Psicopatologia Simbolica Analitica
Psicopatologia Simbolica Analitica
Psicopatologia Simbolica Analitica
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA............................................................... 11
CAPÍTULO 1
RELAÇÃO CONSCIENTE E INCONSCIENTE............................................................................... 12
CAPÍTULO 2
A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS............................................................................................ 20
UNIDADE II
ESTRUTURA DA PSIQUE.......................................................................................................................... 27
CAPÍTULO 1
TIPOS PSICOLÓGICOS............................................................................................................. 29
CAPÍTULO 2
ARQUÉTIPOS, COMPLEXO E SÍMBOLOS.................................................................................... 38
UNIDADE III
PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA......................................................................................... 53
CAPÍTULO 1
O PROCESSO PSICOPATOLÓGICO.......................................................................................... 54
UNIDADE IV
PSICOPATOLOGIA SIMBÓLICA............................................................................................................... 62
CAPÍTULO 1
A INTENÇÃO TERAPÊUTICA....................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 72
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
Psicopatologia e Carl Gustav Jung, a combinação perfeita para ampliar conhecimentos
sobre os conceitos de um dos mais renomados psicólogos modernos.
Jung (2002, p.19), desenvolveu uma teoria complexa e fascinante abrangendo de forma
extensa o comportamento e o pensamento humano.
Com o trecho citado Jung (2002), inicia o texto de Sonhos, Memórias e Reflexões.
Por meio de seu relato podemos vislumbrar a imensidão do que o autor propõe em sua
psicologia analítica.
Mas, o que podemos entender por psicologia analítica? Essa abordagem psicológica
é uma escola teórica da psicologia que trabalha com conceitos e visão do mundo,
próprias de seu fundador: o médico psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961). Ao longo
de sua vida dedicada a estudos e pesquisas, Jung abordou e apresentou, a partir de sua
formulação teórica, uma vasta gama de temas e discussões que o colocaram de forma
definitiva como uma grande e influente figura do pensamento psicológico.
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Passou anos aprofundando seus conhecimentos sobre o que se passava no espírito
do doente mental na clínica psiquiátrica Burghölzli da Universidade de Zurique.
Nessa época a psiquiatria era uma área da medicina que despertava pouco – ou
nenhum – interesse. E o ensino psiquiátrico consistia em abstrair a personalidade
do paciente e direcionar-se para o diagnóstico, a descrição dos sintomas e os
dados estatísticos.
Neste contexto, Jung (2002, p.108), teve seu primeiro contato com a obra de Freud e
descreveu:
Nesta situação Freud foi essencial para mim, principalmente, devido as
suas pesquisas fundamentais sobre a psicologia da histeria e do sonho.
Suas concepções me mostraram um caminho a seguir para as pesquisas
posteriores e para a compreensão dos casos individuais.
Mas, para entender a psicologia analítica e estabelecer as bases para nossa disciplina,
devemos conhecer um pouco sobre a vida de Jung.
Carl Gustav Jung nasceu num vilarejo de Kesswill, Turgóvia, sendo um cidadão da
Basileia (Suíça); pois seu pai assim o era. Seu nome foi uma homenagem ao avô, que foi
professor de medicina. Filho de Johan Paul Achilles Jung (pastor) e Emilie Preiswerk
(descendente de uma família tradicional da Basileia), Jung era um menino solitário
que gostava de brincar sozinho. Muito sistemático, não gostava de ser perturbado,
observado ou julgado enquanto concentrava-se em suas brincadeiras ou experiências
lúdicas. Chegam a constar comentários dos amigos que com ele conviveram de forma
próxima, que Jung não suportava interferência em qualquer tipo de atividade que
estivesse desenvolvendo e que tinha baixa tolerância a críticas. Alguns amigos assinalam
que ele poderia ser considerado como um ser antissocial.
Com relação aos estudos, Jung (2002, p.38), sempre teve problemas com a matemática
e não era muito adepto de exercícios físicos, embora fosse um aluno descrito como
talentoso e original, nas demais disciplinas.
8
como suas principais áreas de interesse, quatro campos: Ciência, História, Filosofia
e Arqueologia.
Mas, aos 19 anos ele ingressa na universidade como estudante de medicina. Uma escolha,
no mínimo curiosa, dada a relação das áreas de conhecimento que lhe chamavam
atenção.
Quando fez 20 anos de idade seu pai falece e, neste momento, Jung – como único
filho homem – tem que assumir a responsabilidade de manter sua mãe e sua irmã.
Alguns parentes chegaram a aconselhá-lo a abandonar os estudo e arrumar um emprego.
Contudo, a vida na universidade seguiu bem e Jung além de estudar medicina, ingressa
no campo da filosofia com mais afinco e, com ajuda financeira de parentes, mantém
a família.
Devemos deixar claro que Jung poderia ter optado pela área da clínica médica, porém
ao ler o Manual de Psiquiatria de Krafft-Ebing a decisão de tornar-se psiquiatra foi
tomada. Naquela época era incomum que um médico quisesse seguir pelo ramo da
psiquiatria, especialmente quando se recebe uma proposta irrecusável como o de ser
assistente de Friedrich Von Muller, em Munique. Afinal, era uma oportunidade de
ascensão na carreira. Contudo, o caminho mais fácil nunca foi uma opção para Jung.
E por que o deveria ser?
A psicologia analítica baseia-se na existência dos seres humanos, quer sejam normais,
neuróticos e psicóticos. As teorias que Jung formulou foram sugestões e tentativas de
construir um olhar sobre uma nova psicologia científica, direcionada em primeiro lugar
na experiência imediata com os seres humanos.
De modo geral, não existe uma fórmula simples para reduzir essas experiências.
Ao ampliar o foco aumentando, assim, a nitidez; também perdemos de vista a textura
das relações em que consiste a atividade psíquica. A procura com rigor pela definição
mais adequada do sintoma, da experiência mental subtrai muito do que por natureza
pertence ao ser humano.
Jung foi médico, psiquiatra, psicanalista, professor, escritor – escrevendo vários artigos
sobre crítica social e movimentos sociais. Construiu uma teoria que abarca um grande
número de temas que envolvem o humano e a sociedade. Porém, sobretudo, C. G. Jung
foi um pesquisador e profissional interessado na psique humana.
9
Sua intenção de tentar conhecer o máximo possível sobre o que é humano o torna um
dos grandes pensadores da história.
Objetivos
»» Oferecer bases teóricas para que os alunos possam transitar confiantes
pelo universo da obra junguiana, bem como fazer uso dos principais
conceitos desta obra.
10
OS CONCEITOS NA
PERSPECTIVA DA UNIDADE I
PSICOLOGIA ANALÍTICA
Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma
humana, seja apenas outra alma humana.
C. G. Jung
Carl Gustav Jung foi um dos maiores pesquisadores da alma humana do século passado.
Sua obra transmite um registro fiel de sua vida e de suas experiências clínicas, tendo
como base o processo empírico sempre relacionado aos aspectos teóricos e práticos.
Jung tenta conceituar, porém não se ocupa em definir e, modo coerente e consistente,
sua construção teórica aborda todas as necessidades do mundo moderno, até situações
emergenciais e extremas.
Figura 1.
Fonte<https://asyram.wordpress.com/2014/02/13/i-nivel-sanacion-espiritual-por-arquetipos/> Acesso:23/05/2017
Ao lermos um livro de Jung somos levados a eras e diversos autores. Os que se interessam
por estudos antigos serão bons adeptos da teoria junguiana. Contudo, o mais fascinante
e que não pode ser esquecido é que esse conhecimento antigo é trabalhado na teoria
numa perspectiva atual, pois traz respostas para a atualidade.
Neste sentido, podemos entender os mitos como sendo histórias antigas que ainda
estão acontecendo da atualidade individual e coletiva.
11
CAPÍTULO 1
Relação consciente e inconsciente
Até você se tornar consciente o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-
lo de destino.
C.G. Jung
Figura 2.
As divergências com Freud ocorreram inicialmente sobre o conceito de libido, pois Jung
tomava este conceito como uma forma mais ampla que a conceituação sexual oferecida
por Freud; posteriormente a discordância recaiu sobre a noção do inconsciente.
12
OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
sobretudo, por uma busca de equilíbrio externo e interno. Uma relação de harmonia
entre o consciente e o inconsciente.
Para Jung (1987), o fato de haver uma interação constante entre consciente e inconsciente
– por mais que não percebida – faz com que muito do que sabemos possa ser apenas
uma imagem mal elaborada da consciência.
Por isso, na práxis psicológica analítica podemos perceber que todo novo caso clínico
consiste quase que na formulação de uma nova teoria. Um olhar novo a cada novo caso,
a fim de não nos prendermos a padrões pré-estabelecidos.
13
UNIDADE I │ OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
comparações dos sonhos e fantasias com elementos da mitologia universal, além das
associações pessoais.
Figura 3.
Para Carl Gustav Jung (1887), existe uma interação entre consciente e inconsciente –
por mais que esta não seja percebida. Deste modo, muito daquilo que sabemos pode
representar apenas uma ideia mal concebida em nossa consciência.
14
OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
É como se tivéssemos uma visão, um olhar curioso em todo novo caso com o intuito de
não estarmos presos ao que já fora estabelecido.
Outro ponto em destaque é o fato de tudo contribuir para uma imensidão, um universo
de percepções, visões, pontos de vista. Desta forma, cada caso é um caso, totalmente
distinto dos demais. A priori, essa diferença reside no fato essencial de que a demanda
é trazida por vivências diferenciadas. Ou seja, o jargão “cada caso é um caso”.
Outro ponto bastante interessante que devemos observar na teoria de Jung é que a
consciência é menor do que o inconsciente. Dentro dessa ideia podemos levantar
algumas discussões sobre o que representam esses conceitos dentro da perspectiva da
psicologia analítica.
15
UNIDADE I │ OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Ou seja, para Hark (2000), a consciência pode ser comparada a um órgão perceptivo
que registra e analisa as várias interações com o meio, assimilando imagens e símbolos
do Sistema Inconsciente, usando as palavras e os conceitos para classificá-los.
Desse modo, a consciência é uma precondição para que o sujeito interaja com o meio
que o rodeia. Assim, tornando-se humano. Não poderia ser de outra forma, afinal, é por
meio da consciência que compreendemos e direcionamos nosso aprendizado, nosso
conhecimento e as percepções que nos dão apropriações da realidade.
A Consciência, então, significa a parte do sujeito conhecida por ele. E esse estar ciente
sobre si, com o tempo vai de desenvolvendo.
16
OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Figura 4.
»» Qual?
»» Como?
»» Quando?
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UNIDADE I │ OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Talvez isso já tenha ocorrido com todos nós: uma pessoa de nosso ciclo social nos
narra uma situação e questiona se percebemos, afinal estávamos no mesmo ambiente.
Contudo, nossa resposta é não. Não percebemos!
Esta não percepção é nossa parcela inconsciente que para nosso amigo, se torna
totalmente clara, óbvia e consciente.
Deste modo, podemos deduzir que por mais que tais conteúdos não apresentem
relação direta com a consciência, podem ainda assim interferir na consciência
causando distúrbios psíquicos e somáticos. Ou seja, por distúrbio nos referimos a
qualquer alteração que cause um desequilíbrio no organismo. É importante observar
esta questão quando trabalhamos na perspectiva analítica (junguiana), pois não há
como inferirmos “isso é bom” e “isso é mau”. A questão é: “a serviço de que isto está?”
Por meio dessa prerrogativa não se julga o objeto de estudo, entendendo-o como algo
em estruturação. Dentro dessa visão, estar inconsciente acerca de algo não recebe
como valor o status de “bom” ou “mau”. Ao contrário, há a necessidade de analisar o
motivo da inconsciência.
Assim, para Jung (2000), a camada mais superficial do inconsciente recebe o nome de
Inconsciente Pessoal e a mais profunda de Inconsciente Coletivo.
Quadro 1.
Conteúdo Conteúdo
18
OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
Cabe aqui informarmos que a experiência individual refere-se aos conteúdos que se
relacionam a vida pessoal e de acesso mais fácil ao indivíduo. Enquanto a parte coletiva,
por sua vez, o indivíduo se assemelha a um ser genérico, não dissociado da humanidade
e onde encontramos conteúdos referentes à civilização como um todo.
Figura 5.
Esses conteúdos estão impregnados de forte potencial afetivo e sua carga energética é
insuficiente para torná-los conscientes. É possível que cheguem à consciência apenas mais
tarde, a partir do momento que sejam solicitados pela consciência – como mencionamos.
C. G. Jung
Figura 6.
Os junguianos ainda padecem de muitos pré-conceitos freudianos. Por conta desse fato
sempre que se aborda a questão do consciente e inconsciente, bem como a interpretação
dos sonhos se estabelece um parâmetro comparativo entre a visão freudiana e junguiana.
Até por haver uma fala recorrente de Jung sobre a separação com Freud.
E a maneira como Jung interpreta sonhos é mais complexa do que para Freud. Até porque
para Freud o sonho era uma fachada, uma enganação, era algo que escondia. Para Jung
não! Ele realmente tinha interesse em interpretar aquelas imagens que apareciam e da
maneira como apareciam.
Extremamente relevante.
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OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
A primeira questão para a qual Jung chama atenção no livro Seminários sobre
Sonhos de Crianças (2011), é que o analista deve levar em consideração uma série de
características do próprio paciente. Por exemplo, uma das primeiras situações para que
ele chama atenção: a idade do paciente.
Nosso paciente é um jovem ou alguém que já passou dos 40 anos. Se já passou dos 40
anos, encontra-se na fase que ele denominou como segunda metade da vida.
Em seu livro mencionado anteriormente, ele afirma que aquilo que era importante na
primeira metade da vida é perfeitamente negligenciado na segunda metade da vida.
Então, Jung questiona: quando estiver analisando os sonhos de seu paciente é preciso
primeiro que o terapeuta se pergunte se o atendido já tem algum grau de adaptação
social. Os jovens, em geral, não são adaptados; pois são jovens, têm pouca idade.
Entretanto, nem sempre a juventude é responsável pela inadaptação, existe uma série de
fatores como falta de oportunidade, certa incapacidade, falta de apoio, questões cognitivas.
Com relação a pessoas adultas, se elas não possuem um grau mínimo de adaptação
social, Jung as chamará de “psicologia do nômade na terra de ninguém”. Pois é esperado
minimamente que ao chegar aos 40 anos a pessoa tenha raízes. Ou seja, esta pessoa
se teria se firmado, tendo um emprego. Basicamente, um indivíduo que não esteja à
deriva, que não viva uma vida temporária.
Desta forma, que Jung definia a pluralidade psicologicamente como você viver à deriva,
em uma vida temporária, ou seja, não ter raízes estabelecidas a essa altura da existência.
Então vai ser completamente diferente a maneira como você vai interpretar o sonho a
partir disso que você vai perceber em seu paciente. Pois para alguém inadaptado ou
cronicamente inadaptado ou alguém muito jovem os germes da fantasia que aparecem
nos sonhos podem ser um veneno. Em virtude do fato de serem inadaptados, não
ajustados em sociedade, eles podem acabar vivendo a fantasia ao invés da realidade.
E a missão, digamos assim – lembrando que estamos abordando em termos gerais, e tudo
isso varia em termos individuais, lembrando que a postura de Jung é fenomenológica
– na primeira metade da vida é conquistar o mundo, a expansão do Eu, é ser capaz de
21
UNIDADE I │ OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
conseguir uma posição, constituir uma família, trabalho, algum grau de solidez que vai
lhe permitir existir minimamente em sociedade sem grandes conflitos.
Se você abre as portas do simbolismo do sonho para alguém que não tem isso. Isso pode se
constituir em um veneno. Ao mesmo tempo, alguém que já está tão adaptado a sociedade
ao ponto de estar petrificado e prisioneiro dessa adaptação, os germes da fantasia devem
ser vistos como algo extremamente precioso, porque são justamente as possibilidades dos
germes no futuro desenvolvimento de uma nova possibilidade de vida.
Figura 7.
Então, podemos ver sob essa perspectiva que ele pode ser como pharmakon (φάρμακο)
em grego que significa fármaco, ele pode ser tanto o veneno quanto o remédio – uma
panaceia (o que se emprega para remediar dificuldades). A interpretação vai variar de
acordo com a maneira como encaramos esses aspectos lembrando que em seu livro
A Prática da Psicoterapia (2017), Jung aponta que teremos dois grupos de pacientes:
de um lado os individualistas de parca adaptação social, cuja perspectiva de cura da
neurose é algum grau de adaptação; enquanto existe outro grupo que é constituído
por pessoas que já se adaptaram, mas que tem uma parca individualidade, precisando
desenvolver esse aspecto.
Lembrando que Jung considerava que a psicologia deve assumir as duas perspectivas:
tanto de Freud quanto de Adler. Levando isso em consideração, temos o que Jung
22
OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE I
chama de regras operacionais. Embora o próprio Jung defina que em psicoterapia não
há regras e que mesmo isso, não é uma regra. Ele utilizou o termo “regras”.
Dito isto, as regras operacionais são importantes e devemos tê-las em mente sempre
que nos aproximamos de um sonho.
Exemplificando:
O que você poderia resumir na hermenêutica pela regra da caridade. Ou seja, eu acredito
que por mais que eu não compreenda aquelas imagens oníricas estão me dizendo, elas
têm um sentido e um significado. Jung comparava esse “movimento” com você se
aproximar de um texto em grego. Só que você não fala grego. Então, não há como você
dizer que o texto não significa nada. Se não fala grego, como pode ter algum julgamento
sobre o que não compreende? Do momento em que você fala grego o texto se torna
perfeitamente inteligível.
Embora nunca encontrem a frase a seguir na bibliografia de Jung, nas obras biográficas
há a menção de que o próprio teria dito que não existem sonhos idiotas, apenas pessoas
idiotas que não sabem interpretá-los.
Deste modo, é preciso termos em mente que: por mais estranho que pareça um material
onírico, ele possui um significado.
Outro ponto importante é saber que aquele sonho vai acrescentar algo de fundamental
à consciência do paciente. Isso é um grande interesse na interpretação dos sonhos.
Lembrando que Jung tinha a hipótese de um inconsciente psíquico. E que esse inconsciente
estabelecia com a consciência uma relação de compensação e complementariedade,
essa é a hipótese fundamental.
Uma das maneiras mais sucintas e interessantes que Jung utilizou para definir neurose
é que você tem duas tendências em oposição, sendo que uma delas é inconsciente.
Então há uma tendência inconsciente que está em oposição aberta a consciência. Isso
leva a paralização, estagnação, há uma impossibilidade para o sujeito seguir a diante.
Surge, então, uma tendência regressiva. E é preciso saber que a neurose é uma tentativa
23
UNIDADE I │ OS CONCEITOS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
de cura. E é fundamental que compreendamos que a consciência já fez tudo o que podia
fazer e fracassou. Houve um colapso da função adaptativa consciente.
Então, nesse ponto percebemos que neurose propõe sua própria terapia. Quem propõe
a terapia não é o terapeuta, quem propõe a terapia é a própria neurose. Por isso, Jung
falava da irracionalização de todos os objetivos em análise.
Levado em consideração que por mais que não se compreenda um sonho, ele deve ter
um significado, que esse significado deve acrescentar algo de fundamental a consciência
do paciente. Temos que levar em consideração, também, que tudo aquilo que pensamos
saber sobre o paciente é um preconceito ou uma projeção. Por conta disso eu preciso
permitir que ele exponha da maneira mais livre possível todo o seu material e preciso
observar isso da maneira menos preconcebida possível.
Figura 8.
É claro que C. G. Jung não propõe uma saída mágica e fantasiosa a essa demanda da
parte do próprio terapeuta. Ao contrário, é imprescindível que o profissional tenha
passado por uma análise do inconsciente. Pois, todo o material que for inconsciente para
o terapeuta e para o paciente resultará em um obstáculo ao processo de interpretação.
Para Jung o sonho não está escondendo nada. O sonho é a sua própria interpretação.
Que ela ajude o paciente a sair do estado de estagnação. Esse é o único critério.
Qualquer outra possibilidade é ociosa. Então, enquanto terapeutas não podemos
ter uma atitude de poder. Pois não vamos impor nossa interpretação ao paciente.
A interpretação é construída em conjunto. Mas, se torna necessário que essa interpretação
tenha a aceitação do paciente. De modo que, como a interpretação é um processo de
construção conjunto na relação terapeuta/paciente – em algum momento essa vivência
irá acrescentar algo de fundamental à consciência do paciente.
Figura 9.
Lembrando que uma pessoa problemática sofre, mas com o conhecimento do porquê
sofre. Uma pessoa neurótica, por sua vez, sofre; entretanto desconhece os motivos do
seu sofrimento. Os motivos e as razões do sofrimento são inconscientes, por isso a
neurose é nomeada por Boechat (2008), como um lobo. Ela não permite que o indivíduo
se confronte moralmente com o sofrimento, somente quando você se torna consciente.
Assim, surge o problema, pois só há problema na consciência. Então, se depara com
neurose e psicose.
26
ESTRUTURA DA PSIQUE UNIDADE II
O objetivo da individuação é nada menos que despir o self dos falsos invólucros
da persona, por um lado, e do poder sugestivo de imagens primordiais, pelo
outro.
C.G.Jung
Figura 10.
Para Jung (2008), a personalidade é como uma estrutura contemplada pela psique.
Deste modo, ele faz uma distinção fundamental:
27
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
Figura 11.
Podemos ir mais além e pontuar que, dentro deste ponto de vista, existe a possibilidade
de encontrarmos na mesma pessoa, mesma psique, inúmeras personalidades que ao se
desestruturarem provocam reações patológicas.
Ao afirmar que a psique engloba todas as partes e conteúdos individuais, bem como
regula e adapta tais processos, Jung (1986), trabalha com a ideia de que o indivíduo é,
a princípio, um todo indiferenciado.
Cabe, portanto, ao indivíduo – sob tal perspectiva – desenvolver esse todo e se aproximar
do alto grau de harmonia, coerência e diferenciação consigo. Ou seja, o processo de
individuação.
28
CAPÍTULO 1
Tipos psicológicos
Tudo o que nos irrita nos outros pode levar-nos a um entendimento de nós
mesmos.
C.G. Jung
»» Judicativos: sentimentos.
»» Racionais: pensamentos.
29
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
Figura 12.
Jung (2009), aborda em A Natureza da Psique que a filosofia são fibras de contato
intelectual movidas para frente e para trás movidas em milhares de anos.
De acordo com Boechat (2008), Jung define que a forma como Russel apresenta a
introversão mostra uma similaridade com a agorafobia. Ou seja, se abandonam os objetos
do mundo que se apresentam como algo terrivelmente assustador e se voltam para o
próprio Eu. Elevar o Eu para além dos objetos. Enquanto, a extroversão é o oposto.
Os conteúdos inconscientes têm uma energia que é assustadora. Eles têm um aspecto
aterrador. E o indivíduo vai sentir e viver nos objetos. O sujeito vai empaticamente
engolir os objetos de vida.
30
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
e demais aspectos dos racionalistas – como Descartes, Russel, entre outros. Que é o
oposto o racionalismo e o temperamento empírico.
Ao fornecer uma série de conceitos, estamos dando as “chaves do castelo” que permite
uma compreensão melhor, mais rápida, mais apurada.
Deste modo, este capítulo destina-se a dar as chaves do castelo para que possam ser
compreendidos os tipos psicológicos.
Figura 13.
E, principalmente, para que não servem! Pois, em geral, fala-se acerca dos tipos para
dizer para que eles não servem.
Vamos focar nos tipos funcionais: introversão e extroversão. Os quais são chocantemente
empíricos. A princípio pode causar certa estranheza, mas aos poucos essa questão vai
sendo assimilada dentro do manejo da psicologia analítica e passa a ser algo útil e
extremamente prático. O valor de compreensão do fenômeno é imenso.
O que é um tipo?
Jung (2009), usa tipo em mais de um sentido em sua obra. O termo tipo é utilizado
para se denominar as características gerais de um fenômeno. Essa é a primeira acepção
31
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
de título fornecida por Jung. Por exemplo, quando falamos em anima e arquétipo
falamos de tipos que se reptem nos fenômenos. Quando falamos que a anima serve
para designar um conjunto de fenômenos análogos e afins estamos falando em tipo.
Sempre que falamos em mitologema (o elemento mínimo reconhecível de um complexo
de material mítico que é continuamente revisto, reformulado e reorganizado) estamos
falando em tipo.
Figura 14.
Pode-se falar também que o tipo seria uma espécie de disposição de como a energia
psíquica vai ser trabalhada. Essa é a segunda concepção de Jung (2001), sobre o tipo.
Tipos em stricto sensu é isso. Um modelo geral de atitude. E neste momento entra uma
das “chaves do castelo” que é a noção de atitude.
No livro A Natureza da Psique de 2009, Jung deixa muito claro no capítulo sobre a
tipologia e a psicopatologia, que a tipologia não é uma caracterologia. Ou seja, ao utilizar
o termo caracterologia Jung utiliza o conceito sobre aquilo que o indivíduo é. E pronto!
32
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
Figura 15.
Mas, retomando ao exemplo, quem jogou Dungeons & Dragons, um RPG de alta
fantasia, quando escolhemos o nosso personagem temos uma tendência de você é
“aquilo”. Na hora que escolhemos nossa tendência, não podemos mais mudar, assim,
temos bom, neutro e mau. E temos caótico, neutro e justo. Assim, se escolhemos bom
e caótico, teremos esse comportamento para sempre, porque você é “assim”, é uma
caracterologia. Se escolhermos que nosso personagem vai ser bom e justo, você irá se
comportar dessa forma o tempo inteiro. Você será assim do nascimento – no contexto
do jogo – até à morte.
Para Jung (2009), quando ele fala de introversão e extroversão ele se refere a
mecanismos psíquicos que, inclusive, podem ser desligados ou podem mudar.
O exemplo utilizado em psicopatologia é o seguinte: pegue um extrovertido e coloque-o
em uma sala vazia, sem nada e escura. Onde ele possa ser “ruído” pelos complexos
dele. E então, essa pessoa vai passar a se comportar exatamente como um introvertido.
Ela vai reagir negativamente a qualquer estímulo. Por oposto, pegue um introvertido
e coloque-o em um local onde ele se sinta perfeitamente à vontade, só com pessoas
conhecidas, em pouco tempo ele vai se comportar como um extrovertido. Ou seja,
ele vai abandonar a característica da agorafobia, da introversão, e vai se comportar
perfeitamente como um extrovertido.
33
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
Figura 16.
Por quê?
34
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
Isso faz com que a consciência que é um órgão de adaptação tenha um tipo específico
de adaptação em que ela é especialista. Mas, isso ocorre devido a uma renúncia de
si mesmo e ao sacrifício. Esse sacrifício apresenta como vantagem ser uma forma
de domesticação dos instintos. Haja vista, que quanto mais forte a consciência mais
domesticados os instintos se tornam, mas ao mesmo tempo essa domesticação significa
uma separaçãodos instintos. E uma hora os instintos se revoltam contra isso. Eles têm
que se revoltar, do contrário a adaptação cessaria.
E para que serve um tipo? Ele é a maneira como nos adaptamos ao mundo.
Sabemos que um tipo é um modelo geral de atitude. E o que é uma atitude? Esse conceito
que os junguianos praticamente não falam. Ao contrário, de sombra por exemplo que é um
conceito amplamente abordado. Mas, ninguém fala de atitude – que, aliás, é fundamental.
Atitude é uma direção apriorística da libido, uma espécie de declive, uma espécie de
expectativa que atua direcionando e selecionando. Ela funciona da seguinte forma:
temos uma constelação subjetiva de complexos. Essa constelação subjetiva de complexos
possui uma série de associações entre eles (complexos). E isso faz com que a pessoa
tenha uma atitude. E como a atitude atua direcionando e selecionando, porque ela é
uma expectativa; ela vai ser a responsável pela percepção ativa. Então, o complexo do
Eu vai definir o que ele (o Eu) pode ver.
Então, vamos supor que um arquiteto entre em uma sala e a decoração seja indiferente
para ele. Entretanto, entra outro arquiteto que olha para a sala e diz que as cores não
estão adequadas ou combinando. O segundo arquiteto tem uma inclinação que a direção
apriorística da libido dele da sensação se dirige para entender o conjunto da harmonia
das cores.
Podemos ter uma pessoa próxima que não gosta de açaí. Mas, que gosta de sair
conosco. Todas as vezes que sair com essa pessoa e apontar “ali vende açaí”, pois quem
está dirigindo gosta; a pessoa ao lado vai olhar e dizer “hum”. Essa pessoa não tinha
nenhuma expectativa de encontrar açaí. Ou seja, o açaí é invisível para ela. Porque a
atitude dela não selecionava nem direcionava a libido para o açaí. Enquanto, a pessoa
que a chamou para sair tem sua expectativa voltada para encontrar algum lugar que
venda açaí, pois essa pessoa gosta muito de açaí. Assim, a expectativa de quem gosta de
açaí é grande, e por isso sua libido é selecionada e direcionada para encontrar um local
que tenha. Esse exemplo, trivial demonstra o que é uma direção apriorística da libido.
35
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
A constelação subjetiva de complexo que temos vai determinar para onde e o que vamos
ver. E isso vai de certa maneira afunilar a nossa percepção e vai especializar a nossa
percepção – isso é uma atitude.
Ter atitude é ter uma direção apriorística para determinar para onde irá nossa libido.
Precisamos desenvolver essa atitude/expectativa.
Assim como alguém que é o tipo sentimento vai conseguir perceber flutuações muito
sutis de afeto e sentimento, para os quais o tipo intelectual é “cego”. Pois é necessário
fazer esse tipo de valoração. A todo desenvolvimento de uma função significa a
renúncia de outra. Então, quando conhecemos alguém muito inteligente no sentido
intelectual, geralmente, esta pessoa será desligada, ou desatenta, no sentido sentimental.
E vice-versa. Isso não significa que a pessoa sentimental não seja inteligente, ou menos
capaz intelectualmente – não é disso que se trata. A inteligência não é uma possessão
exclusiva do intelecto.
Figura 17.
A atitude é uma direção da libido. O que significa a direção da libido do interesse? Qual
é a direção da extroversão? São os objetos. Ela se dirige para os objetos.
Qual é a direção da introversão? Ela se dirige para o sujeito psicológico. Ela se dirige
para a fantasia inconsciente.
o herbívoro faz? Como age? Ele é individualmente forte? Não. Mas, ele anda em uma
manada – zebras, por exemplo – e assim fazem frente aos leões. E o leão? Como faz?
Ele individualmente é muito forte. Então o introvertido seria como o predador,
carnívoro; e o extrovertido seria o herbívoro.
Quanto ao castelo, eles vão até lá. O extrovertido vai animado, antecipando os fatos!
Só que ao chegarem ao castelo ao invés de ter aventuras, princesas, cavalheiros etc.,
tem uma coleção de moedas. E o introvertido ama moedas e vai até as pessoas e
começa a falar sobre as moedas. E o extrovertido fica totalmente deslocado. E aqui
temos uma troca. Lembrando que para Jung (1982), a introversão funciona como um
tipo de agorafobia. O introvertido não queria ir ao castelo, pois teriam pessoas demais.
O introvertido prefere estar na companhia de poucas ou de uma pessoa, situação que
favorece o seu controle da situação. Quanto mais gente menor será o controle. E em
espaços abertos ou desconhecidos, não existe o controle da quantidade de pessoas.
Entretanto, no caso narrado há uma inversão, pois é algo do interesse dele, sua libido
será dirigida de maneira extrovertida para aquilo no caso as moedas. E o extrovertido
vai olhar a situação e ficar se lamentando. E vai se interessar mais com a própria
lamentação e os próprios conteúdos do que pelos objetos.
E podemos ter uma extroversão consciente, na qual a pessoa pode retirar a libido dos
objetos, e uma extroversão compulsória na qual não é possível retirar libido dos objetos.
Então, percebemos que desde o momento que a consciência tem um tipo – ou seja, uma
direção apriorística da libido – ela tem uma forma específica de adaptação.
37
CAPÍTULO 2
Arquétipos, complexo e símbolos
Não conseguimos mudar coisa alguma sem antes aceitá-la. A condenação não
libera, oprime.
C.G. Jung
Para falarmos sobre arquétipos precisamos nos remeter aos mitos. Afinal, foi por meio
dos estudos mitológicos e simbólicos que Jung começou a escrever sobre os arquétipos:
conteúdos que estão em nós e para além de nós.
De modo mais amplo, podemos dizer que os mitos são expressões mais humanas dos
arquétipos.
Deste modo, o arquétipo representa uma matriz primitiva de nossa psique, sendo um
conteúdo hipotético que faz parte das camadas mais profundas do ser. Os arquétipos
desse modo residem no Inconsciente Coletivo (JUNG, 2000).
O arquétipo é um dos conceitos de Jung (2000), que ele considerava correlato a noção
de inconsciente coletivo. O arquétipo não é pensado originalmente por Jung, ele é
mencionado por outros autores. Esse é um conceito que acaba sendo mal entendido –
assim como o de inconsciente coletivo – a noção de arquétipo é uma noção que acaba
gerando uma série de equívocos.
O arquétipo pode ser definido como categorias da fantasia. Essa é uma ótima definição
para começarmos.
Deste modo, o arquétipo não possui uma formação consciente, adquirindo possibilidade
de forma e de modificação a partir do contato com a consciência. É essa consciência
histórico- social que direcionará como e em que formato esse arquétipo será apreendido.
Não há como visualizarmos e apreendermos o arquétipo, a não ser quando este é
manifestado de formas consciente, ou seja, por meio “da” e “na” experiência.
38
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
Por se alocar em camadas mais profundas do ser e, por conseguinte, não estar sob
o domínio de uma linguagem e expressão da consciência Jung (2000), propõe uma
distinção entre o Arquétipo em si – algo irrepresentável, pertencente a um plano além
do humano – e a Imagem Arquetípica. Dessa forma, temos que ter claro que o primeiro
se constitui de uma estrutura inerente à psique a segunda se expressa sob as diferentes
formas de manifestação de imagens, formas e símbolos.
Jung (2000), ao falar das categorias da fantasia diz que aquilo que em mitologia
é chamado de mitologemas na religião comparada e na mitologia comparada; na
psicologia se chama de arquétipos. Por exemplo, um mitologema típico seria o da fuga
mágica, representado pelo mito do roubo do hidromel da poesia por Odin. E Odin se
transforma em animais e consegue escapar.
Figura 18.
Podemos também citar as várias lendas dos índios norte-americanos sobre a obtenção
do fogo. Como esse fogo vai sendo passado de animal para animal. Ou sobre as outras
fugas mágicas que aparecem em vários contos de fadas. Nos quais a pessoa segue
em fuga e vai jogando coisas pelo caminho que causam efeitos mágicos – como fogo,
fumaça, montanhas etc.
Então, podemos observar que nessas histórias apresentadas de forma muito sucinta,
temos uma estrutura comum. Essa estrutura comum é o que Jung (2000), compreende
como arquétipo.
39
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
Além disso, um autor que Jung aponta como sendo um antecedente histórico da noção
de arquétipo é Philipp Wilhelm Adolf Bastian. Bastian foi o primeiro polímata do
século XIX, uma pessoa cujo conhecimento não se restringe a uma só área. Era médico,
filólogo, filósofo, etnólogo, antropólogo, linguista. E como era um viajante, ele observou
a cultura de diversos povos – e assim como os Irmãos Grimm e os folcloristas do final
do século XIX – ele percebeu algo interessante, havia um legado e similaridades em
diversas histórias folclóricas, em diversas lendas, mitos, contos de fadas das mais
diferentes latitudes. E seria muito difícil imaginar simplesmente uma transmissão.
Para explicar esse fato, Bastian cunhou dois termos que ele chamava de pensamento
elementar e pensamento cultural, folclórico – em alemão, respectivamente, elementares
Denken e folkloristisches Denken. Por trás de várias histórias com colorido bem
diferente temos o mesmo pensamento elementar. Seria como pensar em um grande
mal que entre os vikings existe “o grande matador”, o “lobo Fenrir, filho de Loki” que
remete ao fim do mundo.
Figura 19.
Entre os povos da Polinésia o grande mal é representado por um tubarão. Temos assim
duas imagens bem distintas, mas que funcionalmente são idênticas e desempenham o
mesmo papel.
E podemos ver por detrás de muitas imagens, bastante diferentes entre si, essa mesma
função: animais devoradores, heróis solares, redentores que se apresentam com uma
inflexão cultural, histórica e geográfica diferente. Mas, que a estrutura da história e a
função são extremamente similares. Isso é bastante interessante, pois Jung (2000),
compara a noção de arquétipo a classificação botânica. Nesse sentido, o arquétipo é
uma hipótese de grande valor holístico que nos ajuda a compreender as semelhanças
entre as diversas maneiras como a fantasia se manifesta. No caso do Bastian, ele falava
40
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
Além disso, algo importante para se perceber acerca do arquétipo na visão de Jung (2000),
é a sua afirmação de que os arquétipos eram as formas da percepção. Nós temos uma
maneira tipicamente humana de perceber as coisas. E a estrutura dessa maneira “como
nós percebemos as coisas” é justamente aquilo que Jung chama de arquétipo. Ele é uma
disposição para perceber as coisas e para produzir fantasias que é tipicamente humano.
Nesse sentido é importante salientar que o arquétipo não é uma ideia herdada ou uma
imagem herdada, apesar de Jung utilizar o termo imagem primordial – em alemão
ursprüngliches Bild. Jung afirma textualmente que não são imagens herdadas, mas a
disposição para produzir determinadas imagens ou fantasias que vão apresentar uma
estrutura similar. Essa similaridade é que vai levar a posteriori a hipótese da existência
do arquétipo.
Jung (2000), aponta que o arquétipo é uma estrutura formal e vazia em si. O conteúdo
do arquétipo será sempre advindo da experiência. Por isso que nos exemplos fornecidos
anteriormente sobre o mal em diversas culturas – será um lobo, um tubarão, uma
aranha, teremos essas diferenças a depender da latitude, das eras. Mas, teremos uma
estrutura que vai ser constante e que essa estrutura vai dar conta de que estamos
falando da alma. Fundamentalmente, uma das definições interessantes que Jung
(1985), fornece de mitologia é a essência da alma projetada. Fundamentalmente toda
mitologia é uma projeção do Inconsciente Coletivo daí provém o interesse da psicologia
em estudar religião comparada e mitologia porque funciona como uma espécie de
anatomia comparada da alma. Pois teremos certas invariantes, o que não quer dizer
que sejam as mesmas histórias, porque as histórias não se modificam. Que não haja
41
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
uma diferença com o passar do tempo com relação a essas produções da fantasia de
acordo com a história.
O arquétipo nunca se esgota, pois sempre vai haver algo mais. Sua potencialidade
inata é fonte para outras significações, imagens, simbolizações. Esses conteúdos são as
formas mais primitivas e universais que caracterizam a vida.
Figura 20.
Complexo
Uma das maneiras como Jung chamava sua teoria era de Psicologia Complexa.
É uma das teorizações que está presente desde o começo, desde o teste de associação
de palavras e é um dos conceitos de Jung que mais traz a psicologia para a vida do dia a
42
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
dia. Que mais mostra o viés prático e é uma das mais difíceis para as pessoas aceitarem.
Estranhamente. Porque ao falar de complexo estamos desafiando frontalmente uma
ideia que é muito arraigada, é aquilo que em Filosofia é chamado de um “eu transparente
assim mesmo”. Que nós somos unos, indivisíveis, que nossa personalidade é uma
coisa monolítica.
Mas, como já disse Freud “não somos senhores em nossa própria casa”. E há uma
divisão.
Então, o Inconsciente é:
»» é autônomo;
»» é objetivo;
O Inconsciente não sou Eu, não é um pedaço de mim (esse talvez seja o ponto mais
complexo para ser aceito).
43
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
Podemos dizer que o complexo é apenas um conjunto de ideias e que esse conjunto não
apresenta uma realidade boa ou ruim. Ele é apenas um conjunto de conteúdos.
É como se o Eu fosse tomado pela força de determinado Complexo. Desse fato provém
o esquecimento, os lapsos e as atitudes estranhas à personalidade do indivíduo.
Esses automatismos inconscientes dão conta de algo que também é difícil ser digerido:
o fato de que é normal e natural a possibilidade da psique cindir-se. Ou seja, de que a
psique não é um todo, ao contrário ela é quebrada em vários pedaços.
Figura 21.
E mesmo o Complexo do Eu que é aquele que nós identificamos com o afeto do corpo
– quero mexer minha mão, eu mexo minha mão; quero mexer meu pé, mexo meu pé –
que identificamos em nós mesmos é altamente composta e variável. Em um momento
lembramos o nome de uma pessoa e no seguinte esquecemos. Alguém nos diz um
telefone que escutamos, mas sem prestar muita atenção, pensamos que sabemos;
mas quando vamos ligar não lembramos. Ou seja, estava no campo da consciência e
depois desaparece.
Ou algo mais dramático, a pessoa estuda para um concurso, muito concorrido e com
poucas vagas, mas precisamente 20 em todo o país. Ou seja, algo importante, com muitas
44
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
questões pessoais e financeiras envolvidas e isso gera uma tensão psíquica muito grande
e todo o conteúdo que foi estudado à exaustão e que era conhecido – simplesmente
desaparece na hora de realizar a prova. Esse conteúdo pertencia ao Eu (consciência),
estava associado ao Complexo do Eu – ser consciente para Jung é estar associado ao
Complexo do Eu – e de repente ele desaparece. Não está mais lá! Ao término da prova
ele aparece e já não adianta mais. A pessoa não passou. Essa característica de cindir-se
é o que dá conta, justamente, da existência de Complexo.
O Complexo para Jung tem nome e sobrenome. Ele o chamava de complexo ideoafetivo.
Uma definição sucinta que Jung (2009), fornece sobre o Complexo é uma imagem de
uma situação psíquica de forte carga emocional. Para Jung emoção é sinônimo de afeto
e é diferente do sentimento.
Figura 22.
45
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
De acordo com Jung (1990), o Complexo não se apresenta de todo como algo ruim.
Se pensarmos que são esses conflitos com as realidades que promovem o desenvolvimento
da personalidade, veremos que o Complexo auxilia o enfrentamento e o fortalecimento
do Eu por meio desses choques.
Ainda segundo Jung (1990), o Complexo aparece apenas como algo a ser olhado
e analisado pelo Eu consciente. E esse olhar se refere ao processo de assimilação
da energia do Complexo pelo eu. Assim, através da resolução de um Complexo
(conflito) o Eu toma para si a energia dispensada na resolução desse conflito e se
desenvolve.
Assim, para Jung (1985), há uma parte do processo que requer entendimento desse
conflito, porém também clama por uma reação emocional. É um conjunto composto
pela psique e o corpo que juntos reagem na solução dessa questão.
Percebam como essa questão é complexa. A maioria das pessoas tem uma certeza
baseada em nada – em um preconceito, na verdade – de que elas são totalidade de
seu próprio psiquismo. E não são! Uma das coisas mais banais pode demonstrar o
contrário. Exemplificando: imagine que você está conversando no WhatsApp com seu
crush (termo em inglês para definir alguém por quem se tem uma queda, um interesse).
O sinal do WhatsApp fica azul – o que significa que a mensagem foi visualizada – e
ele não responde e nos próximos intermináveis cinco minutos você é tomado por uma
série de pensamentos. Que naquele momento você não se dá conta de que não os está
controlando, afinal os pensamentos estão ocorrendo em uma sucessão muito rápida.
E esses pensamentos lhe dizem que ele está conversando com outra pessoa, que não
gosta mais de você, que nunca vão sair, que vai te deixar no vácuo e uma série de outros
pensamentos negativos. Passados esses cinco minutos, a pessoa responde e diz que
estava no banheiro.
46
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
Figura 23.
Quando as pessoas se predispõem ao estudo sabem que será algo trabalhoso. Enfim, exige
um cronograma, esforço intelectual, disciplina etc. Há esforço, foco e intencionalidade.
Entretanto, todos esses pensamentos que invadem a mente de alguém durante o tempo
em que o crush não responde – é absolutamente instantâneo e automático. E mais ele
não traz cansaço. Já o pensamento dirigido tem um gasto de energia. Enquanto, esse
pensamento obsessivo – que você não consegue controlar – acontece o tempo inteiro,
de modo que não irá ocasionar cansaço e não corresponde a sua vontade. Por que a sua
vontade é que seu crush goste de você. E o pensamento obsessivo está dizendo o oposto.
Esse exemplo é muito esclarecedor, pois ocorre a todo o momento. Conosco terapeutas,
com nossos pacientes. Enfim, com os seres humanos, em diversas situações e ocupações.
Retornando ao Complexo Ideoafetivo. Outra questão que ocorre com este complexo
são essas ideias e pensamentos obsessivos, o principal elemento é que essas ideias e
pensamentos não foram pensados pelo indivíduo. Eles lhe aconteceram.
Vamos supor que uma pessoa se encontre em uma situação difícil e tenta se acalmar e
começa a buscar pensamentos felizes e positivos, e de repente no meio dessa situação
de muita tensão começam a vir aqueles pensamentos – e isso acontece com todo mundo
– que só pioram a situação, tais como “vai dar tudo errado”, “não vai dar certo”, “vai
acontecer alguma coisa” e toda essa carga de negatividade e pessimismo que ocorre
com as pessoas.
Conscientemente, todos querem que as coisas funcionem bem, mas parece haver
uma tendência que é oposta nesse consciente. E isso funciona exatamente como a
47
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
Figura 24.
Ou seja, uma tendência consciente e uma tendência que lhe aparece. E esse é um fenômeno
semiconsciente, porque a pessoa está consciente sob tendência. Mas, essa tendência
não é um arbítrio, não é sua vontade. Ela é um dado objetivo, um dado autônomo e é
um dado compulsivo. É algo que lhe ocorre, não é algo que você tenha produzido com
sua vontade. Ao contrário, essa outra tendência ela parece se opor a aquilo que é a sua
vontade. Ela interfere ativamente na sua vontade. Ela é exatamente como o diabinho
que aparece e lhe diz “faça isso” e gera toda essa tensão – que nem sempre é contraposto
pelo anjinho. E isso funciona, exatamente, como uma personalidade parcial.
Existe uma série de outros exemplos que podem ser elencados da vida mais cotidiana,
mais comezinha, mais ordinária para se perceber que quando Jung (2009), fala de
complexo a despeito de parecer uma demonologia primitiva. Isso é exatamente como
se comporta o Inconsciente do homem civilizado. E que algumas vezes as pessoas se
incomodam com o uso que Jung (1986), faz do termo primitivo e veem nisso algo com
preconceito eurocêntrico, mas ele afirma que o homem civilizado está só a um passo de
retornar a essa psicologia que caracteriza a psicologia primitiva. Ou seja, é só uma fina
patina de consciência que recobre uma vasta extensão inconsciente. E que facilmente
pode vir à tona novamente, basta elevar-se a temperatura dos afetos para que a
racionalidade suma. Jung (2008), diz que a racionalidade não é um dom inalienável
das pessoas. Basta observar o que acontece quando as pessoas bebem, basta ver o que
acontece quando as pessoas têm raiva. Como rapidamente aparece uma tendência que,
em geral, tem caráter de oposição ou compensação aquilo que é a atitude rotineira.
A própria linguagem tem expressões que dão conta desse aspecto objetivo dos complexos.
Por exemplo quando alguém diz “que bicho te mordeu?”. Veja que a linguagem dá conta
48
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
de algo objetivo: aqui está você e aqui está o bicho e ele te morde. E a mordida gera um
efeito sobre você: de susto, de raiva, de uma alteração do seu comportamento.
49
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
e entra em campos conflituosos. Podemos dizer que ele perde o controle sobre si e se
torna possuído pelo complexo. Disso decorre uma explosão emocional.
Símbolo
Uma das definições que Jung (2009), fornece sobre símbolo, retiramos do Tipos
Psicológicos em que ele diz que o símbolo representa o indizível de maneira esperável.
Essa formulação dá conta justamente de que o símbolo representa um fator essencial
da mente inconsciente. Mas, não apenas isso. O símbolo é um fator altamente complexo
que não é de natureza nem racional, nem irracional – logo ele implica que além da
formação do Inconsciente ele vai formular as duas coisas ao mesmo tempo. Ou seja, a
união de aspectos tanto conscientes quanto inconscientes.
50
ESTRUTURA DA PSIQUE │ UNIDADE II
Figura 25.
Esse fator altamente complexo também, é representado pelo termo função transcendente.
E essa função transcendente dá conta de que o símbolo possui uma dupla natureza –
tanto racional, quanto irracional. E ele formula algo apenas obscuramente pressentido.
Esse conceito é importante, pois traz um aspecto tanto ético, quanto prático que muitas
vezes fica esquecido quando se trata do conceito. Em um primeiro momento o aspecto
prático é que quando falamos de símbolo e de interpretação simbólica ela será bastante
diferente de uma interpretação redutiva. O símbolo tem relação com o aspecto sintético,
com a chamada interpretação hermenêutica ou interpretação anagógica.
Quando se faz uma análise redutiva no paciente similar ao que era feita por Freud e por
Adler, teremos uma série de imagens que vão ser menos simbólicas e mais alegóricas.
A grande variedade de imagens, que aparecem na interpretação onírica, vai sempre
remontar de maneira redutiva ao um aspecto instintivo elementar. No caso de Freud, a
sexualidade. No caso de Adler, é o princípio de poder.
Nesse sentido quando nós, terapeutas, pensamos no símbolo – ele nos dá uma indicação
que aponta para o futuro. No caso do símbolo individual esse aspecto altamente
complexo da função transcendente a consecução de uma nova atitude da personalidade,
51
UNIDADE II │ ESTRUTURA DA PSIQUE
52
PSICOPATOLOGIA E UNIDADE III
PSICOLOGIA ANALÍTICA
Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não
existe uma receita para a vida que sirva para todos.
C. G. Jung
53
CAPÍTULO 1
O processo psicopatológico
Aquilo que na vida tem sentido, mesmo sendo qualquer coisa de mínimo, prima
sobre algo de grande, porém isento de sentido.
C. G. Jung
Figura 26.
paralisar o campo de ação da pessoa, ao considerá-la como agente passivo e dar foco
à doença, prejudicando elaborações de trabalhos que considerem as necessidades
específicas do indivíduo.
O objetivo da ciência deu ênfase e foco, restrito e limitado, ao estudo dos fenômenos
anormais da mente e, consequentemente, sistematizou fenômenos do psiquismo humano.
O termo psicopatologia volta-se ao significado de um discurso representativo a respeito
do sofrimento psíquico, algo que vai de encontro ao seu objetivo: estudar e descrever os
estados psíquicos com conteúdos de desvios e que geram sofrimento mental.
55
UNIDADE III │ PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA
entre as inúmeras áreas que trabalham nesse contexto, que é o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana, atualmente
em sua quinta revisão.
Dessa maneira, de modo mais complexo, pode-se discutir o conceito inerente ao “olhar
psicologizante” enquanto um processo de apontar que os comportamentos humanos
podem ser compreendidos pela ciência da psicologia em sua totalidade. Na condição
de existir uma análise de algo diferente em um indivíduo, ou seja, que foge dos padrões
denunciados como normais, o mesmo merece e necessita de ajuda dos profissionais que
atuam nessa área. Contudo, destaca-se que a definição e relação entre saúde/doença,
normal/anormal e funcional/disfuncional têm como base uma cultura, compartilhando
uma mesma realidade coletiva, ou seja, uma mesma constituição interna socialmente
(FOUCAULT, 2005).
De acordo com Jung (1990), essas interferências são processos naturais não aceitos
pelo Eu, mas que devem ser incorporados a fim de que a personalidade siga seu
desenvolvimento no processo de individuação.
56
PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE III
É como se as psicopatologias fossem sinais de que algo está em desacordo com o processo
natural. Com esta ideia, o problema não precisa necessariamente ser corrigido, mas sim
compreendido.
Figura 27.
57
UNIDADE III │ PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA
Atualmente ainda enfrentamos o estigma da saúde mental. Esta não é vista como
doença, pois não é algo que pode ser visto, concreto. No caso das crianças a situação
fica ainda mais complicada, pois elas são taxadas de desobedientes, inquietas e outros
termos pejorativos que dizem do mal comportamento delas. Contudo, uma parcela
dessas crianças pode estar sofrendo de algum transtorno mental que ainda não foi
diagnosticado, e em alguns casos passam a vida inteira sem uma resposta para tantas
perguntas. Assim, seguem por todas as fases do ciclo de vida sem entender a si mesmo
e o mundo que as rodeia, e a cada nova fase vão surgindo novos conflitos e desafios que
nem sempre são resolvidos.
Deste modo, a doença, ou o sintoma, é apenas parte de uma complexa trama que
engloba uma pessoa em um determinado contexto, sendo detalhada, muitas vezes,
por teorias explicativas que, em última análise, consideram nada mais que recortes
da realidade para desenvolver generalizações frente a um universo de possibilidades
e singularidades (CARVALHO; CUNHA, 2006). Por isso, visualizar o processo de
adoecimento enquanto uma expressão de plurideterminação, na qual se combinam
fatores genéticos, sociais, psicológicos e culturais de forma simultânea e recursiva, ou
seja, seu curso nunca é decidido de forma unilateral por um desses aspectos, valoriza
e reafirma a pessoa ressaltando sua singularidade e seu papel enquanto sujeito de
seus próprios processos, impedindo a visualização do indivíduo enquanto vítima e
reflexo de seus sintomas, o que por sua vez também impossibilita a visão dela como
incapaz, estática e com necessidade de conserto, tendo-se como pano de fundo
categorias baseadas em padrões generalistas e reducionistas (MORI; GONZÁLEZ
REY, 2012).
58
PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE III
Figura 28.
Jung (1990), nos chama a atenção para vermos além de sintomas. Não o aparente, mas
o oculto. Nesta perspectiva, cada sintoma tem algo a dizer do indivíduo. Nas palavras
de Jung: “que objetivo o paciente tentou alcançar com a criação de seu sistema de
sintomas” (JUNG, 1990, p. 168).
Assim, para o autor, a busca pelo entendimento do sintoma deve ser achada na
subjetividade do indivíduo. E desse movimento advém o fato de que alguns sintomas
encontram referência nos mais diversos teóricos, outros em crenças primitivas, outros
simplesmente aparecem por meio de desejos. Isso tudo quer dizer que o sintoma
terá suas raízes em situações, desejos, ideias e características próprias do indivíduo.
Apesar de um diagnóstico geral, útil para a convenção das patologias, cada indivíduo
elencará características únicas que o remetem a uma sintomatologia própria.
Segundo Jung (1970), nas pessoas normais, o inconsciente tem a função de estabelecer
uma compensação e um equilíbrio com a consciência, atenuando e suavizando as
tendências extremistas desta. Não raras vezes, esse processo de equilíbrio vem por meio
de posturas inadequadas ou insensatas que são representações de interesses pulsionais,
intelectuais e anímicos. Essas são ações sintomáticas que nos mostram os sintomas de
cada indivíduo. Por outro lado, como são conteúdos e formas vindas do inconsciente se
mostram de modo simbólico e em uma linguagem primitiva – pois o inconsciente não
tem contato com a realidade externa e, portanto, se utiliza de uma linguagem própria.
O que ocorre nestas situações é uma liberação intensa dos conteúdos inconscientes na
consciência – perturbando o equilíbrio e o contato do sujeito com a realidade externa.
Como podemos ver, Jung dá as doenças mentais um caráter psicogênico. Entretanto, ele
não ignora o fato de que alterações fisiológicas podem gerar ou agravar esses processos.
Ele apenas não aprofunda este caminho.
59
UNIDADE III │ PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA
Figura 29.
Neste sentido, na neurose, por exemplo, ocorreria uma perda parcial do controle do
Ego e nas psicoses uma perda total desde controle. Atualizando este conhecimento,
inferimos que na diferença existente entre os transtornos é averiguada por meio da
observação com controle do Eu sobre as atividades da psique.
Por esses caminhos, Gimenez (1994), aponta que a consciência corporal é apenas a
percepção de uma parte do corpo total, do self corpóreo e, assim, conhecemos apenas
uma parte dele e não a sua totalidade. Essa parte conhecida do corpo vem à consciência
sob a forma dos símbolos, e o desenvolvimento do Eu.
A construção da psicopatologia, para Jung (1990), vai muito além do conceito de uma
doença mental, ou o que é a experiência do sofrimento. A demarcação das fronteiras
entre normalidade, diferença e a psicopatologia.
60
PSICOPATOLOGIA E PSICOLOGIA ANALÍTICA │ UNIDADE III
patologia é um exercício constante que roda a sociedade, desde que se constituiu esse
campo específico da psicopatologia – há cerca de 200 anos. Ou seja, tem pouco tempo.
Hoje, somos cada vez mais instados a exercer a autonomia, a refletir sobre o que é certo
e o que é errado, a assinar embaixo de todos os valores – eles só prestam se a gente
concorda – ou seja, somos cotidianamente levados a pensar quais são as referências
que devem nos nortear.
Nós vivemos na ilusão de que somos mais autônomos do que nunca. Por quê? Por que
não precisamos mais prestar referências a qualquer autoridade. A autoridade é discutível.
Hoje tudo é matéria de escolha pessoal. Até a anatomia aceitamos que seja matéria de
escolha pessoal. As relações de identidade, de pertencimento são todas friáveis.
O modelo ideal que temos hoje é de uma pessoa que olha nos olhos, que encosta nas pessoas,
autônomo que não depende de ninguém, uma pessoa que é capaz de ser flexível – pois a
nossa sociedade – exige isso de todos nós. O mundo em que a flexibilidade e a pluralidade
de relações ela é tomada como sendo um traço da vida cotidiana. E isso começa a se
transformar em um critério de normalidade, enquanto que as pessoas que são mais ligadas
a outros valores facilmente são colocadas como sendo não normais, atípicas e patológicos.
Então, essa fronteira entre a normalidade e a psicopatologia é hoje, talvez, uma das
áreas mais fascinantes do conhecimento. Pois ela envolve a todos nós. O caso das
pessoas com autismo é um exemplo, mas há outros.
Viver a vida plena é deixar-se fluir diante de cada acontecimento, tendo a capacidade
de se manter presente no momento atual. Indo mais além, considerando que o “eu”
e a personalidade são desenvolvidos pelas experiências, torna-se importante abrir-se
totalmente para as possibilidades que surgem em cada contexto, tendo em vista que
essa postura de abertura é capaz de permitir que tais possibilidades construam o “eu”.
Assim, levantam-se possibilidades para o desenvolvimento e a organização do “eu”
fluido, mutante e harmonioso, processo que Jung explica ser de suma relevância para
a vida do indivíduo.
61
PSICOPATOLOGIA UNIDADE IV
SIMBÓLICA
C.G. Jung
Discutir sobre sintoma e fenômeno exige pensar em uma relação que envolve uma
determinada experiência, que é ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, algo que ultrapassa
o modelo dualista de saúde/doença e paciente/sintoma. Dessa forma, uma pessoa que é
acometida por uma gripe ao tossir poderia determinar um primeiro vestígio do que está
ocorrendo com ela, mas o sintoma por si só se torna insuficiente para circunscrever a
totalidade de sua experiência. Nesse ponto, o fenômeno assume a forma de ser própria
do sujeito ao adoecer, de modo que prioriza e enfatiza as experiências pré-teóricas e
pré-reflexivas do mundo vivenciado por cada indivíduo, nesse processo.
Figura 30.
62
CAPÍTULO 1
A intenção terapêutica
C. G. Jung
Desta maneira, a psicopatologia que perpassa o sintoma, para lançar luz em direção ao
fenômeno, possibilita a consideração dos aspectos que constituem a experiência global
de adoecimento, tomando-se por base a relação do sujeito consigo mesmo, com os
outros e com o mundo. Desse modo, pode-se dizer que analisar fenomenologicamente
as psicopatologias envolve enxergar a doença, mas principalmente a forma como o
sujeito vivencia esse processo, ou seja, sublinhar a relação de mútua constituição
entre ambos.
63
UNIDADE IV │ PSICOPATOLOGIA SIMBÓLICA
Na prática psicológica observamos por meio das palavras nas quais o indivíduo expressa
sua afetividade e, nestes casos, a afetividade até então represada pelo Complexo.
A palavra represada ilustra bem o momento, pois é como se o Complexo represasse uma
quantidade de energia, prendesse, a fim der continuar cada vez mais carregado, cheio,
e a sua resolução promovesse o fluxo dessa energia que ficaria à disposição do Ego.
Figura 31.
De acordo com Neumann (1995), a história só se inicia com um sujeito capaz de fazer
experiências, ou seja, quando o Ego e a consciência já existem.
Em seu livro A criança (1991), Neumann relata que nos primeiros meses de vida o
ego se forma ou começa a se desenvolver. Nesta época, o núcleo do ego encontra-se
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PSICOPATOLOGIA SIMBÓLICA │ UNIDADE IV
A psicoterapia é algo que existe desde que o primeiro ser humano experimentou algo
desconfortante. Uma angústia. Um sentimento existencial de que precisava encontrar
sentido e significado para o seu ser no mundo.
Vejamos, então como podemos, de forma prática reconhecer o momento em que nos
depararmos com um Complexo. Esta ação se tornará mais compreensiva se levarmos
em consideração que o Complexo é bastante carregado emocionalmente. Ou seja, sua
presença pode ser detectada por meio da intensidade da alteração emocional da pessoa.
Temos – como terapeutas – que ter claro que o Eu deve ser capaz de minimizar as
alterações de complexo a fim de que nosso paciente tenha capacidade para se adaptar e
sobreviver em sociedade.
O que é muito importante compreender que esse é um dos grandes méritos de Jung, foi
perceber que o sofrimento psíquico é sempre algo que está inundado de potencialidades
de desenvolvimento.
Nós sofremos não por causa do trauma, ou dos nossos traumas; porque todo ser humano
é traumatizado. O próprio nascimento é visto como uma experiência traumática.
Vide o famoso livro de Otto Rank chamado Trauma do Nascimento. Então, nascer é
um trauma.
De acordo com Jung (1990), podemos verificar um complexo e identificar seu valor
energético por meio de observações, pelos seus indicadores e pela sua intensidade
emocional.
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UNIDADE IV │ PSICOPATOLOGIA SIMBÓLICA
De acordo com a teoria junguiana, deve-se sempre buscar a posição oposta quando a
atitude consciente se mostrar unilateral e inflexível. Nesse ponto, buscam-se as reais
intenções do indivíduo e, consequentemente, o complexo que está mais atuante na vida
desse paciente.
Devemos ter cautela quanto a posturas extremas, pois muitas vezes pode ser apenas
uma forma do Eu não entrar em contato com o Complexo, negando-o com o propósito
de afirmar e reafirmar uma postura consciente que está prestes a ser abalada por um
Complexo emergente (JUNG, 1985, p. 25).
No segundo caso encontramos todos os distúrbios que podem alterar o processo consciente.
Aqui se enquadram todos os distúrbios de comportamento, seja verbal, motor, auditivo,
bloqueios na memória, delírios etc. Podemos visualizar estes acontecimentos quando o
paciente esquece ou troca o nome das pessoas, por exemplo. Nesta situação, podemos
supor que o esquecimento está relacionado de certa forma com algum Complexo.
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Para (Não) Finalizar
Figura 32.
e Buda respondeu:
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PARA (NÃO) FINALIZAR
pensar no poder de Kannon, fará com que nenhum fio de cabelo seja
tocado.
68
PARA (NÃO) FINALIZAR
“Honrado do Mundo!
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PARA (NÃO) FINALIZAR
No decorrer der seus estudos Jung se depara com estruturas que o levaram a definir
conceitos que estavam diretamente relacionados com conteúdos conflitivos à psique e,
conteúdos, que remetiam a conhecimentos ancestrais presentes em um coletivo além
do indivíduo. Na definição desses conteúdos ele introduz os conceitos de Arquétipo e
Complexo, sendo o primeiro apresentado com um caráter mais coletivo e o segundo com
um caráter mais individual. Para ele essas estruturas eram a base para o entendimento
da psique, pois definiam, de modo geral, todos os conteúdos encontrados e discutidos
nas patologias.
Vimos que a psique comporta todos os sistemas do indivíduo. Deste modo, abarca o
consciente, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Obviamente, englobando
as estruturas que transitam nestas.
por meio da visão que a teoria junguiana nos proporciona, podemos identificar hoje
uma história mitológica ou uma lenda que se passou há anos, mas que a pessoa está
vivenciando agora.
Ou seja, a psicologia analítica nos faz ler de tudo, ter contato com tudo que seja humano,
Jung (2008), dizia que deveríamos saber o máximo possível sobre o humano e isso inclui
as produções humanas. Não devemos nos fechar dentro de uma teoria, mas buscar
sempre explorar ao máximo as demais. Esse ponto é mais um a ser criticado pelos eu
não entendem o Universo da teoria junguiana. Afinal, os críticos entendem que agindo
dessa forma há uma grande confusão e mistura de conceitos, não indo a lugar algum.
Contudo, a ideia e a proposta são outros. A intenção é conhecer o máximo possível, pois
o humano reflete tudo que é humano e não apenas algo específico.
Devido a essa proposta formulada por Jung, também fica difícil descrever como se
originou sua teoria. Entender o comportamento humano nunca foi uma tarefa fácil.
Vivemos hoje em uma era de grandes transformações. De modo que, fobias, estresse,
anorexia, depressão, exclusão social e discriminação – só para citar algumas questões
– e a psicologia é a ciência que busca compreender os fenômenos psíquicos e o
comportamento humano.
O psicoterapeuta ouve com cuidado tudo que seu paciente fala, além de observar
sua forma de se expressar, para assim auxiliar essa pessoa a integrar sua história,
contribuindo para seu autoconhecimento e, consequentemente, crescimento pessoal.
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