Real Gazeta Do Alto Minho, N.º 30

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REAL GAZETA

DO ALTO MINHO
EDIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS ADRIANO XAVIER CORDEIRO | N.º 30 DEZEMBRO 2021

Delfins em Ponte de Lima em Agosto


de 2009

ENTREVISTA A LUÍS SAMPAIO PÁG. 40


DIRECTOR MÚSICO E TECLISTA DOS DELFINS
J O S É A N Í B A L
”Acredito que a restauração da Monarquia é possível, desde logo porque
MARINHO GOMES
o crescente descontentamento popular com a corrupção que grassa e
REDACTOR com um sistema representativo em que ninguém se sente
PORFÍRIO SILVA representado cria uma oportunidade significativa.”
CONTEÚDO
PÁG. 7 - O CÉLEBRE PORTUGUÊS
PADRE HIMALAYA, NASCEU ANTES
DE TEMPO!

PÁG. 12 - HOMENAGEM A HENRIQUE


DE PAIVA COUCEIRO

PÁG. 17 - O REI DOS PORTUGUESES

PÁG. 20 - A NORUEGA - O ESTADO


MAIS DEMOCRÁTICO DA ATUALIDADE

PÁG. 31 - LANÇAMENTO DO LIVRO


“MEMÓRIAS DUM ROIALISTA” DE
TOMÁS A. MOREIRA

PÁG. 35 - MONARQUIA: SIM OU NÃO?

PÁG. 37 -PRÉMIO GONÇALO RIBEIRO


TELLES

PÁG. 40 - ENTREVISTA AO EX.MO.


SENHOR DR. LUÍS SAMPAIO

PÁG. 47 - PALAVRA SOLTA:


MUDANÇA!

PÁG. 51 - O PINTOR JORGE COLAÇO E


«O THALASSA»

PÁG. 54 - É POR SER MONÁRQUICO


QUE SOU ROIALISTA

PÁG. 59 - TERRA NOVA DOS


BACALHAUS

PÁG. 68 - JANTAR DOS CONJURADOS


DA CAUSA REAL

PÁG. 74 - EU, MONÁRQUICO

PÁG. 84 - REAIS CONVERSAS COM…

PÁG. 92 - 5.10.1911

PÁG. 94 - 1º DE DEZEMBRO DE 2021


EM CELORICO DE BASTO

DEZEMBRO 2021
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

EDITORIAL
J O S É A N Í B A L M A R I N H O G O M E S
Viv’ó Rei dos Portugueses!
"A Monarquia é, portanto, mais que uma necessidade, um dever patriótico desta geração".
Gonçalo Ribeiro Telles

Talvez por culpa dos monárquicos portugueses, os irmãos, aos avós, aos tios e aos primos, e levará à
republicanos não se limitaram apenas a derrubar a referida “evolução das mentalidades”.
monarquia, perpetuaram-se no poder através da Para que essa evolução aconteça, é também
inclusão de um preceito constitucional que nega aos necessário, que os monárquicos que integram as
portugueses a possibilidade de alterarem o regime fileiras dos diversos partidos políticos aí promovam,
(art.º 288.º da Constituição da República Portuguesa). constantemente, a figura do Rei dos Portugueses.
Logo, só através de uma revolução, pela força das O Rei dos Portugueses, é eleito pela história, é de
armas ou pela evolução das mentalidades , será todos os cidadãos de Portugal, permitindo por este
possível ao povo português restaurar a monarquia. facto uma maior estabilidade da vida política. É a
Somos defensores desta última solução, mas para que verdadeira identidade de Portugal, pois só um Rei
isso aconteça ainda temos um longo caminho a defende a Cultura, a História e os direitos
percorrer e a estratégia do nosso movimento terá de fundamentais dos cidadãos. Um rei simboliza a nação,
passar, inevitavelmente por aqui e não pode ser encarna o espírito do País e encaminha-o para onde
delineada em clubes privados. deve seguir, por ser um árbitro e independente das
Àqueles que criticam esta posição, pergunto se estão forças partidárias.
dispostos a desafiar a ordem pública (onde é que Já em 1640, o Dr. João Pinto Ribeiro defendia a tese,
andam os Paiva Couceiros deste país?), porque, como com a qual estamos de acordo, do duplo contrato, da
portugueses que somos e embora nos custe, pelo soberania popular e do consequente direito de
menos a mim custa, devemos respeitar o estado de resistência, opondo-se à teoria da origem divina do
direito e o regime vigente, ainda que nos tenha sido poder real e à sua sacralidade, uma vez que os reis
imposto pela força! recebiam o poder do povo para governarem bem e
A monarquia é de todos: do cidadão comum e correctamente. É do povo que provém todo o poder,
anónimo, daqueles que não ostentam títulos uma vez que só nele reside a verdadeira soberania.
nobiliárquicos nem honrarias, dos portugueses que Para os que defendem a sacralidade do poder real e
têm opções políticas diversas, da esquerda ou da outros valores tradicionais, importa destacar que nos
direita, uma vez que numa monarquia democrática, países europeus, onde a monarquia se mantém de
constitucional e moderna, todos têm lugar. forma firme, segura e estável, os regimes
Ser monárquico não basta. E não tem sido por falta de modernizaram-se, adaptando-se a novas ideias,
doutrina e de doutrinadores que a monarquia ainda estando a figura do Rei ou Rainha muito enraizada no
não foi restaurada em Portugal. Foi, sim, pela falta de povo, países estes que são um exemplo por serem
oportunidade que os monárquicos não conseguiram daqueles que apresentam maior índice de
criar, pela falta de didatologia monárquica que desenvolvimento e de democraticidade do mundo.
demonstre primeiramente as virtudes da figura do Rei A grande maioria dos monárquicos estão conformados
dos Portugueses e do contributo que trará ao nosso com a república (não é o meu caso), são muito
país e só após este trabalho pedagógico previamente passivos e nada fazem para acordar Portugal, antes
realizado, por natureza lento, é que a restauração pelo contrário, dão razão aos republicanos que após
monárquica terá sucesso. 1910 lançaram uma campanha para confundir os
A pedagogia deverá começar nas escolas, juntos dos portugueses, ao ligarem os monárquicos a um
alunos, não só com realização de concursos escolares, conjunto de clichés, que vão desde conservadores,
como muito bem faz a Real Associação de Viana do “betinhos”, que usam botões de punho em ouro, anéis
Castelo, mas também pela divulgação de que os de brasão, que frequentam clubes privados, gostam de
Portugueses têm um Rei, que é uma figura humana, fado, touradas, etc. Ora a Monarquia não é isto!
semelhante a eles próprios. É esse o objectivo do Só quando tiver passado a mensagem de que há em
Projecto Educar da Causa Real e que o movimento Portugal um Rei dos Portugueses , que está pronto a
monárquico não quis e não soube aproveitar. servi-los, e não a servir-se deles, e quando o povo
Não podemos, nem devemos esquecer, outras formas começar a questionar o regime é que se poderá
de divulgação, como tertúlias (a Real Associação de começar a pensar na restauração monárquica.
Viana tem as “Reais Conversas com…”, que no fundo Competindo, pois, à nossa capacidade de
são encontros informais, sobre temas relacionados argumentação, demonstrar aos Portugueses as
com a História e/ou histórias locais e assuntos da vantagens de terem um REI em vez de um presidente!
actualidade, que decorrem em todo o Alto Minho.), Parafraseando o escritor e poeta João Miguel
artigos em jornais, a começar na imprensa regional, Fernandes Jorge, em artigo inserto em 1989 no Jornal
bem como programas nas rádios locais. De igual O Independente: “…Quem me dera, quem nos dera, que
modo, devemos aproveitar as conversas que temos num dia próximo viesse a ter actualidade a letra da
com os nossos amigos, conhecidos e, inclusive, com os canção que canta a gente de Manhouce: «Ao entrar
colegas de trabalho. da barra / um anel achei / com as letras todas /
A mensagem, pedagogicamente elaborada, mais dia Viv’ó nosso rei»” .
menos dia, acabará por chegar a casa, a os pais, aos

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REIS DE PORTUGAL

Títulos, estilos e honrarias


D. Maria II
“Sua Alteza, a Princesa da Beira” (4 de
Abril de 1819 – 6 de Março de 1821).
“Sua Alteza, a Sereníssima infanta Dona
Maria da Glória” (6 de Março de 1821 – 4
de Fevereiro de 1822).
Nascimento – 4 de Abril de 1819 no “Sua Alteza, a Princesa da Beira” (4 de
Paço de São Cristóvão, Rio de Janeiro. Fevereiro de 1822 – 12 de Outubro de
1822).
Morte – 15 de novembro de 1853, “Sua Alteza Imperial, a Princesa
Palácio das Necessidades, Lisboa. O seu Imperial do Brasil” (12 de outubro de
corpo sepultado no Panteão Real da 1822 – 2 de dezembro de 1825).
Dinastia de Bragança, Mosteiro de São “Sua Alteza Imperial, a Princesa do
Vicente de Fora, Lisboa. Grão-Pará” (2 de Dezembro de 1825 – 2
de Maio de 1826).
Reinado – 2 de Maio de 1826 a 11 de “Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha” (2
Julho de 1828. 2.º Reinado 26 de Maio de Maio de 1826 – 15 de Novembro de
de 1834 a 15 de Novembro de 1853. 1853).

Consorte – D. Augusto de Beauharnais O estilo oficial de D. Maria II como


(1835–1835); D. Fernando II de Portugal Rainha era: “Sua Majestade Fidelíssima,
(1836–1853). Maria II, pela Graça de Deus, Rainha de
Portugal e Algarves, d'Aquém e d'Além-
Dinastia – Bragança. Mar em África, Senhora da Guiné e da
Conquista, Navegação e Comércio da
Cognome – “a Educadora”, “a Boa Mãe”. Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.”

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Gregório Francisco de Assis Borja


Gonzaga Pastagem Félix), infante de
Portugal, Duque de Beja e Condestável
do Reino (nasceu a 16 de Março de 1842
em Lisboa e faleceu a 27 de Dezembro
de 1861 em Lisboa), s.g.
D. Maria Ana (D. Maria Ana Fernanda
Leopoldina Micaela Rafaela Gabriela
Carlota Antônia Júlia Vitória Praxedes
Francisca de Assis Gonzaga), Infanta de
Portugal e Princesa da Saxónia, (nasceu
a 21 de Julho de 1843 em Lisboa e
faleceu a 5 de Fevereiro de 1884 em
Dresden). Casou com Jorge, Príncipe
Hereditário da Saxónia, filho do rei João
da Saxónia e de D. Amélia Augusta da
Baviera, c. g.
D. Antónia (D. Antónia Maria Fernanda
Micaela Gabriela Rafaela de Assis
Gonzaga Silvéria Júlia Augusta), infanta
de Portugal, princesa de Saxe-Coburgo-
Gota e duquesa de Saxe, princesa de
Hohenzollern-Sigmaringen (nasceu no
Palácio de Belém em Lisboa a 17 de
Como Rainha de Portugal, foi Grã-
Fevereiro de 1845 e faleceu a 27 de
Mestre das seguintes Ordens: Dezembro de 1913 em Sigmaringen,
Baden-Württemberg, Alemanha), c.g.
Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor D. Fernando (D. Fernando Maria Luís de
Jesus Cristo. Saxe-Coburgo-Gota e Bragança), infante
Ordem de São Bento de Avis. de Portugal, Panteão Real de S. Vicente
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida de Fora. (nasceu a 23 de Julho de 1846
Ordem de Sant'Iago da Espada. em Lisboa, e faleceu a 6 de Novembro
Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e de 1861 em Lisboa e está sepultado no
Espada. Panteão Real de S. Vicente de Fora), s.g.
Real Ordem Militar de Nossa Senhora D. Augusto (Augusto Maria Miguel
da Conceição de Vila Viçosa. Gabriel Rafael Agrícola Francisco de
Assis Gonzaga Pedro de Alcântara de
Loiola), Duque de Coimbra (nasceu 4 de
Filhos Novembro de 1847 no Palácio das
Necessidades, Lisboa e faleceu a 26 de
D. Pedro V de Portugal. Setembro de 1889 está sepultado no
D. Luís I de Portugal. Panteão Real de S. Vicente de Fora), s.g.
D. Maria, 4 de Outubro de 1840, nado- D. Leopoldo, 7 de Maio de 1849, nado-
morta. morto.
D. João, (D. João Maria Fernando D. Maria da Glória, 3 de Fevereiro de
Pedro de Alcântara Miguel Rafael 1851, nado-morta.
Gabriel Leopoldo Carlos António D. Eugénio, 15 de novembro de 1853,
nado-morto.

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Pai D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal «tão cheia de carácter e de vontade […].


Rainha no sangue, homem no caracter»
Mãe D. Maria Leopoldina da Áustria […] (Martins, p. 62) «o avesso do genio
do marido, simultaneamente nervosa e
sanguinea, ciosa das suas prerrogativas
D. Maria II em pessoa realengas, mais despótica no imo que o
pai e o tio» (Noronha, II, p. 40)
«seus olhos azuis e seu cabelo louro são
herança casa de Áustria […] não fala o
alemão, ainda que, segundo julgo, o
entende perfeitamente» (Lichnowsky, p.
63)

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O CÉLEBRE PORTUGUÊS PADRE


HIMALAYA, NASCEU ANTES DE
TEMPO!
ANTÓNIO MONIZ PALME

Abstract

Manuel António Gomes was born in the parish of Cendufe, Arcos de Valdevez, on
December 9, 1868 and died in Viana do Castelo, on December 21, 1933. Better
known as Father Himalaya, due to his height, he was a Catholic priest, scientist
and inventor, pioneer in the use of solar energy and introducer in Portugal of
interest in renewable energies, also dedicating himself to topics such as ecology,
medicine, education or vegetarianism.
He put his name to more than 30 inventions, standing out especially in two areas,
the use of sunlight and explosives. In the first, he designed and built what he
called the Pyreliófero, a metallic structure with mirrors, more than ten meters
high, which served to concentrate the sun's rays and fuse materials. The invention
was shown in the USA, at the 1904 Saint Louis World's Fair, where it was awarded
and received great attention in the scientific press. He developed a chemist –
Himalaite – and had a company that produced and sold it, but it was in the field of
solar energy that he assumed an unexpected pioneering spirit.

Key words: Father Himalaya; inventor; pyreliófero; himalaite.


Résumé

Manuel António Gomes est né dans la paroisse de Cendufe, Arcos de Valdevez, le 9


décembre 1868 et mort à Viana do Castelo, le 21 décembre 1933. Mieux connu sous
le nom de Père Himalaya, en raison de sa taille, il était prêtre catholique,
scientifique et inventeur, pionnier dans l'utilisation de l'énergie solaire et
introducteur au Portugal d'intérêt pour les énergies renouvelables, se consacrant
également à des sujets tels que l'écologie, la médecine, l'éducation ou le
végétarisme.
Il a mis son nom sur plus de 30 inventions, se démarquant notamment dans deux
domaines, l'utilisation de la lumière solaire et des explosifs. Dans le premier, il a
conçu et construit ce qu'il a appelé le Pyreliófero, une structure métallique avec
des miroirs, haute de plus de dix mètres, qui servait à concentrer les rayons du
soleil et à fusionner les matériaux. L'invention a été présentée aux États-Unis, à
l'Exposition universelle de Saint Louis de 1904, où elle a été récompensée et a reçu
une grande attention dans la presse scientifique. Il développa un chimiste –
l'Himalaya – et possédait une entreprise qui le produisait et le vendait, mais c'est
dans le domaine de l'énergie solaire qu'il assuma un esprit pionnier inattendu.

Mots clés: Municipalisme; élections municipales; démocratie organique;


régionalisation.

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Humanidade. Contudo, o ”stand” que


maior curiosidade despertava nos
visitantes era, sem dúvida, o que exibia
uma máquina apresentada por um
modesto e desconhecido Padre
Português, de seu nome Himalya.
Esclareço que o seu verdadeiro nome
era Manuel António Gomes, nascido em
1868, em Cendufe, Arcos de Valdevez,
mas devido à sua extrema altura, no
Seminário de Braga, foi baptizado com
a alcunha de Himalaya, pelos outros
seminaristas, seus colegas. Assumiu a
alcunha e assim se passou a chamar…!
Para espanto de todos, a imprensa
americana, desde o “New York Times”
ao Sunday Magazine”, não lhe
pouparam os mais rasgado elogios,
tendo honras de primeira página o
vistoso invento do nosso clérigo
cientista. O invento era constituído por
uma gigantesca estrutura de aço, onde
se integravam milhares de espelhos que
Padre Himalaya reflectiam a luz do sol contra uma
espécie de tambor que funcionava
A sua obra apresentada, por como centro focal de um forno. Na
surpreendente, causou grande realidade, os visitantes estavam perante
escândalo na Exposição Universal, a descoberta de uma autêntica
realizada em St. Louis, no Estado do máquina de aproveitamento da Energia
Missouri, nos Estados Unidos da Solar. Nem mais…! Os mais cultos logo
América, em 1904. Na altura, vivia-se o referiram estar perante um novo
dealbar do Séc. XX., incendiado com a Leonardo da Vinci, devido ao seu poder
explosão de novidades sem fim, inventivo e visionário. O Padre
apresentadas pelos cientistas de todo revolucionário da energia solar,
o mundo. Na verdade, estas eram antecipou-se uma centena de anos aos
mais do que muitas e faziam abrir de inventores e aos intelectuais do nosso
espanto a boca dos visitantes e da tempo. Pois, apesar da indiferença dos
intelectualidade científica universal, políticos e dos bem pensantes da sua
que tinha acorrido a tão célebre terra natal, o que é certo é que o nosso
Exposição, atraída pelo ineditismo das cientista construiu um estrutura para
invenções apresentadas. A expectativa aproveitamento da energia solar,
era grande, na esperança que conseguindo obter cerca de 3500 graus
aparecessem novos mecanismos que de temperatura, num forno fixo que
motivassem o progresso da encimava a sua máquina, que baptizou
Colectividade e a melhoria das de “Pireliófero”, e que significa “eu trago
condições de vida de toda a o fogo do Sol... Ainda por cima e, mais

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que não fosse, a sua invenção era compensação da sua descoberta,


majestosa, ocupando uma área de recebeu o Grande Prémio, a Medalha
cerca de oitenta metros quadrados de de Ouro, da Exposição Universal de St.
superfície, com o brilho da sua Louis.
estrutura metálica, encimada por um O simpático Padre Himalaya, com a sua
gigantesco reflector, isto é, uma extrema magreza e o seu ar
imensa parabólica, sendo o conjunto escanzelado de místico medieval, com
movido por um complicado e vistoso uma altura desmedida que lhe dava
aparelho de relojoaria que fazia girar uma estranha aparência, apesar da sua
toda a enorme estrutura à mesma extrema simplicidade, bem depressa
velocidade do Sol. A multidão fazia entrou na história das Energias
longas filas para poderem observar de Renováveis, mesmo muito tempo antes
perto aquela reverberação solar que de haver necessidade da sua utilização.
ainda por cima a todos entusiasmava, Para espanto de muitos, falou na Força
pois encandeava cada um, fazendo-os das Marés, cuja energia devia ser
sonhar que estavam num autêntico aproveitada para produção da
mundo de magia. Através do enorme electricidade. Assim, delineou uma
espelho parabólico apontado para o ponte a instalar, a 300 metros do local
Sol, aproximando-se o forno onde actualmente está a Ponte Vasco
refractário do ponto focal, por artes da Gama, ponte essa constituída por
mágicas tudo se liquefazia turbinas que produziriam electricidade
instantaneamente, desde o granito ao suficiente para abastecer a cidade de
basalto, materiais então utilizados em Lisboa….
experiência tão espectacular. Em Claro que o sector religioso americano
tratou de criticar o pobre Padre
Português, quase dizendo que o
mesmo estava metido em actividades
censuráveis, próximas e próprias da
bruxaria. Em Portugal, tinha sido
ajudado, pelo Rei D. Carlos,
mentalidade superior, a custear as
despesas da construção e da
montagem das suas máquinas mas,
com o advento da República, caiu no
forçoso e inconcebível esquecimento,
movido pela vendida imprensa da
altura. Para mal dos pecados do pobre
cientista, a sua máquina, apesar de
contemplada com um primeiro prémio
internacional e embora de grande
porte, foi roubada e desapareceu peça
por peça, sem deixar qualquer rasto. O
nosso Padre ficou completamente
desanimado e com as mãos a abanar.
Pireliófero

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Como poderia, em Portugal que vivia dizendo que a patente seria de


numa constante revolução, arranjar Portugal. Mal andou, pois os alemães,
apoios para executar os seus nas suas contas, roubaram-lhe
projectos, nomeadamente de descaradamente o seu invento. Mas a
concretizar o seu sonho de accionar imaginação e as novas concepções
motores com a energia solar! E quem nunca mais acabavam, apesar de sua
lhe iria custear o seu projecto para impossibilidade de criar os protótipos
tratamento dos lixos industriais? E a de máquinas, que ia concebendo. Aliás,
necessária arborização do país? E a segundo corria, até máquinas de
construção das imprescindíveis guerra projectou!!!. Na pura realidade
centrais hidroeléctricas para do seu espírito criativo, as suas utopias
aproveitamento dos imensos cursos e os seus formidáveis projectos não
de água existentes no nosso território? tinham fim. A sua Máquina de Chuva
Enfim, limitou-se a iniciar e incentivar Artificial fez brado neste atrasado País,
o estudo da qualidade da água e do cujos governantes apenas discutiam
mundo vegetal. Nessa actividade, política de grupo, sobrepondo os seus
deslocou-se à Argentina. Nas suas interesses partidários e jacobinos à
investigações levadas a cabo, ficou urgente solução dos problemas mais
envenenado e começou a sentir-se carentes do povo português. Queriam
muito doente, tendo regressado a lá saber da possibilidade de utilização
Portugal, onde pouco tempo viveu. dos inventos que iam aparecendo e
Anteriormente, na América, tinha que pudessem ajudar a população
inventado uma espécie de pólvora, a portuguesa, nomeadamente a mais
que chamou “Himalaíte”, uma especial pobre do Interior!!!.? Respigando uma
mistura ternária ou quaternária, notícia do Jornal “O Século” de 22 de
composta de diversos elementos, que Julho de 1913, sobre a celebérrima
tornavam esta nova pólvora de máquina que fazia chover. Era ela
utilização rápida e isenta de perigos, constituída por um polígono, contendo
pois este explosivo era insensível ao um canhão, com projécteis explosivos
choque e á trepidação, não se lançados de canhões verticais,
alterando com a luz e com o calor, colocados nos vértices de um polígono
conservando-se indefinidamente, não adaptado às condições do terreno,
exigindo precauções especiais. Era causando fortes detonações. Como
utilíssima para a feitura de furos, no consequência das regras da física,
solo, para a plantação de árvores. ocorria um esmagamento das
Ainda esteve em Inglaterra a partículas de vapor de água, contidas
aperfeiçoar a sua pólvora. A sua na Atmosfera, e provenientes das
produção era segura, factor que foi explosões simultâneas verificadas à
muito apreciado pelos cientistas da mesma altura do solo. Embora não
altura. Os americanos pretenderam tendo sofrido desagradáveis
comprar a patente ao Padre Himalaya, consequências, nunca deixou de se
que se aceitasse tal proposta, passaria manifestar em vários campos da
a ter fundos para as suas religião e da filosofia, opondo-se às
investigações científicas. Mas o nosso verdades intocáveis dos bem pensante
Padre achou indecente tal transacção, e perante a indiferença dos sábios

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desta terra. No fim de uma vida em Padre Himalaya”, da autoria de Jacinto


constante viagem pelo Mundo, Rodrigues.
regressou ao seu País e tornou-se Seria necessário que esta formidável
Capelão da Caridade, tendo falecido personagem da nossa história fosse
no fim do ano de 1933, em Viana do devidamente estudada e tratada e lhe
Castelo. Existe uma interessante fosse feita a justiça que os
publicação, datada de 1999, contemporâneos não fizeram.
denominada “A Conspiração Solar do

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HOMENAGEM A HENRIQUE DE
PAIVA COUCEIRO

Afonso de Bragança e da Presidente da


Causa Real, Senhora Dr.ª Teresa Côrte
Real, teve lugar uma calorosa Sessão de
boas-vindas , presidida pelo Senhor
Presidente da Câmara de Vinhais, Dr.
Luís dos Santos Fernandes,
acompanhado na Mesa pelo Senhor
Vice-Presidente Martinho Martins, pela
Senhora Presidente da Real Associação
de Trás-os-Montes e Alto Douro e pela
Senhora Directora do Centro Cultural
de Vinhais, Dr.ª Maria José Gomes
Madureira, após a qual se seguiram
uma série de comunicações, troca de
impressões e partilha de documentos
relativos a Henrique de Paiva Couceiro,
nas quais a Família do homenageado
teve uma honrosa e determinante
participação, culminando na visita
inaugural à exposição documental
previamente organizada no Centro
Cultural de Vinhais. O dia terminaria
com a participação numa Eucaristia
No Centro Cultural de Vinhais, no dia celebrada na Igreja de Nossa Senhora
23-10-2021, promovida pela Real da Encarnação e com um jantar de
Associação de Trás-os-Montes e Alto confraternização no Restaurante
Douro teve lugar uma participada e Delfim.
emotiva Homenagem a Henrique de Durante a tarde, pelas 15,30h,
Paiva Couceiro e «aos bravos convidado pela Presidente desta Real
portugueses que sob o seu comando, Associação, Dr.ª Rosa Maria Morais
imbuídos de um verdadeiro sentido Sarmento de Campos, a fazer uma
patriótico e determinados a restaurar a intervenção de fundo, depois da sua
velha bandeira azul e branca e o que breve apresentação, o orador, Doutor
ela simbolizava, deram a vida pelo bem Pedro Vilas-Boas Tavares, historiador e
que queriam à sua Pátria e ao seu Rei». professor universitário, propôs-se fazer
De acordo com o Programa uma Evocação de Paiva Couceiro –
previamente dado a conhecer, às 15h, vincando a Actualidade do seu
na presença de S.A.R. o Príncipe D. exemplo moral.

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factos uma lição moral que nos sirva de


inspiração nos caminhos de
participação cívica e política a que
estamos chamados, em prol do bem
comum e do engrandecimento da
nossa Pátria».
Mas, para tirar essa lição moral, não
poderia o autor dispensar-se de, ao
menos em forma de súmula ou guião,
Na 2.ª fila, da dir. para esq. a Dr.ª Teresa Côrte-
recordar o torvelinho de vicissitudes e
Real
passos que compuseram essa rica e
Feitas as saudações e agradecimentos vividíssima trajetória biográfica (Lisboa,
da praxe, o orador começou por 30 de dezembro de 1861 - Lisboa, 11 de
confessar perante o seu vasto auditório fevereiro de 1944), evocação a que não
como considerava para si «uma honra e fugiu: desde as circunstâncias de
um privilégio» estar nesse momento em nascimento e baptismo, à ostensiva
Vinhais, para aí poder fazer a Evocação queda do apelido britânico Mitchel, da
de Paiva Couceiro a convite da Real sua católica e devotíssima mãe,
Associação de Trás-os-Montes e Alto aquando dos protestos nacionais pelo
Douro, no centésimo décimo (110.º) Ultimatum inglês de 1890); desde a luta
aniversário da 1.ª Incursão Monárquica. contra a Republica desagregadora e
Logo interpelou os ouvintes e o próprio laicista à denúncia dos perigos da
Príncipe da Beira: «Que privilégio, o nascente arrogância estado-novista. Em
nosso, mas não menos de V.A.R.! Uma todas as circunstâncias – afirmou – é
Vida esta à disposição do País e do seu sempre Henrique de Paiva Couceiro
Serviço! Evocação de um grande homem de uma só fé, de uma só peça,
monárquico, de um grande Paladino da íntegra, «realmente, a todos os títulos,
Monarquia, que, por ela, identificada Um Herói Português», conforme
com a História de Portugal, estaria abundantemente vinca a sua última e
disposto a dar tudo, a própria vida, mais conhecida Biografia [1].
como amplamente demonstrou… Quanto ao quadro em que decorreu a
Partiu o orador de um princípio assim sua actuação, nomeadamente como
enunciado: «Todos os que aqui nos militar, administrador colonial e
reunimos conhecemos os principais político, altamente notabilizado pelas
lances da sua biografia e não é aqui campanhas de ocupação colonial em
lugar nem o momento para prelecionar Angola e Moçambique, o orador
uma história de factos políticos que, recordou o sentido de desígnio coletivo
tendo cultores isentos, de reconhecido dessa ação entusiástica em curso, «a
mérito, um dos últimos e dos mais que Eça de Queirós, o Eça da Ilustre
sagazes – Vasco Pulido Valente, urge casa de Ramires , pela voz de Gonçalo
sobretudo de nós, homens do século Mendes Ramires então chamou uma
XXI, capacidade de saber retirar desses «esperança magnífica», pois realizada

[1] Da autoria de Vasco Pulido Valente, Alêteia Editores, 2006, 162 pp. Para conhecimento deste personagem em textos por si mesmo produzidos,
consultar Paiva Couceiro: Diários, Correspondência e Escritos Dispersos. Org. e Intr. de Filipe Ribeiro de Menezes. Prefácio de Miguel de Paiva
Couceiro.
Lisboa, D. Quixote, 2011, 803 págs. Ilustr. Henrique de Paiva Couceiro é o título de um arquivo de pessoa singular doado à Torre do Tombo por Miguel
Luís de Noronha de Paiva Couceiro, neto do produtor deste fundo documental, em Setembro de 2011 e Fevereiro de 2012 (Teresa Tremoceiro, Henrique
de Paiva Couceiro - Indivíduo, militar e político “A TT ao encontro de Todos” – 27.12.2012).

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«nessa África portentosa, onde cumpria, Tendo acedido a um apontamento


como glória suprema e suprema escrito, usado pelo autor desta
riqueza, edificar de costa a costa um comunicação, é-nos possível, pela sua
Portugal Maior», “ Portugal Maior ” que parcial e subsequente transcrição, dar a
seria uma aspiração obsidiante e um conhecer o sentido da aproximação por
tópico na sociedade portuguesa, desde si esboçada, sem que na mente do
as Gerações de 70 e 90 e das correntes nosso leitor pese, como objeção
do simbolismo e do neo-romantismo, dirimente, a natureza republicana – mas
aos tempos do Estado Novo. idealista e espiritualista – da revista A
Conhecido como inspirador das Águia e de seu ilustre diretor (1912-
chamadas incursões monárquicas 1916).
contra a Primeira República Portuguesa «Todo o oitocentos português viveu sob
em 1911 – esta cujos 110 anos aqui em o signo da “regeneração”, palavra
Vinhais se acabou de comemorar –, as mágica que conlevava a um
de 1912 e 1919, e como presidente do aprofundamento reflexivo sobre a
governo da chamada Monarquia do história e os fatores identitários
Norte, com cabeça na cidade do Porto, nacionais. No início do século XX, já
de 19 de janeiro a 13 de fevereiro de consagrado escritor, poeta e filósofo, foi
1919, na qual se comprometeram Teixeira de Pascoaes quem,
activamente monárquicos de diferentes organizando as suas ideias derramadas
matizes, com destaque para grandes em conferências e artigos publicados
nomes do Integralismo Lusitano », em A Águia, procurou fixar em livro,
segundo o orador seria sempre absurdo pedagogicamente, essa identidade
tentar compreender a atividade política histórico-cultural coletiva em Arte de
de Henrique de Paiva Couceiro fora do Ser Português (1915), como manual
quadro do seu ideal de doação ao bem destinado e consagrado à Mocidade
superior da Pátria, independentemente escolar , para a qual – afinal – apelavam
dos sacrifícios pessoais, familiares e todos os que almejavam uma
sociais a arrostar. Por isso, a sua Regeneração , uma Renascença
dedicação à causa monárquica, ao ideal Portuguesa e um “ Portugal Maior ”,
da sua re-instauração (a consagrar por mais afirmativo e digno do seu passado
plebiscito) e a sua irrequieta sintonia glorioso.
com os princípios deste movimento Ensinava mestre Pascoaes que ser
ideo-político, o conduziram por diversas português é também uma Arte,
vezes ao exílio, antes e depois da apreendida da observação reflexiva
institucionalização do regime da crítica. Arte de alcance nacional. O fim
Constituição de 1933. dela seria «a renascença de Portugal,
Na 3.ª e última parte da sua pela reintegração dos portugueses no
intervenção, Pedro Vilas-Boas Tavares carácter que por tradição e herança
desenvolveu uma aproximação de lhes pertence», para que eles
ideias algo imprevista: «Henrique de ganhassem «uma nova actividade moral
Paiva Couceiro: uma específica e e social, subordinada a um objectivo
heróica forma de viver a Arte de Ser comum superior». Sendo «a lei suprema
Português (Teixeira de Pascoaes)». da vida a lei do sacrifício», o português,

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ser individual, deveria sacrificar a sua 2. a «vil tristeza» já denunciada no seu


vida à Família, ao Município, à Pátria, à tempo por Camões («o sonâmbulo
Humanidade. Historicamente, na fusão automatismo em que vagueia a nossa
das raízes da terra, do sangue e da Pátria sem destino, …seu vulto
cultura dos povos que habitaram o mortuário errando ao sabor daqueles
espaço português, ter-se-ia revelado a que exploram a sua morte»; 3. A inveja;
natureza da «Alma Pátria», patente na 4. A vaidade susceptível (defeito de um
literatura, na arte, na linguagem povo «que continua a viver, em sonho, o
popular e em todas as manifestações poderio perdido» e que eleva
da nossa atividade enquanto povo. quimericamente «as pequenas coisas
Da sua reflexão e observação, concluía de hoje à grande altura das antigas»; 5.
e sintetizava Pascoaes algumas A intolerância (« alma negra da
QUALIDADES coletivas identitárias: 1. anarquia», defeito de quem, duvidando
Génio de Aventura - «Força que leva o do próprio valor, «não pode suportar a
homem a arriscar a sua vida individual dúvida alheia, que lhe diz, em voz alta e
para conseguir determinado fim de clara, o que ele mal se atreve a
utilidade colectiva»; 2. Espírito murmurar». E, finalmente, 6. O Espírito
Messiânico – sentido de missão e de Imitação, característica que se
espiritualização da aventura; 3. acentua em momentos de decadência,
Sentimento de Independência e quando o caracter de um povo «adoece
Liberdade, «alegre e doloroso (…) porque e se dilui».
dá ao homem a consciência do seu Sendo a sua biografia, como militar e
valor e lhe exige trabalho nos dias de político, um exemplo de constância,
paz e a vida nas horas de guerra». O persistência, método, alegre e generosa
Senhor de Pascoaes parece citar capacidade de partilha, nobre
Oliveira Martins e abundar em tópicos autoconfiança e simplicidade, não nos
que, da Geração de 70 e do neo- parece – sinceramente – que nenhum
romantismo transitaram para o bico da destes defeitos possam assentar na
sua pena, e deste para o manual de biografia de Henrique Paiva Couceiro.
educação cívica que vai escrevendo: «O Nesse sentido, ironizando até certo
antigo português foi livre no sentido ponto, poderemos dizer que ele é tanto
verdadeiro da palavra. As descobertas mais um «herói português» quanto,
nasceram da sua própria força criadora. como líder, soube superar os
Nas cortes falava, rosto a rosto ao padronizados limites do psique lusa …
Príncipe, e a sua lança, cravada na Sem que isso pudesse ter sido
fronteira, assegurou a Portugal a nobre assumido e verbalizado por Teixeira de
independência, garantida pelo espírito Pascoaes, não é difícil perceber que o
de sacrifício. Portugal foi livre enquanto Paladino é – afinal – como que uma
foi português nas suas obras; enquanto concretização do idealismo heroico e
soube realizá-las, obedecendo apenas à saudosista da Arte de Ser Português.
sua vontade vitoriosa» (Lisboa, Ed. Atento o carater republicano do
Roger Delraux, 1978, p. 115). Movimento da Renascença Portuguesa ,
Como DEFEITOS pátrios, anotam-se na dirigido pelo poeta amarantino, o facto
Arte de ser Português (Cap. X, ed. cit., é ainda mais significativo do caldo de
pp. 121-126): 1. a «falta de persistência»; cultura então partilhado no seio das

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elites pensantes portuguesas. Por


natural espelhismo histórico de efeitos
caleidoscópicos, e sobretudo pelo seu
prestígio próprio «de ordem moral», se
verá na figura de Couceiro a
encarnação de um monge-guerreiro de
outras eras. Já na sua época, à luz do
velho messianismo político luso,
acentuado pelo decadentismo de fim
de oitocentos e pelas terapêuticas de
ação propostas pelas jovens vanguardas
estéticas e literárias do século XX, será
entendido, compreensivelmente, como
um outro Nun’Álvares ou um novo D.
Sebastião deslocado no tempo.
Concordaremos facilmente com Vasco
Pulido Valente em que «foi de facto
pela força de carácter e pela e pela
violência da fé» (hoje diríamos
simplesmente pela coerência e
consequência do seu empenhamento
na animação cristã da ordem temporal), Bandeira que acompanhou a incursão
Monárquica e que foi hasteada nos Paços do
que ele impressionou e continua hoje Concelho de Vinhais
capaz de impressionar sucessivas
gerações de portugueses».

Da esq. para a dir. Dr.ª Rosa Morais Sarmento,


Dr. Luís dos Santos Fernandes, S.A.R. Dom
Afonso de Bragança e o Prof. Pedro Vilas-Boas
Tavares

Prof. Pedro Vilas-Boas Tavares

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O REI DOS PORTUGUESES

JOÃO AFONSO MACHADO

Abstract Résumé

Tomás Moreira adopted the term Tomás Moreira a adopté le terme


“roialist” and the entire narration of his «royaliste» et toute la narration de son
book revolves around attracting new livre tourne autour d'attirer de
adherents, that is, aimed outside the nouveaux adhérents, c'est-à-dire
monarchic movement, towards the dirigés en dehors du mouvement
undecided or ill-informed. Was he well monarchique, vers les indécis ou les
understood? The issue is in the mal informés. A-t-il bien compris?
conceptualization of the place of our L'enjeu est dans la conceptualisation
King, without the functions of Head of de la place de notre Roi, sans les
State, but, indisputably, if not the King fonctions de Chef de l'Etat, mais,
of Portugal, at least the King of the indiscutablement, sinon le Roi du
Portuguese. Portugal, du moins le Roi des
Portugais.
Key words: Roialist; monarchic
movement; king of the Portuguese. Mots clés: Royaliste; mouvement
monarchique; roi des Portugais.

Acabei de ler as Memórias de um Como é evidente, hão de aparecer as


Roilaista, obra do meu querido críticas. Negativas como é apanágio
Amigo (e primo) Tomás Moreira, da – deste mundo pequenino e muito
agora - geração mais velha dos reduzido a jantares comemorativos.
ideólogos da Monarquia, uma pessoa Um rumo fácil e bem próprio de quem
predominante e dedicada, tão mais chegou há pouco, ou não sabe escrever
dedicada quão certo é, a sua visão um trabalho bem estruturado, com
política podia levá-lo a caminhos princípio, meio e fim. Tudo não
muito mais produtivos sem significa que eu concorde inteiramente
necessidade de se afirmar com o Tomás Moreira, ou melhor: que
republicano. O Tomás dedicou a sua concorde com a estratégia que ele
vida a um Ideal; podia ter optado preconiza, sem utilizar, para a minha
por um estatuto partidário... pessoa, a terminologia escolhida. O

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Memórias de um Roialista transporta- Acompanhei estas reflexões desde o


me a um passado de há 20 anos, seu início. O «Rei dos Portugueses», -
quando deixei de participar no tal qual o «Rei dos Belgas» - recordo
movimento organizativo monárquico, bem, foi uma expressão e um conceito
o qual creio não ter verdadeira para mim ouvida a primeira vez da
organização alguma. A partir daí, boca de um outro grande amigo, o
monárquico desde o berço até ao Manuel Abranches de Soveral. E a sua
definição era, afinal, simplissíssima.
caixão, passei a “militar” somente por
Por isto: vivemos submetidos à
conta própria, mediante os acessos à
República. A quem pagamos impostos,
imprensa que me foram sendo sendo
em cujos partidos votamos, ou não, e a
consentidos. Mas diariamente, não
cuja incompetência estamos sujeitos. A
apenas nas proximidades dos
República é o nosso quotidiano
Congressos...
justiciado e policiado. E a Monarquia a
Fique, pois, bem clara a minha nossa suprema aspiração, conforme
incredulidade nas organizações sobejamente afirmamos. Tal a
monárquicas! Delas me afastei, bipolaridade que tem uma saída
justamente, numa certa “magna possível e saudável: enquanto não
reunião” da CR de que nem quero mais, os impostos, as tolices, a
falar. E vamos, então, a questões mais partidarite da República; entrementes,
de fundo. os dias da Nação (não a Nação
Creio toda a gente ter percebido o saudosista, mas a nossa cultura
alcance do termo «roialista» adoptado histórica, educacional e crente no
por Tomás Moreira. Como bem se futuro), a nossa fidelidade ao Rei, o
vislumbra (ao menos por quem me mundo verdadeiro, somente algo à
conhece), eu sou monárquico, sempre margem. V.g., em qual celebração
monárquico, nunca menos do que temos os pés, a quem devemos
monárquico. Já não necessito de respeito institucional e o
catequese. Mas toda a narração do acompanhamento nas actividades que
mais dizem aos portugueses? Assim
seu livro gira em volta de captação de
dispersos? - Precisamente ao nosso Rei,
novas adesões. Ou seja, o longo,
o Rei dos portugueses.
empenhado, trabalho de Tomás
É como vivo: lado a lado com o meu
Moreira é voltado para o exterior, para
concelho e a minha gente (na qual
a massa enorme de indecisos ou mal
assiduamente vou descobrindo novos
informados. Do ponto de vista da
monárquicos, gente simples que
substância – terá ele sido captado? A simplesmente crê, e não vai a
questão está na conceptualização do cermónias de gala), e – aqui na
lugar do nosso Rei, sem funções de terrinha, acompanho à distância o
Chefia de Estado, mas, desempenho d’El-Rei, com ele me
indiscutivelmente, senão o Rei de congratulo e nele revejo a
Portugal, ao menos o Rei dos representante da Nação.
Portugueses. Esse o ponto fulcral.

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O mais é nada. Pior: é negativo – o que advindo, tão-só, contava o Conde de


muito sobeja das redes sociais, onde já Vila Flor a El-Rei D. Manuel II já no
há mais reis do que «roialistas» e o exílio, «dos partidários» da Monarquia
(in D. Manuel II e D. Amélia – Cartas
vitupério abunda. Sejamos conscientes:
Inéditas do Exílio, compilação de
neste momento, aos monárquicos o que
Fernando Amaro Monteiro). Estes
se exige é a afirmação de fidelidade à faziam – comenta-se no prefácio - mais
Casa de Bragança, a El-Rei. Porque há mal à Instituição do que os
dificuldades «verdadeiramente ridículas» propriamente ditos republicanos.

Capa Memórias de um Roialista

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A NORUEGA - O ESTADO MAIS


DEMOCRÁTICO DA ATUALIDADE
ANTÓNIO PINHEIRO-MARQUES

Abstract Résumé

The evolution of the Norwegian L’évolution de la Monarchie


Monarchy. A very ancient country, that norvégienne. Un pays très ancien, qui
expanded in the North Atlantic. From s’est étendu dans l’Atlantique Nord. De
the union with Denmark and Sweden l’union avec le Danemark et la Suède
to independence in the 20th century jusqu’à l’indépendance au XXème
and to a modern parliamentary siècle et à la moderne monarchie
constitutional monarchy and welfare constitutionnelle parlementaire et
state. état-providence.

Key words: Monarchy; absolutism; Mots clés: Monarchie; absolutisme;


constitutionalism; parliamentary constitutionalisme; démocratie
democracy; welfare state. parlementaire; état-providence.

Os primeiros tempos cristianização dos povos escandinavos,


que se prolongou ao longo de dois
No percurso pelos países nórdicos séculos, até se concretizar a
encontramos, como uma das mais erradicação dos cultos pagãos, teve
antigas monarquias, a Noruega, que papel relevante o clero proveniente de
conta com mais de onze séculos. É Inglaterra.
considerado primeiro rei de um
território unificado, Haroldo I ( Harald
Hårfagre ), que reinou de 872 a 933.
Entre os seus sucessores, contam-se
Olavo I, ainda no século X, que
promoveu a conversão dos viquingues
ao cristianismo, Olavo II, conhecido
como Santo Olavo, padroeiro da
Noruega e venerado também nas
Igrejas Católica e Ortodoxa, ou Canuto
II o Grande, o qual reinou, para além
da Noruega, em Inglaterra e na
Dinamarca. No referido processo de

Olavo II (Santo Olavo)

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A evolução, no sentido da unidade poder da nobreza. Genericamente, o rei


territorial, efetuada pelos primeiros comprometia-se a ser um rei justo bem
reis, aumentou o seu poder ao mesmo como a atribuir a governação aos
tempo que a existência de nobres e a não privar de liberdade os
homens livres. Esta Carta divergia da
assembleias (chamadas Ting , palavra
Magna Carta inglesa (cujo texto era
componente de várias designações,
permanente) por ser elaborada
nos vários países nórdicos e até nas
especificamente para cada rei.
Ilhas Britânicas) permitia a discussão Por outro lado, e já nos inícios do
e resolução das questões de interesse século XIV, o conselho real evoluiu para
ou os problemas de governo que um conselho nacional, o Riksråd ,
afetavam a vida da comunidade. Já no assembleia com mais poder,
século X, Haakon, o Bom, tinha integrando nobreza, bispos e chefias
estabelecido duas destas grandes militares, onde frequentemente para
assembleias para governo dos seus além de noruegueses, participavam
dinamarqueses e também alemães,
territórios.
devido às funções que exerciam. Os
Até ao século XIII a sucessão
bispos das ilhas raramente
hereditária não estava regulada por
compareciam, mas cabia ao Arcebispo
leis definidas (podia a Coroa ser
de Trondheim a presidência das
herdada por filhos ou irmãos do rei), reuniões.
sendo certo que quem viesse a
suceder deveria contar com o apoio
dos membros da assembleia para Colónias norueguesas
poder ser proclamado. Possivelmente
desde os fins do século IX se procedeu Um parentese para mencionar a
à proclamação dos reis, cerimónia que expansão da Noruega, iniciada já
nesses primeiros tempos. Os
se manteve mesmo depois de
viquingues, em sucessivas vagas no
começarem a ser realizadas as
século VIII, seguidos dos nórdicos
coroações dos novos monarcas. A
provenientes das regiões costeiras da
primeira de toda a Escandinávia teria
Noruega no século IX, estabeleceram-
sido em Bergen, na Noruega, na se nas ilhas Faroe. Noruegueses e
segunda metade do século XII. No outros povos nórdicos ocuparam,
século XIII a monarquia passou a ser também no século IX, a Islândia, que
hereditária, sistema que no século XV, viria a ser definitivamente submetida à
na prática, se tinha convertido de Noruega, em 1262, pondo termo à
novo em eletivo. Comunidade da Islândia, até então
A partir do século XIV e até à instauração governada pelo Althing , assembleia
legislativa da ilha, que teria surgido
do absolutismo, antes de ser coroado, o
cerca do ano 930, sendo assim
monarca aceitava um documento, a Carta
considerada um dos parlamentos mais
da Coroação, Haandfæstning , (podendo
antigos do mundo. Ainda no século X,
significar literalmente algo como “ Mãos islandeses e noruegueses chegaram à
atadas ” ) resultante do aumento do Gronelândia, submetida ao governo

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dos noruegueses em 1261. O velho o seu único filho falecera aos dezasseis
Reino da Noruega consolidava-se no anos, sem deixar descendência,
século XII e incluía algumas regiões Margarida I providenciou a sua
da Suécia e ainda as ilhas Man, sucessão, escolhendo um sobrinho-neto
Hébridas, Órcades e Shetland, (a quem adoptou) como rei da Noruega
posteriormente cedidas à Escócia. e também da Dinamarca e da Suécia.
Quando da separação da Dinamarca, o Ainda menor, foi coroado
Tratado de Kiel, em 1814, manteve a sucessivamente nos três reinos, sob
Islândia, as Faroe e a Gronelândia
regência da Rainha Margarida, a qual
dependentes da Dinamarca. A
fazia consolidar a ideia de uma união
Noruega passou a reivindicar toda a
duradoira entre as três nações.
Gronelândia e acabou por ocupar uma
Governante prudente e conhecedora
parte da costa oriental, que
dos seus povos, Margarida I manteve os
considerava terra de ninguém, por
não estar habitada. Finalmente, em seus costumes e leis, determinando que
1933, a Dinamarca e a Noruega não se aprovasse nova legislação sem o
concordaram em levar o caso ao consentimento dos súbditos de cada
Tribunal Permanente de Justiça reino. As administrações e os militares
Internacional da Haia, que deliberou a deveriam ser igualmente originários dos
favor da posição dinamarquesa. A respetivos reinos. A União revelar-se-ia
Noruega mantém atualmente o difícil de manter, devido entre outras
arquipélago de Svalbard (até 1925 causas, aos interesses divergentes dos
conhecido por Spitsbergen, por reinos que a integravam bem como ao
recuperação do antigo nome Svalbarði poder das nobrezas nacionais e à
mencionado nas sagas nórdicas debilidade da Dinamarca frente à
medievais), nos termos do Tratado de Suécia e à Noruega.
Spitsbergen de 1920 (de que Portugal Neste último país, nos casos em que a
faz parte desde 1927) bem como linha de sucessão não era clara,
outras duas ilhas e ainda a Terra da tornando necessária uma interpretação
Rainha Maud ( Dronning Maud Land ,
das normas sucessórias, o Riksråd
com 2.700.000 de quilómetros
interferia, acabando por, pouco a
quadrados), dentro do sistema do
pouco, transformar a monarquia
Tratado da Antártida.
hereditária em eletiva, à semelhança do
que acontecia nas outras monarquias
União de Kalmar
nórdicas.
Os projetos de união dos reinos Assim, quando da morte em 1481 de
nórdicos viriam a culminar com a Cristiano I da Dinamarca (eleito rei da
união da Noruega com a Dinamarca Noruega em 1450), encarregou-se o
em 1387 e com a Suécia em 1389. Riksråd do governo só proclamando o
Margarida I da Dinamarca fora casada seu filho como rei dois anos depois,
com Haakon VI da Noruega, que forma de demonstrar também que,
também foi rei da Suécia. Promulgou embora dentro da União, a Noruega era
em 1397 o Tratado de Kalmar, que um reino independente. Em 1523, a
estabelecia uma união entre os três proclamação de um rei próprio pela
reinos, a partir de então designada Suécia selou a sua saída da União de
como União de Kalmar. Uma vez que Kalmar, marcando o fim desta.

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Devido ao apoio do católico reformulada a governação do país e a


Arcebispo de Trondheim, presidente sua divisão administrativa, podendo
do Riksråd , a outro possível sucessor observar-se um aumento de 20 para 50
no trono, motivo de conflito com o rei % dos agricultores proprietários de
da Dinamarca, Cristiano III, este terras, devido às vendas efetuadas pela
Coroa, para obter financiamento para
obrigou o arcebispo a partir para o
fins militares. O mercantilismo
exílio, tendo declarado o Luteranismo
estendeu-se à Noruega, grande
religião oficial da Dinamarca e da
exportador de madeira, comércio
Noruega. O Riksråd nunca mais
controlado pelos holandeses
voltou a reunir-se. (Amesterdão está construída sobre
estacaria norueguesa) e foram tomadas
medidas para evitar a desflorestação,
União com a Dinamarca ao mesmo tempo que se desenvolvia a
exploração de minérios e o transporte
Finda a União de Kalmar, Cristiano III marítimo.
tentou diminuir a posição da No plano social, as influências do
Noruega, que seria uma província pietismo luterano fizeram-se sentir. No
dentro do reino, mas tal não sucedeu, século XVII a obrigatoriedade de saber
ao menos do ponto de vista formal. A ler para poder receber a confirmação
na Igreja Luterana levou à
Dinamarca e a Noruega passaram a
generalização da instrução primária,
constituir uma união real, de que
que viria a ser tornada obrigatória em
faziam igualmente parte os ducados
1736 para todas as crianças (e que em
de Schleswig e de Holstein. A união
1889 passaria a sê-lo por um período
dos reinos “gémeos”, que se refletia de 7 anos).
no título real (Rei da Dinamarca e da
Noruega, dos Vendos e dos Godos),
com instituições e moedas separadas, Secessão e união com a Suécia
perduraria quase trezentos anos até à
cessão da Noruega à Suécia, por A neutralidade dinamarquesa no
imposição externa. quadro das guerras napoleónicas, foi
O século XVII trouxe à Noruega o vista como hostil pelos britânicos. Em
absolutismo régio, com a aprovação 1801, os bombardeamentos de
em Copenhaga, no início de 1661, da Copenhaga pela Royal Navy (no
Lei da Soberania que estabelecia a intuito de destruir a marinha
monarquia absoluta e hereditária, dinamarquesa) e o bloqueio dos portos
sendo ainda nesse ano confirmada da Noruega (dependente das
importações, designadamente de
também para a Noruega, onde se
cereais) tiveram consequências
estabelecia a monarquia absoluta
desastrosas para este país e um
uma vez que o sistema hereditário já
recrudescer, em 1809, do movimento
existia. Esta lei foi precursora da Lex
independentista, surgido nos finais do
Regia de 1665, vigente nos dois século XVIII. Numa tentativa de o
países, tendo o rei passado a ser debelar, em 1813 foi enviado para a
coroado apenas na Dinamarca. Neste Noruega o Príncipe Cristiano Frederico
período de forte centralização, as como representante do rei. Em janeiro
instituições norueguesas foram de 1814, o Tratado de Kiel,
perdendo a sua importância ou assinado pela Grã-Bretanha,
desapareceram mesmo. Foi Suécia e Dinamarca, imporia

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a cessão da Noruega à Suécia, em como uma instituição sem ligações


parte para compensar este país pela partidárias. Desde 1913, existe
perda da Finlândia para a Rússia. Com igualmente uma União dos Agricultores
o fim de impedir essa cessão, em e Pequenos Proprietários Noruegueses.
fevereiro do mesmo ano e com o O mal-estar político provocado pela
apoio de uma assembleia de notáveis, existência de dois sistemas de governo
Cristiano Frederico assumiu a diferentes, com a Noruega a sentir-se
regência e convocou eleições para um parceiro igual e os suecos a
uma assembleia constituinte que o considerarem este país como estando
designou como rei e que aprovou a num nível inferior, acabaria por
constituição, em 17 de maio de 1814. aumentar devido ao problema do
estabelecimento de instituições
Os Reinos Unidos da Suécia e consulares separadas. Em 1880, dotada
Noruega e a independência com a terceira marinha mercante do
mundo, e pelos seus laços com a Grã-
Depois de uma guerra de cerca de Bretanha e interesses fora da Europa, a
duas semanas com a Suécia, a Noruega tinha posições divergentes das
Noruega viu-se forçada à união com da Suécia, que se encontrava mais
aquele país, formando os Reinos ligada à Alemanha e à Europa
Unidos da Suécia e Noruega, tendo o continental. Motivo de atrito também o
parlamento norueguês elegido movimento a favor do alargamento do
formalmente Carlos XIII da Suécia sufrágio, matéria em que a Noruega se
como rei. A Constituição de 1814 antecipou com a concessão do voto
mantinha-se vigente, depois de uma para todos os homens em 1898, e o
revisão relativa à união, e a Noruega sufrágio universal, com a extensão de
conservou as suas instituições. Uma voto às mulheres, para as eleições
Lei da União seria aprovada em 1815 municipais em 1910 e para as eleições
para regulamentar o relacionamento legislativas em 1913.
das instituições dos dois países, mas
contrariamente à Suécia, a Noruega Sistema político
considerou que esta lei teria caráter
constitucional. As relações externas A Noruega rege-se por uma das mais
seriam dirigidas pelo governo sueco, antigas constituições do mundo, depois
com a participação do primeiro- das de São Marino e dos Estados Unidos
ministro norueguês. da América. Os constituintes
Desde 1830 que o campesinato, força noruegueses foram influenciados pelos
importante da vida económica e textos americanos, franceses e também
social, se tornara mais ativo, pela Constituição de Cádis, esta de 1812.
encontrando aliados nos intelectuais A constituição norueguesa é formada
nacionalistas, mas também em certas por 121 artigos, de revisão flexível, tendo
zonas urbanas. Em 1896 foi fundada a sido alterada, em pouco mais de dois
Associação dos Agricultores séculos, em 67 anos diferentes,
Noruegueses, que veio a criar, em introduzindo um total de 316
1920, o Partido Agrário. Em 1922 o modificações, as últimas das quais em
nome foi alterado para Associação 2020. O Dia da Constituição, 17 de maio,
Agrária Norueguesa, permanecendo é a festa nacional norueguesa, uma

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comemoração completamente civil. curiosidade, recorde-se que a família


A Constituição estabelece como real norueguesa se encontra na linha de
princípios fundamentais a liberdade, sucessão (atualmente em posições
independência, indivisibilidade e muito afastadas) do trono britânico, por
inalienabilidade nacionais, a soberania descender da Rainha Maud, filha do
do povo, a separação de poderes e os então Príncipe de Gales, futuro Eduardo
direitos humanos. A responsabilidade VII.
política dos atos do rei é assumida pelo
governo. Como nas restantes
monarquias nórdicas, impõe fé
evangélica-luterana ao rei, mas este
deixou de proceder às nomeações de
eclesiásticos e de ser o Protetor da
Igreja da Noruega pela reforma
constitucional de 2012, que reconhece
que os valores da Noruega são
constituídos pela “herança Cristã e
humanista”.
O monarca, símbolo da unidade
nacional, detém essencialmente O Príncipe Regente Haakon Magnus na sessão
de abertura do Parlamento, por impedimento do
funções de representação e cerimoniais
Rei Haroldo V, Outubro de 2020
e o Comando Supremo das Forças
Armadas. Segundo a Constituição, em Talvez seja interessante notar também
caso de doença, ausência do rei ou que o título real é Norges Konge
menoridade do sucessor, o exercício da (traduzível para inglês como Norway’s
chefia do estado será determinado por King ) e não Konge af Norge (Rei da
uma lei específica. Habitualmente Noruega), denotando possivelmente a
correspondem ao príncipe herdeiro as ideia de uma pertença do rei ao país e
competências do rei, no seu não do país ao rei.
impedimento, como sucedeu em 2020,
quando o Príncipe Haakon-Magnus o Poder executivo
substituiu na abertura do parlamento.
Também no caso de não haver um O poder executivo é atribuído ao rei e
sucessor na Coroa, o rei pode propor exercido pelo governo, formado
um nome e se o parlamento não atualmente pelo primeiro-ministro e
aprovar a escolha, pode então eleger dezassete ministros. Semanalmente
um rei. Quando se verifica a sucessão reúne no palácio real, sob a presidência
na Coroa, o novo rei deve prestar do rei, sendo então designado como
juramento no parlamento ou, se este Conselho de Estado. Todos os seus
não estiver em sessão, em reunião do membros, com exceção do primeiro-
Conselho de Estado, até o poder fazer ministro e do ministro dos Negócios
perante a representação nacional. Estrangeiros, têm a designação de
A possibilidade de suceder na Coroa de conselheiros de Estado. A nomeação
outro país não é excluída, mas fica dos governos pelo rei é condicionada
subordinada à aprovação parlamentar, pela confiança do parlamento, perante
por maioria de dois terços. A título de o qual aqueles são responsáveis.

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Poder legislativo Poder judicial

De 1814 a 2009, o parlamento O Supremo Tribunal de Justiça


norueguês, Storting (Grande encontra-se no topo do sistema judicial
Assembleia), depois de eleito, norueguês e é formado pelo presidente
subdividia-se em duas câmaras, e dezanove juízes que, tal como os
Lagting (com um quarto dos restantes magistrados, são formalmente
deputados) e Odelsting (com os investidos no cargo pelo rei sob
restantes). A reforma de 2009 reduziu, proposta do comité de nomeações
por desnecessárias, as duas câmaras a judiciais.
uma só. Atualmente o parlamento é Não existe um tribunal constitucional na
formado por 169 deputados, eleitos
Noruega, competindo aos tribunais
por quatro anos pelo sistema de
ordinários avaliar da
representação proporcional, com um
inconstitucionalidade das leis.
sistema de compensação por forma a
que os partidos, desde que tenham
4% dos votos a nível nacional, possam
O povo Sámi
ter uma representação proporcional
ao número de votos. O parlamento
conta atualmente com uma Mesa À semelhança do que também sucede
formada pelo presidente e cinco vice- na Finlândia e na Suécia com esta
presidentes. minoria, os sámis (135 000 lapões, dos
Desde 1884 que os executivos quais metade habitam na Noruega)
passaram a ter de refletir a realidade possuem o seu próprio parlamento, o
política da composição do Sametinget , criado por lei de 1987 para
parlamento, pelo governo do partido se ocupar de todas as questões de
maioritário ou pela formação de importância ou relativas ao povo sámi.
coligações. Ficou, assim, Nos casos de decisões de âmbito
definitivamente consolidada a nacional que possam afetar os seus
democracia parlamentar. Um sistema interesses, este órgão deve ser sempre
partidário bastante fragmentado (com
consultado. O Sametinget , sedeado em
cerca de vinte e oito partidos
Karajosk (a 340 quilómetros a norte do
políticos, dos quais dez têm
círculo polar ártico), é formado por 39
representação parlamentar) tem
membros, eleitos pelo sistema de
forçado a formação de coligações.
representação proporcional e por quatro
A sanção das leis corresponde ao rei,
que tem o poder de o não fazer, mas anos. Estão nele representados sete
tal nunca aconteceu desde 1905. partidos, sendo o conselho de governo
Embora não estejam previstos na formado pelo partido ou coligação que
Constituição, têm sido realizados na conte com apoio parlamentar
Noruega referendos consultivos, maioritário. Têm capacidade eleitoral
sempre sujeitos a confirmação pelo ativa e passiva todos os que estejam
parlamento, que em teoria poderia inscritos no registo eleitoral como tendo
tomar uma decisão contrária ao ligação a este povo, podendo os sámis
resultado do referendo, situação votar onde quer que residam uma vez
altamente improvável. O referendo foi que os sete círculos eleitorais cobrem
utilizado seis vezes no século XX. todo o território norueguês.

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Monarquia por escolha popular rainha dedicaram-se ao seu novo país


e procuraram dar uma educação
A união com a Suécia foi dissolvida pelo completamente norueguesa ao
parlamento norueguês, em junho de príncipe herdeiro.
1905, ato aprovado num referendo, A Noruega foi um “país neutro amigo”
convocado em agosto desse ano, por dos britânicos (o que foi muito
99,95 % dos votantes. O parlamento vantajoso para estes) no primeiro
conflito mundial, mas em 1940 acabou
pretendia convidar o filho segundo do
por ser invadida pela Alemanha,
príncipe herdeiro da Dinamarca (futuro
devido à sua importância
Frederico VIII), o Príncipe Carlos, para
geoestratégica (aumentada pela
rei. Este recusou a oferta, a menos que
necessidade alemã de obter os
fosse decidida pelo povo norueguês.
minérios da Escandinávia). Depois de
Por outro referendo, em novembro do uma breve resistência militar, o país
mesmo ano, os votantes aprovaram por ficou sob ocupação alemã, com um
78,94% dos votos que o governo lhe Comissário do Reich e um governo-
oferecesse a Coroa. marioneta. O Rei Haakon VII que
anteriormente se tinha oposto de
forma veemente a ceder às exigências
dos invasores e a dar posse a um
governo favorável à Alemanha,
considerando não poder atuar de
forma contrária à suas obrigações
como rei, ameaçou mesmo abdicar.
Sob bombardeamentos alemães, o rei
e o governo, transportados por um
navio da armada britânica, seguiram
para Tromsø , no círculo polar ártico,
onde se estabeleceu uma capital
Coroação do Rei Haakon VII e da Rainha Maud,
provisória , acabando por partir para a
na catedral de Trondheim, Junho de 1906
Grã-Bretanha, em junho de 1940, a
Ao aceitar, o príncipe Carlos adotou o bordo do navio HMS Glasgow . A
nome de Haakon VII, integrando-se partir de Londres, o rei, o príncipe
numa linha de 61 monarcas da Noruega herdeiro e o governo organizaram a
resistência e procuraram apoios para a
(o anterior Haakon, sexto do nome,
causa norueguesa. Haakon VII e a
reinara no século XIV). A família real
família real regressaram à Noruega,
desembarcou em Oslo, ainda em
vitoriosamente e no meio do júbilo
novembro de 1905, e os novos
popular, em junho de 1945, para
soberanos foram coroados e ungidos na
enfrentar o difícil período da
catedral de Trondheim, em junho do reconstrução do país.
ano seguinte. Foi a única coroação dos O Rei Haakon VII era detentor das
tempos modernos, uma vez que o Cruzes de Guerra da Noruega, Grécia,
artigo da Constituição que a impunha França e ainda da Medalha Militar
foi eliminado em 1908. Embora deste país. Recebera igualmente a
mantendo estreitos laços pessoais com Medalha Holmenkollen, por mérito
a Dinamarca e a Grã-Bretanha o rei a desportivo.

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Foram-lhe atribuídas várias


condecorações militares, como as
Cruzes de Guerra norueguesa,
neerlandesa e grega e a Legião de
Mérito americana. No Reino Unido, foi
feito general honorário da Real Força
Aérea e almirante honorário da Marinha
Real, e recebeu também as Ordens da
Jarreteira e do Cardo, já como chefe de
estado.

Olavo da Noruega, Juliana dos Países Baixos,


Eleanor Roosevelt e Marta Luísa da Noruega, em
1944
Olavo V, nascido em Sandrigham,
Inglaterra, em 1903, como Alexandre,
filho do Príncipe Carlos da Dinamarca
(depois Haakon VII) e da Princesa
Maud de Gales, manteve sempre uma Regresso da Família Real à Noruega depois da II
ligação especial com a Grã-Bretanha. Guerra Mundial

Casou com Marta da Suécia, sua


Olavo V foi um rei extremamente
prima, que até 1905 fora também
popular e a princesa Marta (que fora
princesa da Noruega.
recebida triunfalmente no regresso do
Antes da guerra, os Príncipes Olavo e
exílio e morreu antes de o marido subir
Marta tinham estabelecido laços de
ao trono) ficou conhecida, devido à sua
amizade com o Presidente Roosevelt.
intensa atividade em prol do país, como
A presença do casal real nos Estados
“Mãe da Nação”.
Unidos durante a guerra e, em
Em 1957, ao subir ao trono, o rei já não
particular, da princesa herdeira (e
seria coroado como o fora seu pai,
seus filhos, ali exilados por questões
Haakon VII, devendo apenas prestar o
de segurança), permitindo manter
juramento, previsto na Constituição,
ativa a campanha apelando ao apoio
perante o parlamento. O rei decidiu,
ao povo norueguês e à Noruega, viria
porém, que deveria ser organizada uma
a facilitar a ajuda americana, a partir
cerimónia religiosa de benção, a qual
da fase crítica da guerra. A sua
no entender do governo de então seria
carreira militar (já em 1939 tinha as
de reduzidas dimensões. O ato,
patentes de general e almirante) e a
celebrado pelos bispos de Trondheim e
sua participação no esforço e
de Oslo, veio a converter-se num
operações de guerra determinaram a
acontecimento de repercussão
nomeação de Olavo, em 1944, como
nacional, com enorme afluência na
Chefe do Estado-Maior General
catedral e assistentes nas ruas, e foi
norueguês.

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transmitido em direto. Nas palavras época um dos primeiros enlaces fora do


do novo monarca, foi um momento círculo das famílias reais. O casamento
muito especial, marcando a sua só pôde ter lugar em 1968, após uma
aliança com o povo, ao serviço do espera de nove anos, e depois de Olavo
qual se encontrava. V enviar ao parlamento a comunicação
oficial da sua aprovação, tendo sido
previamente consultados o governo, os
líderes dos partidos e o próprio
presidente do Storting . Desde então
Sónia da Noruega tem vindo a exercer
um papel de relevo nas mais de quinze
instituições das quais é protetora, da
música aos assuntos sociais, passando
pelas artes. Detendo uma notável
coleção de pintura de jovens artistas,
de que é curadora, a rainha promove
exposições temporárias destas obras. A
própria Rainha Sónia, para além de
colecionadora, é pintora e tem
1953 - Entronização do Rei Olavo V apresentado exposições, com grande
sucesso.
Adepto de desportos, como a vela e o
esqui, o Príncipe Olavo foi campeão
olímpico em 1928, tendo ganho uma
medalha de ouro, em vela, nos Jogos
de Amesterdão. Em 1971, aos sessenta
e oito anos, o Rei Olavo veio a
classificar-se em quarto lugar nos
campeonatos mundiais de vela.
Praticante de esqui de fundo,
participou nos campeonatos de salto,
tendo recebido em 1968 a Medalha
Holmenkollen.
Também o seu sucessor Haroldo,
nascido em 1937, foi um grande
desportista, tendo representado a
Noruega, em vela, em três Olimpíadas, Cerimónia de benção dos Reis Haroldo V e Sónia,
em 1991
mas sem obter medalhas: Tóquio
(1964, 8º lugar), Cidade do México
(1968, 11º) e Munique (1972, 10º). À semelhança do que acontecera com
Participou outras tantas vezes em Olavo V, em 1991 os Reis Haroldo V e
campeonatos mundiais onde a sua Sónia (que completaram em 2021 trinta
equipa obteve medalhas de ouro, anos no trono norueguês) quiseram
prata e bronze. Tal como Olavo V, então que fosse organizada uma
recebeu a Medalha Holmenkollen. cerimónia religiosa, igualmente
O príncipe herdeiro Haroldo casou celebrada na catedral de Trondheim,
com Sónia Haraldsen, no que foi à com motivo da subida ao trono.

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Haroldo V, conhecido pela sua A Noruega, uma das mais sólidas


bonomia, humanidade e sentido da democracias do mundo, encontra-se,
inclusão, tem tido uma presença como não podia deixar de ser, no topo
constante em todos os momentos das classificações com um 1º lugar no
importantes da vida nacional, com a índice de democracia, em 2º lugar, a
Rainha Sónia e os príncipes herdeiros, o seguir à Dinamarca, no índice dos
que certamente contribui para o Estados de Direito e em 7º lugar no
elevado apreço de que gozam entre os índice de perceção de corrupção, sendo
ainda um exemplo do modelo nórdico
seus concidadãos.
do estado de bem-estar social, que veio
O recente livro “O rei diz”, de Harald
a desenvolver-se desde o fim da II
Stangehelle, publicado em outubro de
Guerra Mundial e que parece contar
2020, teve um recorde de vendas e
com o apoio da maior parte do espetro
esgotou em poucos dias. Ao longo de
político. Desde 1965 a participação nas
onze conversas com o autor do livro, eleições legislativas tem-se mantido
Haroldo V, conta o seu papel em acima dos 75%, mostrando o interesse e
momentos históricos importantes da empenho dos noruegueses na vida
Noruega, o seu relacionamento com o política do país. Não será de estranhar
príncipe herdeiro e também aspetos da que, numa sociedade de liberdades e
sua vida familiar como a perda da mãe respeito pelas várias opiniões, sejam
ou o seu casamento. Muito elogiado debatidas regularmente, durante o
pela crítica, um dos jornais de maior período de apresentação das propostas
circulação considerou o rei “um dos para alteração da Constituição no
maiores influencers de sempre”. Storting , as iniciativas para abolir a
Esta Noruega, moderna e evoluída, que monarquia. Na última votação, em 2019,
rejeitou por referendo a entrada do país a proposta republicana foi derrotada
nas Comunidades Europeias, em 1972 por 133 votos contra, num total de 169
(por 53,5% de votos) e, em 1994, a deputados. A sólida popularidade da
monarquia continua a situar-se
adesão à União Europeia (por 52,2% de
segundo as sondagens mais recentes
votos), mantém-se como estado
em 80%, enquanto o Rei Haroldo V
associado com a União Europeia,
conta pessoalmente com o apoio de
pertencendo desde 1994 ao Espaço
mais de 90% dos noruegueses.
Económico Europeu e continuando a
ser membro da EFTA, hoje reduzida
apenas a três outros estados. Situando-
se em 13º lugar entre os maiores
produtores mundiais de petróleo e com
uma renda nacional per capita de
67.389 dólares, a Noruega tem uma
dívida pública correspondente a 41,4%
do PIB. O Fundo de Riqueza Soberano
norueguês é o maior do mundo, com
cerca de 1,11 biliões de euros.
Haroldo V em competição no lago Ontario,
Canadá

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LANÇAMENTO DO LIVRO
“MEMÓRIAS DUM ROIALISTA”
DE TOMÁS A. MOREIRA

A Real Associação de Lisboa publicou, Por circunstâncias fortuitas fui


na sua colecção Razões Reais, o livro dedicando muito do meu tempo livre
“Memórias dum Roialista” de Tomás A. nos últimos 40 anos, ao movimento
Moreira. monárquico.
O lançamento ocorreu em Lisboa no No “ MEMÓRIAS DUM ROIALISTA ”
dia 11 de Novembro com a presença do conto o meu percurso ao serviço desta
Duque de Bragança e apresentação por causa, reproduzo textos que fui
Rui Moreira e no Porto no dia 22 de escrevendo e apresento contas do que
Novembro com apresentação por tenho feito com o humilde talento que
António Lobo Xavier, numa sessão me foi confiado, na esperança de a
organizada pela Real Associação do minha passagem por este mundo não
Porto. ser considerada totalmente inútil.
Mais de 200 pessoas participaram nas Um artigo que publiquei no Semanário
sessões de apresentação desta obra em 2001 tinha por título “ Hoje não vou
ilustrada que compila o pensamento e defender a Monarquia ”. Também este
o percurso monárquico de algumas livro não tem esse objectivo. E
décadas do fundador e primeiro sosseguem os republicanos e
presidente da Direcção da RAP. desiludam-se os monárquicos porque
também hoje e aqui não vou defender
Resumo da intervenção de Tomás a Monarquia.
Moreira no lançamento:

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Não venho convocar um novo Paiva Esta é a base da tese “roialista”:


Couceiro, apelar à votação num partido Que podemos dar um Rei aos
monárquico, exigir um referendo ou Portugueses, a todos os portugueses,
propor alterações à Constituição para sem que no mesmo “pacote” sejam
restaurar a Monarquia. Estes têm sido obrigados a “comprar” a Monarquia, se
os combates tradicionais dos não quiserem.
monárquicos, a par de ocasionais A maioria dos nossos concidadãos, não
críticas públicas ao regime vigente, sendo monárquicos, poderá
pragmaticamente aceitar a ideia de o
uma modesta sementeira de doutrina e
Chefe da Casa Real ser um útil
algumas discretas actividades sociais,
complemento para essa mesma
na esperança de conquistar o apoio da
República, sem precisar de ser Rei de
maioria dos concidadãos para a causa
Portugal, Chefe de Estado. Por isso
da Monarquia.
falamos do Rei dos Portugueses.
Há mais de vinte anos que contesto a O representante da nossa dinastia
utilidade destas acções, que não histórica, para além de ser respeitado
tiveram sucesso desde 1910 nem por todos os cidadãos nacionais em
acredito que o venham a ter. Portugal, pode e deve ser conhecido
também pela nossa diáspora espalhada
pelo mundo, pelos cidadãos dos países
lusófonos nossos irmãos, por todos os
povos nossos amigos e pelos dirigentes
mundiais.
A todos estes deve lembrar que
Portugal não é uma mera e efémera
sub-região anónima da Europa e dar
uma cara ao nosso País, como a Rainha
Isabel II dá uma cara a Inglaterra.
A longo prazo a maior relevância do Rei
não é a sua função enquanto Chefe de
Da esq. para a dir. Rui Moreira, João Távora e Estado nem a sua intervenção na
Tomás Moreira política, mas sim este papel de
Como postura e estratégia alternativa, instituição permanente na vida da
tenho vindo a propor aquilo que nação.
Um ser humano, representante duma
designo por uma acção roialista, que se
dinastia secular, que apela aos
dirige tanto a monárquicos como a
sentimentos, que é um símbolo do
republicanos.
nosso passado colectivo.
Um texto da Causa Real de 1995 diz:
Para isso, os defensores da instituição
real não deverão fomentar a atitude de
“Temos um Rei. Enquanto não houver “ monárquicos vrs republicanos ”, “ nós
Monarquia não há Rei de Portugal. vrs eles ”, “ patriotas vrs traidores ”.
Mas não deixa de haver um Rei dos Essa visão apenas os fecha num gueto
Portugueses que é o Chefe da Casa de minoritário, enquanto que pelo
Bragança – S.A.R. D. Duarte. " contrário uma visão roialista de respeito
pelo representante da nossa dinastia
histórica pode tornar-se maioritária.

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Infelizmente, muitos monárquicos são o solenes da nossa vida colectiva e em


primeiro obstáculo ao triunfo desta eventos de recordação histórica, na
estratégia através de atitudes recepção a representantes de países
extremistas e amadorismo político. estrangeiros, em missões externas, em
Deveriam acabar com ódios e divisões, fotografias nas nossas salas e espaços
evitar a atitude de “ morte á República ” públicos, e em tantas situações em que
e limitar-se a apresentar o nosso Rei a unidade nacional precisa de ser
simbolizada.
como um útil e importante
De facto, muito disto já acontece
complemento a essa mesma república
ocasionalmente hoje em dia, mas
na qual para já estão condenados a
poderia – e deveria – ser reforçado e
viver.
institucionalizado. Para isso, será
Dito isto:
necessário que a comunidade o
Se os monárquicos têm que alterar a respeite, o ajude com meios e recursos
sua postura, também já é mais que e lhe atribua um estatuto adequado
tempo de os republicanos arrumarem para poder cumprir a sua missão.
preconceitos atávicos e reconhecerem Sem ferir nenhum princípio
que as actuais Monarquias são óptimos republicano, o Duque de Bragança
exemplos de funcionamento e poderia muito bem ter uma posição
democracias plenas, que os defensores oficial, por exemplo no Protocolo do
da importância da realeza não são Estado ou na Fundação da Casa de
todos mentecaptos, que a instituição Bragança ou no Conselho das Ordens
real, bem aproveitada e enquadrada, Honoríficas. E deveria ser cidadão
pode ter um contributo positivo para a honorário das cidades a que está mais
nossa sociedade, que o Duque de ligado, da mesma maneira que já o é
Bragança tem dado provas de exemplar em várias instituições.
dedicação e serviço incondicional ao
seu País e que é um desperdício não Citando Manuel Alegre, seria dar “ o
aproveitar o seu potencial e tratamento devido a quem representa
disponibilidade. um legado da nossa História ” e como
Mesmo em República, podemos (e a escreveu José Adelino Maltez, “a
maioria da população quer) ter uma pacificação de uma guerrazinha que
família real prestigiada. Que esteja já não faz sentido ”.
presente e em evidência nos momentos
Em 2018, no âmbito da Petição para
inclusão do Duque de Bragança na Lei
do Protocolo do Estado, expus
pessoalmente os princípios “roialistas” a
muitas pessoas, inclusivamente aos
presidentes de três dos principais
partidos portugueses, que concordaram
com o princípio e não pediram segredo
nisso, a exemplo aliás de muitas outras
figuras públicas que, afirmando-se
republicanas, deram apoio expresso à
nossa proposta.

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de Bragança ao serviço da nação,


mesmo em República.
Os mais convictos republicanos,
continuando a sê-lo, podem assim
assumir-se como roialistas e aproveitar
a mais-valia que o Rei dos Portugueses
constitui para a República Portuguesa.
Ao longo do meu trajecto cheguei à
conclusão de que prestaria um serviço
importante à comunidade se, pondo
temporariamente de lado a questão da
Da esq. para a dir. João Távora, António Lobo
Monarquia, conseguisse restituir a todos
Xavier, Paulo Valença e Tomás Moreira
os portugueses esta ligação ao Rei, sem
Só falta mesmo concretizar esta vontade rupturas nem divisões.
que corresponde a um sentimento Nestas “Memórias” desenvolvi e
popular generalizado e que seria bem justifiquei o meu pensamento,
aceite pela maioria dos portugueses, explicando o percurso para lá chegar.
que por diferentes motivos, alguns deles Espero que alguns dos presentes leiam
compreensíveis, não está interessada na o livro e dêem esse tempo por bem
questão da Monarquia nem apoia uma empregue.
mudança de regime. Um ou outro amigo mais generoso
E não me refiro a republicanos descobrirá o que tenho andado a fazer
carbonários maléficos, mas sim a tantas e dará valor às minhas ideias e à minha
pessoas que nos são próximas. Pessoas acção.
Com sorte, alguns republicanos farão a
sérias, inteligentes e bem-intencionadas
catarse de se descobrirem afinal
que não se deixam convencer das
roialistas.
vantagens da Monarquia, mas que
No meu mundo ideal, os monárquicos
facilmente poderão entender, talvez
compreenderiam que é este o caminho
mais pelo sentimento do que pela razão,
e tirariam conclusões para a sua
a importância e os benefícios resultantes actuação política.
de termos os descendentes da dinastia

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MONARQUIA: SIM OU NÃO?


COMO LEVAR OS JOVENS A
DISCUTIR O TEMA
TOMÁS E MARIANA DE MAGALHÃES SANT’ANA

Abstract Résumé

We present the work of a 14-year-old on Nous présentons le travail d’un jeune


the subject “Monarchy: yes or no?”, de 14 ans sur le sujet “Monarchie: oui ou
hoping that it can serve as inspiration non ? ”, en espérant qu’il puisse servir
for other similar initiatives. d’inspiration pour d’autres initiatives
similaires.
Key words: School; debate; theme;
monarchy. Mots clés: École; débat; thème;
monarchie.

O Tomás tem 14 anos. Há dias, na Em Portugal, a monarquia foi


disciplina de Português, teve de implementada em 1143 e destituída em
escolher um tema para fazer uma 1910 tendo havido 4 dinastias
apresentação oral. O objectivo era sucessivas: a Dinastia Afonsina, a
Dinastia de Aviz, a Dinastia Filipina e a
apresentar argumentos a favor e
Dinastia de Bragança.
contra, suscitar debate entre os
Actualmente, quando se fala em
colegas e saber defender uma posição.
monarquia, defende-se que o Rei teria
O Tomás escolheu o tema “Monarquia: apenas o poder de Chefe de Estado, ou
Sim ou Não?”. Discutiu o assunto com seja, substituiria o Presidente da
os pais, colheu argumentos junto dos República, continuando a haver um
tios, e apresentou o seguinte trabalho. governo eleito pelo povo.

Monarquia: Sim ou Não? Para abordar este tema podemos usar


A Monarquia é uma forma de governo tanto argumentos a favor como
argumentos contra, havendo três
caracterizada pela sucessão hereditária
principais argumentos contra, sendo
ou electiva e pela governação desde a
estes:
ascensão ao poder até à morte do
Monarca.

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Ser pouco democrático o facto de o é Inglaterra, em que a Rainha


Rei não ser eleito pelo povo. Em conseguiu manter a união e a paz
resposta a este argumento, é entre os quinze países de que é
importante saber que existem Rainha durante os 68 anos que já
monarquias electivas como por reinou;
exemplo na Malásia ou mesmo no O Rei é muito mais um símbolo de
Vaticano, em que o Papa é eleito por união de um país do que o
Presidente da República. Por
Cardeais e exerce o cargo até à sua
exemplo Espanha e a Bélgica, devido
morte;
à rivalidade entre as suas províncias,
O Rei poder não ter vocação para
provavelmente estariam divididos
exercer o seu cargo. No entanto, este
em pequenos países se não fossem
pode tanto abdicar do cargo como
uma Monarquia;
pode ser demitido;
E a monarquia não permitir que Podemos também ver as posições dos
qualquer pessoa possa chegar a este países monárquicos nos rankings
cargo pelo seu mérito ou vocação. mundiais. Por exemplo, dos 20 países
Contudo, pensar que qualquer pessoa com maior Índice de Desenvolvimento
pode ser eleita, é uma falsa realidade, Humano (IDH), 11 são monarquias; dos
pois apenas chegam a esse tipo de 20 países mais pacíficos do mundo, 10
cargos pessoas com ligações a grupos são monarquias e dos 20 países com
de poder, ou que se integraram em menos corrupção, 12 são monarquias.
juventudes partidárias desde cedo. Isto são números bastante positivos
A minha posição é a favor da para a monarquia, tendo em conta que
monarquia, pois apesar destes dos 206 países que existem
argumentos, existem ainda outras actualmente, apenas 44 são
importantes vantagens, como: monarquias.
O Rei ser desde cedo preparado para
O Tomás teve nota máxima com este
exercer o seu cargo, enquanto o
trabalho. No final da apresentação,
Presidente da República não o é;
perguntou aos colegas o que achavam
Ao contrário do Presidente da
sobre o tema. Responderam que nunca
República que representa um
tinham visto o assunto por esta
partido, o Rei é apartidário (não apoia
perspectiva, e que, perante estes
nenhum partido), por isso está isento argumentos, afinal a Monarquia até faz
de influências políticas; sentido.
Fica mais barato sustentar uma
Família Real do que as pensões do
Presidente e ex-presidentes, por
exemplo, a Monarquia espanhola
custa aos contribuintes menos do
que custa aos portugueses pagar ao
Presidente mais aos ex-presidentes;
O Rei tem um cargo vitalício, e dá
mais estabilidade do que os períodos
de cinco anos da presença de um
Presidente. Um grande exemplo disso

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PRÉMIO GONÇALO RIBEIRO


TELLES
JOSÉ CORTEZ LOBÃO
SECRETÁRIO-GERAL DA CAUSA REAL

Realizou-se na Sala dos Actos do


Colégio do Espírito Santo da
Universidade de Évora, no passado dia
11 de Novembro mais uma entrega do
Prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o
Ambiente e Paisagem.
Este Prémio nasce de uma iniciativa
conjunta do Instituto Superior de
Agronomia da Universidade de Lisboa,
da Ordem dos Engenheiros, da Causa
Real, da Associação Portuguesa dos
Arquitectos Paisagistas, e da
Arquitecta Aurora Carapinha e Dr. Ricardo Sá
Universidade de Évora. Fernandes
Os galardoados foram Aurora
Carapinha, arquiteta paisagista e
professora da Universidade de Évora, e
o Dr. José Sá Fernandes.
Aurora Carapinha, professora da U.É. é
uma personalidade incontornável no
mundo da Arquitetura Paisagista. Além
de ter sido uma das principais
colaboradoras de GRT tem um longo
historial na defesa da paisagem e ao
longo de muitos anos ensinou muitos
alunos a ler, desenhar e entender a
paisagem.
José Sá Fernandes, tem também um
Da esq. para dir. a Magnifica Reitora da
longo historial de colaboração e
Universidade de Évora, Prof.ª Ana da Costa
“cumplicidade” com GRT na defesa do Freitas, D. Isabel de Bragança e Doutora Luísa
legado do Arquitecto para a cidade de Schmidt

Lisboa. Na sua acção como vereador na A abertura e boas-vindas esteve a cargo


CML pugnou pela sua aplicação, da anfitriã, a Prof. Ana Costa Freitas,
nomeadamente pela construção do Reitora da UÉ, considerou na sua
corredor verde de Monsanto que intervenção, tratar-se de “uma
pretende integrar na estrutura justíssima homenagem ao homem cuja
ecológica da cidade ligando a cidade dignidade, sabedoria e humildade o
ao Parque Florestal de Monsanto. colocam entre as personalidades

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brilhantes de Portugal e ao nível A apresentação dos premiados esteve a


internacional”, sem esquecer a cargo de João Ceregeiro, Presidente da
participação que o Arquitecto Gonçalo Associação Portuguesa de Arquitetos
Ribeiro Telles assumiu na refundação da Paisagistas e de António Guerreiro de
UÉ, e na criação da licenciatura Brito, Presidente do Instituto Superior
Arquitetura Paisagista. de Agronomia.
Seguiu-se a apresentação do Prémio Após a entrega e intervenção dos
por Teresa Côrte-Real, presidente da galardoados, Francisco Ribeiro Telles,
Causa Real. fez um agradecimento em nome da
família. A cerimónia encerrou com um
discurso final por Luísa Schmidt,
investigadora principal no ICS-ULisboa.
Para além de várias autoridades e a da
academia da universidade, que esteve
presente em grande número, a Família
Real fez-se representar pela Senhora
Duquesa de Bragança.
O Senhor Presidente da República, não
podendo estar presente este ano,
enviou uma mensagem filmada
homenageando a figura de GRT, as
entidades que tomaram a iniciativa do
prémio e os premiados.
Após o encerramento da cerimónia, a
U.É. ofereceu um maravilhoso cocktail
com vinhos e produtos regionais onde o
convívio não podia ter sido mais
simpático e agradável.

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ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO ALTO MINHO


AO EX.MO. SENHOR DR. LUÍS SAMPAIO

“AO REFORÇAR A ESTABILIDADE DEMOCRÁTICA, O REI CONTRIBUI TAMBÉM


PARA UM MENOR ÍNDICE DE CORRUPÇÃO.”

RGAM. – Já ‘nasceu’, ou tornou-se RGAM. – De facto, ter um Rei como


Monárquico, compreendendo que esta Chefe de Estado não seria uma mais-
é, inquestionavelmente, a melhor valia para a Democracia, até porque 7
forma de governo? dos 10 Países com maior índice de
democracia são Monarquias
LS. - Não nasci monárquico mas Constitucionais e, ao contrário, das
beneficiei desde muito cedo da 135 repúblicas que existem no Mundo
vantagem proporcionada pela apenas 53 são democracias?
diversidade de opiniões no seio familiar,
a qual me ajudou a manter uma mente LS. - Sete em dez são números que não
aberta para considerar realidades podem ser ignorados. Na minha leitura,
diversas e distintas. O meu avô materno estes números significam que as
era monárquico, a família do lado democracias mais enraizadas se
paterno era mais próxima do socialismo fortaleceram pela estabilidade. Se o
democrático. A ideia da monarquia parlamento garante a democracia, um
enquanto sistema ideal de organização chefe de Estado que tem de competir
do Estado chegou-me com o estudo das pela legitimidade democrática torna-se
disciplinas de Direito Constitucional e de um factor de instabilidade que, nos
Ciência Política na Faculdade de Direito regimes não presidencialistas, pode ser
da Universidade de Lisboa – FDUL. utilizado para, pelo menos ciclicamente,

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comprometer o funcionamento do RGAM. – No seu caso aquele conhecido


governo e a participação política, aforismo “Sem Rei Nem Roque” é
resultando daí um menor índice de
mesmo inaplicável, pois levou sempre
democraticidade no funcionamento dos
diferentes poderes do Estado. Por isso a vida “Com Rei e Rock”, pois além de
sim, numa democracia enraizada, o Rei ser Monárquico foi membro do grupo
constituiu um fator de democraticidade musical Radar Kadafi e é desde 1989
acrescida.
dos já lendários Delfins?

LS. - É verdade, sou monárquico e o rock


é um dos meus géneros de música
favoritos. Devo dizer, contudo, que por
força da forma como as profissões
artísticas têm sido tratadas pelo poder
político do nosso país, o trabalho dos
artistas é precário. Vivem vidas
periclitantes, sem proteção social dos
rendimentos, sem apoio social e sem
regulação das profissões. Literalmente
Luís Sampaio na conferência sobre Propriedade
“Sem Rei Nem Roque”! O ISCTE produziu
Intelectual, que se realizou no dia 15 de Maio
2013 no Auditório do Montepio Geral em Lisboa recentemente um estudo, coordenado
por José Soares Neves, sobre o setor
RGAM. – A ordem republicana é a
ordem burguesa. Não há renovação artístico e cultural em Portugal cuja
de protagonistas e existe uma consulta recomendo vivamente a todos
oligarquia que só agora começou a quantos tenham interesse ou curiosidade
prestar contas na justiça pelos em conhecer a realidade dos
desmandos de largas dezenas de profissionais da cultura no nosso país.
anos. Já nas Monarquias, sobretudo (https://ciencia.iscte-iul.pt/projects/estudo-
sector-artistico-e-cultural-em-portugal/1399)
as da Europa do Norte, os índices de
corrupção são os menores do Mundo.
Não pode ser coincidência, verdade?

LS. - Penso que esta questão está ligada


à anterior. Quanto mais completa for a
democracia e a cultura política popular,
tanto menor será a corrupção. Ao
reforçar a estabilidade democrática, o
Rei contribui também para um menor
índice de corrupção.
Delfins. No teclado Luís Sampaio

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da música “Soltem os prisioneiros". Os


Delfins são um grupo pop sem ideologia
política nem partidária.

Luís Sampaio com os Delfins em Miranda do


Capa do single "Eu sei que não sou sincero" Moncorvo em 2009. @ João Miguel Simões

RGAM. – Nesses grupos musicais, RGAM. – Parece existir uma agenda da


média, das redacções do sistema - e
Radar Kafafi e Delfins, alguma vez
que só pode ser fruto do desespero ou
verteu, mesmo que sem intenção um
melhor da desesperança perante o
pouco dessa militância monárquica?
modelo republicano falido que
continuam a defender sem procuração
LS. - Quando abraçamos esta vida, os
-, em, intencionalmente, evitar
nossos companheiros de banda qualquer tipo de cobertura das ideias
transformam-se em algo muito próximo daqueles que defendem a Monarquia.
de uma família. O tempo que passamos Já sentiu isso?
juntos assim o determina. Tive a
felicidade – primeiro com os Radar, LS. - Mais do que uma agenda, acredito
depois com os Delfins – de partilhar a que exista um certo fundamentalismo
experiência com verdadeiros amigos, republicano que impede algumas pessoas
pessoas bem formadas e com quem me de considerar, sequer, as virtudes da ideia
identificava em muitos aspectos. As monárquica. Infelizmente, para muitos a
ideia de monarquia cristalizou num
ideias políticas eram normal e
passado distante, sendo ainda sinónimo de
naturalmente debatidas (e também as
privilégio e de discriminação. Incapazes de
desportivas...) mas, sendo nós um
ultrapassar este preconceito, essas pessoas
coletivo com diversas sensibilidades,
podem contribuir, voluntária ou
tínhamos o cuidado de não as tornar involuntariamente, para a existência dessa
conhecidas do público. Confesso que agenda. Também os monárquicos que
apesar de a ideia me dar algum gozo, expressam opiniões e praticam acções
não consigo, por exemplo, imaginar-me anti-democráticas são responsabilizáveis
num palco a empunhar a bandeira da por essa “agenda”, causando e justificando
Restauração durante a execução pública a desconsideração da monarquia.

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RGAM. – Foi membro da JM; em 1985 recordo com saudade. A faculdade estava
integrou a Lista F, uma lista muito inflamada pelas questões políticas
monárquica, que concorreu às e ainda ressoava com as passagens
eleições para a Assembleia de
recentes de pessoas como o Durão
Representantes da FDL. Que
Barroso, o Pedro Santana Lopes, o
recordações guarda desses tempos
António Costa e tantos outros… Era difícil
em que a audácia juvenil, sempre
mais indómita ou “selvagem”, levava colocar a discussão do regime naquele

ao combate temerário pelo ideal da ambiente tão polarizado e onde a


Monarquia? questão da forma republicana de
governo parecia ser a única que os unia.
LS. - Foi um tempo que passou depressa, O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles teve
muito rapidamente… Nessa altura,
um papel muito importante através da
formámos os Radar Kadafi e
defesa das ideias de ordenamento do
concorremos ao concurso de música
moderna do Rock Rendez-Vous; abri território associadas à monarquia

uma loja de antiguidades; fui eleito para constitucional democrática, abrindo


a direção da Associação Académica da espaço para que o ideal monárquico
Faculdade de Direito da Universidade de pudesse fazer um caminho. Não fosse
Lisboa, fundámos Associação Académica
isso, penso que não teríamos qualquer
de Lisboa; jogava andebol no Sporting
hipótese de sobressair no panorama
Clube Portugal, onde fui capitão de
equipa; integrei enquanto vice- político da Faculdade de Direito na

presidente a Mesa da Assembleia Geral altura.


do Conselho Nacional de Juventude.
Tudo isto enquanto estudava Direito e
vivia os meus 20 anos… Foram anos
muito intensos em que aprendi muito,
imenso mesmo, e fiz muitos amigos que
ainda hoje guardo.
A Faculdade de Direito de Lisboa era
nessa altura um “cadinho” de jovens
políticos em formação. As campanhas
eleitorais e a restante vida política eram
vividas com grande intensidade por
muitos de nós. Apesar disso, a vida
social académica congregava-nos a
Capa do Programa eleitoral da lista F -
todos num espirito saudável que candidatura à direção AAFDL

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LS. - A monarquia favorece a estabilidade


democrática. A eleição de um chefe de
Estado introduz na vida política
perturbações cíclicas que prejudicam os
interesses do país. A monarquia
hereditária confere à identidade colectiva
uma referência viva e humana que é
muito importante para a integração e
para o compromisso das pessoas com
uma ideia saudável do que é a
identidade do país e do que representa o
Estado. Acredito que a identidade
colectiva beneficia de ter uma referência
humana que atravessa gerações e que
permite que cada indivíduo se relacione
com essa referência histórica da mesma
forma que se relaciona com as
referências familiares das gerações
Comunicado com o resultado das eleições
anteriores. A monarquia fortalece a
integração colectiva acrescentando uma
dimensão humana muito real, não
abstrata.

RGAM. – Hoje, além de Advogado, é


membro da Fundação GDA que tem
por missão a valorização e dignificação
do trabalho e das carreiras dos
Comunicado da JEM eleições AAFDL 1985
artistas. Por estes dias, com a internet,

RGAM. – Para que não sobejem redes sociais, e mesmo por causa da

dúvidas e não pairem hesitações, Pandemia, a questão dos direitos dos


quais são para si as vantagens de um artistas, nomeadamente de autor,
regímen de Monarquia face ao especificamente dos músicos, é
modelo republicano?
premente, verdade?

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LS. - Sou músico, jurista e faço parte da atribuição de um cartão de compras para
Direção da GDA onde desempenho aquisição de bens essenciais aos artistas
funções de vice-presidente com a
em situação de maior carência. 
responsabilidade dos pelouros da
A segunda realidade foi a impressionante
distribuição e da comunicação. 
contradição resultante do facto de nunca
A GDA (www.gda.pt) dedica-se à gestão
da propriedade intelectual dos artistas o trabalho dos artistas ter sido tão
(atores, bailarinos e músicos), ou seja: utilizado nos meios digitais –
cobra e distribui os direitos resultantes designadamente nas plataformas de
da exibição/utilização das suas obras
música e nas redes sociais digitais –,
gravadas. 
gerando tantas receitas para os
A Fundação GDA (www.fundacaogda.pt)
diferentes agentes e produtores,
é financiada com uma parte (em regra
15%) do valor cobrado pela GDA com enquanto que, paradoxalmente, os
vista a desenvolver acção cultural artistas, com os espectáculos cancelados,
(apoios à produção, bolsas, etc.), social impossibilitados de monetizar a
(apoio médico e jurídico, entre outros) e
exploração digital do seu trabalho, vivam
de formação artística, tudo em benefício
de apoios e de caridades que seriam
da comunidade dos artistas.
desnecessárias se o mercado digital
A pandemia colocou em evidência de
forma gritante duas realidades distintas estivesse regulado e disciplinado!!!...
relacionadas com os artistas. A primeira É inacreditável como é que, apesar destas
foi a da precariedade em que evidências que a pandemia deixou a nu,
desenvolvemos a nossa actividade, sem
se continua a permitir que no mercado
regulação e sem apoio social. Foi
digital a receita seja dividida entre
dramático constatar que a esmagadora
plataformas, produtores e músicos de
maioria dos apoios oficiais alinhados
para o sector cultural não conseguiu forma a que, em média, os artistas
chegar aos artistas por razões que se fiquem apenas com 10% dessa receita,
prendem com a falta de enquanto as plataformas guardam 30% e
enquadramento legal destes
os produtores 60%!!! A próxima discussão
profissionais. Felizmente a GDA e a
parlamentar da transposição da diretiva
Fundação GDA (que é o seu instrumento
europeia para o Mercado Único Digital
para valorizar o trabalho dos artistas e
promover o seu desenvolvimento (Diretiva MUD) é um assunto
humano e cultural e a sua protecção absolutamente fulcral para os artistas
social) estavam em condições de poder que impactará na forma como iremos
ajudar, nomeadamente através da
viver nos próximos trinta ou mais anos
(https://streamingjusto.pt).

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RGAM. – Ser Monárquico é, para além RGAM. – Como vê hoje o movimento


de defender a Causa do Rei, também, monárquico e se pensa que a
defender Portugal, porque a
restauração da Monarquia é ainda
Monarquia hereditária sempre foi
possível para Portugal?
símbolo da identidade portuguesa e
afiançadora da existência da Nação.
Perante esta crescente perda de LS. - Com sinceridade, tenho participado

Soberania da Nação, quer política pouco no movimento monárquico. A


quer financeira, para entidades e minha vida, familiar e profissional, levou-
instituições estrangeiras, não será me noutras direções igualmente
uma Monarquia o maior garante da
exigentes que me absorvem todo o
continuidade de Portugal?
tempo. O facto de não ter notícias de
SAR nem da Causa fala, não só da minha
LS. - Acredito que sim, que a monarquia
hereditária representa muitíssimo bem desatenção, mas também das

essa função de garantia. A perda de dificuldades que existem em comunicar


soberania é inevitável, e até de certa a Monarquia. Acredito que a restauração
forma desejável, num contexto de da Monarquia é possível, desde logo
concerto e integração das nações. Isso
porque o crescente descontentamento
não significa, muito pelo contrário, que
popular com a corrupção que grassa e
se deva abdicar da identidade. Entendo
que existe um dever de contribuir para com um sistema representativo em que

esse concerto com o melhor que temos, ninguém se sente representado cria uma
com o melhor cada um tem. A oportunidade significativa. Antes disso,
diversidade biológica é essencial à vida, contudo, há muito trabalho a fazer. Não
da mesma forma que a diversidade
será já amanhã…
cultural é essencial à democracia e à
saúde da comunidade global. Acredito
que a monarquia hereditária é a melhor Muito Obrigado!
forma de salvaguardar a identidade Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas

coletiva de um povo. para a Real Gazeta do Alto Minho da Real


Associação de Viana do Castelo.

”A MONARQUIA HEREDITÁRIA CONFERE À IDENTIDADE COLETIVA UMA


REFERÊNCIA VIVA E HUMANA QUE É MUITO IMPORTANTE PARA A
INTEGRAÇÃO E PARA O COMPROMISSO DAS PESSOAS COM UMA IDEIA
SAUDÁVEL DO QUE É A IDENTIDADE DO PAÍS E DO QUE REPRESENTA O
ESTADO.”

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PALAVRA SOLTA: MUDANÇA!


SUSANA CUNHA CERQUEIRA

Abstract Résumé

There is a need for change, but this will Il y a un besoin de changement, mais cela
only happen with a restructuring of the ne se produira qu'avec une restructuration
entire system. de l'ensemble du système.

Key words: Change; system; corruption; Mots clés: Changement; système;


ironies. corruption; ironies.

um vir de…um chegar de, embora pese


sobre o chegar um momento de pousio
que pode ser o precipício para um novo…vir
de… ou devir.
Caso paradigmático será o francês, próximo
do latim, numa evolução erudita, devenir,
podendo traduzir-se por tornar-se.
Tornar-se…em quê? Para quê? Porquê?
Paira o sombreado da dúvida.
Se a incerteza é uma certeza absoluta que
permanece nesta viragem de século, que
foi ontem, não há tempo para pensar, para
fruir, para viver além do casa-trabalho-
trabalho-casa. Com o tempo escasso,
Mudar – verbo transitivo, intransitivo, sentindo-se o Ser apertado pelo garrote da
transitivo e intransitivo, e pronominal - meritocracia, quando se pretende que tudo
classificação morfológica, sendo que, seja inclusivo, aceite numa mesma redoma
partindo desta base, poder-se-ia frágil de ironias, será esta a equidade que a
discorrer em termos linguísticos. mudança transporta em si? Contrassenso
Não será esse o caminho. perfeito que origina múltiplos
Na realidade, mudar implica, em comportamentos nos mais diferentes meios
variadíssimos contextos, alteração, (e.g. sociais, profissionais, políticos,
deslocamento… E, quando algo muda, a educativos), embora aparente ser um
realidade é uma outra que não a deleite para os sentidos…já que, nesta época
mesma, assunção aceitável. natalícia e de novo ano, só se pretende
Contudo, o mudar está para além da acabar, exterminar ou congelar, o que
normal perceção e, como camada de significa adiar, os consumíveis mais… ou
palimpsesto, está o devir, do latim menos… escassos das mesas.
devenire , podendo assumir-se como

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Que iguarias, interesses ocultos, nos se as instituições e quem nelas opera,


servem em bandeja de prata para mudem-se as parcerias público-privadas,
aguçar o apetite este sistema? Que mudem-se as fundações, mudem-se para
cardápio é este ou não estejamos nós espaços adequados aqueles que são
em quadra de festividades natalícias e corruptos, parecendo que até advêm
de final de ano? Que ironia… sempre da mesma classe, mas não só…
Se não fosse demasiado perverso, daria Quem sabe?
vontade de rir… E não é que os juízes de SOS!! SOS!!
diferentes “casos polémicos”, e nem Save Our Ship… SOS! SOS! Portugal precisa
ouso nomear, pois poderei ouvir um de ajuda! SOS!...
certo ranger de dentes e uns Chamem o Knights Bachelor, Sir António
impropérios por parte de quem está Horta-Osório para reestruturar a banca,
atento, também vão mudar? Haja salvar ou extinguir (vem, Osório! Portugal
mudança! E não é que “os casos precisa de ti! Claro que só poderás trabalhar
polémicos” prescrevem? E não é que o pro bono), concessione-se a TAP a Elon
povo português aceita toda esta Musk – Portugal tem tanto potencial que
situação e as demais? Excelente ainda está desperdiçado – seria uma delícia
cardápio num Portugal de pobres. e um desafio para Musk - ou transforme-se
Mudança… Mude-se a Constituição Portugal numa sucursal turística do Dubai.
Portuguesa, mude-se o Código Penal, Portugal tem de sofrer alguma mudança…
mude-se a inércia do processo judicial, Mudar, refletir… que se pense em grande e
mudem-se os deputados, mudem-se as com uma perspetiva visionária e não para o
situações que causam incredulidade, “desenrasca” característico dos portugueses,
mudem-se… e que não seja sempre para o ontem. O
tempo, sempre o tempo.
Será que os filósofos têm tempo para
pensar? Ou será já esta uma ideia
romanceada? Que influencers temos? Os
novos pseudofilósofos do quotidiano
zappinguesiano? Mudem-se os
influencers… Mas que mundo é este? Qual o
motivo de querermos ser influenciados?
Deixamos de ser críticos e tornámo-nos
rebanho pronto a ser levado ao altar dos
pseudodeuses? Nunca existiram tantos
baixos deuses na sua aguerrida forma para
não se deixarem suplantar. O irrisório
acontece num trocadilho de linguagens em
que a visão é a via fulcral do que se
perceciona sem ter noção do que é
percecionado e intuído, emaranhando-se
Mudem-se, mudem-se…mudem-se os no nosso cérebro – bem adequados os
governantes, mudem-se os cargos trocadilhos das palavras como making loof
políticos, mudem-se as carreiras em vez de making love de Joyce.
“profissionais” dos deputados, mudem- Noise, only noise!

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Quando se passa o dedo, de preferência não se deem ao luxo inebriante e


o indicador, pelo Instagram, de vez em decadente de brincar com os pobres…
quando, surgem dois senhores, Mark Claro que o (meu) comentário só
Elliot Zuckerberg e William Henry poderia ser “Fuck you, because it’s so
Gates, com roupa demasiado casual, nice, it’s so cool, to be poor…”,
dizerem que a roupa não interessa… sobretudo quando se compra na loja
(concordância, em parte, absoluta, dos chineses do… “Tudo a um euro”!
Mudança, mas… Ser Superior, Além, Au-
apesar de Catarina de Médicis ter sido
Delàs, Deus, agitai as águas, dividi-as
a primeira mulher a usar salto alto e
em dois para que o povo português
ainda hoje o usamos) , parece algo
consiga passar sem sofrer muito, sem
decadente ou irónico ou para papalvos,
que o fado não seja um destino falhado
pela mensagem subliminar que
sistematicamente.
pretendem passar: “não se preocupem Precisamos de um autrement que
com algo supérfluo, com a ostentação… selon le mode de l’être , segundo
porque isso não vale nada”. Porém eles Lévinas.
são poderosos, tendo acesso aos mais
belos sobretudos de cashmere. O Aconteça 2022! Aconteça a mudança.
começo foi em garagem… certo! Mas

MUDANÇA

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REAL GAZETA DO ALTO MINHO

NOTA INFORMATIVA
A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o triénio
2020-2023, cumprimenta V. Exas, desejando desde já a continuação de um bom
ano de 2021.
A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e orçamento
para 2021, que inclui diversas iniciativas, que vão desde a organização de
conferências à publicação da Real Gazeta do Alto Minho, órgão oficial de
comunicação da Real Associação de Viana do Castelo, do qual muito nos
orgulhamos, e que se pretende sejam executadas com a participação de todos os
associados, simpatizantes e entidades que entendam colaborar, com o intuito de
contribuir e ajudar a dinamizar o ideal Monárquico que todos nós abraçamos
convictamente. Atendendo à necessidade imperiosa que temos em angariar
recursos financeiros necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e
tendo em conta que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas,
eu, em nome da Direcção e na qualidade de Tesoureiro, venho por este meio
solicitar a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano
de 2021, no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência
bancária, para:

Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo


Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola
Agência: Ponte de Lima
IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47
Número de conta: 1427 40026139242
SWIFT: CCCMPTPL

Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail


([email protected] e [email protected]) informação da
regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de imediato
à emissão do recibo de liquidação.

Cordiais cumprimentos e saudações monárquicas,

Filipe Amorim
Tesoureiro da RAVC

FICHA TÉCNICA
TÍTULO: REAL GAZETA DO ALTO MINHO
PROPRIEDADE: REAL ASSOCIAÇÃO DE VIANA DO CASTELO
PERIODICIDADE: TRIMESTRAL
DIRECTOR: JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES
REDACTOR: PORFÍRIO SILVA
WEB: WWW.REALVCASTELO.PT
EMAIL: [email protected]

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PÁGINA 51 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

O PINTOR JORGE COLAÇO E


«O THALASSA»
PORFÍRIO PEREIRA DA SILVA

Abstract Résumé

Thalassa was a weekly critical of Thalassa était un hebdomadaire critique de


caricatures, founded by Jorge Colaço, of la caricature, fondé par Jorge Colaço, dont
which he was the owner and director, who il était le propriétaire et directeur, qui se
presented himself with the humor that présentait avec l'humour qui le
characterized him, as a way of denouncing caractérisait, comme une manière de
situations they considered ridiculous in the dénoncer des situations qu'ils
republican government, what they considéraient ridicules dans le
sarcastically called a funeral joyful. gouvernement républicain, ce qu'ils
appelaient sarcastiquement un
Key words: Monarchy; republic; humor; enterrement joyeux.
Jorge Colaço.
Mots clés: Monarchie; république; humour;
Jorge Colaço.

«O THALASSA» foi um semanário crítico


de caricaturas, publicado em Lisboa
entre 1913 e 1916, perfazendo um total
100 números. Com um título polémico,
já que a palavra thalassa , como os
próprios a definiam, significa todo
aquele que não era correligionário de
Afonso Costa, ou seja, todos aqueles
que mantinham uma forte adversidade
à forma republicana de governo, os
monárquicos. Apesar de no início da
sua publicação avisarem que não era
sua intenção desafiar ninguém, apenas
denunciar, com o humor que
caracterizava a publicação, situações
que consideravam ridículas no governo
republicano, ao que chamaram
sarcasticamente de funeral alegre . A
par dos textos, numa escrita
contundente e fortemente
oposicionista ao regime republicano,
sobressai a ilustração, que conduz as

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PÁGINA 52 | REAL GAZETA DO ALTO MINHO

caricaturas dos vários personagens do Jorge Colaço era parente do pianista


governo ao seu limite humorístico. Alexandre Rey Colaço, foi casado com a
«O THALASSA» foi fundado por Jorge escritora e poetisa Branca de Gonta
Colaço, seu principal ilustrador, E. Colaço, e era primo da actriz Amélia
Severim de Azevedo (Chrispim) e Rey Colaço. Tal como o pai, que além
Alfredo Lamas, contando ainda com a de diplomata foi também pintor, Jorge
participação de Guilherme Santos Silva Colaço cedo descobriu a sua vocação
e João Valério na ilustração. para a Arte, fazendo os estudos
Jorge Rey Colaço, filho do escritor e preparatórios na Escola de Lisboa,
diplomata José Daniel Colaça, 1.º barão passando mais tarde por Madrid e, em
de Colaço e Macnamara, e de Virgínia 1886, Paris, cidade onde permaneceu 6
Maria Clara Vitória Raimunda Rey anos a estudar e a trabalhar, tendo sido
Colaço, nasceu no Consulado de caricaturista do jornal Le Figaro . Foi
Portugal em Tânger, Marrocos, a 26 de admitido no Salon de Paris em 1893
Fevereiro de 1868. (exposição oficial exposição oficial da
l’Académie des Beaux-Arts de Paris ),
facto que à época era muito invulgar
para pintores ainda não consagrados e
estrangeiros; e foi Presidente da
Sociedade Nacional de Belas Artes
(1906-1910). De realçar o facto que
obteve uma excelente, porque cuidada,
formação académica com o pintor
Ferdinand Cormon, excelso
representante da Escola de Paris e
mestre de muitos bolseiros portugueses
da segunda geração naturalista
portuguesa.

A família Colaço, oriunda de Faro,


estava radicada no norte de África,
desde meados do séc. XVIII, tendo dado
origem a uma sucessão de cônsules,
desde Jorge José Colaço (1783-1859) que
foi o primeiro Cônsul em Tânger, até ao
próprio Jorge Colaço que também,
embora por pouco tempo
experimentou a carreira diplomática,
como vice-cônsul, na mesma cidade
marroquina.

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Ao longo da sua vida, Jorge Colaço viu a de técnicas, nomeadamente a técnica


sua pintura representada em de serigrafia aplicada a azulejos. Foram
numerosas exposições em Portugal e no inventariados cerca de 1000 painéis de
estrangeiro, tendo sido detentor de azulejos em 116 locais diferentes, entre
numerosos prémios e distinções os quais destacamos, pela proximidade:
diversas. Distinguiu-se também como Estação de São Bento , Porto (1903);
caricaturista de mérito, vindo a ocupar, exterior da Igreja de Santo Ildefonso ,
durante dez anos (1897-1907), o cargo Porto (1932); exterior da Igreja dos
de director do suplemento humorístico Congregados , Porto; Escola Primária de
do Jornal “O Século”. Como atrás Forjães, actualmente sede da Junta de
referimos, foi proprietário e director Freguesia e Centro Cultural Rodrigues
artístico da revista O Thalassa (1913- Faria (Março a Setembro de 1933); e
1916), colaborou no periódico Branco e Torre de São Paulo, nas Muralhas de
Negro que foi publicado entre 1896 e
Ponte de Lima .
1898, também em o Branco e Negro
Foi agraciado em 16 de Setembro de
editado apenas em Março e Abril de
1936, com o grau de Grande-Oficial da
1899, e ainda na revista Illustração
Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Portugueza iniciada em 1903.
Trabalhou na Fábrica de Louça de
Sacavém de 1904 a 1924 e depois na
Fábrica de Cerâmica Lusitânia de Lisboa
e Coimbra onde colaborou até à data
da sua morte.
Faleceu em Oeiras, Portugal, a 23 de
Agosto de 1942.

Para além de cultivar o desenho e ter


sido pintor e caricaturista, Jorge Colaço
veio a notabilizar-se na azulejaria,
sendo considerado por muitos
especialistas, como o responsável pelo
renascimento desta arte em Portugal,
dado que, segundo esses mesmos
especialistas, introduziu nesta área
muitas inovações a nível de processos e

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É POR SER MONÁRQUICO QUE


SOU ROIALISTA

ANTÓNIO DE SOUZA-CARDOSO

Abstract Résumé

It is in the good Portuguese and European C'est dans la bonne tradition monarchique
monarchic tradition the assumption of a portugaise et européenne l'hypothèse d'un
political royalism that helps the monarchic réalisme politique qui aide l'institution
institution to materialize itself in a monarchique à se matérialiser dans une
distinctive regime proposal. Royalism or, if proposition de régime distincte. Le
you prefer, the Royal Institution is the a royalisme ou, si vous préférez, l'Institution
priori presupposition that underlies a royale est le présupposé a priori qui sous-
concrete, integral or holistic idea of the tend une idée concrète, intégrale ou
monarchical institution. holistique de l'institution monarchique.

Key words: Integralism; royalism; Mots clés: Intégralisme; royalisme;


monarchy. monarchie.

Acordei com um dia sombrio e triste. lareira, estava o livro do Tomás Moreira
Fustigado pelo vento e pela chuva “Memórias de um Roialista” que acabei
naquelas provas de sofrimento que às na noite anterior. Li-o, diga-se, com o
vezes a natureza nos dá. Como não prazer e a cumplicidade de quem foi
queria condicionantes ao espírito um dos seus “compagnons de route”.
redentor do Natal baixei as cortinas, Recordei ainda o último Correio Real e
deixei que a luz do presépio iluminasse a afirmação do meu Amigo Álvaro
a sala e socorri-me de um “i qualquer Menezes de que era monárquico, mas
coisa” dos meus filhos para pôr uma não roialista.
música divertida. Saiu-me Adriana Acho que vale a pena esclarecer não
Calcanhoto com a seu “Sou eu, assim tanto os intervenientes que senão estão
sem você”. A música devolveu a esclarecidos é mais provavelmente
tranquila alegria do Natal mas também porque não querem, mas os nossos
me pôs a pensar nas coisas que não leitores tantas vezes arredados das
devemos separar – o pão e a manteiga, nossas Assembleias onde o assunto tem
o Bucha e o Estica, o queijo e a sido repetidamente discutido.
goiabada… Façamos primeiro um enquadramento
Ao meu lado, caído no sofá junto à histórico.

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honra nem glória o fim de um Estado


Novo, paternalista e republicano.
Relembro um lúcido editorial no
Expresso de José António Saraiva que
colocava na forma distinta como os
processos de transição foram feitos por
Franco e Salazar, a enorme diferença de
desenvolvimento, riqueza e bem-estar
de Espanha hoje, quando comparada
com Portugal.
A Action Royaliste bem assim como o
Integralismo Lusitano defendiam como
base e princípio de todo o pensamento
monárquico a Instituição Real: Charles
Maurras no seu memorável “Enquete
sur la Monarchie” tinha esta visão
quase axiomática: “Au probléme
Charles Maurras
d´abord la Monarchie répond ce
corolaire: – d´abord le Roi!” . E António
A Action Royaliste ou Action Française, Sardinha no seu estilo mais romantico
transformada em movimento por deixa este pensamento eloquente sobre
Charles Maurras esteve próximo daquilo a mesma ligação intrínseca entre a
que conhecemos em Portugal por Nação, o Estado e o Rei - “… ver um Rei
Integralismo Lusitano. Defendia, do na sua força calma, é ver a Pátria com
mesmo modo, uma forma de figura humana”.
nacionalismo integral, promovendo os
princípios monárquicos como modo de
assegurar os valores identitários, a
história e a cultura da nação. Lutavam
firmemente contra o nazismo, o
fascismo e o nacional-socialismo que os
inspirou e lograram influenciar figuras
tão marcantes como António Oliveira
Salazar e Francisco Franco. Que
curiosamente haviam de tratar esta
influência católica e monárquica de
formas distintas. Francisco Franco nela
confiando os destinos de Espanha e a
transição para a monarquia
parlamentar e para a democracia.
Salazar sem mundo e coragem para
fazer mais do que entreter a morna
militância monárquica precipitou sem

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Uns e outros, atento o contexto da expressar nem uma pequena parte da


época, influenciaram decisivamente a sensibilidade monárquica existente em
ideologia monárquica na Europa do e Portugal.
até no mundo Ibero Americano – Depois tivemos a glorificação roialista
lembro Plínio Salgado e a sua Acção do casamento e dos baptizados reais e
Integralista Brasileira. aí percebemos que esta sensibilidade
Esta cumplicidade ou, mais do que isso, popular estava viva e com um potencial
esta essencialidade da instituição real de adesão que estaria sempre ligado à
como cerne da construção do figura do Rei ou da Família Real. Os
pensamento monárquico monárquicos pela mão do Senhor Dom
contemporâneo é indiscutível e não Duarte organizaram-se, agora sim nas
deixa margem para divagações Reais Associações e depois na Causa
imprecisas ou menos claras. Real, convocando desta feita
A minha reflexão poderia ficar por monárquicos de todas as sensibilidades.
aqui para que todos percebamos que Mas o Movimento tardou a centrar-se
é da boa tradição monárquica numa estratégia clara de intervenção
portuguesa e europeia a assunção de que contrariasse a propaganda
um roalismo político que ajuda a republicana que, com a ética que lhe
instituição monárquica a tangibilizar- conhecemos, colava na opinião publica
se numa proposta distintiva de a ideia monárquica á do passadismo,
regime. O roialismo ou se preferirem do elitismo e do poder absoluto. Como
se não fossem Monarquias os Países
a Instituição Real é o pressuposto
mais desenvolvidos do Mundo e com
apriorístico que fundamenta uma
democracias mais modernas e
ideia concreta, integral ou holística
promotoras do desenvolvimento,
da instituição monárquica.
riqueza e bem-estar.
Mas a verdade é que não foi apenas
Há anos que andamos a dizer que o
esse óbvio roialismo que defendemos
nosso problema é de relevância.
nos diferentes Manifestos Políticos
Conseguimos arrancar um sorriso, mas
apresentados e na estratégia definida
não conseguimos que alguém dê um
no nosso último mandato na Causa
passo firme na discussão nacional sobre
Real, com a luta pela consideração do
a vantagem do regime.
Rei dos Portugueses no Protocolo de
Tentamos a alínea b) do 288.º da
Estado.
Constituição conseguindo pela primeira
Os militantes monárquicos desde o 25
vez que uma maioria de deputados
de Abril, apesar de todas as boas
votasse pela eliminação do limite
intenções, contingentaram-se num
material, mas sem conseguirmos atingir
partido político (o PPM) vítima de um
a maioria qualificada exigida.
pecado original enquistado na sua
Conseguimos abrir alguns fóruns de
essência partidária. Ou lutavam pela
discussão que culminaram com um
forma de governo ou antes pela forma
Prós e Contras de boa memória sobre
de regime. E os monárquicos das outras
Monarquia e República.
sensibilidades não aderiram a este
Mas a verdade é que no mundo
partido que só teve lógicas de poder
mediático em que vivemos este
quando esteve coligado e nunca logrou
combate era e é desigual. Não existem

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meios para colocar este ponto na É este Roialismo que deve contaminar a
agenda pública e muito menos existe própria estratégia da Causa Real. Não
vontade política. percebo como não perceberam (?) a
Mais explicita é, no entanto, a figura do questão do Protocolo de Estado. Não
Rei e da Família Real. Sempre
percebo como não percebem que ter
calorosamente acolhido, sempre
um Rei institucionalmente reconhecido
reconhecido e aplaudido, o Rei dos
pela República é o passo inicial para
Portugueses tem a notoriedade que o
movimento não tem. E suas ideias, a diminuir o preconceito político em
influencia que as do movimento não torno da Instituição Real e atrás disso
logram atingir. É por isso que temos da Monarquia que naquela se
que trabalhar em unida cumplicidade. fundamenta.
Provavelmente com órgãos de apoio Não entendo como acham que é doutra
comuns à Causa Real e á Casa Real e forma que podem restaurar a
utilizando a energia que o movimento é Monarquia? Qual forma? Uma
capaz de dar para reforçar o contacto Revolução? Um Referendo desigual? Ou
entre o Rei e o Povo, entre o Rei e as
o ledo passar dos anos com as mãos em
instituições, entre o Rei e a diáspora
concha à volta de uma chama quase
portuguesa.
extinta?

Acho que às portas de um Congresso


Eleitoral temos que ter a esperança
de um novo ciclo de confiança e
cumplicidade com a Rei e a Família
Real dos Portugueses. Um Rei que
nunca se recusou a servir a Pátria em
qualquer regime. Um Rei que consiga
ser ouvido pelos portugueses, para
que, paulatinamente, à sua volta
possa emergir um movimento de
esperança e de confiança, um tempo
novo onde a relevância do regime
passe a ter um novo e decisivo
sentido.

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TERRA NOVA DOS BACALHAUS


GONÇALO SAMPAIO E MELO

Abstract Résumé

The relationship between cod fishing and La relation entre la pêche à la morue et la
the salting method even precedes the 15th méthode de salage est même antérieure au
century and, according to historical facts, XVe siècle et, selon les faits historiques, a
determined the first voyages of maritime déterminé les premiers voyages
expansion, also because the need to d'expansion maritime, car la nécessité de
conserve fish for long periods of time conserver le poisson pendant de longues
became imperative. Portugal, once périodes est devenue impérative. Le
influenced by the vikings, was a pioneer in Portugal, autrefois influencé par les
setting up caravels for this fishing that vikings, a été un pionnier dans l'installation
ended up developing unprecedented de caravelles pour cette pêche qui a fini
routes to the seas of Terra Nova. The par développer des routes inédites vers les
contributions of fishermen from Alto Minho mers de Terra Nova. Les apports des
were decisive for navigation, astronomy pêcheurs du Alto-Minho ont été décisifs
and for the knowledge of the winds and pour la navigation, l'astronomie et la
seas that led to the discovery of the new connaissance des vents et des mers qui ont
world by various navigators, from Corte conduit à la découverte du nouveau monde
Real to Colombo. par divers navigateurs, de Corte Real à
Colombo.
Key words: Discoveries; fishing; cod; Alto
Minho. Mots clés: Découvertes; pêche; morue; Alto
Minho.

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Relacionarmos a idade média ao Desde a fundação de Portugal estes


obscurantismo e ao activo combate á mareantes diretamente ligados aos
proeminência da brutalidade religiosa, Vikings tornam-se autênticos guerreiros
contudo, este foi simultaneamente um do mar, no norte de Portugal e Galiza
período de desenvolvimento técnico- pela exploração contínua das costas da
científico pelo qual se proporcionou um Islândia e Gronelândia, investindo em
fluxo de rotas comerciais inéditas desde novas rotas e em técnicas de
a queda do império romano. Os navegação. Aperfeiçoando mapas de
europeus através do contacto produtivo correntes e ventos os reis de Portugal
com outros povos fortaleceram fomentavam não só a actividade
estas rotas marítimas importantes para marítima e a construção naval, mas
o conhecimento das culturas e dos também o comércio que se
povos sobre o mundo. impulsionava com este peixe tão
A história marítima revelamos que a apreciado pelos portugueses desde
costa noroeste ibérica foi assolada por tempos imemoriais.
povos oriundos quer do mediterrâneo Os bacalhoeiros de armação latina ou
quer do norte frígido como os redonda jamais seguiam outra rota com
normandos da Dinamarca ou os vikings destino ao continente americano que
da Escandinávia. Estes últimos não fosse pelo mar dos Açores, que só
acabaram por deixar caracteres étnicos não era viável de Setembro a Abril.
e morfológicos na genética das Estas foram as circunstâncias que
populações do litoral aonde existem, antecederam e proporcionaram desde
sem dúvida, vestígios da sua presença o início de quatrocentos as viagens
através por exemplos de abrigos ovais. frequentes a este arquipélago atlântico
Primeiro dedicavam-se á pilhagem mas quer com porto de abrigo quer como
logo se tornaram pacíficos base abastecimento. Já no reinado de
comerciantes, trocando bacalhau seco D. Pedro I os pescadores portugueses
ou arenque fumando por vinho e sal. andavam por estes mares setentrionais
Embora tenha sido os vikings os ao ponto de se estabelecer um
primeiros a pescar bacalhau perante a convénio pelo qual o monarca Edward
falta de sal restringiam-se a deixá-los a II os licenciava a frequentar a costa e os
secar ao sol por vezes mesmo nos portos ingleses. Este tratado acabou
barcos. Já os portugueses tinham sal sendo uma preciosa fonte de
com abundância pelo que logo informação sobre navegação no
principiaram a usá-lo como moeda de Atlântico Norte.
troca. Este constituía um exemplo O conhecimento de astronomia e o
ilustrativo de um comércio inovador de desenvolvimento de embarcações
longa distância que emergiu na idade foram a mais-valia que levou audazes e
Viking. O sal permitiu desde o século perspicazes navegadores á descoberta,
XIV a conservação imperiosa do iniciando-se uma revolução da pesca
pescado por longos períodos de tempo através do investimento por parte dos
facilitando o consumo regular do pescadores em longas distâncias.
bacalhau.

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Contudo, devido ao incremento destas aportagem de barcos, desde lugar de


navegações dos homens do mar de marinhas ou subindo o rio Minho até
Bristol, Galiza, Cantábria e outros Valença e Tui. Este sal vindo de
lançaram-se no atlântico motivados Buarcos, Aveiro, proporcionava um
para a captura lucrativa deste peixe comércio adicional com a Escandinávia
que mudava o mundo. Galego e e com a vizinha Galiza para a salga da
portugueses acabaram por deparar-se pescaria, o que permitia converte este
com novas zonas, aonde diziam que peixe num alimento de viagem devido
havia tanto peixe que os cardumes á sua facilidade de conserva e
chegavam a impedir o avanço das armazenamento.
caravelas. Nos bancos, enormes
plataformas de baixa profundidade, era
aonde o peixe se concentrava
aproveitando o plâncton e as lulas com
alimento. O bacalhau era seguramente
abundante em todo o Atlântico e
tornou-se incentivo mais que suficiente
para inspirar novas explorações
marítimas que culminaram na
descoberta da Terra Nova, uma parte
da costa recortada do Canadá povoada A Terra Nova no planisfério anónimo português
do final seculo XV, foi, contudo, o
com denso arvoredo e constituída por
desenvolvimento de técnicas de navegação
uma ilha encravada no Golfo de S. náutica que possibilitaram ou levaram os
Lourenço, estas tão apetecidas terras pescadores portugueses a atingirem esta terra
arborizada e de fortes prados. Em certos locais
do norte estendiam-se até a os cardumes eram de tal imensidão que a água
Gronelândia, actualmente Labrador. As parecia ferver.
grandes pescarias, berço das Dada a posição norte ocidental do Alto-
navegações e escola de homens do Minho e da Galiza, cujas rias
mar, localizavam-se nas zonas de constituíam até há bem pouco tempo a
convergência, no encontro de águas maior zona portuária de pesca do
frias e tépidas aonde as condições bio- mundo, cedo despertou-se na sua
oceanográficas, sobretudo no Labrador, população local a vinculação ao mar e
colidiam estas correntes polares com sua adjacente pesca por frotas que se
águas quentes da corrente do Golfo aventuravam nas águas do atlântico. O
favorecendo assim o desenvolvimento bacalhau veio, contudo, para ficar. Por
de microrganismos que incitam os este ser um alimento popular e urbano,
bacalhaus a agruparem-se nos bancos de largo consumo transversal pois a
próximos da costa. facilidade de conservação viabilizava
ainda a sua distribuição para o interior.
Tempos de Sal Esta pesca offshore é essencial
As salinas portuguesas tinham um transoceânica conquanto tenha os
papel preponderante no abastecimento povos do norte da Europa como
do norte da Europa como por exemplo precursores tem também os
o armazenamento de sal na vila de portugueses como grandes
Caminha facilitada por uma boa protagonistas.

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Neste contexto da pesca medieval O projeto que exerceu a primeira


apresentada pelos Vikings e Normandos influência sobre Cristóvão Colombo, na
seria o ponto de partida que levou os preparação da sua epopeia, versava
portugueses ao encontro da existência basicamente, em navegar para ocidente
do Canadá durante a primeira metade e assim descobrir a Ásia. Apesar que
do seculo XV. Os escritos atribuídos a estar consciente da esfericidade da
geógrafo Paolo de Toscanelli Terra o objetivo de Toscanelli de atingir
evidenciam isso mesmo. Os pescadores a Índia navegando para oeste
provavelmente chegaram ao Canadá, fundamentava-se num erro de cálculo
denominando-o de Antilhas, mesmo sobre a dimensão do planeta e da
antes de 1424 pois um mapa datado da extensão da Ásia. Ao serviço de
época referencia-o como terra Portugal o italiano Pizzigamo concebeu
posicionada a oeste dos Açores. em 1424, a partir destes primeiros
Adicionalmente o mar dos sargaços em elementos e descrições, uma carta
frente às Bermudas aparece mapeado náutica revelando a existência de
em 1436. Um relevante documento quatros ilhas, denominadas Saya,
descoberto no Arquivo Geral de Satanazes, Ymena e Antilha. Estavam
Simancas, publicado em 1994, “El localizadas a noroeste dos Açores com
Memorial Português de 1494”, revela, posições que coincidem com a Terra
sem margem para dúvidas, que os Nova e Nova Escócia posteriormente
portugueses o conheciam bem antes do conhecidas como “As verdadeiras
final de quatrocentos, a quando o mar Antilhas”. A partir destas múltiplas
oceano se estendia a um mar mercante referências, que reivindicavam a
e de corso. descoberta destas ilhas de difícil
Após 50 anos, Toscanelli é bem localização, podemos considerar
influenciado por estas navegações Portugal como o primeiro país a enviar
atlânticas escreveu uma carta, expedições ao banco da Terra Nova.
acompanhada de um mapa datado de Durante o século XV o oceano ocidental
1424 baseado na representação é de difícil navegação e pouco mais do
cartográfica e nos relatos dos que um lugar de sonho para
pescadores do Alto-Minho, ao cónego marinheiros. Procurar o que está para
da Sé de Lisboa para através deste além do Mar Tenebroso, ir atrás do pôr-
chegar a sua proposta ao Rei D. Afonso do-sol deslumbrante, era por certo um
V. Na época já frequentavam as costas desejo reprimido pelos perigos
da terra Nova e Labrador pescadores de iminentes. As condições meteorológicas
várias nacionalidades, mas sobretudo foram bem desfavoráveis às várias
portugueses. Factos documentais tentativas fracassadas inglesas de
indicam que logo no início do século alcançar a costa do lado de lá do
seguinte, em tão pouco tempo, já atlântico. No imaginário do navegador
existiam colónias de pescadores de medieval europeu era omnipresente
Viana, Caminha e Aveiro. Naturalmente, este fascínio pelo ocidente o que estava
as frotas portuguesas uma vez patente nas descrições fantásticas das
adaptadas às costas inglesas e da sagas nórdicas, das lendas de S.
Islândia seria plausível que se Brandão e do mito da Ilha das Sete
aventurassem á procura de terras mais Cidades. Tiveram a sua expressão
ricas em pescado. máxima, concreta, nas expedições

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desta época. Mais tarde constata-se que as 2 mil milhas, o pescado começava a
a representação da Terra Nova está ser salgado a bordo nos porões das
intensamente cheia de topónimos caravelas e baleeiras sendo este o
portugueses, alguns adaptados mais tradicional método da salga já utilizado
tarde para inglês, o que denota a no arenque pelos nórdicos.
presença intensa e pioneira de Na segunda metade quatrocentista este
Portugal, subsequentemente da Galiza, tráfego de embarcações polivalentes de
região de proximidade geográfica e carga oceânica tornou-se um apetecível
ideológica, cuja ação dos seus portos negócio para corsários ingleses e
complementou a colonização da franceses. Perseguições de piratas em
Madeira e dos Arquipélagos das várias paragens começaram a ocorrer
Canárias e Açores. com assiduidade aos navios
desarmados que regressavam da pesca.
Diversas histórias são conhecidas de
pilotos que receberam tenças da coroa
ao libertar bacalhoeiros apresados por
corsários, eram sobretudo da Bretanha,
mas também da França. Quando sem o
menor escrúpulo um navio era
capturado o rei participava um protesto
diplomático junto do soberano desse
corsário. Ulteriormente, autorizava os
lesados a planear represálias através de
O mestre José vizinho, tão referenciado por contraofensiva navegação da nação
Cristóvão Colombo, efectuou febrilmente o desse corsário para se fazerem ressarcir
primeiro levantamento em 1485 das latitudes da
Guiné deixando um legado incontornável em das perdas. Por outro lado, uma vez no
cartografia pelo qual passou a permitir calcular mar os próprios portugueses
com rigor novas localizações. Sabia-se agora
começaram também a praticar o corso
bem a cada momento aonde se estava! Um facto
que explica o conhecimento da empresa dos movidos, ou camuflados, por ideais
descobrimentos, impelindo a uma política de cruzadísticos. Denominada por a santa
sigilo desde o início do século para proteger as
técnicas que a determinaram. Para D. João II
pirataria. Numa sociedade regulada por
quanto maior o incremento da descoberta direitos feudais, que tinha os seus
menor deveriam ser as notícias de forma a não
segundos e terceiros filhos fora do
atrair os concorrentes tão interessados nestes
progressos. sistema de morgadio, era frequente o
incentivo á pirataria, incentivava-se a
O corso no Atlântico Norte dar margem a ambição individual para
As redes de comércio marítimo dos além das justas e torneios,
povos do Norte, eram fluxos menos complementando-os ou substituindo-os
relevantes e pouco sistemáticos do que pelo ataque a navegação de
era a rede estabelecida pelos cabotagem. Estas acções de corso eram
armadores portugueses. A pescaria investidas regularmente nas rias da
alargou os mercados e a importação Galiza. A dificuldade que coroa
também aumentou. Como as distâncias portuguesa tinha em manter mesmo as
eram colossais, chegando a ultrapassar condições mínimas de segurança nas

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rotas do norte de África, acabaram com terminou desistindo, pois, de encontrá-


uma redução drástica desta pesca lo face ao experimentado corsário
longínqua, passando o bacalhau a estar astuto era o mesmo que encontrar uma
acessível por importação maioritária. agulha num palheiro. Embora não se
Cavaleiros e escudeiros, que não se usava ainda artilharia no início do
coibiam de exceder os limites por século XV a bordo a luta era travada à
ganância, praticavam-no muitas vezes arma branca na sequência das
investidos pela própria coroa. abordagens. Uma nau intitulada
Indistintas capturas incitaram a cada Baldaia foi certa vez perseguida pelos
vez mais cartas de corso, passadas a Colón, mas depois de uma renhida
autorizar o ataque a navios. Surgiam inconclusiva peleja acabou libertada
protestos e reclamações que, embora as pela restante frota e posta em fuga.
cortes europeias mantivessem Tempo mais tarde, por intermédio da
aparentemente boas relações, política diplomática de D. Afonso V esta
transformavam o mar numa selva. terrível e invencível frota dos Colon
Na década de 60 desenvolve-se em acede ao serviço do monarca português
Pontevedra a frota de Casenove-Colon, na guerra do corso, o que não é de
onde o próprio Colombo esteve estranhar pois na época a
embarcado, que capturava naus e nacionalidade pouco era considerada.
caravelas para além do intercâmbio de Desde a própria coroa que tinha a sua
Portugal com Castela movimentava-se própria armada corsária até grandes
esta armada apresando sobretudo no armadores mercantis que investiam em
tráfego comércio marítimo da Hansa. sociedades de corsários, todos os
Os Açores assim ter-se-ão tornado base esforços direcionavam-se ao
naval e escala de corsários, ocorrendo o desenvolvimento de caravelas e barcas
campo de batalha os funis de cujo aparelho velico deveria cada vez
navegação, e.g. na Galiza, pois eram mais conferir novas possibilidades de
pontos estratégicos dos itinerários manobralidade, mais velocidade. O rei
regulares, principalmente no caminho protege D. Pedro de Noronha, Duarte
para a Flandres. Embora dispersos os de Menezes e outras famílias ducais
registos directos aparecem nos livros para enriquecerem a sua casa e a sua
das chancelarias régias em fontes glória. Na guerra do corso estão
heterogéneas que descrevem actos de envolvidas as próprias ordens militares
pirataria constantes nestes itinerários. de Cristo, Santiago e Avis.
O próprio poderoso Conde Warwick, o
criador de reis, foi nessa altura Expedições Luso-dinamarquesas
responsabilizado pela pilhagem de 12 As explorações portuguesas aparecem
naus destinadas ao Mar do Norte. ab initio ligadas à procura de bancos de
Perante o imenso desconsolo dos bacalhau para depois serem realizadas
mercadores o rei de Portugal, de forma metódica na tentativa de
consciente dos danos dos Colón da encontrar possíveis passagens pelo
Galiza no comércio marítimo, organizou Atlântico para a Índia. Diogo de Teive,
uma armada para os caçar que capitão de caravela e escudeiro do

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Infante D. Henrique, que o insere no Ptolomeu, mas muito mais a ocidente


contexto de maior importância …na altura em que fui lá o mar não
histórica, realizou duas expedições para estava congelado, mas as mares eram
ocidente do mar dos Açores. No tão altas que chegavam às 25 braças.
regresso, e juntamente com o Galego
Pero Vasques, descobriu as ilhas das
Flores e Corvo, em 1452, navegaram no
mar dos sargaços e avistaram a Terra
Nova. De acordo com a documentação,
ao longo de quatrocentos e no século
posterior, partiam regularmente para a
Terra Nova cerca de centenas de
caravelas e naus dos rios Minho, Lima e
Vouga, havia nas vilas destes rios
estendais de seca. A meio desse século
na foz destes rios prosperavam portos
de grande relevância nacional,
sobretudo á custa quer do comércio
com a Irlanda e Inglaterra quer das
rotas de pesca medieval. A genial
perceção deste navegador dos ventos
convencionou que poder-se-ia alargar
as navegações até ao mar dos sargaços,
Enquanto os vikings se deslocaram para o sul,
seguindo pela latitude das Canárias, frequentando e, instalados nos portos ibéricos,
regressando pelos Açores. Esta viagem divulgaram a sua mestria náutica. Em locais que
iam chegando a estas costas ibéricas os
de 1473 integra num conjunto de
pescadores e a povoação autóctones do
expedições luso-dinamarquesas noroeste peninsular deixavam-se influenciar por
promovidas por ambos os monarcas, e estes navegadores de coragem indomável para
consequentemente expandir a sua actividade
como o objetivo de prosseguir a piscatória progredindo de vento em popa.
anterior rota aberta por Diogo de Teive,
aproveitando outras correntes e ventos Refere então Colombo que navegou
pois não era fácil nem direto o acesso cem léguas para além da Gronelândia o
aos mares setentrionais. A última destas que coloca esta viagem no Canadá, não
expedições foi realizada em 1477, foi na época divulgada devido a política
contado com a participação de de sigilo imposta pelo monarca.
Cristóvão Colon. Consolidando a rota do Adicionalmente as assombrosas marés
cabo da Boa Esperança, o Grande mencionadas pelo grande almirante
Almirante ao serviço de D. João II são visíveis na baia de Funda, no
participou na última expedição secreta Canadá, conhecida por tem ainda hoje
Luso-dinamarquesa: as maiores marés do mundo. Esta
No ano de 1477, naveguei no mês de viagem demonstra mais uma vez que
fevereiro para além de Tile, ilha, cem Colombo, cuja gíria marinheira é
légua…e esta ilha não está dentro da tipicamente atlântica e não
linha que inclui o Ocidente com diz mediterrânea, sabia que a América não

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era a Índia, mas tal informação deveria Conclusão


ser escondida porque o objetivo Se há quem tenha na sua história o
político era manter os Reis Católicos bacalhau são os portugueses, contudo,
longe das descobertas na costa
este peixe chegou a Portugal através de
africana, preservar o futuro monopólio
outros povos a apesar de, na verdade,
do comércio com a Índia e assinar o
também o pescaram num dos sítios
tratado de Tordesilhas.
mais cobiçados: a Terra Nova. Sabemos
hoje que é possível encontrar estas
Ilhas entre os 35 graus e os 45 graus de
latitude Norte enquanto as Antilhas
ditas de Colombo, que conhecia bem
estes mapas baseados em informação
provenientes dos pescadores, entre os
15 graus e 25 graus, portanto no mar
das Caraíbas. Estes mapas serviram de
base á navegação de Diogo de Teive e
Falar deste tempo é, sem dúvida, falar das mais tarde dos Corte-Real pelo que
transformações geográficas e culturais que
ocorreram bem como do papel dos portugueses
evidenciam que antes de Colon se
na conceptualização de uma nova imagem do aventurar e de lhe ser atribuída a
mundo, da experiência e de recursos empíricos. descoberta da América já os pescadores
É incontestável o contributo para a
prosperidade da indústria de construção naval, do Alto-Minho lá tinham chegado. Quer
do desenvolvimento da cartografia e das a partir de 1419 a ilha da Madeira, quer
técnicas de navegação. Mas a primeira metade
a partir de 1427 nos Açores,
do século ficou marcada pela política de guerra,
com origem na tentativa náutica da pirataria navegadores e pilotos portugueses
que, conforme a época do ano, alternava com a experimentados começaram a visitar
pesca. As sociedades corsárias dominam as
rotas que os pescadores percorriam mantendo
regularmente estes arquipélagos
secretos os portos de refúgio. No mar alto atlânticos, constituindo-os como base
precaviam-se de mapas que indicassem a
avançada de apoio a novas expedições.
latitude determinada com o uso de tábuas de
declinação solar. A pirataria requeria Porém a interdição de pescar nos
instrumentos de medida proporciona pela bancos da Islândia decretada pela
experiência náutica das distâncias e da posição
das estrelas. A ciência náutica emerge da
coroa dinamarquesa foram
passagem de empírica a teórica com determinantes e motivo de navegações
astrónomos e geógrafos. Estas experiências de
alternativas para ocidente, conduzindo
surpresa e fuga exigiam o aperfeiçoamento da
caravela adaptando-a a percursos no alto-mar. o mediterrâneo á consequente perda
Esta adaptação teve o mérito do Infante D de influência, a sua até então
Henrique ao dar expressão política nacional a
uma já existente utilização de mapas que
hegemonia divide-se com oceano
indicassem a latitude e da compilação e Atlântico. O que havia emergido de dois
partilha de informação sobre as correntes, novos polos comerciais: o norte de
distâncias e ventos. O contexto era de tentativa,
erro e descobrimento. Porém os benefícios eram África e este peixe que acabou por
tentadores, estimulantes. A navegação pela mudar o mundo. Portugal amplia a sua
estrela polar precede a utilização do astrolábio
frota marítima ultrapassando Castela na
para medir a altura do sol exigia um contexto de
ensaio e anotação a partir da observação dos maior potência mundial. O porto de
astros em ambos os hemisférios para determinar Viana e o de Caminha vêm-se
a latitude de dia pelo sol á noite pelas estrelas.
Compreende-se que eram ciosamente mantidas transformados. O seu auge representa-
em segredo os progressos para o cálculo da se agora pela atividade marítima que
posição das caravelas o regimento do astrolábio
e o tratado das esferas.

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substitui as feiras e mercados medievais outras ocorreram em companhia


pela sedentarização do comércio, com de Álvaro Martins Homem, 1473, e
a abertura de casas comerciais. Surge a de Pedro de Barcelos, 1473-1475. A ilha
figura do Mercador como percursor da de S. Brandão surge em todos os mapas
primavera do capitalismo.
do seculo XV. Quer a sua localização
Colombo refere que a descoberta da
quer a determinação da melhor altura
América ocorreu antes de 1474 numa
afirmação reiterada pelo seu filho para lá chegar, a Terra Nova era
Fernando Colombo e por Las Casas, perfeitamente conhecida pois nos finais
menciona nas suas obras que membros de quatrocentos mercadores de Bristol
da família Corte Real descobriram a apetrecharam vários navios para as
“Tierra de los Bacallaos”. Embora tivesse reencontrar.
afirmado ter chegado as Índias se Uma carta anterior a 1492, existente na
estivesse convencido disso, uma vez na Biblioteca Nacional de Paris e atribuída
Ilha de S. Domingo, constituía a
ao grande Almirante Colombo, assinala
extremo oriental, teria seguido a costa
a ilha das Sete Cidades com uma
em busca de alguns portos
colónia pertencente aos portugueses. A
mencionados por Marco Polo. Quando o
grande Almirante se encontrava a configuração desta ilha aproxima-se
recrutar a tripulação para sua primeira da Terra Nova sendo ainda a sua
viagem apareceu Pedro Vasques, já posição coincidente com a do
supramencionado como copiloto de planisfério dito Cantino. Neste mapa a
Diogo de Teive, que o ajudou a Terra Nova apresenta-se como
persuadir Martin Pinzón entre outros, pertencendo ao rei de Portugal. De
encorajando a tripulação a embarcar igual modo, a Groenlândia assinalada
nesta audaz viagem pioneira, pois iriam
com o escudo português e cujos
encontrar terra muito rica. A primeira
contornos inéditos apresentam-se com
expedição de João Corte Real a
Ocidente foi realizada em 1471, mas uma precisão notável.

R e v e n d o o s m a p a s d a c a r t o g r a f i a p o r t u g u e s a e o s d o c u m e n t o s a n t i g o s q u e s e r e f e r e m à s  T e r r a s d o s
Bacalhaus. A generalidade dos historiadores canadenses, acabaram por reconhecer os vestígios da
presença de João Corte-Real em 1473 tornando-os dado adquirido, amplamente autenticadas, desta
descoberta 19 anos antes de Colombo. Também neste país a denominação da região de Labrador
resulta da expedição do navegador João Fernandes Labrador.

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JANTAR DOS CONJURADOS DA


CAUSA REAL

O tradicional Jantar dos Conjurados da A presidência da Causa Real e diversos


Causa Real, que assinala a importância membros da sua direcção estiveram
e o significado da Restauração da também presentes.
Independência de Portugal, realizou-se
no dia 30 de Novembro, no Hotel
Palácio Estoril, em Cascais.
Foram seguidas todas as normas de
segurança definidas pela DGS, tendo
sido necessário a apresentação de
certificado de vacinação e
comprovativo de teste antigénio
negativo para poder ingressar no
evento.
A acompanhar Sua Alteza Real, o
Senhor Dom Duarte, estiveram a
Senhora Dona Isabel, o Príncipe Dom
Afonso, o Infante D. Dinis e a Senhora
Dona Francisca.

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A Dr.ª Teresa Corte-Real, presidente da imediato, a inquietude coerente e


Causa Real, fez uma breve intervenção construtiva ao serviço de Portugal. O
alusiva à data e Sua Alteza Real o sermos a inteira força e o exemplo
Senhor D. Duarte, Duque de Bragança inteiro como disse Fernando Pessoa de
proferiu algumas palavras de D. Afonso Henriques.
circunstância, agradecendo a presença Se naquele dia se recuperou a
neste evento, já que a tradicional independência face ao domínio
mensagem do 1.º de Dezembro, foi este espanhol numa luta que duraria ainda
ano comunicada aos Portugueses no 29 anos a ser concluída, temos hoje nós
dia seguinte, na Sociedade Histórica da a responsabilidade perante o futuro de
Independência de Portugal, em Lisboa. impulsionar a resposta a cinco
perguntas: Quem, quantos e como
serão os portugueses, que território será
Intervenção da Dr.ª Teresa Corte-Real o nosso e como nos integraremos nele
num futuro próximo. É também por
aqui que passa e se constrói a
Identidade Nacional.
Sendo fundamental preservar e
valorizar a nossa memória colectiva, é
prioridade nacional a inversão do
desequilíbrio demográfico e da
baixíssima taxa de natalidade bem
como a construção de uma reserva de
soberania em vários domínios
nomeadamente ao nível das matérias-
primas e subsidiárias que nos
salvaguarde e torne menos
dependentes do exterior garantindo o
bem-estar da população. Reforçada
com os benefícios que a transição
energética nos trará e apostando numa
restruturação da Agricultura como
modo de produção, mas também como
É dia de relembrar os 40 conjurados e o fixação de populações e
heroísmo da sua acção. Mas é desenvolvimento local. Com realismo,
sobretudo um bom pretexto para sabendo da mais valia que é a nossa
refletir sobre as obrigações que nós situação geográfica e o nosso capital de
todos temos perante o país e como ligação entre o Atlântico sul e o
reagimos quando os seus interesses continente europeu.
fundamentais são atacados ou postos Se em 1640 a escolha foi entre a
em causa. De até onde somos capazes pertença a um grande espaço
de ir para pôr o colectivo acima do governado por uma potência
individual, a visão do todo em vez do estrangeira ou a independência, hoje

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será entre um projecto europeu de transgeracional e holística da sociedade


carácter federalista onde a vontade e do país e é com muito orgulho que o
individual dos Estados membros vai digo que o fizemos e vamos continuar a
perdendo gradualmente importância fazer.
ou uma Europa das Nações com limites Como disse Ribeiro Telles quando lhe
na cedência de soberania e com base perguntaram se se tinha dado bem com
em instituições nacionais o poder político: Dei, dei. Porque achei
democraticamente eleitas que que estava lá para servir qualquer coisa.
defendam a autonomia de cada um, Ainda bem que lá estive
cooperando entre si e que preservem e E nós também. Ainda bem que cá
salvaguardem as suas raízes estamos. Em total espírito de serviço e
identitárias. por amor a Portugal.
Os portugueses que seremos é muito
mais do que um número. É uma forma
de ser. E é também por isso que é este
o momento para refletir em conjunto,
reunindo interlocutores válidos de
vários quadrantes e representativos da
sociedade civil em prol do bem comum
e da sustentabilidade do país. Fazer
pensar Portugal naquilo que lhe é e
será estrutural: Propomos assim um
Pacto Nacional para a Educação
assente nos pilares do conhecimento,
do desenvolvimento cognitivo e dos
valores que queremos como nossos. A
grande revolução que está por fazer.
Difícil, mas decisiva. É nisso que
devemos acreditar neste dia da
Independência. E na língua portuguesa,
sempre.
Só podia ser esta também a orientação
da estratégia desta direcção da Causa
Real e foi por isso que criamos em
conjunto com a Universidade de Évora,
o ISA, a ordem dos Engenheiros e a
Associação portuguesa de Arquitectos
paisagistas o Prémio Gonçalo Ribeiro
Telles para o Ambiente e Paisagem que
contou este ano com a sua segunda
edição. Quem defende o sistema
monárquico de chefia de estado tem
que ser capaz de promover uma visão

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: NUNO DE ALBUQUERQUE GASPAR.

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Mensagem 1º Dezembro 2021


S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança

Este ano foi particularmente difícil e exigente para todos os Portugueses. A


pandemia que vivemos não deu tréguas a ninguém, tendo Portugal sofrido, tal
como o resto do mundo, de muitas limitações que tiveram significativas
consequências económicas. Não foram apenas estas as únicas grandes
consequências: a nível anímico e psicológico a pandemia trouxe-nos também
consequências. 2022 será, por isso, um ano de grande importância para ultrapassar
estas questões e colocar o país a funcionar com normalidade.
Neste contexto gostaríamos de, mais uma vez, realçar o papel do líder do grupo
operacional da vacinação, o Vice-almirante Gouveia e Melo. O seu trabalho na
liderança de uma equipa muito profissional e empenhada permitiu a Portugal
atingir níveis de vacinação excepcionais num curto espaço de tempo. Esta situação
possibilitou olhar para a crise sanitária de forma mais confiante, ao contrário de
muitos países nossos parceiros em que os níveis de vacinação estão muito atrás.
É de salientar o comportamento e adesão do povo português que de forma
inteligente participou activamente na luta contra a pandemia. A pandemia veio
evidenciar mais uma vez o fraco desempenho económico português. Nas últimas
décadas Portugal cresce apenas 1% ao ano, sendo que esta situação encerra em si
mesma um problema claro de crescimento e ambição como tem vindo a ser
salientado por várias personalidades.
É necessário, agora que vamos receber generosos fundos vindos da Europa, que os
nossos políticos definam uma estratégia para o nosso país. Ao longo de anos são
apontados por estudos e por vários peritos as debilidades da nossa economia, assim
como as soluções para o seu crescimento. Tardam as necessárias reformas
estruturais e nos vários sectores económicos que permitam trazer mais
investimento para o nosso País. Por uma vez, temos de ultrapassar a mediocridade
e falta de ambição que temos vindo a assumir nos últimos anos. O País não pode

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ser prejudicado pela sobreposição de interesses partidários e ambições pessoais


aos interesses nacionais. É urgente que Portugal volte a colocar-se como actor
dinâmico na sociedade das nações europeias. Temos de voltar a ser notícia por
boas razões e não apenas pela aprovação de medidas insólitas, que apenas
bloqueiam o funcionamento das empresas e prejudicam a criação de riqueza,
afugentando os investidores.
Gostaria de salientar por um lado a importância da conferência sobre as alterações
climáticas realizada em Glasgow, e por outro a dramática inconsequência das
resoluções.
Cedência a cedência, estamos a afastar-nos dos Acordos de Paris, sendo este um
impasse dramático para o mundo.
É neste cenário que recebemos há dias a notícia de que Portugal deixou
definitivamente de usar carvão para produzir electricidade. Esta é uma boa
novidade, quando o nosso País deixa de usar o combustível mais poluidor em
termos de emissões de gazes com efeitos de estufa.
Deste modo antecipamos largamente um objectivo que estava estabelecido para
2030.
Mais uma vez gostaria de referir a questão do ensino em Portugal que ainda
recupera dos efeitos que a pandemia provocou na vida dos estudantes, jovens e
crianças.
Por exemplo, ao longo deste ano os alunos, nomeadamente do ensino secundário,
são sujeitos a inovadoras alterações de períodos de férias e da periodicidade dos
exames. A recente substituição dos trimestres por semestres - que apenas servem
para lançar confusão e reduzir ainda mais a exigência, ao mesmo tempo que são
criadas novas dificuldades aos pais e encarregados de educação.
A educação não pode estar sujeita a constrangimentos ideológicos estatais, é disso
grande exemplo a situação que nos comove a todos, dos dois irmãos que foram
reprovados por se recusarem a assistir aulas de cidadania. Um caso chocante da
imposição da lei do mais forte na formatação ideológica sobre a liberdade
individual.
No mesmo sentido, verifica-se um progressivo e preocupante estreitamento da
tolerância para com ideias contrárias às impostas pelos diversos grupos pressão
acarinhados pelos poderes públicos. Assim se geram campanhas repressivas sobre
opiniões consideradas fora de moda ou “incorrectas”, nomeadamente aquelas sobre
raça, género, sexualidade, entre outras, numa tentativa constante de criar uma nova
semântica e limitar a liberdade – valores que nos ofereceram progresso e bem-
estar.
Como vimos referindo há alguns anos, em muitos dos países mais evoluídos
culturalmente considera-se que é altamente benéfica a existência de um serviço
militar obrigatório que pode ser substituído por um serviço cívico prestado à
comunidade, e nalguns casos com uma duração mais longa. Posso dar como
exemplo a Suíça, onde o serviço militar é considerado fundamental para o

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desenvolvimento do espírito de cidadania e para a segurança nacional e que


quando, por motivos religiosos ou filosóficos os jovens consideram que não o
podem cumprir, podem substituí-lo por um período mais longo de outro género de
serviço à comunidade.
Não podemos esquecer ainda o nosso compromisso com os países de língua
portuguesa, a nossa ligação com estes povos, que reforça a nossa identidade e
constitui uma ponte de ligação com a União Europeia.
A Casa Real Portuguesa tem tido ao longo dos anos a missão de agregar estes
Estados, comunidades de emigrantes e de lusodescendentes espalhados pelo
mundo.
A fraca ambição política para este grande projecto nacional tem vindo a afastar,
ano após ano, estes povos do nosso País. Esta vantagem competitiva não pode ser
desperdiçada.
São caricatas as situações que tenho tido conhecimento da não concessão de vistos
de entrada em Portugal.
Para quando uma ambiciosa política que crie escolas, liceus e universidades
portuguesas que reforcem o estabelecimento de laços por via da cultura?
O ano de 2022 vai iniciar-se com uma importante eleição para o destino dos
Portugueses. É fundamental a participação consciente de todos neste acto eleitoral
que pode ajudar a determinar o nosso futuro. Peço a todos que não deixem de
votar e de participar com exigência, no conhecimento crítico das propostas que
irão ser sufragadas.
Por fim gostaria de referir a importância do projecto de Sua Santidade o Papa
Francisco, que são as Jornadas Mundiais da Juventude, em 2023. Este é um evento
que será preparado em 2022 e em 2023 juntará milhões de Jovens em Lisboa onde
todos desejamos que mais uma vez seja revelado o melhor dos portugueses.
Como sempre a Família Real Portuguesa estará disponível para tudo aquilo que os
portugueses entenderem ser útil. Este legado que transportamos é um instrumento
construtor de pontes entre pessoas, comunidades e instituições, bem como de boa
vontade entre todos.

Viva Portugal!

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EU, MONÁRQUICO
MIGUEL VILLAS-BOAS

Abstract

In an effective and true Monarchy, each one is part of the whole and the whole only makes
sense with each individual. It should therefore be clarified that we do not belong to an
elite of people, with birth privileges, we are neither blessed nor Nephelibate. We believe
that the measure of each person's wealth is the Spirit, just as footwear is the foot! And, on
the contrary, before being privileged, we are often despised and harmed by the option for
the Cause of Monarchy. It is enough to look at the curriculum vitae of many monarchists,
their intervention in society, the work they produce to see that on their own merit, if they
were stuck in the ranks of political parties, they would easily overcome those amoebas
that today outweigh parties and power, these protozoa that often barely scratch the
rudiments of Portuguese, that despite appearing to have a mouth full of stones, speak,
show themselves up, but we are well aware that even if they stood on tiptoe, they would
reach the heels of most Monarchists, the real ones... of course.

Key words: Monarchy; Cause; No Birth Privileges.

Résumé

Dans une Monarchie efficace et vraie, chacun fait partie du tout et le tout n'a de sens
qu'avec chaque individu. Il convient donc de préciser que nous n'appartenons pas à une
élite de personnes, avec des privilèges de naissance, nous ne sommes ni bénis ni
Néphelibat. Nous croyons que la mesure de la richesse de chacun est l'Esprit, tout comme
les chaussures sont le pied! Et, au contraire, avant d'être privilégiés, nous sommes souvent
méprisés et blessés par l'option pour la cause de la monarchie. Il suffit de regarder le
curriculum vitae de nombreux monarchistes, leur intervention dans la société, le travail
qu'ils produisent pour voir que par leur propre mérite, s'ils étaient coincés dans les rangs
des partis politiques, ils surmonteraient facilement ces amibes qui l'emportent
aujourd'hui les partis et le pouvoir, ces protozoaires qui égratignent souvent à peine les
rudiments du portugais, qui malgré l'apparence d'avoir la bouche pleine de cailloux,
parlent, se montrent, mais on sait bien que même s'ils se tenaient sur la pointe des pieds,
ils atteindraient les talons de la plupart des gens monarchistes, les vrais... bien sûr.

Mots clés: Monarchie; Cause; Sans Privilèges de Naissance.

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Não são poucas as vezes que surge a uso da história para mostrar a realidade
confusão sobre o que é “ser histórica. Ora os esteios da História não
Monárquico”. Se é certo que isso podem apoiar-se sobre motivos, às vezes
acontece na opinião pública por mera desconexos, preenchidos com episódios
desinformação - e existem muitas figurativos e com a inventiva dos escribas
variáveis que contribuem para isso -, que servem os que, num dado momento,
também subsiste algum mal-entendido ocupam o poder.
dentro do movimento.
‘ O primeiro passo para liquidar um povo
Relativamente à dúvida colectiva, essa
é apagar a sua memória. Destruir os
circunstância resulta, sem sombra para
seus livros, a sua cultura, a sua história.
dúvidas, da propaganda
antimonárquica que começou ainda Então, tenha alguém a escrever novos
antes da queda da Monarquia livros, fabricando uma nova cultura,
cimentando a concepção sem inventando uma nova história. Muito
fundamento, às vezes mesmo sem nexo, antes a nação começará a esquecer o
que um monárquico é um aristocrata, que ela é e o que ela era. O mundo em
um indivíduo que julga pertencer a uma volta esquecerá ainda mais rápido. A
casta superior que paira sobre os luta do homem contra o poder é a luta
demais. Nada mais falso, pois essa ideia da memória contra o esquecimento. ’,
baseia-se ou em ignorância ou em
escreveu genialmente Milan Kundera.
mentiras preenchidas com factos
É pois, necessário, dir-se-ia premente,
alegóricos da invencionice daqueles
que termine a desinformação de que
que escrevem a História através da sua
fazem os Monárquicos alvo.
revisão, porque pretendem dessa
Monárquico não é sinónimo de
configuração alcançar uma vantagem
para si. O Revisionismo histórico é a aristocrata, pois a Monarquia é inclusiva
reinterpretação da História, e não exclusiva; não é um clube privado
reescrevendo-a e descrevendo os factos para ensimesmados, mas um modelo
históricos com imparcialidade e/ou onde cabem todos, independentemente
obscuridade. Segundo o criador do de condição social, sexo, raça, “estirpe”,
positivismo Augusto Comte, " a História ideologia política, etc. A Monarquia tem
é uma disciplina fundamentalmente as portas escancaradas para a
ambígua " e, portanto, passível de várias colectividade, não é – nem pode ser - um
interpretações – os republicanos grémio de fidalgos ou uma guilda de
estudaram bem a lição de um dos seus meio dúzia de indivíduos que se julgam
mestres. De facto, a Verdade é apenas a donos da monarquia, - lembremos o
crença que prevaleceu. provérbio grego: ‘ ninguém liga à música
Devido ao uso de instrumentos como a escondida ’. O Movimento Monárquico
censura, a instrumentalização da não pode ser nem um partido dum
academia e o controle da imprensa de pretendente, nem uma irmandade de
acordo com a agenda das corporações mantos com ou sem espada onde se
dominantes - ou melhor das oligarquias
saracoteiam condecorações, nem um
-, tornou-se quase inexequível o eficaz
conselho de nobres, nem titularia a

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exibir cachuchos. Como escreveu o protozoários que, muitas vezes, mal


historiador, escritor, político e médico arranham os rudimentos do português,
português Mário Saraiva: ‘ O conceito da que não obstante parecer ter a boca
unidade monárquica não é o de cheia de pedras, falam, exibem-se
unanimidade política; é o da harmonia sobranceiros, mas que bem sabemos
do conjunto nacional .’ que nem que se pusessem em bicos de
pés chegavam aos calcanhares da
maioria dos Monárquicos, dos
verdadeiros... claro.
Não somos monárquicos por snobismo
de ADN - como diz o equívoco que os
republicanos instalaram na mente do
Povo -, apenas acontece que na Família
de alguns monárquicos houve
antepassados que ou fizeram parte da
história ou participaram na construção
do País ou na administração do Estado,
e isso é para os seus descendentes
motivo de orgulho familiar que não
deve ser confundido com soberba, ou
com pretensões de fidalguia ou de
superioridade de sangue: trata-se de
Isto Não É Ser Monárquico não renegar a sua Família assim como
Numa Monarquia efectiva e verdadeira os republicanos não renegam a sua – ou
cada um faz parte do todo e o todo só assim se esperaria. É orgulho e fascínio
faz sentido com cada indivíduo. por quem, em muitos casos, tanto
Cumpre, pois, esclarecer que não contribuiu para o engrandecimento da
pertencemos a uma elite de pessoas, Nação portuguesa.
com privilégio de nascimento, não De resto, como já Oliveira Martins o
somos beatos nem nefelibatas. lembrava no século XIX “ dá-se o caso
Acreditamos que a medida da riqueza tão frequente de se achar hoje nos
de cada um é o Espírito, tal como a do solares aristocráticos a mais genuína
calçado é o pé! E, ao contrário, antes de elegância aliada à quase pobreza, ao
sermos privilegiados, não raras vezes passo que os palácios ricaços
somos desprezados e prejudicados pela ostentam a sua opulência de mau
opção pela Causa da Monarquia. Basta gosto ”. Sim, não são os monárquicos a
passar os olhos pelos curriculum vitae alardear o dinheiro na cara do Povo,
de muitos monárquicos, pela sua este sofre do desprezo e do esbulho,
intervenção na sociedade, pela obra mas é na mão dos plutocratas, dos
que produzem para ver que por mérito videirinhos e dos trafulhas!
próprio, se estivessem metidos na cáfila O regime da arbitrariedade implantado
dos partidos políticos facilmente ficou com a rédea solta, e a adesão
superariam aquelas amebas que destes homens à democracia é de
sobraçam, hoje, partidos e poder, esses garganta, pois o uso da propalada é

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puramente instrumental, deixando os precisos princípios.’, escreveu António


cidadãos votar porque ganham sempre Sardinha (Monforte, 9 de Setembro de
os mesmos, os que lá estão, para logo 1887 — Elvas, 10 de Janeiro de 1925),
depois lhes voltar a exigir a célebre e supino doutrinador
“vassalagem” com imposições Monárquico, político anti-maçónico,
estapafúrdias em crescendo de historiador e poeta português in
opróbrio. Passou a existir simplesmente "Durante a Fogueira".
um regime oligárquico inteiramente Como é que se poderá responder aos
devotado a servir uma casta, ou seja, republicanos que afirmam o que disse
uma mera Res Privatae . Alguém dúvida acima de uma forma curta e direta?
que diversas dinastias vieram substituir Ser Monárquico não é preconizar o
uma?! É ver o privilégio hereditário regresso de punhos de renda, de
republicano nos governos e um pouco cabeleiras ou perucas similares e de
por todo o diverso organigrama do criados de libré, nem o fidalgo
Estado, no Parlamento, nos partidos, carregado de insígnias, comendas,
nas autarquias, etc. Não há condecorações e cachucho a desfilar de
meritocracia, mas privilégio de classe capa, nem ser frequentador de salões
republicana, com uma prática de de ágapes e/ou chás dançantes; mas se
atribuição (ou da possibilidade de a Monarquia não é cor-de-rosa,
aceder) de cargos políticos ou funções também, não é nem o regime da
públicas a parentes ou amigos Monarquia Absoluta, nem o Feudalismo,
próximos em detrimento de pessoas mas uma Monarquia em que todos
mais qualificadas, a quem assim serão iguais e à cabeça um Rei – o
fecham as portas da casa da primus inter pares -, o guia que
Democracia, abrindo caminho para orientará o País.
uma Caquistocracia. Segundo os republicanos a Monarquia
vai contra o direito de igualdade de
oportunidades porque segundo eles só
os membros de uma Família Real
podem ascender ao trono e, segundo
eles, na república qualquer cidadão
pode ser presidente da República...

Identidade Monárquicos

A ordem republicana é a ordem


burguesa. A ordem burguesa Guizot a
definiu, ao exclamar que « governar era
segurar-se a gente no poder ». Não são Não Queremos o Regresso dos Punhos de
Renda... mesmo de máscara

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Aí explicamos que é uma falsa ideia: ser tecto, e muitas vezes a vida – quanto
Rei não é um privilégio, mas uma mais serem presidentes da república!
missão, com inegáveis vantagens: Além disso, ‘Um presidente é um rei
preparação, educação, maior escrutínio encolhido, reina cinco ou dez anos sem
público, equidistância partidária, se dar por isso.’, escreveu Oscar
suprapartidarismo, neutralidade Wilde (Dublin, Irlanda, 16 de Outubro de
política. Quanto ao resto, baseia-se 1854 — Paris, 30 de Novembro de 1900),
numa percepção errónea, baseada num o influente escritor, poeta e dramaturgo
logro de que ‘numa república qualquer irlandês.
um pode ser presidente!’ Ora repare-se,
que dizem: ‘- qualquer um pode ser
presidente!’; mas não dizem: ‘numa
república TODOS podem ser
presidente!’, que seria a verdadeira
igualdade - que fingem reclamar - em
que todos seriam iguais e, portanto,
todo e cada um dos cidadãos estaria
em condições de ser presidente da
república e não apenas uns quantos, ou
melhor: ‘ qualquer um! ’ Onde pára, pois,
a proclamada igualdade?! Sem dúvida
que vai a pé, enquanto a equidade vai
de carruagem!
Assim, a ideia de que qualquer um
pode ser Presidente da República, de
acordo com o princípio de igualdade
entre os homens, É UMA FICÇÃO! Trata-
se de uma concepção errada teorizada
num modo geral quando a realidade é
bem concreta e diversa; é uma fábula,
uma ideia geral e abstracta baseada no
mito da igualdade, pois assenta em
premissas erradas, uma vez que supõe
existir um nivelamento social que
Oscar Wilde
possibilite a subida ao poder a todos os
elementos e camadas sociais da Mas se com a Restauração da
sociedade, quando a maioria da Monarquia não se pretende um
população, arredada do caciquismo regresso ao passado, não renegamos o
político ou das camadas sócio- passado do Portugal Maior.
económicas superiores, que vêem o A Monarquia a ter deve passar por uma
caminho do poder mais acessível, se vê combinação de um monarca forte, com
diariamente barrada dos seus supostos umas Cortes (Parlamento), com uma
direitos – até dos mais elementares democracia mais directa e uma
como a saúde, a alimentação e um descentralização política que dê às

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Comunidades intervenção e autonomia. partidos políticos não podem continuar


‘ Se olharem para a história da a ter a exclusividade do desempenho
humanidade, verão que, em todo o político e dos poderes executivo e
mundo, geralmente as Monarquias legislativo. Todos devem ter uma parte
eram dominantes como forma de no poder sendo eleitos de entre todos.
governo e não as repúblicas. É claro É necessário um contra-balanço entre o
que houve períodos republicanos, mas antigo e o novo, entre a tradição e a
geralmente eram mais curtos. Como inovação.
historiador, é preciso perguntar a si
mesmo, por que isso acontece.
Aparentemente, as Monarquias podem
oferecer algumas vantagens que as
repúblicas não podem. Provavelmente
tem a ver com o fato de que uma
Monarquia geralmente oferece mais
estabilidade política por períodos mais
longos de tempo e que o monarca tem
a tendência de pensar em gerações e
não em ganhar as próximas eleições.
Acho que a combinação que temos
aqui em Liechtenstein com um
monarca forte, uma democracia
directa que vai mais longe ainda do
que na Suíça e a descentralização
política que dá às nossas comunidades
muita autonomia poderia ser um
modelo para futuras Monarquias. Por
pouco menos de cem anos, vivemos
agora em uma era republicana, que
Livro do Príncipe Soberano do Liechtenstien
não é muito longa se você olhar para a
história humana, e acho que mais Na Monarquia que queremos, o seu
cedo ou mais tarde as Monarquias Governo será Monárquico, Hereditário e
voltarão. ’, escreveu Sua Alteza Representativo e tal como previa a
Sereníssima o Príncipe Hans-Adam II do Carta Constitucional de 1826, in ‘Do
Liechtenstein, Príncipe-soberano de Poder Executivo, Art. 75º: ‘ O Rei é o
Liechtenstein e chefe da Casa de Chefe do Poder Executivo, e o exercita
mesmo Nome in “O Estado no Terceiro pelos seus Ministros de Estado .’ Ou
Milénio”. seja, os Reis não são primeiros-
Ou seja, Monarquia e Democracia ministros ou ministros, mas presidentes
directa: um Rei com poder e um dos ministros. Os ministros administram
sistema político em que a Comunidade os assuntos e negócios de Estado, o Rei
possa intervir no exercício do poder – os governa os Ministros.

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Assim, hoje, a Monarquia que queremos o deputado e o eleitor é inexistente, as


será uma Monarquia Constitucional preocupações reais das populações são
sobre a forma de governo de uma delegadas para segundo plano e
Monarquia Parlamentar, mas com substituídas pelos interesses dos lóbis e
verdadeira representatividade, que das agendas particulares dos partidos
assentará na legitimidade democrática, políticos.
pois os órgãos que efectivamente
exercem o poder político conquistam a
sua legalidade e legitimidade das
eleições. Assim sendo, originariamente,
o poder reside no Povo, contudo
exerce-se sob a forma de governo
monárquico. O Parlamento ou melhor a
Câmara Baixa das Cortes será
democraticamente eleito e é
imprescindível um sistema eleitoral que
permita a eleição dos deputados pelos
eleitores, e não exclusivamente pelos
partidos, como sucede actualmente. A
democracia deve assentar num sistema
de eleição individual tornando os
eleitos em reais representantes de toda
a comunidade do seu círculo eleitoral,
imputando-lhe uma responsabilidade
individual perante os seus eleitores
correspondentes através da criação de
vagas para candidaturas autónomas,
A Monarquia Futura
imprescindíveis para voltar a despertar
o interesse e associar-se os cidadãos à O sistema eleitoral português assente
política, longe das conveniências no método proporcional e de Hondt é
salinadas dos partidos políticos do arco uma total desvirtuação da democracia
do poder. Reforçaria, tal-qualmente, a política e eleitoral: não só despreza
fiscalização dos que seriam, muitos dos votos como os nulos e os
verdadeiramente, legítimos brancos, assim como a abstenção, e
representantes do Povo que teriam de que assim de nada servem para a
receber e ouvir os seus eleitores e de efectiva escolha e eleição dos
corresponder às suas legítimas candidatos, e que ignora o sentido real
expectativas. do voto no candidato efectivamente
O actual sistema proporcional, de escolhido pelo eleitor, pois o sistema de
círculos plurinominais e do domínio de Hondt limita-se a distribuir os votos dos
listas fechadas partidárias para a eleitores por quotas consoante o
eleição dos deputados nacionais, tem número de candidatos a eleger,
demonstrado ser um sistema desprezando o sentido directo de cada
“representativo” em que a relação entre um dos votos.

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O eleitor neste método com o seu voto portugueses a ordem natural está na
faz o preenchimento de uma aritmética Monarquia, ou, para me exprimir mais
pré-determinada de distribuição dos exactamente, nas instituições
votos pelo acordo instituído entre os monárquicas tradicionais. Tal é a lição
partidos políticos com representação deste livro, que deverá ser tomado
parlamentar. Assim, as actuais listas como bastião contra o comunismo e
fechadas, e assim partidárias, freio rijo contra o fascismo. Âncora
submetidas ao sufrágio popular fazem sólida contra todos os totalitarismos,
dos deputados meros representantes
foi escrito para ser obstáculo a todos
dos partidos e dos seus interesses.
os colectivismos. Oposto aos
Implementando um efectivo sistema de
individualismos extremos sem cair no
eleição dos deputados para o
excesso contrário, é seguro abrigo para
Parlamento, baseado na sua eleição
as liberdades do indivíduo ameaçado .’,
pessoal e individual, por método
escreveu Luís de Almeida Braga no
maioritário, regional e local, com voto
Prefácio de ‘PROFISSÃO DE FÉ’, Sub-
nominal ou pelos círculos eleitorais
título: Lusitânia Transformada de
uninominais, permitirá o surgimento de
Henrique de Paiva Couceiro, Edições
candidatos independentes locais, das
Gama, 1944.
forças vivas da sociedade, despertando
a participação dos cidadãos na política,
e com uma acção fiscalizadora, desde a
base da população até acima ao poder
e, fundamentalmente, desprendida dos
partidos políticos tradicionais e dos
seus interesses passará a haver uma
verdadeira democracia parlamentar em
Portugal, em que os cidadãos sejam a
prioridade e pondo fim ao regímen de
partidocracia.
É preciso, também, o sentido de Missão
que só um Rei possui - uma missão que
é para a vida; e quando o Rei partir o
Seu Filho, aclamado Rei, instruído nos
mesmos valores de seu Pai, seguirá a
obra com o mesmo desígnio de servir a
Nação, acrescido das mais-valias que a
substituição geracional aporta.
Mas, ‘ Como entendia Paiva Couceiro, a Comandante Paiva Couceiro

restauração da Monarquia não deverá


De facto, uma Monarquia é sempre
ser apenas a simples restituição do
mais vantajosa para um país, uma vez
poder supremo ao Rei; será antes a
que na chefia de Estado republicana
restauração de todas as leis
existe uma fulanização do cargo,
fundamentais do país. (…) Para uma
enquanto um Rei é institucional, pois a
sociedade política tranquila entre Coroa vale independentemente da

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figura que a incarna, e como tal a Monarca, mas a instituição – em primeiro.


chefatura não fica dependente da A Monarquia com tudo o que ela
popularidade e do valor de um representa é o mais importante. Nada
determinado presidente, dos seus obsta a que se defenda um pretendente
gostos, dos seus humores e, dessa legítimo a um Trono, mas não basta fazer
forma, sujeita ao poder pessoal. essa apologia, é necessário defender,
Como tal, é essencial a defesa de uma também, as instituições monárquicas. É
verdadeira Monarquia, que é diferente preciso construir o edifício de uma
do Realismo, que é apenas o conjunto Monarquia futura, para que se de um
de partidários de um monarca, de uma momento para o outro ela cair em cena
casa real, ou de um pretendente não o faça com o estrondo amador de
específico. Por isso, para que a Nação uma obra sem cuidado. Defender apenas
nunca fique em situação de uma mera substituição na chefia do
dependência de uma figura, sempre me Estado de uma cabeça republicana por
assumi Monárquico e não Realista e uma figura real, que transformaria um
muito menos republicano, nem com pretendente a Rei num Rei corta-fitas e
eles pactuo. apenas cerimonial é muito pouco, ainda
‘Eu rejeito o republicanismo. que os que defendem (apenas) isso
Nem todos os monarcas são bons, mas tivessem sinecuras no novo regime. Sou
a monarquia em si é sempre boa. Monárquico pela Monarquia, não
Não devemos confundir o homem (rei) empenho talento e tempo para
com a instituição (monarquia) e tirar arrebanhar poder para uma Pessoa e
falsas conclusões a partir disso. seus correligionários, pelo que assim
Existem monarcas fracos e ruins, mas sendo Sou Monárquico e não um mero
certamente não devemos abdicar da Realista.
Os Monárquicos querem uma Coroa e
monarquia por isso.’ , escreveu Corneliu
instituições monárquicas, portanto não é
Codreanu, o político romeno,
suficiente substituir um Presidente por
anticomunista e fundador e carismático
um Rei, sem mais, pois isso é clara e
líder da Guarda de Ferro, in “Notas da
manifestamente muito pouco. A
Prisão”
Monarquia requer toda uma estrutura
Não podem nem devemos confundir
para bem servir a Nação.
Monarquia com Realismo: um
República Coroada, Não! Os verdadeiros
Monárquico não é simplesmente um
Monárquicos não enfiam mais um
Realista ou como agora lhe chamam,
barrete, mesmo que não seja o carapuço
com um galicismo, um Roialista. Os
frígio!
Realistas são correligionários de um
Os Monárquicos não pessoalizam a
monarca ou de um pretendente em
instituição real como os republicanos
particular; os Monárquicos defendem a
fulanizam a presidência, pois se o
forma de governo monárquico, mas não
fizessem o Rei ou o pretendente seria
necessariamente e apenas um monarca
apenas o representante dos seus
ou um candidato a Rei em especial; os
correligionários, desses partidários
segundos colocam a Monarquia acima
realistas e como tal defenderia apenas
do domínio do pessoal: a Coroa – não o
os interesses desses últimos quando
objecto que cinge a cabeça do

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Os Monárquicos não pessoalizam a Muito menos só de alguns! ‘ E a Coroa


instituição real como os republicanos não pode nem deve ser um sinal de
fulanizam a presidência, pois se o divisão, ou uma sigla de partidos. Mas
fizessem o Rei ou o pretendente seria sim o cristal em que todos os
apenas o representante dos seus portugueses possam encontrar a sua
correligionários, desses partidários imagem .’, grafou lapidarmente
realistas e como tal defenderia apenas Francisco Sousa Tavares, jornalista e
os interesses desses últimos quando político Monárquico português in "Faz
subisse ao Trono. Esse partido, que anos a República", 5 de Outubro, de
lutasse pelo seu pretendente real, com 1991.
a ascensão ao trono do seu Rei, seria É, pois, preciso um projecto da
beneficiado, e isso excluiria a ideia Monarquia a ser e premente Ação
monárquica, que é justamente uma Monárquica, porque toda a Causa
aglutinação de forças diversas num precisa de Ação.
país. Ora, o Rei não é o Chefe dos
Nobres ou dos com pretensão a ser!

Portugal Monárquico

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REAIS CONVERSAS COM…


“ALVARINHO UM VINHO DE
REIS”

A Real Associação de Viana do Castelo, Ex-Director da Direcção Regional de


em colaboração com a Confederação Agricultura e Pescas do Norte (2011-
Empresarial do Alto Minho (CEVAL) e o 2018) e ex-vice-Presidente do Instituto
apoio da Câmara Municipal de Melgaço, da Vinha e do Vinho (2019-2021); o Dr.
realizou no dia 20 de Novembro, na Constantino Ramos , Licenciado em
Casa da Cultura em Melgaço, a 4.ª Ciências Farmacêuticas pela
Edição das “Reais Conversas com…”, que Universidade de Coimbra, Pós-graduado
no fundo são encontros informais, sobre em Enologia e Viticultura, pela UTAD e
temas relacionados com a História e/ou Pós-graduado em Gestão e Marketing
histórias locais e assuntos da pelo ISEG, Enólogo na Anselmo Mendes
actualidade, promovidos pela Real vinhos desde 2013 e o Eng.º João
Associação de Viana do Castelo. Daí, Pereira , Licenciado em Eng.ª Agrícola
decorrerem em todo o Alto Minho. pela Escola Superior Agrária de Ponte
O tema foi desta edição, foi “ Alvarinho, de Lima, Pós-graduado em Enologia
um vinho de reis ”. pela Escola Superior de Biotecnologia
Como oradores estiveram o Dr. Manuel da Universidade Católica do Porto,
Cardoso , consultor e escritor, Mestrando em Eng.º Agronómica pela
Licenciado em Medicina Veterinária, ex- Escola Superior Agrária de Ponte de
docente do ensino superior politécnico, Lima, Gestor/Enólogo na empresa

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Quinta das Pereirinhas – Alvarinho de Intervenção do Dr. José Aníbal


Monção e Melgaço, Lda., docente da Marinho, Presidente da Direcção da
Escola Superior Agrária de Ponte do Real Associação de Viana do Castelo:
Lima. 
Em representação da Ceval esteve o seu " Exmos. Senhores:
vice-Presidente Américo Temporão Reis Representante da Câmara Municipal de
e do município de Melgaço a Vereadora Melgaço, Vereadora Eng.ª Fátima Táboas
Eng.ª Maria de Fátima Sousa Táboas. Senhora Deputada, Dr.ª Dora Brandão
O evento contou também com a Américo Temporão Reis, Vice-
presença da Dr.ª Dora Brandão, Presidente da CEVAL
deputada do Partido Socialista e Membros da Real Confraria do Vinho
membro das Comissões de Defesa Alvarinho
Nacional, Agricultura e Mar, Trabalho e Senhores Conferencistas
Segurança Social, que fez uma A instalação das Ordens Religiosas,
intervenção oportuna sobre a defesa do militares e monásticas, no território do
meio rural, onde incluiu o tema da Condado Portucalense, vai permitir o
viticultura. arroteamento de extensas regiões, e
A Real Confraria do Vinho Alvarinho fez- consequentemente grandes áreas de
se representar através dos Confrades cultivo para vinha. Nos séculos XII-XIII, o
Justino Vieira, Catarina Barbosa e Isabel vinho, com valor nutritivo considerável,
Domingues. de carácter anti séptico e de efeitos
Esteve também presente o Arquitecto euforizantes, entra definitivamente nos
Paulo Queiroz, presidente da Direcção hábitos das populações do Entre-
da Real Associação do Porto. Douro-e-Minho, e, torna-se uma
Dado o interesse que o tema despertou, importante e imprescindível fonte de
a Real Gazeta do Alto Minho, faz aqui rendimento, assumindo também uma
um resumo das intervenções que importância considerável nas
ocorreram. cerimónias religiosas medievais, uma
vez que simbolizava era o sangue de
Cristo. Os «Vinhos Verdes», e quando
falamos em vinhos verdes, referimo-nos
aos vinhos tintos, foram os primeiros
vinhos portugueses a ser exportados
pela Barra de Viana, para os mercados
europeus (Inglaterra, Flandres e
Alemanha), conhecidos por esse facto,
como “Vinhos de Viana”, denominação
que abrangia os vinhos de Monção,
Melgaço e de todo o Vale do Lima. Era
no Carregadouro, margem direita do rio
Lima, actual freguesia de S. Paio de
Jolda, Arcos de Valdevez, o lugar de
Da esq. para a dir. Eng.º João Pereira, Dr.
embarque fluvial dos vinhos,
Manuel Cardoso, Dr. Conastantino Ramos e Dr. exportados pela barra de Viana.
José Aníbal Marinho

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Nos dias 1, 2 e 3 de Novembro de 1386, No dia seguinte, 2 de Novembro, de


há precisamente 635 anos, na novo no pavilhão de D. João I, realizou-
sequência da assinatura do Tratado de se mais um banquete, onde não faltou
Windsor, aqui bem perto de Melgaço, o famoso vinum . Aqui se acordaram os
no lugar de Ponte do Mouro, actual termos do tratado de amizade e
freguesia de Barbeita, concelho de aliança, entre os dois povos, tendo os
Monção, estabeleceu-se um Tratado de outorgantes e os seus sucessores ficado
Amizade, entre D. João 1 de Portugal e vinculados a ajudarem-se mutuamente,
contra quaisquer pessoas que
o Duque de Lancastre, John of Gaunt
colocassem em causa os seus reinos ou
(João de Gand). D. João 1, quando soube
parte deles.
que o Duque de Lancastre
Deste tratado constava também o
desembarcara na Corunha, no dia 25 de
casamento de Philipa de Lancastre,
Julho de 1386, para revindicar os seus
filha mais velha do duque inglês e neta
direitos ao trono de Castela, envia para
de Edward III de Inglaterra, com D. João
lá embaixadores, incumbidos de
I de Portugal. Tratado este em cuja
agendarem um encontro entre os dois, celebração não faltou o vinho, símbolo
sendo escolhido para o efeito, o lugar da fertilidade, do conhecimento, do
de Ponte do Mouro, entre Monção, e prazer, do sagrado e do amor divino e
Melgaço. no caso do vinho tinto, devido à sua cor,
No dia de 1 de Novembro, na ponte representa o sangue e a imortalidade,
sobre o Rio Mouro, el-rei e o Duque de facto pelo qual esta bebida é
Lancastre encontram-se pela primeira considerada a bebida sagrada dos
vez, e conversam durante alguns deuses.
momentos, após o que atravessaram o Está, pois, criado o mote para uma boa
rio em direcção ao local onde e D. João conversa... "
tinha um pavilhão. Aqui, sentaram-se,
comeram e, segundo reza a tradição, Após esta primeira intervenção do
beberam o maravilhoso néctar, fruto Presidente da Direcção da Real
das vinhas desta região, plantadas em Associação de Viana do Castelo, tomou
a palavra o Sr. Américo Temporão Reis,
magníficos anfiteatros, a meia encosta,
Vice-Presidente da Ceval, que começou
num microclima muito próprio,
por saudar os membros da mesa, bem
protegido pelas montanhas de Portugal
como todos os presentes, referindo-se
e Espanha.
de seguida à Importância do vinho e da
O próprio Duque de Lancastre, já tinha
sub-região do Alvarinho, Monção e
ouvido falar no vinho desta região, (e
Melgaço, e da necessidade de uma
quando me refiro a esta região incluo
estratégia integrada do poder local e
os vinhos de Ribadavia, na vizinha dos viticultores dos concelhos da
Galiza), e fez questão de o provar, referida sub-região, sendo que a Ceval,
tendo-o achado "muito forte e fogoso"... apoia, o tecido empresarial do alto-
Este almoço, muito bem regado pelo Minho, bem como os seus principais
delicioso vinho, foi animado pelos produtos, entre os quais se inclui o
muitos menestréis presentes e durou vinho, ajudando na promoção nacional
até à noite. e internacional.

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Seguiu-se a intervenção do Dr. uma modernização essencial na área do


Manuel Cardoso: Alvarinho, que se conseguiu levar a
bom termo com a Câmara Municipal de
" Senhoras e senhores, meus caros Monção e não foi nada fácil!
amigos Antes de estarem “na moda” os vinhos
Não sendo eu um enólogo nem um que do Cima Douro eram carregados e
viticultor mas apenas um amador de saíam pela barra do Porto, tiveram fama
vinho informado, é para mim uma internacional os Vinhos de Viana,
honra estar hoje aqui e agradeço o exportados durante centenas de anos
convite que me foi feito pela Real por esta barra, produzidos na Ribeira
Associação. Falar de vinho verde é falar Lima e na zona de Monção, levados em
dum dos vinhos que mais cedo entrou pipas e odres para a Grã-Bretanha e
na minha vida porque nas férias, na para destinos da Europa do Norte. Aqui
praia, na Póvoa de Varzim, anos chegou a instalar-se e a operar uma
sessenta, com escassos dez anos, eu feitoria inglesa. Esse comércio foi
podia acompanhar sardinhas assadas florescente pela sua qualidade e pelas
com tinto que se bebia de malga. Em contingências políticas da Europa que
casa, em Trás-os-Montes, os meus Pais fizeram com que concorressem com a
deixavam-nos beber vinho às refeições, produção borgonhesa nos mercados
cortado com água, mas na Póvoa havia consumidores. Mas no final do século
a descontracção de férias… E tenho tido XVI (em que foi usado pela primeira vez
uma boa relação com o vinho verde: o designativo “vinho verde”) entraram
quando fui nomeado Director Regional em declínio na sua qualidade, ao
de Agricultura isso causou alguns mesmo tempo que problemas de
desgostos no Minho por eu ser acumulação de sedimentos assoreavam
trasmontano e em Braga, no meu a barra e vieram a tornar
segundo dia nessas funções, almoçando economicamente impraticável a
n’O Arcoense com um antigo DRAEDM, carregação por Viana do Castelo. Quase
o Dr. Portela, o dono do excelente todos esses vinhos eram tintos ou
restaurante perguntou-nos, no parduscos. O declínio dessas regiões
momento de escolhermos os vinhos, vitícolas e de Viana significou a
olhando de lado para mim mas ascensão do Douro e do Porto. Que se
dirigindo-se ao meu convidado, “…e para passara, além do que é costume dizer-
beber, os senhores querem vinho… ou se?
preferem maduro?!”, compreendendo Cremos que tais modificações tiveram a
eu o chiste e logo ripostando: “meu ver com a ocorrência da Pequena Idade
caro, vinho, e traga as malgas, sff, para do Gelo (séculos XV- meados do XIX)
o bebermos como manda a regra!”, e cujo máximo de irregularidades e
rimo-nos, claro! Também foi perturbações de temperaturas mais
relacionado com o vinho verde um dos baixas ocorreram no chamado Mínimo
assuntos que me ocupou ao longo de de Maunder (1645 a 1715) ou seja, a
todo o meu mandato como DRAPN e, coincidir com a fase em que todos os
mais tarde, como Vice-Presidente do autores apontam a ascensão do
IVV: o do emparcelamento de Monção, movimento pela barra do Douro e em

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que se instala no Porto a nova Feitora XX, vêem hoje um progressivo sucesso
Inglesa. Tal corresponde ao aumento da na sua comercialização. Mas, então, por
procura e produção de vinhos no Douro, que não os tintos? Antes da Pequena
em Lamego, em Basto, sobretudo ao Idade do Gelo eram os tintos…
longo das margens deste rio, já que ao poderemos colocar várias hipóteses: ou
longo do vale se verificavam as as castas não seriam as mesmas ou
condições de clima mediterrânico e seriam mas… hoje há porta-enxertos a
terá estado mais ao abrigo das mudar os termos da equação. Haverá
perturbações sentidas em toda a que estudar, investigar, ensaiar. Em
Europa e no Noroeste Peninsular. Além todo o caso, será certo um grande
disso, com o aumento das navegações futuro para o vinho verde!
de longo curso e o enriquecimento com Muito obrigado pela atenção
aguardente que tinha passado a ser dispensada e será um prazer podermos
feito aos vinhos embarcados no Porto, discutir estes assuntos!”
pelo menos desde o tempo dos Filipes,
o grosso volume de negócios passou Finda a intervenção do Dr. Manuel
para esta cidade o que favoreceu, pela Cardoso, foi a vez do Dr. Constantino
facilidade de comunicações rio acima, Ramos:
toda a viticultura do Vale do Douro. Ao
logo dos séculos e desde o século XVI, “A casta Alvarinho é uma casta muito
sobretudo, as vinhas do Entre Douro e antiga pois já aparece citada em
Minho viram-se também forçadas a documentos do século XVIII. Lacerda
abandonar terrenos para a produção de Lobo, em 1790, identifica-a como sendo
milho e, depois, batata, sendo uma casta de uvas brancas cultivadas
remetidas as videiras para as em Melgaço e Vila Nova de Cerveira e o
bordaduras, as ramadas, os enforcados, visconde de Villa Maior, em 1866, refere-
os archões, por uma gestão de espaço, se à Alvarinho como sendo uma casta
o que concorreu para alterações na que produz muito e predominante nos
maturação das uvas e para as concelhos de Caminha, Valença e
mudanças drásticas das características Monção.
organolépticas dos vinhos. Com a O primeiro vinho Alvarinho a ser
política do Marquês de Pombal, de comercializado terá sido o Casa de
protecção aos vinhos do Douro e de Rodas, de Monção, no início dos anos
Carcavelos, o declínio da viticultura vinte, do Eng.º Joaquim Lobo de
minhota foi assinalável. Miranda e embora o vinho já não exista
A recuperação começou a partir do atingiu grande prestígio à época, tendo
reaquecimento do clima com o do fim ganho inúmeras medalhas em
da Pequena Idade do Gelo, há cerca de concursos e chegou mesmo a ser
cento e setenta anos, e dos problemas exportado para Inglaterra. Depois deste
de oídio, míldio e filoxera que a todos vinho, a primeira marca comercial de
afectaram. A demarcação de João Alvarinho que ganhou notoriedade, e
Franco em 1908 produziu bons efeitos e contribuiu decisivamente para a
os vinhos verdes, sobretudo nas afirmação da casta, foi a Cepa Velha, de
variedades brancas e nos fins do século Monção, cuja primeira colheita terá

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sido engarrafada na década de planos, com calhau rolado em solo


quarenta. Mais tarde, é contratado o granítico ou argiloso. Em Melgaço,
melhor especialista da região – o Eng.º temos a predominância da meia
Amândio Galhano – grande enólogo e encosta com boa drenagem e solos
profundo conhecedor da região, que arenosos de origem granítica. Aqui as
dedicou a sua vida à causa do Vinho cotas mais altas e frias definem um tipo
Verde e modernização da região. O seu de vinho com mais acidez, enquanto,
conhecimento veio dar valor a uma próximo do rio temos Alvarinhos mais
casta esquecida pelos viticultores, encorpados.
então mais interessados no vinho tinto. Não é possível dizer qual a melhor. O
Também na altura, a Real Vinícola que realmente importa é que Monção e
recorreu aos serviços do Eng.º Galhano, Melgaço, com as suas características
para dar apoio à produção de Alvarinho, muito próprias, produzem vinhos
quando adquire a Quinta dos brancos de categoria mundial. "
Venâncios, em Monção.
Em 1958 é tomada a decisão de Por último tomou a palavra o Eng.º
construir a Adega Cooperativa de João Pereira:
Monção, e uma vez mais, o Eng.
Amândio Galhano é um dos vinte sócios “Este magnifico território de imensas
fundadores da cooperativa. Contudo, só referências históricas relacionadas com
em 1964 é lançado para o mercado, a cultura da vinha, poderia estar
com a marca Alvarinho, a primeira dividido pelo menos em três períodos;
colheita da adega. da civilização Castreja e Romana;
A casta é muito versátil e permite assim Medieval e a do Passado Recente.
encontrar vinhos Alvarinho fermentados Durante a civilização Castreja e
e estagiados em inox, e vinhos Romana, período após a segunda
fermentados e/ou estagiados em metade do século I A.C., são inúmeros
barricas de carvalho. Sendo vinhos os vestígios arqueológicos (ânforas
diferentes em ambos os casos existem vinárias para o transporte de vinho) que
grandes vinhos que se afirmam a cada demonstram o quanto esta cultura era
ano que passa no panorama mundial parte integrante da dieta das
como estando entre os grandes vinhos comunidades castrejas que habitavam
brancos do mundo. nesta região: como exemplo o Castro
Têm ainda outra particularidade São Caetano, em Longos Vales no
notável que é o facto de produzir concelho Monção e o Castro de
vinhos muito equilibrados e com uma Paderne no concelho de Melgaço, locais
longevidade assinalável sendo possível com bom posicionamento estratégico e
provar alvarinhos com 15 anos mais defensivo.
anos ainda em grande forma cheios de Já no período Medieval apesar dos
frescura e vida. vestígios físicos, como os lagares de
Outra mais valia encontra-se nas diferenças pedra e de varas, existem inúmeros
dentro da sub-região: em Monção, documentos com referências á cultura
encontramos predominantemente terrenos da vinha, como as referências

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mencionadas no primeiro Foral de impulso no investimento na vinha em


Monção, onde em 1261, D. Afonso III especial na casta Alvarinho e a sua
reconhece a posse das vinhas aos divulgação. Nos anos 70, Dona Maria
habitantes de Monção, onde nos indica Hermínia Paes constitui a empresa e a
a importância da vila na época, assim marca “Palácio da Brejoeira” que
como registos nas memórias paroquiais contribui com qualidade, requinte e
associados aos Mosteiros de São João prestígio para que um vinho deste
de Longos Vales e o de Fiães em território seja reconhecido pela casta
Melgaço. que é rainha, a ALVARINHO.
Entre o século XV e XIII existem várias Nos anos 80 surgem outras marcas,
menções de trocas de vinhos nomeadamente a primeira no vizinho
provenientes deste território por concelho de Melgaço – “Soalheiro”. Já
bacalhau, onde os vinhos, eram um pouco mais tarde Amadeu Abilio
transportado pelo rio, partindo da Lopes, funda a empresa Quintas de
freguesia de Cortes ou Lapela no Melgaço que em 1996 ofereceu à
concelho de Monção, e depois seguia Autarquia de Melgaço e que
para Viana do Castelo, ou por via atualmente detém cerca de 70% da
terreste em carro de bois até ao lugar empresa. Nessa mesma altura, mais
do Carregadouro, em Jolda no concelho precisamente em 1985 os viticultores
de Arcos de Valdevez para depois desta região organizaram-se e criaram a
serem transferidos para barcos até a foz Associação de Produtores de Alvarinho
do Rio Lima, onde depois nas primeiras (APA), como resposta à necessidade da
feitorias eram despachados para o existência de uma plataforma que
norte da Europa. prestasse auxílio na canalização dos
Já num passado recente, este território fundos europeus para a atividade
é pela primeira vez delimitada e vitícola, e nas décadas seguintes a APA
protegido por legislação própria, sentiu a necessidade de integrar
aquando da demarcação da Região dos também os produtores-engarrafadores.
Vinhos Verdes em 1908, tendo este Foi a partir dos anos 90 que surge o
território passado a ser uma das seis boom do aparecimento de dezenas de
sub-regiões produtoras de vinho verde marcas e empresas produtoras de
e a casta Alvarinho é uma das vinhos e os dois Município decidem
mencionadas como casta autorizada assim promover e alavancar a
unicamente para esta sub-região. divulgação dos vinhos produzidos no
Nos anos 20 do século passado, o território encantado, com a realização
primeiro rótulo conhecido de vinho da primeira Feira do Alvarinho em
Alvarinho foi da “Casa de Rodas” do Monção e depois a Festa do Alvarinho
concelho de Monção e em 1938 passou em Melgaço em 1995. A inauguração do
a ser constituída a 1.ª empresa Solar e do Museu veio também
produtora de Alvarinho - Vinhos de contribuir para a existência de um
Monção, Lda, com a marca "Cêpa espaço físico que durante todo o ano
Velha“. Já nos anos 50 foi constituída a seja um local de visita e promoção,
Adega Cooperativa Regional de podendo aqui o visitante, degustar os
Monção, responsável por um elevado maravilhosos néctares, assim como

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aprofundar melhor a informação sobre realizado no território com presença de


os usos e costumes deste território outros produtores de vinhos brancos
vitivinícola. nacionais e internacional, de forma a
Outros movimentos se surgiram antes criar notoriedade dos nossos vinhos no
da entrada no seculo XXI, como a contexto mundial.
constituição da Rota do Vinho e a Real Atualmente este território com cerca de
Confraria do Vinho Alvarinho, que 1730 ha de vinhas, dos quais 1340 ha são
aliado a várias empresas produtoras, exclusivos da casta Alvarinho e com
restauração e hotelaria, contribuíram tendência para aumentar, são
com espaços de visitação, degustação e produzidos pelos cerca de 2100
alojamento para que o Enoturismo viticultores que entregam essas uvas
passasse a ser um ponto de referência e aos 67 agentes económicos que
com um grande potencial para a transformam essas uvas em cerca de 10
dinamização do setor empresarial dos milhões de litros, que anualmente são
dois concelhos. distribuídos e comercializados sob as
Em 2015, em resultado da reclamação 250 marcas existentes.
dos produtores de vinhos verdes, Qual o futuro para este território?
externos à sub-região de Monção e Apesar de as vendas nos últimos anos
Melgaço, foi alcançado o acordo do terem aumentado de uma forma
alargamento da produção e rotulagem sustentada, resultado do aumento da
da casta Alvarinho a toda a região dos notoriedade, qualidade e origem dos
Vinhos Verdes com efeitos a partir de seus vinhos é imprescindível a
2022, pois já era possível produzir e consolidação da estratégia de
rotular em todo o Pais e em todo marketing e comunicação, que deverá
Mundo, menos nesses concelhos. Em ser alicerçada na promoção de um
contrapartida os agentes económicos território vitivinícola único, onde teve a
produtores de vinhos da casta origem do Alvarinho, mas também pela
alvarinho, engarrafados e rotulados em sua opulenta história, gastronomia,
Monção e Melgaço, passaram a ter paisagem, cultura, natureza e as suas
direito a ter um Selo de Garantia de gentes que são capazes de produzir
Certificação distinto dos restantes uma diversificada tipologia de vinhos,
vinhos verdes e com destaque ao nome espumantes, aguardentes e outros
da sub-região, juntamente com um produtos e serviços capazes de criar a
orçamento de 3 milhões de euros para sua autonomia. É sem dúvida alguma,
efeitos de promoção e marketing. uma Região com passado, presente e
Por consequência a partir de 2015 os futuro, que deverá caminhar para uma
produtores, juntamente com os futura Denominação de Origem
municípios reforçaram as suas ações de Controlada”.
promoção individualmente ou em Para além de uma perspectiva histórica
conjunto com a realização da Festa do sobre a exportação dos vinhos desta
Espumante em Melgaço, o Alvarinho zona, que foram os primeiros vinhos
Wine Fest realizado em Lisboa, assim portugueses a ser exportados pela Barra
como Monção e Melgaço – The Whit de Viana, para os mercados europeus
Wine Experience, evento anual, (Inglaterra, Flandres e Alemanha),

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conhecidos por esse facto, como relacionados com a sua produção e


“Vinhos de Viana”, denominação que defesa internacional da marca.
abrangia os vinhos de Monção, Melgaço Alguns membros da assistência
e de todo o Vale do Lima, aqui se colocaram diversas questões aos
debateram os principais problemas oradores, enriquecendo desta forma a
relativamente à casta alvarinho, tertúlia.

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5. 10. 1911

Eis senha e sinal dado: está o Paladino em Portugal, rompeu a fronteira, está em
Vinhais!
Esperamos agora El-Rei, venha já ou depois, pouco conta o tempo, e sim o Reino a
refundar.
Só o futuro monta, quando Lusitânia recebendo O Desejado lhe extirpar
finalmente velhos ais!
Cornucópia de paz, parto d’alma universal em que o torrão natal voltará a fecundar
o eterno mar,
O mar da Ecumena , mar português, beijando essa sempre nevoenta e promissora
nesga de terra,
PORTUGAL.

Pedro Vilas-Boas Tavares

D. Afonso

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1º DE DEZEMBRO DE 2021 EM
CELORICO DE BASTO
HOMENAGEM AO DR. JOÃO
PINTO RIBEIRO
Devido à situação pandémica existente Foi colocada uma placa comemorativa,
e com a responsabilidade de cumprir as no pedestal do busto de João Pinto
normas de saúde pública, as Real Ribeiro, evocativa dos 381 anos do 1.º de
Associações de Viana do Castelo e de Dezembro de 1640, descerrada com a
Braga, substituíram este ano, o seu presença do senhor Presidente da
tradicional Jantar dos Conjurados, por Câmara Municipal de Celorico de Basto,
uma homenagem em Celorico de Basto, Dr. José Peixoto Lima, e do senhor
ao Dr. João Pinto Ribeiro, conjurado de Presidente da Real Associação de
1640, localidade onde existe um busto Braga, Dr. Gonçalo Pimenta de Castro.
em sua honra, que contou com a
colaboração do Município de Celorico
de Basto.

O Dr. Gonçalo Pimenta de Castro,


explicou que esta homenagem era uma
iniciativa das Reais Associações de
Braga e de Viana do Castelo, referindo
que o Presidente da Real Associação de
Viana do Castelo ia explicar a ligação
de João Pinto Ribeiro a Ponte de Lima,
e que a referida homenagem só não
ocorreu no dia 1 de Dezembro de 2020,
data do 380.º aniversário da
Restauração da Independência, em
virtude da Pandemia.

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Aqui intervêm o senhor Presidente da


Câmara Municipal de Celorico de Basto,
Dr. José Peixoto Lima, que começou por
saudar e agradecer às Reais
Associações de Braga e de Viana, a
homenagem a este ilustre conjurado,
destacando a sua importância no
movimento restauracionista português.
Referiu ainda que “a elevação deste
busto foi assente em pressupostos
errados, uma vez que João Pinto
Ribeiro nasceu em Lisboa tendo,
contudo muita família em Celorico de
Basto, no quadro das freguesias que
integravam o concelho de Celorico de
Basto no século XVI até ao séc. XVIII,
algumas das quais hoje pertencentes ao
concelho de Amarante e de Felgueiras,
às quais está ligada a família de João
Pinto Ribeiro nomeadamente a irmã,
Francisca Ribeiro da Silva, casada com
Manuel de Sousa Pereira, senhor da
quinta de Crasto, na freguesia de Gatão,
que então pertencia ao concelho de
Após o descerramento da placa e Celorico de Basto”, concluído que
depois de umas breves palavras “restabelecida a verdade, é
saudação e agradecimento, devido à sobejamente importante termos neste
chuva que insistente que caía, o Sr. concelho um símbolo de um homem
Presidente da edilidade convidou os tão importante para a preparação da
presentes a continuarem a homenagem restauração da Independência, de um
nos antigos Paços do Concelho, poucos homem absolutamente crucial para um
metros acima do local do busto, agora dos momentos mais marcantes da
com a designação de Casa da Terra, história de Portugal e que agora se
espaço de partilha, de interatividade, encontra intimamente ligado à história
cultura e história. e memória deste concelho”.
O Presidente da Real Associação de
Braga, agradece o envolvimento do
Município nesta iniciativa e, de novo,
refere que o Dr. José Aníbal Marinho
Gomes, Presidente da Real Associação
de Viana do Castelo, abordará, para
além de um resumo biográfico, a
passagem de João Pinto Ribeiro, como
Intervenção do Sr. Presidente da Câmara
Juiz de Fora na Comarca de Ponte de
Municipal de Celorico de Basto Lima, após o que seguiria a intervenção

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do Professor Doutor Pedro Villas-Boas “Falar de João Pinto Ribeiro, um dos


Tavares, (investigador do CITCEM/FLUP), gloriosos conspiradores de 1640, não é
munícipe celoricense. tarefa fácil, nem pretendo aqui fazer a
sua biografia, que deixo a cargo do Prof.
Dr. Pedro Villas-Boas Tavares, mas tão
somente traçar algumas linhas sobre a
sua ligação a Ponte de Lima.
Nasceu em Lisboa, em 1590, cidade
onde faleceu a 11 de Agosto de 1649, era
filho de Manuel Pinto Ribeiro, natural
do actual concelho de Amarante e de
Helena Gomes da Silva, natural da Lixa.
Casou com D. Maria da Fonseca, no
estado de viúva, de quem não teve
descendência.
Matriculou-se na Universidade de
Coimbra, onde estudou desde 1607 até
Intervenção do Dr. Gonçalo Pimenta de Castro
1612, tendo tomado o grau de bacharel
em direito canónico.
Por carta régia, de Filipe III de Espanha,
passada a 23 de Junho de 1627, foi
nomeado Juiz de Fora de Ponte de
Lima, pelo período de três anos. De
acordo com Livro de Vereações dos
anos 1626/28, tomou posse nesta vila no
dia 27 de Setembro de 1627.
De acordo com as disposições em vigor,
quando foi nomeado para Juiz de Fora
em Ponte de Lima, redigiu a 9 de
Agosto de 1627, uma declaração de
rendimentos, rectificando a declaração
anterior feita aquando da sua
nomeação para Juiz de Fora em Pinhel.
Nela refere que dependia ainda da
ajuda dos pais, uma vez que como
magistrado nesta vila, tinha de
ordenado, para além dos emolumentos,
Intervenção do Dr. José Aníbal Marinho Gomes
de 80.000 réis anuais, importância esta
Após saudar o Presidente da Câmara que equivaleria na época, a um pouco
Municipal de Celorico de Basto, o mais do dobro do salário de um
Presidente da Assembleia Municipal, pedreiro ou carpinteiro.
Vereadores do executivo, Presidente da Foi em Ponte de Lima que terá
Real Associação de Braga, o Prof. Dr. redigido o seu primeiro escrito,
Pedro Villas-Boas Tavares, bem como o “Discurso sobre os fidalgos e
todos os presentes, o Dr. José Aníbal soldados portugueses não
Marinho referiu que: militarem em conquistas alheias” ,

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obra publicada em Lisboa em 1632, e na Bragança, relativamente aos seus


qual critica o governo filipino, por padroados para a sub-divisão das
encorajar, a troco de promessas e respectivas rendas, em várias
dinheiro, os fidalgos e soldados comendas.
portugueses para guerras no Cavaleiro da Ordem de Cristo desde
estrangeiro, que nada tinham a ver com 1639. Guarda mor da Torre do Tombo
Portugal, designadamente a guerra desde 1644. Defensor da tese, do duplo
entre a Espanha e França, e que contrato e do consequente direito de
originavam o enfraquecimento das resistência e da soberania popular,
defesa portuguesas sobretudo na Índia, propagando que: “A Monarquia vale
onde os holandeses, comercialmente, por virtude própria,
começavam a penetrar. independentemente da figura que a
Filipe IV quando teve conhecimento encarna.” Uma vez que só os
deste escrito, para além de querer portugueses reunidos em Cortes
saber quem era o autor, ordena que o podem conceder legitimidade
Desembargo do Paço impeça, daqui por suprema ao poder real, logo o
diante, a publicação de textos de juramento do rei terá de ser
natureza análoga, sem a sua prévia
legitimado pelo juramento de
aprovação. Em virtude desta
Fidelidade dos três Estados…
publicação, João Pinto Ribeiro é
Desta forma, Pinto Ribeiro opõe-se à
demitido por despacho régio das suas
teoria da origem divina do poder real,
funções.
pois os reis recebem o poder do povo
Entretanto passa a ser representante da
para governarem bem e correctamente.
Casa de Bragança em Lisboa, e seu
agente em Madrid, cargo que vai fazer
dele um importante mensageiro entre o
Duque de Bragança e os conjurados.
Pensa-se que foi ele que aconselhou os
conjurados a prosseguirem com os
planos para a revolução, e que
ignorassem momentaneamente as
hesitações do Duque de Bragança.
Foi João Pinto Ribeiro, que em Vila
Viçosa convenceu o Duque D. João a
aderir à revolução, após o que foi
mandatado com plenos poderes para o
avanço da conjura, que rapidamente os
fez chegar a D. Miguel de Almeida e
Pedro de Mendonça, através de duas
cartas.
A partir de 1629 foi agente do duque de
Bragança em Madrid, e em 1635 foi
Intervenção do Prof. Dr. Pedro Villas-Boas
enviado a Roma, para tratar dos
Tavares
negócios particulares da casa de

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A encerrar, tomou a palavra o Prof. Anvers, Lisboa, 1641), documento coevo


Doutor Pedro Villas-Boas Tavares , que da autoria do conjurado Padre
após saudar as pessoas e instituições Licenciado Manuel da Maia, afirmou a
presentes e organizadoras, agradeceu admirável coragem com que ele e
as palavras que lhe foram dirigidas, e todos os conjurados arriscaram a vida
de desejou felicidades ao Presidente e para que a autonomia e a liberdade
novos eleitos do Município de Celorico lusa voltassem a ser um facto.
de Basto, o Professor Doutor Pedro Relativamente ao segundo aspecto,
Vilas-Boas Tavares, iniciou a sua evocando alguns nomes e obras, o
alocução salientando que, para além orador começou por lembrar que João
dos aspectos biográficos e evocativos, já Pinto Ribeiro deve ser situado no seio
referidos pelos oradores anteriores, Dr. de uma notável plêiade de tratadistas
Gonçalo Pimenta de Castro, Presidente de justificação jurídica e política da
da Real Associação de Braga, Dr. José independência portuguesa e da nova
Aníbal Marinho Gomes, Presidente da ordem de governo nacional constituída
Real Associação de Viana do Castelo, e em torno da realeza do Duque de
pelo Senhor Presidente da Câmara, Dr. Bragança, aclamado como D. João IV, e
Peixoto de Lima, dois aspectos de seus descendentes legítimos
essenciais lhe importaria relevar na (situação essa apenas garantida pela
homenagem devida a João Pinto paz assinada em 1668 entre Portugal e
Ribeiro: Espanha, depois de vencida por
Portugal a difícil Guerra da
a) enquanto conjurado e pivot do Restauração).
acto libertador de 1 de Dezembro de Com o movimento emancipador do 1.º
1640. de Dezembro de 1640, segundo
doutrinava João Pinto Ribeiro na sua
b) enquanto jurista da Restauração, Usurpação, Retenção e Restauração de
com a importante missão de Portugal (obra publicada em Lisboa, na
justificar politicamente, para uso Oficina de Lourenço Anvers, em 1642),
interno e sobretudo da diplomacia não apenas se tratava de uma
devolução ou restituição de D. João ao
portuguesa, a legitimidade da ordem
trono de Portugal, pela herança dos
constituída em Portugal a partir
direitos sucessórios imprescritíveis que
daquela data.
assistiam a sua Avó, D. Catarina de
Bragança, filha do Infante D. Duarte,
Relativamente ao primeiro aspecto,
esbulhada desses direitos por Filipe II e
vincou a condição de servidor fiel,
pelas Cortes de Tomar de 1581, como
homem de segredo e total confiança da
também, subsequentemente, os reis
Casa Ducal de Bragança, de João Pinto
espanhóis Habsburgo, padecendo dessa
Ribeiro, capaz de fazer a ponte entre os
ilegitimidade de origem, se teriam feito
elementos da conjura em preparação; e
ainda mais ilegítimos pelo exercício
apoiando-se no texto da Relação de
tirânico do seu poder, desde logo
tudo o que se passou na Felice
incumprindo e derrogando
Aclamação de D. João IV (Lourenço

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compromissos solenes assumidos nas Retenção e Restauração de Portugal,


referidas cortes e fazendo uso de «esta(va) nos povos a eleição e criação
violências contra o direito natural dos de seus Reis, e nela contratam com eles
portugueses e contra as leis como administrar em sua conservação
fundamentais da Monarquia e utilidade os Reinos.
Portuguesa, o que justificava Muito significativas da orientação
plenamente o movimento restaurador. mental deste herói foram ainda,
Segundo sublinhou o Prof. Vilas-Boas segundo o orador, dois traços em que
Tavares, as cortes logo reunidas em pouco se tem reparado: o teor da sua
Janeiro de 1641 consagraram este tipo livraria, parcos haveres e rendimentos, e
de doutrinas, segundo as quais, quando sua condição de admirador e estudioso
um rei se fizesse indigno e tirânico da obra de Luís de Camões, algo que
(exercendo um poder ilegítimo), os ocorre com outros conjurados e é muito
povos podiam eximir-se da sua sujeição, significativo do gosto literário, mas
já que o poder exercido pelos reis muito mais ainda do sentido
resultava de – inicialmente – os povos autonomista e patriótico com que os
lho haverem transferido para os portugueses cultos olhavam para a
governar. Tal conceção de que todo o figura do autor de Os Lusíadas.
poder vem de Deus para o Povo, e deste Para além de uma excelente plateia,
é que passava, por pacto de sujeição estiveram presentes o senhor
(com direitos e deveres recíprocos e Presidente da Assembleia Municipal de
inerentes limitações), para a pessoa do Celorico de Basto, António Ilídio
monarca, viria um dia a ser combatida e Teixeira Machado, e vereadores do
proibida em Portugal pelo “despotismo executivo municipal.
iluminado” de Sebastião José de
Carvalho e Melo, o qual a apresentaria
como um produto das doutrinas
subversivas dos Jesuítas.
Em consonância com tais doutrinas
relativas à origem, legitimidade e
limitações do poder político, já
anteriormente João Pinto Ribeiro
chasqueava aos mais íntimos e de
confiança que «Filipe IV era tanto seu
rei como o Rei da Pérsia», e no dia 1.º de
Dezembro, no próprio momento em
que o plano de revolta delineado estava
na rua, terá declarado muito
singelamente a uns amigos que lhe
perguntaram a que os chamara: para
irmos «ali abaixo ao paço, à sala dos
tudescos, a tirar um rei e pôr outro, e
logo nos tornaremos para casa». Afinal,
segundo escrevera na Usurpação,

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