04 - Fichamento Texto 08
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04 - Fichamento Texto 08
FICHAMENTO 04:
TEXTO 08 - AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA
Belém-PA
2023
1. REFERÊNCIA DO TEXTO
2. SÍNTESE DO TEXTO
Este artigo é dedicado, em linhas gerais, a fazer um aparado geral das políticas de
desenvolvimento regional historicamente propostas para a Amazônia, tomando como ponto de
partida a revolução de 1930, quando Getúlio Vargas chega ao poder. Nesse momento inicial,
tem lugar um fortalecimento do capitalismo industrial no país, o rearranjo territorial de um
Estado centralizador político-administrativo e a divisão do território nacional em regiões, por
meio de decretos, dando substância à análise respectiva ao estudo do planejamento regional.
O segundo marco fundamental ao planejamento para a região Amazônica foi a criação
da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), criada para
dinamizar as políticas públicas de incentivos fiscais e investimentos na região, com maior
controle estatal. Além disso, no mesmo contexto, foi criada a regionalização “Amazônia
Legal”. Estas ações são inscritas no contexto da “marcha para o Oeste”, movimento de
ocupação do território amazônico mediante uma ótica neocolonialista e desenvolvimentista.
O momento seguinte do planejamento para a Amazônia se deu no contexto do regime
militar, especificamente em 1966, no governo de Castelo Branco, quando a SPVEA é
substituída pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), com o intuito
de promover o desenvolvimento da região Amazônica por meio da geração de incentivos
fiscais e financeiros capazes de atrair investidores privados, nacionais e internacionais; nesse
sentido, a Amazônia Legal, regionalização composta por nove Estados das regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, passa a se materializar de maneira efetiva, sendo esta uma divisão
que despreza características morfogeológicas, de vegetação ou geográficas, em benefício de
fins político-econômicos. Em linhas gerais, as políticas estatais de desenvolvimento, no
contexto do regime militar, representam uma articulação entre Estado e capitais estrangeiros,
interesses nacionais e internacionais. A elaboração da Amazônia Legal faz emergir a visão da
existência de várias Amazônias, especialmente um embate dialético entre a Amazônia Legal e
o que os autores chamam Amazônia Brasileira – a das populações tradicionais, dos
camponeses, ribeirinhos etc. –, que faz surgir o que LIRA (2001 apud FERREIRA et al,
2018). Outras políticas executadas pela gestão federal durante o regime militar foram os
Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND I – 1972-2974 E PND II – 1975-1979) que,
apesar de não serem políticas exclusivas à região amazônica, dispunham de diretrizes
dedicadas especificamente a ela, entre as quais: reorientar fluxos migratórios, sob a premissa
de “ocupação de espaços vazios” - ocupação demográfica e econômica de forma planejada;
garantir ao grande capital o acesso aos recursos naturais da Amazônia; criação de polos de
desenvolvimento – concepção advinda do Estado Keynesiano, dedicada à concentração
espacial de capitais -, onde teve lugar o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da
Amazônia (POLAMAZÔNIA) criado em 1974, sob a justificativa de estimular o processo de
desenvolvimento, urbanização e assegurar a geopolítica territorial do capital na região;
posteriormente, articular a exploração de minérios com o potencial hidroelétrico da Amazônia
oriental; a Política de Desenvolvimento de Recursos Florestais e Uso Racional dos Solos da
Amazônia, voltada a institucionalizar a exploração madeireira na região; o Programa de
Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO), voltado ao Centro-Oeste, orientado a
fornecer suporte técnico, financeiro e de infraestrutura ao uso de práticas agrícolas modernas,
integradas ao mercado interno e externo, desestimulando a agricultura de subsistência, e
reforçando as políticas de ocupação da região; e o PRODECER (Programa Nipo-Brasileiro de
Cooperação para o Desenvolvimento Agrícola da Região do Cerrado), uma cooperação
bilateral Japão x Brasil para o desenvolvimento do Cerrado, voltada à produção de arroz e
soja para exportação. Em relação aos PND, os autores destacam que, especialmente no que
tange às políticas elaboradas para o primeiro plano (1972-1974), resultou em aumento das
disparidades do desenvolvimento inter e intrarregional, gerando aumento das desigualdades
sociais, uma vez que a periferia se tornou mais dependente do centro.
O capítulo é encerrado com a apresentação de uma política regional mais recente, a
Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), voltada aos arranjos urbanos e
regionais, sendo de caráter nacional mas que, porém, reconhece as desigualdades regionais.
Nesse sentido, é estabelecida uma classificação de microrregiões baseada na renda domiciliar
média ou PIB per capita, na qual surgem as categorias: Baixa renda; Estagnadas; Dinâmicas;
Alta renda. Com base nestas classificações, ganha destaque o Estado do Tocantins, uma vez
que de suas 8 microrregiões, 6 são classificadas como dinâmicas, 1 como estagnada e 1 como
alta renda.
A segunda parte do texto é dedicada exclusivamente à análise do panorama do Estado
do Tocantins. Sendo o Estado mais jovem da federação, tendo sido criado no contexto da
promulgação da Constituição Federal de 1988 - a partir de motivações do capital nacional e
internacional, no bojo dos projetos de ocupação demográfica e integração econômica da
Amazônia -, o Tocantins ainda está se estruturando para receber o grande capital, o que tem
ocorrido com a chegada gradativa de empresas multinacionais, e tem se articulado
principalmente por meio de investimentos em infraestrutura, além da introdução do
conhecimento técnico-científico, orientado especialmente ao setor agropecuário, ocorrendo de
forma gradual. No contexto da construção de infraestrutura, algumas ações citadas no texto
são: a construção da ferrovia Norte-Sul, implantação de usinas hidrelétricas e outros projetos
inclusos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), promovido pelo Governo
Federal durante a década de 2000.
Em vista do exposto, os autores dissecam o planejamento executado para o Tocantins,
que demonstra diversos problemas decorrentes da maneira que a criação do Estado se deu,
tendo absorvido diversas problemáticas do Norte de Goiás, que a sua porção territorial
representava antes da Constituição Federal de 1988. É citado um “desarranjo espacial”,
decorrente da intensificação da produção e reprodução dos espaços urbanos, agravamento dos
conflitos sociais no campo, impactos negativos surtidos às comunidades tradicionais,
fragmentação do território que não conforma melhorias de vida para a população. Em linhas
gerais, a criação do Estado do Tocantins e o planejamento para ele executado, trouxeram
benefícios somente às elites econômicas, em linha com as motivações para esta alteração
territorial.
Após a execução das críticas ao modelo de planejamento executado no contexto do
Tocantins, os autores discorrem sobre os principais eixos de desenvolvimento regional no
Estado: os investimentos em infraestrutura de transportes intermodais, especificamente a
Rodovia Belém-Brasília e a Ferrovia Norte-Sul, que cortam o território do Estado
verticalmente e representam as vias de escoamento para a produção agroindustrial de
exportação – além de outros produtos -, uma vez que dão acesso aos extremos do Brasil e
permitem o acesso a portos que direcionam a produção a outros países. Além disso,
especialmente a Rodovia Belém-Brasília se configurou como o principal eixo de
desenvolvimento socioeconômico do Estado, com a concentração populacional tendo ocorrido
especialmente ao seu redor, o que segundo os autores gerou a marginalização de outras
localidades.
Por fim, os autores concluem com uma reflexão: “O desenvolvimento regional voltou
à cena política?”, ancorada nos modelos demonstrados, de desenvolvimento regional adotados
para a Amazônia, onde fica evidente a preponderância de determinados atores políticos e
econômicos na proposta e execução de políticas públicas para o desenvolvimento da região,
que, portanto, em grande parte das situações acaba por contemplar somente determinados
setores da sociedade – os mais abastados. Além disso, entra em questão o fato de que,
historicamente, o país costuma ter gestores federais que tem o desenvolvimento e o
crescimento econômico como imperativos, ainda que haja qualquer força social ou política
desfavorável.
3. CITAÇÕES INTERESSANTES
4. “Lira (2011, p. 28) afirma que a “[...] Amazônia brasileira e Amazônia Legal
dialeticamente, se contradizem, se confirmam e se negam, dentro de um contexto onde se
define a natureza da geografia e as ideologias geográficas” (LIRA, 2011, p. 28). Para o
mesmo existe um embate dialético entre a Amazônia brasileira (do ribeirinho, do indígena,
do seringueiro, do posseiro) com a Amazônia Legal (do capital e da tecnologia), que faz
surgir a “Amazônia Ilegal”, representação do conflito que se estabelece no território,
impetrada pelo modo de produção capitalista. [...] Assim, ao discutir as políticas
desenvolvimentistas voltadas para a Amazônia, o autor verifica a presença de “várias
Amazônias” dentro da mesma região, onde apesar de compor o mesmo território há a
necessidade de desassociá-las.” (p. 92);
9. “É importante observar que o cenário tocantinense é (assim como acontece nas demais
regiões) planejado racionalmente e de forma estratégica apoiado pelo uso do conhecimento
técnico-científico e dos financiamentos feitos pelo poder público e privado. O discurso dos
promotores do desenvolvimento é permeado pela utópica fala de prosperidade para toda a
região, melhoria de vida, menos desigualdades sociais, a saída do isolamento político-
econômico, etc. Porém, as mazelas sociais sempre aparecem. Sobre essa premissa, Santos,
R. (2012, p. 151) diz que o fato é simples, “[...] tudo é planejado não para equacionar as
questões sociais e sim, para favorecer a acumulação capitalista, em outras palavras, o
Estado paga o ônus e os donos dos meios de produção extraem a mais-valia.”” (p. 98).
4. REFERÊNCIAS INTERESSANTES
BECKER, Bertha Koiffmann; EGLER, Claúdi. Brasil: uma nova potência regional na
economia-mundo. 2ºed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1994.
COSTA, Wanderlei Messias de. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1997.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Integrar para não entregar. Campinas-SP: Papirus,
1991.
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp,
2012.