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13 nº 25, 2019
ISSN 1982-5323
Souza, Jonathan Almeida de
Resenha de: COSTA, Alexandre. Thánatos: da possibilidade de um conceito de morte a partir do Lógos
Heraclítico.
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ANAIS DE FILOSOFIA CLÁSSICA, vol. 13 nº 25, 2019
ISSN 1982-5323
Souza, Jonathan Almeida de
Resenha de: COSTA, Alexandre. Thánatos: da possibilidade de um conceito de morte a partir do Lógos
Heraclítico.
Introdução, o autor apresenta o problema que todo aquele que se dedicar ao estudo da
filosofia de Heráclito vai ter que se deparar: os textos fragmentados de seu pensamento.
Observe-se a este respeito que para utilização e interpretação dos fragmentos, faz-se
necessário pensar a importância de cada um deles a partir de seu estabelecimento e de
sua contextualização, ou seja, da doxografia e dos diversos aparecimentos destes
fragmentos no interior da própria história da filosofia, buscando um conhecimento
íntimo e uma hermenêutica consistente com a experiência da tradução.
Thánatos pode ser resumido, a grosso modo, em três pontos: (1) ο que a
semântica atribuída ao vocábulo thánatos no interior dos fragmentos de Heráclito pode
fornecer como material para pensar a morte; (2) que saber acerca da morte esses
fragmentos acomodam; e (3) o que é o lógos. Talvez o mais correto seria colocar o
problema do lógos em primeiro lugar, pois o mote de todo o livro se dá na tentativa de
responder o que poderia ser/significar este conceito, visto que ele: (1) é o centro dos
fragmentos e da filosofia de Heráclito; (2) é uma forma de dar sentido à filosofia do
Efésio; (3) é necessário compreendê-lo para a compreensão/interpretação de qualquer
outro conceito dentre os 126 fragmentos.
O livro foi estruturado da seguinte forma: (1) pensar a phýsis e o kósmos a partir
de uma compreensão do lógos heraclítico abrindo o problema para as questões que
giram no entorno dos conceitos como devir, do ser, do tempo e da doutrina do fogo; (2)
observar a relação entre tempo e fogo, que são constituintes do kósmos, como sendo
uma vontade de corrupção presente em tudo o quanto há vida. Este problema desdobra-
se na configuração de thánatos como transição e como alteridade. Essas modalidades
de thánatos conjugam-se com a vida: zoé (vida geral) e bíos (vida particularmente
humana). Haveria, então, na língua grega uma marca que transmite uma ideia de
diferenciação na própria conjuntura da vida. Isto abre, portanto, a terceira parte do livro,
que busca compreender a relação entre o homem, o lógos e thánatos gerando
necessariamente uma ética.
O primeiro capítulo enfoca a presença constante do conceito de lógos entre os
fragmentos de Heráclito, argumentando que a urgência na compreensão e
problematização deste vocábulo é fundamental para a análise, tradução e interpretação
do pensamento de Heráclito. Demonstra também como os outros conceitos centrais,
como kósmos e phýsis esbarram nesta compreensão do lógos, indicando que todos os
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aproximar do lógos comum, posto que o humano percebe tudo quanto se apresenta no
kósmos.
O kósmos é o lugar onde o lógos comum se revela. A phýsis, por sua vez, se
revela como lógos, como discurso que acontece no kósmos. Sendo assim, a unidade do
kósmos é delimitada a partir da relação entre o lógos comum (que é o próprio dizer)
mais a phýsis (que é revelar) somado ao ser (que é a própria existência). Este cálculo
determina a forma e é a fôrma dos entes sensíveis. É assim que a phýsis se torna
sensível e passível de ser escutada pelo humano. Pois isso é o kósmos: lugar em que a
pluralidade do universo se apresenta e que, em Heráclito, não foi nem criado por
humano, nem por deuses: simplesmente é como é. Pode-se compreender que a
interpretação apresentada no Thánatos mostra que o lógos comum é o discurso da
phýsis, e esta, o comportamento de cada ente no kósmos, e neste, como as coisas
aparecem. É neste último o lugar onde o lógos comum discursa, tornando-se perceptível
ao humano. O kósmos é o lugar do movimento que resulta em desenvolvimento e
degeneração, nascimento e morte.
Sendo a phýsis entendida como natureza, ela reserva para cada ente o modo
específico que o distingue no interior do kósmos e o lógos particular abre-se para
perceber cada coisa segundo sua própria natureza. Este lógos particular concorda ou
discorda, nesta percepção, com o lógos comum. O comportamento do lógos comum é,
portanto, mostrar-se visivelmente e sonoramente no kósmos e expressa sua lógica no
modo de ser de cada ente, quer dizer, na phýsis.
Este lógos comum doa ao kósmos o elemento fundante de todo movimento: a
incontornável necessidade da relação de contrários, sustentada pela relação que os
prefixos syn-dia assumem na escrita de Heráclito. Estas antíteses formam o lugar da
manifestação empírica da vida e são os primeiros traços da dinâmica do kósmos, tal
como está exposto no interior do Thánatos. Antíteses que podem ser entendidas como
morrer-viver, por exemplo, são consideradas como a primeira dinâmica do kósmos.
Além das antíteses, há outros traços que configuram esta dinâmica, tais como, o tempo,
o movimento, o fogo, a transformação e a fluência.
Ao que diz respeito ao tempo, há dois aspectos: (1) o tempo que é sempre e (2) o
tempo que foi, é e será. Estas duas ideias de tempo revelam que o kósmos vive sempre e
que sua vida não tem começo nem fim. São nestes modos do tempo que a terceira
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denominar como ápice do devir. Presença mostra que a morte se faz presente sempre. A
morte participa tanto do presente quanto do futuro como lei da phýsis. Estes dois
caráteres de thánatos revelam a sua phýsis, isto é, o seu comportamento, timbrando o
kósmos com a sua realização fática. A transformação radical do ente em outra coisa.
Entretanto, ao falar sobre a morte e transição, o autor discorre a partir de dois
pontos: a morte contínua e a morte de fato. A primeira está mais adjacente da vocação e
presença, porque o ente morre continuamente: o ente foi, é e será. O foi já apresenta a
morte daquilo que era para nascer o que é. Essa morte que ocorre a cada instante não é a
morte de fato. Esta é, na perspectiva do ente, irrevogável, pois transforma-o em uma
outra coisa que não mais aquele ente. Essas duas formas de morrer marcam duas formas
de devir, que deve ser entendido como a transformação constante do ente. Havendo,
portanto, duas formas de transformação: a transformação sucessiva e a transformação
fatual. A presença de thánatos, não ocorre na transformação sucessiva. Porém, na
qualidade de morte como transformação fatual, thánatos se torna indispensável. Há uma
mudança completa na estrutura do ente quando a morte fática acontece. E este é o que
há de mais autêntico na filosofia de Heráclito: ao morrer a morte fática, um fim foi
marcado, mas marca-se também o início de uma outra coisa. A oposição dos contrários
morte-vida uma vez mais retorna e aparece como elemento crucial da vida.
Ao explicar a morte, negação e alteridade, o autor desenvolve a ideia de limite
que deve ser entendida como o espaço da vida de cada ente. O discurso do lógos comum
não nos permite confundir o comportamento da água com o comportamento do vapor.
Há um rompimento do limite de uma forma para outra e este rompimento é o encontro
do ente com a morte. A ideia de morte como negação se satisfaz naquilo que nega o
caráter existencial do ente, pois a morte o nega enquanto ente, pois transforma-o em
outra coisa.
A presença constante da morte é observada pelo ente a partir da alteridade, uma
vez que o ente não é capaz de viver a própria morte, pois quando há o atravessamento
do limite que circunscreve o seu comportamento possível, este ente deixa de sê-lo. Este
limite é a medida, é o lugar que circunscreve o ente na vida. A condição do ente,
portanto, não se firma sobre os alicerces do querer, mas na compreensão do limite
reservado pelo seu êthos. A morte é então uma experiência da alteridade. A condição do
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ente é estar condenado a ver a morte sempre a partir da sua alteridade, entendida como
sendo tudo o que não é o ente.
O terceiro capítulo continua com a análise das relações entre thánatos e a vida.
Neste momento da argumentação acerca da vida, o autor propõe uma forte cisão entre
os tipos de vida. Considera-se que há, no mínimo, dois tipos de vida possíveis. O
primeiro é a vida de tudo que vive. É a vida que todos os viventes compartilham. O
termo grego para esta qualidade de vida é zoé: a vida de tudo que vive. O segundo é a
vida necessariamente humana, é bíos. O humano conjuga zoé, a vida animal e orgânica,
e bíos, a vida ética e das escolhas. Bíos é restrita, mas não exclusiva do homem,
cabendo aos deuses participar dela também. Apesar disso, a relação entre bíos e
thánatos só pode se dar no homem, pois somente o homem morre.
Surge daí um paradoxo: a possibilidade de o homem estar morto para bíos. A
morte de bíos significaria, justamente, a morte da humanidade do humano. Diante disso,
duas hipóteses se abrem: ou o homem morto para bíos nega a morte de modo
irrevogável, ou a possibilidade de morrer dá a ele a chance de viver bíos. A primeira
hipótese parece delinear o impossível, pois não pode ser aceita uma morte sem vida. A
segunda trataria melhor da condição humana, pois mesmo não podendo viver a vida dos
deuses, o homem pode viver a sua própria vida. Bíos é o que distingue os homens do
resto, é o espaço da vida humana que corresponde a uma vida ética. Isso quer dizer que
o valor de bíos se percebe na relação entre o lógos comum e o lógos particular.
Nesta relação homem-lógos comum, este lógos comum afirma algo. Esta
enunciação é comunicada para o homem. O lógos comum diz e o lógos particular, do
humano, captura, apreende. Através da phýsis o lógos comum torna-se audível e
manifesto aos olhos, permitindo que o homem compreenda ou não.
Esta relação do homem com o lógos comum configura a sua condição trágica. O
homem está condenado a lidar com o discurso do lógos comum. Não há outra
possibilidade para este mortal. O lógos comum comunica um discurso e o lógos
particular o reverbera. O lógos particular é, por assim dizer, uma extensão do lógos
comum e essa condição é o que determina a sua condição ética.
O lógos particular teria também duas potências em sua atividade: a potência de
apreender e a de compreender. Sendo o apreender o primeiro passo da atividade do
lógos particular, o homem se relaciona com o kósmos, ouvindo e lendo o dito do lógos
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Por outro lado, Alexandre Costa não deixa passar despercebido que há vida na
homología. O exemplo desta vida se encontra no sábio, tal como Heráclito o concebe.
Os que estão com os ouvidos atentos, acordados, são considerados como minoria
quando comparados ao outro grupo. No interior desta minoria, encontra-se o sábio que
está sempre alerta e preocupa-se com o pensamento, porque sabe que é a partir do
pensamento que o que ele apreende, compreende e diz se faz no encontro entre o lógos
particular e o lógos comum. Este pensamento une o que apreende e compreende,
finalizando esta ação em um dizer, cujo critério de verdade se baseia na homología com
o lógos comum. O filósofo busca essa relação com o lógos comum partindo do kósmos
para alcançar o discurso do lógos comum e da phýsis. O lógos particular, no caso do
filósofo que está a todo momento com os seus ouvidos alertas, é toda e qualquer forma
de pensamento que explora a relação do que se apreende e do que se pode dizer da
compreensão do que foi apreendido no kósmos.
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