Aula 3 - História Do Período Colonial

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MOVIMENTO ÉTICA NA POLÍTICA/MEP-VR

PRÉ-VESTIBULAR CIDADÃO
Rua Santo Antônio, s/n – Niterói, Volta Redonda – CEP 27283-210
Endereço eletrônico: [email protected]
Professores: Anderson Couto, Herlaine
Disciplina: História do Brasil
Carvalho e Eloah Bernardo
Tema: Iniciando a História do Período Colonial Data: 22/04/2021
Salve, amigos! Bem-vindos à terceira aula de História do Brasil!
Na última aula falamos um pouco sobre os povos nativos da América e sobre o período
pré-colonial no Brasil. Agora vamos efetivamente adentrar a História do Brasil propriamente dita.
As duas aula iniciais foram apenas o prólogo da nossa aventura. Mas antes, um poema:
FADO TROPICAL
(Chico Buarque de Holanda, Ruy Guerra)
Oh, musa do meu fado Oh, minha mãe gentil "Meu coração tem um sereno jeito
Te deixo consternado No primeiro abril E as minhas mãos o golpe duro e presto
Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou De tal maneira que, depois de feito
E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal É que há distância entre intenção e gesto
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental Quando me encontro no calor da luta
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose Ostento a aguda empunhadura à proa
de lirismo Mas o meu peito se desabotoa
(além da sífilis, é claro) E se a sentença se anuncia bruta
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em Mais que depressa a mão cega executa
torturar, esganar, Pois que senão o coração perdoa"
trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..." Guitarras e sanfonas, Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Com avencas na caatinga Alecrins no canavial Num suave azulejo
Licores na moringa Um vinho tropical E o rio Amazonas Que corre Trás-os-Montes
E a linda mulata Com rendas do Alentejo E numa pororoca Deságua no Tejo
De quem numa bravata Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se um império colonial.
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

Esse poema (que também é uma música) foi escrito por Chico Buarque de Holanda em
parceria com o escritor e dramaturgo moçambicano Ruy Guerra para a peça “Calabar: O Elogio
da Traição”, de 1973, que foi censurada pela ditadura militar. A peça se passa no contexto da
Invasão Holandesa em Pernambuco e aborda uma figura emblemática do período: Domingos
Fernandes Calabar. Em breve falaremos sobre ele!
Voltando um pouco, na última aula encerramos falando sobre as dificuldades do sistema
de capitanias hereditárias implantado aqui pela coroa portuguesa com o intuito de promover a
ocupação do território, que ficou praticamente abandonado e a mercê do assédio de exploradores
de outras nações durante o período pré-colonial (1500 a 1530).
O FIM DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS:

A partir de 1549, o governo português resolve nomear “governadores-gerais” que seriam


representantes diretos do rei na colônia e responsáveis por administrá-la e defendê-la das
invasões. Nas colônias espanholas também existia essa figura, que recebia o título de vice-rei.
Perceba que a instituição do Governo-geral não representou o fim das capitanias
hereditárias implantadas em 1534. elas continuaram existindo, só que agora, com um
representante do rei ao qual podiam se reportar mais imediatamente. Lembram que na última
aula eu mencionei que uma das razões para o fracasso das capitanias foi a dificuldade de
comunicação com a metrópole (Lisboa)?
De todos os territórios Brasileiros que foram divididos em capitanias, o lugar onde se
verificou maior desenvolvimento foi a região da Nova Lusitânia (correspondente aos atuais
Estados de Pernambuco e Alagoas), seguido pela Capitania de São Vicente.
Isso se deu porque nessas capitanias foi implantada a lavoura da cana-de-açúcar, já
testada por Portugal em outras colônias. Falaremos disso mais à frente.
Durante os governos-gerais, o sistema de capitanias foi sendo extinto aos poucos e seus
territórios devolvidos ao governo português, e substituído pelo sistema de sesmarias,
responsável, inclusive, pelos grandes latifúndios que até hoje predominam pelo Brasil afora.
A venda de uma capitania hereditária poderia ser feita, desde que o seu donatário
obtivesse autorização do rei. Como ocorreu, por exemplo, com D. Leonor (herdeira de Pero do
Campo Tourinho) que obteve autorização para vender a Capitania de Porto Seguro a D. João de
Lencastre, Duque de Aveiro, em 16 de Julho de 1559, e com o colono Lucas Giraldes, que
comprou a Capitania de Ilhéus dos herdeiros do donatário Jorge Figueiredo Correia que falecera
em 1552.
As últimas capitanias hereditárias a passar para o domínio direto da coroa foram: a
Capitania de São Vicente (vendida em 1709 pelo Marquês de Cascais à coroa portuguesa para a
criação da capitania de São Paulo e Minas de Ouro), a Capitania do Espirito Santo (comprada
pela coroa em 1715), a Capitania de Pernambuco (em 1716, quando a coroa comprou os direitos
do último donatário D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, 8.° Conde de Vimioso, tornando-
se, a partir de então, a Capitania Real de Pernambuco), a Capitania de Itanhaém (que deixou de
existir em 1753, quando seu Donatário, o Conde da Ilha do Príncipe, a vendeu para a Coroa
Portuguesa, e esta a anexou à Capitania de São Paulo), as Capitanias de Ilhéus e Porto Seguro
(que foram incorporadas à Capitania da Bahia, em 1754 e 1761 respectivamente) e a Capitania
de Itamaracá (que em 1763, com a morte de seu último donatário, foi oficialmente extinta e
anexada à Capitania de Pernambuco).

AS SESMARIAS:

O sistema de sesmarias surgiu em Portugal no final do século XIV como uma forma de
reestruturar o território português devido à crise alimentar pela qual passava. Diferentemente do
sistema de capitanias hereditárias, dentro do qual os donatários eram homens apenas, a
subdivisão das capitanias em sesmarias contou com a distribuição de terra para várias mulheres.
Exemplos podem ser encontrados em plantas divisórias das sesmarias, e em cartas de doação,
também conhecidas como datas. Em um mapa de sesmarias no atual estado do Rio de Janeiro,
por Francisco d’Paula Machado, há evidencia de, pelo menos, três sesmarias doadas a mulheres,
e as quais chegavam a ter maior extensão que as sesmarias de vários sesmeiros.
Outros exemplos são as datas de doação, como as de Dona Portazia de Bitancourt no
atual estado de Tocantins, quem ao se tornar viúva foi capaz de obter terras que antes
pertenciam a seu pai, que por sua vez, era governador. Outras sesmeiras foram: Luiza de Lima
Camello da Paraíba, cujas terras lhe foram doadas em 1720 para poder criar seus gados; Dona
Joanna Antunes de Minas Gerais, a qual já vinha cultivando uma fazenda e possuía bastante
gado e escravos, e a qual requereu com sucesso que tais terras lhe fossem doadas de forma
legítima em 1728.
Entretanto, quando se analisa tais documentos, as datas, tal sistema de sesmarias
somente serviu para reforçar o sistema de desigualdade já existente na distribuição das
capitanias: doava-se terras àqueles, ou àquelas, que, ou haviam prestado serviços à coroa, ou
possuíam bens financeiros para desenvolver o latifúndio, ou, assim como na distribuição de
capitanias, àqueles que fossem cristãos.
Desta forma, vale enfatizar que apesar de permitir que mulheres tivessem posse de terra, o
sistema de sesmarias pode ser visto como um sistema menos sexista, mas também menos
igualitário pois se restringe a membros de certas classes sociais e crenças religiosas: o que
importava, de fato, era a condição financeira dos donatários e como os mesmos poderiam
beneficiar a Coroa, e de certa forma a Igreja Católica, através do seu contínuo serviço a estas
instituições, e não o fato de que a Coroa queria distribuir terras à maior quantidade de pessoas
possível.

Mapa de Joan Blaeu de 1640 já com a nova denominação de várias capitanias.


OS GOVERNOS GERAIS:

A fim de dar condução a esse processo de transição das capitanias hereditárias para a
distribuição de sesmarias e, efetivamente, ocupar o território, o governo português estabelece, a
partir de 1549, os Governos Gerais. Devemos recordar que as capitanias não eram
“propriedade” dos donatários, tendo esses o poder de conceder sesmarias com a aprovação do
rei. Portanto o território da colônia continuou pertencendo à Coroa. Durante todo o período das
capitanias ficou claro para os donatários que o seu poder era limitado, sendo o seu exercício
muito mais do que uma obrigação de governo do que um benefício privado.
As capitanias eram regidas pelas cartas de doação e pelos forais que especificavam a sua
demarcação e competências políticas, judiciais e fiscais, arrecadando rendas reais e usufruindo,
em alguns casos de algum percentual, além das rendas do próprio donatário.
O sistema de capitanias foi sobreposto pelo Governo Geral, criado por regimento de 1548.
O primeiro governador foi Tomé de Sousa, que chegou à Bahia em março de 1549.

Durante muito tempo a historiografia generalizou a explicação de que o Governo Geral foi
uma resposta ao fracasso das capitanias. Será?
O critério utilizado para determinar sucesso e fracasso tem sido o desenvolvimento da
economia açucareira. Mas não nos esqueçamos que ao estabelecer as capitanias, a preocupação
do rei era a manutenção dos territórios conquistados, o que foi plenamente obtido.
As capitanias tiveram desenvolvimento diverso, dos quais podemos apontar três situações:
a) aquelas que não conheceram qualquer iniciativa colonizadora, como Maranhão, Ceará e Rio
Grande. b) aquelas que foram povoadas e chegaram a iniciar uma economia agrária, baseada na
produção do açúcar, mas que tiveram seu desenvolvimento prejudicado em função dos ataques
dos povos nativos e da pouca capacidade financeira dos donatários, caso de Porto Seguro,
Espírito Santo e São Tomé. c) aquelas que conseguiram prosperar desenvolvendo a agricultura
açucareira, caso de Pernambuco e São Vicente.
Por sinal, essas capitanias eram as que mantinham um contato mais próximo com os
circuitos comerciais europeus. Em São Vicente, o engenho fundado por Martim Afonso de
Souza foi arrendado a comerciantes europeus. Já em Pernambuco, Duarte Coelho esteve na
Holanda e contou com a participação de capitais daquele país na montagem do empreendimento
agrícola. Nessa capitania, houve atração de colonos de várias categorias sociais e foi, desde
muito cedo, introduzida a mão de obra escrava de africanos.
Definida essa questão entre as capitanias hereditárias e os governos gerais, vamos
destacar brevemente os três primeiros, e mais importantes:
OS PRIMEIROS GOVERNOS GERAIS:

Os governadores-gerais eram escolhidos diretamente pelo rei de Portugal. Os três


primeiros governadores-gerais foram Tomé de Sousa (que governou de 1549 a 1553), Duarte da
Costa (1553-1558) e Mem de Sá (1558-1572).

TOMÉ DE SOUSA – O SALVADOR DA PÁTRIA (1549 a 1553):

Militar e administrador português, Tomé de Sousa chegou ao Brasil numa esquadra de


seis embarcações, trazendo com ele mais de mil pessoas.
Em sua equipe havia funcionários para cuidar da fiscalização, da justiça e da economia
colonial. Vieram também militares para defender a colônia e jesuítas, liderados pelo padre
Manuel da Nóbrega, com a missão de converter os indígenas à fé cristã.
A esquadra também trouxe artesãos, como carpinteiros e pedreiros, para cuidar das novas
construções. Para povoar a colônia, foram trazidos seiscentos degredados.

A sede do governo-geral foi erguida na baía de Todos-os-Santos, em 1549. A nova cidade


foi chamada de Cidade do Salvador. Essa foi a primeira capital do Brasil.
Tomé de Sousa enfrentou a resistência de alguns donatários — como Duarte Coelho, de
Pernambuco —, que se recusavam a aceitar sua autoridade.
A principal tarefa do governador-geral era garantir a posse do território para os
portugueses, enfrentando as invasões de outros povos europeus e fundando vilas. Outra
importante missão era controlar os indígenas, combatendo-os ou fazendo alianças com eles,
quando possível.
Tomé de Sousa tinha um mandato de três anos como governador do Brasil, mas teve que
aguardar até 1553 para retornar a Portugal.
DUARTE DA COSTA – SEGUNDO REPRESENTANTE DA COROA (1553-1558):

O segundo governador-geral, Duarte da Costa, ampliou a presença dos padres jesuítas no


Brasil. Durante seu governo, os padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta fundaram o
Colégio de São Paulo, em 25 de janeiro de 1554. Em torno do colégio se formou a vila que deu
origem à cidade de São Paulo.
Seu governo foi abalado pela invasão do território da atual cidade do Rio de Janeiro pelos
franceses, que fundaram ali uma colônia, a França Antártica.
Trataremos desse tema mais para a frente.

MEM DE SÁ – O EXTERMINADOR (1558-1572):

Mem de Sá, terceiro governador-geral, e seu sobrinho Estácio de Sá se destacaram pela


luta contra as invasões francesas. Para isso, contaram com a aliança de indígenas maracajás,
inimigos dos tamoios, que tinham se aliado aos franceses. Estácio de Sá fundou a cidade do Rio
de Janeiro em 1565.
Em seu governo, Mem de Sá atuou energicamente contra os indígenas que reagiam à
ocupação de suas terras pelos colonos de origem portuguesa. Vários povos foram exterminados.
AS GUERRAS CONTRA OS POVOS NATIVOS:

Como muitas colônias vizinhas, o Brasil também teve sua porcentagem de guerras entre os
colonizadores e os nativos, além de guerras contra outras potências colonizadoras, como os
franceses e espanhóis.
A principal dessas guerras que colocou colonizadores contra nativos foi a Guerra de
Itapuã, que aconteceu em 1555 na Bahia. Sob o governo geral de Duarte da Costa, segundo
governador-geral do Brasil, ocorreu a primeira grande resposta nativa à colonização portuguesa
da capitania da Bahia. No dia 26, uma quarta-feira, cinquenta tupinambás da aldeia da Porta
Grande atacaram um engenho vizinho, exigindo a devolução de terras indígenas ocupadas
indevidamente.
Na quarta-feira seguinte, atacaram a Itapuã 160 soldados com armas de fogo e armaduras
europeias. Chegando ao destino, a tropa recebeu os tradicionais desafios de mil tupinambás,
entrincheirados atrás de uma grande cerca. Os portugueses possuíam armas de aço e fogo e
uma pequena cavalaria, arma desconhecida nas Américas. Era imenso o desequilíbrio entre o
armamento e as técnicas militares europeias e indígenas. Após um violento combate, a paliçada
da aldeia cedeu; e os tupinambás, após serem expulsos, foram caçados e mortos, em campo
aberto, pela cavalaria. A batalha nem terminou, e começou o massacre.
Em pouco mais de uma semana, os lusitanos destruíram treze aldeias, próximas a
Salvador, matando, escravizando ou expulsando uma população de umas 3 mil pessoas. A
“Guerra de Itapuã” quebrou a dualidade de poderes na região. Os portugueses deixaram de ser
os “recém-chegados”, e os nativos foram desalojados da situação de “senhores da terra”.
Sabemos que o encontro entre portugueses e indígenas não foi amistoso uma vez que os
portugueses, antes de aproveitarem da mão de obra escrava que chegava da África, utilizaram os
índios como escravos, o que gerou enorme descontentamento das tribos, de forma que alguns
fugiam, morriam e outros cometiam suicídio.
AS GUERRAS CONTRA OS FRANCESES:

No mesmo ano em que os portugueses se “livraram” dos tupinambás e tomaram as terras


dos nativos, outro problema surgiu nas terras coloniais: a intromissão de outras potências
europeias na região brasileira. Essa tentativa de “roubar” a terra dos portugueses no Brasil foi
feita especialmente pelos franceses em duas ocasiões: uma tentativa de colonização do
Maranhão e outra, a mais conhecida, na Baía de Guanabara que, entre 1555 e 1560, era
conhecida como França Antártica.
Nesse meio tempo, vale notar que na França, os conflitos entre huguenotes (protestantes)
e católicos aumentaram, o que resultou na fuga de muitos protestantes do continente europeu,
os quais estavam sendo perseguidos pela Igreja.
Desse modo, comandada por Nicolau Durand de Villegaignon e o Almirante Gaspar
Coligny, os franceses chegaram ao Brasil em 1555, na atual cidade do Rio de Janeiro, ocupando
os territórios ainda não explorados pelos portugueses, a saber: Baía de Guanabara, Laje, Uruçu-
mirim (atual Flamengo) e as ilhas de Serigipe (atual Villegaignon) e Paranapuã (atual ilha do
Governador). Foi daí que surgiu a França Antártica.
Um fator importante que firmou os franceses no território brasileiro foi a relação amistosa
que estabeleceram entre os índios Tamoios e Tupinambás, os quais se tornaram seus aliados e
possuíam o mesmo objetivo: eliminar os portugueses. A Confederação dos Tamoios
representou a união entre os franceses e os Tupinambás, dispostos a expulsar os portugueses.
No entanto, em 1560 os franceses foram expulsos pelos portugueses no confronto
comandado pelo terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá, num decisivo ataque ao forte de
Coligny, erigido na ilha de Serigipe, no Rio de Janeiro, o qual serviria de base econômica
(exploração do pau-brasil) e militar dos franceses.
Mem de Sá permaneceu no cargo de governador-geral de 1558 a 1572, ano de sua morte.
Após esse evento, o país foi dividido em dois polos, norte (capital Salvador) e sul (capital Rio de
Janeiro), fortalecendo ainda mais a presença lusitana na colônia. Entretanto, os franceses
resolveram ocupar o território de São Luís do Maranhão, na região nordeste do país, fundando a
colônia denominada “França Equinocial”, em março de 1612 comandados por Daniel de La
Touche.
Com o passar do tempo, expandiram o território que passou a compreender o litoral
maranhense, até o norte do atual estado do Tocantins. A França Equinocial permaneceu durante
3 anos no território, até 1615, quando foram expulsos definitivamente do território brasileiro em
combate liderado pelo administrador português, Jerônimo de Albuquerque.

A CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR:

No primeiro século de colonização, a lavoura de cana-de-açúcar foi implantada em várias


regiões da colônia, repetindo experiência já levada a cabo em outras colônias portuguesas,
criando um espaço socioeconômico com interesses em comum e consolidando as atividades
diárias de homens e mulheres.
Mas onde? A partir de Olinda, a atividade se desdobrou em direção à Paraíba e ao Rio
Grande do Norte. Da Bahia, caminhou para Sergipe e Alagoas. De Ilhéus, para Porto Seguro. Do
Rio de Janeiro, para Campos dos Goytacazes e, posteriormente, para Minas Gerais - onde se
especializou a produção de aguardente e rapadura para os escravos das lavras, enquanto São
Paulo e Espírito Santo, até a segunda metade do século XVIII, conheceram um retrocesso ou
fraco crescimento da lavoura da cana.
A cultura da cana-de-açúcar foi também fator determinante para o extermínio de diversos
nativos devido a resistência destes em “liberar” as melhores terras para o cultivo e beneficiamento
da gramínea: No Ceará, representou o fim dos Potiguares, em luta árdua e sangrenta. Na Bahia
diversos povos pereceram. Mesmo fim tiveram os Tamoios, no Rio de Janeiro, por impedirem, em
1530,a implantação dos primeiros engenhos e lavouras de cana.
A mais antiga evidência física preservada da colonização portuguesa nas Américas é um
engenho: na primeira vila do Brasil, São Vicente, fundada em 1532 por Martim Afonso de Souza,
foi implantado o Engenho de São Jorge dos Erasmos dois anos depois. Inicialmente conhecido
como Engenho do Governador ou Engenho do Trato, era uma associação de Martim Afonso com
comerciantes portugueses e holandeses. Marca o início da produção em larga escala de açúcar
no Brasil e também a presença de holandeses ligados a esse tipo de empreendimento.
Como nota triste na história, a produção de açúcar no Brasil ficou marcada como o tipo de
atividade econômica que introduziu a escravidão de africanos trazidos a força para o Brasil.
Para a produção do açúcar nos engenhos era necessária mão de obra para o cultivo,
colheita e corte da cana; o trabalho na casa da moenda e na casa das fornalhas (cozinha).
Existiam dois tipos de engenho: os trapiches (cuja moenda era movida por tração animal -
geralmente bois) e os reais (onde quem fazia o trabalho pesado era a força de um curso d’água).

Na casa da moenda trabalhavam cerca de quinze escravos, além de um lavadeiro e de um


feitor pequeno. Na casa das fornalhas era cozido o caldo obtido com a moagem. Nela,
trabalhavam cerca de vinte e oito escravos, um mestre de açúcar, um banqueiro, dois caldeireiros
de melar e um caldeireiro de escumar. Nas fornalhas retirava-se toda a impureza e produzia-se
um caldo chamado de melaço.
O melaço era levado para a casa de purgar e ficava lá por duas semanas em formas de
barros com furos de drenagem - os pães de açúcar (nesse momento, a aguardente poderia ser
produzida). Nessas formas colocavam-se água e barro juntamente com o melaço. Depois de
quarenta dias eram produzidos três tipos diferentes de açúcar (escuro, mascavo e branco). Para
a realização desse processo na casa de purgar, eram necessários um purgador e cinco escravos.
A última parte da produção do açúcar nos engenhos coloniais era a etapa da secagem e
embalagem do produto. Para isso, utilizavam-se um caixeiro e dezenove escravos, que cortavam
o melaço sólido (açúcar) e separavam os diferentes açúcares. Após a separação, o açúcar era
batido, esfarelado e embalado.
No final do processo da produção do açúcar e do funcionamento do engenho colonial, tudo
o que era produzido nos engenhos era enviado por navio aos mercados europeus que
negociavam o açúcar por um alto custo.
O açúcar era um dos produtos mais requisitados pelo “Velho Mundo” no início da
modernidade e, por isso, a cana-de-açúcar foi a principal monocultura empregada no solo
brasileiro. O comércio de açúcar era um dos mais internacionalizados, movimentando vários
outros setores da economia mercantilista da época. O açúcar brasileiro, produzido em sua maior
parte no Nordeste, era enviado pelos portugueses para a Holanda, em acordo com a Companhia
das Índias Ocidentais, a fim de lá ser refinado. O refino do açúcar o tornava ainda mais valioso
no mercado europeu.
A sociedade açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois
grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os
plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos para montar um engenho para
moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho. O outro grupo era formado
pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. Entre esses dois
grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como
os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores
do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio).

Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos,


funcionários e comerciantes.
A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas
mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher,
filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família,
recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes, de
status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os
limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida
colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na sociedade
colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da época.

A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade do açúcar. Os


senhores de engenho detinham posição mais vantajosa. Possuíam, além de escravos e terras, o
engenho. Abaixo deles, situavam-se os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam,
adquirida por concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como senhores
de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e outros bens, menos o engenho.
Compartilhavam com eles as mesmas origens sociais e as mesmas aspirações.
O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável flexibilidade nas
negociações da moagem da cana com os senhores de engenho. Eram uma espécie de elite entre
os agricultores, apesar de haver entre eles um grupo que tinha condições e recursos bem mais
modestos.
Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores -, unidos pelo interesse e pela
dependência em relação ao mercado internacional, formaram o setor açucareiro. Os interesses
comuns, porém, não asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento. Os senhores de
engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam não só cana-de-
açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de engenho seguiam o
exemplo, tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de
plantadores independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação aos
senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa situação provocou a concentração da
propriedade e a diminuição do número de agricultores.

Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos. Recorriam a
alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse contrato
impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do
açúcar produzido. Esses homens se tornaram fundamentais à produção do açúcar. O senhor de
engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo
somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito mais lucrativa.
Nesta época, o termo “lavrador de cana” designava qualquer pessoa que praticasse a
agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um grande
senhor de engenho.
No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. Apesar da
atividade mineradora do século XVIII e da concorrência do açúcar produzido nas Antilhas, essa
posição se manteve até o início do século XIX. Em todo esse tempo houve tanto bons quanto
maus períodos e, embora o Brasil nunca recuperasse sua posição relativa como fornecedor de
açúcar no mercado internacional, a indústria açucareira e a classe dos senhores de engenho
permaneceram dominantes em regiões como Bahia e Pernambuco.

Na próxima aula, falaremos mais um pouco sobre o período do açúcar, mas dando o
contexto das invasões holandeses.
Além disso, falaremos também sobre a efetiva colonização do sertão e a ocupação do
interior do Brasil. Até lá!

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