Cálculo III

Aula 11 – Função Degrau e Função Impulso.

Marcos Eduardo Valle

Depart. Matemática Aplicada
IMECC – Unicamp

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 1 / 18

Nas aulas anteriores, apresentamos a transformada de Laplace e vimos
como ela pode ser usada para resolver um problema de valor inicial
com coeficientes constantes.

Em todos os exemplos que apresentamos, consideramos funções de

entrada (termo do lado direito da EDO) contínuas.

Uma das grandes vantagens da transformada de Laplace é que ela

também pode ser usada quando a função de entrada é descontínua ou
impulsiva.

Na aula de hoje, veremos como a transformada de Laplace é aplicada

nesse contexto.

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 2 / 18

Função Degrau

Um tipo importante de descontinuidade que surge, por exemplo na

análise de um circuito elétrico, é o de primeira espécie, ou seja, quando
a função é contínua exceto por um número finito de “saltos”.

Podemos operar de forma eficiente com esse tipo de descontinuidade

usando a função:

Definição 1 (Função Degrau Unitário)

A função degrau unitário, denotada por uc , é definida por:

0, t < c ,


uc (t ) = 
1, t ≥ c .


Em particular, escrevemos u ≡ u0 .

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Transformada da Função Degrau

A transformada de Laplace de uc , para c > 0, é:

e −cs
L uc (t ) = , s > 0.

s

Com efeito, pela definição da transformada de Laplace, temos:

Z ∞ Z ∞
L uc (t ) = uc (t )e −st dt = e −st dt

0 0
∞
e −st  e −cs
=−  = ,
s c s

para s > 0.

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Considere agora uma função g dada por

0,

 t < c,
g (t ) = 
f (t − c ), t ≥ c ,


em que f é uma função contínua definida para todo t ≥ 0.

Note que g possui um “salto” em t = c.

Em termos da função degrau, podemos escrever:

g (t ) = uc (t )f (t − c ).

Desse modo, temos o seguinte resultado.

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Teorema 2 (Translação em t)
Se F (s ) = L f (t ) existe para s > a ≥ 0 e se c > 0, então


L uc (t )f (t − c ) = e −cs L f (t ) = e −cs F (s ), s > a .

 

Inversamente, se f (t ) = L −1 F (s ) , então


uc (t )f (t − c ) = L −1 e −cs F (s ) .


Com efeito, se a transformada de Laplace F (s ) = L f (t ) existe para


s > a ≥ 0, então
Z ∞ Z ∞
L uc (t )f (t − c ) = −st
f (t − c )e −st dt .

uc (t )f (t − c )e dt =
0 c
Tomando τ = t − c, encontramos
Z ∞ Z ∞
L uc (t )f (t − c ) = f (τ)e −s (τ+c ) d τ = e −sc f (τ)e −s τ d τ = e −sc F (s ).

0 0

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Exemplo 3
Determine a transformada de Laplace da função f dada por

sen(t ),

 0 ≤ t < π/4,
f (t ) = 
sen(t ) + cos(t − π/4), t ≥ π/4.


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Exemplo 3
Determine a transformada de Laplace da função f dada por

sen(t ),

 0 ≤ t < π/4,
f (t ) = 
sen(t ) + cos(t − π/4), t ≥ π/4.


Resposta: A função f pode ser escrita como:

f (t ) = sen(t ) + uπ/4 (t ) cos(t − π/4).

Usando linearidade da transformada de Laplace, concluímos que

1 s 1 + se −πs /4
L f (t ) = + e −πs /4 .

=
s2 + 1 s2 + 1 s2 + 1

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 7 / 18

Exemplo 4
Determine a transformada inversa de

1 − e −2s
F (s ) = .
s2

Observação:
Sabe-se que
1
L {t } = .
s2

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Exemplo 4
Determine a transformada inversa de

1 − e −2s
F (s ) = .
s2

Observação:
Sabe-se que
1
L {t } = .
s2

Resposta: Pela linearidade da transformada inversa, temos


t , 0 ≤ t < 2,


f (t ) = t − u2 (t )(t − 2) = 
2, t ≥ 2.


Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 8 / 18

Exemplo 5
Determine a solução do problema de valor inicial

x 00 + 4x = g (t ), x (0) = 0 e x 0 (0) = 0,

em que g é a função dada por





 0, 0 ≤ t < 5,
5 , 5 ≤ t < 10,

 t −5
g (t ) = 


1,


10 ≤ t .

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Exemplo 5
Determine a solução do problema de valor inicial

x 00 + 4x = g (t ), x (0) = 0 e x 0 (0) = 0,

em que g é a função dada por





 0, 0 ≤ t < 5,
5 , 5 ≤ t < 10,

 t −5
g (t ) = 


1,


10 ≤ t .

Resposta: Note que

1
 
g (t ) = u5 (t )(t − 5) − u10 (t )(t − 10) ,
5
e
e −5s − e −10s
L g (t ) = .

2 5s
Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 9 / 18
Assim,
e −5s − e −10s 1 h −5s i
X (s ) = = e H ( s ) − e −10s
H (s ) .
5s 2 (s 2 + 4) 5
Dessa forma, temos
t 1
h (t ) = L −1 H (s ) =

− sen(2t ),
4 8
e, consequentemente,
1 1
x (t ) = u5 (t )h (t − 5) − u10 (t )h (t − 10),
5 5
cujo gráfico é

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Função Impulso

Em muitas situações, a função de entrada possui um grande valor que

atua em um curto intervalo de tempo. Em termos matemáticos, o termo
do lado direito da equação diferencial tem seguinte forma:

Definição 6 (Função Impulso Unitário)

A “função” impulso unitário, também chamada delta de Dirac e
denotada por δ(t ), é uma distribuição que satisfaz
Z ∞
δ(t )dt = 1 e δ(t ) = 0, para todo t , 0.
−∞

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 11 / 18

Observação:
A função delta de Dirac pode ser definida pelo limite

 2τ , −τ < t < τ,
 1
δ(t ) = lim dτ (t ), em que dτ (t ) = 

τ→0 0
 caso contrário.

Usando o teorema do valor médio para integrais, podemos mostrar que

Z ∞
δ(t − t0 )f (t )dt = f (t0 ).
−∞

Em vista disso, para qualquer t0 ≥ 0, definimos

L δ(t − t0 ) = e −st0 .


Em particular, para t0 = 0, temos

L δ(t ) = 1.


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Exemplo 7
Determine a solução do problema de valor inicial

x 00 + 4x = 8δ(t − 2π), x (0) = 3 e x 0 (0) = 0.

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 13 / 18

Exemplo 7
Determine a solução do problema de valor inicial

x 00 + 4x = 8δ(t − 2π), x (0) = 3 e x 0 (0) = 0.

Resposta: Vamos denotar X (s ) = L x (t ) . Aplicando a


transformada de Laplace, temos

s 2 X (s ) − x (0)s − x 0 (0) + 4X (s ) = 8e −2πs .

 

Usando as condições iniciais e isolando X (s ), encontramos

3s + 8e −2πs s 2
X (s ) = =3 2 + 4e −2πs 2 .
s2 + 4 s +4 s +4
Lembrando das transformadas do seno e cosseno, concluímos que

x (t ) = 3 cos(2t ) + 4u2π (t ) sen(2t ).

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 13 / 18

Gráfico da função
x (t ) = 3 cos(2t ) + 4u2π sen(2t ).

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 14 / 18

Exemplo 8
Determine a solução do problema de valor inicial

2y 00 + y 0 + 2y = δ(t − 5), y (0) = 0 e y 0 (0) = 0.

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 15 / 18

Exemplo 8
Determine a solução do problema de valor inicial

2y 00 + y 0 + 2y = δ(t − 5), y (0) = 0 e y 0 (0) = 0.

Resposta: Aplicando a transformada de Laplace, obtemos

2s 2 Y (s ) + sY (s ) + 2Y (s ) = e −5s ,

ou ainda
e −5s
Y (s ) =.
2s 2 + s + 2
Completando quadrados no denominador, podemos escrever

e −5s 1
Y (s ) =  .
2  1 2

15
s+ 4 + 16

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 15 / 18

Lembrando da transformada do seno e da translação em s, temos que
 q 

 15 
 √ 
 15 
 
16 −t / 4
 
L 
−1 
t  .
 
=e sen 

 2  
4
 s + 14 + 15 


 

 
16 

Lembrando da transformada inversa da função degrau concluímos que

√ 
2  15
−(t −5)/4
(t − 5) .

y (t ) = √ u5 (t )e sen 
15 4

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 16 / 18

Gráfico da função
√ 
2  15
−(t −5)/4
(t − 5) .

y (t ) = √ u5 (t )e sen  
15 4

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 17 / 18

Considerações Finais

Na aula de hoje apresentamos a função degrau unitário uc (t ) e a delta

de Dirac δ(t ) que satisfazem:

L uc (t )f (t − c ) = e −cs F (s ) e L δ(t − t0 ) = e −st0 ,

 

em que F (s ) denota a transformada de f (t ).

Ambas uc (t ) e δ(t ) são descontinuas e aparecem com frequência em

situações práticas, como por exemplo, no estudo de circuitos elétricos.

Muito grato pela atenção!

Marcos Eduardo Valle MA311 – Cálculo III 18 / 18