Aula 3 - História Do Período Colonial
Aula 3 - História Do Período Colonial
Aula 3 - História Do Período Colonial
PRÉ-VESTIBULAR CIDADÃO
Rua Santo Antônio, s/n – Niterói, Volta Redonda – CEP 27283-210
Endereço eletrônico: [email protected]
Professores: Anderson Couto, Herlaine
Disciplina: História do Brasil
Carvalho e Eloah Bernardo
Tema: Iniciando a História do Período Colonial Data: 22/04/2021
Salve, amigos! Bem-vindos à terceira aula de História do Brasil!
Na última aula falamos um pouco sobre os povos nativos da América e sobre o período
pré-colonial no Brasil. Agora vamos efetivamente adentrar a História do Brasil propriamente dita.
As duas aula iniciais foram apenas o prólogo da nossa aventura. Mas antes, um poema:
FADO TROPICAL
(Chico Buarque de Holanda, Ruy Guerra)
Oh, musa do meu fado Oh, minha mãe gentil "Meu coração tem um sereno jeito
Te deixo consternado No primeiro abril E as minhas mãos o golpe duro e presto
Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou De tal maneira que, depois de feito
E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal É que há distância entre intenção e gesto
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental Quando me encontro no calor da luta
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose Ostento a aguda empunhadura à proa
de lirismo Mas o meu peito se desabotoa
(além da sífilis, é claro) E se a sentença se anuncia bruta
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em Mais que depressa a mão cega executa
torturar, esganar, Pois que senão o coração perdoa"
trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..." Guitarras e sanfonas, Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Com avencas na caatinga Alecrins no canavial Num suave azulejo
Licores na moringa Um vinho tropical E o rio Amazonas Que corre Trás-os-Montes
E a linda mulata Com rendas do Alentejo E numa pororoca Deságua no Tejo
De quem numa bravata Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se um império colonial.
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Esse poema (que também é uma música) foi escrito por Chico Buarque de Holanda em
parceria com o escritor e dramaturgo moçambicano Ruy Guerra para a peça “Calabar: O Elogio
da Traição”, de 1973, que foi censurada pela ditadura militar. A peça se passa no contexto da
Invasão Holandesa em Pernambuco e aborda uma figura emblemática do período: Domingos
Fernandes Calabar. Em breve falaremos sobre ele!
Voltando um pouco, na última aula encerramos falando sobre as dificuldades do sistema
de capitanias hereditárias implantado aqui pela coroa portuguesa com o intuito de promover a
ocupação do território, que ficou praticamente abandonado e a mercê do assédio de exploradores
de outras nações durante o período pré-colonial (1500 a 1530).
O FIM DAS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS:
AS SESMARIAS:
O sistema de sesmarias surgiu em Portugal no final do século XIV como uma forma de
reestruturar o território português devido à crise alimentar pela qual passava. Diferentemente do
sistema de capitanias hereditárias, dentro do qual os donatários eram homens apenas, a
subdivisão das capitanias em sesmarias contou com a distribuição de terra para várias mulheres.
Exemplos podem ser encontrados em plantas divisórias das sesmarias, e em cartas de doação,
também conhecidas como datas. Em um mapa de sesmarias no atual estado do Rio de Janeiro,
por Francisco d’Paula Machado, há evidencia de, pelo menos, três sesmarias doadas a mulheres,
e as quais chegavam a ter maior extensão que as sesmarias de vários sesmeiros.
Outros exemplos são as datas de doação, como as de Dona Portazia de Bitancourt no
atual estado de Tocantins, quem ao se tornar viúva foi capaz de obter terras que antes
pertenciam a seu pai, que por sua vez, era governador. Outras sesmeiras foram: Luiza de Lima
Camello da Paraíba, cujas terras lhe foram doadas em 1720 para poder criar seus gados; Dona
Joanna Antunes de Minas Gerais, a qual já vinha cultivando uma fazenda e possuía bastante
gado e escravos, e a qual requereu com sucesso que tais terras lhe fossem doadas de forma
legítima em 1728.
Entretanto, quando se analisa tais documentos, as datas, tal sistema de sesmarias
somente serviu para reforçar o sistema de desigualdade já existente na distribuição das
capitanias: doava-se terras àqueles, ou àquelas, que, ou haviam prestado serviços à coroa, ou
possuíam bens financeiros para desenvolver o latifúndio, ou, assim como na distribuição de
capitanias, àqueles que fossem cristãos.
Desta forma, vale enfatizar que apesar de permitir que mulheres tivessem posse de terra, o
sistema de sesmarias pode ser visto como um sistema menos sexista, mas também menos
igualitário pois se restringe a membros de certas classes sociais e crenças religiosas: o que
importava, de fato, era a condição financeira dos donatários e como os mesmos poderiam
beneficiar a Coroa, e de certa forma a Igreja Católica, através do seu contínuo serviço a estas
instituições, e não o fato de que a Coroa queria distribuir terras à maior quantidade de pessoas
possível.
A fim de dar condução a esse processo de transição das capitanias hereditárias para a
distribuição de sesmarias e, efetivamente, ocupar o território, o governo português estabelece, a
partir de 1549, os Governos Gerais. Devemos recordar que as capitanias não eram
“propriedade” dos donatários, tendo esses o poder de conceder sesmarias com a aprovação do
rei. Portanto o território da colônia continuou pertencendo à Coroa. Durante todo o período das
capitanias ficou claro para os donatários que o seu poder era limitado, sendo o seu exercício
muito mais do que uma obrigação de governo do que um benefício privado.
As capitanias eram regidas pelas cartas de doação e pelos forais que especificavam a sua
demarcação e competências políticas, judiciais e fiscais, arrecadando rendas reais e usufruindo,
em alguns casos de algum percentual, além das rendas do próprio donatário.
O sistema de capitanias foi sobreposto pelo Governo Geral, criado por regimento de 1548.
O primeiro governador foi Tomé de Sousa, que chegou à Bahia em março de 1549.
Durante muito tempo a historiografia generalizou a explicação de que o Governo Geral foi
uma resposta ao fracasso das capitanias. Será?
O critério utilizado para determinar sucesso e fracasso tem sido o desenvolvimento da
economia açucareira. Mas não nos esqueçamos que ao estabelecer as capitanias, a preocupação
do rei era a manutenção dos territórios conquistados, o que foi plenamente obtido.
As capitanias tiveram desenvolvimento diverso, dos quais podemos apontar três situações:
a) aquelas que não conheceram qualquer iniciativa colonizadora, como Maranhão, Ceará e Rio
Grande. b) aquelas que foram povoadas e chegaram a iniciar uma economia agrária, baseada na
produção do açúcar, mas que tiveram seu desenvolvimento prejudicado em função dos ataques
dos povos nativos e da pouca capacidade financeira dos donatários, caso de Porto Seguro,
Espírito Santo e São Tomé. c) aquelas que conseguiram prosperar desenvolvendo a agricultura
açucareira, caso de Pernambuco e São Vicente.
Por sinal, essas capitanias eram as que mantinham um contato mais próximo com os
circuitos comerciais europeus. Em São Vicente, o engenho fundado por Martim Afonso de
Souza foi arrendado a comerciantes europeus. Já em Pernambuco, Duarte Coelho esteve na
Holanda e contou com a participação de capitais daquele país na montagem do empreendimento
agrícola. Nessa capitania, houve atração de colonos de várias categorias sociais e foi, desde
muito cedo, introduzida a mão de obra escrava de africanos.
Definida essa questão entre as capitanias hereditárias e os governos gerais, vamos
destacar brevemente os três primeiros, e mais importantes:
OS PRIMEIROS GOVERNOS GERAIS:
Como muitas colônias vizinhas, o Brasil também teve sua porcentagem de guerras entre os
colonizadores e os nativos, além de guerras contra outras potências colonizadoras, como os
franceses e espanhóis.
A principal dessas guerras que colocou colonizadores contra nativos foi a Guerra de
Itapuã, que aconteceu em 1555 na Bahia. Sob o governo geral de Duarte da Costa, segundo
governador-geral do Brasil, ocorreu a primeira grande resposta nativa à colonização portuguesa
da capitania da Bahia. No dia 26, uma quarta-feira, cinquenta tupinambás da aldeia da Porta
Grande atacaram um engenho vizinho, exigindo a devolução de terras indígenas ocupadas
indevidamente.
Na quarta-feira seguinte, atacaram a Itapuã 160 soldados com armas de fogo e armaduras
europeias. Chegando ao destino, a tropa recebeu os tradicionais desafios de mil tupinambás,
entrincheirados atrás de uma grande cerca. Os portugueses possuíam armas de aço e fogo e
uma pequena cavalaria, arma desconhecida nas Américas. Era imenso o desequilíbrio entre o
armamento e as técnicas militares europeias e indígenas. Após um violento combate, a paliçada
da aldeia cedeu; e os tupinambás, após serem expulsos, foram caçados e mortos, em campo
aberto, pela cavalaria. A batalha nem terminou, e começou o massacre.
Em pouco mais de uma semana, os lusitanos destruíram treze aldeias, próximas a
Salvador, matando, escravizando ou expulsando uma população de umas 3 mil pessoas. A
“Guerra de Itapuã” quebrou a dualidade de poderes na região. Os portugueses deixaram de ser
os “recém-chegados”, e os nativos foram desalojados da situação de “senhores da terra”.
Sabemos que o encontro entre portugueses e indígenas não foi amistoso uma vez que os
portugueses, antes de aproveitarem da mão de obra escrava que chegava da África, utilizaram os
índios como escravos, o que gerou enorme descontentamento das tribos, de forma que alguns
fugiam, morriam e outros cometiam suicídio.
AS GUERRAS CONTRA OS FRANCESES:
A CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR:
Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos. Recorriam a
alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse contrato
impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do
açúcar produzido. Esses homens se tornaram fundamentais à produção do açúcar. O senhor de
engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo
somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito mais lucrativa.
Nesta época, o termo “lavrador de cana” designava qualquer pessoa que praticasse a
agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um grande
senhor de engenho.
No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. Apesar da
atividade mineradora do século XVIII e da concorrência do açúcar produzido nas Antilhas, essa
posição se manteve até o início do século XIX. Em todo esse tempo houve tanto bons quanto
maus períodos e, embora o Brasil nunca recuperasse sua posição relativa como fornecedor de
açúcar no mercado internacional, a indústria açucareira e a classe dos senhores de engenho
permaneceram dominantes em regiões como Bahia e Pernambuco.
Na próxima aula, falaremos mais um pouco sobre o período do açúcar, mas dando o
contexto das invasões holandeses.
Além disso, falaremos também sobre a efetiva colonização do sertão e a ocupação do
interior do Brasil. Até lá!