p. 104-105. Thomas Flory mostra que o medo de uma rebelião negra foi
constantemente usado contra os liberais e as propostas de reforma. FLORY, Thomas. El juez de
paz y el jurado em el Brasil imperial: control social y estabilidade política en el nuevo estado.
México: Fondo de Cultura Economica, 1986, cap. 2.
31
Manifesto do visconde de Goiana no jornal Farol Maranhense de 25 de outubro de 1831, transcrito
em RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 228-231.
32
CHIAVENATO, Julio José. Cabanagem, o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 46-
47. Também se apoiando em Raiol, Pasquale Di Paolo atribui à disputa pelos índios a principal
causa da Agostada. Veja PAOLO, Pasquale di. Cabanagem: a revolução popular na Amazônia.
Belém: Cejup, 1986, cap. 3.
33
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 12 de janeiro de 1833.
34
Apenas em 1845 será aprovada uma legislação indigenista abarcando todo o Império do Brasil,
o decreto 426 – “Regulamento acerca das missões de catequese e civilização dos índios”. Essa
questão deu margem para a famosa tese de Manuela Carneiro da Cunha, de que teria havido nesse
período um “vácuo legislativo” sobre a questão indígena. Veja de CUNHA, Manuela Carneiro da
(org.). Legislação indigenista no século XIX: uma compilação (1808-1889). São Paulo: Edusp
/ Comissão Pró-Índio de São Paulo, 1992. Contudo, na mesma direção que propõe esse artigo,
vários historiadores têm mostrado que, a despeito da inexistência de uma legislação geral, a
questão indígena sofreu mudanças ou manteve a orientação do período colonial por conta de
políticas e legislações provinciais. Sobre isso veja de SPOSITO, Fernanda. Nem cidadãos, nem
brasileiros: indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e conflitos na província de
São Paulo (1822-1845). Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 2006. Disponível em: www.
usp.teses.br; de MONTEIRO, John. Entre o gabinete e o sertão: projetos civilizatórios, inclusão
e exclusão dos índios no Brasil Imperial. In: Idem. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de
história indígena e indigenismo. Tese de livre docência. Campinas: Unicamp, 2001; e de SAM-
PAIO, Patrícia Melo. Política indigenista no Brasil imperial. In: GRINBERG, Keila; SALLES,
Ricardo. História do Brasil imperial. 3 volumes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
35
Patrícia Sampaio lembra que, ao contrário do Diretório, a aplicação da lei de 1798 ficou restrita
ao Pará. Essa pesquisa também encontrou evidências nessa direção, como discussões no Parla-
mento a respeito do funcionamento do sistema do Diretório nas províncias. Veja de SAMPAIO,
Patrícia Maria de Melo. Espelhos partidos: etnia, legislação e desigualdade na colônia. Sertões
do Pará, 1755-1823. Tese de doutorado. Niterói: UFF, 2001, introdução.
36
Dependendo do grau de incorporação ao mundo dos brancos, além de tapuios, esses indígenas
ainda podiam ser chamados de índios civilizados ou caboclos. Ver FREIRE, Ribamar Bessa. Rio
Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Atlântica, 2004, cap. 4.
37
Nos documentos encontrados, a “fome” por braços na província, durante as décadas de 1820 e
1830, sempre se refere aos tapuios e não aos escravos africanos. Exemplo disso, é uma memória
sobre a agricultura da província escrita pelo vereador de Óbidos, Martinho da Fonseca Seixas.
Ele reclamava que a província não era mais rica porque, com a extinção do Diretório, os índios
puderam sair das vilas e povoados onde estavam e voltar para as matas, o que produziu uma
carência de mão de obra. Arquivo Público do Estado do Pará [APEP] – Caixa 35 – Série 13, doc.
157, de 10 de setembro de 1832. Em 1828, o recém-chegado presidente, barão de Bagé, fazia
incorporação ao mundo dos brancos, se existiam tapuios sem ocupação fixa nem
estabelecimento próprio, nas listas de presos durante a Cabanagem estão citados
tapuios identificados com diversas profissões, inclusive como negociantes.38
A lei de 1798, além de garantir a condição de homens livres, extinguiu a
tutela sobre esses indígenas que existiu durante o Diretório o que, na letra da lei,
tornava-os iguais a qualquer súdito do monarca português.39 Contudo, essa mesma
legislação que garantia a sua liberdade, sob o pretexto de evitar o ócio desses
indivíduos, criou mecanismos para exploração compulsória da mão de obra dos
tapuios. Além do trabalho em obras públicas, como no Pesqueiro e no Arsenal
da Marinha, tapuios identificados pelos oficiais comandantes e pelos juízes como
sem ocupação fixa, podiam ser obrigados a trabalhar para particulares se estes
alegassem que não conseguiam contratar por salário alguém que os ajudasse a
fazer a colheita ou servir de remador. Existiam rígidas regras para submeter esses
indígenas ao trabalho compulsório, mas elas eram frequentemente burladas, uma
vez que não havia escravos de origem africana em número suficiente para saciar a
“fome” por braços na província.40 Na verdade, os testemunhos da época descrevem
onipresença dos tapuios em quase todas as atividades do Pará. Em seu livro de via-
gem, Spix e Martius relatavam com espanto que os indígenas, mesmo em Belém,
realizavam as tarefas que em outras províncias eram feitas por escravos negros.41
Ao observar a legislação de 1798, percebe-se que os tapuios ficaram subme-
tidos a uma disciplina militar, organizados em milícias.42 A grande participação
desses indígenas nas milícias armadas e no exército foi registrada amplamente
pelos contemporâneos e foi um ponto de instabilidade na província durante as
exatamente o mesmo diagnóstico. APEP – Códice 870, doc. 02, em 03 de junho de 1828.
38
IHGB – Lata 290, pasta 3. Relação de presos enviados do Pará para a Corte (1836).
39
Para compreender as diferenças entre o Diretório e a lei de 1798, veja de SAMPAIO, Patrícia
Maria de Melo. Espelhos partidos, op. cit. Sobre o Diretório Pombalino, veja de DOMINGUES,
Angela. Quando os índios eram vassalos: colonização e relações de poder no norte do Brasil
na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissão Nacional para as comemorações dos
descobrimentos portugueses, 2000.
40
Sobre os tapuios, a legislação de 1798 e as formas de trabalho compulsório, veja de MOREIRA
NETO, Carlos de Araújo. Índios da Amazônia: de maioria a minoria (1750-1850). Petrópolis:
Vozes, 1988; SAMPAIO, Patrícia Maria de Melo. Espelhos partidos, op. cit.; PRADO JR., Caio.
Formação do Brasil Contemporâneo (Colônia). São Paulo: Brasiliense, 1972, p. 98-99. CLEA-
RY, David. Lost altogether to the civilised world: race and Cabanagem in Northern Brazil, 1750
to 1850. Comparative studies in society and history. 1998; FREIRE, José Ribamar Bessa. Rio
Babel, op. cit.; MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real das sociedades, op. cit.
41
SPIX, Johann Baptist; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Tra-
dução de Lucia Furquim Lahmeyer. Belo Horizonte / São Paulo: Itatiaia / Edusp, 1981, p. 26-28.
42
Entre outros, veja de SAMPAIO, Patrícia de Melo. Espelhos partidos, op. cit., cap. 11.
43
Ignácio Accioli afirmava que o exército que conquistou Caiena foi formado majoritariamente por
tapuios. Ver SILVA, Ignácio Accioli de Cerqueira e. Corografia paraense, op. cit., p. 114. Spix e
Martius destacaram que os tapuios eram parte considerável da infantaria regular. SPIX, Johann
Baptist; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp. Viagem pelo Brasil, op. cit., p. 28 e 31-32. Ver também
de NOGUEIRA, Shirley Maria Silva. Razões para desertar: institucionalização do exército no
Estado do Grão-Pará no último quartel do século XVIII. Dissertação de mestrado. Belém: Naea /
UFPA, 2000; e de MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real das sociedades, op. cit.
44
APEP – Códice 869, doc. 03, em 20 de maio de 1828.
45
Carta do Barão de Bagé ao ouvidor da Comarca do Rio Negro em 19 de setembro de 1828,
transcrita por REIS, Arthur Cezar. A autonomia do Amazonas. Manaus: Governo do Estado do
Amazonas, 1965, p. 128-131.
46
Existiam dois conselhos em cada província nesse período, ambos eleitos. O primeiro era o Conse-
lho Presidencial, um corpo que o presidente reunia e que tinha poder de voto nas decisões do Poder
Executivo da província. O segundo era o Conselho Geral da Província, que foi regulamentado pelo
Parlamento durante a primeira legislatura. Os membros eleitos do Conselho Geral podiam propor
resoluções para melhoramentos na província que, se aprovadas no Conselho, seguiam para o Parla-
mento no Rio de Janeiro. Apenas se fossem aprovadas por deputados e senadores estas resoluções
viravam lei. Sobre estas questões, veja de SLEMIAN, Andréa. Sob o império das leis: Constituição
e unidade nacional na formação do Brasil (1823-34). São Paulo: Hucitec / Fapesp, 2009, p. 148-185.
47
IHGB – 105,6,23 – Coleção de proclamações, atas e outros impressos políticos relativos ao Pará
entre 1827 e 1837 (doc. 3).
48
MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real das sociedades, op. cit., p. 146-147.
Sobre o jornal O Paranse, veja de COELHO, Geraldo Mártires. Anarquistas, demagogos e
dissidentes: a imprensa liberal no Pará de 1822. Belém: Cejup, 1993.
49
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 142-145. Anos mais tarde, Andréa
voltará à província e será a principal figura vinculada à repressão aos cabanos.
50
SOUZA JR., José Alves de. Constituição ou revolução: os projetos políticos para a emancipação
do Grão-Pará e a atuação política de Filipe Patroni (1820-23). Dissertação de mestrado. Cam-
pinas: Unicamp, 1997, p. 13-85. Vicente Salles também salienta que, no período, fazia-se uma
associação entre a condição de proprietário e a posse de uma patente de oficial militar. SALLES,
Vicente. Memorial da Cabanagem, op. cit., cap. 4.
51
APEP, Códice 713, doc. 109, de 6 de outubro de 1825.
52
APEP, Códice 888, doc. 48, de 21 de agosto de 1830. Documento cedido por Leandro Mahalem de Lima.
53
Centro de Documentação e Informação – Arquivo Histórico da Câmara dos deputados - DF
[CEDI] – Lata 68, maço 37, pasta 4 – Atas das sessões do Conselho Geral do Pará (1831-32), em
22 de dezembro de 1831. O Conselho Geral, que nesta data já não contava com os conselheiros
que foram deportados na Agostada, tomou uma posição pouco firme sobre a questão, limitando-
se a enviar a representação à comissão responsável.
54
CEDI – Lata 49, maço 21, pasta 1 – Lista dos trabalhos do Conselho Geral do Pará (1829-30).
Há uma cópia em microfilme deste documento na Biblioteca Nacional – RJ [BN] – I,31,27,014 –
Conselho Geral da Província do Pará. Relação dos trabalhos pertencentes aos anos de 1829 e 1830.
55
BN – I,31,27,014 – Conselho Geral da Província do Pará. Relação dos trabalhos pertencentes
aos anos de 1829 e 1830
56
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1830. Rio de Janeiro:
Tipografia de H. J. Pinto, 1878. [APB (1830)], em 8 de julho.
ligeiros, nem a sua prestação de serviço. A intenção, novamente, era tirar esta
instituição do comando militar e passá-la para o civil.57 Anos mais tarde, a edição
de 8 de dezembro de 1832 do Publicador Amazoniense confirmava esta percepção
do cônego Campos: então juiz de paz da Campina, expunha seu desejo de que os
antigos membros da extinta Milícia de Ligeiro formassem uma companhia subor-
dinada às ordens dos juízes de paz com o objetivo de procurar escravos fugidos.58
Apesar das intenções originais da proposta de representação feita por Batista
Campos, o destino da Milícia de Ligeiros teria outro desfecho no Parlamento.
Em 27 de novembro de 1830, houve uma intervenção nessa matéria do deputado
eleito pelo Maranhão, Odorico Mendes, tido como um liberal por Batista Cam-
pos.59 Odorico Mendes propôs, nesta data, uma emenda que acabou substituindo
o projeto de lei e que, em resumo, determinava a extinção completa das Milícias
de Ligeiros do Pará.60 Partindo essa versão para o Senado, a recepção da proposta
foi boa e a tramitação rápida. Na primeira discussão, em 18 de maio de 1831, o
senador Saturnino se pronunciou pela extinção das Milícias de Ligeiros, dizendo
que elas se prestavam apenas a explorar a mão de obra indígena. Essa percepção
recebeu o apoio de outros senadores nesse dia e em 26 de maio, data da segunda
discussão. Em todas essas ocasiões, a matéria teve o completo silêncio do repre-
sentante do Pará no Senado, assim como fora na Câmara. Em 11 de junho de 1831,
a extinção do corpo de Milicianos Ligeiros do Pará foi aprovada e seguiu para
sanção.61 Apenas em 22 de agosto de 1831 torna-se lei, portanto após a Agostada.62
Por conta disso, como adiantado acima, não procedia a afirmação de Batista
Campos, nas páginas de O Publicador Amazoniense, de que uma das razões da
deposição de Goiana seria o fim da Milícia de Ligeiros. Outra coisa a se salientar
é que apesar da legislação sobre os Ligeiros não ter sido aprovada como original-
57
Também interpretou dessa forma João Nei Eduardo da Silva, que pesquisou as atas do Conselho
Geral do Pará entre 1829 e 1830. Aliás, pelo resumo não é possível identificar a autoria de Batista
Campos para essa representação, mas Silva o identifica como o autor. Veja de SILVA, João Nei
Eduardo da. Batista Campos: uma discussão biográfica na historiografia paraense, op. cit. Além
disso, como se verá adiante, Lavor Papagaio reivindicou para Batista Campos a autoria dessa
representação no número 60 da famosa Sentinela Maranhense na Guarita do Pará.
58
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 8 de dezembro de 1832.
59
BN – I-1,16,84 – Campos, João Batista Gonçalves. Carta ao senador José Martiniano
de Alencar. Pará, 19 de novembro de 1833. Nessa carta, Batista Campos se diz surpreso
pelo fato de Bráulio e Odorico, dois representantes do Maranhão que julgava liberais e
com os quais tinha relações, não terem se posicionado contra a Agostada no Parlamento.
60
APB (1830), em 27 de novembro.
61
Anais do Senado do Império do Brasil. Sessão de 1831. Rio de Janeiro: s. i., 1914. [ASIB (1831)],
em 18 e 26 de maio, 11 de junho.
62
Coleção das leis do Império de 1831. Primeira parte. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1875, p. 76.
63
CEDI – Lata 115, maço 16, pasta 4 – Província (acontecimentos de agosto de 1831 no Pará). Ata
da Câmara de Alenquer em 26 de março de 1832.
64
Poucos meses depois, em janeiro de 1835, o presidente Bernardo Lobo de Souza será morto em
um dos primeiros lances da Cabanagem. Batista Campos morre algumas semanas antes.
65
BN – PR SOR 4750 – A Sentinella Maranhense na Guarita do Pará. Edição de 4 de outubro de 1834.
66
OLIVEIRA, José Joaquim Machado de Oliveira. Juízo sobre as obras intituladas – Corographia
paraense ou descrição physica, histórica e política da província do Grão-Pará, por Ignácio
Accioli de Cerqueira e Silva e Ensaio corographico sobre a província do Pará, por Antonio
Ladislau Monteiro Baena. Rio de Janeiro: Tipografia Imparcial de F. de P. Brito, 1843, p. 37.
67
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edições de 12 e 25 de janeiro de 1833.
68
IHGB – Lata 415, pasta 8 – Collecção das leis provinciaes do Pará promulgadas na primeira
secção que teve principio no dia 2 de março e findou no dia 15 de maio de 1838 e vão numeradas
de 1 a 13. Pará: Tipografia Restaurada, 1838. Lei n. 02, de 25 de abril de 1838.
69
Paralelamente aos debates no Parlamento, nas sessões de 1829-30 e 1830-31 do Conselho Geral
da Província, as fábricas nacionais e projetos para civilização dos índios foram temas de debate
e de organização de comissões. Contudo, não foi identificado nenhuma resolução sobre esses
assuntos que tenha sido aprovada no Conselho e encaminhada ao parlamento. BN I-31,27,014
– Conselho Geral da Província do Pará. Relação dos trabalhos pertencentes a sessão dos anos
de 1829 a 1830; BN – MS-602 (1) D. 17- Ata das sessões do Conselho Geral do Pará de 15 de
dezembro de 1830 a 28 de fevereiro de 1831.
70
APB (1830), em 17 de julho.
71
CEDI – Lata 56, maço 3, pasta 5. Ficam extintos o Arsenal da Marinha e os armazéns nacionais.
Autoria de Fernandes Vasconcelos. Nos anais da câmara, o projeto é apenas citado, sem a sua
transcrição integral. Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão
de 1831. Rio de Janeiro: Tipografia de H. J. Pinto, 1878 [APB (1831)], em 20 de agosto.
72
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1833. Rio de Janeiro:
Tipografia da Viúva Pinto e Filho, 1887. [APB (1833], em 17 de junho.
73
CEDI – Lata 68, maço 37, pasta 4. Atas das sessões do Conselho Geral do Pará (1831-32). Em
6 de dezembro de 1831.
74
APEP – Caixa 39 – Série 13, doc. 28 e 54, respectivamente em 15 de junho de 1832 e 2 de maio de 1833.
75
Collecção das leis do Império do Brazil de 1830. Parte primeira. Rio de Janeiro: Tipografia
Nacional, 1876, p. 06.
76
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1829. Rio de Janeiro:
Tipografia de H. J. Pinto, 1877. [APB (1829)]. Em 23, 26, 27 e 30 de maio.
77
CEDI – Lata 68, maço 37, pasta 4 – Atas das sessões do Conselho Geral do Pará (1831-32). Em
7 de dezembro de 1831.
78
BAENA, Antonio L. M. Representação ao Conselho Geral da Província do Pará sobre a especial
necessidade de um novo regulamento promotor da civilização dos índios da mesma província. An-
naes da Biblioteca e Arquivo Público do Pará. Tomo II. Belém: Imprensa Oficial, 1902, p. 252-253.
79
BAENA, Antonio L. M. Representação ao Conselho Geral da Província do Pará sobre a especial
necessidade de um novo regulamento promotor da civilização dos índios da mesma província, op.
cit., p. 252-53 e 269. A liberdade de trânsito destes indivíduos, garantida pela legislação de 1798, era
frequentemente apontada como um dos grandes problemas da província, uma vez que possibilitava
que grandes contingentes de tapuios abandonassem as vilas e povoados e voltassem para a selva.
80
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 152.
81
O protagonismo de Marcos Martins para levantar esse abaixo-assinado não é mencionado por
Raiol, mas estava registrado na Ata do Conselho Presidencial transcrito em jornais do período.
IHGB – PER 27.11 – Correio do Amazonas. Edição de 4 de junho de 1831; IHGB – PER 32.13
– A Opinião. Edição de 1 de junho de 1831.
82
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 79-80. Para uma crítica sobre a versão con-
sagrada por Raiol de que o golpe de abril de 1824 teria como objetivo alinhar a província a Pernambu-
co, veja de MACHADO, André Roberto de A. A quebra da mola real das sociedades, op. cit., cap. 4.
83
IHGB – 1,3,12 - BITTENCOURT, José Maria da Silva. Apontamentos relativos aos aconteci-
mentos do Pará, de 1831 a 1836.
84
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 12 de janeiro de 1833.
85
IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Edição de 1 de junho de 1831.
86
IHGB – PER 27.11 – Correio do Amazonas. Edição de 11 de junho de 1831.
87
Na ata do Conselho Presidencial fez-se um adendo, dizendo que Batista Campos posteriormente
concordara com a criação deste corpo armado. IHGB – PER 27.11 – Correio do Amazonas. Edição
de 18 de junho de 1831.
1º e 2º linhas.88 Demonstra bem isso o fato de que, nesse corpo armado, não se
elegiam os oficiais, traço marcante da primeira fase da Guarda Nacional.89 Ao
contrário disso, primeiro surgiu um líder, no caso Marcos Martins, e esse passou
a convocar voluntários na imprensa para se subordinarem a ele.90 Contudo, em
uma questão essa milícia conseguiu estar mais perto dos objetivos dos criadores
da Guarda Nacional do que a própria: afinal, quando esta organização foi, tempos
depois, legalmente constituída no Pará passou a ser protagonista de sublevações,
chegando a ser desativada em 1836 pelo então presidente Soares de Andréa que
a considerava uma força cabana.91 Enquanto isso, a tropa comandada por Marcos
Martins foi realmente um freio a pretensões de mudanças radicais, um instrumento
de defesa da propriedade e do Estado, tal como tinha sido idealizada a Guarda
Nacional pelos grupos que estavam alinhados no Rio de Janeiro ao pensamento
de Evaristo da Veiga expresso nas páginas do Aurora Fluminense.92
Se no ano seguinte Evaristo da Veiga fez no Parlamento a defesa das mudan-
ças sem revolução,93 Marcos Martins fez disso uma bandeira logo após o levante
militar que ajudou a sufocar e sua “Guarda Nacional” foi apresentada como um
instrumento para este projeto que tinha a “moderação” como palavra-chave re-
petida à exaustão. Apesar de Batista Campos, através de impressos, ter negado
qualquer participação no levante militar,94 logo Marcos Martins insinuou seu
envolvimento dizendo que “a opinião pública pronuncia-se mui claramente contra
um homem que é sempre a mola secreta dos alarmes e tumultos do Pará”.95 Como
se vê, a imagem que se construía do cônego era a antítese da “moderação”.
88
A lei para criação da Guarda Nacional foi apresentada em maio de 1831, mas só foi aprovada em
agosto. Veja de HOLANDA, Sérgio Buarque. In; CASTRO, Jeanne Berrance. A milícia cidadã:
a guarda nacional de 1831 a 1850. 2ª edição. São Paulo: Ed. Nacional, 1979. Sobre as milícias
voluntárias no Pará no período da independência, veja de MACHADO, André Roberto de A. A
quebra da mola real das sociedades, op. cit., cap. 4.
89
CASTRO, Jeanne Berrance. A milícia cidadã, op. cit., p. 135-145.
90
IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Edição de 8 de junho de 1831.
91
HURLEY, Jorge. Traços cabanos: 13 de maio (1836-1936). Belém: Instituto Lauro Sodré, 1936,
p. 10; CASTRO, Jeanne Berrance. A milícia cidadã, op. cit., p. 03-16.
92
CASTRO, Jeanne Berrance. A milícia cidadã, op. cit., p. 13-14. SOUZA, Otávio Tarquínio de.
Evaristo da Veiga. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1939, cap. 5.
93
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1832. Rio de Janeiro:
Tipografia de H. J. Pinto, 1879. [APB (1832)], em 12 de maio.
94
IHGB – 115,6,17 – Carta aos cidadãos paraenses, verdadeiros independentes, amigos da liberdade,
residentes nesta cidade e no interior da província. Carta n. 02.
95
Um dos argumentos para o envolvimento de Batista Campos era o fato dos soldados terem
pedido a reunião da Câmara, quando, para Marcos Martins, aqueles soldados nem sabiam o que
era Câmara. IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Edição de 1 de junho de 1831.
96
IHGB – PER 32.13 – A Opinião. Edição de 15 de junho de 1831.
97
De forma semelhante, os ditos moderados usavam a imprensa no Rio de Janeiro para rejeitar
o Jacobinismo e buscavam manter o processo de mudanças nas mãos da elite política. Veja de
GUIMARÃES, Lucia M. P. Liberalismo moderado: postulados ideológicos e práticas políticas no
período regencial. In: GUIMARÃES, L. M. P; PRADO, Maria E. (org.). O liberalismo no Brasil
imperial: origens, conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Renavam / Uerj, 2001, p. 103-126.
O fiel da balança
Como citado no começo do artigo, os paraenses substituíram dois dos seus
três representantes na Câmara dos Deputados entre a primeira e a segunda legis-
latura. Mais significativo que a troca de nomes foi a mudança do perfil político
dos escolhidos entre as duas votações.
A eleição para a primeira legislatura aconteceu no contexto de uma pesada
repressão à guerra civil que cobriu a província até 1825. Além disso, o então
presidente do Grão-Pará, José de Araújo Rozo, prendera ou deportara homens li-
gados a Batista Campos, além do próprio, sob a acusação de estarem promovendo
a união da província com a Confederação do Equador. Em meio a esse ambiente
político, os homens escolhidos para representarem o Pará na primeira legislatura
tinham um perfil bastante conservador, excetuando-se João Candido Deus e Silva,
não por acaso eleito apenas como segundo suplente e o único dos deputados a
conseguir uma nova vaga para a segunda legislatura.98 Por gozar de um cargo
vitalício, o senador José Joaquim Nabuco de Araújo foi o único remanescente
deste núcleo mais conservador que, durante a primeira legislatura, manteve-se
estritamente fiel não só aos ministérios, mas especialmente ao imperador. O futuro
barão de Itapoã, nascido na Bahia em 1764, além de formado em Coimbra tinha
exercido vários cargos na alta burocracia do Império português e do Império do
Brasil, estando ligado aos grupos conservadores do Pará através do seu irmão José
Thomaz Nabuco de Araújo, um dos deputados eleitos para a primeira legislatura,
que trabalhou para a sua eleição ao Senado.99 Apesar da ampla visão do Império,
o barão de Itapoã teve uma apagada atuação no Senado, chegando, nessa segunda
legislatura, quase à nulidade. Nesse sentido, não foram encontradas ações públicas
do senador Nabuco de Araújo em relação à Agostada, mesmo que entre os princi-
pais executores desse golpe estivessem homens como José de Araújo Rozo que,
98
Sobre a eleição dos paraenses para a primeira legislatura e o perfil desses representantes, veja
de MACHADO, André Roberto de A. Redesenhando caminhos, op. cit.
99
NABUCO, Joaquim Nabuco. Um estadista do Império. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, s. d.,
p. 3-16; BARATA, Carlos Eduardo de A.; BUENO, Antonio Henrique da C. Dicionário das famílias
brasileiras. Volume 2. São Paulo: Ibero América, s.d., p. 1.595-96; LYRA, A. Tavares de. O Senado
do Império. Revista do IHGB. Rio de Janeiro, vol. 153, 1928, p. 234-235. Biblioteca Nacional. Catá-
logo da Exposição de História do Brasil. Brasília: Editora da UNB, 1981, p. 535. MELLO, Teixeira
de. Ephemerides Nacionaes. Rio de Janeiro: Tipografia da Gazeta de Notícias, 1881, vol. I, p. 242.
estando na presidência no Pará entre 1824 e 1825, foi fundamental para a eleição
do seu irmão, José Thomaz, ao cargo de deputado na primeira legislatura.100
Como já mencionado, o outro representante do Pará que já exercera o cargo
durante a primeira legislatura era o deputado, reeleito, João Candido de Deus e Sil-
va. Tal como o senador Nabuco de Araújo, Deus e Silva também tinha se formado
em Coimbra e exercera cargos públicos de relevo, ainda que de menor expressão,
em várias partes do antigo Império português antes de chegar ao Parlamento do
Império do Brasil.101 Vicente Salles classificou esse deputado como um “liberal
exaltado” e chegou a especular se não teria sido um contato entre os liberais pa-
raenses e os que estavam na Corte.102 Contudo, é difícil, à luz da sua atuação na
Câmara, sustentar tanto o radicalismo desse parlamentar quanto o seu alinhamento
ao grupo de Batista Campos, certamente o que estava na cabeça de Vicente Salles
ao pensar em “exaltados” no Pará. Afinal, durante a segunda legislatura, Deus e
Silva esteve alinhado ao grupo de Evaristo da Veiga nas principais votações, ainda
que os ditos “moderados” fossem acusados, no Pará, de acobertar os executores
da Agostada. Além disso, como se verá, Deus e Silva não denunciou na Câmara a
deposição do visconde de Goiana e aprovou, como membro da Comissão de Cons-
tituição e Justiça, um projeto de anistia para os golpistas a pedido Marcos Martins,
deixando claro que não tinha compromissos com o partido de Batista Campos.
Os dois novos deputados do Pará na segunda legislatura também eram bacha-
réis em Direito. Apesar da intensa procura, não foi possível encontrar referências
sobre eles na bibliografia, apenas pequenas citações em documentos.103 Isso,
somado a outros indícios, indica que se tratavam de figuras apenas de expressão
100
SEIXAS, Romualdo Antonio. Memórias do marquês de Santa Cruz, arcebispo da Bahia. Rio
de Janeiro: Tipografia Nacional, 1861, p. 33-41. Sendo Rozo uma peça chave das articulações
políticas de José Thomaz, pode-se supor que o ex-presidente também tinha sido importante para
a eleição do futuro barão de Itapoã ao cargo de senador.
101
BAENA, Antonio L. M. Compêndio das eras da Província do Pará. Belém: UFPA, 1969, p.
300 e 329; Blake, A.V.A. Sacramento. Diccionário bibliographico brasileiro. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1937, tomo 3; MELLO, Teixeira de. Ephemerides nacionaes, op. cit., vol. II,
p. 70; SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem, op. cit., p. 103-104. Dicionário bibliográ-
fico português. Estudos de Innocêncio F. da Silva aplicáveis a Portugal e Brasil. Continuados e
ampliados por P. V. Brito Aranha. Revisto por Gomes de Brito e Álvaro Neves. Lisboa: Imprensa
Nacional, 1858-1923. 23 volumes (versão eletrônica). Agradeço a Tâmis Parron pela indicação
do Dicionário bibliográfico português. Um perfil mais elaborado deste deputado e sua atuação na
primeira legislatura estão em MACHADO, André Roberto de A. Redesenhando caminhos, op. cit.
102
SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem, op. cit., p. 75 e 103-104.
103
Para se ter uma ideia da escassez de informações sobre esses personagens, esses são os únicos represen-
tantes do Pará, entre 1826 a 1840, que não possuem nenhum tipo de dado no livro de Nogueira e Firmo,
famoso por fornecer indicações bibliográficas sobre parlamentares no Império. Veja de NOGUEI-
RA, Otaciano; FIRMO, João Sereno. Parlamentares do Império. Brasília: Senado Federal, 1973.
local. O primeiro deles era Manuel José de Araújo Franco, identificado em uma
das sessões da Câmara como o titular do cargo de ouvidor no Pará.104 Tendo fi-
cado adoentado durante boa parte dessa legislatura, Araújo Franco cumpriu um
mandato pouco expressivo, não ficando totalmente claro seu posicionamento a
favor dos ministérios ou da oposição. Suas proposições ficaram concentradas
em pedidos de benefícios pontuais para o Pará, como criação de escolas e a ex-
tinção do açougue nacional, postura que tinha sido a tônica dos representantes
paraenses na primeira legislatura, mas que só ele manterá nesse quadriênio.105
Durante o auge das discussões sobre a Agostada no Pará, não há registro de
atuação parlamentar de Araújo Franco na Câmara, mesmo em outros assuntos,
o que faz supor que estivesse ausente por doença, como já havia acontecido em
outros meses. Alguns documentos, no entanto, indicam que este deputado estava
alinhado ao partido de Batista Campos no Pará. Em O Publicador Amazoniense,
por exemplo, Campos indicava Araújo Franco como um dos homens que haviam
sido traídos por Marcos Martins.106 Outro indício pode ser encontrado nas páginas
de O Sagitário, periódico redigido por Luiz José Lazier e combatido pela facção
de Batista Campos.107 A edição de 25 de fevereiro de 1830 de O Sagitário foi
utilizada quase que totalmente por Lazier para combater a campanha contra o
comandante das Armas que era promovida nas páginas de O Telegrafo Paraense
e A voz das Amazonas pelo cônego Silvestre Antunes Pereira da Serra, então um
dos maiores aliados de Batista Campos. A certa altura, Lazier diz que iria retomar
seu ataque contra o cônego Serra do ponto em que estava até ser preso, de acordo
com as conveniências de seus inimigos, por Araújo Franco e pelo “sr. Vascon-
cellos”, possivelmente referindo-se ao terceiro deputado eleito pelos paraenses.108
João Fernandes de Vasconcelos foi, sem dúvida, o representante do Pará mais
alinhado aos ditos “exaltados” nessa legislatura. Provavelmente ele era um dos
três irmãos Vasconcelos processados no final de 1821 sob a acusação de terem se
associado a Filipe Patroni para divulgar ideias de ruptura com Lisboa e o fim da
escravidão, episódio ainda hoje com muitos pontos a esclarecer e comprovar.109
104
Nessa sessão, pede-se a redução do salário de ouvidor de Araújo Franco por ele estar recebendo
vencimentos como deputado pelo Pará. APB (1830), em 28 de junho.
105
APB (1830), em 17 de julho e 21 de agosto. Sobre essa tendência dos representantes do Pará na
primeira legislatura, veja de MACHADO, André Roberto de A. Redesenhando caminhos, op. cit.
106
IHGB - PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 12 de janeiro de 1833.
107
Batista Campos chega a a acusar Lazier de usar O Sargitário para a causa restauradora. IHGB
– 115,6,17 – Carta aos cidadãos paraenses, verdadeiros independentes, residentes nesta cidade
e no interior da província. Carta n. 02.
108
BN – PR SOR 4751 – O Sagitário. Edição de 25 de fevereiro de 1830.
109
Os irmãos Vasconcelos processados eram João Fernandes de Vasconcelos, Julião Fernandes de
tude provava seu alinhamento político com o grupo de Batista Campos por dois
motivos: em primeiro lugar, causava embaraços a Burgos, um presidente odiado
por essa facção, especialmente por ter evitado a deposição de Soares de Andréa
do cargo de comandante de Armas, em 1831, como já citado.114 Em segundo
lugar, compartilhava a crença desse partido de que o Parlamento era uma espécie
de guardião das leis e o último recurso contra o despotismo. Ao acompanhar os
trabalhos do Conselho Geral da Província, percebe-se que este partido utilizava
esta instituição para enviar várias representações ao Parlamento nessa direção.
Para frustração desse grupo, no entanto, o destino de quase todos esses papéis foi
morrer nas gavetas das comissões ou ser encaminhado para outros poderes.115
Possivelmente, foi por perceber o pouco resultado prático conseguido pelas de-
núncias encaminhadas ao Parlamento contra o desrespeito às leis que Fernandes de
Vasconcelos resolveu enviar ao jovem imperador seus protestos contra a deposição
do visconde de Goiana, exigindo providências. Datado de 12 de novembro de 1831,
o protesto de Fernandes de Vasconcelos identificava José de Araújo Roso, Marcos
Martins e Bittencourt como os líderes da Agostada, acusada por ele de ser um mo-
vimento a favor da submissão da província ao governo de d. Miguel. Dizia que os
golpistas queriam dar um “garrote em todos os beneméritos e verdadeiros paraen-
ses”, entre os quais ele incluía Batista Campos, descrito por ele como um homem
“que tem sido sempre no Pará o sustentáculo da Constituição e da liberdade”.116
Os desdobramentos da Agostada paraense motivaram debates acalorados no
Parlamento nos anos seguintes, especialmente em 1833. Contudo, o protesto de
Fernandes de Vasconcelos foi a única denúncia do golpe em seu momento inicial
feita por membros da Câmara ou do Senado. Trinta anos depois, Bittencourt come-
morava o isolamento dessa denúncia, dizendo que a Regência não tomou nenhuma
providência pelo fato de Fernandes de Vasconcelos não ter nenhum prestígio e ser
conhecido, segundo ele, pela fama de ladrão de cavalos.117 Apesar do protesto de
Fernandes Vasconcelos não ter sido capaz de deter os golpistas, não é verdade que
114
No ano seguinte, o próprio Fernandes de Vasconcelos terá a iniciativa de pedir a punição de João
Paulo dos Santos Barreto por queixas que se faziam dele em relação ao período em que esteve
no comando das armas do Pará. Deve-se lembrar que Barreto travou uma intensa disputa com o
cônego Silvestre Antunes Pereira da Serra, um dos partidários de Batista Campos, que o criticava
através da imprensa. APB (1831), em 23 de julho. IHGB – 115,6,35-36 – Telegrafo Paraense.
Edição de 28 de março de 1829.
115
APB (1830), em 25 de setembro.
116
BN 102,5,289 – VASCONCELOS, João Fernandes de. Requerimento a d. Pedro I (sic). Rio de
Janeiro: Tipografia de Gueffier e C, 1831.
117
IHGB – 1,3,12 – Apontamentos relativos aos acontecimentos do Pará, de 1831 a 1836 que lhe
oferece o seu amigo, o general José Maria da Silva Bittencourt (1864).
a Regência não tenha tomado atitudes depois dessa denúncia, como afirmou Bit-
tencourt. Afinal, quatorze dias depois, em 26 de novembro, Feijó, como ministro
da Justiça, enviou uma carta ao presidente do Pará mandando reverter o golpe e
trazer os deportados de volta aos seus cargos. Contudo, isto não teve um resultado
prático porque o Conselho da Presidência recusou-se a cumprir esta ordem, uma
vez que ela significaria dar posse a Batista Campos como presidente.118 Além
disso, ainda que não tenha sido por outros parlamentares, neste intervalo o Parla-
mento continuou recebendo denúncias da Agostada e cartas exigindo uma tomada
de posição. Esses protestos vieram, e em grande quantidade, justamente em função
de um acontecimento já antecipado por Fernandes de Vasconcelos: algumas vilas
se recusaram a reconhecer o governo de Belém após a deposição de Goiana.
No Arquivo Histórico da Câmara dos Deputados é possível contar mais de
vinte cartas e atas enviadas no primeiro semestre de 1832 aos “representantes da
nação” e recebidas ainda nesse mesmo ano. Todas essas correspondências eram
enviadas pelas câmaras municipais de vila próximas a Santarém: Faro, Franca,
Alter do Chão, Boim, Alenquer, Óbidos, Vila de Moz, Gurupá, além da própria
Santarém. Todas elas também tinham um discurso comum e tratavam de assuntos
semelhantes. Em primeiro lugar, recusavam a autoridade do governo de Belém,
pediam a punição dos golpistas e o retorno do visconde de Goiana ao posto de
presidente. Enquanto isso, Batista Campos, na condição de vice, era reconhecido
como a maior autoridade da província.119
Isso, obviamente, não se dava por acaso. Após o golpe de 7 de agosto de
1831, o cônego Campos foi colocado em uma embarcação em que seria levado
ao presídio da distante São João do Crato. Contudo, ele conseguiu fugir na região
de Óbidos, nas proximidades de Santarém, e passou a ganhar adesões das vilas
citadas. Nas atas das câmaras municipais são citados, inclusive, eventos de que
Batista Campos participou na condição de presidente da província. Possivelmente
o mais impressionante deles foi a cerimônia de reconhecimento de d. Pedro II na
Vila de Óbidos, em 2 de fevereiro de 1832. Em outras vilas da região também
se procedeu ao juramento de obediência a d. Pedro II, sempre reclamando que
118
APEP, Códice 901, doc. 29, em 27 de janeiro de 1832. Sobre esse episódio, veja de RAIOL,
Domingos A. Motins políticos, op. cit., p. 236-240.
119
CEDI – Lata 115, maço 16, pasta 4 – Província (acontecimentos de agosto de 1831 no Pará). Em
oito de agosto de 1832, na Câmara dos Deputados é mencionado o recebimento de parte dessas
correspondências, classificadas como representações, sem entrar no mérito do seu conteúdo,
encaminhando-as para a Comissão de Constituição. APB (1832), em 08 de agosto. Além das
questões citadas, nessas cartas reclamava-se do não cumprimento da já citada ordem da regência,
de novembro de 1831, que mandava reverter o golpe.
120
CEDI – Lata 115, maço 16, pasta 4 – Província (acontecimentos de agosto de 1831 no Pará).
A ata da sessão de reconhecimento de d. Pedro II na vila de Óbidos também está transcrita em
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 243-244.
121
APEP, Códice 899, doc. 72, em 19 de maio de 1832.
122
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 263-264.
123
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 257-259.
Como bem observado por Arthur Cezar Ferreira Reis, apesar de várias deduções
nesse sentido, até hoje não foram apresentados documentos que comprovem a
ligação entre Batista Campos e a rebeldia no Alto Amazonas.124 Ao contrário disso,
em 1833, o cônego Silvestre Antunes Pereira da Serra, partidário de Campos,
dizia no periódico A Luz da Verdade que os liberais não tinham apoiado motins
de soldados e nem a tentativa de separação do Rio Negro, e que haviam deixado
esta posição clara por diversas vezes em folhas públicas.125 Contudo, também é
verdade que, no Conselho da Presidência, Batista Campos se opôs à repressão
militar do movimento no Rio Negro, sugerindo que se deixasse o Parlamento
decidir pela criação ou não da nova província.126 Além disso, sem um desfecho
favorável para os autonomistas no Parlamento, o cônego defendeu, no ano seguin-
te, que o Conselho Geral da província propusesse uma resolução para a criação
de um governo próprio no Rio Negro, ainda que subalterno a Belém.127
Independentemente da questão acima, o que mais interessa a este estudo é
que, em 1832, começaram a ser enviadas correspondências do Alto Amazonas
para o Parlamento em que se dava conta dos últimos acontecimentos, muitas
vezes trazendo denúncias da Agostada para o centro do debate. Logo no início
da sessão de 1833, foi lida, na Câmara dos Deputados, a primeira destas corres-
pondências: uma ata do já citado conselho extraordinário que se reuniu no Lugar
da Barra, então centro da Comarca do Rio Negro.128 Nos Anais do Parlamento
brasileiro não é transcrito o teor da mensagem, mas é possível encontrá-la no
Arquivo Histórico da Câmara dos Deputados: datada de 22 de junho de 1832,
a ata pede a criação da província independente e menciona a tirania de Belém
como o principal motivo desse pedido. Não é feita nenhuma menção direta ao
golpe de 7 de agosto de 1831.129 Contudo, ao longo de 1833, na Câmara, são
mencionadas várias outras correspondências de vilas do Rio Negro pedindo a
124
REIS, Arthur Cezar Ferreira. A autonomia do Amazonas, op. cit., p. 39-70.
125
IHGB – PER 32.12 – A Luz da Verdade. Edição de 30 de março de 1833.
126
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 267-268.
127
De fato, foi criada uma resolução nestes termos pelo Conselho Geral da Província um mês após a
sugestão de Campos. Contudo, apesar de lida em 1834, o mérito da proposta não foi debatido no
Parlamento sob a alegação de que já havia um projeto para a criação da província do Rio Negro
e que esta medida deveria ter prioridade. De toda forma, a criação da província do Rio Negro,
apesar das várias discussões nos anos seguintes, só foi efetivada em 1850. Veja de MACHADO,
André Roberto de A. Redesenhando caminhos, op. cit.
128
Anais do Parlamento brasileiro. Câmara dos senhores deputados. Sessão de 1833. Rio de Janeiro:
Tipografia da Viúva Pinto e Filho, 1887. [APB (1833)], em 16 de abril. Apesar das correspondên-
cias serem encaminhadas, de modo geral, aos “representantes da nação”, apenas na Câmara dos
Deputados foram discutidas tanto a sublevação no Rio Negro quanto as cartas vindas de lá.
129
CEDI – Lata 98, maço 1, pasta 10 – Parecer sobre divisão territorial.
130
APB (1830), em 11, 12, 15 e 20 de junho, 6 de julho. Nos Anais do Parlamento apenas é mencio-
nado pedido de criação da nova província, sem transcrever o conteúdo integral das mensagens.
131
CEDI – Lata 84, maço 7, pasta 1 – Petições sobre províncias (Pará – visconde de Goiana).
132
A expedição militar tinha partido de Belém em maio como reação ao levante que tinha causado a
morte da principal autoridade militar da Comarca. RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos,
op. cit., p. 264-271.
133
APB (1833), em 8 de maio.
134
IHGB – PER 32.12 – A Luz da Verdade. Edição de 30 de março de 1833. A carta de Vergueiro
será melhor explorada adiante.
135
APB (1833), em 14 de maio.
para o outro grupo está expressa nessa carta ao Ministério: o presidente dizia
ter cumprido a orientação do governo de não tomar a iniciativa em processar os
golpistas. Contudo, Machado de Oliveira dizia que este procedimento não foi
seguido por aqueles que tinham sido prejudicados pela Agostada, já que agora
faziam denúncias e abriam processos contra seus antigos algozes.136
A peça fundamental desse novo equilíbrio de forças no Pará foi o cargo de
juiz de paz. Considerada a primeira grande conquista dos liberais no Império do
Brasil,137 o juiz de paz era um leigo eleito localmente que, no princípio, tinha
funções bem restritas, cuidando de reunir provas, interrogar suspeitos e, sobre-
tudo, promover conciliações. Contudo, em 1832, o Código do Processo Penal
ampliou muito o poder punitivo do juiz de paz que passou até a decidir penas
de detenção por seis meses.138 Thomas Flory alertou que o princípio conciliador
em que estava idealizada a criação do juiz de paz nunca pôde se efetivar, já que,
por ser um cargo eletivo, os escolhidos tinham compromissos com facções da
província.139 Como se verá, este foi um argumento utilizado na Câmara e no
Senado para afirmar que havia perseguições contra os executores da deposição
do visconde de Goiana e que os processos abertos não eram isentos.
O fato é que membros da facção diretamente atingida pela Agostada pas-
saram a ocupar postos de juiz de paz depois da posse de Machado de Oliveira
como presidente. Esse era um cargo bem ao gosto desse partido, uma vez que,
eleito localmente, o poder central tinha pouca capacidade de intervenção sobre
os titulares desses postos.140 Em dezembro de 1832, Batista Campos fazia uma
prestação de contas do seu trabalho como juiz de paz da Campina nas folhas de
O Publicador Amazoniense. Ao listar os presos, dizia que quase todos eram por-
tugueses que estavam portando armas, tinham injuriado patrulhas ou particulares.
Sua preocupação, dita expressamente, era desmentir que o cargo de juiz de paz
estivesse sendo usado como vingança contra os executores da Agostada.141 Na
136
APEP, Códice 901, doc. 48, em 25 de agosto de 1832.
137
DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil. São Paulo: Globo,
2005, p. 83-86.
138
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil imperial, op. cit., cap. 4. Leis de 1828
e 1831 também já tinham ampliado o poder dos juízes de paz.
139
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil imperial, op. cit., p. 100. A ideia de que
o juiz de paz servia a facções foi utilizada pelos conservadores, posteriormente, para eliminar o
seu caráter eletivo, substituindo-o por funcionários escolhidos pelo governo.
140
DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial, op. cit., p. 84.
141
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 8 de dezembro de 1832. Em carta de
Machado de Oliveira, em meados de 1833, Batista Campos aparece como suplente do cargo de
juiz de paz da freguesia de Santa Anna da Campina, pertencente a capital. Nessa correspondên-
cia, Machado de Oliveira diz ter advertido Campos por julgar que cometia excessos ao prender
pessoas apenas pela posse de armas. APEP, Códice 901, doc. 109, em 31 de julho de 1833.
142
CEDI – Lata 89, maço 27, pasta 3 – Impressos sobre a mudança da presidência do Pará e outras.
143
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 15 de dezembro de 1832.
144
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 4 de janeiro de 1833.
145
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 22 de dezembro de 1832.
146
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 12 de janeiro de 1833. O termo
“coluna”, utilizado diversas vezes por Batista Campos, referia-se aos restauradores. Como já
dito, não há nenhuma evidência que relacione a Agostada aos restauradores. A acusação de res-
taurador foi uma arma utilizada indistintamente no Pará, mesmo em algumas ocasiões em que
representavam um contrassenso. O próprio Batista Campos não só será acusado deste “crime”
por Machado de Oliveira, quando os dois rompem politicamente, como morrerá com esta fama
disseminada na imprensa oficial pelo presidente seguinte.
147
CEDI – Lata 68, maço 37, pasta 4 – Atas das sessões do Conselho Geral (1831-32). Sessões de
5 e 9 de dezembro de 1831. A felicitação à Assembleia está transcrita em RAIOL, Domingos
Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 235.
148
A carta de Lino Coutinho está transcrita em IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense.
Edição de 15 de dezembro de 1832.
149
CEDI – Lata 84, maço 7, pasta 1 – Petições sobre províncias (Pará – visconde de Goiana).
150
APB (1833), em 6, 7, 11, 21 e 30 de maio. Não foi eleito nenhum representante do Pará para esta comissão.
em direção aos Estados Unidos para não serem presos pelas críticas que fizeram
a Machado de Oliveira no jornal O Despertador. Esses redatores, que já eram
parceiros no periódico A Opinião, tinham feito uma severa censura ao presidente
por ter dissolvido a milícia de voluntários liderada por Marcos Martins, a dita
“Guarda Nacional”, dizendo que o presidente estava tirando as armas das “clas-
ses industriais e produtoras” e permitindo que os juízes de paz armassem a “ralé
esfarrapada”.151 Em janeiro de 1833, provavelmente pela circulação de cartas, já se
sabia que estes indivíduos tinham saído dos Estados Unidos e chegado ao Rio de
Janeiro, pois O Publicador Amazoniense fazia esforços para desacreditar a possi-
bilidade de Marcos Martins e seus aliados conseguirem influenciar a Corte, salvar
os agostenses e trocar a presidência do Pará por alguém a seu gosto.152 De fato,
Marcos Martins ressurge publicamente no local que tinha se tornado uma extensão
do palco das disputas políticas do Pará: em 13 de maio de 1833, é apresentado na
Câmara dos Deputados um pedido de anistia feito por Marcos Martins que se iden-
tificava como procurador dos pronunciados pela sedição de 7 de agosto no Pará.153
Os argumentos utilizados na Câmara e no Senado para discutir esse pedido
de anistia demonstram que Marcos Martins tinha conseguido impor sua visão
para parlamentares e ministros importantes. A já citada fala do ministro Honório
à Câmara, pronunciada um dia depois do pedido de anistia, desenhava o atual
estado do Pará como tenebroso: segundo ele, a facção prejudicada pela Agostada
agora se vingava, utilizando os cargos de juiz de paz para prender cidadãos de
“consideração social”.154 O próprio parecer da Comissão de Constituição e Jus-
tiça endossa essa visão: recomenda a anistia porque havia muitos proprietários
e negociantes entre os que estavam sendo presos por envolvimento na Agostada.
Ressalte-se que a aprovação desse parecer na Comissão contou com o voto fa-
vorável de Deus e Silva, um dos deputados eleitos pelo Pará, o que põe por terra
a ideia de que ele estivesse ligado a Batista Campos. O único voto contrário foi
de Costa Ferreira, eleito pelo Maranhão, censurando que na petição de anistia
tenha se comparado o 7 de abril ao 7 de agosto no Pará.155
151
SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem, op. cit., p. 113-114. RAIOL, Domingos Antonio.
Motins políticos, op. cit., p. 274. Os responsáveis pelo O Despertador tinham sido condenados
a dois anos de prisão.
152
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 18 de janeiro de 1833.
153
APB (1833), em 13 de maio.
154
APB (1833), em 14 de maio. Em 4 de setembro, já sem a condição de ministro, Honório segue
a mesma linha para defender a anistia no Pará. APB (1833), em 04 de setembro.
155
APB (1833), em 31 de maio.
156
Anais do Senado do Império do Brasil. Sessão de 1833. Rio de Janeiro: s. i., 1916. [ASIB (1833)],
em 30 de maio.
157
BN – I-1, 16,84 – Campos, João Batista Gonçalves. Carta ao senador José Maritiniano de Alen-
car, enviando-lhe notícias políticas do Pará, onde um movimento absolutista e restaurador tem
atacado os políticos liberais através da imprensa. Pará, 19 de novembro de 1833.
158
ASIB (1833), em 31 de maio.
159
APB (1832), em 13 de agosto.
160
APB (1833), em 8 de junho. Araújo Franco não se manifestou em 1833 sobre o tema, provavel-
mente por estar afastado em razão de doença.
161
A carta de Vergueiro está transcrita em RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 275.
162
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 25 de março de 1833.
163
IHGB – PER 32.12 – A Luz da Verdade. Edição de 30 de março de 1833. Além do comentário
final dos redatores, a transcrição da carta de Vergueiro é pontuada por notas de rodapé em que
são rebatidas as afirmações do ministro. Serra e Campos também criticaram a decisão de retirar
Machado de Oliveira da presidência por outro periódico, O Paraguassu. IHGB – PER 33.20 – O
Paraguaçu. Edição de 1 de março de 1833.
164
Como já mencionado, esta ordem de Feijó não foi cumprida e os agostenses só saíram da presi-
dência com a chegada de Machado de Oliveira. RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos,
op. cit., p. 236.
165
Parte desses documentos foi enviado depois para o Parlamento, como forma de justificar o fato
de não ter sido dada posse ao novo presidente. CEDI – Lata 89, maço 27, pasta 3 – Impressos
sobre a mudança da presidência do Pará e outras.
166
RAIOL, Domingos Antonio. Motins políticos, op. cit., p. 337-343.
167
APB (1833), em 5 e 17 de julho, 4 e 24 de setembro. ASIB (1833), em 22 de agosto.
168
IHGB – PER 32.12 – A Luz da Verdade. Edição de 30 de março de 1833.
169
IHGB – PER 32.14 – O Publicador Amazoniense. Edição de 2 de dezembro de 1833. Esse cabeçalho era
uma citação da Constituição do Império. A mesma frase servia de cabeçalho para o jornal “Exaltado”,
publicado na Corte. Sobre isso, veja de BASILE, Marcello. O Império em construção, op. cit., p. 136.
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