Casos Práticos Posse
Casos Práticos Posse
Casos Práticos Posse
B. ALARICO era proprietário e possuidor de um raro exemplar da primeira edição do livro “Tratado
Jurídico das Pessoas Honradas, escripto segundo a legislação vigente à morte d' el-rei D. João VI”,
editado em 1851. A 12 de Março de 2018, ALARICO vendeu o referido livro à BIBLIOTECA da Fundação
Amigos do Livro. Como a administração da BIBLIOTECA tinha acordado, porém, emprestar de imediato
o livro, por 30 dias, a CASIMIRO - famoso alfarrabista da cidade do Porto, para que este o pudesse
exibir numa exposição de livros antigos em Barcelos -, deu instruções a ALARICO para o entregar a
CASIMIRO, o que aquele fez nesse mesmo dia.
Durante a referida exposição, DÁRIO, convencido que o livro pertencia a CASIMIRO, propôs comprar-
lho por € 50.000,00. A 2 de Abril de 2018, CASIMIRO aceitou a proposta, tendo entregue nesse mesmo
dia o livro a DÁRIO.
DÁRIO mantém, até hoje, o livro na sua casa, à vista de todos quantos o visitam, com exceção de um
pequeno período, durante o ano de 2020, em que DÁRIO entregou o livro na oficina de restauro de
antiguidades de ESMERALDO, para que este aplicasse um repelente de térmitas no livro, no que DÁRIO
despendeu € 250,00.
A 20 de Janeiro de 2021, depois de muita insistência por parte da administração da BIBLIOTECA,
CASIMIRO, que emigrara, entretanto, para a Argentina, informou aquela administração do negócio que
celebrara com DÁRIO, pelo que apenas nesta data a BIBLIOTECA teve conhecimento do que sucedera
ao livro.
1. Sabendo que nenhum dos intervenientes usou, até hoje, qualquer meio de tutela possessória,
analise as diversas situações mencionadas no texto e refira, justificando devidamente as suas
respostas: quem adquiriu posse sobre o referido livro, qual a forma de aquisição dessa posse e
respetivas características.
1º paragrafo
A era proprietária de um livro e vendeu à B o livro, mas não o entregou pois acordou com B que iria
entregar a C de acordo com um contrato de empréstimo que B tinha feito com C.
Aconteceu alguma coisa em relação à posse? houve mudança do possuidor, que passou a ser a B, no
dia 12 de março de 2018
É uma aquisição derivada, ocorre com a colaboração do anterior possuidor, dentro da mesma qual é o
modo? Título possessório bilateral, há um negócio destinado à transferência da propriedade, mas por
acordo das partes a coisa vai permanecer em poder do vendedor, ou seja, o anterior possuidor.
No entanto o A, antigo possuidor nesse dia também vai deixar de ser possuidor e passa a ser um
simples detentor.
Características da posse de B
Titulada tem um contrato válido;
Boa-fé;
Pacifica;
Publica. (aquisição derivada, em regra é sempre publica pelo menos para o anterior possuidor)
Quando A entrega o livro ao C o que acontece com a posse? o C passa a ser o novo detentor, mas
em termos da posse ela pertence ao B.
2º + 3º paragrafo
C tem o comodato, mas alguém lhe fez uma proposta e ele aceitou e vendeu o livro;
Que relevância é que aquilo tem em termos da posse? O C num primeiro momento quando decide
vender o livro deixa de ser detentor para se considerar proprietário por inversão do título da posse,
essa inversão é por oposição implícita
Direitos reais casos práticos- posse
Características da posse de C
Não titulada;
Má-fé;
Pacifica;
Oculta, em reação à biblioteca;
Mais tarde, C transfere a posse ao D, qual é o modo de aquisição? Aquisição derivada, tem ajuda do
anterior possuidor. Qual é o modo? tradição material, existe a entrega da coisa no dia 2 abril de 2018
Quais são as características da posse de D
Titulada;
Boa-fé;
Pacifica;
Publica em relação ao C, mas oculta em relação ao B.
No final temos o possuidor efetivo o D e a B como a possuidora em termos jurídicos pois não sabe que
já não detém a posse e dessa forma os prazos não se começam a contar.
4º paragrafo
Tem alguma relevância do ponto de vista da posse? Não!
Não temos capacidade de perceber se a biblioteca conseguia ter acesso, ou não ao livro;
5º paragrafo
O que aconteceu de forma revelante na posse em 20 de janeiro de 2021? A posse de D tornou-se
publica para a biblioteca.
Atualmente considera-se D o possuidor embora B também se considere possuidora pois ainda não
passou mais de um ano desde o conhecimento.
2. Poderá a BIBLIOTECA exigir hoje (5 de maio de 2021) a DÁRIO a entrega do livro? Justifique a sua
resposta.
O possuidor que foi privado da sua posse contra a sua vontade pode fazer o que? Intentar uma ação de
restituição. A ação de restituição tem pressupostos processuais específicos, nomeadamente no que
respeita à legitimidade passiva. O possuidor que seja privado da sua posse contra a sua vontade pode
interpor ação contra quem?
Contra o esbulhador, neste caso foi o C, no entanto ele já não tem a posse, portanto não faz
sentido colocar contra ele;
Contra os herdeiros do esbulhador, se tiverem substituído o C na posse;
Contra terceiros que tenham adquirido a posse, mas apenas se esses terceiros tiverem
conhecimento do esbulho.
D tem uma posse de boa-fé, quando possuiu desconhecia que tinha havido uma usurpação da posse
por parte do C.
Seria possível interpor uma ação de restituição da posse contra D? não! Ele não tem legitimidade
passiva, dessa forma não podia fazer uma ação de restituição, ainda que estivesse dentro do prazo para
a realizar, o D não tem legitimidade.
A restituição da posse é o único meio de tentar restituir a posse? Não! Não início quando A vendeu o
livro à biblioteca a mesma adquiriu a posse e a propriedade do livro, o que atualmente ainda continua
a ser. Como é que o proprietário pode defender o seu direito? Através de uma ação de reivindicação
(tem como objetivo recuperar a posse de algo que é da minha propriedade).
Ação de reivindicação pode ser colocada contra o D? pode! Já não interessa se está de boa-fé ou de má
—fé, os direitos reais gozam de eficácia absoluta ou erma omnes sendo superiores à posse.
Direitos reais casos práticos- posse
Conclusão: a B não pode colocar uma ação de restituição da posse, porque D não tem legitimidade passiva
(art.º 1231), mas pode colocar uma ação de reivindicação, uma vez que além de possuidora era ainda
proprietária do livro.
Estaria ainda a tempo de interpor ação de reivindicação? Sim, pois não esta sujeita a nenhum prazo. No
entanto, a coisa não se pode extinguir ou a criação e um direito real incompatível, ou seja, sem prejuízo de
existir a usucapião.
Quando é que o D tinha a possibilidade de se considerar o possuidor através da usucapião? Art.º 1299 e
1300. 3 anos a contar do momento em que a posse se tornou publica, ou 4 anos desde o início da posse se
for oculta.
3. Independentemente da sua resposta à questão anterior, caso DÁRIO tenha de devolver o livro à
BIBLIOTECA, que direito ou direitos poderá invocar perante aquela? Justifique.
O D pode exigir alguma coisa à biblioteca? Sim!
Em 2020 D entregou o livro a uma oficina de restauro, para evitar a sua detioração, sendo que gastou
nisso 250 euros. benfeitoria necessária, são sempre reembolsadas independentemente de o
possuidor estar de boa-fé ou de má-fé. (art.º 1273)
Se D tivesse devolvido o livro teria direito ao reembolso desses 250 euros
Mas, além disso poderia exigir mais a B através do art.º 1301. Como foi comprado a um comerciante
que vende coisas do mesmo género B é obrigado a restituir o preço que C pagou pelo objeto. se não
fosse do mesmo género já não teria de ser reembolsado. O 1301 é realizado para segurança dos
comerciantes.
D comprou a C, que é um alfa revista (alguém que se dedica à venda de livros usados)
Sem prejuízo do proprietário depois exigir o regresso a quem originou esta situação toda
Tem de pagar os 50 000 euros + os 250 (art.º 1273 e 1301)
C. ANTÓNIO, viúvo, emigrante na Suécia, era proprietário e possuidor de um prédio urbano destinado a
habitação sita em Braga, que apenas utilizava nas suas raras deslocações a Portugal. Em setembro de
1997, BARNABÉ, filho único de ANTÓNIO, que nascera na Suécia e ali sempre vivera com o pai, foi
admitido na Universidade do Minho, tendo passado a viver no referido prédio em Braga, com o
consentimento de ANTÓNIO.
A 12 de Setembro de 2001, BARNABÉ, sem o conhecimento do pai, arrendou o prédio à sua amiga
CAROLINA, entregando-lhe consequentemente as chaves. CAROLINA passou a viver no prédio desde
então, pagando pontualmente a BARNABÉ a renda que com ele acordara.
A 24 de Dezembro de 2002, BARNABÉ, sempre sem conhecimento do pai, pretendendo iniciar uma
longa viagem à volta do mundo, vendeu o prédio a CAROLINA, por documento particular simples,
recebendo logo a totalidade do preço.
A 13 de Agosto de 2002, ANTÓNIO veio a Portugal de férias pela primeira vez desde 1997, só então
constatando que a fechadura do prédio fora mudada e que nele se encontrava a viver CAROLINA, com
quem falou, tendo-lhe esta mostrado o contrato de compra e venda que celebrara com BARNABÉ.
CAROLINA, que continuava a viver no prédio, faleceu a 31 de Julho de 2017, sucedendo-lhe como único
herdeiro o seu cônjuge, DIONÍSIO.
1. Indique, fundamentadamente, quem adquiriu posse sobre o prédio, qual o modo e a data dessa
aquisição, bem como as respetivas características.
1º paragrafo
O possuidor é o A, embora não vivesse lá de forma permanente;
Direitos reais casos práticos- posse
B foi para lá viver, com o consentimento do pai, portanto é um simples detentor.
2º paragrafo
O B ao decidir arrendar o prédio, passou agir como possuidor, passa agir como usufrutuário do prédio.
Essa posse é originaria por inversão do título da posse
Características da posse de B:
Não titulada;
Má-fé;
Pacifica;
Oculta, em relação ao pai (o pai continua a ser considerado possuidor, uma vez que na posse
oculta não começa logo a contar os prazos)
E a C, vai viver como arrendatária alguma doutrina considera que o arrendatário também é um
possuidor. no entanto, o arrendatário embora tenha acesso aos meios de defesa da posse, tem acesso
porque a lei expressamente lhe concede esse acesso, mas não é considerado possuidor é apenas um
detentor.
12 de setembro de 2021 o B é o possuidor efetivo, A também é o possuidor e C é simples detentora.
3º paragrafo
C tornou-se possuidora ou não? Não sequencia deste contrato é natural que ela passe agir como se o
prédio fosse dela, deste modo constituiu a posse. Qual foi o modo de aquisição? Aquisição derivada
por traditio brevi manu, porque à uma cedência realizada pelo anterior posterior e houve uma
transmissão da posse para alguém que já era detentor.
Características da posse de C
Não titulada existe um título, que é um contrato de compra e venda sendo que não é válido,
pois padece de um vício de forma (não foi realizado por escritura publica) o facto de ser uma
venda de uma coisa alheia não influencia pois é irrelevante para ser titulada ou não
Má-fé pois não é titulada, a C sabia que estava a lesar o direito de outra pessoa? Não, até
porque ele pagava as rendas a B. no entanto, existe uma presunção de má-fé através do facto
da posse não ser titulada e haver a obrigatoriedade de ser sujeito a registro
Publica para B e oculta para com A o anterior possuidor tem de ser capaz de ter
conhecimento da posse, como A vivia no estrangeiro não tinha a capacidade de saber.
Pacifica
4º paragrafo
O que aconteceu com a posse me 13 de agosto de 2002? A posse de C tornou-se publica para A,
começou se a contar o prazo para a perda da posse de A e para a usucapião de C.
O A deixou de ser considerado possuidor um ano depois 12 de agosto de 2003 (1267 nº2)
5º paragrafo
A partir de 2017 com a morte de C, a posse passou para D nos termos do art.º 1255
Aquisição derivada sui genris pois os possuidores sucedem na posse independentemente da aquisição
material na data da morte, ou seja, D passou a ser possuidor do prédio no dia31 de julho de 2017,
independentemente de estar lá a viver ou não.
Características da posse de D (são as mesmas que C tinha) tem sempre as mesmas características
que o autor da sucessão
O possuidor hoje é o D
2. Imagine que foi hoje (5-5- 2021) contactado por ANTÓNIO, que pretende saber se pode exigir a
DIONÍSIO que lhe entregue o prédio. Responda-lhe fundamentadamente.
Direitos reais casos práticos- posse
Não pode realizar uma ação de restituição, uma vez que o D não tem legitimidade passiva. Mas
também porque o prazo esgotou em agosto de 2013.
A ainda é o proprietário do prédio? Pode exigir através de uma ação de reivindicação?
Quando é que C ou D, adquiriram a posse por usucapião? É uma coisa imóvel, não existe registo de
nenhum direito, que deveria ter feito.
Prazo usamos qual? 1294, 1295 ou 1296? como não há registo do direito nem da mera posse,
usamos o 1296
15 anos boa-fé
20 anos má-fé
Começam a contar a partir de 13 de agosto de 2002 completam-se quando? Se a posse fosse de
boa-fé seria em agosto de 2017, se fosse de má-fé (que é o caso pois presume-se de má-fé) o prazo
estaria completo em agosto de 2022
A ainda pode, mas corre o risco de D dizer que ainda que a posse fosse não titulada, podia provar que a
sua posse era de boa-fé e dessa forma já poderia dizer que não podia uma vez que estava invocado a
usucapião.
No caso de morte dá-se sucessão e os prazos são juntos.