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DIREITO DAS COISAS: Práticas

Prof.ª Margarida Manuel Barroso Costa Andrade

Aula dia 25 de fevereiro de 2019

Livro de casos práticos, Margarida Costa Andrade e Mónica Jardim

1ª pergunta das orais: O que é o princípio da consensualidade e quais as suas exceções?

Aula dia 11 de março de 2019

TEORIAS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS REAIS

1. TEORIA REALISTA OU CLÁSSICA: Foi formada durante idade média com base nos
estudos que os juristas medievais (glosadores e comentadores) desenvolveram sobre as
fontes de direito romano. Para a teoria clássica os direitos reais são um poderes diretos e
imediatos sobre coisa certa, determinada e autónoma. Por sua vez, os direitos de crédito
são poderes intersubjetivos, na medida em que o seu conteúdo consiste no poder de exigir
de outrem (do devedor) um determinado comportamento positivo ou negativo, ou seja,
uma prestação.
Direito real: Direito de crédito:

Titular Credor Devedor


(titular)

Coisa

2. TEORIA PERSONALISTA: Surgiu no século XIX e foi fundada sobre a filosofia kanteana.
Para Kant o direito era um fenómeno social, o que significa que era impossível estabelecer,
de acordo com a teoria personalista, relações entre sujeitos e coisas, porque as relações
jurídicas são sempre relação entre sujeitos, dado que o direito é um fenómeno social.
Os personalistas vieram dizer que a teoria realista dava apenas uma alegoria/imagem
sobre o que era direito real, que não traduzia o que era o fenómeno do direito real
propriamente dito. Os personalistas vieram dizer que no cerne do direito real estava
também uma relação intersubjetiva, só que o sujeito passivo estava escondido, porque o
que se via era a relação de poder ou o exercício de poderes de um sujeito sobre uma
coisa, mas o que verdadeiramente traduzia o direito real era uma relação intersubjetiva que
se estabelecia entre o titular do direito real e toda a comunidade jurídica - e a comunidade
jurídica estava obrigada a abster-se de qualquer comportamento que interferisse no
exercício de poderes sobre a coisa, obrigação essa que toma o nome de obrigação
passiva universal: obrigação no sentido em que os que estão por ela obrigados têm de
prestar um determinado comportamento de natureza negativa, que é o dever de não
interferir; e é universal porque onera todos os sujeitos que pertencem à comunidade
jurídica e que podem interferir no exercício de poderes sobre a coisa. Foi a partir daqui que
se começou a dizer que os direitos reais têm eficácia erga omnes ou absoluta.

Direito real:

Titular Toda a comunidade jurídica

Filipa Ribeiro Gonçalves 1


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A teoria personalista dirigiu mais críticas à teoria realista. Uma dessas críticas foi de que há
direitos reais que não conferem poderes diretos e imediatos sobre a coisa. P. ex., o
direito de hipoteca não concede um poder direto e imediato sobre coisa certa, determinada
e autónoma.

CATEGORIAS DE DIREITOS REAIS: direitos reais de gozo, direitos reais de garantia e direitos
reais de aquisição

É possível saber o número dos direitos reais que existem no ordenamento jurídico
português? É possível, por causa do princípio da taxatividade ou numerus clausus (artigo
1306º do CC). O sistema português é um sistema de taxatividade, o que quer dizer que os
direitos reais são aqueles que como tal estão disciplinados na lei, o que não quer dizer que a lei
tem de identificar com precisão quando é que temos direitos reais.

1. PROPRIEDADE: É o direito real máximo - artigo 1302º do CC.


2. POSSE: É um direito real provisório.
3. DIREITOS REAIS MENORES:
- De gozo:
i) Propriedade horizontal (artigos 1414º e ss.);
ii) Direito de usufruto (artigos 1439 º e ss.);
iii) Direitos de uso e habitação (artigos 1484º e ss.) - são direitos distintos;
iv) Direito de superfície (artigos 1524º e ss.);
v) Servidões prediais (artigos 1543º e ss.);
vi) Em legislação avulsa: direito real de habitação periódica e direito real de
habitação permanente.
- De garantia: Estão no livro das obrigações, porque a função é garantir o crédito, por
isso é que se diz que os direitos reais de garantia são direitos reais acessórios.
i) Consignação de rendimentos (artigos 656º e ss.);
ii) Penhor de coisas ou de direitos (artigos 666º e ss.) - incide sobre coisas
móveis;
iii) Hipoteca (artigos 686º e ss.) - incide sobre coisas imóveis ou
equiparadas, ou seja, móveis sujeitos a registo (automóveis, aeronaves e
barcos);
iv) Privilégios creditórios (artigos 733º e ss.) - só são garantias reais quando
sejam privilégios especiais, porque os privilégios creditórios gerais
incidem sobre todo o património e são garantias pessoais;
v) Direito de retenção (artigo 754º e ss.);
vi) Penhora.
- De aquisição.

Os personalistas têm razão?


A e B celebraram um contrato de mútuo. A (credor) emprestou dinheiro (10 mil euros) a B
(devedor). Combinaram que o pagamento dos 10 mil euros pelo B deveria ser feito até 31 de
janeiro. Chegando a essa data, A interpelou B para o cumprimento e B não cumpriu. Quid
iuris?

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Entrando em incumprimento do crédito, A pode intentar uma ação executiva contra B para
pedir ao tribunal que venda um conjunto de bens pertencentes a B e com o produto dessa
venda fazer-se pagar pelo crédito não cumprido, penhorem-se bens do património de B
suficientes para o pagamento da dívida - todo o património de B passa a estar ao serviço
do pagamento do crédito de B para com A.

Se B, a 29 de janeiro, passar todos os bens penhoráveis do seu património para o nome do


amigo C, não há nada penhorar. Assim, quando o A pede ao tribunal para mandar penhorar
os bens de B vai verificar que este não tem património, porque foi doado a C.

Posto isto,
1ª conclusão: Quando há incumprimento, ainda que não haja garantia real, há
uma garantia geral de cumprimento que é o património do devedor - artigo 601º do CC.
2ª conclusão: A garantia geral dos credores pode tornar-se inútil quando o
devedor se liberta do seu património. Como o credor pode dar a volta a este status quo?
Exigindo do devedor a prestação de uma garantia real.

B era proprietário de uma casa. A empresta os 10 mil euros a B, mas na condição de este lhe
oferecer uma garantia real, que sobre a casa seria uma hipoteca - B oferece a A em garantia
uma hipoteca. Eles celebram um contrato nos termos do qual o valor da vivenda do B fica
afetado ao cumprimento alternativo do crédito mutuário. Isto quer dizer que a 31 de janeiro,
se B não tiver cumprido, A pode pedir a execução da casa. Quer dizer que A vai pedir ao
tribunal que penhore a casa para vende-la judicialmente e com o produto obtido da venda
judicial vai ser pago o credor. Se na venda judicial da casa se apurar o valor de 100 mil
euros, os 10 mil euros são pagos ao credor e aos restantes são entregues ao devedor.

Os direitos reais de garantia são direitos reais que atribuem ao seu titular o poder de se
fazer pagar pelo valor da coisa ou dos rendimentos que ela produza com preferência face
aos demais credores. Com preferência porque os titulares dos direitos reais de garantia são
sempre os primeiros a ser pagos, independentemente da data da constituição do crédito.
Isto enquanto os direitos reais de gozo permitem aos seus titulares o aproveitamento das
utilidades ou dos frutos que a coisa produza.

Se, a 29 de janeiro, B vender o imóvel a C, o incumprimento ocorrerá a 31.


No dia 2 de fevereiro, A pode intentar a ação executiva contra C, porque há sequela (direito
de seguir a coisa onde quer que ela se encontre), que é uma consequência da eficácia
absoluta ou erga omens.

A e B celebraram o tal contrato de constituição da hipoteca, onerando a vivenda com o direito


real de garantia, o qual levaram a registo, ficando, assim, registada, na ficha do imóvel, a
constituição da hipoteca no valor de 10 mil euros a favor do credor A.
A hipoteca constitui-se ou por negócio jurídico unilateral ou por contrato celebrado entre o
credor e devedor e a hipoteca constituiu uma exceção ao princípio da consensualidade, na
medida em que só há hipoteca depois do registo - artigo 687º do CC e 4º do Cód. Reg.
Predial.

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Até agora nós assistimos a algum poder direto e imediato sobre a coisa pelo credor? Não,
porque a titularidade continua a ser do devedor, este continua a ser o proprietário, mas A
também é titular de um direito real. Temos aqui uma situação de conflito ou de
sobreposição de dois direitos reais sobre a mesma coisa: o direito de propriedade
pertencente ao B e o direito de hipoteca pertencente ao A.

No que diz respeito ao A, enquanto titular do direito real de garantia, ele tem poderes
diretos e imediatos sobre a coisa? Sim, o poder direto e imediato de, a partir do
incumprimento do crédito garantido, fazer intervir o tribunal para se fazer pagar pelo valor
da coisa o crédito não cumprido. O credor nunca exerce são poderes materiais ou de facto
sobre a coisa, até porque o exercício dos poderes do credor sobre a coisa é sempre feita
por intermédio do tribunal (é este que exerce a penhora, que toma posse do imóvel com o
incumprimento, que o faz vender).
Por isso que se diz que não há na hipoteca uma afetação material da coisa, há apenas uma
afetação jurídica e essa afetação jurídica é que é o poder direto e imediato sobre a coisa
que constitui conteúdo da garantia real.

O problema dos personalistas quando falam na hipoteca e dizem que é o direito real sem
poderes diretos e imediatos sobre a coisa é que eles confundem poder direto e imediato
sobre a coisa com poder material. E é a partir daí, quando eles confundem poder direto e
imediato sobre a coisa com poder material, que eles não têm razão.

Posto isto, não se provou até agora que haja direitos reais que não concedam poderes
diretos e imediatos sobre a coisa. O que há são direitos reais que não concedam poderes
materiais ou poderes de facto sobre a coisa.

Outra das críticas que personalistas dirigiram aos realistas foi de que há direitos que não
são reais, mas que conferem poderes diretos e imediatos sobre coisas e dão como
exemplo a locação (tanto na figura de aluguer como na figura de arrendamento) e o comodato.

O comodatário tem o poder direto e imediato sobre coisas, se nós entendermos poder
direto e imediato sobre coisas como poder material, mas poder material e poder direto e
imediato sobre coisas não são expressões sinónimas. Mais uma vez assiste-se à confusão
entre poder direto e imediato sobre coisas com poder material.

A locação e o comodato não são direitos reais, ou seja, não concedem direitos reais ao
comodatário ou ao locatário, porque o comodatário e o arrendatário só chegam à coisa
através de um ato de colaboração do seu proprietário, ato esse que é a entrega. A partir do
momento em que o exercício dos poderes materiais sobre a coisa esteja dependente de
um ato de colaboração, nós só podemos identificar a presença de um direito de crédito.
Embora, uma parte da doutrina (2ª T) diga que nós nestes casos (comodato e locação)
estamos perante direitos pessoais de gozo. Estes direitos pessoais de gozo para uma
parte da doutrina (maior parte) são meros direitos de crédito que criam relações
obrigacionais, mas para outra parte da doutrina (Dr.ª Mónica jardim) criam um terceiro
género que se vai organizar entre os direitos reais e os direitos de crédito, porque entende-
se que há efetivamente um poder direto e imediato sobre a coisa, mas há sempre
dependência de um ato de colaboração da parte do proprietário.

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Outro crítica dirigida pelos personalistas aos realistas é de que há direitos reais que
conferem poderes diretos e imediatos sobre coisas (certas, determinadas e autónomas),
mas em que a satisfação do interesse do titular do direito real não se faz pelo exercício
desses poderes e dão como exemplo o penhor (direito real de garantia).
NOTA: Enquanto a hipoteca, por regra, se constitui sobre bens imóveis; o penhor, por regra,
constitui-se sobre bens móveis e pode assumir duas modalidades: o penhor de coisa ou o penhor
de direitos.

A sabe que o B tem a casa que vale 100 mil euros, mas apercebeu-se que este herdou uma
jóia que vale 200 mil euros. Então, A já não quer a hipoteca como garantia do cumprimento
daquele contrato, mas antes quer um penhor.
O penhor é um contrato real quanto à constituição, ou seja, a perfeição do contrato exige
um ato de execução da vontade que é normalmente a entrega da coisa. Sem entrega o
contrato não está perfeito e se o contrato não está perfeito daí não decorrem efeitos
jurídicos. E é ainda um contrato real quanto aos efeitos ou um contrato com efeitos reais,
ou seja, é um contrato por meio do qual se constituem, modifiquem, transmitem ou
extinguem direitos reais (contrariamente ao contrato com efeitos obrigacionais a partir do qual se
constituem obrigações) - p. ex., a compra e venda é um contrato pelo meio do qual se transfere o
direito de propriedade e o direito de propriedade é direito real; o contrato de constituição de
hipoteca é um contrato pelo meio do qual se constitui o direito real de hipoteca; a doação; contrato
de constituição de usufruto; contrato de constituição de uma servidão predial.

Os contratos reais quanto à constituição não são necessariamente contratos reais quanto
aos efeitos:
- Há contratos reais quanto à constituição que não produzem efeitos reais - p. ex., o
comodato, que é um contrato real quanto à constituição, porque o direito do comodatário
apenas se constitui pela entrega da coisa, mas não é um contrato real quanto aos efeitos,
porque ao comodatário não se reconhece a titularidade de um direito real.
- Há contratos reais quanto à constituição que produzem efeitos reais - p. ex., o penhor,
que é um contrato real quanto à constituição, porque o direito do credor pignoratício apenas se
constitui a partir do momento da entrega da coisa - artigo 699º/1 do CC e é um contrato real
quanto aos efeitos porque, por força do contrato de penhor, surge um direito real que é o
direito de penhor.

Portanto, isto quer dizer que não há penhor sem a entrega da coisa. Logo, quando A e B
celebram contrato de penhor para que A se torne credor pignoratício tem de haver a
entrega da jóia a A, passando este a exercer sobre a jóia poderes materiais e poderes
diretos e imediatos, porque ele é titular de um direito real.

Novamente os personalistas confundem poder material com poder direto e imediato sobre
a coisa. Eles dizem que o A (credor pignoratício) exerce poderes materiais sobre a coisa
(ou seja, para eles exerce poderes diretos e imediatos sobre a coisa), mas que o interesse
dele não advém do exercício desses poderes diretos e imediatos, isto é, a satisfação dos
interesses do credor não advém do exercício dos poderes materiais. Isto aparentemente é
verdade, porque o interesse do credor pignoratício é que o devedor pague. E, portanto, o
poder direto e imediato não interessa tanto no exercício dos poderes materiais (o ter a jóia
na mão), o que interessa é que em caso de incumprimento possa obter o produto da venda
por intermédio do tribunal e se dê os 10 mil euros do credor. Só que isso não é

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necessariamente assim. É que o exercício dos poderes materiais pelo credor pignoratício
tem duas funções próprias:
1. Por um lado, a detenção material da coisa pelo credor dá publicidade à garantia. No
caso dos imóveis a publicidade dá-se através do registo. Já no penhor a publicidade
não se dá através por registo, mas sim através da entrega da coisa.
2. Por outro lado, dificulta a alienação da coisa pelo devedor.

Embora esta crítica dos personalistas para com os realistas não seja a mais frágil, também
não é a mais forte, porque na verdade o exercício do poderes materiais sobre a coisa tem
uma função própria no penhor.

Houve ainda críticas que foram dirigidas à teoria personalista. A teoria personalista
esqueceu o exercício dos poderes diretos e imediatos sobre uma coisa e fê-lo traduzindo o
direito real numa relação intersubjetiva na qual colocou como sujeito passivo toda a
comunidade jurídica. Tanto queria contrariar que direito real fosse equivalente a poder
direto e imediato sobre a coisa, que se prejudicou e acabou por negar aquilo que é uma
evidencia, é que os direitos reais dão poderes diretos e imediatos sobre coisas, ainda que
nem sempre sejam acompanhados de poderes materiais.

Outra crítica que foi dirigida à teoria personalista foi de que ela não atribuir deveres aos
titulares de direitos reais, porque a teoria personalista só fala na eficácia absoluta, ou seja,
só fala naquilo que os outros devem aos titulares dos direitos reais e não dos deveres que
os titulares dos direitos reais têm para com outros.

3. TEORIA ECLÉTICA (1ª T): É a posição dominante em Portugal e na escola de Coimbra


(Mota Pinto, Santos Justo, etc.). Esta teoria, reconhecendo as virtudes nas teorias realista
e na personalista, sintetizou essas virtudes numa só, dizendo que os direitos reais têm uma
estrutura complexa, na medida em que dois elementos distintos se fundem no seu cerne.
Assim, a teoria eclética sintetiza, na estrutura dos direitos reais, dois elementos:
1) O elemento interno ou de conteúdo: Consiste nos poderes diretos e imediatos sobre
a coisa certa, determinada e autónoma. Olhando para o poder direto e imediato
sobre a coisa, nós vamos conseguir distinguir os vários direitos reais. Portanto, a
teoria eclética foi buscar o elemento interno à teoria realista.
2) O elemento externo ou de sanção: Consiste na a eficácia absoluta ou, de outra
perspetiva, na obrigação passiva universal. Portanto, a teoria eclética foi buscar o
elemento externo à teoria personalista.

Tal como quando olhamos para o direito real e encontramos estes 2 elementos, também
vamos encontrar estes 2 elementos no direito de crédito. Contudo, no direito de crédito o
elemento interno ou de conteúdo corresponde ao poder de exigir de outrem um
comportamento de conteúdo positivo ou negativo, numa só palavra é a prestação e o
externo ou de sanção à eficácia relativa ou inter partes.

3. TEORIA REALISTA RENOVADA (2ª T e Dr. Henrique Mesquita): Regressa-se à ideia de


que os direitos reais são poderes diretos e imediatos sobre as coisas, só que de uma
forma mais complexa do que a teoria realista. Isto porque o Dr. Henrique Mesquita vai
integrar dentro do núcleo dos direitos reais, usando a expressão estatuto:
‣ O poder direto e imediato;

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‣ As restrições aos direitos reais;


‣ As obrigações de conteúdo positivo (de fazer e de dar).
Assim, este autor diz que os direitos reais se constituem de poderes, de restrições e de
obrigações positivas (de fazer e de dar). P. ex., o usufrutuário está obrigado às reparações
ordinárias da coisa - artigo 1472º do CC. Dizendo então que um direito real é uma relação
jurídica estabelecida entre um sujeito e uma coisa, determinada ou regulada - essa relação
jurídica - por um estatuto jurídico - a expressão estatuto é importante porque através dela nós
conseguimos expressar a ideia de que não há apenas poderes, mas há também restrições e
obrigações de conteúdo positivo - no qual se atribui ao titular do direito real, poderes diretos e
imediatos sobre uma coisa, mas também se restringem esses poderes e se obriga o titular
do direito real a comportamentos contra-positivos, isto é, a comportamentos de fazer ou
de dar (pagar), designados, pelo Dr. Mesquita, de obrigações reais.
Henrique Mesquita não fala em obrigação passiva universal, mas em dever geral de
abstenção, dever esse que incumbe a todos e que se traduz na abstenção de qualquer
comportamento de ingerência neste estatuto, ou seja, nesta relação entre o sujeito e a
coisa e dever esse que está fora do núcleo dos direitos reais.

PONTOS DE CONTACTO ENTRE OS DIREITOS REAIS E OS DIREITOS DE


CRÉDITO:
1. Por regra, ambos surgem tendencialmente por mero efeito do contrato (princípio da
consensualidade - artigo 408º/1 do CC), sem ser necessário um ato de execução da
vontade como a entrega ou o registo. Nos direitos reais há duas exceções: a hipoteca e o
penhor.
2. Por regra, são ambos transmissíveis (princípio da transmissibilidade). Nos direitos reais há
3 exceções: direito de uso, direito de habitação e servidões prediais.
3. Há direitos reais que são acessórios dos direitos de crédito, que são os direitos reais de
garantia.
4. Há direitos reais que têm por objeto direitos de crédito. Exemplo: penhor de créditos e
usufruto de direitos.
5. A violação de direitos reais faz surgir uma relação obrigacional entre o titular do direito
violado e o autor da lesão - esta relação recebe o nome de pretensão real.
6. Há obrigações cujo sujeito passivo é determinado em função da titularidade de um direito
real, isto é, os titulares de direitos reais também são obrigados perante outrem - é o que se
designa por obrigação real.

Em janeiro de 2010, A celebrou com B um contrato nos termos do qual este poderia
colher todas as tangerinas que o terreno àquele pertencente produzisse durante 10 anos.
Em 5 de fevereiro de 2019, A vendeu a C, por documento particular autenticado, o seu
prédio e este agora não permite que B recolha as tangerinas.
B consulta-o para saber se ode opor a sua posição a C. Que lhe responderia?

O contrato celebrado entre A e B era para que o B pudesse colher as tangerinas até 2020.
Mas, entretanto, em 2019, o prédio foi vendido a C.

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Posto isto,
- B diz que tem direito a recolher as tangerinas porque celebrou um contrato, que
ainda está vigente e que permanecerá vigente até 2020, com A (antigo
proprietário) que lhe permite ir às tangerinas.
- C (proprietário atual) não permite que B recolha as tangerinas.

Então, quem é que tem razão?

I. Antes de mais, temos de qualificar os direitos que cada um dos sujeitos em conflito
invoca:

- DIREITO DE C: Direito de propriedade, que é o direito real máximo. Portanto,


não há dúvidas, C é titular de um direito real.

Quando é que o C se tornou proprietário do imóvel? C tornou-se proprietário no


momento da celebração do contrato - é o famoso princípio da consen-
sualidade, consagrado no artigo 408º/1 do CC, segundo o qual os direitos reais
constituem-se, transferem-se, modificam-se e extinguem-se por mero efeito da
vontade. Isto significa que nos contratos basta a vontade de um sujeito se
encontrar com a vontade do outro que imediatamente se produz o efeito real (a
proposta encontra-se com a aceitação e imediatamente se produz um efeito real), tal
como acontece nas obrigações (encontrando-se a proposta com a aceitação
imediatamente surge a obrigação).

Remissão p/ Nós só temos exceções ao princípio da consensualidade quando não basta a


pág. 11 vontade, ou seja, quando ainda é necessário a prática de um outro facto que
venha executar ou manifestar essa vontade, nomeadamente quando lei exija:
1. Entrega da coisa;
2. Registo constitutivo;
3. Notificação do devedor.

Portanto, não são exceções ao princípio da consensualidade:


1. Forma: Os negócios em que se exige a forma não são exceção ao
princípio da consensualidade, a forma é apenas uma exigência imposta
pela lei quanto à manifestação da vontade, que o legislador considera
necessária para estimular a reflexão das partes no negócio que estava a
celebrar. No fundo o que é que a lei está a dizer é que nos contratos
formais o efeito real continua a provir ou a ter a sua origem na vontade,
só que essa vontade tem de manifestar-se da forma prevista na lei, seja
por escritura pública, seja por escrito particular, seja por documento
particular autenticado.

Portanto, o efeito real continua a reportar-se à vontade. Embora a


vontade, em determinadas circunstâncias, nomeadamente quando estão
em causa negócios jurídicos que tenham por objeto bens imóveis ou
móveis sujeitos a registo, tenha de se manifestar de uma forma mais
específica, que é o documento particular autenticado e não a escritura

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pública. Todavia, todos os contratos celebrados até 2008 tinham de ser


celebrados por escritura pública, porque os contratos reais celebrados
até 2008 sem ser por escritura pública eram nulos por vício de forma –
artigos 219º e 220º do CC. A partir de 2008 passou a exigir-se
documento particular autenticado, porque quem é que faz escrituras
públicas são só os notários e são várias as profissões que podem
autenticar documentos particulares. Assim, as partes celebram um
negócio, deduzem o negócio a escrito (documento particular) e depois
levam o documento particular à autenticação dos sujeitos a quem a lei
atribuiu as funções de autenticação. São eles:
‣ Os notários (terceiros imparciais que servem para explicar o conteúdo dos
negócios jurídicos);
‣ Os conservadores (já se está fora das suas funções);
‣ Os advogados (começamos a ver a perversão do sistema porque
advogados por definição defendem partes, não se percebe como é que eles
podem atuar como tituladores da vontade);
‣ Os solicitadores;
‣ As câmaras de comércio e indústria.

Obviamente que um negócio jurídico que se pretende que tenha apenas


efeitos obrigacionais, também pode ser realizado por escritura pública. O
máximo que pode haver é excesso de forma.

Posto isto, por ação do princípio da consensualidade consagrado no


artigo 408º/1 do CC, C é proprietário do imóvel a partir do momento da
celebração do contrato. Sendo certo que a vontade contratual tem de ser
manifestada através da forma do documento particular autenticado, pois
se não for cumprida a forma o negócio é nulo e não produz quaisquer
efeitos, incluindo o efeito real.
É por isso que o Dr. Mota Pinto distingue 2 princípios:
• O princípio da consensualidade: O contrato produz efeitos reais por
mero efeito da vontade.
• O princípio da causalidade: O negócio jurídico, para produzir
efeitos, tem de ser válido, existente e procedente. Isto significa que a
vontade tem de ser manifestada adequadamente, pois se o negócio
jurídico padecer de vícios, então, ele não vai produzir efeitos.
Fala-se no princípio da causalidade nos direitos reais, porque há
sistemas em que, apesar do negócio jurídico ser inválido, se vão
produzir efeitos reais, ou seja, a invalidade do negócio não impede a
produção do efeito real.

2. Registo: O registo é apenas uma condição de eficácia do direito real


perante terceiros para efeitos de registo.
Os negócios jurídicos que tenham por objeto bens imóveis ou móveis
sujeitos a registo têm que ser levados a registo, porque este, em Portugal,
desde 2008, é obrigatório, mas isso não tem relevância nenhuma ao nível

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da produção dos efeitos reais. Isto porque o registo não é constitutivo, é


antes meramente declarativo, para uns, e consolidativo, para outros.
Assim, o registo embora seja obrigatório, não produz efeitos reais - o
efeito real é produzido pela vontade, desde que o negócio seja válido.

Isto quer dizer que C, que celebrou com o A, por documento particular
autenticado, a compra e venda do imóvel, tornou-se o proprietário do
prédio por mero efeito do contrato (princípio da consensualidade), mesmo
não o tendo levado registo.

Se não houver registo, o que acontece é que o direito real não produz
efeitos perante determinados terceiros (e não todos os terceiros, porque se
assim fosse o registo seria sempre constitutivo, porque era condição de eficácia
absoluta).
Posto isto, o registo é condição de eficácia perante um determinado tipo
de terceiros que são, fundamentalmente, mas não exclusivamente os:
• Os terceiros adquirentes de transmitente comum - artigo 5º do Cód.
Reg. Predial.
Exemplo: A vende B, B é o proprietário (princípio da consensualidade). A
vende a C, B é o proprietário, pois a venda de A a C é uma venda nula,
porque vem de um sujeito que não é o dominus/proprietário (quando A
vende a C, o bem é de B). Mas se o C regista, o ordenamento jurídico vai
reconhecer a propriedade do bem ao C.
Portanto, sem o registo o proprietário era o B e o direito do B era oponível ao
C, tal como ele é oponível a todos os que apareçam - obrigação passiva
universal. Todavia, a lei criou aqui uma exceção e veio dizer que se o C
registar primeiro, apesar desta compra e venda ser nula, em homenagem
aos valores da certeza e da segurança jurídica vai reconhecer o direito ao C.
A tendência é para que estas situações deixem de existir a partir do
momento em que se tornou obrigatório o registo - obrigou-se o sujeito (o
advogado, solicitador, etc.) a imediatamente comunicar à conservatória do
registo predial a celebração do contrato, mas tem um prazo de 2 meses.
• Os terceiros numa cadeia de transmissões - artigo 291º do CC.
Exemplo: A vende a B e B vende a C. Este último negócio é inválido, mas C
regista. Porque este negócio é inválido, o direito de propriedade pertence a
A. Contudo, por força do registo e dentro das condições que estão previstas
no artigo 291º do CC, a ordem jurídica vai o direito a C.
Portanto, por causa da invalidade (princípio da causalidade) o negócio
jurídico não vai produzir efeitos reais. Todavia, a intervenção do registo vai
fazer com que se venha a reconhecer o direito de propriedade ao C. As
normas de direito substantivo vão ser pervertidas pela intervenção do
registo.

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Aula dia 18 de março de 2019

As exceções ao princípio da consensualidade estão previstas na lei e são taxativas -


princípio da taxatividade dos direitos reais: não diz respeito apenas ao conteúdo do direito (aos
poderes que são reconhecidos ao titular do direito real), mas também diz respeito ao momento da
constituição do direito e é o legislador único sujeito que tem legitimidade para determinar
exceções ao princípio da consensualidade - é ele que determina como é que se constituem os
direitos reais e o que é cada um deles.

Embora o sistema português de transmissão de direitos reais seja um sistema de título (isto
é, em que basta o acordo entre as partes, seja qual for a forma), há casos excecionais no nosso
ordenamento jurídico, em que não basta a vontade seja de que forma ela for expressa, é
necessário ainda um ato de execução e da vontade, entre os quais se destacam, no direito
português:
1) Hipoteca (título + registo): Constitui-se com o registo, este tem efeitos constitutivos -
artigo 687º do CC e 4º do Cód. Reg. Predial. Não basta o acordo de vontades, ou seja,
não basta que o credor hipotecário faça coincidir a sua vontade com o futuro devedor
hipotecário, é necessário que, para além do título, haja também o registo para que se
produza do efeito real.
2) Penhor de coisa (título + entrega): É necessária a entrega da coisa - artigo 669º do CC.
Portanto, para além do o título, ou seja, do acordo entre o devedor pignoratício e o
credor pignoratício, é necessário a entrega.
3) Penhor de créditos (título + notificação do devedor): É necessário para além do título, a
notificação do devedor - artigo 681º/2 do CC.
Exemplo: A é credor e B é devedor. B é credor e C. Temos um crédito de B perante C. B oferece
esse crédito em garantia ao A. Ou seja, quem tem de ser notificado da constituição do penhor de
créditos é o C, isto é, o devedor do devedor. Obviamente que A e B não têm de ser notificados,
porque eles são as partes em contrato.
4) Doação de coisas móveis: A doação de coisas móveis não depende de formalidade
alguma externa, quando acompanhada de tradição da coisa doada; não sendo
acompanhada de tradição, só pode ser feita por escrito - artigo 947º/2 do CC. Aqui o
legislador está a conceder às partes envolvidas na doação duas oportunidades para a
transmissão do direito de propriedade sobre uma coisa móvel:
1. Ou fazem por escrito - não há exceção;
2. Ou abdicam do escrito, mas a doação tem de ser acompanhada da tradição da
coisa - aqui é que temos a exceção ao princípio da consensualidade.
Porque estamos a falar de um negócio jurídico gratuito, tanto a tradição como a forma
são modos que de o legislador assegurar que as partes estão a refletir, nomeadamente
quer ter a certeza que a efetiva vontade do proprietário é desprender-se de uma parte
do seu património sem receber uma contraprestação - razão de ser da norma.

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- DIREITO DE B: A posição de B pode ser qualificada a partir de várias


perspetivas (que vão dar ao mesmo resultado):

1. O que A pretendeu fazer foi conceder a B um direito sobre o prédio (o


direito de entrar no prédio e colher as tangerinas). Quando pensamos
desta forma há uma de duas possibilidades:

i) As partes quiseram constituir um direito de crédito sobre o prédio:


Aqui não há nenhum problema, porque ao B vamos apenas
reconhecer um direito de crédito e se é um direito de crédito ele não
prevalece sobre o direito de C (direito real de propriedade) - regra
da prevalência. O que não quer dizer que depois o B não se possa
entender com A em termos de responsabilidade contratual.

ii) As partes quiseram constitui um direito real sobre o prédio: Que


direito real seria? Ou, por outras palavras, será que nós podemos
subsumir a posição de B a um dos direitos reais que estão previstos
na lei? Antes de mais, se for um direito real a que categoria
pertencerá? Direito real de gozo e que direito real de gozo seria
esse?
- Não é propriedade;
- Não é propriedade horizontal;
- Não é usufruto. O direito de usufruto (artigo 1439º do CC) é
o direito de gozar temporária e plenamente uma coisa ou
direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância. O
usufruto concede ao usufrutuário (ao titular do direito real de
usufruto) o poder de gozar temporária e plenamente uma
coisa ou direito alheio. Quando a lei fala em direito de gozo
estão sempre incluídas 2 faculdades distintas:
a. O direito de usar (de aproveitar as utilidades fornecidas
pela coisa);
b. O direito de fruir (de colher os produtos e/ou frutos que a
coisa produza, sejam frutos naturais - frutos - ou civis -
rendas).
O usufrutuário tem de ter sempre o direito de gozo, isto é:
‣ O direito de usar e fruir a coisa temporariamente: é
sempre um direito temporário (ainda que possa ser vitalício,
tem de terminar sempre com a morte do usufrutuário -
artigo 443º do CC)
‣ O direito de usar e fruir a coisa plenamente: significa
que os frutos que a coisa produz estão plenamente ao
dispor do usufrutuário.
O B só pode fazer é entrar, colher as tangerinas e ir embora,
por isso não temos um direito de usufruto, porque B não
tem o gozo pleno da coisa. Não tem, logo à partida, o
direito de uso e o seu direito de fruição está muito limitado.

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- Não é direito real habitação (porque o objeto de direito


habitação é uma casa);
- Tal como não é direito real de habitação periódica;
- Be como não é direito real de habitação permanente;
- Não é um direito de uso. O direito de uso (artigo 1484º do
CC) consiste na faculdade de se servir de certa coisa alheia
e haver os respetivos frutos, na medida das necessidades,
quer do titular, quer da sua família. Temos o direito de usar e
o direito de fruir.
A grande distinção entre o direito de uso e o direito de
usufruto é que o direito de uso é funcionalizado, ou seja, o
direito de usar e o direito de fruir da coisa alheia serve para a
satisfação das necessidades do titular do direito e da sua
família.
Ora, tal como excluímos o usufruto, também vamos excluir o
uso.
- Não é um direito de superfície. O direito de superfície (artigo
1524º do CC) consiste na faculdade de construir ou manter,
perpétua ou temporariamente, uma obra em terreno alheio,
ou de nele fazer manter plantações. Assim, é concedido ao
superficiário o direito sobre uma coisa alheia de:
a. Construir ou plantar;
b. Manter a plantação ou a obra.
Mas o direito de superfície não tem apenas esta modalidade,
ele é um direito complexo, ou seja, tem várias modalidades:
‣ É possível constituir o direito de superfície por
aquisição da construção ou aquisição da plantação.
Existem, assim, dois direitos de propriedade: um
direito sobre a obra ou plantação já feita e outro sobre
o solo.
‣ É admitida a de construção e manutenção de
construção no subsolo.
‣ É admitida a construção sobre edifício alheio – direito
de sobrelevação.
- Não é uma servidão predial. As servidões prediais (artigo
1543º do CC) traduzem-se no encargo imposto num prédio
em proveito exclusivo de outro prédio pertencente a dono
diferente; diz-se serviente o prédio sujeito à servidão e
dominante o que dela beneficia. Assim, não é uma servidão
predial, porque não temos a relação de predialidade que é
inerente ao tipo de servidão real. Isto porque não basta ter
um encargo (no caso, temos um encargo que é deixar o B entrar
para colher as tangerinas), esse encargo tem de ser um
encargo que onera um prédio em benefício de um outro
prédio e no caso o beneficiado é pelo encargo é o B e não
outro prédio. Há quem diga que neste caso temos as
chamadas servidões pessoais, que são encargos
constituídos sobre prédios em benefício de um sujeito.

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Posto isto, A e B tinham a intenção de constituir um direito real


sobre o prédio, mas esse direito se não subsume às noções de
direitos reais constantes da lei.
Então, o que nós poderíamos dizer era que as partes tentaram criar
um direito real atípico e não sendo os direitos atípicos aceites no
direito português, haveria uma violação crassa do princípio da
taxatividade consagrado no artigo 1306º do CC, logo o negócio
jurídico seria nulo. Contudo, isto implicaria não estarmos a ler o que
está no artigo 1306º/1 do CC, do qual decorre que não é permitida a
constituição, com carácter real, de restrições ao direito de
propriedade ou de figuras parcelares deste direito senão nos casos
previstos na lei; toda a restrição resultante de negócio jurídico, que
não esteja nestas condições, tem natureza obrigacional. Na primeira
parte, o legislador primeiro diz que toda a restrição ao direito real
não prevista na lei é ilícita, mas, na segunda parte, acrescenta que
toda a restrição que não esteja nestas condições terá natureza
obrigacional. Assim, o que é que o legislador veio impor o direito ou
o princípio da taxatividade, mas logo a seguir veio salvar os
negócios jurídicos que violam o princípio da taxatividade dizendo
que eles têm natureza obrigacional.
Em suma, se nós seguirmos o caminho, chega-se igualmente à
conclusão que o direito de B é o direito de natureza creditória.

2. O que A pretendeu fazer foi conceder a B um direito de colher as


tangerinas. A está a transmitir o direito de propriedade sobre as
tangerinas - está a dar ou a vender as tangerinas ao B. Sabe-se que
basta o acordo de vontades para a transmissão do direito de
propriedade. Então, B é ou não é proprietário das tangerinas? Claro que
não nos interessam as tangerinas que foram colhidas até 2018,
interessam sim as que estão na árvore em 2019 e as que venham a ser
produzidas até 2020. B não é proprietário dessas tangerinas, à luz do
artigo 408º/2 do CC (que não é exceção ao princípio da
consensualidade; a recolha é antes a condição para que haja coisa certa,
determinada e autónoma e, portanto, coisa suscetível de ser objeto de
direito real), porque a transferência do direito de propriedade dos frutos
naturais dá-se no momento da colheita. O problema aqui tem a ver com o
que pode ser objeto de direitos reais, ou seja, tem a ver com as
caraterísticas que um objeto tem de demonstrar para que se possa
afirmar a sua suscetibilidade para constituir um direito real e com o
momento a partir do qual existe a coisa certa, determinada e autónoma e,
portanto, o momento em que se pode despoletar o efeito real:
• Princípio da coisificação dos direitos reais: Os direitos reais
incidem sempre sobre coisas.
• Princípio da especificação: As coisas têm de ser especificadas, isto
é, não há direitos reais sobre coisas genérica. Assim, só a partir do
momento da especificação é que temos coisas certas e
determinadas, mas as coisas também têm de ser autónomas, isto é,

Filipa Ribeiro Gonçalves 14


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não podem estar ligadas materialmente e com caráter de


permanência à coisa principal.
No caso, nós não temos autonomia, como também não temos
especificação, pois não se sabe que tangerinas, exatamente, é que
podem ser recolhidas por B - A disse para B recolher todas as tangerinas
que conseguir ou que se venha a produzir. Não havendo coisa certa,
determinada e autónoma não se pode afirmar a existência de uma coisa
que é suscetível de um direito real.
Portanto, mesmo que o A e o B tenham celebrado um contrato de
compra e venda ou de doação sobre as tangerinas, só momento da
recolha das tangerinas é que conseguimos saber exatamente que
tangerinas é que pertencem a B, só nesse momento é que vamos ter
coisa certa, determinada e autónoma e cada tangerina é uma coisa certa,
determinada e autónoma, sobre a qual passa a incidir um direito real que
é o direito de propriedade do B. Sendo certo que por cada tangerina que
seja separada da coisa principal, o património de B aumenta porque ele
se torna proprietário da tangerina separada do prédio de A. Assim, antes
de recolher as tangerinas, B tem no seu património um direito de crédito
que consiste na entrada no prédio e colheita de tangerinas, que tem
eficácia inter partes e, portanto, pode opor-se a A, mas não a C (a este é
inoponível).
Em suma, por este caminho, chega-se exatamente à mesma conclusão:
B é titular um direito de crédito.

II. Terminada a qualificação dos direitos em conflito, convoca-se as regras que se aplicam
às situações de conflito, ou seja, a regra da prevalência.

Segundo a regra da prevalência, que é uma decorrência da eficácia absoluta dos


direitos reais, os direitos reais prevalecem sempre sobre os direitos de crédito
independentemente do momento da sua constituição e sobre os direitos reais
posteriormente constituídos. Portanto, num confronto entre direito real e direito de
crédito ganha sempre o direito real e num conflito entre dois direitos reais ganha o
direito real primeiramente constituído, salvo exceções.

Sendo o direito de B um direito de crédito, prevalece o direito de C (direito de


propriedade). Assim, C pode efetivamente opor o seu direito a B, não permitindo a este,
portanto, entrar no prédio e colher as tangerinas. Se o direito de B fosse um direito real,
seria esse que prevaleceria por ser o primeiramente constituído, portanto, nesta
situação, C estaria obrigado ao reconhecimento do direito de B.

Em todo o caso, o direito de B (direito de crédito) não prevalecerá sobre o direito de C


(direito real de propriedade).

Resposta: Atendendo que B é apenas um titular de direito de crédito, a sua posição é


inoponível à de C, por força da regra da prevalência.

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Entretanto, D contrato pela Câmara municipal de Coimbra no âmbito das obras de


desassoreamento do ria Mondego decidiu depositar numa parte do terreno adquirido por C
três toneladas da areia que recolheu.
C exige que D proceda à limpeza do terreno, mas este recusa-se a fazê-lo alegando que
só retirará a areia quando para tal foi instado por A titular registado do imóvel. Terá razão?

A tinha vendido o prédio a C, logo C que é o titular do direito real (direito de propriedade), mas
o registo está ainda em nome de A.

D não tem razão, porque a propriedade é de C, independentemente do registo (princípio da


consensualidade). A ideia de que o direito de C não é oponível a D é errada, porque o registo é
condição de eficácia apenas perante terceiros para efeitos de registo - artigo 5º do Cód. Reg.
Predial. Ou seja, o direito de C é oponível perante todos os terceiros (onde se inclui D) - isto é a
eficácia absoluta -, à exceção daqueles que adquirindo de transmitente comum tenham registado
com prioridade o seu direito.

Quando D deposita a areia no terreno de C é uma situação incumprimento da obrigação


passiva universal, que é a obrigação que recai sobre todos os sujeitos da mesma comunidade
jurídica de se abster de qualquer comportamento que interfira com o exercício da coisa objeto do
direito de propriedade.

Posto isto, C pode instar D a retirar a areia do terreno, ou seja, pode obrigar/exigir D a retirar a
areia do terreno. Que ação é intentada por C contra D? Uma ação negatória, que é uma ação de
defesa dos direitos reais que serve justamente para reagir contra factos de perturbação do
exercício de direitos reais. Quais os pedidos desta ação negatória?
1. Que se declare a inexistência de um direito na esfera jurídica do réu que lhe permita
qualquer ato de interferência.
2. Que o réu seja condenado a repor a situação material tal como ela se encontrava antes
do ato de perturbação - significa, no caso, tirar a areia.
3. Que o réu seja condenado a abster-se no futuro de qualquer comportamento lesivo de
perturbação ou de lesão.
4. Também é possível associar um pedido de indemnização, se houver dano.

Imagine agora que, a 26 de fevereiro de 2019, A vendeu o mesmo prédio a E que


imediatamente registou o seu direito de propriedade na conservatória do registo predial
competente. E, a 28 de fevereiro, constituiu uma hipoteca a favor de F para garantir um
crédito de 100 mil euros e hoje pretende constituir uma segunda hipoteca sobre o mesmo
prédio a favor do credor G a quem deve 250 mil euros. Aconselharia G a aceitar esta
garantia tendo em conta que:
a) O prédio vale 350 mil euros;
b) Foi já celebrado com H um contrato-promessa de compra e venda do dito imóvel
com o pagamento de um sinal no valor de 5 mil euros e com a entrega do imóvel
ao promitente comprador.

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I. Antes de mais, deve-se resolver do conflito entre C e E: A vende a C, A vende a E e E


regista.
O registo é condição eficácia perante terceiros que tenham adquirido de transmitente
comum. Assim, o direito de propriedade pertence a E, por intervenção do registo, ou seja,
as regras do registo sobrepõem-se às regras do direito substantivo - artigo 5º do Cód.
Reg. Predial:
1. 1ª Turma: Trata-se de exceção à regra da prevalência. A prevalência diz que num
conflito entre dois direitos reais prevalece o primeiramente constituído e o que nós
temos é: A vende a C e A vende a E. O direito primeiramente constituído foi o de
C, todavia, por intervenção do registo, o direito que vai prevalecer é o direito de E,
que foi o direito constituído em segundo lugar. Tal como é uma exceção à
prevalência o artigo 291º do CC: A vende a B por negócio inválido e B vende a C,
que está de boa fé e que registou o seu direito. Neste caso, reconhece-se o direito
ao C, porque o C registou em primeiro lugar.
2. 2ª Turma (posição da prof.ª): A prevalência intervém quando há um caso de
conflito de direitos – como é o caso das tangerinas. Se seguirmos as regras, o
proprietário do bem é C, porque A quando vende ao E é uma venda de coisa
alheia o que é nulo. Portanto, a regra da prevalência não resolve nada porque não
há uma questão em conflito de direitos. O que acontece é que a lei vai intervir
através das regras do registo e vai atribuir um direito ao E e se a lei atribui o direito
significa que ele não o tinha. Por isso é que se diz que o registo tem efeitos:
• Consolidativos: Porque quando o C regista o seu direito ele está a
consolidar a sua posição, no sentido em que não pode haver nenhum
terceiro para efeitos do registo que registe primeiro e que depois venha a
ser reconhecido como verdadeiro proprietário do imóvel.
• Atributivos: Porque vai atribuir o direito ao E e tirá-lo a quem o tinha que era
o C, a quem, portanto, não consolidou o seu direito perante todos os
terceiros.

Se o E é o proprietário, a constituição da hipoteca a favor de F é plenamente válida, mas o


F só se torna credor hipotecário depois do registo. Vejamos que quando F vai à
conservatória de registo predial, ele só consegue registar a hipoteca porque o E tem
registo a seu favor, caso contrário o conservador do registo predial nunca registaria a
hipoteca – princípio do trato sucessivo (o registo tem de traduzir sempre uma cadeia de
transmissões).

II. Problema do imóvel não cobrir os créditos e as custas


Sabendo já que o E tem legitimidade para a constituição da hipoteca, é possível constituir
duas hipotecas sobre a mesma coisa? Sim. O facto de ser constituído uma segunda
hipoteca sobre a mesma coisa não tem qualquer relevância. O que é que vai acontecer é
que no momento da execução vai-se executá-las pela ordem da sua constituição. E como
sabemos qual é a ordem da sua constituição para as hipotecas? Tendo em conta o registo.
Portanto, seria o F -> G.
O valor do imóvel é suficiente para garantir os dois créditos? Temos um crédito de 100
mil euros (F) e outro de 250 mil euros (G) e o imóvel vale 350 mil euros. Ignorando o
contrato com H, íamos aconselhar o G a avançar? Mesmo que nós ignoremos que o valor
comercial dos prédios não se consegue sempre obter, há uma outra questão que são as

Filipa Ribeiro Gonçalves 17


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custas processuais e estas têm preferência, ou seja, é preciso pagar, em primeiro lugar, as
custas processuais, antes mesmo de serem pagos todos os credores. Assim, o primeiro a
ser pago é o Estado.
Logo, temos duas questões: custas processuais e vendas judiciais desastrosas.
Deveríamos, então, dizer a C para não aceitar a constituição da segunda hipoteca, porque
o mais provável é que ele não consiga com o valor da coisa obter o pagamento do seu
crédito.
Isto não quer dizer que não possa atacar o restante do património do devedor (E), só que
não se sabe sequer se ele tem património, pode até haver garantias previamente
constituídas sobre outros bens do património do E e não esquecer que há aquele velho
problema de, mesmo que não haja garantias, E começar a libertar-se do seu património.
Note-se que não é pelo facto de o credor não ter uma garantia real ou da garantia que tem
não ser suficiente para o pagamento do seu crédito que vai necessariamente ficar de mãos
a abanar. A seguir a mobilizar-se o poder dado pela garantia real, continua-se a ter o
restante do património do devedor tal como o teria se não tivesse nenhum garantia real, só
que é tudo mais difícil quando não se tem garantia real.

III. A tradição da coisa


A partir do momento em que há tradição da coisa no contrato-promessa aparece o direito
de retenção, para garantir o sinal em dobro (que seriam 10 mil euros) no caso de
incumprimento por parte de promitente vendedor (E).
No caso de incumprimento, H pode exercer o direito de retenção que é uma garantia real,
porque se reconhece ao detentor o direito de se fazer pagar o valor da coisa com
preferência em relação aos demais credores. H pode ainda intentar uma ação executiva
contra o E pedindo ao tribunal que aliene o prédio para com o valor da execução se fazer
pagar dos 10 mil euros a que tem direito.

O problema do direito de retenção prevalece sobre a hipoteca mesmo que ela tenha sido
registada anteriormente - é uma outra exceção à regra da prevalência (artigo 759º/2 do
CC). O problema não está no exercício do direito de retenção, o problema está no facto de
o direito de retenção prevalecer sobre a hipoteca. Porque, veja-se:
- Se não houvesse o artigo 759º/2 do CC, diríamos a G para ter atenção que é
arriscado, porque o valor do imóvel pode não ser suficiente para cobrir os créditos e
as custas processuais. Mas, de qualquer forma, as garantias vão ser pagas pela
ordem da sua constituição. O que significa que primeiro a ser pago seria o F, depois o
G e depois é que seria o H (F -> G -> H).
- O problema está no artigo 759º/2, porque, por intervenção deste artigo, se houver
incumprimento do contrato-promessa, será o H a ser pago em primeiro lugar.
Portanto, ainda se diminui mais as hipóteses de pagamento completo o crédito de G,
pois vai ser pago primeiro o H, depois o F e só depois o G (H -> F -> G).

Como é que depois isso se vai processar? O H, no caso de incumprimento do contrato-


promessa, exerce o direito de retenção e quando confrontado com a insistência do E em
não fazer o pagamento dos 10 mil euros, ele vai intentar uma ação executiva contra E, em
que vai nomear à penhora do imóvel. Com a nomeação da penhora do imóvel, o agente de
execução vai ao registo e vai lá ver a constituição das duas hipotecas e vai chamar o F e o
G ao processo executivo para estes fazerem valer os seus direitos sobre o imóvel.

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IV. Privilégios creditórios imobiliários


Podemos ainda dizer outra coisa ao G - nós não sabemos se não há dívidas fiscais do
imóvel, porque sobre a retenção vai ter prevalência os privilégios creditórios imobiliários
(artigos 751º e 748º do CC).
Posto isto, o Estado será o primeiro a ser pago pelas despesas com o processo executivo
e pelas dívidas fiscais do imóvel. Só depois é será pago o H (10 mil euros), depois o F (100
mil euros) e se calhar não sobrará nada para o G, perdendo este a possibilidade de ser
pago pelo valor da coisa. Nesta situação, C ter-se-á de comportar como um credor
comum e, portanto, dirigir-se ao património do devedor.

Da eficácia absoluta decorre parte das consequências do regime jurídico dos direitos reais,
nomeadamente a taxatividade, a sequela e a prevalência. Sobre a prevalência vimos que há
várias exceções - artigo 5º do Cód. Reg. Predial, artigo 291º do CC, o direito de retenção e os
privilégios creditórios imobiliários.

Aula dia 25 de março de 2019

Em dezembro de 2018, B comprou a A a Quinta das Amoreiras, tendo imediatamente


iniciado as obras de adaptação do imóvel à instalação de uma casa de repouso. Para tanto
vendeu a C alguns dos pinheiros que estavam plantados numa parte do terreno, ficando
porém acordado que aquele apenas o recolheria em abril de 2019. Também vendeu a D um
automóvel velho que encontrou debaixo de uma pilha de lenha na garagem e doou a E uma
antena parabólica que se encontrar instalada no telhado da casa principal, bem como uma
rebarbadora que era utilizada por A para limpar o pinhal. Súbita e inesperadamente B
falecer e a sua esposa (Maria) recusa-se a entregar as coisas a D e a E, bem como a
permitir que C abata os pinheiros. Se estes os consultassem que lhes responderia?

Quantas coisas temos aqui? Três: o imóvel, o carro e a rebarbadora.

Sabe-se que os direitos reais têm sempre por objeto coisa certa, determinada e autónoma,
mas antes disso temos de saber quais é que são as caraterísticas das coisas, isto é, o que é que
nós em direito chamamos de coisa? Se olharmos para o artigo 202º do CC ele dá-nos uma
noção de coisa: diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas.
A noção de coisa no nosso Código Civil é um dos exemplos que podemos invocar para dizer
que o legislador não se deve meter em definições de conceitos jurídicos, salvo em situações
excecionais. Essa matéria deve ser deixada para a doutrina. A definição do artigo 202º do CC foi
sempre criticada pela doutrina, porque se considera que ela é demasiado abrangente, porque
tudo o que pode ser objeto de relações jurídicas engloba também entidades que não podem ser
consideradas como coisas: logo, à partida, as próprias pessoas (por exemplo, os filhos que estão
sujeitos ao poder parental) e os créditos que não são coisas, mas, em algumas circunstâncias, são
coisificiáveis, nomeadamente quando os créditos são objeto de direitos reais, nomeadamente de
direitos reais de garantia (falámos na coisificação dos créditos para efeitos da constituição do penhor,
que até é uma exceção ao princípio da consensualidade porque é necessário fazer a notificação do
devedor do devedor).

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A doutrina tem reduzido esta noção de coisa que nós encontramos no Código Civil,
adiantando alguns critérios que devem estar sempre verificados. Para se falar de uma coisa
temos de falar em:
1. Autonomia (existência separada);
2. Possibilidade de apropriação exclusiva pelo homem. Por exemplo, o luar, o ar e a luz
solar não têm possibilidade de apropriação exclusiva pelo homem, eles podem ser aproveitados
por todo e qualquer sujeito independentemente de uma relação de apropriação.
3. Utilidade (satisfação das necessidades humanas). Por exemplo, o grão de arroz, uma gota
de água e um sapato não têm utilidade. Nós não podemos, em todas as circunstâncias,
abstratamente determinar se estamos ou não perante uma coisa útil (o critério não é
abstrato), tudo depende das circunstâncias concretas. Portanto, é necessário fazer
sempre uma avaliação casuística para saber se um determinado objeto pode ou não
pode ser considerado útil. Por exemplo, um grão de arroz não satisfaz a utilidade de matar a
fome, mas se nós tivermos um grão de arroz especial (p. ex., com o nome de uma pessoa), ele
pode ter uma utilidade. Ele deixa de ser um grão de arroz que sirva a satisfação alimentação e
passa a ser um grão de arroz que satisfaz uma outra qualquer necessidade. Ou, por exemplo,
um sapato para determinadas pessoas pode ter utilidade, seja porque não têm dois pés e só
precisam de um sapato ou porque é um sapato que pertenceu a alguém famoso. Note-se que
um bem é toda aquela coisa que satisfaz necessidades do homem, ou seja, que é útil
ao homem. Por isso se diz, no ordenamento jurídico português, que as noções de coisa
e de bens se confundem, porque todas as coisas para o serem precisam de satisfazer
utilidades humanas.

I. QUINTA: Em dezembro de 2018, B comprou a A a Quinta das Amoreiras, tendo


imediatamente iniciado as obras de adaptação do imóvel à instalação de uma casa de repouso

Quando olhamos para a quinta nós vemos obviamente uma coisa: há autonomia, é uma coisa
especificada, certa e determinada, que satisfaz as utilidades do homem e é suscetível de
apropriação exclusiva.
Porque é que nós dizemos que é apenas uma única coisa? Porque o objeto do direito de
propriedade é o solo e tudo aquilo que apresente com o solo uma relação material com caráter
de permanência. E o que é que apresenta uma relação material com caráter de permanência
com o solo? Os pinheiros, a garagem e a casa e à casa está ligada materialmente e com caráter
de permanência a antena parabólica. Por isso se diz que a propriedade que existe sobre o solo
tem uma espécie de uma força centrípeta, no sentido em que absorve tudo aquilo que estiver
ligado à coisa principal, desde que essa ligação seja material e tenha caráter de permanência.
No caso, temos uma coisa imóvel, mas o mesmo critério se aplica às coisas móveis. Tudo o
que tenha ligação material com caráter de permanência à coisa principal é coisa principal e,
consequentemente, é abrangido pelo mesmo direito de propriedade. Assim, sobre cada coisa
pode existir apenas um direito de propriedade.

Como é que nós distinguimos as coisas móveis das coisas imóveis? Através de um critério
jurídico e não é um critério físico (o critério não é saber se as coisas se movem ou não). É um
critério jurídico porque o nosso legislador fez uma lista de tudo aquilo que considera coisa imóvel
(artigo 204º/1 do CC - prédios rústicos e urbanos; águas; as árvores, os arbustos e os frutos
naturais, enquanto estiverem ligados ao solo; os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas
alíneas anteriores - p. ex., o usufruto de um prédio urbano ou de um prédio rústico é uma coisa imóvel;

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as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos) e depois diz que tudo o que não pertencer
a essa lista é considerada coisa móvel (artigo 205º/1 do CC).
Ora, assim sendo, nós temos a certeza de que a quinta é uma coisa imóvel, porque é um
prédio (sabe-se que, em Direito das Coisas, o conceito de prédio não é o conceito vulgar de
prédio, enquanto edifício - não são conceitos que se podem considerar sinónimos -, prédio é um
pedaço de solo).
A quinta é prédio urbano ou prédio rústico? Temos um critério jurídico que nos vai ajudar a
fazer essa identificação e que está previsto no artigo 204º/2 do CC: Entende-se por prédio
rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham autonomia
económica, e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe
sirvam de logradouro.
Portanto, neste caso, temos obviamente um prédio urbano, porque temos uma parte limitada
do solo onde está construído um edifício (dedicado à habitação) e ainda todo o terreno que lhe
serve de logradouro (todo o terreno que existe à volta). Se nós não tivéssemos esta situação, mas
tivéssemos apenas um terreno onde estava construído um armazém para guardar as alfaias
agrícolas ou animais (estábulo) ou um terreno dedicado à agricultura, então, tínhamos um prédio
rústico, porque a construção não tinha autonomia económica, a construção servia a exploração
económica que se faz do prédio rústico.

Os negócios jurídicos que tenham por objeto coisas imóveis têm, desde 2008, que ser
celebrados através de uma forma especial que é a forma de documento particular autenticado e
os direitos sobre imóveis são obrigatoriamente levados a registo, embora o registo não atribua
direitos, ele serve apenas para conceder eficácia perante terceiros para efeitos de registo.

Posto isto, o negócio entre A e B de compra da Quinta das Amoreiras não coloca problemas
maiores.

II. PINHEIROS: B vendeu a C alguns dos pinheiros que estavam plantados numa parte do
terreno, ficando porém acordado que aquele apenas o recolheria em abril de 2019

B faleceu e agora Maria (proprietária do prédio) diz que se recusa à entrega dos pinheiros. De
quem são os pinheiros? Da Maria, enquanto proprietária do prédio (temos aqui exatamente a
mesma situação que tínhamos no caso das tangerinas).
Note-se que é evidente que o objetivo do C era abater os pinheiros, portanto aqui temos um
caso do artigo 408º/2 do CC, o que significa que nós só temos uma coisa certa, determinada e
autónoma a partir do momento da separação. Logo, só a partir do abate é que C se tornaria
proprietário de cada um dos pinheiros. Nós temos, tal como vimos nas tangerinas, aqui muito
mais claramente, uma venda de bem ou de coisa móvel futura e as vendas de coisas móveis
futuras apenas produzem efeitos obrigacionais. Se assim é, segundo a regra da prevalência,
prevalece o direito do proprietário, porque é direito real.
Assim sendo, o novo proprietário, que é a Maria, está no seu direito enquanto proprietária de
não deixar recolher os pinheiros, mas claro que, paralelamente às questões de direito de
propriedade, há as questões de responsabilidade civil.

O artigo 1244º do CC é um artigo muito importante porque faz a definição do que sejam os
limites materiais de direito de propriedade. Diz-nos aqui o legislador: A propriedade dos
imóveis abrange o espaço aéreo correspondente à superfície, bem como o subsolo, com tudo o

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que neles se contém e não esteja desintegrado do domínio por lei ou negócio jurídico. É no fundo
a ideia de que só há direito de propriedade sobre coisas certas, determinadas e autónomas. O
legislador diz-nos que tudo aquilo que se encontra plantado na superfície do solo e aquilo que se
encontrar no subsolo pertence ao proprietário, isto é, ao sujeito que tem o direito de propriedade
sobre a superfície do terreno. Mas o legislador chama a atenção para as situações em que o
domínio é desintegrado por lei ou por negócio jurídico e uma dessas situações é a constituição
do direito de superfície.
Quando nós encontramos uma coisa certa, determinada e autónoma dizemos que sobre essa
coisa existe apenas um direito de propriedade, ou seja, não pode haver mais que um direito de
propriedade sobre o mesmo bem - princípio da totalidade (sobre cada coisa incide um direito real
na sua totalidade, no sentido de que o direito real incide sempre sobre a coisa completa). Todavia, há
quem identifique exceções ao princípio da totalidade e uma dessas exceções é justamente o
direito de superfície, porque é possível que se constitua o direito de superfície adquirindo
propriedade sobre bens que estão implantados na coisa principal.
Portanto:
- (Caso prático) Uma coisa é celebrar um contrato sobre os pinheiros para abate, o que
significa que as partes celebraram um negócio de compra e venda de bem móvel futuro,
porque o objetivo é separar os pinheiros do terreno. Neste caso, o que as partes
pretendem é que o comprador se venha a tornar proprietário de coisas móveis, tantas
coisas móveis quanto os pinheiros que tiverem sido abatidos.
- (Exceção ao princípio da totalidade, tal como entendida pela 1ª Turma) Outra coisa é
vender os pinheiros para aproveitar os pinheiros enquanto árvores, isto é, sempre
íntegros e implantados no solo. Nesta hipótese, o C tornaria-se proprietário dos pinheiros
sempre implantados no solo, o negócio continuava a ser válido e produzia efeitos reais
de constituição de direito de superfície. Há várias formas de constituir um direito de
superfície:
• Ou se consegue o direito de plantar ou o direito de construir e consequente o direito
de manutenção da plantação e da construção;
• Ou se vende a construção ou a plantação. Nesse caso, o sujeito que compra a
plantação torna-se proprietário da plantação, com o objetivo de manter essa
plantação e o direito vem dizer que esse sujeito (que compra a plantação para manter a
plantação e não é para abater) é proprietário superficiário. Então, parte da doutrina
vem dizer que o direito de superfície constitui uma exceção ao princípio da
totalidade, porque vai existir o direito de propriedade superficiária (sobre os
pinheiros) e um outro direito de propriedade sobre toda a coisa imóvel (que
pertenceria, no caso, à Maria).
A 2ª Turma adota uma posição diferente, considerando que direito de superfície constitui
uma coisa jurídica e, portanto, não há exceção ao princípio da totalidade. O que há é
juridicamente duas coisas distintas ou dois direitos de propriedade sobre cada uma das
coisas: uma coisa a plantação; outra coisa o imóvel.
Logo, enquanto que na 1ª turma teríamos apenas 3 coisas (imóvel, carro e rebarbadora),
já na 2ª turma juntamos mais uma que seria a plantação (imóvel, carro, rebarbadora e
plantação).

É evidente o que está expressamente evidenciado no caso prático que o objetivo do C era
cortar os pinheiros. E sendo o objetivo do C cortar os pinheiros, à semelhança do que nós vimos
no caso das tangerinas em que o objetivo era colher as tangerinas, o objetivo era celebrar um
contrato de compra e venda de bem móvel futuro. Era bem móvel futuro, porque só se tornava

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bem móvel a partir do momento do contrato, momento também a partir do qual o princípio da
consensualidade estava apto a produzir os seus efeitos – artigo 408º/2 do CC.
Assim, a viúva tem toda a legitimidade para negar o abate dos pinheiros a C, porque os
pinheiros pertencem ao imóvel e, portanto, pertencem à propriedade da Maria.

III. REBARBADORA: B doou a E a rebarbadora que era utilizada por A para limpar o pinhal

Pode Maria recusar a entrega da rebarbadora ao E? De quem é a rebarbadora?

A rebarbadora é uma coisa porque é uma coisa certa, determinada e autónoma. Só que,
dentro da qualificação das coisas, a rebarbadora assume um estatuto especial, é uma coisa
acessória porque, embora seja coisa certa, determinada e autónoma, não tem nenhuma ligação
material à coisa principal (à quinta).
Portanto, o B tinha 3 direitos de propriedade e um desses direitos de propriedade é o direito
que incide sobre a rebarbadora e, portanto, ele podia transmitir o direito de propriedade sobre a
rebarbadora, independentemente do direito de propriedade que tem por objeto o imóvel.
Nesta matéria nós temos o artigo 210º/1 do CC: São coisas acessórias, ou pertenças, as
coisas móveis que, não constituindo partes integrantes, estão afetadas por forma duradoura ao
serviço ou ornamentação de uma outra. E o artigo 210º/2 do CC: Os negócios jurídicos que têm
por objeto a coisa principal não abrangem, salvo declaração em contrário, as coisas acessórias. O
legislador no nº 1 diz o que entende por coisa acessória e no nº 2 estabelece qual é que é o
regime jurídico a que estão sujeitas as coisas acessórias.
Portanto, a rebarbadora é uma coisa acessória porque não é uma parte integrante do imóvel e
porque tem uma ligação funcional à coisa principal (ela serve as utilidades da coisa principal),
portanto está afetada por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de uma outra coisa.
Posto isto, a rebarbadora pode pertencer a A. É preciso saber se no negócio jurídico de venda
da quinta celebrado entre A e B foi feita menção à rebarbadora:
- Se não tiver sido feita menção à rebarbadora no sentido de que a rebarbadora também
passava para a propriedade do B, então a rebarbadora pertence a A. Isto porque a regra
é de tantas coisas quanto direitos de propriedade, logo tantos negócios jurídicos também
teremos de ter. Portanto, não é pelo facto de o A ter vendido ao B a quinta que também
seguiu o direito de propriedade sobre a rebarbadora. Cada coisa tem uma cadeia de
transmissão própria, o que significa que a cadeia de transmissões sobre a coisa principal
não abrange as outras coisas que são autónomas dela, como é o caso da rebarbadora.
- Se tiver sido foi feita menção à rebarbadora no sentido de que ela também passava para
a propriedade de B, então a rebarbadora pertence a B. Neste caso, a quem é que
pertence, depois da doação de B ao E, a rebarbadora? À Maria. A doação é uma
exceção ao princípio da consensualidade, na qual o direito de propriedade não se
transmite por mero efeito do contrato - artigo 947º/2 do CC. A doação de coisas móveis
faz-se de uma de duas maneiras:
• Ou por escrito - se assim for a rebarbadora pertence a E. A Maria, que detém o
poder material sobre a coisa, recusa a entrega ao E, proprietário, o que pode
fazer o E para obter a traditio? Intenta uma ação de reivindicação, prevista no
artigo 1311º/1 do CC: O proprietário pode exigir judicialmente de qualquer
possuidor ou detentor da coisa o reconhecimento do seu direito de propriedade e a
consequente restituição do que lhe pertence. Note-se, antes de mais, que a ação de
reivindicação não pressupõe que o proprietário já tenha um dia exercido direitos

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materiais sobre a coisa. A ação de reivindicação diz-se que é a manifestação


primária da sequela, porque permite ao proprietário seguir a coisa onde quer se ela
se encontre. Se assim é, então o titular do direito real vai buscá-la onde quer que
ela estiver. Isto vale para o direito de propriedade, através do artigo 1311º do CC,
como para qualquer direito real de gozo, porque, de acordo com o artigo 1315º do
CC, a ação de reivindicação protege também os outros direitos reais (As
disposições precedentes são aplicáveis, com as necessárias correções, à defesa de
todo o direito real). Mas obviamente o que interessa aqui são os direitos reais de
gozo, porque a ação de reivindicação vai buscar a coisa para a colocar na sua
detenção. Isto não quer dizer que os outros direitos reais também não gozem da
caraterística da sequela, eles gozam só que ela manifesta-se de outra forma. Por
exemplo: Nos direitos reais de garantia, o direito de executar a coisa onde quer que ela se
encontre. É aquele caso: A constitui uma hipoteca a favor de B. A vende a coisa a C. A não
cumpre. B pode intentar ou pedir a execução de uma coisa apesar de ela estar na
propriedade do C. Aqui a sequela não se manifesta através da reivindicação porque o credor
hipotecário não vai buscar a coisa para voltar a exercer poderes materiais sobre ela, até
porque nunca exerceu poderes materiais sobre ela, mas pode executar a coisa, segui-la
porque o seu direito goza da caraterística da sequela. A mesma coisa, para a 1ª turma, nos
direitos reais de aquisição oferecidos pelo pacto de preferência com eficácia em relação a
terceiros e no contrato-promessa com eficácia em relação a terceiros – quer por causa da
execução específica, quer por causa da ação de preferência. São exceções à sequela, tal
como são exceções à prevalência:
‣ Artigo 5º do Cód. Registo Predial: terceiros para efeitos de registo adquirentes
de transmitente comum.
‣ Artigo 291º do CC: os titulares dos direitos reais não podem ir buscar a coisa,
apesar de ela estar com o sujeito, porque a intervenção do registo fez com
que a coisa fosse atribuída a um sujeito diferente.
• Ou oralmente acompanhada da tradição da coisa - se assim for a rebarbadora
pertence à Maria porque ela recebeu-a no património através da sucessão.

IV. ANTENA: B doou a E uma antena parabólica que se encontrar instalada no telhado da casa
principal

A quem pertence a antena? Pertence à Maria, logo ela não está obrigada a entregar a antena,
a obrigação de entrega era do anterior proprietário. Aqui não há dúvida nenhuma, porque a
antena é uma parte integrante, ou seja, é uma coisa móvel futura, que de momento apresenta
uma ligação material e com caráter de permanência à coisa principal e enquanto essa ligação
não for cortada ela é parte da coisa principal. É evidente que o direito de propriedade que incide
sobre a coisa principal, abrange também todas as partes que estejam em ligação com essa coisa
principal.
Note-se que quando falamos da antena parabólica falamos em parte integrante e quando
falamos da rebarbadora falamos em coisa acessória. Por alguma razão usamos os vocábulos de
coisa e de parte distintivamente, porque a rebarbadora é efetivamente uma coisa (é certa,
determinada e autónoma), a única especialidade que apresenta é o facto de estar funcionalmente
ligada à coisa principal, ou seja, tem uma ligação económica e duradoura à coisa principal. A
partir do momento em que nós conseguimos identificar na rebarbadora uma coisa, nós até
podíamos dizer que até o artigo 210º do CC é absolutamente desnecessário, porque se ela é
uma coisa certa, determinada e autónoma, é obvio que sobre ela tem de existir uma cadeia de

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transmissões diferente da cadeia de transmissões da coisa que serve. Só que o legislador achou
por bem deixar bem claro que a ligação funcional ou económica não é bastante para que as
coisas tenham exatamente o mesmo destino.

Nos casos práticos dos exames tem aparecido sempre este problema, normalmente é um
apartamento. A é proprietário de um apartamento e vendo-o B. A bate à porta do B e exige que
B lhe entregue…
Em primeiro lugar, temos de ver se se tratam de coisas acessórias ou de partes integrantes:
• Eletrodomésticos:
- Se forem de ligar à ficha são coisas acessórias, porque não há ligação material com
caráter de permanência;
- Se forem encastoados são partes integrantes, porque a ligação é material e com
caráter de permanência);
• Quadros são coisas acessórias porque a ligação é material, mas não há caráter de
permanência;
• Armários embutidos são partes integrantes;
• Vasos:
- Se forem de betão são parte integrante;
- Se forem os normais são coisas acessórias;
• Peças do automóvel (tapetes, jantes, etc.) são coisas acessórias;
• Tijolos, portas ou janelas de uma casa são partes componentes, porque fazem parte
da estrutura da coisa principal e se forem retirados à coisa principal prejudicam a sua
integralidade, nomeadamente a sua funcionalidade. Se a casa é para habitação e se lhe
retira os tijolos a coisa deixa de estar integra e a função de habitação fica prejudicada.
Se o B tivesse vendido ao F tijolos, as portas ou as janelas da casa, embora a coisa
principal fique prejudicada no desempenho da sua função, o negócio era válido e
produzia efeitos obrigacionais. Os efeitos reais apenas se produziriam a partir do
momento em que temos coisa certa, determinada e autónoma, o que acontece com a
separação - artigo 408º/2 do CC. Logo, o F apenas se tornava proprietário a partir do
momento em que fossem separados da coisa principal.
• Painéis de azulejos são parte integrante, porque servem a ornamentação da coisa
principal. A coisa não deixa de estar integra sem os azulejos.

V. CARRO: B vendeu a D um automóvel velho que encontrou debaixo de uma pilha de lenha
na garagem

A quem é que pertence o automóvel? Antes de mais, o carro é uma coisa certa, determinada
e autónoma, igual a qualquer outra coisa, que nem sequer tem a dita ligação funcional à quinta,
portanto nem sequer precisamos de ir ao artigo 210º do CC. O que significa nós temos de
encontrar em relação ao carro uma cadeia de transmissões própria. Como ele estava escondido
por baixo da pilha de lenha, muito provavelmente, o A nem sequer sabia que ele lá estava e,
portanto, nada foi acordado em relação ao carro. Portanto, muito provavelmente, o carro
pertence a A ou àqueles de quem ele adquiriu ou recebeu a quinta. O certo é que ao D não
pertence, porque ao B também não pertenceria.

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Em 1972, A, para fugir ao recrutamento militar, emigrou para o Brasil. País de onde
regressou, em 1975, tendo-se instalado no Porto para se dedicar à atividade política.
Depois de ter perdido as eleições presidenciais, em 2016, A decidiu retornar à sua aldeia
natal para se dedicar à vitivinicultura biológica nas vinhas que herdou do seu pai. Porém,
num dos imóveis encontrou B com quem C, que vinha explorando a vinha desde 2000,
celebrou um contrato de arrendamento.
A intentou contra B uma ação de reivindicação. Se fosse advogado de B que conselho
lhe daria?

A quem pertence o direito de propriedade sobre o prédio? Pertence ao A. Tem A


legitimidade processual ativa para intentar a ação de reivindicação? Sim, segundo o artigo
1311º do CC o proprietário pode exigir judicialmente de qualquer possuidor ou detentor da coisa
o reconhecimento do seu direito de propriedade e a consequente restituição do que lhe pertence.

Quais são os pedidos de ação de reivindicação? Diz-nos o artigo 1311º:


1. Reconhecimento do seu direito de propriedade;
2. Restituição da coisa. Note-se que para a restituição ao proprietário do que lhe pertence
não significa que ele já tenha exercido poderes de facto sobre a coisa.

Nota: Os outros direitos reais de gozo também podem ser defendidos através da ação de
reivindicação como estabelece o legislador no artigo 1515º do CC.

A ação de reivindicação, tal como todas as ações de defesa da propriedade, tem uma questão
que é a questão da prova da titularidade do direito (no caso, da propriedade). É preciso primeiro
provar perante o tribunal que se é proprietário, porque o juiz só vai reconhecer o direito ao autor
se ele provar que é efetivamente o titular dele - página 32.

Quem é que tem a legitimidade processual passiva da ação de reivindicação?


1. Detentor;
2. Possuidor.

Isto significa que nós, a partir deste momento, vamos lidar com três conceitos distintos:
titularidade do direito, posse do direito e detenção da coisa.

Vamos assistir como que a duas camadas diferentes: numa delas atua a titularidade do direito
e na outra atua a posse. Sendo certo que, mais tarde ou mais cedo, elas se vão unir (ou seja, a
posse se vai extinguir) e, por isso, se diz que a posse é um direito real provisório, porque:
- Ou a posse vai cair perante a titularidade do direito. Aqui vamos ter um conflito entre o
titular do direito e o possuidor onde quem ganha é o titular do direito (aquele que recebeu
o direito por força da lei) e o juiz condenará à restituição da coisa, a não ser que…
- Ou a posse se vai transformar em titularidade do direito. Aqui o possuidor consegue
adquirir o direito através da usucapião e, nesse caso, entre o direito mais antigo e o
direito mais novo, ganha o direito mais novo.

Quando olhamos para uma relação entre o sujeito e uma coisa, nós olhamos, por um lado,
para a titularidade do direito, ou seja, para o sujeito a quem a lei reconhece a titularidade do
direito e, por outro lado, para a posse, ou seja, para o sujeito que exerce poderes de facto sobre

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a coisa (corpus) com a intenção de se comportar como titular do direito real nos termos do qual
possui (animus), sendo certo que o possuidor não é o titular do direito.
Embora possuidor seja uma coisa e titular do direito seja outra:
• Na normalidade das circunstâncias, as duas posições coincidem, isto é, o sujeito que é
titular do direito também é o possuidor. Por exemplo: Eu sou a titular da propriedade sobre o
imóvel e também sou a possuidora porque exerço poderes de facto sobre o imóvel (habito-o) com
intenção de me comportar como titular do direito real nos termos do qual possuo, isto é, nos
termos de direito de propriedade.
• Pode acontecer que as duas posições não coincidam, isto é, o sujeito que é titular do
direito não é o possuidor (um sujeito fica com a titularidade do direito e outro sujeito fica
com a posse - note-se que a posse não tira direitos) – é o que nós temos exatamente no
caso. Neste caso, em que o titular do direito e o possuidor entram em conflito:
‣ O sistema jurídico vai obrigar o possuidor à entrega da coisa ao seu titular,
nomeadamente através de uma bem sucedida ação de reivindicação (esta é uma
das razões que nos leva a dizer que a posse é um direito real provisório).
‣ Mas, em determinadas circunstâncias, a posse permite a aquisição do direto real
nos termos do qual se possui, é o que acontece com a usucapião. Quando a
usucapião intervém, o sujeito que até aí estabelecia uma relação possessória com a
coisa vai passar a ser o titular do direito real. Exemplo: O senhor X era titular do direito e
o senhor Y o possuidor. A partir do momento da usucapião tanto a titularidade como a
posse vão pertencer ao Y. A regra é de que os direitos reais anteriormente constituídos
prevalecem sempre sobre os direitos reais posteriormente constituídos. Todavia,
não é isso que vai acontecer na usucapião, porque a usucapião vai permitir uma
aquisição originária do direito real. O legislador vem apagar tudo o que aconteceu
até aquele momento e vai passar a titularidade do direito para aquele que
originalmente a adquiriu e começa, a partir daí, uma nova história ao nível da
titularidade do direito daquele objeto. Isto porque o legislador diz que se deve
reconhecer a prevalência ao sujeito que efetivamente está a fazer o aproveitamento
do bem, ou seja, o titular passará a ser o possuidor porque funcionou a usucapião.
Portanto, castiga o anterior titular que permitiu que aparecesse outro sujeito a fazer
o aproveitamento económico do bem.

Aula dia 01 de abril de 2019

Há várias formas de nós traduzirmos o exercício de poderes facto sobre a coisa:


• Posse (uma vez que adotamos a teoria subjetivista): Domínio ou exercício de poderes de
facto sobre a coisa (corpus) quando acompanhado da intenção de o sujeito se comportar
como titular do direito real (animus). Para se identificar o possuidor é apenas necessário
verificar se há corpus e animus.
• Detenção: Há apenas exercício de poderes de facto sobre a coisa (corpus).

No caso, temos as 3 relações que se podem estabelecer com a coisa:


- A titularidade do direito real que pertence a A;
- A posse que pertence a C - C não deixa de ser possuidor apesar de ser o B quem exerce
os poderes de facto sobre a coisa, porque os poderes de facto sobre a coisa podem ser
exercidos por um sujeito que representa o possuidor.

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- A detenção que pertence a B.

Qual prazo para intentar a ação de reivindicação? As ações de reivindicação não têm prazo,
ou seja, são imprescritíveis, porque elas servem para a defesa de um direito que em si também
não prescreve. É que encontramos no artigo 1313º do CC: Sem prejuízo dos direitos adquiridos
por usucapião, a ação de reivindicação não prescreve pelo decurso do tempo.

Intentada a ação de reivindicação contra o detentor, ele vai dizer que arrendou do C.

Ordem de resolução dos casos da posse:

1. Identificação do possuidor: O C é o possuidor (corpus e animus) e o B é o detentor


(corpus).

2. Identificação o direito nos termos do qual o possuidor possui: O C é possuidor em


termos de direito de propriedade.
Nota: Para a 1ª Turma só direitos reais de gozo é que são direitos suscetíveis de constituir
uma relação possessória.

3. Como é que o possuidor adquiriu a posse? Há duas modalidades de aquisição da


posse:
(1) Aquisição originária: Temos uma aquisição originária quando a relação
possessória decorre de uma relação de facto estabelecida diretamente entre o
adquirente possuidor e a coisa sem a intervenção do anterior possuidor.
(2) Aquisição derivada: Temos uma aquisição derivada quando existe uma
transferência da posse do anterior possuidor para o novo adquirente-possuidor.

O C adquiriu originariamente.

No artigo 1263º do CC, o legislador tem uma lista não exaustiva, ou seja, é meramente
exemplificativa, dos modos de aquisição da posse. A posse adquire-se:
A. Pela prática reiterada, com publicidade, dos actos materiais correspondentes ao
exercício do direito (subentendido do direito real nos termos do qual possui) -
aquisição paulatina da posse. Temos de ter:
- Prática reiterada ou sucessiva de ato material sobre a coisa (não basta um único
ato) - exige-se a constituição de uma relação duradoura com a coisa que é
objeto da posse (é elemento essencial do corpus);
- A prática reiterada de atos materiais sobre a coisa se faça com publicidade -
esses atos materiais têm de ser praticados de modo a poderem ser conhecidos
pelos interessados.
B. Pela tradição material ou simbólica da coisa, efectuada pelo anterior possuidor;
C. Por constituto possessório;
D. Por inversão do título da posse - Está descrita no artigo 1265º do CC (A inversão do
título da posse pode dar-se por oposição do detentor do direito contra aquele em
cujo nome possuía ou por ato de terceiro capaz de transferir a posse). Para que haja
inversão do título de posse é sempre necessário que um detentor se transforme em
possuidor.

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São aquisição originária da posse as alíneas a) e d).

O C adquiriu originariamente na modalidade de aquisição paulatina da posse (artigo


1263º/a do CC).

4. Caraterização da posse: No artigo 1258º do CC, sob a designação espécies de posse, o


legislador tem uma lista das caraterísticas da posse e nos artigos seguintes o legislador diz
o que entende por cada uma das caraterísticas:
- TITULADA OU NÃO TITULADA: De acordo com o artigo 1259º/1 do CC, diz-se titulada a
posse fundada em qualquer modo legítimo de adquirir, independentemente, quer do
direito do transmitente, quer da validade substancial do negócio jurídico. A posse é
titulada quando se funda num título que, em abstrato, isto é, desconsiderando a
situação real, é idóneo à aquisição do direito nos termos do qual se possui. O
legislador manda-nos olhar para o modo de aquisição do direito nos termos do qual o
sujeito possui e depois fazer uma comparação entre o modo de aquisição da posse e
o modo de aquisição do direito nos termos do qual se possui para saber se nós
podemos, em abstrato, estabelecer uma correspondência entre os dois modos de
aquisição. Diz-se em abstrato porque o legislador, no artigo 1259º/1, diz (…)
independentemente, quer do direito do transmitente, quer da validade substancial do
negócio jurídico, portanto nós não vamos olhar para negócio jurídico (que não é o nosso
caso), nem para a validade substancial do negócio jurídico. Por isso é que se diz em
abstrato, porque um negócio jurídico pode ser inválido, nomeadamente se for uma
venda ou uma doação de coisa alheia, e ainda assim a posse pode funda-se num
título que, em abstrato, é idóneo à aquisição do direito real nos termos do qual se
possui. Note-se que o legislador não olha à invalidade substancial, mas olha à
invalidade formal, o que quer dizer que se houver uma invalidade formal no negócio
jurídico de transmissão da posse, então a posse é sempre não titulada.
No caso, o direito nos termos do qual se possuiu é o direito de propriedade. É
possível, em abstrato, adquirir o direito de propriedade pela prática de atos
materiais reiteradamente e com publicidade sobre uma determinada coisa? Não.

Logo, a posse de C é uma posse não titulada e, por isso, se presume de má fé (se
fosse titulada presumir-se-ia de boa fé) - artigo 1260º/2 do CC).

- BOA OU DE MÁ FÉ: De acordo com o artigo 1260º/1 do CC, a posse diz-se de boa fé,
quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la (vamos fazer a avaliação olhando ao
momento de aquisição da posse), que lesava o direito de outrem. Depois o legislador
avança no nº 2: A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé. Esta
presunção é ilidível, ou seja, pode ser afastada por prova em contrário. A posse ser de
boa ou má fé vai ter consequências nos efeitos da posse, porque há efeitos que estão
ligados à posse de boa fé e há outros efeitos que estão ligados à posse de má fé.

Então, a posse do nosso C, porque é uma posse não titulada, presume-se de má fé,
embora o C possa fazer prova em contrário.

- PACÍFICA OU VIOLENTA: De acordo com o artigo 1261º/1 do CC, posse pacífica é a que
foi adquirida sem violência. Do nº 2 decorre que considera-se violenta a posse

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quando, para obtê-la, o possuidor usou de coacção física, ou de coacção moral nos
termos do artigo 255.º. E, à luz do artigo 1260º/3 do CC, a posse adquirida por
violência é sempre considerada de má fé, mesmo quando seja titulada, isto significa
que a presunção é inilidível, ou seja, não admite prova em contrário.

A posse de C é pacífica, porque não foi adquirida com violência, ou seja, não foi
adquirida com qualquer tipo de coação (física ou moral).

Quando estamos a avaliar se a posse é violenta ou pacífica estamos a olhar para o


momento da aquisição, mas é possível haver mudança. Portanto, a posse pode ter
sido adquirida violentamente e depois ser mantida pacificamente e vice-versa e isso
também tem consequências para os efeitos da posse.

- PÚBLICA OU OCULTA: De acordo com o artigo 1262º do CC, posse pública é a que se
exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados (o titular do direito e os
anteriores possuidores), o que implica que o critério seja um critério de
cognoscibilidade, ou seja, não interessa saber se os interessados conhecem ou não
efetivamente a posse, interessa apenas se eles podiam ou não podiam conhecê-la.

5. Efeitos da posse: Os efeitos da posse vão depender das caraterísticas da posse.


Um dos principais efeitos da posse é a usucapião - artigo 1287º do CC (A posse do direito
de propriedade ou de outros direitos reais de gozo, mantida por certo lapso de tempo, faculta ao
possuidor, salvo disposição em contrário, a aquisição do direito a cujo exercício corresponde a sua
atuação: é o que se chama usucapião). Por outras palavras, a usucapião é um efeito da posse
que mantida durante um determinado lapso de tempo e assumindo determinadas
caraterísticas permitirá ao possuidor, no futuro, a aquisição do direito real nos termos do
qual se possui. Assistimos aqui à extinção do direito real provisório posse por aquisição
definitiva do direito real nos termos do qual se possui (página 26 e 27).
Note-se, em primeiro lugar, que só é possível adquirir por usucapião direitos reais de gozo.
Portanto, mesmo para aqueles setores da doutrina que aceitam uma posse em termos de
direito real de garantia, nunca pode haver usucapião de direitos reais de garantia. Em
segundo lugar, nem todos os direitos reais de gozo, porém, podem ser adquiridos por
usucapião. Isso está elencado no artigo 1293º do CC: Não podem adquirir-se por
usucapião:
a) As servidões prediais não aparentes (são as que não se manifestam com
sinais visíveis e permanentes);
b) Os direitos de uso e de habitação (são direitos pessoalíssimos).

Note-se que o próprio legislador em cada um dos direitos reais identifica quais os modos
de aquisição de cada um deles.

Para que a usucapião possa funcionar é necessário:


(1) Posse: Sem haver posse, nunca pode haver usucapião. Portanto, a usucapião não é
uma forma de aquisição da posse, é sempre uma forma de aquisição de direito real e
é sempre uma forma de aquisição originária do direito real.
(2) A posse tem de ser pública e pacífica: Artigo 1297º do CC: Se a posse tiver sido
constituída por violência ou tomada ocultamente, os prazos da usucapião só

Filipa Ribeiro Gonçalves 30


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começam a contar-se desde que cesse a violência ou a posse se torne pública.


Portanto, à contrário, sem posse pública e pacífica não há usucapião.
Note-se que com base numa posse não titulada e de má fé se pode adquirir por
usucapião, porque as únicas caraterísticas da posse que influenciam a usucapião, no
sentido de ela poder ou não poder funcionar, é a posse ser pacífica ou violenta e
pública ou oculta. Ou seja, de outra forma, só se pode adquirir por usucapião quando
a posse é pública e pacífica, o que significa que uma posse não titulada e de má fé
permite a aquisição do direito real nos termos do qual se possui. De outra forma
ainda, a posse tem de ser pública e pacífica, as restantes caraterísticas não bolem
com o se, mas bolem com quando, porque as caraterísticas da posse não titulada e
de posse de má fé vão implicar que os prazos de aquisição por usucapião
aumentem. Portanto, duas características (pública ou oculta e pacífica ou violente)
mexem com o se, isto é, pode ou não adquirir-se por usucapião o direito real nos
termos do qual se possui, as outras duas (titulada ou não titulada e boa ou má fé)
mexem com o quando, isto é, quando é que vai funcionar a usucapião.
(3) Tempo: De acordo com o artigo 1296º do CC: Não havendo registo do título nem da
mera posse, a usucapião só pode dar-se no termo de quinze anos, se a posse for de
boa fé, e de vinte anos, se for de má fé.
(4) Invocação: A usucapião tem de ser invocada. O legislador fala da aplicação das
regras da prescrição no artigo 1292º do CC: São aplicáveis à usucapião, com as
necessárias adaptações, as disposições relativas à suspensão e interrupção da
prescrição, bem como o preceituado nos artigos 300º, 302º, 303º e 305º. No artigo
303º do CC o legislador diz que o tribunal não pode suprir, de ofício, a prescrição;
esta necessita, para ser eficaz, de ser invocada, judicial ou extrajudicialmente, por
aquele a quem aproveita, pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo
Ministério Público. A lei é claro ao afirmar que a prescrição tem de ser invocada, se
ele não o for, ela não funciona.

Quando a posse é não titulada e presumivelmente de má fé ou de má fé, o prazo máximo


de aquisição do direito de propriedade sobre bens imóveis é 20 anos. O que significa que o
C (possuidor), se mantiver a posse tal como ela foi caraterizada por nós (não titulada e
presumida de má fé), pode adquirir o direito de propriedade em 2020, porque ele adquiriu a
posse em 2000. E ele adquire por usucapião invocando-a, pois ela não funciona
dogmaticamente.
Contudo, a ação não foi intentada contra C, mas contra B. Pode o B invocar a usucapião
a favor do C? Veja-se o artigo 305º do CC: A prescrição é invocável pelos credores e por
terceiros com legítimo interesse na sua declaração, ainda que o devedor a ela tenha
renunciado. Ou seja, com as necessárias adaptações, a aquisição por usucapião não tem
de ser invocada pelo possuidor, ela pode ser invocada por qualquer terceiro que nisso
tenha interesse. B pode invocar a usucapião a favor de C, porque B tem interesse em a
invocar, porque B é detentor e não pode adquirir usucapião.
Mas continuamos com o mesmo problema que é o tempo. Este problema resolve-se
ilidindo a presunção de má fé que está ligada à caraterística da posse não titulada. A
necessidade de deixar correr 20 anos advém do facto de a posse se presumir de má fé,
porque a posse é não titulada, mas se a presunção é ilidível, então é possível afastar a
presunção, isto é, provando que o C estava de boa fé. Vamos ao artigo 1260º/1 do CC
onde o legislador diz: A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la,

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que lesava o direito de outrem. Ou seja, prova-se a boa fé do C provando que ao adquiri-la,
ele ignorava que estava a lesar um direito de outrem. C estava convencido que A não tinha
efetivamente nenhum interesse na exploração: ele tinha ido para o Brasil, esteve lá uns
anos, quando regressou não quis saber nada da agricultura e esteve na carreira política,
nunca mais voltou à terra natal. Então, o B pode dizer, em nome do C, que o C ignorava
estar a lesar o direito do A, ilidindo a presunção. Assim, a usucapião poderia funcionar
desde 2015 e como já estamos em 2019 já temos o tempo necessário para invocar a
aquisição por usucapião.
Invocada a usucapião, os seus efeitos retrotraem-se à data do início da posse - artigo
1288º e 1317º/c: O momento da aquisição do direito de propriedade é: c) No caso de
usucapião, o do início da posse. Ou seja, o sistema jurídico vai reconhecer o C como
proprietário desde a data do início da posse, ou seja, desde 2000.

Há ainda o problema da prova da propriedade. Quando A intenta a ação de reivindicação


contra o detentor e dirige os tais 2 pedidos ao tribunal (reconhecimento do direito de propriedade
e a consequente restituição da coisa) ele tem de provar que é o proprietário.
Há várias maneiras de provar a propriedade, a que não devemos utilizar é a prova do contrato,
porque o contrato não prova nada. Exemplo: O A tinha adquirido o direito de propriedade do X através
de um contrato de compra e venda celebrado por escritura pública. O A mostrava essa escritura pública no
tribunal e o juiz iria-lhe dizer: quem me garante que o X era o proprietário?. E o A iria dizer que o X adquiriu
de Y e o juiz diria a mesma coisa: quem é que me garante que Y era proprietário?. E o A iria dizer que o Y
adquiriu do Z e o juiz vai voltar a dizer: quem é que me garante que Z era o proprietário?. A escritura
publica, ainda que ela exista, a única cosia que prova é que aqueles sujeitos declararam que era
a sua vontade a transmissão do direito, não prova mais nada do que isso. É verdade que o
notário vai verificar se o sujeito que aparece como transmitente tem o registo feito em seu nome –
é o chamado princípio da legitimação -, mas o registo apenas oferece presunções de
titularidade de direitos.
Quando o proprietário tenta fazer a prova do seu direito através de aquisições derivadas tem
que percorrer a cadeia de transmissões até chegar a uma aquisição originária, porque uma
aquisição originaria é o início de uma história da coisa, em termos jurídicos. E, portanto, a partir
do momento em que nós chegamos ao início da cadeia da história da coisa, então a partir daí
podemos ver como é que ela se desenvolveu.
Portanto, se o A tentar ir através da aquisição derivada, ele tem de provar que o seu
transmitente era o verdadeiro proprietário, tem que provar que o transmitente do seu transmitente
era o proprietário e que transmitente do transmitente do seu transmitente era o proprietário e
assim sucessivamente até se chegar a uma aquisição originária. Se o prédio tiver uma cadeia de
transmissões muito intensa, esta prova é extremamente difícil, por isso se chama a prova
diabólica do direito de propriedade - é uma forma de provar, mas é trabalhosa, porque é
preciso provar que o direito foi efetiva e adequadamente transmitido em todas as transmissões
que ocorreram na cadeia até se chegar a uma aquisição originária,

Qual é a melhor maneira de dar a volta à prova de aquisições derivadas ou a chamada


prova diabólica? É afirmar que o início da cadeia de transmissões ocorreu connosco, ou seja, em
vez de irmos até à origem, a origem vem ter connosco. Então, tem de se provar que é o
adquirente originário da propriedade. Por exemplo, invocando a usucapião. Quando estamos a
falar de propriedade imobiliária, a aquisição originária prova-se:

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- Ou por funcionamento por usucapião: onde se tem de provar que se é possuidor, de


forma pública e pacifica, durante um determinado tempo e invocar a aquisição por
usucapião;
- Ou por funcionamento da acessão.

Em todo o caso, há outras maneiras de fazer a prova de propriedade, embora ao contrário da


prova da aquisição originária, elas ofereçam apenas presunções:
- A presunção da titularidade do direito oferecida pelo registo: O registo, de acordo
com o artigo 7º do Cód. Registo Predial, faz a presunção de que o direito tal como está
registado existe e pertence ao titular registal, mas é uma presunção ilidível, ou seja, pode
ser afastada com prova em contrário, nomeadamente por usucapião a favor de outro
sujeito.
Portanto, quando o autor intenta uma ação de reivindicação e tem de provar o seu direito
de propriedade, se tiver a coisa registada em seu nome ele inverte o ónus da prova e a
partir daí funciona a seu favor a presunção que ele é titular do direito de propriedade. O
que significa que é o réu quem tem de provar que é ele o proprietário.
- A presunção da titularidade do direito oferecida pela posse (é outro efeito da posse):
De acordo com o artigo 1268º/1 do CC, o possuidor goza da presunção da titularidade
do direito. Um dos efeitos da posse é este efeito presuntivo, isto é, a possibilidade de
oferecer ao possuidor a presunção do direito. O possuidor para que a presunção
funcione a seu favor tem de provar que é possuidor e a prova de que se é possuidor é
fácil porque, nos termos do artigo 1252º/2 do CC, em caso de dúvida, presume-se a
posse naquele que exerce o poder de facto, ou seja, é preciso provar-se o corpus e
provando-o presume-se o animus. A partir daí vem uma presunção sobre essa que é de
que o possuidor é o titular do direito. Atenção que depois vem depois o legislador, no
artigo 1268º/1, adiantar o seguinte: (…) exceto se existir, a favor de outrem, presunção
fundada em registo anterior ao início da posse. Portanto, a posse oferece a presunção da
titularidade do direito, mas esta presunção é vencida pela prova oferecida pelo registo
desde que o registo seja anterior à posse.

Uma das formas de o autor (A) fazer a prova do direito de propriedade na ação de
reivindicação, para que se reconheça a titularidade do direito e a consequente restituição da
coisa, é fazer a prova diabólica, ou seja, ir à procura na cadeia de transmissões da aquisição
originária, mas essa prova é muito difícil ou pelo menos muito trabalhosa. Uma das formas de dar
a volta à prova diabólica é fazer a prova de uma aquisição originária. Ou, então, se ele tiver
registo, funciona a favor dele uma presunção de titularidade do direito. Ele não pode usar a
presunção da posse, porque, apesar de um sujeito não deixa de ser possuidor só porque deixa
de exercer poderes de facto sobre ela, o artigo 1267º/1 do CC consagra as formas de perda da
posse:
• Pelo abandono: Assim como também não basta o contacto fugaz com a coisa para
existir corpus, o corpus não tem de ser exercício reiterada e sucessivamente, melhor não
tem de ser exercido continuamente. Logo, um sujeito não abandona a sua posse ou a coisa
só porque está 2 ou 3 dias sem lá aparecer.
• Pela perda ou destruição material da coisa ou por esta ser posta fora do comércio;
• Pela cedência: Pela transmissão - aquisição derivada da posse;
• Pela posse de outrem, mesmo contra a vontade do antigo possuidor, se a nova posse
houver durado por mais de um ano: Um sujeito pode ser possuidor e simultaneamente

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constituir-se uma outra posse contrária, mas o primeiro possuidor só perde a posse
quando a nova posse tiver durado um 1 ano e 1 dia (é uma posse que tem mais de um
ano).
Certo é que a partir do momento em que a posse de C faz 1 ano e 1 um dia, o A deixa
de ser possuidor. Se perdeu a posse não pode usar do disposto no artigo 1268º do CC
para fazer a presunção a seu favor.

Assim, a favor de C temos o artigo 1268º/1/1ª parte e a favor de A, se A tiver registado a sua
propriedade, temos o artigo 7º do Cód. Registo Predial:
- Se o registo é anterior ao início da posse: ganha A (o registo).
- Se o registo e a posse tiverem a mesma data: ganha C (a posse), por isso se diz que a
presunção oferecida pela posse é mais forte do que a do registo.

Posto isto, A (titular do direito de propriedade) intenta uma ação de reivindicação contra B
(detentor) e lança mão da carta do registo, dizendo que tem o registo a seu favor, portanto tem a
presunção do artigo 7º do Cód. Registo Predial. Nós, enquanto advogados de B, usamos a
cartada da presunção da titularidade do direito conhecida pela posse, porque o C tem corpus e
animus e o B, enquanto detentor, é que exerce o corpus em nome do C (artigo 1268º/1/2ª parte
do CC). Como a presunção oferecida pelo registo é mais antiga do que a presunção oferecida
pela posse o juiz vai reconhecer o direito de propriedade ao A e a consequente restituição da
coisa. No entanto, como a presunção do direito oferecida pelo registo é ilidível, temos que atacá-
la, usando o artigo 305º do CC para dizer que o C (senhorio de B) adquiriu por usucapião o
direito de propriedade e a prova de aquisição do direito de propriedade deita a baixo a presunção
do direito de registo. Pelo o que se reconheça a B como o verdadeiro arrendatário ou como o
arrendatário legitimado por aquele que já é proprietário desde 2000.

Aula dia 08 de abril de 2019

A é possuidor de um imóvel em termos de direito de propriedade. Em 1998, A vendeu o


imóvel a B simuladamente através de escrito particular quando o contrato que pretendiam
era um arrendamento. Em 2005, B doou o mesmo prédio a C, também por escrito particular.
No ano seguinte, C celebrou com D um contrato de comodato. Em janeiro de 2005, C
acabou por vender o mesmo prédio a D, mais uma vez por escrito particular. Quem adquiriu
a posse do imóvel e qual o modo de aquisição da posse.

Pode haver transformações a nível da posse, mas não tem nada a ver com a titularidade do
direito real de propriedade.

A vende simuladamente a B e como negócio dissimulado temos um arrendamento, B doa a C


e C faz um contrato de comodato com D, vendendo depois a esse. Neste caso, temos várias
invalidades contratuais.

O bem é de A, possuidor do imóvel em termos do direito real de propriedade, e se a posse de


A for causal ele ainda é titular do direito real.

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Como o contrato de compra e venda entre A e B é um contrato simulado, B seria detentor,


pois ele só tem corpus (ele sabe que é mero arrendatário e exerce poderes de facto sobre a
coisa) e não tem animus (intenção de se comportar como titular de um direito real) - artigo 1253º/
c) do CC. Contudo, quando B doa a C está a comportar-se como proprietário de um direito real,
logo B adquiriu originariamente o título da posse por inversão do título da posse (adquiriu o
animus) nesse momento (artigo 1265º e 1263º/b) do CC). Assim, B passa a ser possuidor em
termos de direito real de propriedade no momento em que doou a coisa - chama-se, na
dogmática, um segundo lógico, pois deixou de ser detentor para ser possuidor.
Note-se que existem duas modalidades de inversão do título da posse:
- Por ato de terceiro: Aparece um terceiro que se arroga à titularidade do direito real e
celebra com o detentor um negócio jurídico nos termos do direito real a que se arroga.
- Por oposição ao possuidor: Tem de ocorrer de forma explícita ou implícita (comunica ao
antigo possuidor; pratica atos materiais ou jurídicos sobre a coisa).
B adquire por inversão do título da posse por ato de terceiro.
É uma posse não titulada e, por isso, presume-se de má fé, é pacífica e pública.

Já C tem corpus e animus, logo é possuidor em termos do direito de propriedade e adquiriu a


posse por aquisição derivada por tradição, pois recebeu do antigo possuidor B.
Note-se que a aquisição derivada por tradição pode ser por:
- Tradição longa manus: Quando a coisa é colocada ao dispor do possuidor pela sua
indicação à distância. Exemplo: A e B sobem à torre da igreja e lá A diz a B que é aquele o
prédio que está a venderr.
- Tradição ficta: Quando há entrega de uma coisa que simboliza a coisa.
No caso, não temos dados para saber qual delas é.
É uma posse não titulada, pois há um vício formal (não há um ato em abstrato idóneo à
transmissão do direito real nos termos do qual se possui), é pacifica e pública (em relação a B,
pois em relação a A pode ser oculta) e de má fé.

Em junho de 2017, A adquiriu pacificamente a posse de um prédio rústico, ignorando


que este pertencia a B. Em maio de 2018, B intentou contra A uma ação de restituição da
posse. Terá sucesso a pretensão de B? Quid iuris se no prédio estiverem plantadas videiras
cujas uvas ainda não foram recolhidas por A.

A exercia poderes de facto sobre um prédio rústico (corpus) com a intenção de se comportar
como titular de um direito real (animus), logo A é possuidor e adquiriu essa posse pacificamente
em junho de 2017, mas o prédio pertencia a B, que intentou uma ação de restituição da posse
em maio de 2018.

Antes de mais, o prédio pertence a B, ou seja, a titularidade do direito de propriedade


pertence ao B. O que quer dizer que é B podia ter optado por intentar uma ação de reivindicação
(artigo 1311º do CC), só que as ações de reivindicação têm o problema (como todas as ações de
defesa da propriedade) da prova. Então, B decidiu antes intentar uma ação de tutela possessória
ou uma ação possessória e uma dessas ações é a ação de restituição.

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A posse é um direito real provisório e isto não inverte, porém, que nós possamos qualificar a
posse como posse causal ou posse formal:
• Temos posse causal quando a posse se sustenta na titularidade do direito ou que é
acompanhada da titularidade do direito.
• Temos uma posse formal quando há estas situações patológicas em que a titularidade
do direito está como um determinado sujeito e a posse nos termos desse direito está com
outro sujeito. De outra forma, é a posse que não se sustenta ou fundamenta na
titularidade do direito.
Quando se fala de posse formal temos uma situação patológica, mas muitas vezes aquilo que
nós assistimos é que os titulares dos direitos optam por usar da defesa possessória em lugar de
usarem da defesa do direito. Então, eles atuam como possuidores e não como titulares de direito
e eles fazem isso porque na tutela possessória é muito mais fácil de provar a posse e, portanto, a
tutela possessória é mais célere. O que acontece é que nós temos titulares de direitos que vão
optar por assumir o seu estatuto de possuidores.
A prova da posse é mais simples do que a prova da titularidade do direito porque a prova da
titularidade do direito pressupõe a prova do facto jurídico que determinou a titularidade do
direito, ao passo que na prova da posse basta provar o corpus. Teoricamente, dir-se-ia que teria
de ser feita a prova do corpus e do animus, porém, o legislador ofereceu, a quem consiga provar
o corpus, a presunção do animus - artigo 1252º/2 do CC: Em caso de dúvida, presume-se a
posse naquele que exerce o poder de facto, sem prejuízo do disposto no nº 2 do 1257º. Portanto,
provando-se o poder de facto, presume-se a posse - por isso é que se diz que este artigo 1252º/
2 do CCé um dos sinais mais claros de que o legislador português adotou a teoria subjetivista da
posse.

Foi exatamente isso que B decidiu fazer, ele decidiu usar da tutela possessória em vez da
tutela do direito de propriedade, optando por uma ação de restituição da posse, em lugar de
intentar uma ação de reivindicação. Mas só pode intentar uma ação de defesa da posse quem
seja possuidor. B ainda é possuidor? No artigo 1267º/1/d do CC o legislador diz: O possuidor
perde a posse: d) Pela posse de outrem, mesmo contra a vontade do antigo possuidor, se a nova
posse houver durado por mais de um ano (posse de 1 ano e 1 dia). No caso, temos dois
possuidores: uma posse que é exercida pelo A e simultaneamente temos o B que ainda não
perdeu a sua posse. No nº 2 o legislador diz-nos como se conta o prazo: A nova posse de outrem
conta-se desde o seu início, se foi tomada publicamente, ou desde que é conhecida do
esbulhado, se foi tomada ocultamente; sendo adquirida por violência, só se conta a partir da
cessação desta.

Sobre a manutenção e restituição da posse, nós temos aqui o artigo 1278º do CC que trata
conjuntamente uma ação de manutenção da posse e da ação de restituição da posse:
- Intenta-se uma ação de manutenção da posse quando a posse por algum motivo está
a ser perturbada com a intenção do perturbador (ou de quem perturba) da constituição
de uma posse contrária;
- Intenta-se uma ação de restituição da posse justamente quando há um esbulho,
portanto há um ato animado visando o esbulhador constituir uma posse contrária.
Diz o legislador no artigo 1278º do CC: No caso de recorrer ao tribunal, o possuidor
perturbado ou esbulhado será mantido ou restituído enquanto não for convencido na questão da
titularidade do direito. Isto quer dizer que um sujeito que é possuidor e intenta uma ação de
defesa da posse perderá sempre caso o réu da ação prove que é titular do direito, isto porque

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numa situação de conflito entre a posse e a titularidade do direito vencerá sempre a titularidade
do direito. Todavia, quando não haja da parte do réu a capacidade de provar a titularidade do
direito e ele apenas prove a sua condição de possuidor, temos um conflito entre posses (ambos
são possuidores e, por isso, ambos têm a seu favor a presunção de titularidade do direito) e é
preciso saber qual delas é que vai vencer. Para resolvermos esse conflito temos justamente o nº
2 e 3. O legislador diz o no nº 2: Se a posse não tiver mais de um ano, o possuidor só pode ser
mantido ou restituído contra quem não tiver melhor posse. O legislador diz se a posse não tiver
mais de um ano, porque se a posse tiver mais de um ano (isto é, 1 ano e 1 dia) perde-se a posse
e, portanto, não se pode intentar uma ação de defesa da posse. Portanto, temos que saber que
havendo um conflito entre duas posses vai vencer a que é melhor. O legislador diz qual é a
melhor no nº 3 fazendo uma hierarquia de posses: É melhor posse a que for titulada; na falta de
título, a mais antiga; e, se tiverem igual antiguidade, a posse atual. No caso, não temos dados
suficientes para saber quais é que são as caraterísticas da posse do A, por isso, deixa-se a
questão em aberto.

Imaginando que a posse do A não é titulada, então temos de passar para o segundo critério:
na falta do título, vence a mais antiga. No caso, a mais antiga era a de B. Se por algum motivo as
posses tivessem a mesma duração venceria a posse de A.

Se o B tiver a posse mais antiga (como parece ter) e vencer a ação de restituição diz-nos o
legislador no artigo 1283º do CC que ele vai ser havido como nunca esbulhado: É havido como
nunca perturbado ou esbulhado o que foi mantido na sua posse ou a ela foi restituído
judicialmente - aqui o legislador está a tratar da ação de manutenção da posse ao mesmo tempo
que trata da ação de restituição. Ainda no artigo 1284º do CC: O possuidor mantido ou restituído
tem direito a ser indemnizado do prejuízo que haja sofrido em consequência da turbação ou do
esbulho. Obviamente que a indemnização que vai ser devida pelo A ao B é um fator importante,
mas mais importante é o que decorre do artigo 1283º, porque se vai apagar o período de posse
do réu. O que quer dizer que o réu não tem direito a frutos, nem a benfeitorias, nem o tempo de
posse dele pode ser usado para efeitos de usucapião. E isto é importante para o nosso caso. No
caso o problema é das uvas. A quem pertencem então essas uvas? As uvas pertencem ao B (que
é o melhor possuidor).
A é um possuidor de boa fé, mas como se vai apagar todo o período em que foi possuidor ele
vai ter de restituir os frutos - tem de haver uma compensação. Note-se que se a posse do A
tivesse mais de 1 ano e um dia, o B já não podia usar da ação possessória e tinha de usar da
ação de defesa do direito e o possuidor de boa fé tinha de devolver a coisa, mas tem direito aos
frutos de boa fé.

A é proprietário de um terreno e permitiu, em abril de 2005, que o seu empregado B nele


construísse uma pequena casa de habitação. C proprietário do terreno vizinho decidiu há
cerca de 10 anos construir também uma moradia abrindo janelas para a casa construída
por B. Há muito que este tenta forçar C a tapar as janelas, contudo o vizinho recusa-se a
faze-lo alegando que nada de errado há com a sua habitação e que A, o verdadeiro
proprietário do imóvel, é que tem de com ele entender-se.
Consultando-o B que conselho lhe daria?

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Prof.ª Margarida Manuel Barroso Costa Andrade

Temos dois terrenos vizinhos e contíguos (as extremas se juntam uma com a outra): um
terreno pertence ao A e o outro terreno pertence a C. B construiu uma casa no terreno de A
autorizado por este e o C construiu uma casa e abriu janelas diretamente para o terreno que ele
diz que pertence a A, mas quem está a pretender defender a sua posição é o B.

I. Janelas
O direito de propriedade é o direito real mais amplo que é reconhecido pelo legislador
português e, todavia, tem restrições. O artigo 1344º do CC é muito importante para a
propriedade imobiliária, porque define os limites materiais do direito de propriedade. Segundo
esse preceito, um sujeito é não é só proprietário da superfície do terreno que está demarcada no
solo, mas é também proprietário do espaço aéreo correspondente a essa superfície e do subsolo
correspondente a essa superfície.
Assim sendo, o C é obviamente proprietário de toda aquela superfície e, portanto, pode
aproveitar todo o seu terreno para constituir a casa. Todavia, o legislador, apesar de vir
reconhecer esta extensão imensa no que diz respeito aos limites materiais do direito de
propriedade, também condiciona ou restringe o direito. São várias as restrições que existem no
nosso sistema e são elas umas vezes justificadas pela salvaguarda de interesse público (caso da
expropriação), mas a esmagadora maioria das restrições que estão previstas no Código Civil
visam a salvaguarda de interesses privados e destinam-se a dirimir possíveis conflitos de
vizinhança. Portanto, o legislador para assegurar a paz social vem restringir o direito de
propriedade em atenção aos interesses dos sujeitos que são titulares desse direito sobre
superfícies contíguas e/ou vizinhas ao imóvel que é o objeto de direito de propriedade.
Uma dessas restrições ao direito de propriedade é a que diz respeito à abertura das janelas.
Esta restrição está prevista no artigo 1360º do CC: O proprietário que no seu prédio levantar
edifício ou outra construção não pode abrir nela janelas ou portas que deitem diretamente sobre o
prédio vizinho sem deixar entre este e cada uma das obras o intervalo de metro e meio. E o nº 2:
Igual restrição é aplicável às varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, quando sejam
servidos de parapeitos de altura inferior a metro e meio em toda a sua extensão ou parte dela. O
legislador está a tutelar o direito de propriedade do vizinho construtor para que ele não seja
devassado, no sentido de, por um lado, de se impedir ou dificultar a observação do que se passa
no terreno vizinho e, por outro lado, para impedir ou dificultar o arremesso de objetos.
Colocou-se a questão de saber, mas afinal o que é que é uma janela? Isto deu lugar a
parecer, que é a pronúncia do STJ, que foi redigido pelo Dr. Henrique Mesquita, que veio dizer
que, ao contrário do que se passava na vigência do Código Civil de 1867 (Código de Seabra) em
que se entendia por janela uma abertura com amplitude suficiente para enfiar uma cabeça, se
deveria considerar uma janela tudo aquilo que permite que um sujeito se debruce sobre a
abertura e que tenha amplitude suficiente para permitir o arremesso de objetos. O que significa
que a janela é muito maior do âmbito do Código Civil atualmente vigente do que era no Código
de 1867.
Sabendo isto, já sabemos qual é a distância entre a construção e a extrema do prédio vizinho
e essa distância é, como disse o legislador, de 1,5 m. Quando essa distância não seja respeitada,
nós temos uma violação de uma restrição ou da violação do direito de propriedade do vizinho
que pode, então, exigir que a janela seja tapada. Tapar a janela implica que essa abertura deixe
de ser considera uma janela:
- Ou se tapa completamente a janela:
• Pode cumprir-se a sentença que determinou que fosse tapada a janela com tijolos
de vidro. Se o objetivo do legislador é impedir a devassa e é impedir que a devassa

Filipa Ribeiro Gonçalves 38


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se faça através do debruçar sobre uma janela, os tijolos de vidro permitem evitar
justamente esta devassa.
• Também se pode colocar um vidro desde que não possa ser aberto.
- Ou se reduz a amplitude da janela e passamos a ter uma fresta.
Uma maneira de dar a volta à questão é a contrução de um muro. Se se construir um muro
que tenha pelo menos a altura da janela, já não se justifica que se obrigue a deixar 1,5 m de
distância, porque o muro, embora permita o tal debruçar, já não permite que se veja, nem que se
arremessem objetos para o outro lado.
Outra forma é gradar a janela. Se se gradar a janela, ou seja, colocar-se uma grade, então já
não é possível a tal atitude de debruçar nem o arremesso de objetos.
Note-se que o legislador não obriga a que se deixe 1,5 m de distância quando exista um
caminho público entre os dois prédios, precisamente porque o potencial do devassa já existe
pela existência do caminho público. Portanto, não se justifica que o proprietário seja restringido
no seu direito de propriedade quanto à construção de janelas.
Há sempre aqui uma intenção da parte do legislador de restringir a propriedade, mas apenas
quando tal seja absolutamente necessário, respeitante, então, a tal ideia de que o direito de
propriedade é o direito real máximo e que só deve ser restringido, quer para a satisfação de
interessa público, quer para a satisfação de interesse privado, quando seja absolutamente
necessário.

Imagine-se um prédio rústico no qual não há intenção de se construir absolutamente nada e o


vizinho construiu no seu prédio uma casa com janelas voltadas diretamente para o prédio rústico
não respeitando a distância de 1,5 m. Deve-se, ainda que não se tenha a intenção de construir,
pedir ou exigir ao vizinho que tape a janela? Sim, porque, no entretanto, pode ter-se constituído
uma servidão de vistas e constituindo-se a certidão de vistas é preciso respeitá-la, deixando 1,5
m entre a construção com a janela e a nova construção que se queira fazer. Até porque a
intenção de agora pode não ser a intenção daqui a 20 anos ou 15 - se a posse da servidão for de
boa fé são os 15 anos. O perigo é que daqui a 15 anos, sendo a posse de boa fé ou sendo ilida a
posse de má fé, constitui-se por usucapião a servidão de vistas e isso vai delimitar o direito de
propriedade, porque depois não se pode construir até à extrema, é se obrigado a guardar 1,5 m
de distância entre a construção já feita ainda que a nova construção não tenha janelas. Depois,
se mais tarde se quiser vender o prédio, com a servidão de vistas, o prédio fica desvalorizado,
porque há um espaço da propriedade no qual se vai poder deixar de construir.
O problema que é colocado nas servidões de vistas é este que elas são constituídas para
cada abertura (cada janela, cada porta, etc.), o que quer dizer que quando se modifica a abertura,
apaga-se tudo o que já passou e se inicia um nova posse, logo uma nova contagem para
usucapião. Exemplo: Um sujeito teve a posse durante 20 anos de uma janela. Entretanto, transformou a
janela numa porta. Isso apaga tudo o que se passou até aí e há início de uma nova posse.

Nada no enunciado do caso prático nos diz qual foi a distância guardada entre a dita cuja da
janela e a habitação do B. Logo, nós podemos colocar 2 hipóteses:
1. Se a janela foi aberta em conformidade com o disposto no artigo 1360º do CC, então
não há problema e efetivamente o C tem razão ao dizer que não se passa nada com a
sua construção.
2. Se a janela foi aberta em contradição com o disposto no artigo 1360º do CC, então C
tem a obrigação de tapar a janela.

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Se não houver registo do título (que não deve haver) ele têm 15 anos para invocar por
usucapião a servidão - artigo 1296º do CC. No caso, não pode invocar a usucapião
porque só passaram 10 anos.
Os proprietários dos prédios vizinhos podem defender-se de janelas quando estão
perante uma janela ilícita, através de uma ação negatória que é uma ação de defesa do
direito de propriedade. Portanto, aquela ação em que se pede ao tribunal que declare a
inexistência do direito do réu, que se reconstitua a situação material tal como ela existia
antes da violação do direito de propriedade e ainda que seja condenado de se abster de
qualquer comportamento ilícito de violação do direito de propriedade. Qual é a causa
de pedir das ações de defesa da propriedade? É o facto jurídico aquisitivo do direito
de propriedade. O que significa que quem intenta a ação tem de provar que é titular do
direito de propriedade. E quem é que aparece, no nosso caso, como potencial autor
desta ação negatória? É o B. Mas quem é o B? A não lhe concedeu o direito de
superfície, ele autorizou à construção. Se B fosse possuidor, o que é que ele podia
fazer? A acessão que é outra forma de aquisição do direito de propriedade por
aquisição originária. O problema da posse é a autorização, é que a autorização faz com
que se duvide do seu animus possidendi.
Há aqui um problema doutrinal que é saber se o possuidor pode ou não invocar a
aquisição do direito de propriedade por acessão.
Quando é que temos aquisição originária do direito de propriedade? Quando o direito
de propriedade nasce ex novo na esfera jurídica de um determinado sujeito com base
num contacto direto entre ele e a coisa, independentemente de qualquer relação jurídica
que justifique ou fundamente este contacto.
Assim sendo, todas as obras que sejam realizadas numa determinada coisa por um
sujeito que tenha um contacto jurídico com ela, ou seja, sempre que exista uma relação
jurídica que justifica ou fundamente a atuação material sobre o bem, não permitem o
funcionamento da acessão. P. exemplo, o usufrutuário que realizou benfeitorias na coisa, não
pode dizer que adquiriu o direito de propriedade por acessão. Assim como um locatário ou um
arrendatário não pode dizer que adquiriu o direito de propriedade sobre coisa só porque realizou
benfeitorias sobre ela.
E por isso debate a doutrina a possibilidade de o possuidor poder ou não poder utilizar
a acessão, em vez da usucapião, para afirmar a aquisição da titularidade do direito. Na
perspetiva da professora, o possuidor não pode invocar a aquisição por acessão,
porque:
- Ou bem que se é possuidor e então o caminho para a aquisição da titularidade do
direito é a usucapião;
- Ou bem que não se tem essa relação de posse com a coisa, mas se atua sobre ela
e o caminho para a aquisição da titularidade do direito é a acessão, que é um
caminho muito mais difícil, embora ela atue mais rapidamente que a usucapião.
O que é a acessão? Em determinadas situações uma determinada coisa é enriquecida
ou transformada tornando-se numa nova coisa ou numa coisa diferente ou e então é
preciso saber quem é o titular deste novo objeto ou do objeto diferente que passou a
existir no ordenamento jurídico.
• Regra superficies solo cedit: A regra é de que a coisa principal que seja acrescida
ou pela natureza ou pelo trabalho do homem pertence sempre ao sujeito que já era
proprietário dela.
• Regra do reconhecimento da propriedade a quem trabalha: Contudo, há
determinadas situações em que o legislador vai optar por uma solução contrária e

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aí, em vez da regra superficies solo cedit, vamos ter a regra do reconhecimento da
propriedade a quem trabalha. Em vez de ser o solo que vai absorver a superfície é a
superfície que vai absorver o solo, mas isto só pode acontecer em determinadas
circunstâncias que são absolutamente excecionais. E quando é que vai acontecer?
Nos termos do artigo 1340º do CC: Se alguém, de boa fé, construir obra em terreno
alheio, ou nele fizer sementeira ou plantação, e o valor que as obras, sementeiras ou
plantações tiverem trazido à totalidade do prédio for maior do que o valor que este
tinha antes, o autor da incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor
que o prédio tinha antes das obras, sementeiras ou plantações. Portanto, a
propriedade vai ser reconhecida a quem planta ou constrói em detrimento do sujeito
que era titular da propriedade sobre o solo, quando temos:
- Um sujeito que planta ou constrói no terreno alheio;
- Boa fé;
- Especial relação de valores.

Então o que é que nós vamos fazer como advogados do B? Vamos tentar invocar que o
B adquiriu originariamente o direito de propriedade sobre o imóvel por acessão
industrial imobiliária. E para que possa funcionar a acessão industrial imobiliária há uma
série de requisitos que são impostos pelo artigo 1340º do CC:
1. Tem de que haver a tal obra, sementeira ou plantação. Quando falamos disto
pressupomos sempre uma intervenção do prédio que implique uma ligação
material com caráter de permanência à coisa principal. Exemplo: B, em vez de ter
construído uma casa, tinha plantado uma sementeira de alface. Neste caso, não podia
invocar a ação, porque as alfaces são colheitas de uma única vez, portanto elas não estão
em constante renovação. Todas as colheitas que tenham apenas um ciclo, como é o caso
das cenouras, das alfaces, etc. não permitem a invocação da aquisição do direito de
propriedade por acessão, porque não há uma relação material de permanência à coisa
principal. Se fosse uma vinha, um eucaliptal, um pomar, um pinhal, uma construção ou um
imóvel já haveria. Note-se que obra não significa apenas casas de habitação, pode
ser outra coisa qualquer, p. ex., um armazém. Este requisito está verificado, no
caso.
2. Boa fé. O legislador descreve o que entende por boa fé no artigo 1340º/4 do CC:
Entende-se que houve boa fé, se o autor da obra, sementeira ou plantação
desconhecia que o terreno era alheio, ou se foi autorizada a incorporação pelo
dono do terreno. Também está verificado - o B está manifestamente de boa fé,
porque houve uma autorização do dono do terreno à elevação da construção.
3. Especial relação de valores. Esta relação de valores afere-se comparando
unidades prediais, isto é, compara-se a unidade predial que existia antes da
construção e a unidade predial que existe depois da construção. Compara-se
quanto vale o prédio antes da construção e quanto vale o prédio depois da
construção.
- Se a unidade predial que existe depois da construção tiver um valor superior
à unidade predial que existia antes da construção, então funciona a aquisição
por acessão. Embora o legislador apenas exija que a unidade predial nova
valha mais que antiga, a jurisprudência tem afirmando que a nova unidade
predial tem de valer mais do dobro da unidade predial antiga.

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- Se a nova unidade predial não valer mais que a unidade predial antiga, então
funciona o princípio superficies solo cedit e é o proprietário que vai absorver a
construção. Portanto, reconhece-se o direito de propriedade ao autor da
obra. Logo, a obra é absorvida pelo direito de propriedade sobre o solo.
- Se tiverem mais ou menos o mesmo valor abre-se licitação, logo quem der
mais fica com o prédio todo. Sendo certo que há depois uma compensação
daquele que ganhou em relação aquele que perdeu.

Para quem considere que a acessão pode funcionar para o possuidor, costuma dizer-se
que a usucapião é mais benéfica do que a acessão. Quando o possuidor esteja em
condições de invocar a usucapião ou de adquirir por acessão é melhor para ele a
usucapião porque não tem de pagar a tal compensação. Para quem, como a professora,
considere que o possuidor não pode adquirir por acessão, esta comparação não faz
sentido.

Em que momento é que se adquire por acessão? A doutrina diverge:


• Escola de Lisboa (Menezes Cordeiro, Oliveira Ascensão, Carvalho Fernandes; Mónica
Jardim - exceção): Consideram que a lei apenas concede um direito potestativo de
aquisição, isto é, é preciso que se manifeste a vontade de adquirir por acessão,
sendo que uma vez que estamos a falar de um direito potestativo os efeitos da
vontade se impõem na esfera jurídica do destinatário da declaração. Afirmam que
se trata de um direito potestativo, por um lado, porque não é justo para o
proprietário que perde a propriedade perdê-la imediatamente e só mais tarde poder
exigir a compensação que o legislador lhe atribui. Por outro lado, porque a
aquisição do direito de propriedade faz com que o risco passe a correr
imediatamente por conta do proprietário, mesmo quando ele não sabe que é
proprietário.
• Escola de Coimbra (Antunes Varela, Pires de Lima, Margarida Costa Andrade):
Consideram que há uma aquisição automática, isto é, basta a verificação dos
pressupostos da acessão para se afirmar a aquisição do direito de propriedade por
acessão. Antunes Varela e Pires de Lima dizem que se se considerar que a lei não é
justa, então que se mude a lei. Eles não deixam de considerar que há elementos
válidos para, de iure condendo, alterar a lei, mas que não é essa a sua solução que
está prevista na lei. Veja-se o que diz o legislador no artigo 1317º/d do CC: O
momento da aquisição do direito de propriedade é: d) Nos casos de ocupação e
acessão, o da verificação dos factos respetivos. Qual é a verificação dos factos
respetivos? Boa fé, obra e valor. E depois quando nós comparamos o artigo 1340º
com o 1343º do CC vemos que o legislador usa expressões opostas, logo é porque
quer dizer coisas diferentes. No artigo 1340º/1 do CC, o legislador diz: Se alguém,
de boa fé, construir obra em terreno alheio, ou nele fizer sementeira ou plantação, e
o valor que as obras, sementeiras ou plantações tiverem trazido à totalidade do
prédio for maior do que o valor que este tinha antes, o autor da incorporação
adquire a propriedade dele, pagando o valor que o prédio tinha antes das obras,
sementeiras ou plantações. Já no artigo 1343º do CC ele diz: Quando na construção
de um edifício em terreno próprio se ocupe, de boa fé, uma parcela de terreno
alheio, o construtor pode adquirir a propriedade do terreno ocupado, se tiverem
decorrido três meses a contar do início da ocupação, sem oposição do proprietário,

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pagando o valor do terreno e reparando o prejuízo causado, designadamente o


resultante da depreciação eventual do terreno restante. O legislador manifestamente
nuns casos previu a aquisição automática e noutros casos atribuiu um direito
potestativo de aquisição. Portanto, não quer dizer que não se possa ser sensível à
argumentação usada pela Escola de Lisboa, mas a verdade é que não é isso que
está previsto na lei. Portanto, se quiser mude-se a lei, enquanto não se mudar a lei é
isto que o legislador diz.

É possível adquirir apenas por acessão parte do terreno, desde que seja possível
fracionar esse terreno, tendo em conta as regras do urbanismo. Portanto, se se
considerar apenas a parte onde B construiu e se se conseguir uma relação de valores
equivalentes aquela que está prevista no artigo 1340º para parte do terreno, então,
nesse caso, nós podemos permitir a aquisição apenas de parte do terreno, desde que
esse terreno seja destacável.

Quando estamos a falar em plantações e sementeiras é preciso que o terreno seja


fracionável e isto implica que, nos termos do artigo 1376º do CC, os prédios tenham
dimensão pelo menos equivalente à unidade de cultura. Esta é outra restrição ao
direito de propriedade que nós encontramos no CC (que podemos juntar ao 1360º).
Um sujeito que seja proprietário de um prédio rústico só pode transformá-lo em 2
prédios rústicos por negócio jurídico unilateral ou por contrato, se cada uma das novas
unidades prediais tiver uma dimensão mínima. Cada zona do país tem a sua dimensão
mínima própria, que varia em função da tradição de cultivo de cada uma das regiões.

Conclusão, se fossemos advogados do B, aconselhar-lho-íamos a intentar uma ação


negatória na qual íamos provar que o B tinha adquirido o direito de propriedade por
acessão e na qual pediríamos que fosse declarada a existência do direito do C de
manter aquelas janelas abertas, sempre partindo do pressuposto que aquela distância é
menor do que 1,5 m, que tapasse a janela e que fosse condenado a não violar
novamente o direito de propriedade do B. Sendo certo que o B pode adquirir só uma
parte do terreno, tendo em conta as regras do direito do urbanismo.

A, B e C são comproprietários de um restaurante cuja especialidade é a carne grelhada.


Quando o negócio começou a crescer decidiram construir um grande grelhador nas
traseiras do restaurantes levantando uma chaminé que dirigia os fumos diretamente para o
prédio vizinho onde está instalada uma clínica dedicada ao tratamento de pessoas que
sofrem de obesidade. D, E e F proprietários desta clínica pretendem reagir, poderão faze-
lo? E se D, E e F fossem proprietários de um restaurantes concorrente?

A primeira restrição ao direito de propriedade de interesse privado que se encontra no


Código Civil diz respeito às emissões de fumos - artigo 1346º do CC: O proprietário de um
imóvel pode opor-se à emissão de fumo, fuligem, vapores, cheiros, calor ou ruídos, bem como à
produção de trepidações e a outros quaisquer factos semelhantes, provenientes de prédio
vizinho, sempre que tais factos importem um prejuízo substancial para o uso do imóvel ou não
resultem da utilização normal do prédio de que emanam. O legislador vem restringir o direito de

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propriedade de um sujeito dizendo que ele não pode emitir fumos, ruídos, cheiros, etc. para o
prédio vizinho quando tal implique um prejuízo prejudical para o prédio recetor ou quando essas
emissões decorram de uma utilização anormal do prédio emitente.
Em primeiro lugar, o legislador tem aqui uma enumeração meramente exemplificativa, logo não
só essas emissões que caem no regime jurídico do artigo 1346º do CC. Fundamentalmente,
caem aqui todas as emissões de natureza corpórea, mas de tamanho ínfimo (p. ex., vapor de água,
fumo, eletricidade, cheiro) e todas as emissões de natureza incorpórea.
Em segundo lugar, o legislador vem dizer que essas emissões são ilícitas quando uma das
condições do artigo 1346º se verifique, isto é, ou causam prejuízo substancial para o prédio
vizinho ou decorrem de uma utilização anormal do prédio de que emanam. De outra maneira o
prédio vizinho está obrigado a receber as emissões. Quando nós estamos a verificar se há um
prejuízo substancial para o prédio que recebe as emissões ou se há uma utilização anormal do
prédio emitente usamos sempre critérios objetivos, ou seja, olhamos para a coisa e verificamos
se a utilização dela fica substancialmente prejudicada pela emissão. Exemplo: Um sujeito faz umas
festas no seu imóvel e o seu vizinho diz que não consegue viver ali porque sofre de enxaqueca e cada vez
que ele faz uma festa ele não consigo aguentar ou então que não consegue dormir a sesta para que
consiga executar a sua profissão melhor. Isso não tem importância absolutamente nenhuma. O que vamos
ver é se a realização das festas e dos barulhos que são emitidos em função da realização da festa
prejudicam substancialmente a utilização do prédio vizinho como casa de habitação. Por outra parte, a
realização das festas não é uma utilização anormal do prédio, se o prédio for destinado a habitação,
mesmo que as festas decorram todos os fins de semana do ano.

No caso, olhando para a utilização do prédio onde está instalado o grelhador do A, B e C, não
há uma utilização anormal do prédio, porque o prédio se destina a vender carne grelhada,
portanto os fumos decorrem justamente da utilização normal desse prédio.
Olhando agora para o prédio onde está instalada a clínica dedicada ao tratamento de pessoas
que sofrem de obesidade de D, E e F já se pode dizer que há um prejuízo substancial pela
emissão dos fumos para o prédio recetor, tendo em conta o destino do prédio, dado que se trata
de uma clínica e que se dedica a um tratamento muito específico é defensável.
Portanto, D, E e F podem reagir contra o grelhador, porque isso implica um prejuízo
substancial para o prédio que recebe as emissões atendendo ao fim a que se destina. Quem é
que imprime um fim à coisa? Os proprietários.

Se no prédio do D, E e F tivesse um restaurante, não há um prejuízo substancial para o prédio


do D, E e F. O que não quer dizer que eles não podem reagir, porque quando o legislador obriga
o proprietário do prédio vizinho a suportar as emissões só o faz no pressuposto de que essas
emissões vão parar naturalmente ao prédio vizinho.
No caso, as emissões não vão parar naturalmente ao prédio vizinho, elas são dirigidas pela
chaminé para o prédio vizinho, o que faz com que as emissões sejam ilícitas, independentemente
de estarem verificadas as circunstâncias a que se refere o artigo 1346º do CC. Quando o A, B e C
construíram aquela chaminé e dirigiram os fumos para o prédio vizinho, eles estão a atacar
diretamente o prédio vizinho, o que é o mesmo que dizer que eles estão em incumprimento da
obrigação passiva universal que impõem que não haja qualquer ato de ingerência no exercício
poder de direto e imediato sobre a coisa, poder esse que é atribuído por direito real.

Portanto, esta chaminé equivale, em termos jurídicos, ao caso da areia (página 16).

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Como é que o D, E e F podem reagir? Intentando uma ação negatória. Portanto, uma ação
em que se pede a declaração de inexistência do direito do A, B e C de interferirem no exercício
do direito de propriedade, com a consequente condenação à reconstituição da situação material
tal como ela se encontrava antes da violação, que não significa arrasar com a obra toda, basta
que os fumos estejam orientados por força da natureza. A partir desse momento o D, E e F nada
podem fazer.

A compropriedade está definida no artigo 1403º do CC: Existe propriedade em comum, ou


compropriedade, quando duas ou mais pessoas são simultaneamente titulares do direito de
propriedade sobre a mesma coisa. Há várias teorias sobre a natureza jurídica da compropriedade
(aulas teóricas). Os comproprietários:
- Em determinadas circunstâncias, podem atuar sem formar um único corpo, isto é, cada
um atua sobre a coisa separada ou individualmente.
- Noutras circunstâncias, porém, eles atuam como se fossem um só, isto é, eles têm de
formar uma unidade.
- Noutras circunstâncias ainda, eles têm de atuar em maioria.
No que diz respeito à defesa da propriedade, no artigo 1405º/1/1ª parte temos a ideia
fundamental: Os comproprietários exercem, em conjunto, todos os direitos que pertencem ao
proprietário singular. E o nº 2, o legislador ainda acrescenta: Cada consorte pode reivindicar de
terceiro a coisa comum, sem que a este seja lícito opor-lhe que ela lhe não pertence por inteiro.
Isto quer dizer que, embora por regra eles atuem em conjunto, ou seja, como se fossem um único
sujeito, no que diz respeito à defesa da propriedade, eles podem atuar representando os
restantes comproprietários, isto é, não se lhe pode opor que eles são apenas um dos sujeitos
titulares particular do direito de propriedade.

Portanto, não era necessário que D, E e F atuassem em conjunto para a defesa do direto de
propriedade, bastava que um deles atuasse em representação dos restantes, nomeadamente
intentando a ação negatória.

Nem sempre é assim e um dos casos em que eles têm de atuar como se fossem um único
sujeito diz respeito à alienação da coisa ou de partes especificadas dela.

Aula dia 24 de abril de 2019 (reposição)

Imagine agora que C pretende vender uma das salas do restaurante ao que A e B se
opõem. C, porém, argumenta que essa parte corresponde exatamente em área à sua parte
enquanto comproprietário. Quid iuris?

Há 3 teorias sob a natureza jurídica da propriedade:


1. Escola de Lisboa;
2. Teoria da comunhão (2ª Turma);
3. Teoria da divisão ideal da coisa (1ª Turma): Todos são proprietários de toda a coisa,
embora cada comproprietário tenha um direito exclusivo a uma quota parte ideal do
bem objeto do direito de propriedade, ideal no sentido de que não está especificada,
nem determinada.

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No caso, um dos comproprietários não está a dispor da sua quota parte ideal do bem, mas
sim de parte da coisa. O legislador tem a solução à questão no artigo 1408º do CC. Neste artigo
o legislador escolheu uma epígrafe enganadora (disposição e oneração da quota), visto nos dá a
entender que nesta norma se está a tratar apenas disposição e oneração da quota. Todavia,
quando lemos o corpo do artigo, percebemos que o legislador não só pronuncia sobre os
negócios jurídicos que tenham por objeto a quota, mas pronuncia-se também sobre os negócios
jurídicos que tem por objeto a coisa.
Assim, o legislador vem dizer, no artigo 1408º/1 do CC, que o comproprietário pode dispor de
toda a sua quota na comunhão ou de parte dela - ou seja, o comproprietário pode dispor
livremente da sua quota porque tem sobre a sua quota um direito exclusivo -, mas não pode, sem
consentimento dos restantes consortes, alienar nem onerar parte especificada da coisa comum.

Assim, no artigo 1408º/1 CC temos dois regimes distintos para dois problemas diferentes:
1. Negócio sobre a quota (1408º/1/1ª p): No que diz respeito à alienação da quota parte
ideal da coisa cada um dos comproprietários tem sobre ela um direito exclusivo,
portanto pode dispor dela, isto é, pode alienar e onerar conforme pretenda. Todavia,
cada vez que o comproprietário tenta alienar a sua parte a um estranho à comunhão,
ele está obrigado a conceder preferência aos restantes comproprietários. Se o não fizer,
os restantes comproprietários têm direito a intentar uma ação de preferência prevista no
artigo 1410º CC.
2. Negócio sobre a coisa comum (1408º/1/2ª p): Na alienação e oneração da coisa
comum, os comproprietários têm que atuar por unanimidade. O legislador só se refere à
oneração ou alienação de parte especificada da coisa por um dos comproprietários,
visto que, no fundo, o comproprietário atua como se estivesse a alienar coisa
pertencente a outrem, uma vez que a parte especificada da coisa que pretende alienar
não pertence somente a ele, pertence a todos os comproprietários. Mas obviamente
que é o mesmo regime jurídico que se aplica à coisa na sua completude. Assim, o
legislador considerou (e bem) que não valia a pena pronunciar-se sobre a legitimidade
de um dos comproprietários vender toda a coisa.
Note-se que neste caso não há direito de preferência, porque quando não há
consentimento dos restantes consortes o negócio é nulo (artigo 892º do CC) - aplica-se
o regime jurídico da venda de coisa alheia (questão frequente em caso prático no exame). A
não ser que seja transmitido ao adquirente a informação de que necessita ainda de
obter consentimento dos restantes consortes caso em que o negócio jurídico produz
efeitos obrigacionais.

Portanto, quando o C quer alienar parte especificada da coisa necessita de obter


consentimento de todos os restantes consortes, ou seja, de A e B. Caso contrário, manda o
legislador aplicar o regime jurídico de venda da coisa alheia (artigo 892º do CC), o que quer dizer
que o negócio é nulo.

Há, todavia, uma forma de salvar o negócio da nulidade. O C não pode vender parte
especificada da coisa sem consentimento dos restantes consortes, mas pode, sem o
consentimento dos restantes consortes, vender a sua quota. Daí que se pode converter, desde
que reunidos os requisitos do artigo 293ºCC, a alienação de parte especificada da coisa que é
nulo, num negócio válido que é a alienação da parte que pertence ao comproprietário. Por outras
palavras, converte-se alienação de parte especificada da coisa em alienação da quota. Contudo,
ao fazer esta conversão são necessários certos cuidados:

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1. Há que conceder a preferência aos restantes comproprietários;


2. É necessário assegurar que há uma correspondência quantitativa entre a parte de coisa
que se quer alienar com a quota que pertence ao sujeito alienante. Se o alienante
alienar mais do bem do que o que tem de quotas, teria-se de primeiro de converter o
negócio e seguidamente reduzi-lo para chegar a um negócio válido de alienação da
quota parte.

No caso, C diz que aquela parte da coisa comum corresponde à sua parte da
compropriedade.

Em janeiro de 2019, A, B e C, estudantes da FDUC, adquiriram em conjunto um Fiat 500


com matrícula de 2008 e determinaram que o seu uso se dividiria por trimestres. Em abril,
enquanto decorria o seu turno, B inscreveu-se numa prova de perícia automóvel que
decorrerá em maio, mas A e C pretendem impedi-lo de o fazer. Terão razão?

A, B e C ao comprarem o automóvel em conjunto tornaram-se comproprietários do veículo.

I. Uso da coisa: O legislador vem dizer, no artigo 1406º/1 CC, que na falta de acordo
sobre o uso da coisa comum, a qualquer dos comproprietários é lícito servir-se dela,
contanto que a não empregue para fim diferente daquele a que a coisa se destina e não
prive os outros consortes do uso a que igualmente têm direito. Este é um regime
supletivo, logo nada impede que os comproprietários determinem um modo de uso da
coisa diferente do que o que o legislador está a sugerir. Esta é uma das marcas da
tipicidade aberta do direito real português. O nosso sistema é um sistema de
taxatividade aliada a uma tipicidade aberta, porque o legislador muitas vezes abre o tipo
permitindo que entre a vontade das partes e este é um desses casos. As partes têm
liberdade contratual para estabelecerem como vai ser feito o gozo da coisa e tal implica
as mais diversas conjugações ou convenções. As mais comuns são:
• Divisão da utilização da coisa por turnos: Cada comproprietário utiliza sozinho a
coisa temporariamente.
• Divisão material do gozo da coisa: Não é uma divisão da coisa comum, porque a
divisão da coisa comum implica a extinção da compropriedade. Na divisão material
do gozo da coisa apenas se define as fronteiras em que os comproprietários
exercerão os seus direitos como proprietários do bem. Não será possível em
relação a um automóvel, mas é possível nos prédios rústicos. Exemplo: A, B e C são
comproprietários de um prédio rústico e decidem dividir gozo da coisa em 1/3 para cada.

No nosso caso, A, B e C decidiram celebrar um acordo quanto à utilização do bem e


este acordo é perfeitamente válido.

II. Fim a que coisa se destina: O acordo dos comproprietários também pode ir no sentido
de determinar exatamente como pode ser usada utilizada a coisa:
- Quando nada seja dito, ou seja, quando as partes não determinaram qual o fim da
coisa, é preciso atender ao fim inerente do objeto da compropriedade. Exemplo: A,
B, C compraram um cavalo de corrida não tendo sido determinado que o cavalo só poderia

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ser usado para corridas. Um dos comproprietários quer usar o cavalo para trabalho
agrícola, pode fazê-lo? Não, visto que as próprias qualidades que a coisa revela
determinam o modo de utilização que ela pode suportar. Um cavalo de corridas não é um
cavalo de tração e os cavalos são animais com caraterísticas próprias e que ficam
prejudicados nas suas caraterísticas quando utilizados para fins diferentes daqueles
determinados pela própria raça. Assim, pode não haver determinação exata do fim, mas as
próprias caraterísticas da coisa determinam o fim para que deve ser utilizada.
- Quando as partes determinaram qual o fim da coisa, poderá um dos
comproprietários usar a coisa para fim diferente? À partida, diríamos que não,
porque se as partes determinaram que aquele era o fim para que a coisa fosse
usada, então, tudo o que estivesse fora desse alcance seria considerada uma
utilização ilícita da coisa com a necessidade de compensação aos restantes
comproprietários dos prejuízos daí resultassem. Contudo, esta não é a posição da
doutrina, nem da jurisprudência que tem entendido que os comproprietários podem
usar a coisa para fim diferente, desde que o fim determinado não fique prejudicado
por essa utilização. Exemplo: Temos um terreno rústico onde há
um lago contíguo a quatro outros terrenos (1, 2, 3 e 4) de
4
proprietários diferentes. Os proprietários desses terrenos
1
decidiram comprar em compropriedade o terreno rústico do meio,
determinando que a água do lago ia ser usada para a irrigação dos
3
terrenos. Poderá um dos comproprietários pescar no lago? Sim,
porque embora tenha sido determinado que a água seria usada 2
para a irrigação, a utilização do lago para pesca não prejudica
esse fim previamente determinado. Se um dos comproprietários
quiser comprar uns barcos a motor e alugá-los, pode? Não, porque os barcos libertam
combustível e poluem a água do lago que é usada para a irrigação prejudicando o fim a que
a coisa que destina.

No caso concreto, B poderá fazer a perícia automóvel, visto que não há nada que nos
leve a constatar que haja um prejuízo para os restantes comproprietários. Além disso,
não há fim previamente determinado pelas partes, eles apenas determinaram que cada
um usava exclusivamente o carro durante três meses. Os outros comproprietários não
vão ficar prejudicados com o acesso ao carro quando B está a fazer a prova, porque
eles já não teriam acesso à utilização do carro de qualquer maneira.

Imagine que A contratou, logo nos primeiros dias de janeiro, um mecânico para que se
fizessem as reparações necessárias à obtenção de certificado de inspeção automóvel.
Exige agora que B e C paguem a parte deles nas despesas, mas estes recusam-se a faze-lo
alegando que nunca foram consultados nem autorizaram as reparações. Terão razão? A
resposta seria a mesma caso A tivesse decidido pintar o automóvel de azul e branco em
homenagem ao FCP?

I. Ato de administração da coisa: A decidiu, sem consentimento dos restantes consortes,


contratar um mecânico para proceder a estas reparações necessárias. Esta decisão pode
ser tomada sem a participação dos restantes comproprietários? No artigo 1407º/1/1ª
parte do CC, o legislador diz-nos como se procede a administração da coisa: É aplicável

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aos comproprietários, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 985.º. De


acordo com o artigo 985º do CC, na falta de convenção em contrário, todos os sócios têm
igual poder para administrar. Tal quer dizer que, na falta de acordo entre os
comproprietários, todos são administradores, ou seja, todos podiam ter tomado a decisão
de reparar o veículo. Portanto, os atos de administração ordinária da coisa podem ser
tomados por qualquer um dos comproprietários e a execução de um ato de administração
(portanto, a concretização da decisão) é consequentemente válido.
Porém, pode acontecer que entre a decisão e a concretização material dela (prática do ato)
exista um ato que vai permitir a oposição dos restantes comproprietários. Pode acontecer
que o comproprietário decida pedir-lhes consentimento, comunicar-lhes a decisão ou eles
tomaram conhecimento por si próprios da decisão. Nesse caso, pode haver oposição.
Quando haja oposição inicia-se um mini procedimento em que se vai decidir se a oposição
tem mérito ou não e para isso é necessário:
1. A maioria per capita dos consortes - artigo 985º/4º do CC: Salvo estipulação noutro
sentido, considera-se tomada por maioria a deliberação que reúna os sufrágios de mais de
metade dos administradores.
2. Essa maioria tem que representar, pelo menos, 50% do valor total das quotas -
artigo 1407º/1/2ª parte: para que haja, porém, a maioria dos consortes exigida por lei, é
necessário que eles representem, pelo menos, metade do valor total das quotas. No caso de
serem só dois comproprietários, não é possível reclamar a maioria. Nesse caso, o
legislador manda que se faça recurso ao tribunal que decidirá em equidade (artigo
1407º/2 do CC: Quando não seja possível formar a maioria legal, a qualquer dos consortes é
lícito recorrer ao tribunal, que decidirá segundo juízos de equidade).

Se B e C tivessem tido oportunidade para se oporem, coisa que não aconteceu, poderiam
ter iniciado este mini procedimento e opunham-se à decisão de A, desde que fosse
assegurado que B e C se opunham e que as suas quotas perfaziam pelo menos 50% do
valor total.
No caso da oposição ter mérito, a oposição determinaria que o ato não fosse praticado.
Se ainda assim, o ato fosse praticado pelo A, então aplicava-se o artigo 1407º/3 do CC:
Os actos realizados pelo comproprietário contra a oposição da maioria legal dos consortes
são anuláveis e tornam o autor responsável pelo prejuízo a que der causa.

II. Ato relacionado com os encargos que a coisa necessita: A não só tomou a decisão
sozinho (e podia faze-lo) como imediatamente deu concretização à sua decisão. Da
concretização da sua decisão foram originadas despesas que têm que ser divididas na
proporção das quotas de cada um dos proprietários - é o que está previsto no artigo
1411º/1/1ª parte do CC relativamente às benfeitorias necessárias (os comproprietários
devem contribuir, em proporção das respetivas quotas, paras as despesas necessárias à
conservação ou fruição da coisa comum). No entanto, B e C negam-se a pagar, mas eles ou:
- Pagam na proporção das suas quotas; ou
- Renunciam a posição de comproprietários - artigo 1411º/1/2ª parte do CC (sem
prejuízo da faculdade de se eximirem do encargo renunciando ao seu direito). Esta renúncia,
porém, não é totalmente livre, é condicionada pelo artigo 1411º/1 do CC: A renúncia,
porém, não é válida sem o consentimento dos restantes consortes, quando a despesa
tenha sido anteriormente aprovada pelo interessado (…).

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Uma vez que B e C não aprovaram a despesa, podem renunciar à sua participação na
compropriedade, não sendo necessário o consentimento de A. Se, porém, eles tivessem
sido consultados previamente e tivessem dado a autorização relativamente à despesa, aí
poderiam renunciar ao seu direito de propriedade, mas estariam dependentes do
consentimento de A.

III. Pintura do carro: A não podia decidir sozinho pintar o carro. Todos os atos que alterem o
casco do bem também pressupõem o consentimento de todos comproprietários. O regime
do artigo 1407º do CC é um regime de administração ordinária do bem, portanto todos os
atos que digam respeito à normal fruição da coisa. Tudo que vá para além dos atos de
fruição normal, o que designamos normalmente por atos que alterem o casco do bem,
tudo isso faz parte da administração extraordinário. O legislador não tem um regime
jurídico para a administração extraordinária do bem, mas conseguimos saber qual é
solução correta com base na lei. Através do aproveitamento do artigo 1024º/1 e 3 do CC:
A locação constitui, para o locador, um acto de administração ordinária, excepto quando
for celebrada por prazo superior a seis anos; e o arrendamento de prédio indiviso feito pelo
consorte ou consortes administradores só é válido quando os restantes comproprietários
manifestem, por escrito e antes ou depois do contrato, o seu assentimento. O Dr. Henrique
Mesquita, a partir da análise deste artigo, chegou à conclusão que se se um arrendamento
(é uma exceção à regra do artigo 985º do CC) é um ato de administração ordinária e
necessita o consentimento de todos os consortes, então, por maioria de razão, um ato de
administração extraordinária necessita sempre consentimento de todos os
comproprietários, ou seja, necessita de unanimidade.

Saturado de todos os conflitos que vêm afetando a amizade que ligam os três
comproprietários, C pretende abandonar a sua posição de comproprietários, mas todos
aceitaram um pacto de indivisão durante 4 anos. Quis iuris?

Uma das formas diretas C sair da compropriedade é através da alienação da quota, embora
que se esta for alienada a estranho pressupõe a concessão do direito de preferência aos outros
comproprietários e a alienação não importa uma extinção da compropriedade.

A compropriedade pode se extinguir por:


1. Um dos comproprietários reune todas as quotas tornando-se um proprietário único;
2. Divisão da coisa comum: Os consortes têm o direito potestativo de pedir, em qualquer
momento, a divisão da coisa comum (artigo 1412º/1/1ª parte: Nenhum dos
comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão). Aqui o legislador pretende dizer que
nenhum deles pode ser obrigado a permanecer na indivisão, no sentido de poder exigir
a divisão da coisa comum, a não ser que tenha sido celebrado um pacto de indivisão
(artigo 1412º/1/2ª parte: salvo quando se houver convencionado que a coisa se conserve
indivisão). Este pacto de indivisão pressupõe o compromisso dos comproprietários de
que não irão requerer a divisão da coisa comum dentro do prazo acordado, sendo certo
que o prazo nunca pode ser superior a cinco anos e não é renovável automaticamente
(artigo 1412/2º do CC), o que significa que cada vez que o prazo se extinguir os
comproprietários necessitam de se reunir para decidirem se querem ou não celebrar um
novo pacto de indivisão. Se tivermos um pacto de indivisão superior a cinco anos,

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então reduz-se o pacto de indivisão ao tempo previsto na lei, de acordo com o artigo
292º do CC.
Note-se que o pacto de indivisão não tem que ser celebrado entre todos os consortes,
pode ser celebrado apenas por parte deles. Assim, quem não tenha participado no
pacto de indivisão pode requerer a todo o momento a divisão da coisa comum. A
divisão da coisa comum pode ser feita:
- De forma amigável, ou seja, as partes chegam a acordo em extinguir a
compropriedade e decidem como irão fazer a divisão da coisa comum - vigora aqui
a regra da liberdade contratual. Sendo certo que as novas coisas que daí irão
resultar permanecem em compropriedade com um ou mais consortes.
- Caso as partes não cheguem a acordo, há que intentar um ação de divisão de
coisa comum. Este é um processo especial previsto nos artigos 925º e ss. CPC em
que é necessário que a coisa seja divisível. Note-se que pode haver coisas que
naturalmente são divisíveis, mas cuja indivisibilidade pode ser determinada por
intervenção de um perito. Exemplo: uma prédio rústico. Quando se determine a
indivisibilidade há sempre uma fase do processo que é uma fase de conferência
dos interessados. O juiz chama todos os comproprietários (litisconsórcio passivo
necessário) para decidirem como querem dividir a coisa - temos aqui a mesma
liberdade de atuação que têm os comproprietários na partilha da divisão da coisa.
Caso não cheguem a um acordo ou se a coisa for indivisível e o acordo assim
impossível, o juiz determina a venda judicial do bem e a divisão proporcional do
valor obtido. P. ex., um automóvel é uma coisa naturalmente indivisível.

Assim, se todos acordaram no pacto de indivisão tal significa que não pode ser intentada uma
ação de divisão de coisa comum no prazo de quatro anos. Sendo certo que, após os quatro
anos, se as partes não entrarem em acordo, seja amigavelmente, seja na ação de divisão de
coisa comum, então o juiz determinará que se venda a coisa e posteriormente se divida o
produto por todos os comproprietários.

O prédio rústico X é compropriedade de A, B e C. As partes tinham feito um acordo de


divisão material do gozo da coisa. Contudo, as partes não se entendem e decidem
amigavelmente fazer a divisão da coisa comum (caso possível em exame)

Relativamente ao prédio rústico (prédio apto para agricultura), há restrições ao direito de


propriedade muito relevantes que estando previstas no artigo 1376º do CC.
Assim:
1. Artigo 1376º/1 do CC: O fracionamento de um prédio rústico implica que cada um dos
novos prédios filhos tenha uma área pelo menos equivalente à unidade mínima de
cultura, ou seja, não se pode fazer uma divisão dos prédios de forma a que cada um
dos prédios filhos seja inferior à unidade mínima de cultura. O legislador determinou
diferentemente a dimensão/unidade mínima que os prédios têm que ter em cada zona
do país, atendendo à morfologia e caraterísticas do terreno, mas também à tradição de
exploração agrícola. Exemplo: Enquanto a exploração agrícola no Alentejo carateriza-se por
latifúndios e a área mínima de cultura no Alentejo é de oito hectares, no Norte do país a área
mínima de cultura é de quatro hectares, uma vez que a morfologia do terreno e a tradição de
cultura é de minifúndio.

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2. Artigo 1276º/2 do CC: Ainda que respeitada a unidade de cultura, da divisão não
podem resultar situações de encravamento, ou seja, prédios encravados.

Propriedade Horizontal (não sai em caso prático, mas pode aparecer numa pergunta teórica que
parece de propriedade horizontal, mas não é)

A é proprietário de um prédio rústico e decide construir nele um prédio e dividi-lo em


vários em apartamentos. A decide arrendar um dos apartamentos a B. Poderá fazê-lo?

A pode arrendar um dos apartamentos a B? Sim, porque os direitos de crédito não


participam das mesmas condições e princípios orientadores dos direitos reais.

A pode vender um dos apartamentos a B? O prédio de A pode ser objeto de propriedade


horizontal, à luz do artigo 1415º do CC (só podem ser objecto de propriedade horizontal as fracções
autónomas que, além de constituírem unidades independentes, sejam distintas e isoladas entre si, com
saída própria para uma parte comum do prédio ou para a via pública), mas A só pode vender um dos
apartamentos se a propriedade horizontal estiver constituída. Isto porque estamos apenas
perante uma coisa certa, determinada e autónoma (o prédio) e não podem haver dois direitos de
propriedade sobre a mesma coisa, o que aconteceria se antes da venda não tivesse sido
constituída a propriedade horizontal. Assim sendo, ou A ou vendia tudo ou não vendia nada.
Por conseguinte, esta não é uma questão de propriedade horizontal, mas sim dos princípios
da coisificação, da especificação e da totalidade.

Em propriedade horizontal, cada condómino é proprietário exclusivo de uma fração e


comproprietário das partes comuns (artigo 1420º do CC), porque o proprietário do prédio decidiu
transformar o que era uma coisa em tantas coisas quantas as frações. Tal dá a entender que a
propriedade horizontal são no fundo dois direitos adicionados (a compropriedade sobre as partes
comuns e a propriedade exclusiva sobre cada uma das frações), contudo tal não é verdade, visto que a
propriedade horizontal supera a soma das duas figuras. A posição do Doutor Paulo Mota Pinto é
que estamos perante um direito real autónomo,

A celebração do título constitutivo da propriedade horizontal pode dar-se antes da construção


do imóvel, contudo só vai produzir os seus efeitos reais a partir do momento em que o prédio
esteja concluído.

Note-se que há várias formas de constituição da propriedade horizontal:


1. Negócio jurídico unilateral (é manifestamente a escolha mais frequente) - é o nosso caso;
2. Usucapião;
3. Por decisão judicial na ação de divisão da coisa comum (A, B e C se fossem
comproprietários do prédio e fizessem uma ação da divisão da coisa comum esta poderia
determinar por sentença a constituição da propriedade horizontal).

A propriedade horizontal constitui-se pela primeira alienação? (pergunta teórica que costuma
ser questionada em exames) Isto é falso, porque não pode haver alienação sem haver propriedade
horizontal. Inclusive os notários não podem fazer a celebração de negócios jurídicos de alienação

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sobre frações sem haver constituição prévia da propriedade horizontal, mas já podem fazer de
contratos-promessa.

Antes da alienação da primeira fração, quantas coisas tem A no seu Apart. Apart.

património depois de ter constituída a propriedade horizontal por negócio

Zona comum
Apart. Apart.
jurídico unilateral? Oito e não há nove partes, visto que as partes comuns
pertencem a cada um dos condóminos. Apart. Apart.

Assim, o senhor A tinha uma coisa e passou a ter oito frações com o Apart. Apart.

título constitutivo.

Não faz sentido aplicar o regime da propriedade horizontal antes da primeira alienação, porque
só a partir desta é que passamos a ter pelo menos dois condóminos. Tal significa que, o título
constitutivo da propriedade horizontal está sujeito a uma condição suspensiva que é a alienação
da primeira fração. Já há propriedade horizontal, mas ela não é ainda eficaz, porque se está à
espera da verificação da condição suspensiva (evento futuro e incerto), que é a alienação da
primeira fração. Só no momento em que aliena a primeira fração é que a propriedade horizontal
tem o seu regime plenamente vigente. Nesse caso já se justifica, por exemplo, fazer uma reunião
de condóminos e já se justifica fazer a divisão dos rendimentos que a propriedade horizontal
proporciona ou das despesas que sejam necessárias com as partes comuns.

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