Aulas Práticas DCoisas Margarida Costa Andrade
Aulas Práticas DCoisas Margarida Costa Andrade
Aulas Práticas DCoisas Margarida Costa Andrade
1. TEORIA REALISTA OU CLÁSSICA: Foi formada durante idade média com base nos
estudos que os juristas medievais (glosadores e comentadores) desenvolveram sobre as
fontes de direito romano. Para a teoria clássica os direitos reais são um poderes diretos e
imediatos sobre coisa certa, determinada e autónoma. Por sua vez, os direitos de crédito
são poderes intersubjetivos, na medida em que o seu conteúdo consiste no poder de exigir
de outrem (do devedor) um determinado comportamento positivo ou negativo, ou seja,
uma prestação.
Direito real: Direito de crédito:
Coisa
2. TEORIA PERSONALISTA: Surgiu no século XIX e foi fundada sobre a filosofia kanteana.
Para Kant o direito era um fenómeno social, o que significa que era impossível estabelecer,
de acordo com a teoria personalista, relações entre sujeitos e coisas, porque as relações
jurídicas são sempre relação entre sujeitos, dado que o direito é um fenómeno social.
Os personalistas vieram dizer que a teoria realista dava apenas uma alegoria/imagem
sobre o que era direito real, que não traduzia o que era o fenómeno do direito real
propriamente dito. Os personalistas vieram dizer que no cerne do direito real estava
também uma relação intersubjetiva, só que o sujeito passivo estava escondido, porque o
que se via era a relação de poder ou o exercício de poderes de um sujeito sobre uma
coisa, mas o que verdadeiramente traduzia o direito real era uma relação intersubjetiva que
se estabelecia entre o titular do direito real e toda a comunidade jurídica - e a comunidade
jurídica estava obrigada a abster-se de qualquer comportamento que interferisse no
exercício de poderes sobre a coisa, obrigação essa que toma o nome de obrigação
passiva universal: obrigação no sentido em que os que estão por ela obrigados têm de
prestar um determinado comportamento de natureza negativa, que é o dever de não
interferir; e é universal porque onera todos os sujeitos que pertencem à comunidade
jurídica e que podem interferir no exercício de poderes sobre a coisa. Foi a partir daqui que
se começou a dizer que os direitos reais têm eficácia erga omnes ou absoluta.
Direito real:
A teoria personalista dirigiu mais críticas à teoria realista. Uma dessas críticas foi de que há
direitos reais que não conferem poderes diretos e imediatos sobre a coisa. P. ex., o
direito de hipoteca não concede um poder direto e imediato sobre coisa certa, determinada
e autónoma.
CATEGORIAS DE DIREITOS REAIS: direitos reais de gozo, direitos reais de garantia e direitos
reais de aquisição
É possível saber o número dos direitos reais que existem no ordenamento jurídico
português? É possível, por causa do princípio da taxatividade ou numerus clausus (artigo
1306º do CC). O sistema português é um sistema de taxatividade, o que quer dizer que os
direitos reais são aqueles que como tal estão disciplinados na lei, o que não quer dizer que a lei
tem de identificar com precisão quando é que temos direitos reais.
Entrando em incumprimento do crédito, A pode intentar uma ação executiva contra B para
pedir ao tribunal que venda um conjunto de bens pertencentes a B e com o produto dessa
venda fazer-se pagar pelo crédito não cumprido, penhorem-se bens do património de B
suficientes para o pagamento da dívida - todo o património de B passa a estar ao serviço
do pagamento do crédito de B para com A.
Posto isto,
1ª conclusão: Quando há incumprimento, ainda que não haja garantia real, há
uma garantia geral de cumprimento que é o património do devedor - artigo 601º do CC.
2ª conclusão: A garantia geral dos credores pode tornar-se inútil quando o
devedor se liberta do seu património. Como o credor pode dar a volta a este status quo?
Exigindo do devedor a prestação de uma garantia real.
B era proprietário de uma casa. A empresta os 10 mil euros a B, mas na condição de este lhe
oferecer uma garantia real, que sobre a casa seria uma hipoteca - B oferece a A em garantia
uma hipoteca. Eles celebram um contrato nos termos do qual o valor da vivenda do B fica
afetado ao cumprimento alternativo do crédito mutuário. Isto quer dizer que a 31 de janeiro,
se B não tiver cumprido, A pode pedir a execução da casa. Quer dizer que A vai pedir ao
tribunal que penhore a casa para vende-la judicialmente e com o produto obtido da venda
judicial vai ser pago o credor. Se na venda judicial da casa se apurar o valor de 100 mil
euros, os 10 mil euros são pagos ao credor e aos restantes são entregues ao devedor.
Os direitos reais de garantia são direitos reais que atribuem ao seu titular o poder de se
fazer pagar pelo valor da coisa ou dos rendimentos que ela produza com preferência face
aos demais credores. Com preferência porque os titulares dos direitos reais de garantia são
sempre os primeiros a ser pagos, independentemente da data da constituição do crédito.
Isto enquanto os direitos reais de gozo permitem aos seus titulares o aproveitamento das
utilidades ou dos frutos que a coisa produza.
Até agora nós assistimos a algum poder direto e imediato sobre a coisa pelo credor? Não,
porque a titularidade continua a ser do devedor, este continua a ser o proprietário, mas A
também é titular de um direito real. Temos aqui uma situação de conflito ou de
sobreposição de dois direitos reais sobre a mesma coisa: o direito de propriedade
pertencente ao B e o direito de hipoteca pertencente ao A.
No que diz respeito ao A, enquanto titular do direito real de garantia, ele tem poderes
diretos e imediatos sobre a coisa? Sim, o poder direto e imediato de, a partir do
incumprimento do crédito garantido, fazer intervir o tribunal para se fazer pagar pelo valor
da coisa o crédito não cumprido. O credor nunca exerce são poderes materiais ou de facto
sobre a coisa, até porque o exercício dos poderes do credor sobre a coisa é sempre feita
por intermédio do tribunal (é este que exerce a penhora, que toma posse do imóvel com o
incumprimento, que o faz vender).
Por isso que se diz que não há na hipoteca uma afetação material da coisa, há apenas uma
afetação jurídica e essa afetação jurídica é que é o poder direto e imediato sobre a coisa
que constitui conteúdo da garantia real.
O problema dos personalistas quando falam na hipoteca e dizem que é o direito real sem
poderes diretos e imediatos sobre a coisa é que eles confundem poder direto e imediato
sobre a coisa com poder material. E é a partir daí, quando eles confundem poder direto e
imediato sobre a coisa com poder material, que eles não têm razão.
Posto isto, não se provou até agora que haja direitos reais que não concedam poderes
diretos e imediatos sobre a coisa. O que há são direitos reais que não concedam poderes
materiais ou poderes de facto sobre a coisa.
Outra das críticas que personalistas dirigiram aos realistas foi de que há direitos que não
são reais, mas que conferem poderes diretos e imediatos sobre coisas e dão como
exemplo a locação (tanto na figura de aluguer como na figura de arrendamento) e o comodato.
O comodatário tem o poder direto e imediato sobre coisas, se nós entendermos poder
direto e imediato sobre coisas como poder material, mas poder material e poder direto e
imediato sobre coisas não são expressões sinónimas. Mais uma vez assiste-se à confusão
entre poder direto e imediato sobre coisas com poder material.
A locação e o comodato não são direitos reais, ou seja, não concedem direitos reais ao
comodatário ou ao locatário, porque o comodatário e o arrendatário só chegam à coisa
através de um ato de colaboração do seu proprietário, ato esse que é a entrega. A partir do
momento em que o exercício dos poderes materiais sobre a coisa esteja dependente de
um ato de colaboração, nós só podemos identificar a presença de um direito de crédito.
Embora, uma parte da doutrina (2ª T) diga que nós nestes casos (comodato e locação)
estamos perante direitos pessoais de gozo. Estes direitos pessoais de gozo para uma
parte da doutrina (maior parte) são meros direitos de crédito que criam relações
obrigacionais, mas para outra parte da doutrina (Dr.ª Mónica jardim) criam um terceiro
género que se vai organizar entre os direitos reais e os direitos de crédito, porque entende-
se que há efetivamente um poder direto e imediato sobre a coisa, mas há sempre
dependência de um ato de colaboração da parte do proprietário.
Outro crítica dirigida pelos personalistas aos realistas é de que há direitos reais que
conferem poderes diretos e imediatos sobre coisas (certas, determinadas e autónomas),
mas em que a satisfação do interesse do titular do direito real não se faz pelo exercício
desses poderes e dão como exemplo o penhor (direito real de garantia).
NOTA: Enquanto a hipoteca, por regra, se constitui sobre bens imóveis; o penhor, por regra,
constitui-se sobre bens móveis e pode assumir duas modalidades: o penhor de coisa ou o penhor
de direitos.
A sabe que o B tem a casa que vale 100 mil euros, mas apercebeu-se que este herdou uma
jóia que vale 200 mil euros. Então, A já não quer a hipoteca como garantia do cumprimento
daquele contrato, mas antes quer um penhor.
O penhor é um contrato real quanto à constituição, ou seja, a perfeição do contrato exige
um ato de execução da vontade que é normalmente a entrega da coisa. Sem entrega o
contrato não está perfeito e se o contrato não está perfeito daí não decorrem efeitos
jurídicos. E é ainda um contrato real quanto aos efeitos ou um contrato com efeitos reais,
ou seja, é um contrato por meio do qual se constituem, modifiquem, transmitem ou
extinguem direitos reais (contrariamente ao contrato com efeitos obrigacionais a partir do qual se
constituem obrigações) - p. ex., a compra e venda é um contrato pelo meio do qual se transfere o
direito de propriedade e o direito de propriedade é direito real; o contrato de constituição de
hipoteca é um contrato pelo meio do qual se constitui o direito real de hipoteca; a doação; contrato
de constituição de usufruto; contrato de constituição de uma servidão predial.
Os contratos reais quanto à constituição não são necessariamente contratos reais quanto
aos efeitos:
- Há contratos reais quanto à constituição que não produzem efeitos reais - p. ex., o
comodato, que é um contrato real quanto à constituição, porque o direito do comodatário
apenas se constitui pela entrega da coisa, mas não é um contrato real quanto aos efeitos,
porque ao comodatário não se reconhece a titularidade de um direito real.
- Há contratos reais quanto à constituição que produzem efeitos reais - p. ex., o penhor,
que é um contrato real quanto à constituição, porque o direito do credor pignoratício apenas se
constitui a partir do momento da entrega da coisa - artigo 699º/1 do CC e é um contrato real
quanto aos efeitos porque, por força do contrato de penhor, surge um direito real que é o
direito de penhor.
Portanto, isto quer dizer que não há penhor sem a entrega da coisa. Logo, quando A e B
celebram contrato de penhor para que A se torne credor pignoratício tem de haver a
entrega da jóia a A, passando este a exercer sobre a jóia poderes materiais e poderes
diretos e imediatos, porque ele é titular de um direito real.
Novamente os personalistas confundem poder material com poder direto e imediato sobre
a coisa. Eles dizem que o A (credor pignoratício) exerce poderes materiais sobre a coisa
(ou seja, para eles exerce poderes diretos e imediatos sobre a coisa), mas que o interesse
dele não advém do exercício desses poderes diretos e imediatos, isto é, a satisfação dos
interesses do credor não advém do exercício dos poderes materiais. Isto aparentemente é
verdade, porque o interesse do credor pignoratício é que o devedor pague. E, portanto, o
poder direto e imediato não interessa tanto no exercício dos poderes materiais (o ter a jóia
na mão), o que interessa é que em caso de incumprimento possa obter o produto da venda
por intermédio do tribunal e se dê os 10 mil euros do credor. Só que isso não é
necessariamente assim. É que o exercício dos poderes materiais pelo credor pignoratício
tem duas funções próprias:
1. Por um lado, a detenção material da coisa pelo credor dá publicidade à garantia. No
caso dos imóveis a publicidade dá-se através do registo. Já no penhor a publicidade
não se dá através por registo, mas sim através da entrega da coisa.
2. Por outro lado, dificulta a alienação da coisa pelo devedor.
Embora esta crítica dos personalistas para com os realistas não seja a mais frágil, também
não é a mais forte, porque na verdade o exercício do poderes materiais sobre a coisa tem
uma função própria no penhor.
Houve ainda críticas que foram dirigidas à teoria personalista. A teoria personalista
esqueceu o exercício dos poderes diretos e imediatos sobre uma coisa e fê-lo traduzindo o
direito real numa relação intersubjetiva na qual colocou como sujeito passivo toda a
comunidade jurídica. Tanto queria contrariar que direito real fosse equivalente a poder
direto e imediato sobre a coisa, que se prejudicou e acabou por negar aquilo que é uma
evidencia, é que os direitos reais dão poderes diretos e imediatos sobre coisas, ainda que
nem sempre sejam acompanhados de poderes materiais.
Outra crítica que foi dirigida à teoria personalista foi de que ela não atribuir deveres aos
titulares de direitos reais, porque a teoria personalista só fala na eficácia absoluta, ou seja,
só fala naquilo que os outros devem aos titulares dos direitos reais e não dos deveres que
os titulares dos direitos reais têm para com outros.
Tal como quando olhamos para o direito real e encontramos estes 2 elementos, também
vamos encontrar estes 2 elementos no direito de crédito. Contudo, no direito de crédito o
elemento interno ou de conteúdo corresponde ao poder de exigir de outrem um
comportamento de conteúdo positivo ou negativo, numa só palavra é a prestação e o
externo ou de sanção à eficácia relativa ou inter partes.
Em janeiro de 2010, A celebrou com B um contrato nos termos do qual este poderia
colher todas as tangerinas que o terreno àquele pertencente produzisse durante 10 anos.
Em 5 de fevereiro de 2019, A vendeu a C, por documento particular autenticado, o seu
prédio e este agora não permite que B recolha as tangerinas.
B consulta-o para saber se ode opor a sua posição a C. Que lhe responderia?
O contrato celebrado entre A e B era para que o B pudesse colher as tangerinas até 2020.
Mas, entretanto, em 2019, o prédio foi vendido a C.
Posto isto,
- B diz que tem direito a recolher as tangerinas porque celebrou um contrato, que
ainda está vigente e que permanecerá vigente até 2020, com A (antigo
proprietário) que lhe permite ir às tangerinas.
- C (proprietário atual) não permite que B recolha as tangerinas.
I. Antes de mais, temos de qualificar os direitos que cada um dos sujeitos em conflito
invoca:
Isto quer dizer que C, que celebrou com o A, por documento particular
autenticado, a compra e venda do imóvel, tornou-se o proprietário do
prédio por mero efeito do contrato (princípio da consensualidade), mesmo
não o tendo levado registo.
Se não houver registo, o que acontece é que o direito real não produz
efeitos perante determinados terceiros (e não todos os terceiros, porque se
assim fosse o registo seria sempre constitutivo, porque era condição de eficácia
absoluta).
Posto isto, o registo é condição de eficácia perante um determinado tipo
de terceiros que são, fundamentalmente, mas não exclusivamente os:
• Os terceiros adquirentes de transmitente comum - artigo 5º do Cód.
Reg. Predial.
Exemplo: A vende B, B é o proprietário (princípio da consensualidade). A
vende a C, B é o proprietário, pois a venda de A a C é uma venda nula,
porque vem de um sujeito que não é o dominus/proprietário (quando A
vende a C, o bem é de B). Mas se o C regista, o ordenamento jurídico vai
reconhecer a propriedade do bem ao C.
Portanto, sem o registo o proprietário era o B e o direito do B era oponível ao
C, tal como ele é oponível a todos os que apareçam - obrigação passiva
universal. Todavia, a lei criou aqui uma exceção e veio dizer que se o C
registar primeiro, apesar desta compra e venda ser nula, em homenagem
aos valores da certeza e da segurança jurídica vai reconhecer o direito ao C.
A tendência é para que estas situações deixem de existir a partir do
momento em que se tornou obrigatório o registo - obrigou-se o sujeito (o
advogado, solicitador, etc.) a imediatamente comunicar à conservatória do
registo predial a celebração do contrato, mas tem um prazo de 2 meses.
• Os terceiros numa cadeia de transmissões - artigo 291º do CC.
Exemplo: A vende a B e B vende a C. Este último negócio é inválido, mas C
regista. Porque este negócio é inválido, o direito de propriedade pertence a
A. Contudo, por força do registo e dentro das condições que estão previstas
no artigo 291º do CC, a ordem jurídica vai o direito a C.
Portanto, por causa da invalidade (princípio da causalidade) o negócio
jurídico não vai produzir efeitos reais. Todavia, a intervenção do registo vai
fazer com que se venha a reconhecer o direito de propriedade ao C. As
normas de direito substantivo vão ser pervertidas pela intervenção do
registo.
Embora o sistema português de transmissão de direitos reais seja um sistema de título (isto
é, em que basta o acordo entre as partes, seja qual for a forma), há casos excecionais no nosso
ordenamento jurídico, em que não basta a vontade seja de que forma ela for expressa, é
necessário ainda um ato de execução e da vontade, entre os quais se destacam, no direito
português:
1) Hipoteca (título + registo): Constitui-se com o registo, este tem efeitos constitutivos -
artigo 687º do CC e 4º do Cód. Reg. Predial. Não basta o acordo de vontades, ou seja,
não basta que o credor hipotecário faça coincidir a sua vontade com o futuro devedor
hipotecário, é necessário que, para além do título, haja também o registo para que se
produza do efeito real.
2) Penhor de coisa (título + entrega): É necessária a entrega da coisa - artigo 669º do CC.
Portanto, para além do o título, ou seja, do acordo entre o devedor pignoratício e o
credor pignoratício, é necessário a entrega.
3) Penhor de créditos (título + notificação do devedor): É necessário para além do título, a
notificação do devedor - artigo 681º/2 do CC.
Exemplo: A é credor e B é devedor. B é credor e C. Temos um crédito de B perante C. B oferece
esse crédito em garantia ao A. Ou seja, quem tem de ser notificado da constituição do penhor de
créditos é o C, isto é, o devedor do devedor. Obviamente que A e B não têm de ser notificados,
porque eles são as partes em contrato.
4) Doação de coisas móveis: A doação de coisas móveis não depende de formalidade
alguma externa, quando acompanhada de tradição da coisa doada; não sendo
acompanhada de tradição, só pode ser feita por escrito - artigo 947º/2 do CC. Aqui o
legislador está a conceder às partes envolvidas na doação duas oportunidades para a
transmissão do direito de propriedade sobre uma coisa móvel:
1. Ou fazem por escrito - não há exceção;
2. Ou abdicam do escrito, mas a doação tem de ser acompanhada da tradição da
coisa - aqui é que temos a exceção ao princípio da consensualidade.
Porque estamos a falar de um negócio jurídico gratuito, tanto a tradição como a forma
são modos que de o legislador assegurar que as partes estão a refletir, nomeadamente
quer ter a certeza que a efetiva vontade do proprietário é desprender-se de uma parte
do seu património sem receber uma contraprestação - razão de ser da norma.
II. Terminada a qualificação dos direitos em conflito, convoca-se as regras que se aplicam
às situações de conflito, ou seja, a regra da prevalência.
A tinha vendido o prédio a C, logo C que é o titular do direito real (direito de propriedade), mas
o registo está ainda em nome de A.
Posto isto, C pode instar D a retirar a areia do terreno, ou seja, pode obrigar/exigir D a retirar a
areia do terreno. Que ação é intentada por C contra D? Uma ação negatória, que é uma ação de
defesa dos direitos reais que serve justamente para reagir contra factos de perturbação do
exercício de direitos reais. Quais os pedidos desta ação negatória?
1. Que se declare a inexistência de um direito na esfera jurídica do réu que lhe permita
qualquer ato de interferência.
2. Que o réu seja condenado a repor a situação material tal como ela se encontrava antes
do ato de perturbação - significa, no caso, tirar a areia.
3. Que o réu seja condenado a abster-se no futuro de qualquer comportamento lesivo de
perturbação ou de lesão.
4. Também é possível associar um pedido de indemnização, se houver dano.
custas processuais e estas têm preferência, ou seja, é preciso pagar, em primeiro lugar, as
custas processuais, antes mesmo de serem pagos todos os credores. Assim, o primeiro a
ser pago é o Estado.
Logo, temos duas questões: custas processuais e vendas judiciais desastrosas.
Deveríamos, então, dizer a C para não aceitar a constituição da segunda hipoteca, porque
o mais provável é que ele não consiga com o valor da coisa obter o pagamento do seu
crédito.
Isto não quer dizer que não possa atacar o restante do património do devedor (E), só que
não se sabe sequer se ele tem património, pode até haver garantias previamente
constituídas sobre outros bens do património do E e não esquecer que há aquele velho
problema de, mesmo que não haja garantias, E começar a libertar-se do seu património.
Note-se que não é pelo facto de o credor não ter uma garantia real ou da garantia que tem
não ser suficiente para o pagamento do seu crédito que vai necessariamente ficar de mãos
a abanar. A seguir a mobilizar-se o poder dado pela garantia real, continua-se a ter o
restante do património do devedor tal como o teria se não tivesse nenhum garantia real, só
que é tudo mais difícil quando não se tem garantia real.
O problema do direito de retenção prevalece sobre a hipoteca mesmo que ela tenha sido
registada anteriormente - é uma outra exceção à regra da prevalência (artigo 759º/2 do
CC). O problema não está no exercício do direito de retenção, o problema está no facto de
o direito de retenção prevalecer sobre a hipoteca. Porque, veja-se:
- Se não houvesse o artigo 759º/2 do CC, diríamos a G para ter atenção que é
arriscado, porque o valor do imóvel pode não ser suficiente para cobrir os créditos e
as custas processuais. Mas, de qualquer forma, as garantias vão ser pagas pela
ordem da sua constituição. O que significa que primeiro a ser pago seria o F, depois o
G e depois é que seria o H (F -> G -> H).
- O problema está no artigo 759º/2, porque, por intervenção deste artigo, se houver
incumprimento do contrato-promessa, será o H a ser pago em primeiro lugar.
Portanto, ainda se diminui mais as hipóteses de pagamento completo o crédito de G,
pois vai ser pago primeiro o H, depois o F e só depois o G (H -> F -> G).
Da eficácia absoluta decorre parte das consequências do regime jurídico dos direitos reais,
nomeadamente a taxatividade, a sequela e a prevalência. Sobre a prevalência vimos que há
várias exceções - artigo 5º do Cód. Reg. Predial, artigo 291º do CC, o direito de retenção e os
privilégios creditórios imobiliários.
Sabe-se que os direitos reais têm sempre por objeto coisa certa, determinada e autónoma,
mas antes disso temos de saber quais é que são as caraterísticas das coisas, isto é, o que é que
nós em direito chamamos de coisa? Se olharmos para o artigo 202º do CC ele dá-nos uma
noção de coisa: diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas.
A noção de coisa no nosso Código Civil é um dos exemplos que podemos invocar para dizer
que o legislador não se deve meter em definições de conceitos jurídicos, salvo em situações
excecionais. Essa matéria deve ser deixada para a doutrina. A definição do artigo 202º do CC foi
sempre criticada pela doutrina, porque se considera que ela é demasiado abrangente, porque
tudo o que pode ser objeto de relações jurídicas engloba também entidades que não podem ser
consideradas como coisas: logo, à partida, as próprias pessoas (por exemplo, os filhos que estão
sujeitos ao poder parental) e os créditos que não são coisas, mas, em algumas circunstâncias, são
coisificiáveis, nomeadamente quando os créditos são objeto de direitos reais, nomeadamente de
direitos reais de garantia (falámos na coisificação dos créditos para efeitos da constituição do penhor,
que até é uma exceção ao princípio da consensualidade porque é necessário fazer a notificação do
devedor do devedor).
A doutrina tem reduzido esta noção de coisa que nós encontramos no Código Civil,
adiantando alguns critérios que devem estar sempre verificados. Para se falar de uma coisa
temos de falar em:
1. Autonomia (existência separada);
2. Possibilidade de apropriação exclusiva pelo homem. Por exemplo, o luar, o ar e a luz
solar não têm possibilidade de apropriação exclusiva pelo homem, eles podem ser aproveitados
por todo e qualquer sujeito independentemente de uma relação de apropriação.
3. Utilidade (satisfação das necessidades humanas). Por exemplo, o grão de arroz, uma gota
de água e um sapato não têm utilidade. Nós não podemos, em todas as circunstâncias,
abstratamente determinar se estamos ou não perante uma coisa útil (o critério não é
abstrato), tudo depende das circunstâncias concretas. Portanto, é necessário fazer
sempre uma avaliação casuística para saber se um determinado objeto pode ou não
pode ser considerado útil. Por exemplo, um grão de arroz não satisfaz a utilidade de matar a
fome, mas se nós tivermos um grão de arroz especial (p. ex., com o nome de uma pessoa), ele
pode ter uma utilidade. Ele deixa de ser um grão de arroz que sirva a satisfação alimentação e
passa a ser um grão de arroz que satisfaz uma outra qualquer necessidade. Ou, por exemplo,
um sapato para determinadas pessoas pode ter utilidade, seja porque não têm dois pés e só
precisam de um sapato ou porque é um sapato que pertenceu a alguém famoso. Note-se que
um bem é toda aquela coisa que satisfaz necessidades do homem, ou seja, que é útil
ao homem. Por isso se diz, no ordenamento jurídico português, que as noções de coisa
e de bens se confundem, porque todas as coisas para o serem precisam de satisfazer
utilidades humanas.
Quando olhamos para a quinta nós vemos obviamente uma coisa: há autonomia, é uma coisa
especificada, certa e determinada, que satisfaz as utilidades do homem e é suscetível de
apropriação exclusiva.
Porque é que nós dizemos que é apenas uma única coisa? Porque o objeto do direito de
propriedade é o solo e tudo aquilo que apresente com o solo uma relação material com caráter
de permanência. E o que é que apresenta uma relação material com caráter de permanência
com o solo? Os pinheiros, a garagem e a casa e à casa está ligada materialmente e com caráter
de permanência a antena parabólica. Por isso se diz que a propriedade que existe sobre o solo
tem uma espécie de uma força centrípeta, no sentido em que absorve tudo aquilo que estiver
ligado à coisa principal, desde que essa ligação seja material e tenha caráter de permanência.
No caso, temos uma coisa imóvel, mas o mesmo critério se aplica às coisas móveis. Tudo o
que tenha ligação material com caráter de permanência à coisa principal é coisa principal e,
consequentemente, é abrangido pelo mesmo direito de propriedade. Assim, sobre cada coisa
pode existir apenas um direito de propriedade.
Como é que nós distinguimos as coisas móveis das coisas imóveis? Através de um critério
jurídico e não é um critério físico (o critério não é saber se as coisas se movem ou não). É um
critério jurídico porque o nosso legislador fez uma lista de tudo aquilo que considera coisa imóvel
(artigo 204º/1 do CC - prédios rústicos e urbanos; águas; as árvores, os arbustos e os frutos
naturais, enquanto estiverem ligados ao solo; os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas
alíneas anteriores - p. ex., o usufruto de um prédio urbano ou de um prédio rústico é uma coisa imóvel;
as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos) e depois diz que tudo o que não pertencer
a essa lista é considerada coisa móvel (artigo 205º/1 do CC).
Ora, assim sendo, nós temos a certeza de que a quinta é uma coisa imóvel, porque é um
prédio (sabe-se que, em Direito das Coisas, o conceito de prédio não é o conceito vulgar de
prédio, enquanto edifício - não são conceitos que se podem considerar sinónimos -, prédio é um
pedaço de solo).
A quinta é prédio urbano ou prédio rústico? Temos um critério jurídico que nos vai ajudar a
fazer essa identificação e que está previsto no artigo 204º/2 do CC: Entende-se por prédio
rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham autonomia
económica, e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe
sirvam de logradouro.
Portanto, neste caso, temos obviamente um prédio urbano, porque temos uma parte limitada
do solo onde está construído um edifício (dedicado à habitação) e ainda todo o terreno que lhe
serve de logradouro (todo o terreno que existe à volta). Se nós não tivéssemos esta situação, mas
tivéssemos apenas um terreno onde estava construído um armazém para guardar as alfaias
agrícolas ou animais (estábulo) ou um terreno dedicado à agricultura, então, tínhamos um prédio
rústico, porque a construção não tinha autonomia económica, a construção servia a exploração
económica que se faz do prédio rústico.
Os negócios jurídicos que tenham por objeto coisas imóveis têm, desde 2008, que ser
celebrados através de uma forma especial que é a forma de documento particular autenticado e
os direitos sobre imóveis são obrigatoriamente levados a registo, embora o registo não atribua
direitos, ele serve apenas para conceder eficácia perante terceiros para efeitos de registo.
Posto isto, o negócio entre A e B de compra da Quinta das Amoreiras não coloca problemas
maiores.
II. PINHEIROS: B vendeu a C alguns dos pinheiros que estavam plantados numa parte do
terreno, ficando porém acordado que aquele apenas o recolheria em abril de 2019
B faleceu e agora Maria (proprietária do prédio) diz que se recusa à entrega dos pinheiros. De
quem são os pinheiros? Da Maria, enquanto proprietária do prédio (temos aqui exatamente a
mesma situação que tínhamos no caso das tangerinas).
Note-se que é evidente que o objetivo do C era abater os pinheiros, portanto aqui temos um
caso do artigo 408º/2 do CC, o que significa que nós só temos uma coisa certa, determinada e
autónoma a partir do momento da separação. Logo, só a partir do abate é que C se tornaria
proprietário de cada um dos pinheiros. Nós temos, tal como vimos nas tangerinas, aqui muito
mais claramente, uma venda de bem ou de coisa móvel futura e as vendas de coisas móveis
futuras apenas produzem efeitos obrigacionais. Se assim é, segundo a regra da prevalência,
prevalece o direito do proprietário, porque é direito real.
Assim sendo, o novo proprietário, que é a Maria, está no seu direito enquanto proprietária de
não deixar recolher os pinheiros, mas claro que, paralelamente às questões de direito de
propriedade, há as questões de responsabilidade civil.
O artigo 1244º do CC é um artigo muito importante porque faz a definição do que sejam os
limites materiais de direito de propriedade. Diz-nos aqui o legislador: A propriedade dos
imóveis abrange o espaço aéreo correspondente à superfície, bem como o subsolo, com tudo o
que neles se contém e não esteja desintegrado do domínio por lei ou negócio jurídico. É no fundo
a ideia de que só há direito de propriedade sobre coisas certas, determinadas e autónomas. O
legislador diz-nos que tudo aquilo que se encontra plantado na superfície do solo e aquilo que se
encontrar no subsolo pertence ao proprietário, isto é, ao sujeito que tem o direito de propriedade
sobre a superfície do terreno. Mas o legislador chama a atenção para as situações em que o
domínio é desintegrado por lei ou por negócio jurídico e uma dessas situações é a constituição
do direito de superfície.
Quando nós encontramos uma coisa certa, determinada e autónoma dizemos que sobre essa
coisa existe apenas um direito de propriedade, ou seja, não pode haver mais que um direito de
propriedade sobre o mesmo bem - princípio da totalidade (sobre cada coisa incide um direito real
na sua totalidade, no sentido de que o direito real incide sempre sobre a coisa completa). Todavia, há
quem identifique exceções ao princípio da totalidade e uma dessas exceções é justamente o
direito de superfície, porque é possível que se constitua o direito de superfície adquirindo
propriedade sobre bens que estão implantados na coisa principal.
Portanto:
- (Caso prático) Uma coisa é celebrar um contrato sobre os pinheiros para abate, o que
significa que as partes celebraram um negócio de compra e venda de bem móvel futuro,
porque o objetivo é separar os pinheiros do terreno. Neste caso, o que as partes
pretendem é que o comprador se venha a tornar proprietário de coisas móveis, tantas
coisas móveis quanto os pinheiros que tiverem sido abatidos.
- (Exceção ao princípio da totalidade, tal como entendida pela 1ª Turma) Outra coisa é
vender os pinheiros para aproveitar os pinheiros enquanto árvores, isto é, sempre
íntegros e implantados no solo. Nesta hipótese, o C tornaria-se proprietário dos pinheiros
sempre implantados no solo, o negócio continuava a ser válido e produzia efeitos reais
de constituição de direito de superfície. Há várias formas de constituir um direito de
superfície:
• Ou se consegue o direito de plantar ou o direito de construir e consequente o direito
de manutenção da plantação e da construção;
• Ou se vende a construção ou a plantação. Nesse caso, o sujeito que compra a
plantação torna-se proprietário da plantação, com o objetivo de manter essa
plantação e o direito vem dizer que esse sujeito (que compra a plantação para manter a
plantação e não é para abater) é proprietário superficiário. Então, parte da doutrina
vem dizer que o direito de superfície constitui uma exceção ao princípio da
totalidade, porque vai existir o direito de propriedade superficiária (sobre os
pinheiros) e um outro direito de propriedade sobre toda a coisa imóvel (que
pertenceria, no caso, à Maria).
A 2ª Turma adota uma posição diferente, considerando que direito de superfície constitui
uma coisa jurídica e, portanto, não há exceção ao princípio da totalidade. O que há é
juridicamente duas coisas distintas ou dois direitos de propriedade sobre cada uma das
coisas: uma coisa a plantação; outra coisa o imóvel.
Logo, enquanto que na 1ª turma teríamos apenas 3 coisas (imóvel, carro e rebarbadora),
já na 2ª turma juntamos mais uma que seria a plantação (imóvel, carro, rebarbadora e
plantação).
É evidente o que está expressamente evidenciado no caso prático que o objetivo do C era
cortar os pinheiros. E sendo o objetivo do C cortar os pinheiros, à semelhança do que nós vimos
no caso das tangerinas em que o objetivo era colher as tangerinas, o objetivo era celebrar um
contrato de compra e venda de bem móvel futuro. Era bem móvel futuro, porque só se tornava
bem móvel a partir do momento do contrato, momento também a partir do qual o princípio da
consensualidade estava apto a produzir os seus efeitos – artigo 408º/2 do CC.
Assim, a viúva tem toda a legitimidade para negar o abate dos pinheiros a C, porque os
pinheiros pertencem ao imóvel e, portanto, pertencem à propriedade da Maria.
III. REBARBADORA: B doou a E a rebarbadora que era utilizada por A para limpar o pinhal
A rebarbadora é uma coisa porque é uma coisa certa, determinada e autónoma. Só que,
dentro da qualificação das coisas, a rebarbadora assume um estatuto especial, é uma coisa
acessória porque, embora seja coisa certa, determinada e autónoma, não tem nenhuma ligação
material à coisa principal (à quinta).
Portanto, o B tinha 3 direitos de propriedade e um desses direitos de propriedade é o direito
que incide sobre a rebarbadora e, portanto, ele podia transmitir o direito de propriedade sobre a
rebarbadora, independentemente do direito de propriedade que tem por objeto o imóvel.
Nesta matéria nós temos o artigo 210º/1 do CC: São coisas acessórias, ou pertenças, as
coisas móveis que, não constituindo partes integrantes, estão afetadas por forma duradoura ao
serviço ou ornamentação de uma outra. E o artigo 210º/2 do CC: Os negócios jurídicos que têm
por objeto a coisa principal não abrangem, salvo declaração em contrário, as coisas acessórias. O
legislador no nº 1 diz o que entende por coisa acessória e no nº 2 estabelece qual é que é o
regime jurídico a que estão sujeitas as coisas acessórias.
Portanto, a rebarbadora é uma coisa acessória porque não é uma parte integrante do imóvel e
porque tem uma ligação funcional à coisa principal (ela serve as utilidades da coisa principal),
portanto está afetada por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de uma outra coisa.
Posto isto, a rebarbadora pode pertencer a A. É preciso saber se no negócio jurídico de venda
da quinta celebrado entre A e B foi feita menção à rebarbadora:
- Se não tiver sido feita menção à rebarbadora no sentido de que a rebarbadora também
passava para a propriedade do B, então a rebarbadora pertence a A. Isto porque a regra
é de tantas coisas quanto direitos de propriedade, logo tantos negócios jurídicos também
teremos de ter. Portanto, não é pelo facto de o A ter vendido ao B a quinta que também
seguiu o direito de propriedade sobre a rebarbadora. Cada coisa tem uma cadeia de
transmissão própria, o que significa que a cadeia de transmissões sobre a coisa principal
não abrange as outras coisas que são autónomas dela, como é o caso da rebarbadora.
- Se tiver sido foi feita menção à rebarbadora no sentido de que ela também passava para
a propriedade de B, então a rebarbadora pertence a B. Neste caso, a quem é que
pertence, depois da doação de B ao E, a rebarbadora? À Maria. A doação é uma
exceção ao princípio da consensualidade, na qual o direito de propriedade não se
transmite por mero efeito do contrato - artigo 947º/2 do CC. A doação de coisas móveis
faz-se de uma de duas maneiras:
• Ou por escrito - se assim for a rebarbadora pertence a E. A Maria, que detém o
poder material sobre a coisa, recusa a entrega ao E, proprietário, o que pode
fazer o E para obter a traditio? Intenta uma ação de reivindicação, prevista no
artigo 1311º/1 do CC: O proprietário pode exigir judicialmente de qualquer
possuidor ou detentor da coisa o reconhecimento do seu direito de propriedade e a
consequente restituição do que lhe pertence. Note-se, antes de mais, que a ação de
reivindicação não pressupõe que o proprietário já tenha um dia exercido direitos
IV. ANTENA: B doou a E uma antena parabólica que se encontrar instalada no telhado da casa
principal
A quem pertence a antena? Pertence à Maria, logo ela não está obrigada a entregar a antena,
a obrigação de entrega era do anterior proprietário. Aqui não há dúvida nenhuma, porque a
antena é uma parte integrante, ou seja, é uma coisa móvel futura, que de momento apresenta
uma ligação material e com caráter de permanência à coisa principal e enquanto essa ligação
não for cortada ela é parte da coisa principal. É evidente que o direito de propriedade que incide
sobre a coisa principal, abrange também todas as partes que estejam em ligação com essa coisa
principal.
Note-se que quando falamos da antena parabólica falamos em parte integrante e quando
falamos da rebarbadora falamos em coisa acessória. Por alguma razão usamos os vocábulos de
coisa e de parte distintivamente, porque a rebarbadora é efetivamente uma coisa (é certa,
determinada e autónoma), a única especialidade que apresenta é o facto de estar funcionalmente
ligada à coisa principal, ou seja, tem uma ligação económica e duradoura à coisa principal. A
partir do momento em que nós conseguimos identificar na rebarbadora uma coisa, nós até
podíamos dizer que até o artigo 210º do CC é absolutamente desnecessário, porque se ela é
uma coisa certa, determinada e autónoma, é obvio que sobre ela tem de existir uma cadeia de
transmissões diferente da cadeia de transmissões da coisa que serve. Só que o legislador achou
por bem deixar bem claro que a ligação funcional ou económica não é bastante para que as
coisas tenham exatamente o mesmo destino.
Nos casos práticos dos exames tem aparecido sempre este problema, normalmente é um
apartamento. A é proprietário de um apartamento e vendo-o B. A bate à porta do B e exige que
B lhe entregue…
Em primeiro lugar, temos de ver se se tratam de coisas acessórias ou de partes integrantes:
• Eletrodomésticos:
- Se forem de ligar à ficha são coisas acessórias, porque não há ligação material com
caráter de permanência;
- Se forem encastoados são partes integrantes, porque a ligação é material e com
caráter de permanência);
• Quadros são coisas acessórias porque a ligação é material, mas não há caráter de
permanência;
• Armários embutidos são partes integrantes;
• Vasos:
- Se forem de betão são parte integrante;
- Se forem os normais são coisas acessórias;
• Peças do automóvel (tapetes, jantes, etc.) são coisas acessórias;
• Tijolos, portas ou janelas de uma casa são partes componentes, porque fazem parte
da estrutura da coisa principal e se forem retirados à coisa principal prejudicam a sua
integralidade, nomeadamente a sua funcionalidade. Se a casa é para habitação e se lhe
retira os tijolos a coisa deixa de estar integra e a função de habitação fica prejudicada.
Se o B tivesse vendido ao F tijolos, as portas ou as janelas da casa, embora a coisa
principal fique prejudicada no desempenho da sua função, o negócio era válido e
produzia efeitos obrigacionais. Os efeitos reais apenas se produziriam a partir do
momento em que temos coisa certa, determinada e autónoma, o que acontece com a
separação - artigo 408º/2 do CC. Logo, o F apenas se tornava proprietário a partir do
momento em que fossem separados da coisa principal.
• Painéis de azulejos são parte integrante, porque servem a ornamentação da coisa
principal. A coisa não deixa de estar integra sem os azulejos.
V. CARRO: B vendeu a D um automóvel velho que encontrou debaixo de uma pilha de lenha
na garagem
A quem é que pertence o automóvel? Antes de mais, o carro é uma coisa certa, determinada
e autónoma, igual a qualquer outra coisa, que nem sequer tem a dita ligação funcional à quinta,
portanto nem sequer precisamos de ir ao artigo 210º do CC. O que significa nós temos de
encontrar em relação ao carro uma cadeia de transmissões própria. Como ele estava escondido
por baixo da pilha de lenha, muito provavelmente, o A nem sequer sabia que ele lá estava e,
portanto, nada foi acordado em relação ao carro. Portanto, muito provavelmente, o carro
pertence a A ou àqueles de quem ele adquiriu ou recebeu a quinta. O certo é que ao D não
pertence, porque ao B também não pertenceria.
Em 1972, A, para fugir ao recrutamento militar, emigrou para o Brasil. País de onde
regressou, em 1975, tendo-se instalado no Porto para se dedicar à atividade política.
Depois de ter perdido as eleições presidenciais, em 2016, A decidiu retornar à sua aldeia
natal para se dedicar à vitivinicultura biológica nas vinhas que herdou do seu pai. Porém,
num dos imóveis encontrou B com quem C, que vinha explorando a vinha desde 2000,
celebrou um contrato de arrendamento.
A intentou contra B uma ação de reivindicação. Se fosse advogado de B que conselho
lhe daria?
Nota: Os outros direitos reais de gozo também podem ser defendidos através da ação de
reivindicação como estabelece o legislador no artigo 1515º do CC.
A ação de reivindicação, tal como todas as ações de defesa da propriedade, tem uma questão
que é a questão da prova da titularidade do direito (no caso, da propriedade). É preciso primeiro
provar perante o tribunal que se é proprietário, porque o juiz só vai reconhecer o direito ao autor
se ele provar que é efetivamente o titular dele - página 32.
Isto significa que nós, a partir deste momento, vamos lidar com três conceitos distintos:
titularidade do direito, posse do direito e detenção da coisa.
Vamos assistir como que a duas camadas diferentes: numa delas atua a titularidade do direito
e na outra atua a posse. Sendo certo que, mais tarde ou mais cedo, elas se vão unir (ou seja, a
posse se vai extinguir) e, por isso, se diz que a posse é um direito real provisório, porque:
- Ou a posse vai cair perante a titularidade do direito. Aqui vamos ter um conflito entre o
titular do direito e o possuidor onde quem ganha é o titular do direito (aquele que recebeu
o direito por força da lei) e o juiz condenará à restituição da coisa, a não ser que…
- Ou a posse se vai transformar em titularidade do direito. Aqui o possuidor consegue
adquirir o direito através da usucapião e, nesse caso, entre o direito mais antigo e o
direito mais novo, ganha o direito mais novo.
Quando olhamos para uma relação entre o sujeito e uma coisa, nós olhamos, por um lado,
para a titularidade do direito, ou seja, para o sujeito a quem a lei reconhece a titularidade do
direito e, por outro lado, para a posse, ou seja, para o sujeito que exerce poderes de facto sobre
a coisa (corpus) com a intenção de se comportar como titular do direito real nos termos do qual
possui (animus), sendo certo que o possuidor não é o titular do direito.
Embora possuidor seja uma coisa e titular do direito seja outra:
• Na normalidade das circunstâncias, as duas posições coincidem, isto é, o sujeito que é
titular do direito também é o possuidor. Por exemplo: Eu sou a titular da propriedade sobre o
imóvel e também sou a possuidora porque exerço poderes de facto sobre o imóvel (habito-o) com
intenção de me comportar como titular do direito real nos termos do qual possuo, isto é, nos
termos de direito de propriedade.
• Pode acontecer que as duas posições não coincidam, isto é, o sujeito que é titular do
direito não é o possuidor (um sujeito fica com a titularidade do direito e outro sujeito fica
com a posse - note-se que a posse não tira direitos) – é o que nós temos exatamente no
caso. Neste caso, em que o titular do direito e o possuidor entram em conflito:
‣ O sistema jurídico vai obrigar o possuidor à entrega da coisa ao seu titular,
nomeadamente através de uma bem sucedida ação de reivindicação (esta é uma
das razões que nos leva a dizer que a posse é um direito real provisório).
‣ Mas, em determinadas circunstâncias, a posse permite a aquisição do direto real
nos termos do qual se possui, é o que acontece com a usucapião. Quando a
usucapião intervém, o sujeito que até aí estabelecia uma relação possessória com a
coisa vai passar a ser o titular do direito real. Exemplo: O senhor X era titular do direito e
o senhor Y o possuidor. A partir do momento da usucapião tanto a titularidade como a
posse vão pertencer ao Y. A regra é de que os direitos reais anteriormente constituídos
prevalecem sempre sobre os direitos reais posteriormente constituídos. Todavia,
não é isso que vai acontecer na usucapião, porque a usucapião vai permitir uma
aquisição originária do direito real. O legislador vem apagar tudo o que aconteceu
até aquele momento e vai passar a titularidade do direito para aquele que
originalmente a adquiriu e começa, a partir daí, uma nova história ao nível da
titularidade do direito daquele objeto. Isto porque o legislador diz que se deve
reconhecer a prevalência ao sujeito que efetivamente está a fazer o aproveitamento
do bem, ou seja, o titular passará a ser o possuidor porque funcionou a usucapião.
Portanto, castiga o anterior titular que permitiu que aparecesse outro sujeito a fazer
o aproveitamento económico do bem.
Qual prazo para intentar a ação de reivindicação? As ações de reivindicação não têm prazo,
ou seja, são imprescritíveis, porque elas servem para a defesa de um direito que em si também
não prescreve. É que encontramos no artigo 1313º do CC: Sem prejuízo dos direitos adquiridos
por usucapião, a ação de reivindicação não prescreve pelo decurso do tempo.
Intentada a ação de reivindicação contra o detentor, ele vai dizer que arrendou do C.
O C adquiriu originariamente.
No artigo 1263º do CC, o legislador tem uma lista não exaustiva, ou seja, é meramente
exemplificativa, dos modos de aquisição da posse. A posse adquire-se:
A. Pela prática reiterada, com publicidade, dos actos materiais correspondentes ao
exercício do direito (subentendido do direito real nos termos do qual possui) -
aquisição paulatina da posse. Temos de ter:
- Prática reiterada ou sucessiva de ato material sobre a coisa (não basta um único
ato) - exige-se a constituição de uma relação duradoura com a coisa que é
objeto da posse (é elemento essencial do corpus);
- A prática reiterada de atos materiais sobre a coisa se faça com publicidade -
esses atos materiais têm de ser praticados de modo a poderem ser conhecidos
pelos interessados.
B. Pela tradição material ou simbólica da coisa, efectuada pelo anterior possuidor;
C. Por constituto possessório;
D. Por inversão do título da posse - Está descrita no artigo 1265º do CC (A inversão do
título da posse pode dar-se por oposição do detentor do direito contra aquele em
cujo nome possuía ou por ato de terceiro capaz de transferir a posse). Para que haja
inversão do título de posse é sempre necessário que um detentor se transforme em
possuidor.
Logo, a posse de C é uma posse não titulada e, por isso, se presume de má fé (se
fosse titulada presumir-se-ia de boa fé) - artigo 1260º/2 do CC).
- BOA OU DE MÁ FÉ: De acordo com o artigo 1260º/1 do CC, a posse diz-se de boa fé,
quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la (vamos fazer a avaliação olhando ao
momento de aquisição da posse), que lesava o direito de outrem. Depois o legislador
avança no nº 2: A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé. Esta
presunção é ilidível, ou seja, pode ser afastada por prova em contrário. A posse ser de
boa ou má fé vai ter consequências nos efeitos da posse, porque há efeitos que estão
ligados à posse de boa fé e há outros efeitos que estão ligados à posse de má fé.
Então, a posse do nosso C, porque é uma posse não titulada, presume-se de má fé,
embora o C possa fazer prova em contrário.
- PACÍFICA OU VIOLENTA: De acordo com o artigo 1261º/1 do CC, posse pacífica é a que
foi adquirida sem violência. Do nº 2 decorre que considera-se violenta a posse
quando, para obtê-la, o possuidor usou de coacção física, ou de coacção moral nos
termos do artigo 255.º. E, à luz do artigo 1260º/3 do CC, a posse adquirida por
violência é sempre considerada de má fé, mesmo quando seja titulada, isto significa
que a presunção é inilidível, ou seja, não admite prova em contrário.
A posse de C é pacífica, porque não foi adquirida com violência, ou seja, não foi
adquirida com qualquer tipo de coação (física ou moral).
- PÚBLICA OU OCULTA: De acordo com o artigo 1262º do CC, posse pública é a que se
exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados (o titular do direito e os
anteriores possuidores), o que implica que o critério seja um critério de
cognoscibilidade, ou seja, não interessa saber se os interessados conhecem ou não
efetivamente a posse, interessa apenas se eles podiam ou não podiam conhecê-la.
Note-se que o próprio legislador em cada um dos direitos reais identifica quais os modos
de aquisição de cada um deles.
que lesava o direito de outrem. Ou seja, prova-se a boa fé do C provando que ao adquiri-la,
ele ignorava que estava a lesar um direito de outrem. C estava convencido que A não tinha
efetivamente nenhum interesse na exploração: ele tinha ido para o Brasil, esteve lá uns
anos, quando regressou não quis saber nada da agricultura e esteve na carreira política,
nunca mais voltou à terra natal. Então, o B pode dizer, em nome do C, que o C ignorava
estar a lesar o direito do A, ilidindo a presunção. Assim, a usucapião poderia funcionar
desde 2015 e como já estamos em 2019 já temos o tempo necessário para invocar a
aquisição por usucapião.
Invocada a usucapião, os seus efeitos retrotraem-se à data do início da posse - artigo
1288º e 1317º/c: O momento da aquisição do direito de propriedade é: c) No caso de
usucapião, o do início da posse. Ou seja, o sistema jurídico vai reconhecer o C como
proprietário desde a data do início da posse, ou seja, desde 2000.
Uma das formas de o autor (A) fazer a prova do direito de propriedade na ação de
reivindicação, para que se reconheça a titularidade do direito e a consequente restituição da
coisa, é fazer a prova diabólica, ou seja, ir à procura na cadeia de transmissões da aquisição
originária, mas essa prova é muito difícil ou pelo menos muito trabalhosa. Uma das formas de dar
a volta à prova diabólica é fazer a prova de uma aquisição originária. Ou, então, se ele tiver
registo, funciona a favor dele uma presunção de titularidade do direito. Ele não pode usar a
presunção da posse, porque, apesar de um sujeito não deixa de ser possuidor só porque deixa
de exercer poderes de facto sobre ela, o artigo 1267º/1 do CC consagra as formas de perda da
posse:
• Pelo abandono: Assim como também não basta o contacto fugaz com a coisa para
existir corpus, o corpus não tem de ser exercício reiterada e sucessivamente, melhor não
tem de ser exercido continuamente. Logo, um sujeito não abandona a sua posse ou a coisa
só porque está 2 ou 3 dias sem lá aparecer.
• Pela perda ou destruição material da coisa ou por esta ser posta fora do comércio;
• Pela cedência: Pela transmissão - aquisição derivada da posse;
• Pela posse de outrem, mesmo contra a vontade do antigo possuidor, se a nova posse
houver durado por mais de um ano: Um sujeito pode ser possuidor e simultaneamente
constituir-se uma outra posse contrária, mas o primeiro possuidor só perde a posse
quando a nova posse tiver durado um 1 ano e 1 dia (é uma posse que tem mais de um
ano).
Certo é que a partir do momento em que a posse de C faz 1 ano e 1 um dia, o A deixa
de ser possuidor. Se perdeu a posse não pode usar do disposto no artigo 1268º do CC
para fazer a presunção a seu favor.
Assim, a favor de C temos o artigo 1268º/1/1ª parte e a favor de A, se A tiver registado a sua
propriedade, temos o artigo 7º do Cód. Registo Predial:
- Se o registo é anterior ao início da posse: ganha A (o registo).
- Se o registo e a posse tiverem a mesma data: ganha C (a posse), por isso se diz que a
presunção oferecida pela posse é mais forte do que a do registo.
Posto isto, A (titular do direito de propriedade) intenta uma ação de reivindicação contra B
(detentor) e lança mão da carta do registo, dizendo que tem o registo a seu favor, portanto tem a
presunção do artigo 7º do Cód. Registo Predial. Nós, enquanto advogados de B, usamos a
cartada da presunção da titularidade do direito conhecida pela posse, porque o C tem corpus e
animus e o B, enquanto detentor, é que exerce o corpus em nome do C (artigo 1268º/1/2ª parte
do CC). Como a presunção oferecida pelo registo é mais antiga do que a presunção oferecida
pela posse o juiz vai reconhecer o direito de propriedade ao A e a consequente restituição da
coisa. No entanto, como a presunção do direito oferecida pelo registo é ilidível, temos que atacá-
la, usando o artigo 305º do CC para dizer que o C (senhorio de B) adquiriu por usucapião o
direito de propriedade e a prova de aquisição do direito de propriedade deita a baixo a presunção
do direito de registo. Pelo o que se reconheça a B como o verdadeiro arrendatário ou como o
arrendatário legitimado por aquele que já é proprietário desde 2000.
Pode haver transformações a nível da posse, mas não tem nada a ver com a titularidade do
direito real de propriedade.
A exercia poderes de facto sobre um prédio rústico (corpus) com a intenção de se comportar
como titular de um direito real (animus), logo A é possuidor e adquiriu essa posse pacificamente
em junho de 2017, mas o prédio pertencia a B, que intentou uma ação de restituição da posse
em maio de 2018.
A posse é um direito real provisório e isto não inverte, porém, que nós possamos qualificar a
posse como posse causal ou posse formal:
• Temos posse causal quando a posse se sustenta na titularidade do direito ou que é
acompanhada da titularidade do direito.
• Temos uma posse formal quando há estas situações patológicas em que a titularidade
do direito está como um determinado sujeito e a posse nos termos desse direito está com
outro sujeito. De outra forma, é a posse que não se sustenta ou fundamenta na
titularidade do direito.
Quando se fala de posse formal temos uma situação patológica, mas muitas vezes aquilo que
nós assistimos é que os titulares dos direitos optam por usar da defesa possessória em lugar de
usarem da defesa do direito. Então, eles atuam como possuidores e não como titulares de direito
e eles fazem isso porque na tutela possessória é muito mais fácil de provar a posse e, portanto, a
tutela possessória é mais célere. O que acontece é que nós temos titulares de direitos que vão
optar por assumir o seu estatuto de possuidores.
A prova da posse é mais simples do que a prova da titularidade do direito porque a prova da
titularidade do direito pressupõe a prova do facto jurídico que determinou a titularidade do
direito, ao passo que na prova da posse basta provar o corpus. Teoricamente, dir-se-ia que teria
de ser feita a prova do corpus e do animus, porém, o legislador ofereceu, a quem consiga provar
o corpus, a presunção do animus - artigo 1252º/2 do CC: Em caso de dúvida, presume-se a
posse naquele que exerce o poder de facto, sem prejuízo do disposto no nº 2 do 1257º. Portanto,
provando-se o poder de facto, presume-se a posse - por isso é que se diz que este artigo 1252º/
2 do CCé um dos sinais mais claros de que o legislador português adotou a teoria subjetivista da
posse.
Foi exatamente isso que B decidiu fazer, ele decidiu usar da tutela possessória em vez da
tutela do direito de propriedade, optando por uma ação de restituição da posse, em lugar de
intentar uma ação de reivindicação. Mas só pode intentar uma ação de defesa da posse quem
seja possuidor. B ainda é possuidor? No artigo 1267º/1/d do CC o legislador diz: O possuidor
perde a posse: d) Pela posse de outrem, mesmo contra a vontade do antigo possuidor, se a nova
posse houver durado por mais de um ano (posse de 1 ano e 1 dia). No caso, temos dois
possuidores: uma posse que é exercida pelo A e simultaneamente temos o B que ainda não
perdeu a sua posse. No nº 2 o legislador diz-nos como se conta o prazo: A nova posse de outrem
conta-se desde o seu início, se foi tomada publicamente, ou desde que é conhecida do
esbulhado, se foi tomada ocultamente; sendo adquirida por violência, só se conta a partir da
cessação desta.
Sobre a manutenção e restituição da posse, nós temos aqui o artigo 1278º do CC que trata
conjuntamente uma ação de manutenção da posse e da ação de restituição da posse:
- Intenta-se uma ação de manutenção da posse quando a posse por algum motivo está
a ser perturbada com a intenção do perturbador (ou de quem perturba) da constituição
de uma posse contrária;
- Intenta-se uma ação de restituição da posse justamente quando há um esbulho,
portanto há um ato animado visando o esbulhador constituir uma posse contrária.
Diz o legislador no artigo 1278º do CC: No caso de recorrer ao tribunal, o possuidor
perturbado ou esbulhado será mantido ou restituído enquanto não for convencido na questão da
titularidade do direito. Isto quer dizer que um sujeito que é possuidor e intenta uma ação de
defesa da posse perderá sempre caso o réu da ação prove que é titular do direito, isto porque
numa situação de conflito entre a posse e a titularidade do direito vencerá sempre a titularidade
do direito. Todavia, quando não haja da parte do réu a capacidade de provar a titularidade do
direito e ele apenas prove a sua condição de possuidor, temos um conflito entre posses (ambos
são possuidores e, por isso, ambos têm a seu favor a presunção de titularidade do direito) e é
preciso saber qual delas é que vai vencer. Para resolvermos esse conflito temos justamente o nº
2 e 3. O legislador diz o no nº 2: Se a posse não tiver mais de um ano, o possuidor só pode ser
mantido ou restituído contra quem não tiver melhor posse. O legislador diz se a posse não tiver
mais de um ano, porque se a posse tiver mais de um ano (isto é, 1 ano e 1 dia) perde-se a posse
e, portanto, não se pode intentar uma ação de defesa da posse. Portanto, temos que saber que
havendo um conflito entre duas posses vai vencer a que é melhor. O legislador diz qual é a
melhor no nº 3 fazendo uma hierarquia de posses: É melhor posse a que for titulada; na falta de
título, a mais antiga; e, se tiverem igual antiguidade, a posse atual. No caso, não temos dados
suficientes para saber quais é que são as caraterísticas da posse do A, por isso, deixa-se a
questão em aberto.
Imaginando que a posse do A não é titulada, então temos de passar para o segundo critério:
na falta do título, vence a mais antiga. No caso, a mais antiga era a de B. Se por algum motivo as
posses tivessem a mesma duração venceria a posse de A.
Se o B tiver a posse mais antiga (como parece ter) e vencer a ação de restituição diz-nos o
legislador no artigo 1283º do CC que ele vai ser havido como nunca esbulhado: É havido como
nunca perturbado ou esbulhado o que foi mantido na sua posse ou a ela foi restituído
judicialmente - aqui o legislador está a tratar da ação de manutenção da posse ao mesmo tempo
que trata da ação de restituição. Ainda no artigo 1284º do CC: O possuidor mantido ou restituído
tem direito a ser indemnizado do prejuízo que haja sofrido em consequência da turbação ou do
esbulho. Obviamente que a indemnização que vai ser devida pelo A ao B é um fator importante,
mas mais importante é o que decorre do artigo 1283º, porque se vai apagar o período de posse
do réu. O que quer dizer que o réu não tem direito a frutos, nem a benfeitorias, nem o tempo de
posse dele pode ser usado para efeitos de usucapião. E isto é importante para o nosso caso. No
caso o problema é das uvas. A quem pertencem então essas uvas? As uvas pertencem ao B (que
é o melhor possuidor).
A é um possuidor de boa fé, mas como se vai apagar todo o período em que foi possuidor ele
vai ter de restituir os frutos - tem de haver uma compensação. Note-se que se a posse do A
tivesse mais de 1 ano e um dia, o B já não podia usar da ação possessória e tinha de usar da
ação de defesa do direito e o possuidor de boa fé tinha de devolver a coisa, mas tem direito aos
frutos de boa fé.
Temos dois terrenos vizinhos e contíguos (as extremas se juntam uma com a outra): um
terreno pertence ao A e o outro terreno pertence a C. B construiu uma casa no terreno de A
autorizado por este e o C construiu uma casa e abriu janelas diretamente para o terreno que ele
diz que pertence a A, mas quem está a pretender defender a sua posição é o B.
I. Janelas
O direito de propriedade é o direito real mais amplo que é reconhecido pelo legislador
português e, todavia, tem restrições. O artigo 1344º do CC é muito importante para a
propriedade imobiliária, porque define os limites materiais do direito de propriedade. Segundo
esse preceito, um sujeito é não é só proprietário da superfície do terreno que está demarcada no
solo, mas é também proprietário do espaço aéreo correspondente a essa superfície e do subsolo
correspondente a essa superfície.
Assim sendo, o C é obviamente proprietário de toda aquela superfície e, portanto, pode
aproveitar todo o seu terreno para constituir a casa. Todavia, o legislador, apesar de vir
reconhecer esta extensão imensa no que diz respeito aos limites materiais do direito de
propriedade, também condiciona ou restringe o direito. São várias as restrições que existem no
nosso sistema e são elas umas vezes justificadas pela salvaguarda de interesse público (caso da
expropriação), mas a esmagadora maioria das restrições que estão previstas no Código Civil
visam a salvaguarda de interesses privados e destinam-se a dirimir possíveis conflitos de
vizinhança. Portanto, o legislador para assegurar a paz social vem restringir o direito de
propriedade em atenção aos interesses dos sujeitos que são titulares desse direito sobre
superfícies contíguas e/ou vizinhas ao imóvel que é o objeto de direito de propriedade.
Uma dessas restrições ao direito de propriedade é a que diz respeito à abertura das janelas.
Esta restrição está prevista no artigo 1360º do CC: O proprietário que no seu prédio levantar
edifício ou outra construção não pode abrir nela janelas ou portas que deitem diretamente sobre o
prédio vizinho sem deixar entre este e cada uma das obras o intervalo de metro e meio. E o nº 2:
Igual restrição é aplicável às varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, quando sejam
servidos de parapeitos de altura inferior a metro e meio em toda a sua extensão ou parte dela. O
legislador está a tutelar o direito de propriedade do vizinho construtor para que ele não seja
devassado, no sentido de, por um lado, de se impedir ou dificultar a observação do que se passa
no terreno vizinho e, por outro lado, para impedir ou dificultar o arremesso de objetos.
Colocou-se a questão de saber, mas afinal o que é que é uma janela? Isto deu lugar a
parecer, que é a pronúncia do STJ, que foi redigido pelo Dr. Henrique Mesquita, que veio dizer
que, ao contrário do que se passava na vigência do Código Civil de 1867 (Código de Seabra) em
que se entendia por janela uma abertura com amplitude suficiente para enfiar uma cabeça, se
deveria considerar uma janela tudo aquilo que permite que um sujeito se debruce sobre a
abertura e que tenha amplitude suficiente para permitir o arremesso de objetos. O que significa
que a janela é muito maior do âmbito do Código Civil atualmente vigente do que era no Código
de 1867.
Sabendo isto, já sabemos qual é a distância entre a construção e a extrema do prédio vizinho
e essa distância é, como disse o legislador, de 1,5 m. Quando essa distância não seja respeitada,
nós temos uma violação de uma restrição ou da violação do direito de propriedade do vizinho
que pode, então, exigir que a janela seja tapada. Tapar a janela implica que essa abertura deixe
de ser considera uma janela:
- Ou se tapa completamente a janela:
• Pode cumprir-se a sentença que determinou que fosse tapada a janela com tijolos
de vidro. Se o objetivo do legislador é impedir a devassa e é impedir que a devassa
se faça através do debruçar sobre uma janela, os tijolos de vidro permitem evitar
justamente esta devassa.
• Também se pode colocar um vidro desde que não possa ser aberto.
- Ou se reduz a amplitude da janela e passamos a ter uma fresta.
Uma maneira de dar a volta à questão é a contrução de um muro. Se se construir um muro
que tenha pelo menos a altura da janela, já não se justifica que se obrigue a deixar 1,5 m de
distância, porque o muro, embora permita o tal debruçar, já não permite que se veja, nem que se
arremessem objetos para o outro lado.
Outra forma é gradar a janela. Se se gradar a janela, ou seja, colocar-se uma grade, então já
não é possível a tal atitude de debruçar nem o arremesso de objetos.
Note-se que o legislador não obriga a que se deixe 1,5 m de distância quando exista um
caminho público entre os dois prédios, precisamente porque o potencial do devassa já existe
pela existência do caminho público. Portanto, não se justifica que o proprietário seja restringido
no seu direito de propriedade quanto à construção de janelas.
Há sempre aqui uma intenção da parte do legislador de restringir a propriedade, mas apenas
quando tal seja absolutamente necessário, respeitante, então, a tal ideia de que o direito de
propriedade é o direito real máximo e que só deve ser restringido, quer para a satisfação de
interessa público, quer para a satisfação de interesse privado, quando seja absolutamente
necessário.
Nada no enunciado do caso prático nos diz qual foi a distância guardada entre a dita cuja da
janela e a habitação do B. Logo, nós podemos colocar 2 hipóteses:
1. Se a janela foi aberta em conformidade com o disposto no artigo 1360º do CC, então
não há problema e efetivamente o C tem razão ao dizer que não se passa nada com a
sua construção.
2. Se a janela foi aberta em contradição com o disposto no artigo 1360º do CC, então C
tem a obrigação de tapar a janela.
Se não houver registo do título (que não deve haver) ele têm 15 anos para invocar por
usucapião a servidão - artigo 1296º do CC. No caso, não pode invocar a usucapião
porque só passaram 10 anos.
Os proprietários dos prédios vizinhos podem defender-se de janelas quando estão
perante uma janela ilícita, através de uma ação negatória que é uma ação de defesa do
direito de propriedade. Portanto, aquela ação em que se pede ao tribunal que declare a
inexistência do direito do réu, que se reconstitua a situação material tal como ela existia
antes da violação do direito de propriedade e ainda que seja condenado de se abster de
qualquer comportamento ilícito de violação do direito de propriedade. Qual é a causa
de pedir das ações de defesa da propriedade? É o facto jurídico aquisitivo do direito
de propriedade. O que significa que quem intenta a ação tem de provar que é titular do
direito de propriedade. E quem é que aparece, no nosso caso, como potencial autor
desta ação negatória? É o B. Mas quem é o B? A não lhe concedeu o direito de
superfície, ele autorizou à construção. Se B fosse possuidor, o que é que ele podia
fazer? A acessão que é outra forma de aquisição do direito de propriedade por
aquisição originária. O problema da posse é a autorização, é que a autorização faz com
que se duvide do seu animus possidendi.
Há aqui um problema doutrinal que é saber se o possuidor pode ou não invocar a
aquisição do direito de propriedade por acessão.
Quando é que temos aquisição originária do direito de propriedade? Quando o direito
de propriedade nasce ex novo na esfera jurídica de um determinado sujeito com base
num contacto direto entre ele e a coisa, independentemente de qualquer relação jurídica
que justifique ou fundamente este contacto.
Assim sendo, todas as obras que sejam realizadas numa determinada coisa por um
sujeito que tenha um contacto jurídico com ela, ou seja, sempre que exista uma relação
jurídica que justifica ou fundamente a atuação material sobre o bem, não permitem o
funcionamento da acessão. P. exemplo, o usufrutuário que realizou benfeitorias na coisa, não
pode dizer que adquiriu o direito de propriedade por acessão. Assim como um locatário ou um
arrendatário não pode dizer que adquiriu o direito de propriedade sobre coisa só porque realizou
benfeitorias sobre ela.
E por isso debate a doutrina a possibilidade de o possuidor poder ou não poder utilizar
a acessão, em vez da usucapião, para afirmar a aquisição da titularidade do direito. Na
perspetiva da professora, o possuidor não pode invocar a aquisição por acessão,
porque:
- Ou bem que se é possuidor e então o caminho para a aquisição da titularidade do
direito é a usucapião;
- Ou bem que não se tem essa relação de posse com a coisa, mas se atua sobre ela
e o caminho para a aquisição da titularidade do direito é a acessão, que é um
caminho muito mais difícil, embora ela atue mais rapidamente que a usucapião.
O que é a acessão? Em determinadas situações uma determinada coisa é enriquecida
ou transformada tornando-se numa nova coisa ou numa coisa diferente ou e então é
preciso saber quem é o titular deste novo objeto ou do objeto diferente que passou a
existir no ordenamento jurídico.
• Regra superficies solo cedit: A regra é de que a coisa principal que seja acrescida
ou pela natureza ou pelo trabalho do homem pertence sempre ao sujeito que já era
proprietário dela.
• Regra do reconhecimento da propriedade a quem trabalha: Contudo, há
determinadas situações em que o legislador vai optar por uma solução contrária e
aí, em vez da regra superficies solo cedit, vamos ter a regra do reconhecimento da
propriedade a quem trabalha. Em vez de ser o solo que vai absorver a superfície é a
superfície que vai absorver o solo, mas isto só pode acontecer em determinadas
circunstâncias que são absolutamente excecionais. E quando é que vai acontecer?
Nos termos do artigo 1340º do CC: Se alguém, de boa fé, construir obra em terreno
alheio, ou nele fizer sementeira ou plantação, e o valor que as obras, sementeiras ou
plantações tiverem trazido à totalidade do prédio for maior do que o valor que este
tinha antes, o autor da incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor
que o prédio tinha antes das obras, sementeiras ou plantações. Portanto, a
propriedade vai ser reconhecida a quem planta ou constrói em detrimento do sujeito
que era titular da propriedade sobre o solo, quando temos:
- Um sujeito que planta ou constrói no terreno alheio;
- Boa fé;
- Especial relação de valores.
Então o que é que nós vamos fazer como advogados do B? Vamos tentar invocar que o
B adquiriu originariamente o direito de propriedade sobre o imóvel por acessão
industrial imobiliária. E para que possa funcionar a acessão industrial imobiliária há uma
série de requisitos que são impostos pelo artigo 1340º do CC:
1. Tem de que haver a tal obra, sementeira ou plantação. Quando falamos disto
pressupomos sempre uma intervenção do prédio que implique uma ligação
material com caráter de permanência à coisa principal. Exemplo: B, em vez de ter
construído uma casa, tinha plantado uma sementeira de alface. Neste caso, não podia
invocar a ação, porque as alfaces são colheitas de uma única vez, portanto elas não estão
em constante renovação. Todas as colheitas que tenham apenas um ciclo, como é o caso
das cenouras, das alfaces, etc. não permitem a invocação da aquisição do direito de
propriedade por acessão, porque não há uma relação material de permanência à coisa
principal. Se fosse uma vinha, um eucaliptal, um pomar, um pinhal, uma construção ou um
imóvel já haveria. Note-se que obra não significa apenas casas de habitação, pode
ser outra coisa qualquer, p. ex., um armazém. Este requisito está verificado, no
caso.
2. Boa fé. O legislador descreve o que entende por boa fé no artigo 1340º/4 do CC:
Entende-se que houve boa fé, se o autor da obra, sementeira ou plantação
desconhecia que o terreno era alheio, ou se foi autorizada a incorporação pelo
dono do terreno. Também está verificado - o B está manifestamente de boa fé,
porque houve uma autorização do dono do terreno à elevação da construção.
3. Especial relação de valores. Esta relação de valores afere-se comparando
unidades prediais, isto é, compara-se a unidade predial que existia antes da
construção e a unidade predial que existe depois da construção. Compara-se
quanto vale o prédio antes da construção e quanto vale o prédio depois da
construção.
- Se a unidade predial que existe depois da construção tiver um valor superior
à unidade predial que existia antes da construção, então funciona a aquisição
por acessão. Embora o legislador apenas exija que a unidade predial nova
valha mais que antiga, a jurisprudência tem afirmando que a nova unidade
predial tem de valer mais do dobro da unidade predial antiga.
- Se a nova unidade predial não valer mais que a unidade predial antiga, então
funciona o princípio superficies solo cedit e é o proprietário que vai absorver a
construção. Portanto, reconhece-se o direito de propriedade ao autor da
obra. Logo, a obra é absorvida pelo direito de propriedade sobre o solo.
- Se tiverem mais ou menos o mesmo valor abre-se licitação, logo quem der
mais fica com o prédio todo. Sendo certo que há depois uma compensação
daquele que ganhou em relação aquele que perdeu.
Para quem considere que a acessão pode funcionar para o possuidor, costuma dizer-se
que a usucapião é mais benéfica do que a acessão. Quando o possuidor esteja em
condições de invocar a usucapião ou de adquirir por acessão é melhor para ele a
usucapião porque não tem de pagar a tal compensação. Para quem, como a professora,
considere que o possuidor não pode adquirir por acessão, esta comparação não faz
sentido.
É possível adquirir apenas por acessão parte do terreno, desde que seja possível
fracionar esse terreno, tendo em conta as regras do urbanismo. Portanto, se se
considerar apenas a parte onde B construiu e se se conseguir uma relação de valores
equivalentes aquela que está prevista no artigo 1340º para parte do terreno, então,
nesse caso, nós podemos permitir a aquisição apenas de parte do terreno, desde que
esse terreno seja destacável.
propriedade de um sujeito dizendo que ele não pode emitir fumos, ruídos, cheiros, etc. para o
prédio vizinho quando tal implique um prejuízo prejudical para o prédio recetor ou quando essas
emissões decorram de uma utilização anormal do prédio emitente.
Em primeiro lugar, o legislador tem aqui uma enumeração meramente exemplificativa, logo não
só essas emissões que caem no regime jurídico do artigo 1346º do CC. Fundamentalmente,
caem aqui todas as emissões de natureza corpórea, mas de tamanho ínfimo (p. ex., vapor de água,
fumo, eletricidade, cheiro) e todas as emissões de natureza incorpórea.
Em segundo lugar, o legislador vem dizer que essas emissões são ilícitas quando uma das
condições do artigo 1346º se verifique, isto é, ou causam prejuízo substancial para o prédio
vizinho ou decorrem de uma utilização anormal do prédio de que emanam. De outra maneira o
prédio vizinho está obrigado a receber as emissões. Quando nós estamos a verificar se há um
prejuízo substancial para o prédio que recebe as emissões ou se há uma utilização anormal do
prédio emitente usamos sempre critérios objetivos, ou seja, olhamos para a coisa e verificamos
se a utilização dela fica substancialmente prejudicada pela emissão. Exemplo: Um sujeito faz umas
festas no seu imóvel e o seu vizinho diz que não consegue viver ali porque sofre de enxaqueca e cada vez
que ele faz uma festa ele não consigo aguentar ou então que não consegue dormir a sesta para que
consiga executar a sua profissão melhor. Isso não tem importância absolutamente nenhuma. O que vamos
ver é se a realização das festas e dos barulhos que são emitidos em função da realização da festa
prejudicam substancialmente a utilização do prédio vizinho como casa de habitação. Por outra parte, a
realização das festas não é uma utilização anormal do prédio, se o prédio for destinado a habitação,
mesmo que as festas decorram todos os fins de semana do ano.
No caso, olhando para a utilização do prédio onde está instalado o grelhador do A, B e C, não
há uma utilização anormal do prédio, porque o prédio se destina a vender carne grelhada,
portanto os fumos decorrem justamente da utilização normal desse prédio.
Olhando agora para o prédio onde está instalada a clínica dedicada ao tratamento de pessoas
que sofrem de obesidade de D, E e F já se pode dizer que há um prejuízo substancial pela
emissão dos fumos para o prédio recetor, tendo em conta o destino do prédio, dado que se trata
de uma clínica e que se dedica a um tratamento muito específico é defensável.
Portanto, D, E e F podem reagir contra o grelhador, porque isso implica um prejuízo
substancial para o prédio que recebe as emissões atendendo ao fim a que se destina. Quem é
que imprime um fim à coisa? Os proprietários.
Portanto, esta chaminé equivale, em termos jurídicos, ao caso da areia (página 16).
Como é que o D, E e F podem reagir? Intentando uma ação negatória. Portanto, uma ação
em que se pede a declaração de inexistência do direito do A, B e C de interferirem no exercício
do direito de propriedade, com a consequente condenação à reconstituição da situação material
tal como ela se encontrava antes da violação, que não significa arrasar com a obra toda, basta
que os fumos estejam orientados por força da natureza. A partir desse momento o D, E e F nada
podem fazer.
Portanto, não era necessário que D, E e F atuassem em conjunto para a defesa do direto de
propriedade, bastava que um deles atuasse em representação dos restantes, nomeadamente
intentando a ação negatória.
Nem sempre é assim e um dos casos em que eles têm de atuar como se fossem um único
sujeito diz respeito à alienação da coisa ou de partes especificadas dela.
Imagine agora que C pretende vender uma das salas do restaurante ao que A e B se
opõem. C, porém, argumenta que essa parte corresponde exatamente em área à sua parte
enquanto comproprietário. Quid iuris?
No caso, um dos comproprietários não está a dispor da sua quota parte ideal do bem, mas
sim de parte da coisa. O legislador tem a solução à questão no artigo 1408º do CC. Neste artigo
o legislador escolheu uma epígrafe enganadora (disposição e oneração da quota), visto nos dá a
entender que nesta norma se está a tratar apenas disposição e oneração da quota. Todavia,
quando lemos o corpo do artigo, percebemos que o legislador não só pronuncia sobre os
negócios jurídicos que tenham por objeto a quota, mas pronuncia-se também sobre os negócios
jurídicos que tem por objeto a coisa.
Assim, o legislador vem dizer, no artigo 1408º/1 do CC, que o comproprietário pode dispor de
toda a sua quota na comunhão ou de parte dela - ou seja, o comproprietário pode dispor
livremente da sua quota porque tem sobre a sua quota um direito exclusivo -, mas não pode, sem
consentimento dos restantes consortes, alienar nem onerar parte especificada da coisa comum.
Assim, no artigo 1408º/1 CC temos dois regimes distintos para dois problemas diferentes:
1. Negócio sobre a quota (1408º/1/1ª p): No que diz respeito à alienação da quota parte
ideal da coisa cada um dos comproprietários tem sobre ela um direito exclusivo,
portanto pode dispor dela, isto é, pode alienar e onerar conforme pretenda. Todavia,
cada vez que o comproprietário tenta alienar a sua parte a um estranho à comunhão,
ele está obrigado a conceder preferência aos restantes comproprietários. Se o não fizer,
os restantes comproprietários têm direito a intentar uma ação de preferência prevista no
artigo 1410º CC.
2. Negócio sobre a coisa comum (1408º/1/2ª p): Na alienação e oneração da coisa
comum, os comproprietários têm que atuar por unanimidade. O legislador só se refere à
oneração ou alienação de parte especificada da coisa por um dos comproprietários,
visto que, no fundo, o comproprietário atua como se estivesse a alienar coisa
pertencente a outrem, uma vez que a parte especificada da coisa que pretende alienar
não pertence somente a ele, pertence a todos os comproprietários. Mas obviamente
que é o mesmo regime jurídico que se aplica à coisa na sua completude. Assim, o
legislador considerou (e bem) que não valia a pena pronunciar-se sobre a legitimidade
de um dos comproprietários vender toda a coisa.
Note-se que neste caso não há direito de preferência, porque quando não há
consentimento dos restantes consortes o negócio é nulo (artigo 892º do CC) - aplica-se
o regime jurídico da venda de coisa alheia (questão frequente em caso prático no exame). A
não ser que seja transmitido ao adquirente a informação de que necessita ainda de
obter consentimento dos restantes consortes caso em que o negócio jurídico produz
efeitos obrigacionais.
Há, todavia, uma forma de salvar o negócio da nulidade. O C não pode vender parte
especificada da coisa sem consentimento dos restantes consortes, mas pode, sem o
consentimento dos restantes consortes, vender a sua quota. Daí que se pode converter, desde
que reunidos os requisitos do artigo 293ºCC, a alienação de parte especificada da coisa que é
nulo, num negócio válido que é a alienação da parte que pertence ao comproprietário. Por outras
palavras, converte-se alienação de parte especificada da coisa em alienação da quota. Contudo,
ao fazer esta conversão são necessários certos cuidados:
No caso, C diz que aquela parte da coisa comum corresponde à sua parte da
compropriedade.
I. Uso da coisa: O legislador vem dizer, no artigo 1406º/1 CC, que na falta de acordo
sobre o uso da coisa comum, a qualquer dos comproprietários é lícito servir-se dela,
contanto que a não empregue para fim diferente daquele a que a coisa se destina e não
prive os outros consortes do uso a que igualmente têm direito. Este é um regime
supletivo, logo nada impede que os comproprietários determinem um modo de uso da
coisa diferente do que o que o legislador está a sugerir. Esta é uma das marcas da
tipicidade aberta do direito real português. O nosso sistema é um sistema de
taxatividade aliada a uma tipicidade aberta, porque o legislador muitas vezes abre o tipo
permitindo que entre a vontade das partes e este é um desses casos. As partes têm
liberdade contratual para estabelecerem como vai ser feito o gozo da coisa e tal implica
as mais diversas conjugações ou convenções. As mais comuns são:
• Divisão da utilização da coisa por turnos: Cada comproprietário utiliza sozinho a
coisa temporariamente.
• Divisão material do gozo da coisa: Não é uma divisão da coisa comum, porque a
divisão da coisa comum implica a extinção da compropriedade. Na divisão material
do gozo da coisa apenas se define as fronteiras em que os comproprietários
exercerão os seus direitos como proprietários do bem. Não será possível em
relação a um automóvel, mas é possível nos prédios rústicos. Exemplo: A, B e C são
comproprietários de um prédio rústico e decidem dividir gozo da coisa em 1/3 para cada.
II. Fim a que coisa se destina: O acordo dos comproprietários também pode ir no sentido
de determinar exatamente como pode ser usada utilizada a coisa:
- Quando nada seja dito, ou seja, quando as partes não determinaram qual o fim da
coisa, é preciso atender ao fim inerente do objeto da compropriedade. Exemplo: A,
B, C compraram um cavalo de corrida não tendo sido determinado que o cavalo só poderia
ser usado para corridas. Um dos comproprietários quer usar o cavalo para trabalho
agrícola, pode fazê-lo? Não, visto que as próprias qualidades que a coisa revela
determinam o modo de utilização que ela pode suportar. Um cavalo de corridas não é um
cavalo de tração e os cavalos são animais com caraterísticas próprias e que ficam
prejudicados nas suas caraterísticas quando utilizados para fins diferentes daqueles
determinados pela própria raça. Assim, pode não haver determinação exata do fim, mas as
próprias caraterísticas da coisa determinam o fim para que deve ser utilizada.
- Quando as partes determinaram qual o fim da coisa, poderá um dos
comproprietários usar a coisa para fim diferente? À partida, diríamos que não,
porque se as partes determinaram que aquele era o fim para que a coisa fosse
usada, então, tudo o que estivesse fora desse alcance seria considerada uma
utilização ilícita da coisa com a necessidade de compensação aos restantes
comproprietários dos prejuízos daí resultassem. Contudo, esta não é a posição da
doutrina, nem da jurisprudência que tem entendido que os comproprietários podem
usar a coisa para fim diferente, desde que o fim determinado não fique prejudicado
por essa utilização. Exemplo: Temos um terreno rústico onde há
um lago contíguo a quatro outros terrenos (1, 2, 3 e 4) de
4
proprietários diferentes. Os proprietários desses terrenos
1
decidiram comprar em compropriedade o terreno rústico do meio,
determinando que a água do lago ia ser usada para a irrigação dos
3
terrenos. Poderá um dos comproprietários pescar no lago? Sim,
porque embora tenha sido determinado que a água seria usada 2
para a irrigação, a utilização do lago para pesca não prejudica
esse fim previamente determinado. Se um dos comproprietários
quiser comprar uns barcos a motor e alugá-los, pode? Não, porque os barcos libertam
combustível e poluem a água do lago que é usada para a irrigação prejudicando o fim a que
a coisa que destina.
No caso concreto, B poderá fazer a perícia automóvel, visto que não há nada que nos
leve a constatar que haja um prejuízo para os restantes comproprietários. Além disso,
não há fim previamente determinado pelas partes, eles apenas determinaram que cada
um usava exclusivamente o carro durante três meses. Os outros comproprietários não
vão ficar prejudicados com o acesso ao carro quando B está a fazer a prova, porque
eles já não teriam acesso à utilização do carro de qualquer maneira.
Imagine que A contratou, logo nos primeiros dias de janeiro, um mecânico para que se
fizessem as reparações necessárias à obtenção de certificado de inspeção automóvel.
Exige agora que B e C paguem a parte deles nas despesas, mas estes recusam-se a faze-lo
alegando que nunca foram consultados nem autorizaram as reparações. Terão razão? A
resposta seria a mesma caso A tivesse decidido pintar o automóvel de azul e branco em
homenagem ao FCP?
Se B e C tivessem tido oportunidade para se oporem, coisa que não aconteceu, poderiam
ter iniciado este mini procedimento e opunham-se à decisão de A, desde que fosse
assegurado que B e C se opunham e que as suas quotas perfaziam pelo menos 50% do
valor total.
No caso da oposição ter mérito, a oposição determinaria que o ato não fosse praticado.
Se ainda assim, o ato fosse praticado pelo A, então aplicava-se o artigo 1407º/3 do CC:
Os actos realizados pelo comproprietário contra a oposição da maioria legal dos consortes
são anuláveis e tornam o autor responsável pelo prejuízo a que der causa.
II. Ato relacionado com os encargos que a coisa necessita: A não só tomou a decisão
sozinho (e podia faze-lo) como imediatamente deu concretização à sua decisão. Da
concretização da sua decisão foram originadas despesas que têm que ser divididas na
proporção das quotas de cada um dos proprietários - é o que está previsto no artigo
1411º/1/1ª parte do CC relativamente às benfeitorias necessárias (os comproprietários
devem contribuir, em proporção das respetivas quotas, paras as despesas necessárias à
conservação ou fruição da coisa comum). No entanto, B e C negam-se a pagar, mas eles ou:
- Pagam na proporção das suas quotas; ou
- Renunciam a posição de comproprietários - artigo 1411º/1/2ª parte do CC (sem
prejuízo da faculdade de se eximirem do encargo renunciando ao seu direito). Esta renúncia,
porém, não é totalmente livre, é condicionada pelo artigo 1411º/1 do CC: A renúncia,
porém, não é válida sem o consentimento dos restantes consortes, quando a despesa
tenha sido anteriormente aprovada pelo interessado (…).
Uma vez que B e C não aprovaram a despesa, podem renunciar à sua participação na
compropriedade, não sendo necessário o consentimento de A. Se, porém, eles tivessem
sido consultados previamente e tivessem dado a autorização relativamente à despesa, aí
poderiam renunciar ao seu direito de propriedade, mas estariam dependentes do
consentimento de A.
III. Pintura do carro: A não podia decidir sozinho pintar o carro. Todos os atos que alterem o
casco do bem também pressupõem o consentimento de todos comproprietários. O regime
do artigo 1407º do CC é um regime de administração ordinária do bem, portanto todos os
atos que digam respeito à normal fruição da coisa. Tudo que vá para além dos atos de
fruição normal, o que designamos normalmente por atos que alterem o casco do bem,
tudo isso faz parte da administração extraordinário. O legislador não tem um regime
jurídico para a administração extraordinária do bem, mas conseguimos saber qual é
solução correta com base na lei. Através do aproveitamento do artigo 1024º/1 e 3 do CC:
A locação constitui, para o locador, um acto de administração ordinária, excepto quando
for celebrada por prazo superior a seis anos; e o arrendamento de prédio indiviso feito pelo
consorte ou consortes administradores só é válido quando os restantes comproprietários
manifestem, por escrito e antes ou depois do contrato, o seu assentimento. O Dr. Henrique
Mesquita, a partir da análise deste artigo, chegou à conclusão que se se um arrendamento
(é uma exceção à regra do artigo 985º do CC) é um ato de administração ordinária e
necessita o consentimento de todos os consortes, então, por maioria de razão, um ato de
administração extraordinária necessita sempre consentimento de todos os
comproprietários, ou seja, necessita de unanimidade.
Saturado de todos os conflitos que vêm afetando a amizade que ligam os três
comproprietários, C pretende abandonar a sua posição de comproprietários, mas todos
aceitaram um pacto de indivisão durante 4 anos. Quis iuris?
Uma das formas diretas C sair da compropriedade é através da alienação da quota, embora
que se esta for alienada a estranho pressupõe a concessão do direito de preferência aos outros
comproprietários e a alienação não importa uma extinção da compropriedade.
então reduz-se o pacto de indivisão ao tempo previsto na lei, de acordo com o artigo
292º do CC.
Note-se que o pacto de indivisão não tem que ser celebrado entre todos os consortes,
pode ser celebrado apenas por parte deles. Assim, quem não tenha participado no
pacto de indivisão pode requerer a todo o momento a divisão da coisa comum. A
divisão da coisa comum pode ser feita:
- De forma amigável, ou seja, as partes chegam a acordo em extinguir a
compropriedade e decidem como irão fazer a divisão da coisa comum - vigora aqui
a regra da liberdade contratual. Sendo certo que as novas coisas que daí irão
resultar permanecem em compropriedade com um ou mais consortes.
- Caso as partes não cheguem a acordo, há que intentar um ação de divisão de
coisa comum. Este é um processo especial previsto nos artigos 925º e ss. CPC em
que é necessário que a coisa seja divisível. Note-se que pode haver coisas que
naturalmente são divisíveis, mas cuja indivisibilidade pode ser determinada por
intervenção de um perito. Exemplo: uma prédio rústico. Quando se determine a
indivisibilidade há sempre uma fase do processo que é uma fase de conferência
dos interessados. O juiz chama todos os comproprietários (litisconsórcio passivo
necessário) para decidirem como querem dividir a coisa - temos aqui a mesma
liberdade de atuação que têm os comproprietários na partilha da divisão da coisa.
Caso não cheguem a um acordo ou se a coisa for indivisível e o acordo assim
impossível, o juiz determina a venda judicial do bem e a divisão proporcional do
valor obtido. P. ex., um automóvel é uma coisa naturalmente indivisível.
Assim, se todos acordaram no pacto de indivisão tal significa que não pode ser intentada uma
ação de divisão de coisa comum no prazo de quatro anos. Sendo certo que, após os quatro
anos, se as partes não entrarem em acordo, seja amigavelmente, seja na ação de divisão de
coisa comum, então o juiz determinará que se venda a coisa e posteriormente se divida o
produto por todos os comproprietários.
2. Artigo 1276º/2 do CC: Ainda que respeitada a unidade de cultura, da divisão não
podem resultar situações de encravamento, ou seja, prédios encravados.
Propriedade Horizontal (não sai em caso prático, mas pode aparecer numa pergunta teórica que
parece de propriedade horizontal, mas não é)
A propriedade horizontal constitui-se pela primeira alienação? (pergunta teórica que costuma
ser questionada em exames) Isto é falso, porque não pode haver alienação sem haver propriedade
horizontal. Inclusive os notários não podem fazer a celebração de negócios jurídicos de alienação
sobre frações sem haver constituição prévia da propriedade horizontal, mas já podem fazer de
contratos-promessa.
Antes da alienação da primeira fração, quantas coisas tem A no seu Apart. Apart.
Zona comum
Apart. Apart.
jurídico unilateral? Oito e não há nove partes, visto que as partes comuns
pertencem a cada um dos condóminos. Apart. Apart.
Assim, o senhor A tinha uma coisa e passou a ter oito frações com o Apart. Apart.
título constitutivo.
Não faz sentido aplicar o regime da propriedade horizontal antes da primeira alienação, porque
só a partir desta é que passamos a ter pelo menos dois condóminos. Tal significa que, o título
constitutivo da propriedade horizontal está sujeito a uma condição suspensiva que é a alienação
da primeira fração. Já há propriedade horizontal, mas ela não é ainda eficaz, porque se está à
espera da verificação da condição suspensiva (evento futuro e incerto), que é a alienação da
primeira fração. Só no momento em que aliena a primeira fração é que a propriedade horizontal
tem o seu regime plenamente vigente. Nesse caso já se justifica, por exemplo, fazer uma reunião
de condóminos e já se justifica fazer a divisão dos rendimentos que a propriedade horizontal
proporciona ou das despesas que sejam necessárias com as partes comuns.