Mitos Va
Mitos Va
Mitos Va
1. O PENSAMENTO FILOSÓFICO
Todos pensam. O ato de pensar é uma das características mais
significativas e marcantes dentre as que distinguem os seres humanos dos
outros animais. O pensar ocorre a todo instante: refletindo, calculando,
criticando, falando; mas não significa que se está passando por uma experiência
filosófica. Ninguém nasce filósofo. O indivíduo torna-se filósofo a partir do
exercício crítico e reflexivo sobre a realidade.
Deve-se ter em mente, de antemão, que se perguntar “O que é filosofia?"
não é uma pergunta simples, portanto, não admite respostas simples. A mesma
pergunta, quando feita a outras áreas do conhecimento, não exige uma resposta
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que envolva a área em questão. Indagar, por exemplo, “O que e' matemática?"
não é uma questão matemática, ou “O que é música?" não é uma questão
musical. Do mesmo modo, a mesma pergunta feita sobre geografia, história,
física ou química não constituem questões geográficas, históricas, físicas ou
químicas, respectivamente. No entanto, tal indagação, quando se dirige à
filosofia, exige uma resposta filosófica.
A Filosofia- do philos, amor no sentido de admiração e sophia de
sabedoria- nasceu em um ambiente e em uma época tão específicos que há
quem diga que ela não poderia ter surgido em nenhum outro lugar além da
Grécia Antiga, onde todo um modo de ver o mundo e absorver a realidade
confluem na incontornável assistência que essa ciência daria à humanidade.
Alguns desses fatores que contribuíram para o surgimento da filosofia na Grécia
foram a utilização da moeda, da escrita- que se popularizou- e,principalmente,
pela democracia.
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a natureza, mas deixa de procurar entender a physis por meio de elementos
extraordinários. Aquilo que a poesia e a mitologia alcançam por intuição, a
Filosofia alcança pelo discurso metódico em toda a sua aridez e complexidade,
por vezes, necessária.
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3. O QUE É MITO
A palavra mito vem de mythos, que em grego significa “palavra”, “o que
se diz", ou “narrativa”. O pensamento mítico é predominante em culturas de
tradição oral, quando ainda não há escrita. É uma forma de interpretação da
realidade, mas não de maneira científica. O mito lê a natureza (physis)
intuitivamente.
É comum ter a imagem dos antigos mitos como simulacros de uma
realidade fantasiosa já há muito esquecida, e que de nada servem, nos dias de
hoje, além de uma forma de entretenimento. A romantização dos mitos costuma
levar a um mundo animado de maravilhas, onde se pode ver Narciso negando
afeto a incontáveis moças que o desejaram, náiades entre elas, ou Hércules
heroicamente realizando seus doze trabalhos. Vê-se Hécate com suas parcas
tecendo seus fios de vida, ou Édipo enfrentando a Esfinge. Há Ulisses, o solerte,
cegando a Polifemo e suportando as dores que lhe traria Poseidon em
consequência disso. Os mitos são provas irrefutáveis do progresso civilizatório
da Grécia Antiga, bem como o modo como já são contados alguns deles na Ilíada
e Odisseia (os mais antigos registros escritos desse povo antiquíssimo), com
preocupação estilística e refinamento no que concerne à linguagem usada, como
raro se vê em histórias do mesmo cunho em povos vizinhos. De fato, a
contemporaneidade parece ter perdido a sensibilidade para algumas sutilezas
do mundo antigo, bem como para o seu modo de transmitir cultura e valor. A
tradição oral mítica começava no poeta, o porta-voz dos deuses, encarregado
de transmitir um legado divino entre os homens.
Na evolução do conto mítico grego, os deuses apareciam, primeiramente,
como titãs. Eles não estavam no mundo, mas eram o próprio mundo, tanto que
os mais naturais e antiquíssimos elementos se uniram para gerar o cosmo. Gaia
(a Terra) e Cronos (o Tempo) deram à luz a todo o resto e geravam imagens de
absoluta beleza poética, como aquela que se dirá do Tempo, que devora os
próprios filhos. Uma “segunda geração” de deuses trouxe a religião grega para
mais perto dos homens, concedendo-lhes forma humana física, apesar dos
extraordinários dons das divindades que ainda causavam temor e tremor ao
grego antigo.
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Os deuses, por mais que estivessem sujeitos a erros tanto quanto os
próprios homens, não eram cegos ou surdos nem a um bem nem a um mal, seja
como ideia seja como atitude dos homens, que, aliás, eram muitas vezes punidos
por suas más ações. Ovídio, escritor romano, disse que “os peixes, as feras e as
aves devoram-se entre si. Ao homem, porém, Zeus concedeu a justiça. Ao lado
de Zeus, em seu trono, a justiça tem seu lugar”.
A sua criação esteve sempre relacionada a um enigma a ser decifrado, a
algum espanto diante do mundo, a algum mistério. Os mitos representam
interpretações impregnadas do desejo humano de afugentar a insegurança
daquilo que se teme ou não se compreende empiricamente. É por isso que a
maioria dos relatos e discursos míticos se sustenta na crença, na fé e em forças
superiores. Sendo assim, os mitos se estendem por todas as sociedades
humanas, variando na aceitação, na força e na intensidade de seus discursos.
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4.1.Metafísica
Serve para nos despertar os seres humanos para o mistério da criação,
para abrir mentes e sentidos para uma consciência da mística do “fundamento
do ser”, a fonte de todos os fenômenos - para a ideia de Deus.
4.2. Cosmológica
Serve para descrever a “forma" do cosmos, o Universo, o mundo como
um todo, de modo que o cosmo e tudo nele contido se tornem vívidos e vivos,
infundidos com sentido e significado; cada pedra, colina e flor têm seu lugar e
seu significado no esquema cosmológico que o mito fornece.
4.3.Sociológica
Serve para estabelecer “a lei”, os códigos morais e éticos para as pessoas
de uma determinada cultura seguirem, os quais vão ajudar a definir a cultura,
como sua estrutura social prevalecente.
5. OS MITOS NA HISTÓRIA
Serve para conduzir o ser humano por meio de ritos de passagem
específicos que definem os vários estágios significativos da vida, da
dependência à maturidade e à velhice, e finalmente, a morte, a passagem final.
Nas primeiras grandes civilizações, dotadas de estruturas complexas, como as
sociedades da Mesopotâmia, Grécia, Egito, Índia, China e Israel, o mito sempre
esteve presente em suas interpretações históricas e sociais, e como um
importante componente em suas culturas. Na história da formação desses
povos, o mito sempre foi um forte elemento de explicação e interpretação. Não
se pode descartá-lo. Para muitos desses povos, em períodos em que não se
utilizavam a escrita como registro histórico, os mitos acabaram servindo como
uma importante base de referência para suas origens.
Para os gregos, por exemplo, os mitos surgiram quando ainda não havia
escrita e eram transmitidos por poetas ambulantes conhecidos como rapsodos.
Homero foi um dos mais importantes poetas gregos; atribui-se a ele a autoria de
dois dos mais significativos poemas épicos: as epopeias Ilíada e Odisseia. Para
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os gregos, as epopeias desempenhavam um papel pedagógico na descrição de
sua história e na transmissão de valores culturais.
7. FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
Os primeiros filósofos viveram na Grécia por volta dos séculos VII e VI
a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos, quando a divisão da
Filosofia grega centralizou-se na figura de Sócrates.
Os escritos dos filósofos pré-socráticos desapareceram com o tempo, só
restaram alguns fragmentos ou referências de filósofos posteriores. Sabe-se
que, geralmente, escreviam em prosa, abandonando a forma poética
característica das epopeias, dos relatos míticos.
Antes de começar a entrar nos filósofos é importante entender alguns
conceitos utilizados por esses: physis -o movimento (mudança) na natureza,
totalidade do real- e arché (princípio fundamental que explica a physis).
Esses primeiros pensadores centraram suas atenções na natureza e
elaboraram diversas concepções de uma cosmologia que procurava a
racionalidade constitutiva do Universo. Dentre eles, destacam-se: Tales de
Mileto (640-548 a.C.), Pitágoras (séc. VI a.C.), Parmênides (544-524 a.C.), entre
outros.
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teoria de como se davam as cheias do Rio Nilo. Também observou as pirâmides
e concluiu que havia uma proporcionalidade entre a altura de uma pirâmide e o
comprimento da projeção de sua sombra, elaborando um cálculo que
determinasse essa altura a partir da medida de sua sombra. Esse, ainda hoje, é
um importante método geométrico para se medir áreas, o Teorema de Tales.
Como monista/ naturalista, Tales também afirmava que todas as coisas
derivariam de um único elemento. Para ele, a origem (o arché) das coisas estava
na água.
Há rumores de que Tales enriqueceu com o uso de sua ciência, e chegou
a ser adorado como um deus quando previu o eclipse de 28 de maio de 585 a.C.,
com base em seus conhecimentos de matemática e astronomia.
7.3. Demócrito
Demócrito acredita que a realidade é fundamentalmente constituída de duas
estruturas, os átomos e o vazio. Lembremos aqui que átomo vem do grego, "a",
negação e "tomo", divisível. Átomo= indivisível. O átomo seria a menor parte da
matéria, o elemento fundamental de que tudo seria constituído.
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MOBILISMO X IMOBILISMO
7.5 Parmênides
Parmênides defende que o Ser é uno e imutável, e que deve-se distinguir a
ciência que nos fornece a verdade e que é formulada com base na razão, e o
conhecimento que acha que tudo é múltiplo e mutável, a qual seria segundo ele
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apenas opinião. Parmênides aponta que o movimento e a mudança são apenas
aparências, e para percebermos isso basta irmos além de nossa percepção
sensível. A formulação mais central do autor e seu poema é ‘’o ser é, o não ser
não é’’. Ser é para o autor idêntico ao pensar, ou seja, o que pode ser pensado
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DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS
1. (Enem) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer
justifica-las racionalmente, pode-se desprezar as evidências empíricas. No
entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto pode ignorar
que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com
base em razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir seu
sentido último.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.
2. (Enem PPL 2016) Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa
e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as coisas que são agora neste
mundo – terra, água ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo
–, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua
natureza própria e se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas
mudanças e diferenciações, então não poderiam as coisas, de nenhuma
maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras,
nem a planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir
à existência, se todas as coisas não fossem compostas de modo a serem as
mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma
coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
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O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores, denominados pré-
socráticos. Para eles, a principal preocupação filosófica era de ordem
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b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo e apresentada
imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se como explicação racional que
retoma questões presentes no mito.
c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e irracional, e a filosofia,
também fundamentada no rito, corresponde ao surgimento da razão na Grécia
Antiga.
d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do ser, e a
filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema insuperável entre caos e
medida.
e) O mito é a insuperável forma da completude de explicações profundamente
humanas acerca da realidade; sendas por onde a filosofia não ousa caminhar.
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mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis a sua inteligência, aplicar-lhe a norma
do número e da medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento
propriamente político, exterior à religião, com seu vocabulário, seus conceitos,
seus princípios, suas vistas teóricas. Esse pensamento marcou profundamente
a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou,
enquanto permaneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da
atividade humana.
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6. (Uema 2015) Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação para a
expressão ¯ ”o amor é cego”.
No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância
eterna. Mas por que o amor é cego? Aconteceu que num certo dia o Amor e a
Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um
desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunisse para tratar
do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma
pancada tão violenta que lhe privou da visão. Vênus, mãe e mulher, pôs-se a
clamar por vingança, aos gritos. Diante de Júpiter, de Nêmesis – a deusa da
vingança – e de todos os juízos do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse
reparado. Seu filho não podia ficar cego. Depois de estudar detalhadamente o
caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a loucura a
servir de guia ao Amor.
Fonte: LA FONTAINE, Jean de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura. Flávio
Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
A fábula traz uma explicação oriunda dos deuses para uma realidade humana.
Esse tipo de explicação classifica-se como
a) estética.
b) filosófica.
c) mitológica.
d) científica.
e) crítica.
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a) Sólon, mesmo sendo legislador, pode ser incluído na lista dos filósofos, visto
que ele era dotado de um saber prático.
b) a palavra, atribuída primeiramente a Parmênides, indica a posse de um saber
divino e pleno, tornando os homens verdadeiros deuses.
c) a Filosofia, como quer Aristóteles, é um saber técnico, possibilitando, pela
posse ou não de uma habilidade, tornar alguns homens os melhores.
d) a Filosofia, na definição de Pitágoras, indica que o homem não possui um
saber, mas o deseja, procurando a verdade por meio da observação.
8. TEXTO I
Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de
explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia.
As causas dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é
governado por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, a qual só os
sacerdotes, os magos, os iniciados são capazes de interpretar. Os sacerdotes,
os rituais religiosos, os oráculos servem como intermediários, pontes entre o
mundo humano e o mundo divino. Os cultos e os sacrifícios religiosos
encontrados nessas sociedades são, assim, formas de se agradecer esses
favores ou de se aplacar a ira dos deuses.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia, 2001 (adaptado).
TEXTO II
Ao longo da história, a corrente filosófica do empirismo foi associada às
seguintes características: 1. Negação de qualquer conhecimento ou princípio
inato, que deva ser necessariamente reconhecido como válido, sem nenhuma
confirmação ou verificação. 2. Negação do “suprassensível”, entendido como
qualquer realidade não passível de verificação e aferição de qualquer tipo. 3.
Ênfase na importância da realidade atual ou imediatamente presente aos órgãos
de verificação e comprovação, ou seja, no fato: essa ênfase é consequência do
recurso a evidência sensível.
ABBAG NANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, 2007 (adaptado).
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Com base nos textos apresentados, comente a oposição entre o
pensamento crítico e a corrente filosófica do empirismo.
9. (Ufu 1998) Heráclito de Éfeso afirmava que “ninguém pode banhar-se duas
vezes nas mesmas águas de um rio”. Para ele, o que mantém o fluxo do
movimento é
a) a identidade do ser.
b) o simples aparecer de novos seres.
c) a harmonia que vem da calmaria dos elementos.
d) a estabilidade do ser.
e) a luta dos contrários, pois “a guerra é pai de todos, rei de todos”.
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imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades,
sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem
porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. E
sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua
orientação.
BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
Tudo isso ela [Diotima] me ensinava, quando sobre as questões de amor [eros]
discorria, e uma vez ela me perguntou: – que pensas, ó Sócrates, ser o motivo
desse amor e desse desejo? A natureza mortal procura, na medida do possível,
ser sempre e ficar imortal. E ela só pode assim, através da geração, porque
sempre deixa um outro ser novo em lugar do velho; pois é nisso que se diz que
cada espécie animal vive e é a mesma. É em virtude da imortalidade que a todo
ser esse zelo e esse amor acompanham.
(Adaptado de: PLATÃO. O Banquete. 4.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p.38-39. Coleção
Os Pensadores.)
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b) O eros limita-se a provocar os instintos irrefletidos e vulgares, uma vez que
atende à mera satisfação dos apetites sensuais.
c) O eros físico representa a vontade de conservação da espécie, e o espiritual,
a ânsia de eternização por obras que perdurarão na memória.
d) O ser humano é idêntico e constante nas diversas fases da vida, por isso sua
identidade iguala-se à dos deuses.
e) Os seres humanos, como criação dos deuses, seguem a lei dos seres infinitos,
o que lhes permite eternidade.
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e) a Filosofia no seu sentido mais próprio não foi inicialmente bem recebida em
Atenas, o que é demonstrado pela condenação de Sócrates à morte.
HEGEL. G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org.). Os pré-socrática: vida e obra. São
Paulo: Nova Cultural. 2000 (adaptado).
Texto I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância
mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez
da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
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Texto II
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois
é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo
homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-
se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
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GABARITO COMENTADO
Resposta da questão 1
Depois de Platão e Aristóteles, devemos compreender que a simples
aceitação de uma crença qualquer e' uma escolha, é um procedimento arbitrário
e não mais uma posição mística agraciada por Deus ou deuses misteriosos.
A respeito do surgimento da Filosofia e seu relacionamento com o
discurso mítico, podemos dizer que existe sempre uma tensão tanto
estabelecida pela oposição quanto pelo confronto - pensando a oposição como
estabelecimento de métodos e temas absolutamente distintos e o confronto
como embate sobre os temas similares. Os filósofos não eram sacerdotes e nem
defensores de explicações misteriosas sobre os fenômenos naturais. É
importante compreender que se iniciava nessa época uma reflexão sistemática
empenhada em estabelecer um conhecimento que não proviesse da inspiração
divina, porém da argumentação pública e da comprovação factual dos
argumentos - e a mediação da maneira por meio da qual as comunidades gregas
se estabeleciam (a passagem de uma grande organização fundada em um líder
para a pluralidade de líderes de comunidades menores) contribuiu muito para a
valorização desse método dialógico de argumentação que exigia a
responsabilização do manifestante e. por conseguinte, uma sensatez, que não
era prioridade em uma explicação mítica. Enfim, vale indicar por último que
apesar de a passagem do mito para o logos ter sido gradual, afinal é muito difícil
que aquilo que sustenta uma comunidade seja alterado rapidamente, essa
morosidade da substituição não é necessariamente devida a uma proximidade
entre poesia e filosofia. A relação entre ambas existe, porém ela e' sempre
problemática e instaurada por meio da tensão.
Gabarito: e
Resposta da questão 2
Pode-se dizer que os pré-socráticos tinham em comum uma preocupação em
compreender os fenômenos naturais ou cosmológicos, desenvolvendo reflexões
sobre a natureza e sobre as coisas.
Gabarito: a
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Resposta da questão 3
O mito pode ser caracterizado pela sua narrativa fantástica e que serve
de modelo explicativo sobre a origem das coisas e do porquê delas serem como
ão. A Filosofia, em contrapartida, ainda que faça indagações similares a essas,
rejeita as explicações fantásticas, considerando a razão como critério de
veracidade de suas análises e explicações.
Gabarito: b
Resposta da questão 4
O conceito de physis entre os pré-socráticos expressa basicamente o princípio
gerador, constituinte e ordenador de todas as coisas. Segundo Parmênides, este
princípio é aquilo que racionalmente compreendemos ser sempre e nunca
mutante, sendo o seu contrário justamente o não-ser. É uma tese difícil de
apreendermos, como se pode observar no seguinte trecho do seu poema:
Gabarito: b
Resposta da questão 5
Nascimento da Filosofia não significou o abandono absoluto dos mitos,
que continuaram presentes tanto na cultura grega quanto em obras filosóficas,
como recursos de argumentação.
Gabarito: b
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Resposta da questão 6
A fábula de La Fontaine se classifica como uma narrativa mitológica, pois
estrutura-se por meio da mistura de elementos fantásticos e de elementos que
compõe a realidade; tem o objetivo de narrar a origem dos acontecimentos de
tempos imemoriais; cria suas narrativas por meio de genealogias; e busca
possibilitar aos ouvintes o entendimento de questões complexas. A narrativa
mitológica não se preocupava com a questão da coerência entre a realidade em
a fantasia, seu objetivo era descrever através da narrativa uma explicação sobre
as origens das questões que compõe a realidade humana, por meio da descrição
de acontecimentos de tempos antigos, baseada não na razão, mas na autoridade
de quem serve como interprete entre o mundo divino e o mundo natural. Esta
narrativa era desprovida de caráter crítico ou científico. Embora represente a
primeira tentativa de explicação da realidade, não se configurava ainda como um
discurso filosófico ou estético.
Gabarito: c
Resposta da questão 7
A definição de filosofia enquanto amor à sabedoria se aproxima mais à
concepção de Pitágoras apresentada na alternativa [D]. Segundo ele, a
sabedoria concerne aos deuses, podendo os homens somente amá-la e desejá-
la.
Gabarito: d
Resposta da questão 8
O texto I coloca que a explicação mítica da realidade foi o recurso
disponível aos homens daquela época para poder compreender a realidade que
os cercava. Nesse período, a realidade exterior ao mundo natural somente
poderia ser conhecida por meio de explicações que tivessem a magia, o
sobrenatural como base fundante. Dessa forma, somente aqueles que se
dedicavam exclusivamente a essa atividade poderiam ser aqueles capazes de
compreender os desígnios dos deuses. Os sacerdotes representavam os
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intermediários entre os dois mundos (humano e divino). Assim, a autoridade de
sua palavra era por si só critério suficiente para estabelecer “verdades” míticas
que serviam como forma de explicação para os fenômenos naturais.
No texto Il, diferente da explicação mítica, o empirismo, tendo como
principais teóricos John Locke, Francis Bacon e David Hume, não recorre à
autoridade da mesma maneira que os mitos, para explicar os fenômenos. Essa
corrente de pensamento rejeita que o conhecimento seja inato, ou seja, não
considera como válido aquilo que não pode ser aferido, verificado, aquilo que
não for evidente. A verdade reside não mais na autoridade de quem fala, mas na
evidência, na constatação, naquilo que pode ser captado pelos sentidos. O
suprassensível é negado, pois não é passível de investigação, verificação.
Resposta da questão 9
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(M. Chaui. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, vol. I. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 81)
Gabarito: e
Resposta da questão 10
O mito corresponde a uma forma de conhecimento não sistemático
presente em todas as sociedades humanas. Ainda que a sociedade ocidental
tenha passado por um período de racionalização e de rejeição do mito, este
ainda perdura, sendo muitas vezes guia das ações humanas. Vale ressaltar que,
desde os estudos do estruturalismo, o mito vem sendo analisado com mais
seriedade enquanto elemento de organização do pensamento e da própria
constituição da sociedade.
Gabarito: c
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Resposta da questão 13:
A Filosofia no sentido amplo descrito no texto citado está mais próxima daquilo
que chamamos comumente de visão de mundo. Considerando que uma visão
de mundo é estruturada de tal modo que estabelece uma relação geralmente
dogmática entre perguntas e respostas, então podemos dizer que ela é
normalmente uma ideologia. Todavia, a Filosofia no sentido próprio é justamente
o confronto com a ideologia. Esse confronto revela as limitações da ideologia,
expõe justamente a incapacidade do discurso normal de ser suficiente quando
fala do Universal. Sendo que a Filosofia não pode ser ela mesma e o seu
contrário, precisamos assumir radicalmente que a Filosofia é confronto com a
“totalidade do real”.
Gabarito: b
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