Tutorial Apnéia e Pré Oxigenação
Tutorial Apnéia e Pré Oxigenação
Tutorial Apnéia e Pré Oxigenação
Antes de prosseguir, tente responder às seguintes questões. As respostas estão no final do artigo,
juntamente com as respectivas explicações.
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INTRODUÇÃO
O objetivo da pré-oxigenação é aumentar as reservas de oxigênio de modo a prolongar o tempo até a
dessaturação em caso de apnéia, como ocorre frequentemente na indução da anestesia. Esse é o caso
particularmente em uma indução em sequência rápida, quando se evita a ventilação por pressão
positiva antes da intubação traqueal. A pré-oxigenação também pode ser vista como denitrogenação –
ressaltando o fato de que é o nitrogênio que está sendo deslocado de dentro das vias aéreas pela alta
concentração de oxigênio inspirado.
A taxa de dessaturação de oxigênio é influenciada pelo equilíbrio entre as reservas de oxigênio e o seu
consumo. O oxigênio é armazenado no corpo dentro dos pulmões, sangue e tecidos. No contexto da
pré-oxigenação, o maior aumento nas reservas de oxigênio ocorre nos pulmões; mais especificamente,
na capacidade residual funcional (CRF). As reservas pulmonares de oxigênio são resultado da fração
de oxigênio dentro dos alvéolos (estimada pela análise da fração expirada de oxigênio – FeO2) e da
CRF. Heterogeneidade da relação ventilação-perfusão (V/Q), shunt particularmente, também afeta o
conteúdo oxigênio no sangue. Isso pode ser influenciado pela relação entre a CRF e a capacidade de
fechamento. O consumo de oxigênio é influenciado pela taxa metabólica. Alguns cenários clínicos,
como obesidade, sepse, gestação e população pediátrica, cursam com encurtamento do tempo até a
dessaturação.
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Calculando reservas de oxigênio
Isso é equivalente a 13% (273ml) de oxigênio em uma CRF de 2100ml, sendo o conteúdo
remanescente composto por 75% de nitrogênio, 7% de vapor d’água e 5% de CO2 utilizado no
cálculo da equação do gás alveolar.
*Nota – este é um número teórico. Alcançar pré-oxigenação perfeita não é possível; 85% de ETO2 é uma meta razoável que
ainda proporcionará 1500ml de oxigênio em reserva pulmonar no exemplo acima.
Shunt
Da mesma maneira que diminui o reservatório pulmonar de oxigênio, a relevância de uma CRF
reduzida se estende à heterogeneidade da relação V/Q. A capacidade de fechamento é o volume
pulmonar aquém do qual as pequenas vias aéreas se fecham. Se a CRF for reduzida para abaixo da
capacidade de fechamento, as vias aéreas fechar-se-ão durante ventilação com volumes correntes,
resultando em alvéolos que são perfundidos mas não ventilados. Isso é conhecido como shunt, um
fenômeno que não é alterado pela administração de oxigênio a 100%.
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APNÉIA
Durante o período de apnéia, o oxigênio continua a ser captado dos pulmões para o sangue. A absorção
de oxigênio dos pulmões é consideravelmente maior do que o retorno de dióxido de carbono do sangue
para os alvéolos (devido aos sistemas-tampão do organismo que absorvem grandes quantidades de
CO2). A perda de volume resultante leva a uma pressão negativa que se desenvolve nos pulmões.
Se as vias aéreas superiores estiverem pérvias, o gás será continuamente conduzido da traquéia aos
pulmões, de modo a equalizar o gradiente de pressão. Se o gás nas vias aéreas superiores for O2 a
100%, esse gradiente de pressão pode ser mantido por longos períodos. Esse fenômeno, comumente
conhecido como o elevador do oxigênio, pode prolongar significativamente o tempo até a dessaturação.
Deve-se notar que o dióxido de carbono não é transferido para fora dos pulmões durante esse processo,
portanto haverá aumento gradual da PaCO2.
Se o gás nas vias aéreas superiores contiver baixa concentração de oxigênio, como o ar, o nitrogênio se
acumula nos pulmões, sendo efetivamente concentrado, resultando na perda do gradiente de pressão e
parada do fluxo.
Caso as vias aéreas estejam obstruídas durante esse processo, pressão pulmonar negativa desenvolver-
se-á rapidamente. Não só isso resultaria em perda das vantagens do elevador de oxigênio, como
também poderia causar colapso das vias aéreas e edema pulmonar.
Isso ressalta a manutenção da via aérea e aplicação de O2 100% como boas práticas durante a apnéia
que se segue à indução da anestesia.
PRATICALIDADES
Diversos métodos foram descritos para atingir o processo de pré-oxigenação. Uma característica
consistente foi a necessidade de bom acoplamento da máscara facial, evitando vazamentos que
permitiriam a entrada de ar ambiente e, portanto, de nitrogênio. A seleção de uma máscara de tamanho
apropriado é importante. Pode existir dificuldade em estabelecer vedamento adequado, particularmente
em pacientes com barba ou edêntulos. Uma alternativa em situações como impossibilidade de prevenir
vazamentos ou fobia intensa da máscara, é solicitar ao paciente que estabeleça vedamento em torno do
cateter com a máscara removida, assegurando-se de que ele não respire pelo nariz (considerar uso de
clip de nariz). Isso pode ser útil para pacientes que sofrem com claustrofobia com o uso de máscaras
faciais.
Tempo
A duração necessária para pré-oxigenação foi extensivamente debatida e estudada, com opções
incluindo 3 minutos de ventilação com volumes correntes, 4 ventilações de capacidade vital em 30
segundos ou 8 ventilações de capacidade vital em 60 segundos. Até certo ponto, esses regimes fixos
são desnecessários na presença de ETO2 ventilação a ventilação, com o desfecho almejado sendo ETO2
> 85% (100% não é possível devido à presença de CO2 e vapor d’água). O tempo real necessário para
pré-oxigenação adequada varia de paciente para paciente; pode ser atingido antes de 3 minutos,
especialmente se o paciente tem uma CRF relativamente pequena, enquanto em outras circunstâncias
pode demorar mais tempo. Na ausência de monitorização da ETO2, são recomendados tanto 3 minutos
de ventilação com volumes correntes quanto 8 ventilações de capacidade vital em 60 segundos.
Demonstrou-se que o método de 4 ventilações de capacidade vital em 30 segundos é inferior aos outros
dois. Com qualquer um dos métodos, é vantajoso que o paciente exale completamente (até o volume
residual) antes do início da pré-oxigenação.
O preenchimento da CRF com oxigênio pode ser descrito por uma curva de wash-in, e o processo
inverso de denitrogenação é representado por uma curva de wash-out. Ambos os processos são
negativamente exponenciais e permitem o entendimento dos métodos de pré-oxigenação sugeridos.
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Constantes de Tempo
A curva de wash-out do nitrogênio corresponde à fórmula y = a.e-kt.
A partir dos cálculos acima, é evidente que após 2 minutos (quatro constantes de tempo), 98% do
nitrogênio da CRF terá sido removido e substituído por oxigênio. Um período de 3 minutos assegura
uma margem de segurança para levar em consideração a variabilidade inter-pacientes.
Sistema de Ventilação
O sistema de ventilação utilizado durante a pré-oxigenação deve ser levado em consideração. Quando
se utiliza um sistema circular, é necessário garantir fluxo de oxigênio maior que o volume minuto (Vm);
ou seja, pelo menos 6L/min em um paciente de 70kg, com o objetivo de manter a concentração de
100% dentro do circuito. Altos fluxos (15L/min) são necessários se a ventilação for com capacidades
vitais, ao invés de volumes correntes, devido ao volume minuto aumentado (Vm). Com um sistema de
ventilação Mapleson D (circuito de Bain), altos fluxos de oxigênio (2-3x o Vm) são necessários para
prevenir a reinalação de nitrogênio e dióxido de carbono expirados.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Obesidade
Conforme explicado anteriormente, o equilíbrio entre reservas e consumo de oxigênio determina a taxa
de dessaturação de um paciente. Pacientes obesos tem CRF reduzida (reserva diminuída) e uma taxa
metabólica maior (consumo). Consequentemente, taxa de dessaturação desses pacientes é
consideravelmente maior do que em não-obesos. Esse fato, somado a maiores taxas de dificuldade na
ventilação sob máscara e intubação, torna a pré-oxigenação um ponto chave na tentativa de maximizar
a PaO2 (reserva) desses pacientes. Outro ajuste ao processo é o posicionamento dos pacientes
sentados, o que melhora a equação por meio do aumento da CRF em relação à posição supina: a
elevação a 25º evidenciou redução significativa da taxa de dessaturação em pacientes obesos.
Gestação
A pré-oxigenação tem um papel importante no manuseio anestésico da paciente gestante. O aumento
de volume do útero resulta em elevação do diafragma com consequente redução da CRF,
possivelmente para abaixo da capacidade de fechamento. A demanda metabólica aumenta devido ao
crescimento do feto e da placenta. Portanto, a dessaturação ocorre mais rapidamente. Ademais, o
manuseio da via aérea é reconhecidamente mais difícil do que na população geral. A pré-oxigenação
proporciona uma margem de segurança adicional caso as tentativas de estabelecimento da via aérea se
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prolonguem. Diferentemente de pacientes obesos, a posição de céfaloaclive a 25º não evidenciou
redução na taxa de dessaturação em gestantes.
Sepse
Em pacientes criticamente enfermos e sépticos, o tempo até a dessaturação pode ser consideravelmente
reduzido, devido a fatores como aumento do débito cardíaco e demanda de oxigênio e redução da taxa
de extração tecidual de oxigênio associada à sepse. É provável que haja maior heterogeneidade da
relação V/Q, contribuindo para a velocidade da dessaturação. Nesses pacientes, pode ser difícil atingir
saturações de oxigênio próximas de 100%, mesmo com a administração de oxigênio a 100%. Ainda
assim, a denitrogenação adequada da CRF do paciente antes da intubação (e apnéia associada)
contribuirá para adiar a dessaturação.
População Pediátrica
Crianças podem ser menos tolerantes ao processo da pré-oxigenação. Contudo, o seu uso deve ser
cuidadosamente considerado, uma vez que crianças têm taxas metabólicas maiores que adultos e,
portanto, dessaturam mais rapidamente. Muitas crianças cooperam com o processo quando este lhes é
explicado, e esforços devem ser feitos para fazê-lo em pacientes sob alto risco de dessaturação.
Extubação Traqueal
Boa parte do texto acima refere-se ao uso da pré-oxigenação antes da indução da anestesia. Deve-se
levar em consideração que os mesmos princípios se aplicam antes da extubação traqueal, de modo a
aumentar a reserva de oxigênio da CRF para a eventualidade de uma complicação com a via aérea
ocorrer nesse período. A correlação com ETO2 é útil para assegurar denitrogenação adequada.
CUIDADOS
Um efeito deletério da administração de O2 a 100% é a atelectasia que resulta da absorção do oxigênio
de alvéolos mal ventilados, levando ao colapso alveolar. Contudo, esse problema pode ser facilmente
remediado através do uso de manobras de recrutamento e não deve ser visto como uma contra-
indicação ao uso apropriado da pré-oxigenação. Uma vez que se estabeleça via aérea segura, a FiO2
pode ser reduzida para um nível adequado para o paciente.
Existem raras circunstâncias em que o equilíbrio entre risco e benefício pode não favorecer o uso de
oxigênio a 100%, como em pacientes tratados com bleomicina e em portadores de condições em que a
vasculatura pulmonar seja sensível a mudanças na FiO2. É possível que, nesses últimos casos em
especial, altas FiO2 devam ser evitadas; a opinião de especialistas deve ser consultada. A bleomicina é
associada a pneumonite, que pode ser potenciada por altas FiO2. Os curtos períodos de tempo nos quais
oxigênio a 100% é utilizado no contexto da pré-oxigenação são considerados seguros quando
balanceados com uma FiO2 de manutenção mais baixa. Detalhes adicionais a respeito desse tópico
estão além do escopo deste artigo.
SUMÁRIO
A pré-oxigenação é:
§ Segura
§ Simples
§ Barata
§ Efetiva
Sub-sub-heading
§ Bem-tolerada(size 10 arial italic)
Vivamus condimentum tristique metus. Aenean dolor felis, semper vel, auctor id, ultrices nec, nibh.
Duis iaculis.
Quando Proin lacus.
realizada Duis fermentum,
adequadamente, lacus a sagittis prolonga
a pré-oxigenação dignissim,orisus anteaté
tempo volutpat lacus, ut na
a dessaturação
presença de apnéia.
A manutenção de via aérea pérvia com aplicação contínua de oxigênio durante apnéia prolonga
adicionalmente o tempo até a dessaturação.
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RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
Questões de múltipla escolha:
1. VFVVV
Obesidade, gestação e anestesia geral reduzem a CRF, bem como a mudança da posição ortostática
para a posição supina. A idade avançada por si só não reduz a CRF, porém a capacidade de
fechamento pode se aproximar do volume corrente com o avançar da idade.
2. VVFFV
A equação do gás alveolar é utilizada para responder a essa pergunta. Altas altitudes são
associadas a reduções na pressão atmosférica e, portanto, da pressão parcial de oxigênio. A
hipoventilação reduz a PaCO2. Apesar do aumento de peso/obesidade reduzirem a CRF, isso não
afeta a PAO2.
3. B
Dos métodos de pré-oxigenação citados, recomenda-se apenas a manobra de 8 ventilações de
capacidade vital de O2 a 100% em um minuto através de máscara facial bem-acoplada. Apesar de
ser possível pré-oxigenar adequadamente um paciente com 3 minutos de ventilação com O2 a
100%, o risco de vazamento é significativo quando o paciente segura a própria máscara facial.
Hardman JG, Wills JS, Aitkenhead AR. Factors determining the onset and course of hypoxaemia
during apnoea: an investigation using physiological modelling. Anesth Analg 2000; 90:619-24
Wills J, Sirian R. Physiology of apnoea and the benefits of pre-oxigenation. Continuing Education in
Anaesthesia,
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